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ARTIGOS

AÇÃO DOCENTE NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL: ENTRE


TANTAS POSSIBILIDADES

TEACHING TO PRIMARY SCHOOL AND THE RANGE OF POSSIBILITIES

Ilana LatermanI

Resumo
Este texto apresenta reflexões sobre ação docente nos anos iniciais do ensino fundamental, na perspectiva de sua
relação dialética com o campo de possibilidades. Com base em autores como Agnes Heller e José de Souza
Martins, aborda o cotidiano como espaço de criação e reprodução de si mesmo. A partir de resultados de pesquisa
empírica constatou-se a presença de práticas pedagógicas usuais entre diferentes professoras de anos iniciais de
uma mesma rede de ensino frente aos alunos que não acompanham o ensino. A escolha destas práticas
pedagógicas é discutida quanto à sua dimensão de criação e de reprodução, quanto a seu processo de
naturalização diante do costume de sua adoção, quanto aos fins da educação. Neste sentido a educação é
compreendida em uma perspectiva democrática, inclusiva e emancipadora. Os resultados da pesquisa instigaram
a um estudo que elabora o conceito de campo de possibilidades na educação (nas relações entre as dimensões
política, social, institucional e profissional), contextualizado na modernidade que anuncia o progresso, mas
incorpora seus signos com lógicas tradicionais. O texto coloca em evidência a existência de um campo de
possibilidades em permanente constituição, num jogo dialético de ser contexto e contextualizado em sua relação
com as ações docentes, tendo por objetivo elaborar elementos para o debate sobre educação nos anos iniciais do
ensino fundamental.
Palavras chave: Anos Iniciais, Ação Docente, Educação Pública, Campo de Possibilidades

Abstract
This paper presents some reflections on the teaching to primary school. To that end it discusses the dialectic
relationship between teacher's choices and the range of possibilities of pedagogical practices. Teacher's
Autonomy pertains to the choice of a specific pedagogical practice among a range of possibilities in a given
context and real-world conditions. Arena of Possibilities is a concept that attempts to define the interweaving of
different contexts in which the teaching action is carried out (i.e., political, social, institutional, personal). In this
sense a practice is defined by a range of possibilities at the same time that it redefines the range of possibilities
itself. In developing its arguments this paper tries to present a snapshot of a school's quotidian based on research.
This research was conducted to find out which pedagogical practices teachers use for teaching students who are
behind in their class. In addition to the research conducted, this paper bases its arguments on major authors within
this pedagogical field. The basic issue this paper addresses pertains to the role of the replicating and creating
processes in Education. In this regard the teaching is aligned with a critical view of education, one that promotes
a democratic, empowering, inclusive and pluralistic approach. Finally, this paper proposes that research on the
pedagogical practices used in the quotidian of public schools—in all its interdependent contexts—can bring
significant contributions to the field of Teacher Education.
Key words: primary series; public education; teaching; arena of possibilities.

I. Apresentando o texto1 anos iniciais, tem muitas faces, expressões de


diferentes contextos onde existem escolas:
A educação formal no Brasil é múltipla em urbanos, rurais, regionais, de sistemas de ensino
suas condições materiais e em seus processos públicos e particulares, de hierarquia entre
cotidianos quanto à complexidade social e cultural diferentes escolas em um mesmo sistema. A
do país. O ensino fundamental, inclusive em seus multiplicidade característica da rede de educação
fundamental no país deve-se ainda às diferentes
1 concepções e organizações presentes nas ações
Doutora em Educação. Professora do Departamento de
Metodologia de Ensino da Universidade Federal de Santa dos educadores onde quer que estejam
Catarina – UFSC.
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trabalhando, e na singularidade da gestão dos meios de conhecer e perceber o outro e se fazer


estabelecimentos de ensino. conhecido e percebido. O estímulo à curiosidade e
Pensar sobre os anos iniciais nos remete a à pesquisa, ao desejo de crescer imitando, criando
diferentes dimensões de análise: questões da e aprendendo com as outras pessoas (inclusive
infância, cultura e teorias de desenvolvimento outras crianças). A infância que precisa de
humano, questões curriculares, metodologias e cuidados, mediação, acolhimento, desafios,
práticas em sala de aula, organização institucional, brincadeiras, arte, movimento, ciência, tecnologia,
políticas públicas como a ampliação da idade de acesso à cultura, amizades, pertencimento,
ingresso e número de séries do ensino reconhecimento.
fundamental, formação de professores, a função Em meio a este panorama abrangente da
social da escola, as relações entre os educação em anos iniciais do ensino fundamental,
conhecimentos curriculares e não curriculares, a este texto trata de um foco específico: os aspectos
participação das famílias na escola, entre outras de reprodução e de criação na ação docente frente
dimensões de análise. ao seu campo de possibilidades. Para tanto
Nesta perspectiva, as interações entre as procuro dar visibilidade à existência de um campo
condições contextuais e a ação humana compõem de possibilidades dinâmico, em permanente
o cotidiano, em um processo dialético entre as constituição, e a importância da apropriação
diferentes dimensões da ação, em parte docente sobre esta existência em oposição ao
determinadas pela materialidade em parte pela limite decorrente de uma ação cotidiana alienada,
escolha (intenção) humana, ambas, a usual, naturalizada como fim em si mesma.
materialidade e a escolha, histórica e socialmente Apresento inicialmente um debate sobre
construídas. Como afirma Heller (1992; p.40): “A campo de possibilidades. Tal debate tem um
condução da vida supõe, para cada um, uma vida caráter processual, no sentido da formulação de
própria, embora mantendo-se a estrutura da idéias. Agrego a este debate o contexto da
cotidianidade; cada qual deverá apropriar-se a seu modernidade, com base no trabalho de Martins
modo da realidade e impor a ela a marca de sua (2000). A idéia do possível ganha significação
personalidade.” singular neste contexto. Ou seja, não se trata de
O cotidiano dos anos iniciais pressupõe um pensar sobre novas possibilidades para a ação
campo de possibilidades onde ocorrem as práticas docente pautadas no aspecto da transitoriedade e
educacionais, que ganham forma e personalidade inovação dos “tempos modernos” (ou pós-
como expressão de concepções de aprendizagem, modernos), mas sim de procurar compreender a
de valores políticos e culturais, de vivências e de ação docente em sua dimensão criativa e
imagens adquiridas ao longo da vida (de reprodutiva pautadas na realidade, do dia a dia da
professores, de alunos, de funcionários, de vida na escola.
famílias e de pessoas da comunidade), de Estas reflexões são decorrentes de alguns
conhecimentos cientificamente legitimados e de resultados encontrados em pesquisa por mim
saberes diversos. Constitui-se, o cotidiano dos realizada com professoras de anos iniciais do
anos iniciais, em um ambiente de interações ensino fundamental sobre como percebem e
sociais e coletivas com o objetivo de ensinar para tratam de sua prática nas situações em que se
as novas gerações currículos explícitos e, de modo deparam com alunos que não acompanham o
talvez nem tão implícito, formas de ser e estar em ensino durante o ano letivo. Portanto, apresento na
nossa sociedade. parte II, brevemente, tais resultados, com o intuito
Dos anos iniciais fazem parte, ainda, os de explicitar as origens de minhas considerações.
direitos aos instrumentos, recursos e Em resumo, na pesquisa realizada chamou-me a
conhecimentos para uma vida digna e de justiça atenção a constância de elementos relevantes nas
social, no tempo presente da infância e em seu falas das professoras das diferentes escolas. Neste
desenvolvimento para as próximas fases da vida sentido, me atenho não propriamente na análise
(juventude, idade adulta, terceira idade). O poder das práticas e das explicações que anunciam, mas
da palavra, da expressão, do ato de tornar no significado desta constância em meio a tantas
simbólico o real e apropriar-se deste pensando e possibilidades, de percepção, de práticas, de
sentindo e então agindo sabendo-se ser social, o elaboração.
poder dos instrumentos dos diferentes campos do
conhecimento, o diálogo e a negociação como

