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MERCADO DE CAPITAIS

sumário
UNIDADE 1 – NOÇÕES ECONÔMICAS E FINANCEIRAS PARA O MERCADO DE
CAPITAIS .........................................................................................................................1

TÓPICO 1 – PRINCÍPIOS ECONÔMICOS .........................................................................................3


1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................3
2 NOÇÕES DE ECONOMIA ...................................................................................................................4
2.1 ECONOMIA POSITIVA E NORMATIVA ......................................................................................4
2.2 MICROECONOMIA E MACROECONOMIA ..............................................................................6
3 INDICADORES MACROECONÔMICOS RELEVANTES AO MERCADO DE CAPITAIS ........9
3.1 PRODUTO INTERNO BRUTO (PIB) ............................................................................................ 10
3.2 ÍNDICES DE INFLAÇÃO ............................................................................................................... 11
3.2.1 Caso prático do impacto da infação .................................................................................... 12
3.3 PRODUTO INTERNO BRUTO NOMINAL (PIB NOMINAL) VERSUS PIB REAL ............. 15
3.4 PIB REAL POR SETORES ECONÔMICOS .................................................................................. 17
4 A TAXA DE CÂMBIO .......................................................................................................................... 19
4.1 INFLUÊNCIA DO BALANÇO DE PAGAMENTOS NA POSIÇÃO CAMBIAL ................... 21
4.2 POLÍTICA CAMBIAL ..................................................................................................................... 23
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 29
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 30

TÓPICO 2 – PRINCÍPIOS FINANCEIROS E DE INVESTIMENTO ............................................ 33


1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 33
2 TAXA BÁSICA DE JUROS – SELIC .................................................................................................. 33
2.1 SELIC META E TAXAS DE MERCADO ..................................................................................... 36
3 CONCEITOS BÁSICOS DE CÁLCULO FINANCEIRO PARA O MERCADO DE
CAPITAIS .............................................................................................................................................................39
3.1 TAXA MÍNIMA DE ATRATIVIDADE (TMA) E RETORNO DO CAPITAL ........................... 40
3.2 O REGIME DE CAPITALIZAÇÃO SIMPLES .............................................................................. 41
3.2.1 Operações de curto prazo ...................................................................................................... 43
3.2.2 Exemplos de operações de curto prazo ............................................................................... 45
3.3 O REGIME DE CAPITALIZAÇÃO COMPOSTA ........................................................................ 47
3.4 PONDERAÇÃO DE CARTEIRA ................................................................................................... 50
3.5 CASE DE USO DO MERCADO DE CAPITAIS EM EMPRESAS PEQUENAS ...................... 53
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 56
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 57

TÓPICO 3 – DINÂMICA DO INVESTIMENTO FINANCEIRO .................................................. 59


1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 59
2 ANÁLISE COMPARATIVA DE VALORES MOBILIÁRIOS ....................................................... 60
3 FATORES DA ANÁLISE DE INVESTIMENTOS .......................................................................... 61
3.1 LIQUIDEZ ......................................................................................................................................... 61
3.2 NÍVEIS DE RISCO ........................................................................................................................... 62
3.2.1 Risco de mercado .................................................................................................................... 62
3.2.2 Risco de pagamento – crédito ............................................................................................... 64

VII
3.2.3 Risco de liquidez ..................................................................................................................... 65
4 BENCHMARK E NECESSIDADES DE INVESTIMENTO ........................................................... 67
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 72
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 75
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 76

UNIDADE 2 – ESTRUTURA E NORMATIVA FINANCEIRA ....................................................... 77

TÓPICO 1 – INTERMEDIAÇÃO FINANCEIRA .............................................................................. 79


1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 79
2 ECONOMIA E MERCADO FINANCEIRO ..................................................................................... 80
2.1 INTERMEDIAÇÃO FINANCEIRA E SEUS INTERMEDIÁRIOS ............................................ 82
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 85
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 86

TÓPICO 2 – SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL ....................................................................... 87


1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 87
2 SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL: CONCEITOS E FUNÇÕES ......................................... 87
2.1 ÓRGÃOS NORMATIVOS............................................................................................................... 91
2.2 ENTIDADES SUPERVISORAS ...................................................................................................... 93
2.3 OPERADORES FINANCEIROS .................................................................................................... 98
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................106
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................107

TÓPICO 3 – MERCADO DE VALORES MOBILIÁRIOS..............................................................109


1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................109
2 SISTEMÁTICA DO MERCADO DE VALORES MOBILIÁRIOS ............................................110
3 PARTICIPANTES DO MERCADO DE CAPITAIS ......................................................................116
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................125
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................126
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................127

UNIDADE 3 – MERCADO FINANCEIRO DE CAPITAIS............................................................129

TÓPICO 1 – PRODUTOS DE INVESTIMENTO FINANCEIRO .................................................131


1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................131
2 TIPOS DE INVESTIMENTO............................................................................................................132
2.1 CARACTERÍSTICAS BÁSICAS DOS PRODUTOS FINANCEIROS ......................................132
2.2 TIPOS DE RISCO ...........................................................................................................................134
2.2.1 Risco de Crédito ....................................................................................................................134
2.2.2 Risco de Liquidez ..................................................................................................................134
2.2.3 Risco de Mercado ..................................................................................................................135
2.3 PRODUTOS DE RENDA FIXA ....................................................................................................135
2.3.1 CDB – Certifcado de Depósito Bancário ..........................................................................135
2.3.2 LCI – Letras de Crédito Imobiliário ...................................................................................139
2.3.3 Letra de Crédito do Agronegócio .......................................................................................141
2.3.4 Debêntures .............................................................................................................................142
2.3.5 Títulos Públicos Federais .....................................................................................................149
3 PRODUTOS DE RENDA VARIÁVEL ............................................................................................156
3.1 AÇÕES .............................................................................................................................................156
3.2 MERCADO DE DERIVATIVOS ...................................................................................................160
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................163

VIII
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................165
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................168

TÓPICO 2 – PRECIFICAÇÃO DE ATIVOS......................................................................................171


1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................171
2 CAPM – CAPITAL ASSET PRICING MODEL ...............................................................................171
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................174
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................175

TÓPICO 3 – TRIBUTAÇÃO DE RENDIMENTOS .........................................................................177


1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................177
2 TRIBUTAÇÃO DE PRODUTOS DE INVESTIMENTO .............................................................177
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................183
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................184

REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................185

IX
UNIDADE 1

NOÇÕES ECONÔMICAS E
FINANCEIRAS PARA O MERCADO
DE CAPITAIS

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• saber interpretar os principais índices econômicos relacionados ao


mercado de valores;

• entender como as condições econômicas infuenciam o mercado de capitais;

• saber como aplicar os instrumentos de cálculo fnanceiro no mercado de


valores;

• discernir os referentes de mercado (benchmark) nas decisões que envolvem


o mercado de valores.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 - PRINCÍPIOS ECONÔMICOS

TÓPICO 2 - PRINCÍPIOS FINANCEIROS E DE INVESTIMENTO

TÓPICO 3 - DINÂMICA FINANCEIRA DE INVESTIMENTO FINANCEIRO

1
UNIDADE 1 TÓPICO 1

PRINCÍPIOS ECONÔMICOS

1 INTRODUÇÃO
Antes de começar, gostaria de lhe perguntar: o que é para você o mercado de
capitais? Em parte, o próprio nome consegue lhe responder. Mas se você aprofundar
mais um pouco, o mercado de capitais é onde compradores e vendedores negociam
seus títulos, tais como ações, certifcados de depósitos, títulos da dívida pública,
notas promissórias, cédulas hipotecárias etc. No mundo fnanceiro esses papéis
com valor fnanceiro são conhecidos como valores mobiliários, e estão sujeitos ao
rigoroso controle e regras da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

Essa breve defnição permite-nos desenvolver mais um pouco a pergunta.


O mercado de capitais permite aos agentes interessados (principalmente empresas
e governo) captar recursos dos investidores e distribuir esses recursos conforme
a dinâmica da própria economia, refetidos nos valores mobiliários que circulam
no mercado de capitais. Isso permite a transferência de recursos monetários entre
agentes investidores (com excedente de caixa/superavitários) para os agentes
que estão precisando de recursos monetários para diversos fns (defcitários).
Podemos dizer que há uma correlação entre a dinâmica do mercado de capitais,
tanto nacional como internacional, com o constante fornecimento de recursos
monetários para as diversas atividades econômicas, tais como da indústria, do
comércio, governo.

Observe que nessa defnição do mercado de capitais se fala várias vezes


da atividade econômica. Assim, para conseguir entender e atuar no mercado
de capitais, é necessário entender os princípios econômicos e fnanceiros que
dinamizam o mercado de capitais do país e do mundo. É precisamente por esse
motivo que em toda a Unidade 1 estudaremos sobre isso! Agora, vamos começar
nossos estudos falando sobre economia e fnanças e seu impacto na movimentação
fnanceira. Vamos lá?
UNIDADE 1 | NOÇÕES ECONÔMICAS E FINANCEIRAS PARA O MERCADO DE CAPITAIS

2 NOÇÕES DE ECONOMIA
Qual o foco da ciência econômica? Existem várias respostas para essa
pergunta, mas existe uma que é bem interessante de se observar, a economia
analisa a escassez relativa de recursos objetivando satisfazer as necessidades e
desejos da sociedade. Neste caso, quando falamos de recursos, estamos focando
nos recursos produtivos (matéria-prima, bens de capital, recurso humano etc.)
que são negociáveis no mercado dos fatores da produção para que as empresas
possam produzir e ofertar no mercado de bens e serviços e assim satisfazer
as diversas necessidades e desejos das pessoas que interagem em sociedade.
Segundo Samuelson e Nordhaus (2012, p. 3):

A essência da ciência econômica é compreender a realidade da


escassez e, então, conceber como organizar a sociedade de modo a
corresponder ao uso mais efciente dos recursos. É nisso que reside a
contribuição específca da ciência econômica.

Diante do exposto, “A essência da ciência econômica é compreender a realidade da


escassez [grifo nosso]”, assim, se um bem não é escasso, nós, como consumidores, não
percebemos sua real necessidade. Pense no ar que respiramos desde que nascemos
até o último dia aqui neste mundo, esse é um bem essencial à vida! Mas como não é
escasso, nós, como seres humanos, não nos conscientizamos de seu real valor para
nos manter vivos! Isto, em termos econômicos, quer dizer que desde o momento
em que um bem se torna escasso, ele se torna um bem com “valor econômico”.

Entretanto, como essa gestão da “escassez” pode ser executada na


atividade econômica de um país? Essa atividade é executada por meio dos três
grandes agentes econômicos (famílias/consumidores, produtores/empresas e o
governo), que negociam seus interesses no mercado. Por um lado, as empresas
procuram suas necessidades de produção adquirindo recurso produtivo no
mercado dos fatores de produção, e por outro lado, os consumidores procuram
satisfazer suas necessidades no mercado de bens e serviços.

Partindo desse conceito básico, a economia vai se focando e especializando


nas suas diversas formas, partindo da economia positiva e normativa, até as duas
grandes divisões da análise econômica: Microeconomia e Macroeconomia. Neste
tópico não vamos aprofundar sobre esses elementos da economia, isso pode nos
levar para o estudo de várias páginas! Mas vamos nos focar no essencial para
conseguir entender melhor seu vínculo com as atividades do mercado de capitais.

2.1 ECONOMIA POSITIVA E NORMATIVA


Ao estudar uma série de acontecimentos econômicos, a economia se
torna positiva e levanta uma série de questionamentos a serem respondidos por
meio de ferramentas de análise econômica. Logo, a economia positiva analisa
fatos para descrevê-los e assim conseguir responder aos questionamentos sobre o

4
TÓPICO 1 | PRINCÍPIOS ECONÔMICOS

assunto. Enquanto que a economia normativa, por sua parte, analisa as condições
econômicas do momento para levantar uma série de condicionamentos que
envolvem juízos de valor.

Declarações positivas são descritivas e referem-se a como o mundo


é. A declaração de Norma é normativa. Declarações normativas são
prescritivas e referem-se a como o mundo deveria ser. (MANKIW,
2013, p. 29)

Segundo o exposto pelo autor, a análise positiva analisa fatos, e a normativa


analisa o “como” as coisas deveriam ser, observe os seguintes exemplos:

• Por que o serviço de Uber possui melhores tarifas que o serviço de táxi?
• Será que para garantir um mínimo de redução da desigualdade é conveniente
aumentar o universo de pessoas sujeitas ao recebimento da Bolsa Família?
• O Brasil deveria negociar com a China para reduzir as tarifas sobre as
importações?
• O acordo assinado durante a greve dos caminheiros (21 de maio de 2018) de
fato aumentou a renda destes?
• Uma taxa básica de juros (Selic) mais baixa aquece o consumo?
• Será que para diminuir a pressão no aumento nos preços (infação) dever-se-ia
aumentar os juros básicos da economia?

Destes questionamentos, os que abordam uma análise positiva da


economia são o primeiro, o quarto e o quinto, e como economia normativa temos
o segundo, o terceiro e o sexto. Conseguiu visualizar a diferença? A economia
positiva analisa fatos que servem, entre outras coisas, como base para levantar uma
série de hipóteses que serão de alimento para desenvolver políticas econômicas,
assim, as duas (positiva e normativa) estão intimamente interligadas, observe:

[...] uma visão positiva do mundo afeta a visão normativa sobre quais
políticas são necessárias. A afrmação de Polly de que o salário mínimo
provoca desemprego, se verdadeira, pode levá-la a rejeitar a conclusão
de Norma de que o governo deveria aumentar o salário mínimo. Além
disso, as conclusões normativas não resultam apenas da análise positiva,
pois também envolvem juízos de valor. (MANKIW, 2013, p. 30)

Essa diferenciação é muito importante levar em consideração, e não só


para questões econômicas, mas também para situações complexas no mercado de
capitais, nas fnanças das empresas e em outras situações. No contexto do mercado
de capitais, será que com a diminuição da taxa de juros básica (Selic) consegue-se
aquecer o mercado de ações na Bolsa de São Paulo? Se diminuir a atratividade
dos títulos da dívida pública (com menores juros, esses papéis se tornam menos
rentáveis), consequentemente os investidores irão procurar melhor rentabilidade
no mercado de ações. Eis aqui um exemplo de como a análise positiva e normativa
pode ser aplicada ao mercado de capitais!

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UNIDADE 1 | NOÇÕES ECONÔMICAS E FINANCEIRAS PARA O MERCADO DE CAPITAIS

2.2 MICROECONOMIA E MACROECONOMIA


No contexto do mercado de capitais é útil entender como a Macroeconomia
se torna uma ferramenta de análise efetiva para delinear políticas monetárias.
No contexto macroeconômico, a política econômica utiliza os dados vindos dos
grandes agregados macroeconômicos visando dinamizar a atividade econômica
foco da microeconomia. Isto quer dizer que por meio da análise dos agregados
macroeconômicos consegue-se dinamizar a atividade econômica dos agentes
econômicos atuantes no mercado.

Observe que a Microeconomia e a Macroeconomia estão interligadas. Em


termos analógicos, a Macroeconomia observa os agregados da dinâmica econômica
(como se fosse o ecossistema de uma grande foresta). E a Microeconomia é a
análise do comportamento individual dos agentes econômicos quando se
observa as suas particularidades, isto é, o comportamento do consumidor, o
comportamento da empresa e a articulação do governo na atividade econômica.
Observe que sem a atividade individual dos agentes econômicos analisados na
Microeconomia, simplesmente não haveria Macroeconomia.

A macroeconomia é o estudo do comportamento da economia como


um todo. Examina as forças que afetam empresas, consumidores e
trabalhadores no seu conjunto. A macroeconomia contrasta com a
microeconomia, que estuda os preços, as quantidades e os mercados
individualmente. (SAMUELSON; NORDHAUS, 2012, p. 326)

Sem uma inter-relação efciente entre atividade microeconômica e


do grande “ecossistema” macroeconômico, a dinâmica econômica perde
estrutura e estaria sujeita ao impacto de diversos choques que poderiam levar
até à desintegração da sociedade. Veja a seguir como a microeconomia e a
macroeconomia encontram-se inter-relacionadas.

Uma maneira fácil de enxergar essa inter-relação é por meio do fluxo


monetário da economia. Nesta interpretação simples do fuxo circular de uma
economia apresenta-se uma visão esquemática dos agentes econômicos, na qual
as decisões são tomadas pelas:

• Famílias, donas dos recursos produtivos necessários à produção, e como


consumidoras, as famílias demandam os bens/serviços produzidos e ofertados
pelas empresas.
• Empresas, donas dos meios de produção que compram os recursos produtivos
para serem processados e transformados em bens/serviços procurados pelas
famílias (consumidores).

Esses agentes interagem nos mercados de bens/serviços, nos quais


as famílias procuram satisfazer suas necessidades e desejos comprando as
mercadorias e serviços ofertados pelas empresas. A segunda interação destes
agentes acontece no mercado de fatores de produção, no qual as famílias (como
donas dos recursos produtivos) ofertam esses recursos às empresas.

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TÓPICO 1 | PRINCÍPIOS ECONÔMICOS

FIGURA 1 – FLUXO MONETÁRIO DA ECONOMIA

MERCADOS
Receita DE BENS E Gastos
SERVIÇOS

Bens e • Empresas vendem Bens e


serviços • Famílias compram serviços
vendidos comprados

EMPRESAS FAMÍLIAS
• Produzem e vendem • Compram e consomem
bens e serviços bens e serviços
• Contratam e usam • Possuem e vendem
fatores de produção fatores de produção

Trabalho,
Fatores de MERCADOS terra e
produção DE FATORES capital
DE PRODUÇÃO
• Famílias vendem
Salários, Renda
• Empresas compram
aluguéis = Fluxo de insumos
e lucro e produtos
= Fluxo de dólares
O conjunto externo de setas representa o fuxo de dinheiro e o conjunto
interno de setas refere-se ao fuxo correspondente de insumos e produtos.

FONTE: Mankiw (2013, p. 24)

Observe que nesse fuxo monetário os Recursos Produtivos são


fornecidos por meio de Remunerações, ou incentivos monetários. Recursos que
logo são processados e transformados pelas Empresas em bens e serviços a serem
ofertados às famílias. A seguir podemos visualizar a dinâmica do mercado dos
fatores de produção:

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UNIDADE 1 | NOÇÕES ECONÔMICAS E FINANCEIRAS PARA O MERCADO DE CAPITAIS

FIGURA 2 - RECURSOS EM TROCA DE REMUNERAÇÕES/INCENTIVOS MONETÁRIOS


Mercado dos fatores da produção
Ofertados pelos donos dos
Adquiridos pelas empresas Moeda Local – R$
recursos em troca de R$
Recursos Naturais → Moeda → Aluguel
Recurso Humano → Moeda → Salário
Recursos de Capital → Moeda → Lucro e Juros
Recurso Tecnológico → Moeda → Royalties / Regalias
Recurso Empresarial → Moeda → Lucro

FONTE: O autor

É dessa maneira que o ciclo do fuxo monetário vai se fechando


continuamente, pois os donos dos recursos irão receber recurso monetário
que será a fonte de renda para as famílias conseguirem consumir o que as
empresas ofertarem. Observe que a análise deste fuxo monetário faz parte da
microeconomia, pois ela estuda o comportamento dos interesses econômicos tanto
dos consumidores como dos produtores em função da dinâmica dos mercados.

No entanto, será que esse fuxo é harmônico, sem apresentar grandes


oscilações? Na vida real, a economia possui ciclos de crescimento/aquecimento e
de decrescimento/crises econômicas, em função das oscilações no comportamento
dos agentes econômicos. Grande parte dessas oscilações acontece pelos seguintes
motivos ou vazamentos:

• Mudanças no nível de poupança das famílias - quando as famílias desejam


economizar mais do que o normal haverá uma redução no fuxo monetário, logo,
uma tendência em reduzir as compras às empresas. Resultado? As empresas
começam a ter maiores estoques de produto e logo começam a reduzir sua
produção, que por sua vez reduz a demanda de recursos produtivos, reduzindo
assim a renda das famílias. Deste modo, o fuxo monetário começa a se reduzir.
• Mudanças nos tributos cobrados pelo governo - se o governo arrecadar mais
do que o fuxo a que está habituado, haverá uma redução da renda das famílias
a assim apresenta-se uma redução no fuxo monetário.
• Mudanças no saldo líquido da balança comercial - se há um aumento nas
importações e as exportações se mantêm iguais, logo, haverá uma diminuição
da renda disponível na economia, pois parte da renda das famílias vai para o
exterior por meio da compra de produtos importados. Isso acontece porque
essa renda paga pelos produtos importados benefcia as empresas lá de fora,
no exterior, e não as empresas nacionais, logo, é um fuxo negativo.

Assim, nesses ciclos de crescimento e crises econômicas, os vazamentos do


fuxo possuem um papel importantíssimo, e é aí que a análise macroeconômica
começa a interagir com a microeconomia. Nesses casos, por meio da análise dos
agregados econômicos (macroeconomia), o governo desenvolve suas políticas
econômicas, podendo interferir no fuxo monetário para que esses vazamentos
parem de acontecer, infuenciando, entre outras coisas, o mercado de capitais, assim:
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TÓPICO 1 | PRINCÍPIOS ECONÔMICOS

• Vazamento da poupança - o sistema fnanceiro começa a aumentar o nível


de empréstimos às famílias e às empresas para incentivar o consumo e assim
compensar o vazamento.
• Vazamento dos impostos - o governo pode aumentar seu gasto por meio de
investimentos em infraestrutura, novas escolas etc. Assim, essa redução na
renda das famílias em função ao aumento dos impostos será compensada pelo
aumento do gasto público.
• Vazamento do saldo líquido da Balança Comercial - por meio de incentivos
e políticas de comércio exterior, o governo pode incentivar o aumento das
exportações, compensando assim esse vazamento de renda ao exterior.

Talvez você esteja se perguntando: interessante rever estes conceitos


econômicos, mas qual é sua ligação com o mercado de capitais? Observe que o fuxo
monetário depende de moeda para conseguir se manter tanto nos mercados de bens/
serviços como no mercado dos fatores de produção. A efciente dinâmica dessa
“moeda”, em grande parte, dependerá do mercado de capitais, logo, para entender
melhor a estrutura do mercado de capitais, objeto deste livro de estudos, é importante
levar em consideração os conceitos econômicos básicos aqui apresentados.

É precisamente nesse foco que as políticas econômicas ajudam a que


essa inter-relação seja o mais efciente possível dentro do quadro econômico do
momento. Vejamos alguns exemplos de quais podem ser os questionamentos
macroeconômicos envolvidos na análise do mercado de capitais:

Está ocorrendo um período de exuberância fnanceira, com os preços


das ações subindo rapidamente? Ou o Banco Central está utilizando
a política monetária para combater os efeitos da queda dos preços da
habitação e de uma crise fnanceira? (SAMUELSON; NORDHAUS,
2012, p. 326).

Esses questionamentos difcilmente poderiam ser levantados sem antes


se ter uma prévia de indicadores dos agregados macroeconômicos, por isso eles
serão estudados logo a seguir, levando em consideração o mercado de valores.

3 INDICADORES MACROECONÔMICOS RELEVANTES AO


MERCADO DE CAPITAIS
Existe uma série de indicadores macroeconômicos que infuenciam
diretamente no mercado de capitais e outros indicadores de maneira indireta.
Entre os mais relevantes, tem-se: o Produto Interno Bruto (PIB), índices de infação
(principalmente IPCA e IGP-M), taxa básica de juros (Selic), taxa de câmbio, taxa
de Certifcado de Depósito Interbancário (CDI) e a taxa referencial (TR).

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UNIDADE 1 | NOÇÕES ECONÔMICAS E FINANCEIRAS PARA O MERCADO DE CAPITAIS

3.1 PRODUTO INTERNO BRUTO (PIB)


Para medir o nível econômico de uma região, um dos melhores
indicadores é o PIB, mas qual o signifcado de PIB? Em resumo, ele é a soma das
riquezas geradas durante um período por região, pode ser a nível de um estado
da federação brasileira, do Brasil, ou até de uma grande região, tal como da
União Europeia. No caso do Brasil, o PIB é medido trimestralmente pelo Instituto
Brasileiro de Geografa e Estatística (IBGE).

DICAS

Já visitou o site do IBGE? Ele possui interessantes dados econômicos, industriais,


geográfcos, entre outros, que poderão auuda-lo em diversas situações, tanto acadêmicas
como profssionais. Acesse: <https://www.ibge.gov.br/index.php>.

O PIB pode ser medido desde várias perspectivas, pelo nível da renda do
país, pelos fatores da produção ou pelas despesas geradas. Desde o ponto de vista
da produção, o PIB é medido pela coleta dos setores da agropecuária, indústria
e pela geração de serviços. Segundo fontes do Banco Mundial, no ano de 2017 a
geração do PIB por setores produtivos foi: Agropecuária, 10,3%; Indústria, 20,8%
e Serviços, 68,8%, conforme podemos observar a seguir:

QUADRO 1 – PIB BRASIL 2017 POR SETORES


Geração de PIB por setores produtivos Agropecuária Indústria Serviços
Setor 10,3% 20,8% 68,8%
Crescimento por setor -6,6% -3,8% -2,6%

FONTE: <https://data.worldbank.org/country/brazil>. Acesso em: 05 ago. 2018.

Podemos observar que a geração do PIB do Brasil é majoritariamente


gerada pelo setor de serviços, eis a importância dentro do contexto das fontes de
recursos monetários para este setor. Mas será que a medição do PIB é diferente
se ele é medido desde a perspectiva da geração da renda ou do consumo, e não
desde a perspectiva da produção? O valor da medição feita dessa conta (PIB) será
exatamente igual sob qualquer dessas perspectivas, observe a fgura a seguir, nela
é mostrada a geração de fuxo monetário (semelhante à estudada anteriormente),
mas com a diferença de que nela se leva em consideração as diferentes perspectivas
de geração do PIB.

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TÓPICO 1 | PRINCÍPIOS ECONÔMICOS

FIGURA 3 – FLUXO MONETÁRIO E A MEDIÇÃO DO PIB

Receita Despesas
(=PIB) MERCADOS (=PIB)
DE BENS E
Bens e SERVIÇOS Bens e
serviços serviços
vendidos comprados

EMPRESAS FAMÍLIAS

Trabalho,
Fatores de terra e
produção capital
MERCADOS
DE FATORES
Salários, DE PRODUÇÃO Renda (=PIB)
aluguéis = Fluxo de insumos
e lucro (=PIB) e produtos
= Fluxo de moedas
O PIB é igual ao total das despesas das famílias no mercado de bens e
serviços. E é igual também ao total de salários, aluguéis e lucros pagos
pelas empresas no mercado de fatores de produção.

FONTE: Mankiw (2013, p. 467)

Então, a medição do PIB sob qualquer das perspectivas mostradas na


fgura será igual, logo, são diversas maneiras de analisar os agregados econômicos
em função dos objetivos da gestão da política econômica do momento.

3.2 ÍNDICES DE INFLAÇÃO


Seguramente você já deve ter reparado que uma nota de R$ 100,00 de
hoje não consegue comprar a mesma quantidade de produtos no supermercado
do que uma nota desse mesmo valor há 10 anos. Com certeza, nesse período
você poderia adquirir mais produtos, mas quanto mais? Daqui a pouco vamos
conferir isso, por meio dos dados estatísticos do IBGE, mas antes disso vamos
rever alguns conceitos do que é mesmo a infação.

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UNIDADE 1 | NOÇÕES ECONÔMICAS E FINANCEIRAS PARA O MERCADO DE CAPITAIS

A infação é basicamente a perda de poder aquisitivo de uma moeda


considerando o fator tempo, no Brasil essa moeda é o R$. Em outras palavras, a
infação é a elevação dos preços na atividade econômica, segundo Samuelson e
Nordhaus (2012, p. 538):

A infação ocorre quando o nível geral de preços está aumentando.


Atualmente, calculamos a infação recorrendo a índices de preços –
médias ponderadas dos preços de milhares de produtos individuais. O
índice de preços ao consumidor (IPC) quantifca o custo de uma cesta
de bens e serviços de mercado em relação ao custo desse conjunto em
determinado ano-base.

E aqui no Brasil, quem faz monitoramento do Índice de Preços ao


Consumidor (IPC)? Existem várias instituições que fazem esse monitoramento,
esses índices de infação: “[...] são calculados pelo Instituto Brasileiro de Geografa
(IBGE), pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE) e pela Fundação
Getúlio Vargas (FGV)” (BRUNI, 2009, p. 77). Em termos nacionais, o índice
aplicado é o Índice de Preços ao Consumidor Amplo, o IPCA, este índice:

[...] consiste em um indicador com abrangência nacional, divulgado


pelo IBGE, utilizado pelo Banco Central como parâmetro para
verifcação dos objetivos do Regime de Metas de Infação desde 1999.
A desagregação ofcial é a seguinte: alimentação e bebidas (peso de
22,7%), habitação (peso de 16,4%), artigos de residência (peso de
5,7%), vestuário (peso de 5,4%), transportes (peso de 21,4%), saúde e
cuidados pessoais (10,6%), despesas pessoais (9,4%), educação (4,8%)
e comunicação (3,6%) (BRUNI, 2009, p. 78).

O índice de infação feito pela FGV é conhecido como Índice de Preços do


Mercado (IGP-M) e embora seja também uma ponderação, esta é feita por meio
da medição de preços dos grandes setores da atividade econômica, se registrando
a infação desde matérias-primas, atividade agrícola e industrial até chegar ao
índice de preços de consumo fnal. Neste caso do IGP-M é feita uma média
ponderada da junção de três grandes índices de abrangência nacional: “Índice
de Preços ao Produtor Amplo (IPA-M) – 60%; Índice de Preços ao Consumidor
(IPC-M) – 30%; Índice Nacional de Custo da Construção (INCC-M) – 10%”
(Índices e Indicadores, 2018).

3.2.1 Caso prático do impacto da infação


Como foi observado, a infação é o índice que mede a perda de poder
de compra da atividade econômica de uma região, no caso do Brasil a infação
pode ser observada por meio dos índices IPCA, o IGP-M, entre os principais.
Entretanto, como essa perda de valor pode ser visualizada? Suponha que você
tem nas suas mãos uma nota de R$ 100,00, qual era o poder de compra desta nota
há 10 anos? Bem menos, correto? Mas de quanto seria essa perda?

12
TÓPICO 1 | PRINCÍPIOS ECONÔMICOS

Suponha que você vai ao supermercado e com essa nota de R$ 100


consegue comprar um quilo de queijo, R$ 30,00; um quilo de arroz, R$ 3,00; 500
gramas de feijão vermelho, R$ 7,50; diversas verduras e legumes, R$ 20,00; ovos e
mais outras proteínas, R$ 30,00; produtos de limpeza, R$ 9,50. O total disso seria
R$ 100,00, mas quantas coisas se poderia comprar com essa mesma nota de R$
100 há 10 anos? Levando em consideração a infação, com certeza alguma coisa a
mais, e para determinar um referencial de poder de compra dessa nota de R$ 100,
temos que considerar a infação dos últimos 10 anos e calcular o valor de compra.
Para isso, vamos ter que olhar o índice histórico da infação dos últimos anos,
conforme o quadro a seguir:

QUADRO 2 – PERDA DO PODER DE COMPRA DO REAL


Valor do Poder de Compra
Anos Valor Perda de Taxa de
2008 R$ 179,55 poder Infaação ano*

2009 169,64 9,91 5,84%


2010 162,20 7,44 4,59%
2011 153,03 9,17 5,99%
2012 144,07 8,96 6,22%
2013 135,72 8,35 6,15%
2014 128,54 7,19 5,59%
2015 119,97 8,57 7,14%
2016 108,37 11,61 10,71%
2017 102,86 5,50 5,35%
2018 100,00 2,86 2,86%

FONTE: Adaptado de IBGE (2018)

ATENCAO

Lembra da fórmula de valor presente aplicada no quadro?


Valor Presente: VF x (1 +i)-n , onde: VF = Valor Futuro, i = taxa de juros e n = períodos.
A fórmula também poderá ser FV = PV x (1 +i)n, onde: FV= Valor futuro, PV= Valor presente.
No cálculo da perda de valor do dinheiro (inflação) mostrado no quadro, trocamos “VF” pelo
valor em um ano determinado e ‘i” pela taxa de inflação, exemplo:
Valor referencial ano 2009 → R$ 169,64 = 179,55 x (1 + 0,0584)-1
Valor referencial ano 2010 → R$ 169,64 = 179,55 x (1 + 0,0459)-1
Valor referencial ano 2011 → R$ 169,64 = 179,55 x (1 + 0,0599)-1
E assim sucessivamente até chegar ao ano 2018, ano no qual esse valor será de R$ 100,00.
Observe que na fórmula do cálculo da perda anual do valor aplica-se “n” = -1. Isso em
função de que o período a ser apurado é por cada ano, logo, “n” = - 1.

13
UNIDADE 1 | NOÇÕES ECONÔMICAS E FINANCEIRAS PARA O MERCADO DE CAPITAIS

Desse quadro podemos observar que esses R$ 100,00 há 10 anos podiam


ter comprado mais 80% de produtos lá no supermercado nesse ano! Em termos
econômico-fnanceiros, essa infação histórica pode ser interpretada da seguinte
maneira:

• Esses R$ 179,55 tiveram uma perda de poder de compra de 44,31% (44,31% =


R$ 100,00
35/63/85/65/65/6x
R$ 179,55 100), ou seja, R$ 100,00 = R$ 179,55 – 44,31%, seu cálculo seria assim:
R$ 179,55 – 0,4431 x R$ 179,55 = R$ 179,55 – R$ 74,17 = R$ 100,00.
• A infação média por ano desses últimos 10 anos foi de 6,0275% ao ano, vamos
conferir? 6,03% = 179,55 x (1 + 0,060275)-10 ou seja, infaação média de 6,035n ao
ano.

QUADRO 3 - PERDA DO PODER DE COMPRA DO REAL


Valor do Poder de Compra
Anos Valor Perda de Taxa de
2008 R$ 179,55 poder Infaação ano*

2009 169,64 10,21 6,03%


2010 159,72 9,63 6,03%
2011 150,64 9,08 6,03%
2012 142,07 8,56 6,03%
2013 134,00 8,08 6,03%
2014 126,38 7,62 6,03%
2015 119,19 7,18 6,03%
2016 112,42 6,78 6,03%
2017 106,03 6,39 6,03%
2018 100,00 6,03 6,035

FONTE: Adaptado de IBGE (2018)

Observe que em ambos os quadros o valor fnal desses R$ 179,55, há 10


anos, termina sendo em valores comparativos aos atuais, no ano 2018, de R$
100,00. A única diferença é que no primeiro quadro leva-se em consideração a
taxa histórica de cada ano até chegar a janeiro do ano 2018. E no segundo quadro,
leva-se em consideração a taxa média da infação durante esses 10 anos.

O mais importante deste pequeno estudo sobre a infação é que não é


possível analisar valores monetários entre diferentes períodos sem levar em
consideração o fator inflação.

14
TÓPICO 1 | PRINCÍPIOS ECONÔMICOS

Os R$ 100, 00 de hoje não são os mesmos que há 10 anos. Em termos


fgurativos, árvores de peras e maçãs sâo praticamente iguais, elas produzem
frutas semelhantes, mas não iguais. O mesmo acontece com o dinheiro, R$ 100,00
de hoje parecem iguais aos R$ 100,00 de há um ano, mas possuem um poder de
compra diferente. Assim, para conseguir equiparar e avaliar o poder de compra do
dinheiro em tempos diferentes, sempre é necessário ponderar a taxa de infação.

Então, para conseguir comparar valores monetários entre dois períodos,


é básico levar em consideração a infação. Uma vez feito isso, você poderá fazer
uma análise de valor entre esses períodos, suponha entre dois anos consecutivos.
Essa conscientização do valor real do dinheiro no tempo é fundamental para
fazer análises comparativas nos mercados de capitais.

3.3 PRODUTO INTERNO BRUTO NOMINAL (PIB NOMINAL)


VERSUS PIB REAL
Uma vez estudadas as noções básicas da infação, vamos entrar na questão
do PIB Nominal versus o Real, que envolve o fator infação. Será que se consegue
comparar o crescimento real do PIB do Brasil em função direta do valor dele
em real de um ano para outro? A resposta é não, pois conforme o que acabamos
de estudar sobre a infação, o PIB Real considera o PIB Nominal menos o fator
infação desse período.

TE
IMPORTAN

Para visualizar melhor isto, suponha a comparação do PIB dos anos 2015 e 2016.
Segundo IBGE, eis o resultado: o crescimento do PIB Nominal entre o ano 2015 e 2016 foi de
7%! Passando de R$ 5.9 trilhões para R$ 6,3 trilhões.
Acesse o link: <https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/2013-agencia-de-noticias/releases/9439-
pib-recua-3-6-em-2016-e-fecha-ano-em-r-6-3-trilhoes.html>.

Mas nesses anos o Brasil não estava em recessão? A resposta é sim, o


Brasil estava em recessão. Nessa época, de fato, o crescimento econômico real
foi negativo, ou seja, houve decrescimento do PIB. Assim, desse crescimento
monetário do PIB de 7% devemos descontar o fator da infação, que foi de 10,6%,
segundo o IBGE (2018). Considerando a infação, qual deveria ser o PIB Real
desse ano? O PIB Real será de -3,65 = 7,0% - 10.6%

15
UNIDADE 1 | NOÇÕES ECONÔMICAS E FINANCEIRAS PARA O MERCADO DE CAPITAIS

Observe que o crescimento do PIB em termos monetários cresceu 7%


entre esses dois anos, porém, a economia brasileira estava de fato decrescendo.
Nesse ano a infação foi de 10,6%. Logo, essa infação maior faz com que o poder
aquisitivo da moeda perca valor em função do tempo. Deste modo, quando
se comparar o PIB ao longo do tempo, sempre será feito conforme a dinâmica
do PIB Real e não do PIB em valores correntes (PIB Nominal). Sintetizando, na
linguagem econômica:

• O PIB do Brasil em valores correntes ou monetários é medido em R$, conhecido


como PIB Nominal, exemplo: o PIB Nominal do ano 2016 foi de R$ 6,3 trilhões.

• O PIB Real é referenciado em porcentagem, leva em consideração o fator da


infação, ou seja, é apurado por meio do crescimento do PIB Nominal (em %)
menos o fator da infação em %. Exemplo: o PIB Real do ano 2016 foi de -3,6%,
sinalizando um decrescimento da economia nessa proporção nesse ano.

Deste modo, em termos comparativos há o PIB Nominal, que informa o


crescimento em termos correntes, em moeda Real durante um período. E o PIB Real,
que informa a geração de riqueza real durante um período, se descontada a infação.

[...] os economistas usam uma medida denominada PIB real que


responde à seguinte pergunta hipotética: qual seria o valor dos bens e
serviços produzidos este ano se os avaliássemos com base nos preços
vigentes em algum outro ano específco no passado? Quando se avalia
a produção corrente a preços fxos em níveis passados, o PIB real
mostra como a produção geral de bens e serviços da economia muda
com o passar do tempo. (MANKIW, 2013, p. 473)

Por motivos do foco de nossos estudos, não vamos nos aprofundar mais
na comparação do PIB Nominal versus PIB Real, mas, para fnalizar, vamos fazer
a comparação real da economia brasileira durante os últimos anos, tanto do
crescimento PIB como do crescimento do PIB per capita.

16
TÓPICO 1 | PRINCÍPIOS ECONÔMICOS

GRÁFICO 1 – CRESCIMENTO DO PIB E PIB PER CAPITA, ANOS 2000 ATÉ 2016
GRÁFICO II.1 - PIB e PIB per capita
Taxa (%) de crescimento anual
10,0

8,0

6,0

4,0

2,0

0,0

-2,0

-4,0

-6,0
00 001 002 003 004 005 006 07 08 009 010 011 012 013 014 015 016
20 2 2 2 2 2 2 20 20 2 2 2 2 2 2 2 2
PIB PIB per capita
FONTE: <https://bit.ly/2PQ4rMx>. Acesso em: 23 out. 2018

Observe que no gráf co está exposto só PIB e não PIB Real. Em termos
econômicos, quando se expõe taxas de crescimento do PIB, f ca subentendido que
esse é o PIB Real. Assim, ao fazer comparações de crescimento do PIB durante um
período, neste caso, desde o ano 2000 até o ano 2016, não é necessário colocar no
gráf co “PIB Real”. Ao se observar crescimentos em termos de porcentagem (%),
automaticamente esse termo “PIB” refere-se ao “PIB Real”.

3.4 PIB REAL POR SETORES ECONÔMICOS


No mercado de capitais é importante saber quais são as perspectivas
de crescimento econômico, eis a relevância de conhecer os dados tanto do PIB
Nominal quanto do PIB Real. Mas, além disso, para o mercado de capitais também
é importante identif car a tendência de crescimento por setores econômicos e
inclusive por regiões dentro do mesmo país. Isso com o objetivo de determinar
quais setores poderiam trazer melhores rendimentos aos capitais investidos nos
setores de interesse.

Embora o ano 2016 produza um crescimento PIB negativo de -3.6%, ao f nal


desse mesmo ano a economia nacional já tinha sinais de uma leve melhora, se levar
em consideração que no ano 2015 o PIB cresceu -3,8%. Inclusive, no último semestre
do ano 2016, o PIB teve um decrescimento de -0,9%, conforme o quadro a seguir,
que mostra os dados do último trimestre do ano 2016 por setores econômicos:

17
UNIDADE 1 | NOÇÕES ECONÔMICAS E FINANCEIRAS PARA O MERCADO DE CAPITAIS

QUADRO 4 – CRESCIMENTO DO PIB POR SETORES ECONÔMICOS – ÚLTIMO


TRIMESTRE DO ANO 2016

INDICADORES
PERÍODO DE
COMPARAÇÃO CONS. CONS.
PIB AGROPEC INDUS SERV FBCF
FAM GOV

Trimestre / trimestre
imediatamente anterior (c/ -0,9 1,0 -0,7 -0,8 -1,6 -0,6 0,1
ajuste sazonal)

FONTE: <https://bit.ly/2Ao5xdh>. Acesso em: 23 out. 2018.

Segundo o site do IBGE (2018), o PIB caiu 0,9% no 4º trimestre de 2016


frente ao 3º trimestre, levando-se em consideração a série com ajuste sazonal. É o
oitavo resultado negativo consecutivo nesta base de comparação. A agropecuária
cresceu 1,0%, enquanto que a indústria (-0,7%) e os serviços (-0,8%) recuaram.

Neste quadro podemos observar que embora o PIB tenha caído -3,6% em
2016, no último trimestre desse ano a queda já não era tão acentuada, inclusive
mostra setores com sinais de uma leve recuperação, tais como a agropecuária e
consumo do governo (CONS.GOV). Os setores de serviço (SERV.), de investimentos
em bens de capital - Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) - e consumo das
famílias (CONS.FAM) ainda estavam em fase de decrescimento. Esses dados são
importantes para marcar tendências de investimentos por setores econômicos, ao
fnal desse ano (2016), provavelmente, o mercado de capitais estava mais ativo no
setor da agropecuária que nos demais setores.

E no primeiro trimestre do ano 2018, como foi o comportamento do PIB?


Segundo os dados a seguir, foram bem melhores que no fnal de 2016.

QUADRO 5 – CRESCIMENTO DO PIB POR SETORES ECONÔMICOS – PRIMEIRO


TRIMESTRE DO ANO 2018

INDICADORES
PERÍODO DE
COMPARAÇÃO CONS. CONS.
PIB AGROPEC INDUS SERV FBCF
FAM GOV

Trimestre / trimestre
imediatamente anterior (c/ 0,4% 1,4% 0,1% 0,1% 0,6% 0,5% -0,4%
ajuste sazonal)

FONTE: <https://bit.ly/2qfjAfr>. Acesso em: 23 out. 2018.

Dentre as atividades econômicas, o crescimento de 0,4% foi favorecido pela


expansão de 1,4% da Agropecuária. A Indústria e os Serviços tiveram variação
positiva de 0,1%. Na Indústria, houve expansão de 2,1% na atividade de Eletricidade
e gás, água, esgoto e limpeza urbana e de 0,6% na Extrativa mineral (IBGE, 2018).

18
TÓPICO 1 | PRINCÍPIOS ECONÔMICOS

Os dois quadros anteriores mostram duas épocas diferentes do


comportamento do PIB Real brasileiro. Isso em função das conjunturas do
momento poderem marcar a diferença na hora de considerar investimentos em
um dos setores econômicos. Assim, na gestão de mercado de capitais há um
constante monitoramento do desempenho do PIB. Tendências do desempenho
do PIB podem marcar mudanças em vários índices econômicos, entre eles a Taxa
de Câmbio e a Taxa Básica de Juros (Selic), conforme iremos estudar a seguir.

4 A TAXA DE CÂMBIO
A taxa de câmbio é o valor relativo da moeda nacional versus uma cesta de
outras moedas dos países com os quais o Brasil possui relações comerciais. Desde
fnais da década de 1990 até hoje, a tendência da taxa de câmbio está marcada
pela relação da moeda nacional, R$, versus as principais moedas do comércio
internacional, isto é, o dólar americano, US$, e o euro, €. Em menor peso também
há uma análise da taxa de câmbio do R$ com a libra esterlina, £, a moeda do
Japão, ¥, e a moeda da China, CNY. Até fnais do século XX, a libra esterlina era a
segunda moeda mais importante depois do US$.

A posição do câmbio mais usada aqui no Brasil é o R$ versus o US$, mas


como é feita essa posição comparativa entre essas duas moedas? Fácil, veja a seguir:

• No fechamento do câmbio da sexta-feira, 17/08/2018, segundo o site do BACEN


(2018), a taxa de câmbio do real versus o dólar norte-americano na posição de
compra estava marcando R$ 3,9389 por US$ 1,00. Isso quer dizer que nesse dia
eram necessários R$ 3,94 para adquirir um dólar americano.

Na posição cambial existem várias cotações de US$ conforme os diversos


agentes que atuam nesse mercado, mas a cotação ofcial é do Banco Central,
conhecida como PTAX, segundo Bruni (2009, p. 79):

No Brasil, a taxa PTAX pode ser considerada como a cotação ofcial do


dólar norte-americano em relação ao real, sendo defnida como a taxa
média ponderada do dólar norte-americano, praticada no mercado de
câmbio, tomando por base as operações no mercado interbancário ao
longo do dia.

ATENCAO

Há uma série de sites que mostram as posições das moedas internacionais, desde
a oficial do BACEN aqui no Brasil até de sites de confiança em nível internacional, seguem:
PTAX (BACEN): <https://www4.bcb.gov.br/pec/taxas/port/ptaxnpesq.asp?id=txcotacao>
World Currencies da CNN: <https://money.cnn.com/data/currencies/>
InfoMoney: <https://www.infomoney.com.br/mercados/cambio>

19
UNIDADE 1 | NOÇÕES ECONÔMICAS E FINANCEIRAS PARA O MERCADO DE CAPITAIS

No mercado do câmbio existe a posição valorizada ou desvalorizada em


função das forças do mercado. Segundo Mankiw (2013, p. 29):

Quando a taxa de câmbio muda de modo que um dólar compre mais


moeda estrangeira, essa mudança é chamada valorização do dólar. Se
a taxa de câmbio muda de modo que um dólar compre menos moeda
estrangeira, essa mudança é chamada desvalorização do dólar. Por
exemplo, quando a taxa de câmbio sobe de 80 para 90 ienes por dólar,
diz-se que o dólar se valorizou.

Conforme o exposto por Mankiw, as moedas podem sofrer valorizações ou


desvalorizações em função de outras moedas, conforme a dinâmica da demanda
e oferta no mercado de câmbio. Nesse sentido, se o país começar a exportar ou
importar mais, o que irá acontecer? Veja a seguir:

• Posição valorizada da moeda local, o R$, isso pode acontecer quando houver
maior demanda de reais versus dólares. Exemplo, há um aumento no volume
das exportações, logo, quando os exportadores trouxerem essas vendas ao país
deverão liquidar os US$ fruto dessas vendas, devendo comprar moeda local
(R$). Assim, essa dinâmica de aumento das exportações pode colocar pressão
na taxa de câmbio para valorização da moeda local, o real, ou visto desde
outra perspectiva, haverá uma pressão de desvalorização do US$ versus o R$.

• Posição desvalorizada da moeda local, o real isso pode acontecer quando


houver maior demanda de dólares versus o real. Exemplo, há um aumento no
volume das importações, logo, quando os importadores tiverem que pagar as
contas de seus fornecedores lá no exterior, logo, procuram US$ no mercado de
câmbio para dar conta dessas obrigações. Assim, essa dinâmica de aumento
das importações pode colocar pressão na taxa de câmbio para desvalorização
da moeda local, o R$, ou visto desde outra perspectiva, haverá uma pressão de
valorização do US$ versus o R$.

