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Comentários adicionais ......................................................................................

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ECONOMIA E FINANÇAS CAPÍTULO 2
NOTAS DE AULAS DO PROFESSOR
NOÇÕES DE MICROECONOMIA
RAYMUNDO JOSÉ SANTOS GARRIDO
Objeto do estudo da microeconomia ................................................................ 33
ÍNDICE Oferta, procura e estática comparativa ............................................................. 33
Interferências governamentais na economia .................................................... 36
Tributos .............................................................................................................. 36
CAPÍTULO 1 Subsídios ............................................................................................................ 38
INTRODUÇÃO Política de preço máximo .................................................................................. 41
Por que convém ao (à) estudante de engenharia estudar Política de preço mínimo ................................................................................... 42
economia e finanças ......................................................................................... 04 Outros tipos de interferência do governo no equilíbrio de mercado ................ 44
Os agentes econômicos ..................................................................................... 05 Teoria da Firma .................................................................................................. 44
Necessidades humanas ...................................................................................... 06 Produção e custos .............................................................................................. 44
Bens e serviços ................................................................................................... 07 Produto total de um fator variável .................................................................... 45
Objeto do estudo da economia ......................................................................... 08 Produto médio de um fator variável ................................................................. 46
Fatores de produção .......................................................................................... 09 Produto marginal de um fator variável .............................................................. 46
Escassez e fronteira de possibilidades de produção .......................................... 11 Síntese da análise no curto prazo ...................................................................... 46
Consumo suntuário ............................................................................................13 Síntese da análise no longo prazo: conceito de isoquantas .............................. 48
Questões econômicas fundamentais e sistemas econômicos ........................... 14 Restrição orçamentária e a otimização do processo produtivo
O quê produzir ................................................................................................... 15 no longo prazo .................................................................................................. 49
Como produzir ................................................................................................... 15 Funções de custo ............................................................................................... 52
Como distribuir a riqueza produzida ................................................................. 16 Custo total ......................................................................................................... 52
Breves notas sobre as teorias do valor .............................................................. 17 Custo médio ....................................................................................................... 53
O uso de modelos na análise de problemas econômicos .................................. 18 Custo marginal ................................................................................................... 53
Vantagens comparativas ....................................................................................19 Custos fixos e variáveis ...................................................................................... 54
Lei da Procura e da Oferta ................................................................................. 20 Curvas de custo no curto e no longo prazos ...................................................... 54
Excedentes econômicos .....................................................................................21 Rendimentos e lucros ........................................................................................ 56
Excedente do consumidor ................................................................................. 22 Maximização do lucro e utilização dos insumos ................................................ 56
Excedente do produtor ...................................................................................... 22 Rendimentos em função dos níveis de produção .............................................. 56
Fluxo circular da riqueza .................................................................................... 23 Rendimento total ............................................................................................... 57
Economia, ciências e áreas afins ........................................................................ 25 Rendimento médio ............................................................................................ 57
Relação da economia com a engenharia em suas diversas áreas ......................28 Rendimento marginal ........................................................................................ 57
Microeconomia e macroeconomia .................................................................... 30 Lucro .................................................................................................................. 57
Economia normativa e economia positiva ......................................................... 31

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Curvas de rendimento ................................................................................ 58 Conceitos básicos …………………………..………..............................................….. 90
Síntese apertada da teoria do consumidor .................................................. 59 Estoques e. Fluxos …………………………...............................................………….. 92
Abordagens Cardinal e Ordinal .................................................................... 59 Produto e renda: abordagem preliminar ……………….....…….......................… 93
Preferências e curvas de indiferença .......................................................... 60 PIB e deflator ………......………………….....................................................……… 94
Taxa Marginal de Substituição ..................................................................... 61 PIB e PNB ……………………….…….....................................................……………… 96
Restrição orçamentária e a otimização da escolha do consumidor .............. 62 Produto potencial e hiato de produto ………………….............................……… 97
Equilíbrio do Consumidor ........................................................................... 63 PIB e PNB a preços de mercado e a custos de fatores ………..........……….…… 98
A função de demanda ................................................................................. 64 Produtos interno e nacional brutos e líquidos …………………..................…….. 98
Noções básicas sobre elasticidades ............................................................. 66 Identidades macroeconômicas básicas ………………………………........…………..…. 99
Elasticidade-preço da demanda ................................................................... 66 Equilíbrio macroeconômico ……………………………….............................………… 99
Elasticidade-preço da oferta ........................................................................ 67 Decomposição do investimento …………………………………………...........…………. 101
Classificação dos coeficientes de elasticidades-preço da demanda Origem dos recursos para investimento …………………………………………............ 102
e da oferta ................................................................................................. 68 Origem dos recursos para financiar o déficit público ……………….................... 103
Elasticidade-renda ....................................................................................... 68 Decomposição da renda nacional …………………….………………………................. 104
Elasticidade cruzada-preço da demanda ...................................................... 69 Determinação da renda ……………………………………………………………...........…… 105
Breve estudo seletivo dos mercados ........................................................... 70 Síntese do modelo clássico …………………………............………………….....………… 105
Mercados de bens de consumo ................................................................... 70 Síntese do modelo keynesiano …………………………………………….............……… 107
Principais características da concorrência perfeita ...................................... 70 Síntese do modelo ISxLM ……………………………..........…..........................…….. 112
Síntese do equilíbrio em concorrência perfeita .......................................... 71 Outros modelos ……………………………………………………………...................………. 114
Breve estudo do monopólio ....................................................................... 74 A taxa de juro ……………………………………..........................................………….. 115
Notas sobre os oligopólios .......................................................................... 79 Determinantes do Investimento ………………………………………….......………........ 116
Concorrência monopolística ....................................................................... 83 Inflação ……………………..............…………....................................................…… 118
Mercados de fatores de produção .............................................................. 84 Tipos de inflação e comentários sobre fatores determinantes .…............….. 118
Concorrência pura e concorrência perfeita dos fatores de produção .............. 84 Notas sobre a teoria quantitativa da moeda ………………………....…............…… 121
Monopsônio ..................................................................................................... 84 Efeitos do processo inflacionário ………………………………………....................….. 123
Oligopsônio ...................................................................................................... 85 Breve referência à curva de Phillips ………………………………………...........…...… 124
Concorrência monopsonística..............................................................................87 Metas de inflação ……………………………......................................................….. 125
Monopólio bilateral ...........................................................................................87 Desemprego e emprego …………………….………………………………................……. 126
Conclusão ..........................................................................................................88 Câmbio ………………………………………………………….......................................……. 128
Taxa nominal e taxa real de câmbio ………………………...............................…… 129
CAPÍTULO 3 Regimes cambiais ………………………………………….....................................……… 130
NOÇÕES DE MACROECONOMIA Atuação dos governos no mercado externo …………………………………….......…. 132
Tópicos especiais …………….………………………...........................................……. 132
Generalidades ……………………………......….................................................…… 89 Dívida Pública …………………………………………..........................................…….. 132

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Algumas notas sobre o crescimento econômico ……………...........…….........… 134 Valor Presente Líquido ...................................................................................... 158
Medida do custo de vida …………………………………………….....................……….. 135 Taxa interna de retorno (TIR) ............................................................................ 158
Elementos do arcabouço institucional e componentes do Razão de custos e benefício .............................................................................. 159
instrumental da aplicação dos conceitos macroeconômicos …….……… 138 Payback .............................................................................................................. 159
Contabilidade nacional ………………………..…………..................................…….. 138 Síntese das vantagens e desvantagens dos indicadores considerados ............ 159
Moeda e bancos ………………………………….……………………….........................….. 139 Taxa mínima de atratividade ............................................................................ 160
Breves notas sobre a história da moeda ……………………………………….......…….. 139 As óticas de mercado e social na avaliação de projetos .................................. 161
Funções da moeda ………………………………………………………………………........…… 141 Fases de elaboração e componentes do projeto para a
Demanda por moeda ……………………………………………………………..……...........… 142 avaliação econômica ......................................................................................... 161
Características da moeda …………………………………………………………...........……. 142 Pesquisa de mercado ........................................................................................ 162
Papel dos bancos ………………………….....………..........................................…… 143 Tamanho do empreendimento ......................................................................... 162
Oferta monetária ……….....……………………………….......................................….. 143 Projeto de engenharia e processo associado .................................................... 164
O processo de criação de moeda ……………………………………………………......….. 144 Localização ......................................................................................................... 164
Encaixe técnico ………………………………………………………................................… 145 Investimento ...................................................................................................... 165
Base monetária. Política monetária …………………….................................…… 146 Custos e receitas ................................................................................................ 166
Mercados financeiros ………………………………..............................................…. 147 Financiamento ................................................................................................... 166
Alguns comentários à economia brasileira recente ………….......................…. 147 Subsídios para a avaliação de projetos sob a ótica social ................................ 166
Sobre a taxa de juro ………………………………………………………………………….....…. 147 Correção de falhas de mercado como medida para a racionalida
O Risco-País ………………………………………………................................................ 149 dos gastos públicos ........................................................................................... 167
Superávit primário ……………………………………..........................................……. 150 Variações Compensatórias como medida de convivência
Déficit público …………………….....................……............................................ 152 com as externalidades ...................................................................................... 168
Política tributária e desigualdade: consumo das famílias ………………….......… 152 Preços sociais ..................................................................................................... 169
Política tributária: o peso das obrigações sobre setores produtivos .......... 153 Determinação dos Preços Sociais ...................................................................... 170
Comentários finais ……….………………………………..........................................… 154 Preço social do capital ou taxa social de desconto ........................................... 170
Preço social da terra: ........................................................................................ 171
CAPÍTULO 4 Preço social do trabalho .................................................................................... 172
ASPECTOS ECONÔMICOS E FINANCEIROS DE UM EMPREENDIMENTO DE Preço social de um insumo básico .................................................................... 172
ENGENHARIA Preço social da energia ..................................................................................... 172
Preço social da taxa de câmbio ........................................................................ 173
Notas preliminares ....................................................................................... 155 Breve estudo de caso: um projeto pecuário fictício ......................................... 174
Motivação para o estudo .................................................................................. 156
Níveis de abordagem do problema ............................................................. ..... 156
Breves notas sobre a análise de custos e benefícios ........................................ 157
Indicadores de mérito dos projetos .................................................................. 157

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introdução______________________________________________ Cada indivíduo depende dos demais para atender às suas necessidades.
capítulo 1 Alimentos, remédios, moradia, vestuário, educação, transporte e outros
requisitos básicos para viver, tudo isso é resultado dos esforços de muitas
pessoas que trabalham, de modo organizado ou não, em firmas e outras fmas de
organizações produtivas, ou, ainda, individualmente. A relação de dependência
entre os indivíduos e, entre estes e as firmas, outros tipos de organização,
privadas e públicas, bem como das organizações entre si, implica trocas de bens e
serviços.

Nos primórdios da cultura humana, as trocas eram feitas usando-se apenas as


mercadorias. Desse modo, o indivíduo que precisasse de determinado alimento,
o milho por exemplo, e dispusesse de cevada, teria que encontrar um outro
indivíduo que precisasse da cevada e, ao mesmo tempo, dispusesse do milhoque
preenchesse o seu interesse para que a troca pudesse ser negociada e efetivada.

Com o tempo, algumas mercadorias mais comuns passaram a ser utilizadas como
moeda. O gado, o sal, a própria cevada ora referida, o arroz foram utilizados
como moeda em distintas épocas e lugares como será comentado na seção sobre
a História da Moeda, no Capítulo 3 deste Curso. A moeda, tal como é conhecida
hoje, é, portanto, uma mercadoria que substituiu as que foram anteriormente
utilizadas ao longo da história. Mas trata-se de uma mercadoria com uma
característica que não se encontra em nenhuma outra que é a aceitação
01. Por que convém ao (à) estudante de engenharia estudar economia e incontinenti quando oferecida em troca de uma mercadoria ou serviço. É tão
finanças? especial essa troca que é conhecida como operação de compra e venda: o
comprador entrega moeda ao vendedor que, em contrapartida, entrega a
A engenharia é uma profissão fascinante! Por seu intermédio, o(a) profissional mercadoria ou presta o serviço ao comprador. Moedas compram, inclusive,
transforma recursos e riquezas em outras riquezas, adicionando-lhes valor. Esse outras moedas (operação de câmbio).
valor adicionado constitui um importante conceito econômico que, desde estas
primeiras linhas, insinua uma relação entre engenharia e economia. bem ou Ora, o(a) profissional de engenharia tem necessidade de conhecer os custos dos
serviço que estará à disposição do uso ou consumo da sociedade. bens que produz. O custo de uma obra, tanto quanto o custo da energia
produzida ou do serviço de saneamento prestado ou, ainda, o custo do produto

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industrializado produzido, bem como os custos de muitos bens e/ou serviços uma gama mais ampla de pessoas. Com efeito, os problemas econômicos sempre
produzidos constituem tema inerente à carreira do(a) engenheiro(a). foram objeto das preocupações de governantes, monarcas, dirigentes públicos,
empresários, professores e pesquisadores, sociólogos, filósofos e pessoas de
Sucede que a determinação de custos de produção é passagem obrigatória no
inúmeras outras qualificações ou posições em face da sociedade, porque a
contexto da formação de preços dos bens e serviços, os quais não se atêm
economia sempre esteve presente na tomada de decisões das pessoas.
unicamente ao conhecimento dos custos, implicando a necessária avaliação das
características da demanda por cada bem e serviço, uma vez mais impulsionando As relações econômicas são uma constante em qualquer sociedade, permeando
o(a) estudante de engenharia em direção à necessidade dos estudos econômicos. o ambiente humano e regendo as relações entre pessoas, entre estas e
Esses aspectos nada bastassempara revelar a necessidade de o(a) estudante de empresas, do governo com as firmas e com as pessoas, fazendo aparecer em
engenharia se familiarizar com o estudo da economia, são reforçados por razões cena a figura do agente econômico, que nada mais reflete senão o papel
igualmente relevantes que resultam do fato de os(as) profissionais da engenharia desempenhado pelo ser humano em suas múltiplas formas de atuar, ora como
e a sociedade em geral habitarem um mundo no qual o comportamento dos consumidor, ora como produtor, ora como agente público.
agregados econômicos afeta os preços, as receitas, os lucros, o valor da moeda, a
A condição de consumidor que caracteriza o indivíduo procede das necessidades
desvalorização ou a valorização desta, a formação da riqueza bruta de cada país,
deste, questão explorada na seção 3, deste capítulo. Em verdade, as
as trocas entre países, entre muitos outros elementos da análise
necessidades humanas são o elemento motor do processo econômico porquanto,
macroeconômica, segmento dos estudos econômicos que agasalha a análise dos
para serem satisfeitas, implicam a necessidade de ter quem produza os bens e
referidos agregados.
serviços que satisfarão as demandas, ao mesmo tempo em que implicarão a
Por fim, as finanças são uma relevante parte dos estudos da economia eis que necessidade de um sistema organizado de atividades econômicas, sociais e
tratam dos diversos mecanismos associados ao uso da moeda e outros meios de políticas que dependem de um governo. Daí surge o conjunto de agentes
pagamento em um multivariado ambiente de transações entre consumidores, econômicos: consumidores, produtores e governo.
produtores e governos. Nesse contexto, os títulos de crédito, os descontos de
Freqüentemente, ao atuar como produtor, o ser humano faz uso de um artifício
títulos e duplicatas na rede bancária, os valores das ações das companhias nas
muito presente em sistemas econômicos de livre iniciativa. Esse artifício é a
bolsas de valores e o mercado de moedas estrangeiras alinham-se, entre muitas
firma, que emprega pessoas e é igualmente comandada por pessoas. No estudo
outras, a peças do conhecimento das finanças que interessam, em maior ou
da economia, a firma é um instrumento cuja importância é tão significativa que
menor medida, ao(à) engenheiro(a), dependendo da oportunidade em que vá
impõe a análise de seu comportamento em compartimento próprio do estudo da
fazer uso de cada um desses instrumentos do mundo financeiro.
economia: a teoria da firma, tópico da análise microeconômica, a ser abordada
02. Os agentes econômicos no contexto do Capítulo 2 deste Curso.

Na seção precedente, comentou-se sobre o interesse do(a) profissional da Conforme indicado, é a organização para a produção que dá lugar ao conceito de
engenharia a respeito dos problemas econômicos. Mas a economia interessa a firma ou empresa como unidade produtiva voltada para o atendimento ao

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mercado consumidor de seus produtos e/ou serviços, a jusante da cadeia de interesse da formação profissional e científica do(a) engenheiro(a), e se cingirá,
relações interssetoriais, portanto, e, também, defrontando-se com os mercados neste primeiro Capítulo, à introdução dos principais conceitos que serão
fornecedores de matérias primas e insumos, a montante dessa mesma cadeia explorados nas demais partes do Curso.
ena condição de compradora de tais primas matérias e insumos para realizar a
sua produção. 03. Necessidades humanas

À comunidade de indivíduos, agrupados por famílias, dá-se a denominação de Todo o indivíduo carrega consigo necessidades que pretende vê-las satisfeitas.
consumidores, e à coletividade de empresas dá-se o nome de produtores. Esses Alimentar-se, instruir-se, repousar, fazer recreação, formar um patrimônio, todas
dois conceitos são muito importantes em qualquer sistema econômico de livre são, entre inúmeras outras, necessidades inerentes à vida do ser humano.
iniciativa. Os produtores produzem o que os consumidores consomem, mas, em Conforme se percebe, essas necessidades são bastante heterogêneas. Não se
inúmeras ocasiões, há excesso ou escassez da quantidade produzida de um bem pode comparar, por exemplo, a necessidade de o indivíduo alimentar-se todos os
e/ou serviço em relação à quantidade consumida, o que caracteriza o surgimento dias com aquela vontade que ele tem, por exemplo, de viajar, a turismo, para o
de determinados problemas econômicos. Assim, o desbalanceamento entre exterior. A primeira é básica, enquanto que essa última é supérflua.
oferta e demanda costuma ser, em grande número de situações, a origem de um
Em seu trabalho intitulado Política, Aristóteles já classificava as necessidades em
problema de natureza econômica.
físicas e morais. As necessidades físicas, também ditas corporais, resultam das
Conforme mencionado, além dos produtores e consumidores, um sistema demandas do corpo humano para o seu funcionamento, associadas a hábitos
econômico incorpora, também, o governo, que é a representação da sociedade, adotados pelo ser humano. Comer e vestir-se diriam bem de um e de outro tipos
estruturado de acordo com a constituição de cada país. O governo atua, em dessas necessidades físicas ou corporais. Quanto às necessidades morais,
nome do estado1, planejando, regulando, estimulando, inibindo, coibindo, também referidas como necessidades espirituais, estas procedem da
monitorando e fiscalizando o conjunto da sociedade, orientando-a para o componente psíquica do indivíduo, refletindo o desejo do conhecimento
desenvolvimento e para a busca do bem estar coletivo. intelectual, da criação artística e de outras formas de manifestação do intelecto.

O governo atua, portanto, como um importante agente do processo econômico, As necessidades físicas podem ser classificadas em necessidades biológicas ou
na privilegiada condição de emissor das leis, normas e regulamentos jurídico- absolutas, e necessidades relativas ou da existência social. As necessidades
administrativos que regem a vida dos agentes econômicos. É justamente biológicas estão relacionadas com as funções vegetativas do corpo humano, mas
analisando o comportamento dos agentes econômicos e suas conseqüências para nem todas têm significado inteiramente econômico.
a sociedade que se desenrolará o presente Curso de Economia e Finanças. Essa
As necessidades próprias da existência social são aquelas criadas pelo homem em
análise será procedida, tanto quanto possível, com um olhar dirigido para o
razão da vida em coletivo que, com o tempo, fez aparecer hábitos, sedimentando
costumes e normas de civilidade. Por exemplo, o uso da gravata não chega a ser
1 Conjunto formado por três elementos que são, um povo, seu território e seu governo, numa das acepções mais um hábito indispensável ao indivíduo ao trajar. Igualmente, o uso de brincos e
simples do significado da palavra estado.

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outros adornos pode ser dispensável. No entanto, ambas as necessidades foram ou já ter passado por algum tipo de transformação. A madeira em tronco de
se firmando como resultado de hábitos adquiridos, e são cambiantes de indivíduo árvores recém derrubadas está, para efeitos práticos, em seu estado original. Os
para indivíduo, daí porque a denominação de necessidades relativas. móveis fabricados com essa madeira, no entanto, já são produtos trabalhados
que modificaram a matéria prima original. Ambos constituem bens econômicos.
As necessidades morais ou espirituais são subjetivas e resultam de diferentes
tipos e estágios de desenvolvimento das diversas culturas. Assinala-se que nem Considerando que os serviços também servem para a satisfação das necessidades
todas têm repercussão econômica, como é o caso, por exemplo, das inquietações humanas, as referências que se fizerem a bens, neste texto, serão feitas por meio
filosóficas do indivíduo que, a menos que gerem algum tipo de demanda da expressão bens e/ou serviços de um modo geral. E, a menos nos casos em que
implicando a aquisição de bem e/ou serviço, ou que, de outro lado, gere algum se omita adrede e justificadamente a palavra serviços, a palavra bens, quando
tipo de oferta de bem e/ou serviço, não têm significado econômico. Para ter utilizada nos demais casos, deve ser tomada pela mencionada expressão.
sentido econômico, a necessidade moral deverá implicar o uso de salário e/ou
Em geral, os bens são de natureza material, palpável, enquanto que os serviços
outra forma de renda do indivíduo para vê-la satisfeita, ou de seu próprio
podem ter, total ou parcialmente, um caráter intangível como vários serviços
trabalho para criá-la, e/ou, ainda, da faculdade de poder ser submetida a troca
profissionais, a segurança pública e outros mais. Portanto, alguns serviços são
por alguma outra mercadoria.
compostos de uma parte intangível e outra material. Tal é o caso, por exemplo,
Por fim, há as necessidades coletivas que, embora advenham de necessidades dos serviços de restaurante, que trazem, em conjunto, os cuidados com o bem
individuais, são decorrência da vida em comum e não podem ser alcançadas por estar do comensal por meio de um ambiente agradável, além da refeição
cada indivíduo isoladamente. É nesse ponto que o estado assume o papel de propriamente dita, sendo esta última a sua parte material.
provê-las à coletividade, para tanto fazendo uso da arrecadação de recursos, isto
Os bens podem ser classificados, quanto à disponibilidade, como bens livres e
é, do resultado da tributação, e de sua estrutura organizacional, com a qual
bens econômicos. Chamam-se bens livres aqueles bens que existem em
promove ações nos setores de educação, segurança, saúde, habitação,
abundância e que não demandam esforço humano para a sua obtenção.
transportes e uma série de outros serviços. As necessidades coletivas têm grande
Exemplos de bens livres são a luz do dia, o ar atmosférico, entre outros. Suas
significado social porque, conforme referido acima, são providas pelo estado
duas principais características são não estarem sujeitos a regime de preços
mediante o recebimento de pequenas quotas (tributos) de cada um de seus
tampouco a regime de propriedade. São denominados bens econômicos aqueles
membros, para formar os recursos com os quais proporcionará a cada um os
que têm como característica freqüente o estado de escassez, real ou potencial.
bens e/ou serviços de que necessitem, mas que dificilmente poderiam ser
Adicionalmente, incorpora-se à caracterização de um bem econômico o fato de
providenciados ou gerados por cada indivíduo isoladamente.
haver necessidade de trabalho para obtê-los.
04. Bens e serviços
Segundo a natureza do uso, os bens podem ser classificados em bens de consumo
Os bens são quaisquer elementos que se prestam à satisfação das necessidades e bens de produção. Os bens de consumo, também denominados bens finais, são
humanas. Em geral provêm da natureza, podendo estar em seu estado original aqueles que satisfazem diretamente às necessidades do consumidor. E os bens

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de produção, também denominados bens indiretos, satisfazem indiretamente às bens e/ou serviços podem, ainda, ser submetidos ao critério da durabilidade e,
necessidades do consumidor. Livros e cadernos comprados por estudantes para neste caso, podem ser perecíveis e duráveis.
uso nos estudos, tanto quanto a pizza encomendada pela família para uma
Finalmente, os estudos microeconômicos adotam dois critérios de classificação
refeição caseira constituem exemplos de bens de consumo. O pneumático
para os bens e/ou serviços: (i) quanto à correlação com outros bens; e (ii) quanto
fabricado que é vendido à montadora de automóvel é um exemplo de bem de
aos efeitos da variação do preço e/ou da renda. No que se refere à correlação, os
produção ou indireto. De outro lado, se alguém adquire, por exemplo, arroz, no
bens e/ou serviços, quando correlatos, podem ser substitutos e complementares.
supermercado para o estoque da família, neste caso o arroz terá sido um bemde
Por exemplo, o feijão e a farinha no costume nordestino são complementares; o
consumo oufinal. Mas se o arroz é comprado para o estoque de um restaurante,
mesmo pode-se afirmar da relação entre feijão e arroz. E, como conseqüência
o qual prestará o serviço a que se propõe, neste caso a mercadoria arroz é um
dessa correlação, arroz e farinha são substitutos.
bem de produção.
Quanto aos efeitos da variação do preço dos bens e/ou serviços e/ou da renda do
Há, ainda, outros critérios de classificação dos bens e serviços. Entre esses, está a
consumidor, estes podem ser classificados em bens e/ou serviços superiores ou
classificação quanto ao grau de necessidade de um bem e/ou serviço para o
de luxo, normais, inferiores e bens e/ou serviços de Giffen. Esse critério de
consumidor ou para o produtor2. São considerados bens e/ou serviços de
classificação será mais detidamente comentado no Capítulo 2, do presente Curso.
primeira necessidade os alimentos, remédios, artigos essenciais de vestuário,
transporte, educação, entre outros. Em um segundo rol vêm os bens e serviços 05. Objeto do estudo da economia
ao consumidor que não são absolutamente de primeira necessidade e que, Uma das mais importantes preocupações dos estudos econômicos é a escassez
também, não estão relacionados com o consumo de luxo, abordado neste de recursos para atender ou satisfazer às demandas dos agentes econômicos. A
capítulo. Esses bens são classificados como bens de segunda necessidade. Os abundância de recursos, por oposição, nem sempre é objeto do interesse da
bens e serviços de luxo formam, juntamente com outros não necessariamente de economia porquanto é indicativa da inexistência de problema com o
luxo, mas que são supérfluos, o grupo dos bens e serviços de terceira aprovisionamento de bens e serviços. Entretanto, em alguns casos o excesso de
necessidade. oferta de bens e serviços constitui também um problema econômico uma vez
No caso de fatores de produção, por exemplo, dependendo da natureza de cada que afeta o estado de equilíbrio dos agentes, principalmente os da oferta, isto é,
processo produtivo, a energia e a mão de obra poderiam ocupar ― e ocupam em os produtores. Além disso, excessos de oferta de alguns bens e/ou serviços
muitas oportunidades ― o grupo de fatores de primeira necessidade. Em podem trazer problemas para a coletividade. Por exemplo, os produtores de
algumas indústrias como, por exemplo, a de bebidas e a de celulose e papel, além batata no Brasil enfrentaram uma crise de excesso de produção sem precedentes
dos curtumes, a água constitui um fator de produção de primeira necessidade. Os em 2007, tendo que abandonar milhares de hectares plantados, afora as imensas
quantidades de toneladas então já colhidas que foram jogadas ao lixo por falta de
comprador. O excesso de produção ocorreu por uma expectativa frustrada
gerada pelos preços favoráveis ao produtor no ano imediatamente anterior, o
2 Não é habitual utilizar-se esse critério de classificação em relação ao produtor.

