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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS

ESCOLA NORMAL SUPERIOR


LICENCIATURA EM PEDAGOGIA – 5º PERÍODO
CURRÍCULO E ENSINO BÁSICO

CURRÍCULO: UMA IDEOLOGIA EDUCACIONAL


Gláucia Maria Lima Mesquita1
Adrianny Pereira Duarte2
Universidade do Estado do Amazonas – UEA

RESUMO:
A intenção deste texto é trazer uma percepção breve sobre o currículo educacional e
sua relação com o conhecimento e a ideologia. Temos também a pretensão de
compreender o currículo como uma forma de ideologia dentro do cotidiano escolar e
pensar o currículo como campo aberto para críticas e questionamentos e o porquê de
sua importância. Será que os alunos tem ideia de o que é currículo? E nós, como
estudiosos e usuários do currículo, temos noção do seu papel crítico e normativo? É o
que buscamos aqui tentar enfatizar o currículo como sistema ideológico através das
reflexões sobre o assunto. A estrutura do presente texto foi construído a partir dos
estudos dos fichamentos retirados do livro “O que é ideologia ” de autoria da
socióloga Marilena Chauí, do artigo “ Teoria do currículo: o que é e por que é
importante”, de autoria de Michael Young, de mapas mentais construídos a partir
dos artigos “Currículo E Saberes Dos Territórios De Várzea E Terra Firme Nas
Amazônias”, de Maria Eliane de Oliveira Vasconcelos, e também do artigo me
Maria Aires de Lima, “Educação Do Campo, Organização Escolar E Currículo; Um
Olhar Sobre A Singularidade Do Campo Brasileiro”. Através dos estudos desses
textos também será exposto a reflexão adquirida das leituras. A partir dos estudos
realizados, percebemos que o currículo é trabalhado e adaptado para as diversas
modalidades de ensino, a exemplo temos o trabalho nas áreas de várzea e terra firme
no território Amazônico, levando em contas políticas públicas e as experiências,
vivências de se viver no campo. A construção de saberes é enriquecida. O currículo
também é uma ideologia, os sujeitos que vivem no campo têm o direito de conhecer
suas possibilidades, não como doutrinação, mas como aquisição de conhecimento, da
diversidade. Tratando da dimensão ideológica do currículo, segundo os teóricos da
teoria crítica, o conhecimento presente no currículo serve a legitimação e o
desenvolvimento da ordem social e democrática enquanto uma construção social.
Dessa forma, a linguagem, metodologias, conteúdos e os códigos culturais modelam
a percepção e o modo de compreensão dos alunos, sendo marcado pelas relações de
poder decorrentes de opções ideológicas e de posições hegemônicas de diferentes
1
Graduanda em Licenciatura em Pedagogia- E-mail: gmlm.ped19@uea.edu.br
2
Graduanda em Licenciatura em Pedagogia- E-mail: adriannypduarte@gmail.com
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grupos de interesses. Sendo assim o currículo sempre vai ser um “sistema de relações
sociais e de poder com uma história específica”, como diz o autor Michael Young

Palavras-chaves: Currículo. Ideologia. Conhecimento.

Introdução
O currículo é um importante mediador da educação, constituindo um conjunto de
orientações teórico‐ pedagógicas que, fundamentado político‐econômico‐
culturalmente, estabelece as intenções e finalidades à prática educativa nos processos
de formação humana. Levando em consideração o caráter contraditório da educação e
do papel do conhecimento – tanto a manutenção do status quo quanto a sua
transformação radical, partimos da ideia que a autora Marilena Chauí nos traz sobre a
diferença e a confusão que há no significado de ideologia já que muitos confundem
com a definição de ideário sendo que ideologia é um ideário político cultural e
social. Num contexto histórico a ideologia surge a partir do pensamento moderno que
representa um grande progresso teórico. Na verdade, a teoria de ideologia é advinda
de um período anterior, iniciando na Grécia a partir das primeiras concepções lógicas
e racionais para tentar explicar o mundo.
Como responder à questão de um currículo ser uma ideologia dentro do campo
educacional? Aqui vamos buscar a teoria do currículo. Levando em consideração o
papel da educação na luta pela emancipação humana, as discussões em torno do
currículo tornam-se emergentes no sentido de explicitar a perspectiva de
conhecimento, as teorias e filosofias que orientam as finalidades teórico ‐ pedagógicas
da educação.
Seguindo essa linha de pensamento o autor Michael Young, em seu artigo A Teoria
Do Currículo, defende que educação é uma atividade prática especializada sendo que
o currículo deve unir esses dois papéis, sendo aplicada assim em toda instituição
educacional, não só em escolas de educação fundamental, mas faculdades,
universidades, centro de ensino técnico, todos têm currículo.
Há várias questões que podem ser inseridas no debate educacional e ao que se refere
ao campo do currículo, como por exemplo: a relevância do currículo à prática
pedagógica e à formação humana na sociedade capitalista? É possível construir um
currículo orientado a desenvolver uma atividade educativa como alternativa viável no
sentido da superação da ordem social vigente?
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Neste contexto, podemos analisar o papel crítico e normativo da teoria do currículo, o