Esse foi um exemplo simples das pressões que podem surgir no mercado
de câmbio do R$ versus o US$, mas no mercado de câmbio atuam outros fatores
além da Balança Comercial (exportações menos importações), há também a
entrada e saída de capitais, pagamento de juros ao exterior, cobrança de lucros
das empresas brasileiras no exterior, etc. Nesse sentido, quando há um aumento
na entrada de US$ no país, haverá também pressão para uma valorização da
moeda local, o R$. Isso acontece porque todos esses US$ entrando no país devem
ser vendidos para comprar R$. Logo, esses dólares vão fcando no Banco Central
do Brasil (BACEN), mas em troca de R$ circulando na economia, movimentação
que é medida por meio do Balanço de Pagamentos.

20
TÓPICO 1 | PRINCÍPIOS ECONÔMICOS

4.1 INFLUÊNCIA DO BALANÇO DE PAGAMENTOS NA


POSIÇÃO CAMBIAL
O saldo em divisas (cesta de diversas moedas internacionais) que vai
fcando no BACEN vai se refetindo nas Reservas Internacionais do país. Assim, o
que gera pressões para uma valorização ou desvalorização da moeda local são as
oscilações do saldo líquido de todas as entradas e saídas de divisas ao país. Esse
saldo líquido é conhecido como saldo líquido do Balanço de Pagamentos. Mas o
que quer dizer Balanço de Pagamentos?

Em termos monetários, todas as atividades comerciais e fnanceiras que o


país faz continuamente fcam registradas na conta nacional conhecida como Balanço
de Pagamentos, e o resultado de todas essas movimentações é o saldo líquido do
Balanço de Pagamentos, que alimenta as Reservas Internacionais quando esse
saldo líquido for positivo, porém quando for negativo, vai reduzir as Reservas
Internacionais. Nesse sentido, essas Reservas Internacionais têm uma função
importantíssima de garantir as transações internacionais. Logo, quanto melhor for
o posicionamento das Reservas Internacionais, maior estabilidade traz à taxa de
câmbio. Eis a importância da gestão das entradas e saída de divisas ao país. E entre
os fatores mais importantes das oscilações do saldo líquido de divisas, são tanto a
Balança Comercial como a movimentação de capitais entrando e saindo do país.

Além do fato de manter uma boa posição das reservas internacionais está
a questão das perspectivas dessas do saldo líquido do Balanço de Pagamento.
Assim, quando há a presença de uma crise econômica prolongada, isso se refete
como um risco à dinâmica das reservas internacionais, logo, pressões para uma
desvalorização da moeda local, o R$. Fato que aconteceu nos anos 2014 e 2015,
nessa época o real passou praticamente de R$ 2,00 para R$ 4,00 para comprar 1,00
US$, veja a seguir a disparada do US$ nessa época:

GRÁFICO 2 – DISPARADA DO DÓLAR EM 2015

FONTE: <https://glo.bo/1mqrVZl>. Acesso em: 24 out. 2018.

21
UNIDADE 1 | NOÇÕES ECONÔMICAS E FINANCEIRAS PARA O MERCADO DE CAPITAIS

Essa disparada do US$ no ano 2015 é um refexo das perspectivas dos


mercados de alto risco da economia brasileira, logo, se apresentou uma disparada
na procura de US$, fazendo com que a posição cambial mudasse para quase R$
4,00 por 1,00 US$ ao fnal do ano 2015. Isso apresentou uma tendência de produzir
a possibilidade de obter um saldo líquido negativo do Balanço de Pagamentos.
Lembre-se de que o Balanço de Pagamentos, na maioria dos países, é referenciado
em US$ e “[...] é um demonstrativo sistemático de todas as transações econômicas
entre o país e o restante do mundo. Seus componentes principais são a conta
corrente e a conta fnanceira”. (SAMUELSON; NORDHAUS, 2012, p. 538).

Então, qualquer mudança que acontecer, ou que “tem perspectivas de


acontecer”, na Balança de Pagamentos se refete na taxa de câmbio. Assim, a
correta gestão do saldo líquido desta conta nacional é fundamental à estabilidade
da taxa de câmbio. Veja a seguir as contas de entrada e saída de divisas que podem
infuenciar o Balanço de Pagamentos:

QUADRO 6 – ENTRADA E SAÍDA DE DIVISAS


(+/-) Saldo Líquido das Valor líquido da Balança Comercial + Valor Líquido da Balança
Transaações Correntes de Serviços + Valor das Transferências Unilaterais Correntes.
(+/-) Saldo em Conta de (+) Estrangeiros Investindo (-) Brasileiros Investindo no
Capital e Financeira no país Exterior.
(+/-) Investimentos Diretos (-) Amortizações desses
(+/-) Empréstimos (+) Novos Empréstimos
Empréstimos
(+/-) Capitais de Curto Prazo (+) Entrada destes (-) Saída destes
(+/-) Saldo do Balanaço de
Saldo que vai alimentando às Reservas Internacionais
Pagamentos

FONTE: O autor

Observe que o resultado do saldo do Balanço de Pagamentos gera aumento


ou redução das Reservas Internacionais, o que por sua vez se refete na posição
cambial, assim:

• Se há saldo positivo no Balanço de Pagamentos, haverá melhora nas Reservas


Internacionais, logo, pressão para uma valorização da moeda nacional.
• Se há saldo negativo no Balanço de Pagamentos, haverá redução das Reservas
Internacionais, logo, pressão para uma desvalorização da moeda nacional.

O resultado fnal do balanço internacional de pagamentos revela a


posição do país em suas transações externas como um todo. As situações
de défcit indicam saídas de reservas cambiais superiores às entradas,
implicando geralmente queda das reservas cambiais; superávits,
contrariamente, indicam ingressos líquidos de recursos, com o aumento
dos estoques de ativos externos do país. (ROSSETTI, 2003, p. 888)

22
TÓPICO 1 | PRINCÍPIOS ECONÔMICOS

No contexto das moedas emergentes, o Brasil possui reservas internacionais


muito sólidas, equivalentes a mais de 14 meses de importações. Segundo o Banco
Central do Brasil, as reservas internacionais para o mês de julho de 2018 somaram
US$ 379,44 bilhões. Esse é um dos motivos do porquê, durante os meses de junho,
julho e agosto de 2018, perante a forte crise de câmbio e fortalecimento do dólar
na maioria de países ao redor do mundo, o real teve uma menor desvalorização,
se se comparar com outras economias emergentes, tais como a disparada do dolar
na Argentina, na Turquia e outros países.

Essa condição econômica de fortes reservas internacionais ajuda a reduzir


uma maior desvalorização da que já se vem experimentando no ano 2018, se se
levar em consideração a conjuntura de risco político lá fora, e aqui no Brasil perante
as eleições presidenciais do mês de outubro de 2018, e do crescente aumento do
gasto público. Em resumo, o Brasil, ao ter ótimas reservas internacionais (refexo
da gestão do Balanço de Pagamentos), é um fator determinante de redução de
risco da dinâmica econômica do país, ajudando para ter uma melhor posição
cambial relativa em função das condições econômicas e políticas internacionais.
Segundo Máximo (2018, s. p.),“Exportação e reserva internacional mantêm risco
país em níveis baixos”.

4.2 POLÍTICA CAMBIAL


As reservas internacionais servem como ferramenta para aplicações
da política cambial dos países. E em função da dinâmica própria da economia
nacional, o país pode decidir como interagir com o resto do mundo. Essa
política cambial é executada pelo governo, e segundo a conjuntura econômica e
competitividade nacional, o governo toma a decisão da maneira mais adequada
para que sua moeda possa se relacionar no mercado de câmbio.

Essa defnição de como o país vai se relacionar no mercado de câmbio


é feita por meio de três grandes modelos: a Taxa Cambial Flutuante, a Taxa
Cambial Fixa e a Taxa de Flutuação suja.

Por meio da Taxa Cambial Flutuante o país deixa o valor da moeda


futuar conforme as próprias forças do mercado cambial atuantes. Mas quais
são essas forças atuantes no mercado de câmbio? Essas forças são determinadas
principalmente por dois grandes fatores:

• Pelo saldo líquido do Balanço de Pagamentos e o posicionamento das reservas


internacionais, isto é, o saldo líquido de tudo o que entra no país menos o que
está saindo, conforme estudamos anteriormente.
• Pelas expectativas econômicas da própria dinâmica desse saldo líquido do
Balanço de Pagamentos. Essas expectativas possuem fatores tanto internos da
própria economia e política nacional, como de fatores externos do resto do mundo.

23
UNIDADE 1 | NOÇÕES ECONÔMICAS E FINANCEIRAS PARA O MERCADO DE CAPITAIS

A política cambial futuante traz algumas vantagens, mas também traz


desvantagens, aí cabe ao governo ponderar e determinar se vale a pena executar
este tipo de política. As vantagens é que a própria posição cambial da moeda
vai determinando gradativamente como essas forças expostas acima vão se
encaixando no valor relativo da taxa de câmbio. Sendo as forças do mercado um
fator diário, a taxa de câmbio sofre mudanças gradativas, pequenos impactos.
Mas qual poderia ser uma desvantagem?

A desvantagem é que ao deixar o câmbio exposto 100% às forças do


mercado, consequentemente, a moeda nacional fca muito exposta aos grandes
choques e/ou mudanças drásticas das próprias forças do mercado, principalmente
da entrada e saída de capitais estrangeiros. Pelo fato de ser uma taxa futuante, há
um fator de alto risco, que pode prejudicar as exportações, quando houver uma
valorização muito drástica do R$; como também pode prejudicar as importações
e/ou o controle da infação quando houver uma desvalorização drástica.

DICAS

Qual o signifcado de mercado de câmbio paralelo? É o mercado de câmbio


informal, sem a intervenção das instituições fnanceiras autorizadas pelo Banco Central.
Geralmente, há mercado paralelo quando a taxa de câmbio ofcial está fxada num patamar
artifcialmente elevado. Ficou curioso? Acesse o artigo sobre o mercado paralelo na Argentina,
país que há vários anos vem aplicando uma política de taxa fxa de câmbio: <http://exame.abril.
com.br/mercados/noticias/dolar-paralelo-retoma-alta-apesar-nova-medida-da-argentina>

ATENCAO

Qual o signifcado de divisas? É a disponibilidade de moedas estrangeiras que


possui um país.

Entretanto, a política de taxa cambial fxa permite ao país segurar


choques muito drásticos vindos das forças do mercado de câmbio. Em função
disso, muitos países fcam tentados em determinar taxas de câmbio fxas, mas
será que vale a pena segurar a taxa de câmbio mesmo quando o mercado dá sinais
de mudança? No curto prazo até poderia dar certo, mas no longo prazo é bem
possível que não, conforme você irá ler mais adiante.

24
TÓPICO 1 | PRINCÍPIOS ECONÔMICOS

A dinâmica da política de taxa cambial fxa opera da seguinte maneira: O


Banco Central defne o valor fxo da taxa de câmbio, como aconteceu na primeira
fase do Plano Real, lá em 1994. Nessa época, o governo fxou o valor da nova
moeda, o real, em R$ 1,00 = US 1,00. Essa fxação do câmbio ajudou, e muito, a
combater as pressões da hiperinfação da época. Mas será que o governo dessa
época segurou o câmbio nesse valor R$ 1,00 = US 1,00 por muito tempo? O governo
dessa época segurou o câmbio nesse patamar até cumprir sua meta de derrubar o
excesso de infação enraizada na economia brasileira. Mas logo após cumprir sua
meta, o câmbio voltou para seu patamar futuante.

Como norma de política econômica, uma taxa fxa é implantada por um


prazo determinado para cumprir fnalidades específcas. Observe que com ou
sem fxação de taxas cambiais, no longo prazo as forças do mercado tomam conta
das posições cambiais. Levando isso em consideração, o governo da época, com o
Plano Real, desenvolveu duas grandes fases da nova moeda:

• Primeira fase: 1994 até 1998, o real fcou fxo. O objetivo disso era combater a
alta infação estrutural de época. Ao executar a estratégia de taxa de câmbio
fxa, os produtos importados não iriam subir de preço, enquanto os nacionais
teriam que parar de indexar seus preços à infação. Resultado disto? Ser mais
uma ferramenta para baixar a alta infação da época.
• Segunda fase: Gradativamente a moeda nacional, o real, começou a futuar sob
as forças do mercado de câmbio. Apesar do Plano Real ter tido um tremendo
sucesso em diminuir a alta infação, gradativamente o real vinha fcando
exposto demais às forças do mercado, se sobrevalorizando e fcando em um
patamar artifcialmente elevado.

Com o real artifcialmente sobrevalorizado, formou-se uma situação de


excesso de importações. Nessa conjuntura, os agentes econômicos preferiam
comprar produto importado (artifcialmente barato) em detrimento da oferta da
produção nacional (artifcialmente cara). Como a produção nacional foi fcando
cara demais, as empresas começaram a vender e exportar menos. O resultado disso?
Houve uma queda drástica na produção nacional e demissões em massa, ou seja, a
taxa de câmbio fxa já começou a ser uma ameaça gravíssima à economia do Brasil.

Esse breve resumo histórico deixa claro que as taxas de câmbio fxas servem
por tempos determinados, tais como em épocas de pressões inflacionárias altas.
Assim, ter metas objetivas a serem cumpridas por um tempo determinado, com
uma taxa de câmbio fxa, é uma grande vantagem.

A desvantagem é que se esta situação for mantida por períodos mais longos
do que o necessário, pode elevar o risco de reduzir drasticamente as reservas
internacionais, prejudicando a produção nacional e a geração de emprego, entre
outras coisas.

25
UNIDADE 1 | NOÇÕES ECONÔMICAS E FINANCEIRAS PARA O MERCADO DE CAPITAIS

Como podemos observar, tanto a política de taxas de câmbio futuantes


como a de taxas de câmbio fxas apresentam vantagens e desvantagens. A
aplicação deste tipo de política depende em muito da análise conjuntural da
economia. Geralmente, os países tendem a ter uma política de câmbio futuante,
mas controlando as grandes oscilações do mercado de câmbio, e no Brasil não é
diferente, isso é conhecido como política cambial suja.

A política cambial suja consiste basicamente em deixar futuar a taxa de


câmbio entre duas grandes bandas. Essas duas grandes bandas possuem um teto
máximo, até o qual a moeda nacional pode se desvalorizar; e um piso mínimo, até o
qual a moeda nacional pode se valorizar. Fora dessa banda, o Banco Central poderá
intervir no mercado de câmbio, servindo como um amortizador, até deixar as forças
do mercado determinarem o percurso do câmbio, mas minimizando o impacto.

Isto quer dizer que o Banco Central do Brasil faz gestão para evitar grandes
oscilações no câmbio, ou pelo menos amenizá-las. O respaldo para fazer isto são
as reservas internacionais, executando intervenções no mercado, por meio de
compra e venda de divisas (moeda estrangeira). Mas como é a dinâmica disto?

Se executar a compra de US$, o Banco Central (Bacen) incentiva a demanda


de US$, assim, o Bacen concorre na demanda de dólares com os importadores, se
apresentando uma situação de pressão de “desvalorizar” a moeda nacional. Isto
é feito para combater pressões drásticas de valorização do real.

Se executar a venda de US$, o Bacen estará fazendo o efeito contrário do


exposto anteriormente. Ou seja, incentiva a demanda de real e o Bacen estará
concorrendo com os exportadores na venda de US$, e assim valorizando o real.
Isto é feito para combater pressões drásticas de desvalorização do real.

A taxa de câmbio em fnais do mês de julho de 2018 estava perto dos R$


3,90 por US$ 1,00. Será que o dólar norte-americano já estava antes nesse patamar?
A resposta é sim, conforme podemos observar no seguinte gráfco.

26
TÓPICO 1 | PRINCÍPIOS ECONÔMICOS

GRÁFICO 3 – OSCILAÇÃO DO REAL DESDE O ANO 2000 ATÉ 2014

4
3,75
3,5
3,25
3
2,75
2,5
1 (u.m.c./US$)

2,25
2
1,75
1,5
1,25
1
0,75
0,5
0,25
0
01/01/2000 01/01/2002 01/01/2004 01/01/2006 01/01/2008 01/01/2010 01/01/2012 01/01/2014
1 - Taxa de câmbio - Livre - Dólar americano (venda) - diário

FONTE: <https://bit.ly/2Pbb93w> Acesso: 19 ago. 2018.

GRÁFICO 4 - OSCILAÇÕES DO REAL DESDE 2014 A 2018


BRAZILIAN REAL
4,5

3,5

2,5

2
2014 2015 2016 2017 2018
SOURCE: TRANDING ECONOMICS.COM | OTC INTERBANK
FONTE: <https://www.mises.org.br/Article.aspx?id=2901> Acesso 04 de nov. de 2018

Como acabamos de estudar, existe uma série de variáveis econômicas que


inf uenciam na atividade do mercado de valores, tais como as oscilações da taxa
de câmbio, a inf ação do momento e a perspectiva desta mesma taxa. Mas existem
outras variáveis econômicas importantes para construir nosso entendimento
econômico no contexto do mercado de capitais, a serem estudadas logo no
seguinte tópico. Em especial estaremos nos focando na taxa básica da economia
brasileira, a Taxa Selic. Veja a seguir a inf uência da inf ação durante o primeiro
semestre do ano 2018 na atividade econômica.
27
UNIDADE 1 | NOÇÕES ECONÔMICAS E FINANCEIRAS PARA O MERCADO DE CAPITAIS

TE
IMPORTAN

Acompanhe o artigo "IGP-M tem alta de 0,51% em uulho e de 8,24% em 12 meses"


publicado na Valor Econômico, disponível em: <https://www.valor.com.br/brasil/5696267/
igp-m-tem-alta-de-051-em-uulho-e-de-824-em-12-meses> Acesso em: 24 out. 2018.

28
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• O mercado de capitais permite aos agentes interessados (principalmente


empresas e governo) captar recursos dos investidores e distribuir esses recursos
conforme a dinâmica da própria economia, refetidos nos valores mobiliários
que circulam no mercado de capitais.

• Para conseguir entender e atuar no mercado de capitais é necessário entender


os princípios econômicos e fnanceiros que dinamizam o mercado de capitais
do país e do mundo.

• A economia positiva analisa fatos que servem, entre outras coisas, como base
para levantar uma série de hipóteses que servirão para desenvolver políticas
econômicas.

• O governo, por meio de suas políticas econômicas, pode interferir no fuxo


monetário para que as oscilações nos vazamentos parem de acontecer,
infuenciando, entre outras coisas, o mercado de capitais.

• Existe uma série de indicadores macroeconômicos que infuenciam no mercado


de capitais, entre os mais relevantes tem-se: o Produto Interno Bruto (PIB),
índices de infação (principalmente IPCA e IGP-M), taxa básica de juros (Selic),
taxa de câmbio, taxa de Certifcado de Depósito Interbancário (CDI) e a taxa
referencial (TR).

• Banco Central do Brasil faz gestão para evitar grandes oscilações no câmbio,
ou pelo menos amenizá-las. O respaldo para fazer isto são as reservas
internacionais, executando intervenções no mercado, por meio de compra e
venda de divisas (moeda estrangeira).

29
AUTOATIVIDADE

1 Em termos econômicos o que permite, ou viabiliza, o Mercado de Capitais, e


como essa “viabilização” é representada em termos de valor?

2 Qual a diferença entre economia positiva e normativa?

3 Conforme as diferenças entre economia positiva e normativa, observe as


seguintes situações e defna se elas se encaixam no campo da economia
positiva ou normativa.

a) Por que o serviço de delivery consegue ofertar melhores preços de pizzas


que as pizzas ofertadas no restaurante?
b) Será que para aumentar o número de estudantes no Ensino Fundamental é
conveniente para iniciar um programa tipo bolsa de estudos para as famílias
mais pobres?
c) O Brasil deveria analisar a possibilidade de negociar acordos bilaterais com
o México, visando reduzir as tarifas das mercadorias comercializadas entre
esses dois países?
d) Uma taxa mais alta de juros consegue reduzir as pressões infacionárias?

4 Qual é a ligação do fuxo monetário da economia com o mercado de capitais?

5 Suponha que a infação histórica dos últimos anos é a apresentada no quadro


a seguir, qual será o equivalente de poder de compra de R$ 1.661,36 do ano
2008? Para responder, favor preencher o quadro.
Valor do Poder de Compra
Anos Valor Perda de Taxa de
2008 R$ 1.661,36 poder Infaação ano*

2009 7,00%
2010 5,00%
2011 4,90%
2012 5,80%
2013 6,50%
2014 4,00%
2015 5,00%
2016 8,00%
2017 4,00%
2018 2,00%

Nota: taxa suposta


FONTE : O autor

30
6 Conforme a infação histórica exposta no exercício anterior (suposta), determine
os valores médios do poder de compra dessa infação no quadro a seguir:
Valor do Poder de Compra
Anos Valor Perda de Taxa de
2008 R$ 1.661,36 poder Infaação ano*

2009 5,21%
2010 5,21%
2011 5,21%
2012 5,21%
2013 5,21%
2014 5,21%
2015 5,21%
2016 5,21%
2017 5,21%
2018 5,215

Nota: taxa suposta


FONTE : O autor

7 Qual a diferença entre o PIB Nominal e o PIB Real?

8 O que é uma posição valorizada do R$ perante ao US$?

31
32
UNIDADE 1 TÓPICO 2

PRINCÍPIOS FINANCEIROS E DE INVESTIMENTO

1 INTRODUÇÃO
Para conseguir ter uma visão sistêmica (global) da dinâmica do Mercado de
Valores, além de conhecimentos básicos de economia, é necessário entender como
funciona o custo do capital - representado como taxa de juros – e como ele pode
ser usado nas diversas situações que se apresentam no dia a dia deste mercado.
Esse custo do capital está diretamente relacionado às decisões de investimento,
conforme iremos descobrir nas seguintes linhas deste caderno de estudos.

Caro acadêmico, é importante fcar atento às dicas e sugestões de leituras,


assim como a realização das autoatividades para que os conhecimentos sejam
aprofundados e praticados sufcientemente, afm de que possa adquirir e
internalizar os conceitos necessários para sua formação.

Explore as informações apresentadas neste Livro de Estudo, buscando


ampliar o conhecimento através do interesse e do empenho.

2 TAXA BÁSICA DE JUROS – SELIC


As taxas de juros em uma economia vão se estabelecendo conforme
a oferta de emprestar e demanda do recurso monetário, ou seja, os agentes
econômicos que tiverem capital para emprestar procuram rentabilidade pelo uso
de seu capital (investimentos), isto é, geração de juros por meio de uma taxa.
Entretanto, quem tiver necessidade de usar esse capital terá que pagar pelo uso
desses fundos emprestados em função do tempo desses empréstimos. Entretanto,
a disponibilidade e o interesse real de emprestar por parte dos investidores fca
em função de dois grandes fatores:

• O nível de risco que o investidor esteja disposto a aceitar.


• O nível de rentabilidade que o investidor esteja aspirando.

33
UNIDADE 1 | NOÇÕES ECONÔMICAS E FINANCEIRAS PARA O MERCADO DE CAPITAIS

Nessa lógica, quanto maior for o risco do investidor, maior a rentabilidade,


ou seja, maior a taxa de juros. Por outro lado, numa situação de menor risco, o
investidor terá que aceitar uma menor taxa de juros. Na dinâmica econômica do
Brasil e da maioria dos países que possuem uma economia relativamente bem
estruturada, a taxa com menor risco será dos papéis da dívida pública. Mas por
que isso? Porque em uma economia bem estruturada há menor nível de risco de
default (inadimplência) nos empréstimos emitidos pelo governo.

Quanto mais estruturada e estável for uma economia, menor será a taxa
de juros da dívida pública desse país. Desde a Segunda Guerra Mundial, a dívida
mais segura do mundo e de menor taxa de juros, em termos relativos, é a do
Tesouro dos Estados Unidos, conhecida como a taxa FED (Federal Reserve).
Comparativamente, o FED é o Banco Central dos Estados Unidos. Então, em
economias bem estruturadas, a taxa de juros da dívida pública é a taxa básica!
Isso é assim porque a partir dessa taxa é que o risco vai aumentando, logo, vai
aumentando o custo dos juros.

No Brasil acontece igual, aqui a taxa da dívida pública é a taxa base de todas
as demais taxas da economia brasileira que vão se escalonando em função de seu
risco. Essa taxa com menor risco no Brasil é conhecida como Taxa Básica Selic.

A taxa que remunera exclusivamente a liquidez é aquela ofertada pelo


agente econômico de menor risco, sempre representado pelo governo
da nação. No Brasil, o agente é o Governo Federal e a taxa decorre
das operações com títulos públicos, registradas no Sistema Especial de
Liquidez e Custódia (BRUNI, p.81, 2009)

Assim, conforme o exposto por Bruni (2009) podermos dizer que a SELIC
é reconhecida como a taxa básica da economia brasileira, a qual determina o custo
fnanceiro dos títulos públicos. Deste modo, é o Governo por meio do Banco
Central (BACEN) que possui a capacidade de nortear a taxa mínima da economia
brasileira em função de uma série de fatores macroeconômicos, tais como:

• Pressões inflacionárias - o BACEN poderia aumentar a taxa Selic para restringir


o giro monetário e assim reduzir a infação.
• Redução da atividade econômica e desemprego - o BACEN poderia reduzir as
taxas de juros para incentivar o giro monetário e ajudar a atividade econômica
a se recuperar.
• Aumento da taxa de juros básica do FED (Federal Reserve) nos Estados Unidos
- se a maior economia do mundo está prevendo pressões infacionárias no seu
país, esse país poderia aumentar sua taxa básica, logo, todas as economias do
mundo deverão ponderar isso em função de sua própria dinâmica. Marcando
uma tendência de alta das taxas básicas dos juros na maioria dos países, caso
contrário as moedas locais poderiam sofrer uma desvalorização.

34
TÓPICO 2 | PRINCÍPIOS FINANCEIROS E DE INVESTIMENTO

Essa possível desvalorização pode acontecer quando a taxa de juros sobe


nos EUA, porque os capitais estrangeiros investidos em diversas economias,
entre elas a do Brasil, começam a emigrar para os EUA em função do aumento
da rentabilidade dessa dívida “considerada” a mais segura. Assim, países como o
Brasil podem sofrer uma saída de capitais de suas economias, logo, haverá maior
demanda de dólar, deixando caminho para a valorização dessa moeda, o que
vem acontecendo durante o ano de 2018. Desse modo, quando a FED mexe nas
taxas de juros, todo o mundo fca de olho, veja a seguir:

TE
IMPORTAN

FED ANUNCIA AUMENTO DA TAXA DE JUROS NOS ESTADOS UNIDOS PELA


SEGUNDA VEZ NO ANO

Por Karina Trevizan, G1. 13/06/2018

Federal Reserve (Fed), banco central dos Estados Unidos, anunciou nesta quarta-feira (13) a
decisão de aumentar a taxa de juros no país pela segunda vez neste ano, de 1,5% a 1,75% ao
ano para 1,75% a 2%.
A elevação era esperada pelo mercado, já que o BC dos EUA monitora os sinais de crescimento
da economia do país para conduzir o chamado aperto monetário (aumento de juros).
Em maio, foram divulgados números positivos sobre o mercado de trabalho nos EUA, com
criação de 223 mil postos e taxa de desemprego de 3,8% - a menor em 18 anos. Agora, a
estimativa é de aumento nos índices de inflação, o que aumenta as expectativas por um
movimento de alta dos juros.
A última vez em que o Fed havia aumentado os juros nos EUA foi em março deste ano, na
primeira reunião sob o comando de Jerome Powell. Já na reunião de maio, a decisão foi
pela manutenção das taxas.

Taxas de juros nos EUA


em%
2,5

1,5

1
em%

0,5

0
de 7
ju 17

ab 18
se 7

17

m 8
fe 7

fe 8
ab 7

m 8
ju 18
no 7
m 7

ju 7
m 17

18
7

1
7
1

1
1

r1
t1
r1

t1
l1

v
ai

ar
o

v
n
n

ar

ai
n
v

n
ou
ag
ja

ja

35
UNIDADE 1 | NOÇÕES ECONÔMICAS E FINANCEIRAS PARA O MERCADO DE CAPITAIS

No Brasil, o mercado de câmbio e a bolsa acompanham os desdobramentos da política


monetária norte-americana. O mercado monitora pistas sobre o rumo dos juros nos Estados
Unidos porque, com taxas mais altas, o país se tornaria mais atraente para investimentos
aplicados atualmente em outros mercados, como o Brasil, motivando assim uma tendência
de alta do dólar em relação ao real.
Após a divulgação da decisão desta quarta, o dólar, que estava caindo, chegou a subir sobre
o real, mas em seguida passou a oscilar. Já o Ibovespa se manteve em queda.

FONTE: <https://g1.globo.com/economia/noticia/fed-anuncia-aumento-da-taxa-de-juros-
nos-estados-unidos.ghtml>. Acesso em: 6 nov. 2018.

2.1 SELIC META E TAXAS DE MERCADO


No contexto brasileiro, a taxa básica da economia é marcada pela “Taxa
Selic”, conforme foi visto anteriormente, e em função de vários fatores internos
da economia nacional e externos do cenário econômico mundial, o Banco Central
do Brasil (Bacen) determina a cada dois meses a Taxa Selic Meta. Seu valor (em
porcentagem):

[...] se baseia na Regra de Taylor. A Taxa Meta é defnida pelo Banco


Central por meio de equações algébricas, que levam em consideração
a comparação entre infação esperada e a meta de infação, entre o
produto potencial e o real, além de outras variáveis, como o câmbio. Os
juros seguem o caminho da infação esperada. Quando esta aumenta
e supera a meta de infação para o ano, o Copom aumenta os juros
(BRUNI, 2009, p.77).

Assim, essas ações do Banco Central (Bacen) possuem uma série


de impactos na economia real, sobre os quais o Bacen tem que ponderar o custo
de oportunidade de suas ações, exemplo:

• Se o governo quiser incentivar a economia, ele poderia reduzir a Selic, o que se


vem fazendo no ano de 2017 até o primeiro semestre de 2018. E o custo disto?
Aos poucos poderia levar para uma tendência de aumento de juros e para uma
desvalorização do Real.
• Se o governo quiser reduzir a infação, ele deverá ser obrigado a aumentar a Selic.
Desde uma perspectiva histórica, no segundo semestre do ano de 2016 a infação
estava acima de 10%, e para combater essa infação o Bacen teve que aumentar
a Selic, essa taxa fcou em um pico de 14,25% no ano de 2016, em consequência
disso, à medida que a infação ia caindo, a taxa Selic foi caindo também, até
chegar em 6,50% para fnais do primeiro semestre de 2018, veja a seguir:

36
TÓPICO 2 | PRINCÍPIOS FINANCEIROS E DE INVESTIMENTO

GRÁFICO 5 – TAXA SELIC DESDE 2012 ATÉ 2017

FONTE: <https://bit.ly/2zxYixB> Acesso em: 24 ago. 2018

Observe que esse gráfco é um refexo de como o Bacen tem as ferramentas


para mexer na taxa Selic. Lembre-se, a Selic Meta refere-se à taxa Selic que o
Bacen, por meio do Copom (Comitê de Política Monetária do Bacen), defne a
cada dois meses.

TE
IMPORTAN

Você sabe qual é a Regra de Taylor? É uma regra que visa aplicar política
monetária que pondera entre a taxa de uuros básica e a infação, segundo o artigo publicado
no Estadão de São Paulo por Paulo R. Haddad, 17/nov/2009 <https://www.estadao.com.br/
noticias/geral,a-crise-e-a-regra-de-taylor,467517>:
A regra de Taylor, que foi adotada nas políticas monetárias de diversos países, é basicamente
uma recomendação de como um banco central deve estabelecer a taxa de uuros de curto
prazo a fm de manter a taxa de infação muito baixa e as recessões suaves e infrequentes. É
derivada de modelos econômicos quantitativos que descrevem como a taxa de uuros afeta
as principais variáveis da economia. Não é uma regra normativa que deva ser prescrita em
qualquer contexto histórico sem levar em conta outros fatores, tais como uma crise cambial
ou a composição da demanda agregada.

37
UNIDADE 1 | NOÇÕES ECONÔMICAS E FINANCEIRAS PARA O MERCADO DE CAPITAIS

Então, seguindo várias medidas de caráter macroeconômico, o Banco


Central, por meio do Copom, vai defnindo a Taxa Selic em suas reuniões que
acontecem a cada 45 dias, observe:

A taxa de juros fxada na reunião do Copom é a meta para a Taxa Selic


(taxa média dos fnanciamentos diários, com lastro em títulos federais,
apurados no Sistema Especial de Liquidação e Custódia), a qual vigora
por todo o período entre reuniões ordinárias do Comitê. As reuniões
ordinárias do Copom ocorrem a cada 45 dias. (BRUNI, 2009, p. 84).

Agora que você já sabe identifcar o que é a taxa básica de juros, no caso
do Brasil, a Selic, como também já consegue identifcar o que signifca a Selic
Meta, vamos ver os diferentes níveis de taxas referenciais no mercado de capitais.
Conforme temos dito anteriormente, a Selic é a taxa base, a partir dela os diversos
agentes vão gerando novas taxas referenciais, inclusive dentro do próprio governo
há diferentes graus de risco. Um título de dívida do Estado de Santa Catarina
possui uma taxa maior que uma dívida do Tesouro Direto. Exemplifcando, um
título de dívida do Estado de Santa Catarina possui uma taxa maior que uma
dívida do Tesouro Direto, ou seja, esse título de dívida pública (do estado de
Santa Catarina) terá uma taxa de juros Selic mais seu respectivo grau de risco.

Nesse sentido, no mercado fnanceiro há diversos papéis de dívida sendo


negociados, desde títulos de dívida do governo, títulos de dívida dos bancos
comerciais, e de empresas grandes que atuam na Bolsa de São Paulo. No caso dos
bancos comerciais, existe a taxa CDI, que calcula a média ponderada da taxa de
juros dos Certifcados de Depósitos Interbancários (CDI), conhecida também
como a taxa que atua no mercado interbancário, ou seja, a CDI calcula a taxa
média das operações entre instituições fnanceiras, que possuem um nível de
risco maior que a Taxa Selic, logo, possuem uma taxa um pouco maior.

Nessa dinâmica a taxa CDI fca entre a taxa Selic e a taxa média com que os
bancos emprestam seus recursos tanto a pessoas físicas como a empresas, isto é, o
spread bancário. Quando os bancos estão sem problemas de liquidez, a taxa do CDI
médio fca bem próxima à Selic, mas quando o setor bancário começa a apresentar
sintomas de iliquidez, essa diferença entre a Selic e a CDI aumenta drasticamente.
Veja a seguir o histórico das taxas de juros entre a Selic o spread bancário.

38
TÓPICO 2 | PRINCÍPIOS FINANCEIROS E DE INVESTIMENTO

GRÁFICO 6 – SPREAD BANCÁRIO X TAXA SELIC


Diferença entre juros de aplicação e captação dos bancos e a taxa básica de juros, em %

FONTE: <https://bit.ly/2EIvbxy>. Acesso em: 24 out. 2018.

Embora a média da taxa CDI não esteja no gráfco, ela fca entre o histórico da
taxa média do spread bancário e a taxa Selic, a tendência é de ela fcar bem próxima à
média da taxa Selic. Assim, se a média da taxa CDI fcar bem próxima da taxa Selic,
consequentemente o spread bancário se tornará alto demais para uma economia
como a do Brasil. Isso dá espaço para que no futuro o país possa realizar mudanças
estruturais no custo do capital emprestado e assim reduzir drasticamente o spread
bancário. Isso poderia ser de grande incentivo tanto ao consumo (empréstimos
para pessoas físicas) como para empréstimos para pessoas jurídicas (empresas da
indústria e do comércio) incrementarem sua produtividade.

3 CONCEITOS BÁSICOS DE CÁLCULO FINANCEIRO PARA


O MERCADO DE CAPITAIS
Acabamos de estudar como a taxa de juros se estrutura aqui no Brasil,
isto é, o custo de capital a partir de uma taxa base, Taxa Selic, mais o grau de
risco respectivo. Assim, uma vez que conseguimos identifcar o conceito base da
dinâmica da taxa de juros, aqui no Brasil, estamos na fase de estudar conceitos de
cálculo fnanceiro com foco no mercado de capitais. A primeira parte disto será
entender o que signifca a Taxa Mínima de Atratividade (TMA) que o investidor
está disposto em aceitar perante uma opção de investimento.

39
UNIDADE 1 | NOÇÕES ECONÔMICAS E FINANCEIRAS PARA O MERCADO DE CAPITAIS

No mercado de capitais, os investidores procuram o melhor rendimento


possível em função do risco que eles estão dispostos a correr. Assim, se o perfl
de investimento é de baixíssimo risco, os investidores irão procurar investir em
dívida pública, cujo rendimento referencial é a Taxa Selic, a taxa básica de juros
aqui no Brasil. Entretanto, se o investidor está disposto a aceitar um maior risco,
com certeza irá procurar ativos fnanceiros com maior rendimento, isto é, a Taxa
Selic mais o risco ponderado pelo investidor.

3.1 TAXA MÍNIMA DE ATRATIVIDADE (TMA) E RETORNO DO


CAPITAL
Em termos fnanceiros, essa taxa que os investidores estão dispostos a
aceitar em função do nível de risco e rendimento desejado é conhecida como a
Taxa Mínima de Atratividade (TMA). Para análise de escolhas, todo investidor
procura uma taxa mínima de retorno de seu investimento, acima dessa taxa o
investimento fca interessante, ou seja, a TMA é a base referencial para fazer
escolhas de investimentos.

Suponha que um grupo de investidores está analisando a compra de ações


de uma empresa de alimentos processados. Em função de uma série de fatores,
esses investidores desejam que as ações possam gerar uma TMA de pelo menos
21%. Nesse sentido, há as seguintes hipóteses:

• Se as projeções de rendimento dessas ações representam um retorno igual ou


maior que dessa TMA de 21%, logo, a compra das ações se torna interessante.
• Se as projeções de rendimento dessas ações representam um retorno menor
que dessa TMA de 21então a compra das ações é rejeitada.

Observe que para analisar a TMA deve existir também, pelo menos, mais
de uma alternativa de investimento. Isto quer dizer que toda vez que há uma
escolha de investimento, o investidor abandona outra, ou seja, a TMA representa
a análise do Custo de Oportunidade entre diversas opções de rendimentos
fnanceiros. Os autores Pilão e Hummel (2004, p. 89) afrmam:

Ainda acerca da composição da TMA, podemos afrmar que o


denominado Custo de Oportunidade é o seu ponto de partida, já que
ele representa a remuneração que teríamos pelo nosso capital caso não o
aplicássemos em nenhuma das alternativas de ação analisadas. Ele pode
ser, por exemplo, a remuneração paga pela caderneta de poupança, ou
por um fundo de investimento, ou pelo ganho que poderemos obter com
determinado processo produtivo já existente em nossa empresa, etc.

Em síntese, por meio da TMA aplica-se o custo de oportunidade entre várias


opções de investimento em função de uma Taxa Mínima para que os investimentos
sejam “atrativos”, ou seja, a TMA. Com esses elementos de taxas referenciais, a Taxa
Selic e a TMA, a seguir vamos rever alguns conceitos de cálculo fnanceiro de juros
sob o Regime de Capitalização Simples e o Regime de Capitalização Composta.

40
TÓPICO 2 | PRINCÍPIOS FINANCEIROS E DE INVESTIMENTO

3.2 O REGIME DE CAPITALIZAÇÃO SIMPLES


Nesta modalidade se considera o custo do dinheiro, juros, sobre uma base
fxa de capital inicial conforme a frequência de tempo da aplicação, ou seja, o
cálculo de juros simples sobre um capital fxo, comumente usado no desconto
de duplicatas e/ou algum outro papel de valor do mercado de capitais. A seguir
vamos rever alguns conceitos que você já estudou, mas fundamentais para o
cálculo das diversas aplicações com desconto disponíveis no mercado de capitais,
conforme você irá estudar na Unidade 2.

O primeiro fundamento do Regime de Capitalização Simples é o cálculo


dos juros simples. Este tipo de juros é apurado sempre sobre o capital inicial,
sendo o cálculo da seguinte maneira: multiplica-se o capital pela taxa e pelo
período estabelecido → J=PV x i x n. Onde: J = Juros, PV = Capital, i = Taxa de
juros por período, n = número de períodos num tempo determinado. Lembre-se,
a taxa de juros é informada em percentual, mas na hora de fazer os cálculos deve-
se dividir por 100. Exemplo:

• 5% → 0,05 = 5/100
• 2,5% → 0,025 = 2,5/100

Observe que a frequência dos períodos e a taxa devem estar alinhadas


com o mesmo tempo da frequência, ou seja, se preciso for, deve-se converter
a taxa de juros aos períodos da aplicação, e não ao contrário, por exemplo, se
o prazo da aplicação for de 48 dias e os juros apresentados de 5,10% ao mês,
devemos converter esses juros ao mês para dias, assim:

• 5,10% / 30 = 0,17% ao dia, logo, (i) = 0,175 ao dia, e (n) = 48 dias.

Agora, se o prazo da aplicação for de seis meses e os juros apresentados


forem de 24% ao ano, neste caso devemos converter esses juros ao ano para meses,
assim:

• 24% / 12 = 2% ao mês, logo, (i) = 25 ao mês, e (n) = 6 meses.

Assim, com os valores de Capital, taxa de juros e prazo da operação


conforme a sequência de períodos defnida, pode-se apurar diversas aplicações
disponíveis no mercado fnanceiro, veja a seguir:

• Um certifcado de depósito bancário (CDB) possui capital de R$ 3.000, taxa de


juros de 2% ao mês e prazo de 50 dias, qual será o valor dos juros e valor futuro
(montante) a se resgatar?

41
UNIDADE 1 | NOÇÕES ECONÔMICAS E FINANCEIRAS PARA O MERCADO DE CAPITAIS

ᵒ PV = R$ 3.000,00
ᵒ i = 2%/mês → converter de mês para dias → 2%/30 = 0,6667%
ᵒ Tempo: 50 dias
ᵒ Fórmula → J=PV x i x n
ᵒ J = R$3.000 x 0,0667/100 x 50
ᵒ J = R$ 100,00
ᵒ M = R$ 3.100,00 (R$ 100,00 + R$ 3.000,00)

• Um certifcado de depósito bancário (CDB) possui capital de R$ 29.000, taxa


de juros de 20% ao ano e prazo de três trimestres, qual será o valor dos juros e
valor futuro (montante) a se resgatar?

ᵒ PV = R$ 29.000,00
ᵒ i = 20%/ano → converter de ano para trimestres → 20%/4 = 5,00%
ᵒ Observe que um ano possui 4 trimestres, logo, deve-se dividir essa taxa
anual de 20% para uma taxa trimestral (o ano possui 4 trimestres).
ᵒ Tempo 3 trimestres, ou seja, 9 meses de prazo total → (n) = 3 (trimestres)
ᵒ Fórmula → J=PV x i x n
ᵒ J = R$ 29.000 x 5,00%/100 x 3
ᵒ J = R$ 4.350,00
ᵒ M = R$ 33.350 (R$ 4.350,00 + R$ 29.000,00)

ATENCAO

Se observar estes exemplos, veremos que se aplicou o conceito de taxas


equivalentes, tais como:
Uma taxa de 2% ao mês é equivalente a uma taxa de 24% ao ano.
Uma taxa de 6% ao trimestre é equivalente a uma taxa de 24% ao ano.
Inclusive uma taxa de 0,06666667% ao dia é equivalente a uma taxa de 24% ao ano!

Embora seja viável apurar o valor dos juros e o montante por meio da fórmula
J=PV x i x n, existe uma maneira direta para calcular o valor do montante, ou seja,
Montante = Capital Inicial + Juros. Essa fórmula pondera o fator gerador de juros de
maneira direta considerando o fator tempo dentro dessa ponderação, veja a seguir:

• M=C x (1 + i x n)
• Exemplo: Um investidor está procurando o valor do montante de um capital
de R$ 25.000, aplicado em 18 meses e com uma taxa de 2% ao mês, onde:
• C = R$ 25.000
• Taxa (i) → 2% ao mês → 0,02
• Períodos (n) → 18 meses.

42
TÓPICO 2 | PRINCÍPIOS FINANCEIROS E DE INVESTIMENTO

Aplicação da fórmula:

M = C x (1 + i x n)

M= 25.000 x (1 + 0,02 x 18)

Fator gerador 1,36 = (1 + 0,02 x 18)

M= R$ 34.000,00 = 25.000 x 1,36

Geralmente, no uso da matemática fnanceira em aplicações é comum


procurar o valor dos juros ou do montante (juros mais o capital). Mas se você
quiser procurar o valor do Capital, ou o valor da taxa de juros (i), inclusive o
número de períodos (n)? A resposta é simples, é necessário aplicar equivalência
de fórmula, veja a seguir:

• Procurando o capital conhecendo os juros, ou valor presente (PV): J = PV x I


x n → PV = J
ixn
• Procurando o capital conhecendo o Montante, M = C x (1 + i x n). → (1+iMx n)= C
→ Capital = (1+iMx n)
• Procurando os juros (i) conhecendo os juros, J = PV x I x n → i = J
PV x n
• Procurando o tempo (n) conhecendo o montante, J = PV x I x n → n= PVJx i
Exemplo:
Qual o valor da taxa por ano de um capital de R$ 12.000 aplicado numa operação
que gera R$ 1.500 de juros, durante 5 meses?

PV = R$ 12.000
J = R$ 1.500
Tempo: 5 meses.
Períodos: 5.
1.500
i = 0000000→
12.000 x 5
i = 0,025 → tem-se que converter em % → 0,025x100 → 2,5%/mês
Como o exercício solicita a taxa em anos, logo essa taxa/mês tem-se que multiplicar
por 12 → 2,5% x 12 = 30%.

A taxa por ano dessa aplicação será de 30%.

3.2.1 Operações de curto prazo


A maioria dos Certifcados de Depósitos Bancários (CDB) é de curto prazo,
e no geral, o conceito de juros simples é para apurar aplicações de curto prazo
mesmo, conforme os exemplos anteriores. Um dos usos mais comuns é o cálculo
de descontos sobre o principal de um valor futuro, tais como duplicatas das vendas
a prazo de uma empresa por meio de factoring (venda de blocos de valores de
vendas futuras), valores futuros a pagar aos fornecedores, Certifcados de Depósitos
Bancários (CDBs) com valores futuros, letras de câmbio etc. Todos esses papéis de
valor, bem como outros, são, muitas vezes, negociados no mercado de valores.

43
UNIDADE 1 | NOÇÕES ECONÔMICAS E FINANCEIRAS PARA O MERCADO DE CAPITAIS

Em termos fnanceiros, o desconto é o valor a ser abatido do valor nominal


(futuro) de um título de valor. Assim, esse valor abatido vem a ser a quantia a ser
descontada do valor nominal de um título com valor monetário futuro, ou seja,
desconta-se em função da taxa de juros e o tempo ainda faltante para liquidar a
valor presente, exemplifcando:

• Suponha que uma empresa esteja precisando de caixa e deseja descontar R$ 10.000
de vendas a prazo, cujo vencimento é daqui a 45 dias, a taxa de desconto que o
banco cobra é de 3.5% ao mês, qual será o desconto e o valor líquido a receber?

ᵒ Valor ao vencimento: R$ 10.000, e tempo faltante para o vencimento: 45 dias.


ᵒ Taxa de desconto: 3,5%/30 dias → 0,1167% ao dia.
ᵒ Desconto: R$ 10.000 x 0,001167 x 45 dias → Desconto = R$ 525,00.
ᵒ Valor Líquido: R$ 10.000 – R$ 525 → Valor Líquido = R$ 9.475,00.

Então, a empresa consegue levantar, hoje, R$ 9.475,00 em função do valor


futuro de suas vendas ainda por cobrar.

Devemos observar que este tipo de operação é de uso quase diário na


gestão do capital de giro das empresas, virando assim uma modalidade de
fnanciamento que gera diversas opções e estratégias de uso de fundos, visando
otimizar a necessidade de caixa para as operações das empresas. Para nos lembrar
quando necessário, a seguir listamos alguns termos comuns às aplicações com
desconto fnanceiro:

• Valor Nominal ou Valor de Face: Representa o valor a ser pago de um


documento no vencimento, tal como: data de vencimento de uma fatura.
• Dia de Vencimento: Representa o dia quando o papel valor será liquidado.
• Valor Líquido ou Valor Atual: Representa o valor a ser recebido depois de ter
aplicado o desconto fnanceiro do valor nominal, considerando uma taxa:
• Valor Líquido = Valor Nominal – Desconto Financeiro.
• Tempo ou Prazo: Representa o número de dias, exatos, entre a data de
vencimento e o dia da negociação do título valor.