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que fez com que a área plantada fosse expressivamente aumentada em várias considerar os elementos fundamentais com que o mercado lida, isto é o binômio
regiões do país, além de se ter procedido ao plantio fora de época. Essa crise foi preço e quantidade.
agravada em razão da grande oferta da variedade ágata, da batata, que
A análise do comportamento dos conjuntos totais de consumidores, de
encontrou fortes restrições no mercado consumidor dadas às suas características
produtores, e do governo como um todo também interessa ao estudo da
pouco apreciáveis, especialmente quanto à curta estabilidade químico-biológica
economia. Esses conjuntos são denominados agregados econômicos e são objeto
dos tubérculos.
da análise macroeconômica como será referido no presente capítulo.
Mas é efetivamente a escassez de bens e serviços o que importa
06. Fatores de produção
primordialmente analisar, dado que a insatisfação dos agentes da demanda,
principalmente a demanda por bens e serviços de consumo, é um dos problemas As disponibilidades de recursos para a produção de bens e/ou serviços
mais frequentes da economia moderna. objetivando a satisfação das necessidades humanas são insuficientes em um
grande número de casos, ensejando o aparecimento do problema que está no
Em segundo lugar, mas não menos importante, a economia reserva uma
centro da definição de economia: a distribuição de bens escassos em relação às
acentuada dose de atenção para o estudo do custo de oportunidade. O custo de
quantidades demandadas.
oportunidade de um bem e/ou serviço corresponde às oportunidades que estão
sendo deixadas de ser aproveitadas quando o agente econômico não emprega o Esses recursos, ditos produtivos, também são chamados de fatores de produção.
dinheiro (ou outro bem qualquer que vá dar em troca) do modo mais rentável Os fatores de produção são, pois, elementos que entram no processo produtivo
possível na compra de outros bens ou serviços. De modo mais preciso, o agente para, em conjunto, atuar na elaboração de bens e/ou serviços. Podem ser
econômico, especialmente o produtor, deve empregar os recursos de que dispõe classificados em quatro grupos: (i) matéria-prima, também referida como
do modo mais rentável possível. Caso assim não proceda, a diferença perdida natureza ou, ainda, terra, esta última pelo fato de provir do planeta Terra; (ii)
equivale ao custo de oportunidade. Portanto, o custo de oportunidade reflete o capital; (iii) trabalho, ou mão de obra ou, ainda, homem, denominação esta
quanto o agente deixa de ganhar quando não aproveita o uso alternativo mais última que está em desuso e cedendo lugar ao termo pessoa; e (iv) capacidade
rentável possível de seus recursos. empresarial.

Os mercados são também um tema do interesse dos estudos econômicos. Os A matéria-prima é qualquer elemento advindo do meio físico, tendo ou não
mercados constituem um mecanismo que ajusta as decisões de consumo com passado por transformação anterior, que participa de determinado processo
aquelas de produção, e seus elementos-chave são preços e quantidades produtivo e se incorpora ao corpo do produto produzido. A madeira, tanto
transacionadas. Os mercados não podem solucionar todos os casos de alocação quanto o aço ou o vidro, são exemplos de matérias primas. Do mesmo modo, o
de recursos, ainda que solucionem ou contribuam para a solução de uma leite, a água e a manteiga são, sob certas circunstâncias, matérias primas,
significativa parte deste tipo de problema. Quando um mercado é ineficiente embora também também sejam bens de consumo.
para alocar recursos, bens e/ou serviços, o que sucede com os mercados
imperfeitos, a regulação governamental entra em cena, porém não deixa de

9
É importante considerar que a matéria-prima, ao ser transformada em produto capitais gastos, acrescente novos capitais, realizando algum nível de capitalização
industrializado, em geral deixa resíduos. Os resíduos da produção advêm líquida5.
normalmente das perdas de matérias primas processadas e de outros elementos
As economias que passam, em dado momento, por uma capitalização líquida
do processo como, por exemplo, rejeitos de combustão, rejeitos líquidos ou de
positiva, são economias em crescimento. Aquelas cuja capitalização líquida é
natureza outra qualquer. Esse comentário é relevante para assinalar o atual
nula, encontram-se em estado estacionário, isto é, em estagnação. E as
debate sobre a economia do meio ambiente. É, também, oportuno, para salientar
economias cuja capitalização líquida é negativa são economias em recessão. A
um conceito, igualmente atual, segundo o qual de um processo produtivo
capitalização de uma economia também pode ser financiada. Essa é, aliás, uma
resultam sempre produtos e resíduos e não apenas os primeiros, como por
das maneiras de se promover agilmente o crescimento econômico. Os recursos
muitas décadas do passado se considerou3.
para esse financiamento tanto podem vir de outras economias quanto podem ser
O capital, por seu turno, é o conjunto de riquezas utilizadas para produzir outras gerados dentro da própria economia, aumentando-se, para tanto, a poupança.
riquezas que são os próprios bens ou serviços resultantes dos diversos processos Aumentar poupança significa fazer migrar recursos então utilizados no consumo
produtivos. As máquinas e os edifícios de uma fábrica, tanto quanto o dinheiro, para a finalidade de investimento6.
são distintas formas de capital. As máquinas, edifícios e demais ativos da firma
O fator trabalho resulta da atuação do ser humano no contexto da produção
são formas de capital imobilizado4, enquanto que o dinheiro em caixa ou em
econômica. Por isso mesmo também é denominado fator mão de obra. Tomado
bancos constitui forma líquida de capital. Estudando-se o capital sob o ângulo da
em agregado, o fator trabalho de uma economia depende do tamanho da
economia, o primeiro conceito a fixar é que este procede de inversões que têm
população e de sua eficiência total. A demografia é, portanto, um elemento
origem na poupança dos agentes econômicos. Conforme será estudado no
importante na avaliação do referido fator. Os estudos demográficos demonstram
Capítulo 3, deste Curso, voltado para os conceitos macroeconômicos, a poupança
que não somente o tamanho de uma população deve ser objeto dos estudos de
é o resultado do adiamento do consumo, ou seja, é a parte da renda nacional
economia da demografia. Importante, também, é a sua densidade e seus
que, não sendo consumida, torna-se disponível para as inversões econômicas.
movimentos migratórios, a proximidade com recursos naturais mais facilmente
Assim, capitalizar, ou criar capitais, resulta da inversão de uma parte da renda
obteníveis, sua capacitação para o trabalho, os mercados dos bens e/ou serviços
nacional, justamente a que foi poupada, isto é, a que foi economizada. O
que podem ser produzidos, entre outros aspectos.
crescimento de uma economia ocorre principalmente por meio de investimento
líquido, ou seja, por meio de um processo de capitalização que, além de repor os Os distintos processos produtivos balanceiam, em razão de suas respectivas
tecnologias, a dosagem dos fatores entre si, especialmente, capital e mão de

5 O investimento líquido é o que resulta do total investido, ou investimento bruto, deduzida aquela parcela
3 Os resíduos da produção respondem por uma parte importante dos estudos econômicos contemporâneos correspondente à restauração do capital depreciado, isto é, do capital gasto.
relacionados com a preservação ambiental. 6 Aumento do consumo durante algum tempo também gera crescimento econômico enquanto o aumento está se
4 O imobilizado de uma firma pode ser técnico ou financeiro. Diz-se que o imobilizado é técnico quando os recursos materializando, isto é, quando o aumento cessa, mesmo que o novo patamar de consumo mais elevado seja
são transformados em ativos operacionais consoante os objetivos sociais da firma. E financeiro, quando os mantido, o crescimento também cessa. Portanto, o crescimento econômico não pode ser realizado só com
recursos estão aplicados no mercado financeiro. aumento de consumo, dependendo, antes e sobretudo, de investimento.

10
obra, sendo alguns processos mais capital-intensivos e, outros, mais trabalho- mecanização, além da busca da capacidade econômica para prover o seu negócio
intensivos. O que é verdadeiramente relevante ter-se em conta é o índice de com as condições de obter e utilizar todos esses ingredientes.
produtividade em relação a todos e a cada um desses fatores. A produtividade
O conceito de capacidade empresarial contém, adicionalmente, a perspicácia do
média de um fator é a relação que existe entre determinado volume de produção
empreendedor quanto à percepção dos mercados e o compromisso permanente
e a quantidade utilizada do fator de produção considerado. Esse conceito,
com a criatividade e a inventividade aplicadas à prática incessante da busca da
também referido como conceito mecanicista, ou ainda conceito científico de
inovação.
produtividade, corresponde à definição de produto médio de um fator,
largamente utilizado no corpo da teoria da produção, parte dos estudos de A análise do comportamento das grandes firmas demonstra que, em geral, a
microeconomia. O produto médio de um fator de produção será abordado no capacidade empresarial costuma ser proporcional ao tamanho da firma. Dessa
Capítulo 2 do presente Curso. constatação resulta que a intuição e a referida perspicácia empresariais são
capazes de influir na natureza dos mercados cativos, expandindo-os, por
De acordo com a conceituação acima, a produtividade de um sistema de
exemplo, por meio de fusões e aquisições de firmas.
produção em relação ao fator matéria prima é a razão entre a quantidade
produzida do produto que resulta desse processo e a quantidade da matéria O fator capacidade empresarial afeta, portanto, não somente a unidade
prima utilizada. Se o produto for medido, por exemplo, em unidades físicas (u.f.), produtiva, como também parcelas significativas dos mercados nos quais
e a matéria prima em quilogramas (kg), então a unidade dessa produtividade é determinadas firmas atuam, sendo um fator decisivo na agregação de valor ao
dada em u.f./kg da matéria prima utilizada. No caso da produtividade da mão de bem ou serviço produzido, constituindo assim um capítulo importante da teoria
obra, a unidade será o resultado da quantidade produzida por tempo de trabalho da produção, objeto da capítulo seguinte.
realizado, normalmente medido em horas. E no caso de utilização de máquinas, 07. Escassez e fronteira de possibilidades de produção
essa produtividade poderá ser a razão entre a quantidade produzida e o número
de horas de funcionamento das máquinas. Mas é possível também calcular-se a O estudo da fronteira de possibilidades de produção, também referida como
produtividade total em relação aos três fatores simultaneamente. Nesse caso, a curva de possibilidade de produção, ou, ainda, curva de transformação, é útil para
unidade a adotar no denominador terá que ser o custo total dos fatores, pois não demonstrar como a escassez permeia os fatores de produção, uma das razões
será possível tomar-se a soma de quilogramas com horas de trabalho humano e para o estudo da economia.
com horas de máquina. Para melhor compreensão, exemplifique-se o problema mediante a avaliação de
Finalmente, no que diz respeito ao fator capacidade empresarial, este resulta de uma firma que produza apenas dois produtos. Seja essa firma uma marcenaria
uma série de ingredientes aportados pelo investidor-gestor. Entre tais que fabrique dois tipos de portas: o tipo I (standard) e o tipo II (de fino
ingredientes, alinham-se principalmente a tecnologia adotada, a capacidade acabamento). Analisem-se exclusivamente dois dos fatores de produção que
organizativa do empresário, aí incluídas as decisões sobre a seleção da mão de entram no processo de fabricação das portas, supondo-os constantes: as
obra, das matérias primas, de métodos de informatização, automação e máquinas e os trabalhadores. Por fim, considere-se que, após a análise técnica do

11
setor de planejamento da produção dessa fábrica, o resultado encontrado tenha Fig. 01.02 – Curva de possibilidades de produção
sido o do quadro da Figura 01.01.

Uma leitura preliminar desse quadro mostra que, se somente forem produzidas
portas do tipo I, então serão fabricadas 40 portas. Se, ao contrário, somente
forem produzidas portas do tipo II, então apenas 5 portas serão fabricadas.

Fig. 01.01 – Pares de produção das portas tipos I e II


TIPOS DE PORTAS É também digno de nota o seguinte conjunto de observações aos elementos da
I II
40 0 curva de possibilidades de produção: (i) a produção das portas do tipo I é mais
35 1 complexa e/ou laboriosa do que a produção de portas do tipo II, uma vez que,
28 2 quando todos os fatores são postos à disposição da fabricação de I, alcança-se
20 3
12 4 um total de 40 unidades, e quando esse mesmo estoque de fatores é posto à
0 5 disposição da produção de II, somente se alcançam 5 unidades; (ii) qualquer
Entre as quantidades extremas de cada coluna do quadro alinham-se ponto acima da curva de possibilidades de produção é indicativo de um par de
quantidades intermediárias que formam pares correspondentes dos tipos de portas que a fábrica não pode fabricar (por exemplo, o ponto A da mencionada
portas I e II. Esses pares de quantidades descrevem a curva de possibilidades de Figura 01.02); (iii) qualquer ponto abaixo da curva de possibilidades de produção
produção mostrada na Figura 01.02. é indicativo de um par de portas que a fábrica pode fabricar, mas que não fará
uso de todos os fatores produtivos disponíveis (por exemplo, o ponto B da Figura
A continuação da leitura do mencionado quadro permite verificar que, para 01.02).
acrescentar-se uma unidade de porta do tipo II ao lote de produção quando o par
produzido é de 40 portas do tipo I e nenhuma do tipo II, isto é, para o par (40;0), Se a fábrica estiver produzindo uma unidade do tipo I, isto é, quando o par de
é necessário que se abra mão da produção de cinco portas do tipo II. portas produzido for representado por (1;35), e seu gestor decidir aumentar a
produção de portas do tipo I em uma unidade, ceterisparibus7ele terá de abrir
mão de produzir 5 unidades de portas tipo II para poder acrescentar essa unidade
do tipo I, pois o novo par coordenado será (2;28). Isso significa que as 7 unidades
que se deixam de produzir de portas do tipo II correspondem ao custo de
oportunidade dessa decisão. Esse custo de oportunidade aumenta para o

7 Vide comentário na seção 11 deste capítulo.

12
equivalente a 8 portas do tipo II quando a fábrica pretende produzir o par (3;20).
Uma observação ao gráfico permite verificar que o custo de oportunidade em
cada nova unidade que a fábrica produz de I é crescente. O custo de
oportunidade crescente é explicado pelo fato de o deslocamento dos fatores de
produção de um tipo de produto para o outro gerar ineficiência porquanto o uso
(manejo) dos fatores não é igualmente adequado aos dois tipos de processo. Por
exemplo, alguns trabalhadores especializados na produção de portas tipo II, ao
serem transferidos para a produção de portas do tipo I, serão menos eficientes.
Do mesmo modo, alguns trabalhadores especializados na produção de portas
tipo I, ao serem transferidos para a produção de portas do tipo II, apresentarão
produtividade mais baixa. É justamente o fato de o custo de oportunidade ser
crescente que explica a concavidade para baixo da curva de possibilidades de
produção.
08. Consumo suntuário
Exemplo de aplicação no 01.01
Classifica-se como consumo suntuário, ou consumo de luxo, o consumo ou uso
A fronteira de possibilidades de produção de uma economia que produz apenas
de bens e/ou serviços considerados supérfluos para o indivíduo. Inicialmente,
dois produtos, vestuário e alimento, é dada por x 22=1600-x12, sendo x1 a produção
deve-se considerar que o conceito de luxo é relativo à renda de cada consumidor
horária de alimento e x2 a produção horária de vestuário. Qual o custo de
ou agente econômico. Frequentar peças teatrais pode ser considerado um luxo
oportunidade de passar-se da produção de 25 peças de vestuário por hora para
para quem aprecie o teatro e ganhe o salário mínimo, e ser, ao mesmo tempo,
30 peças por hora. Esboce o gráfico da fronteira de possibilidade.
uma recreação absolutamete corriqueira para indivíduos de elevada renda e que
Solução se interessem pelo teatro. Em outro exemplo, no Brasil, até o princípio dos anos
A produção de vestuário igual a 25 corresponde a uma produção de alimento 1990, dispor de uma linha telefônica ainda era considerado luxo para uma
igual a 975, quantidade a que se chega a partir de x1=1600-252 (ponto A da curva expressiva parcela da população. Nos dias atuais, existem mais linhas telefônicas,
de fronteira de possibilidade da Figura 01.03). Se a produção de vestuário entre fixas e móveis, do que a totalidade da própria população brasileira.
aumenta para 30, a produção de alimento se reduz para 700, quantidade obtida a
partir de x1’=1600-302 (ponto B da curva de fronteira de possibilidade já referida). A História demonstra que o consumo suntuário tem sido a causa da ênfase nas
O aumento de 5 unidades de vestuário implicou a redução de 975-700=275 diferenças de status sociais. Indivíduos que têm acesso a bens e/ou serviços de
unidades de alimento, que refletem o custo de oportunidade para a alteração na luxo são percebidos pelos demais como pessoas abastadas. Sob o ponto de vista
produção dada no enunciado.
dos estudos econômicos, o luxo é capaz de produzir efeitos negativos e positivos
Fig. 01.03 – Curva de possibilidades de produção
de vestuário e alimento também. No que se refere aos efeitos negativos, o luxo é visto como uma

13
atividade cujos esforços empregados na produção dos bens e/ou serviços 09. Questões econômicas fundamentais e sistemas econômicos
poderiam ser canalizados para a produção de outros bens e/ou serviços que
Em economia, o processo decisório toma, como ponto de partida, a busca de
fossem mais necessários, os quais, certamente, de menor custo, serviriam para
respostas claras a três inquietações principais. A primeira diz respeito ao quê
satisfazer a demandas de uma quantidade maior de indivíduos ou famílias.
deve ser produzido, ou seja, qual o objeto para o qual cada segmento da
Em termos de efeitos positivos produzidos pelo consumo suntuário, reconhece- economia pode drenar seus esforços. Em economias de livre iniciativa, essa
se que, ao ser objeto do interesse de classes de altas rendas, os bens e serviços primeira inquietação guia a decisão que o empresário toma quando vai iniciar um
de consumo de luxo são mais freqüentemente suscetíveis a estímulos que levam novo negócio. E a parte produtiva à escala macroeconômica, em seu conjunto,
ao aperfeiçoamento da qualidade dos padrões intermediários, e também dos resultará da agregação de todas as atividades empresariais adicionadas da
padrões inferiores, dos mesmos bens e/ou serviços, contribuindo, no contexto do produção do setor público, em geral limitada 8.
processo de produção capitalista, para a melhoria do processo e do produto. Em
A segunda pergunta está relacionada com o método que deve ser empregado na
outras palavras, a produção e venda de bens de luxo desperta o conjunto total
produção, isto é, corresponde à indagação sobre como e onde produzir,
dos consumidores para níveis mais elevados de qualidade que devem ser
implicando a noção de processos produtivos e localização física do
almejados.
empreendimento e suas ramificações (filiais ou sucursais).
Veja-se, por exemplo, o caso do automóvel que foi bem suntuoso no início
Por fim, aflora uma questão que é das mais delicadas em economia, que se refere
décadas, porque somente podia ser comprado por pessoas de elevadas rendas.
a como se deve promover adistribuição da riqueza produzida, ou seja, como
Foi justamente isso que levou a indústria automobilística a perceber a
promoverem-se os meios pelos quais se possa assegurar o acesso da maioria dos
necessidade do barateamento do produto, o que somente tornou-se possível por
consumidores aos bens e/ou serviços produzidos.
meio da grande produção acompanhada de alguns tipos de incentivos como o
crédito, por exemplo, contribuindo para que um número maior de consumidores As respostas a essas indagações não são triviais nem de simples elaboração. Há
pudesse ver materializado seu desejo de ter o carro próprio. inúmeros fatores atuando nesse contexto, que não é de natureza apenas
econômica. Muito mais do que matéria de caráter apenas econômico, essas três
O luxo contribui, também, para mudanças de grande significado político e
inquietações refletem, antes, complexas questões de caráter social, histórico,
econômico, ao estabelecer o confronto entre as classes dominantes e as menos
político, cultural, tecnológico e outros que estão a influir no contexto das
abastadas. Assim ocorrera, em certa medida, na Revolução Francesa, em 1789,
decisões adotadas pelos agentes econômicos. A Economia Política, tal como
na Revolução Soviética de 1917, e tem ocorrido com movimentos menos
comentada neste capítulo(seção 16), contribui para a busca das possíveis
perceptíveis, onde o luxo afronta as classes de rendas mais baixas. A existência
respostas a essas questões.
do luxo é, pois, fator que contribui, às vezes como causa imediata, para
importantes desfechos de relações deterioradas entre classes sociais. Essa razão,
associada aos argumentos apresentados anteriormente, justificam a importância
8
O Brasil é um país no qual o governo atua também no campo da produção de bens e serviços por meio de empresas
do consumo de bens e serviços de luxo no contexto do estudo da economia. estatais ou de economia mista.

14
09.01. O quê produzir De outro lado, em economias de planificação centralizada, típicas dos regimes
socialistas, a decisão sobre o quê produzir costuma resultar de um trabalho de
Admita-se, inicialmente, uma economia livre e fechada 9, ou seja, os agentes
planejamento elaborado pelo governo e é tomada como uma ordem expedida
econômicos produtores é que tomarão a iniciativa de decidir o que vão produzir,
que não comporta questionamentos tampouco alterações. Nesses casos, o
e sua produção será colocada à disposição do mercado interno de seu país. Nesse
governo, atua como agente produtor único e formula o seu entendimento
caso, a resposta à primeira das três indagações levará em conta, entre outros
próprio a respeito das necessidades do conjunto dos consumidores.
fatores10, o mercado, que expressa o desejo do conjunto dos consumidores. Os
agentes produtores costumam decidir, portanto, conforme a sua leitura a 09.02. Como produzir
respeito do que o mercado prefere e/ou deve preferir, por meio de uma tão
No que se refere à pergunta sobre o como produzir, a resposta poderá ser
consistente quanto possível tarefa de pesquisa. Entretanto, eventualmente eles
encontrada na tecnologia e seus constantes aperfeiçoamentos, que conduzem ao
podem decidir, em algumas situações, pela produção de bens e/ou serviços sobre
desenvolvimento dos processos produtivos, os quais indicam os caminhos pelos
os quais o mercado não tenha necessariamente sinalizado em termos de possível
quais a produtividade pode ser maximizada, contribuindo para a escolha de
demanda. Isso ocorre, por exemplo, quando os produtores inovam com a
processos eficientes. Além disso, o modo de produzir inclui necessariamente
produção de bens e/ou serviços antes desconhecidos, ou de produtos conhecidos
decisão sobre localização física, leiaute (arranjo físico) de instalações, tudo em
porém adicionando-lhes características inovadoras, e que, os estudos
consonância com o estudo de mercado que é o ponto de partida de todo o
prospectivos, ou mesmo a intuição, demonstraram que o mercado se inclina a
processo de definição do como produzir.
receber bem a inovação.
Os elementos comentados nos dois períodos imediatamente anteriores são
O que é importante assinalar é o fato de que, em economias livres, os agentes
indutores do conceito de eficiência econômica, o qual implica três conceitos
produtores são os que tomam essa decisão sobre o quê produzir, mas quase
diferentes de eficiência: (i) eficiência técnica; (ii) eficiência alocativa; e (iii)
sempre cercados da necessária atenção para que não se decidam por algo que o
eficiência de escala.
mercado possa vir a não acolher. Assinale-se que, em muitos casos, essa decisão
advém de sinais emitidos pelo governo por meio de estímulos e desestímulos Aeficiência técnica assegura que, com os recursos disponíveis, a produção seja
sobre o que entende deva ser, ou deva não ser, respectivamente, objeto da maximizada, enquanto que a eficiência alocativa garante, para um dado nível de
produção econômica. Tais estímulos e desestímulos refletem intervenções do produção e uma dada estrutura de preços dos vários insumos, uma alocação
governo na economia11. perfeita dos recursos existentes entre as várias unidades produtivas. Vistas sob o
ângulo da economia, eficiências técnica e alocativa juntas asseguram que os
9 Por economia fechada, pretende-se indicar a economia de um país que não se relacione economicamente com custos sociais sejam minimizados. Sucede que a minimização dos custos sociais é
outro ou com outros países.
10 No caso de iniciativas no campo da indústria, por exemplo, facilidade de obtenção de matérias primas e utilidades
condição necessária para a maximização do benefício social líquido, mas não é
diversas como energia, água, vapor e outras inerentes ao processo produtivo, além da disponibilidade de mão de suficiente. A condição de suficiência só é garantida com a eficiência de escala.
obra, existência de vias de escoamento da produção, incentivos fiscais, entre outros fatores de oportunidade.
11 As intervenções governamentais na economia podem ocorrer sob a forma de subsídios, taxas, políticas de preços Eficiência de escala assegura, pois, para um dado nível de preços relativos, um
mínimos, políticas de preços máximos, quotas de importação, critérios de racionamento e outras mais.

