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SUMÁRIO
O “filosofar” ................................................................................................................ 10
A importância da filosofia .......................................................................................... 13
Texto para reflexão ................................................................................................... 16
A filosofia da educação ............................................................................................. 17
TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS ................................................................................ 21
QUADRO DAS TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS .................................................... 25
TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS NO SÉCULO 20 .................................................... 33
A ESCOLA NOVA ..................................................................................................... 34
ESCOLA TECNICISTA.............................................................................................. 35
DESESCOLARIZAÇÃO DA SOCIEDADE................................................................. 37
Destruir o culto à máquina; ....................................................................................... 38
CRÍTICO-REPRODUTIVISTAS BRASILEIROS ........................................................ 43
CRÍTICA ÀS TEORIAS CRÍTICO-REPRODUTIVISTAS ........................................ 43
AS TEORIAS PROGRESSISTAS ........................................................................... 43
RISCOS DAS PROPOSTAS PROGRESSISTAS ..................................................... 45
PRINCIPAIS EDUCADORES PROGRESSISTAS .................................................... 45
Articulação entre escola e comunidade ..................................................................... 56
Educação Comunitária .............................................................................................. 59
Base da proposta das Cidades Educadoras ............................................................. 62
O desafio da emergência da sociedade democrática ................................................ 66
Uma cidadania e uma educação ainda precárias ...................................................... 71
Educação, política e sociedade democrática ............................................................ 75
A educação como um ato político: desafios colocados à formação docente............. 78
Educação e sociedade democrática: formação política do educador ........................ 84
Utopia ........................................................................................................................ 85
FORMAÇÃO DOCENTE: CONSTRUÇÃO DE UMA SOCIEDADE CRÍTICA ............ 87
A FORMAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO.......................................... 87
CURRÍCULO UNIVERSITÁRIO E A PRÁTICA DE ENSINO .................................... 89
FORMAÇÃO DOCENTE E CIDADANIA ................................................................... 90
REQUISITOS PARA A FORMAÇÃO DE UM DOCENTE EMANCIPADOR .............. 91
A FORMAÇÃO PROFISSIONAL CONTINUADA DO EDUCADOR........................... 92
UMA EDUCAÇÃO EMANCIPATÓRIA....................................................................... 93
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 95
PRESSUPOSTOS FILOSÓFICOS DA EDUCAÇÃO
O “filosofar”
Já vimos que quando não temos um corpo filosófico que dê sentido e oriente
a nossa vida, assumimos o que é comum e hegemônico na sociedade; assumimos o
“senso comum”, que é o conjunto de valores assimilados espontaneamente, na
vivência cotidiana. Mas, como é que se constitui a filosofia, como se constrói esse
corpo de entendimentos, que poderemos assumir criticamente como aquele que
queremos para o direcionamento de nossas experiências. Em primeiro lugar, temos
que superar os preconceitos sobre a dificuldade e a especialidade da filosofia, pois
ela não é inútil e nem tão difícil. Logo, contrariando muitos governantes e políticos,
podemos e devemos nos dedicar ao filosofar.
Filosofar é simples, porém não é algo mecânico, pois na mesma medida em
que estamos inventariando os valores vigentes, estamos criticando-os e
reconstruindo-os. Esses momentos não são separados, pois um nasce de dentro do
outro. Estudando as correntes teóricas e históricas da filosofia veem que certos
entendimentos da modernidade têm vínculos com a Idade Média, e certos valores,
que vivemos hoje, tiveram seus prenúncios na Idade Moderna. Da mesma forma,
quando iniciamos um processo de crítica dos valores enquanto estão vigentes, mas
também enquanto entre eles iniciam-se os prenúncios de certas aspirações e anseios
dos seres humanos. Assim, por exemplo, Herbert Marcuse, um filósofo alemão
contemporâneo, criticou os valores da sociedade industrial e propôs os valores de
uma nova sociedade preocupada com uma vida menos unidirecionada para a
produtividade econômica e mais voltada para a vida plena, com sentimentos,
emoções, amor, vida etc. Como e por que Marcuse conseguiu se posicionar dessa
forma? Porque nasceu e viveu após a Revolução Industrial, podendo inventariar e
criticar os seus valores. E também por ter vivido num momento histórico em que os
seres humanos estão exaustos desses valores e aspirando por outros que lhes
garantam mais vida. Marcuse entrou na corrente do contexto em que viveu, mas isso
não quer dizer que ele seja um puro reprodutor dessa época, mas sim que ele captou
o “espírito” dessa época.
Para filosofar é preciso não só olhar o dia-a-dia, mas ler e estudar o que
disseram os outros pensadores, os outros filósofos, que poderão nos auxiliar, tirando-
nos do nosso nível de entendimento e dando-nos outras categorias de compreensão.
