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3.

CONCEPÇÕES TEÓRICOS- FILOSÓFICAS DA DIDÁTICA E O PENSAMENTO


EDUCACIONAL BRASILEIRO.
As concepções teóricos-filosóficas têm norteado o “que fazer” humano e não poderia
ser diferente no campo da didática, marcada pela evolução, buscando sempre aprimorar o
ato de ensinar, transformando-o em uma arte, ou seja: a arte da docência.
Neste sentido, a reflexão acerca da didática no interior do processo educacional não
pode se limitar à análise da escola do ponto de vista de sua estrutura funcional, mas
sobretudo de suas práticas pedagógicas e seus procedimentos metodológicos. Todas estas
ações têm como fundamento uma concepção filosófica e sociológica, definida com base na
ideologia social e política dominante num determinado contexto histórico de uma sociedade.
É igualmente importante, em atendimento à análise proposta pelo tema em estudo
refletir acerca da influência destas concepções no pensamento e, consequentemente na
ação daqueles que contribuíram, com reformas educacionais para a evolução da educação
brasileira. De igual modo é necessário refletir sobre a constituição deste pensamento, para
cuja reflexão sintetizaremos a obra de Moacir Gadotti: Pensamento Pedagógico Brasileiro.
Tais concepções ou tendências classificam-se em teorias filosóficas da educação e
tendências pedagógicas. Neste estudo convergiremos nossa análise para a caracterização
destas concepções ou tendências, em paralelo à reflexão acerca de suas influências para a
ação dos reformadores (políticos no poder) ou de educadores ao longo da história da
educação.
As teorias filosóficas analisam a educação no interior da sociedade, tendo como base a
sua concepção de verdade, objetivando compreender a função que a educação desempenha
na sociedade. Na literatura educacional, encontramos três teorias filosóficas, definidas,
segundo Luckesi (1994)1 como:
• A Educação como Redentora da Sociedade;
• A Educação como Reprodução da Sociedade;
• A Educação como Transformadora da Sociedade.
A Educação como Redentora da Sociedade:
A educação é responsável pela direção da sociedade, devendo induzir à formação de
uma sociedade em harmonia, perfeita. Neste sentido a educação:
• Terá a força de redimir a sociedade se investir seus esforços nas gerações novas;
• Deve formar mentes e dirigir suas ações a partir dos ensinamentos;
• Deve reforçar os laços sociais, promover a coesão social e garantir a integração de
todos os indivíduos no corpo social.
Seus representantes são: os enciclopedistas da Revolução Francesa (pedagogia
tradicional), os pedagogos renovados e Comênio.
A Educação como Reprodução da Sociedade:
A educação faz parte da sociedade e a reproduz. Embora critique a sociedade, não
propõe uma ação pedagógica transformadora. A escola é,portanto, uma aparelho ideológico
do estado, cuja tarefa é ensinar o saber prático que proporcione qualificação ao futuro
trabalhador, alem de incutir valores e princípios morais da sociedade dominante, conduzindo
o indivíduo a assimilar o seu papel no contexto social.
Tem como principal representante Louis Althusser que critica a estrutura social de
modo pessimista e derrotista sem apresentar possibilidades da escola contribuir para a
transformação social.
A Educação como Transformadora da Sociedade:
A educação é compreendida como estratégia capaz de democratizar e transformar
a sociedade, sendo analisada como parte de uma concepção crítica das dimensões sociais,
políticas e econômicas.
Duas idéias sintetizam esta corrente filosófica:
• Educação como uma relação dialética: utilizando as próprias contradições da
sociedade de classe, extrai dessa realidade projetos alternativos para uma nova sociedade;
• Educação como estratégia que possibilita a democratização e a transformação
da sociedade.
No entanto, Luckesi e Saviani alertam acerca da dificuldade de agir com base numa
perspectiva crítica e transformadora, uma vez que toda a sociedade está impregnada com os
valores das classes dominantes. Por outro lado, Saviani ressalta que uma prática alicerçada
na luta contra a seletividade, a discriminação e o não-rebaixamento da qualidade do ensino
para as camadas populares é capaz de mudar a realidade social vigente.
Além das concepções ou teorias filosóficas, a prática educativa têm sido influenciada
desde os seus primórdios por um conjunto de idéias que determinam a forma de organizar a
ação escolar e principalmente a forma de ensinar do professor. Essas idéias resultam de
processos de reflexão acerca das teorias filosóficas estudadas ou com base na observação
e exercício da atividade docente, formando um rol de conhecimentos que norteiam a sua
ação educativa em sala de aula.
Pesquisando a literatura educacional que trata da evolução da didática, destacamos
Libâneo e Luckesi que explicam tal evolução por meio de tendências pedagógicas. Além
destes, Candau explicita o desenvolvimento da didática em momentos históricos, a partir da
década de 60, semelhantemente à Amélia Castro que explica a trajetória histórica desta
disciplina ao longo dos séculos, a partir de sua origem no século XVII.
Com percepção similar ao do primeiro grupo de autores, Saviani apresenta a
evolução histórica da educação e consequentemente da didática em 2 grupos, a partir dos
quais analisa o problema da marginalidade, tomando por base as teorias da educação.
Segundo Luckesi e Libâneo as Tendências Pedagógicas da educação estão
divididas em dois grandes grupos que congregam um conjunto de orientações baseadas num
perfil sócio-cultural da sociedade na qual foram construídas. São elas:
- Tendências de Caráter Liberal, englobando as pedagogias tradicional, renovada e
tecnicista.
- Tendências de Caráter Progressista, envolvendo a pedagogia libertadora e a crítico-
social dos conteúdos.
As diferentes concepções caracterizam a Didática e definem a atividade de ensinar,
bem como o papel dos seus protagonistas (professor e aluno), os métodos e as técnicas
empregados, os materiais utilizados durante as aulas etc, de modo diversificado, pois o olhar
não é o mesmo e cada concepção teórico-filosófica carrega em seus princípios norteadores
a essência de sua origem e o comprometimento com o paradigma social que deseja alcançar
ou perpetuar, pois quando falamos dessas diferentes concepções estamos nos referindo,
também, aquilo que ocorre na realidade social, daí a complexidade dessas concepções e a
necessidade de compreendê-las dentro do contexto em que foram tecidas, pois elas refletem
o pensamento de diversas épocas e de vários intelectuais que se preocuparam em teorizar
a prática e praticizar a teoria, na tentativa de transformá-la, e, muitas vezes, conservá-la,
levando em consideração interesses políticos, econômicos e ideológicos.
As concepções de caráter liberal como o próprio nome enseja estão atreladas ao
Liberalismo (que é a forma ao mesmo tempo racional e intuitiva de organização social em
que prevalece a vontade da maioria quanto à coisa pública, e que está livre de qualquer
fundamento filosófico ou religioso capaz de limitar ou impedir a liberdade individual e a
igualdade de direitos) e suas manifestações na área educacional.