15
nível de produção ótimo12. Esses três conceitos de eficiência, quando reconheceessa circunstância e, mais do que isso, consagra numerosas páginas de
considerados em conjunto, garantem que o benefício social líquido será seu conteúdo aos mercados de monopólio, oligopólio e demais mercados
maximizado. imperfeitos13. Em geral, os governos sempre interferem em seu funcionamento,
em maior ou menor grau, tornando as economias puras de mercado uma
09.03. Como distribuir a riqueza produzida
irrealidade. Subsídios, taxas, políticas de preços mínimos são, entre outras,
A distribuição da riqueza produzida constitui um desafio complexo da Política algumas dessas formas de intervenção.
Econômica, pois a busca de critérios justos de repartição dos bens e serviços
Nas economias de planificação centralizada, típicas dos regimes socialistas, a
produzidos tem sido, não raro, objeto de importantes disputas entre as classes
questão distributiva é resolvida por meio de uma instância de planejamento
sociais, que têm conduzido a fatos históricos marcantes. Essa questão já foi
integrante da estrutura do governo, a qual estabelece a forma de remuneração
passada em comentário, de certa forma, quando se tratou do consumo de luxo.
das diferentes profissões e ocupações, com a preocupação sempre presente de
O processo de distribuição envolve sobretudo a orientação emanada do governo evitar desníveis, contribuindo para a construção e manutenção de uma sociedade
que estabelece as linhas de sua Política Econômica, cujo princípio básico é o de menos heterogênea no que se refere ao acesso aos bens e serviços produzidos. A
contribuir para a melhoria do bem estar social. Por esses breves comentários, História do Pensamento Econômico analisa as principais características das
percebe-se claramente que a questão distributiva constitui um problema diversas formas de socialismo, com destaque para o socialismo utópico, o
econômico de grande significado, pois está no centro da abordagem de uma socialismo cristão, o anarquismo, o socialismo das guildas, o sindicalismo e o
discussão maior que se refere à evolução das doutrinas político-econômicas. socialismo marxista ou socialismo científico. De todas essas formas, a última, isto
Nas economias de mercado, por exemplo, a questão distributiva está é, o socialismo marxista, é a que mais profundamente estudou os meios de
intimamente relacionada com a renda das famílias, que pode variar, dependendo produção e distribuição da riqueza, desnudando o capitalismo, e criando a
do estágio de desenvolvimento econômico de cada economia, em um espectro expectativa do desaparecimento deste, o que não veio a ocorrer sobretudo por
amplo que vai desde uma repartição que possa ser considerada justa, até graus uma característica do agente capitalista que é a de negociar sempre e de
acentuados, e mesmo insuportáveis, de disparidades entre segmentos extremos adaptar-se continuadamente a novas condições que se lhe vão apresentando. No
da sociedade. campo dos estudos do socialismo, ressalta-se o estágio mais elevado a que uma
sociedade deve aspirar, qual seja o do comunismo, cujo slogan é: “de cada um,
Entretanto, economias puramente de mercado inexistem na prática. Em outras de acordo com a sua habilidade, para cada um de acordo com suas
palavras, o liberalismo econômico por completo em uma sociedade é impossível, necessidades”. A contrapartida a esse slogan, no socialismo é: “de cada um, de
pois os mercados imperfeitos implicam a necessidade de regulação, o que acordo com a sua habilidade, para cada um de acordo com seu trabalho”.
significa presença do estado na economia. A própria teoria neoclássica, a
doutrina que consagra a maior parte de seu corpo ao estudo dos mercados,

12Esse nível ótimo de produção é o próprio tamanho, ou seja, a escala do empreendimento ou iniciativa 13 Adicionalmente, são mercados imperfeitos a concorrência monopolística, o monopsônio, o oligopsônio, a
empresarial. concorrência monopsonística e o monopólio bilateral.

16
Por fim, há os sistemas de economia mista. Nesses sistemas, a questão preponderância. O valor de troca, já identificado como preço do bem e/ou
distributiva se resolve pela atuação conjunta do sistema de preços e da ação do serviço, se forma a partir das relações entre procura e oferta. Em outras palavras,
estado, que dirige ou apoia, de modo decisivo, algumas atividades produtivas, se determinado bem tem um valor real igual 100 unidades monetárias consoante
promovendo as condições de gratuidade na obtenção de determinados bens e o argumento da doutrina clássica, e existe excesso de oferta desse bem no
serviços essenciais, como a educação, saúde, transporte coletivo e outros mais. A mercado, é possível que os compradores somente aceitem pagar 95 unidades
social-democracia cujas origens remontam à fundação do Partido Social- monetárias. Sejam quais forem as conjecturas a respeito do mercado desse bem,
Democrata alemão em 1875 com a proeminência de Karl Kautsky, que dedicou o certo é que as transações somente serão levadas a efeito por um preço que
seus estudos à economia agrária, é um regime que encontrou seu apogeu entre seja aceito tanto pelos produtores quanto pelos consumidores. Esse preço é
1945 e 1960. A bandeira empunhada pelo regime é a da defesa dos recursos chamado preço de equilíbrio. No exemplo comentado no período anterior, o
públicos para garantir uma distribuição menos desigual da riqueza produzida preço de equilíbrio será aquele que os compradores concordem em pagar e, ao
mediante a expansão de programas nas áreas da saúde. mesmo tempo, os vendedores aceitem receber.

10. Breves notas sobre as teorias do valor Para as escolas Clássica e Socialista, entretanto, a lei da procura e da oferta opera
como um mecanismo de ajustamento dos preços no mercado, por causas
As diversas teorias de valor dos bens, mercadorias e serviços são um dos temas
distintas, aproximando-os do valor real. Adicionalmente, a Escola Socialista
mais controvertidos em economia. A sucessão das doutrinas e, sobretudo, a
aperfeiçoou a postulação dos clássicos sobre o valor-trabalho, introduzindo o
explicitação do pensamento de alguns renomados pensadores foram muito ricas
conceito do trabalho socialmente necessário para a produção de um bem. Isso
em termos de proposição de teorias para o valor. Bens e serviços heterogêneos
significa dizer que entre métodos distintos de elaboração industrial, o mais usual
têm diferentes valores de troca, ou diferentes preços. As correntes de
e mais eficiente é que deve refletir o valor-trabalho. Em outras palavras, métodos
pensamento econômico têm procurado métodos concretos para explicar de que
antiquados, ou então artesanais, de produção, dos quais resultem índices de
dependem essas diferenças de preços e como calculá-los. Apesar de a questão do
produtividade inferiores aos normais, não podem comandar a definição do valor-
valor não ter sido, até aqui, um problema inteiramente resolvido no corpo da
trabalho. De outro lado, métodos produtivos muito avançados ainda em fase de
teoria econômica, o conceito de valor de troca sedimentou-se como um sinônimo
pesquisa e, portanto, ainda não disseminados comercialmente, mesmo que
de preço e, portanto, é variável mesmo quando analisado em relação a uma só
possam responder por índices de produtividade superiores aos normais, também
mercadoria que pode ter preços distintos em função de condições diferenciadas
não devem nortear essa definição.
que se situam em torno das transações.
O valor-trabalho baseado no trabalho socialmente necessário é, pois, aquele
Adam Smith e David Ricardo argumentavam que o valor dos bens dependia da
lastreado em processos que estejam ao alcance dos meios produtivos da
quantidade de trabalho utilizada para a sua produção. Seria este o valor real de
sociedade. Além disso, o trabalho socialmente necessário que se incorpora ao
um bem no entendimento dos economistas clássicos. No entanto, admitiam
valor de um bem é o trabalho que procede desde o início da cadeia produtiva,
esses mesmos clássicos, como os bens são elaborados para transação em seus
quando de seu estágio extrativo, até a produção da mercadoria que se esteja
respectivos mercados, neste contexto é o valor de troca que assume

17
avaliando, passando em seqüência por todas as etapas das relações e os preços dos bens correlatos (substitutos e complementares). Na busca do
intersetoriais. preço e da quantidade de equilíbrio que se procede mediante a aplicação da lei
da procura e da oferta, brevemente estudada neste capítulo, utiliza-se uma
Aos bens econômicos estão associados os conceitos de valor de uso e valor de
função de demanda do tipo q=f(p), onde “q” é a quantidade transacionada do
troca. O valor de uso depende do significado da satisfação preenchida, ou seja,
bem ou serviço, e “p” é o preço deste bem ou serviço. A expressão dessa função
reflete a utilidade do bem para o consumidor. Refere-se com freqüência, como
demonstra que a quantidade transacionada depende apenas do preço do bem, o
exemplo que bem elucida o conceito do valor de uso, ao exemplo de um
que reflete uma simplificação do modelo em relação à realidade. Dito de outro
indivíduo em pleno deserto, para quem um copo de água pode valer muito mais
modo, o que é afirmado por essa função algébrica é que somente as variações de
do que uma pedra de diamante.
preço do bem objeto da análise é que interessam entrar no cálculo.
Para a Escola Marginalista, que aprofundou os estudos dos clássicos dando Evidentemente que essa análise considera que, em determinado momento, os
ênfase ao papel da procura como força primária do mecanismo de formação dos gostos e preferências tanto quanto as rendas dos consumidores não variem e
preços dos bens e/ou serviços, o valor de troca é regulado pelos preços das que, também, não variem os preços dos bens correlatos. O fato de não variarem
transações, os quais resultam da aplicação prática da lei da procura e da oferta. esses outros elementos equivale a tê-los excluído na passagem da realidade para
Segundo essa lei, comentada na seção 13 do presente Capítulo, os preços sobem o modelo, considerando que mantiveram-se invariáveis. Esse artifício é
quando há escassez do bem e/ou serviço e se reduzem quando há excesso de normalmente referido como a condição ceterisparibus, expressão latina muito
oferta. utilizada em economia que pode ser traduzida como “tudo o mais mantendo-se
11. O uso de modelos na análise de problemas econômicos inalterado”14.

O uso de modelos é tão comum em economia quanto na engenharia e em outras Os modelos são de grande utilidade para compreender-se a teoria econômica. Os
ciências experimentais. Os modelos são úteis para a análise de um problema da resultados que eles produzem precisam, entretanto, ser levados a teste,
realidade por simplificarem-na mediante a seleção das variáveis que mais afetam principalmente avaliando-se a sensibilidade do problema estudado em relação
o comportamento do problema estudado. O fato de constituírem uma aos fatores que foram mantidos inalterados, verificando-se como as variações em
simplificação da realidade significa que os modelos são conjuntos incompletos de cada um destes outros fatores que foram mantidos inalterados afetam o
informações relativas aos problemas do mundo real. O que parece, entretanto, resultado obtido mediante o uso do modelo. A seqüência de testes com esses
ser uma desvantagem, contrariamente constitui uma vantagem da adoção de outros fatores e a comparação dos novos resultados seqüenciais são capazes de
modelos porquanto serão avaliados apenas os pontos relevantes que interferem reproduzir a parte essencial do conjunto de elementos do mundo real que o
no problema e sua solução. modelo original simplificou.

Tome-se como exemplo a demanda por um bem qualquer. Conforme estuda-se


no Capítulo 2 deste Curso, a função de demanda depende de alguns fatores como
o preço do bem, os gostos e preferências do consumidor, a renda do consumidor 14Do latim ceteris (o resto, os restantes, os outros) par, paris (igual).

18
12. Vantagens comparativas tê-la baseado tão somente na teoria do valor-trabalho e por considerar
No período em que os economistas clássicos lideraram o debate econômico, dois ambientes de pleno emprego.
dos mais destacados autores da doutrina referiram-se ao comércio entre os
A teoria das vantagens comparativas pode ser aplicada entre regiões ou cidades
países. Adam Smith, autor de A riqueza das nações, propunha a ampliação
de um mesmo país, sem a dificuldade de ter-se que considerar a taxa de câmbio.
irrestrita do mercado externo e considerava que todos deveriam comprar as
Suponha-se por exemplo que, dois estados brasileiros produzam café e feijão.
mercadorias no país que oferecesse o preço mais barato. David Ricardo veio
Sejam Bahia e São Paulo esses estados e considere-se que o estado de São Paulo
enriquecer a proposta de Smith por meio de um estudo que tornou-se conhecido
seja duas vezes mais eficiente que a Bahia na produção de café e 1,5 vez mais
como a teoria das vantagens comparativas, ou teoria dos custos comparativos,
eficiente do que a Bahia na fabricação do feijão, com iguais cargas horárias de
de acordo com a qual, mesmo que o país “A” fosse mais eficiente do que o país
mão de obra em ambos os processos, conforme os dados do quadro da Figura
“B” na produção de todos os bens que ambos produzissem, esse país deveria
01.04, cujos coeficientes de produtividade são fictícios.Embora São Paulo
exportar para “B” os bens em que fosse comparativamente bem mais eficiente e
apresente uma vantagem absoluta nos dois produtos, sua vantagem é mais
importar de “B” aqueles bens em que fosse comparativamente menos eficiente,
significativa em relação ao café. A Bahia compete com uma desvantagem menor
ainda que ostentando eficiência maior do que a de “B”.
no feijão.
Na sua formulação, Ricardo exemplifica a relação entre a Inglaterra e Portugal
Figura 01.04– Produção (fictícia) dos dois bens em cada um dos dois estados
quanto à produção de vinho e de tecido (algodão). Portugal era mais eficiente em SÃO PAULO BAHIA
ambos os produtos, sendo três vezes mais eficiente em produção de vinho do HORAS DE PROD/HORA PROD TOTAL (t) PROD/HORA PROD TOTAL (t)
TRAB. (t/h) (t/h)
que em produção de tecido. Considerando apenas os custos de produção, CAFÉ 700,00 90,00 63.000,00 30,00 21.000,00
Ricardo propunha que Portugal exportasse vinho para a Inglaterra e importasse FEIJÃO 300,00 60,00 18.000,00 50,00 15.000,00
tecido desse mesmo país. A intenção da proposta das vantagens comparativas é
Considere-se que os dois estados entrem em negociação da qual resulte a
baseada no fato de que, no exemplo em discussão, a Inglaterra se especializasse
decisão de São Paulo somente produzir café e a Bahia somente produzir feijão
em produzir apenas tecido e Portugal se especializasse apenas em vinho,
com a efetuação de trocas destes produtos entre os dois estados. Considerando
abandonando a produção de tecido, com ganhos totais superiores aos que se
adicionalmente que a expansão ou redução da produção em ambos os estados
produziriam se ambos os países continuassem a produzir ambas as mercadorias.
ocorra a um custo constante por unidade produzida de qualquer dos produtos e
Não estava presente na proposta de Ricardo a possibilidade de o capital de um que os custos de transporte sejam nulos (ou iguais). As novas quantidades
país se instalar no outro país, situação que, uma vez ocorrendo como ocorre nos produzidas em São Paulo e na Bahia são apresentadas no quadro da Figura 01.05,
dias de hoje, Portugal provavelmente deveria exportar ambos os produtos, isto é, antes que sejam feitas trocas dos excedentes de produção.
com o deslocamento de capital inglês para produzir o tecido em Portugal. Na
época em que Ricardo apresentou sua proposta, ele recebeu crítica também por

19
Figura 01.05– Produção dos dois bens com base nas vantagens comparativas dos dois 13. Lei da Procura e da Oferta
estados
SÃO PAULO BAHIA A procura é um fenômeno observado no comportamento do consumidor
HORAS PROD/HORA PROD TOTAL (t) PROD/HORA (t/h) PROD TOTAL (t) refletindo o desejo deste em obter determinado bem ou serviço. Alguns bens
DE TRAB. (t/h)
CAFÉ 1000,00 90,00 90.000,00 ---- ---- e/ou serviços, por essenciais que são à sobrevivência humana, costumam ser
FEIJÃO 0,00 60,00 0,00 ---- ---- objeto de uma procura ditarígida, ou inelástica. Os alimentos básicos para uma
CAFÉ 0,00 ---- ---- 30,00 0,00 família são bens que fazem parte desse grupo. A adjetivação baseada na
FEIJÃO 1000,00 ---- ---- 50,00 50.000,00
elasticidade será desenvolvida no Capítulo 2.
Diante do resultado proporcionado pela especialização, São Paulo poderá
Bens e/ou serviços, ditos de demanda elástica, podem deixar de ser comprados,
preservar as 63.000,00 t de café e oferecer à Bahia a diferença (90.000,00-
ou então podem ser substituídos por outros. Como já mencionado
63.000,00) t em troca de 18.000,00 t ou mais de feijão, uma vez que a
anteriormente, a procura pelos bens e/ou serviços depende de fatores como a
produtividade paulista do café é igual a 1,5 vez a sua produtividade de feijão,
renda do consumidor, seus gostos e preferências, o preço do bem e/ou serviço
donde (90.000,00-63.000,00)/1,5=18.000,00 t.
desejado e a expectativa em torno da variação deste, além dos preços dos bens
De outro lado, a Bahia, que passou a produzir 50.000,00 t de feijão, pode e/ou serviços correlatos.
preservar as 15.000,00 t que produzia antes e oferecer (50.000,00-15.000,00) t
De outro lado, a oferta constitui um fenômeno resultante da atitude do produtor,
em troca de 20.958,08 t ou mais de café, dado que sua produtividade de feijão é
invariavelmente movido pelo desejo de realizar lucro, de mobilizar fatores
igual a (50,00/30,00)=1,67 vez a sua própria produtividade de café, donde
produtivos e elaborar bens e/ou serviços os quais ele põe à disposição do
(50.000,00-15.000,00)/1,67=20.958,00. Como há um espaço para negociação dos
mercado consumidor, com o objetivo de transacionar. A oferta é influenciada
preços relativos, uma transação possível corresponde à entrega por São Paulo à
pelo preço do bem ou serviço 15, pelo custo dos fatores de produção, pela
Bahia das 27.000,00 t de café recebendo em troca as 27.000,00 t de feijão,
tecnologia disponível, pelos preços de bens e/ou serviços correlatos que, neste
fazendo com que São Paulo fique, ao final, com 63.000,00 t de café e com
caso, refletem as condições da concorrência na oferta, além de fatores como, por
27.000,00 t de feijão, e, a Bahia, com 23.000,00 t de feijão e 27.000,00 t de café.
exemplo, a sazonalidade, a geografia, modismos e outros aspectos influentes
Esse resultado demonstra que ambos os estados ficaram economicamente sobre a iniciativa do produtor.
melhor (better off) no que se refere às produções dos dois bens, consideradas as
O diagrama cartesiano da Figura 01.06 ilustra o mecanismo da procura e da
simplificações adotadas. Entretanto, algumas condições relacionando número de
oferta, que é o ponto de partida para a formação dos preços dos bens e/ou
horas consagrado à produção de cada produto e índices de produtividade são
serviços. Sobre o eixo da variável independente marcam-se as quantidades
necessárias para a confirmação da teoria proposta. Sugere-se ao aluno, a título
transacionadas e, sobre o eixo da variável dependente, marcam-se os preços.
de exercício, averiguar que possíveis condições serão essas. Sugere-se, ainda, que
Analisando-se as duas curvas do referido diagrama, é possível constatar-se que,
exercite algumas variantes de negociação de preços em torno de um mesmo
exemplo. 15Preço que o mercado consumidor aceita pagar, e efetivamente paga.

20
para níveis elevados de preços, os produtores sinalizam, por meio da curva de O ponto de equilíbrioé determinado pela intersecção das duas funções, isto é,
oferta “s”, que pretendem vender elevadas quantidades, enquanto que os igualando-se demanda e oferta: 100-2q=10+4q, do que resultam pe=70 e q*=15.
consumidores sinalizam, por meio da curva de demanda “d”, que pretendem O gráfico da Figura 01.07 ilustra esse resultado.
comprar pequenas quantidades do bem ou serviço.
Fig. 01.07 –Equilíbrio da demanda e oferta
Analogamente, para níveis reduzidos de preços, os produtores sinalizam, por
meio da curva de oferta “s”, que pretendem vender baixas quantidades,
enquanto que os consumidores sinalizam, por meio da curva de demanda “d”,
que pretendem comprar elevadas quantidades do bem ou serviço. Em um e em
outro caso, surgem forças tendentes a levar níveis de preços e quantidades para
um ponto de equilíbrio, o ponto “E” do diagrama, correspondente ao preço p e,
para o qual consumidores e produtores estarão desejosos de comprar e de
vender, respectivamente, quantidades iguais do bem ou serviço.

Fig. 01.06 – Diagrama da lei da procura e da oferta

Observa-se que há consumidores que podem pagar um preço superior a 70


unidades monetárias, valor de equilíbrio a que se chegou por meio da aplicação
da lei da procura e da oferta. Mas todos pagarão o único preço de 70, que é o
preço de equilíbrio.Sabe-se, também, que há consumidores que não podem arcar
com o preço de equilíbrio de 70 unidades monetárias por unidade do bem ou
serviço transacionado. Diz-se desses consumidores que eles estão fora do
mercado do referido bem ou serviço. Esse aspecto da capacidade de pagamento
dos consumidores é abordado na seção imediatamente seguinte.

14. Excedentes econômicos


Exemplo de aplicação no 01.02
O cálculo dos excedentes econômicos em um mercado qualquer é feito
No mercado de determinado bem, a função de demanda ép=100-2q, e a função utilizando-se as curvas de demanda e oferta, cada uma em confronto com o nível
de oferta é dada porp=10+4q.Determinar as coordenadas do ponto de equilíbrio. de preço de equilíbrio. Ao confrontar-se a curva de demanda com o nível de
Solução preço de equilíbrio encontra-se o excedente do consumidor e, analogamente, ao
confrontar-se a curva de oferta com o nível de preço de equilíbrio, encontra-se o
excedente do produtor.

21
Para efetuar-se esse cálculo, mede-se, em cada nível de quantidade, a diferença Há consumidores que, ao contrário de ostentarem uma disposição a pagar
entre a ordenada representativa da demanda e o preço de equilíbrio (excedente superior ao preço de equilíbrio, não têm condição econômica sequer para
do consumidor), e entre o preço de equilíbrio e a ordenada representativa da comprar o bem ou serviço. A representação da falta de capacidade de pagar
oferta (excedente do produtor). A seguir, apresenta-se mais detalhadamente desses consumidores é o trecho da curva de demanda à direita do ponto de
esse processo. equilíbrio. Nesse trecho da curva, todas as ordenadas são inferiores ao nível de
pE, o que significa que os consumidores aí representados estão fora do mercado
14.01. Excedente do consumidor
do bem ou serviço considerado.
Considere-se o mercado representado pelo gráfico da Figura 01.08, que se
Retomando a consideração do trecho da curva de demanda situado à esquerda
encontra em equilíbrio no ponto E, de coordenadas q* e pE. Todos os
de E, ponto de equilíbrio, a soma de todas as diferenças entre os preços de
consumidores que comprarem o produto pagarão o mesmo preço pE, que é o
reserva e o preço de equilíbrio pE corresponde à área situada por baixo da curva
preço de equilíbrio do mercado.
de demanda nesse trecho e acima da linha do próprio preço de equilíbrio.
Fig. 01.08 – Representação geométrica
do excedente do consumidor Analiticamente, o excedente do consumidor é determinado por meio da integral
definida no intervalo (0;q*), da forma seguinte:

Ec=∫0q*[f(q)-pE]dq ,

sendof(q) a função de demanda e pE a linha do preço. E o excedente unitário do


consumidor resultará da divisão do excedente total pela quantidade
transacionada do bem ou serviço, que é a quantidade de equilíbrio q*, isto é:

Ecunit=(1/q*).∫0q*[f(q)-pE]dq

14.02. Excedente do produtor

Por analogia à definição do excedente do consumidor, define-se o excedente do


No entanto, a maior parte dos consumidores que compra o produto pode pagar produtor como a massa de recursos monetários correspondente à área situada
mais do que o preço pE, de equilíbrio. O fato de as ordenadas de todos os pontos acima da curva de oferta no intervalo (0;q*) e abaixo da linha de preços pE, no
da curva de demanda à esquerda de E serem superiores ao nível de pE é mesmo intervalo. No diagrama da Figura 01.09, o excedente total do produtor
indicativo dessa disposição a pagar a maior que os consumidores que compram corresponde à área (pEEp2) e o excedente unitário do produtor resulta da divisão
têm em relação ao preço de equilíbrio do mercado. Assim, o excedente do do excedente total pela quantidade transacionada do bem ou serviço que é q*.
consumidor corresponde à área (p1EpE). Ao preço que representa a disposição a Fig. 01.09 – Representação geométrica do excedente do produtor
pagar de cada consumidor denomina-se preço de reserva desse consumidor.

22
O cálculo dos excedentes é feito determinando-se as áreas seguintes:

(i) Para o excedente do produtor: Ep=(1.520x12)-∫012[400-(q2+80q+416)]dq,


donde Ep=18.240-[(q3/3)+(80q2/2)+416x]012, donde Ep=6.912; e

(ii) Para o excedente do consumidor: Ec=∫(2.000-40q)-1.520]dq, donde


Ec=[2.000q-(40q2/2)-(1.520q)]012, donde Ec=[(2.000x12)(40x122/2)-
(1.520x12)], donde Ec=2.880.
Fig. 01.10 – Aplicação do cálculo de excedentes

Analiticamente, são representados pelas expressões seguintes:

Ep=∫0q*[pE-g(q)]dq ,

sendo g(q) a função de oferta. E o excedente unitário do produtor é expresso por:

Epunit=(1/q*).∫0q*[pE-g(q)]dq

Exemplo de aplicação 01.03:

Considere-se um bem que seja transacionado em um mercado competitivo no


O excedente do consumidor poderia ser calculado pelo método geométrico mais
qual a oferta é dada pela função p=q2+80q+416 e a demanda é dada por p=2.000-
rapidamente, da forma seguinte: Ec=[(2.000-1.520)x12]/2=2.880.
40q. Calcule as coordenadas do ponto de equilíbrio e, em seguida, determine os
excedentes do produtor e do consumidor. 15. Fluxo circular da riqueza

Solução Nas diversas economias, a riqueza está em permanente circulação, movimento


este que pode variar, em intensidade e velocidade, em função de cada momento
O preço e quantidade de equilíbrio resultam de q 2+80q+416=2.000-40q, donde
ou fase. Com efeito, a compra de mercadorias e/ou serviços faz com que dois
q*=12, abandonando-se a raiz negativa (q*’=-132). Para q*=12, tem-se pE=1.520.
fluxos se materializem: um primeiro movimento, o da mercadoria e/ou serviço,
O gráfico da Figura 01.10 mostra as duas funções, o ponto de intersecção e as
que sai das mãos do produtor e segue em direção ao consumidor. E um segundo,
áreas representativas dos excedentes.
de dinheiro, correspondendo ao pagamento, que se movimenta partindo das

23
mãos do consumidor em direção ao produtor. Esses dois fluxos em sentido consumidor, quando é o caso do fator trabalho, o qual é vendido ao produtor em
contrário conformam o conjunto dos mercados de bens e/ou serviços de troca de salário.
consumo, mostrado na parte superior do esquema gráfico da Figura 01.11.
De outro lado, o consumidor que é proprietário de bens imóveis pode alugá-los a
Fig.01.11 – Fluxo circular da riqueza
produtores. O consumidor pode, ainda, ser possuidor de capital, o qual ele aplica
em troca de juros, ou faz investimento e, neste caso, em troca de lucros. O
consumidor, na maior parte dos casos, vende seu trabalho em troca de salário ou
outra forma de remuneração. O que é relevante observar é que há um fluxo dos
bens e/ou serviços de consumo e dos fatores de produção, que reflete o
comportamento da economia real; e um segundo fluxo, em sentido contrário,
que reflete a economia monetária.