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Nas considerações finais procuro indicar ensino frente a um aluno que não está
elementos que promovam a continuidade do acompanhando a turma? É no jogo entre as
debate. circunstâncias materiais (entendidas aqui como
sociais, históricas, políticas) e a ação humana
II. Tempos modernos e campo de (também entendida como ação social, histórica,
possibilidades: transformação como anúncio, política), que se materializam possibilidades e se
conservação como lógica criam condições concretas para a proposição de
novas possibilidades.
Para desenvolver o conceito de campo de Tanto as circunstâncias quanto a ação
possibilidades voltado para a educação, recorro a humana são dinâmicas, vivas, de um movimento
autores que trabalham sobre a vida cotidiana e intenso resultante do entrelaçamento e das
contemporânea, como Agnes Heller (1992) e José contradições de diversas forças – políticas e vitais
de Souza Martins (2000). A estes autores – que nelas atuam e, dialeticamente, as constituem
aproximo outros do campo da educação com o como elementos isolados.
objetivo de compreender as especificidades do Heller (1992, p.1-2) explica:
trabalho pedagógico: Gimeno (2000), Sarmento
(2000), Ferraro (1999), entre outros. A idéia de Não se deve jamais entender a
um campo de possibilidades no qual ocorre a ação “circunstância” como totalidade de
tem me ajudado a pensar sobre a prática objetos mortos, nem mesmo meios de
pedagógica e a formação de professores de séries produção; a “circunstância” é a unidade
de forças produtivas, estrutura social e
iniciais. Explico nesta parte do texto a formulação
formas de pensamento, ou seja, um
desta idéia, do campo de possibilidades no complexo que contém inúmeras posições
contexto do mundo moderno, e suas implicações teleológicas, a resultante objetiva de tais
na compreensão da prática pedagógica. posições teleológicas. E, ao contrário,
No dicionário Aurélio (FERREIRA, 1990): quando os homens se colocam fins, o
campo de determinação causal não é
Possível. 1. Que pode ser, acontecer ou apenas o âmbito e a orientação de suas
praticar-se. S.M. 2. Aquilo que é possível colocações, pois os seus atos teleológicos
(...). 3. Filos. Do ponto de vista lógico, e todas as demais objetivações
que não implica contradição. 4. Filos. Do desencadeiam igualmente novas séries
ponto de vista físico, quer o que satisfaz causais.
às leis gerais da experiência, quer o que
não está em contradição com nenhum fato Assim, estudar a ação de professores e buscar
ou lei empiricamente estabelecido, quer o o campo de possibilidades no qual atuam (que é,
que é mais ou menos provável. 5. Filos. dialeticamente, um campo de possibilidades
Do ponto de vista moral, o que não
composto por estas suas ações, entre outros
contraria nenhuma norma moral.
elementos) apresenta duas dimensões de análise: a
primeira é a possibilidade da combinação de
O possível é o que não contradiz as
diferentes elementos já postos, o que pode ser
circunstâncias, a realidade; jamais o possível se dá
realizado de modos diversos. Estas combinações,
como o oposto da realidade. Aquilo que se opõe à
ora singulares pelos elementos que combinam, ora
realidade é o não-possível. Para que alguma coisa
pelo modo como os combinam, expressam-se em
seja possível, deve estar de acordo com certas
uma ação, uma prática. A segunda dimensão de
combinações dos elementos da realidade. Mas o
análise refere-se aos mecanismos de criação de
possível é também, como pensamento, a
novos elementos, que modificam o campo de
modificação do real, a proposição de arranjos
possibilidades oportunizando no futuro
novos, flexíveis, muitas vezes inéditos, de
combinações (expressas em ações) não possíveis
circunstâncias e condições presentes na realidade.
no presente.
O possível jamais é o oposto da realidade, pois em
As ações criativas e as transformações do
tais bases não tem como se realizar. Mas também
campo de possibilidades tratam, em um certo
não é apenas a reprodução da realidade.
sentido, da epistemologia do saber docente, ou
O possível depende, em seu princípio, de
seja, de que forma o educador apreende e cria
condições materiais e humanas já existentes. O
conhecimentos e práticas em sua área de trabalho.
que é possível para um professor realizar no

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Portanto, estou aqui apresentando a idéia de que o modernidade nos países ricos. Esta diferença é
educador apreende e elabora conhecimentos e fundamental para se compreender a incompletude
práticas em sua área de trabalho na tensão entre de nossa modernidade, as incoerências de nossas
sua ação cotidiana e o campo de possibilidades. práticas, o desafio da avaliação da situação
Tensão porque o campo de possibilidades existente em que estamos mergulhados.
impõe-se ao sujeito com sua lógica e Segundo Martins (2000), há impressão de
materialidade assim como o sujeito (educador) que a pobreza, a miséria, as formas tradicionais da
impõem ao campo de possibilidades sua própria cultura (como do homem do campo, do migrante,
lógica, representações, intencionalidade (ou seja, por exemplo) fazem parte de um quadro não-
subjetividade). moderno, de algo que está superado ou que é
A prática pedagógica é parte da vida superado pela modernidade. No entanto, mostra o
cotidiana dos professores. Tal prática tem as autor, que a modernidade inclui todas as formas
características da individualidade, que expressa, que efetivamente existem, não há uma superação
simultaneamente, um tempo/espaço social. O efetiva; a modernidade engloba também a
conjunto das ações dos educadores molda (na pobreza, a escravidão. Engloba ainda a parte de
relação com outros elementos do contexto, como nossa infância que está abandonada, por vezes
as políticas públicas, a administração do inserida numa sociabilidade de violência, outras
estabelecimento, etc.) o campo de possibilidades, vezes em trabalhos violentadores. Tudo aquilo
o repertório do agir do professor, os diferentes ‘o que há na realidade existe, evidentemente, neste
que se faz em determinada situação’. Cada vez nosso mundo moderno. Assim não é adequado
que um professor lida com determinada situação negar estas formas de viver ‘menos
de seu cotidiano em sala de aula, está colocando desenvolvidas’ que existem e descrever o
seu modo próprio de fazer e, ao mesmo tempo, moderno apenas como o urbano, o consumo, a
construindo seu modo de fazer a partir das rapidez de informação do século XXI; como se os
possíveis alternativas já realizadas. Contribui, restos do passado e da tradição estivessem
desta forma, com sua subjetividade, para extintos e limitados ao passado. No presente,
confirmar ações já estabelecidas por outros (e por encontram-se todas as formas já vividas e que
si mesmo) e para criar ações inéditas. Esta compõem, junto com o ‘novo’, a modernidade.
singularidade do sujeito está inevitavelmente Martins (2000) chama a atenção para o fato
mergulhada em seu tempo histórico, em seu de que nos países ricos a modernidade se deu num
entorno cultural processo histórico efetivo, com bases econômicas,
Ao agir, o professor elege uma entre tantas sociais e culturais de sustentação, enquanto nos
possibilidades; sua percepção limita e delimita o países da periferia (incluindo o Brasil) há um
campo de possibilidades, pois não há sujeito capaz esforço de imitação das formas do moderno, sem
de perceber todas as alternativas de ação. As a mesma constituição histórica e sustentação.
alternativas que estão fora de seu alcance A modernidade é complexa, e inclui a crítica
perceptivo não são, verdadeiramente, de si mesma. Apresenta-se não apenas nos objetos
possibilidades de ação. Por esta razão, o campo de e signos, mas na forma de pensar e agir do homem
possibilidades é efetivamente delimitado por sua deste tempo:
percepção e pela compreensão que tem das
circunstâncias da realidade. As circunstâncias, ao A modernidade, neste sentido, não se
mesmo tempo em que limitam o rol de ações, confunde com objetos e signos do
delimitam e configuram um princípio de ação. moderno, porque a eles não se restringe,
Na modernidade supõem-se o indivíduo que nem se separa da racionalidade que criou
a ética da multiplicação do capital; que
faz escolhas. Na valorização consumista do novo,
introduziu na vida social e na moralidade,
na transitoriedade do novo, a percepção do até mesmo do homem comum, o cálculo,
pedagogo sobre as possibilidades de sua prática a ação social calculada na relação de
podem atrelar-se a modismos, a uma aceitação meios e fins, a reconstituição cotidiana do
superficial do novo, ou ainda, a aceitação do que é sentido da ação e sua compreensão como
novo apenas em superfície. mediação da sociabilidade. Refiro-me à
Como se coloca este sentido de ‘novo’, de ética que fez do sujeito um objeto,
modernidade? Martins (2000) explica que inclusive um objeto de si mesmo, o
modernidade na América Latina é diferente de