Sustentam a idéia de que a escola tem por função preparar os indivíduos para o
desempenho de papéis sociais, de acordo com as aptidões individuais, por isso os indivíduos
precisam aprender a se adaptar aos valores e às normas vigentes na sociedade de classe
através do desenvolvimento da cultura individual.
São típicas das sociedades de classes, que segundo Libânio (1990, p.21) têm como
função “preparar os indivíduos para o desempenho de papeis sociais, de acordo com as
aptidões individuais”. Nessa linha de pensamento encontra-se a Pedagogia Tradicional,
cuja origem remonta ao século XVI, época em que a classe burguesa reivindicava um novo
tipo de educação, pautada na realidade e no futuro.
É importante destacar que durante o século XVI não se pode falar de didática
enquanto disciplina do campo pedagógico, mas de uma vivência e reflexão da “situação
didáticaJoe”, independentemente de sua constituição sob forma de disciplina. Era o tempo
de didática difusaJoe, na qual o ensino baseava-se na intuição ou seguia a prática vigente.
No Brasil se desenvolve durante o período de 1870-1930, momento em que o País
vive o ciclo do café, com a expansão cafeeira e passagem para um modelo urbano-comercial
exportador. Pode ainda ser identificada na ação missionária e educativa dos jesuítas,
baseada na inculcação da ideologia da Coroa Portuguesa (povoamento), de modo a
promover a colonização do Brasil, à custa da escravidão do índio que aprendia práticas
elementares de produção a fim de contribuir com o desenvolvimento da Colônia.
O enfoque da Pedagogia Tradicional é nas diferenças individuais, uma vez que
essa tendência sofreu forte influência da sociologia de da psicologia.
Como principais características dessa tendência destacam-se: a importância dada
ao ensino de caráter humanista; O uso da disciplina e a transmissão de conhecimentos que
requerem intelectualismo e memorização.
É interessante destacar que nessa tendência a atividade de ensinar é caracterizada
pelo dogmatismo pedagógico, ou seja, o professor domina o conteúdo e o repassa aos
alunos, cabendo ao mesmos memorizá-lo de forma pacífica sem questionar a sua utilidade
ou aplicabilidade. Cabe a escola, segundo Zacarias (2005 p.5) a função de “transmitir
conhecimentos disciplinares para a formação geral do aluno, formação esta que o levará, ao
inserir-se futuramente na sociedade, a optar por uma profissão valorizada”.
Portanto a escola tem como papel:
• Preparar de forma neutra os alunos em suas dimensões intelectuais e moral para a
sociedade;
• Os alunos que não conseguem superar as dificuldades no campo intelectual devem
voltar-se para os trabalhos manuais;
• A educação disciplina o homem.
O papel do professor na Pedagogia Tradicional, é de reproduzir a cultura
dominante, repassando impositivamente o conteúdo aos alunos, os quais devem permanecer
passivos no processo. O professor é o principal ator da escola conservadora, cabendo a ele
o privilégio de deter o conhecimento e de ser a fonte energética do processo educativo. Sua
relação com os alunos é marcada pelas seguintes características:
• Autoridade;
• Ausência de comunicação no decorrer da aula, predominando o silêncio e atenção
total.
Como a concepção é autoritária, os métodos e técnicas predominantes também são
autoritários, prevalecendo as aulas expositivas não dialogadas, planejadas de modo inflexível
pelo docente. Predomina a exposição verbal da matéria, a recordação da matéria anterior e
a ênfase nas resoluções de exercício, na repetição de conceitos e memorização.
Os materiais de ensino são, predominantemente, o quadro-negro, os livros didáticos
e os cadernos de exercícios, utilizados para memorização dos “pontos” e para a prática dos
exercícios repetitivos.
A Pedagogia Tradicional dava bastante ênfase à cultura, valorizando o conteúdo
livresco, demonstrando uma preocupação exagerada com a quantidade em detrimento da
qualidade. Só o professor tinha voz, ao aluno cabia ouvir, os conteúdos vinham sempre de
fora para dentro e não havia nenhum interesse sobre os conhecimentos prévios dos alunos.
Quanto aos conteúdos podem sintetizados nas seguintes idéias:
• Conhecimentos estáticos pautados em valores sociais acumulados pelas gerações
anteriores, consideradas como verdades absolutas;
• O que conta é a quantidade de conteúdos e não a qualidade do que se aprende;
• Separação entre a experiência do aluno e sua realidade.

A aprendizagem nesta tendência estava fundamentada nos seguintes pressupostos:


• A aprendizagem é receptiva;
• Recorre-se a coação;
• O conhecimento depende do treino.
A avaliação resultante dessa tendência era meramente quantitativa, punitiva, tendo
por objetivo averiguar se os alunos tinham decorado o conteúdo e em que quantidade, não
levando em consideração o significado daquilo que era “aprendido” para as suas vidas.
Aqueles que não conseguissem repetir aquilo que foi repassado pelo professor eram
rotulados de incapazes, punidos com notas baixas e vermelhas.
Geralmente, havia dois tipos de avaliação: a de curto prazo, que envolvia as tarefas
para casa e os interrogatórios orais, feitos em sala. E a de longo prazo, caracterizada pelas
provas e trabalhos escritos.
Esta tendência era praticada pelos colégios de ordens religiosas dos séculos XVI e
XVII e tinha como função inculcar valores morais nos educandos. Apesar de criticada, ainda
é encontrada nas escolas, às vezes de forma velada e ás vezes não, principalmente nos
modelos de avaliação dos educandos.
Antecedentes ao movimento da Escola Nova – Pedagogia Liberal Renovada
Progressista:
Com o intuito de iniciar um movimento de contraposição à Pedagogia Tradicional,
educadores e pensadores brasileiros passam a se manifestar com suas idéias e propostas
de alternativas à educação brasileira que no final do período imperial e início do
republicanoJoe se encontra em crise.
Neste contexto é caracterizado no âmbito educacional por disparidades educacionais
não resolvidas pelas incipientes tentativas de reformas do ensino, denunciadas por Rui
Barbosa que, sob influência dos ideais liberais e do pensamento de Rousseau, Durkheim,
Comte, Kant, Fichte, Froebel, Bain, Spencer, Pestalozzi e Stanley Hall, debate concepções
de educação e sociedade e propõe a inovação da ciência e a crença no poder da razão
científica. Propôs, ainda, a criação de um sistema nacional de ensino em todos os níveis.
Outro pensamento educacional brasileiro desta época pode ser identificado na obra
de Maria Lacerda de Moura (Obra: Lições de Pedagogia – 1925) que, fundamentada em
Bibet, Claparéde e Montessori, propõe alteração no currículo escolar com a inclusão de
conteúdos que promovessem a educação física, educação dos sentidos e o crescimento
físico, de modo a promover a auto-educação. Propõe, ainda, guerra ao analfabetismo.