QUADRO 7 - FÓRMULA DE DESCONTO SIMPLES


Desconto simples = d = N x i x n
D Valor do desconto
N Valor Nominal
i Taxa de desconto
n O prazo
VALOR LÍQUIDO (VL)
VL = VL = N x (1 – i * n)

FONTE: O autor

44
TÓPICO 2 | PRINCÍPIOS FINANCEIROS E DE INVESTIMENTO

Com esta revisão de conceitos de taxas e elementos de cálculo, a seguir


vamos estudar alguns exemplos usados no cotidiano do mercado fnanceiro para
uso de fundos de curto prazo.

3.2.2 Exemplos de operações de curto prazo


No dia a dia, as empresas devem tomar decisões sobre uma série de
situações, desde otimização de seus investimentos fnanceiros de curto prazo até
otimização de seu giro de capital (caixa para suas operações), tais como:

• Será que vale a pena ter maior volume de estoques? Mas qual será o custo em
juros desse aumento de necessidade de caixa operativa, capital de giro?
• Será que aumentando o prazo das vendas (contas a receber) consigo vender
mais? Mas quanto mais capital de giro e custo fnanceiro dessa decisão?
• Será que reduzindo o prazo de pagamento aos fornecedores se consegue
descontos interessantes nos valores de compra das aquisições? E o custo
fnanceiro desse aumento no capital de giro?

Enfm, existem mais outros questionamentos que as empresas possuem na


sua gestão operativa e administração da liquidez, decisões que logo irão repercutir
no mercado fnanceiro e na demanda de fundos de curto prazo. Com foco em
nosso estudo, a seguir vamos simplifcar essa tomada de decisão, analisando uma
situação típica: comprar à vista ou a prazo? E qual seria o custo de oportunidade
de se fazer isso?

Suponha que uma empresa está analisando a opção de usar parte de seu
saldo em caixa de R$ 45.000,00, para aumentar seu investimento em capital de giro,
objetivando melhorar seus rendimentos fnanceiros, e está analisando usar esses
R$ 45.000 para reduzir suas obrigações com seus fornecedores, mas procurando
um desconto fnanceiro. Assim, a empresa, entre suas diversas contas a pagar aos
fornecedores, possui um fornecedor com o qual poderia conseguir um desconto
fnanceiro, se pagar à vista. O prazo médio de pagamento deste fornecedor é de
45 dias com um saldo a pagar médio de R$ 45.000,00.

A taxa equivalente que a empresa poderia obter no mercado fnanceiro


em títulos negociáveis é de 12,08% ao ano. Por outro lado, se a empresa realizar as
compras à vista, o fornecedor poderia lhe dar um desconto de 1,50% (negociável).
Diante disso, será interessante para a empresa usar esses R$ 45.000 e pagar à vista
ao fornecedor, e assim obter o desconto deste? Antes de responder, é necessário
defnir a TMA objeto de análise comparativa de taxas, ou seja, análise entre a
TMA e a taxa real do desconto fnanceiro do fornecedor.

45
UNIDADE 1 | NOÇÕES ECONÔMICAS E FINANCEIRAS PARA O MERCADO DE CAPITAIS

• Neste caso, a TMA é de 12,08% ao ano, devendo ser convertida para uma
taxa proporcional ao prazo das contas a pagar, isto é, 45 dias. Assim, a taxa
12,08%
proporcional dessa TMA é de 1.51% por cada 45 dias, isto é: 1,51% = 000000
360 dias
x
45 dias.

À simples vista, esse 1,50% parece menor que a TMA de 1,51%, logo, para
a empresa, será melhor manter as compras a prazo e não aumentar o investimento
em capital de giro, e deixar esse saldo em títulos negociáveis. Mas será mesmo
que esse desconto de 1,50% gera um menor rendimento? Vamos conferir!

• Se o fornecedor conceder um desconto de 1,5% nas compras à vista, isso vai


nos dar os seguintes valores da análise fnanceira:

• Valor Nominal ou Valor de Face (N): Neste caso, R$ 45.000,00 em duplicatas.


• Prazo da operação (N): 45 dias.
• Taxa da operação (i): 1,5% a cada 45 dias → 0,03333% = 601,5%
dias
• Desconto (?)

desconto = N x i x n
0,03333%
d = R$ 45.000,00 x 100
x 45
Desconto -> R$ 675,00

• Valor Líquido (?) → R$ 44.325 = R$ 45.000,00 – R$ 675,00

Agora, se o valor líquido é de R$ 44.325,00, então o rendimento do


investimento real em capital de giro não é R$ 45.000,00. Esse é o valor a se pagar
ao fornecedor daqui a 45 dias! Ou seja, esse é o valor nominal, ou “Face Value”. O
valor do investimento comparativo em capital de giro será de R$ 44.325,00, sendo
assim, a taxa desse investimento não é 1,50% em 45 dias, pela simples observação,
será um pouco maior, mas de quanto?

• Juros = Capital x taxa (i) x prazo (n). Neste caso:


• Juros = R$ 675,00; Capital = R$ 44.325,00, Taxa (i) → “?”; prazo (n) = 45 dias.
Então:
• R$ 675,00 = R$ 44.325 x (i) x 45 dias, se fazer equivalência nesta equação, temos que:
R$ 675,00
R$ 44,325 x 45 dias → ( i ) = 0,000338409
• (i) = 00000000000
• → (i) 1,525 = 0,000338409 x 45 dias x 100
• Assim, a partir de nossa análise, a empresa poderia entrar em negociações
com o fornecedor e solicitar um desconto nas compras à vista que seja de pelo
menos 1,5% sobre o valor Nominal da compra a 45 dias. O importante desta
análise é que:
• A empresa deverá procurar um desconto que seja igual ou maior de 1,505
pelas suas compras atuais que possuem 45 dias de prazo de pagamento, isto é:
• desconto >= 1.55 e prazo 45 dias.
• A empresa poderia fazer uma proposta de desconto de 2,5%! Sendo que seu
piso máximo de negociação será 1,5%. Abaixo disso, para a empresa será
melhor continuar com suas compras atuais que possuem prazo de 45 dias!
46
TÓPICO 2 | PRINCÍPIOS FINANCEIROS E DE INVESTIMENTO

Resumindo, a TMA de 12,08% será o ponto de partida para analisar o


Custo de Oportunidade desta situação. Assim, se a empresa optar pelas compras
à vista:

• seu custo será deixar de fazer o investimento em títulos negociáveis e perder


esse rendimento fnanceiro,
• mas sua oportunidade será conseguir um desconto igual ou maior que 1,5% de
seu fornecedor.

Essa comparação é a essência da análise de Custo de Oportunidade


no mercado de valores, ou seja: ganhar uma oportunidade, “a escolha”, em
detrimento da outra opção “não escolhida”. É um conceito simples e básico de
economia, mas pode envolver análises bem complexas no mercado de capitais.

3.3 O REGIME DE CAPITALIZAÇÃO COMPOSTA


Nesta modalidade se considera o custo de capital, juros, sobre uma
base inicial de capital – mesmo conceito do Regime de Capitalização Simples -,
porém, aqui aplica-se uma sequência de tempos que somados atingem o prazo
total de uma aplicação ou situação de valores monetários no percurso de tempos
defnidos, levando em consideração que em cada sequência os juros gerados vão
se somando ao capital, produzindo-se o efeito da geração de juros sobre juros.
Lembre-se, nesta modalidade “os juros compostos são somados ao principal
de modo a ampliar a base de cálculo dos juros dos próximos períodos” (ZOT;
CASTRO, 2015, p. 23).

Essa geração de juros sobre juros pode ser facilmente entendida conforme
o seguinte quadro, onde não há capital inicial, ou seja, R$ 0,00, mas haverá aportes
mensais de R$ 250,00 a partir do primeiro mês, levando em consideração juros ao
mês de 1.15% e um prazo da aplicação de 40 anos!

47
UNIDADE 1 | NOÇÕES ECONÔMICAS E FINANCEIRAS PARA O MERCADO DE CAPITAIS

QUADRO 8 – PROJEÇÃO PLANEJAMENTO POUPANÇA

Capital Inicial R$ 0,00

Aporte Mensal R$ 250

Taxa 1,155

Prazo 40 anos --> 480 meses

Mês Juros Aporte Capital Taxa


0 0,00 1,15%
1 R$ 0,00 R$ 250,00 250,00 1,15%
2 R$ 2,88 R$ 250,00 502,88 1,15%
3 R$ 5,78 R$ 250,00 758,88 1,15%
4 R$ 8,72 R$ 250,00 1.017,38 1,15%
5 R$ 11,70 R$ 250,00 1.279,08 1,15%
6 R$ 14,71 R$ 250,00 1.543,79 1,15%
7 R$ 17,75 R$ 250,00 1.811,55 1,15%
8 R$ 20,83 R$ 250,00 2.082,38 1,15%
9 R$ 23,95 R$ 250,00 2.356,33 1,15%
10 R$ 27,10 R$ 250,00 2.633,42 1,15%
... ... ... ... ...
479 R$ 58.856 R$ 250 R$ 5.177,049 1,15%
480 R$ 59.536 R$ 250 R$ 5.236.835 1,15%

FONTE: O autor

Nessa projeção, por motivos de espaço e valores repetitivos, foi omitida


a geração de juros desde o mês 10 até o mês 479. Mas a ideia é que você possa
enxergar a geração potencial da capitalização sob o regime de juros compostos,
passando de apenas R$ 250,00 de aporte mensal para R$ 5.236.835 em 40 anos!
Observe que o cálculo é simples mesmo, você só tem que calcular os juros de um
mês sobre o capital base do mês anterior e somar aos juros gerados mais aporte
ao capital, exemplo:

• No mês nº 9 foram gerados R$ 23,95 sobre um capital de R$ 2.082,38, ou seja:


R$ 23,95 = R$ 2.082,38 x 0,0115. E esses juros gerados de R$ 23,95 vão se somar
ao capital, isto é, R$ 2.356,33 = R$ 2.082,38 + R$ 23,95 + R$ 250,00.

• Esse cálculo é feito mês a mês até chegar à projeção do mês nº 480, ou seja, aos
40 anos. Observe que a geração de juros no mês nº 480 foi de R$ 59.536!

48
TÓPICO 2 | PRINCÍPIOS FINANCEIROS E DE INVESTIMENTO

O cálculo demonstrativo do quadro anterior é a essência do conceito dos


juros compostos, desse conceito é que nascem diversas fórmulas e usos complexos
de derivados fnanceiros aplicados no dia a dia do mercado de capitais. As
fórmulas mais simples derivadas do conceito exposto no quadro são:

• Valor Futuro (FV) = PV x (1 + i)n


• Valor Futuro (FV), considerando aportes (anualidades) → VF = PV + PMT x
(1+i)n-1
[00000]
i
• Valor Presente (PV) = FV x (1 + i)-n
1+(1+i)-n
• Valor Presente (PV), considerando parcelas = VP = PMT x [(000000)]
i
• Onde: FV = Valor Futuro, PV = Valor Presente, PMT = parcela ou aporte, i = taxa
de juros

Então, para calcular o valor futuro de nossa projeção de poupança, qual


fórmula você irá escolher? A fórmula para essa aplicação será: VP = PMT x
1+(1+i)-n
[(00000)],
i
veja a seguir:

(1+i) -1n (1+0,0115)480-1


FV = PV + PMT x [(0000000)] FV = 250 x [(00000000000)]
i 0,0115

Valor Futuro FV = R$ 5.236.835

Se uma pessoa fzesse esse aporte de aposentadoria todos os meses


durante esse número de anos, então, ao fnal de sua vida laboral terá para sua
vida de aposentado R$ 5.236.835,00 Tudo bem, mas se se levar em consideração
o fator infação, qual seria o valor dessa aposentadoria a valores atuais? Tudo
dependerá das projeções da infação, mas suponha que a infação média para os
próximos 40 anos seja de 4,00%, logo, aplica-se:

• Valor Presente (PV) = FV x (1 + i)-n


• PV = R$ 5.236.835 x (1 + 0,04)-40 → PV = R$ 1.090.775

Embora não seja todo esse valor lá na frente, mas, em valores atuais,
aposentar-se com R$ 1.090.775 é interessante mesmo! Hoje, grande parte dos
valores de investimentos ao redor do mundo vem dos fundos de investimentos,
os quais administram planos de investimento de pequenos investidores e de
administradores de fundos de aposentados. Esses fundos compram ações, papéis
de dívida dos países, mercados futuros de petróleo, e outros valores mobiliários.
Em resumo, os fundos de investimento de milhões de pessoas ao redor do mundo,
que por meio de suas poupanças ajudam a fazer girar o mercado de capitais de
muitos países, sendo parte importante da grande alavancagem fnanceira para o
desenvolvimento econômico, aqui no Brasil e demais países que fazem parte da
economia internacional.

49
UNIDADE 1 | NOÇÕES ECONÔMICAS E FINANCEIRAS PARA O MERCADO DE CAPITAIS

3.4 PONDERAÇÃO DE CARTEIRA


Na negociação de títulos de valor, na maioria das vezes é negociada uma
carteira de valores que possuem valores e datas de vencimentos diferentes. A
maneira mais fácil de ilustrar isto é por meio da venda de duplicatas (vendas a
prazo) de uma empresa em uma instituição fnanceira.

As duplicatas a receber decorrentes das vendas a prazo viram título valor


e podem virar fontes de fnanciamento para suprir necessidades de caixa das
empresas. O desconto das contas a receber é uma das maneiras mais utilizadas
para conseguir fundos de curto prazo. O processo de empréstimo é simples,
primeiramente, a instituição fnanceira avalia a qualidade dessas duplicatas, em
seguida, faz uma ponderação de valores e prazos, e é cobrada uma taxa de juros
em função do risco da empresa e as taxas referenciais do mercado, a qualidade
das duplicatas. Vamos ver um exemplo?

A empresa “Camiseta de Verão” possui um bloco de faturas com os


seguintes valores e prazos de vencimento.

QUADRO 9 - PRAZO MÉDIO DE DUPLICATAS (PMD)

Ponderação
vencimento em
Valor
dias
Peso dias

1 R$ 21.400,00 9 16,89% 1,5205

2 R$ 12.280,00 17 9,69% 1,6481

3 R$ 28.350,00 19 22,38% 4,2524

4 R$ 18.340,00 28 14,48% 4,0540

5 R$ 23.700,00 40 18,71% 7,4840

6 R$ 22.600,00 52 17,84% 9,2777

R$ 126.670,00 28,24 100,005 28,2366

FONTE: O autor

Esse quadro mostra a base de cálculo sob o conceito de peso, ou ponderação,


conforme o valor da venda e nº de dias. Mas nas matemáticas sempre há outras
maneiras de calcular, o importante é a correta interpretação. Por exemplo, o PMD
pode ser apurado da seguinte maneira:

50
TÓPICO 2 | PRINCÍPIOS FINANCEIROS E DE INVESTIMENTO

• PMD={(vn1.n1)+(vn2.n2)+...../(vn1+vn2+...)}
• PMD = (R$ 21400*9)+(R$ 12280*17)+(R$ 28350*19)+(R$ 18340*28)+(R$ 23700*40)+(R$ 22600*52)
R$ 126.670
• PMD = 28,24 dias

Então, agora sabemos que a empresa irá demorar, na média, 28 dias em


recuperar essas vendas a prazo. Com esse dado e, claro, a qualidade da carteira, o
banco oferece uma taxa de desconto, vamos supor 2,5% ao mês. Qual será o valor
líquido da operação? Simples, segue:

• Valor duplicatas: R$ 126.670.


• Prazo médio (em dias): 28,2366.
• Taxa de desconto: 2,5% ao mês.

Solução:

• Desconto = Valor duplicatas x Taxa de desconto x prazo.


2,5/100
• Desconto = R$ 126.670 x 00000
30 dias x 28,2366 dias = R$ 2.980,61.
• Valor Líquido a Receber = Valor duplicatas – Desconto.
• Valor Líquido a Receber = R$ 126.670,00 - R$ 2.980,61.
• Valor Líquido a Receber = R$ 126.670,00 - R$ 2.980,97 = R$ 123.689,39.
• Então, a empresa irá receber R$ 123.689,39.

Se observar, esse valor líquido a se receber é referencial, decorrente


da venda dessas duplicatas. Entretanto, no contrato desta operação fnanceira
deverá fcar todo o detalhe de desconto de cada uma dessas duplicatas, conforme
podemos observar a seguir:

QUADRO 10 - CÁLCULO DETALHADO DO DESCONTO DAS DUPLICATAS

Vencim. Valor Desconto


Valor Duplicatas
dias Taxa/Mês Taxa/dia Desconto
1 R$ 21.400,00 9 2,50% 0,0833% -R$ 160,50

2 R$ 12.280,00 17 2,50% 0,0833% -R$ 173,97

3 R$ 28.350,00 19 2,50% 0,0833% -R$ 448,88

4 R$ 18.340,00 28 2,50% 0,0833% -R$ 427,93

5 R$ 23.700,00 40 2,50% 0,0833% -R$ 790,00

6 R$ 22.600,00 52 2,50% 0,0833% -R$ 979,33

R$ 126.670,00 -R$ 2.980,61

Valor líquido R$ 123.689,39

FONTE: O autor

51
UNIDADE 1 | NOÇÕES ECONÔMICAS E FINANCEIRAS PARA O MERCADO DE CAPITAIS

O foco comparativo de fazer os dois métodos de cálculo é de conferir que por


meio da ponderação dos prazos, o gestor fnanceiro tem uma maneira de calcular
rapidamente o desconto fnanceiro deste tipo de operação fnanceira, sem ter que
entrar no detalhe do desconto de cada uma das duplicatas. Imagine uma operação
destas que possa envolver mais de 1.000 faturas? Nesse caso o cálculo manual será
operativo demais, assim, é mais fácil pegar o prazo médio ponderado e analisar as
alternativas para levantar fundos. O sistema fnanceiro possui um tipo de produto
que oferta às empresas para comprar duplicatas, o factoring.

O factoring parte do mesmo princípio, mas a grande diferença é que neste


caso a empresa literalmente vende as duplicatas, se liberando de qualquer risco
de falta de pagamento dos clientes. Se eles não pagarem, será o banco que deverá
fazer a cobrança, eis a grande diferença. Em termos fnanceiros, o factoring é um
produto fnanceiro comum que mexe com mercados futuros de títulos de valor.
Eis a sua importância no contexto do mercado de valores.

DICAS

No comércio internacional tem-se diversas instituições fnanceiras que


trabalham com factoring, tais como:
Tradeshift, <https://tradeshift.com/>.
GT Nexus, <http://www.gtnexus.com/>.
C2FO, <https://c2fo.com/uk-en/why-c2fo/opportunity/>.
PrimeRevenue, <https://primerevenue.com/>.

Todas essas instituições fnanceiras atuam no mercado internacional de


factoring, ajudando as empresas fornecedoras ao redor do mundo na gestão de
seu capital de giro, desde as grandes empresas até as pequenas.

DICAS

No mundo fnanceiro existe toda uma dinâmica para assegurar preços futuros,
entre estes, a taxa de câmbio futura, conhecida como swap cambial. Este tipo de produto
oferece garantias de preços estáveis de mercadorias comercializadas internacionalmente
às empresas, auudando-as nas suas necessidades da liquidez. Ficou curioso? O economista
Fernando Nogueira faz toda uma explicação de como funcionam as operações fnanceiras
para cobertura do risco cambiário, no seguinte site: <https://goo.gl/e415kt>.

52
TÓPICO 2 | PRINCÍPIOS FINANCEIROS E DE INVESTIMENTO

3.5 CASE DE USO DO MERCADO DE CAPITAIS EM EMPRESAS


PEQUENAS
O mercado de capitais pode ser usado de diversas maneiras em função da
necessidade do usuário deste mercado. A seguir vamos ver um exemplo mostrado
por uma das mais prestigiosas revistas de economia em nível internacional, The
Economist. Neste artigo relaciona-se como a compra de duplicatas de uma pequena
empresa que vende alimentos saudáveis para uma grande cadeia de supermercados
no Reino Unido consegue levantar liquidez para o giro de seu negócio.

Nesta história, o fornecedor, em função da política de pagamentos da


cadeia de supermercados, é obrigado a realizar suas vendas em prazos maiores
de 60 dias, porém, ele tem que pagar seus insumos à vista, apresentando um
problema de capital de giro e de fuxo de caixa. Tendo como base essa história,
o artigo apresenta a solução fnanceira para as necessidades de liquidez da
empresa com o uso da Tecnologia da Informação (TI) e toda uma logística de uso
de fundos, vamos dar uma olhada?

O ELO PERDIDO: A TECNOLOGIA ESTÁ REVOLUCIONANDO AS


FINANÇAS DA CADEIA DE SUPRIMENTOS (SUPPLY-CHAIN)

No ano de 2015, Kiddyum, uma pequena empresa de Manchester,


fornecedora de cardápios prontos congelados para crianças, assinou contrato para
vender em Sainsburry’s, uma grande cadeia de supermercados britânicos. Jayne
Hynes, a fundadora de Kiddyum, fcou empolgada. No entanto, o sucesso aconteceu
de maneira muito rápida, o que poderia ter gerado grande impacto no fuxo de
caixa dela, pois Sainsburry’s faz os pagamentos para seus fornecedores em prazos
de 60 dias, e Jayne Hynes deve pagar aos fornecedores dela em somente 30 dias.

Apesar disso, de fato, a Kiddyum, a empresa dela, recebe o pagamento


de suas vendas em questão de dias. Uma vez feita a aprovação de pagamento
pela Sainsburry, as contas a pagar são registradas na supply-chain da plataforma
fnanceira do supermercado, sistema de pagamentos administrada pela
empresa americana PrimeRevenue. O Royal Bank of Scotland (RBS) recolhe as
faturas pagas previamente pela Kiddyum. Logo, a Kiddyum tem que pagar uma

53
UNIDADE 1 | NOÇÕES ECONÔMICAS E FINANCEIRAS PARA O MERCADO DE CAPITAIS

tarifa, a qual, segundo Jayne Hynes, é dinheiro emprestado de sua própria conta,
ou vendido de suas contas a receber por meio de um desconto das vendas feitas
à cadeia de supermercados, transação fnanceira conhecida como factoring. A
moderna supply-chain fnanceira, agora com 25 anos de experiência, permite aos
fornecedores manterem-se em dia com suas capacidades de crédito - e baixar o
custo fnanceiro do capital de giro - dos fornecedores das grandes corporações.
As contas a pagar são liquidadas de seus balanços de pagamentos. Desse modo,
os compradores podem esticar seus termos de pagamento (vamos supor, de
60 para 90 dias), sabendo que os fornecedores possuem menor chance de ter
problemas de liquidez e interromper o fornecimento de mercadorias. Com
isso, os bancos pegam ativos fnanceiros de baixo risco.

As defnições da abundância fnanceira da supply-chain e sua escala não são


fáceis de determinar, mas é de comum acordo que seu crescimento é muito rápido.
A BCR publicações, serviço que faz reportagens sobre as fnanças das contas a
receber, estima que, ao fnal do ano 2014, o sistema fnanceiro e as operações de
factoring tiveram “uso de fundos” em torno de US$ 48 a 60 bilhões. Thomas Olsen, da
Bain, empresa consultora, apresenta (em um contexto mais amplo) que o mercado
está crescendo entre 15 a 25% ao ano nas Américas (América do Norte, Central e
do Sul) e entre 30 a 50% na Ásia, sendo que a indústria alimentar e do varejo são
as que têm maior crescimento. A Naveed Sultan, que dirige os setores de fnança
comercial e de tesouraria da Citigroup, diz que o movimento fnanceiro da supply-
chain é o setor com maior crescimento dentro da área das fnanças comerciais.

A demanda insatisfeita parece ser enorme. Um novo estudo feito por


Mercedes Delgado da escola de negócios de MIT (MIT’S Sloan School) e por Karen
Mills, de Harvard Business School, observou que as frmas norte-americanas
fornecendo outras empresas empregam 44 milhões de trabalhadores. Desses
trabalhadores, 26,8 estão envolvidos no comércio internacional.

Até agora, os programas de gestão fnanceira vêm focando nas grandes


corporações e seus fornecedores mais próximos. Entre os maiores obstáculos
para o crescimento estão: conhecer seu cliente e as normas contra a lavagem de
dinheiro. O Asian Development Bank (ADB) estima que há uma grande “brecha
fnanceira” no fnanciamento comercial, área relacionada, de até US$ 1,5 trilhões.
Anand Pande, dirigente do fnanciamento da supply-chain em iGTB (Intellect
Global Transaction Banking - empresa que fornece tecnologia bancária), fala que
o fnanciamento à supply-chain é “a terra dos sonhos ainda não realizados”.

Eles também enfrentam concorrência. Empresas de tecnologia estão


entrando forte nas fnanças da cadeia de suprimentos (supply-chain). Emprestadores
on-line de recursos fnanceiros vêm fazendo um impacto menor, se comparar
com plataformas de intermediação que estabelecem a ponte necessária entre
compradores e vendedores de recursos fnanceiros. A PrimeRevenue, por exemplo,
conecta 70 emprestadores, incluindo 50 bancos previamente cadastrados, com
mais de 25.000 fornecedores com valores de contas a cobrar, superiores a US$

54
TÓPICO 2 | PRINCÍPIOS FINANCEIROS E DE INVESTIMENTO

7 bilhões ao mês. Innervation Finance, empresa estabelecida em Nova York, faz


gestão de programas para compradores de insumos ofertando fnanciamento para
“diversos” tipos de fornecedores (por exemplo: empresas pequenas de minorias
étnicas, de mulheres, de descapacitados etc.), fornecedoras de insumos, de insumos
farmacêuticos e de recursos fnanceiros.

Hoje, há mais bancos que vêm confgurando programas. O Bank of Baroda,


banco público que é o quinto maior da Índia em termos de ativos fnanceiros,
começou a fazer isso há poucos meses. Litesh Majethia, que administra nesse
banco o negócio da supply-chain, reconhece que bancos concorrentes estão
entrando no negócio. No entanto, eles estão começando pelo fornecimento de
recursos fnanceiros com foco nas pequenas e médias empresas da Índia. Essas
empresas estão passando por uma brecha de US$ 400 bilhões, assim, há muito
espaço para crescer e um novo sistema digitalizado é uma grande vantagem.

Os bancos, no entanto, não conseguem acompanhar de maneira rápida


os avanços tecnológicos, se comparar com as grandes empresas de varejo, tal
como Amazon. Simbiose é a regra. Dois grandes bancos, HSBC e Santander,
vêm fazendo parcerias com Tradeshift, uma rede de faturamento, fnanciamento
e compras que conecta mais de 1,5 milhões de compradores e fornecedores ao
redor do mundo. O HSBC também vem juntando forças com GT Nexus, empresa
que faz plataforma global de gerenciamento da cadeia de suprimentos (supply-
chain). Os bancos podem aproveitar um novo grupo de clientes e as empresas
podem encontrar, nas redes de empresas de tecnologia, fnanciamento de
maneira mais fácil. No entanto, os bancos locais menores poderiam perder
mercado enquanto o mercado continua se expandindo, pois, bancos maiores
conseguem emprestar com custos fnanceiros mais baratos.

A tecnologia está abrindo mais possibilidades. A C2FO, outra empresa


de tecnologia fnanceira, consegue oferecer pedidos de pagamentos dos
fornecedores conforme as datas e juros que sejam mais convenientes para eles.
O fnanciamento típico da cadeia de suprimentos (supply-chain), diz Sandy
Kemper, chefe da C2FO, é muito menos fexível. Sua plataforma fca disponível
para tecnologias menores, que poderiam alinhar o fuxo de dados e dinheiro de
uma maneira mais próxima ao longo do fuxo das mercadorias.

FONTE: <https://www.economist.com/news/finance-and-economics/21730150-squeezed-
suppliers-and-big-corporate-buyers-stand-benefit-technology>. Acesso em: 7 set. 2018.

O que a leitura do artigo traz de interessante sobre a gestão de capital


de giro das empresas e o mercado fnanceiro? Basicamente, ele expõe as novas
ferramentas fnanceiras disponíveis graças aos grandes avanços tecnológicos na
área de TI e análise de dados. Neste caso, a cadeia de supermercados Sainsburry’s
possui uma parceria com uma empresa fnanceira que oferece factoring
(compradora de contas a receber), facilitando a necessidade de capital de giro
(liquidez) de seus fornecedores, no case, a empresa Kiddyum. Hoje, o tripé cliente,
mercado fnanceiro (factoring) e fornecedores é dinâmico e contínuo. Esse fato é
facilitado pelos grandes avanços da TI e análise de dados em grande escala.

55
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• A disponibilidade e o interesse real de emprestar por parte dos investidores


fca em função de dois grandes fatores: o nível de risco que o investidor esteja
disposto a aceitar; e o nível de rentabilidade que o investidor esteja aspirando,
ou seja, a taxa de rendimento.

• A taxa da dívida pública é a taxa base de todas as demais taxas da economia


brasileira que vão se escalonando em função de seu risco. Essa taxa com menor
risco no Brasil é conhecida como Taxa Básica SELIC.

• No mercado fnanceiro há diversos papéis de dívida se negociando, desde


títulos de dívida do governo, títulos de dívida dos bancos comerciais, e de
empresas grandes que atuam na Bolsa de Valores.

• A taxa que os investidores estão dispostos a aceitar, como nível de rentabilidade,


em função do nível de risco e rendimento desejado, é conhecida como a Taxa
Mínima de Atratividade (TMA).

• Um dos usos mais comuns dos juros simples é o cálculo de descontos sobre
o principal de um valor futuro, muitas vezes esse tipo de título de valor é
negociado no mercado de valores.

• Grande parte dos valores de investimentos ao redor de mundo vem dos fundos
de investimentos, os quais administram planos de investimento de pequenos
investidores e de administradores de fundos de aposentados. Sendo que o
cálculo fnanceiro desses rendimentos é feito por meio da metodologia de
capitalização composta.

• Na negociação de títulos de valor, na maioria das vezes é negociada uma


carteira de valores que possuem valores e datas de vencimentos diferentes,
nesses casos, aplica-se o conceito de ponderação de carteira.

56
AUTOATIVIDADE

1 O que signifca Taxa Selic e qual a sua relação com as demais taxas de juros
da economia brasileira?

2 Em função do momento conjuntural da própria dinâmica econômica, o


Banco Central tem como ferramenta o uso da Taxa Selic, que é basicamente
a taxa base que defne as demais taxas de juros da economia brasileira
conforme o nível de risco de devedor. O Banco Central tem a gestão da Selic
Meta. Explique-a.

3 Os investidores procuram rendimentos expressos em taxas, explique o que


signifca a Taxa Mínima de Atratividade (TMA).

4 As operações de curto prazo no mercado de capitais envolvem diversas


operações, entre elas, a compra e venda de Certifcados de Depósitos e
factoring. Explique:

• Que tipo de cálculo fnanceiro essas operações utilizam?


• Qual poderia ser um ponto referencial, em termos de taxas, para a tomada
de decisão.

5 Suponha que uma empresa está precisando levantar fundos para seu giro
de capital e possui R$ 119.000,00 em vendas a prazo. Seu Banco Comercial
consegue oferecer para ela realizar uma operação de factoring, considerando
a seguinte faturação do quadro abaixo. Qual é o valor líquido que a empresa
consegue levantar?

Vencim. Valor Desconto


Valor Duplicatas
dias Taxa/Mês Taxa/dia Desconto
1 R$ 16.000,00 23 2,30%

2 R$ 18.000,00 29 2,30%

3 R$ 35.000,00 35 2,30%

4 R$ 18.000,00 40 2,30%

5 R$ 18.000,00 48 2,30%

6 R$ 14.000,00 55 2,30%

R$ 119.000,00

Valor líquido

FONTE: O autor

57
UNIDADE 1 TÓPICO 3

DINÂMICA DO INVESTIMENTO FINANCEIRO

1 INTRODUÇÃO
O foco deste tópico é entender alguns fundamentos de análise fnanceira.
Neste ponto de seus estudos, ao longo de conceitos econômicos e de cálculo
fnanceiro, você já possui a bagagem necessária para discernir quais os
fundamentos importantes do mercado fnanceiro de capitais.

Neste último tópico da Unidade 1, a ideia é entender os principais critérios


da análise de investimento de valores mobiliários (papéis com valor monetário),
já nas unidades 2 e 3 o estudo focará na estrutura e normativa fnanceira e nos
produtos, tributação de valores mobiliários e instrumentos disponíveis no
mercado fnanceiro de capitais.

Para ter melhores elementos de análise desses tópicos interessantes,


a seguir vamos estudar a dinâmica deste mercado em função das condições
econômicas e critérios básicos de investimento fnanceiro.

ATENCAO

Talvez esteua se perguntando o que signifca mesmo “Valores Mobiliários?


“Valores mobiliários são documentos emitidos por entidades públicas ou privadas. Compostos
por um conuunto de direitos e deveres aos titulares e que podem ser comprados e vendidos.”
<http://mercado-de-valores.info/valores-mobiliarios.html>.

59
UNIDADE 1 | NOÇÕES ECONÔMICAS E FINANCEIRAS PARA O MERCADO DE CAPITAIS

2 ANÁLISE COMPARATIVA DE VALORES MOBILIÁRIOS


Para a escolha mais correta para seus interesses, riscos ponderados e
necessidades de rendimento, os investidores devem fazer uma análise relativa
de várias opções de investimentos a serem comparadas com um referencial de
investimento, mensurando os desempenhos conforme um referencial de mercado.
Essa dinâmica de análise fnanceira é conhecida como “benchmark fnanceiro”.
Conforme o site InfoMoney:

Na economia não é diferente. Os investidores costumam acompanhar


o progresso dos ativos por meio de índices, que acabam servindo de
benchmark (medida de referência) para aplicações fnanceiras de risco
parecido. (D’ÁVILA, 2016)

Assim, esse acompanhamento de análise comparativo é determinado por


meio de índices de desempenho estabelecidos pela própria economia e mercado
fnanceiro, segundo Bruni (2009, p. 94):

O benchmark representa um referencial para comparação. A depender


do produto de investimento analisado, diferente poderia ser o padrão
empregado na comparação dos desempenhos.
• Para produtos de investimentos que busquem acompanhar as taxas
de juros vigentes no mercado, um bom referencial ou benchmark
seria o Certifcado de Depósito Interbancário (CDI) ou a taxa Selic.
• Para produtos de investimento cuja rentabilidade esteja atrelada
a variações da moeda, tais como os fundos cambiais, um bom
benchmark seria a taxa de câmbio.
• Para produtos de investimento que busquem manter o poder
de compra do dinheiro em reais, um benchmark apropriado seria
o IPCA ou IGP-M, já que são índices de preços que registram a
evolução dos preços como medida síntese da inflação.
• Para produtos de investimentos baseados em ações, um possível
benchmark é o Ibovespa ou o IBrX, índices formados por ações mais
negociadas na Bovespa e que refetem o comportamento do mercado.

Observe que todos esses índices são um refexo do desempenho econômico


do momento do investimento. Lembre-se de que seus fundamentos você estudou
nos tópicos anteriores, com exceção do benchmark Ibovespa, que você irá estudar
nas próximas unidades. Esses índices você pode usá-los como pontos referenciais
de análise comparativa (benchmark) de investimentos.

Você se lembra da Taxa Mínima de Atratividade (TMA) estudada no


tópico anterior? Essa TMA é justamente isso! Um benchmark em função de um
ponto referencial de análise comparativa de desempenho de algum tipo de índice
de mercado que esteja vinculado ao tipo de investimento em questão. Nesse
sentido, a TMA escolhida pelo investidor fcará em função de vários elementos,
sendo que há dois fundamentais: o nível de risco e o nível de rendimento
desejado. Se um investidor desejar um nível de risco bem baixo, qual seria uma
TMA referencial? Seria a Taxa Selic, veja a seguir:

60
TÓPICO 3 | DINÂMICA DO INVESTIMENTO FINANCEIRO

Quando associada a investimentos fnanceiros, a TMA costuma


representar a rentabilidade do ativo livre de risco (risk-free asset)
de uma economia, também chamada de “taxa livre de risco“.
Normalmente considera-se como ativos livres de risco títulos públicos
pós-fxados na taxa básica de juros da respectiva economia. No caso
do Brasil podemos considerar como ativo livre de risco o título público
“Tesouro SELIC”, antiga LFT (Letra do Tesouro Nacional), cuja
rentabilidade está atrelada à taxa SELIC (PRATES, 2017).

Assim, é fundamental na análise de investimentos ter um ponto referencial


que seja relativo ao investimento em questão, e em função disso, o investidor
poderá determinar sua TMA. Mas quais os elementos para se escolher uma
determinada TMA? Essa TMA deverá ser escolhida conforme a determinação de
vários fatores, os quais vamos abordar a seguir.

3 FATORES DA ANÁLISE DE INVESTIMENTOS


Antes de abordar os fatores que determinam uma TMA referencial,
devemos nos perguntar qual a defnição de investimento? Em termos simples, ele
é um sacrifício no presente com o objetivo de obter uma série de benefícios no
futuro. Em termos análogos, o estudo de seu curso universitário é considerado
um investimento! Porque no presente você está sacrifcando recurso monetário
e tempo livre que poderiam satisfazer suas necessidades e desejos de hoje.
Entretanto, esse sacrifício irá lhe servir para adquirir conhecimento, competências
e diploma que serão de muita utilidade no seu futuro, com diversos benefícios,
tanto pessoais como profssionais, lá na frente.

Agora, em termos fnanceiros, esse sacrifício no presente (investimento)


envolve três elementos importantes: liquidez disponível a ser sacrifcada;
risco do valor mobiliário; e rendimento fnanceiro, taxa de retorno. Esses três
elementos geram a base para se estabelecer uma TMA de análise comparativa
entre opções de investimentos: Liquidez + Risco + Retorno→ Eles geram os
elementos base para análise comparativa de investimentos, tal como a Taxa
Mínima de Atratividade (TMA);

3.1 LIQUIDEZ
A liquidez do investimento refere-se à quantidade de valor monetário,
o capital disponível para o investimento e o tempo em que se deseja recuperar
esse capital. Em função disso, o investidor pondera qual a real capacidade de
liquidar o valor mobiliário (papel valor), ou seja, a facilidade de vender esse
“investimento” para levantar caixa, exemplifcando:

• Se ele prever que irá precisar desse capital daqui a seis meses, inclusive antes
disso, irá fazer um investimento de papel que possa ser facilmente convertido
em caixa, com pouco valor de desconto fnanceiro.

61
UNIDADE 1 | NOÇÕES ECONÔMICAS E FINANCEIRAS PARA O MERCADO DE CAPITAIS

• Se prever que irá precisar desse capital daqui a cinco anos, ele irá analisar
opções de investimento que gerem rendimentos programados em períodos de
tempos maiores, com dívidas das empresas de longo prazo ou dívidas públicas.
Esses papéis até poderiam ser liquidados, mas o custo de desconto fnanceiro
poderia ser maior.
• Se ele prever que sua necessidade de recuperar o capital seja por meio de uma
análise de rendimentos de longo prazo, logo, poderia optar pela compra de
ações. A capacidade de liquidar esse papel valor será mais em função do valor
relativo da empresa no mercado, e isso dependerá de uma série de fatores a
serem estudados nas próximas unidades. As ações sendo valores que podem
oscilar muito, a decisão de investimento é feita em função das perspectivas de
rentabilidade da empresa e não na necessidade de levantar caixa no curto prazo.

Assim, um dos elementos de decisão fca em função das necessidades de


liquidez do investimento em questão, segundo Bruni (2009, p. 112):

A liquidez refere-se ao tempo de manutenção do investimento,


podendo estar associado à difculdade de venda ou realização dos
ativos. Quanto menor a liquidez, maior o tempo do investimento ou a
difculdade para sua realização, sendo o inverso verdadeiro. Exemplo,
diz-se que a liquidez de investimentos feitos em alguns imóveis é
baixa, em função da maior difculdade de vendê-los.

Observe que o autor fala de “difculdade para sua realização”, isso se refete
no custo de liquidar um papel valor, a menor liquidez, maior será o custo do desconto
fnanceiro desse papel. Uma vez defnido o tempo de recuperação desse capital a ser
investido, o seguinte elemento é ponderar o nível de risco do investimento.

3.2 NÍVEIS DE RISCO


Qual o signifcado de risco? Ele pode ser defnido como qualquer
adversidade que possa vir a acontecer, e como resultado disso, nossas perspectivas
sobre um assunto sejam menores do cenário esperado. Segundo Bruni (2009,
p. 112), o risco: “[...] associa-se ao acontecimento de um resultado diferente do
esperado e em que geralmente as probabilidades de ocorrência dos múltiplos
resultados possíveis são conhecidas”. No cenário fnanceiro há uma série de
fatores de risco, entre eles, os mais visuais e ponderáveis: risco de mercado, risco
de pagamento (crédito), risco de liquidez.

3.2.1 Risco de mercado


Existem vários fatores no mercado e isto muito depende do tipo de
investimento mobiliário que esteja em avaliação. Em termos referenciais, este tipo
de risco está atrelado ao comportamento do preço do ativo conforme as condições
econômicas no mercado.

62
TÓPICO 3 | DINÂMICA DO INVESTIMENTO FINANCEIRO

Exemplifcando, se você tiver ações de uma grande empresa que possua altos
volumes de empréstimos em bancos do exterior, logo, uma valorização do dólar
poderia reduzir as perspectivas de rentabilidade desta empresa, não é mesmo? O
preço da ação desta empresa poderia perder valor de mercado, consequentemente,
o valor do capital investido por você nessa empresa perderá valor.

Assim, para conseguir visualizar os riscos de mercado envolvidos em um


determinado ativo fnanceiro, é necessário analisar e identifcar fatores que possam
vir a oscilar e impactar na dinâmica do valor desse ativo, entre os grandes fatores
de risco nos mercados fnanceiros temos: mercado de ações, taxa de câmbio, taxa de
juros, derivados futuros dos preços das commodities, entre outros.

Veja a seguir a experiência da empresa Sadia no ano 2008, nesse ano ela
tinha um alto volume de investimento fnanceiro no mercado de preços futuros
em moeda estrangeira, especifcamente US$, isto é, derivados futuros dessa
moeda. Quando a grande crise fnanceira do ano 2008 estourou nos Estados
Unidos e logo se espalhou para o resto do mundo, a empresa de repente se viu
em uma situação da qual não conseguiria sair. Resultado? A empresa veio a falir
e seus acionistas perderam o valor de suas ações, hoje, a empresa opera sob a
administração de outro grupo empresarial, segundo O Globo Economia:

DICAS

Ficou curioso sobre a Sadia? Veua o artigo aqui: <https://oglobo.globo.com/


economia/derivativos-levam-sadia-preuuizo-de-248-bilhoes-em-2008-3117146>. Acesso em
6 Nov. 2018.

Essa experiência da empresa Sadia é um claro exemplo de riscos de


mercado externo, entre os grandes fatores disto tem-se: oscilações na taxa de
câmbio, mudanças nas perspectivas macroeconômicas das grandes economias
(Estados Unidos, União Europeia, China, entre outros), riscos na geopolítica nos
países onde se tem investimentos fnanceiros, regulações, guerras comerciais etc.

Ao longo do ano 2018 a economia mundial vem experimentando uma


deterioração nas relações comerciais dos Estados Unidos com o resto do mundo,
especialmente com a China. Resultado? Alto risco de guerra comercial ao redor
do mundo e grande impacto nas economias emergentes, entre elas o Brasil.

63
UNIDADE 1 | NOÇÕES ECONÔMICAS E FINANCEIRAS PARA O MERCADO DE CAPITAIS

3.2.2 Risco de pagamento – crédito


Este tipo de risco está vinculado a possíveis perdas em função da falta
de pagamento, seja dos clientes dos bancos comerciais, de uma grande empresa
ou da dívida pública de um país, ou seja, este risco vincula a possibilidade a
recursos monetários que podem não ser recebidos no momento do vencimento.
Aqui podemos visualizar três grandes grupos de tipos de risco de crédito:

• Risco de crédito país. Ele mede o nível de risco que a dívida pública de um
país possa ter indícios de inadimplência. Quando a economia dos países está
indo muito mal, logo, eles forçam os credores a negociarem suas dívidas e seu
risco país dispara, no ano 2018 isso vem acontecendo com a Argentina. Quanto
menor o risco país, menor será sua taxa básica de juros, no caso do Brasil, a
Selic. Os Estados Unidos são o país que possui o menor risco.
• Risco de crédito de empresas. Para diminuir o custo fnanceiro, as grandes
empresas emitem papéis de dívida diretamente no mercado de valores, esses
papéis são conhecidos como debêntures, assim, este tipo de risco de crédito mede
a possibilidade de não honrar os compromissos dessas empresas. Então, se uma
grande empresa começar a não pagar os vencimentos de sua dívida, os detentores
desses papéis irão sofrer perdas fnanceiras vinculadas ao risco de crédito.
• Risco de crédito dos clientes dos bancos comerciais. Os bancos estão
constantemente controlando a inadimplência de sua carteira de ativos
(empréstimos para seus clientes), sendo que esses índices de inadimplência
estão constantemente monitorados pelo mercado. Assim, se o mercado
enxergar que a porcentagem de inadimplência está aumentando, esse índice
piora e os papéis fnanceiros do banco (ações, debêntures, CDI’s etc.) em
questão começam a perder valor de mercado.

DICAS

No mercado de capitais há uma série de ratings que medem o nível de risco


dos países, das grandes empresas e das instituições fnanceiras, aqui no Brasil e no resto do
mundo. Os ratings mais conhecidos são: Standard & Poor's, S&P; Perspectiva; Moody’s; Fitch;
entre mais outras. Veua a seguir no seguinte link a classifcação de risco dos países: <https://
pt.tradingeconomics.com/country-list/rating>.

64
TÓPICO 3 | DINÂMICA DO INVESTIMENTO FINANCEIRO

3.2.3 Risco de liquidez


O risco de liquidez de investimento mobiliário (título valor) faz referência
ao tempo de vigência desse investimento e o risco de não conseguir vender, e
liquidar (levantar caixa) o valor do título no presente. Nesse sentido, quanto maior
o tempo do investimento, menor será a capacidade de gerar liquidez desse título
valor, ou seja, a difculdade de executar a venda e levantar liquidez. Exemplo,
demora mais e custa mais (desconto maior) vender um título de longo prazo de
dívida de uma empresa, que liquidar um título da dívida pública. Inclusive, dentro
do contexto de títulos de dívida de uma grande empresa podem existir diferentes
níveis de risco, em função das condições de pagamento. Exemplifcando:

• Um título valor de cinco anos com pagamento de juros semestrais e do capital,


quando de seu vencimento, será mais custoso em termos do desconto, que
• Um título de cinco anos com pagamento de juros e amortização do capital
semestralmente.

Neste caso, o risco de liquidez nestes dois exemplos pondera o tempo


de recuperação desses ativos fnanceiros, o risco de pagamento da empresa, e as
condições do mercado (aceitação ou falta de mercado) para liquidar esses ativos
antes de seu vencimento. Essa difculdade será refetida no valor de desconto que
o dono desse título valor estará disposto a aceitar para vender e liquidar o ativo
fnanceiro em questão.

No mercado de capitais existem diversos tipos de títulos valor sendo


negociados todos os dias, desde os mais seguros até os que possuem maior risco.
Lembre-se: a maior risco, maior será também a taxa de retorno, ou a Taxa Mínima
de Atratividade (TMA) exigida pelo investidor para esse tipo de título valor. No
mercado de renda fxa no Brasil, quais seriam os títulos com menor risco? Os
títulos de dívida pública brasileira, marcados pela Taxa Selic. E os de menor risco
no mercado internacional? Os títulos de dívida pública dos Estados Unidos.

A modo de exemplo, a seguir vamos observar como, à medida que vai


aumentando o nível de risco, vai aumentando também a taxa de retorno e o tempo
de vencimento de títulos de renda fxa no mercado de capitais dos EUA. Esse
nível de risco vai sendo medindo em função de: “(1) um mercado que minimize
o prazo necessário para sua conversão em caixa e (2) segurança do principal
(capital), o que signifca apresentar perda nula ou baixa de valor ao longo do
tempo.” (GITMAN, 2010, p. 549).

65
UNIDADE 1 | NOÇÕES ECONÔMICAS E FINANCEIRAS PARA O MERCADO DE CAPITAIS

QUADRO 11 – RISCO E RENTABILIDADE DE TÍTULOS VALOR


DE RENDA FIXA DOS EUA
Prazo de Risco e Rendimento em
Papel Emitente Descrição
recebimento Retorno 23/07/2017
Títulos Públicos
Emitidas
semanalmente
Tesouro em leilão, Mínimo,
4, 13 e 26
Treasury Bills norte- forte mercado quase livre 4,97%
semanas.
americano secundário de risco.
(bens
líquidos).

Taxas de juros
declaradas, Risco baixo,
Tesouro juros pagos um pouco
Treasury notes norte- semestralemente, 1 a 10 anos. acima dos 5,03%
americano forte mercado Treasury
secundário (bens
líquidos).
Bills.