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sujeito posto como estranho em relação a 21-24). Ao contrário da cultura tradicional em que
si próprio (MARTINS, 2000, p.18). se busca a estabilidade do permanente, a
modernidade pauta-se no transitório como modo
E, mais adiante, o autor completa: de vida.
“Modernidade é a realidade social e cultural Na América Latina, continua Martins (2000),
produzida pela consciência da transitoriedade do a modernidade nunca se deu como um processo
novo e do atual” (MARTINS, 2000, p.19). vivido pela maioria da população, mas como uma
A modernidade instala, portanto, uma cópia superficial de um modelo estrangeiro.
mentalidade, um modo de vida ao qual está Convivem aqui os tempos sociais diferentes em
relacionado um determinado senso estético. A desencontro, a cultura popular e seu
razão presente na ação que tem sempre objetivos, tradicionalismo com os signos do moderno. Assim
fins e meios. A sociabilidade pensada, validada há uma ruptura entre dois tempos históricos no
por significados segundo um projeto de vida. A Brasil, a convivência com os ícones do moderno,
constante crítica a si mesma; uma vez que pauta- a tecnologia, o consumo, a urbanização, através de
se no transitório, está permanentemente sendo uma lógica híbrida do tradicional. Há certa
recriada (o que dá sentido à crítica permanente). A resistência ao novo, e neste sentido a lógica
idéia do moderno apresenta como possibilidade tradicional aponta o caráter desumanizador da
tudo o que a tecnologia, a ciência, a civilização lógica do moderno; mas ao mesmo tempo o novo
realiza agora e conseguirá realizar em breve. No invade toda lógica da produção econômica. Por
entanto, a utopia moderna está longe de tornar-se exemplo, “Politicamente, somos de vocação
verdade para todos: liberal, mas de um liberalismo fundado nas
tradições do poder pessoal e do clientelismo
A modernidade, porém, não é feita pelo político, seus opostos” (MARTINS, 2000, p.31).
encontro homogeneizante da diversidade Esta convivência contraditória evidencia a
do homem, como sugere a concepção de
diferença entre o que a modernidade anuncia
globalização. É constituída, ainda, pelos
ritmos desiguais do desenvolvimento como possível, e a realidade existente que nunca
econômico e social, pelo acelerado realiza a utopia. Mas como tal situação se
avanço tecnológico, pela acelerada e sustenta? Através da força do imaginário, da
desproporcional acumulação de capital, difusão e afirmação de um imaginário que capta a
pela imensa e crescente miséria todos. Um imaginário reforçado nos meios de
globalizada, dos que têm fome e sede não comunicação, na força do consumo, no poder da
só do que é essencial à reprodução imagem do sucesso pessoal. O imaginário, que
humana, mas também fome e sede de representa os valores da cultura globalizada, capta
justiça, de trabalho, de sonho, de alegria. a subjetividade e propaga-se na vida social. “A
Fome e sede de realização democrática
imagem tornou-se no imaginário da modernidade
das promessas da modernidade, do que
ela é para alguns e, ao mesmo tempo, um nutriente tão ou mais fundamental do que o
apenas parece ser para todos (MARTINS, pão, a água e o livro. Ela justifica todos os
2000, p.20). sacrifícios, privações e também transgressões”
(MARTINS, 2000, p.43).
Assim, o autor explica que a modernidade Diferentes lógicas de apreensão do real
anuncia a transformação humana e social, convivem: as formas tradicionais da cultura
possibilidades que o capitalismo declama, mas popular e a modernização que se impõe na
não realiza. Segundo o autor, há a exposição de proposta globalizada. Esta sobreposição de formas
muitas alternativas, mas nenhuma forma de como de viver se dá como uma tendência à
acessá-las. O mundo contemporâneo, o mundo da ambigüidade; um único sujeito se vê dividido
modernidade, não esconde as contradições sociais, entre estas mesmas lógicas; há um duplo em cada
as injustiças e desigualdades, inclusive as cidadão.
denuncia; mas não tem como ultrapassá-las. É
justamente com os problemas da vida moderna, O duplo se constitui como verdadeira
com a permanente inconclusão do processo de orientação cultural, dotado de uma
legitimidade própria que torna o autêntico
modernização que o homem e a mulher comuns
inautêntico, por meio de técnicas de
precisam lidar no cotidiano (MARTINS, 2000, p. ocultamento. Os usos irracionais e