Assinala-se que os dois fluxos, o da economia real e o da economia monetária,


Na parte inferior da mesma Figura 01.11, encontram-se os mercados de fatores não são absolutamente constantes em termos de velocidade. O comportamento
de produção. Nesses mercados, as famílias provêm as firmas com trabalho, dos agentes econômicos leva a que a velocidade de circulação tanto dos bens e
propriedades para uso, aplicações em dinheiro e, em contrapartida, recebem serviços quanto dos recursos financeiros possa sofrer reduções, ou mesmo
salários, alugueis, juros e dividendos. Portanto, no referido esquema gráfico, interrupções, e impulsos. Essas reduções e impulsos são referidas como
enquanto os bens e serviços tanto quanto os fatores de produção fluem em vazamentos e injeções, respectivamente.
determinado sentido, no caso, dextrógiro, os pagamentos, seja pela compra dos A poupança que o consumidor faz constitui um vazamento no fluxo da economia
bens e serviços, seja pela compra dos fatores de produção, experimentam o monetária, do mesmo modo que um estoque involuntário de mercadorias que as
sentido oposto, ou seja, sinistrógiro. Mas esses dois sentidos poderiam ser firmas fazem pela frustração de não haver sido vendido conforme previsto são
representados exatamente ao contrário, isto é, a favor dos ponteiros do relógio vazamentos no fluxo da economia real.
para os pagamentos e contra os ponteiros do relógio para a movimentação dos
Os investimentos que as firmas fazem são, de outro lado, injeções no fluxo da
bens, serviços e fatores de produção. Não há uma convenção segundo a qual o
economia monetária dado tratar-se de um montante de recursos que não terão
sentido de giro seja fixo para cada um dos fluxos.
sido feitos com o emprego de recursos adicionais aos do fluxo monetário normal.
O fluxo circular da riqueza mostra claramente que o produtor recebe o Essa injeção costuma ocasionar impulso no fluxo da economia real.
pagamento pela venda de um bem ou serviço. Agora, de posse do dinheiro, ele
O gráfico da referida Figura 01.11, ainda que apresente uma versão
tem condição de comprar novas quantidades de recursos produtivos. Tais
extremamente simplificada do fluxo circular da atividade econômica, também
recursos podem ser comprados a outras firmas, quando é o caso de matérias
pode ser considerado como uma versão atualizada e aperfeiçoada do Tableau
primas, energia e outros insumos, ou podem ser comprados do próprio
Économique, de François Quesnay (expoente da fisiocracia), que historicamente

24
representa um dos primeiros vestígios do conceito de circulação da riqueza. O a qual praticamente se confunde. Desse modo, aEconomia Política, também
gráfico da Figura 01.11 não reflete, entretanto, a inteira realidade das referida como Teoria Econômica, se ocupa do estudo, em termos abstratos, dos
economias, uma vez que ali está faltando o governo, que arrecada obrigações problemas econômicos, buscando estabelecer as leis e princípios que os regem.
(tributos) dos contribuintes, formando uma massa de recursos com a qual presta
De outro lado, a aplicação do conhecimento teórico da economia tem como
serviços públicos. Como ficaria, então, este gráfico se se lhe incluísse, em seu
objetivo central dar sua contribuição para a promoção do desenvolvimento e do
corpo, o governo que, conforme mencionado, recebe pagamento das obrigações
bem estar social. Ao fazê-lo, tem como produto, a Política Econômica, ramo da
dos contribuintes em troca da oferta, a estes, de serviços públicos? Essa
economia aplicada estreitamente relacionado com a Teoria Econômica ou
indagação é feita à guisa de provocação ao aluno, para que tente esboçar o
Economia Política. Na formulação da Política Econômica, a macroeconomia e a
gráfico do fluxo circular da riqueza em uma economia de mercado, incluindo,
microeconomia, principalmente a primeira, se apresentam como instrumentos
agora, a figura do governo.
de grande relevância para o economista. A macroeconomia, em razão de as
Por igual, pergunta-se, como apareceria, nesse desenho do fluxo circular da medidas de natureza macroeconômica atuarem sobre os agregados da economia,
riqueza, o papel desempenhado pelo crédito, ou seja, o fato de o pagamento ser sendo capazes de produzir rapidamente efeitos de real significado para o
feito a prazo pelo consumidor, porém recebido a vista pelo produtor? Deixa-se conjunto da sociedade. E a microeconomia, por atuar sobre o comportamento
mais esta inquietação para o aluno procurar representá-la graficamente. Por fim, individual dos produtores, dos consumidores e sobre os diversos mercados
como poderia ser representado, no mesmo gráfico do fluxo circular da riqueza o formados por esses produtores e consumidores. O conjunto de diretrizes
segmento da economia do meio ambiente, tendo em vista o caráter de bem emanadas tanto da macroeconomia quanto da microeconomia influi de modo
público dos recursos naturais de uso coletivo? decisivo no planejamento econômico, contribuindo para a definição de medidas
econômicas específicas, para o planejamento regional, entre outros.
16. Economia, ciências e áreas afins
Os comentários introdutórios acima permitem acrescentar uma série de ligações
A Economia Política foi a primeira denominação dada à identificação e à
que podem ser facilmente identificadas entre a economia e outras áreas do
abordagem do problema econômico. Seu objetivo é a análise da estrutura social
conhecimento. A História Econômica é uma dessas áreas porquanto, ao buscar na
da produção, o quê, desde já, implica contar com o auxílio de ciências afins
fundamentação do pensamento econômico a referência que pode ser útil para a
diversas. A Economia Política, ao estudar o mundo do qual o sêr humano faz
sociedade do presente e o desenvolvimento de sua economia, termina por
parte, e que existe independentemente da vontade do ser humano, impõe-se,
constituir um rico instrumental de que a decisão de natureza econômica pode
naturalmente, na condição de um ramo do conhecimento, de natureza
lançar mão. Com efeito, a evolução histórica das civilizações é um verdadeiro
socioeconômica, gerador de uma riquíssima trama de relações com praticamente
manancial de experiências reais, fazendo com que a pesquisa histórica se revista
todas as demais ciências e técnicas.
de incontestável utilidade para o trabalho do economista, fornecendo-lhe a
Ao estudar a evolução da sociedade humana, a Economia Política foi necessária localização − temporal e espacial − das atividades humanas, a natureza
contribuindo, a cada avanço, com a construção da própria Teoria Econômica, com e a correlação dos acontecimentos, além da organicidade e evolução dos fatos.

25
Nesse sentido, a História Econômica se justapõe à História do Pensamento conhecimento intitulado Geografia Econômica. Da simples descrição de divisões
Econômico, que se ocupa das distintas correntes de pensamento resultantes das político-administrativas, regimes climáticos, fisiografia e geomorfologia, a
interpretações que os economistas têm dado aos fenômenos econômicos. A Geografia evoluiu para novos estágios mediante o estudo e a análise dos fatores
História Econômica constitui, pois, importante referência do passado, ao mesmo produtivos, a demografia e seus movimentos migratórios, as condições geo-
tempo que é utilizada como elemento balizador das perspectivas do futuro, pois econômicas dos mercados regionais, a localização espacial dos fatores
os fatos econômicos costumam se repetir, pelo menos em sua essência, o que faz produtivos, as distintas formas de organização para a produção em diferentes
da História Econômica um riquíssimo ferramental de trabalho do economista. regiões ou países, além de inúmeras outras questões que a conectam com a
economia. Não é ocioso assinalar que a maior parte dos fenômenos econômicos
As Finanças Públicas, ramo consagrado ao estudo dos objetivos e resultados
está relacionada a uma ou mais localizações sobre a Terra, reforçando o
econômicos e financeiros da gestão, conformam uma fatia robusta da própria
significado da Geografia. E é justamente o conhecimento geográfico que torna
Economia do Setor Público, importante página do conhecimento econômico. É
razoável esperar-se que as economias das diversas regiões do mundo sigam
que as Finanças Públicas, ao tratarem da origem e aplicação dos recursos
padrões que estão intrinsecamente ligados a fatores geográficos que ocorrem
públicos, envolvem uma série de instituições e mecanismos que exercem, pelo
regional e/ou localmente. Por exemplo, a economia dos países do Oriente Médio
seu papel, importante influência sobre o conhecimento econômico. Mais do que
é afetada de maneira decisiva pelas questões relacionadas com a exploração do
isso, as Finanças Públicas produzem indicadores de especial relevo nos contextos
petróleo em razão da abundante ocorrência desse bem na região. Assim
macro e micro econômicos, servindo para retroalimentar todo o processo de
também, a título de exemplo, a economia de uma parte da região da Andaluzia,
decisão e de formulação das políticas públicas setoriais e da própria Política
na Espanha, guarda uma relação estreita com a agricultura das oliveiras e a
Econômica.
produção de óleo de oliva. Por igual, a economia gaúcha tem, como importante
Adicionalmente, é importante considerar, nas relações com a economia, as item de sua pauta, a produção vinícola, em razão dos parreirais abundantes em
Finanças do Setor Privado, que se ocupam do planejamento e execução das uma parte de seu território. A Bahia, por seu turno, incluiu no conjunto de suas
finanças das unidades produtivas, ou seja, a firma, que é a unidade de mais expressivas riquezas econômicas, por longas décadas, o cacau, como rubrica
transformação dos fatores de produção em bens e serviços, diretos ou indiretos. de grande importância para a sua economia.
O conjunto das Finanças Públicas e Privadas compreendem, por fim, um vasto
A Matemática também é um instrumental de grande valia para o estudo e
mundo de distintos mercados da moeda nos quais a aplicação de dinheiro é
aplicação do conhecimento da economia, sendo extremamente útil para a
capaz de produzir mais dinheiro, pondo em relevo a importância de seu estudo
avaliação das variações quantitativas dos fenômenos econômicos.
no contexto das diversas profissões e ocupações.
Particularmente, o cálculo diferencial é largamente empregado na economia
Outro campo do conhecimento com que a economia se relaciona é a marginalista16, que baseia a maior parte de seus estudos nos diagramas
Geografia.Geografia, sobretudo a que explora, em um de seus múltiplos
enfoques, os aspectos essencias da economia relacionados com o território e os
16 O conceito de margem é essencial em economia, a ponto de refletir a essência do pensamento de uma das
efeitos da atividade antrópica sobre o mesmo, estabelecendo as bases do doutrinas econômicas: a Escola Marginalista, ou Marshalliana (de Alfred Marshall).

26
cartesianos, incluindo funções de produção de custos e uma série de outros resultados, mostrando a real situação econômico-financeira das unidades
conceitos econômicos de elevado grau de recorrência ao conhecimento produtivas.
matemático. Temas outros como a álgebra matricial, de grande importância no
O Direito também é uma técnica intimamente ligada à economia. Essa relação
desenvolvimento da Teoria do Insumo e Produto, a geometria analítica e o
decorre do fato de que os fenômenos econômicos, ao refletirem as expectativas
manejo das funções homogêneas, as equações diferenciais e as equações a
e as ações dos agentes econômicos, o fazem sob um ordenamento dado pelas
diferenças finitas, todos esses importantes capítulos da Matemática constituem
normas jurídicas estabelecidas pelo estado, como um reflexo da vontade social. É
instrumental de trabalho do economista.
que, compete à matéria inerente ao campo jurídico, situar o ser humano, a firma
A Estatística, também amplamente utilizada em economia por meio dos cálculos e a sociedade diante do poder político e da natureza, estabelecendo obrigações e
econométricos que servem para identificar as diversas tendências dos fenômenos direitos, e dando, por conseguinte, o balizamento a esses agentes para o
econômicos recorre, entre outros temas, à distribuição de probabilidades, à exercício da atividade econômica. O que sucede é que a ação econômica põe em
regressão e correlação, séries temporais, índices de preços, provendo o confronto as esferas de interesses dos indivíduos, das empresas e dos governos,
economista com análises de grande realce no contexto de sua tomada de cada uma das quais em conflito potencial com as demais. Disso resulta que
decisão. nenhuma ordem econômica seja possível sem o necessário ordenamento
jurídico, evidenciando a estreita relação entre economia e Direito. Veja-se, à
Importante técnica que guarda afinidade com a economia é a Contabilidade. A
guisa de exemplo, que a regulação de um setor da economia − matéria com
Contabilidade atua praticamente em todos os níveis, do individual ao agregado,
grande enfoque no Direito Administrativo −, ao afetar a vida de milhares de
no conjunto dos produtores, dos consumidores e do governo, enfeixando a
agentes econômicos, ditos administrados, exibe uma das mais significativas
sistematização das contas globais de um estado em seu contexto nacional. O
formas dessa relação entre economia e Direito, pois a observância dos direitos
estudo da Contabilidade Nacional ocupa lugar de destaque no campo da
dos administrados, tanto quanto dos deveres destes, constitui requisito
macroeconomia, porquanto é por seu intermédio que se pode aferir a dinâmica e
mandatório a ser observado nas ações de regulação.
as tendências dos agregados econômicos. O conhecimento das diversas contas
nacionais17 é de extrema utilidade para se ter uma ideia de como se organiza e A Sociologia, ocupando-se do estudo das relações entre pessoas que convivem
como se comporta, em um dado momento, a economia de um país. A em um mesmo grupo social ou em grupos sociais diferentes é um referencial
Contabilidade desempenha um importante papel, conforme referido, no estudo importante no contexto dos problemas econômicos. Em verdade, Sociologia e
da economia da firma, mediante a técnica dos balanços patrimoniais e de economia guardam estreitas e seculares ligações. Na Grécia antiga, fenômenos
sociais costumavam ser explicados pelos pensadores a partir da análise de fatores
econômicos. Mais recentemente no curso da história, a maior parte dos autores
17Aconta de produção, que reflete a identidade existente entre o Produto Nacional e as Despesas Nacionais; a conta
de apropriação, que mostra como a renda é distribuída entre consumo e poupança; a conta de capital, da Idade Média e do Renascimento ocupou-se do exame conjunto das lutas de
correspondente à identidade entre poupança e investimento; a conta-corrente de governo, que permite classes e os interesses econômicos. Mas somente no século XVIII é que economia
acompanhar o comportamento das receitas e despesas do setor público; e as contas externas, que retratam as
relações econômicas de um país com o resto do mundo. e Sociologia viriam a se fragmentar como partes distintas das ciências sociais.

27
Essa divisão foi, em verdade, uma resposta ao “especialismo” científico que teve estruturou a profissão. Dificilmente, o estudo de alguma técnica da Engenharia
grande aceitação, à época. A mencionada separação sofreu, entretanto, a deixará de referir-se, minimamente que seja, aos custos incorridos por suas
tentativa de retorno ao estado anterior de mesmo ramo do conhecimento, como etapas de desenvolvimento, o que pode ser tomado como importante vestígio da
demonstra o argumento de Jean-Baptiste Say, em 1828, segundo o qual o relação entre a Engenharia e a economia. Mas a questão econômica não se
desenvolvimento das ciências econômicas estaria subordinado à investigação que esgota com a avaliação de custo simplesmente, permeando as técnicas e os
os economistas deveriam fazer sobre a interrelação das partes do sistema social. produtos da Engenharia com inúmeros outros mecanismos de abordagem. Entre
Esse argumento de Say foi um novo despertar para o significado da relação entre esses mecanismos está a análise de custos e benefícios, essencial para medir o
os dois ramos do conhecimento, pois a sua importância veio num crescendo tal mérito de um projeto. A análise de custos e benefícios por seu turno se
que deu lugar ao aparecimento da Sociologia Econômica, fazendo aflorar o decompõe em análise privada (ou de mercado) e análise social, esta última se
entendimento segundo o qual os sociólogos se situam, em termos da produção e ocupando do benefícios líquidos do projeto para o conjunto da sociedade.
colocação em disponibilidade do conhecimento, entre os principais grupos de
Adicionalmente, a economia investiga, no contexto do estudo de mercados, o
tributários dos economistas.
papel das firmas de Engenharia e os produtos que produzem, verificando e
A economia relaciona-se, também, com a área de conhecimento da Medicina e analisando a lucratividade destas, a utilidade para os consumidores dos bens
Saúde Pública, de grande relevância para os estudos da economia do bem-estar e/ou serviços produzidos, as externalidades geradas pelos processos produtivos,
social; com a Administração Pública e com a Administração de Empresas, quanto positivas e negativas, o papel dos bens e/ou serviços na cadeia de relações
aos aspectos de gestão das instituições públicas e das firmas respectivamente; interssetoriais da economia do país ou região, e os impactos socioeconômicos
com as engenharias das diversas modalidades na abordagem a relevantes temas impostos para a frente e para trás, os mecanismos de formação de preços,
como os investimentos em obras e empreendimentos, custos operacionais, especialmente os preços das utilidades públicas, a pertinência da tributação a
precificação dos bens e serviços; e, por fim, mas não exaurindo o tema, a que estão submetidas as firmas de engenharia, os efeitos da inflação bem como
economia está presente no recente debate sobre a Gestão do Meio Ambiente, os da política de câmbio sobre sua atividade, entre inúmeros outros aspectos de
voltada para a racionalidade do uso e para a preservação dos recursos naturais. interesse comum ao engenheiro e ao economista.
As relações da economia com as diversas modalidades da engenharia são
As abordagens acima brevemente mencionadas estão presentes na Engenharia
destacadas em uma seção individualizada considerando o interesse deste Curso
Aeronáutica em suas etapas de projeto, construção e manutenção de aeronaves,
que é majoritariamente voltado para os estudantes de engenharia.
naves espaciais, satélites, dirigíveis, balões e infraestrutura para o tráfego aéreo;
na Engenharia Agronômica, por meio de análises de cunho econômico na
concepção, projeto, operação e manutenção de sistemas de irrigação e
17. Relação da economia com a engenharia em suas diversas áreas drenagem, nas técnicas de aplicação de produtos fitossanitários, na agropecuária
e no melhoramento animal e vegetal.
A Engenharia se reparte em um significativo número de modalidades, algumas
das quais surgiram da especialização de áreas tradicionais em que, no início, se

28
As referidas abordagens também agasalham as questões relativas à Engenharia origem a um sem-número de produtos derivados que estão presentes nos
de Alimentos, especialmente no que toca ao aproveitamento dos produtos diversos tipos de mercado estudados na economia.
agrícolas, da pecuária e da pesca para a fabricação, conservação, estoque,
A economia se relaciona com a Engenharia de Minas, área do conhecimento
transporte e consumo de bens alimentícios; estão presentes também na
voltada para o aproveitamento racional dos recursos minerais envolvendo a
Engenharia Civil nas atividades de projeto, construção, fiscalização e recuperação
prospecção, o planejamento, a elaboração de projetos e a explotação
de estruturas de edifícios, rodovias, ferrovias, hidrovias, aeroportos, pontes,
propriamente dita desses recursos, aí incluídas as águas subterrâneas. Relaciona-
túneis, barragens, canais, proteção de margens de cursos d’água e obras
se, também, com a Engenharia Naval e seu objeto de trabalho que incorpora o
marítimas. Tais abordagens são igualmente relevantes para a Engenharia Elétrica
projeto e construção de embarcações de todos os portes, incorporando as
especialmente no projeto, execução e manutenção de sistemas de geração a
avaliações da dinâmica estrutural e da hidroninâmica das estruturas flutuantes, a
partir das diversas fontes, de transmissão e de distribuição de energia, além do
propulsão e o controle direcional; o projeto e construção de plataformas
controle e automação, da eletrônica de potência e das telecomunicações. Estão
marítimas, instalações portuárias, tráfego fluvial e marítimo, além das estruturas
presentes, também, nas atividades da Engenharia Florestal, incluindo o
em alto-mar. O estudo dos mercados do transporte marítimo de cabotagem e
planejamento, a produção e o aperfeiçoamento da exploração madeireira
longo-curso, que muito repercute sobre a Engenharia Naval serve, também,
observando a preservação dos recursos naturais; na Engenharia Industrial,
como traço de união entre a economia e esta modalidade da engenharia.
mediante as atividades de operação e manutenção de linhas de produção fabril,
suas máquinas e equipamentos, observando critérios que conduzam à elevação A Engenharia de Pesca também se relaciona com a economia pelo próprio
da produtividade industrial e ao controle de qualidade, relacionando-se caráter de setor econômico que tem a atividade pesqueira. A transformação dos
estreitamente com as áreas da engenharia mecânica, metalúrgica, elétrica, recursos aqüícolas em produtos industrializados envolvendo a detecção, captura,
química e com a química industrial. conservação e beneficiamento dos cardumes forma uma cadeia produtiva de
especial relevância no contexto da economia sobretudo pela classificação como
Os estudos econômicos ainda se fazem presentes na Engenharia Mecânica nas
gênero de primeira necessidade que representa a maior parte dos produtos
atividades de projetamento, acompanhamento da operação e manutenção dos
gerados.
produtos da mecânica pesada como os guindastes, pontes e pórticos rolantes, as
turbinas hidráulicas; dos produtos inerentes à fabricação em série como Importante relação com a economia é exercida, também, pela Engenharia de
determinados tipos de máquinas, motores e veículos; e dos produtos da Produção, que se ocupa de atividades estratégicas para a produção industrial em
mecânica fina que incluem instrumentos de precisão, de medição, entre outros. A particular, e para a produção dos diversos ramos de negócios em geral, como o
economia permeia, também, o mundo da Engenharia Metalúrgica, que abrange a estudo e a definição da localização industrial, da racionalização do trabalho
transformação secundária dos minerais transformando-os em metais e em ligas mediante a avaliação dos métodos e dos estudos de tempos e movimentos, da
metálicas, por meio de tratamentos químicos e físicos. De sua atividade resultam administração dos materiais e da repercussão de todas estas atividades sobre a
os mais diversos produtos como chapas, vergalhões, perfis metálicos que darão economia e as finanças da empresa.