O nosso exercício do filosofar será um esforço de inventário, crítica e reconstrução de
conceitos, auxiliados pelos pensadores que nos antecederam. Eles têm uma
contribuição a nos oferecer, para nos auxiliar em nosso trabalho de construir nosso
entendimento filosófico do mundo e da ação.
Hoje, geralmente se define a Filosofia em oposição ao conceito de ciência,
entendido como pesquisa empírica da realidade. Houve tempos em que a filosofia foi
definida em oposição à teologia, como na Idade Média; e em outras épocas a filosofia
se opunha ao conceito de mito, como entre os gregos do século V a. C.
Etimologicamente, a palavra “filosofia” formou-se pela junção de Filos-filia” que
significa “amigo” e “Sophia” que é “sabedoria, saber”, e surge na Grécia do século VI
a. C., nos escritos de Pitágoras, que não querendo definir-se como “sábio”, prefere
autodenominar-se “Filos-sophos” - ou seja “amigo do saber”, aquele que busca a
sabedoria, “amante da sabedoria”, para ele uma denominação mais fiel à sua postura
de tentar compreender a realidade de seu tempo.
A filosofia consiste, então, em um conhecimento sistematizado sobre o mundo
da natureza, sobre a condição humana pessoal e social, sobre a sociedade, sobre a
cultura. Alcançado de maneira sistemática e disciplinada, indo além do saber comum,
desconexo, fragmentado, o nível do senso comum, geralmente preconceituoso e
limitado, sobre a realidade pessoal, social e da natureza.
No entanto a filosofia tem incomodado a muitos. A história registra muitas
tentativas e empreitadas em destruí-la, desqualifica-la, negá-la. Os tiranos, os
mistificadores, os dominantes e todos os interessados na alienação e mediocridade
do povo preferem uma consciência de rebanho, de fácil manipulação, cativa e
obediente, a um questionamento sistemático e profundo sobre a realidade. Não foram
poucos os filósofos que pagaram com a vida ou a perda da liberdade a ousada postura
de filosofar sobre o seu tempo.
A proposta original da Filosofia é estabelecer uma crítica a uma determinada
concepção de mundo, alinhavar alguma significação para a existência humana,
pessoal e social e se tornar uma teoria de alcance eficaz no permanente processo de
mudança e construção social da realidade.
Não existe pensamento filosófico uniforme. Existem diversas tendências,
métodos, escolas e tradições diferentes. Determinada tendência filosófica perdura
enquanto existirem as condições históricas que lhe deram origem. Cabe a cada
homem exercitar o seu “ser filósofo”, pôr-se em busca de uma apreensão significativa
da cultura, de uma crítica leitura da realidade e de uma ação engajada no mundo.
A importância da filosofia
Certamente a menina lê. A corda frouxa entre a mão direita e o pescoço do boi
- ou será um búfalo? - sugere que não há esforço e, menos ainda, perigo, embora o
animal seja imenso e ela pequena. A quietude do olhar do bicho não deixa dúvidas:
apesar do longo chifre, ele é manso e, mais do que apenas domesticado, é doméstico.
Não fosse assim, quem o entregaria aos cuidados de uma menina pequena e
descalça, que lê enquanto trabalha e caminha? Pois, pelo menos enquanto
atravessam a trilha ao longo do canal, parece nem ser necessário prestar atenção ao
caminho e ao trabalho e, por isso, é possível ler.
O olhar dela é atento e como conhece de cor o caminho e a mansidão do bicho,
pode concentrar a atenção em ler e, assim, aprender o que não sabe. Criança e
camponesa possivelmente pobre, estaria a menina apenas vendo as figuras de uma
revista em quadrinhos que também lá no Vietnã, em 1977, fazia as delícias das
crianças de um país devastado por guerras de libertação? Parece que não. O verso
quase branco das folhas sugere um caderno ou, quem sabe? Uma cartilha. A menina
lê. Diversa dos dois outros meninos, que montados num segundo boi apenas viajam
e fazem do trabalho o prazer do passeio, a menina parece, atenta, estudar e faz do
trabalho o intervalo do ensino. A tarde é calma, a guerra, parece, acabou. E crianças
e bois podem conviver em paz.
Puxando por uma corda um boi, ser da natureza, mas bicho manso e cativo,
logo a meio caminho entre ela e o mundo humano da cultura, a menina lê. Mergulha
a atenção em um universo misteriosamente humano que, ininteligível a qualquer outro
ser da natureza, transforma sinais em símbolos; sinais, como o berro que um boi dá a
outro, ou como a água do canal que reflete as árvores e indica que é dia e há luz.
Transforma sinais em símbolos, que é o que se lê; símbolos que permitem aos
homens trocarem entre si mensagens, falar de ideias e discutir valores que tornam,
ao mesmo tempo, a sua vida social e humana.
Atenta aos estudos mais do que ao trabalho, a menina mergulha, talvez sem
saber, no universo do significado. Aos poucos se apossa do instrumento do
simbolismo que lhe permite viver em um contexto superior ao dos outros seres,
realizado pelo trabalho humano e tornado significativo pelo saber.