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tradicionais do moderno trazem para o em alguns contextos voltados para as camadas


cotidiano essa duplicidade, esse duplo e populares), porém não estabelecido integralmente
contraditório modo de ser e de pensar em um tempo distante, uma vez que deste
(MARTINS, 2000, p.51). cotidiano escolar fazem parte discursos
atualizados, equipamentos de tecnologia atual,
Ainda, segundo o autor, o recurso de atitudes liberais, comportamentos sociais
interação social mais evidente neste processo é o variados, o discurso da diversidade. Fazem parte
recurso da imitação. O homem e a mulher de uma da escola, também, a desigualdade social,
sociedade como a nossa imitam o moderno na descuidos com a infância, concepções
superfície, nos ícones, até nos modos; mas a excludentes. Um anacronismo que se dá em um
lógica por trás da ação é vazia de modernidade; mesmo tempo e espaço, numa estranha mistura de
ainda perdura o tradicional, não apreende a base valores e referências.
dos processos de modernização historicamente Esta confusão de concepções, ora modernas,
construída nos países ricos. Como propõe Martins ora ligadas a modelos mais tradicionais, está
(2000), é um modo de vida moderno apenas na intrinsecamente presente no sistema de ensino
epiderme. público. Em primeiro lugar, por ser este sistema a
Por isso o privado entre nós é tão precário. própria expressão da modernidade que não
Ele não funda uma consciência social moderna e pertence a todos: um sistema que tem por
impessoal. A pessoa continua no centro das fundamento o direito à educação, mas que oferece
relações sociais, não o indivíduo e a trama das às classes populares, em grande parte dos casos,
relações contratuais de que ele é parte. Ora, o educação de qualidade questionável. Neste
mundo da modernidade é o mundo do indivíduo. sentido, a modernidade tudo promete, dando a
Mais do que a pessoa, o querer ser pessoa domina impressão de que a ciência, a tecnologia e a razão
as situações e esse querer ser pessoa está nos poderão responder às dificuldades do cotidiano de
adornos, nos signos. É uma pessoa incompleta, modo eficaz. O passado é esquecido, ignorado, e o
imitadora. Mesmo o cidadão, num grande número futuro é sempre melhor do que o presente, mas, ao
de casos, é mera imitação, pois o comportamento mesmo tempo, tais condições existem apenas
eleitoral e político é freqüentemente um como promessa, especialmente se nos referimos à
comportamento “carneiril” subjugado por deveres maioria da população.
de lealdade próprios da dominação pessoal, do O conflito apresenta-se entre o possível
clientelismo, do populismo. É um cidadão que proposto pela modernidade e o improvável
vota por obrigação, não por dever; e que não se colocado na materialidade e no próprio processo
considera investido de direitos em relação à de modernização em nosso país. A complexidade
conduta dos votados, às leis e às instituições está ainda no que há de imprevisível na ação
(MARTINS, 2000, p.53). humana, nas escolhas do cotidiano, na repetição
de um conservadorismo que não é jamais
Os diferentes elementos da tradição e do repetição plena, e propõe o novo, na medida em
moderno convivem na ação do brasileiro comum, que o ator social faz a história de seu tempo.
numa complexa ruptura entre forma e conteúdo.
A ação do professor é ação neste tempo e A reprodução social, lembrou Lefebvre
nesta cultura, neste momento histórico, de tal mais de uma vez, é reprodução ampliada
forma que a colagem do tradicional e do moderno de capital, mas é também reprodução
está ali expressa. A idéia desta mescla entre um ampliada de contradições sociais, não há
tempo moderno na aparência ou, ainda mais reprodução de relações sociais sem uma
precisamente, em alguns signos aparentes, com certa produção de relações – não há
uma lógica tradicional que procura incorporá-los repetição do velho sem uma certa criação
(aos signos) sem abrir mão de seu modo de vida, do novo, mas não há produto sem obra,
não há vida sem História. Esses
sem a apropriação do moderno como modo de
momentos são momentos de anúncio do
vida e como crítica a si mesmo, e sem sustentar homem como criador e criatura de si
uma atitude conservadora, de resistência, (por mesmo (MARTINS, 2000, p.63).
mais paradoxal que isso pareça). Tal idéia
corresponde a uma percepção quase intangível, de A dialética da reprodução/criação se dá no
certo anacronismo na vida escolar (especialmente mesmo momento do cotidiano, em meio à rotina.

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É neste tempo que se coloca a possibilidade escolhidas de forma aleatória, apenas


daquilo que não estava previsto, o campo de resguardando para que estivessem em diferentes
possibilidades, está no presente no dia-a-dia, na áreas geográficas e, portanto, em diferentes
vida e não mais apenas no campo das idéias, das contextos comunitários. Em cada escola foram
utopias. No agir cotidiano há reprodução e há entrevistadas professoras de terceiras e quartas
criação de possibilidades. Reproduzir em que? séries do ensino fundamental, orientadores,
Criar em que? Reproduzir e criar, por quê? Que diretores, supervisor escolar, de acordo com a
significado há no novo, na ação inovadora? organização do estabelecimento. As entrevistas
versaram sobre a presença de alunos que não
III. Considerações sobre ação docente em acompanham o ensino, formas de identificação, de
séries iniciais: discutindo resultados da explicação da situação, de fontes de conhecimento
pesquisa para responder aos questionamentos que
eventualmente as professoras tivessem elaborado
O aluno que é reprovado na série, que naquela situação, das fontes de práticas; aportadas
abandona a escola, que permanece no sistema, nas categorias de intencionalidade, conhecimento,
mas não conclui o ensino fundamental, que planejamento e regulação da prática pedagógica.
conclui o ensino fundamental sem o aprendizado As entrevistas foram realizadas primeiramente no
esperado, sua história tem um princípio (gênese) final de um ano e depois, com as mesmas
pedagógico. Ou seja, se por um lado exitem professoras, durante todo o ano seguinte, a cada
fatores externos intervenientes a esta situação e dois meses aproximadamente, sobre as mesmas
processos na escola de reprodução da lógica de turmas. Neste panorama esperava encontrar
exclusão própria do status quo (PATTO, 1993) propostas alternativas, no sentido de expressarem
amplamente explorados na literatura da área; por criativamente uma finalidade emancipadora do
outro lado, há também um momento em que a fazer pedagógico.
‘defasagem’ deste aluno começa a aparecer em Além disso, foram analisados a organização
sala de aula, na relação pedagógica. Elaborei uma institucional, os documentos orientadores
pesquisa para conhecer, aos olhos de professores, elaborados pela Secretaria Municipal de Educação
este processo inicial. Como é a situação em que o (2000) e as políticas públicas, bem como os
professor percebe o princípio desta ‘defasagem’ serviços institucionalizados (existentes na cidade)
na perspectiva do processo de ensino- oferecidos como apoio e/ou diagnóstico clínico
aprendizagem (que poderá tornar-se para alunos de escola pública que não
posteriormente repetência, exclusão, não acompanham o ensino, entendendo que estes
conclusão do ensino fundamental). O professor vê elementos também compõem o contexto da ação
possibilidades de agir sobre esta situação? Como docente.
explica, compreende, pensa sua ação? Os modos de interação pedagógica com
A pesquisa aqui referida investigou como aqueles que não estão acompanhando a turma
professoras2 de séries iniciais de escolas da rede revelam, de forma especial, escolhas e
pública municipal de Florianópolis agem e compromissos com valores da vida em sociedade,
explicam sua ação quando identificam em suas e também apontam limites e possibilidades do
salas de aula alunos que não acompanham o ensino diante de “situações problema”, ou seja,
ensino, que apresentam ‘defasagem’ na quando o ensino planejado depara-se, em seu
perspectiva pedagógica. O campo de investigação processo de execução, com elementos novos,
foi composto por três escolas consideradas instigadores talvez, de consideração, de reflexões.
progressistas pela secretaria da educação e duas Nas ações frente a estes alunos que não
acompanham o ensino, explicitam-se
2
conhecimentos e posicionamentos que
A pesquisa de campo ocorreu em cinco escolas públicas
determinam a compreensão da própria situação
municipais, com docentes das terceiras e quartas séries do
ensino fundamental, além de orientadores educacionais e (ou seja, explicações sobre as razões destes alunos
outros profissionais na escola. Como se sabe, a profissão de não acompanharem o ensino proposto) e a
magistério das séries iniciais é principalmente exercida por possibilidade de uma compreensão crítica sobre
mulheres. Neste caso, não houve exceção, ou seja, encontrei como este sistema de ensino gera necessariamente
apenas mulheres professoras nas séries investigadas. Por esta
razão, refiro-me a professoras (no gênero feminino) quando (nas condições sócio-políticas vigentes) alunos e
dos dados da pesquisa. alunas com desempenho “abaixo da média”. A