29
A economia também se faz presente no ambiente da Engenharia Química, montagem, operação e manutenção das máquinas utilizadas no processo. Desse
envolvendo o desenvolvimento e operação do processamento industrial de modo, a Engenharia Têxtil traz os mesmos interesses para os estudos econômicos
produtos químicos, estabelecendo a seqüência da linha de produção bem como o que são encontrados nas duas mencionadas modalidades de engenharia.
dimensionamento dos equipamentos, com evidentes conseqüências sobre os
Ao conjunto de atividades de engenharia sobre o qual ora se discorreu com
custos e a formação dos preços finais dos bens produzidos. Nesse mesmo ramo
ênfase em suas relações com a economia, acrescentam-se as atividades da
da química, destaca-se a Química Industrial que também guarda relação com os
pesquisa e desenvolvimento do produto e do processo, um imperativo da busca
estudos da economia, pois a realização dos experimentos e de análises químicas
da eficiência econômica, reforçando as relações existentes entre as ciências
laboratoriais conduz ao desenvolvimento de novos materiais bem como a novas
econômicas e cada uma das engenharias aqui alinhadas.
reações para o fabrico de produtos e artefatos químicos, exercendo influência na
oferta de bens e serviços e, portanto, afetando o sistema de preços relativos, 18. Microeconomia e macroeconomia
objeto do interesse dos estudos econômicos. A microeconomia e a macroeconomia são as duas grandes e principais áreas do
A Engenharia Sanitária e Ambiental constitui um dos ramos da engenharia mais estudo da economia e se complementam no sentido de promover-se uma análise
fortemente relacionados com a economia. Essa circunstância resulta do fato de ampla de um processo ou fenômeno econômico qualquer. A microeconomia, ou
que os serviços providos pela Engenharia Sanitária e Ambiental são demandados teoria microeconômica, se ocupa do estudo do comportamento dos agentes
pela totalidade da população e resultam de necessidades físicas absolutas e de econômicos tomados individualmente. Temas como o comportamento do
natureza coletiva, portanto de interesse prioritário das avaliações econômicas, consumidor e o comportamento da firma são, por excelência, integrantes do
especialmente as que conformam os estudos do bem estar social. Com efeito, o campo de estudo microeconômico. A relação entre a firma e o consumidor, tanto
abastecimento de água, o esgotamento e tratamento de águas residuárias, a quanto a relação da firma com os proprietários de fatores de produção, bem
drenagem urbana, a coleta, transporte e disposição dos resíduos sólidos, além do assim o estudo dos mercados e os mecanismos de formação de preços, são
controle de vetores de enfermidades transmissíveis são atividades da Engenharia inerentes à teoria microeconômica.
Sanitária e Ambiental que correspondem a grandes programas governamentais A teoria macroeconômica, de outro lado, consagra seus estudos à avaliação do
de cunho social com potenciais efeitos positivos sobre o bem estar das comportamento dos agregados econômicos e não apenas de cada agente
populações, tema dos mais relevantes para os estudos econômicos. econômico tomado individualmente, como faz a teoria microeconômica. A
Por fim, a economia também está presente nas atividades da Engenharia Têxtil macroeconomia é, portanto, o estudo do conjunto de todos os consumidores,
que se ocupa da produção de tecidos envolvendo desde a fabricação de fios, para o agregado consumidores, e do conjunto de todos os produtores, para o
artificiais e sintéticos, bem como o tratamento de fios naturais, até as etapas de agregado de mesmo nome, bem assim do papel desempenhado pelo governo,
acabamento e confecção, passando pela tecelagem, tinturaria e estamparia. A que atua e interfere sobre as mencionadas variáveis agregadas. Essas variáveis
Engenharia Têxtil resulta ser um composto das engenharias química e mecânica, são a renda total das famílias, a poupança, o emprego, a taxa de inflação, a taxa
pois o engenheiro têxtil também se envolve com o projeto e construção, de juros, os produtos econômicos brutos, nacional e interno, o câmbio, entre

30
outras. Costuma-se afirmar, clássica e figurativamente, que a diferença entre
19. Economia normativa e economia positiva
microeconomia e macroeconomia é que a primeira se entrega ao estudo do
comportamento da árvore, enquanto que a macroeconomia cuida do estudo do O estudo da economia pode se estruturar de acordo com duas perspectivas
conjunto da floresta, como que a vôo de pássaro, observando-a em seu distintas e bem definidas: a economia normativa e a economia positiva. A
comportamento global. economia normativa, como indica seu qualificativo, está engajada na produção e
emissão de conceitos e normas que guardam relação com juízos de valor, ou seja,
No passado, era corrente a opinião de autores segundo a qual o estudo da
que indicam o que pode ser melhor e o que pode ser pior em termos de decisão
economia deveria se iniciar pela microeconomia, para, somente depois de
sobre algum problema econômico. Em outras palavras e de modo bastante
adequadamente assimilado, passar ao campo da macroeconomia. Entendia-se
amplo, a economia normativa indica como o mundo econômico deveria ser e se
que grandezas como as diversas modalidades de produto e de custos 18, além das
desenvolver.
elasticidades, deveriam começar pela análise microeconômica porque, depois de
adequadamente assimiladas, sustentariam a boa compreensão dos conceitos De outro lado, a economia positiva busca explicar como a economia funciona na
macroeconômicos. Atualmente, entretanto, há autores que veem com realidade, isto é, ocupa-se em verificar como os fenômenos econômicos podem
indiferença essa preocupação, considerando que a absorção do conhecimento de ser analisados pelos fatos da vida real. Dito de outra maneira, as assertivas da
uma e outra áreas pode se complementar em qualquer ordem, sem prejuízo para economia positiva precisam ser confirmadas pelas evidências empíricas, ou seja,
a didática. A recorrência mútua a conceitos de uma das duas áreas quando se indicam como o mundo econômico efetivamente se desenvolve. Essas duas
estuda a outra parece ser maior da macroeconomia em relação à microeconomia concepções alimentam-se mutuamente, aperfeiçoando o conhecimento científico
do que a recorrência no sentido oposto. Em outras palavras, ao estudar-se a da economia.
macroeconomia, recorre-se a conceitos de natureza microeconômica um maior
20. Comentários adicionais
número de vezes do que a quantidade de vezes que se recorre à macroeconomia
quando se procede ao estudo da análise microeconômica. Mas é razoável Os temas deste Capítulo abrem espaço para os estudos específicos que serão
considerar que, em qualquer dos dois sentidos que se trafegue, o grau de desenvolvidos ao longo do Curso. Em particular, buscou-se apresentar um
recorrência não chega a ser tão elevado que a falta do estudo de uma das áreas panorama geral do espaço do conhecimento econômico, apresentando-se
prejudique de todo a construção do conhecimento da outra. O que é certo algumas definições básicas como as de agentes econômicos, bens e serviços,
afirmar-se é que o conhecimento completo de uma somente terá sido alcançado conceitos de eficiência econômica, além de uma brevíssima referência a
quando concluído e bem assimilado estiver o estudo de ambas as áreas. modalidades de sistemas econômicos. Adicionalmente, foram apresentados leves
traços dalei da procura e da oferta, do fluxo circular da riqueza e das teorias do
valor, como abordagem preliminar necessária à compreensão de conceitos que
serão discutidos quando eventualmente estes tópicos forem revisitados, em
capítulos posteriores.
18Produtos médio, marginal e total; e custos médio, marginal e total.

31
Em relação ao conjunto de temas acima, alguns aspectos foram apenas
tangenciados, remetendo para capítulos futuros do Curso uma abordagem mais
ampla. O conteúdo deste Capítulo, mesmo com o grau de superficialidade com
que foi apresentado, é o suficiente para dar-se partida aos estudos econômicos
na extensão pretendida pelo programa desta disciplina. De sua firme assimilação
dependerá o bom aproveitamento dos pontos que serão estudados na
continuação do Curso.

32
O conhecimento do mecanismo de formação dos preços nos distintos tipos de
noções de microeconomia________________________________
mercados tem muitas utilidades. Uma dessas utilidades é a compreensão de
capítulo 2 como funciona uma economia de livre empresa. Apesar de a expressão economia
de livre empresa deixar transparecer que o grau de liberdade deste tipo de
agente econômico é amplo, a análise microeconômica serve para mostrar que a
firma, nessas economias, enfrentam limitações impostas ora por outras firmas
que dominam parcial ou totalmente determinado mercado, ora pela necessária
regulação econômica dos mercados ditos imperfeitos, além das crises cíclicas do
capitalismo e de outras causas exógenas que afetam seu funcionamento. Por isso
mesmo é que, além da concorrência perfeita de bens e serviços de consumo, e de
fatores produtivos, são estudados também os mercados oligopolísticos,
monopolísticos, de concorrência monopolística e os mercados oligopsonísticos,
monopsonísticos e de concorrência monopsonística, bem como o monopólio
bilateral, todos estes integrantes do conjunto de mercados imperfeitos.

A teoria dos preços, outra denominação que, conforme já referido, se dá, ainda
que menos freqüentemente, à microeconomia, também oferece instrumentos
analíticos que ensejam o controle governamental sobre a atividade econômica,
mais precisamente sobre preço, produção e lucro, além da avaliação de
mudanças no estado de bem estar social.

02. Oferta, procura e estática comparativa


01. Objeto do estudo da microeconomia
No Capítulo 1 deste Curso foi apresentada a lei da procura e da oferta, em
A microeconomia se ocupa do estudo do comportamento dos agentes
particular como se produz o equilíbrio entre estas duas funções representado por
econômicos observados individualmente e dos resultados obtidos por esses
uma quantidade e um preço do bem ou serviço sob análise. Quando dessa breve
agentes no âmbito de cada mercado. Esse estudo, normalmente partindo de uma
apresentação, as funções de demanda e oferta foram enunciadas sob a forma
condição de equilíbrio entre oferta e demanda, estabelece preços e quantidades
p=f(q), onde p é o preço e “q” é a quantidade do bem ou serviço.
transacionadas entre agentes que são, no caso mais generalizado, os indivíduos e
as firmas. Por tratar do tema dos preços com acentuada freqüência, a Apesar da simplicidade da expressão algébrica acima referida, o que está por trás
microeconomia é também referida como teoria dos preços. de seu significado é que tanto oferta quanto demanda relacionam, também, o
preço e a quantidade com outras variáveis que não aparecem na fórmula porque

33
são tomadas como fixas para efeito da análise. Em outras palavras, ceteris paribus fez aumentar a demanda e, conseqüentemente, o preço e a quantidade
paribus p=f(q) como função inversa19 de demanda ou oferta respectivamente, e do bem ou serviço.
q=g(p) como função direta de demanda ou oferta são simplificações de Fig. 02.01 – Comportamento da curva de demanda face
expressões mais elaboradas, do tipo: ao aumento da renda do consumidor

p=f(q,M,pc)

Onde:

p é o preço do bem ou serviço;

q é a quantidade demandada;

M é a renda do consumidor; e

pc é o preço de um bem ou serviço correlato.

Nessa expressão estão omitidos adrede os gostos e preferências do consumidor,


uma variável a ser explorada na seção que se ocupa das utilidades e preferências
deste, ainda no presente Capítulo. Conforme se percebe, ao enunciar a expressão
simplificada p=f(q), implicitamente considera-se que as demais variáveis não se
alteram, uma abstração inerente a modelos de análise. Entretanto, uma Exemplo de aplicação 02.01
alteração em alguma dessas variáveis outras que não a quantidade promoverá A função de demanda por determinado bem é p=48/q e a função de oferta é
um deslocamento da curva de demanda. Por exemplo, um aumento na renda do p=10+2q. O aumento do salário mínimo repercutiu sobre a demanda fazendo-a
consumidor gera um deslocamento da curva de demanda para cima, o que deslocar-se para a direita e para cima de tal modo que sua nova expressão
implica movê-la também para a direita, enquanto que uma redução da renda faz passou a ser p=72/q. Determine preço e quantidade de equilíbrio antes e depois
com a mesma curva tenha sua posição alterada deslocando-se para baixo, o que do aumento do salário mínimo.
implica deslocá-la também para a esquerda. O gráfico da Figura 02.01 ilustra o
Solução
caso de um aumento de renda ao mostrar o deslocamento da função de
demanda de D para D’. Portanto, o aumento da renda do consumidor ceteris Antes do aumento do salário mínimo, o equilíbrio resultava de: 48/q 1=10+2q1,
donde 2q12+10q1-48=0, donde q1*=3 (desprezando-se a raiz negativa por não ter
significado económico neste caso20). Depois do aumento do salário mínimo, o
19A função inversa de demanda é a que explicita preço em relação à quantidade demandada e a função direta de
demanda é a que explicita quantidade demandada em relação a preço. Analogamente, a função inversa de oferta é
a que explicita preço em relação à quantidade ofertada e a função direta de oferta é a que explicita a quantidade
ofertada em relação a preço. 20 Trata-se de uma quantidade negativa.

34
equilíbrio passa a ser obtido a partir de 72/q2=10+2q2, donde 2q22+10q2-72=0, pc é o preço de um bem ou serviço correlato; e
donde q2*=4, igualmente desprezando-se a menor raiz. Os preços antes e depois
T é o grau de tecnologia empregado.
do deslocamento da função de demanda, pE1 e pE2 são: pE1=10+(2x3) donde
pE1=16; e pE2=10+(2x4) donde pE2=18, correspondentes aos pontos de equilíbrio E O grau de tecnologia empregado se manifesta por meio da função de produção, a
e E’, respectivamente. O gráfico da Figura 02.02 ilustra essa mudança de ponto qual se transmite à função de custo, função, esta última, cuja curva marginal
de equilíbrio. (primeira derivada em relação à quantidade) em seu ramo ascendente, como ver-
se-á neste Capítulo, corresponde à curva de oferta da firma. O gráfico da Figura
Fig. 02.02 – Deslocamento da curva de demanda e novo equilíbrio
02.03 ilustra o caso de uma redução nos preços dos insumos ao mostrar o
deslocamento da função de oferta de S para S’.
Fig. 02.03 – Comportamento da curva de oferta face
à redução nos preços dos insumos

A função de oferta é tratada de maneira análoga, ou seja, de modo mais


elaborado, essa função pode ser escrita como se segue:
A redução dos preços dos insumos ceteris paribus fez aumentar a oferta e, em
p=g(q,pi,pc,T), conseqüência, reduzir o preço e aumentar a quantidade ofertada do bem ou
Onde: serviço.

p é o preço do bem ou serviço; Exemplo de aplicação 02.02

q é a quantidade ofertada; A função de demanda por determinado bem é p=22,25-0,5q2 e a função de oferta
é dada por p=6,25+0,5q2. Os preços dos insumos utilizados na produção desse
pi é o preço de cada insumo utilizado na produção; bem se reduziram e os produtores expandiram a oferta cuja função passou a ser

35
p=2+0,5q2. Determine preço e quantidade de equilíbrio antes e depois da redução agentes econômicos, como também inibir mercados de desbens21, estimular
dos preços dos insumos. mercados de bens e serviços essenciais, limitar preços, garantir preços mínimos,
entre outros.
Solução
No espaço deste Curso, são abordados alguns tipos de interferências
Antes da redução dos preços dos insumos, o equilíbrio é alcançado quando:
governamentais no equilíbrio de mercados. Particularmente serão comentados
0,5q12+6,25=22,25-0,5q12, donde q1*=4, desprezando a raiz negativa. Depois da
os efeitos que são exercidos pelos tributos, subsídios e políticas de preços
redução dos preços dos insumos, o equilíbrio passa a resultar de 0,5q 22+2=22,25-
máximo e mínimo sobre o equilíbrio de mercados.
0,5q22, donde q2=4,5. Os preços antes e depois são, respectivamente, p E1=22,5-
(0,5x42), donde pE1=14,5; e pE2=22,5-(0,5x4,52), donde pE1=12,38. O gráfico da 03.01. Tributos
Figura 02.04 ilustra essa mudança de ponto de equilíbrio.
Os tributos são obrigações fiscais que têm vários objetivos, sendo os principais os
Fig. 02.04 – Deslocamento da curva de demanda e novo equilíbrio de arrecadar recursos para a manutenção da estrutura da administração pública
e para os investimentos que o governo precisa realizar, ao mesmo tempo que
servem para inibir mercados de determinados bens e serviços que, por razões de
políticas públicas, devam ter seu crescimento contido ou mesmo contraído.

Os tributos, que podem ser classificados como impostos, taxas, contribuição de


melhoria, entre outros, interferem no equilíbrio de um mercado criando dois
níveis de preços, um ao produtor (pp) e outro ao consumidor (pc), além de gerar
arrecadação, como ilustra o gráfico da Figura 02.08. A arrecadação do governo
corresponde à área do retângulo pcCFpp.

Com a introdução do tributo, o preço ao consumidor passa a ser mais elevado do


que era antes, e o preço ao produtor se reduz em relação a seu nível original.
Esse nível original de preço corresponde ao preço de equilíbrio que era o mesmo
para produtores e consumidores (pE da mencionada Figura 02.08).

Ora, se o consumidor passa a pagar mais do que antes pagava e o produtor passa
03. Interferências governamentais na economia a receber menos do que antes recebia, ambos se inclinam a transacionar uma
quantidade menor, inclinação esta que reflete um dos objetivos da aplicação do
Na sua missão de assistir à sociedade mediante a oferta de bens e serviços
públicos, o setor público também exerce um papel regulador da economia. Esse 21 No linguajar dos economistas (jornalisticamente denominado economês), um desbem é um não-bem, também
referido como um mal. A fumaça de cigarros fumados em ambientes fechados ou semi-fechados bem como as
papel decorre da necessidade de combater práticas abusivas de parte de alguns drogas não aceitas socialmente, além da poluição produzida são exemplos de males ou desbens.

36
tributo. A criação de um tributo altera os excedentes do consumidor e do Solução
produtor reduzindo-os, e gera o que se denomina peso morto, que é o custo
O equilíbrio do mercado é alcançado quando demanda e oferta se igualam, isto é
social do tributo.
100-3p=4+5q, donde p=pE=12 e q=q*=4+(5x12), donde q*=64.
Fig. 02.08 – Efeitos da tributação
O gráfico da Figura 02.09 apresenta as funções de demanda e oferta, as
coordenadas do ponto de equilíbrio ora calculadas e as áreas dos excedentes,
além dos elementos que refletem a incidência do imposto, este último
representado pelo segmento de reta BC e as consequências que este produz, ou
seja, novos excedentes e peso morto.

Para determinar-se a nova quantidade de equilíbrio, iguala-se a 3,20 u.m. a


diferença entre as funções de demanda e oferta explicitadas em relação ao
preço, ou seja:

(100/3)-(q/3)-[(-4/5)+(q/5)]=3,20,

Donde:

q*’=58
Na referida Figura 02.08, o excedente do consumidor se alterou de AEpE para Conhecido o valor de q*’, determinam-se pc e pp, entrando-se, para tanto, com o
ACpc, o excedente do produtor sofreu redução de pEEB para ppFB, a arrecadação valor de q*’ nas funções de demanda e oferta, respectivamente:
do governo foi igual à área do retângulo pcCFpp e o peso morto corresponde ao
pc=(100/3)-(58/3), e
triângulo CEF. A identificação do peso morto é feita ao observar-se que parte das
figuras do diagrama representam riquezas de que nem produtores nem pp=(-4/5)+(58/5)
consumidores tampouco o governo se apropriam. Donde pc=14 e pp=10,8.
Exemplo de aplicação 02.03: Os excedentes do produtor e do consumidor antes da introdução do imposto
O mercado de determinado bem é regido pela função de demanda q=100-3p, e serão respectivamente as áreas do triângulo AEpE e do trapézio pEEF0. Como
pela função de oferta q=4+5p. Suponha que o governo crie um imposto de T=3,20 ambas as funções são lineares, o cálculo de áreas será feito por geometria.
u.m. (unidades monetárias) por u.f. (unidade física) transacionada. Determine, Cálculo da área do triângulo AEpE:
com esses dados, os excedentes antes e depois da aplicação do imposto e a
magnitude do peso morto. Ec=[(33,33-12)x64]x(1/2)

37
Donde Donde

Ec=682,56 E’p=334,80
Fig. 02.09 – Aplicação de um tributo
O peso morto (PM) do imposto corresponde à área do triângulo BEC, igual a:

PM=[(64-58)(14-10,8)]/2

Donde

PM=12,80

Finalmente, as reduções dos excedentes do consumidor e do produtor foram,


respectivamente, iguais a:

ΔEc=682,56-560,57

ΔEp=473,60-334,80
Cálculo da área do trapézio pEEF0:
Donde
Ep=[12+(12-10,80)]/2]x64
ΔEc=121,99
Donde
ΔEp=138,80
Ep=473,60
03.02. Subsídios
Os excedentes do produtor e do consumidor depois da introdução do imposto
serão respectivamente as áreas do triângulo ABpC e do trapézio ppCF0: Os subsídios são o oposto dos tributos. São recursos que o governo dá a fundo
perdido aos agentes de mercado de determinado bem ou serviço com a
Cálculo da área do triângulo ABpC: finalidade de estimular este mercado a crescer. Ao se subsidiar um setor, criam-
E’c=[(33,33-14)x58]x(1/2) se, como também sucede com os tributos, dois níveis de preços, um ao
consumidor (pc) e outro ao produtor (pp).
Donde
A diferença em relação ao tributo é que, no caso do subsídio, o preço ao
E’c=560,57
consumidor decresce em relação ao preço de equilíbrio enquanto que o preço ao
Cálculo da área do trapézio ppCF0: produtor cresce em relação ao preço de equilíbrio. Esses dois estímulos fazem
com que ambos os agentes se inclinem a aumentar a quantidade transacionada,
E’p=(58+4)/2]x10,8
como mostra o gráfico da Figura 02.10.

38
A criação de um subsídio altera os excedentes do consumidor e do produtor consumidor antes e depois da aplicação do subsídio, mostrando a variação
aumentando-os, e gera, também, o que se denomina peso morto, que é o custo experimentada por cada um dos dois excedentes. Determinar também o peso
social do subsídio. morto.

Solução

O equilíbrio inicial é alcançado quando 220-q=60+4q, donde q*=32 e


Fig. 02.10 – Efeitos do subsídio pE=60+(4x32), donde pE=188. O gráfico da Figura 02.11 apresenta as funções de
demanda e oferta, as coordenadas do ponto de equilíbrio ora calculadas e as
áreas dos excedentes, além dos elementos que refletem a incidência do subsídio,
este último representado pelo segmento de reta CF e as consequências que este
produz, ou seja, novos excedentes e peso morto.
Fig. 02.11 – Aplicação de um subsídio

Na referida Figura 02.08, o excedente do consumidor se alterou de AEpE para


AFpc, o excedente do produtor ampliou-se de pEEB para ppCB, o montante
subsidiado pelo governo foi igual à área do retângulo ppCFpc e o peso morto
corresponde ao triângulo ECF. A identificação do peso morto é feita ao observar-
se que parte das figuras do diagrama representam riquezas de que nem
produtores nem consumidores tampouco o governo se apropria.

Exemplo de aplicação 02.04: Para determinar-se a nova quantidade de equilíbrio, iguala-se a 20 u.m. a
diferença entre as funções de demanda e oferta explicitadas em relação ao
Suponha-se que o governo pretenda subsidiar determinado setor da economia
preço, ou seja:
cujas funções inversas de procura e oferta são, respectivamente, p=220-q e
p=60+4q. As bases de cálculo desse subsídio são fixas, à razão de 20 u.m. 60+4q-220+q=20,
Determinar o equilíbrio inicial desse mercado e os excedentes do produtor e do

39
Donde: Donde:

q*’=36 Ep=(188x32)—[(60x32)+(4x322/2)],

Conhecido o valor de q*’, determinam-se pc e pp, entrando-se, para tanto, com o Donde:
valor de q*’ nas funções de demanda e oferta, respectivamente:
EP=2.048.
pc=220-36, e
Após a implantação do subsídio, o excedente do consumidor será a área do
pp=60+(4x36) triângulo AFpc, e o excedente do produtor será a área do triângulo p pCB.

Donde pc=188 e pp=204. Cálculo da área do triângulo AFpc

Os excedentes do produtor e do consumidor antes da introdução do imposto E’c=o∫36(220-q)dq-p.q*’


serão respectivamente as áreas dos triângulos pEEB e do trapézio AEpE. Mesmo
Donde:
em se tratando de funções são lineares (oferta e demanda), o cálculo de áreas
será feito por meio da integral definida, a exceção da área sob a função da linha E’c= [220q-(q2/2)]o36-p.q*’,
de preço que será determinada geometricamente, como se segue: Donde:
Cálculo da área do triângulo AEpE: E’c=(220x36)-(362/2)-(184x36),
Ec=o∫32(220-q)dq-pE.q*, Donde:
Donde E’c=648.
2
Ec=[220q-(q /2)]o32-(188x32), Cálculo da área do triângulo ppCB
Donde E’p=(pp.q*’)-[o∫36(60+4q)dq],
Ec=[(220x32)-(322/2)]-(188x32), Donde:
Donde Ec=512. E’p=(204x36)-[60q+(4q2/2)]o36,
Cálculo da área do triângulo pEEB: Donde:
32
Ep=(188x32)-[o∫ (60+4q)dq], E’p=(204x36)-[(60x36)+(4x362/2)]-[(-10x100),
Donde: Donde:
2 32
Ep=(188x32)[60q+(4q /2)]o ,

40
E’p=2.592. essa política, o governo está obrigando a que a função de oferta original S seja
modificada para a linha poligonal pmáxDS’23.
O peso morto (PM) do subsídio corresponde à área do triângulo ECF, igual a:
No mencionado gráfico, o excedente do consumidor que deveria variar do
PM=[(204-184)(36-32)]/2
triângulo AEpE para o trapézio ACDpmáx, resulta, por força do ágio, diminuído para
Donde o triângulo ACpc. De outro lado, o excedente do produtor, que deveria reduzir-se
PM=40 do triângulo pEEB para o triângulo pmáxDB termina, em razão do ágio cobrado,
aumentando para um montante equivalente à área do trapézio pcCDB.
Finalmente, os incrementos observados nos excedentes do consumidor e do
produtor foram, respectivamente, iguais a: Fig. 02.12 – Efeitos da política de preço máximo

ΔEc=648-512

ΔEp=2592-2048

Donde

ΔEc=136

ΔEp=544

03.03. Política de preço máximo

A política de preço máximo corresponde ao que, na prática, também é referido


como tabelamento de preço de algumas mercadoriais e serviços. Essa limitação é
feita em um nível de preço inferior ao preço de equilíbrio e corresponde a uma
tentativa de proteção ao consumidor ampliando seu excedente em detrimento
do produtor que vê seu excedente se reduzir. O gráfico da Figura 02.12 apresenta A política de preço máximo gera um peso morto equivalente à área do triângulo
o mecanismo da imposição de um preço máximo ao produtor. CED. O ágio total cobrado é igual à área do retângulo pcCDpmáx, e o ágio por
A política de preço máximo, quando generalizada para vários bens e serviços, unidade do bem ou serviço transacionado é igual ao segmento pc-pmáx.
costuma ser infrutífera, pois o produtor a ela reage cobrando ágio do consumidor
por meio de operações quase sempre ocultadas à fiscalização 22. Ao estabelecer

23 Trata-se de uma função que é infinitamente elástica entre as abcissas 0 e a que se situa no ponto
22 Quando a fiscalização é eficiente, o produtor simplesmente passa a ofertar menos ou até mesmo deixa dee ofertar infinitesimalmente vizinho à esquerda de q*’, e perfeitamente inelástica em q*’. Os conceitos de elasticidade são
a totalidade do que ofertava antes da introdução da nova política. apresentados neste Capítulo.

41
Exemplo de aplicação 02.05.

O governo resolve tabelar o preço de determinada mercadoria. As funções de


demanda e oferta são, respectivamente, q=240-4p e q=20+p e o preço máximo
que o governo admite para essa mercadoria é de 30 u.m. Determine as condições
de equilíbrio antes e depois da imposição do referido preço máximo, e calcule o
ágio que os consumidores estariam dispostos a pagar.

Solução

O equilíbrio inicial é dado por qd=qs, donde 240-4p=20+p, donde pE=44 e


q*=20+44, donde q*=64. Com a introdução da política de preço máximo, a oferta
se limita a determinado nível, indicado por q*’, que é obtido entrando-se com o
03.04. Política de preço mínimo
pmáx na função de oferta, ou seja: q*’=20+pmáx, donde q*’=20+30, donde q*’=50.
A política de preço mínimo, normalmente aplicada à oferta de produtos agrícolas,
A contração da oferta faz com que os consumidores se disponham a pagar mais
representa a garantia, dada pelo governo, de um preço adequado ao produtor,
do que o preço de equilíbrio inicial e o preço que os consumidores se disporão a
para que este se sinta estimulado a aumentar ou pelo menos manter seu nível de
pagar é obtido entrando-se com o valor de q*’na função de demanda. Daí:
produção.
50=240-4pd, donde pd=47,50. Portanto, o ágio que os consumidores se dispõem a
pagar é igual a pd-pmáx, isto é, igual a 47,50-30=17,50. A Figura 02.13 ilustra o Com a compra, o governo assegura estoques que vão sendo desovados conforme
comportamento desse mercado submetido à política de preço máximo. a demanda, fazendo desaparecer o problema da escassez de oferta durante a
entressafra. O gráfico da Figura 02.14 ilustra o mecanismo da política de preço
Fig. 02.13 – Aplicação do tabelamento de preço (política de preço máximo)
mínimo.

