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FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS DA

EDUCAÇÃO - MÓDULO II
SUMÁRIO (MÓDULO II)

2.1 EDUCAÇÃO TRANSFORMADORA E FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO .................. 03

2.2 SÓCRATES E OS SOFISTAS ............................................................................... 06

2.3 A UTOPIA DE PLATÃO ....................................................................................... 07

2.4 ARISTÓTELES E O SEU REALISMO ...................................................................... 08

2.5 SÉCULO XV E XVI – RENASCIMENTO, HUMANISMO E REFORMA .................. 10

REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 20
FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS DA EDUCAÇÃO

INTRODUÇÃO À FILOSOFIA E HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO

2.1 EDUCAÇÃO TRANSFORMADORA E FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO

Entendendo o ensino como sendo capaz de transformar a


sociedade solidifica-se ainda mais a importância da Filosofia da
Educação. A educação é fundamental na constituição de uma
nação que se caracteriza pela maneira de ser e agir. O ser
humano dotado de qualidades é um ser que está em constante
busca, superando novos desafios, procurando através de suas
capacidades, ampliar e aperfeiçoar o mundo. Diante desta
perspectiva, sustenta Oliveira (1985), pode-se perceber que a
realização dos indivíduos depende exclusivamente do
comportamento humano. O indivíduo necessita transformar a si
mesmo para aumentar seu grau de humanização e tornar-se ele
mesmo. Daí decorre também a importância da Filosofia da
Educação, visto que a pessoa pode por meio da educação buscar
mudanças para exercer sua tarefa de sujeito transformador na
sociedade.

Uma vez que o ser humano constitui-se como sujeito e não como
objeto, só poderá se desenvolver como tal à medida que, introduz
nas suas condições espaço-temporais, um “repensar sobre si” por
meio da reflexão crítica. Quanto mais for conduzido a refletir sobre
sua situação, sobre seu enraizamento espaço- temporal, mais se
tornará consciente de seu compromisso com a realidade, da qual,
sendo sujeito, não deve ser simples espectador, mas deve cada vez
mais intervir como sujeito transformador.

Portanto, o ser humano ao adquirir consciência de sua realidade


de sujeito, começa a sentir a necessidade de relacionar-se com o
mundo e com o outro, buscando, por intermédio de suas
dimensões, dar uma resposta, que justifique tamanha grandeza.
Essa educação transformadora só é possível pelo exercício reflexivo
proporcionado pela Filosofia da Educação acerca das teorias
educativas.

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A existência humana, objeto da filosofia, e a educação são


condições complementares. O ser humano não vive sem a
educação da mesma forma que a educação não existe sem o ser
humano. De acordo com Oliveira (1985), o fato de buscar o novo,
de propor mudanças, de aperfeiçoar o meio em que vive, entre
muitas outras atividades, transforma o ser humano no sujeito do
processo educativo.

Assim, evidencia-se que a educação é uma tarefa muito


importante e necessária. A Educação como instrumento de
transformação conduz o ser humano para uma reflexão prática e
objetiva, possibilitando a conscientização para a libertação. O
conhecimento nasce e se desenvolve à medida que os indivíduos
pensam e refletem acerca das experiências vividas em todas as
práticas rotineiras, especialmente nas práticas comunitárias, que
são evidenciadas nos trabalhos de base, bem como, na busca de
uma política educacional que contemple a realidade nacional. A
Filosofia da Educação, é acima de tudo, reflexão e auxilia neste
processo de busca de uma política educacional, voltada para as
necessidades emergentes da realidade do país, obtendo uma
educação transformadora. Desse modo, Cássia Regina Dias
Pereira, afirma que:

A filosofia inicia sua investigação no momento em que se


abandona às certezas cotidianas e não existe nada para substituí-
las. Ela se interessa pelo instante em que a realidade natural (o
mundo das coisas) e a realidade histórico-social (o mundo dos
homens) tornam-se estranhas, incompreensíveis. A filosofia volta-se
preferencialmente para os momentos de crise no pensamento, na
linguagem e na ação, pois é nesses momentos críticos que se
manifesta mais claramente a exigência de fundamentação das
idéias, dos discursos e das práticas. [...] É da educação a tarefa
de abrir e construir espaços para a realização da pessoa que, na
sua totalidade precisa aprender o valor de ser. (PEREIRA, 2009, p.
1529-1530).