Fortemente influenciados por Herbart, destacam-se, ainda como pensadores da
educação brasileira: José Veríssimo, Araripe Júnior e Sílvio Romero que se contrapõem e
criticam a corrente educacional naturalista. Veríssimo destaca-se pela crença na educação
como razão do progresso e defendeu a educação das massas pela difusão do ensino
elementar. Para ele, uma reforma de ensino deveria se constituir em reforma didática, pela
inclusão de conteúdos regionalizados e pelo fim de uma estruturação didática alienada à
noção de pátria.
Estes pensadores denunciam o fenômeno da marginalização escolar, que
retomaremos quando analisarmos a concepção de Saviani acerca das correntes teórico-
filosóficas que influenciaram a educação brasileira. No entanto, estas idéias e propostas não
chegaram a se consolidar, devido à capacidade de silenciar idéias de uma organização
econômica brasileira marcada por atividades agro-exportadoras e por uma política controlada
pelas oligarquias.
Durante o período da República Velha podemos destacar, ainda, a 1ª Reforma do
Ensino Secundário, organizada por Benjamim Constant, baseada nos princípios
positivistas. Esta propôs mudanças na organização da estrutura curricular, laicização do
ensino público e instituição do exame vestibular, de modo a impedir o acesso dos jovens das
camadas populares ao ensino superior.
A Pedagogia Liberal Renovada Progressista, também denominada Escola Nova
ou Escola Ativa, vem ao encontro dos anseios da sociedade do século XIX, que não aceitava
mais a simples memorização, até porque a sociedade passou a ter mudanças mais
aceleradas e exigia do ser humano constantes adaptações. Era necessário aprender a
prender, fugir da simples memorização que já não satisfazia os novos tempos que exigia um
ensino baseado em experiências e relacionado aos interesses do aluno.
Inicia-se, portanto, no Brasil, a partir de 1922 com o Manifesto dos Pioneiros da
Educação Nova, representados por Fernando de Azevedo e outros 26 educadores. Neste
período, o País tem uma economia agro-exportadora e vivencia um conjunto de mudanças
decorrentes da passagem de um modelo colonial, para um neocolonialismoJoe ou
imperialismo, no qual a exploração econômica por países como Inglaterra se voltam para os
produtos alimentícios, carvão, ferro e petróleo.
Num País em processo de industrialização, mesmo que ainda com um setor industrial
inexpressivo, era necessário promover a ampliação escolar para preparar a população para
o novo contexto de desenvolvimento. Neste sentido, a educação nova teve como metas:
promover a ampliação da rede escolar em função das transformações rápidas; formar
homens para a nova realidade; superar as desigualdades sociais pela escolarização,
depende do talento e esforço pessoal.
No Brasil, o movimento da Escola Nova foi inspirado na corrente progressista e nas
idéias de Dewey, Montessorri, Declory, Cousinet e demais defensores da escola ativa,
durante a década de 30. No entanto expressões deste movimento desenham-se desde os
anos 20 e promovem um conjunto de reformas educacionais no ensino estatal de nível
primário e normal.
Podem ser destacadas neste contexto 4 importantes reformas para a organização
do ensino público no país: 1) 1920 – SP, proposta por Antônio de Sampaio Dória; 2) 1922 –
CE, realizada por Lourenço Filho; 3) 1927 – MG, implantada por Francisco Campos; 4) 1928
– DF, realizada por Fernando Azevedo. Outra Reforma que deve ser lembrada é a proposta
por Rocha Vaz (1925), considerada reacionária por retirar em definitivo a autonomia didática
e administrativa concedida pela reforma anterior. Foi responsável pela eclosão da revolução
de 30.
No período de 1930-1945 o contexto político brasileiro era marcado pela crise
mundial da economia capitalista, o que provocou a crise cafeeira e reorganização das forças
econômicas e políticas, a ascensão de Getúlio Vargas que assume o Ministério da Educação
e Saúde Pública, a reconstrução social da escola urbana e industrial.
Postulam-se então novos paradigmas e métodos de ensino a partir de influências de
movimentos sociais e políticos do século XIX e do desenvolvimento da biologia, sociologia,
psicologia e sociologia. As bases teóricas escolanovistas europeu e norte americana tem
como suporte uma concepção experimental da educação.
Na década de 30, como resultado do reflexo desta nova tendência na legislação
educacional, é dada ênfase ao caráter prático-técnico do ensino, evidenciando a importância
atribuída a dimensão técnica do processo de ensino, com base experiências psicológicas,
psicopedagógicas e experimentais. Destaca-se neste período a Reforma Francisco Campos
(1931) voltada para o ensino médio e superior, promovendo a criação do 1º Curso de
Pedagogia, destinado à formação de bacharéis, denominados técnicos da educação.
No período de 1942-1946 novas reformas modificam a educação brasileira, por meio
das Leis Orgânicas do Ensino promulgadas por Gustavo Capanema, Ministro da Educação
do Estado Novo. Esta Legislação se constituiu em Leis e Decretos, quais foram: Lei nº
4.244/42 – Lei do Ensino Secundário; Decreto-Lei nº 4.073/42 – Ensino Industrial; Decreto-
Lei nº 4.048/42 – Cria o SENAI.
Esta didática desenvolve-se no interior de uma amplo movimento de renovação
escolar de conotação liberal, baseado no pensamento de John Dewey, cuja concepção de
educação, parte da descrição da realidade educativa em suas dimensões biológicas,
sociológicas e psicológicas. Este movimento influencia educadores brasileiros e é
desenvolvido no ano de 1959 em forma de manifesto assinado por 185 educadores e
intelectuais, dentre eles: Anísio Teixeira, Lourenço Filho, Paschoal Lemme, Fernando de
Azevedo, Florestan Fernandes, Fernando Henrique Cardoso, dentre outros. Caracteriza-se
por uma verdadeira cruzada ao analfabetismo por meio de propostas de ensino elementar
(crianças), fundamentada no otimismo pedagógico e entusiasmo pela educação nacional.
A didática dessa tendência é entendida como direção da aprendizagem e considera
o aluno como sujeito da aprendizagem e centro da atividade escolar. Segundo Zacarias
(2005, p.1) a Escola Nova tem como princípio norteador a “valorização do indivíduo como ser
livre, ativo e social”.
Neste sentido definia como papel da escola ajustar as necessidades individuais ao
meio social, priorizando o comportamento, procurando integrar as formas de adaptação;
estimular o processo ativo de (re)construção do objeto de estudo, num intercâmbio entre as
estruturas cognitivas do indivíduo e estruturas do ambiente.
A figura do professor já não é a principal, esse lugar cabe ao aluno vivo e
investigador que deve ser ensinado a partir de suas necessidades, tendo seus interesses
estimulados, para que possa se sentir motivado a caminhar com autonomia, buscando por si
só o conhecimento.