qual se concebe a partir de tradições, abertas sempre a debates. Todavia deve-se
salientar que este assunto ainda é um campo de estudos, sendo que a teoria do objeto
é o objeto da teoria, o objeto de estudo da teoria do currículo é o próprio currículo.
E refletindo sobre o papel normativo podemos afirmar que toda a instituição escolar
possui suas regras, suas orientações, estas que tem como base valores morais,
maneiras como agir em sociedade, a serem repassados aos indivíduos, através da
prática de seu currículo. Então como não a associar a uma ideologia que tem suas
bases política, cultural e na sociedade.

Currículo Como Ideologia Na Educação


Partindo de que ideologia se caracteriza pela transmissão de ideia e da visão de
mundo, discutir sobre o currículo escolar na contemporaneidade, é de fato, analisar
profundamente o sistema educacional, como também, o que o ser humano produziu e
continua produzindo ao longo do tempo, tempo esse, chamado história. Temos
buscado compreender os conhecimentos elaborados e apropriados por todos os
membros da sociedade, as diversas culturas existentes, ampliadas gradativamente ou
até mesmo modificadas de geração em geração.
O currículo é transformação, não apenas no que se refere a mudar o sentido, de ir por
outro caminho, mas de buscar novas alternativas, novas soluções, novas metas e
novas conquistas. O currículo consiste em transformar o impreciso em conhecido, e
tal fato, envolve um ensino-aprendizagem qualitativo.

O currículo nunca é simplesmente uma montagem neutra de conhecimentos, que de


alguma forma aparece nos livros e nas salas de aula, digamos que ele parte de uma
tradição seletiva, de uma seleção feita por alguém, das visões que algum grupo tem
do que seja o conhecimento legítimo. Ele é produzido pelos conflitos, tensões e
compromissos culturais, políticos e econômicos que organizam e desorganizam um
povo.

O currículo representa a caminhada que o sujeito irá fazer ao longo de sua vida
escolar, tanto em relação aos conteúdos apropriados, quanto às atividades realizadas
sob a sistematização da escola. Nesse sentido, Sácristán e Gómez (1998, p. 125),
afirmam que “a escolaridade é um percurso para alunos/as, e o currículo é seu
recheio, seu conteúdo, o guia de seu progresso pela escolaridade”.

No contexto escolar, o currículo deve ter uma função formativa, educativa, social e
cultural. O currículo escolar, como prática de transformação da realidade e do
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conhecimento concreto, precisa ser debatido e refletido constantemente, por todos


aqueles que compõem a equipe escolar, onde, todos os profissionais da escola devem
estar preparados para entenderem, que o currículo é essencial na práxis pedagógica e
na vida escolar, social e cultural de todos os alunos que chegam até a escola em busca
de conhecimentos significativos. O currículo surge, então, em uma dimensão ampla
que o entende em sua função socializadora e cultural, bem como forma de
apropriação da experiência social acumulada e trabalhada a partir do conhecimento
formal que a escola escolhe, organiza e propõe como centro das atividades escolares.

Atualmente, ainda há professores/educadores, que demonstram compreender o


currículo escolar, como, uma área meramente técnica, passiva/ neutra, o currículo
tem que possuir uma “tradição” crítica, pois há muito tempo deixou de ser apenas
uma área meramente técnica, voltada para questões relativas a procedimentos,
técnicas, métodos. Já se pode falar agora em uma tradição crítica de currículo, guiada
por questões sociológicas, políticas e epistemológicas. Embora questões relativas ao
currículo continuem importantes, elas só adquirem sentido dentro de uma perspectiva
que as considere em sua relação com questões que perguntem pelo "porquê" das
formas de organização do conhecimento escolar.

O Currículo, não é imparcial, é social e culturalmente definido, reflete uma


concepção de mundo, de sociedade e de educação, ele implica nas relações de poder,
acabando sendo o centro da ação educativa, pois ele é um instrumento político que se
vincula à ideologia, à estrutura social, à cultura e ao poder.