Risco um
Não fazem
Órgãos do pouco mais
Emissões de parte das Nove meses
governo elevado, mas 5,17%
órgãos federais obrigações do a 30 anos.
federal ainda com
Tesouro.
pouco risco.
Títulos Privados

Valores e
vencimentos Mais elevado
Certifcados de Bancos ajustados. 1 mês a 3 do que o risco
de papéis 4,95%
Depósitos (CDs) comerciais Elevado anos.
Mercado governamentais
Secundário.

Sociedade
Notas por ações Obrigações Mais
Promissórias com elevado não 3 a 270 dias. elevado do 5,23%
Comerciais nível de garantidas. que os CDs.
crédito
Garantia
bancária para
uma transição
comercial.
Comparável
Aceites bancários Bancos Se quitar 30 a 180 dias. 5,31%
aos CDs.
desconto
em relação
ao preço do
vencimento.
Depósitos
em moeda Elevado por
causa da pouca
Depósitos em Bancos estrangeira. 1 dia a 3
regulamentação, 5,36%
eurodólares estrangeiros Mercado anos e pelo risco de
secundário câmbio.
ativo.

66
TÓPICO 3 | DINÂMICA DO INVESTIMENTO FINANCEIRO

Variável, mas
Administração Inexistente, podendo ser
Fundos Mútuos Gestão profssional dependendo mais elevado
do mercado profssional de carteiras. da decisão que os papéis 4,98%
monetário de carteira Liquidação do governamentais
imediata. e do que os
investidor. CDs.

Adequado às
Acordos de Bancos e/ou
Acordos de necessidades
recompensa distribuidoras Variável 5,13%
(compromissadas) de valores recompra. do
comprador.

A taxa básica de juros nesse momento era de 8,25%


Rendimentos obtidos para vencimentos de três meses de cada título
Aqui foi usada uma emissão com três meses até o vencimento da National Mortage Association (Fannie
Mae).
Foi usado o Fidelity Cash Resenves Fund com vencimento médio de 51 dias na ausência de dados de
rendimento médio.

FONTE: Adaptado de Wall Street Jornal (24 de julho de 2007, P.c6,


apud Gitman, 2010, p. 571)

Nesse quadro, observe que fca bem sistematizada essa correlação entre
maior prazo, menor liquidez, maior risco e maior rentabilidade, partindo da base
dos títulos mais seguros do mercado de capitais dos Estados Unidos, isto é, os
títulos do Tesouro (dívida pública). No Brasil, a estrutura dos títulos e seus níveis
de risco são bem semelhantes aos mostrados no quadro.

4 BENCHMARK E NECESSIDADES DE INVESTIMENTO


Qual o objetivo do investidor no momento de levar em consideração
opções de investimento? Ele pode ter diversos objetivos de investimento, desde
a necessidade de aproveitar rendimentos fnanceiros de um saldo disponível em
caixa por um par de meses, até grandes valores de investimento com prazos maiores
de cinco anos. Entretanto, como um todo, em função dos objetivos defnidos, os
investidores procuram uma ponderação entre risco, retorno e liquidez atrelados
a um índice como benchmark fnanceiro para determinar a TMA desejada. Como
regra de medição de risco e tempo:

Quanto menor o prazo disponível para a aplicação dos recursos ou


quanto menor o nível de tolerância ao risco, mais conservadora e com
maior liquidez deverá ser a alternativa de investimento sugerida.
Por outro lado, investidores com prazos maiores e maiores níveis de
tolerância ao risco podem colocar seus recursos em alternativas mais
arrojadas, com maior risco, mas que oferecem maior perspectiva de
rentabilidade futura. (BRUNI, p. 114, 2009)

67
UNIDADE 1 | NOÇÕES ECONÔMICAS E FINANCEIRAS PARA O MERCADO DE CAPITAIS

Essas opções “mais arrojadas” podem ser alternativas de investimento


no mercado de ações que oferecem rentabilidades maiores que do mercado de
renda fxa, mas tanto o rendimento como o valor do capital têm o risco de oscilar
bastante, aí a necessidade de ter especialistas que ponderam as perspectivas do
mercado de ações e assim ofertam no mercado de capitais uma série de portfólios
de ações em função do nível de risco e tendências tecnológicas das empresas, não
só em nível nacional, mas internacionalmente.

Assim, em função desses três fatores - risco, retorno e liquidez –, os


investidores determinam o horizonte de investimento, isto é, o prazo desejado
do investimento. Em termos fnanceiros, os investimentos de longo prazo
determinam um horizonte de maior risco, com diversos cenários possíveis que
podem mudar as perspectivas de retorno do título valor. No gráfco a seguir você
poderá enxergar a correlação entre rentabilidade e níveis de risco apresentados
nas diversas opções conforme o tipo de investimento.

GRÁFICO 7 – RELAÇÃO RISCO VERSUS RETORNO

FONTE:<https://bit.ly/2D0sypf>. Acesso em: 24 out. 2018.

Desse gráfco fca clara a correlação entre rentabilidade e risco, os papéis


de renda fxa possuem um menor risco em função de sua previsibilidade dos
retornos tanto do capital investido como do rendimento esperado. Embora os
imóveis não possam garantir um retorno fxo, eles são considerados um referente
tangível do capital investido, neste tipo de investimento o fator demora na venda
gera difculdade de levantar caixa, eis sua correlação com a sua capacidade de
gerar liquidez. Já o investimento em ações é feito em função de uma análise
detalhada de várias agências de classifcação de risco que conseguem padronizar
em níveis de risco as ações das empresas negociadas na bolsa de valores. Veja a
seguir a padronização do risco de uma das grandes agências de ratings, a Standard
& Poor's Brasil, tanto para empresas como para risco da dívida pública dos países.

68
TÓPICO 3 | DINÂMICA DO INVESTIMENTO FINANCEIRO

QUADRO 12 - RATINGS PARA TÍTULOS DE LONGO PRAZO, EXEMPLO


DEBÊNTURES DE GRANDES EMPRESAS
Categoria Defnição
Uma obrigação avaliada em ‘AAA’ tem o rating mais alto atribuído pela S&P
AAA Global Ratings. A capacidade do devedor de honrar compromissos fnanceiros
relativos à obrigação é extremamente forte.
Uma obrigação avaliada em ‘AA’ difere ligeiramente das obrigações com o rating
AA mais alto. A capacidade do devedor de honrar seus compromissos fnanceiros
relativos à obrigação é muito forte.
Uma obrigação avaliada em ‘A’ é de certa forma mais suscetível aos efeitos adversos
de mudanças nas circunstâncias e nas condições econômicas do que as obrigações
A
nas categorias mais altas. No entanto, a capacidade do devedor de honrar seus
compromissos fnanceiros relativos à obrigação ainda é forte.
Uma obrigação avaliada em ‘BBB’ apresenta parâmetros de proteção adequados.
No entanto, é mais provável que condições econômicas adversas ou mudanças
BBB
nas circunstâncias enfraqueçam a capacidade do devedor de honrar seus
compromissos fnanceiros relativos à obrigação.
Obrigações avaliadas em ‘BB’. ‘B’, ‘CCC’, ‘CC’ e ‘C’ apresentam características
BB;
especulativas. ‘BB’ indica o menor grau de especulação e ‘C’, o maior. Embora
B;
essas obrigações provavelmente apresentem algumas características de qualidade
CCC;
e proteção, estas podem ser contrabalançadas por grandes incertezas ou pela
CC; e C
maior exposição a condições adversas.
Uma obrigação avaliada em ‘BB’ é menos vulnerável ao não pagamento do que
outras emissões em grau especulativo. No entanto, enfrenta grandes incertezas
BB no momento ou exposição a condições adversas de negócios, fnanceiras ou
econômicas que poderiam afetar a capacidade do devedor de honrar seus
compromissos fnanceiros relativos à obrigação.
Uma obrigação avaliada em ‘CCC’ é atualmente vulnerável ao não pagamento e
dependente de condições favoráveis de negócios, fnanceiras e econômicas para o
CCC devedor honrar seus compromissos fnanceiros relativos à obrigação. No caso de
condições adversas de negócios, fnanceiras ou econômicas, o devedor provavelmente
não será capaz de honrar seus compromissos fnanceiros relativos à obrigação.
Uma obrigação avaliada em ‘CC’ está, no momento, altamente vulnerável ao não
pagamento. O rating ‘CC’ é atribuído quando o default ainda não ocorreu, mas a
CC
S&P Global Ratings espera que seja praticamente certo, independentemente do
tempo previsto para que se concretiza.
Uma obrigação avaliada em ‘C’ é, no momento, altamente vulnerável ao não
C pagamento, e esperamos que a obrigação apresente senioridade relativa inferior
ou recuperação total inferior àquelas das obrigações que possuem rating mais alto.
Uma obrigação avaliada em ‘D’ está em default do pagamento ou em descumprimento
de uma promessa imputada. Para instrumentos não híbridos de capital, a categoria
de rating ‘D’ aplica-se quando os pagamentos de uma obrigação não são efetuados
no prazo de vencimento, salvo se a S&P Global Ratings acreditar que serão realizados
dentro de cinco dias úteis na ausência de qualquer período de carência, dentro
D
do período de carência, ou dentro de 30 dias corridos. O rating ‘D’ também será
utilizado mediante o registro de uma ação de falência ou tomada de ação similar e
quando o default de uma obrigação é praticamente certo, por exemplo, em função
de provisões de suspensão automática (stay provisions). O rating de uma obrigação é
rebaixado para ‘D’ no evento de uma oferta de troca de dívida distressed.

69
UNIDADE 1 | NOÇÕES ECONÔMICAS E FINANCEIRAS PARA O MERCADO DE CAPITAIS

* Os Ratings de ‘AA’ a ‘CCC’ podem ser modifcados pelo acréscimo de um sinal de mais (+) ou de
menos (-) com o intuito de demonstrar sua posição relativa dentro das principais categorias de rating.

FONTE: <https://www.standardandpoors.com/pt_LA/delegate/
getPDF?articleId=2065204&type=COMMENTS&subType=REGULATORY>.
Acesso em: 6 nov. 2018.

QUADRO 13 - MAPEAMENTO HIPOTÉTICO DE RATINGS NO BRASIL

FONTE: <https://www.standardandpoors.com/pt_LA/delegate/
getPDF?articleId=1498613&type=COMMENTS&subType=REGULATORY>.
Acesso em: 6 nov. 2018.

Por último, apresenta-se o tipo de investimento que gera maior risco,


mas gera também a maior rentabilidade, isto é, o negócio próprio e/ou com
um grupo de sócios. É neste tipo de pequenas empresas que nascem muitos
empreendimentos que logo poderiam virar grandes empresas que negociam suas
ações e debêntures na bolsa de valores. Como grandes empresas ou conceito de
negócios que nasceram do fruto da inovação e força de empreendimento tem-se
a Microsoft, a Apple, Amazon, ultimamente Netfix etc.

70
TÓPICO 3 | DINÂMICA DO INVESTIMENTO FINANCEIRO

TE
IMPORTAN

No âmbito nacional se tem vários exemplos, como a Weg <http://old.weg.net/


br>, o empreendimento Eisenbahn que foi vendido para uma holding do setor de cerveuas
<https://www.eisenbahn.com.br> , entre outras. Todas essas empresas e mais outras são as
geradoras de inovações e potenciais empresas que poderiam entrar no mercado de capitais.

Até aqui chegamos com nossos estudos dos fundamentos econômicos e


fnanceiros do mercado de capitais. O foco desta unidade foi justamente isso,
que você possa captar os conceitos e fundamentos para conseguir entender
a base da dinâmica do mercado de capitais. Tanto no contexto das correlações
do ambiente econômico, o uso de taxas referenciais usadas e a dinâmica dos
horizontes prazo versus risco. Nas próximas unidades abordaremos a estrutura
e normativa fnanceira nacional, e os produtos conforme sua precifcação no
mercado fnanceiro.

Antes de iniciar a Unidade 2, sugerimos a leitura sobre o impacto do


mercado de capitais na capacidade de gerar emprego e renda na economia real
nos próximos anos aqui no Brasil. Este exemplo nos mostra que o mercado de
capitais possui uma correlação importantíssima com a economia real dos países.
Sem a força e dinâmica deste mercado, a economia dos países seria muito menos
desenvolvida. Já observou os países que se fecham à economia internacional de
hoje? Eles estão anos atrás e com índices de pobreza altos.

71
UNIDADE 1 | NOÇÕES ECONÔMICAS E FINANCEIRAS PARA O MERCADO DE CAPITAIS

LEITURA COMPLEMENTAR

VALOR ECONÔMICO: EXPANSÃO DO MERCADO DE CAPITAIS


ACELERA EMPREGO E RENDA, DIZ ESTUDO

Um mercado de capitais mais forte no Brasil poderia criar 1,7 milhão


de empregos a mais e aumentar em 11,6% a renda per capita do país ao longo
de cinco anos. As estimativas fazem parte de um estudo feito pela consultoria
Accenture Strategy e representam uma pequena amostra do impacto real
que a implementação de uma agenda para desenvolvimento do ambiente de
fnanciamento privado de longo prazo poderia causar.

O levantamento feito pela consultoria para a Associação Brasileira das


Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) e a B3 busca desvendar
os efeitos palpáveis para a economia do fortalecimento e desenvolvimento do
mercado de capitais. O estudo será apresentado hoje no Congresso Brasileiro do
Mercado de Capitais 2018, em São Paulo.

Segundo o documento, possibilitar a empresas de vários tamanhos


acessar fontes privadas para fnanciamento de longo prazo, além de aumentar a
própria disponibilidade de recursos a um custo menor, ajudaria as companhias a
viabilizar mais projetos e expandir a produção, o que impulsionaria a criação de
empregos e aumento da renda.

A pesquisa levou em conta a experiência internacional e os resultados


alcançados a partir de medidas semelhantes às defendidas pela Anbima e B3. A
existência de mercados de capitais desenvolvidos tem sido amplamente apontada
como fator para o avanço socioeconômico dos países, pondera o estudo.

72
TÓPICO 3 | DINÂMICA DO INVESTIMENTO FINANCEIRO

Cálculos feitos a partir dos dados de vários países mostram que a expansão
dos mercados de ações e de títulos privados poderia levar a um aumento extra
de 21%, ou R$ 294 bilhões, nos investimentos em infraestrutura entre 2018 e 2022
no Brasil. Apenas em saneamento, eletricidade, transporte e telecomunicações
haveria R$ 89 bilhões adicionais. O estudo leva em conta um crescimento
moderado da economia brasileira de 2% a 3% anuais, visto como mais provável
pela Anbima nos próximos anos.

Outro efeito seria o aumento extra de 12% no PIB per capita, para R$ 38,8
mil em cinco anos. Sem nenhum impulso ao mercado de capitais, a Anbima prevê
um PIB per capita de R$ 34,6 mil em 2022, ou seja, R$ 4 mil a menos.

Vídeo: Saiba mais sobre a agenda para impulsionar o mercado de capitais


<htps://www.youtube.com/watch?v=pD8FHNf2rcQ>

No cenário moderado de crescimento, o estudo mostra que, se a agenda de


desenvolvimento for implementada, o valor de mercado das empresas listadas em
bolsa sairia de 52,4% do PIB neste ano para 73% do PIB em 2022. O estoque de títulos
privados cresceria de 27,6% do PIB para 31,2% do PIB no mesmo período. Em cinco
anos, diz a pesquisa, o mercado de capitais brasileiro cresceria R$ 3,7 trilhões. Em
2029, chegaria à mesma média de um grupo de países selecionados, com 130,4% do
PIB em capitalização de mercado e 38,7% do produto em títulos privados.

"Trata-se de um estudo econométrico de experiências de países que


adotaram uma agenda similar. A partir dele, queremos mostrar o que pode
acontecer, em um ambiente de estabilidade macroeconômica, se o país desenvolver
73
UNIDADE 1 | NOÇÕES ECONÔMICAS E FINANCEIRAS PARA O MERCADO DE CAPITAIS

seu mercado de capitais", afrma José Eduardo Laloni, diretor da Anbima. Entre
outros pontos, o trabalho também mostra que a variação de 1% no mercado teria
impacto de 0,3% na renda per capita, percentual considerado relevante por Laloni.

O trabalho encomendado pela associação procura sensibilizar o


futuro governo para a importância dos mercados de renda fxa e variável no
desenvolvimento do país. Os dados estão sendo apresentados aos assessores
econômicos dos candidatos à Presidência junto com uma agenda de propostas. As
sugestões giram em torno de cinco metas: fomentar o fnanciamento privado de
longo prazo, estimular a formação de poupança, expandir o volume de emissões
e aumentar a liquidez da negociação de ativos.

Para a Anbima, a expansão do mercado de capitais é crucial num momento


em que o BNDES reduz a participação no fnanciamento a empresas e projetos
de infraestrutura, ao mesmo tempo que o acesso a crédito em canais tradicionais,
como os bancos, permanece caro e escasso. "O BNDES está saindo gradativamente
do mercado. É uma grande oportunidade para acelerar a participação dos recursos
privados", diz José Carlos Doherty, superintendente-geral da entidade.

Gilson Finkelsztain, presidente da B3, avalia que o BNDES, sozinho, não


dá conta de suprir a demanda por recursos no país. "Não há dinheiro bastante
para isso. O ideal é que o banco atue como um intermediário para alavancar o
setor privado no mercado de capitais", afrma.

Os números reforçam a percepção dos executivos. Com a melhora do


cenário macroeconômico nos últimos dois anos, o mercado de capitais tem
mostrado fôlego sufciente para ocupar o espaço deixado pelo banco estatal. Entre
2016 e 2017, a redução acumulada nos desembolsos do BNDES alcança R$ 65
bilhões, saindo de R$ 135,9 bilhões em 2015 para R$ 70,8 bilhões no ano passado.
Em relação ao pico de fnanciamentos pelo órgão alcançando em 2013, a retração
em 2017 sobe para R$ 119,6 bilhões.

Ao longo de 2017, porém, a captação de recursos por empresas brasileiras


tanto no mercado de capitais doméstico quanto no exterior mais que compensou
essa redução. No período, as corporações do país aceleraram as emissões de títulos
de dívida e ações diante da retração do BNDES e das condições favoráveis tanto
de custo de capital quanto de demanda. Com isso, conforme dados da Anbima,
obtiveram R$ 307 bilhões, ou seja, R$ 122,2 bilhões a mais do que o total captado
em 2016, excluindo-se os valores de emissões do Tesouro Nacional no período.

Em 2018 até julho, as emissões domésticas e externas já alcançam R$ 172,7


bilhões, incluindo a captação internacional de US$ 1,5 bilhão feita pelo Tesouro
em fevereiro. O montante obtido no mercado doméstico registra avanço de 35,7%
na comparação com os primeiros sete meses de 2017. No exterior, houve recuo de
26,3% no volume de recursos na mesma base de comparação.

FONTE: < https://www.valor.com.br/financas/5795941/expansao-do-mercado-de-capitais-acelera-


emprego-e-renda-diz-estudo# > Acesso em 07 set. 2018.

74
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• O benchmark faz análise comparativa entre opções de investimento em função


de uma taxa referencial de rendimento.

• Investimento é um sacrifício no presente com o objetivo de obter uma série de


benefícios no futuro.

• Investimento fnanceiro implica sacrifício no presente (investimento),


envolvendo três elementos importantes: liquidez disponível a ser sacrifcada;
risco do valor mobiliário; e rendimento fnanceiro, taxa de retorno.

• Liquidez + Risco + Retorno → Eles geram os elementos base para análise


comparativa de investimentos, tal como a Taxa Mínima de Atratividade (TMA).

• À medida vai aumentando o nível de risco, vão aumentando também a taxa de


retorno e o tempo de vencimento de títulos de renda fxa.

• O risco de pagamento vincula-se à possibilidade de recursos monetários


poderem não ser recebidos no momento do vencimento.

• O risco de mercado está atrelado ao comportamento do preço do ativo conforme


as condições econômicas no mercado.

• Os investidores procuram uma ponderação entre risco, retorno e liquidez


atrelados a um índice como benchmark.

75
AUTOATIVIDADE

1 O que signifca “benchmark fnanceiro”?

2 A Taxa Mínima de Atratividade é um tipo de benchmark fnanceiro. Sobre a


TMA, responda os itens a seguir:

a) Quais são os dois elementos fundamentais para determinar a escolha de


TMA?
b) Qual seria uma TMA em que esteja implícito nela o menor nível de risco
possível de um investimento aqui no Brasil?

3 O investimento no mercado de capitais é um sacrifício no presente com


a expectativa de ter rendimentos monetários no futuro. Sobre o exposto,
responda os itens a seguir:

a) Quais são os três elementos destes investimentos?


b) O que consegue determinar esses três elementos?

4 Existem diversos tipos de riscos envolvidos nos investimentos. O que


vincula o risco de pagamento (crédito)?

5 Existe uma correlação entre nível de rentabilidade e nível de risco. Se o


investidor procura maior rentabilidade, ele deverá estar ciente de que isso
implica maior nível de risco de recuperação do capital. Exemplo, é bem
diferente comprar dívida pública dos EUA, do Brasil ou da Grécia. A de
menor risco serão os papéis do Tesouro norte-americano, e a que possa
envolver maior risco, pelo menos no ano de 2018, serão os papéis da dívida
da Grécia. Sobre níveis de risco e tipos de investimento, cite quais são estes
em função de sua correlação retorno versus risco.

76
UNIDADE 2

ESTRUTURA E NORMATIVA
FINANCEIRA

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir desta unidade, você será capaz de:

• entender a dinâmica e a importância da intermediação fnanceira;

• compreender a estrutura e o funcionamento do sistema fnanceiro nacional;

• compreender o papel dos órgãos normativos, entidades supervisoras e


agentes operadores;

• identifcar as características das instituições fnanceiras que compõem o


Sistema Financeiro Nacional;

• compreender a sistemática do mercado de valores mobiliários;

• identifcar e diferenciar o papel dos participantes do mercado de valores


mobiliários.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. Ao fnal de cada um deles você
encontrará atividades que auxiliarão no seu aprendizado.

TÓPICO 1 – INTERMEDIAÇÃO FINANCEIRA

TÓPICO 2 – SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL

TÓPICO 3 – MERCADO DE VALORES MOBILIÁRIOS

77
UNIDADE 2 TÓPICO 1

INTERMEDIAÇÃO FINANCEIRA

1 INTRODUÇÃO
A economia mundial se desenvolve em um ambiente fnanceiro cada vez
mais complexo e infuente. A partir desta constatação, faz-se necessário que todos
os agentes econômicos (famílias, empresas e governos) identifquem as melhores
práticas e oportunidades de investimentos disponíveis a fm de equilibrar suas
posições de risco nas mais diversas decisões fnanceiras.

As economias mais desenvolvidas têm por característica um sistema de


intermediação fnanceira bastante diversifcado e ajustado às necessidades de seus
agentes econômicos, especialmente aos agentes produtivos, de forma a executar
sua principal função, que é a de direcionar os recursos fnanceiros dos agentes
superavitários para os agentes com carência de capital para investimentos. Por isso,
o sistema fnanceiro tem sido um importante integrante da sociedade moderna.

No cenário brasileiro, a participação das instituições bancárias na


intermediação fnanceira é historicamente elevada, uma vez que altas taxas de
infação têm obrigado os agentes econômicos a aplicarem seus recursos fnanceiros
de forma mais intensiva para não sofrerem com a perda do poder aquisitivo da
moeda. Assim, as atividades de intermediação fnanceira contribuem para a
conciliação dos interesses dos agentes econômicos.

Neste sentido é fundamental entender, além da estrutura do mercado fnanceiro


estudada na unidade anterior deste caderno, o funcionamento da intermediação
fnanceira na prática, bem como o comportamento esperado em relação às políticas
econômicas adotadas. Sendo assim, esta unidade tem por objetivos: compreender
a estrutura e o funcionamento do sistema fnanceiro nacional; apresentar o papel
dos órgãos normativos, entidades supervisoras e agentes operadores; identifcar
as características das instituições fnanceiras que compõe o sistema fnanceiro
nacional; compreender a sistemática do mercado de valores mobiliários e identifcar
e diferenciar o papel dos participantes do mercado de valores mobiliários.

É fundamental, para que se compreenda melhor as funções e o funcionamento


dos mercados, introduzir algumas noções básicas sobre o funcionamento da
economia antes de tratar especifcamente da intermediação fnanceira.

79
UNIDADE 2 | ESTRUTURA E NORMATIVA FINANCEIRA

2 ECONOMIA E MERCADO FINANCEIRO


A ciência econômica se preocupa com o estudo da alocação dos recursos
produtivos na economia. Esta preocupação se deve ao fato de que os indivíduos
possuem necessidades, vontades e desejos diferentes uns dos outros e são
ilimitados, enquanto que os recursos disponíveis na economia são escassos para
atender tais necessidades em sua plenitude.

Se pensarmos nas economias modernas, os desejos de consumo das


famílias estão em geral acima de sua capacidade econômica. Quando pensamos
no contexto de países, fca mais fácil percebermos essa noção de escassez dos
recursos, pois, afnal de contas, os fatores de produção, aqui englobados o
número de pessoas disponíveis para trabalhar e os recursos naturais, fnanceiros
e tecnológicos, são limitados.

Conforme a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), as decisões dos


agentes econômicos (famílias, empresas e governo), embora sendo agentes
autônomos, estão interligadas e impactam uns aos outros (CVM, 2014). Neste
contexto, temos de um lado as famílias que oferecem os insumos necessários
para a produção das empresas em troca dos rendimentos (que formam a renda
dessas famílias). Com essa renda, adquirem os produtos e serviços ofertados
pelas empresas. O governo, por sua vez, recolhe impostos e taxas dessas famílias
e empresas e devolve para a sociedade em forma de projetos sociais ou serviços
básicos não ofertados pelas empresas.

Tudo isso converge para as decisões fnanceiras tomadas pelos agentes


econômicos, em especial as de consumo, poupança e investimento. Sendo assim,
necessitamos da compreensão do funcionamento do sistema fnanceiro como
um todo. Por exemplo: uma família que pode decidir consumir menos que sua
renda por uma infnidade de motivos, sejam eles para a sua segurança fnanceira,
aposentadoria ou compra futura de bens, formando assim a poupança. Já outra
família pode decidir consumir mais do que a sua renda, e, portanto, demanda
recursos motivada pelo aparecimento de situações inesperadas ou mesmo por
precisar investir em mais educação na expectativa de retorno futuro. Por outro
lado, as empresas precisam de dinheiro para realizar sua produção, investir em
máquinas, equipamentos, treinamento e novas tecnologias. Esse dinheiro pode
vir, por exemplo, da poupança das famílias. O governo, por sua vez, pode,
em determinado momento, ter gastos maiores que as suas despesas, tomando
recursos no mercado na forma de emissão de títulos públicos, as chamadas
dívidas mobiliárias. Já em outros momentos, pode gastar menos e contribuir para
a formação de poupança.

80
TÓPICO 1 | INTERMEDIAÇÃO FINANCEIRA

TE
IMPORTAN

Os agentes econômicos que formam poupança, ou seua, consomem menos


do que ganham, são chamados de “agentes superavitários”. Os agentes econômicos que
consomem mais que sua renda e precisam recorrer à poupança de terceiros são conhecidos
como “agentes defcitários”.

Para que o agente defcitário possa utilizar os recursos disponíveis dos


agentes superavitários para realizar suas decisões de consumo ou investimento
é preciso que esse fuxo de recursos entre eles seja viabilizado. Isso porque, na
maioria dos casos, as necessidades de poupança e empréstimos individuais
diferem em alguns aspectos, por exemplo, valor e prazo (CVM, 2014).

Mas como isso funciona na prática? Imaginemos que uma determinada


família decida aplicar R$ 10.000,00 por um ano, enquanto outra queira apenas R$
5.000,00 emprestados durante um período de seis meses. Ou então: uma empresa
necessite de R$ 1.000.000,00 para investir em suas operações, seja em forma de
ampliação do seu parque fabril ou compra de uma nova máquina e necessite
pagar tal montante em cinco anos. Se cada poupador tivesse que encontrar um
tomador de recursos com as mesmas necessidades de volume e prazo para a
realização de um empréstimo, seria muito difícil a efetivação de tais operações.

Santos (1999) lembra que, na economia primitiva, os agentes econômicos


superavitários entravam em contato diretamente com os agentes econômicos
defcitários. No entanto, este relacionamento se constitui em um entrave à
consecução fuente dos negócios, uma vez que há a necessidade de perfeita
coincidência dos desejos de ambas as partes no que se refere aos valores das
operações, seus prazos, suas garantias, dentre outros.

ATENCAO

A intermediação fnanceira ocorre na relação entre os agentes econômicos


superavitários e os defcitários. Os intermediários fnanceiros procuram atender às expectativas
e necessidades de ambos segmentos de agentes econômicos oferecendo alternativas
adequadas para guarda, aplicação de recursos e acesso a fontes de fnanciamento para
viabilizar investimentos e consumo.

81
UNIDADE 2 | ESTRUTURA E NORMATIVA FINANCEIRA

Não é difícil perceber a importância do sistema fnanceiro para o adequado


funcionamento da economia de uma nação e, consequentemente, seu crescimento.
Se, por exemplo, determinada empresa que necessita de recursos para a realização
de investimentos para a produção não conseguir captá-los de forma efciente,
provavelmente ela não realizará o investimento, deixando de gerar emprego e
renda. Com o papel desempenhado pelas instituições fnanceiras, esse problema
se reduz (CVM, 2014).

Assaf Neto (2012) lembra que em economias desenvolvidas apresentam


um sistema de intermediação fnanceira capaz de atender as necessidades de
seus agentes econômicos, desempenhando sua função de direcionar recursos
de unidades com carência de capital para investimento. Nesse sentido, toda
economia de mercado objetiva, mediante sua estrutura de intermediação
fnanceira, conciliar os interesses de poupadores e investidores, com o intuito de
viabilizar seu crescimento econômico.

Foi para suprir a demanda de mercado que surgiram e se desenvolveram


instituições especializadas em intermediar essas operações. Diante desta
perspectiva, no próximo subtópico aprenderemos em que consiste efetivamente
a intermediação fnanceira.

2.1 INTERMEDIAÇÃO FINANCEIRA E SEUS INTERMEDIÁRIOS


Inicialmente, a função do sistema fnanceiro era captar recursos dos agentes
econômicos superavitários, pagando-lhes uma remuneração (representada pelos
juros), e emprestar aos agentes econômicos defcitários, naturalmente a uma taxa
de juros mais elevada, garantindo, assim, uma diferença a fm de remuneração
pela intermediação dessas operações (CVM, 2014).

TE
IMPORTAN

A diferença dos uuros cobrados dos agentes econômicos defcitários e dos uuros
pagos aos agentes econômicos superavitários é a renda dos intermediários fnanceiros,
conhecida na literatura como spread fnanceiro.

Conforme Assaf Neto (2012, p. 8),

“os recursos da economia são movimentados no mercado, em sua


maior parte, por intermediários fnanceiros, que trabalham de forma
especializada e voltados para entrosar [...] expectativas e interesses de
agentes econômicos com capacidade de poupança com os tomadores
de recursos. Essa intermediação se processa pela colocação de títulos
e valores econômicos no mercado por meio de instituições, como
bancos, caixas econômicas, fundos de pensão, entre outras”.

82
TÓPICO 1 | INTERMEDIAÇÃO FINANCEIRA

Essas instituições concentram a poupança e a distribuem aos tomadores


de recursos, atendendo, ao mesmo tempo, às necessidades de volumes fnanceiros
e prazo de cada um. Com o passar do tempo, essas instituições foram se
especializando e oferecendo outros serviços. Da mesma forma desenvolveram-se
novos instrumentos, sistemas e produtos para organizar, controlar e desenvolver
esse mercado (CVM, 2014).

Um intermediário fnanceiro, ao operar com recursos de inúmeros


poupadores, atua com maior nível de divisibilidade na gestão dos recursos,
permitindo negociar montantes variados com o mercado. Isso possibilita oferecer
aos tomadores de fundos condições de empréstimos mais ajustadas a suas efetivas
necessidades de caixa (ASSAF NETO, 2012).

É importante termos em mente que o modelo tradicional de intermediação


fnanceira não foi capaz de suprir todas as demandas existentes no mercado.
Esse processo foi sendo aprimorado ao longo de sua história. Desenvolveram-
se novos ativos fnanceiros e características operacionais específcas para cada
tipo de demanda. Essas características podem diferir em razão do prazo, tipo
de instrumento utilizado para formalização da operação, pelos riscos assumidos,
entre outros aspectos que delimitam o que se convencionou chamar de mercados
fnanceiros (CVM, 2014).

Neste sentido, o aperfeiçoamento dos mecanismos da intermediação


fnanceira contribui de forma relevante para o bem-estar econômico de um país,
atuando sobre os níveis de poupança, investimento, rendas, taxas de emprego,
consumo, entre outros. Conforme Assaf Neto (2012, p. 8),

a presença da atividade de intermediação fnanceira fundamenta-


se no desequilíbrio entre o nível de poupança e investimento de uma
economia. Se todos os agentes fossem capazes de gerar volume de
poupança igual a seus dispêndios de capital, a existência de ativos
fnanceiros e, consequentemente, da intermediação não seria necessária
diante do equilíbrio de caixa apresentado pelos agentes.

Conforme Lagioia (2007, p. 31), “o sistema fnanceiro possui outros valores


agregados, mas fundamentalmente aproxima os agentes superavitários dos
defcitários ou vice-versa sem que os mesmos necessariamente precisem se conhecer”.

NOTA

A expressão “intermediação fnanceira” designa uma categoria diferenciada de


serviços no âmbito das atividades terciárias de produção. Os intermediários fnanceiros são os
prestadores desse serviço; operam um diversifcado conuunto de instituições que compõem
o Sistema Financeiro Nacional (GALVÃO; RIBEIRO; OLIVEIRA, 2006, p. 1).

83
UNIDADE 2 | ESTRUTURA E NORMATIVA FINANCEIRA

Na economia moderna, os intermediários fnanceiros se “interpõem”


entre poupadores e investidores. Nesse sentido, as atividades de intermediação
fnanceira contribuem para a conciliação dos interesses dos agentes econômicos,
através do equilíbrio de prazos, valores e risco, conforme podemos observar em
Santos (1999, p. 22):
• prazo: a intermediação satisfaz, pela interação entre poupadores e
tomadores de recursos, as necessidades de fundos dos participantes
do mercado em seus devidos prazos, permitindo uma maior oferta
de crédito;
• valor: a intermediação fnanceira no mercado contribui para conciliar
os diferentes montantes de capital investidos por aplicadores e
demandados por tomadores, promovendo uma alocação mais
efciente de recursos;
• risco: os riscos são diluídos na atividade de intermediação fnanceira
pela diversifcação das carteiras, oferecendo aos agentes operações
de mercado com risco menor.

As operações de mercado têm se tornado cada vez mais complexas. Com


isso, os intermediários fnanceiros estão trabalhando de forma mais especializada,
melhorando e sofsticando seu campo de atuação com intuito de ajudar as relações
entre tomadores e poupadores de recursos. Alguns poupadores, por exemplo,
em vez de administrarem individualmente seus portfólios, podem transferir essa
tarefa para instituições especializadas, melhor preparadas tecnicamente para
executarem a administração de carteiras (ASSAF NETO, 2012).

Como benefícios da intermediação fnanceira, Galvão, Ribeiro e Oliveira


(2006) destacam a efciência operacional, a especialização, a diluição de riscos,
ganhos de efcácia e o descasamento de prazos. Neste sentido, os intermediários
fnanceiros constituem-se, ainda, em especialistas nas negociações com títulos, o
que permite oferecer operações fnanceiras mais sofsticadas a todos os agentes
de mercado, mesmo para aqueles menos familiarizados com a dinâmica bancária.

Ao se relacionarem continuamente com os recursos fnanceiros de


vários depositantes, os intermediários podem oferecer dinheiro rápido e a um
custo de escala bem menor do que seria possível a um agente econômico que
opera isoladamente. Outra vantagem oferecida pelo sistema de intermediação
é a gestão do risco dos investidores, que possibilita a montagem de carteiras de
ativos diversifcadas e, consequentemente, de menor risco (ASSAF NETO, 2012).

Os intermediários fnanceiros promovem a liquidez do mercado


viabilizando captações e aplicações fnanceiras com diferentes taxas e prazos, com
o intuito de atender as demandas dos agentes econômicos em relação à natureza
de suas operações. Assim os tomadores de recursos desejando prazos maiores que
aqueles pleiteados pelos poupadores faz com que as instituições intermediadoras
gerenciam essas demandas por meio de um efciente planejamento e distribuição
de seus fuxos de caixa (ASSAF NETO, 2012).

Após apresentarmos a dinâmica e a importância da intermediação


fnanceira para o crescimento e o desenvolvimento da economia de um país,
aprenderemos, no próximo tópico, a estrutura e o funcionamento do Sistema
Financeiro Nacional (SFN).

84
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:

• Os intermediários fnanceiros servem para reduzir os custos transacionais,


para transformar empréstimos de longo prazo em dívidas a curto prazo e, com
isso, proporcionar liquidez e dividir risco.

• Ocupam posição de destaque no âmbito do sistema de pagamentos os bancos


comerciais, os bancos múltiplos com carteira comercial, as caixas econômicas
e, em plano inferior, as cooperativas de crédito.

• Essas instituições captam depósitos à vista e, em contrapartida, oferecem a


seus clientes, pessoas físicas e jurídicas, contas de depósito que são utilizadas
para movimentação de recursos e para pagamentos.

• Além dessas instituições, os correspondentes bancários, tipicamente casas


lotéricas, farmácias, supermercados e outros estabelecimentos varejistas,
oferecem alguns serviços bancários e de pagamentos inclusive em locais não
atendidos pela rede bancária convencional, atuando assim em nome dos bancos.

• Instituições do governo também concedem empréstimos e garantem ou


seguram os empréstimos privados.

• Os intermediários fnanceiros são fortemente regulamentados. Entre as


fnalidades dessa regulação, estão: proteger o sistema de pagamentos, ajudar
os pequenos depositantes, anular o medo de uma grande agregação do poder
econômico e atender às necessidades de crédito de certos setores da economia.

85
AUTOATIVIDADE

1 O que é mercado fnanceiro?

2 Defna intermediação fnanceira.

3 Qual a diferença entre agentes econômicos superavitários e defcitários?

4 O que são intermediários fnanceiros?

86
UNIDADE 2 TÓPICO 2

SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL

1 INTRODUÇÃO
O Sistema Financeiro é um importante componente da sociedade econômica
moderna cujo papel é fundamental para o crescimento e desenvolvimento
econômico de uma nação, o que explica a necessidade de conhecimento do
funcionamento do sistema como um todo. No entanto, ao longo do tempo, a
estrutura econômica dos países tem passado por profundas transformações,
especialmente no que concerne ao mercado fnanceiro brasileiro.

Cabe mencionar que o sistema fnanceiro brasileiro possui inúmeras


peculiaridades, especialmente no que tange ao fato de que o país possui fortes
carências econômicas e sociais. De forma pragmática, podemos dizer que a
atividade fnanceira brasileira é muito baixa em relação às suas necessidades de
crescimento econômico e modernização da estrutura produtiva.

Dessa forma, surge a necessidade da compreensão da estrutura do


Sistema Financeiro Nacional e as respectivas funções dos agentes que compõem
este sistema. Sua estrutura é dividida em autoridades monetárias, normativas
e fscalizadoras, instituições fnanceiras públicas e privadas. Essas instituições
permitem, dentro das melhores condições possíveis, a circulação de moeda entre
os tomadores e poupadores de recursos na economia.

Sendo assim, este tópico tem por objetivo apresentar a estrutura do Sistema
Financeiro Nacional e as principais características das instituições fnanceiras que
o compõem.

2 SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL: CONCEITOS E FUNÇÕES


Reconhece-se que todo processo de crescimento e desenvolvimento da
economia de uma nação está fortemente ligado à participação de capitais que, por
meio da capacidade da formação de poupança interna do país, estão em poder
dos agentes econômicos, são direcionados para os setores produtivos carentes
de recursos (ASSF NETO, 2012). Essa dinâmica só é possível pela utilização de
mecanismos e instrumentos disponibilizados pelos intermediários fnanceiros.

87
UNIDADE 2 | ESTRUTURA E NORMATIVA FINANCEIRA

Imaginemos a seguinte situação: uma determinada organização que


necessite captar recursos fnanceiros para investimentos na sua produção, tais
como infraestrutura, máquinas, equipamentos, dentre outros, não consiga fazê-
lo de forma efciente. Isso fará com que a organização desista de realizar os
investimentos de que tanto necessita, acarretando, portanto, a incapacidade da
organização de gerar emprego e renda. Com uma atuação efciente por parte do
sistema fnanceiro e das instituições fnanceiras, tal problema pode ser, se não
eliminado, ao menos reduzido.

Cabe destacar que essa dinâmica é válida também na situação em que a


empresa necessite de recursos fnanceiros para ajustar seu fuxo de caixa devido
ao descasamento entre os valores a receber de seus clientes e os valores a pagar
aos seus credores, fornecedores ou, ainda, seus colaboradores.

TE
IMPORTAN

Entende-se por agentes econômicos superavitários como aqueles que são


capazes de gastar seus recursos fnanceiros em consumo e investimento menor do que
a sua renda, e por agentes econômicos defcitários aqueles que assumem uma posição
de tomadores de recursos fnanceiros no mercado, isto é, que despendem em consumo e
investimento valores superiores aos de sua renda.

É em função desse processo de distribuição de recursos no mercado que


se evidencia a função econômica e social do sistema fnanceiro. Mas você deve
estar se perguntando: como esta dinâmica funciona na prática? Como e quem
controla estas interações? Neste tópico iremos entender todo o funcionamento
do sistema fnanceiro, os agentes envolvidos neste processo e suas respectivas
funções. Primeiramente, necessitamos conhecer conceitualmente o que é o Sistema
Financeiro Nacional, reconhecido na literatura pela sigla SFN. Então, vamos lá!

O Sistema Financeiro Nacional é entendido como um conjunto de


instituições e instrumentos fnanceiros que visam transferir recursos dos agentes
econômicos superavitários para os agentes econômicos defcitários (ASSAF
NETO, 2012). É por meio do Sistema Financeiro Nacional que se viabiliza a
relação entre os agentes que carecem de recursos fnanceiros, investimentos e os
agentes que são capazes de gerar poupança e, consequentemente, condições de
fnanciar o crescimento da economia.

88
TÓPICO 2 | SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL

NOTA

“O Sistema Financeiro Nacional (SFN) é formado por instituições que têm como
fnalidade intermediar o fuxo de recursos entre os poupadores, investidores e os tomadores
de recursos, em condições satisfatórias para o mercado” (HOJI, 2017, p. 25).

Conforme destacado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM),


historicamente o sistema fnanceiro não foi capaz de suprir todas as demandas
dos agentes econômicos. Sendo assim, houve a necessidade do aprimoramento
do processo de intermediação fnanceira, em que

desenvolveram-se novos ativos fnanceiros e características


operacionais específcas para cada tipo de demanda. Essas
características podem diferir em razão do prazo, tipo de instrumento
utilizado para formalizar a operação, assunção de riscos, entre outros
aspectos que delimitam o que se convencionou chamar de mercados
fnanceiros (CVM, 2014, p. 31).

De forma geral, o sistema fnanceiro segmentou-se em quatro grandes


mercados: mercado monetário, mercado de crédito, mercado de câmbio e mercado
de capitais. O foco principal de discussão deste caderno de estudos é o mercado
de capitais. No entanto, precisamos compreender que para o mercado de capitais
exercer sua função de forma efciente, é necessário que todos os demais mercados
estejam em equilíbrio. Neste sentido, abordaremos de forma resumida os aspectos
concernentes aos mercados monetário, de câmbio e de crédito.

Assaf Neto (2012, p. 60) destaca que

apesar de servirem de referência para o estudo do mercado fnanceiro,


esses segmentos sugeridos de mercado muitas vezes se confundem
na prática, permitindo que as várias operações fnanceiras interajam
por um amplo sistema de comunicações. Apresentam ainda uma
referência comum para as diversas negociações fnanceiras, a taxa de
juros, entendida como a moeda de troca desses mercados.

Em Assaf Neto e Lima (2017, p. 27) podemos encontrar as seguintes


defnições:

89
UNIDADE 2 | ESTRUTURA E NORMATIVA FINANCEIRA

• mercado monetário - neste mercado são realizadas as operações de


curtíssimo prazo, que permitem o controle da liquidez monetária
da economia. São negociados nesse mercado, principalmente, os
papéis emitidos pelo Tesouro Nacional e destinados à execução da
política monetária do governo e aqueles emitidos com o intuito de
fnanciar as necessidades orçamentárias da União, além de diversos
títulos emitidos pelos Estados e Municípios;
• mercado de crédito – é constituído em essência pelos bancos
comerciais e pelos bancos múltiplos. O objetivo básico desse
mercado é o de suprir as necessidades de recursos de curto e médio
prazo dos diversos agentes econômicos, seja pela concessão de
créditos às pessoas físicas, seja por modalidades de empréstimos e
fnanciamentos às empresas;
• mercado cambial – é onde ocorrem as diversas operações de compra
e venda de moedas estrangeiras conversíveis. Esse mercado engloba
todos os agentes econômicos com motivos para realizar operações
com o exterior, como importadores e exportadores; investidores e
instituições fnanceiras;
• mercado de capitais – é a grande fonte de recursos de longo prazo
para investimentos na economia, assumindo papel relevante no
processo de desenvolvimento econômico. Apresenta forte ligação
entre os agentes superavitários, que possuem capacidade de
poupança, e investidores carentes de recursos de longo prazo. A
atuação desse mercado se processa por diversas modalidades de
fnanciamento de longo prazo para capital de giro e capital fxo.
Atua também com operações de prazo indeterminado, como
aquelas que envolvem emissão e subscrição de ações.

Conforme o Banco Central do Brasil - BACEN (2018a), a estrutura do


Sistema Financeiro Nacional envolve três grandes subsistemas:

• Órgãos Normativos - determinam as regras gerais para o bom funcionamento


do Sistema Financeiro Nacional.
• Entidades Supervisoras - atuam para que os cidadãos e os integrantes do
sistema fnanceiro sigam as regras defnidas pelos órgãos normativos.
• Operadores Financeiros - instituições que lidam diretamente com o público no
papel de intermediários fnanceiros.

DICAS

A composição e segmentos do Sistema Financeiro Nacional podem ser


acessados no seguinte link: https://www.bcb.gov.br/pre/composicao/composicao.asp

Após apresentarmos o conceito e as funções do Sistema Financeiro


Nacional, aprofundaremos os estudos a respeito da composição e do papel de
cada um destes subsistemas. Esta composição é proposta pelas normativas e
diretrizes apresentadas pelo próprio BACEN - Banco Central do Brasil.

90
TÓPICO 2 | SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL

2.1 ÓRGÃOS NORMATIVOS


O Sistema Financeiro Nacional é constituído por órgãos ou instituições
que estabelecem as diretrizes de atuação das Entidades Supervisoras e dos
Operadores Financeiros, cujo objetivo fnal é o controle do mercado fnanceiro
como um todo.

Conforme Pinheiro (2012), os Órgãos Normativos exercem importante


papel para todo o sistema fnanceiro. São estruturados de forma a promover
o desenvolvimento equilibrado do país e servir aos interesses da coletividade,
tendo características comuns relativas a controles hierárquicos, estabilidade no
cargo de diretor, competência de regular e fscalizar.

Os órgãos normativos “são as instituições que editam as normas que


regem o sistema fnanceiro e fscalizam as operações. Os órgãos normativos do
SFN são o Conselho Monetário Nacional (CMN), o Conselho Nacional de Seguros
Privados (CNSP) e Conselho Nacional de Previdência Complementar (CNPC)”
(CARRETE; TAVARES, 2015, p. 41).

TE
IMPORTAN

Todos os órgãos normativos são fundamentais para o funcionamento do Sistema


Financeiro Nacional. No entanto, como o foco principal da nossa disciplina é o mercado
fnanceiro, vamos enfatizar a estrutura e as atribuições do Conselho Monetário Nacional,
bem como as instituições a ele subordinadas.

O Conselho Monetário Nacional (CMN) é a autoridade máxima do


Sistema Financeiro Nacional (BRITO, 2013). Conforme Cavalcante, Misumi e
Rudge (2005, p. 4), o Conselho Monetário Nacional (CNM) é o órgão deliberativo
de cúpula do sistema fnanceiro, cuja competência é “traçar as normas de política
monetária em todos os seus aspectos. Funciona como um conselho da economia
brasileira e supervisiona as políticas monetária, cambial, de investimento, de
capital estrangeiro, de comércio exterior e fscal”.