O professor é aquele que orienta, incentiva e organiza as situações de
aprendizagem, enfatizando métodos e técnicas, trabalhos de grupo, atividades cooperativas,
trabalhos individuais, pesquisa etc. Os adeptos da Escola Nova consideram a Didática não
como a direção do ensino e sim como a orientação da aprendizagem, uma vez que esta é
uma experiência própria do aluno através da investigação, da pesquisa.
Baseado nisto a relação professor-aluno se caracteriza por ser o professor um
auxiliar do aluno de forma espontânea e ajudando-o na formulação do raciocínio. Por sua
vez, o aluno é disciplinado, solidário, participante, respeitador das regras do grupo. Ou seja,
professor e alunos convivem em democracia.
Os conteúdos de ensino e aprendizagem são extraídos das experiências que os
alunos enfrentam como desafios cognitivos e situações problemas.
Os métodos são experiências, pesquisa, descoberta, estudo do meio natural e social,
método de solução de problemas, trabalho em grupo. A motivação é fundamental para a
aprendizagem, por isso deve-se estimular o aluno a querer aprender através da descoberta,
promovendo auto-aprendizagem;
A avaliação promove uma análise dos êxitos dos alunos, os quais são reconhecidos
pelo professor.
Os representantes desta tendência foram: Montessori, Decroly, Dewey, Freinet,
Piaget. E no Brasil: Anísio Teixeira, Fernando Azevedo e Lourenço Filho, do Manifesto dos
Pioneiros em 1932.
Pedagogia Renovada Não-Diretiva originada em Rousseau, com contribuições de
Carl Rogers e Neill orientou-se nos objetivos de auto-realização e para as relações
interpessoais do educando.
Busca a interação entre o educando e sua motivação para conhecer, de forma
natural, daí o nome de não diretiva, por não ter preocupação com o método pedagógico nem
com as técnicas didáticas, mas sim com o aluno como o centro do processo educativo.
Suas principais características são:
• Papel da Escola: formar atitudes, centralizado sua atenção mais nos aspectos
psicológicos do que nos pedagógicos ou sociais.
• Conteúdos: fundamentados na comunicação, através da qual estabelecem-se
relações fundamentais para que os alunos busquem, por si próprios, os seus conhecimentos.
• Métodos: o professor tinha liberdade para buscar, á sua maneira, forma de
facilitar a aprendizagem dos alunos, estimulando-os para experiências significativas.
• Relacionamento Professor-aluno: O aluno é o centro das atenções; o professor
é facilitador e deve deixar o aluno desenvolver suas atividades de forma independente, pois
sua presença, pode intimidar o aluno, dificultando a aprendizagem.
• Pressupostos da aprendizagem: a aprendizagem ocorre na busca da auto-
realização, provocando no aluno a motivação para desenvolver o seu “eu”;
• Avaliação: é feita através da auto-avaliação.

A Tendência Liberal Tecnicista ou Instrumental se desenvolve nos Estados Unidos


e influencia os países latino-americanos entre os anos 60 e 80. Neste período o Brasil vive a
era industrial, cujas influências adentram a escola, conduzindo a estruturação de uma
didática enquanto estratégia objetiva, racional e neutra do processo educativo.
Neste contexto esta Tendência está atrelada ao mundo produtivo, uma vez que foi
elaborada a partir de um modelo empresarial, de modo a atender às exigências da sociedade
industrial e tecnológica daí a ênfase na racionalização e objetividade do ensino,
valorizando métodos e técnicas adequadas, capazes de modelar o comportamento humano,
objetivando uma melhor integração à sociedade e preparação de mão-de-obra para o
mercado de trabalho.
Deste modo, o principal referencial de ensino é a fábrica e a partir dela são definidas
as práticas educativas e os conceitos educacionais. O papel da escola é, portanto, modelar
o comportamento humano, através de técnicas específicas que aperfeiçoem a ordem social
articulando-se ao campo produtivo.
As bases teóricas desta tendência se encontram na filosofia positivista de Augusto
Comte e na corrente Behaviorista norte-americana, particularmente nas idéias de reforço
positivo e negativo, relacionados ao comportamento operante de Skinner, posteriormente
estudado por Gagné, Bloom e Mager.
De acordo com esta tendência a técnica vem em primeiro lugar, ficando o conteúdo
em segundo plano e devendo estar sistematizados no livro didático, também denominado de
livro técnico. O professor deveria usar o livro técnico ou apostilas e manuais planejados e
organizados por especialistas. O professor passa a ser o executor de um planejamento que
não era dele.
Os conteúdos de ensino constituem-se em informações, princípios científicos, leis,
dentre outros. São embasados na ciência objetiva, desconsiderando a subjetividade. Toda a
matéria encontra-se nos manuais, nos livros didáticos, nos módulos de ensino, nos
dispositivos audiovisuais etc. todos bem elaborados e direcionados.
A relação professor–aluno era baseada numa comunicação eminentemente técnica,
não sendo possível o debate e o questionamento. Os alunos geralmente não entendiam o
que o professor falava, ou seja, não conseguiam decodificar o linguajar técnico e os pais que
tinham recursos financeiros matriculavam seus filhos em “aulas de reforço”, que tem analogia
com a psicologia behaviorista, cuja principal característica é a aprendizagem por meio de
reforço e de estímulos apresentados aos alunos. Vale ressaltar que a analogia não é casual,
pois nesta tendência o processo ensino-aprendizagem é fortemente influenciado pela
psicologia behaviorista.
Caracteriza-se, portanto, pelas seguintes idéias:
• O professor é o elo entre o conhecimento científico e o aluno, sendo o
responsável pelo sistema instrucional;
• A relação com o aluno é meramente técnica;
• O aluno é um receptor não participativo;
• Ao dois são expectadores do processo de aprendizagem, não há necessidade de
debates, discussão, questionamentos, relações afetivas e pessoais.
Adota como pressupostos de aprendizagem a idéia de aprendizagem diretiva,
centrada no controle sobre o comportamento dos alunos na busca da eficiência do mercado.
As idéias desta tendência influenciaram a prática escolar brasileiranos anos 50,
intensificando-se após o golpe militar de 64, através do acordo MEC-USAID das leis de
refiorma da educação: Lei de Reforma Universitária (Lei nº 5.540/68 e de reforma de 1º e 2º
(Lei nº 5.692/71). Os três pilares desta reforma foram assim definidos:
a) educação e desenvolvimento;
b) educação e segurança;
c) educação e comunidade.
As Concepções que compõem a Tendência Pedagógica Progressista estão
inseridas na Tendência Filosófica Transformadora, que busca na educação novos caminhos
para a transformação social.
São baseadas na análise crítica da realidade social, relacionando educação e
transformação social, buscando as contradições sociais e tentando problematizar essas
contradições, no intuito de formar pensamento crítico e romper com o autoritarismo,
democratizando o ensino.
Nesta tendência não há a imposição de um modelo. È concedida liberdade para que
os alunos oriundos das classes populares façam suas escolhas de modo a corrigir as
desigualdades existentes na sociedade capitalista.