O gráfico da mencionada Figura 02.14 mostra que o gasto total do governo é


representado pelo retângulo FCq*’G, o excedente do consumidor se reduz da
área do triângulo AEpE para a área do triângulo AFpmín, enquanto que o
excedente do produtor se amplia da área do triângulo pEEB para a área do
triângulo pmínCB.

Não há como avaliar-se, pelo menos aprioristicamente, o peso morto, uma vez
que o escoamento dos estoques formados se dá em prazos imprevisíveis, às
vezes superando alguns anos e obedecendo a uma política de preços que pode

42
não ser mais a mesma do ano em que o preço mínimo houver sido estimule o produtor a produzi-lo e ajude o consumidor a comprá-lo na entre safra.
implementado. As funções de demanda e oferta desse produto são, respectivamente, q d=66.200-
400p e qs=-1.000+200p. O preço mínimo que o governo quer assegurar ao
O agente financeiro da política de preço mínimo é o Banco do Brasil por meio de
produtor é pmín=120. Determine as condições de equilíbrio antes e depois da
sua carteira agrícola. Os estoques são armazenados em silos de manutenção
aplicação da política de preço mínimo bem como o gasto total do governo
relativamente onerosa, de propriedade da Companhia Nacional de
Abastecimento, vinculada ao Ministério da Agricultura. Solução

As condições do equilíbrio inicial são obtidas a partir de q d=qs, donde 66.200-


400p=-1.000+200p, donde pE=112 e q*=21.400. Com a introdução de pmín=120,
surgirão duas quantidades de equilíbrio, a do consumidor e a do produtor,
determinadas por meio das expressões seguintes: qd’=66.200-(400x120) e qs’=-
Fig. 02. 14 – Efeitos da política de preço mínimo 1.000+(200x120), donde qd’=18.200 e qs’=23.000. E o gasto total do governo será
dado por GG=(qs’-qd’)xpmín=(23.000-18.200)x120, donde GG=576.000. A Figura
02.15 mostra em diagrama cartesiano o resultado da aplicação dessa política de
preço mínimo.

Fig. 02.15 – Aplicação da política de preços mínimos

Exemplo de aplicação 02.06.

Um produto agrícola está sujeito a uma política de preço mínimo determinada


pelo governo que pretende assegurar um nível de preço que, ao mesmo tempo

43
03.05. Outros tipos de interferência do governo no equilíbrio de mercado funcionamento de sua estrutura orgânica. Na modelagem, considera-se que, para
iguais tipos de solicitação, pressão, ou demandas de mercado, todas as firmas
Além das interferências do governo sobre o equilíbrio de mercados acima
reagem de modo igual, na forma da firma representativa (firma típica), embora,
apresentadas, há outras formas de intervenção governamental nos mercados.
na prática, sistemas organizacionais complexos possam responder de maneiras
Destacam-se, entre essas outras, as políticas de quotas de importação e as
diferentes a um mesmo tipo de pressão. Esses sistemas complexos ― em geral
políticas de racionamento. As primeiras objetivam a proteção do produtor
firmas grandes ― são comumente encontrados em mercados imperfeitos como o
doméstico, restringindo a entrada de produtos estrangeiros no país e, com isto,
oligopólio e o monopólio, por exemplo, também abordados neste capítulo. Em
reduzindo a dificuldade dos produtores internos em razão de um regime
outras palavras, o conceito de firma típica adotado em microeconomia traduz a
competitivo menos acirrado. Recentemente (março de 2012), o governo
concepção de uma firma que reflita a média do comportamento de todas as
brasileiro estabeleceu uma política de quotas para a entrada de automóveis
firmas do conjunto. Traduz, em outras palavras, a substituição das “n” diferentes
mexicanos no país.
firmas de um mercado por “n” firmas típicas que, ao atuarem, estariam
O racionamento, de sua vez, é aplicado em situações muito específicas quando a reproduzindo e o resultado do comportamento do mercado tal como ele é. É
solução do problema de escassez de determinado bem ou serviço essencial como se todas as firmas de um mercado pudessem ser consideradas invólucros
torna-se difícil. É comum ocorrer em situações de conflitos entre países quando com o mesmo conteúdo, o que manteria a homogeneidade de comportamento
os esforços são dirigidos para as frentes de luta e determinados bens são raros no entre elas.
país, apesar de serem básicos.
A Teoria da Firma é decomposta no estudo da produção (Teoria da Produção) e
04. Teoria da Firma dos custos (Teoria dos Custos) à mesma associados, e na Teoria dos Rendimentos
Entre as diversas definições que podem ser dadas para a firma, uma das mais e Lucros. A conduta racional da firma resume-se praticamente à perseguição da
simples é a que a considera como uma unidade técnica que produz bens e/ou maximização de seu lucro, única forma de crescimento e sobrevivência perenes.
serviços para vendê-los auferindo lucro. Na Análise Microeconômica, o estudo da Sendo assim, no processo de estudo de equilíbrio de um mercado, qualquer que
firma está voltado para a sua produção, aqui tomada no sentido quantitativo do seja a modalidade deste, o ponto de partida para a análise da conduta da firma é
que é produzido, a sua receita, seu lucro e o preço praticado na venda de cada o da busca permanente da maximização do lucro. Ora, como o lucro resulta da
produto ou serviço que ela produz. subtração do custo da receita, ou seja, Lucro=RT-CT, então todo o esforço da
firma é orientado para aumentar a parcela RT e para reduzir CT, simultaneamente.
Na abordagem preliminar dos problemas microeconômicos é comum considerar-
se o caso geral da firma em mercado de concorrência perfeita, noção de mercado
que será mais detidamente estudada adiante neste capítulo. Na concorrência 04.01. Produção e custos
perfeita, a forma de organização interna da firma não tem relevância para a
O estudo da Teoria da Produção e Custos busca estabelecer as relações existentes
teoria dos preços. Nesse caso, a firma é considerada como uma unidade de ação
entre estes dois aspectos do processo de elaboração dos bens e serviços no curso
que tem um comportamento racional, em nada importando a complexidade do

44
da conduta otimizadora da firma. Considerando que a conduta otimizadora da cujos produtos são fabricados em conexão uns com os outros em razão de
firma corresponde à maximização do lucro, então, como já referido, todo o requisitos técnicos que impõem esta conexão.
esforço é canalizado para dar racionalidade ao processo produtivo buscando-se
Como exemplo de produção simples, tem-se a fabricação de cimento, na qual
incessantemente minimizar o custo. Esse comportamento reflete a relação que
utilizam-se diversos fatores de produção como o calcário, a argila e o calor para
existe entre produção e custo.
calciná-los até a fusão absoluta. Para ilustrar a produção múltipla independente,
Neste estudo, o primeiro conceito a fixar é o da função de produção, uma pode-se considerar um produtor do setor químico que fabrique, por exemplo,
expressão algébrica que relaciona a quantidade produzida de um determinado fertilizantes e detergentes. Esses dois processos, além de inteiramente distintos,
bem ou serviço com as quantidades dos fatores de produção que entram no não fazem uso, pelo menos de modo acentuadamente marcado, de fatores
processo produtivo, isto é, q=f(x1,x2,...,xn). específicos comuns ou de uma mesma lógica de processo. A produção múltipla
comum pode ser exemplificada com fábricas de artefatos de couro que, fazendo
Se, por exemplo, um litro de um refrigerante é preparado com determinadas
uso de vários fatores de produção, alguns comuns como é o caso do couro,
quantidades de água e mais a essência que dá o sabor à bebida, o açúcar, o gás
produzem produtos distintos como bolsas, sapatos, cintos e outros mais.
carbônico, além da energia e mão de obra, a função de produção deverá
conseguir exprimir a relação que existe entre o mencionado litro do refrigerante Por fim, à guisa de exemplo de produção múltipla conjunta, pode-se considerar
e a quantidade de cada um desses insumos. uma aglomeração industrial que fabrique itens de uma mesma família de
produtos, mas que não necessariamente se esteja tirando proveito do uso de
Quanto ao processo de produção para efeito de análise econômica, distinguem-
uma mesma matéria prima, ou produzindo produtos para um mesmo fim. É o
se dois tipos principais: a produção simples e a produção múltipla. Na produção
caso de um um distrito ou pólo petroquímico que, pela imensa variedade de
simples, obtém-se um, e somente um, tipo de produto a partir da combinação de
produtos ― e de matérias primas também ― não pode ser caracterizado como
um ou mais fatores de produção24.
exemplo produção comum, mas conjunta, porque os processos se encontram
Na produção múltipla, produzir-se-ão sempre mais de um produto a partir da juntos apenas em razão de importantes conexões decorrentes requisitos técnicos
combinação de fatores. A produção múltipla pode se apresentar de três distintas da produção.
formas: (i) produção múltipla independente, da qual resultam produtos
A abordagem do processo produtivo pode ter, como horizonte temporal, tanto o
inteiramente independentes, e que são fabricados em plantas separadas; (ii)
curto quanto o longo prazo. Ambos os horizontes agasalham o significado de
produção múltipla comum, cujos produtos resultantes utilizam, em seus
cada uma das grandezas mais notáveis da Teoria da Produção, cujos conceitos
processos produtivos, alguns fatores comuns; e (iii) produção múltipla conjunta,
são resumidos nesta seção.

04.01.01. Produto total de um fator variável


24 Os fatores podem ser de mesma natureza ou de distintas naturezas, ou seja, o produto único pode resultar, por
exemplo, da combinação de duas matérias primas distintas, ou então de uma matéria prima e certo tipo de mão É a quantidade de produto que se obtém da utilização de um fator, dito variável,
de obra, ou ainda de dois diferentes tipos de mão de obra ou de combinação de quaisquer outros fatores de
produção.
mantendo-se fixas as quantidades dos demais fatores. Suponha-se o caso de um

45
alimento qualquer, o iogurte por exemplo. Se se quiser avaliar a produção total 04.01.03. Produto marginal de um fator variável
de iogurte em relação ao fator de produção leite, tomado, para efeito desta
É a razão entre as variações do produto total e as variações da quantidade
análise, como fator variável, mantidas fixas as quantidades da essência que dá o
utilizada do fator produtivo variável. Ainda no mesmo exemplo do alimento
sabor ao iogurte, do açúcar e dos demais fatores que entram na produção desse
comentado na subseção anterior, a cada variação unitária do volume de leite
alimento, então, ao fazer-se variar o volume de leite, o produto total variará
corresponderá uma variação da quantidade do iogurte. É à relação entre uma e
quantitativamente e, portanto, o produto total do fator variável leite, neste caso,
outra quantidades que se dá o nome de produto marginal do iogurte em relação
será a quantidade de iogurte que se conseguir produzir a cada volume de leite
ao fator leite. Em notação diferencial, o produto marginal do fator 1 é dado por:
utilizado na produção.
PMG1=dq/dx1
É claro que se houver exagero na quantidade de leite mantidas as quantidades
dos demais ingredientes, o iogurte se tornará excessivamente líquido ou mesmo Onde:
ralo. O comentário acima, na prática, limita-se às quantidades mínima e máxima PMG1 é o produto marginal do fator variável 1 (produto marginal do leite, no caso
do fator variável tais que o produto não perca as características para receber considerado);
aceitação pelo mercado. São os limites dados pela engenharia de produção ― no
caso, engenharia de produção de alimentos ― e normalmente fiscalizados por dq é a variação no nível do produto total provocada pela variação unitária do
uma agência reguladora. fator variável 1; e

04.01.02. Produto médio de um fator variável dx1 é a variação unitária do fator variável 1 (leite) que provoca uma variação no
produto total.
Também denominado produtividade média do fator variável, é a razão entre a
quantidade total produzida de um dado produto e a quantidade utilizada do fator
considerado. No caso do exemplo anteriormente mencionado, a produtividade 04.01.04. Síntese da análise no curto prazo
média do fator leite na fabricação do iogurte será dada em unidades do produto
O objeto da presente seção é o estudo do processo produtivo no qual uma das
por volume unitário de leite, isto é:
duas variáveis seja fixada em determinado nível, e a outra tenha liberdade para
PME1=q/x1, variar. A representação gráfica geral é a apresentada na Figura 02.16, a qual faz
Onde: uso de dois diagramas cartesianos interconectados verticalmente, ambos
relacionando o insumo variável x1 com distintos conceitos de produto. O
PME1 é o produto médio do fator variável 1 (produto médio do leite, no caso diagrama superior relaciona esse insumo variável com o produto total q. E o
considerado); diagrama inferior relaciona o mesmo insumo variável com os níveis de produto
q é o produto total; e médio e marginal. O insumo x2 mantém-se invariável e não figura em nenhum

x1 é a quantidade do fator variável 1 (leite).

46
dos dois diagramas. O conjunto dos dois diagramas reflete a lei dos rendimentos
decrescentes. Fig. 02.16 – Produção no curto prazo

Segundo a lei dos rendimentos decrescentes, o aumento da quantidade de um


fator variável mantidas constantes as quantidades dos fatores fixos faz com que o
produto total cresça, inicialmente a taxas crescentes, para, depois de
determinado nível de crescimento do fator variável, continuar crescendo a taxas
decrescentes; uma vez que o fator variável ainda continui a crescer mantidos
constantes os fatores fixos, o produto total começa a diminuir.

Os dois diagramas da referida Figura 02.16, de correspondência vertical,


mostram os pontos extremos (de máximo) dos produtos total, médio e marginal,
e apresentam os três estágios de produção no curto prazo (diagrama superior).

O Estágio I se estende, sobre o eixo que mede a quantidade do insumo variável,


desde o nível mínimo de produção (teoricamente q=0) até o ponto em que o
produto médio é máximo. O Estágio II é o intervalo compreendido sobre o
mesmo eixo das abcissas entre o nível de produto correspondente ao produto
médio máximo e o produto total máximo. E o Estágio III, também referido ao eixo
das abcissas, parte do ponto correspondente ao produto total máximo e segue
para a direita até o final do domínio da função.

No Estágio I, o produto cresce a taxas crescentes até que a produtividade


marginal alcance seu ponto de máximo, observado no diagrama inferior e
correspondente à inflexão da curva ascendente do produto total. A taxa de Por paradoxal que pareça é quando os rendimentos são decrescentes que a firma
crescimento daí em diante é decrescente até que o produto marginal (diagrama está se aproximando dos limites máximos de utilização dos fatores produtivos,
inferior) seja igual a zero, o que corresponde ao produto total máximo (diagrama elaborando, em consequência, mais eficientemente. A firma concorrencial
superior). eficiente opera, pois, com rendimentos decrescentes. Caso o preço do fator fixo
seja relativamente baixo quando comparado ao preço do fator variável, a firma
A firma, ao agir racionalmente, situa seu nível de produção no Estágio II porque
ancorará seu nível de produção nas proximidades dos limites entre os Estágios I e
explora sua capacidade ao extremo, até o limite em que os rendimentos
II. Em caso contrário, o empresário elevará sua produção para níveis que estejam
comecem a declinar.
mais próximos do produto máximo.

47
Exemplo de aplicação 02.07 O limite à direita do Estágio III não está representado no gráfico acima por
desimportante pois as firmas não operam neste estágio.
Uma firma usa capital e trabalho sendo que, no curto prazo, o fator capital é fixo.
A sua função de produção de curto prazo é q=-0,8x13+20x12+200x1. Calcule os 04.01.05. Síntese da análise no longo prazo: conceito de isoquantas
intervalos de valores de x1 correspondentes aos estágios I, II e III da produção. No longo prazo, ambos os insumos, x1 e x2, variam. A análise bidimensional como
Solução se fez no curto prazo agora recorre ao conceito das isoquantas que são curvas de
nível que representam os diferentes níveis de produto. A Figura 02.18 apresenta
O limite à direita do Est I corresponde a PME1=PME1máx  d(PME1)/dq=0  [d(- um mapa de isoquantas.
0,8X12+ 20X1+200)]/dq=0  -1,6x1+20=0  x1=12,50; Limite à dir. do Est. II: PMG=0
 -2,4x12+40x1+200=0  x1=20,69: Limite à dir. do Est. III: Pme=0  - Isoquantas ou curvas de isoproduto são curvas que, representando cada uma um
0,8x12+20x1+200=0 x1=32,65. O gráfico da Figura 02.17 elucida o significado nível invariável de produto, estabelecem as possíveis proporções com que dois
desses valores extremos dos intervalos. insumos entram no processo produtivo do qual resulta este nível de produto.
Fig. 02.17 – Produtos total, médio e marginal Considerando-se apenas dois insumos, a função de produção pode ser expressa
do modo seguinte:

q=f(x1,x2)

Cada isoquanta, como já mencionado, além de corresponder a um nível


invariável de produto em todos os seus pontos, é negativamente inclinada, semi-
côncava (o que reflete a convexidade em relação à origem do sistema de eixos), e
nunca intercepta outra isoquanta em razão de sua própria definição.
Fig. 02.18 – Isoquantas

48
A inclinação em cada ponto de uma isoquanta corresponde à Taxa Marginal de Fig. 02.19 – Casos particulares de isoquantas
Substituição Técnica – TMST. Para estabelecer-se a expressão da TMST, iguala-se
a zero a diferencial total de q e explicita-se o resultado em relação a (-dx2/dx1).

De dq=0, tem-se

(∂q/∂x1)dx1+(∂q/∂x2)dx2=0,

Donde

-(dx2/dx1)= (∂q/∂x1)/(∂q/∂x2)

Ou seja:

TMST=-(dx2/dx1)=Pmg1/Pmg2 A combinação dos insumos em proporções fixas pode ser qualquer, isto é, haverá
exemplos em que uma unidade do insumo x 1 se combina com duas de x2, ou
Conforme se percebe, a TMST mede a taxa de troca de uma quantidade de quaisquer outras proporções. O painel à direita da Figura 02.17 representa um
insumo por quantidade do outro insumo sem que o nível de produto se altere. Há caso geral e não necessariamente o caso do abajour, dado que a reta que une os
alguns casos particulares de isoquantas, dois dos quais são apresentados nos vértices das isoquantas não forma um ângulo de 45 o com os eixos coordenados,
diagramas da Figura 02.19. ou seja, não reflete a combinação de uma unidade do insumo x 1 para cada
A isoquanta do diagrama à esquerda reflete as características de um processo unidade do insumo x2 como sucede no exemplo do abajour.
produtivo no qual os insumos são substitutos perfeitos, enquanto que a 04.01.06. Restrição orçamentária e a otimização do processo produtivo no
isoquanta à direita corresponde a um processo no qual as proporções entre os longo prazo
insumos são fixas.
O orçamento da firma pode ser decomposto em parcelas que representam
O fabrico de arame constitui exemplo do primeiro caso pois entram no processo produtos do preço unitário de cada insumo utilizado pela quantidade que é
produtivo o cobre e o alumínio em quaisquer proporções. Cobre e alumínio são utilizada de cada um destes insumos, isto é:
os insumos levados à análise e suas quantidades são representadas pelos eixos
coordenados. Como exemplo de isoquantas de proporções constantes, tem-se a M=∑pixi
produção de abajours. Onde:
Considerando que os dois insumos mais importantes sejam o soquete e a haste pi é o preço do insumo i; e
com base, a combinação destes para cada unidade produzida é fixa porque, para
xi é a quantidade do insumo i.
cada haste com base, há um, e somente um, soquete.

49
A representação gráfica da restrição orçamentária para uma firma que utilize dois Há dois tipos de problema a resolver com base nesses elementos. O primeiro é o
insumos resulta em uma reta negativamente inclinada cujo coeficiente angular é de determinar-se o produto máximo que pode ser produzido dado um orçamento
(-p1/p2) e que tangenciará uma isoquanta em um ponto cuja TMST é igual a limitado, e o segundo é o de determinar-se o custo mínimo pelo qual um dado
Pmg1/Pmg2=-dx2/dx1. O ponto de tangência implica a igualdade: nível de produto pode ser produzido. Os dois problemas de otimização podem
ser traduzidos em linguagem matemática do modo seguinte:
p1/p2=Pmg1/Pmg2
Problema Tipo 1:
Donde:
Maximizar a função de produção q=f(x1,x2)
Pmg1/p1=Pmg2/p2
Sujeita à restrição de M=Mo=p1x1+p2x2,

Onde:
A expressão acima corresponde ao equilíbrio entre a função de produção,
representada pela isoquanta, e a função de restrição orçamentária, representada q é o nível de produto cujo máximo será determinado;
pela reta M=p1x1+p2x2, conforme ilustra o gráfico da Figura 02.20.
xi são as quantidades dos insumos;
Fig. 02.20 – Equilíbrio entre função de produção e restrição M é o orçamento da firma em valor conhecido e fixo igual a Mo; e
orçamentária da firma
pi são os preços desses insumos.

Problema Tipo 2:

Minimizar o custo M=p1x1+p2x2

Sujeito à restrição de produção q=qo=f(x1,x2)

Onde:

M é o orçamento da firma, o qual pretende-se minimizar para um dado nível de


produto;

pi são os preços dos insumos;

xi são as quantidades desses insumos;

q é o nível de produto em um valor conhecido e fixo igual a qo;

50
Ambos os problemas podem ser solucionados pela expressão Pmg1/p1=Pmg2/p2 q=3x10,25x20,25 sujeita à restrição 12x1+8x28x2=552. Para tanto, parte-se da
formando um sistema de equações com a restrição orçamentária, ou podem ser expressão do lagrangeano seguinte:
solucionados por meio da otimização condicionada baseada nos multiplicadores
£=3x10,25x20,25+λ(552-12x1-8x2), donde se extraem as condições de primeira ordem:
indeterminados de Lagrange, como será mostrado na seção de exercícios
resolvidos. No já mencionado gráfico da Figura 02.12, se o problema enfrentado ∂£/∂x1=0,75x1-0,75x20,25-12λ=0
for o da maximização da produção, então a isoquanta representada é a mais ∂£/∂x2=0,75x10,25x2-0,75-8λ=0
distante da origem do sistema de eixos coordenados e que seja tangenciada pela
restrição orçamentária. De outro lado, se o problema em vista for o da ∂£/∂λ=552-12x1-8x2=0
minimização do custo, então a reta representativa da restrição orçamentária será Donde [(0,75x1-0,75x20,25)/12]=[(0,75x10,25x2-0,75)]/8, donde x2=(3x1/2), donde 552-12x1-
a mais próxima da origem do mesmo sistema de eixos coordenados e que seja 8(3x1/2)=0, donde x1=23, donde x2=34,50. E o produto máximo será
tangenciada por uma das infinitas isoquantas. Nesse segundo caso, a restrição qMÁX=3x230,25x34,500,25=15,90 u.f.
orçamentária corresponderá a um feixe de retas paralelas a uma direção dada.
Exemplo de aplicação 02.09 (Problema do tipo 2)
Exemplo de aplicação 02.08 (Problema do tipo 1)
Pretende-se produzir 120 unidades físicas (u.f.) de determinado produto cuja
A função de produção de uma firma que fabrica um só produto é q=3x 10,25x20,25. função de produção é q=x10,6x20,2. Os preços unitários dos insumos são p1=2 u.m. e
Sejam p1=12 e p2=8 os preços desses dois insumos. Determinar a combinação de p2=5 u.m.. Determinar o custo mínimo em que se pode incorrer. Determinar
quantidades dos dois insumos que maximizará o nível de produção, considerando também a quantidade a utilizar de cada insumo.
que o orçamento da firma para essa tarefa está limitado a 552 unidades
Solução
monetárias (u.m.). Determinar ainda o nível de produto máximo.
A condição de equilíbrio para obter-se o custo mínimo dada a quantidade que se
Solução
pretende produzir é PMG1/p1= PMG2/p2, donde 0,6x1-0,4x20,2/2=0,2x10,6x2-0,2, donde
A condição de equilíbrio é: PMG1/p1=PMG2/p2, donde (0,75x1- x2=0,4x1/3. Substituindo esse valor de x2 na expressão da função de produção
0,75 0,25 0,25 -0,75
x2 )/12=(0,75x1 x2 )/8, donde x2=(3x1/2), relação que é levada à função para a quantidade a produzir pretendida, tem-se: x10,6x20,6, donde
de restrição: 552-12x1-8(3x1/2)=0, donde x1=23, donde x2=34,50. O produto x10,6.(0,4x1/3)0,2=120, donde x1=923,08 e x2=0,4.(923,08/3), donde x2=678,40. E o
máximo será qMÁX=3x230,25x34,500,25=15,90 u.f. custo minimizado será M=p 1x1+ p2x2, donde M=(2x923,08)+(5x678,40), donde
Alternativamente, o problema pode ser solucionado por meio da análise da finalmente M=5238,16 u.m..
conduta de otimização de uma função condicionada a uma restrição. Tal solução Como exercício, o(a) aluno(a) deve resolver este problema pelo método do
se opera por meio dos multiplicadores indeterminados de Lagrange, como se multiplicador indeterminado de Lagrange.
segue. A formulação do problema corresponde a maximizar a função

