Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Filosofia e o processo
da Educação
Nesta aula, iremos estudar questões fundamentais essência ou uma natureza, até ao contrário, a fazer de
para o entendimento da Filosofia dentro do processo sua existência (sua ação, sua história) o ponto de partida
educacional. Todos os problemas educativos baseiam- de uma construção, de uma “nova” essência humana
se no caráter educável do homem e no sentido da (individual, social, moral), proclamando “a inocência do
educabilidade. devir (NIETZSCHE) e a necessária autoeducação da
A questão fundamental é saber se o caráter educável humanidade (CASTORIADIS)”. A essa questão está
do homem o conduz a recobrir ou a realizar uma associada aquela dos riscos e dos valores de tais empresas.
Boa aula!
Objetivos de aprendizagem
• identificar as diferentes abordagens utilizadas pelos pensadores e os resultados por eles alcançados, na busca de uma
compreensão cada vez mais satisfatória do significado do universo e do ser humano dentro dele. identificar os conceitos e os
valores subjacentes ao processo de evolução da cultura universal;
• analisar e planejar ações, explicitando o referencial teórico utilizado.
Filosofia da Educação 14
atenção que Kant construiu ao redor da noção de respeito.
Seções de ESTUDO Essa preocupação concreta reúne prática e reflexão, coloca a
educação em situação e um olhar para outro e para a própria
1 - A educação como problema filosófico. ação situada na alteridade. A figura educativa é aquela da
2 - O outro e a complexidade na figura educativa. própria alteridade. Educar é, evidentemente, comunicar, ou
3 - Aspectos da complexidade: um novo espírito seja, entrar em relação com o outro para construir um sentido
científico. comum. Mas a alteridade é também a dimensão do outro que é
4 - A educação pós-moderna. si mesmo. Situar-se na alteridade talvez seja também o futuro.
Na “relação” consigo e com o outro delineiam-se múltiplas
1 - A educação como problema significações. O sentido da alteridade, tal como descreve a
filosófico fenomenologia, está além do caráter humano particular,
caráter constitutivo da consciência, num mundo aberto
irresoluto que se trata de repensar através da complexidade.
O outro, a existência e a situação pedagógica.
Ética
vamos falar “educação”, para duas palavras latinas: “ex-ducere”. A raíz “ex”
+ sobre significa sair para fora. Assim, por exemplo, “ex-spirar”, “ex-
sultar”, “ex-clamar”, nos revelam sempre esse movimento, de
dentro para fora. Daí a “educação” não consistir propriamente
num processo de implantação de algo que ainda não existe,
mas um processo de cultivo de algo que já está ali presente,
Disponível em: http://profwagnerbueno. embora em germe. Assim se entende o dito de Paulo Freire, de
wordpress.com/2011/08/25/qual-a-chance-
de-uma-pessoa-etica-ter-sucesso-na-vida-
que, a rigor, ninguém educa ninguém. As pessoas se educam
profissional/. Acesso em: 02/03/2013. no confronto com outras pessoas e com as várias realidades
Descreve Moser (2010), se formos à raiz semântica da da vida. A rigor não deveria existir oposição entre “educador”
nossa palavra “ética” nos deparamos com duas possibilidades de e “educando”, ou nem mesmo se poderia utilizar essa
tradução da palavra ethos: escrita com a letra grega eta, significa terminologia, por si só suspeita. O que deveria ocorrer seria
caráter; com a letra êpsilon significa costumes, mormente bons exatamente um certo confronto, onde um se espelha no outro.
costumes. Mas uma leitura mais acurada logo aponta para outro Mas de qualquer modo, o que deve ficar evidenciado é o papel
sentido subjacente na mentalidade grega: residência, moradia. ativo do “educando”. Ele ou ela deveriam ser considerados
Recolhendo estes significados etimológicos básicos se chega a os agentes primeiros. O chamado “educador” não deveria ser
perceber que o ethos aponta para um modo próprio de ser e de mais do que uma espécie de espelho, que leva o “educando” a
viver onde se “abriga” o humano. se olhar em profundidade.
O ethos é como que o alicerce sobre o qual se estrutura Pelo que foi dito até aqui sobre e Educação, fica claro que
o humano. Não é, porém, algo de estático; antes é como uma a tarefa do educador não é dar voltas na vida pelo educando;
fonte borbulhante que sustenta o humano e a partir da qual nem pretender conduzí-lo pelos mesmos caminhos de sempre.
os seres humanos buscam sempre de novo revigorar-se. O O bom educador acompanha o educando com um olhar
ethos é algo de tão profundo que radica além das normas carinhoso como o de uma mãe, mas como boa mãe deixa o
morais e até mesmo da própria diversidade das religiões. Não filho fazer ensaios para andar. Ou seja, o pressuposto é que se
só toda moral e toda religião se constituem na expressão tenha confiança na capacidade do educando. O que podemos
de um ethos, como até mesmo os ateus podem apresentar é oferecer subsídios, ajudá-lo a organizar suas próprias
dimensões éticas surpreendentemente profundas. Um dos experiências, levá-lo a um senso crítico em relação a elas. De
cursos mais interessantes que ministrei foi exatamente sobre a alguma forma, o que deveria acontecer entre o educador e o
concepção ética de Marx. Todos sabem que ele se proclamava educando, é que ambos fossem aprendizes, embora em estágios
ateu; mas talvez poucas pessoas sabem que desenvolveu toda diferentes. O que deveria ocorrer é uma troca de saberes, onde
uma concepção ética de uma impressionante profundidade e ambos têm algo a aprender e ambos têm algo a ensinar.