(Texto de Carlos Rodrigues Brandão adaptado por Franklin M. Viilela)
A filosofia da educação
Todos os povos têm uma educação, pela qual transmitem a cultura, seja de
maneira informal ou por meio de instituições. De qualquer forma, não é sempre que
o homem reflete especificamente sobre o ato de educar. Muitas vezes a educação é
dada de maneira espontânea, a partir do senso comum, repetindo costumes que são
transmitidos de geração em geração.
Ora, se a filosofia é uma reflexão radical, rigorosa e de conjunto, que se faz a
partir dos problemas propostos pelo nosso existir, é inevitável que entre esses
problemas estejam os referentes à educação. Portanto caberá ao filósofo
acompanhar reflexiva e criticamente a ação pedagógica, de modo a promover a
passagem de uma educação assistemática (guiada pelo senso comum) para uma
educação sistematizada (alçada ao nível da consciência filosófica).
A fundamentação teórica é necessária para que seja superado o
espontaneísmo, permitindo que a ação seja mais coerente e eficaz. Aliás, é bom
lembrar que o conceito de teoria não se separa do conceito de prática, que é o seu
fundamento. Isto significa que a teoria não deve estar desligada da realidade, mas
deve partir do contexto social, econômico e político de onde vai atuar.
Só assim é possível definir os valores e os objetivos que orientam a ação, pois
não se pode teorizar sobre a educação em si, o homem em si, o valor em si. A partir
da análise do contexto vivido, o filósofo irá indagar a respeito de que homem se quer
formar, e quais são os valores emergentes que se contrapõem a outros valores já
decadentes.
Por isso o filósofo também avalia os currículos, as técnicas e os métodos a fim
de julgar se são adequados ou não aos fins propostos. Por outro lado, esse
acompanhamento reflexivo impede que se caia no tecnicismo, um risco que existe
sempre que os meios são supervalorizados.
Ao ter sempre presente o questionamento do que seja educação, a filosofia
não permite que a pedagogia se torne dogmática, nem que a educação se transforme
em adestramento ou qualquer outro tipo de pseudo-educação. Por isso a filosofia da
educação é importante para denunciar as formas ideológicas que utilizam a educação
como instrumento de dominação.
A Filosofia da Educação não terá como função fixar “a priori” princípios e
objetivos para a educação; também não se reduzirá a uma teoria da educação
enquanto sistematização dos seus resultados. Sua função será acompanhar reflexiva
e criticamente a atividade educacional de modo a explicitar os seus fundamentos,
esclarecer a tarefa e a contribuição das diversas disciplinas pedagógicas e avaliar o
significado das soluções escolhidas. Com isso, a ação pedagógica resultará mais
coerente, mais lúcida, mais justa; mais humana, enfim.
Este estudo busca as raízes históricas da Filosofia da Educação no Brasil a
partir do início do século XX. Neste período se delineiam, no discurso dos educadores,
as primeiras preocupações com a Filosofia da Educação e se completa com a inserção
desta disciplina nos cursos de formação de professores.
O período em que se delineiam as primeiras preocupações com a Filosofia da
Educação data do final do século XIX e início do século XX. Compõe-se de discussões
e de um repensar sobre uma filosofia direcionada para a educação concretizando-se
na inserção da disciplina Filosofia da Educação nos cursos de formação de
professores. Os textos produzidos neste período divulgam a temática e deixam
entrever um rico material de sentido filosófico seja nas obras de literatura, de poética,
de direito, de religião, ou mesmo, nos assuntos políticos. Ainda considerando este
período destacam-se as preocupações econômicas e a sua vinculação com os rumos
que o país deve tomar diante das transformações internacionais, principalmente, as
da Europa, o que ocasiona na arena nacional uma efervescência de ideias que ora
confluem para pontos que se assemelham, ora para pontos totalmente discordantes
sobre o desenvolvimento nacional. A educação, na trajetória dos acontecimentos, se
pronuncia na voz dos educadores que procuram, também, uma forma de
transformação que possa acompanhar os novos tempos.
Nesta perspectiva, o estilo do filosofar brasileiro no âmbito educacional se
caracteriza e se constitui sob a ótica de dois segmentos: o tradicional que incorpora
um modelo filosófico influenciado pelo pensamento de determinados autores de
modelos clássicos da filosofia ocidental e o progressista que reconhece as condições
históricas que estão se apresentando e que requer uma educação inovadora.
Este contexto, assim apresentado, em que a filosofia vai se pronunciando como
reflexão crítica sobre a vida dos cidadãos da Polis é registrado por Aristófanes em sua
sátira As Vespas. Esta peça teatral era apresentada ao público e fazia menção aos
processos que se interpunham de cidadão para cidadão. As defesas ou acusações
pronunciadas e julgadas publicamente tinham na argumentação e na contra
argumentação as ferramentas necessárias aos cidadãos para “vencer” o processo.