51
04.01.07. Funções de custo já incluídas as obrigações sociais e trabalhistas, e 300 quilowatt-hora (kWh), a
0,20 u.m. por kWh.
Os problemas-tipo 1 e 2 da seção anterior demonstram que a teoria da produção
guarda uma estreita relação com a teoria dos custos. Do mesmo modo que Suponha-se também que essa produção seja realizada em um dia de trabalho e
ocorre com a primeira, a teoria dos custos também é analisada sob duas que o custo diário da administração da firma, seja de 20 u.m. por dia. Isto
perspectivas temporais: a de curto prazo e a de longo prazo. A diferença entre significa dizer que o custo indireto, ou fixo, dessa produção é igual a 20 u.m.
uma e outra abordagens está unicamente na possibilidade de, no longo prazo, diárias. Considerando que essa fábrica nada mais produza, e que, portanto, o
todos os fatores poderem variar, enquanto que, no curto prazo, um ou mais custo indireto em que incorre seja integralmente consagrado a administrar a
fatores remanescem fixos. Essas considerações levam a que as três dimensões mencionada produção, então o custo total do mencionado lote de 1000 unidades
dos custos, a total, a média ou unitária, e a marginal, possam ser avaliadas em terá o custo total de:
ambos os horizontes de prazo, o curto e o longo.
CT=(200x5)+(160x2)+(300x0,20)+20=1.400 u.m.
Uma função de custo representa o custo mínimo a que se pode chegar, para cada
A expressão imediatamente anterior, quando apresentada em forma genérica do
quantidade produzida, por meio da tecnologia correntemente utilizada em cada
tipo CT=f(pi,xI) e levada a um sistema de equações juntamente com a expressão
processo produtivo. Definem-se, nas subseções seguintes, os custos total, médio
do Caminho de Expansão da Firma (CEF) e com a restrição orçamentária, gera
e marginal.
como resultado a função de custo total da forma CT=g(q) onde CT é o custo total e
04.01.08. Custo total q é a quantidade produzida do bem ou serviço, isto é, o nível do produto.
Observa-se que esta conduta é a mesma do Problema 2 da subseção 5.1.6. O
É a mensuração em termos monetários de todos os esforços realizados pela firma
Exemplo de Aplicação 02.10 ilustra essa transformação.
para concretizar a produção. É, pois, a somatória de todos os gastos despendidos
com os fatores de produção utilizados para a realização de um determinado nível Exemplo de Aplicação 02.10
de produção. Conforme se percebe, o custo total depende das quantidades e dos
A função de produção de uma firma é q=x11/6x21/6 e sua restrição orçamentária é
preços dos fatores produtivos utilizados na elaboração de um produto ou serviço.
CT=2x1+4x2+10. Determinar a função de custo total de curto prazo dessa firma.
As quantidades são dadas por meio da função de produção, referida na
introdução desta seção (05.01), e os preços são aqueles pagos pela aquisição dos Solução
diversos fatores e insumos da produção. A condição de equilíbrio é dada por (PMG1/p1)= (PMG2/p2), donde [x21/6/(12x15/6)]=[
Admita-se por exemplo que determinado produto seja fabricado utilizando-se x21/6/(24x25/6], donde x2=0,5x1, expressão do Caminho de Expansão da Firma
apenas três fatores, material, mão de obra e energia. Seja esse produto um (CEF). Entrando-se com o resultado do CEF na restrição orçamentária, obtém-se
artefato de couro qualquer, sapato, cinto ou bolsa. Diga-se que a produção de CT=2x1+2x1+10, donde x1=(CT-10)/4. Daí, x2=(CT-8)/10, que pode ser reescrita sob
1.000 unidades tenha envolvido 200 quilos de couro, comprado a 5 unidades a forma x2=[(CT-8)/4](1/2). Substituindo essas expressões de x1 e x2 na função de
monetárias (u.m.) por quilo, 160 homens-hora (hh) a 2 u.m. por hora trabalhada,

52
produção, obtém-se: q=[(CT-10)/4]1/3(1/2)1/6, donde q3=0,222CT-22,20, donde Onde:
finalmente CT=4,5q3+100.
CME é o custo médio;
25
A função utilizada no Exemplo de Aplicação 02.10 é do tipo Cobb-Douglas . Caso
CT é o custo total; e
os expoentes iguais a que foram afetadas as variáveis x 1 e x2 fossem menores, o
grau do polinômio da função de custo total seria ainda maior. Por exemplo, se Q é a quantidade produzida, isto é, é o nível de produto.
esses expoentes fossem iguais a 1/10<1/6 mantidos os demais dados utilizados O custo médio não é sempre constante tampouco varia linearmente em todos os
no referido Exemplo de Aplicação, a função de custo total resultante seria de casos. Ao contrário, muitas funções de custo médio são do segundo grau em
quinto grau. função dos intervalos de produção, os quais comportam trechos onde está
De outro lado, se os referidos expoentes fossem iguais a 1/5>1/6 mantidos os presente a economia de escala bem como trechos em que há deseconomias de
demais dados do problema, o polinómio da função de custo total de curto prazo escala. Com efeito, da expressão geral do custo total apresentada na sub-seção
seria de grau 2,5. Para os casos correntes de processos produtivos cuja função (4.1.8), tem-se:
utilizada seja do tipo Cobb-Douglas, a função de custo total de curto prazo ´-e da CME=(1/q)CT,
forma:
Donde:
CT=aq3-bq2+cq+d,
CME=aq2-bq+c+(d/q)
que reflete o custo total de curto prazo. No longo prazo, tem-se o mesmo tipo de
expressão geral, porém com d=0, dado que d representa o custo fixo conforme No caso acima, está-se tratando do custo médio de curto prazo. Caso se tratasse
será comentado neste texto. do longo prazo, a expressão não conteria a parcela d/q.

04.01.09. Custo médio 04.01.10 Custo marginal

O custo médio é o resultado do custo total dividido pela quantidade produzida do O custo marginal é a variação que o custo total de produção experimenta quando
produto. É o custo da unidade produzida e, por isso, também é denominado esta mesma produção varia de uma unidade. Imagine-se que a produção do
custo unitário do produto, bem, mercadoria ou serviço. No exemplo utilizado artefato de couro tomado como exemplo aumente em uma unidade para mais,
para o cálculo do custo total, o custo médio será C ME=1.400/1.000, donde ou seja, seja aumentada para 1.001.
CME=1,40 u.m. por unidade fabricada do produto. 1,40 u.m. é, portanto, o custo Considerando que os preços dos insumos não se alterem com o pequeno
da unidade produzida. A expressão geral do custo médio é dada por: acréscimo nas quantidades compradas dos fatores, então o custo total da
CME=CT/q, produção aumentará para:

CT=(200,20x5)+(160,16x2)+(300,30x0,20)+20=1.401,38 u.m.
25 Os principais tipos de funções de produção são apresentados ao longo do texto.

53
Ao deduzir-se o novo custo total do anterior, tem-se o custo marginal nesse nível porque também são referidos como custos diretos. No exemplo dado, são os
de produção, ou seja: custos incorridos com o couro, a mão de obra, a energia e demais insumos, os
quais aumentam com o aumento da produção e diminuem com a redução desta.
CMG=1.401,38-1.400,00, donde CMG=1,38
Da expressão geral do custo total CT=aq3-bq2+cq+d, têm-se:
É importante que se observe que o custo marginal ao nível de produção de 1.000
unidades produzidas não é necessariamente o mesmo em outros níveis de Cf=d; Cv= aq3-bq2+cq; CFME=d/q; e Cvme= aq2-bq+c
produção. Se esse mesmo cálculo for feito para uma produção de, por exemplo,
Onde Cf é o custo fixo; Cv é o custo variável; CFME é o custo fixo médio; e CVME é
2.000 unidades do produto, variações em um ou mais coeficientes técnicos, além
o custo variável médio.
de variações nos preços desses fatores poderão ocorrer e os novos custos totais
(para 2.000 e para 2.001 unidades físicas produzidas) já não mais guardarão 04.01.12. Curvas de custo no curto e no longo prazos
proporcionalidade com a variação calculada entre 1.000 e 1.001 unidades do As curvas de custo total representam as funções que são geradas a partir de uma
cálculo apresentado. conduta de otimização visando à minimização de custos. Essa conduta de
Isso significa afirmar que a função de custo marginal não tem necessariamente otimização, já referida anteriormente, parte de uma função objetivo de custo em
um comportamento linear, e os custos marginais variam ao longo dos diversos função das quantidades e preços dos fatores produtivos (insumos), a qual é
níveis de produção. Em alguns casos, entretanto, a função de custo marginal minimizada sujeita à restrição tecnológica que é dada pela função de produção.
poderá ser de primeiro grau. Os quatro diagramas da Figura 02.21 guardam correspondência vertical dois a
Uma propriedade do custo marginal é a de interceptar o custo médio no ponto dois. Os dois paineis superiores apresentam curvas de custo total, sendo que o da
de mínimo deste. Essa propriedade é demonstrada por meio da pesquisa de esquerda refere-se ao curto prazo e, o da direita, ao longo prazo. Os dois
ponto extremo da função de custo médio, a qual comprova que, neste extremo, diagramas inferiores apresentam os custos médios e marginais e guardam
que é de mínimo, ocorre a interseção das duas curvas. Na seção de exercícios é correspondência com os superiores. No caso do diagrama inferior da esquerda, a
apresentada essa demonstração. curva de custo fixo médio está representada apenas para tornar completo o
conjunto de curvas. Em outras oportunidades de utilização desse diagrama de
04.01.11. Custos fixos e variáveis
custo de curto prazo a representação do custo fixo médio será desprezada por
Os custos fixos são aqueles que não se alteram com a variação do nível de desimportante para fins de análise na imensa maioria dos casos.
produção. São também referidos por custos indiretos. No exemplo dado
A curva de custo médio de longo prazo (diagrama inferior à direita) é a envoltória
relativamente aos custos dos artefatos de couro (seção 05.01.08), o custo fixo de
das infinitas curvas de custo médio de curto prazo e indicativa de que a planta de
20 u.m. é o mesmo para qualquer quantidade produzida.
tamanho ideal é que minimiza o Cmelp.
Os custos variáveis, contrariamente, são aqueles que variam com a variação da
produção. São os custos dos fatores utilizados diretamente na produção, daí

54
gráfica do CME, deve-se pesquisar seu ponto de mínimo mediante a condição de
Fig. 02.21 – Curvas de custos médios e marginais primeira ordem dCME/dq=0, donde [3-(1/q2)]=0, donde q=(1/3)1/2=0,58. Além
disso, observa-se que essa curva é assintótica em relação ao eixo dos preços e
custos e que para q=1 tem-se que CME=6 e para q=2, tem-se CME=8,5. Com esses
pares de coordenadas, pode-se traçar a curva de CME, mostrada na Figura 02.22.
Para traçar a curva representativa do custo marginal, atenta-se para o fato de que
se trata de uma reta que intercepta o eixo dos preços e custos no ponto em que,
no caso do presente exemplo, CMG=2, substituindo-se, para tanto, na expressão
CMG=6q+2, a variável “q” por q=0. Conhecendo-se um outro ponto qualquer
dessa reta, é possível traçá-la. Seja, por exemplo, o ponto para o qual q=1, que
corresponde a CMG=8. Assim, com os dois pares de pontos (0;2) e (1;8), pode-se
traçar a reta ilustrada pela mesma Figura 02.22.
Quanto ao nível de produção para o qual a firma fica indiferente entre continuar
operando ou encerrar atividades, este corresponde ao custo variável médio
mínimo, a ser determinado como se segue: CV=CT-CF, donde CV=3q2+2q+1-1,
donde CV=3q2+2q e CVME=(1/q)CV=3q+2.
Figura 02.22 – Custos médio, marginal e fixo

Esse custo mínimo é simultaneamente igual ao custo médio de curto prazo, ao


custo marginal de curto prazo e ao custo marginal de longo prazo.

Exemplo de aplicação 02.11

A função de custo total de uma firma que produz um único produto é dada por
CT=3q2+2q+1. Representar graficamente os custos médio e marginal e determinar
o nível de produção correspondente ao custo variável médio mínimo. Qual o nível
de produção para o qual a firma fica indiferente entre continuar operando ou
encerrar atividades?

Solução

As curvas a serem representadas graficamente correspondem às seguintes


funções: CME=(1/q)CT=3q+2+(1/q) e CMG=dCT/dq=6q+2. Para a representação

55
Seu ponto de mínimo no espaço economicamente válido coincide com o custo Fig. 02.23 – Lucro no curto prazo
marginal, daí: 6q+2=3q+2, donde q=0, correspondente ao preço p=2. Então,
qualquer nível de produção q>0 atrairá o interesse dessa firma desde que de
acordo com a função de CMG que é a função de oferta, ou seja: p=CMG=6q+2. A
curva de custo variável médio, linear, também é esboçada na Figura 02.22.
05. Rendimentos e Lucros

Os rendimentos são as receitas pela venda dos bens produzidos. Correspondem a


uma compensação ao produtor pelo esforço empreendido na sua produção e
distribuição, ensejando a formação dos lucros que são, em essência, o fator de
motivação e atração para o empreendedor.

Do mesmo modo como estudado em relação aos custos, têm-se os rendimentos


total, médio e marginal, conforme apresentado nesta seção. Antes, porém,
analisa-se a questão da lucratividade máxima em relação aos níveis de utilização
dos insumos produtivos.

05.01. Maximização do lucro e utilização dos insumos

A maximização do lucro ocorre quando a inclinação da curva do produto total se


iguala à inclinação da reta representativa do custo total. Essa assertiva pode ser A condição de primeira ordem para um máximo é [dq(x1)/dx1]-{[(p1x1)+CF]/p}=0,
verificada por meio do diagrama da Figura 02.23, que apresenta a relação entre donde dq(x1)/dx1]=p1/p, isto é a inclinação da curva do produto total (membro
receita, custo e lucro no curto prazo. esquerdo da equação) é igual à inclinação da reta representativa do custo total. A
razão (p1/p) é o coeficiente angular dessa reta.

05.02. Rendimentos em função dos níveis de produção

Conforme já referido na introdução desta seção, procede-se ao estudo dos


rendimentos explicitando-os em relação ao nível de produção da firma. Nesse
contexto, surgem os conceitos de rendimento total, médio e marginal.

56
05.03. Rendimento total oportuno antecipar que o preço unitário pode ou não ser constante. No estudo
dos mercados, objeto do presente capítulo, ver-se-á que o preço unitário
O rendimento total é, em qualquer caso ou regime de mercado, o resultado da
somente se mantém constante em mercados de concorrência perfeita. Nos
multiplicação da quantidade vendida 26 de um dado produto pelo do preço desse
mercados imperfeitos, p=f(q), ou seja, o preço unitário variará consoante a
produto, ou seja:
quantidade transacionada.
RT=p.q
05.05. Rendimento marginal
Se uma firma fabricar e vender mais de um produto, o seu rendimento total será
O rendimento marginal, ou receita marginal é o acréscimo da receita total em
a somatória dos produtos dos diversos itens que forem fabricados e vendidos.
decorrência de um acréscimo unitário da quantidade vendida de um bem ou
Seja o exemplo de uma firma que produza os bens “A” e “B” , cujos preços
serviço. Em linguagem matemática, RMG=∆RT/∆q, sendo o numerador a variação
unitários sejam respectivamente “pa” e “pb”, e cujas quantidades vendidas sejam
da receita e o denominador a variação unitária da quantidade vendida.
“qa” e “qb”. O rendimento total dessa firma será dado por:
Em notação matemática contínua, o rendimento marginal corresponde à variação
RT=(pa.qa)+(pb.qb)
infinitesimal da receita total em decorrência da variação infinitesimal da
Na produção simples, objeto do presente Curso, analisa-se apenas um bem e/ou quantidade vendida, o que equivale à definição da derivada da receita em relação
serviço elaborado a partir de um ou mais insumos, de modo que a receita total à quantidade vendida, ou seja: RMG=dRT/dq.
de mais de um item deixa de ser considerada nas análises que se seguem.
05.06. Lucro

O lucro, definido como diferença entre rendimento e custo, constitui o objetivo


05.04. Rendimento médio primordial da firma. Na sua conduta de otimização, o empresário busca
O rendimento médio auferido com a venda de um produto, também referido maximizar o lucro, racionalizando os custos e esforçando-se para maximizar as
como rendimento unitário, ou ainda receita média ou receita unitária será o receitas ou rendimentos.
resultado da divisão do rendimento total pela quantidade do produto vendido, A maneira como cada fator de produção é empregado no processo produtivo é
isto é: importante como elemento que contribui para a lucratividade da firma. Quanto a
RME=RT/q. esse aspecto, afirma-se, sem entretanto demonstrar-se, que o lucro máximo de
uma firma impõe, como condição necessária para ser concretizado, que o valor
Ora, como RT=p.q, resulta que RME=p.q/q, ou seja RME=p. Isso significa afirmar do produto marginal seja igual ao preço.
que o rendimento médio é o mesmo que o preço unitário do produto. Mas é

26 Considera-se que a quantidade vendida seja a mesma que é produzida, isto é, é igual ao nível de produção
(abstração do modelo).

57
05.07. Curvas de rendimento A representação gráfica das três funções de rendimento é mostrada na Figura
02.24. A curva de receita média também é chamada de curva de preços ou curva
Para a determinação das curvas de rendimento, parte-se da função de demanda.
de demanda.
O estudo da gênese da função de demanda será apresentado na seção da Teoria
do Consumidor. Nesta altura, utilizar-se-á um formato simples de função de No estudo da teoria do consumidor, verrificar-se-á que essa curva corresponde à
demanda que é a demanda linear do tipo: demanda ordinária ou marshalliana, que se distingue da demanda compensada
ou hicksiana, importante recurso para a análise do comportamento e da
p=a-bq
avaliação do estado de bem estar do consumidor.
Onde: Fig. 02.24 – Curvas de rendimento

p é o preço do bem ou serviço objeto da demanda;

a e b são os coeficientes da equação reduzida da reta; e

q é a quantidade transacionada do bem ou serviço.

Multiplicando-se ambos os termos da equação linear que representa a demanda


por q, obtém-se a função de receita total, isto é:

pq=RT=aq-bq2

Conhecida a expressão da receita total, calculam-se as receitas média e marginal,


do modo seguinte: Para o interesse do presente Curso, não é relevante ter em conta a existência
desses dois tipos de demanda pois o trabalho é inteiramente desenvolvido com
Rme=(1/q)RT
base nas curvas de demanda ordinária por ser o mais comum no cálculo
Donde: econômico corrente.
Rme=a-bq Exemplo de aplicação no 02.12
A receita marginal será: A função de demanda por determinado bem é a. Determinar as funções de
Rmg=(d/dq)RT receita total e receita marginal. Calcular a receita total máxima e a receita
média correspondente.
Donde:

Rmg=a-2bq

58
Solução Considerando-se apenas dois bens ou serviços, x1 e x2, são essas quantidades que
produzem utilidade para o consumidor, isto é:
Partindo-se da função de demanda ou receita média, tem-se:
RT=p.q=120q-2q2. A ou rendimento marginal é a primeira derivada da U=f(x1,x2)
receita total, isto é, RMG=120-4q. Para obter-se a receita total, iguala-se a Além disso, define-se como utilidade marginal do bem ou serviço “i” à variação
receita marginal a zero, encontrando-se a quantidade do produto que do nível de utilidade quando o bem ou serviço “i” varia infinitesimalmente. Nesse
gera receita máxima. Daí: 120-4q=0, donde q*=30 e a receita total será caso, a utilidade marginal do bem ou serviço “1” será igual a:
RT=(120x30)-(2x302), donde RT=1800 u.m.. A receita média UMG1=∂U/∂x1
correspondente à receita total máxima será p=120-(2x30), donde p=60
Na busca de uma definição satisfatória para a utilidade, alguns autores preferem
u.m.. Note-se que a receita média é o mesmo que preço (a curva de
afirmar que esta é a quantidade de determinado bem ou serviço que o
receita média é também referida como curva de preços). consumidor supõe, subjetivamente, necessitar para ter sua vontade satisfeita.
06.Síntese apertada da teoria do consumidor Note-se que, nessa definição, a utilidade está sendo tomada como a própria
quantidade do bem ou serviço que gera utilidade.
O título desta seção indica uma apreciação panorâmica e seletiva de aspectos da
Teoria do Consumidor que, minimamente, devem ser estudados para a É oportuno assinalar que qualquer que seja o enfoque para definir-se a utilidade
necessária compreensão das Noções de Microeconomia no campo de interesse de um bem ou serviço, estar-se-á manejando sempre com a ideia da adequação
dos estudantes de engenharia. do bem ou serviço à necessidade sentida pelo consumidor. No que se refere às
preocupações com a forma de se medir a utilidade, há duas distintas abordagens:
O estudo do comportamento do consumidor está relacionado com a teoria da
a cardinal, abandonada, e a ordinal, comentadas na seção imediatamente
demanda, importante função do mecanismo universal da formação de preços
seguinte.
que é a lei da oferta e da procura. Entende-se por consumidor um indivíduo ou
uma unidade de consumo, ou de gasto, podendo ser uma pessoa ou uma família 06.01. Abordagens Cardinal e Ordinal
que age racionalmente refletindo seus gostos e preferências e que é portadora Na abordagem cardinal, admite-se a possibilidade da mensuração quantitativa da
de um determinado orçamento cuja utilização depende de suas decisões de utilidade, para tanto atribuindo-se-lhe uma unidade de medida: a util (utiles, no
consumo. plural). A ideia, discutida pelos economistas neoclássicos da segunda metade do
O primeiro conceito a fixar no contexto da Teoria do Consumidor, também século XIX, era a de que o consumidor pudesse associar um número em utiles a
referida como Teoria da Preferência, é o de utilidade, pois o consumidor racional cada bem ou serviço de que necessitasse, e este número comandaria o seu
toma decisões econômicas de sorte maximizar sua utilidade ou satisfação. processo de decisão. A racionalidade por trás da ideia era a de que o consumidor
Implícito resta, pois, que a utilidade é a satisfação que o consumidor percebe poderia fazer comparações entre os bens e a capacidade de os mesmos
preenchida pela obtenção e uso dos bens ou serviços que anseia possuir. satisfazerem suas respectivas necessidades e desejos. Se ao bem “x” estivessem

59
associadas 4 utiles e, ao bem “y”, 12, isto significava dizer que o consumidor O qualificativo de marginal é indicativo de que procurou-se medir a variação da
poderia trocar três unidades de “x” por uma só unidade de “y”. Em qualquer utilidade quando o consumo do bem variava unitariamente, ou seja, é como se se
hipótese, supõe-se que quanto maior for o consumo de determinado bem ou indagasse qual teria sido a variação da utilidade do consumidor a cada copo
serviço, maior será a utilidade que esse bem ou serviço propiciará ao d’água ingerido. Adicionalmente, considerando que, a cada unidade adicional
consumidor. A utilidade que a quantidade total consumida propiciar será dita, consumida (copo d’água), o consumidor tinha um acréscimo cada vez menor de
pois, utilidade total. utilidade, este fenômeno ensejou a qualificação complementar de decrescente. A
dificuldade prática de se estabelecerem proporções entre utilidades de bens e
O processo de satisfação da necessidade de um consumidor se opera
serviços distintos fez com que, pouco a pouco, a abordagem cardinal perdesse
gradualmente. Por exemplo, uma pessoa ao sentir-se sedenta, bebe água cuja
espaço em favor da abordagem ordinal até hoje utilizada no corpo da teoria
quantidade, se for medida em número de copos de determinado tamanho, trará,
neoclássica.
a cada um dos copos iniciais, níveis crescentes de utilidade total. Assim, a cada
copo d’água ingerido, há um aumento da utilidade total de que se beneficia o A abordagem ordinal nasceu da crítica que se fez à abordagem cardinal.
consumidor, utilidade total esta que reduz, em uma determinada medida, o Inúmeros pensadores27 que emitiram suas ideias entre final do século XIX e
referido estado de insatisfação inicial. Entretanto, a cada copo d’água adicional primeiras décadas do século XX, prepararam o terreno para que Hicks, em 1938,
bebido, o consumidor sente uma necessidade pouco a pouco menor de beber apresentasse uma sistematização completa a respeito da abordagem ordinal.
mais água. É possível que, se se associasse o número de 10 utiles ao primeiro
A base da abordagem ordinal foi substituir o critério de imposição de uma
copo d’água, então o segundo propiciaria ao consumidor um número de utiles
unidade de medida da utilidade de um bem ou serviço, algo subjetivo, por um
menor do que dez. Seja oito esse número de utiles do segundo copo; ao terceiro
outro critério de comparação. Nessa nova abordagem, em vez de atribuir-se um
copo seria atribuído um número ainda menor do que o do segundo, cinco, diga-
valor para a utilidade, observa-se apenas a ordem de preferência que o
se; e assim sucessivamente. Admitindo-se que o consumidor tenha saciado a
consumidor tem entre uma série de bens e serviços e, com o estabelecimento
sede com os três mencionados copos d’água, a sua utilidade total terá sido de 23
dessas preferências, ele hierarquiza a aplicação de sua renda, uma conduta
utiles, conforme ilustra o quadro da Figura 02.25. O fato de as quantidades de
essencialmente racional e que bem elucida a análise por meio de modelos. Uma
utilidade incorporadas terem sido cada vez menores é referido, no corpo da
forma de se representar essas preferências do consumidor são as curvas de
Teoria do Consumidor, como Lei da Utilidade Marginal Decrescente.
indiferença que, para a análise a duas variáveis, podem ser representadas com
Fig. 02.25 – Utilidade Marginal Decrescente
Consumo medido em copos Utilidade adicionada facilidade no espaço de duas dimensões. As curvas de indiferença são funções
d’água (util) das quantidades dos bens a respeito dos quais o consumidor revela a sua
Primeiro 10
Segundo 8
preferência.
Terceiro 5
06.02. Preferências e curvas de indiferença
Total 23

27 Entre outros Vilfredo Pareto, Slutsky e Edgeworth.

60
Admita-se que o consumidor avalie suas preferências entre dois bens quaisquer. utilidade, dados os bens e serviços a adquirir, seus respectivos preços, e os gostos
Sejam esses bens, por exemplo, o bem x1, sobre o qual se pretende elaborar a e preferências do próprio consumidor.
análise econômica, e a renda, M, gasta com todos os demais bens que ele Fig. 02.27 – Mapa de Indiferença
consome. A tabela da Figura 02.26 apresenta pares de valores para os quais os
níveis de satisfação do consumidor, ou seja, o nível de utilidade, seja constante.