Essas concepções englobam três tendências pedagógicas: Tendência Pedagógia
Libertadora, Libertária e Crítico-Social dos Conteúdos.
A Tendência Pedagógica Libertadora surgiu na década de 50 com o educador
brasileiro Paulo Freire, para o qual a educação é um direito de todos e um caminho para a
superação da opressão, da violência dos opressores, da justiça social, de liberdade, de luta
dos oprimidos pela recuperação de sua humanidade furtada; Seu objetivo político é a
emancipação das camadas populares e atendimento da população adulta, em sua maioria
operários das indústrias e analfabetos.
Portanto, a proposta inicial se fundamenta numa concepção de educação de adultos
que não tiveram acesso à escola na faixa etária regular da infância e da adolescência, ou
seja, caracterizou-se como alternativa à educação popular.
Opõe-se a Pedagogia Tradicional com as características de ensino autoritário,
magistrocêntrico e dogmático. É, portanto, contraria a tudo isso e considera, segundo Aranha
(1996, p. 181) que “a educação deve ser realizada em liberdade e para liberdade”. A
educação, nesta tendência, é compreendida como um ato político de conscientização social,
que se efetiva através de discussões o interior das camadas populares acerca da realidade
dos educandos, despertando-os para uma relação com o mundo, numa perspectiva
transformadora, como sujeito de si próprio e do mundo.
No que tange ao papel da escola, não é possível encontrar esta tendência nas
escolas. Ela pode ser encontrada nas atividades de cunho social como sindicatos,
associações de moradores, igrejas, dentre outras. Em sua estruturação fez-se mais presente
através de movimentos populares, tais como o Movimento de Cultura Popular do Recife, do
Movimento de Educação de Base da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, da
Campanha “De pé no chão” em Natal e da atuação dos Centros de Cultura Popular,
organizados pela UNE.
Os conteúdos são denominados temas geradores; são extraídos da realidade social
do educando e transformados em discussão em forma de problematização desta realidade.
Neste sentido devem estar relacionados com a experiência de vida dos alunos.
Os métodos de ensino caracterizam-se pelo autêntico diálogo e na não diretividade
e o professor atua como um facilitador da aprendizagem, criando condições favoráveis para
que o aluno aprenda através de codificação-decodificação e problematizarão da situação,
levando o aluno a se esforçar para compreender a realidade em que está inserido.
A relação professor-aluno é marcada pelo diálogo, sendo aluno e professor dois
sujeitos do ato de conhecer, uma espécie de via de mão dupla, o aluno aprendendo com o
professor e este aprendendo com o aluno.
Os pressupostos da aprendizagem fundamentam-se na motivação, que estimulada
pela situação-problema, desencadeará a análise crítica sobre o tema, por sua vez,
propiciando a representação da realidade, reflexão e compreensão do todo.
Essa tendência teve como principal representante e inspirador o pensador brasileiro
Paulo Freire que sempre advogou uma pedagogia voltada para a transformação social que
era contraditória ao sistema social capitalista, devendo, portanto, ser viabilizada através de
uma educação extra-escolar, voltada para o questionamento entre o homem e a natureza, o
homem com seus semelhantes, buscando assim a transformação que se almeja alcançar.
Com o golpe militar de 64 Paulo Freire foi exilado e todos os movimentos
desarticulados, sendo retomados após a abertura política em 1979. Na década de 80 foram
desenvolvidas atividades através de movimentos sociais e ainda hoje educadores
simpatizantes da Tendência a desenvolvem no âmbito escolar. Além disto, O Instituto Paulo
Freire têm publicado o pensamento de Paulo Freire, orientando e motivando educadores a
adotá-la, procurando manter viva a Pedagogia Libertadora.
A Tendência Progressista Libertária tem muita semelhança com a Pedagogia
Libertadora, enfatizando a orientação pedagógica, utilizando um trabalho educacional livre e
autogestionado, cultivando a formação de grupos capazes de promover influência política e
construir uma sociedade igualitária.. Sua ênfase está no questionamento às relações de
poder que se estabelecem no processo educativo e às estruturas que propiciam condições
para que estas relações se reproduzam nas escolas.
Nesta perspectiva censura todas as estruturas sociais enquanto organizações
burocráticas e autoritárias por imporem ações pedagógicas de cima para baixo.
O papel da escola nesta Tendência é promover a educação do homem de modo a
torna-lo comprometido com o engajamento na luta pela construção de uma nova sociedade.
Isto significa criar o indivíduo para uma educação contra o Estado, alheia, portanto, aos
sistemas públicos de ensino. Concebe que a escola assume uma posição ideológica, posto
que não há educação neutra, mas fundamentada numa concepção de homem e de
sociedade.
Os conteúdos são conhecimentos extraídos das experiências vividas pelo grupo de
alunos, resultando da necessidade e interesse do grupo. Portanto, os materiais de ensino
são jornais, boletins, temas da atualidade da elaborados pela entidade a qual o grupo
pertence. Os conteúdos são disponibilizados aos alunos sem cobranças, apenas a título de
informação ou curiosidade.
Como métodos de ensino podemos citar atividades em grupos para trabalhar a idéia
da autogestão (gestão da educação pelos diretamente envolvidos no processo educativo e
devolução da aprendizagem às comunidades onde os alunos vivem), a fim de estimular a
autonomia do indivíduo como um sujeito e não como um fim em si mesmo.
Para efetivar esta metodologia o processo educacional deve incorporar todos os nele
envolvidos (docentes, discentes, moradores, pais), todos com responsabilidade coletiva
pelas tarefas. Deste modo, a relação professor-aluno fundamenta-se na concepção de que o
professor é um conselheiro ou um instrutor-monitor que orienta seus alunos, os quais são
livres para participar das atividades e questionamentos. Baseia-se na premissa de que o
individual só se forma no coletivo e estimula os trabalhos cooperativos e de grupo. Utiliza-se
dos métodos apenas para instrumentalizar os alunos em seu caminhar independente.
Portanto, os pressupostos da aprendizagem caracterizam-se pela idéia de que a
aprendizagem é informal via grupo, tendo a motivação como principal elemento para o
processo de aprendizagem, que é viabilizada pelo interesse do grupo, não havendo qualquer
forma de avaliação.
Como manifestações desta Tendência na prática escolar pode-se apontar enquanto
modelo prático a experiência do Sindicato do Ensino da Espanha, que desenvolveu uma
campanha contra o sistemas de exames, pois no Brasil é praticamente inexistentes nas
escolas.
A Tendência Progressista Crítico-social dos Conteúdos surgiu no final dos anos
70 e início dos anos 80, como um movimento de reação de educadores como Saviani e
Libâneo a pouca relevância atribuída pela Pedagogia libertadora ao aprendizado do “saber
elaborado”, historicamente acumulado e que compõe parte do acervo cultural da
humanidade. Para estes, a escola deve difundir estes conhecimentos, promovendo sua
apropriação crítica e sua socialização, para que sirvam aos interesses de toda a população
e contribuam para a democratização da sociedade. O cerne desta crítica reside no fato de
que o monopólio do conhecimento contribui para a manutenção da estrutura social vigente.