Salazar (2010) entende o órgão normativo como um subsistema político


que é constituído pelas autoridades monetárias, no qual o Conselho Monetário
Nacional (CMN) é o órgão deliberativo de cúpula do Sistema Financeiro
Nacional. Tal assertiva pode ser evidenciada por sua estrutura, que é composta
pelo Ministro da Fazenda, pelo Ministro do Planejamento e pelo Presidente do
Banco Central do Brasil (BACEN).

91
UNIDADE 2 | ESTRUTURA E NORMATIVA FINANCEIRA

Conforme o Banco Central do Brasil (BACEN, 2018b), o Conselho


Monetário Nacional (CMN), que foi instituído pela Lei 4.595, de 31 de dezembro
de 1964, é o órgão responsável por expedir diretrizes gerais para o bom
funcionamento do SFN. Integram o CMN o Ministro da Fazenda (Presidente),
o Ministro do Planejamento, Orçamento e Gestão e o Presidente do Banco
Central do Brasil. Dentre suas funções, estão: adaptar o volume dos meios de
pagamento às reais necessidades da economia; regular o valor interno e externo
da moeda e o equilíbrio do balanço de pagamentos; orientar a aplicação dos
recursos das instituições fnanceiras; propiciar o aperfeiçoamento das instituições
e dos instrumentos fnanceiros; zelar pela liquidez e solvência das instituições
fnanceiras; coordenar as políticas monetária, creditícia, orçamentária e da dívida
pública interna e externa.

O Conselho Monetário Nacional (CMN), que foi instituído pela Lei 4.595,
de 31 de dezembro de 1964, é o órgão responsável por expedir diretrizes
gerais para o bom funcionamento do SFN. Integram o CMN o Ministro
da Fazenda (Presidente), o Ministro do Planejamento, Orçamento e
Gestão e o Presidente do Banco Central do Brasil. Dentre suas funções
estão: adaptar o volume dos meios de pagamento às reais necessidades
da economia; regular o valor interno e externo da moeda e o equilíbrio
do balanço de pagamentos; orientar a aplicação dos recursos das
instituições fnanceiras; propiciar o aperfeiçoamento das instituições e dos
instrumentos fnanceiros; zelar pela liquidez e solvência das instituições
fnanceiras; coordenar as políticas monetária, creditícia, orçamentária e
da dívida pública interna e externa (BACEN, 2018b, s.p.).

Junto ao Conselho Monetário Nacional funciona a Comissão Técnica da


Moeda e do Crédito (COMOC), coordenada pelo presidente do BACEN, pelo
presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), pelo secretário executivo
do Ministério da Fazenda, pelo secretário de Política Econômica do Ministério
da Fazenda, pelo secretário do Tesouro Nacional do Ministério da Fazenda
e por quatro diretores do Banco Central que são indicados por seu presidente
(CAVALCANTE; MISUMI; RUDGE, 2005).

Em CVM (2014), destaca-se que em conjunto com o Conselho Monetário


Nacional (CMN), a Comissão Técnica da Moeda e do Crédito (COMOC) tem
como atribuições o assessoramento técnico na formulação da política da moeda
e do crédito do país. As matérias aprovadas são regulamentadas por meio de
resoluções, normativos de caráter público, publicados no Diário Ofcial da União
e na página normativa do Banco Central do Brasil (BACEN).

Mellagi Filho e Ishikawa (2008) lembram que a composição do Conselho


Monetário Nacional tem variado bastante ao longo de sua história. Conforme
Pinheiro (2012), a atual composição do Conselho Monetário Nacional foi
modifcada com a instituição do Plano Real por meio da Medida Provisória nº
542, de 30/6/1994. Sendo assim, sua atual composição é formada pelo Ministro da
Fazenda que preside o Conselho, pelo Ministro do Planejamento e pelo Presidente
do Banco Central do Brasil (BACEN).

92
TÓPICO 2 | SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL

ATENCAO

O Conselho Monetário Nacional (CMN) é o órgão máximo do Sistema


Financeiro Nacional. Não desempenha funções executivas e sua missão normativa básica
é defnir as diretrizes de funcionamento do Sistema Financeiro Nacional e formular toda a
política de moeda e crédito da economia, visando atender a seus interesses econômicos e
sociais (ASSAF NETO; LIMA, 2017).

Conforme Assaf Neto (2012, p. 42), “estão previstas, também, Comissões


Consultivas que têm por objetivo assessorar o Conselho Monetário Nacional
nos assuntos que lhe forem pertinentes. Algumas das comissões consultivas em
funcionamento são: Bancária, Mercado de Capitais e Mercados Futuros, Crédito
Rural e Crédito Industrial, Política Monetária e Cambial etc”.

De forma geral, o Conselho Monetário Nacional (CMN) estabelece


diretrizes, normas, autorizações e limites para o sistema fnanceiro. Vinculados a
este conselho estão o Banco Central do Brasil (BACEN) e a Comissão de Valores
Mobiliários (CVM), que desempenham papéis executores ao mercado fnanceiro
e ao mercado de capitais, respectivamente, assunto que veremos a seguir.

2.2 ENTIDADES SUPERVISORAS


As Entidades Supervisoras do Sistema Financeiro Nacional têm como
atribuição a edição de normas que defnem os parâmetros para a transferência
de recursos dos agentes superavitários (poupadores) para os agentes defcitários
(tomadores), bem como o controle do funcionamento das instituições que
operacionalizam a intermediação fnanceira (PINHEIRO, 2012, p. 65).

Cabe destacar que as entidades que têm esta função de supervisão são
divididas em quatro grupos segundo os mercados ou segmentos em que atuam.
Neste sentido, destaca-se que o Banco Central do Brasil (BACEN) está vinculado
ao Mercado Financeiro, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), ao Mercado
de Capitais. Já a Superintendência de Seguros Privados (SUSEP), vinculada ao
Mercado de Seguros Privados e Capitalização e, por fm, a Superintendência
Nacional de Previdência Complementar (PREVIC) vinculada ao Mercado de
Previdência Complementar (PINHEIRO, 2012).

Carrete e Tavares (2015) lembram que somente o Banco Central do Brasil


e a Comissão de Valores Mobiliários são as Entidades Supervisoras do Sistema
Financeiro Nacional que estão vinculadas ao Conselho Monetário Nacional (CMN).

93
UNIDADE 2 | ESTRUTURA E NORMATIVA FINANCEIRA

ATENCAO

Apesar das Entidades de Supervisão serem quatro, elas estão subordinadas a três
conselhos normativos: Conselho Monetário Nacional (BACEN e CVM), Conselho Nacional
de Seguros Privados (CNSP) e Conselho Nacional de Previdência Complementar (CNPC)
(PINHEIRO, 2012).

Neste sentido, assim como procedemos quando estudamos as Entidades


Normativas no subtópico anterior, enfatizaremos somente as Entidades Supervisoras
vinculadas ao Mercado Financeiro e ao Mercado de Capitais, sendo elas: o Banco
Central do Brasil (BACEN) e a Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

O Banco Central do Brasil (BACEN) é uma autarquia federal, vinculada ao


Ministério da Fazenda, criado pela Lei 4.595, de 31/12/1964, que estabelece as suas
competências e atribuições. É o responsável pelo controle da infação no país, atua para
regular a quantidade de moeda na economia que permita a estabilidade de preços, e
suas atividades também incluem a preocupação com a estabilidade fnanceira. Para
isso, o BACEN regula e supervisiona as instituições fnanceiras (BACEN, 2018c).

TE
IMPORTAN

Missão do BACEN: assegurar a estabilidade do poder de compra da moeda e um


sistema fnanceiro sólido e efciente (BACEN, 2018c).

Conforme Salazar (2010), o Banco Central do Brasil (BACEN), como entidade


autárquica vinculada ao Ministro da Fazenda, faz cumprir as normas emanadas do
Conselho Monetário Nacional (CMN). Pinheiro (2012) o considera como um órgão
intermediário entre o Conselho Monetário Nacional (CMN) e as demais instituições
fnanceiras do país, cuja fnalidade é executar e fscalizar o cumprimento de todas
as normas criadas pelo próprio Conselho Monetário Nacional (CMN).

Ainda conforme Pinheiro (2012), no cumprimento de sua missão de assegurar


o equilíbrio monetário, o Banco Central do Brasil (BACEN) adota os objetivos de
zelar pela adequada liquidez da economia; manter as reservas internacionais do país
em nível satisfatório; assegurar a formação de poupança em níveis apropriados; e
garantir a estabilidade e o aperfeiçoamento do sistema fnanceiro.

94
TÓPICO 2 | SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL

Sendo assim, como órgão executor do sistema fnanceiro e cabendo-lhe a


responsabilidade de cumprir e fazer cumprir as disposições que regulamentam
o funcionamento do sistema e as normas expedidas pelo Conselho Monetário
Nacional (CMN), é por meio do Banco Central do Brasil (BACEN) que o Estado
intervém no Sistema Financeiro Nacional e, indiretamente, na economia.

Podemos destacar como principais atribuições do BACEN:


• emissão de papel-moeda e moeda metálica;
• execução dos serviços do meio circulante;
• receber recolhimentos compulsórios e voluntários das instituições fnanceiras;
• realizar operações de redesconto e empréstimo às instituições fnanceiras;
• regular a execução dos serviços de compensação de cheques e outros papéis;
• efetuar operações de compra e venda de títulos públicos federais;
• exercer o controle de crédito;
• exercer a fscalização das instituições fnanceiras;
• autorizar o funcionamento das instituições fnanceiras;
• estabelecer as condições para o exercício de quaisquer cargos de direção nas
instituições fnanceiras;
• vigiar a interferência de outras empresas nos mercados fnanceiros e de capitais ;
• controlar o fuxo de capitais estrangeiros no país.

DICAS

Para saber mais a respeito da história do Banco Central do Brasil (BACEN), acesse:
https://www.bcb.gov.br/pre/Historia/HistoriaBC/historia_BC.asp

O Banco Central do Brasil (BACEN) conduz ainda as políticas monetária,


cambial, de crédito, e de relações fnanceiras com o exterior; a regulação e a
supervisão do Sistema Financeiro Nacional (SFN); a administração do Sistema de
Pagamentos Brasileiro (SPB) e os serviços do meio circulante.

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) é o Órgão Supervisor do


Sistema Financeiro Nacional especifcamente voltado para o desenvolvimento,
o cumprimento das normas operativas e a fscalização do mercado de valores
mobiliários (SALAZAR, 2010). Criada em 07 de dezembro de 1976 pela Lei 6.385,
tem por fnalidade disciplinar, fscalizar e desenvolver o mercado de valores
mobiliários no Brasil.

95
UNIDADE 2 | ESTRUTURA E NORMATIVA FINANCEIRA

NOTA

A Comissão de ValoresMobiliários (CVM) é uma autarquiavinculada ao


Ministério da Fazenda,com personalidadeuurídica e patrimônio próprios, dotada de
autoridade administrativa independente, ausência de subordinação hierárquica, mandato fxo
e estabilidade de seus dirigentes e autonomia fnanceira e orçamentária (CVM, 2018).

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) possui sede na cidade do Rio de


Janeiro e é administrada por um Presidente e quatro Diretores nomeados pelo Presidente
da República, que são sabatinados e aprovados pelo Senado Federal. O Presidente e a
Diretoria constituem o chamado Colegiado, que defne políticas e estabelece práticas a
serem implantadas e desenvolvidas pelo corpo de Superintendentes, que é a instância
executiva da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

DICAS

Acesse a Portaria nº 327, de 11 de uulho de 1977 e saiba mais sobre a legislação


que suporta a Comissão de Valores Mobiliários. http://www.cvm.gov.br/export/sites/cvm/
legislacao/leis-decretos/anexos/PortariaMF-327-77-regimento-da-cvm.pdf

Conforme destacado por Assaf Neto (2012, p. 43), a “CVM tem por
fnalidade básica a normatização e o controle do mercado de valores mobiliários,
representado principalmente por ações, comercial papers e outros títulos emitidos
pelas sociedades anônimas e autorizados pelo Conselho Monetário Nacional.”

Podemos destacar como principais atribuições e competências da


Comissão de Valores Mobiliários (CVM):

• estímulo à formação de poupança e sua aplicação em valores mobiliários;


• promoção da expansão e do funcionamento efciente e regular do mercado
de ações e estímulo das aplicações permanentes em ações do capital social de
companhias abertas sob controle de capitais privados nacionais;
• assegurar o funcionamento efciente e regular dos mercados de bolsa e de balcão;
• proteger os titulares de valores mobiliários e os investidores do mercado
contra emissões irregulares de valores mobiliários, contra atos ilegais de
administradores e acionistas das companhias abertas ou de administradores
de carteira de valores mobiliários e contra o uso de informação relevante não
divulgada no mercado de valores mobiliários;

96
TÓPICO 2 | SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL

• evitar ou coibir modalidades de fraude ou manipulação destinadas a criar


condições artifciais de demanda, oferta ou preço dos valores mobiliários
negociados no mercado;
• assegurar o acesso do público a informações sobre os valores mobiliários
negociados e às companhias que os tenham emitido;
• assegurar a observância de práticas comerciais equitativas no mercado de
valores mobiliários;
• assegurar a observância, no mercado, das condições de utilização de crédito
fxadas pelo Conselho Monetário Nacional;
• regulamentar as matérias expressamente previstas na Lei 6.385/76 (Lei das
Sociedades por Ações);
• realizar atividades de credenciamento, registro e fscalização de auditores
independentes, administradores de carteiras, analistas e consultores de valores
mobiliários, agentes autônomos, entre outros;
• fscalizar e inspecionar as companhias abertas, os fundos de investimento e
demais atividades e serviços do mercado de valores mobiliários;
• apurar, mediante inquérito administrativo, atos ilegais e práticas não equitativas
de administradores de companhias abertas e de quaisquer participantes do
mercado de valores mobiliários, aplicando as penalidades previstas em lei.

Sendo assim, a “Comissão de Valores Mobiliários tem por fnalidade


contribuir para a criação de estrutura jurídica favorável à capitalização das
empresas por meio do mercado de capitais de risco, fortalecimento da empresa
privada nacional e defesa do acionista e investidor” (PINHEIRO, 2012, p. 68).

Além das atribuições já listadas,

a Lei ofereceu à CVM os meios materiais e institucionais necessários


ao cumprimento de sua missão, notadamente: o poder normativo,
através do qual a CVM regula a atuação dos diversos agentes do
mercado; e o poder punitivo, através do qual, assegurado o direito de
ampla defesa, permite a penalização de quem descumpre as normas
baixadas pelo órgão ou de quem pratica atos fraudulentos no mercado
(CVM, 2014, p. 61).

TE
IMPORTAN

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) não tem competência para determinar


o ressarcimento de eventuais preuuízos sofridos pelos investidores em decorrência da ação
ou omissão de agentes do mercado.

97
UNIDADE 2 | ESTRUTURA E NORMATIVA FINANCEIRA

Sendo assim, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) tem os seguintes


poderes, conforme destacado por Cavalcante, Misumi e Rudge (2005, p. 28):

• examinar livros e documentos; exigir informações e esclarecimentos;


requisitar informações de qualquer órgão público, autarquia ou
empresa pública; obrigar as companhias abertas a republicar
demonstrativos fnanceiros com correções;
• apurar, mediante inquérito administrativo, atos legais e práticas não
equitativas de administrações de companhias abertas e de qualquer
participante do mercado; aplicar penalidades previstas;
• suspender a negociação de um título ou colocar em recesso a Bolsa
de Valores; divulgar informações a fm de orientar os participantes
no mercado; suspender ou cancelar registros.

Como já mencionado, a atuação da Comissão de Valores Mobiliários


(CVM) está diretamente vinculada ao Conselho Monetário Nacional (CMN), cuja
responsabilidade é de fomento e controle do mercado de valores mobiliários.
Dessa forma, sua atuação abrange três importantes segmentos fnanceiros do
mercado: instituições fnanceiras, companhias de capital aberto emitentes de
títulos mobiliários e investidores.

2.3 OPERADORES FINANCEIROS


A atual estrutura do sistema fnanceiro é caracterizada por conglomerados
fnanceiros que foram criados em função da política de concentração bancária
desenvolvida nas últimas décadas, principalmente pelas fusões e aquisições.
Neste sentido, tais conglomerados fnanceiros, por meio das diversas instituições
que estão sob o seu controle, costumam atuar nos diversos segmentos fnanceiros
do mercado, limitando bastante a atuação de instituições independentes (ASSAF
NETO, 2012).

TE
IMPORTAN

O Sistema Financeiro Nacional foi estruturado e regulado pela Lei de Reforma


Bancária (1964), Lei de Mercado de Capitais (1965) e, mais recentemente, Lei de Criação
dos Bancos Múltiplos (1988). É constituído por todas as instituições fnanceiras, públicas ou
privadas, existentes no país (ASSAF NETO, 2012).

Conforme Assaf Neto e Lima (2017), as transferências de recursos fnanceiros


entre poupadores e tomadores processam-se por meio de intermediários, também
chamados de Instituições Financeiras ou Operadores Financeiros, que podem ser
classifcados em três grandes grupos: Instituições Financeiras Bancárias e não
Bancárias, Sistema Distribuidor de Títulos e Valores Mobiliários.

98
TÓPICO 2 | SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL

Vamos entender a composição e função de cada um desses grupos. Iniciaremos


pelas instituições bancárias, também chamadas de instituições fnanceiras.

As instituições fnanceiras conhecidas por bancárias são aquelas a quem


se permite a criação de moeda por meio do recebimento de depósitos à vista.
Operam basicamente com ativos fnanceiros monetários que representam os
meios de pagamento da economia, ou seja, dinheiro em poder do público mais
depósitos à vista em bancos (MELLAGI FILHO; ISHIKAWA, 2008).

DICAS

Para relembrar os conceitos de Meios de Pagamentos (M1, M2, M3 e M4), acesse


https://www.bcb.gov.br/ftp/infecon/NM-MeiosPagAmplp.pdf

Essas instituições são representadas fundamentalmente pelos bancos


comerciais, bancos múltiplos, caixas econômicas, cooperativas de crédito e bancos
cooperativos.

Conforme Brito (2013, p. 11), bancos comerciais “são instituições


fnanceiras, constituídas sob a forma de sociedades anônimas, especializadas
particularmente em operações de curto e médio prazos. Essas operações consistem
na captação de recursos do público mediante emissões de depósitos à vista e a
prazo fxo para fnanciamento, geralmente a curto e médio prazos à indústria, ao
comércio e ao público em geral”.

Hoji (2017) destaca que os bancos comerciais, pelas suas próprias


características e funções, são a base do sistema monetário. Além de prestarem
serviços de natureza fnanceira, tais como cobrança de títulos, recebimentos de
tributos, dentre outros, fazem também operações de câmbio. Ainda, por meio do
crédito seletivo, repassam recursos aos tomadores, fazendo descontos de títulos e
operações de abertura de crédito simples ou em conta corrente.

Conforme Cavalcante, Misumi e Rudge (2005, p. 29), bancos comerciais são

instituições monetárias por terem o poder de criação de moeda escritural.


São instituições fnanceiras que recebem depósito à vista em contas de
movimento e efetuam empréstimos de curto prazo, principalmente para
capital de giro das empresas. De outra forma, prestam também serviços
auxiliares, tais como cobranças mediante comissão, transferências de
fundos de uma para outra praça e outros serviços.

99
UNIDADE 2 | ESTRUTURA E NORMATIVA FINANCEIRA

Os bancos, por assim dizer, vêm apresentando rápida evolução em sua


estrutura de funcionamento, procurando adaptar suas operações e produtos a
um mercado cada vez mais exigente e globalizado. Atualmente, trabalham de
forma mais especializada, segmentando sua participação no mercado com base
no volume de negócios e na forma de atendimento.

Nesta concepção destaca-se a presença dos bancos múltiplos. Mas, o que


difere um banco comercial de um banco múltiplo? Então, vamos lá!

Os bancos múltiplos surgiram em função do crescimento do mercado


fnanceiro e da necessidade de as instituições fnanceiras se tornarem mais ágeis
e ao mesmo tempo apresentarem menores custos operacionais (ASAF NETO;
LIMA, 2017).

Brito (2013, p .12) lembra que:

o Banco Central do Brasil autorizou a constituição de bancos múltiplos


em 1988, por meio da Resolução nº 1.254, de 21.09.1988. A alteração
estrutural permitiu aos bancos comerciais, de investimento, de
desenvolvimento, sociedades de crédito imobiliário e sociedades de
crédito, fnanciamento e investimento organizarem-se em uma única
instituição fnanceira, com personalidade jurídica própria.

NOTA

“Os bancos múltiplos são instituições fnanceiras com licença para fornecer
uma ampla gama de serviços bancários comerciais, operações de câmbio, de investimento,
fnanciamento ao consumidor e outros serviços, inclusive de gerenciamento de fundos e
fnanciamento de imóveis” (PINHEIRO, 2012, p. 75).

Assaf Neto (2012, p. 47) explica que:

O projeto do banco múltiplo prevê sua formação com base nas


atividades (carteiras) de quatro instituições: banco comercial,
banco de investimento e desenvolvimento, sociedade de crédito,
fnanciamento e investimento e sociedade de crédito imobiliário. Para
que uma instituição seja confgurada como um banco múltiplo, ela
deve operar pelo menos duas das carteiras apresentadas, uma delas
necessariamente de banco comercial ou de banco de investimento.

Conforme Hoji (2017, p. 30), “as caixas econômicas integram o Sistema


Brasileiro de Poupança e Empréstimo e o Sistema Financeiro de Habitação. São
instituições com objetivos sociais, que concedem empréstimos e fnanciamentos a
programas e projetos nas áreas de habitação, assistência social, saúde, educação,
trabalho, transporte urbano e esporte”.

100
TÓPICO 2 | SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL

Dessa forma, “as caixas econômicas (federal e estaduais), assim como os


bancos comerciais, podem receber depósitos à vista do público (exercendo o poder
de criação de moeda escritural), além dos depósitos em cadernetas de poupança”
(CAVALCANTE; MISUMI; RUDGE, 2005, p. 29). Os autores ainda explicam
que as caixas econômicas atuam basicamente no fnanciamento habitacional e
empréstimos em geral a particulares.

TE
IMPORTAN

Após a extinção do Banco Nacional de Habitação, a Caixa Econômica Federal


absorveu seus ativos e passivos, tornando-se o agente do Governo Federal para a execução
de sua política habitacional.

As cooperativas de crédito são instituições voltadas a oferecer créditos


e prestar determinados serviços fnanceiros a seus associados, podendo ser
constituídas basicamente de funcionários de uma mesma empresa ou grupos
de empresas, de profssionais de determinado segmento de atividade e de
empresários. De acordo com a legislação em vigor, é equiparada a uma instituição
fnanceira, tendo seu funcionamento regulado e autorizado pelo Banco Central
do Brasil (ASSAF NETO, 2012).

Tal como as cooperativas de crédito, os bancos cooperativos são de


propriedade de seus associados e seguem os mesmos princípios cooperativos. No
entanto, diferenciam-se pelo fato de que os bancos cooperativos são duplamente
regulamentados (como bancos e como cooperativas), sendo que muitos deles
possuem ações negociadas no mercado de capitais, o que faz com que sejam
parcialmente detidas por não associados. Surgem a partir de cooperativas de
crédito, no entanto, sua principal restrição é limitar suas operações em apenas
uma Unidade da Federação (UF), o que garante a permanência dos recursos onde
são gerados, impulsionando o desenvolvimento local.

O segundo grande grupo de operadores fnanceiros que iremos estudar é


composto pelas instituições fnanceiras não bancárias. Conforme Mellagi Filho e
Ishikawa (2008), as instituições fnanceiras classifcadas como não bancárias são
as que não apresentam capacidade de emitir moeda ou meios de pagamento,
assim como as instituições fnanceiras que vimos anteriormente. Assaf Neto
(2012) explica que as instituições fnanceiras não bancárias não estão legalmente
autorizadas a receber depósitos à vista, inexistindo a faculdade de criação de
moeda. Essas instituições trabalham basicamente com ativos não monetários, tais
como ações, letras de câmbio, certifcados de depósitos bancários, debêntures etc.

101
UNIDADE 2 | ESTRUTURA E NORMATIVA FINANCEIRA

Apesar de não serem consideradas instituições fnanceiras, exercem importante


papel no mercado fnanceiro. Dentre as principais instituições que compõem este
grupo, destacam-se os bancos de investimento e bancos de desenvolvimento.

Conforme Assaf Neto (2012), os bancos de investimento são grandes


fornecedores de créditos de médio e longo prazos, suprindo o mercado com
recursos para investimento em capital de giro ou então para investimento em
capital fxo. Como agentes fnanciadores, essas instituições efetuam operações
em grande montante, como repasses de recursos ofciais de crédito, repasses
de recursos captados no exterior, operações de subscrição pública de valores
mobiliários (ações e debêntures) e fnanciamento de bens de produção a
profssionais autônomos.

Cabe lembrar que tais instituições não podem captar recursos por meio
de depósitos à vista, assim como os efetuados pelos bancos comerciais. Sobre este
aspecto, Hoji (2017, p. 30) explica que os bancos de investimentos “captam recursos
por meio da emissão de Certifcados de Depósito Bancário (CDBs) e Recibos de
Depósito Bancário (RDBs), repasses de origem interna ou externa, ou pela venda de
cotas de fundos de investimentos. São instituições especializadas em underwriting
(subscrição pública de ações) e estruturação de fnanciamentos de projetos”.

Já os bancos de desenvolvimento têm como principal objetivo


“proporcionar o suprimento oportuno e adequado dos recursos necessários
ao fnanciamento, a médio e longo prazos, de programas e projetos que visem
promover o desenvolvimento econômico e social, conforme determinação
governamental” (PINHEIRO, 2012, p. 77).

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) é


o principal agente do Governo Federal, no entanto há instituições de fomento
regionais, por exemplo, o Banco do Nordeste do Brasil e o Banco da Amazônia,
que são controlados pelos seus respectivos governos estaduais. Devido à sua
importância, daremos maior destaque ao BNDES.

TE
IMPORTAN

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) é a instituição


responsável pela política de investimento de longo prazo do Governo Federal, sendo a principal
instituição fnanceira de desenvolvimento econômico e social (SALAZAR, 2010).

102
TÓPICO 2 | SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL

“O BNDES é um órgão vinculado ao Ministério do Desenvolvimento,


Indústria e Comércio Exterior e tem como objetivo apoiar empreendimentos que
contribuam para o desenvolvimento do Brasil. Dessa ação resultam a melhoria da
competitividade da economia brasileira e a elevação da qualidade de vida da sua
população” (PINHEIRO, 2012, p. 77).

O Banco de Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)


conta com duas subsidiárias que formam o chamado Sistema BNDES:

• Finame (Agência Especial de Financiamento Industrial): criada com o objetivo


de fnanciar a comercialização de máquinas e equipamentos;
• BNDESPAR (BNDES Participações): criada com o objetivo de possibilitar a
subscrição de valores mobiliários no mercado de capitais brasileiro.

DICAS

Para saber mais sobre a forma de atuação e fontes de fnanciamentos do BNDES,


acesse: https://www.bndes.gov.br/wps/portal/site/home

Por fm, o último grupo de operadores fnanceiros é o Sistema Distribuidor


de Títulos e Valores Mobiliários. Este sistema, como o próprio nome sugere, é
composto pelas instituições que transacionam títulos e valores mobiliários, além
de moedas estrangeiras. Dentre as principais instituições, destacam-se as bolsas
de valores, as sociedades corretoras, as sociedades distribuidoras e os agentes
autônomos de investimentos.

Conforme Cavalcante, Misumi e Rudge (2005), as bolsas de valores


constituem-se como associações civis, sem fns lucrativos ou sociedades anônimas
que têm por objetivo manter local adequado à realização de transações de compra
e venda de títulos e valores mobiliários, em mercado livre e aberto, organizado e
fscalizado pelos seus membros, pela autoridade monetária e, em especial, pela
Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

Assaf Neto (2012, p. 50) defne bolsas de valores como sendo “organizações
que mantêm um local onde são negociados os títulos e valores mobiliários de
pessoas jurídicas públicas e privadas. Para tanto, devem apresentar todas as
condições necessárias para o perfeito funcionamento dessas transações, tais como
organização, controle e fscalização”.

Além de suas funções básicas, as bolsas de valores propiciam liquidez


às aplicações fornecendo um preço de referência para os ativos ali negociados
por intermédio de um mercado contínuo, representado por seus pregões diários
(CAVALCANTE; MISUMI; RUDGE, 2005).
103
UNIDADE 2 | ESTRUTURA E NORMATIVA FINANCEIRA

As sociedades corretoras são instituições que efetuam, com exclusividade,


a intermediação fnanceira nos pregões das bolsas de valores (ASSAF NETO, 2012).
Conforme Mellagi Filho e Ishikawa (2008, p. 132), as sociedades corretoras “operam
com compra, venda e distribuição de títulos e valores mobiliários (inclusive ouro)
por conta de terceiros”. Sua constituição depende de autorização do Banco Central
do Brasil (BACEN) e o exercício de sua atividade depende de autorização da
Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e, como tal, podem operar nos recintos
das bolsas de valores e mercadorias. Dentre suas principais atuações, estão:

• efetuar lançamentos públicos de ações;


• administrar carteiras e custodiar valores mobiliários;
• instituir, organizar e administrar fundos de investimentos;
• operar no mercado aberto e intermediar operações de câmbio.

Cavalcante, Misumi e Rudge (2005) lembram que a principal função


das sociedades corretoras é promover, de forma efciente, a aproximação entre
compradores e vendedores de títulos de valores mobiliários, dando a estes
negociabilidade adequada através de operações realizadas em recintos próprios
(bolsas de valores). Dessa forma, exercem papel de unifcação do mercado, dando
segurança ao sistema e liquidez aos títulos transacionados.

NOTA

“As sociedades corretoras apresentam como principal característica operar em


bolsas de valores, com títulos e valores mobiliários de negociação autorizada, comprando e
vendendo títulos e valores mobiliários por conta de terceiros” (BRITO, 2013, p. 11).

Já as sociedades distribuidoras são frmas constituídas como sociedades


anônimas ou sociedade por cotas de responsabilidade limitada, cuja autorização
para funcionamento é dada pelo Banco Central do Brasil (BACEN) (CAVALCANTE;
MISUMI; RUDGE, 2005). Conforme Assaf Neto (2012), as sociedades distribuidoras
são também instituições intermediadoras de títulos e valores mobiliários, cujos
objetivos básicos se assemelham bastante com as corretoras.

NOTA

“As sociedades distribuidoras têm por obuetivo principal a subscrição, distribuição


e/ou intermediação da colocação de títulos de valores mobiliários para venda, distribuição ou
negociação, contribuindo para a captação e condução de poupança no mercado de capitais”
(BRITO, 2013, p. 11).

104
TÓPICO 2 | SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL

Por fm, conforme destacado por Assaf Neto (2012), os agentes autônomos
de investimentos são pessoas físicas credenciadas pelas instituições fnanceiras
intermediadoras (corretoras, distribuidoras, bancos e fnanceiras) para atuarem na
colocação de títulos e valores mobiliários e outros serviços fnanceiros no mercado,
operando em troca do recebimento de uma comissão. Esses profssionais, da
mesma forma que as instituições fnanceiras, são fscalizados pelo Banco Central
do Brasil (BACEN) e pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

Neste tópico estudamos a estrutura do Sistema Financeiro Nacional


e as principais características das instituições fnanceiras que o compõem. No
próximo iremos estudar a sistemática do mercado de valores mobiliários, bem
como identifcar e diferenciar o papel dos participantes deste mercado.

105
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:

• O Sistema Financeiro Nacional (SFN) foi institucionalizado e implementado


(1964 e 1968) na economia brasileira seguindo uma orientação que privilegiou
a especialização de suas instituições e mercados de acordo com áreas de
captação e aplicação dos recursos mobilizados.

• A estrutura do Sistema Financeiro Nacional (SFN) pode ser dividida em órgãos


normativos, entidades supervisoras e operadores fnanceiros.

• O Conselho Monetário Nacional (CMN) é o órgão máximo do Sistema


Financeiro Nacional (SFN).

• Vinculados ao Conselho Monetário Nacional (CMN), como órgão normativo


do Sistema Financeiro, encontram-se o Banco Central do Brasil (BACEN) e a
Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

• Essas três grandes instituições compõem o denominado subsistema normativo


do Sistema Financeiro Nacional (SFN), responsável pelo funcionamento do
mercado e de suas instituições.

• O Banco Central do Brasil (BACEN) assume cinco papéis: banco dos bancos,
gestor do Sistema Financeiro Nacional (SFN), executor da política monetária,
banco emissor e banco do governo.

• A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) é uma entidade supervisora


do Sistema Financeiro Nacional (SFN) especifcamente voltada para o
desenvolvimento, cumprimento das normas operativas e fscalizadoras do
mercado de valores mobiliários.

• As transferências de recursos fnanceiros entre investidores, agentes capazes


de gerar poupança, captadores e agentes carentes de capital processam-se por
meio de intermediários fnanceiros (instituições fnanceiras).

• As negociações com títulos públicos no mercado monetário brasileiro são


controladas pelo Sistema Especial de Liquidação e Custódia (SELIC).

106
AUTOATIVIDADE

1 O que é Sistema Financeiro Nacional?

2 Qual o papel do Conselho Monetário Nacional?

3 Qual a atribuição das entidades supervisoras?

4 O que faz o Banco Central do Brasil (BACEN)?

5 Qual o papel da Comissão de Valores Mobiliários (CVM)?

107
UNIDADE 2 TÓPICO 3

MERCADO DE VALORES MOBILIÁRIOS

1 INTRODUÇÃO
Por vezes, o mercado de crédito é insufciente para suprir as necessidades
de fnanciamento dos agentes econômicos, especialmente aqueles envolvidos
com as atividades produtivas. Isso pode ocorrer quando, por exemplo, uma
determinada organização empresarial necessita de um volume fnanceiro maior
do que a sua capacidade de se fnanciar no mercado de crédito. Ademais, o
mercado de crédito possui um alto custo em função dos riscos assumidos pelas
instituições fnanceiras (intermediários fnanceiros), o que pode inviabilizar os
investimentos pretendidos pelas organizações.

Em geral, os investimentos nos setores produtivos demandam recursos


fnanceiros de valores mais altos e de prazos de retorno do capital investido mais
longos, o que implica automaticamente maiores riscos. Tais características têm
demandado o desenvolvimento e crescimento de um mercado muito específco, o
Mercado de Capitais, também conhecido como Mercado de Valores Mobiliários.

Este mercado tem sido um importante mecanismo de fonte de fnanciamento


de longo prazo para as organizações, além de possibilitar a liquidez dos papéis
negociados no mercado, criando um ciclo virtuoso para o desenvolvimento da
economia como um todo. Ele é operacionalizado especialmente pelas bolsas de
valores e pelas sociedades corretoras, que são supervisionadas pela Comissão de
Valores Mobiliários (CVM).

O mercado de capitais, por meio da bolsa de valores e das sociedades


corretoras, possibilita que as empresas tenham sempre a opção de levantar capital,
bem como permite que os investidores possam aplicar seus recursos fnanceiros
a taxas de retorno mais atrativas que o mercado fnanceiro dito como tradicional.

O propósito deste tópico é o de promover a compreensão a respeito da


sistemática do mercado de valores mobiliários, bem como identifcar e diferenciar
o papel dos participantes deste mercado.

109
UNIDADE 2 | ESTRUTURA E NORMATIVA FINANCEIRA

2 SISTEMÁTICA DO MERCADO DE VALORES MOBILIÁRIOS


Quando se estuda o mercado fnanceiro, pretende-se compreender as
principais características das operações nele realizadas. De forma mais específca,
pretende-se conhecer os agentes econômicos envolvidos nas mais diversifcadas
operações, os intermediários fnanceiros e não fnanceiros, os ativos e produtos
fnanceiros que estão sendo negociados, os meios utilizados para a captação dos
recursos, a fnalidade da aplicação desses recursos, os prazos das operações, a
formalização de tais operações, dentre outros (CVM, 2014).

Conforme B3 - Brasil Bolsa Balcão (2017, p. 8), “quando as empresas


necessitam de novos recursos para investimento em seus projetos, existe uma ampla
gama de alternativas à disposição para a captação desses recursos. Inicialmente, a
empresa pode optar pelo uso de recursos próprios, seja por meio da retenção ou
reinvestimento do lucro, seja pela renovação de créditos já existentes”.

A CVM (2014) destaca que diante da necessidade de recursos fnanceiros


para novos investimentos, as empresas possuem três possíveis fontes para
captação. A escolha entre uma das alternativas é uma decisão fnanceira estratégica
da empresa, que deverá avaliar os custos e benefícios de cada opção. Essas fontes
de recursos podem ser:

• utilização de recursos próprios, como os lucros acumulados pela companhia;


• contratação de fnanciamento bancário através das linhas de crédito tradicionais
ou linhas de fnanciamento governamentais, como o BNDES;
• utilização do mercado de capitais por meio de emissão pública de títulos
diretamente aos investidores.

De acordo com B3 - Brasil Bolsa Balcão (2017, p. 8), as empresas podem


“tentar obter recursos externos, de terceiros ou por meio da ampliação do seu
próprio capital. Os terceiros dispostos a oferecer recursos para o fnanciamento
dos projetos das empresas são investidores que detêm capital excedente e buscam
rentabilizá-lo por meio de investimentos, por exemplo, no mercado de capitais,
comprando títulos e valores mobiliários emitidos pelas empresas”.

Como observamos nos tópicos anteriores, o sistema fnanceiro pode


ser classifcado em diferentes mercados, dependendo da natureza e de suas
características. Dentre eles, dois são muito bem delimitados e difcilmente
geram alguma confusão sobre sua atuação na economia: o mercado monetário
e o mercado cambial. No entanto, o mercado de crédito e o mercado de capitais
(mercado de valores mobiliários) têm gerado certa dúvida, especialmente em
função de suas características serem muito similares.

Vamos imaginar a seguinte situação: uma determinada empresa contrata


um empréstimo para pagamento de longo prazo em uma instituição fnanceira
para instalação de uma nova planta industrial. Esta operação ocorre no mercado
de crédito ou no mercado de capitais? A resposta? Depende!!

110
TÓPICO 3 | MERCADO DE VALORES MOBILIÁRIOS

O que determina a característica ou então a atualização dos recursos


fnanceiros de um mercado ou de outro não é o prazo da operação e nem a
fnalidade da aplicação deste recurso, mas a característica da intermediação
fnanceira propriamente dita, o que envolve o tipo de ativo utilizado, a forma
como foi captado o recurso fnanceiro e, por muitas vezes, o tipo de intermediário
fnanceiro utilizado nesta operação.

Em CVM (2014, p. 34) podemos verifcar que:

No mercado de crédito, as instituições fnanceiras captam recursos


dos poupadores e os emprestam aos tomadores, assumindo o risco da
operação. São remuneradas por uma diferença entre a taxa de captação e
de aplicação desses recursos. No mercado de capitais, por outro lado, os
agentes superavitários emprestam seus recursos diretamente aos agentes
defcitários. Porém, as operações ocorrem sempre com a intermediação de
uma instituição fnanceira. No entanto, nesse mercado, essas instituições
atuam principalmente como prestadoras de serviços, estruturando as
operações, assessorando na formação de preços, oferecendo liquidez,
captando clientes, distribuindo os valores mobiliários no mercado, entre
outros trabalhos. São remuneradas pelo serviço prestado.

Em relação ao mercado de valores mobiliários, Assaf Neto e Lima


(2017) explicam que este é uma importante fonte de recursos de longo prazo
para investimentos da economia, assumindo papel relevante no processo
de desenvolvimento econômico. A relação entre os agentes econômicos
superavitários (que possuem capacidade de poupança) e os investidores (carentes
de recursos fnanceiros de longo prazo) se processa por diversas modalidades
de fnanciamentos de longo prazo para capital de giro e capital fxo, atuando
também com operações de prazo indeterminado, como aquelas que envolvem
emissão e subscrições de ações.

Cavalcante, Misumi e Rudge (2005, p. 17) mencionam que “as operações no


mercado de capitais usualmente são de longo prazo e podem envolver a compra de
participação acionária no empreendimento”. É neste contexto que o presente tópico
pretende apresentar a sistemática do mercado de valores mobiliários. Mas, afnal,
o que é mercado de capitais? Podemos encontrar na literatura uma infnidade de
defnições e conceitos, mas que ao fm nos conduzem a um mesmo entendimento.

Em Pinheiro (2012, p. 174) observamos que “o mercado de capitais pode


ser defnido como um conjunto de instituições e de instrumentos que negociam
com títulos e valores mobiliários, objetivando a canalização dos recursos dos
agentes compradores para os agentes vendedores”.

A CVM (2018, p. 36) conceitua mercado de capitais “como o segmento do


mercado fnanceiro em que são criadas as condições para que as empresas captem
recursos diretamente dos investidores, através da emissão de instrumentos
fnanceiros, com o objetivo principal de fnanciar suas atividades ou viabilizar
projetos de investimentos”.

111
UNIDADE 2 | ESTRUTURA E NORMATIVA FINANCEIRA

Já B3 (2017, p. 2) destaca que o mercado de capitais

tem como objetivo principal canalizar recursos dos agentes


econômicos para a capitalização das empresas de capital aberto, por
meio de operações com títulos e valores mobiliários em mercado de
bolsa ou balcão. A compra e a venda de títulos e valores mobiliários
pelos diversos agentes econômicos (indivíduos, empresas, fundos e
instituições fnanceiras, por exemplo) é o que defne a liquidez e o
valor de mercado de tais ativos e, portanto, da empresa emissora.

Como vimos anteriormente, o surgimento do mercado de capitais ocorreu


devido à incapacidade do mercado de crédito em atender às necessidades da
atividade produtiva no sentido de garantir um fuxo de recursos nas condições
adequadas em termos de volumes fnanceiros, prazos, custos, dentre outras
exigibilidades. Pinheiro (2012, p. 174) destaca que o seu surgimento foi
fundamentado em dois princípios:

• contribuir para o desenvolvimento econômico, atuando como o


propulsor de capitais para os investimentos, estimulando a formação
da poupança privada; e
• permitir e orientar a estruturação de uma sociedade pluralista,
baseada na economia de mercado, permitindo a participação
coletiva de forma ampla na riqueza e nos resultados da economia.

No mercado de capitais, os investidores, ao emprestarem seus recursos


diretamente para as empresas, adquirem títulos chamados de valores mobiliários
que representam as condições estabelecidas no negócio. Podem ser títulos de
dívida, como as debêntures, onde se estabelece uma relação de crédito entre as
partes tomadora e poupadora, ou podem ser títulos patrimoniais (ou de capital)
em que os investidores se tornam sócios do negócio com todos os direitos e
deveres inerentes, como ações. Os investidores podem adquirir esses valores
mobiliários de forma direta ou indireta por meio de estruturas de investimento
coletivo, como os fundos de investimentos ou clubes de investimentos.

FUTUSRO
ESTUDOS

Valores mobiliários, fundos de investimentos e clubes de investimentos são


assuntos que serão abordados em tópico e capítulo específco deste caderno de estudos.

Para que uma empresa possa participar do mercado de capitais ela precisa,
obrigatoriamente, estar listada em uma bolsa de valores. A literatura classifca
esse processo como “abertura de capital”. Somente dessa forma as empresas
podem ter suas ações negociadas publicamente. Sendo assim, qualquer pessoa
pode se tornar acionista desta empresa, bastando comprar ações por meio de uma
corretora da bolsa de valores (BM&FBOVESPA, 2018a).

112
TÓPICO 3 | MERCADO DE VALORES MOBILIÁRIOS

TE
IMPORTAN

É importante salientar que a abertura de capital pode ocorrer com ou sem oferta
de ações no mercado.

Para a abertura de capital a empresa precisa entrar com o pedido de


registro de Companhia Aberta na CVM, que é o órgão regulador e fscalizador
do mercado de capitais brasileiro. Junto a esse pedido, solicita uma autorização
para realizar venda de ações ao público, conhecida como distribuição pública de
ações. Essa primeira colocação pública de ações da Companhia é chamada de
Oferta Pública Inicial ou IPO (sigla em inglês para Initial Public Ofering).

Mas, qual o motivo e quais as vantagens para a empresa abrir o seu capital?
Em BM&FBovespa (2018b, p. 4) encontramos tais justifcativas:

• para captar recursos: a abertura de capital é uma fonte atrativa de


fnanciamento, pode auxiliar na adequação da estrutura de capital
alavancada e permite à empresa acessar investidores do mundo todo;
• para obter liquidez patrimonial: a abertura de capital permite ao
executivo diversifcar seus investimentos e patrimônio, além de
possibilitar a saída de investidores, como fundos de private equity/
venture capital;
• para obter visibilidade: abrir o capital melhora a imagem institucional
da companhia, que ganha projeção e reconhecimento da mídia e do
mercado fnanceiro. Vale destacar também o aumento da visibilidade
com os investidores. A companhia passa a ser conhecida em âmbito
nacional e, muitas vezes, internacional;
• para obter moeda de troca e referencial: a abertura de capital
possibilita à empresa adquirir ativos sem utilizar recursos do
caixa, ou seja, uma aquisição pode ser paga com ações da própria
companhia, processo mais rápido e ágil;
• para facilitar processos de reestruturação societária: a abertura de
capital pode ser uma solução para problemas relativos à estrutura
societária, partilhas de heranças e processos sucessórios;
• para melhoria do relacionamento com stakeholders: com a abertura de
capital, ocorre o fortalecimento da relação com funcionários, clientes,
fornecedores, instituições fnanceiras, concorrentes, entre outros;
• para aprimorar suas práticas de governança corporativa: da
preparação à abertura de capital efetivamente, a empresa deve elevar
suas práticas de governança corporativa a um padrão altamente
diferenciado. Esse padrão exigido pelo status de companhia aberta
infuencia positivamente na valorização da empresa;
• para aumentar as vantagens competitivas da sua empresa: uma
companhia aberta tende a ter um diferencial competitivo em relação aos
seus concorrentes ainda fechados. Quando recorre ao endividamento
bancário, por exemplo, seu custo fnanceiro é normalmente inferior
ao de uma companhia fechada. Ao negociar com um fornecedor ou
cliente, também pode ter preferência pelo fato de ser aberta;
• para perenizar a sua empresa: a abertura de capital irá perenizar
a sua empresa, isto é, eternizará o seu negócio, desejo de qualquer
empreendedor.

113
UNIDADE 2 | ESTRUTURA E NORMATIVA FINANCEIRA

É por meio do mercado de ações, mais especifcamente pela venda da


participação do patrimônio líquido da empresa representados pelas suas
ações, que as sociedades anônimas captam os recursos necessários ao próprio
desenvolvimento das organizações, assumindo o compromisso de remunerar os
seus acionistas em função do capital nela aplicado (FORTUNA, 2014).

Conforme descrito por Galvão, Ribeiro e Oliveira (2006), a prática de


abertura de capital de uma empresa ocorre pelo lançamento de ações ao público, ou
seja, a abertura de capital permite que a ação seja negociada em bolsas de valores.

Cabe lembrar que a abertura de capital pode decorrer da colocação de


qualquer tipo de valores mobiliários na bolsa, sejam as ações, debêntures ou ainda
notas promissórias. Galvão, Ribeiro e Oliveira (2006) explicam que o lançamento
de ações pode ocorrer tanto por meio de uma emissão de novas ações, trazendo
recursos à empresa emissora de tais ações, quanto pelo lançamento ao público de
um lote de ações detido pelo acionista atual.

NOTA

A principal função do mercado de capitais é possibilitar que empresas (ou


outros emissores de valores mobiliários) captem recursos diretamente do público investidor
em condições mais vantauosas do que as oferecidas pelos empréstimos e fnanciamentos
bancários para viabilizar seus prouetos de investimento. Quando as companhias decidem
levantar recursos dessa forma, realizam uma nova emissão de valores mobiliários no mercado
(B3 - BRASIL BOLSA BALCÃO, 2017, p. 10).

A estrutura do mercado acionário pode ser dividida em dois segmentos:


o mercado primário e o mercado secundário. Em Pinheiro (2012, p. 175) podemos
verifcar no que consistem estes dois segmentos:

• o mercado primário de ações é onde se negocia a subscrição


(venda) de novas ações ao público, ou seja, no qual a empresa
obtém recursos para seus empreendimentos. Quando a emissão é
subscrita totalmente pelos antigos acionistas, embora seja registrada
em bolsa, chama-se subscrição particular e é feita diretamente na
empresa ou por meio de bolsa de valores. Nessa etapa, ocorre a
primeira negociação e o dinheiro da venda vai para a empresa;
• o mercado secundário de ações é o lugar onde se transferem títulos
entre investidores e/ou instituições. Portanto, torna-se uma condição
para a existência do mercado primário, em que as empresas podem
efetivamente obter recursos fnanceiros. O fator fundamental na
decisão do investidor quando compra ações de novos lançamentos
é a possibilidade de que, mais tarde, ao necessitar do total ou parte
do capital investido, possa desfazer-se delas e reaver seu dinheiro
com lucros.