Já Oliveira (1985), assegura que se deve tratar de assuntos


educacionais com os próprios sujeitos da educação. Daí decorre,
a necessidade de transformar a sociedade, partindo, não da
consequência

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final, porém do pressuposto causal. Enquanto o Estado disponibiliza


policiais para combater a violência e manter a "ordem social", é
preciso pensar e oferecer explicações para as causas da desordem
e da violência, incentivando a educação e a formação crítica dos
cidadãos. Conscientizar um ser humano significa propiciar-lhe
condições e valorizá-lo diante de uma sociedade de relações
interpessoais. Hannah Arendt (apud FERRARI, 2004) acrescenta que
os adultos possuem a responsabilidade de formar as crianças para
o mundo, o que significa, entre outras coisas, adquirir a noção de
coletivo. É um processo que só se realiza, em cada estudante, com
o despertar do pensamento, para a criação de uma ética frente
ao grupo. Assim, o estudante deve ser apresentado ao mundo e
estimulado a compreendê-lo e mudá- lo.

O Indivíduo necessita perceber que sua presença é fundamental


para construção de um mundo mais coerente, fraterno e solidário.
No entanto, isto não se obtém por meio da força, mas ao contrário,
isso só é possível através do resgate das instituições básicas que
permeiam o agir humano.
Assim, é necessário resgatar a instituição escolar para que nela se
insira uma educação libertadora e transformadora na qual se inicie
as mudanças que respondam às necessidades da humanidade em
prol da vida. O ser humano não constitui apenas um espectador,
mas está em permanente busca. À Filosofia da Educação cabe a
reflexão sobre como operar o resgate da instituição escolar,
possibilitando a escolha de teorias educacionais mais adequadas
à realidade do país. Dito de outro modo, deve-se compreender
que a Filosofia da Educação tem o papel de incentivar a
autonomia e a esperança na medida em que proporciona o
incentivo ao conhecimento da realidade do país e de cada
pessoa, no sentido de apontar quais são as mazelas, vicissitudes e
possibilidades de mudança que o saber pode oferecer. Isto significa
dizer que as grandes mudanças educacionais não ocorrem apenas
externamente, na infraestrutura, por exemplo; mas também nas
idiossincrasias de cada professor e estudante, como defendem
Rafael Silva e Leoni Henning:

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A verdadeira esperança, neste panorama, não está apenas em


apontar e realizar a crítica das condições presentes, mas também,
conseguir verificar quais as possibilidades reais de mudanças. O
sentido utópico não se encontra, então, na elaboração de uma
sociedade perfeita, livre de contradições, mas sim, em mapear as
brechas existentes que potencializam ações que visam mudanças.
O voltar-se para o futuro passa a ser visto como produto de si mesmo
nos pequenos e grandes atos que criam novas formas e alteram a
história. (SILVA; HENNING, 2008, p. 2975).

2.2 SÓCRATES E OS SOFISTAS

A palavra sofista, em sua etimologia, vem de sophos (sábio). Por isso, em sua
significação quer dizer “professor de sabedoria”. De forma pejorativa, passou
a designar quem faz uso de sofismas, ou seja, quem emprega raciocínio
capcioso, de má-fé, com intenção de enganar. Essa caracterização de deve
às críticas de Sócrates e Platão à atitude intelectual dos sofistas e ao costume
solicitarem retorno financeiro por suas aulas. Recentemente esse modo de
pensar depreciativo foi atenuado, redimensionando-se a importância da
sofistica para a educação democrática.