Baseado nesta crítica esta Tendência pauta-se pela difusão ou socialização de
conteúdos vivos, concretos, relacionados à realidade social, tendo a escola como uma
instituição a serviço dos interesses populares. Visa, portanto, a transformação social, mas o
ponto de partida é a escola que deve oferecer condições de aprendizagem e transformação
e principalmente possibilitar a apropriação de conhecimentos por aqueles que se encontram
à margem da sociedade. Este é o princípio que fundamenta esta Tendência..
Tomando por base este princípio a escola tem como papel assegurar a função social
e política da educação através do trabalho com conhecimentos sistematizados, a fim de
possibilitar às classes populares uma efetiva participação nas lutas sociais. Deste modo, não
basta adotar as questões sociais como conteúdos escolares, é necessário o domínio de
conhecimentos, habilidades e capacidades mais amplas para que os alunos interpretem suas
próprias experiências e defendam seus interesses de classe.
Os conteúdos devem ter significados humanistas e sociais. Estes devem efetivar a
relação entre a teoria da educação, a política educacional e a teoria de ensino e didática,
provocando a problematização e unificação dos problemas educativos de forma a analisa-los
como um todo significativo.
Os métodos estão subordinados aos conteúdos e buscam relacionar o ensino com o
interesse dos alunos. Priorizam a aquisição do saber estabelecendo uma conexão com a
realidade social. O método não é dogmático nem caracterizado pela descoberta, mas pelo
debate, de modo a favorecer o desenvolvimento de uma visão crítica dos próprios conteúdos.
O relacionamento professor-aluno é baseado na colaboração, sendo o professor um
mediador entre os conteúdos e os alunos. O professor exige dos alunos que se esforcem
para estabelecer relações entre suas experiências de vida e os conteúdos, promovendo uma
participação ativa destes por meio do diálogo.
Quanto a aprendizagem esta Tendência adota como pressuposto que esta ocorre
pelo esforço individual quando o aluno se reconhece nos conteúdos, extraídos de modelos,
fatos sociais, dentre outros. Com base nisto, a avaliação não é um julgamento definitivo e
dogmático, mas uma comprovação, para o aluno, do seu progresso.
A influência desta Tendência na prática escolar brasileira tem sido identificada pelo
estímulo à atuação do educador e pode ser encontrada m escolas públicas e particulares.
Finalizamos os dois grupos de concepções: as de Caráter Liberal e as Progressistas
e adentraremos panoramicamente nas análises de Candau, Amélia Castro e Saviani,
apresentando posteriormente uma síntese das concepções que tem influenciado o
desenvolvimento da didática a partir do final do século XX.
Candau, em outra análise histórica, a partir de sua experiência no ensino da didática,
apresenta a constituição didática no Brasil, dividindo-a em dois momentos:
• O primeiro (décadas de 50 e 60Joe) caracteriza-se por uma didática
escolanovista, como forma de crítica aos postulados tradicionais, que busca orientar o
ensino para partir dos interesses, da atividade, individualização e liberdade. Neste momento
também se desenvolve a didática tecnicista, preocupada com o desenvolvimento de
métodos, técnicas e recursos que promovam a eficácia do ensino.

• No segundo momento (a partir da metade da década de 70), surge a crítica ao


tecnicismo pela sua falsa neutralidade e descontextualização da realidade, com ênfase ao
ensino de caráter social e político, momento em que a própria didática é negada, pela não
aceitação da dimensão técnica, contrapondo-se competência técnica e política, como se o
saber fazer não fosse importante para a ação docente.
Como superação destas fases ou momentos, restam 2 alternativas ao professor a
receita (transmitir técnicas descontextualizadas) ou a denúncia (criticar a visão instrumental
da didática). Como alternativa propõe a Didática Fundamental, na qual as dimensões política,
técnica e humana que constituem a muldimensionalidade da prática pedagógica se exigem
mutuamente e fundamentam uma prática com as seguintes características:
▪ Parte da análise do contexto e seus determinantes;
▪ Ao contextualizar, repensa as dimensões técnicas e humanas, situando-as;
▪ Analisa diversas metodologias, explicando seus pressupostos, o contexto no qual se
inserem, a visão de homem, sociedade, conhecimento e educação que adotam;
▪ Constroem a reflexão didática a partir da análise sobre as experiências concretas, de
modo a promover a relação teoria-prática, sempre compromissada com a transformação
social.
Da análise de Amélia Castro Joe, depreende-se que as concepções teórico-filosóficas
da didática surgem a partir de sua constituição enquanto disciplina, passando a orientar a
ação de educadores, por sua vez influenciada pelo contexto social, econômico e político, no
qual exercem sua atividade educativa. Neste sentido, explica o desenvolvimento da didática,
alicerçado em concepções teóricas de seus precursores e os que a desenvolveram em
sucessivos períodos históricos.
1º período - Século XVII: O surgimento da didática com base na ação dos
educadores Ratíquio e Comênio obedece “à utopia da época: a idéia baconiana da
atenção à natureza” (ir do simples ao complexo). Também atende aos ideais do
protestantismo de oposição ao ensino desenvolvido pela Igreja Católica da Idade Média.
Na Europa Ocidental, humanistas como Montaigne e Ramus propõem reformas
educativas em contraposição aos ideais educacionais do medievalismo e fundamentando as
reflexões didático-pedagógicas na autoconsciência do ato de educativo, afastando-as
das influências da filosofia, teologia ou literatura, nas quais se abrigavam.
2º período – Século XVIII (início das iniciativas esparsas/século das luzes):
RousseauJoe promove a 2ª revolução didáticaJoe dando origem a um novo conceito de
infância e transforma o método num procedimento natural, que não requer livro e não pode
ser desenvolvido apressadamente. Suas idéias foram desenvolvidas por Pestalozzi
(problemática educacional analisada com base em dimensões sociais), que descreve o
método didático em princípios que devem promover o desenvolvimento harmônico do
aluno.
3º período – Século XIXJoe: Herbart propõe a criação de uma Pedagogia
Científica, sob influência da psicologia e filosofia da época. Institui como método “os passos
formais”, compostos por: clareza, associação, sistema e método, posteriormente
desdobrados, por seus discípulos para uma maior praticidade nas seguintes etapas:
preparação, apresentação, associação, sistematização e aplicação.
Há também, neste período, segundo Castro, um “intervalo na trajetória história”,
constituído pela oscilação entre a ênfase no sujeito (criança, aluno, aprendiz), que deveria
aprender a partir da curiosidade e motivação, e a ênfase no método: a aprendizagem se
processa pelo caminho do “não-saber” ao “saber”.
