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Para dar início ao proposto, como conversa entre pares, gostaria de assumir duas dimensões
chaves para entendermos algumas alternativas possíveis de ampliação do escopo exigido
para propostas pedagógicas significativas em contextos multiculturais. A primeira dimensão
relaciona-se com as/os profissionais gestoras/es e professoras/es em exercício, por valorizar
o campo de atuação, além da situar a vocação que tem a escola como ambiência de
pluralidade, de diversidade de sujeitos, ideias e projetos. A oportunidade de coordenar um
subprojeto (Pedagogia Ensino Médio) do Programa de Bolsas de Iniciação à Docência
(CAPES) nos últimos sete anos, ampliou as lentes por onde observo os contornos do
cotidiano vivenciado com estudante e diferentes profissionais que animam as práticas
curriculares. Agrego a essa experiência, o vínculo com os sistemas de ensino no Rio de
Janeiro (Secretaria Estadual e Secretaria Municipal de Educação) por 16 anos, ensinando
língua estrangeira (Espanhol).
A VIII Edição do Congresso de Educação Básica - COEB 2019, nos convoca a pensar as
tramas que envolvem a composição identitária de profissionais de destaque no contexto
social. As formas de identificação com o fazer docente, as alternativas pedagógicas e,
ainda, pensar sobre as outras vias de atuação com as populações escolarizadas. Podemos
localizar as pistas lançadas desde o ano de 2011 e que indicam as bases dessa proposta de
formação e intercâmbio de ideias e iniciativas. Uma proposta que toma como trilha um
arco-íris de possibilidades e nele, os modos de conceber práxis emancipatórias se
refletem. Um dos objetivos apresentados é “ampliar as discussões sobre as relações que
envolvem as singularidades e pluralidades das aprendizagens nos contextos educacionais, e
considerando a constante reflexão sobre os processos de formação”.
Sob essa perspectiva, podemos afirmar que o fórum vislumbra avançar com o debate
que inclui “discussões que (re)definam diretrizes educacionais”, para o “reconhecimento do
direito à educação para todos, como condição primordial no processo de formação e
exercício da cidadania”. Ao mesmo tempo, quando observamos o esforço coletivo de
reservar espaços de proposição, de análise e de sugestões, para o incremento do trabalho na
educação básica, é possível conceber outras questões mobilizadoras, como é o caso da
valorização dos saberes que os diferentes percursos promovem na vida dos atores sociais.
Incluímos nesse mosaico as travessias discentes e docentes.
Entende-se com Miranda e Riascos (2016. p.570) que as alternativas terão que partir
da escuta sensível no sentido de rever os processos instituídos e o que não conseguimos
instituir como prioridade. E a partir dessa conformação, o próximo passo seria promovermos
o debate sobre descolonização de nossos corpos e de nossas práticas discursivas. Fazer
novas perguntas sobre o percurso favorecerá essa novas posturas. Afinal, o que é urgente
des-aprender para re-aprender dos currículos que movimentamos como partícipes da
transposição didática?
Sigo alinhada com as teses acima sobre as saídas possíveis para nossa intervenção
com agendas de “emancipação curricular” e, ao considerarmos o caso brasileiro, nosso
ponto frágil envolve análises acerca das supremacias ideológicas. O tema da branquitude é
uma das pontas soltas que explica alguns entraves perceptíveis nas relações denominadas
como “relações raciais”. Para Miranda e Passos (2011, p.17) importa examinar os processos
históricos em que a branquitude1 é formada. As autoras a definem como “um constructo
ideológico de poder, em que os brancos tomam sua identidade racial como norma e
padrão”. Não obstante, destacam o fortalecimento dos movimentos sociais e dos estudos
críticos da branquitude à brasileira, nas duas últimas décadas. Avaliam que é necessário,
partindo de uma crítica a esse lugar hegemônico - da branquitude -, problematizar essas
relações construídas como bloco de pensamentos homogêneos. De certo, a defesa a ser
feita, diante de dados da realidade, é de outros eixos passam a recompor nossa
compreensão do mundo vivido. Outras epistemes entram em disputa e entender os atritos
de um processo já em curso que se dá de modo interrelacional e nas gretas, é inevitável.
1 Alguns estudos se tornaram referência para reorientar os fóruns sobre desigualdades raciais tais
como Pizza, 2002; Bento & Carone, 2003; Wore, 2004; Cardoso, 2008; Sovik, 2009.
por serem estas parte das travessias realizadas. São alegorias e marcas refletidas nos
materiais recuperados por Cusicanqui. Fazem parte das estratégias de combate “contra os
limites da escritura alfabética para reconectar com os rios profundos da vitalidade
anticolonial” (2015, p.8).
BIBLIOGRAFIA
BENTO, Maria Aparecida Silva & CARONE, Iray. Psicologia social do racismo: estudos sobre
branquitude e branqueamento no Brasil. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002
CUSICANQUI, Silvia Rivera. Sociología de la imagen: miradas ch’ixi desde la historia andina.
Ciudad Autónoma de Buenos Aires: Tinta Limón, 2015.
MIRANDA, C.; PASSOS, A. H. Lugares epistêmicos outros para os novos estudos das relações
raciais. Sociedade Brasileira de Sociologia. GT 16, Curitiba, 2011. Disponível em: 29/01/2019.
MIRANDA, Claudia e RIASCOS, Fanny Milena Quiñones. Pedagogias decoloniais e
interculturalidade: desafios para uma agenda educacional antirracista. Educ. Foco, Juiz de
Fora, v.21, n.3, 545 set. / dez. 2016 p. 545-572.
PIZZA, Edith. Porta de vidro entrada para a branquitude. In.: BENTO, Maria Aparecida Silva &
CARONE, Iray. Psicologia social do racismo: estudos sobre branquitude e branqueamento no
Brasil. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002
SILVA, Daniele Nunes Henrique; SIRGADO, Angel Pino, TAVIRA, Larissa Vasques. Memória,
narrativa e identidade profissional: analisando memoriais docentes. Cad. Cedes, Campinas,
vol. 32, n. 88, p. 263-283, set.-dez. 2012.
TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis, RJ: Vozes, 2002.