Os sofistas foram os criadores da educação intelectual. Além disso,


estenderam a noção de paideia: de simples educação da criança,
estendeu-se à formação contínua do adulto, capaz então de repensar por si
mesmo a cultura do seu tempo. Outra obra importante dos sofistas refere-se
à sistematização do ensino, por terem eles iniciado os estudos de gramática,
além de deram ênfase à retórica e à dialética.
Sócrates (469-399 a.C.) é um pensador emblemático na história da filosofia.
Comenta que a sabedoria começa pelo reconhecimento da ignorância. Ele
passava horas discutindo nos locais públicos de Atenas, como praças e
ginásios, onde interpelava os transeuntes, com perguntas aos que julgavam
entender determinado assunto. Mas geralmente os deixava sem argumentos
e obrigados a reconhecer o não-saber.

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O primeiro momento desse procedimento socrático denomina-se ironia (do


grego eironeia, “perguntar, fingindo ignorar”), processo negativo e destrutivo
de descoberta da própria ignorância. O segundo momento, a maiêutica (de
maieutiké, “relativo ao parto), é construtiva e consiste” em dar à luz novas
ideias”.

Toda essa discussão, no entanto, não visa a um objetivo puramente


intelectual. O que Sócrates pretende é o reto conhecimento das virtudes
humanas. Ele busca o “intelectualismo ético”, isto é, a identificação do sábio
e do virtuoso, concomitantemente.
Desse princípio derivam diversas consequências para a educação, tais como:
o conhecimento tem por fim tornar a vida moral; o processo para adquirir o
saber é o diálogo; nenhum conhecimento pode ser dado dogmaticamente,
mas como condição para desenvolver a capacidade de pensar; toda
educação é essencialmente ativa e, por ser autoeducação, leva ao
conhecimento de si mesmo.

2.3 A UTOPIA DE PLATÃO

Diversamente de Sócrates, que era filho do povo, Platão nasceu em Atenas


(428 – 347 a.C.), assim apelidado talvez por possuir ombros largos. Filho de pais
aristocráticos e abastados. Temperamento artístico e dialético –
manifestação característica e suma do gênio grego – deu, na mocidade, livre
curso ao seu talento poético, que o acompanhou durante a vida toda,
manifestando-se na expressão estética de seus escritos.

Aos vintes anos, Platão travou relações com Sócrates – mais velho do que ele
quarenta anos - e gozou por oito anos do ensinamento e da amizade do
mestre. Quando discípulo de Sócrates e ainda depois, Platão estudou
também os maiores pré-socráticos. Depois da morte do mestre, Platão retirou-
se com outros socráticos para junto de Euclides, em Mégara.Daí deu início a
suas viagens: visitou o Egito, de que admirou a veneranda antiguidade e
estabilidade política; a Itália meridional, onde teve ocasião de travar relações
com os pitagóricos (tal contato será fecundo para o desenvolvimento do seu
pensamento); a Sicília, onde conheceu Dionísio,

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tirano de Siracusa. Caído,porém, na desgraça do tirano pela sua fraqueza, foi


vendido como escravo. Libertado graças a um amigo, voltou a Atenas.

Em Atenas, pelo ano 387 a. C., Platão fundava um dos ginásios de ensino
superior da cidade, a Academia. Adquiriu uma herdade, onde levantou um
templo às Musas, que se tornou propriedade coletiva da escola e foi
conservada durante quase um milênio, até o tempo do imperador Justiniano
(529 d.C.).
Platão, ao contrário de Sócrates, interessou-se vivamente pela política e pela
filosofia política. Dedicou-se inteiramente à especulação metafísica, ao
ensino filosófico e à redação de suas obras, atividade que não foi
interrompida a não ser pela morte. Esta veio opera aquela libertação
definitiva do cárcere do corpo, da qual a filosofia – como lemos no Fédon –
não é senão uma assídua preparação e realização e realização no tempo.
Morre Platão em 348 ou 347 a.C., com oitenta anos de idade.