Há também, neste período, segundo Castro, um “intervalo na trajetória história”,
constituído pela oscilação entre a ênfase no sujeito (criança, aluno, aprendiz), que deveria
aprender a partir da curiosidade e motivação, e a ênfase no método: a aprendizagem se
processa pelo caminho do “não-saber” ao “saber”.
4º período – Século XX: era do liberalismo, capitalismos, industrialização,
urbanização e desenvolvimento dos Estados socialistas que necessitam de reorganização
política e exigem nova definição educativa, atendida pela Escola Nova que, com seus ideais
educativos de liberdade e atividade encontra adesão no seio de uma burguesia dominante
e enriquecida deste século. Neste período iniciam-se também as doutrinas de cunho
socialista, fundamentadas no marxismo.
Ainda sob influência da descoberta da natureza da criança pela psicologia do final
do século XIX, os métodos didáticos dão ênfase ao sujeito da educação. A didática é ainda
fortemente influenciada pelo associação entre desenvolvimento científico, tecnológico e
orientações pragmatistas, que promovem o desenvolvimento de novas idéias educacionais.
É um movimento doutrinário, ideológico, que adota o termo novo ou recente por
aceitar como adeptos todos os que mesmo em épocas anteriores tenham aceitado o princípio
básico de atendimento educacional às crianças com base em seus interesses, por meio de
suas atividades num ambiente de liberdade. Portanto, o princípio didático se constitui na
“fórmulaJoe”: interesse, atividade, liberdade.
A concepção teórica básica que fundamenta este movimento parece ter suas raízes
no naturalismo em seu aspecto filosófico de respeito à criança, assim como nas modernas
pesquisas psicológicas da época com ênfase à atividade interessada e livre como fonte de
conhecimento e nos movimentos socialistas e democratas que sustentavam a participação
de todos nas decisões políticas.
5º período – Fim do Século XIX – oscilação da didática entre paradigmas
filosóficos, sociológicos e psicológicos tendem a interpretar o ensino de diversas
formas. Na verdade, a didática por atingir o núcleo central da educação, nunca teve uma
única orientação, haja vista os diversos adjetivos que recebeu ao longo de sua evolução por
influência de concepções teórico-filosóficas: didática tradicional, renovada, ativa,
experimental, psicológica, moderna, dentre outras. Mas o que ocorre neste período é uma
oscilação entre a ênfase no método (em seus conceitos) e aquela atribuída ao sujeito-aluno
(que não contempla a relação dialética professor-aluno, sobre a qual as pesquisas sobre o
processo didático deveriam se dedicar).
6º período – Século XX em diante: didática impregnada de todas as inquietações
de uma época marcada por avanços científicos e tecnológicos, globalização da economia,
para citar alguns fenômenos. Neste contexto, a didática ora recorre à psicologia de base
freudiana para entender o sujeito e sua inteligência, ora recorre à sociologia, de modo a
compreender as relações escola-sociedade.
Além desta análise detalhada, devemos lembrar, ainda como parte deste estudo, o
estudo apresentado por Saviani, na obra “Escola e Democracia”, no qual analisa a realidade
da marginalidade no Brasil (traduzida em índices de evasão, analfabetismo e de falta de
acesso à escola) em relação ao fenômeno da escolarização.
Para responder à questão: “Como as teorias da educação se posicionam diante
desta situação?” divide as teorias educacionais em dois grupos: 1º grupo – a educação é
fator de equalização social, portanto, busca superar a marginalidade; 2º grupo – a educação
é fator de discriminação ou de marginalização. Posteriormente e adotando o critério da
criticidade, denomina as teorias do grupo 1 de “não-críticas” e as do grupo 2 de “crítico-
reprodutivistas”.
Deste modo, no grupo de “teorias não-críticas” estão: Pedagogia Tradicional,
Pedagogia Nova, Pedagogia Tecnicista; e no grupo de “teorias crítico-reprodutivistas”: Teoria
do sistema de ensino enquanto violência simbólica; Teoria da escola enquanto aparelho
ideológico de estado; Teoria da escola dualista.
Explicando suscintamente, de modo a não repetir as análises do início deste texto,
Saviani explica a Pedagogia Tradicional, enquanto originada durante a constituição dos
sistemas nacionais de ensino (século XIX) e, portanto, herdeira do princípio de que a
educação é direito de todos e dever do Estado. Surge da necessidade de consolidação da
democracia burguesa em ascensão, que necessitava vencer a barreira da ignorância e formar
indivíduos livres e esclarecidos.
O papel da educação e da escola é transmitir a herança cultural da humanidade e,
para tanto, adota um ensino baseado na transmissão, portanto tem o professor como centro
e o aluno como ser passivo, receptivo.
A Pedagogia da Escola Nova surge como crítica à Tradicional por não ter
alcançado seus ideais de universalização e de rompimento da ignorância. Interpreta o
marginalizado como o rejeitado e volta-se para uma preocupação com os “anormais”,
fundamentando sua didática numa teoria biopsicológica da sociedade. Pauta-se numa
Pedagogia que defende um tratamento diferenciado com base na análise e descoberta das
diferenças individuais.
A Pedagogia Tecnicista: Na 1ª metade do século XX a Pedagogia da Escola Nova
apresenta sinais de exaustão. Surge uma outra orientação didático-pedagógica
fundamentada no ideal de neutralidade científica e nos princípios da racionalidade, eficiência
e produtividade, de modo a objetivar o trabalho pedagógico à semelhança do processo fabril.
Com isto, buscava-se minimizar a influência da subjetividade que poderiam prejudicar a
eficiência da educação.
Deste modo, o núcleo do processo educativo são os meios, que devem ser
racionalmente organizados, ficando professor e aluno em segundo plano. Nesta Pedagogia,
o marginalizado é o incompetentes ou os improdutivos, que não contribuem para o aumento
da produtividade requerido pela sociedade.
Teoria do Sistema de Ensino enquanto violência simbólica: a ação pedagógica
se efetua através da autoridade pedagogia e perpetua a arbitrariedade. Concebe que a
educação, ao reproduzir a cultura dominante, reproduz a própria sociedade e viola o capital
cultural individual de cada sujeito. Desta forma, os marginalizados são os grupos ou classes
dominados.
Teoria da Escola enquanto Aparelho ideológico de Estado: a escola serve ao
Estado ao se constituir em principal instrumento de reprodução das relações de produção
capitalistas. O Estado cumpre esta lógica ao oferecer para grande parcela de operários e
camponeses apenas ensino básico, após o qual estes são introduzidos no processo de
produção. Esta relação de produção é inculcada nos alunos por meio de saberes práticos
ensinados pela escola, os quais reproduzem a ideologia da classe dominante, segundo
Althusser.
Neste caso, o marginalizado é a classe trabalhadora, que estão submissos às
relações de produção do sistema capitalista.