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12 Ação Docente nos anos iniciais do Ensino Fundamental: entre tantas possibilidades

existência de alunos e alunas que não “progridem” As professoras (entrevistadas) dizem que,
no quadro de avaliação adotado usualmente, aproximam-se dos alunos, chamam
institucionalmente pode instigar, dependendo do os pais, falam com a orientação (quando há) e
posicionamento e dos compromissos sociais do finalmente levam o caso para o conselho de
educador, questionamentos sobre o próprio classe.
sistema de ensino ou simplesmente reiterar o Em algumas escolas aonde existem projetos
modelo vigente, com sua ideologia, teorias e especiais ocorrendo, por exemplo, de leitura ou de
práticas, concepção de avaliação, como forma acompanhamento extra classe, as professoras
eficiente de conservar a estrutura (do sistema de disseram encaminhar seus alunos, tanto os que
ensino) em sua integridade, apenas classificando têm características para o projeto quanto aqueles
as diferenças e desta forma reproduzindo a si cujo “problema” não é exatamente adequado ao
mesmo (o sistema) e o campo de possibilidades do projeto. Entendem que, de qualquer forma, é
ensino. Os modos de ensinar, e o que se faz diante sempre mais uma possibilidade para que o aluno
daquele que não acompanha sua turma, consiga progredir. As ofertas institucionais (como
comunicam ao conjunto dos alunos e alunas estes projetos, entre outras) são também parte do
formas de pensar, sentir e interagir em sociedade. campo de possibilidades da ação pedagógica, bem
O agir está intimamente relacionado à forma como encaminhamentos extra-escola (para outros
de compreender e interpretar a situação. A prática profissionais ou projetos externos à escola), mas
pedagógica vincula-se à sua interpretação, modos não são foco deste texto. Enquadram-se, do ponto
de perceber e compreender os fatores presentes e de vista do professor, em “encaminhamentos” à
inclusive os valores atribuídos aos fatos. orientação. O recorte aqui não se dá para a análise
A pesquisa mostrou que, ao falarem de suas dos procedimentos, mas, como mencionei
ações frente aos alunos que não acompanham o anteriormente, para a constância de ações, para a
ensino, existem nuanças sutis na ação e escolha em relação ao costume.
interpretação das docentes. No entanto, tais Para cada uma destas ações (aproximar-se do
nuanças não apresentaram elementos aluno, chamar os pais, encaminhar para orientação
suficientemente diferenciados para transformarem ou similar, levar ao conselho de classe) existe um
as condições do campo de possibilidades da ação. modo próprio de fazer, mas no glossário do
Revelou que a prática pedagógica das professoras magistério estes termos são compreendidos com
entrevistadas está pautada em um conjunto de um significado consensual. Aproximar-se do
procedimentos habituais; ou seja, ainda que aluno significa em geral estabelecer um diálogo,
diferentes combinações de elementos pudessem perguntar sobre as razões da dificuldade ou
gerar ações distintas diante dos alunos que não desinteresse, aconselhar, estar ao lado na
acompanham o ensino em suas turmas, muito execução de algumas atividades e o
mais do que ações possíveis, as professoras prosseguimento disto depende da “resposta” do
investigadas adotam ações prováveis. Ou seja, aluno. Ou seja, na medida em que a professora
embora existam muitas possibilidades de ação, percebe que há alguma mudança de
algumas escolhas têm maior chance de ocorrerem comportamento do aluno diante destas
do que outras. Neste sentido, estou considerando intervenções ela prossegue ao longo do tempo
estas escolhas como de maior probabilidade. Esta com estas atitudes. No entanto, na medida em que
constatação chama a atenção, uma vez que a ação não encontra ressonância frente a sua iniciativa,
humana não nos parece subjugada pelas leis entende, em geral, que o aluno é “desinteressado”
matemáticas, já que conta com a intenção e não e comunica aos pais e à orientação da escola.
com o acaso. Portanto, entendendo a ação docente “Chamar os pais” significa mandar uma
como escolha, como lidar com este resultado de comunicação para que os pais ou responsáveis
escolhas tão similares repetindo-se entre todas as apresentem-se na escola para conversar com a
professoras entrevistadas nas diferentes escolas própria professora ou com a orientação escolar.
(em um único nível e sistema de ensino)? De modo geral, o profissional investiga os hábitos
Esclarecendo ao que me refiro, uma vez e rotina de estudos, comunica que o aluno não está
identificados os alunos que não estão com o acompanhando o ensino, aconselha sobre alguma
desempenho esperado, o que afirmam as medida familiar, como encontrar alguém que
professoras sobre sua ação? possa fazer as tarefas com o aluno, entre outras
nuanças.

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LATERMAN 13

Comunicar à orientação educacional é de falar, de agir, nos costumes e na apreensão da