Neste sentido, naquele momento, era nas discussões, no seu desenvolvimento
argumentativo e na contra argumentação, que se encontrava o interesse e a
motivação para a reflexão filosófica. O contexto vivido por Platão permitiu-lhe definir,
por meio destas argumentações reflexivas, a essência da filosofia como a que poderia
auxiliar o homem na sua formação. Portanto, desde a antiguidade, com os primeiros
filósofos gregos, a filosofia apresentou-se como elemento reflexivo, crítico e
argumentativo que, teoricamente e ao mesmo tempo praticamente, permitia o
encaminhamento de uma pedagogia para o viver.
E, neste mesmo século, é que a pedagogia vai adquirindo consistência e é
assumida como uma disciplina com status de ciência. Nesta passagem, em que o
status científico da pedagogia é reconhecido, definindo o seu significado e a sua
função, emergem questões pertinentes à relação existente entre a Pedagogia, a
Filosofia e a Educação.
Esta mesma discussão fazia parte do cenário europeu desde o início do século
XVIII e se fortaleceu no século XIX, quando os trabalhos de Rousseau, de Kant, de
Hegel, de William James e mais tarde de Dewey, entre outros, foram elaborados no
confronto dos pressupostos teóricos do racionalismo científico e da metafísica.
No surgimento de novas propostas de análise, de crítica e de reflexão filosófica,
Kant (1724-1804) tendo em vista o idealismo alemão formula sua concepção
colocando na base dos seus pressupostos teóricos a constituição do homem pela
educação na sua razão prática. O conhecimento acerca do agir e do fazer humano
em relação aos seus semelhantes, era fundamental na sua obra filosófica sobre o
problema do conhecimento empírico (a posteriori) e do conhecimento puro (a priori)
em “A crítica da razão pura” (1781) e sobre o problema da moral em “A crítica da razão
prática” (1788). As ideias de Kant, de Hegel e do evolucionismo deslumbravam os
educadores, principalmente os de formação filosófica de inclinação católica.
Outros pensadores manifestaram suas concepções no mesmo século, XVIII –
XIX, que repercutiram sobremaneira no século seguinte. Fichet, por sua vez, expôs a
sua tese correlacionando a educação e a política na formação do homem e destacou
o apoio que a educação deveria necessariamente buscar na filosofia, quando nos
seus pressupostos reforçava a ideia de que um sistema filosófico contém em si uma
teoria educacional.
A Filosofia e a História da Educação, no Brasil, nas décadas de 20 e de 30, ao
afirmarem-se nos currículos das instituições de formação docente, assumiram dupla
função: quando preservavam os fundamentos morais, apoiados nos princípios da
metafísica, da teologia cristã e quando seus conteúdos eram remodelados pelas
novas tendências, apoiados nos princípios e preceitos científicos veiculados pela
escola nova.
Sedimenta-se tendo os pressupostos filosóficos dos pensadores antes citados,
Kant, Rousseau, William James e Dewey e, ainda, pela filosofia Tomista. Kant,
influenciado por Rousseau e por Hume, tinha seus fundamentos apoiados na conduta
do homem no seu agir e fazer como denunciantes dos problemas morais, e anunciava
a autonomia e a liberdade do homem ao alcançar o “esclarecimento”, momento em
que deixava a sua ignorância e desvencilhava-se da necessidade da direção de outro
homem e ficava livre do seu aprisionamento à “menoridade”. Rousseau, por sua vez,
revelava na sua obra Emílio ou Da Educação.
A filosofia tradicional, que procura conservar os preceitos da religião cristã, e a
filosofia progressista ou liberal, que procura desenvolver a formação para um homem
moderno, de princípios democráticos, de responsabilidade sobre as suas ações,
encontram-se explícitas nos discursos sob os pontos de vista de concepções
contraditórias.
Considerando a Filosofia da Educação brasileira nas suas raízes pode-se
afirmar que ela se apresenta sob os aspectos de interferência internacional, quando
os autores clássicos (de tradição teológica ou defensores dos aspectos tradicionais)
e os autores contemporâneos contrapõem as suas concepções; e, por outro lado,
quando se apresenta sob os aspectos coordenados pelo cenário nacional, ao
manifestar as contraposições e as aproximações entre concepções tradicionais e
progressistas, em momentos diferentes.
TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS
TRADICIONAL TECNICISTA
LIBERTADORA LIBERTÁRIA
A educação tem se tornado, cada vez mais, uma preocupação dos grupos
dirigentes de todos os povos. Isto aparece claramente no século 20. Os
administradores públicos e privados e os estudiosos dos mais diversos ramos têm
escrito expressando ideias as mais diversas e, às vezes, contraditórias sobre esta
atividade tão importante para os caminhos da sociedade. Entre os educadores as
principais reflexões sobre a educação se encontram em teorias como Escola Nova,
Tecnicismo, Desescolarização da Sociedade, Crítico-Reprodutivismo e Progressismo,
estudadas a seguir.