114
TÓPICO 3 | MERCADO DE VALORES MOBILIÁRIOS

Agora você deve estar se perguntando: na prática, qual a diferença entre


estes dois segmentos? A diferença básica entre o mercado primário e o mercado
secundário é que o primeiro se caracteriza pelo “encaixe” de recursos na empresa,
enquanto o segundo consiste na mera transação entre compradores e vendedores
de ações, não ocorrendo alterações fnanceiras na empresa.

TE
IMPORTAN

Para fns didáticos, estamos dando ênfase na compra e vendas de ações.


No entanto, a sistemática é a mesma para outros ativos fnanceiros (valores mobiliários)
negociados pelas empresas, tais como debêntures, notas promissórias, dentre outros.

Pinheiro (2012) explica que o mercado primário de ações exerce a função


de canalizar recursos dos que poupam para o investimento nas atividades
produtivas. Já a função do mercado secundário é dar liquidez ao investidor
possibilitando que, no momento em que realizar uma operação de venda, exista
o comprador e vice-e-versa, o que viabilizará o crescimento do mercado primário
e a consequente capitalização das empresas via mercado de ações.

Vimos que o mercado de capitais é importante para o desenvolvimento da


economia do país, transforma-se em uma atraente fonte de recursos fnanceiros
para as organizações que pretendem expandir suas operações etc. E para os
investidores (poupadores), aqueles que possuem superávit em suas rendas? Há
algum benefício? Com certeza! Isto fca claro em CVM (2014, p. 36):

Já do ponto de vista dos investidores, o mercado de capitais surge como


alternativa às aplicações tradicionais em produtos oferecidos pelos bancos
ou pelo governo. É nesse mercado que os poupadores têm a oportunidade
de participar de empreendimentos que consideram interessantes, desde
que dispostos a assumir riscos daí decorrentes. Espera-se, em especial
nos títulos patrimoniais, uma rentabilidade superior aos investimentos
tradicionais, embora com risco também superior. Isso porque, diferente
do mercado de crédito, em que o risco das operações é centralizado nos
bancos, no mercado de capitais o risco da operação em que os recursos
são aplicados é assumido pelos próprios investidores.

A CMV (2014, p. 35) lembra ainda que:


As instituições fnanceiras que atuam como prestadoras de serviços
não assumem a responsabilidade pelo cumprimento das obrigações
estabelecidas e formalizadas entre os emissores e os investidores.
Assim, a responsabilidade pelo pagamento dos juros e do principal
de uma debênture, por exemplo, é da emissora e não da instituição
fnanceira que tenha assessorado ou participado do processo de
colocação dos títulos no mercado.

115
UNIDADE 2 | ESTRUTURA E NORMATIVA FINANCEIRA

FUTUSRO
ESTUDOS

São participantes desse mercado, entre outros, os bancos de investimentos, as


corretoras e distribuidoras de valores mobiliários, as entidades administradoras de mercado
de bolsa de balcão, além de diversos outros prestadores de serviços.

Aprendemos como funciona a sistemática do mercado de capitais e a sua


contribuição tanto como fonte de recursos para que as empresas possam investir
em seus projetos na perspectiva de médio e longo prazos, quanto para o próprio
desenvolvimento econômico do país. No próximo subtópico identifcaremos
quem são os participantes desse mercado e suas respectivas funções.

3 PARTICIPANTES DO MERCADO DE CAPITAIS


Para que os recursos fnanceiros (dinheiro) saiam da poupança dos agentes
superavitários (investidores) para o caixa das empresas (agentes que demandam de
recursos fnanceiros para investimentos) e para que os poupadores (investidores)
consigam trocar os papéis adquiridos no mercado primário (liquidez), é necessário
que exista um sistema de intermediação fnanceira cuja composição consiste em
uma diversidade de instituições, cada uma com sua função específca.

De forma mais específca, o sistema que coloca em funcionamento o


mercado de capitais na sua plena harmonia é composto pelas bolsas de valores,
pelas sociedades corretoras e sociedades distribuidoras, pelos agentes autônomos,
pelos clubes e fundos de investimentos e pelos bancos de investimentos.

Mas, no que consiste cada uma dessas instituições? Quais as suas funções?
Vejamos então cada uma delas. Começaremos pela bolsa de valores.

É por meio das bolsas de valores que o mercado de capitais é


operacionalizado. Conforme Salazar (2010, p. 191), “a bolsa de valores é uma
instituição de direito civil sem fns lucrativos, sendo seu patrimônio representado
por títulos patrimoniais que pertencem às sociedades corretoras. As atividades
da bolsa de valores são supervisionadas pela Comissão de Valores Mobiliários”.

Pinheiro (2012, p. 264) destaca que:

as bolsas de valores são instituições de caráter econômico que têm como


objetivo a negociação pública mercantil de títulos e valores mobiliários,
ou seja, é um local onde se compra e vende ações. Nelas ocorrem a
canalização da oferta e demanda dos investidores e a publicação ofcial
dos preços ou cotações resultantes das operações realizadas.

116
TÓPICO 3 | MERCADO DE VALORES MOBILIÁRIOS

De acordo com o disposto na Resolução nº 2.690, de 28/01/2000, do


Conselho Monetário Nacional (CMN), as bolsas de valores constituem-se como
associações civis, sem fns lucrativos ou sociedades anônimas, e têm por objetivo
social, entre outros, manter local adequado ao encontro de seus membros e à
realização, entre eles, de transações de compra e venda de títulos e valores
mobiliários, em mercado livre e aberto, especialmente organizado e fscalizado
por seus membros, pela autoridade monetária e, em especial, pela Comissão de
Valores Mobiliários (CVM) (CAVALCANTE; MISUMI; RUDGE, 2005).

Sendo assim, a bolsa de valores é uma instituição com responsabilidade


e função de interesse público que proporciona um local apropriado para a
realização de negócios com títulos e valores mobiliários. A razão de sua existência
consiste em proporcionar liquidez aos títulos negociados no mercado de capitais,
permitindo que as negociações sejam realizadas no menor tempo possível e a um
preço justo de mercado, formado pelo consenso de oferta e demanda pelo próprio
mercado (ASSAF NETO; LIMA, 2017).

Gallagher (2012, p. 33) destaca que:

para que o processo de formação de preços seja mais transparente e


atraente, existem as assim chamadas práticas equitativas de mercado,
segundo as quais todos os que comprarem e venderem ações em bolsa
terão o mesmo tratamento, obedecerão aos mesmos procedimentos e
terão idêntico acesso à informação. Com isso cria-se uma sistematização
cada vez mais formal e pública das operações de compra e venda de ações.

A bolsa de valores propicia liquidez às aplicações fornecendo,


concomitantemente, um preço de referência para os ativos ali negociados por
intermédio de um mercado contínuo, representado por seus pregões diários
(CAVALCANTE; MISUMI; RUDGE, 2005).

TE
IMPORTAN

Dar liquidez signifca fazer com que o dinheiro de quem comprou o título chegue
às mãos de quem vendeu, representado pela liquidação fnanceira, e que a titularidade do
título seua trocada, ou seua, liquidação física. Por sua vez, custódia signifca guarda. Isso
quer dizer que o sistema de custódia é que dá a garantia de que o título realmente existe e
confrma a sua titularidade (GALLAGHER, 2012, p. 33).

117
UNIDADE 2 | ESTRUTURA E NORMATIVA FINANCEIRA

Conforme Galvão, Ribeiro e Oliveira (2006), dentre as principais


atribuições da bolsa de valores está a de oferecer um mercado para a cotação
dos títulos e valores mobiliários nelas registrados; orientar e fscalizar os serviços
prestados por seus membros; facilitar a divulgação constante de informações
sobre as empresas e sobre os negócios que se realizam sob seu controle e; propiciar
liquidez às aplicações de curto e longo prazos, por intermédio de um mercado
contínuo, representado por seus pregões diários.

Gallagher (2012, p. 33) desta que que:

[...] para que o processo de formação de preços seja mais transparente


e atraente, existem as assim chamadas práticas equitativas de
mercado, segundo as quais todos os que comprarem e venderem
ações em Bolsa terão o mesmo tratamento, obedecerão aos mesmos
procedimentos terão idêntico acesso à informação. Com isso cria-se
uma sistematização cada vez mais formal e pública das operações de
compra e venda de ações.

Apesar de as bolsas de valores estarem abertas a todos os tipos de


indivíduos e instituições e possuírem poder de autorregulamentação, elas estão
sujeitas ao controle e à regulamentação de órgãos governamentais, tais como
a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) no caso brasileiro e a Securities and
Exchange Commission (SEC) no contexto norte-americano (PINHEIRO, 2012).

As sociedades corretoras de valores mobiliários são instituições típicas do


mercado acionário, operando com compra, venda e distribuição de títulos e valores
mobiliários (inclusive ouro) por conta de terceiros. Elas fazem a intermediação
com as bolsas de valores e de mercadorias (FORTUNA, 2014).

As sociedades corretoras são instituições membros das bolsas de valores,


cuja constituição depende de autorização do Banco Central do Brasil (BACEN)
e o exercício de sua atividade depende de autorização da Comissão de Valores
Mobiliários (CVM), e como tal operam nos recintos das bolsas de valores e de
mercadorias (GALVÃO; RIBEIRO; OLIVEIRA, 2006).

Conforme CVM (2014), as sociedades corretoras são constituídas sob a


forma de sociedade por ações ou por cotas de responsabilidade limitada.

TE
IMPORTAN

As sociedades corretoras de valores mobiliários necessitam de autorização


prévia do BACEN para serem constituídas, estando suueitas à fscalização da Bolsa de Valores,
da CVM e do próprio BACEN (CVM, 2014).

118
TÓPICO 3 | MERCADO DE VALORES MOBILIÁRIOS

As sociedades corretoras são caracterizadas como instituições fnanceiras


com múltiplas funções e até o início de março de 2009 eram as únicas instituições
autorizadas a negociar em bolsas de valores. Conforme CVM (2014, p. 51):

sua principal atividade é a execução de ordens de compra e venda


de ativos para seus clientes. Podem auxiliar o investidor na medida
em que disponibilizam para seus clientes informações provenientes
de seus departamentos técnicos ou de análise de terceiros. Podem
também administrar fundos de investimentos. Em geral, cobram taxas
e comissões por seus serviços.

NOTA

“As sociedades corretoras são instituições constituídas como sociedades anônimas


ou sociedade por cotas de responsabilidade limitada. Sua principal função é promover, de forma
efciente, a aproximação entre compradores e vendedores de títulos e valores mobiliários,
dando a eles a negociabilidade adequada em recinto próprio” (SALAZAR, 2010, p. 192).

Conforme Galvão, Ribeiro e Oliveira (2006), as sociedades corretoras


são intermediárias especializadas em negociar valores mobiliários em pregões,
onde executam as ordens de compra e venda de valores mobiliários. Dentre as
suas principais atribuições, destacam-se: promover ou participar de lançamento
público de ações; administrar e custodiar carteiras de títulos e valores mobiliários;
organizar e administrar fundos e clubes de investimento; operar em bolsas de
mercadorias e futuros; efetuar operações de compra e venda de metais preciosos
e moedas estrangeiras e; prestar serviços de assessoria técnica em operações
inerentes ao mercado fnanceiro.

Conforme observamos, as sociedades corretoras efetuam principalmente


a intermediação fnanceira nas bolsas de valores. Neste sentido, Gallagher (2012,
p. 36) apresenta suas principais competências:

• operar em bolsas de mercadorias e futuros, por conta própria e de


terceiros;
• promover ou participar de lançamento público de ações;
• administrar e custodiar carteiras de títulos e valores mobiliários;
• organizar e administrar fundos e clubes de investimentos;
• efetuar operações de intermediação de títulos e valores mobiliários,
bem como de moedas estrangeiras, por conta própria ou de terceiros;
• efetuar operações de compra e venda de metais preciosos, por conta
própria ou de terceiros;
• prestar serviços de assessoria técnica em operações e atividades
inerentes ao mercado fnanceiro e de capitais.

119
UNIDADE 2 | ESTRUTURA E NORMATIVA FINANCEIRA

As sociedades distribuidoras de valores mobiliários constituem-se


também em instituições intermediadoras na compra e venda de títulos e valores
mobiliários, cujos objetivos básicos se assemelham bastante aos das corretoras
(GALVÃO; RIBEIRO; OLIVEIRA, 2006). Elas também são autorizadas a
funcionar pelo Banco Central do Brasil (BACEN) e pela Comissão de Valores
Mobiliários (CVM).

Conforme Gallagher (2012, p. 37), “as Sociedades Distribuidoras de


Títulos de Valores Mobiliários (DTVM) são instituições auxiliares do sistema
fnanceiro que participam do sistema de intermediação de títulos no mercado
(ações, debêntures e outros), colocando-os à venda para o público”.

TE
IMPORTAN

São constituídas sob a forma de sociedade por ações ou por cotas de sociedade
limitada e, em sua denominação social, deve constar obrigatoriamentea expressão
“Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários” (CVM, 2014, p. 52).

A Decisão Conjunta de Nº 17 do Banco Central do Brasil (BACEN) e da


Comissão de Valores Mobiliários (CVM) de 02/03/09 autorizou as Sociedades
Distribuidoras de Valores Mobiliários a operarem diretamente nos ambientes e
sistemas de negociação dos mercados organizados de bolsas de valores, negociando
ações. Até então as corretoras, únicas autorizadas a negociar diretamente, eram
obrigadas a adquirir título patrimonial da bolsa de valores.

Dessa forma, com a liberalização por parte do Conselho Monetário


Nacional (CMN), “as sociedades distribuidoras, se desejarem, podem operar em
bolsa como as corretoras, bastando apenas cumprir todas as regras das bolsas e
dos órgãos reguladores” (GALLAGHER, 2012, 37).

Nessas condições, Fortuna (2014, p. 40) elenca algumas das atividades


executadas pelas sociedades distribuidoras:

• subscrição isolada ou em consórcio de emissão de títulos e valores


mobiliários para revenda;
• intermediação da colocação de emissão de capital no mercado;
• operações em bolsas de mercadorias e futuros;
• operações no mercado aberto, desde que satisfaçam as condições
exigidas pelo Banco Central do Brasil (BACEN).

Cabe destacar que da mesma forma que as sociedades corretoras, as


sociedades distribuidoras de valores mobiliários cobram taxas e comissões por
seus serviços (CVM, 2014).

120
TÓPICO 3 | MERCADO DE VALORES MOBILIÁRIOS

Já os agentes autônomos de investimentos “são pessoas físicas credenciadas


pelas instituições fnanceiras intermediadoras (corretoras, distribuidoras, bancos
e fnanceiras) para atuar na colocação de títulos, valores e serviços fnanceiros
junto ao público. Esses profssionais são fscalizados pelo Banco Central do
Brasil (BACEN) e pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM)” (GALVÃO;
RIBEIRO; OLIVEIRA, 2006, p. 236).

Cavalcante, Misumi e Rudge (2005) classifcam os agentes autônomos


como uma pessoa, que pode ser física ou jurídica, uniprofssional, que tem
como atividade a distribuição e a mediação de títulos e valores mobiliários,
quotas de fundos de investimento e derivativos, sempre sob a responsabilidade
das instituições integrantes do sistema de distribuição de valores mobiliários, e
exclusivamente como preposto dessas instituições.

O vínculo desses profssionais com as instituições fnanceiras é


representado por um contrato de prestação de serviços, e eles são remunerados
por comissões de corretagem e/ou comissões de permanência sobre os negócios
realizados para seus clientes de investimento. A atividade foi regulamentada pela
Resolução CMN 2.838/01 e posteriormente pela CVM, através das Instruções 355
e 366, de 2002 (CAVALCANTE; MISUMI; RUDGE, 2005).

O investimento coletivo é a forma mais democrática de associar capitais.


Os fundos de pensões, as entidades de previdência complementar, os fundos
de investimentos, as companhias de seguros e capitalização e as companhias
de investimentos são, na economia moderna, os chamados investidores
institucionais. As tendências mundiais mostram que, no futuro, os fundos de
pensão serão os maiores provedores de recursos para investimentos em todo o
mundo (GALVÃO; RIBEIRO; OLIVEIRA, 2006).

Conforme Fortuna (2014, p, 43), investidores institucionais

não compõem uma instituição em si, mas constituem um tipo de


investidor que por gerenciar recursos de terceiros, e/ou garantir suas
obrigações contratuais com terceiros, deve aplicar recursos de que
dispõe de acordo com regras previamente defnidas pela entidade
fscalizadora do seu segmento de atividade. Podem ser agrupados
em: fundos mútuos de investimentos, entidades abertas e fechadas de
previdência complementar e seguradoras.

NOTA

“Fundo de Investimento é uma comunhão de recursos, constituídos sob a forma


de condomínio, destinado à aplicação em carteira de títulos e valores mobiliários, bem como
em quaisquer outros ativos disponíveis no mercado fnanceiro e de capitais” (PINHEIRO,
2012, p. 202).

121
UNIDADE 2 | ESTRUTURA E NORMATIVA FINANCEIRA

A participação de pessoas físicas no mercado de capitais tem crescido


consideravelmente nos últimos anos. Tal fato deve-se, principalmente, pela
estabilidade da moeda e da queda dos juros, que tem infuenciado o aumento da
participação das pessoas físicas no mercado de renda variável. Tais fatores têm
despertado o interesse dos investidores com menos conhecimento no mercado de
capitais a procurar fundos de investimentos.

Fundo de Investimento é uma comunhão de recursos, captados de


pessoas físicas ou jurídicas, com o objetivo de obter ganhos fnanceiros
a partir da aplicação em títulos e valores mobiliários. Esses recursos são
usados para comprar bens (títulos) que são de todos os investidores, na
proporção de seus investimentos. Seu objetivo, portanto, é promover a
aplicação coletiva dos recursos de seus participantes (CVM, 2014, p. 92).

CVM (2014) apresenta alguns motivos que podem levar alguém a investir
com a ajuda de um fundo de investimentos: contar com a gestão do dinheiro
por parte de um profssional especializado, ter acesso a uma estratégia de
diversifcação a custos menores ou, ainda, ter uma carteira de investimentos que
não conseguiria montar sozinho. Outra grande vantagem para o investidor é a de
conseguir resgatar rapidamente o seu dinheiro.

Além disso, os “Fundos de investimento possibilitam que investidores de


perfl similar, com objetivo, estratégias e tolerância a riscos parecidos, concentrem
recursos para aumentar seu poder de negociar e diluir os custos de administração,
além de contarem com profssionais especializados, dedicados exclusivamente à
gestão de recursos” (CMV, 2014, p. 93).

Você deve estar se perguntando: tem alguma desvantagem? Sim, tem


uma, em especial, que é a de delegar a terceiros (administradores) seus recursos.
Isto gera uma falta de autonomia na tomada de decisão e submissão a regras
previamente estabelecidas e à vontade da maioria dos cotistas. Para supri-la, o
investidor conta com a opção de estabelecer um Clube de Investimentos.

Nos últimos anos, as bolsas de valores, especialmente a Bolsa Brasil Balcão


(B3), vem fazendo um trabalho muito importante na área educacional, com
palestras e visitas de técnicos a empresas, clubes de lazer, eventos e outros locais
de maior aglomeração, incentivando a formação de Clubes de Investimentos.

Clubes de Investidores são associações de pessoas, geralmente com


algum tipo de afnidade, para investimento em ações. “Os clubes de investimento
existem no Brasil há mais de 20 anos, mas a instabilidade econômica das últimas
décadas impedia a consolidação dessa modalidade de investimento, que, por
meio da poupança coletiva, dilui riscos e custos no mercado de renda variável”
(GALVÃO; RIBEIRO; OLIVEIRA, 2006, p. 247).

122
TÓPICO 3 | MERCADO DE VALORES MOBILIÁRIOS

O objetivo da criação do clube de investimentos é dar dinâmica aos


investimentos em ações, ampliando a participação dos investidores em bolsas de
valores. Todas as operações de compra e venda de títulos e valores mobiliários são
registradas sempre em nome do clube, devendo ser custodiadas em instituição
autorizada a prestar este tipo de serviço (ASSAF NETO, 2012).

NOTA

“Clube de Investimento é a comunhão de recursos de, no mínimo três e no


máximo 50, pessoas físicas para investimento em títulos e valores mobiliários. É, portanto, um
instrumento de investimento coletivo no mercado de capitais, porém mais restrito do que
um Fundo de Investimento” (CVM, 2014, p. 80).

Os clubes de investimentos correspondem a associações voluntárias de


investidores que consorciam com a fnalidade de realizar aplicações no mercado
de capitais, administrando diretamente essas carteiras com a assistência e
assessoria de instituições especializadas, tais como bancos de investimento,
sociedades corretoras, dentre outras (PINHEIRO, 2012).

Assaf Neto (2012) lembra que a constituição do clube é processada


mediante a aprovação e assinatura por parte dos seus membros do estatuto social,
o qual regulará a conduta e procedimento de atuação.

O estatuto social do clube de investimento deve dispor, entre outros,


dos seguintes assuntos: política de investimento a ser adotada, cálculo
da quota a que cada membro tem direito, prazo de duração do clube,
forma de resgate das quotas. O principal órgão deliberativo do clube
de investimento é a assembleia geral, prevista em seu estatuto social e
constituída por todos os membros (ASSAF NETO, 2012, p. 51).

TE
IMPORTAN

O registro e a fscalização do clube são feitos em conuunto pela Bolsa de Valores


e pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

Conforme (Pinheiro, 2012), para criar um clube de investimento são


necessários três agentes: o administrador, que deve ser uma corretora de valores
mobiliários credenciada pela bolsa de valores; o gestor, que pode ser uma pessoa
ou comitê formado por três pessoas; e o representante dos condôminos. A
corretora escolhida cuidará de todos os documentos e registros legais, além de
zelar pelo bom funcionamento do clube.
123
UNIDADE 2 | ESTRUTURA E NORMATIVA FINANCEIRA

Por fm, apresentaremos os bancos de investimentos. Conforme Galvão,


Ribeiro e Oliveira (2006, p. 237):

[...] os bancos de investimentos são grandes provedores de crédito de


médio e longo prazo para as empresas. Atuam no mercado primário
e secundário, geralmente, em operações de maior escala, por meio
de repasse de recursos ofciais de crédito, de recursos captados no
exterior, operações de subscrição pública de valores mobiliários (ações e
debêntures), lease-back e securitização de recebíveis, além de prestarem
serviços de custódia de títulos, administração de carteiras, fanças, avais.

Assaf Neto e Lima (2017) destacam que este tipo de instituição, ao contrário dos
bancos comerciais, atua com instrumentos de longo prazo, oferecendo intermediação
fnanceira às empresas no levantamento de recursos para supri-las tanto de capital
fxo quanto de capital de giro. Os bancos de investimentos costumam ainda atuar em
operações de maior escala com repasses de recursos ofciais de crédito, por exemplo,
do Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES), captações no exterior em
moeda estrangeira para repasses internos, fnanciamentos de bens de produção,
intermediação na colocação de títulos de dívidas emitidos por empresas etc.

Conforme podemos observar em Fortuna (2014, p. 34), os bancos de


investimentos:

[...] foram criados para canalizar recursos de médio e longo prazos para
suprimento de capital fxo ou de giro das empresas. Seu objetivo maior
é o de dilatar o prazo das operações de fnanciamento, sobretudo para
fortalecer o processo de capitalização das empresas, através da compra
de máquinas e equipamentos e da subscrição de debêntures e ações.

Os bancos de investimentos dedicam-se também à prestação de vários


tipos de serviços, como avais, custódias, fanças, administração de fundos de
investimento (ASSAF NETO; LIMA, 2017).

De forma prática, os bancos de investimentos não podem manter contas


correntes, como acontece nos bancos comerciais e nos bancos múltiplos. Essas
instituições captam recursos pela emissão de CDBs (Certifcados de Depósito
Bancário) e RDBs (Recibos de Depósitos Bancários), além de captação e repasse
de recursos de origem interna ou externa ou pela venda de cotas de fundos de
investimentos por eles administrados.

Os bancos de investimentos devem ainda orientar, prioritariamente, a


aplicação dos seus recursos repassados no fortalecimento do capital social das
empresas via subscrição ou aquisição de títulos, na ampliação da capacidade
produtiva da economia, via expansão ou relocalização de empreendimentos.
Incentivar a melhoria da produtividade por meio da reorganização e da
modernização das empresas, promover melhor ordenação da economia e maior
efciência das empresas através de fusões, cisões ou incorporações (atividades de
corporate fnance), assim como o desenvolvimento tecnológico, via treinamento ou
assistência técnica (FORTUNA, 2014).

124
TÓPICO 3 | MERCADO DE VALORES MOBILIÁRIOS

LEITURA COMPLEMENTAR

CRIMES CONTRA O MERCADO DE VALORES MOBILIÁRIOS

Com o objetivo de preencher as lacunas então existentes na “Lei do


Colarinho Branco”, a Lei nº 10.303/01 alterou a Lei nº 6.385/76, passando a prever
três delitos especifcamente voltados à tutela do regular funcionamento do
mercado de valores mobiliários:

• Manipulação de Mercado: realizar operações simuladas ou executar outras


manobras fraudulentas, com a fnalidade de alterar artifcialmente o regular
funcionamento dos mercados de valores mobiliários em bolsa de valores, de
mercadorias e de futuros, no mercado de balcão ou no mercado de balcão
organizado, com o fm de obter vantagem indevida ou lucro, para si ou para
outrem, ou causar dano a terceiros.
• Uso Indevido de Informação Privilegiada: utilizar informação relevante ainda
não divulgada ao mercado, de que tenha conhecimento e da qual deva manter
sigilo, capaz de propiciar, para si ou para outrem, vantagem indevida, mediante
negociação, em nome próprio ou de terceiro, com valores mobiliários.
• Exercício Irregular de Cargo, Profssão, Atividade ou Função: atuar, ainda que a
título gratuito, no mercado de valores mobiliários, como instituição integrante
do sistema de distribuição, administrador de carteira coletiva ou individual,
agente autônomo de investimento, auditor independente, analista de valores
mobiliários, agente fduciário ou exercer qualquer cargo, profssão, atividade
ou função, sem estar, para esse fm, autorizado ou registrado junto à autoridade
administrativa competente, quando exigido por lei ou regulamento.

FONTE: <http://www.investidor.gov.br/portaldoinvestidor/export/sites/portaldoinvestidor/
publicacao/Livro/LivroTOP-CVM.pdf>. (2014, p.54).

125
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:

• Uma empresa não precisa fcar restrita à sua geração de lucros ou novos aportes
de seus acionistas para fnanciar seus planos de investimentos. Pode captar
recursos junto a novos investidores por meio de emissão de ações.

• O mercado de capitais é uma fonte de recursos para investimentos da economia


e assume um papel relevante no processo de desenvolvimento econômico.

• Há forte ligação entre os agentes superavitários, que possuem capacidade de


poupança, e os investidores carentes de recursos de longo prazo.

• Uma empresa de capital aberto é aquela que tem seus títulos negociados
publicamente.

• A abertura de capital acontece com o lançamento de ações e permite que a ação


de uma empresa seja negociada em bolsa.

• A abertura de capital da empresa se dá através de um IPO ou Oferta Pública


Inicial (Initial Public Ofering).

• No mercado primário são negociadas ações e obrigações permitindo a


capitalização da empresa.

• As bolsas de valores podem se constituir como associações civis sem fns


lucrativos ou sociedades anônimas cujo patrimônio é representado por títulos
que pertencem às sociedades corretoras e membros.

• As bolsas de valores possuem autonomia fnanceira, patrimonial e


administrativa, mas estão sujeitas à supervisão da Comissão de Valores
Mobiliários (CVM) e obedecem às diretrizes e políticas emanadas do Conselho
Monetário Nacional (CMN).

• Fundo de investimentos é um condomínio de pessoas com objetivos comuns


de investimento.

• Os principais participantes dos fundos de investimentos são: o administrador,


que é o responsável legal pelo fundo; o gestor, que é o responsável pela
rentabilidade; o auditor, que faz a auditoria independente do fundo e; o
custodiante, que faz a guarda dos títulos do fundo.

• Os fundos de investimentos são fscalizados e regulamentados pela Comissão


de Valores Mobiliários (CVM).

126
AUTOATIVIDADE

1 O que é o mercado de capitais?

2 Qual o conceito de valores mobiliários?

3 Qual a diferença entre distribuição primária e secundária de ações?

4 O que é um fundo de investimentos?

5 O que é um clube de investimentos?

127
UNIDADE 3

MERCADO FINANCEIRO DE CAPITAIS

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• conhecer os tipos de investimento fnanceiro;

• entender as diferenças entre os tipos de investimento;

• compreender as diversas maneiras de realizar investimentos fnanceiros;

• compreender o Modelos de Precifcação de Ativos – CAPM;

• entender os riscos inerentes às aplicações fnanceiras;

• conhecer as tributações relativas aos investimentos fnanceiros.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está organizada em três tópicos. No decorrer da unidade você
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – PRODUTOS DE INVESTIMENTO FINANCEIRO

TÓPICO 2 – PRECIFICAÇÃO DE ATIVOS

TÓPICO 3 – TRIBUTAÇÃO DE RENDIMENTOS

129
UNIDADE 3 TÓPICO 1

PRODUTOS DE INVESTIMENTO FINANCEIRO

1 INTRODUÇÃO
Prezado acadêmico! Daremos início aos nossos estudos sobre os Produtos
de Investimento Financeiro. Nesta primeira unidade, a intenção é fazer com que
você compreenda os principais Produtos de Investimento Financeiro presentes
no dia a dia.

Ao longo dos estudos, conheceremos os principais tipos de investimentos


fnanceiros presentes em nosso cotidiano. Embora, para muitos, não faça parte
do dia a dia a realização de certos tipos de investimento, eles estão presentes na
economia e fazem parte das operações rotineiras das empresas, sendo fundamentais
da economia. Você já parou para pensar que talvez a não utilização dos produtos de
investimento está relacionada à falta de conhecimento sobre os mesmos? Os produtos
de investimento estão mais próximos do que possamos perceber, falta conhecermos
mais e criarmos uma proximidade com as modalidades de investimento. Podemos
ir além da escolha usual pela poupança, obtendo rendimentos maiores e sem
apostar em altos riscos, caso sejamos avessos a eles. Podemos, também, procurar
maiores rendimentos, correndo mais riscos, sem sermos imprudentes. E como
faremos isso? A resposta é simples: informação. Quanto mais informação e
mais conhecimento sobre as modalidades de investimentos, mais simples fcará
utilizar e obter benefícios desses produtos. Obter informação é mais simples do
que parece, elas estão mais acessíveis do que percebemos. Quer ver? Existem sites
especializados onde obtemos diversas informações sobre esses produtos, o gerente
da nossa conta bancária também tem informações que nos auxiliam e, muitas
vezes, até nossos amigos têm algum conhecimento sobre o assunto. É claro que,
quando falamos de produtos de investimento fnanceiro, os profssionais é que
proverão as informações mais claras e corretas. Mas informação nunca é demais,
né? Quanto mais conhecermos, mais podemos questionar, formar nossa opinião e
tomar melhores decisões de investimento.

Neste primeiro tópico vamos conhecer os Produtos de Investimento


Financeiro, seus respectivos conceitos, compreender suas diferenças, de que
maneira podemos realizar esses investimentos e seus principais riscos.

131
UNIDADE 3 | MERCADO FINANCEIRO DE CAPITAIS

2 TIPOS DE INVESTIMENTO
Os Produtos de Investimento Financeiro, também conhecidos como
ativos fnanceiros, são utilizados para diversas fnalidades e por diversos agentes
econômicos. As famílias, as empresas, as instituições fnanceiras e também o
próprio Estado realizam investimentos através de diversos produtos, cada qual
com seus objetivos. Para começarmos a entender o que os Produtos de Investimento
Financeiro representam para a economia, é importante compreender qual é a
motivação para a realização de investimentos e o que são esses produtos.

Você já se perguntou por que um agente econômico realiza um investimento


fnanceiro? Os investimentos fnanceiros são realizados com a fnalidade de obter
lucros com o dinheiro que não está sendo utilizado no momento. Vamos tomar
como exemplo uma pessoa que tem rendimentos maiores que suas necessidades
do dia a dia. Quando há essa sobra de capital (dinheiro), é possível alocar esses
recursos em algum investimento fnanceiro, não deixando que esse dinheiro
desvalorize com a infação, buscando resgatar esses recursos futuramente com
juros e correção monetária. Para realizar esses investimentos há diversos produtos
disponíveis no mercado. Cada um possui características diferentes, possibilitando
que os investidores possam escolher de acordo com suas características de
investimento, suas necessidades e também suas preferências. É nesse momento
que o investidor vai optar se aplicará seus recursos em renda fxa, variável, em
títulos públicos etc. e qual o risco a que estará sujeito, por exemplo. A seguir,
vamos estudar cada um dos principais produtos de investimento fnanceiro e
suas características.

A partir de agora, vamos elucidar as características básicas dos Produtos


de Investimento Financeiro e, logo após, vamos abordar cada um dos principais
produtos, proporcionando as informações necessárias para conhecê-los.

2.1 CARACTERÍSTICAS BÁSICAS DOS PRODUTOS


FINANCEIROS
Apresentaremos algumas características básicas para os Produtos de
Investimento Financeiro. O primeiro deles é sua diferenciação entre: Renda
Fixa e Renda Variável. Segundo Sandroni (2008), os investimentos de renda
fxa são caracterizados pelo fato de terem seu rendimento (juros) discriminado
anteriormente, podendo ter seu rendimento atrelado inteiramente de forma
prefxada ou vinculado à correção monetária (pós-fxada), ou às variações das
taxas de juros nominais. Os investimentos fnanceiros que possuem a característica
de renda fxa são aqueles que, normalmente, têm uma remuneração (e
consequentemente um risco) mais baixa e também, dependendo do investimento,
uma liquidez maior, como as cadernetas de poupança, os Certifcados de Depósito
Bancário (CDB), títulos públicos (Tesouro Nacional, Letras do Tesouro) e títulos
de crédito, e as Debêntures, por exemplo.

132
TÓPICO 1 | PRODUTOS DE INVESTIMENTO FINANCEIRO

Já os Produtos de Renda Variável são aqueles em que o “[...]rendimento


não é prefxado, não faz parte das condições do título e varia em função das
condições de mercado” (SANDRONI, 2008, p. 727). São investimentos onde
não se tem conhecimento prévio dos seus retornos. Os investimentos de renda
variável normalmente possuem retornos maiores que os de renda fxa, porém,
como já mencionado, retornos maiores estão associados a riscos maiores (pode
haver perdas maiores também) e sua liquidez depende do tipo de investimento.
O investimento de renda variável mais conhecido são as ações, mas também
são exemplos o câmbio, o ouro e os derivativos. Antes de prosseguirmos, é
importante abordarmos uma das relações básicas presente nos investimentos
(sejam eles em produtos fnanceiros ou não). A relação entre risco, retorno e
liquidez. Certamente, em algum momento você já deve ter ouvido falar nessas
três palavras. Você leu em alguma matéria de algum site, ouviu no noticiário ou
alguém já conversou com você e falou algo como: “aquele investimento tem baixo
risco”; “o retorno daquele investimento é alto”; ou “não tem muita liquidez para
esse investimento”. Mas o que signifca essa relação para os investimentos? Você
já se perguntou isso?

TE
IMPORTAN

Risco: Segundo o Dicionário de Economia do século XXI (SANDRONI, 2008 p.


737), risco é “[...] a condição de um investidor ante as possibilidades de perder ou ganhar
dinheiro”. Basicamente, risco é o quanto você está disposto a “arriscar” para ter resultados
maiores financeiramente. Por exemplo, se você investe em algo com um alto risco, espera
um alto retorno. Consequentemente, se você investe em produtos de baixo risco, é de se
esperar retornos condizentes com esse risco. O que nos leva ao segundo ponto da relação:
o Retorno: retorno é o quanto você pretende ganhar com aquele investimento. Como
já foi comentado, se você pretende ter retornos maiores, deverá assumir maiores riscos,
isso porque um é, normalmente, proporcional ao outro. Por fim, chegamos à Liquidez:
capacidade de transformar aquele investimento em dinheiro novamente, com valor justo e
condizente com o valor real do investimento. Um investimento é mais ou menos líquido,
dependendo do tempo que levará para ser convertido em papel-moeda. Por exemplo: você
tem dois investimentos, uma caderneta de poupança e um imóvel para vender, a liquidez
dos dois investimentos é bem diferente, visto que na caderneta de poupança você pode
resgatar o dinheiro (transformar em papel-moeda novamente) a qualquer momento. Já o
imóvel, para você vendê-lo, conseguir o valor justo de venda e transformá-lo em papel-
moeda novamente, levará muito mais tempo, pois depende de diversos fatores (demanda,
aquecimento no mercado imobiliário etc.).

133
UNIDADE 3 | MERCADO FINANCEIRO DE CAPITAIS

Então, os investimentos sempre estarão pautados nesses três pilares: risco,


retorno e liquidez. Quando estiver buscando um investimento, você poderá se
perguntar: quanto eu quero me arriscar neste investimento? Com essa resposta
você vai identifcar o risco que está buscando no investimento, de acordo com suas
preferências, necessidades e escolhas. Também é importante responder: quanto
você pretende obter de lucro com o investimento? Então, você entenderá quanto
retorno espera do investimento. E, por fm, deve se questionar quando precisará
do dinheiro novamente? Para saber o quão líquido deve ser o investimento para
atender às suas necessidades. Respondendo às três perguntas, você vai ter uma
ideia de que tipo de investimento cabe ao seu perfl.

2.2 TIPOS DE RISCO


Antes de entrarmos na discussão sobre as nuances de cada tipo de
produto fnanceiro, é importante elucidar os principais tipos de risco presentes na
economia, pertinentes aos produtos de investimento fnanceiro. Conhecer os tipos
de risco é importante para, além de conhecer os produtos, saber também os riscos
inerentes a esses produtos. Em situações cotidianas você já deve ter se deparado
com frases do tipo: “o risco de crédito é alto”; “há grande risco de mercado para
essas ações”; “o risco de liquidez é baixo”. Mas o que signifca isso? O que são
esses riscos e como eles interferem nos investimentos? São questionamentos como
esses que vamos sanar neste tópico.

2.2.1 Risco de Crédito


O risco de crédito é “a falta de cumprimento (pagamento) de uma
contraparte à outra, em alguma operação comercial” (SANDRONI, 2008, p. 738).
Basicamente, é o risco de alguém que “pegou” dinheiro emprestado não fazer o
pagamento de acordo com o que foi acordado com quem emprestou o dinheiro.
Na economia, normalmente, esse risco é mais presente em operações de crédito
rotineiras (empréstimos e fnanciamentos), porém, é importante lembrarmos
deste risco, pois alguns produtos de investimento fnanceiro estão sujeitos a
correr risco de crédito.

2.2.2 Risco de Liquidez


O risco de liquidez “[...] signifca a difculdade de determinado contrato ser
vendido no tempo desejado [...]” (SANDRONI, 2008, p. 738). Para os produtos de
investimento fnanceiro, o risco de liquidez está presente quando não se consegue
vender (transformar em dinheiro novamente) esses investimentos, ou não se obtém
um valor justo pelos mesmos quando se pretende “liquidar” esses investimentos.

134
TÓPICO 1 | PRODUTOS DE INVESTIMENTO FINANCEIRO

2.2.3 Risco de Mercado


O risco de mercado “consiste na possibilidade de perdas causadas pelos
impactos de futuações de preços/índices/taxas (juros, câmbio) sobre instrumentos
fnanceiros assumidos por uma empresa” (SANDRONI, 2008, p. 739). São as
variações na economia (mercado) que podem interferir negativamente no valor
de um investimento.

2.3 PRODUTOS DE RENDA FIXA


Abordaremos aqui os produtos que estão caracterizados como renda
fxa. Quais são eles, suas características e principais informações pertinentes a
cada produto. Você compreenderá, a partir deste tópico, as diferenças entre os
produtos, onde e como investir, bem como compreender os principais benefícios
de cada tipo de investimento.

2.3.1 CDB – Certifcado de Depósito Bancário


Os bancos, sejam eles comerciais ou de investimento, têm em suas carteiras
diversos serviços disponíveis para as pessoas. Empréstimos e fnanciamentos,
certamente, são as operações mais conhecidas e realizadas, a fm de proporcionar
o consumo das famílias e/ou o investimento por parte das empresas. Mas, você
sabe como os bancos conseguem dinheiro para viabilizar essas transações? Os
bancos, antes de emprestar dinheiro, precisam ter esse dinheiro, não é mesmo?

O que acontece é que o dinheiro que os bancos emprestam não é deles, mas
sim de clientes que fazem investimentos em produtos de investimento fnanceiro.
Esse também é o meio pelo qual os bancos têm lucros fnanceiros e sustentam
suas operações, o chamado Spread bancário.

TE
IMPORTAN

Spread bancário é a diferença entre a taxa de juros que o banco paga para quem
investe (empresta) dinheiro para o banco e a taxa de juros que o banco cobra de quem ele
empresta dinheiro. Por exemplo: se você colocar seu dinheiro na poupança e receber 1%
ao mês de juros, é esse dinheiro que o banco utiliza para emprestar para outros clientes,
por meio de financiamentos ou empréstimos, cobrando uma taxa de juros de 9% ao mês.
A diferença entre o 1% que o banco remunera para você, que investiu na poupança, e os
9% que o banco cobra de quem pegou dinheiro emprestado com ele é o Spread bancário.

135
UNIDADE 3 | MERCADO FINANCEIRO DE CAPITAIS

Mas como o banco faz para obter esse dinheiro? Como ele capta recursos
para fnanciar seus investimentos em empréstimos e fnanciamentos, por exemplo?
Existem diversas formas. As mais comuns, e signifcativas, são as LCIs (Letras de
Crédito Imobiliário) e LCAs (Letras de Crédito do Agronegócio), que veremos
a seguir, e o CDB (Certifcado de Depósito Bancário). Também conhecido como
depósito a prazo, o CDB é um dos instrumentos de captação de recursos dos
bancos e representa um depósito a prazo realizado por um investidor para a
instituição fnanceira (NARDINI, 2018). O que o banco faz, ao ofertar CDBs para
investidores, é captar recursos com a fnalidade de desenvolver suas atividades
(ofertar empréstimos, fnanciamentos etc.). Mas o que faz o CDB ser atrativo? Neste
caso, como os bancos estão “pegando emprestado” dinheiro, há uma promessa de
que ao fnal de determinado período (período de investimento do CDB), o dinheiro
seja devolvido acrescido dos juros deste mesmo período. O CDB, mesmo que seja
nominado como Certifcado de Depósito Bancário, é diferente daquele depósito
realizado nos caixas eletrônicos, ou no atendimento dos bancos. É um produto de
investimento, uma maneira de investir seu dinheiro, fazendo com que renda juros.

O CDB é um produto de investimento de renda fxa e carrega em si o


risco de crédito da instituição que irá realizar o pagamento dos juros e do valor
principal da aplicação aos investidores na data de resgate (caso resgatado antes do
prazo fnal) ou ao fnal da aplicação. “Estão autorizados por lei a emitir CDBs os
bancos comerciais, de investimento, os múltiplos, os de desenvolvimento e a Caixa
Econômica Federal” (NARDINI, 2018, p. 22). Por se tratar de um produto de renda
fxa, deve ser determinado o prazo de vencimento (data em que o valor principal
do investimento e os juros referentes ao período serão pagos ao investidor).

Apesar de determinada uma data para “encerramento” do contrato,


os juros pagos neste investimento podem ser prefxados ou pós-fxados, como
veremos adiante. Os prazos servem para os bancos terem conhecimento de seus
fuxos e poder utilizar essa captação de recurso para ofertar seus empréstimos
e fnanciamentos, utilizar essa captação, de maneira geral. Imagine o que
aconteceria se o banco captasse esses recursos e utilizasse, sem ter o conhecimento
de quando os investidores irão receber de volta esse dinheiro, juntamente com
seus juros? Certamente seria um caos no sistema fnanceiro, visto que os bancos
poderiam ofertar mais dinheiro do que teriam capacidade de pagar de volta aos
investidores em determinado período, gerando fuxos negativos no seu caixa e,
possivelmente, levando a instituição à falência.

A conta é simples: se o banco capta R$ 100.000,00 reais, ele terá esse


montante para utilizar nas suas atividades, poderá emprestar ou fnanciar R$
100.000,00 a um (ou vários) clientes, por exemplo. Esse valor de R$ 100.000,00
provavelmente não é de apenas um investidor, mas de vários investidores. Cada
investidor que investe em CDB tem um prazo de vencimento no seu investimento.
Assim, o banco tem ciência de que no prazo X deverá devolver ao investidor
“A” a quantia do seu contrato, acrescida dos juros do período, conforme previsto
no contrato. No prazo “Y” deverá pagar ao investidor “B”, e assim por diante.
Podendo então prever o montante de recursos que precisará em cada período
para reembolsar os investidores pela sua captação de recursos.
136
TÓPICO 1 | PRODUTOS DE INVESTIMENTO FINANCEIRO

Cada contrato de CDB poderá ter um vencimento diferente. Hoje os


prazos mais comuns variam em frações de três meses (três, seis, 12 meses) e
dois anos, porém os títulos podem ser mais longos, por exemplo, três ou cinco
anos. Mas qual é a vantagem, para o investidor e para o banco, de que esses
títulos tenham um prazo de vencimento mais longo? Vamos refetir sobre isso:
conforme apresentado anteriormente, há prazos devido à necessidade de gerir os
fuxos e a necessidade de o banco ter os montantes fnanceiros necessários para a
devolução do valor principal investido acrescido dos juros, certo? Logo, quanto
maior for o prazo para essa devolução, mais tempo o banco tem para utilizar
o recurso. O que o investidor ganha com isso? Bem, quanto maior o prazo, os
bancos tendem a oferecer uma rentabilidade maior para esses CDBs. É simples,
como há mais tempo para os bancos utilizarem o recurso, programarem seus
fuxos de caixa e devolverem o dinheiro, há uma vantagem para eles. Logo, eles
oferecem uma rentabilidade maior para que o investidor deixe por mais tempo
esse dinheiro com o banco. Porém, apesar de haver esses prazos comuns, não
existe um período mínimo para um CDB, indo de acordo com a necessidade do
emissor, no caso, a instituição fnanceira que emitiu o CDB (NARDINI, 2018).
Então, se investirmos em um CDB, apenas teremos o dinheiro de volta ao fnal
do prazo estipulado no contrato? Depende. Apesar de o mais comum é o CDB
ser resgatado no vencimento, há duas possibilidades de receber o valor aplicado
acrescido dos juros antes do fnal do prazo:

• Uma delas é caso de o CDB possuir liquidez diária. Quando o contrato oferece
ao investidor liquidez diária, possibilita que haja resgate, a qualquer momento,
do valor principal acrescido dos juros, devolvendo, assim, o valor do principal
mais os juros até a data do resgate. E o prazo de vencimento? Neste caso ele
não importa muito, devido à sua característica de liquidez diária.
• Outra maneira de reaver o valor investido, mesmo que não se trate de um
CDB com liquidez diária, é o investidor realizar a venda da sua posição (CDB)
no mercado secundário. Porém, pode ocorrer de não haver liquidez imediata
para o valor investido (caso seja um valor alto). Salvo essas duas alternativas,
o investidor deverá aguardar o vencimento do CDB para que lhe seja pago
o valor do investimento mais os juros incorridos no período de investimento
(NARDINI, 2018).

Outra característica presente nos CDBs é a existência, em alguns casos,


de um período de carência. Como já foi dito, CDBs com liquidez diária acabam
por difcultar a previsibilidade dos fuxos de caixa da instituição que captou o
recurso, portanto, alguns contratos de CDB possuem um período de carência.
Passado esse período, o CDB passa a ter liquidez diária. A carência faz com que
haja maior previsibilidade e a instituição que captou o recurso possa ter mais
segurança ao trabalhar com o recurso captado.

137
UNIDADE 3 | MERCADO FINANCEIRO DE CAPITAIS

Mas qual a diferença entre escolher por um CDB com liquidez diária ou
não? Essa é uma pergunta fácil de se responder. Como os CDBs que possuem
liquidez diária geram incertezas para a instituição de quanto e quando o investidor
solicitará o dinheiro do investimento, elas oferecem esses contratos com uma
rentabilidade inferior àquelas dos CDBs em que o investidor só pode resgatar o
valor aplicado ao fnal do prazo contratado. Outro questionamento recorrente é
relacionado a qual a remuneração se recebe investindo em um CDB? No caso dos
CDBs, há duas maneiras pelas quais o investidor é remunerado. Veja só, o contrato
pode estabelecer uma remuneração fxa, o que chamamos de CDB com taxa
prefxada, ou pode conhecer a remuneração com exatidão, apenas no momento do
resgate, o que chamamos de CDB com taxa pós-fxada. Por exemplo: ao investir R$
10.000,00 em um CDB prefxado que remunere a uma taxa de 7,5% a.a., ao fnal de
um ano você sabe que receberá (antes de impostos) R$ 750,00. Cabe aqui lembrar
que há incidência de IR sobre rendimento fnanceiro, como veremos no Tópico 3
desta unidade. Os CDBs com taxas pós-fxadas normalmente utilizam a Taxa DI
como taxa de juros referência, desta forma, o CDB é remunerado a partir de um
percentual dessa taxa. Portanto, um CDB pode remunerar 103% da Taxa DI. Mas o
que signifca isso? Signifca que o investidor receberá, no momento do resgate, uma
remuneração equivalente a 103% da Taxa DI observada no período entre a emissão
do CDB e o seu resgate, além do seu valor principal investido (NARDINI, 2018).