efetivamente dar a saber e esperar que a identidade profissional.
orientação faça algum outro encaminhamento, se O aspecto reprodutivo da ação docente, o fato
possível (buscar diagnóstico clínico, encaminhar a de as professoras pesquisadas comportarem-se
projetos, por exemplo). profissionalmente a partir de um determinado
O conselho de classe corrobora a avaliação repertório historicamente construído no conjunto
final sobre o aluno. das ações de todos os professores através de uma
O que estas medidas nos dizem sobre a mútua identificação do ser e do fazer docente,
prática docente? Como foram adotadas? Não são oportuniza uma ação eficiente, ou seja, na medida
medidas aleatórias, pelo contrário, tais ações são em que existe um repertório “pronto” ou no
acompanhadas de uma fala repetida entre as mínimo um modelo de referência de como se age
entrevistadas “já fiz de tudo”. Já fiz de tudo em determinadas situações, o cotidiano pode ser
significa ter adotado estas medidas e, mais do que vivido de modo fluente. Como seria a vida na
isso, significa “já fiz tudo o que um professor escola caso fosse necessário buscar respostas não
(neste nível e sistema de ensino, neste local e padronizadas a cada situação cotidiana? Haveria
nesta data) faz.” nisto um elemento desorganizador e estressante,
A formação universitária não ensina tais que se vê minimizado pela reprodução de
“passos” a seus alunos, tampouco a escola orienta respostas já modeladas e aceitas como adequadas.
seus professores no início da vida profissional Ainda que ao serem adotadas, estas ações
sobre o que fazer em caso de um aluno não tenham ou não tenham os resultados desejados, a
acompanhar o ensino. Pelos relatos, não há sua adoção tem respaldo do conjunto do fazer
discussão conjunta nas escolas sobre estas profissional. A professora que conversa com a
situações para o consenso deste ‘protocolo’, este família de seu aluno, por exemplo, age de modo
conjunto de medidas usuais executadas numa comprometido com seus alunos, confirmando o
certa ordem. O que parece ocorrer, por hipótese, é uso de uma medida presente no repertório do
que a ação docente, o “fazer-se professor”, a coletivo da categoria profissional a que pertence.
identidade profissional, o saber fazer aquilo que No caso, não apenas “docentes” genericamente,
um professor (em contexto determinado) faz é porém docentes de determinado nível e sistema de
adquirido, subjetivado, nas relações com os outros ensino, em determinada data e local com suas
professores e professoras (do mesmo contexto). características históricas (portanto sociais,
Não é apenas um aprender a fazer fazendo, não se culturais, políticas, etc.).
trata, nesta argumentação, da idéia do aprender na A repetição do usual leva a certo conforto
prática, nem mesmo como decorrência exclusiva pelo saber como agir, dilui a responsabilidade da
de uma prática reflexiva. Trata-se de uma escolha da ação com a categoria profissional; a
identificação com ser professor, de agir como medida adotada não é uma iniciativa particular,
agem professores, de incorporar ao repertório de mas é a forma “como se faz”, reafirma ainda a
ações aquelas que são próprias de professores. medida para uso de outros profissionais. No
Quando um aluno não acompanha o ensino, o entanto, a repetição do uso de certas medidas
professor experiente aproxima-se do aluno, chama como costume parece estar dificultando a
os pais, comunica à orientação, discute no percepção de outras possibilidades nas condições
conselho de classe. A identidade profissional presentes. Não encontrei variação significativa nas
apresenta possibilidades de ação historicamente ações mesmo naquelas situações em que a adoção
construídas e que constituem o repertório do do costume não resulta no desejável. Seguindo o
ensinar. Orientam a ação docente, dão a ela uma exemplo da conversa com os pais, mesmo que
forma, a formatam e, ao mesmo tempo, a depois da conversa o aluno continue não
delimitam. acompanhando o ensino e apontando para uma
O campo de possibilidades tem assim um situação de avaliação de aprendizagem
conjunto de ações prováveis que reproduzem e insuficiente (sempre do ponto de vista da
reforçam a identidade profissional. A formação professora).
profissional se dá no curso de graduação, na Do ponto de vista da lógica das ações, uma
educação continuada, no exercício profissional e vez que imediatamente professores recorram a
também se dá através da identificação com o ser respostas e ao uso de medidas conhecidas e
professor, na aquisição subjetiva do modo de ser, largamente repetidas, estas medidas aparecem

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14 Ação Docente nos anos iniciais do Ensino Fundamental: entre tantas possibilidades

cada vez mais como única possibilidade, ou, no alunos tenham sucesso e outros fracassem. Esta,
mínimo, como a possibilidade mais evidente. Tal afinal, é a seleção que se dá de forma análoga à
evidência pode desestimular a elaboração de seleção natural. Portanto, o fato de alguns alunos
outras formas de organização e prática não acompanharem o ensino não é indicador de
pedagógica, quer sejam inusitadas, diferentes, problemas do processo ensino-aprendizagem, pelo
quer sejam baseadas na experiência de práticas menos não como fator determinante deste
pedagógicas já utilizadas em outros locais e resultado. O fato de alguns alunos não
tempo, porém possíveis a partir das condições acompanharem o ensino é decorrência,
materiais concretas presentes. Quando um predominantemente, de diferenças que sempre
professor age de determinada forma, coloca no existirão e que levam a uma natural seleção.
coletivo de que esta também é uma forma de A premissa apresentada traz em si um contra-
professores agirem, participa assim com este senso: natural e cultural não são conceitos de
elemento da construção da identidade profissional transposição simples, ou seja, a analogia entre o
docente. natural e o cultural não se realiza de forma
Para que exista a transformação dos costumes imediata. Cultural contém a idéia de uma ação
(no âmbito da ação docente aqui tratada) são intencional sobre o natural. Segundo Engels (apud
necessárias pelo menos duas coisas: em primeiro VYGOTSKY, 1989): “é precisamente a alteração
lugar que exista a necessidade desta da natureza pelos homens, e não a natureza
transformação e, em segundo lugar, que exista um enquanto tal, que constitui a base mais essencial e
determinado reconhecimento da prática imediata do pensamento humano.”
pedagógica adotada (e não usual) pelos pares, um Portanto, a cultura tem uma dimensão da
debate que aos poucos configure como intencionalidade. A educação formal, em um
conhecimento tal ação, uma existência deste novo sistema de ensino organizado e planejado social e
fazer ao longo de um tempo. politicamente, é, sem dúvida, carregado de
O reconhecimento da necessidade de intencionalidade e, também, de ideologia.
mudanças traz de volta a questão do moderno, da Segundo Chauí (2000), na sociedade em que
inovação, da transitoriedade de todas as coisas. vivemos (capitalista) cada indivíduo ocupa um
Que necessidade de transformação é esta? Para lugar na divisão social do trabalho. Este lugar
que a escola acompanhe “novos tempos”? De acaba por se fixar, repetir-se, dando a impressão
onde surge a necessidade desta transformação que de ser o lugar natural de cada um. A aceitação
postulo e busco ao pensar sobre o campo de desta ‘naturalidade’ se dá por meio da ideologia.
possibilidades da vida cotidiana, e do ensino,
como um campo de múltiplas convergências e Cada um, por causa da fixidez e da
escolhas? Onde se coloca o problema que pode ser repetição de seu lugar e de sua atividade,
motivo de busca de mudanças? tende a considerá-los naturais (por
O problema se coloca no já conhecido e exemplo, quando alguém julga que faz o
que faz porque tem talento ou vocação
estudado processo de exclusão de nosso sistema,
natural para isso; quando alguém julga
político, econômico e de educação. A que, por natureza, os negros foram feitos
naturalização da existência de alunos que não irão para serem escravos; quando alguém
de fato progredir (nos anos de escolaridade), a julga que, por natureza, as mulheres
percepção de sua presença em todas as salas de foram feitas para a maternidade e o
aula, a aceitação ideológica de que sempre trabalho doméstico). A naturalização
existiram e sempre existirão alunos que surge sob a forma de idéias que afirmam
fracassam, ao mesmo tempo em que se avalia de que as coisas são como são porque é
modo classificatório, forjando de fato a existência natural que assim sejam. As relações
dos “melhores”, dos “médios” e dos “piores”. sociais passam, portanto, a ser vistas
como naturais, existentes em si e por si, e
A premissa das indagações pode ser
não como resultados da ação humana. A
explicitada mais ou menos assim: o processo de naturalização é a maneira pela qual as
seleção está presente na vida, no mercado de idéias produzem alienação social, isto é, a
trabalho, em todas as instâncias da vida adulta. sociedade surge como uma força natural
Está presente também na escola. É, portanto, estranha e poderosa, que faz com que
esperado que alguns alunos tenham melhores tudo seja necessariamente como é.
resultados que outros; é esperado que alguns (CHAUÍ, 2000, p. 218).