Teoria da Escola Dualista: a escola é dividida em duas grandes redes,
correspondendo à divisão da sociedade capitalista em duas classes: a burguesia e o
proletariado. Não há, pois, unidade escolar, mas duas escolas: uma chamada “secundária-
superior” e outra, “primária-profissional”. Estas redes constituem o aparelho ideológico do
Estado ao formar duas classes. Portanto, a escola tem duas funções distintas: formar força
de trabalho e inculcar a ideologia burguesa. A escola, então, legitima a marginalidade ao
impedir o desenvolvimento da ideologia proletária e a luta revolucionária.
Após esta análise das concepções teóricos-filosóficas da educação e suas
repercussões no pensamento e ação de pensadores e reformadores brasileiros, cabe-nos
compreender que pensamento educacional se definiu ao longo dos anos de experiências
educativas.
Inicialmente é necessário entender o significado de pensamento pedagógico. Para
Gadotti, este se caracteriza pela atividade intelectual direcionada para descrever, interpretar
e avaliar características educacionais de um país, assim como apontar alternativas de
mudança.
Gadotti destaca sinteticamente o pensamento de educadores acerca da educação
no Brasil. Nestas sínteses destaca a obra “Educação” de Pedro Benjamim García que
apresenta o pensamento pedagógico brasileiro sob duas perspectivas teóricas: teoria da
dependência e teoria da modernização, que influenciaram a educação nas décadas de 60 e
70.
A teoria da dependência evidencia que a educação reproduz a estrutura e ideologia
das classes dominantes; A teoria da modernização demonstra a contribuição da educação
para a modernização e mobilidade social.
Numa segunda síntese destaca o pensamento de Saviani, já analisado neste
estudo; numa terceira apresenta o pensamento de Libâneo, que semelhantemente a Saviani
classifica as tendências em “liberais” e “progressistas”; numa quarta síntese destaca Beno
Sander que, ao analisar a educação contemporânea, destaca a existência de duas
perspectivas:
• “pedagogia do consenso”, fundamentada no positivismo, organicismo
evolucionista, funcionalismo e teoria dos sistemas, preocupa-se nos resultados da ação
pedagógica;
• “pedagogia do conflito”, fundamentada em Marx e Engels, critica a pedagogia
liberal e propõe uma educação dialética.
Na quinta síntese apresenta o pensamento de Nicanor Palhares Sá, mesmo que
sua obra não tivesse sido publicada, explica a educação como fundamentada no
“pensamento crítico” do qual decorrem quatro tendências: “concepção reprodutivista”,
“pesquisa participante”, “alternativa crítica” e “tendência revolucionária” As três primeiras
avanças na crítica à educação, mas não captam a dinâmica do processo educativo. Quanto
a educação revolucionária, esta só se processa se for uma “educação contra a ordem”, de
modo a romper com os limites impostos pela escola.
Com base nestas análises podemos inferir que o pensamento educacional brasileiro
da atualidade é fruto de todas essas tendências, ainda estão em vigor em muitas instituições
e cujos métodos e técnicas são utilizados por muitos docentes, sem se darem conta que
possuem um discurso progressista e uma prática docente liberal.
Muitos são adeptos da pedagogia tradicional, desconhecendo as demais tendências
e na maioria das vezes colocam a culpa da falta de interesse nos alunos ou na mídia,
principalmente na televisão que parece ser, na visão dos tradicionalistas, a grande vilã do
processo educativo do século XXI.
Além destas concepções é necessário lembrar o movimento “Educação pela
Qualidade Total”, desenvolvido no Brasil nos anos 80(??), sob influência dos ideiais
neoliberais, propõe o desenvolvimento da excelência em educação, fundamentada no 14
pontos do método DEMING desenvolvidos para a área administrativa e aplicados na
educação, de modo a obter qualidade, esta entendida como o “atendimento dos interesses,
desejos e necessidades do clienteJoe”. Constituiu-se, portanto, em nova forma de analisar a
qualidade educacional associando-a a produtividade e rentabilidade típicas do mercado.
No entanto, é preciso ressaltar que a didática, enquanto orientadora do processo de
ensino-aprendizagem, cerne da educação sistematizada está inserida no contexto histórico-
social e, portanto, não cessou sua evolução. Continuou se desenvolvendo e acompanhando
as transformações exigidas pelas sociedades. Neste sentido tratar de concepções teóricas
atuais requer realizar uma reflexão acerca de transformações profundas sofridas pela escola
a partir do fim do Século XX e início do Século XXI.
Estamos nos referindo a um movimento impulsionado pelo desenvolvimento
acelerado da ciência e tecnologia que introduziu na educação a ênfase no ensino pautado
na pesquisa, na participação ativa do aluno frente ao conhecimento. Dentre estas
concepções destacam-se o desenvolvimento da competência e da autonomia.
Estas tendências ou concepções surgiram a partir da constatação de que as
Tendências anteriores não efetuaram mudanças na educação, no sentido de romper com um
ensino cartorial, magistrocêntrico, pautado no autoritarismo e passividade.
Na Concepção orientada por competências, configura-se uma didática na qual os
conteúdos de ensino são contextualizados, ou seja, fundamentados no contexto sociocultural
e histórico, possibilitando a relação ensino-realidade.
A metodologia de ensino baseia-se no trabalho (tarefas), proposição de situações-
problema e projetos, cujo objetivo é incentivar os alunos a ampliarem os conhecimentos e
experiências com os quais chegaram à escola, atualizando-os e enriquecendo-os ao longo
da vida.
Na Concepção fundamentada na autonomia, essência da pedagogia proposta por
Paulo Freire, a didática se caracteriza por uma ação que visa a construção e não a
transmissão/assimilação passiva de conhecimentos. Para tanto a ação do professor é
baseada no diálogo. Busca romper com o aspecto estritamente pedagógico da educação e
ação docente, de modo a promover a humanização.
Cabe, ainda, lembrar a didática fundamentada na Teoria da Complexidade de
Edgar Morin, predominante a partir do final do século XX, com influência no pensamento de
educadores brasileiros e que propõe o reagrupamento de saberes de modo a reformar o
pensamento e contemplar, via agrupamento de disciplinas na escola, o tratamento de
fenômenos e conhecimentos sob diversos ângulos. Com esta idéia propõe romper com a
fragmentação de curricular, cujo objetivo foi a especialização.
A religação de saberes é capaz de ampliar as possibilidades cognitivas humanas,
através da reconstrução de um conhecimento universalista, complexo e dialogal. Esta
proposta deve incluir, além de reformas curriculares, uma reeducação dos educadores.
Finalizando nossa análise, concluímos que, com base neste estudo, é possível
identificar a evolução do pensamento pedagógico e organização da didática ao longo da
história da educação, caminhando até a modernidade com tendências emancipatórias e
humanistas, embora se saiba que muitas características das tendências do passado como o
autoritarismo, a transmissão passiva de conteúdos, a ênfase em métodos e técnicas e a
desvalorização da realidade, e das necessidades dos alunos ainda estejam bem vivas em
práticas pedagógicas da modernidade.

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