Platão é o primeiro filósofo antigo de quem possuímos as obras completas. A


forma dos escritos platônicos é o diálogo, transição espontânea entre o
ensinamento oral e fragmentário de Sócrates e o método estritamente
didático de Aristóteles.

No âmbito da educação, desenvolveu ideias avançadas para seu tempo: o


Estado assume a educação; educação da mulher é semelhante a do
homem; valorização da educação intelectual, coroada pelo estudo das
ciências (com especial destaque para a matemática) e pela didática,
processo que eleva a alma das aparências sensíveis às ideias.

2.4 ARISTÓTELES E O SEU REALISMO

Aristóteles (384 – 332 a.C.) nasceu na cidade de Estagira, ao norte da Grécia.


Dirigindo a Atenas, foi discípulo de Platão. Ele foi um expoente da Escola
Socrática. Como já vimos, esta por sua vez fundada por Sócrates e era
contrária aos sofistas. Inicialmente, a escola defendia que a reflexão e a
virtude eram fundamentais à vida. A Escola Socrática continuou com Platão,
que defendia a virtude e preservava os ideais de bondade, beleza e justiça.
Para ele, cada fenômeno terrestre era reflexo do mundo das idéias, por isso
foi considerado o “filósofo ideal”. Enquanto, para Platão, as coisas concretas,
em constante movimento, são simples aparências,

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sombras da verdadeira realidade do mundo das idéias, do mundo imóvel dos


conceitos. Aristóteles critica o idealismo do mestre e desenvolve uma teoria
realista, segundo a qual imutabilidade do conceito e o movimento das coisas
podem ser compreendidos a partir das coisas mesmas, recusando portanto,
o artifício do mundo das idéias.

Aristóteles se concentrava no estudo das mutações do mundo material, ou


seja, nascimento, transformação e destruição. Para ele, o real existia
independentemente das idéias e para conhece-lo era necessário
desenvolver a lógica. Partiu da observação de que, na nossa experiência,
não existem objetos ideais; quem existe e sofre transformações são as coisas
ou os viventes (chamados “entes”). Os entes são o ponto de partida da
metafísica Aristotélica em seu caminho até o seu ser. Aristóteles utilizava a
logica para alcançar a precisão e propunha restabelecer a unidade do
homem consigo mesmo e com o mundo.

Aristóteles, filho de Nicômaco, um médico famoso que atendia ao rei Filipe


de Macedônia, ficou órfão muito jovem e foi educado por Proxeno, um amigo
de família, logo mostrou interesse pela pesquisa cientifica como o pai.

Aristóteles e Platão se encontraram e o entendimento entre ambos foi tão


grande que, que aos dezessete anos, ele entrou para a Academia.
Permanecendo até a morte do mestre. Dizia Platão:

mminha academia se compõe de duas partes: o corpo dos estudantes e o


cérebro de Aristóteles.

A influência de seu pai e a formação marcada pela Biologia fizeram com


que Aristóteles desenvolvesse um espírito agudo de observação. Para o
filósofo, a observação era justamente o primeiro passo para a investigação
da natureza. Agrupou os animais e plantas segundo suas características
principais (que chamou de substância). Por fazer da lógica a essência do seu
trabalho, desenvolveu uma linguagem rigorosa, mais apropriada ao
desenvolvimento das ciências da natureza e bem distante das imagens e
narrativas místicas de Platão.

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Com a morte de Platão, Aristóteles saiu de Atenas e foi para Assos, onde
fundou com Hérmias e filial de uma Academia. Em Assos, casou-se com
Pýntia. Foi preceptor de Alexandre, filho de Filipe, o rei da Macedônia, na
época, Alexandre tinha 13 anos.

Após a morte de Filipe, Aristóteles voltou a Atenas. Fundou sua própria escola
– o Liceu. Dedicou-se ao estudo da Biologia, Física, Metafísica, Ética e Política.
Contando com professores especializados, o Liceu era como um centro de
estudo moderno.