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LATERMAN 15

A ordem social, fruto de um longo processo ideológico e de sustentar a intenção de encontrar


histórico, ganha aceitação por meio do caminhos coletivos e também institucionais frente
‘entendimento’ de que, como na natureza, cada aos graves e recorrentes problemas com os quais
coisa tem seu lugar e que tudo está como deve ser. nos deparamos no campo da educação pública.
De forma análoga, a aceitação de que há Além do fato de reconhecer a necessidade de
diferenças ‘naturais’ entre os alunos que chegam à mudanças, apontei que, para que de fato se
escola, mesmo quando estas diferenças são transforme o campo de possibilidades, é
explicadas por intervenientes familiares e sociais; importante existir o reconhecimento da prática
a aceitação destas diferenças como legitimação do pedagógica adotada (e não usual) pelos pares.
sucesso e fracasso escolar leva à legitimação das Neste sentido, tendo sido reconhecida a
desigualdades de oportunidades efetivas de acesso necessidade de buscar ações não usuais (quando
à cultura letrada. A premissa de que é ‘natural’ estas se mostram insuficientes), como estas
que parte dos alunos consiga acompanhar o ensino podem fazer parte do repertório docente de
e outra parte não consiga, e que este fator deve determinado nível e sistema de ensino?
determinar o lugar que cada um deve ocupar na Dependendo da forma como a prática é elaborada
escola (formas de inclusão e exclusão na escola) é como saber entre os professores, pode ser
carregada fortemente pela ideologia. considerada “experimental” e com isto restrita a
uma situação determinada, perdendo sua “força”
Assim, a função primordial da ideologia é de transformação ao ser incorporada ao sistema. A
ocultar a origem da sociedade (relação de prática criativa, emancipadora e inclusiva, ainda
produção como relações entre meios de que possível, pode ter seus efeitos
produção e forças produtivas sob a “transformadores” restringidos pela resistência
divisão social do trabalho), dissimular a
presente no conjunto docente, ao não ser validada
presença da luta de classes (domínio e
exploração dos não-proprietários pelos como saber, mas colocada como prática eventual,
proprietários privados dos meios de alternativa, experimental. Esta prática
produção), negar as desigualdades sociais experimental tem o risco do “erro” e da “autoria”.
(são imaginadas como se fossem A responsabilidade recai, ao contrário das práticas
conseqüência de talentos diferentes, da largamente compartilhadas, sobre o professor que
preguiça ou da disciplina laboriosa) e a adota. Daí a importância do reconhecimento dos
oferecer a imagem ilusória da pares, da elaboração em âmbito institucional do
comunidade (o Estado) originada do registro destas práticas, da repetição das mesmas
contrato social entre homens livres e em diferentes situações, ou da extensão e
iguais. A ideologia é a lógica da
incorporação de outros professores na
dominação social e política (CHAUÍ,
2000, p.219). participação da ação. Quando a prática
diferenciada é elaborada institucionalmente, neste
A necessidade de transformação se dá, ponto passa a existir a consolidação de um
portanto, pela substituição de uma visão elemento novo para o campo de possibilidades
naturalizadora dos fenômenos sociais por uma naquela instituição, o que de fato propõe uma
visão das possibilidades da ação humana, pela nova circunstância.
capacidade de enxergar em cada situação as Os processos de reprodução e transformação
muitas possibilidades ali contidas, motivadas por da prática pedagógica num sistema de ensino
uma intenção de fato, pela intenção dos resultados muitas vezes acontecem na ação individual,
e consequências da ação. porém dificilmente se estabelecem e se fixam
Aqui cabe o alerta sobre a modernidade, o apenas com a ação individual. O desafio se coloca
fugaz, a transformação que promete um futuro em conseguir incorporar o que é tido como
melhor, progresso, que nunca chega e muito alternativo (atendendo aos propósitos
menos atinge a todos de forma equitativa. Não se educacionais emancipadores e inclusivos) como
trata de pleitear mudanças e modernismos para a um movimento de transformação do próprio
educação de maneira que sua estampa tenha uma sistema. O reconhecimento dos pares é, ao mesmo
estética mais contemporânea. Trata-se de ter em tempo, um reconhecimento da identidade
mente os fins da educação, o reconhecimento de profissional; um reconhecimento do outro como
determinantes do sistema político-econômico e professor. A ação do outro reconhecido como
professor permite a legitimação de sua prática.

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16 Ação Docente nos anos iniciais do Ensino Fundamental: entre tantas possibilidades

A transformação pode ser pensada em duas No sistema de ensino pesquisado e


perspectivas: uma, como soluções novas e apresentado neste texto as professoras repetiam
alternativas aos costumes, e transformadoras na um repertório de ações (frente aos alunos que não
medida em que ocorram na direção de uma acompanham suas turmas quanto à aprendizagem)
proposta inclusiva, ética, emancipadora, de delimitado por uma organização de ensino
respeito aos direitos e de construção coletiva. A tradicional (individualista, meritocrática, bancária,
outra perspectiva trata não da ação adotada em si segundo o pensamento Freiriano). Tais ações
mesma, porém da elaboração de elementos que mostraram-se fins em si mesmas, uma vez que
proponham ao campo de possibilidades novas não eram percebidas pelas professoras em suas
condições para o futuro próximo. Possibilidades relações diretas com o aprendizado dos alunos. As
que transformem ou dêem visibilidade às ações eram aquilo que um professor “deve fazer”,
condições para superar o hábito de escolhas as mudanças ou não do aprendizado do aluno não
prováveis para escolhas arriscadas, no sentido de eram sistematicamente relacionadas a elas.
serem progressistas, ou que proponham novos Quando perguntadas sobre o que influenciara os
elementos no âmbito político, de gestão resultados de aprendizado dos alunos as
econômica, institucional, das condições de professoras argumentavam principalmente com
trabalho docente, entre outros. questões familiares ou de amadurecimento (ou
Identificar-se com a categoria e aprender o não) do aluno. Assim, as próprias ações são
repertório (de conhecimentos, saberes e práticas) naturalizadas como ‘aquilo que se faz nestas
existente para, em seguida, “desidentificar-se” e situações’ e ganham legitimidade por este
com isto buscar novas identidades para a reconhecimento de validade construído no âmbito
profissão, este é um dos desafios do fazer-se da identidade profissional, ‘aquilo que um
professor e professora. professor de anos iniciais desta rede de ensino
faz’.
A margem de autonomia que o sistema Neste texto a prática pedagógica provável no
educativo e curricular deixa nas mãos dos sistema de ensino investigado foi tratada como
professores é o campo no qual generalização. A partir de um recorte específico –
desenvolverão sua profissionalização. a compreensão de professoras de anos iniciais
Isso é uma opção e o resultado de
sobre suas práticas nas situações em que o aluno
situações históricas, referenciais políticos
e práticas administrativas e de um nível não acompanha o ensino – generalizei a discussão
de capacitação no professorado. A para práticas pedagógicas ou ação educacional.
autonomia sempre existe, mas suas Não significa que, a partir dos resultados da
fronteiras também. É preciso ver a pesquisa, se possa inferir que toda a prática em
autonomia profissional de cada professor anos iniciais na rede de ensino estudada seja
individualmente considerado, ou da provável e fim em si mesma. No entanto, posso
profissão como grupo de profissionais, afirmar que existem práticas pedagógicas mais
dentro de um quadro de determinantes da prováveis do que outras em contextos
prática (GIMENO, 2000, p.168). determinados. Quando estas práticas estiverem
naturalizadas, incorporadas como as únicas
Há como um jogo entre a criação de novos possibilidades no seu campo de ação ao invés de
espaços e a ocupação dos espaços da forma mais compreendidas em suas origens históricas e
usual; nem bem é possível agir sem o espaço culturais, ações como fim em si mesmas,
inicialmente existente e já legitimado, nem bem é identificam-se com as análises aqui elaboradas.
possível que tal configuração de espaço resista Nestes casos, o principal critério de regulação da
permanentemente a certas mudanças, uma vez que ação (ou seja, de avaliação e busca de outras
o cotidiano é caracterizado também pelo formas de agir frente à avaliação) é a aceitação
imprevisível; a ação humana é reprodução e naturalizada de sua validade. Outra forma de fazer
também produção. a regulação da prática pode se realizar a partir das
decorrências da ação, ou seja, para além de um
fim em si mesma.
E de que origens viriam as ações que fogem à
IV. Considerações Finais probabilidade de serem realizadas? Inicialmente
de um entendimento desnaturalizado da ação