DICAS

Você pode simular o cálculo do CDB, seja pré ou pós-fixado e também


comparar com o rendimento de outros investimentos. Acesse:
<https://www.euqueroinvestir.com/calculadora-dos-melhores-investimentos/?utm_expid=.
WXaDzIwvRNW1BrJhs7ywSg.1&utm_referrer=https%3A%2F%2Fwww.google.com%2F>.

TE
IMPORTAN

A Taxa DI é comumente utilizada nos contratos de CDB, pois ela é calculada


utilizando-se o custo de captação dos bancos em operações de empréstimo entre si. Por
esse motivo ela é importante para a indexação das operações de dívida das instituições
fnanceiras, que é o caso do CDB. (NARDINI, 2018).

Porém, a Taxa DI não é o único indexador utilizado nas operações de CDB


pós-fxado. Apesar de ser a mais comum, em alguns casos podem ser utilizadas a
TR (Taxa Referencial) ou a Taxa Selic.

138
TÓPICO 1 | PRODUTOS DE INVESTIMENTO FINANCEIRO

Bastante detalhe, não é mesmo? Sim, como todo tipo de produto de


investimento fnanceiro, o CDB tem suas particularidades e é importante conhecer
cada uma para compreender o seu funcionamento. Ele é um instrumento bastante
utilizado pelas instituições fnanceiras para captação de recursos, por isso sua
importância. Agora, antes de seguirmos com o conteúdo, vamos recapitular
alguns pontos importantes referentes ao CDB: até aqui compreendemos o que é
o CDB, bem como os motivos que levam as instituições a emitirem CDBs, de que
forma os investidores são remunerados e algumas características fundamentais
de funcionamento deste investimento.

2.3.2 LCI – Letras de Crédito Imobiliário


Outra maneira de investir em renda fxa no Brasil são as chamadas
Letras de Crédito Imobiliário. Basicamente, elas são um instrumento de crédito
criado pelo Banco Central com o objetivo de possibilitar a captação de recursos
fnanceiros pelas diversas entidades que participam da cadeia produtiva de
setores da economia. Além das LCIs, há outro instrumento: as LCAs (Letras de
Crédito do Agronegócio), que veremos mais adiante. O governo possibilitou,
através desses dois mecanismos, um investimento no qual pessoas físicas ou
jurídicas pudessem aplicar seus recursos, fazendo com que, na outra ponta
destas operações, dois importantes setores da economia adquirissem recursos
para seu fnanciamento (NARDINI, 2018). O que acontece nestes investimentos é
que o recurso dos mesmos é canalizado e voltado para o desenvolvimento destes
setores na economia (no caso, os setores Imobiliário e do Agronegócio). A LCI foi
criada em 2004 e pode ser emitida por uma instituição fnanceira devidamente
autorizada pelo Banco Central, além das instituições que normalmente podem
emitir títulos de renda fxa (bancos comerciais, múltiplos e Caixa Econômica),
também as sociedades de crédito imobiliário, associações de poupança e
empréstimo, companhias hipotecárias, entre outras, podem fazer emissão
desse título (NARDINI, 2018). Qual a importância deste investimento para a
economia? Vamos refetir sobre o que acabamos de ver. As LCIs são um título
de renda fxa, no qual o objetivo é a captação de recursos para o investimento
no setor imobiliário. Se pensarmos de uma maneira simplifcada, é como se você
(investidor) estivesse fazendo um empréstimo de dinheiro para a instituição que
emite o título. Você empresta o dinheiro para a instituição, o que é feito por meio
de um contrato com as informações da transação, no qual são informados prazo,
taxa de juros, valor “emprestado” etc. Para você é uma maneira de investir e ter
um retorno fnanceiro sobre o capital que você deseja aplicar neste investimento.
Para as instituições que emitem a LCI, uma maneira de fnanciar investimentos
no setor imobiliário. Diferentemente de um CDB, por exemplo, o LCI e a LCA
têm suas fnalidades defnidas.

Uma característica importante da LCI é que a mesma deve ser garantida


por meio de um lastro. Quando a instituição faz a emissão desses papéis, ela
deve apresentar uma garantia (alienação fduciária ou hipoteca) de imóvel. Essa
é uma característica muito importante, pois o montante dos créditos imobiliários

139
UNIDADE 3 | MERCADO FINANCEIRO DE CAPITAIS

deve ser igual ou maior que o montante das emissões. Não havendo esse lastro,
a instituição não pode fazer emissão desses títulos (NARDINI, 2018). Qual a
importância de haver esse lastro? Quando as operações estão lastreadas, ou seja,
possuem uma garantia, o risco do investimento é consideravelmente reduzido,
fazendo com que a aplicação de montantes fnanceiros no investimento tenha
muito mais segurança. Em contrapartida, os retornos também são inferiores.
Porém, de acordo com os propósitos de investimento de cada investidor, não
deixa de ser uma opção a ser considerada para investimento.

Outra característica importante deste investimento são os prazos.


Geralmente variam entre seis meses e três anos, porém, alguns papéis têm prazos
maiores. A única ressalva é que os prazos de emissão não podem ser superiores
a nenhum dos seus lastros, isso é previsto em lei, e, desta forma, sempre haverá
um lastro válido para a operação. Também há prazos mínimos para o vencimento
do papel: 90 dias, caso o contrato não preveja atualização através de índices de
preços e no caso de haver tal atualização, 12 meses. Já se for estipulada uma
atualização mensal por meio de um índice, este prazo é de 36 meses (NARDINI,
2018). Esse investimento poderá ser liquidado apenas no vencimento ou, então,
quando prever no contrato, ele poderá ter liquidez diária também. O responsável
por fazer o pagamento para o investidor é a própria instituição emissora do
título (ANBIMA). Por se tratar de um instrumento de renda fxa, seguro e que
não apresenta uma remuneração muito alta, os investidores, normalmente, vão
utilizar este tipo de investimento como uma maneira de não deixar o dinheiro
desvalorizar (tendo algum retorno sobre o mesmo) e, em muitos casos, não
buscando arriscar perder dinheiro. Aliás, os investimentos de renda fxa por
concepção têm essa característica (implícita). São utilizados como forma de não
deixar o dinheiro desvalorizar, possibilitando a segurança desses recursos.

NOTA

ANBIMA é a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de


Capitais. A entidade tem a missão de Fortalecer a representação do setor e apoiar a evolução
de um mercado de capitais capaz de fnanciar o desenvolvimento econômico e social local
e infuenciar o mercado global. Para conhecer mais sobre a ANBIMA, acesse: http://www.
anbima.com.br/pt_br/pagina-inicial.htm

Voltando às características da LCI, elas podem ter taxas de juros prefxadas


ou pós-fxadas. No caso de uma LCI prefxada, o investidor já saberá qual será
a remuneração recebida ao fnal da aplicação, pois esse valor não será alterado
até o momento do resgate. Já no caso de a taxa de rendimento ser pós-fxada, os
juros serão conhecidos apenas no vencimento da aplicação. Para referência de
remuneração da LCI é utilizada a Taxa DI (NARDINI, 2018). Então, qual será a
remuneração deste investimento? Bem, isso depende, e é importante salientar
que as LCIs estão isentas de IR, como será apresentado mais adiante.
140
TÓPICO 1 | PRODUTOS DE INVESTIMENTO FINANCEIRO

Quando falamos de investimentos, principalmente em renda fxa, quanto


mais tempo os tomadores desses recursos puderem “fcar” com esse dinheiro, ou
seja, quanto maior for o prazo da aplicação, maior será o retorno oferecimento pelo
emissor do título. Além do prazo, outro fator que infuencia na remuneração é o
capital aplicado, ou seja, se você aplicar R$ 5.000,00, a remuneração será 80% do
CDI. Caso você aplique valores mais altos, o banco pode oferecer remunerações
maiores, de acordo com as regras internas dos bancos, levando em consideração
também o tempo da aplicação, como já comentado. No caso das LCIs, além do
prazo, a possibilidade de resgate antecipado é também um fator que infuencia na
remuneração oferecida pela instituição emissora. Desta forma, letras com prazos
maiores para seu vencimento e que não possuam resgate antecipado, serão aquelas
nas quais os emissores vão oferecer uma remuneração superior (NARDINI, 2018).

2.3.3 Letra de Crédito do Agronegócio


Da mesma maneira que as LCIs, as LCAs constituem uma forma de obtenção
de recursos para oferecer dinheiro para as empresas realizarem investimentos no
setor produtivo, neste caso, no agronegócio. Como grande parte do investimento
nesses setores é realizado por meio de capital obtido junto aos bancos, a LCA também
é uma maneira de o banco captar esse dinheiro para oferecer posteriormente à
investidores do Agronegócio (NARDINI, 2018). Você deve estar se perguntando
agora, caro acadêmico, se esses setores vivem apenas dos recursos disponibilizados
pelas instituições privadas. É claro que não! A LCA, criada em 2004, possibilita
que instituições públicas e privadas captem recursos para disponibilizá-los ao
fnanciamento das atividades do agronegócio (NARDINI, 2018). Desta forma, ela
se caracteriza como uma importante forma de investimento, visto que, além de
possibilitar retornos para quem está “emprestando” dinheiro para a instituição,
esse dinheiro gera possibilidades de investimento em uma das áreas produtivas
que tem grande impacto no Brasil, o agronegócio.

Semelhante à LCI, a LCA também precisa que seu valor seja lastreado,
ou seja, garantido por um ou mais créditos (neste caso referente ao agronegócio)
que sejam de propriedade da instituição que está emitindo o papel. No caso do
agronegócio, os lastros estão associados ao crédito rural de diversas maneiras,
por exemplo: direcionados à industrialização ou benefciamento de produtos e
insumos agropecuários e sua comercialização, e ainda podem estar relacionados
a máquinas e implementos ligados à produção agropecuária. Este lastro não
pode representar um valor inferior ao valor do título emitido, devendo assim
garantir seu valor em totalidade, e os prazos dessas garantias devem ser iguais,
ou maiores, aos prazos dos títulos em questão (NARDINI, 2018).

Como podemos observar, as LCAs e as LCIs são muito semelhantes,


o que difere é o destino dos recursos captados. Agora que já adentramos um
pouco no estudo da importância das LCAs, podemos entender das suas outras
características, como prazo e taxas aplicados no mercado e de que maneira isso
infuencia na sua atratividade e utilização no mercado.

141
UNIDADE 3 | MERCADO FINANCEIRO DE CAPITAIS

Os prazos mínimos praticados para os investimentos em LCA são de 90


dias, quando não se tem a atualização do título por meio de índices de preços.
Quando houver atualização anual do papel por meio de um índice de preços, esse
prazo mínimo é de 12 meses para a aplicação. A LCA pode, da mesma forma que a
LCI, ter em seu contrato a possibilidade do resgate diário da aplicação (respeitando
aqui seus prazos mínimos), ou então pode ser resgatada na data do seu vencimento.
Já as taxas pelas quais os investimentos vão ser remunerados podem ser pré ou
pós-fxadas, ou seja, não há um padrão para essas emissões, podendo atender a
diferentes necessidades e objetivos do investidor (NARDINI, 2018).

O rendimento desse tipo de investimento, como de qualquer outro


investimento de renda fxa, está atrelado a duas premissas básicas: tempo
de aplicação (prazo de resgate) e possibilidade de resgate antecipado ou não.
Sempre que houver a possibilidade de o investidor solicitar o dinheiro antes do
prazo contratado, a remuneração oferecida será menor. Da mesma forma, quanto
maior for o prazo do investimento, maior será a remuneração oferecida pelos
emissores do papel. Outra variável importante é a não incidência de IR para essas
aplicações, como será abordado posteriormente. E, da mesma forma que as LCIs,
outro fator que infuencia na remuneração é o capital aplicado, ou seja, se você
aplicar R$ 5.000,00 a remuneração será, por exemplo, 80% do CDI; já se você
aplicar valores mais altos, o banco poderá oferecer remunerações maiores, de
acordo com as regras internas dos bancos e levando em consideração o tempo da
aplicação, como já comentado.

Antes de prosseguirmos, é importante abrirmos um parêntese e


ressaltarmos as principais diferenças entre as LCIs e LCAs. Vimos até aqui que
são dois investimentos muito similares (prazos, tipo de remuneração, liquidez
etc.), e, sim, eles são realmente muito similares, mas têm suas distinções e
é importante frisá-las. Além da destinação, que é para duas áreas distintas
(imobiliário e agronegócio), podemos ressaltar como sua principal diferença o
lastro utilizado para cada operação. Sua outra distinção importante refere-se às
instituições que estão autorizadas a emitir os dois tipos de papel. As LCIs têm um
menor número de instituições autorizadas, muito pelas próprias peculiaridades
dos fnanciamentos para o qual esses recursos são destinados, já as LCAs podem
ser emitidas por qualquer instituição fnanceira (NARDINI, 2018).

2.3.4 Debêntures
Como já vimos até aqui, os produtos de investimento fnanceiro têm
alguns objetivos primordiais, como a captação de recursos para disponibilizar
fnanciamento. Se observarmos a partir da ótica da instituição que emite o título,
essa captação de recursos passa a ser a fonte de novos investimentos que serão
realizados pela mesma. Os bancos, por exemplo, emitem esses títulos para
poder emprestar dinheiro (fnanciar) para outras empresas e assim obter lucros
fnanceiros por meio dessa intermediação (Spread).

142
TÓPICO 1 | PRODUTOS DE INVESTIMENTO FINANCEIRO

As empresas, por sua parte, vão buscar os bancos para injetar capital e
desenvolver suas atividades. Elas captam recursos fnanceiros com instituições
credoras com diversas fnalidades, desde obter capital de giro, fnanciar projetos,
compra de máquinas etc. As empresas buscam esse fnanciamento por meio
de instituições fnanceiras e também diretamente com investidores. Até agora
tínhamos observado produtos cujas emissões eram feitas por instituições
fnanceiras, com objetivo de obter recursos para disponibilizar fnanciamento
para empresas, por exemplo. Porém, o mercado de capitais proporciona mais
do que apenas esse tipo de transação (no qual há necessidade de intermediação).

Apesar de ser de suma importância esse papel das instituições fnanceiras


e ser tradicionalmente utilizado para obtenção de fnanciamento, ao observarmos
empresas com um porte maior, estas podem buscar os recursos diretamente no
mercado de capitais, sem necessitar, obrigatoriamente, dos recursos provenientes
das instituições fnanceiras. Esses movimentos das empresas no mercado de
capitais interagem diretamente com os investidores. Esses investidores são tanto
investidores individuais como de fundos de pensão, fundos de investimento,
seguradoras, dentre outros, residentes ou não no Brasil (NARDINI, 2018). Mas o
que isso representa para as empresas? Quando estamos observando o mercado,
e os produtos de investimento, temos que avaliar algumas coisas importantes,
por exemplo: os objetivos das empresas com a captação desses recursos, o tempo
no qual a empresa irá ter retornos desses investimentos ou quando vai precisar
utilizar os recursos investidos. Veja bem, são sempre dois pontos de vista: um
é o de investidor, ou seja, aquele que está “emprestando” dinheiro, e o outro é
daquele que precisa do dinheiro. Em diversos momentos as empresas serão as duas
partes, em produtos de investimento diferentes. Mas, como assim? É simples: ora
as empresas irão emprestar dinheiro (seja para os bancos, seja diretamente para
empresas, ou seja, vão ser fnanciadores de investimentos para terceiros), ora irão
captar recursos (seja dos bancos ou de outras empresas) para fnanciar os seus
próprios projetos e necessidades. O que temos que visualizar aqui é que esses
dois lados, ou duas pontas, como podemos observar, sempre vão existir. Em se
tratando de investimentos, alguém (empresa, pessoa etc.) precisará do dinheiro e
alguém poderá emprestar esse dinheiro. O ponto que vamos abordar agora é que,
nem sempre, para conseguir o dinheiro “emprestado”, as empresas precisam dos
bancos. Elas podem captar dinheiro diretamente, via mercado de capitais.

Neste momento, veremos uma das formas de as empresas realizarem este


processo, as chamadas debêntures. As debêntures são a representação de uma
dívida que a empresa emite. Elas são títulos de crédito que representam a dívida
da empresa. É um instrumento corporativo para captação de dinheiro diretamente
com investidores, via mercado de capitais, sem a necessidade de recorrer a terceiros
(bancos, por exemplo) para obtenção de fnanciamento para seus projetos e
atividades. Quem compra as debêntures são pessoas interessadas (investidores)
em emprestar recursos para a empresa em questão, sendo que em troca, como nos
demais investimentos, receberá uma remuneração pela “aplicação” deste capital
ou pela compra deste título (debênture) da empresa em questão (NARDINI, 2018).

143
UNIDADE 3 | MERCADO FINANCEIRO DE CAPITAIS

Como nos demais tipos de investimento, existe uma remuneração (juros),


em cima do capital emprestado e, ao fnal de um prazo especifcado em contrato,
o investidor receberá o montante investido acrescido dos juros acordados via
contrato. As debêntures também são títulos de renda fxa, onde o objetivo do
investidor é obter remuneração, que neste caso é paga diretamente pela empresa
que as emitiu por ter “emprestado” seu capital por um determinado prazo e taxa
de juros acordados em contrato, para que a empresa pudesse captar o montante
necessário para suas necessidades (NARDINI, 2018). “O principal documento
legal em uma emissão de debêntures é a escritura de emissão, de onde constam
todas as informações relativas ao título de dívida” (NARDINI, 2018, p. 28)

DICAS

Para visualizar uma Escritura de Emissão de Debêntures, você pode acessar


o modelo da ANBIMA, disponível em: < http://www.anbima.com.br/data/files/E0/A1/B2/
F3/532085106351AF7569A80AC2/ModelodeEscrituradeEmissaoDebentures-GTPadroniza-
caoANBIMA29-10-15_1_.pdf>.
Os dados que estão presentes neste documento são, basicamente:

• Identificação da companhia emissora da debênture.


• Data de vencimento.
• Valor nominal unitário de cada debênture.
• Taxa de juros.
• Periodicidade de pagamento dos juros.
• Datas e condições de pagamento do valor principal.
• Uso pretendido dos recursos.
• Obrigações da companhia emissora, além de outras informações.

Este documento é, de fato, um contrato assinado entre quem está emprestando


o dinheiro e a empresa que está pegando o dinheiro emprestado, ou seja, investidor
e devedor. No caso deste documento, assinam a empresa emissora das debêntures
e um agente fduciário que representa todos os interessados (investidores que
emprestam dinheiro para a empresa), que na maioria dos casos é uma instituição
fnanceira (corretora ou distribuidora de valores mobiliários) contratada para ser a
responsável por essa e outras atividades, e em nome dos debenturistas, pelo que se
faz necessário referente a esse investimento (NARDINI, 2018).

Diferentemente das LCIs e LCAs que vimos até agora (que têm garantias
obrigatórias), a oferta ou não de garantias é determinada pela companhia emissora
e seus assessores fnanceiros na estruturação do título (debênture) (NARDINI,
2018). As debêntures são classifcadas de acordo com as garantias que possuem,
desta forma, temos mais de um tipo de debênture negociada e emitida pelas
empresas. Por exemplo:

144
TÓPICO 1 | PRODUTOS DE INVESTIMENTO FINANCEIRO

• Debêntures com garantia real: oferecem aos investidores como garantia ativos
específcos (podendo ser um ou mais ativos) e esses ativos fcam vinculados
ao título (debênture) até que sejam cumpridas todas as obrigações legais pela
companhia emissora (vencimento).
• Debêntures com garantias futuantes: neste caso, a garantia são todos os ativos
da companhia emissora, porém não há vinculação de ativos específcos para
garantir a debênture em questão. Apesar de representar uma garantia sobre o
título emitido, é uma garantia mais “fraca” que a garantia real, justamente por
não vincular ativos específcos à garantia da debênture.
• Debêntures quirografárias: essas debêntures não oferecem nenhum tipo de
garantia e não conferem aos debenturistas nenhum privilégio em relação aos
ativos da empresa que emite a debênture.
• Debêntures subordinadas: são debêntures também sem garantia (como as
quirografárias), e que em caso de falência estarão atrás de todas as outras
debêntures na ordem de recebimento do valor devido.

Todos esses tipos de debêntures são debêntures simples (o tipo mais


comum), que são puramente títulos de renda fxa. A diferença dos tipos de
debêntures acima citados está apenas na ordem de recebimento do valor em caso
de falência da empresa.

Vamos olhar o processo completo e fcará mais fácil de entender o porquê


das garantias. As debêntures representam títulos de dívida emitidos pelas empresas
com a fnalidade de captar recursos fnanceiros no mercado de capitais. Os
contratos são frmados conforme a escritura de emissão de debêntures e lá estão as
informações do valor do título, taxas, prazos etc., que são as informações de como a
empresa que captou recursos irá devolvê-los aos investidores. Apesar de haver esse
contrato, toda empresa está sujeita a imprevistos e pode falir um dia. As garantias
associadas às debêntures servem para que, em caso de falência, o investidor tenha
certeza de que irá receber o valor investido na debênture. Neste caso:

• O contrato que prevê garantias reais será o primeiro a ser liquidado em caso
de falências, pois há ativos específcos da empresa que emitiu as debêntures
relacionados ao título, logo, em caso de falência, quando esses ativos forem
vendidos, o dinheiro deverá ser direcionado aos investidores que têm
debêntures com garantias reais.
• O segundo contrato a ser liquidado serão as debêntures com garantias futuantes.
Como ela não tem ativos específcos relacionados aos contratos, dependerá da
liquidação de todos os contratos com garantias reais e caso ainda restarem ativos
e dinheiro para liquidação desses contratos, serão então realizados.
• Logo após vêm as debêntures quirografárias, que não têm garantias, porém, em
caso de falência, serão quitadas logo após as debêntures com garantias futuantes.
• Por último, em caso de falência, serão liquidadas as debêntures subordinadas
que só têm preferência sobre os acionistas da empresa.

Como já mencionado, a maioria das debêntures é puramente de renda


fxa. Mas há também as chamadas debêntures conversíveis e as permutáveis, que
têm um elemento de renda variável associado aos seus contratos.
145
UNIDADE 3 | MERCADO FINANCEIRO DE CAPITAIS

As debêntures conversíveis têm em seus contratos estipulada a troca delas


por ações da empresa emissora, com preço preestabelecido, durante um período
ou em datas determinadas. Neste caso, além das diversas informações presentes
nos contratos de debêntures, há também uma razão, ou preço de conversão,
que representa o número de ações da empresa emissora da debênture pelo qual
aquele papel poderá ser “trocado” (NARDINI, 2018).

Por exemplo, a escritura de emissão pode especifcar que uma debênture


com denominação unitária de R$ 1.000,00 pode ser conversível em 33
ações da companhia. Dividindo-se o valor nominal da debênture pelo
número de ações correspondentes, encontramos o preço de conversão,
que nesse exemplo é de R$ 30,30 (NARDINI, 2018, p. 30).

Assim, o investidor poderá escolher entre continuar com a debênture


e receber o que foi acordado no contrato (juros e prazos), ou então realizar a
conversão das debêntures e passar a ser acionista da empresa.

Já as debêntures permutáveis emitidas por uma empresa podem ser


trocadas por ações de emissão de outra empresa e são bastante semelhantes
às debêntures conversíveis. Os dois tipos de debêntures, como já mencionado,
possuem um elemento de renda variável. Resumidamente, se o preço da ação
no mercado estiver acima do negociado no contrato da debênture, o investidor
poderá escolher por trocar as debêntures por ações. Desta forma, pode-se
mencionar que esses tipos de debêntures são constituídos por características de
renda fxa e também variável, sendo assim “híbridos” (NARDINI, 2018).

Até aqui pudemos entender as características das debêntures e o porquê


de as empresas emitirem esse tipo de papel no mercado. O que nos falta
ainda é entender de que forma esses papéis chegam às mãos dos investidores.
Basicamente, entender como é que os investidores passam a fcar sabendo que
existem debêntures à venda no mercado. Como vimos, lembre-se, as debêntures
representam títulos de dívida da empresa. Logo, como os investidores sabem que
as empresas estão “vendendo dívida” para captar recursos?

Existem duas maneiras de se lançar debêntures no mercado. Uma delas


é por meio de uma oferta pública de debêntures e outra uma oferta privada das
mesmas. Ou seja, com intermédio de uma instituição fnanceira, normalmente,
as empresas fazem a emissão e venda desses títulos, por meio de dois tipos de
ofertas (NARDINI, 2018).

• As ofertas públicas requerem uma série de requisitos, conforme instrução


CVM 400/03, que normatiza esse tipo de operação. Neste caso, é realizada a
produção e distribuição de um “prospecto de distribuição”, onde estão todas
as características dessas debêntures ofertadas. Neste prospecto constam
informações como: companhia emissora, fnalidade dos recursos, custo da
emissão, riscos etc. Este documento é um informativo sobre o título em questão
que será distribuído aos potenciais investidores. Porém, uma oferta pública
tem mais de uma maneira de ser realizada. Há também a possibilidade de

146
TÓPICO 1 | PRODUTOS DE INVESTIMENTO FINANCEIRO

a empresa realizar uma oferta pública com esforços restritos. Neste caso, as
regras são mais fexíveis, o que faz com que os custos envolvidos na emissão se
tornem mais baratos para a empresa. A distribuição é restrita para um grupo
de 75 investidores, já a colocação dos papéis, ou seja, quem irá investir, não
pode ser um grupo maior do que 50 investidores. Por isso, “esforços restritos”.
A emissão é mais barata e a abrangência é menor, como podemos observar.
Além dessa restrição da quantidade de investidores, esses papéis só podem
ser destinados a investidores profssionais e esse tipo de emissão é regido pela
norma da CVM 476/09 (NARDINI, 2018).
• A outra maneira de ofertar as debêntures é a oferta privada dos papéis. A
empresa emissora seleciona os investidores para os quais será feita a oferta
desses títulos e não há oferta dos mesmos para o público. Os custos são menores
ainda do que os das ofertas públicas de esforços restritos, não há necessidade
de registro da emissão junto à CVM. Porém, a quantidade de recursos captados
também tende a ser inferior.

NOTA

A Comissão de Valores Mobiliários – CVM, órgão regulador do mercado de


capitais, tem uma série de regulamentações conhecidas como as Instruções CMV. Cada
uma delas possui um número, semelhante a uma lei, e traz um conteúdo regulamentando
o mercado de capitais. Por exemplo: a CVM 400/03 “Dispõe sobre as ofertas públicas
de distribuição de valores mobiliários, nos mercados primário ou secundário, e revoga a
Instrução 13/80 e a Instrução 88/88”. Já a CVM 476/09 “Dispõe sobre as ofertas públicas
de valores mobiliários distribuídas com esforços restritos e a negociação desses valores
mobiliários nos mercados regulamentados”.
Você conhecerá mais a respeito da CVM ao pesquisar outras instruções. Acesse: http://
www.cvm.gov.br/legislacao/index.html

Observe, caro acadêmico, que mesmo a empresa não precisando captar o


recurso de um terceiro (como um banco, por exemplo), ela precisará da instituição
fnanceira para fazer a emissão e controle desses títulos. Para os investidores, a
instituição fnanceira atua também como agente fduciário no caso da assinatura
dos contratos etc.

Como nos diversos produtos de renda fxa, uma taxa é especifcada no


contrato e, como já vimos também nos demais instrumentos de renda fxa, ela pode
ser pré ou pós-fxada. Essa taxa irá dizer aos investidores qual será o rendimento
do seu investimento. No caso das debêntures, um número pequeno de papéis
terá uma taxa prefxada e a grande maioria é negociada com uma taxa pós-fxada,
normalmente com vinculação à Taxa DI. Neste caso, há duas maneiras de se
negociar a taxa de remuneração das debêntures. Em uma delas, a taxa é pós-fxada,

147
UNIDADE 3 | MERCADO FINANCEIRO DE CAPITAIS

sendo pago um percentual da taxa DI, por exemplo, o contrato prevê que será pago
110% da Taxa DI. Outra maneira é utilizando-se de um Spread acima da Taxa DI,
ou seja, se o investimento paga a Taxa DI + 3% a.a. (por exemplo) (NARDINI, 2018).

Há ainda outra maneira de remuneração que vem sendo utilizada que


remunera as debêntures, atrelando a elas um índice de variação de preços como
IGP-M ou IPCA, por exemplo. Remunera os investidores através da variação de
preço e de um percentual fxo, semelhante ao que vemos quando a remuneração
é a da Taxa DI + Spread. No caso da variação atrelada a um índice, ocorre que o
montante inicial é reajustado conforme o índice, e o investidor recebe o valor
corrigido e a taxa de juros acrescida de acordo com o contrato (NARDINI, 2018).

Vimos, então, as principais características deste tipo de investimento e


o que você, acadêmico, deve ser perguntar é: o que faz o investidor comprar
debêntures? Por que investir na dívida de uma empresa? E qual o risco desse
investimento? É verdade que, em todo investimento, o investidor busca ter
o maior retorno possível. Quem não quer ter o maior retorno possível com
um investimento, não é mesmo? É claro que quanto maior for o risco, há uma
tendência de maior ser o retorno também. No caso das debêntures, como o risco
está associado à possibilidade de a empresa cumprir ou não com suas obrigações
fnanceiras, o investidor busca informações sobre o risco nos Ratings, ou seja, na
avaliação dos Ratings relacionados às empresas. Então, de acordo com a avaliação
da empresa através desses Ratings, o investidor terá uma noção de qual risco
estará assumindo. Quanto melhor for o Rating associado à empresa, menor será
o risco que o investidor estará assumindo. Logicamente, quanto maior for o risco
percebido e que o investidor irá assumir, ele irá procurar uma remuneração
melhor para esse investimento.

As debêntures ainda têm uma peculiaridade frente a outros investimentos


fnanceiros e, além dos modelos vistos até aqui, ainda há uma outra modalidade,
chamada: debêntures incentivadas. As debêntures incentivadas são uma iniciativa
do Governo Federal, instituída em 2011, que tem por objetivo o fomento de
setores primordiais para o desenvolvimento do país. São debêntures emitidas
com um propósito específco: captar recursos para infraestrutura, ou seja, executar
projetos de investimento em infraestrutura ou também de produção econômica
intensiva em pesquisa, desenvolvimento e inovação em áreas de suma importância
para o Governo Federal. Essas debêntures são emitidas por concessionárias,
permissionárias, autorizatárias ou arrendatárias, ou ainda, sociedades de propósito
específco (NARDINI, 2018). Mas, por que o governo incentiva empresas a emitir
debêntures? O que o governo ganha com isso? E, principalmente, o que as empresas
e os investidores ganham com isso? Vamos por partes, começamos com o Governo.
As debêntures incentivadas são para áreas específcas e visam o desenvolvimento
em setores relacionados à infraestrutura do país. Os setores nos quais o governo atua
incentivando as debêntures são vitais para a economia e, caso não haja empresas
investindo, muito provavelmente o governo terá que investir, ou então serão áreas
nas quais faltarão investimentos. Portanto, o governo, a partir do incentivo para

148
TÓPICO 1 | PRODUTOS DE INVESTIMENTO FINANCEIRO

debêntures, ganha “parceiros” para o desenvolvimento dessas áreas. Do outro


lado temos as empresas, que ao utilizarem desse mecanismo, possuem agora
“incentivos” para a realização de seus projetos.

Os setores nos quais há esse incentivo são defnidos pela Lei nº 8.874/16, na
qual estão relacionados os setores prioritários para essas emissões de debêntures,
que são: logística e transportes, mobilidade urbana, energia, telecomunicações,
radiodifusão, saneamento básico e irrigação (NARDINI, 2018).

Vimos que para o governo é uma maneira de realizar mais projetos em


mais áreas, incentivando empresas a realizar esses projetos por meio de captação
de recursos via debêntures incentivadas. O que não respondemos ainda é qual
benefício para o investidor neste papel. Pois bem, o diferencial primordial nessa
operação é um benefício tributário sobre os rendimentos que são pagos aos
investidores (NARDINI, 2018).

Para que seja possível esse investimento, vamos atentar a algumas


características diferentes das que vimos até agora, por exemplo: remuneração por
meio de taxa prefxada ou ter vínculo com uma variação de preços ou à TR, sendo
vetada a remuneração por qualquer taxa pós-fxada; pagamentos periódicos de
juros devem ocorrer em intervalos mínimos de 180 dias; prazo médio ponderado
(tempo médio para recebimento do principal e dos juros) deve ser superior a
quatro anos; títulos não podem ser recomprados pelo emissor durante os
primeiros 24 meses de investimento; restrições para sua liquidação antecipada;
e também uma exigência quanto à prestação de contas do destino dos recursos
captados, bem como os gastos efetivamente relacionados aos projetos para os
quais foram captados. Essas exigências permeiam a emissão das debêntures
incentivadas, e para que possam ser emitidas deve ainda, além do cumprimento
das exigências, haver aprovação do ministério responsável pelo setor primário
ao qual o projeto se enquadra, só então podem ser efetivamente emitidas e
adquiridas por investidores (NARDINI, 2018).

2.3.5 Títulos Públicos Federais


Até então estudamos diversos produtos de investimento que são
considerados privados, ou seja, todos eles são emitidos por instituições privadas,
com o objetivo de captar recursos para atender às suas necessidades. Os Títulos
Públicos Federais, ou só títulos públicos, têm a mesma fnalidade (captar recursos),
porém são emitidos pelo governo e, desta forma, o destino dos recursos é atender
às necessidades de recursos do governo.

Mas o governo já não cobra diversos impostos, taxas e outras coisas para
captar recursos? Sim, o governo tem diversas formas de obter recursos fnanceiros,
e os títulos públicos são utilizados basicamente quando os impostos, taxas e
contribuições, que são pagos tanto por pessoas jurídicas como físicas, não são
sufcientes para cobrir com as suas despesas. Neste caso, quando essas arrecadações

149
UNIDADE 3 | MERCADO FINANCEIRO DE CAPITAIS

não atingem a necessidade do governo, ele emite títulos públicos para cobrir essa
necessidade de recursos. Quais títulos são esses? Quais suas características? Onde são
negociados? Bem, essas são perguntas que responderemos a partir de agora, a fm de
compreender esse importante mecanismo do governo para obtenção de recursos e
também importante produto de investimento fnanceiro que temos no Brasil.

Como vimos até aqui, temos títulos pré e pós-fxados, e no caso dos
títulos públicos não é diferente. São cinco os títulos negociados hoje pelo Tesouro
Nacional (BRASIL, 2018), dois deles prefxados e três pós-fxados:

• Tesouro prefxado (LTN).


• Tesouro prefxado com juros semestrais (NTN-F).
• Tesouro Selic (LFT).
• Tesouro IPCA+ com juros semestrais (NTN-B).
• Tesouro IPCA+ (NTN-B Principal).

A tabela a seguir apresenta as principais características de cada título,


quanto ao seu rendimento e sua remuneração.

TABELA 1 – CARACTERÍSTICAS DOS TÍTULOS PÚBLICOS FEDERAIS

Título Rendimento Remuneração do título

Prefxados
Tesouro Prefxado 20XX
Taxa Contratada Somente no vencimento
(LTN)
Tesouro Prefxado com Juros
Taxa Contratada Semestral e no vencimento
Semestrais 20XX (NTN-F)
Pós-fxados indexados à Inflação
Tesouro IPCA+ 20XX (NTN-B
IPCA + Taxa Contratada Somente no vencimento
Principal)
Tesouro IPCA+ com Juros
IPCA + Taxa Contratada Semestral e no vencimento
Semestrais 20XX (NTN-B)
Pós-fxados à Taxa Selic

Tesouro Selic 20XX (LFT) Selic + Taxa Contratada Somente no vencimento

FONTE: Brasil (2018, s.p).

Dos investimentos que vimos até agora, certamente os títulos públicos


são os mais simples. É importante salientar que os títulos públicos podem ser
liquidados antecipadamente, mas sua remuneração será inferior à contratada.

150
TÓPICO 1 | PRODUTOS DE INVESTIMENTO FINANCEIRO

• LTN – Tesouro Prefxado - este título oferece ao investidor um retorno


nominal predefnido, que será sempre de R$ 1.000,00, no seu vencimento
(NARDINI, 2018). Como assim, sempre de R$ 1.000,00? A LTN possui um fuxo
de pagamentos simples, ou seja, é feita uma aplicação e ao fnal do prazo o
investidor recebe R$ 1.000,00. O que acontece é que é feito um cálculo, trazendo
a valor presente o montante de R$ 1.000,00, para se calcular quanto, descontada
a remuneração, “custa” esse título de R$ 1.000,00 na data de hoje, e este é o
valor da LTN que, ao fnal do prazo, será resgatada por R$ 1.000,00 (NARDINI,
2018). A fgura a seguir apresenta o fuxo de pagamento deste título:

FIGURA 1 – FLUXO DE PAGAMENTOS LTN

FONTE: Brasil (2018, s.p).

Para facilitar, vamos a um exemplo: uma LTN foi comprada em 02/01/2019,


o rendimento oferecido é de 9,32%a.a., com vencimento em 01/01/2022. Sabemos
que o valor recebido no vencimento será de R$ 1.000,00, portanto o que precisamos
calcular aqui é quanto será investido na compra deste título. A fórmula para
chegar a esse valor é a seguinte:

Valor de Venda
Preço = du
(1 + Taxa) 252

Na qual:
• preço - é o preço do título na data de compra, que é o que queremos descobrir;
• valor de venda é R$ 1.000,00;
• taxa - é o rendimento oferecido pelo título;
• du - são os dias úteis entre a data de compra e o vencimento.

No nosso exemplo, são decorridos 755 dias úteis entre a compra e o


vencimento, portanto a fórmula fca assim:

151
UNIDADE 3 | MERCADO FINANCEIRO DE CAPITAIS

R$ 1.000,00
Preço = 755
(1 + 0,0932) 252

O resultado é: R$ 765,69, ou seja, no dia 02/01/2019 o investidor compraria


a LTN por R$ 765,69 para receber no vencimento (01/01/2022) os R$ 1.000,00.

DICAS

A utilização de 252 dias úteis em um ano é uma convenção utilizada desde a


década de 80 quando o Banco Central defniu que, para fns de aplicações fnanceiras, seriam
utilizados 252 dias úteis em um ano.

Mas o que vai defnir efetivamente quanto o investidor vai receber pelo
título? Bem, como já vimos, nos títulos de renda fxa, quanto maior o prazo
investido, maior tende a ser a remuneração oferecida pelos emissores. No caso da
LTN não é diferente: quanto maior for o prazo, maior tende a ser a taxa oferecida
pelo Tesouro Nacional para remuneração. Neste caso, como o valor a ser recebido
sempre será de R$ 1.000,00 quanto maior o prazo, menos o investidor terá que
dispender na compra para investir na LTN.

• NTN-F - Tesouro Prefxado com Juros Semestrais - semelhante à LTN, esse


título também tem um valor fnal de resgate de R$ 1.000,00. Ou seja, é pago
um valor hoje para que no seu vencimento o investidor receba R$ 1.000,00 por
NTN-F negociada. A diferença é que, na NTN-F, há um pagamento de juros
semestral equivalente a 10% a.a., ou 4,8808% ao semestre (taxa equivalente).
Essa taxa de juros referente ao pagamento dos cupons (pagamentos dos juros
semestrais) é padrão para todas as aplicações em LTN-F e é calculado sobre o
valor nominal da aplicação, ou seja, sobre os R$ 1.000,00 (NARDINI, 2018). Qual
minha vantagem, então? Bem, neste caso há um pagamento semestral de juros,
ou seja, a cada seis meses o investidor receberá juros pelo capital investido em
NTN-F e ao fnal haverá o resgate do principal. Logo, a rentabilidade deste
título é paga de forma fracionada, diferente da LTN, na qual o investidor só
recebe sua remuneração no vencimento do título. O fuxo de pagamento é
diferente do que vimos na LTN, como pode ser observado na fgura a seguir:

152
TÓPICO 1 | PRODUTOS DE INVESTIMENTO FINANCEIRO

FIGURA 2 – FLUXO DE PAGAMENTOS NTN-F


Investidor realiza a compra e
transfere os recursos Valor de Face ou Nominal
Taxa anual de cupom: 10% (Valor investido +
Rentabilidade)

Data da Cupom Último


Compra Cupom 1 Cupom 2 Cupom 3 n Cupom
Semestre 1 Semestre 2 Semestre 3 Data de
Valor
Taxa de Juros efetiva no período Vencimento
Investido
Investidor recebe o retorno de
Preço
seu investimento
Unitário
FONTE: Brasil (2018, s.p).

A fgura representa o valor investido, o pagamento dos cupons ao longo do


período de investimento e, ao fnal do período de investimento, o recebimento do
valor de face do título (R$ 1.000,00). Por exemplo: se o investidor compra uma NTN-F
a R$ 960,67 em janeiro de 2019 e o vencimento da mesma será em janeiro de 2024, ele
receberá cupons de juros duas vezes ao ano (janeiro e julho) e no vencimento receberá
R$ 1.000,00, que é o valor nominal do título no qual ele investiu.

• LFT – Tesouro Selic - como o próprio nome sugere, este título público tem sua
rentabilidade atrelada à Taxa Selic acumulada no período de investimento,
acrescido ou não de uma taxa de ágio (ou deságio), que pode ser acordada
no momento da compra. Como este já não é mais um título prefxado, sua
remuneração exata só será conhecida no momento do vencimento do título. Seu
fuxo de pagamento é semelhante ao da LTN, como podemos observar a seguir:

FIGURA 3 – FLUXO DE PAGAMENTOS LFT


Valor de
Resgate
Investidor realiza a compra e
transfere os recursos
Juros

Data da Principal
Compra

Taxa de Juros efetiva no período (Selic) Data de


Principal Vencimento

Preço
Unitário
Investidor recebe o retorno
de seu investimento

FONTE: Brasil (2018, s.p).

153
UNIDADE 3 | MERCADO FINANCEIRO DE CAPITAIS

Dada sua simplicidade, esse título tem algumas características importantes


a serem mencionadas, por exemplo, sua baixa volatilidade do valor de mercado,
sendo indicado para investidores que se consideram conservadores e também
para aqueles que não têm certeza de quando precisarão resgatar o título, visto
que o Tesouro Nacional recompra, pelo seu valor de mercado, o título mesmo
antes do vencimento. (BRASIL, 2018, s.p).

Vamos a um exemplo: suponha que um título LFT tenha sido comprado em


15/01/2010 pelo valor de R$ 4.112,41 e vendido em 07/03/2013. O valor atualizado
será calculado em função da variação da Taxa Selic, que pode ser encontrada no site
do Banco Central. No nosso exemplo, essa variação foi de 34,10% no período, o que
resultou em um valor de resgate do título, no vencimento, de R$ 5.514,74. Portanto,
o investidor recebeu por esse investimento R$ 1.401,33 (BRASIL, 2018, s.p).

Os títulos podem ser negociados com ágio ou deságio no momento da compra,


isso signifca dizer que a rentabilidade oferecida é superior ou inferior à Taxa Selic.
Por exemplo, se o título está sendo negociado com ágio, a rentabilidade oferecida
é inferior à Selic. Logo, quando o título é negociado com deságio, a rentabilidade
oferecida é superior. Isso refete no valor pago pelo título: com deságio, está sendo
pago um valor menor que o valor nominal; e com ágio, um valor maior que o nominal,
refetindo a diferença entre a rentabilidade e a Taxa Selic.

• NTN-B – Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais - este título, também pós-
fxado, oferece uma taxa de juros previamente defnida, e somada a essa taxa
a variação do IPCA - Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo, ou
seja, é um título que está atrelado à infação. A taxa de juros predefnida para
o pagamento dos cupons é de 6% a.a., ou 2,96% ao semestre (taxa equivalente).
O fuxo de pagamentos é semelhante à NTN-F, conforme fgura seguinte:

FIGURA 4 – FLUXO DE PAGAMENTOS NTN-B


Investidor realiza a compra e
transfere os recursos Valor de Face ou Nominal
Taxa anual de cupom: 6% (Valor Investido +
Rentabilidade)
Data da Cupom Último
Compra Cupom 1 Cupom 2 Cupom 3
n Cupom
Semestre 1 Semestre 2 Semestre 3 Data de
Valor Taxa de Juros efetiva no período Vencimento
Investido
Investidor recebe o retorno de
Preço seu investimento
Unitário
FONTE: Brasil (2018, s.p)

154
TÓPICO 1 | PRODUTOS DE INVESTIMENTO FINANCEIRO

Neste caso, há o pagamento dos cupons ao longo do período e, ao fnal,


o resgate do principal, atualizado pelo IPCA. O título é interessante para quem
quer manter o poder de compra do dinheiro ao longo dos anos e a rentabilidade
real do investimento será dada pela taxa negociada na compra do título. Seu valor
de mercado varia conforme oferta e demanda, o que signifca que a remuneração
oferecida no momento da compra irá variar. E o que isso signifca? Suponha que
uma NTN-B seja negociada com uma taxa de rendimento 5,50% a.a. O investidor
pagará um preço superior ao valor nominal, o que fará com que sua rentabilidade
fnal seja de 5,50%, recebendo os cupons de aproximadamente 2,96% ao semestre.
Ocorrerá, então, que o investidor terá uma rentabilidade (conforme negociada)
de 5,50% acima da infação (caso fque com o título até o vencimento).

• Tesouro IPCA + (NTN-B Principal) - Outra forma de manter o poder aquisitivo


do dinheiro é investir em NTN-B Principal. Esse título é quase idêntico ao
NTN-B, com a diferença de que não há pagamento de juros semestralmente,
sendo o valor do investimento a ser resgatado no seu vencimento negociado no
momento da compra pelo investidor. O fuxo de pagamento é simples, pois há
apenas a compra e o pagamento do título no vencimento, observe:

FIGURA 5 – FLUXO DE PAGAMENTOS NTN-B PRINCIPAL


Investidor realiza a compra e
transfere os recursos Valor de Face

Data da
Compra

Taxa de juros pactuada no momento da Data de


Valor Vencimento
Investido compra mais a variação do IPCA no período

Preço
Unitário Investidor recebe o retorno
de seu investimento

FONTE: Brasil (2018, s.p)

O valor fnal resgatado pelo investidor será a taxa negociada acrescida da


infação (IPCA) do período transcorrido entre a compra e o resgate do título. Neste
caso, apesar de o investidor não saber qual será o valor fnal do seu investimento
(em dinheiro), ele saberá que vai ser o percentual pactuado acima da infação do
período, o que faz com que ele receba uma remuneração e mantenha o poder
aquisitivo do dinheiro investido.

Essas foram as explicações referentes aos títulos públicos federais


oferecidos pelo governo para os investidores.

155
UNIDADE 3 | MERCADO FINANCEIRO DE CAPITAIS

DICAS

O Tesouro Direto disponibiliza informações completas sobre rentabilidade dos


seus investimentos em: <http://www.tesouro.fazenda.gov.br/tesouro-direto-calculadora>.
Neste mesmo link também é possível simular cálculos do rendimento das aplicações.

TE
IMPORTAN

Visto as características dos principais títulos de renda fxa (privados e públicos),


podemos nos perguntar: qual a vantagem de um investidor procurar os títulos públicos e não
os títulos privados? Uma das respostas é o fator risco, que veremos em um tópico específco.
Mas, o que podemos refetir aqui é: tenho mais riscos investindo no governo? Ou em uma
instituição privada? Quem tem maior probabilidade de não me pagar o investimento? Neste
caso a resposta é clara: o governo disponibiliza as opções de investimento mais seguras
no mercado, o que faz com que um motivo pela sua procura possa ser esse. Porém, a
remuneração é baixa! Sim, como todos títulos de renda fxa, a remuneração não é muito
“alta”, por assim dizer, mas isso faz parte das características dos investimentos como um todo:
quanto maior o risco, maior o retorno e assim por diante.

3 PRODUTOS DE RENDA VARIÁVEL


Até aqui estudamos os principais produtos de investimento em renda fxa.
Agora, abordaremos os produtos que estão caracterizados como renda variável.
Quais são eles, suas características e principais informações pertinentes a cada
produto. Você irá compreender as diferenças entre os produtos, onde e como
investir, bem como os principais benefícios de cada tipo de investimento.