A ESCOLA NOVA
CARACTERÍSTICAS GERAIS
A Escola Nova representou uma verdadeira inovação no campo da educação.
Suas propostas atingem os vários itens que constituem a prática educativa.
Assim:
Na relação professor-aluno: é alunocêntrica (o aluno é ativo e o
elemento mais importante do processo), enquanto o professor é um facilitador que
deve despertar o interesse do aluno e provocar a sua curiosidade.
Quanto ao conteúdo: é mais importante o modo de aprender do que o
próprio aprender; é mais válido aprender a aprender do que aprender!
Quanto à metodologia: de modo geral, propõe que as atividades sejam
centradas no aluno, valorizando a sua espontaneidade e as suas iniciativas; se
preocupa com a individualização das atividades e introduz alguma socialização ao
promover os trabalhos em grupo, muito embora sempre em função do
desenvolvimento individual; em algumas escolas específicas, que privilegiam a
pedagogia da ação, são criados setores pedagógicos típicos, como horta, laboratório,
oficina, imprensa; os jogos são vistos não como opostos ao trabalho, mas como
facilitadores da aprendizagem.
Quanto à avaliação: insiste em que esta é um processo válido para o
aluno e se constitui em uma das etapas da aprendizagem; não deve contemplar
apenas o intelectual, mas também a aquisição de habilidades e a formação de
atitudes; a competição tende a ser substituída pela cooperação.
Quanto à disciplina: tem o seu valor relativizado na medida que a escola
prepara para a autonomia; por isso, há um afrouxamento quanto à importância das
normas e uma abertura no sentido de estimular a responsabilidade e a capacidade de
crítica; busca uma disciplina que seja antes uma aceitação (vontade) que uma pura
submissão a ordens impostas.
CONSIDERAÇÕES CRÍTICAS:
PRINCIPAIS EDUCADORES
ESCOLA TECNICISTA
A crítica da escola tradicional, aliada à não aceitação das propostas
escolanovistas, fez surgir a ideia de que a escola, para se tornar eficaz, deveria
assumir o modelo empresarial, isto é, deveria seguir o modelo de racionalização e
produção da empresa capitalista. É a tendência tecnicista que, iniciada nos Estados
Unidos, é introduzida no Brasil através de diversos acordos bilaterais, inicialmente
sigilosos. Sua implementação foi buscada com maior insistência a partir de 1964 e
aparece com maior evidência nas leis 5540/68 e 5692/71.
DESESCOLARIZAÇÃO DA SOCIEDADE
CRÍTICAS À ESCOLA
Illich faz as seguintes considerações:
A escola está em crise e a solução dos seus problemas não está na
promoção de reformas dos métodos e currículos, nem na crítica ao seu elitismo; a
solução está na destruição da escola.
A escola é uma das instituições criadas para proteger e dirigir as ações
humanas e que, por isso, infantiliza o ser humano que se torna sempre mais
dependente de especialistas.
A escola escraviza mais do que a família, pois se apoia em uma estrutura
organizada, fortemente hierarquizada, em rituais de provas e exames e no mito do
diploma.
A existência da instituição escolar se baseia na premissa falsa de que a
criança só aprende (pra valer) na escola.
A escola é uma promessa que não se cumpre: vive o paradoxo de que
querer preparar para o mundo, ao mesmo tempo que corta os contatos da criança
com ele.
A escola só fornece a aprendizagem da hierarquia (dos que estão
acima).
A escola é cúmplice do mito do progresso, da competência, do consumo,
perpetuando as desigualdades sociais.
A VIOLÊNCIA DA ESCOLA
Esta visão da escola tem como principal pensador Louis Althusser. Para ele,
na sociedade capitalista, a escola, ao mesmo tempo que ensina um saber prático que
proporciona a qualificação da força de trabalho, reproduz a ideologia da classe
dominante, pois só assim será feita reprodução qualificada da força de trabalho
adequada ao sistema capitalista. A escola torna-se instrumento de dominação
ideológica e por isso é um dos elementos do aparelho ideológico de estado (AIE).
Isso se torna mais claro com o entendimento da função da ideologia na vida social.
FUNÇÃO DA IDEOLOGIA
INSTRUMENTOS DE DOMINAÇÃO
AS TEORIAS PROGRESSISTAS
CARACTERÍSTICAS GERAIS
Apesar das diversidades presentes nas propostas dos seus educadores, o
Progressismo apresenta muitos pontos comuns a todas elas:
Busca superar as Teorias Crítico-reprodutivista propondo a construção de uma
pedagogia social crítica.
Afirma a necessidade de uma consciência da existência de relações sociais de
opressão, para a busca de uma nova ação pedagógica.