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LATERMAN 17

docente e do próprio sistema de ensino. Ou seja, a tempo integral em 1950. Poderia citar ainda Paulo
prática pedagógica não é ‘naturalmente’ de algum Freire (1921-1997), falecido há 10 anos, que
jeito, a prática pedagógica é cultural e intencional. valoriza o afeto nas relações pedagógicas (e
Pode, portanto, adquirir diferentes formatos e humanas) e o caráter emancipador da educação
decorrer de diferentes concepções, assumir (FREIRE, 1967).
diferentes finalidades. Esta assertiva pode ser Não pretendo colocar todos como expressões
observada na prática, ou melhor, nas inúmeras de um pensamento único, mas como pensamentos
práticas de trabalhos de educadores quer seja na diferentes em busca de uma educação
organização singular da escola; quer seja em democrática; a construção histórica do
projetos de caráter curricular. A prática pensamento pedagógico (aqui representada, de
pedagógica não usual, como toda prática, busca forma quase aleatória, por minha memória
suas referências em pensadores da pedagogia (e imediata). Ou seja, a ação pedagógica, para além
áreas afins) e em experiências pedagógicas das prováveis ações esperadas, tem também uma
anteriores. Apóia-se em propostas existentes para história. O que é alternativo ao pensamento
recombiná-las e, deste ponto de vista, inová-las hegemônico não é necessariamente novo em sua
com autoria e singularidade. Identifica-se com o acepção moderna, novo em tecnologia e em
pensamento democrático, ético, emancipador e juventude. O pensamento contra-hegemônico é
busca coerência na ação. Avalia permanentemente histórico (como todo conhecimento humano) e se
seus processos e se re-organiza para aproximar-se constrói no conhecimento elaborado por outros
de suas finalidades. anteriores, a partir das novas circunstâncias de
A ação improvável em um determinado cada tempo.
sistema de ensino não precisa ter caráter inédito, O campo de possibilidades da ação
afinal, um grande campo do conhecimento pedagógica só se torna pertinente na medida em
pedagógico pode ser agrupado sob o termo que o sujeito da ação o percebe. Políticas públicas,
guarda-chuva ‘alternativo’. Numa leitura currículo, organização escolar, infância,
contraditória (com a idéia de novo no tempo), letramento, ensino, aprendizagem, sociabilidade,
autores como Rousseau (1712-1778), Freinet afetividade, todos estes conhecimentos, discussões
(1896-1966), Decroly (1871-1932), Vygotsky e instrumentalização são necessários e
(1896-1934), Anísio Teixeira (1900-1971) imprescindíveis à prática pedagógica. O debate
poderiam ser concebidos como inovadores ou proposto pretende contribuir a estas outras
alternativos, em 2007. Inovadores ou alternativos, dimensões, indissociáveis da atividade de
porque e em que? Certamente não seriam magistério.
inovadores por sua juventude, uma vez que todos
nasceram há mais de 100 anos. O que estes REFERÊNCIAS
autores trazem não é propriamente a inovação. O
que os autores apontam é a possibilidade de uma CHAUÌ, Marilena. Filosofia. São Paulo: Ática,
educação inclusiva, emancipadora e intencional. 2000.
Suas reflexões se opõem, portanto, aos valores DECROLY, Ovide. El juego educativo:
ideológicos da naturalidade do lugar social de iniciacion a la actividad intelectual y matriz /
cada um e da meritocracia a partir de rendimento e Ovidio Decroly, e Monchamp. Madrid: Morata,
produtividade como a medida do merecimento de 1986.
atenção e investimentos para cada um. FERRARO, Alceu Ravanello. Diagnóstico da
Os autores citados não pensam a educação de escolarização no Brasil. Revista Brasileira de
um único modo. Se Decroly (1986) formula a Educação. São Paulo: ANPEd, 1999.
importância do aluno e seu interesse como centro Set/Out/Nov/Dez. nº12.
do estudo, Freinet (1977) valoriza a descoberta FERREIRA, Aurélio Buarque de Hollanda. Novo
vivencial e a cooperação, Vygotsky (1989) dicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro:
apresenta a importância da mediação para os Nova Fronteira, 1990
processos mentais superiores, Rousseau (2000) foi FREINET, Celestin. Ensaio de Psicologia
precursor em defender a singularidade da infância. Sensível. Lisboa: Editorial Estampa, 1977.
Anísio Teixeira (1997), além de defender a FREIRE, Paulo. Educação como prática da
escola pública no âmbito político e administrativo, liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1967.
implementou a Escola Parque, uma escola em

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18 Ação Docente nos anos iniciais do Ensino Fundamental: entre tantas possibilidades

GIMENO, J. O currículo: uma reflexão sobre a Catarina. Disponível em: <http://www.sed.rct-


prática. Porto Alegre: Artmed, 2000. sc.br/ide-2004/ens_fundamental>. Acesso em 20
HELLER, Agnes. O cotidiano e a História. São nov. 2003.
Paulo: Editora Paz e Terra, 1992. SARMENTO, Manuel Jacinto. Lógicas de acção
MARTINS, José de Souza. A sociabilidade do nas escolas. Instituto de Inovação Educacional;
homem simples.São Paulo: Hucitec, 2000. Lisboa, 2000.
PATTO, Maria Helena Souza. A produção do TEIXEIRA, Anísio. Educação para a
fracasso escolar: histórias de submissão e democracia: introdução à administração
rebeldia. São Paulo: Queiroz, 1993. educacional. Rio de Janeiro: Editora UFRJ,
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Emilio ou da 1997.
educação. São Paulo: Martins Fontes, 2000. VYGOTSKY, Lev Seminovitch. A formação
SECRETARIA de ESTADO da EDUCAÇÃO, social da mente. São Paulo: Martins Fontes,
CIÊNCIA e TECNOLOGIA. Estado de Santa 1989.

Recebido: 10/06/2009
Aceito: 10/10/2009

Endereço para correspondência: Av. Ipê Amarelo 173 88062-298 - Florianópolis – SC - <ilana@laterman.com>

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