O estagirista investiu no conhecimento da natureza e nela deteve-se


maravilhado diante do ser humano e de sua característica principal: a
racionalidade. Se a virtude é viver conforme a razão, cabe a esta disciplinar
os sentimentos e instintos.

Nesse sentido, diferente de Sócrates, que relacionava saber e virtude,


Aristóteles enfatiza a ação da vontade, exercitada pela repetição, que
conduz ao hábito: só é virtuoso quem tem o hábito da virtude. Daí a imitação
ser o instrumento por excelência desse processo, segundo o qual a criança se
educa repetindo os atos de vida dos adultos, adquirindo hábitos que vão
formar uma “segunda natureza”. Vale ressaltar, ainda, que até os nossos
tempos, sempre foi marcante sua influência na filosofia ocidental.

2.5 SÉCULO XV E XVI – RENASCIMENTO, HUMANISMO E REFORMA

Contexto histórico

A Renascença europeia compreende a retomada dos valores greco-


romanos, instituindo uma nova imagem do homem e do mundo, em
contraposição às concepções teológicas da Idade Média (caracterizada
como a “idade das trevas” ou “ a grande noite de mil anos”). O retorno às
fontes da cultura greco-latina, sem a intermediação dos comentadores
medievais, é um procedimento que visa a secularização do saber. O olhar do
homem desvia-se do céu para a terra, para as questões do cotidiano
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 Modelo Heliocêntrico (Copérnico);

 Desenvolvimento da Medicina (dissecação de cadáveres);

 Ênfase nas Artes (pintura, arquitetura, escultura e literatura);

 Descobertas: pólvora, imprensa, bússola, caminha para as Índias,


conquista da América.

IDEAL DA FORMAÇÃO

O gentil-homem: homem culto mundano que nega o ascetismo medieval e


busca os prazeres e alegrias do mundo, desde o luxo na corte, o gosto pela
indumentária cuidadosa, até os amenos deleites da vida familiar.Busca da
individualidade, caracterizada pela confiança no poder da razão;Ascensão
da burguesia (Resolução Comercial) e fortalecimento das Monarquias
Absolutas.

ANTECEDENTES E CONTEXTO

As criações artísticas e intelectuais do Renascimento foram produzidas por


intle tuais e pessoas das elites e dirigiram-se a uma minoria. O Renascimento
cultural basicamente um movimento de elite e circunscrito à mesma. A
Reforma Religiosa, ao contrário, propagou-se rápido por toda a Europa e
mobilizou toda a sociedade, provocando desde rebeliões camponesas até
guerras prolongadas entre Estados, passando por massacres e perseguições.
E tudo começou com uma polêmica sobre a salvação da alma, tendo como
pano de fundo um grave

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desencontro entre o formalismo da Igreja Católica e uma nova e intensa


religiosidade entre os fiéis.

Desde o século XIV, assolada por calamidades (fome. peste, guerra), a


Europa presenciava uma transformação no modo de vivenciar a religião. Ao
passar por essa experiência traumática de convívio quase quotidiano com a
morte, a preocupação com a salvação da alma assumiu uma importância
enorme na vida das pessoas. A Igreja Católica encontrava-se despreparada
para atender às novas e intensas necessidades espirituais dos fiéis. Na
realidade, a hierarquia eclesiástica reproduzia e intensificava as
desigualdades sociais; Existia o alto clero (papas, cardeais, arcebispos, bispos
e abades), cujos representantes vinham quase que só da nobreza, e o baixo
clero (padres paroquiais, monges), integrado por indivíduos das camadas
inferiores da sociedade.