Propõe uma crítica constante de alguns elementos do processo educacional,
visando uma função mais adequada para os mesmos:
Escola: seu verdadeiro significado está em ser um local de
socialização do saber; é um elemento de continuidade, mas também de ruptura; tem
um papel transformador quando enfatiza como um dos meios para uma vida
social melhor organizada a alfabetização.
Saber: não deve ser abstrato, e sim integrado à prática social global; deve
possibilitar a superação da dicotomia teoria x prática.
Trabalho: deve ser parte integrante do processo educacional, pois homem
se forma pelo trabalho e deve ser formado para o trabalho; a educação precisa levar,
também através de atividades práticas (oficinas), a compreender o fazer, o que fará
surgir a consciência crítica do mundo físico e social; a educação para o trabalho
tem também o objetivo de possibilitar a superação da dicotomia cultura erudita x
cultura popular.
Professor:
é um elemento chave no processo educacional;
sua formação tem importância especial e precisa despertar
a consciência da educação como prática social
transformadora;
sua ação deve estender-se para além da sala de aula,
afirmando a validade da ação política em favor da escola
pública.
RISCOS DAS PROPOSTAS PROGRESSISTAS
A importância da escola em nossa sociedade pode ser medida pelo tempo que
nossas crianças e jovens passam em seu interior, ao menos 12 anos de suas vidas.
Esta é a única instituição social de frequência obrigatória que alcança a todos e todas
das novas gerações.
A educação escolar em sua dimensão cognitiva busca transmitir
conhecimentos acumulados historicamente pela humanidade; em sua dimensão
socializadora permite que os sujeitos se integrem ao coletivo. Estas duas dimensões
da escola nem sempre, em sua história, caminharam juntas; os objetivos e a extensão
desta instituição sofreram mudanças ao longo do tempo desencadeadas por
processos de transformações sociais.
Desde a segunda metade do século XX temos observado mudanças sociais
profundas fruto das tecnologias da informação e comunicação; a sociedade do
conhecimento, a internet, a rede de recursos e serviços educativos disponíveis
contribuem para desconstruir a escola e romper com seu monopólio formativo e
informativo (VILLA, 2007). Este cenário mundial cobra da escola um novo tipo de
atuação; no entanto, observamos que a organização e a estrutura curricular da escola
pouco se alteraram, os paradigmas que orientam suas práticas têm como referência
uma atuação excludente e elitista, voltada para fins propedêuticos.
O acesso à escola foi democratizado, mas o acesso aos conhecimentos por ela
veiculados ainda é restrito, uma vez que muitos alunos e alunas não conseguem
aprender, e parecem não encontrar sentido nos conteúdos ensinados. Assim,
podemos nos questionar: até que ponto a escola tem se mostrado sensível à
realidade, à cultura, aos problemas e conflitos de seus alunos e alunas? Em quais
momentos nós, professores, preocupamo-nos em trazer a vida para dentro de nossas
salas de aula?
A escola cumpre uma função social essencial à formação dos novos cidadãos,
na medida em que os saberes selecionados por uma sociedade e os seus valores
serão transmitidos e construídos mediante ações educativas. Nesta instituição nossas
crianças e jovens permanecem quatro horas por dia, cinco dias por semana, nove
meses por ano e ao menos doze anos de suas vidas. Trata-se da única instituição
social por qual passa obrigatoriamente toda a população infantil e juvenil. A incidência
da escola sobre a vida das crianças e dos jovens não se restringe às horas em que
permanecem na instituição, prolonga-se para além deste tempo, compreendendo o
desenvolvimento de atividades como tarefas, estudo, trabalhos em grupo, etc.
A condição social de criança e de jovem associa-se à sua vida escolar, que se
apresenta como a porção “séria” de suas existências, implicando em compromissos e
responsabilidades extremamente valorizados. Esta instituição constitui-se em um
espaço onde se travam relações institucionais e interpessoais regulares que vão além
dos laços de parentesco ou comunidade, e é responsável historicamente por duas
grandes funções: instrução e formação (PUIG, 2000; ARAÚJO, 2003). A primeira
relaciona-se à transmissão dos saberes acumulados pela humanidade e valorizados
pela sociedade, a segunda aos valores e disposições internas, construídos pelos
indivíduos nesta instituição. Assim, a escola não se limita à dimensão cognitiva dos
alunos e alunas, mas objetiva, também, a formação moral.
A compreensão e análise reducionistas da escola, que insistem num discurso
cuja ênfase recai sobre a preponderância do caráter instrucional da instituição em
detrimento de seu caráter formativo, correm o risco de deparar-se com a necessidade
de decretar seu fim. A sociedade contemporânea, caracterizada pelo amplo, rápido e
global acesso à informação, dispõe de meios, talvez mais eficazes, para veicular a
transmissão de conteúdos, que poderiam condenar a escola ao seu desaparecimento.
Ora, temos presenciado um movimento inverso, a preocupação mundial com a
educação não aponta para o fim das escolas e sim para a extensão do seu alcance.