coerência. É aqui o momento de estabelecermos um confronto
O ethos é como que a marca primeira de qualquer ser entre uma educação libertadora e uma educação manipuladora,
humano, antes de qualquer outra marca cultural, ideológica ou ou opressora.
religiosa, mesmo que historicamente falando o ethos nunca Vimos que o ethos não se concretiza no abstrato, mas
17
justamente no plano histórico. O mesmo se deve afirmar em direção ao outro”. Uma relação educativa não constitui,
com respeito à educação. E esse plano histórico aponta mas é constituída pelo outro e por si mesmo, segundo o
continuamente tanto para as pessoas, quanto para as sociedades, princípio fenomenológico da existência. A educação não é
tanto para o que já foi, quanto para o que vai sendo, tanto para a essencialmente uma mediação, baseada nessa similitude, que
tradição, quanto para a atualidade, tanto para a natureza quanto conduz a educar. Essa similitude dá espaço no qual se constrói
para a cultura. E na medida em que se evoca a cultura, não se a exigência ética, a visada à qual ela tenta responder ao mesmo
pode perder de vista que ela remete para vários campos, entre tempo em que constrói. Para que serviria educar o outro se si
os quais o religioso, o simbólico, o organizativo-social. O ethos mesmo não fosse o outro e o outro si mesmo? O eu educador
vem sempre expresso por esses múltiplos componentes, que é o si no reencontro com o outro.
vão se fecundando mútua e dialeticamente. Outro paradoxo é aqui levantado: o da autonomia. Através
Quando nos detemos diante dos múltiplos componentes da iniciativa conduzida pelo educador, o educando participa
do ethos, vamos nos deparar com ao menos três tentações: a da mesma visada, da mesma dimensão existencial da relação
primeira é a de tentar encontrar respostas prontas; a Segunda é com o outro, a autonomia é apenas então a reciprocidade
a de julgar que só nós hoje sabemos das coisas. E a terceira é a de si e do outro, é a própria visada, o “que também”, seu
de confundir ethos com norma. reconhecimento. O outro não é uma reduplicação de si, mas
As crises éticas, como as crises educacionais, remetem seu alter ego, outro verdadeiro. O modelo (o “como”) inclui
ainda para períodos de pluralismo cultural, quando várias a diferença, ele é a referência, o também é capaz de começar
culturas, por circunstâncias históricas, se veem confrontadas; alguma coisa no mundo, de agir com razões, de hierarquizar
pois todo grupo cultural apresenta também seu padrão ético suas preferências, de estimar os objetivos de sua ação, e desse
próprio. Seria possível estabelecer uma unidade ética num modo de estimar você mesmo como eu estimo. A autonomia
período de pluralismo cultural? Seria isto desejável? O fato é é essa capacidade partilhável.
que quanto mais primitiva uma sociedade, tanto mais rígida A educação torna-se assim educação para o sentido,
tende a ser na transmissão do seu paradigma ético, e quanto afirmação da solidariedade da consciência e da razão, do
mais desenvolvida, mais tende para a maleabilidade. existencial e da aquisição dos saberes humanos. O objeto
Poderíamos concluir estas reflexões sobre Ética, valores e da educação não seria o de dar sentido ao encontro com o
educação, da seguinte forma: o denominado educador não é o outro em atividades de “saber” (o especulativo), ocasião de
que fornece muitos conhecimentos ao denominado educando, um verdadeiro saber (presença), o do outro? Só que aprende a
por mais que esses conhecimentos possam ser necessários. O humanidade; mas não essencial.
educador é antes, uma pessoa experiente na ciência da vida, e
que introduz o educando nos caminhos da sabedoria. É isto 2.4 - Complexidade e educação
que se percebe nos dois incomparáveis educadores, ambos
mestres em “maiêutica”: Sócrates e Jesus Cristo. Nenhum A busca de uma natureza à qual a educação estaria
deles respondia propriamente a perguntas, mas conduziam o vinculada refere-se ao mesmo tempo à ordem do humano,
discípulo a encontrar a resposta através de outra pergunta. Tanto à ordem das coisas e ao saber, ou ainda à ordem da própria
Sócrates, quanto Jesus Cristo, compreendiam a educação como situação, como consideram os pragmáticos. Devemos opô-
uma espécie de parto, não operacionalizado através de uma las. Considerar a dinâmica global disso supõe considerar
cesariana, mas induzido, lentamente e seguramente. Ambos que o produto da educação escapa aos esquemas lineares de
compreendiam a Ética não como uma ciência que cria valores, produção social, psicológica ou uma pedagogia linear, e que a
mas como uma ciência que descobre os valores implantados no educação deriva de uma realidade complexa. A complexidade,
mais profundo do ser humano. E esta descoberta passa sempre que se trata de tornar inteligível, supõe um modo diferente de
por uma feliz conjunção entre o divino e o humano. pensamento que apresentamos na forma de proposição única.
Minhas anotações
Vale a pena ler
<http://www.rieoei.org/rie33a03.htm>.
<www.helfenreabilitacao.com.br/artigos/filosofia_
educacao1.doc>.
< h t t p : / / w w w. p h i l o s l e t e r a . o r g. b r / i n d e x .
php?option=com_content&view=article&id=157:fpclorieri
&catid=35:sobre-a-fundacao&Itemid=299>.
<http://filosofiaeposmodernidade.blogspot.com.
br/2010/05/dicas-para-melhorar-os-templates.html>.
<http://www.cobra.pages.nom.br/filotemas.html>.
<http://educador.brasilescola.com/trabalho-docente/
filosofia-para-criancas.htm>.