O problema começava no topo da hierarquia eclesiástica. Os papas


Alexadre VI, Júlio II e Leão X, que se destacaram como grandes mecenas no
Renascimento, são invariavelmente mencionados pelos historiadores como
religiosos negligentes em relação a seus cargos, tal era o amor com que se
dedicavam aos afazeres do mundo profano. Os bispos não davam exemplo
melhor. Escolhidos entre as famílias nobres e por acordo entre reis e papas, a
nomeação constituía muitas vezes simples pagamento por serviços.
Interessados apenas nas rendas do bispado, o agraciado pela indicação
nem sequer residia na diocese e muito menos orientava o serviço sacerdotal
dos padres lotados nas paróquias. Os padres eram muitas vezes escolhidos
entre os próprios fiéis do local e assumiam o sacerdócio sem nenhuma
preparação prévia. A missa, por exemplo, era rezada em latim por sacerdotes
sem preparo, em geral analfabetos e incultos, e que, tal como os fiéis não
compreendiam o sentido da liturgia que presidiam. Como decorrência desse
estado de coisas, os fiéis buscaram formas alternativas de religiosidade. Assim,
enquanto as Igrejas se esvaziavam, aumentava o número de peregrinos a
locais considerados significativos e crescia o volume de comércio de relíquias
sagradas.

ANTES DA REFORMA

Mediante críticas as práticas de vendas de indulgências por parte do clero,


ocorreram múltiplas revoltas religiosas nos séculos XV e XVI na Europa. Na

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Inglaterra, John Wiclif, da Universidade de Oxford atacou a opulência do


clero, defendendo o confisco de bens da Igreja. John Huss, por sua vez
atacou a mesma prática no Sacro Império Romano-Germânico, já que
religiosos germânicos ocupavam altos cargos da Igreja por meio de acordos
e negociações de cargos.

Trata-se de uma prática conhecida como simonia. Professor da Universidade


de Praga, Huss negava o dogma da infalibilidade do papa, bem como a
vinculação entre interesses políticos e religiosos. Por tais motivos ele foi preso
e queimado pela Inquisição, em 1415, o que gerou revoltas camponesas no
interior do Sacro Império. O problema maior era o das já mencionadas
indulgências, uma espécie de perdão antecipado pelos pecados veniais ou
perdoáveis, obtido mediante pagamento de um valor estipulado pela Igreja
Católica. Sua instituição se deu por ocasião das cruzadas medievais, quando
os papas concediam o perdão em troca da participação do senhor feudal
em expedições contra infiéis, dispensando, assim o fiel das penas do
Purgatório.

LUTERANISMO

Martinho Lutero era um monge teólogo católico da Universidade de


Wittenberg, localizada no mesmo Sacro Império Romano Germânico de Huss.
Ao observar um religioso chamado João Tetzel vendendo indulgências, Lutero
efetuou duras críticas a essas práticas, fixando na Igreja local um texto com
95 teses sobre os princípios da religião cristã. As idéias do monge estariam de
acordo, segundo ele, com os preceitos do cristianismo original, o que agradou
a muitos nobres do Sacro-Império que, devido às disputas com o Imperador
(católico fervoroso), passaram a confiscar terras da Igreja.

Nascido e criado no ducado da Saxônia, Lutero tornou-se monge agostiniano


em 1505, desviando-se da carreira jurídica para a qual estava se preparando.
Ele optou pela vida religiosa porque temia não ser merecedor da salvação.
Como monge fez penitências e entregou-se aos estudos religiosos, chegando
ao cargo de professor de teologia na Universidade de Wittenberg, capital da
Saxônia. Sua inquietação, entretanto, persistiu, até que conseguiu formular
para o seu drama interior (medo do Inferno), uma teoria da salvação da alma
com base nas epístolas (cartas) de São Paulo, nas quais encontrou o que
procurava em afirmações como esta: "Nós sustentamos que o homem é
justificado pela fé, sem as obras da lei".

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De acordo com a doutrina católica de sua época, a salvação era tida como
consequência das obras, isto é, das boas ações orientadas pelas autoridades
eclesiásticas.