Podemos, portanto, considerar que o papel da escola estende-se para muito além da
transmissão de conteúdos. A pouca atenção destinada ao caráter formativo da
educação é destacada por Enguita: Professores e pais costumam prestar pouca
atenção àquilo que não seja o conteúdo do ensino, isto é, da comunicação, e o mesmo
faz a maioria dos estudiosos da educação. Entretanto, apenas uma pequena parte do
tempo dos professores e alunos na escola é dedicada à transmissão ou aquisição de
conhecimentos. O resto, a maior parte, é empregado em forçar ou evitar rotinas, em
impor ou escapar ao controle, em manter ou romper a ordem. A experiência da
escolaridade é algo muito mais amplo, profundo e complexo que o processo da
instrução: algo que cala em crianças e jovens muito mais fundo e produz efeitos muito
mais duradouros que alguns dados, cifras, regras e máximas que, na maioria dos
casos, logo esquecerão. As atitudes, disposições, etc., desenvolvidos no contexto
escolar serão logo transferidas a outros contextos institucionais e sociais, de forma
que sua instrumentalidade transcende sua relação manifesta ou latente com os
objetivos declarados da escola ou com seus imperativos de funcionamento.
(ENGUITA, 1989, p.158)
Diversidade na escola
Educação Comunitária
Ao tomarmos por base o que expusemos até aqui, podemos sustentar que a
sociedade brasileira não é democrática. Para sê-lo, não basta assegurar mecanismos
formais de participação política, que deixam os mais despossuídos reféns dos
interesses de grupos organizados que definem os termos da participação nas esferas
de poder e/ou do Estado, que, a rigor, constitui-se em lócus no qual tramam a
manutenção e ampliação de seus privilégios. Para sê-lo, irá requerer um conjunto de
esforços que venham a interferir no modo habitual de pensar das pessoas, tanto
quanto em suas condições objetivas de vida. Perguntaríamos: onde está o conteúdo
da educação responsável por garantir a superação da consciência ingênua, aquela
que favoreça a construção mental da ideia de direitos e própria para estimular a
capacidade de indignação do homem simples diante dos termos, teóricos e práticos,
que caracterizam sua condição de pobreza?
Sua emergência é tão mais urgente se considerarmos os termos que
substantiva, na vida real, o conceito de pobreza. Entendemos a pobreza em uma
perspectiva relativa e que atende, ao mesmo tempo, a uma dimensão objetiva e outra
subjetiva. Em termos concretos, é relativa porque tem sua especificidade demarcada
pela maior ou menor capacidade de cada qual acumular bens e satisfazer suas
necessidades em sua relação com os níveis de vida considerados dignos em uma
sociedade. Sua estatura subjetiva é definida pelo capital cultural utilizado pelos
indivíduos, seja para perceber-se em sua realidade, seja por sua incapacidade em
dispor de oportunidades para desenvolver suas potencialidades. Nesse sentido, a
educação seria um dos elementos deste capital cultural (Caride Gomez, Freitas e
Callejas, 2007). Ela passa a ser concebida como o vínculo passivo diante da
necessidade de autorrealização. Pobreza seria então a não percepção da busca de
autorrealização como necessidade (Fromm, 1979). Por outras palavras, a pobreza é
material e é política. Por um lado, é ausência de renda, emprego, moradia, habitação,
alimentação e saúde. Por outro, é tudo que obstaculiza a compreensão do porquê da
pobreza, isto é, resultado da injusta distribuição da riqueza (Demo, 2003).
Essas interpretações encontram equivalência na atual mudança técnico-
científica de natureza digital-molecular, propulsora de aceleração à velocidade na e
da competição e que suprime, quase que instantaneamente, a atualidade do
conhecimento (Frigotto, 2007). Nesse cenário, o desenvolvimento humano
sustentável é incompatível com os mimetismos, a rotina, o conformismo e o
instrucionismo presentes, hegemonicamente, em nossas escolas. Colonizada pela
economia, a educação busca sua justificativa na contribuição que oferece ao
desenvolvimento daquela. A busca de um lugar nos espaços produtivos hipertrofia a
consciência dos professores, dos alunos e de suas famílias. Em resultado e para além
da geração de emprego e renda, direitos sociais relacionados à saúde, à moradia, ao
transporte, à cultura, ao lazer, são pressionados para serem retirados da pauta social
e/ou educacional e transferidos para o cotidiano individual da vida privada.
O quadro é mais desalentador se considerarmos que essa situação é apenas
a expressão de um sistema que não garante uma educação de qualidade desde seus
primeiros passos. Com efeito, é preocupante o fato de que 14,6% dos adolescentes
de 15 a 17 anos estão fora da escola. Se considerarmos somente os jovens brasileiros
de 18 a 24 anos, vamos constatar que 69,9% não estudam (IBGE, 2010). Dos que
estudam, 4,40% ainda tentam concluir o ensino fundamental, 13,05% frequentam o
ensino médio, e 13,21% é a cifra correspondente aos jovens que cursam o ensino
superior. Registre-se que os jovens nesta faixa etária que estão na universidade são
da ordem de 32,0% na Argentina, 18,2% na Bolívia, 35,9% no Chile, 21,0% no México
e 25,1% na Venezuela (SEDLAC, 2011). Esses dados são a expressão tão-somente
de um sistema de ensino que apresenta níveis insuficientes de acesso, permanência
e de desempenho, sobretudo se consideramos as diferenças de renda dos jovens que
seguem estudando.