O livro “O que é ideologia” de Marilena S. Chauí, recorre aos pensamentos de Hegel


e Marx para criar uma contradição e explicar o tema, tem como foco explicar o que é
ideologia através da divisão social e do trabalho, dando ênfase que uma das maiores
preocupações dos filósofos gregos era a explicação do movimento.

Marilena Chauí ressalta o caráter multifacetado da ideologia, mostrando ser está um


conjunto lógico, sistemático e coerente, de representações (ideias e valores) e normas
ou regras de conduta que indicam aos membros da sociedade o que devem sentir e
como devem sentir, o que devem fazer e como devem fazer.

A ideologia é uma ferramenta de dominação de classes, bem como uma forma de luta
dessas classes, assim, podemos dizer que um exemplo dessa dominação é a BNCC,
que traz como proposta a unificação do ensino sem levar em consideração as
especificidades de cada aluno. Temos também o livro didático que traz em seu
conteúdo uma proposta idealista que não é condizente com a realidade dos alunos.
Deste ponto de vista a classe dominante, vai mudando a sociedade de forma que o
indivíduo se torna oprimido, uma vez que os seus direitos vão se cumprir com regras
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estabelecidas por uma ideologia que trabalha para manter esse interesse. Para nossa
grande Marilena Chauí, os dominantes se utilizam da ideologia para realizar a
dominação, sem que os dominados tenham consciência desse processo. Ou seja, os
dominados não enxergam a ideologia como dominação, como os principais
instrumentos de transmissão da ideologia que permite a dominação, são as
instituições como a família, a Igreja, o Estado, etc., a educação formal é
responsabilidade do Estado e de suas instituições, sobretudo a escola, é através dele
que buscaremos entender a transmissão da ideologia dominante.

No âmbito escolar, o currículo é um meio de referência para se analisar o que a


escola faz em relação ao seu projeto político pedagógico, sendo que o aprendizado do
aluno é construído a partir das propostas da instituição educacional. É desta forma
que devemos pensar o currículo, como ideologia na educação, suscetível a críticas, a
mudanças quanto à análise de novas práticas escolares que levam em conta as
necessidades dos alunos; introduzindo a tecnologia no ensino, avaliando o
desempenho atual e estabelecendo metas.

Considerações Finais
Tratando da dimensão ideológica do currículo, segundo os teóricos da teoria crítica, o
conhecimento presente no currículo serve a legitimação e o desenvolvimento da
ordem social e democrática enquanto uma construção social. Existe uma distinção
quanto à definição de ideologia, ou seja, não, não existe uma ideologia verdadeira e
nenhuma ideologia falsa. o que a difere são as nossas vivências a partir das
experiências de cada um, que vai nos moldando e nos constituindo enquanto sujeito
ao longo do processo. então como não há ideologia certa nem errada, ela é
interpretada de diferentes formas, fazendo com que sua intencionalidade seja vista
como algo bom ou ruim. Dessa forma, a linguagem metodológica, conteúdos e os
códigos culturais, modelam a percepção e o modo de compreensão dos alunos, sendo
marcado pelas relações de poder decorrentes de opções ideológicas e de posições
hegemônicas de diferentes grupos de interesses. Sendo assim o currículo sempre vai
ser um “sistema de relações sociais e de poder com uma história específica”, como
diz o autor Michael Young
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Referências:
CHAUÍ, Marilena – O que é ideologia. – 9 ° reimp. Da 2. ed. De 2001 – São Paulo:
Brasiliense, 2008.
YOUNG, Michael. Teoria do currículo: o que é e por que é importante. Tradução: Leda
Beck. Cadernos de Pesquisas. V.44, n 151, p.190-202 jan./mar.2014
VASCONCELOS, Maria Eliane de Oliveira. ALBARADO,Edilson da Costa.
CURRÍCULO E SABERES DOS TERRITÓRIOS DE VÁRZEA E TERRA FIRME
NAS AMAZÔNIAS. Revista Espaço do Currículo, v. 14, n. 2, p. 1-16, 2021. ISSN 1983-
1579. DOI: https://doi.org/10.22478/ufpb.1983-1579.2021v14n2.58093.

LIMA, Maria Aires de. COSTA, Frederico Jorge Ferreira. PEREIRA, Karla Raphaella
Costa. EDUCAÇÃO DO CAMPO, ORGANIZAÇÃO ESCOLAR E CURRÍCULO:
UM OLHAR SOBRE A SINGULARIDADE DO CAMPO BRASILEIRO. Revista
PUCSP.v. 15 n. 4 (2017). https://doi.org/10.23925/1809-3876.2017v15ip1127-1151

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