A Igreja e o seu corpo clerical eram considerados indispensáveis à salvação


dos fiéis, que, como leigos, não saberiam o que fazer para salvar a própria
alma. Lutero, entretanto, defendia que o homem estaria para sempre
condenado, em virtude da gravidade que representou o pecado original.
Porém, apesar de saber que estava condenado, o fiel poderia manter a sua
fé e com isso salvar a própria alma. Tal concepção estava em desacordo
com a doutrina católica. Dando-se a salvação pela fé e não sendo possível
alguém ter fé em lugar de outrem, a salvação convertia-se numa questão
particular, que dizia respeito apenas a cada um.

Assim, não havia necessidade de padres ou santos. A concepção luterana


dispensava todos os intermediários entre Deus e os fiéis e, por isso, foi tida
como uma heresia pela Igreja Católica, como um pecado contra os dogmas
da Igreja. Porém, diferentemente das heresias anteriores, o luteranismo foi
uma heresia triunfante, que deu certo. E havia razões para o seu triunfo.
Examinando-se com cuidado a concepção luterana de salvação, verifica-se,
que ela valoriza a vida interior do crente. Por isso, pode-se dizer que ela deu
forma ao individualismo na religião cristã. O fato é que as 95 Teses de Lutero
se tornaram do conhecimento do papa, sendo condenadas. Lutero corria o
perigo de ser penalizado, tal como Huss, porém ele teve mais sorte. O duque
Frederico da Saxônia saiu em sua defesa, tornando-se o seu protetor, como
forma de enfrentar o Imperador que se utilizava da Igreja para tentar
centralizar o poder no Sacro Império.

Lutero intencionou uma reforma na própria Igreja Católica, buscando uma


forma de cristianismo mais primitivo, marcado por sacramentos mais simples e
por menos dogmas e ostentação. Sua crítica às indulgências iniciou o
processo e as consequências foram inesperadas, visto que suas teses geraram
novas formas de cristianismo na Europa.

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REFORMA

Manifestação religiosa do espírito do Renascimento. Luteranismo, Calvinismo


e Anglicanismo questionam a estrutura hierárquica e decadente da Igreja.
Contrariando as restrições católicas aos negócios e aos juros, os protestantes
veem no enriquecimento um sinal do favorecimento divino. Propõe a consulta
direta do texto bíblico, sem a intermediação da tradição, daí a necessidade
de oferecer condições a todos os homens da leitura e interpretação da Bíblia.

Antecentes: o Cisma Grego (séc. XI) instituindo as igrejas Romano e Ortodoxa,


o Grande Cisma (séc. XIV) entronizando dois papas, um na França, e outro
em Roma;

Substrato: as heresias (séc. XII) que disseminaram pela Europa com o


renascimento das cidades.
CONTRAREFORMA

A Contrarreforma foi à reação da Igreja Católica Apostólica Romana frente


à expansão da doutrina protestante pela Europa. Entre as medidas tomadas
pela Igreja, podemos citar:

Criação da Companhia de Jesus:

Ordem militar-religiosa criada pelo militar espanhol Ignácio de Loyola. A


Companhia de Jesus tinha como objetivo expandir a fé católica para novas
terras, entre as quais à Ásia e às Américas. Organizados em uma rígida
hierarquia e disciplina militar, os membros da ordem eram chamados de
“Soldados de Cristo”, expandindo o catolicismo por meio do ensino e da
catequização (conversão e instrução religiosa) de outros povos.