Os brasileiros têm ficado, em média, somente 7,5 anos na escola, concorrendo
para que mais da metade de sua população não tenha, ainda, sequer concluído o
ensino fundamental. Apesar de termos praticamente universalizado o acesso ao
ensino fundamental, permanecem problemas de acesso ao conhecimento.
Convivemos ainda, por exemplo, com 1,8% de jovens de 10 a 14 anos que não sabem
ler ou escrever (IBGE, 2010). Indo nessa mesma direção, cerca de 10% da população
de mais de 15 anos ainda são vítimas do analfabetismo, totalizando mais de 14
milhões de brasileiros. Nossa desonra é tão maior se atentarmos para o fato de que o
analfabetismo é bem mais acentuado na população negra, nas regiões menos
desenvolvidas, nos municípios de pequeno porte e na zona rural, como também de
que está fortemente concentrado na população de baixa renda e nas faixas etárias
mais elevadas.
Em sentido correlato, tão ou mais grave é o fato de que apenas 50,9% dos
adolescentes, que estão entre os 15 e 17 anos, estudam no nível de ensino adequado.
Registre-se, amiúde, que na população localizada entre os 20% mais ricos esse
percentual chega aos 72,5%, enquanto que na população dos 20% mais pobres
apenas 31,3% encontram-se nessa condição. Além disso, não menos sério é o fato
de que as expectativas de conclusão do ensino fundamental e médio da população
que frequenta esses níveis de ensino são, respectivamente, 53,8% e 66,6% (PNAD,
2009). Em acréscimo, estudos recentes (Torres, Bichir, Gomes, Carpim, 2008)
revelam que a pior situação de acesso à escola é daquelas famílias que residem em
áreas periféricas e os responsáveis pelo domicílio participam de atividades religiosas.
É digno de nota que o mesmo estudo destaca o precário estímulo oferecido aos
professores para atuarem nessas áreas, além do que os mesmos sustentam
percepções negativas dos alunos e de suas famílias.
O público da educação pública, como os indicadores vêm demonstrando, é
marcado por uma trajetória de vida que congrega uma multiplicidade complexa de
fenômenos socioculturais, bem como de subjetividades e expressividades distintas,
que conferem um aspecto de singularidade às suas experiências. As dessemelhanças
deste público, senão a complexidade que envolve sua caracterização, passam,
ademais, por dimensões contextuais específicas. Suas vidas apresentam formas de
ser, estar, pensar, sentir e proceder condicionadas por relações, interações e
representações de gênero, de ocupação profissional, de lazer, de consumo e
produção cultural, de etnia, de religiosidade, de formas de associação, de trânsito
migratório, de composições familiares diversas, de referências espaciais, ora urbana,
ora rural, de confinamento, de hábitos de higiene, de sistemas de valores, de
carências e insatisfações decorrentes das situações de vulnerabilidade social ou
decorrente de direitos especiais a que têm direito, enfim, de uma variedade insondável
de subjetividades que demandam uma relação política e pedagógica distinta. Acresce
dizer que, para essas pessoas, que estão a cada dia lutando para conferir e/ ou
renovar o sentido de suas vidas, não podemos aceitar que os processos educacionais
sejam reveladores de dinâmicas curriculares assépticas, abstratas, resultado da
imposição de conteúdos e temas apresentados de forma fragmentada e
hierarquizada, matriz da ausência de sentido de muitas experiências vivenciadas, dia
a dia, no interior de nossas escolas.
Nesta perspectiva, o desafio que está colocado é como oferecer condições e/ou
situações de modo que as escolhas e/ou estratégias dos menos favorecidos não
representem, como marcas de uma subcidadania, uma inserção subalterna no
sistema de ensino. Não obstante, ainda que o conteúdo escolar não esteja livre de
relações de poder, devemos considerar que os alunos, ao protagonizarem o diálogo
entre códigos semânticos distintos, podem construir novas categorias, novos
significados que, além de ilustrarem relações sociais distintas, competem resultar em
relações com a realidade distante das expectativas socialmente padronizadas (Giroux,
1997). A questão imposta requer a projeção de elementos contextuais que possam
favorecer que tanto escolhas quanto estratégias desses grupos possam representar
o acesso a um outro nível de racionalidade (técnica e política), capaz de conferir uma
outra conotação à sua compreensão na e da sociedade, possível de lhes garantir
maior autonomia, liberdade e cidadania.
Utopia