3.1 AÇÕES
Um dos principais instrumentos de renda variável são as ações. As ações
são pequenas partes do capital social de uma empresa. Mas de que empresa?
Ações não são partes de qualquer empresa, mas sim de empresas que possuem
característica de Capital Aberto, as conhecidas Sociedades Anônimas – S.A.

Por representarem pequenas partes da empresa, as ações fazem com que


o investidor seja, de certa forma, “dono” da empresa. Ele se torna participante da
sociedade, o que lhe dá alguns direitos tanto sobre os ativos quanto dos resultados
obtidos pela empresa. O investidor de ações não tem a propriedade dos ativos da
empresa, mas através das ações os investidores participam dos resultados das
empresas e os administradores tomam decisões visando a melhora do resultado

156
TÓPICO 1 | PRODUTOS DE INVESTIMENTO FINANCEIRO

de seus investidores (aqueles que acreditam que a empresa irá prosperar e suas
ações vão valorizar) (NARDINI, 2018).

Até aqui, quando falamos de renda fxa, observamos formas de


investimento nas quais empresas buscam capital de terceiros, o que na composição
de capital da empresa representa o capital de terceiros. As ações fguram como
capital próprio, na composição de capital, visto que quando um investidor
compra ações, ele não está “emprestando” dinheiro para a empresa em troca de
juros e resgate futuro do seu capital, mas sim está “comprando” uma parte da
empresa (ação). Os investidores que compram essas partes da empresa acreditam
que a empresa irá prosperar e, por meio disso, eles irão obter retornos fnanceiros
advindos dessas ações. Esses retornos podem ser com a venda da ação para outro
investidor ou também de distribuições de lucros obtidos pelas empresas.

Mas onde nós, enquanto investidores, podemos comprar essas partes de


empresas? Como já vimos, para todos os tipos de investimento, temos um canal
onde podemos encontrar os produtos e investir, e com as ações não é diferente.
No Brasil, quem é responsável por esse mercado é a B3 (Brasil, Bolsa, Balcão),
que até poucos anos era conhecida como BM&F Bovespa – Bolsa de Mercados e
Futuros Bovespa. As ações são negociadas pelo mundo todo, em diversos países,
por entidades responsáveis por esse mercado. As principais são: NYSE (Bolsa de
Valores de Nova York), NASDAQ (Associação Nacional de Corretores de Títulos
de Cotações Automáticas), que tem sede em Nova York, Tokyo Stock Exchange
(Bolsa de Valores de Tóquio), LSE – London Stock Exchange (Bolsa de Valores de
Londres) e Euronext (Bolsa de Valores dos Estados Unidos e da Europa).

As ações negociadas nas bolsas de valores são importantes formas de, em


primeiro momento, empresas obterem recursos para seu fnanciamento e, após
isso, de investidores obterem retornos fnanceiros. É importante deixar claro que
a empresa só recebe dinheiro quando emite ações e as vende pela primeira vez ao
mercado. E esse processo conhecido como IPO – Initial Public Ofering – trata das
ofertas públicas iniciais, é quando a empresa vende ao mercado suas ações. Após
esse momento, são investidores negociando com outros investidores, buscando
resultados fnanceiros para eles.

Vamos ver se entendemos o processo? É o seguinte: a empresa abre seu


capital buscando investidores e recursos, vendendo “partes” da empresa (ações).
Este processo é realizado e é feita a Oferta Pública Inicial, as “IPO”, das ações
para o mercado. Quando a empresa vender todas as ações que disponibilizou ao
mercado, o investimento nesse produto passa a ser entre os investidores, ou seja,
não vai mais dinheiro para a empresa, mas sim de investidor para investidor. Este
é conhecido como Mercado Secundário.

Até aqui tudo certo, mas e aí? Como assim, o investidor tem parte da
empresa? O que é isso? Por que é diferente? Primeiro, como o investidor compra
uma pequena parte da empresa, ele tem certos direitos. Esses direitos vão de
acordo com o tipo de ação no qual ele investe. Mas que negócio é esse de tipo?

157
UNIDADE 3 | MERCADO FINANCEIRO DE CAPITAIS

As ações são divididas entre Ações Ordinárias e Ações Preferenciais. Cada tipo
de ação tem uma característica quanto à participação do acionista nas decisões da
empresa, recebimento de dividendos etc.

• Ações Ordinárias (ON) conferem ao acionista o direito a voto nas assembleias de


acionistas. Esses acionistas têm voz ativa nas assembleias e podem infuenciar
as decisões da empresa, infuenciar a gestão, propor mudanças etc.
• Já as Ações Preferenciais (PN) dão aos acionistas preferência no recebimento
de dividendos e, por outro lado, não conferem direito a voto nas assembleias
(NARDINI, 2018). A letra N da sigla se refere a Nominativas, pois os papéis
são “nominais” ao investidor.

Então, como os investidores escolhem? Bom, o investidor que quer ter


alguma infuência na empresa em que está investindo vai optar por comprar
ações Ordinárias; já aqueles que não querem se envolver e querem ter prioridade
no recebimento de dividendos, investirão nas ações Preferenciais.

Como saber em que tipo de ação estou investindo? As ações têm códigos,
por exemplo: VALE3, BVMF3, ITUB4, BBDC4 etc. No caso da Bolsa Brasileira,
quando as ações têm 3 no fnal, representam Ações Ordinárias; quando o número
fnal é 4, representam Ações Preferenciais. Além dessas duas nomenclaturas, há
outras que também representam ações preferenciais e ordinárias (NARDINI, 2018).

DICAS

Para entender melhor a nomenclatura das ações, acesse:


<https://www.infomoney.com.br/onde-investir/noticia/2164854/comecando-agora-entenda-
o-signifcado-e-como-sao-formados-os-codigos-das-acoes->. Acesso em 13 fev. 2019.

Já sabemos que podemos comprar ações preferenciais ou ordinárias, mas


onde vamos comprar essas ações? A resposta é simples: na B3 - Brasil, Bolsa,
Balcão, anteriormente conhecida como BM&F BOVESPA. Com a era totalmente
digitalizada, não existe mais um lugar “físico” onde você vai com seu dinheiro
para comprar ações. Mas já foi, sabia? Hoje, para comprar ações você precisará
de um intermediário, corretoras de títulos e valores mobiliários, distribuidora
de títulos e valores mobiliários, agências bancárias etc. O investidor buscará
uma instituição autorizada a operar em bolsa de valores. Esses intermediários
receberão as “ordens” do investidor para comprar ou vender ações e então
realizarão essas ordens com a bolsa tendo a responsabilidade de criar essa ponte
entre Mercado e Investidor (NARDINI, 2018).

158
TÓPICO 1 | PRODUTOS DE INVESTIMENTO FINANCEIRO

Para investidores individuais é comum a utilização de um Home Broker, que


nada mais é que um sistema onde o investidor opera suas negociações, enviando
ordens de compra e venda. Estas ordens são recebidas pela corretora, por meio desse
home broker, e então a corretora realiza as operações na Bolsa (NARDINI, 2018).

Agora que sabemos quais são as ações e onde comprá-las, como ganhar
dinheiro com isso? Existe mais de uma maneira de ganhar dinheiro com as ações,
vamos aprender um pouco como o investidor ganha (ou perde) dinheiro com
a aplicação de recursos fnanceiros em ações. Primeiro é importante observar
que, como a ação representa uma parte da empresa, quando a empresa obtém
lucros, o investidor possui direito a uma parte do lucro obtido. Essa distribuição
de lucros é chamada de dividendos, ou seja, empresas de capital aberto que
tiverem resultados positivos devem distribuí-los com seus acionistas conforme o
que constar em seus Estatutos Sociais. Mas não é todo o lucro que é distribuído,
afnal, as empresas precisam reinvestir dinheiro para continuar crescendo. O
que é distribuído é parte do lucro obtido no exercício e cada acionista receberá
dividendos de acordo com sua participação no capital da empresa (NARDINI,
2018). Atualmente, as empresas são obrigadas a distribuir, pelo menos, 25%
do seu lucro líquido, podendo distribuir muito mais de acordo com o que for
preestabelecido em seu estatuto social e objetivos da empresa.

Outra maneira de ganhar dinheiro com ações é com o pagamento de juros


sobre o capital próprio. Essa remuneração se refere ao pagamento de juros sobre o
lucro que foi retido em exercícios anteriores, é remunerado o valor que foi retido
pela empresa (não repassado aos acionistas no exercício anterior, por exemplo),
mas que não foi utilizado nos planos de investimento da empresa (NARDINI, 2018).

Também é possível receber bonifcações, seja em dinheiro ou em ações,


essas bonifcações são resultado de um movimento de transformação de reservas
de lucros em capital social da empresa, os investidores então recebem mais ações,
ou uma bonifcação em dinheiro referente a esse processo. Isso não altera o
valor total que cada investidor possui em ações, mas o valor de mercado da ação
diminui (devido ao aumento do número de ações) (NARDINI, 2018).

Por fm, a maneira mais conhecida de obtenção de retornos fnanceiros por


meio de ações é o ganho de capital. Ganho de capital é a diferença entre o valor que
o investidor pagou na compra da ação e ganhou quando vendeu a ação. Esse ganho
é normalmente bem superior aos ganhos dos investimentos de renda fxa, visto que
esse valor depende de diversos fatores econômicos e próprios da empresa.

159
UNIDADE 3 | MERCADO FINANCEIRO DE CAPITAIS

3.2 MERCADO DE DERIVATIVOS


Dos instrumentos de renda variável, outro destaque, além as ações, são os
derivativos. Por defnição: “um derivativo é um ativo ou instrumento fnanceiro,
cujo preço deriva de um ativo ou instrumento fnanceiro de referência ou
subjacente” (FORTUNA, 2014, p. 681). O mercado de derivativos é um mercado
de liquidação futura, ou seja, suas negociações são feitas hoje, mas sua liquidação
é para uma data futura e ele se divide em quatro: Mercado de Futuros, Mercado
a Termo, Operação com Opções e Contratos de Swaps.

Quando dizemos que ele deriva de outro ativo ou instrumento fnanceiro,


estamos falando das próprias ações, índices de preços, dólar, commodities etc. Ou
seja, para que o derivativo exista, primeiro é preciso que exista esse ativo. Neste
caso, pode existir um derivativo de uma ação, um derivativo de dólar, de soja etc.

Os derivativos têm características básicas, por exemplo: não precisam de


um dispêndio de capital inicial para investimento, ou esse gasto pode ser bem
inferior a realizar um investimento no ativo principal referente àquele derivativo;
ele será liquidado em data futura, ou seja, os contratos são pactuados para serem
liquidados no futuro, seja daqui alguns dias até alguns anos; e o valor desse
derivativo vai se alterar em resposta às mudanças de mercado que infuenciam
aquele derivativo, por exemplo, um contrato de derivativo de dólar terá seu valor
ajustado conforme aumento ou diminuição do dólar (LIMA et al., 2012).

Se podemos investir no ativo principal, por que algum investidor investe


no que é derivado desses ativos? Bem, esse é o ponto central dos derivativos.
Os derivativos são amplamente utilizados pelos investidores para eles se
protegerem de eventuais riscos de oscilações de preços, taxas de juros e variações
cambiais, por exemplo. Vamos a um exemplo: se uma empresa precisará pagar R$
100.000,00 dólares daqui a quatro meses para um de seus fornecedores, ela poderá
realizar um contrato de derivativo hoje, contratando a compra de R$ 100.000,00
dólares em data futura. Essa ação da empresa irá fxar o preço do dólar, ou seja,
independentemente do preço do dólar no futuro, o seu contrato de derivativo
garante que a taxa de conversão entre reais e dólares será a acordada hoje. Mas
essa não é a única maneira de utilizar o mercado de derivativos, apesar de ser
uma das principais. Os derivativos são utilizados com três diferentes propósitos:
Hedge (Proteção), Arbitragem e Especulação.

Os investidores conhecidos como Hedgers, ou seja, aqueles que utilizam o


mercado de derivativos para fazer Hedge, são os que buscam se proteger do risco
de mudanças futuras nas variáveis de mercado. Já os arbitradores são aqueles
que negociam os derivativos em mercados distintos, eles encontram distorções
de preços entre mercados e se favorecem disso para obter lucros, comprando
derivativos no mercado “A” e vendendo no Mercado “B” e vice-versa. Por
fm, especuladores são aqueles que buscam o lucro com posições que acham
favoráveis, os especuladores investirão em contratos derivativos nos quais eles
imaginam que vão obter ganhos. De maneira simplifcada, não possuem nenhum

160
TÓPICO 1 | PRODUTOS DE INVESTIMENTO FINANCEIRO

interesse no ativo objeto do derivativo, ao contrário dos Hedgers, que têm esse
interesse. (LIMA et al., 2012)

Caro acadêmico! Agora que entendemos quem e por que esses investidores
utilizam os derivativos, vamos defnir as características de seus tipos: Futuros, a
Termo, Opções e Swaps.

Os contratos futuros e a termo são muito semelhantes, basicamente são


compromissos de compra/ou venda de determinado ativo em data futura, por
um preço acordado. Sua utilização é comum para produtores e compradores que
desejam se proteger das variações de preços. Com a utilização de contratos futuros
e a termo, as partes asseguram que, em uma data futura, os valores pagos/recebidos
pelos produtos serão os acordados hoje. A principal diferença deles é a existência
de um ajuste diário dos contratos futuros, ou seja, quando são negociados contratos
futuros, a parte que naquele dia teve uma variação desfavorável precisará pagar as
variações do valor do contrato diariamente (LIMA et al., 2012).

As opções são contratos que dão direitos a quem investe nelas. Existem dois
tipos: opções de compra e opções de venda. As opções de compra dão direito ao
investidor de ter a opção de comprar os ativos negociados naquela opção; as opções
de venda dão o direito ao investidor de vender os ativos negociados naquele contrato
de opções. Mas o que é ter o direito de executar a opção? É poder ter a escolha de
comprar ou não (ou vender ou não) o ativo objeto daquela ação. Por exemplo, uma
opção de compra de um determinado lote de ações de uma ação da Petrobras a um
preço determinado em uma data futura. Ao comprarmos essa opção, poderemos ou
não executá-la e comprar essas ações. Isso dependerá do preço de mercado desse
ativo e suas variações até o fm deste contrato (LIMA et al., 2012).

Então, podemos achar que opções são fantásticas, pois nunca perderemos
dinheiro, visto que podemos escolher comprar/ou vender ou não esses ativos.
Caro acadêmico, para que esses contratos sejam possíveis, existe um prêmio a
ser pago por cada opção, e assim, quem as vende recebe esse prêmio. Caso o
investidor opte por não executar a sua opção, o vendedor da opção recebe esse
prêmio por “dar” esse direito ao investidor.

Por fm, os contratos de Swap são trocas de rentabilidades entre indicadores


diferentes. No caso do Swap, o investidor e a instituição fnanceira negociam a
troca da rentabilidade de um investimento pela de outro indicador, por exemplo,
variação do dólar e CDI. E como isso funciona? O investidor faz um contrato
de Swap com a instituição fnanceira, atrelando variações de dois índices, ou
seja, há uma troca de riscos entre dois índices e, desta forma, o investidor está se
protegendo de eventuais variações (cambiais, taxa de juros etc.).

161
UNIDADE 3 | MERCADO FINANCEIRO DE CAPITAIS

TE
IMPORTAN

Caro acadêmico: você sabe o que é um rating e para que ele serve?
Um rating é uma nota que as agências internacionais de classificação de risco de crédito
atribuem a um emissor (país, empresa, banco) de acordo com sua capacidade de pagar uma
dívida. Ele serve para que investidores saibam o grau de risco dos títulos de dívida que estão
adquirindo. Em geral, são três grandes níveis: grau de investimento (país seguro de investir),
grau especulativo (risco de inadimplência) e default (quando o país declara moratória). As
principais agências no mundo são a Standard & Poor’s (S&P), a Fitch e a Moody’s, que levam
em conta indicadores como gastos do governo, dívida externa e política monetária. Essas
notas influenciam decisões de investimento no mercado internacional e a tendência é que,
ao receber a classificação, o país atraia mais recursos estrangeiros. Além disso, cai o custo
do governo, até mesmo o de empresas privadas para captar recursos no exterior.
Você poderá avançar seus conhecimentos a respeito lendo este material na íntegra. Para
isso, acesse: https://oglobo.globo.com/economia/entenda-que-um-rating-para-que-ele-
serve-10238064.

162
TÓPICO 1 | PRODUTOS DE INVESTIMENTO FINANCEIRO

LEITURA COMPLEMENTAR

ENTENDA EM CINCO PASSOS O QUE SÃO OS DERIVATIVOS


TAMBÉM CONHECIDOS COMO “OPERAÇÕES DE HEDGE”, ELES
TRAZEM PROTEÇÃO AO MERCADO FINANCEIRO

Lys Silva

O uso de derivativos vem se tornando cada vez mais comum no Brasil.


Sua principal utilidade é a proteção de contratos, dívidas ou fuxo de caixa contra
variação cambial ou outro tipo de exposição e proporcionam previsibilidade ao
balanço das empresas.

Em um momento de grande oscilação cambial, empresas de diversos


portes podem se proteger com a inclusão de derivativos em sua estratégia
fnanceira. Neste ano, por exemplo, a moeda americana subiu 42% frente ao real
e quem utilizou derivativo conseguiu mitigar os efeitos dessa oscilação.

Em 2012, a média mensal de operações registradas na Cetip com Termo de


Moedas, muito utilizado por importadores e exportadores, era de aproximadamente
U$ 20 bilhões. Em 2013, com o crescimento da oscilação do câmbio, esse valor
começou a subir. Atualmente, esse instrumento movimenta mais de U$ 30 bilhões
em contratos de empresas que estão se protegendo no Brasil.

Diante da complexidade do tema, a Cetip preparou respostas para cinco


dúvidas muito comuns quando o assunto são os derivativos:

1) O que é derivativo?
Derivativo é um instrumento fnanceiro cujo valor fnal depende (deriva), total
ou parcialmente, do valor de outro ativo, que pode ser uma ação, moedas,
juros, entre outros.

2) E para que ele serve?


No segmento em que a Cetip atua – mercado de balcão –, ele é utilizado
principalmente para fns de gestão de risco das empresas e proteção contra
oscilações indesejadas – estratégia conhecida como hedge. Além disso, no
mercado de balcão, os contratos de derivativos podem ser customizados de
acordo com a necessidade de cada empresa ou pessoa física.

3) É arriscado usar derivativos?


O derivativo é extremamente útil e benéfco dentro da estratégia das empresas,
desde que utilizado como instrumento de proteção contra oscilações futuras
oriundas de riscos de mercado existentes no balanço das empresas. Usado
adequadamente, o instrumento elimina os riscos da operação.

163
UNIDADE 3 | MERCADO FINANCEIRO DE CAPITAIS

4) Quais são os principais tipos de derivativos?


O Contrato a Termo é uma das modalidades mais utilizadas e permite à
empresa “travar” a cotação do dólar ou alguma outra moeda (ou ainda algum
outro ativo, por exemplo, uma commodity) em um valor determinado a ser
pago em uma data futura. Assim, a empresa garante que suas despesas ou
ganhos futuros em dólar terão cotação predeterminada, evitando prejuízos.

Já os contratos de Swap possibilitam que uma empresa troque o indexador


de sua dívida, ou seja, o fator que determina quanto será pago em troca do
empréstimo por um outro indexador mais coerente com os ativos da empresa.
Na parte prática, isso signifca que uma empresa pode, por exemplo, trocar seu
risco de exposição cambial para uma taxa de juros em reais, pré ou pós-fxada.

Outros tipos de derivativos são as Opções. Com elas a empresa adquire


o direito de comprar ou vender um ativo por um determinado preço em uma
data futura. A empresa não é obrigada a concretizar a compra ou venda na data
prevista, caso o cenário não se revele vantajoso como o esperado. Para ter esse
direito no mercado de opções, a empresa paga um prêmio no início da operação.

5) Como é este mercado no Brasil e no mundo?


No Brasil, os principais ativos dos contratos no mercado de derivativos de
balcão são as moedas, seguidas por juros. Dos contratos registrados na Cetip,
67% são cambiais, 21% juros, 9% ações, 3% outros.

Já no exterior, segundo dados do Banco de Compensações Internacionais


(BIS, na sigla em inglês), os principais indexadores dos contratos derivativos de
balcão são os juros, com 82,20%, seguidos por moedas, 12,34%, ações, 1,28%, e
outros com 4,18%.
FONTE: <https://www.infomoney.com.br/onde-investir/acoes/noticia/4435147/entenda-passos-
que-sao-derivativos>. Acesso em: 21 dez. 2019.

164
RESUMO DO TÓPICO 1

Neste tópico, você aprendeu que:

• Risco de crédito é o não pagamento por uma empresa das suas obrigações em
alguma operação comercial.

• Risco de liquidez está associado a não conseguir vender (transformar em


dinheiro novamente) investimentos, ou não se obtém um valor justo pelos
mesmos quando se pretende “liquidar” esses investimentos.

• Risco de mercado consiste na possibilidade de perdas causadas pelos impactos


de futuações de preços/índices/taxas (juros, câmbio) sobre instrumentos
fnanceiros assumidos por uma empresa.

• CDB signifca: Certifcado de Depósito Bancário e é considerado um depósito a


prazo. É um investimento de Renda Fixa.

• As instituições fnanceiras emitem CDBs com o objetivo de captar recursos


junto ao mercado para viabilizar suas atividades.

• Os prazos de investimento variam de contrato para contrato. Há contratos de três,


seis e 12 meses, da mesma forma que vemos contratos de dois, três ou cinco anos.

• O CDB geralmente só pode ser resgatado no vencimento do contrato, mas há


casos em que há liquidez diária do mesmo.

• A taxa pela qual o CDB irá remunerar o investidor pode ser prefxada ou pós-
fxada.

• LCI é uma Letra de Crédito Imobiliário emitida pelas instituições fnanceiras


com o objetivo de captar recursos para investimentos no setor imobiliário. É um
título de renda fxa, no qual os prazos de investimento variam de seis meses
a três anos, porém existe a possibilidade de títulos com vencimentos ainda
maiores. Seu rendimento é realizado de maneira prefxada ou pós-fxada.

• Existe a necessidade de um lastro para a instituição poder emitir LCIs e pode


haver LCIs com possibilidade de resgate diário, sempre respeitando o tempo
mínimo de investimento.

• LCA é uma Letra de Crédito do Agronegócio emitida pelas instituições


fnanceiras com o objetivo de captar recursos para investimentos no setor de
agronegócio. É um título de renda fxa, no qual os prazos de investimento
variam, com prazo mínimo de 90 dias para títulos sem reajuste por índice de

165
preços e 12 meses quando houver reajuste anual. Seu rendimento é realizado
de maneira pré ou pós-fxada.

• Existe a necessidade de um lastro para a instituição poder emitir LCAs e pode


haver LCAs com possibilidade de resgate diário, sempre respeitando o tempo
mínimo de investimento.

• As debêntures representam títulos de dívida emitidos pelas empresas e seu


objetivo é a captação de recursos para determinados fns.

• O documento que determina as características da debênture é conhecido como


escritura de emissão.

• A emissão mais comum é de debêntures simples puramente de renda fxa,


porém em alguns casos elas podem ter elementos de renda variável, como é o
caso das debêntures conversíveis e das debêntures permutáveis.

• As debêntures simples se categorizam conforme suas garantias, sendo elas:


com garantia real, com garantia futuante, quirografárias e subordinadas.
Existem também conversíveis e permutáveis, que carregam elementos de
renda variáveis e, por fm, temos as debêntures incentivadas.

• As debêntures incentivadas são aquelas em que as empresas recebem incentivos


do governo para serem emitidas, pois visam à execução de projetos em áreas
essenciais para o desenvolvimento econômico, como: energia, logística e
transportes, mobilidade urbana etc.

• Apesar de poder haver debêntures com taxas prefxadas, a grande maioria é


negociada a taxas pós-fxadas e com sua vinculação à Taxa DI. No caso das
debêntures incentivadas não pode haver emissão com taxas pós-fxadas.

• As debêntures são emitidas pelas empresas, normalmente com intermediação


de uma instituição fnanceira que atua como agente fduciário aos investidores.

• Os títulos públicos federais são: LTN, NTN - F, LFN, NTN-B e NTN – B


Principal.

• São divididos em títulos prefxados (LTN e NTN – F) e pós-fxados (LFN,


NTN-B e NTN-B Principal).

• O LTN é remunerado no vencimento a uma taxa prefxada.

• A NTN-F é remunerada por meio de cupons semestrais de 4,8808%, e o valor


principal resgatado no vencimento.

• A LFN é atrelada à variação da Taxa Selic no período transcorrido entre a


compra e o vencimento e resgatado no vencimento.

166
• A NTN-B e NTN-B Principal são atreladas ao índice de infação (IPCA) e
remuneram um percentual acima da infação transcorrida no período. A
diferença é que a NTN-B tem pagamento de cupons semestrais e a NTN-B
Principal não tem.

• Ações são pequenas partes de uma empresa de capital aberto vendidas nas bolsas
de valores e quem as compra (acionistas) se torna dono de uma parte da empresa.

• As ações são divididas entre Ordinárias e Preferenciais.

• As Ordinárias dão direito a voto ao acionista.

• As Preferenciais garantem preferência no recebimento de dividendos pelos


acionistas.

• Para comprar ações é preciso procurar por instituições autorizadas para operar
com ações.

• A remuneração do investidor é por meio de ganhos de capital, dividendos,


juros sobre capital ou bonifcações.

• Os derivativos recebem esse nome pois são atrelados a um ativo objeto, tendo
seu preço derivado deste ativo e são investimentos com liquidação futura.

• São quatro os tipos de derivativos: a termo, futuros, opções e contratos de swap.

• Os agentes investem em derivativos com três fnalidades: Hedge, Arbitragem e


Especulação.

167
AUTOATIVIDADE

1 De que forma as empresas são afetadas pelos diferentes tipos de risco


estudados?

2 Qual a fnalidade do CDB para as instituições fnanceiras?

3 Por que existem CDBs com prazos diferentes e qual a vantagem desses
títulos?

4 Como é feita a remuneração dos CDBs para os investidores?

5 Qual a fnalidade das LCI para as instituições que as emitem?

6 Qual a remuneração das LCIs?

7 Qual o prazo mínimo de investimento em LCI e em que momento o


investidor pode resgatar o título?

8 Qual a fnalidade das LCA para as instituições que as emitem?

9 Qual a remuneração das LCAs?

10 Qual o prazo mínimo de investimento em LCA e em que momento o


investidor pode resgatar o título?

11 O que é uma Debênture?

12 Quais são os tipos de debêntures que temos no mercado?

13 O que são e para que servem Debêntures Incentivadas?

14 Quais são os títulos públicos federais?

15 Quais as principais diferenças entre os títulos públicos federais?

16 Qual a fnalidade dos Títulos Públicos Federais?

17O que é uma Ação?

18 De que forma o investidor ganha dinheiro com as ações?

19 Qual a diferença entre ações preferenciais e ordinárias?

168
20 O que é um Derivativo?

21 Por que os investidores procuram os derivativos?

22 Quais os tipos de derivativos mais comuns no Brasil?

23 Quais as quatro modalidades de derivativos?

169
UNIDADE 3 TÓPICO 2

PRECIFICAÇÃO DE ATIVOS

1 INTRODUÇÃO
Conhecer os tipos de investimento é importante. Porém, para conhecer
ainda mais sobre os investimentos você precisa ir além. São diversos aspectos
que o levarão a obter um know-how aprofundado a respeito dos investimentos
fnanceiros. Conhecer os tipos de investimento é apenas um dos aspectos que
você precisará saber para entender deste mundo.

Outro item importante é saber avaliar um investimento; investir por


investir pode não trazer o retorno esperado. É muito importante entender como
avaliar esse investimento. Quando falamos de avaliação, devemos sobrepor a
ideia de apenas entender se terá retorno fnanceiro ou não, pois é preciso ir além
disso. Empresas usam produtos de investimento, muitas vezes, sem objetivo de
obter lucros, como é o exemplo dos Hedges feitos através de derivativos.

Neste ponto, uma das maneiras de observar os investimentos e avaliá-


los é através do CAPM. Ele é baseado na ideia de que o investidor busca riscos
compatíveis com os tipos de investimento, ou seja, na premissa de que para
assumir um risco é preciso obter maior rentabilidade do que se realizássemos
investimentos com baixo ou nenhum risco. É claro que existem outras maneiras,
porém o CAPM, que veremos a seguir, é uma bastante utilizada no mercado.

2 CAPM – CAPITAL ASSET PRICING MODEL


No mercado de capitais e nas fnanças, um dos aspectos mais importantes,
quanto aos investimentos, é a mensuração dos componentes básicos de uma
avaliação de ativos: risco e retorno. Para tanto, é amplamente utilizado um
modelo de precifcação de ativos conhecido como CAPM – Capital Asset Pricing
Model. Este modelo, derivado da teoria do portfólio, busca uma resposta de como
esses componentes básicos devem ser relacionados e mensurados na avaliação do
ativo (ASSAF NETO, 2012).

Além de ser amplamente utilizado nas várias operações do mercado de


capitais e no processo de decisão em condições de risco, por meio do CAPM
também é possível encontrar a taxa de retorno buscada pelos investidores. Por

171
UNIDADE 3 | MERCADO FINANCEIRO DE CAPITAIS

meio do coefciente beta gerado pelo modelo é possível reconhecer a remuneração


adequada do ativo para suprir adequadamente seu risco sistemático (ASSAF
NETO, 2012). Das hipóteses levantadas para o modelo, segundo Assaf Neto
(2012), as mais importantes são:

• a efciência informativa do mercado, que atinge igualmente a todos os


investidores;
• as taxas, impostos ou qualquer outra restrição para os investimentos não existem;
• os investidores, que têm a mesma percepção com relação a desempenho dos ativos;
• a existência de uma taxa de juros de mercado livre de risco.

Essas hipóteses possibilitam importantes conclusões sobre o processo de


avaliação de ativos, não são restritivas e têm como objetivo descrever melhor um
modelo fnanceiro. Mesmo que não sejam constatadas na realidade de mercado,
não são sufcientemente rígidas para invalidar o modelo (ASSAF NETO, 2012).

“O CAPM oferece conceitos válidos e aceitos para a estimativa do custo


de oportunidade do capital próprio. Ele foi desenvolvido por Willian Sharpe e é
considerado, teoricamente, uma das melhores alternativas para a apuração da taxa
de retorno requerida pelos investidores” (FORSTER, 2009, p. 72). Ele é baseado
na ideia de que o investidor quer ter de retorno uma remuneração de baixo risco,
conhecida como a Taxa Mínima de Atratividade (TMA) do investimento e, além
dessa taxa, deseja ainda receber um prêmio, uma taxa além da TMA, pelo risco da
aplicação que ele está fazendo (CASAROTTO FILHO; KOPITTKE, 2010).

Matematicamente falando, temos a fórmula: E(R) = Rf + Beta [E(Rm) – Rf]


Onde:

• E(R) = Remuneração esperada para a ação ou recursos próprios no projeto.


• Rf = Taxa livre de risco (Risk Free).
• E(Rm) = Retorno esperado para o mercado.
• Beta = Medida de risco não diversifcável (para um segmento ou empresa).

Como Rf é comum considerarmos o retorno de um título do governo,


pois seu risco é, teoricamente, o menor do mercado. A possibilidade de investir
nesse título e não ter o dinheiro de volta é mínimo e, desta forma, para cálculo do
CAPM se utiliza essa taxa. Já como E(Rm) é considerado o retorno de uma bolsa
de valores e o beta pode ser calculado, seja para empresas ou segmentos, os dados
utilizados devem ser históricos de Retornos de Mercado e investimentos livres de
risco (CASAROTTO FILHO; KOPITTKE, 2010).

Se considerarmos 8% a.a. como TMA e um retorno de mercado (E(Rm)) de


12%a.a. e tivermos um beta de 1,5 o retorno esperado será: E(R) = 8+1,5(12-8) = 14%.

172
TÓPICO 2 | PRECIFICAÇÃO DE ATIVOS

DICAS

Para conhecer como o índice beta é calculado você pode acessar:


<https://hcinvestimentos.com/2011/12/20/indice-beta/> .

Algumas informações importantes a se salientar são a infuência do índice


beta no modelo. Um índice beta 0 indica que o segmento é estável. Se o índice for
um, indica que o segmento tem um retorno que acompanha a média da bolsa.
Setores mais dinâmicos têm beta maior que um, representando maiores riscos.
Outro fator importante é a própria aversão ao risco do investidor: quanto maior
for essa aversão, maior será a sua resistência em trocar um investimento seguro.
Por fm, as implicações do imposto de renda devem ser atentadas, pois a taxa
mínima de atratividade e a taxa de desconto devem ser consideradas líquidas de
imposto de renda (CASAROTTO FILHO; KOPITTKE, 2010).

173
RESUMO DO TÓPICO 2

Neste tópico, você aprendeu que:

• CAPM é considerado, teoricamente, uma das melhores alternativas para a


apuração da taxa de retorno requerida pelos investidores.

• O CAPM é baseado na ideia de que o investidor quer ter como retorno uma
remuneração de baixo risco, conhecida como a Taxa Mínima de Atratividade
(TMA) do investimento, e além dessa taxa, ele deseja ainda receber um prêmio,
uma taxa além da TMA, pelo risco da aplicação que ele está fazendo.

• A fórmula do modelo CAPM é: E(R) = Rf + Beta [E(Rm) – Rf]


Onde:
◦ E(R) = Remuneração esperada para a ação ou recursos próprios no projeto.
◦ Rf = Taxa livre de risco (Risk Free).
◦ E(Rm) = Retorno esperado para o mercado.
◦ Beta = Medida de risco não diversifcável (para um segmento ou empresa).

174
AUTOATIVIDADE

1 O que é CAPM?

2 Por que o CAPM é amplamente utilizado?

175
UNIDADE 3 TÓPICO 3

TRIBUTAÇÃO DE RENDIMENTOS

1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico! Agora que já conhecemos os investimentos e uma das
maneiras de avalia-los, precisamos entender também qual será nosso retorno
líquido com esses investimentos. Como todos sabemos, no Brasil temos diversos
impostos e taxas a pagar. Para os investimentos não é muito diferente. Cada
investidor deve estar ciente de que, para os diversos tipos de investimento, ele
estará sujeito ao pagamento de impostos sobre os rendimentos.

Cada tipo de investimento possui regras próprias para recolhimento de


impostos. Isso se deve ao fato de que cada um tem um objetivo diferente, não
apenas para o investidor, mas para o mercado também. Podemos usar como
exemplo as LCIs e LCAs, que são investimentos criados para os bancos captarem
recursos para fnanciarem os mercados imobiliário e de agronegócio.

Desta maneira, compreender “o quanto iremos pagar pelos nossos


rendimentos” fgura em outra parte muito importante do conhecimento sobre
os investimentos fnanceiros. Neste tópico, então, vamos conhecer a tributação
destes rendimentos.

2 TRIBUTAÇÃO DE PRODUTOS DE INVESTIMENTO


Agora que já conhecemos os produtos de investimento fnanceiro,
vamos entender como funciona a tributação para cada tipo de investimento.
Desde os investimentos de renda fxa aos de renda variável, há características de
tributação específcas para cada. Tanto para pessoa física e jurídica, cada produto
de investimento fnanceiro possui regras para tributação. Vamos estudar agora,
caro acadêmico, como esses investimentos são afetados pela tributação e qual é a
tributação para esses investidores.

As LCIs e LCAs têm uma característica comum, que é a não tributação de


imposto de renda sobre os investimentos realizados por pessoas físicas, e este é
um dos fatores que confere popularidade a esses investimentos. Já os investidores
pessoa jurídica que investem em LCIs e LCAs têm a aplicação do imposto de
renda conforme o prazo da aplicação. Como vimos, os retornos são maiores
quanto maior for o tempo de aplicação, no caso da tributação, quanto maior for
o prazo, a alíquota aplicada é menor. A tabela a seguir apresenta as alíquotas
aplicadas aos investidores pessoa jurídica nas LICs e LCAs:
177
UNIDADE 3 | MERCADO FINANCEIRO DE CAPITAIS

TABELA 2 - ALÍQUOTA DE IMPOSTO DE RENDA SOBRE LCI E LCA


Prazo de Aplicação Alíquota
Até 180 dias 22,5%
Entre 181 e 360 dias 20,0%
Entre 361 e 720 dias 17,5%
Acima de 720 dias 15,0%
FONTE: Nardini (2018, p. 21)

A base para o cálculo do imposto é a renda auferida com a aplicação, ou


seja, é a diferença do valor pago pelo investimento e do valor resgatado ao fnal
do prazo, e a tributação ocorre na fonte. A responsabilidade pelo recolhimento
desse imposto fca a cargo da instituição que emitiu o título (NARDINI, 2018).

Já os CDBs, diferentemente das aplicações em LCIs e LCAs, não têm


alíquota zero para investidores pessoa física. Seu rendimento bruto é tributado
de acordo com o tempo de aplicação (NARDINI, 2018), que pode ser diferente do
vencimento contratado no título, pois, como vimos, o CDB pode ser resgatado
antecipadamente ou então na sua data de vencimento. A responsabilidade do
recolhimento também é do emissor do título. E como as LCIs e LCAs, o imposto
é recolhido sobre a renda da aplicação. A tabela a seguir apresenta as alíquotas
aplicadas aos investidores:

TABELA 3 - ALÍQUOTA DE IMPOSTO DE RENDA SOBRE CDB


Prazo de Aplicação Alíquota
Até 180 dias 22,5%
Entre 181 e 360 dias 20,0%
Entre 361 e 720 dias 17,5%
Acima de 720 dias 15,0%
FONTE: Nardini, (2018, p. 26)

Além do imposto de renda, os investidores podem ter outras taxações ao


optarem por resgatar o título nos primeiros 30 dias contados da data da aplicação.
Para investimentos resgatados a partir de 30 dias o IOF é zero e o investidor paga
apenas o imposto de renda para o valor auferido com o investimento (NARDINI,
2018). Já durante os 30 dias a cobrança de IOF é regressiva conforme o número
de dias transcorridos entre a aplicação e o resgate. A tabela seguinte apresenta a
alíquota de IOF durante os 30 dias:

178
TÓPICO 3 | TRIBUTAÇÃO DE RENDIMENTOS

TABELA 4 – IOF APLICADO AOS CDBS COM RESGATE EM ATÉ 30 DIAS

Dia Alíquota Dia Alíquota Dia Alíquota


1 96% 11 63% 21 30%
2 93% 12 60% 22 27%
3 90% 13 56% 23 23%
4 86% 14 53% 24 20%
5 83% 15 50% 25 16%
6 80% 16 46% 26 13%
7 76% 17 43% 27 10%
8 73% 18 40% 28 6%
9 70% 19 36% 29 3%
10 66% 20 33% 30 0%
FONTE: Nardini, (2018, p. 27)

Dos instrumentos de renda fxa, as debêntures, por terem o pagamento de


juros periódico, contam com um esquema de recolhimento de imposto sobre os
pagamentos de juros periódicos de acordo com a tabela. Por exemplo: se o primeiro
pagamento correr entre 180 dias, a alíquota é uma; se o segundo correr entre 181 e
360 dias, é outra, e assim por diante. Elas, em geral, não se benefciam de isenção
de imposto de renda sobre os rendimentos. Como os demais instrumentos de
renda fxa, o recolhimento é na fonte e de responsabilidade do emissor do título
(NARDINI, 2018). Confra as alíquotas de imposto aplicadas às debêntures.

TABELA 5 - ALÍQUOTA DE IMPOSTO DE RENDA SOBRE DEBÊNTURES


Prazo de Aplicação Alíquota
Até 180 dias 22,5%
Entre 181 e 360 dias 20,0%
Entre 361 e 720 dias 17,5%
Acima de 720 dias 15,0%
FONTE: Nardini, (2018, p. 35)

As debêntures incentivadas têm um tratamento diferente com relação ao


imposto de renda. Para investidores pessoa física e não residentes, têm alíquota
zero sobre os rendimentos. Para pessoa jurídica é aplicada a alíquota de 15%.

179
UNIDADE 3 | MERCADO FINANCEIRO DE CAPITAIS

Por fm, dos instrumentos de renda fxa, os títulos públicos têm incidência
de imposto de renda bastante semelhante aos demais. Não contam com isenção e
o imposto é aplicado sobre os rendimentos conforme a tabela. Para investimentos
com pagamentos periódicos de juros, a alíquota é aplicada de forma semelhante
à das debêntures: se o primeiro pagamento correr entre 180 dias, a alíquota é
uma; se o segundo correr entre 181 e 360 dias é outra, e assim por diante. O
recolhimento também é na fonte e a responsabilidade é da fonte pagadora, ou
seja, do emissor do título (NARDINI, 2018). A tabela seguinte apresenta o prazo e
as alíquotas pagas pelos investidores conforme o rendimento auferido.

TABELA 6 - ALÍQUOTA DE IMPOSTO DE RENDA SOBRE TÍTULOS PÚBLICOS


Prazo de Aplicação Alíquota
Até 180 dias 22,5%
Entre 181 e 360 dias 20,0%
Entre 361 e 720 dias 17,5%
Acima de 720 dias 15,0%
FONTE: Nardini, (2018, p. 45)

De forma semelhante ao CDB, os investidores que resgatarem seus títulos


num período inferior a 30 dias de aplicação estão sujeitos ao IOF, conforme
ilustrado a seguir:

TABELA 7 – IOF APLICADO AOS TÍTULOS PÚBLICOS COM RESGATE EM ATÉ 30 DIAS

Dia Alíquota Dia Alíquota Dia Alíquota


1 96% 11 63% 21 30%
2 93% 12 60% 22 27%
3 90% 13 56% 23 23%
4 86% 14 53% 24 20%
5 83% 15 50% 25 16%
6 80% 16 46% 26 13%
7 76% 17 43% 27 10%
8 73% 18 40% 28 6%
9 70% 19 36% 29 3%
10 66% 20 33% 30 0%
FONTE: Nardini, (2018, p. 45)

180
TÓPICO 3 | TRIBUTAÇÃO DE RENDIMENTOS

Além dessas regras comuns a quase todos os títulos de renda fxa, os títulos
públicos têm uma particularidade: para investidores não residentes e fundos
de investimento exclusivos para não residentes (mínimo de 98% dos recursos
aplicados em títulos públicos federais), o imposto tem alíquota zero e na liquidação
das operações de câmbio, que tem fnalidade de ingresso de recursos para aplicação
em títulos públicos, também o IOF tem alíquota zero (NARDINI, 2018).

Os títulos de renda fxa, como podemos observar, têm muitas semelhanças


quanto à cobrança de imposto de renda. As principais distinções são as LCIs e
LCAs, nas quais os investidores pessoa física estão isentos de imposto; os demais
produtos, apesar de suas particularidades, têm regras em comum.

Agora vamos passar para os investimentos em renda variável, as ações e


os derivativos. Estes sim, têm maiores diferenças quando comparados aos títulos
de renda fxa. Sobre as ações, é importante salientar que o fato gerador do imposto
não é o fato de você ter o dinheiro aplicado nas ações, mas sim o ganho auferido
com ações (venda das ações). Isso quer dizer que as alíquotas só serão aplicadas no
momento em que existirem esses ganhos. A alíquota aplicada aos ganhos auferidos
com as ações é de 15% sobre o ganho líquido. Além do valor de compra (no caso
de ganho pela venda da ação), o investidor pode considerar também a taxa de
corretagem para cálculo do lucro obtido. Há também uma cobrança de 0,005%
sobre o valor da operação, valor este que é retido na fonte (NARDINI, 2018).

Essa é a regra básica para operações fechadas de compra e venda em dias


distintos. Quando existirem operações no mesmo dia, a regra de compra e venda
é diferente. Para essas operações, chamadas de Day-trade, a alíquota é de 20%
e é cobrado 1% sobre o valor da operação (imposto de renda retido na fonte)
(NARDINI, 2018).

Outra característica dos impostos sobre as ações é que para investidores


pessoa física há isenção de imposto de renda para ganhos inferiores a R$
20.000,00. É importante salientar que este valor não é por operação e sim por valor
total de movimentação fnanceira por pessoa física. Caso o valor for superior, é
aplicada alíquota de 15% sobre o total de movimentação, de acordo com a regra
já mencionada acima. Já nas operações Day-trade essa regra não se aplica, não
havendo isenção nessas operações (NARDINI, 2018).

O recolhimento do imposto de renda também é diferente do que o aplicado


aos investimentos de renda fxa; o recolhimento do imposto é de responsabilidade
do investidor, sendo ele responsável por calcular o imposto devido e realizar o
pagamento do mesmo por meio de um Documento de Arrecadação de Receitas
Federais (DARF). Este deve ser pago até o último dia útil do mês subsequente
ao mês no qual o investidor realizou os ganhos. O valor retido na fonte deve ser
deduzido do valor do cálculo do imposto pelo investidor (NARDINI, 2018).

181
UNIDADE 3 | MERCADO FINANCEIRO DE CAPITAIS

Como vimos, caro acadêmico, a venda das ações não é a única maneira de o
acionista auferir lucros com esse investimento. Temos os dividendos e os juros sobre o
capital próprio. Os dividendos estão isentos de imposto de renda, pois, como eles são
pagos a partir do lucro líquido da empresa, já houve incidência de imposto de renda
nesse valor (pagos pela companhia). E os juros sobre capital próprio têm incidência
de imposto de renda a uma alíquota de 15%, tributados na fonte e, portanto, o valor
que o acionista receberá já será o valor sem o imposto (NARDINI, 2018).

Nosso último produto são os derivativos. Assim como as ações, são


instrumentos de renda variável. Os derivativos têm incidência de IOF, imposto de
renda e, em alguns casos, também PIS e COFINS, quando forem empresas fnanceiras.
De forma mais abrangente, a tributação das operações são o IOF e o imposto de
renda. O IOF é cobrado independentemente da realização de lucros com a operação.
É recolhido normalmente pela instituição fnanceira e o valor incide sobre a emissão,
transmissão, pagamento ou resgate do título negociado (LIMA et al., 2012).

Já o imposto de renda segue a regra igual ao mercado de ações: 15%


sobre os ganhos auferidos com as operações, neste caso de derivativos, e 0,005%
retidos na fonte. E no caso de operações Day-trade, alíquota de 20% com 1% retido
na fonte. Da mesma forma, o responsável pelo pagamento das obrigações é o
investidor. A exceção são as operações de Swap, onde a tributação segue a tabela
utilizada pelos investimentos em renda fxa e o imposto é calculado com base no
tempo de aplicação sobre o valor do ganho auferido (LIMA et al., 2012). Veja as
alíquotas na tabela seguinte:

TABELA 8 - ALÍQUOTA DE IMPOSTO DE RENDA SOBRE OPERAÇÕES DE SWAP


Prazo de Aplicação Alíquota
Até 180 dias 22,5%
Entre 181 e 360 dias 20,0%
Entre 361 e 720 dias 17,5%
Acima de 720 dias 15,0%
FONTE: Nardini, (2018, p. 53)

No caso dos Swaps, o responsável pelo recolhimento é a instituição na qual


foi contratada a operação e o imposto de renda é retido na fonte, diferente dos
outros tipos de investimentos em derivativos onde o investidor é o responsável
por apurar seu imposto devido (LIMA et al., 2012).

182
RESUMO DO TÓPICO 3

Neste tópico, você aprendeu que:

• Os instrumentos de renda fxa têm incidência de imposto de renda e as alíquotas


vão reduzindo conforme o prazo de aplicação.

• O IR dos investimentos em renda fxa é retido na fonte.

• Investidores pessoa física têm isenção de imposto de renda em LCIs e LCAs.

• Para os investimentos em CDB e Títulos Públicos Federais há incidência de


IOF caso os investimentos sejam resgatados em até 30 dias. A alíquota de
incidência de IOF vai reduzindo a cada dia, durante os 30 dias, e a partir do
30º dia a alíquota é 0.

• O pagamento da tributação dos investimentos em renda fxa é de


responsabilidade do emissor do título.

• As ações têm imposto de renda retido na fonte e imposto de renda sobre os


ganhos de capital, que devem ser pagos via DARF pelo investidor.

• Investidores pessoa física que auferirem ganhos inferiores a R$ 20.000,00 no


mês estão isentos de imposto de renda.

• Operações Day-Trade têm alíquota diferente de imposto de renda.

• Os derivativos têm regras semelhantes às aplicadas nas ações.

• As operações de Swap, mesmo sendo operações de derivativos, seguem a


tributação dos investimentos em renda fxa.

183
AUTOATIVIDADE

1 Como funciona a tributação do imposto de renda nos investimentos em


renda fxa?

2 Qual a diferença de tributação entre operações normais e Day-trade no


mercado de renda variável?

3 Como é a tributação dos derivativos?

184
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