Concílio de Trento – 1545 – 1563:

Trata-se de uma reunião da cúpula católica convocada pelo Papa Paulo III
com o intuito de agir diante do avanço protestante na Europa. As medidas
tomadas acabaram condenando todas as formas de protestantismo. Entre as
principais medidas podemos destacar: Fim das indulgências, motivo inicial
que levou ao movimento de Reforma Protestante. Manutenção dos dogmas
católicos como

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forma de demonstrar as diferenças da “verdadeira” religião cristã com as


novas doutrinas, consideradas heréticas. Criação do Tribunal do Santo Ofício
(que na verdade significou a retomada da antiga Inquisição, que fora criada
em 1183) como forma de combater as heresias, dentre as quais, o
protestantismo. Na Espanha, esses tribunais iniciaram-se em 1480 e foram
extremamente atuantes. Não devemos esquecer que, além da Itália, na
Península Ibérica o Protestantismo não teve sucesso, muito em razão da
atuação repressiva dos reis absolutistas e do Tribunal do Santo Ofício. Criação
do Index, uma espécie de catálogo de livros proibidos pela Igreja Católica,
incluindo os livros científicos de Galileu Galilei, Giordano Bruno e todas as
Bíblias traduzidas para os idiomas vernáculos (os idiomas nacionais).
Centraliza sua ação na “conquista das almas jovens”, criando os colégios
jesuítas que hegemonizaram o campo educacional por mais de 200 anos;

Sua eficiência deve-se ao cuidado com o preparo rigoroso do mestre


(formação de professores) e com a uniformização da sua ação pedagógica
(Ratio Studiorum).

CALVINISMO

Influenciado pelas idéias de Lutero, o francês João Calvino passou a


divulgar uma nova doutrina religiosa em Genebra, na Suíça. Segundo ele,
todos os homens estavam sujeitos à vontade de Deus, sendo apenas alguns
os predestinados a salvação (teoria da predestinação de Santo Agostinho).

O sinal da graça divina estaria em uma vida cheia de virtudes, dentre as


quais, o trabalho diligente, a sobriedade e a parcimônia em relação aos
bens materiais, ou seja, uma contenção dos gastos.A Bíblia era à base da
doutrina, não sendo necessário um clero regular para interpretá-la. Na
opinião de Calvino, quanto mais sucesso um homem detinha nos negócios,
mais próximo da graça de Deus, uma ética religiosa bem recebida pela
burguesia da época, bastante aproximada da ética do capitalismo
emergente. Em razão disso, o protestantismo de Calvino foi aquele que mais
se expandiu pela Europa. Na França, os calvinistas eram chamados de
Huguenotes (calvinistas confederados); na Inglaterra, eram denominados de

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Puritanos (protestantes calvinistas radicais que buscavam a essência das


escrituras, defensores da pureza do indivíduo, da Igreja e dos valores da
burguesia); na Escócia, eram os Presbiterianos, ermo que advém da palavra
grega presbyteros, que significa ancião, utilizada na entrada das igrejas
protestantes calvinistas da Escócia após a difusão das novas idéias religiosas
por John Knox, antigo aluno de Calvino.
Em sua obra, “A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo”, o pensador
alemão, Max Weber traçou uma relação estreita entre o calvinismo e o
capitalismo em desenvolvimento. O calvinismo deu sustentação ideológica
para a burguesia buscar o lucro sem culpa, regrando os comportamentos
dessa classe social. Na verdade, o calvinismo não defendia um lucro
desenfreado e sem critério. Ao contrário, apregoava a diligência e a
honestidade nos negócios, o investimento na empresa e o corte de gastos,
sem falar na ideia de que um homem predestinado era bem sucedido nos
negócios, demarcando as diferenças entre os bem sucedidos e os maus
sucedidos.

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REFERÊNCIAS

BELLO, Rui de Ayres. Filosofia da Educação. São Paulo: Editora do Brasil S/A,
1969.

CABRAL, Carmen Lúcia de Oliveira; TEODÓSIO, Hosiene Araújo. As interfaces


entre filosofia e pedagogia. V CINFE – Congresso Internacional de Filosofia e
Educação, Maio de 2010 – Caxias do Sul-RS ISSN: 2177-644x.

CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. 12. ed. São Paulo: Ática, 2002.

COSTA, Cláudio. Uma introdução contemporânea à filosofia. São Paulo:


Martins Fontes, 2002.

FERRARI, Márcio. Hannah Arendt: uma defensora da autoridade em


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