Os dados do quadro da mencionada Figura 02.26 permitem esboçar-se o gráfico


da curva de indiferença, que é o lugar geométrico dos pares de quantidades dos
dois bens ou serviços que propiciam ao consumidor um mesmo nível de utilidade.
Fig. 02.26 – Preferências de um consumidor
entre dois bens
M (unid. monetária) x1 (unid. fís.)
5 10,0
4 12,5
3 16,6
2 25,00
1 50,00
As curvas de indiferença mostram que o consumidor pode admitir a substituição
de um bem por outro em termos de quantidade. De acordo com o quadro da
Suponha-se que a função de utilidade seja dada por U=x1.M. Nesse caso, o
retroreferida Figura 02.26, o consumidor que disponha de 5 unidades de M e 10
produto dos valores de cada par é igual a 50 que é o nível de utilidade da curva
unidades de x1, sentir-se-á igualmente satisfeito se trocar uma unidade de M por
Uo, da Figura 02.27. Ocorre que, nessa mesma Figura 02.27, estão representadas
2,5 unidades de x1, isto é, passando a ficar com 4 unidades de M e 12,5 unidades
outras curvas de indiferença (Uo, U1, ..., U4). Conforme se observa,
de x1. Esse conceito de substitubilidade induz ao conceito da Taxa Marginal de
U4>U3>U2>U1>Uo, isto é, quanto mais afastada da origem estiver a curva de
Substituição – TMS entre dois bens.
indiferença, tanto maior será o nível de utilidade que representa. E isso sucede
porque, quanto maior o nível de utilidade, tanto maiores serão as quantidades de 06.03. Taxa Marginal de Substituição
x1 e de M. Ao conjunto de várias curvas de indiferença dá-se o nome de mapa de O conceito da Taxa Marginal de Substituição – TMS é análogo ao da TMST,
indiferença, o qual contém infinitas curvas que não se interceptam, são abordado na seção (04.01.05). A diferença está no fato de que a TMST é aplicada
negativamente inclinadas e semi-côncavas. à função de produção, representada pelas isoquantas, enquanto que a TMS é
As curvas de indiferença são úteis para revelar as preferências do consumidor em aplicada à função de utilidade, representada pelas curvas de
relação ao conjunto de bens que vai adquirir fazendo uso de sua renda. Nesse indiferença.Conforme já mencionado, considerando-se apenas dois bens ou
processo de escolha dos bens e serviços a comprar, o consumidor racional serviços, a função de utilidade pode ser expressa do modo seguinte:
buscará otimizar a aplicação da renda, o que corresponde a maximizar a

61
U=f(x1,x2)

Cada curva de indiferença, além de corresponder a um nível invariável de As curvas de indiferença do diagrama à esquerda refletem as características de
utilidade, é negativamente inclinada, semi-côncava (o que reflete a convexidade dois bens ou serviços substitutos perfeitos, enquanto que as curvas de
em relação à origem do sistema de eixos cartesianoss), e nunca intercepta outra indiferença correspondem a dois bens ou serviços complementares, isto é, as
curva de indiferença em razão de sua própria definição. proporções entre as necessidades de um e de outro são fixas.

A inclinação em cada ponto de uma curva de indiferença corresponde à Taxa 06.04. Restrição orçamentária e a otimização da escolha do consumidor
Marginal de Substituição –TMS. Para estabelecer-se a expressão da TMS, iguala-
Considerando-se que a restrição orçamentária do consumidor seja totalmente
se a zero a diferencial total de U e explicita-se o resultado em relação a (-
gasta com os bens que este consome, pode-se escrever a expressão seguinte:
dx2/dx1).
De dU=0, tem-se M=∑pixi
(∂U/∂x1)dx1+(∂U/∂x2)dx2=0,
Onde:
Donde
-(dx2/dx1)= (∂U/∂x1)/(∂U/∂x2) pi é o preço do bem ou serviço i; e
Ou seja:
TMS=-(dx2/dx1)=Umg1/Umg2 xi é a quantidade do bem ou serviço i.

Um exame da expressão acima permite observar que a TMS mede a taxa de troca A representação gráfica da restrição orçamentária de um consumidor que utilize
de uma quantidade de um bem ou serviço por quantidade de outro bem ou apenas dois bens ou serviços resulta em uma reta negativamente inclinada cujo
serviço sem que o nível de utilidade se altere. Há alguns casos particulares de coeficiente angular é (-p1/p2) e que tangenciará uma curva de indiferença em um
curvas de indiferença, dois dos quais são apresentados nos diagramas da Figura ponto cuja TMS é igual a Umg1/Umg2=-dx2/dx1. O ponto de tangência implica a
02.28. igualdade:
Fig. 02.28 – Casos particulares de curvas de indiferença
p1/p2=Umg1/Umg2

Donde:

Umg1/p1=Umg2/p2

A expressão acima corresponde ao equilíbrio entre a utilidade, representada pela


curva de indiferença, e a função de restrição orçamentária, representada pela
reta M=p1x1+p2x2, conforme ilustra o gráfico da Figura 02.29.

62
U é o nível de utilidade cujo máximo será determinado;

Fig. 02.29 – Equilíbrio entre função de utilidade e restrição xi são as quantidades dos bens ou serviços;
orçamentária do consumidor
M é a renda do consumidor em valor conhecido e fixo igual a Mo; e

pi são os preços desses bens ou serviços.

Problema 2:

Minimizar o gasto do consumirdor M=p1x1+p2x2

Sujeito à restrição de sua função de utilidade U=Uo=f(x1,x2)

Onde:

M é gasto do consumidor, o qual pretende-se minimizar para um dado nível de


utilidade;

pi são os preços dos bens ou serviços;


06.05. Equilíbrio do Consumidor
xi são as quantidades desses bens ou serviços;
O equilíbrio do consumidor é alcançado quando este, agindo racionalmente,
atinge a máxima satisfação ou utilidade com um mínimo de sacrifício nos limites U é o nível de utilidade a ser alcançado em um valor conhecido e fixo igual a Uo;
de sua restrição orçamentária, a qual é dada por sua renda. Ambos os problemas podem ser solucionados pela expressão Pmg1/p1=Pmg2/p2
De modo a análogo a como precedeu-se na conduta otimizante da firma, o formando um sistema de equações com a restrição orçamentária, ou podem ser
equilíbrio do consumidor também é verificado mediante a pesquisa de dois tipos solucionados por meio da otimização condicionada baseada nos multiplicadores
de problema, o da maximização condicionada da utilidade e o da minimização indeterminados de Lagrange, a qual será adotada nos exemplos de aplicação
condicionada do gasto, como se apresenta a seguir: desta seção.

Problema 1: No já mencionado gráfico da Figura 02.29, se o problema a ser enfrentado for o


da maximização da produção, então a isoquanta representada é a mais distante
Maximizar a função de utilidade U=f(x1,x2) da origem do sistema de eixos coordenados e que seja tangenciada pela restrição
Sujeita à restrição orçamentária do consumidor M=Mo=p1x1+p2x2, orçamentária.

Onde: De outro lado, se o problema em vista for o da minimização do custo, então a


reta representativa da restrição orçamentária será a mais próxima da origem do

63
mesmo sistema de eixos coordenados e que seja tangenciada por uma das Como exercício, sugere-se que o(a) aluno (a) resolva o mesmo problema pelo
infinitas isoquantas. método do multiplicador indeterminado de Lagrange.

Exemplo de aplicação 02.13 (Problema do tipo 1)


A renda de um consumidor é de 540 u.m e é integralmente gasta com a compra 06.06. A função de demanda
de dois bens, x1 e x2, cujos preços são, respectivamente, 3 u.m. e 2 u.m. Sua
função de utilidade é U=x11/2x2. Determinar quanto ele comprará de cada bem Há dois tipos de função de demanda. A função de demanda ordinária ou
considerando que sua utilidade é maximizada. marshalliana, e a função de demanda compensada ou hicksiana. Sem aprofundar
Solução na análise do mecanismos que dá origem à demanda compensada, estuda-se a
construção da demanda ordinária.
A condição de equilíbrio é UMG1/p1= UMG2/p2, donde 0,5x1-1/2x2/3=x11/2/2, donde
x2=3x1/2. Entrando-se com essa expressão de x2 na função de restrição Os diagramas da Figura 02.30, de correspondência vertical, apresentam um mapa
orçamentária do consumidor, tem-se 3x1+2x2=540, donde 7,5x1=540, donde de indiferença de dois bens e/ou serviços, x1 e x2, além da restrição orçamentária
x1=72 u.f. e x2=3x72/2, donde x2=108 u.f.. E a utilidade máxima desse consumidor do consumidor (diagrama superior) e um sistema de eixos cartesianos sobre o
é UMÁX=721/2.108=916,41. qual é lançada a demanda pelo bem x1 (diagrama inferior).

Como exercício, sugere-se que o(a) aluno (a) resolva o mesmo problema pelo Considere-se um consumidor que esteja comprando os bens x1 e x2 nas
método do multiplicador indeterminado de Lagrange. quantidades x1o e x2o, respectivamente (diagrama superior). Em se tratando de
um consumidor racional, ele está maximizando sua utilidade com essas
Exemplo de aplicação 02.14 (Problema do tipo 2)
quantidades que adquire sob a restrição orçamentária que sua renda M lhe
Determinar o gasto mínimo em que incorrerá um consumidor que pretenda impõe.
extrair uma utilidade de Uo=243 com o consumo de dois bens cujos preços
Essa restrição orçamentária, representada pela reta MMo, corresponde à
unitários sejam p1=4 u.m. e p2=6 u.m., sabendo-se que sua função de utilidade é
expressão M=p1x1+p2x2, onde p1 e p2 são os preços dos bens e/ou serviços 1 e 2,
U=x12x23.
e x1 e x2 são as quantidades desses bens e ou serviços. Ora, ao maximizar sua
Solução utilidade, o consumidor se encontra em equilíbrio, o que ocorre no ponto Eo,
ainda do diagrama superior.
A condição de equilíbrio é UMG1/p1=UMG2/p2, donde 2x1x23/4=3x12x22/6, donde
x2=x1. Entrando-se com essa expressão de x2 na função de utilidade do Conforme se pode observar, o equilíbrio se situa no ponto de tangência da
consumidor, tem-se U=Uo=x12x13=243, donde x1=3 u.f. e x2=3 u.f.. O custo mínimo restrição orçamentária do consumidor (reta MMo) com a curva de indiferença de
desse consumidor é MMÍN=(4x3)+(6x3)=30 u.m.. nível Uo. Correspondentemente, no diagrama da oferta e demanda (inferior) esse
consumidor estará comprando a quantidade x1o ao preço po, sobre o ponto Eo’ da
função de demanda. A lembrar, o diagrama inferior somente trata de um bem ou

64
serviço, o bem ou serviço x1, e a relação das quantidades deste bem ou serviço Esse giro é indicativo de que o consumidor ficou economicamente melhor, dado
com seu preço. que o preço de um bem ou serviço reduziu-se mantido o preço p2 do outro bem ou
serviço e sua renda M. Ao tornar-se economicamente melhor (mais rico), o
consumidor passou a encontrar seu equilíbrio no ponto E1, do diagrama superior,
Fig. 02.30 – Função de demanda ordinária
correspondente a E1’, do diagrama inferior.

A trajetória de Eo’ para E1’ no diagrama inferior já é indicativa da inclinação


negativa da curva de demanda do consumidor, uma característica presente em
todos os mercados de bens inferiores, normais e superiores quando a curva de
preços é marshalliana (demanda ordinária), caso ora estudado. Quando na curva é
hicksiana (demanda compensada), caso não estudado no presente curso, até
mesmo os bens de Giffen tem curva negativamente inclinada.

Por fim, considerando-se os infinitos níveis de preços que pode ter o bem e/ou
serviço 1, construir-se-á uma curva contínua que será a curva de demanda
marshalliana, que é, portanto, o lugar geométrico dos pontos de maximização da
utilidade do consumidor quando os preços de determinado bem ou serviço varia.
Exemplo de aplicação 02.15
A função de utilidade de um consumidor é U=x12x23.Os preços dos bens são p1=3
u.m/u.f. e p1=5 u.m/u.f.. A renda mensal desse consumidor é M=150 u.m.. Admita
que sua função de demanda seja linear, simule a variação do preço do bem 1 para
p1’=2 u.m./u.f. e determine a equação dessa função de demanda.
Solução

A função de demanda passará pelos pontos E0’ e E1’ do diagrama inferior da


Figura 02.31. Considerando que no referido diagrama inferior figurará a curva de
demanda de um só dos dois bens (no caso, o bem 1), seus eixos coordenados
serão indicados por “q” e “p”, quantidade e preço do mencionado bem.De
Suponha-se, agora, que o preço po, do bem ou serviço 1, se reduza ceteris paribus, acordo com a simulação recomendada, os dois níveis de preços “p” já estão
para o nível de preço p1. A primeira conseqüência dessa redução de preço é um definidos (p0=3 e p1=2). As duas abcissas correspondentes respectivamente aos
giro sinistrógiro, no diagrama superior, da reta MMo em torno de M, uma vez que pontos E0’ e E1’ do diagrama inferior serão calculadas por meio da condição de
o preço do bem ou serviço 2 não se alterou, passando a ocupar a posição MM1. equilíbrio que é UMg1/p1=UMg2/p2. Daí: UMg1=∂U/∂x1=2x1x23 e UMg2=∂U/∂x2=3x12x22,
donde: 2x1x23/3=3x12x22/5, donde x2=9x1/10. Entrando-se com essa relação na

65
função de restrição orçamentária, tem-se: 150=3x1+5(9x1/10), donde x1=20 u.f. e Elasticidade é um número adimensional que resulta da razão entre duas grandezas
x2=(9x20)/10, donde x2=18 u.f. Portanto, o par coordenado que representa o relativas de variáveis interrelacionadas. Há índices de elasticidades os mais
ponto E0’ é (20;3). De outro lado, quando se simula um novo nível de preço do diversos. Os mais comuns são a elasticidade-preço da demanda por um bem ou
bem 1 (p=2) ceteris paribus, a condição de equilíbrio passa a ser
serviço, a elasticidade preço da oferta de um bem ou serviço, a elasticidade renda
2x1x23/2=3x12x22/5, donde x2=3x1/5. Entrando-se com essa relação na nova
função de restrição orçamentária, isto é, aquela que apresenta um novo preço do (do consumidor) e a elasticidade-cruzada-preço. Mas, como referido, podem-se
bem 1, tem-se: 150=2x1+5(3x1/5), donde x1=30 u.f. e x2=(3x30)/5, donde x2=18 determinar elasticidades de quaisquer variáveis interrelacionadas. Assim, além da
u.f., e o par ordenado que representa o ponto E11 é (30;2). Finalmente, a função elasticidade-preço da demanda, há a elasticidade-preço da oferta, a elasticidade-
de demanda pelo bem 1, admitida linear, será a reta que passa pelos pontos insumo do produto, entre outras. As elasticidades podem envolver, também,
(20;3) e (30;2), cuja equação será p=5-0,1q. relações entre variáveis macroeconômicas.
Fig. 02.31 – Diagramas das curvas de indiferença e da função de demanda
aplicados aos dados do Exemplo de aplicação 02.13 07.01. Elasticidade-preço da demanda

A elasticidade da demanda de um consumidor em relação ao preço de


determinado bem, cuja notação adotada será Ɛd é igual a:

Ɛd=(Δq/q)/(Δp/p)

Onde:

Δq é a variação observada na quantidade comprada do bem ou serviço quando o


preço p varia;

Δp é a variação no nível de preço do bem ou serviço;

p é o preço do bem ou serviço; e

q é a quantidade comprada do bem ou serviço.

A expressão da elasticidade acima apresentada pode ser re-escrita do modo


seguinte:

Ɛd=(Δq/Δp)(p/q)

Em notação diferencial, a expressão da elasticidade torna-se28:


07. Noções básicas sobre elasticidades
28 Partindo-se de q=f(p) sendo “p” não negativo e f(p) contínua, tem-se que: Δq=f(p+Δp)-f(p), donde
Ɛd=(Δq/Δp)(p/q)={[f(p+Δp)-f(p)]/Δp)}(p/q). Tomando o limite da função q=f(p) quando o preço se torna um

66
Ɛd=(dq/dp)(p/q) (ii) o período de análise, que, quanto mais longo, mais favorável a que o
consumidor altere sua decisão de compra para adequar-se ao novo nível de preço
Isso significa que, conhecendo-se a função de demanda p=f(q), determina-se
da mercadoria que habitualmente vinha adquirindo. Isso significa que quanto mais
dq/dp e multiplica-se o resultado por p/q, obtendo-se a elasticidade-preço da
longo o período de análise, maior é a chance de a procura ser elástica; e
demanda, que também pode ser intitulada elasticidade da demanda em relação ao
preço. Conforme se percebe, a elasticidade, ao depender também da razão p/q, (iii) proporção do orçamento do consumidor comprometida pela compra do bem,
varia ao longo da curva da função analisada, no caso em apreço, a função de a qual, quanto mais alta, mais sensível torna o consumidor a variação do preço do
demanda. bem, tornando a procura, desta forma, elástica.

No caso da elasticidade-preço da demanda, é comum referir-se a seus coeficientes A elasticidade-preço da demanda será, na maior parte dos casos, negativa, pois as
com base no módulo │Ɛd│, e evitando-se o sinal negativo para o coeficiente. variações de preço e quantidade se dão em sentido inverso29.
Particularmente, a elasticidade-preço da demanda tem uma importância
Exemplo de aplicação 02.16.
acentuada nos estudos da teoria do consumidor porquanto serve como
instrumento de medida da sensibilidade deste a variações nos preços A demanda por determinada mercadoria é dada por x=40.000-10p. Determinar a
aaeercadoriais. elasticidade-preço da demanda para os níveis de preços p o=1.000 e p1=1.800.

Esse indicador econômico será tanto mais importante quanto maior for a Solução
participação do bem ou serviço no orçamento do consumidor. Mercadorias como o Partindo de εd=(dx/dp)(p/x) e considerando que x=40.000-10p, tem-se que εd=-
sal, a água, o café, o cigarro costumam apresentar o módulo da elasticidade-preço 10(p/x). Para p=1.000, tem-se x=30.000, valor obtido na função de demanda;
da demanda inferior a 0,5. A moradia apresenta em geral elasticidade-preço da analogamente, para p=1.800, tem-se x=22.000. Daí, calculam-se as elasticidades
demanda unitária. O automóvel e o lazer em sessões de teatro ou cinema são bens nos dois pontos cujas coordenadas foram determinadas: (i) para o ponto
ou serviços elásticos, isto é, apresentam o módulo de elasticidade-preço da (30.000;1.000), εd=-10(1.000/30.000), donde εd=-0,33; e (ii) para o ponto
demanda superior à unidade. Os fatores que influem na elasticidade-preço da (22000;1800), εd=-10(1800/22000), donde εd=-0,82.
demanda são, principalmente:
07.02. Elasticidade-preço da oferta
(i) a disponibilidade de bens substitutos, uma vez que a possibilidade de passar a
preferir outro bem que caiba adequadamente no orçamento do consumidor ao A elasticidade-preço da oferta tem expressão igual à da elasticidade-preço da
mesmo tempo em que lhe enseje nível assemelhado de utilidade fará com que o demanda, com a diferença de significado da variável q, que, no caso, refere-se à
consumidor opte pelo bem substituto, o que produz um índice de elasticidade quantidade ofertada. Portanto:
elevado, ou seja, a procura pelo bem cujo preço aumentou será elástica; Ɛs=(dq/dp)(p/q),

infinitésimo, tem-se limΔp→0{[f(p+Δp)-f(p)]/Δp)}(p/q)=(p/q)limΔp→0{[f(p+Δp)-f(p)]/Δp)}. Mas limΔp→0{[f(p+Δp)- 29Apenas no caso dos chamados bens de Giffen, cuja análise não é objeto deste Curso, a elasticidade-preço da
f(p)]/Δp)}=dq/dp, donde Ɛd=(dq/dp)(p/q). demanda ordinária é positiva.

67
As elasticidades-preço da oferta são positivas, sem exceção, pois não existe curva painel inferior apresenta os casos de elasticidade-preço da oferta. Em ambos os
de oferta com inclinação negativa. painéis, os dois diagramas da direita apresentam os casos extremos de
elasticidade, isto é, a elasticidade zero e a elasticidade infinita, nesta ordem. Nos
Exemplo de aplicação 02.17.
casos de elasticidade intermediária, a inclinação das curvas dão o significado de
A função de oferta de um bem é x=30+6p. Determine a elasticidade-preço da curva elástica ou inelástica, tanto para a demanda quanto para a oferta..
oferta para o nível de preço po=20.
Entretanto, o coeficiente de elasticidade varia conforme o par de pontos (q;p). Em
Solução outras palavras, a elasticidade é medida em cada ponto das curvas.
Partindo-se de x=30+6p, donde se verifica que para p=20, tem-se x=150 e, Fig. 02.33 – Elasticidades-preço da demanda e da oferta
considerando-se que Ɛs=(dx/dp)(p/x), donde Ɛs=6(20/150), donde Ɛs=0,80.

07.03. Classificação dos coeficientes de elasticidades-preço da demanda e da


oferta

A classificação dos coeficientes de elasticidade da demanda e da oferta pode ser


sintetizada no quadro da Figura 02.32.

Apesar de a elasticidade, qualquer que seja o par de variáveis interrelacionadas,


depender do ponto da curva para o qual se está procedendo ao cálculo, as
inclinações das curvas de demanda e oferta dão indicações do caráter elástico ou
inelástico da demanda ou oferta respectivamente, e, mesmo, são referidas desta 07.04.Elasticidade-renda
maneira.
De modo análogo às formulações das elasticidades-preço da demanda e da oferta,
Fig. 02.32 – Classificação dos coeficientes de elasticidade-preço
da demanda e da oferta
a elasticidade-renda da demanda de um consumidor por um determinado bem é
Valor ou intervalo calculada mediante a expressão:
Classificação da demanda e da oferta de valores do
conforme o coeficiente de elasticid-preço coeficiente η=(dq/dM).(M/q)
De elasticidade-preço unitária 1
Onde:
Elástica >1
Inelástica <1
η é o índice de elasticidade-renda da demanda;
Infinita ou perfeitamente elástica →∞
Perfeitamente inelástica 0
q é a quantidade demandada do bem ou serviço; e
Os diagramas da Figura 02.33 mostram os casos possíveis de .Ɛd e Ɛs. O painel
M é a renda do consumidor.
superior apresenta gráficos da elasticidade-preço da demanda, enquanto que o

68
O índice de elasticidade-renda permite classificar os bens em normais, superiores q1 é a quantidade demandada do bem ou serviço 1;
(ou de luxo) e inferiores, além de bens de consumo saciado. Os bens normais são
p1 é o preço desse bem ou serviço; e
inelásticos em relação à renda, ou seja, a quantidade comprada cresce com o
aumento da renda porém numa proporção inferior a 1 (0<η<1). Roupas e p2 é o preço de um bem ou serviço correlato.
alimentos de uso corrente se enquadram nessa categoria. Seja, por exemplo, o alimento arroz cujo preço seja p1 e a farinha (aqui tomada
Os bens superiores ou de luxo são aqueles cujo aumento da quantidade comprada como substituta do arroz), cujo preço é p2. Suponha-se que a função de demanda
é proporcionalmente maior do que o aumento da renda do consumidor (η>1). seja dada por q1=23-2p1+1,5p2. A elasticidade-cruzada preço da demanda de q1
Joias, casacos de pele e carros de luxo alinham entre os bens superiores. com relação ao preço p2 no ponto (q1=12;p1=10) será:

Os bens inferiores são aqueles cuja quantidade adquirida diminui com o aumento Ɛd1x2=(dq1/dp2)(p2/q1)
da renda do consumidor (η<0). São exemplos de bens inferiores a farinha, a carne Isto é:
de segunda, carros populares, entre outros. Por fim, são bens de consumo saciado
aqueles cujo consumo não se altera com o aumento da renda (η=0). Ɛd1x2=(+1,5)(p2/q1)

Exemplo de aplicação 02.18. Os níveis de p2 e q1 são, respectivamente 10 e 12, este último dado diretamente no
problema formulado. Daí, a elasticidade-cruzada-preço da demanda do bem 1 em
Considere a função de demanda individual de um bem “i” seguinte: relação ao preço do bem 2 é:
q=20+80M0,5/p. Determine a elasticidade-renda da demanda para M=3600 u.m..
Ɛd1x2=(+1)(6/12)
Solução
Donde:
Partindo da expressão ƞ=(dq/dM)(M/q), tem-se ƞ=(40M-0,5/p){M/[(20+80M0,5)/p]},
donde ƞ=40M0,5/(20+80M0,5), donde ƞ=(40x60)/[20+(80x60)], donde ƞ=0,498. Ɛd1x2=0,75

07.05. Elasticidade cruzada-preço da demanda Teste-se esse caso prático. Um consumidor não deixa faltar à sua mesa o feijão.
Mas não se alimenta de feijão puro. Em alguns dias faz a mistura do feijão com o
As elasticidades-cruzadas são índices de elasticidades os quais incluem variáveis de arroz e, em outros dias, se alimenta de feijão com farinha. Assim, arroz e farinha se
outro mercado relacionado com o da variável cuja elasticidade se busca substituem na função de complementar o feijão na composição da dieta desse
determinar. Por exemplo, a função de demanda por determinado bem ou serviço é consumidor. Ora, se o preço da farinha aumenta, por exemplo, o consumidor,
do tipo: passará a comprar uma quantidade menor de farinha e, juntamente com esta
q1=f(p1,p2) redução na quantidade de farinha, reduz em alguma medida, a quantidade de
feijão. O arroz, substituto da farinha, suprirá o papel desta em alguma medida que
Onde:
é dada pela elasticidade-cruzada-preço da demanda por arroz com respeito ao

69
preço da farinha. No caso em apreço, o aumento da quantidade do arroz se dá em se apresentam considerações sobre a formação de preços. Os demais mercados
uma proporção menor do que a redução da quantidade de farinha, o que é são simplesmente apresentados em suas características mais importantes.
revelado pela expressão Ɛd1x2=0,75<1.

Por fim, a elasticidade cruzada-preço da demanda permite classificar os bens em


substitutos, quando Ɛd1x2>0, complementares, quando Ɛd1x2<0, e em bens não
relacionados, quando Ɛd1x2=0. 08.01.01. Principais características da concorrência perfeita

Exemplo de aplicação 02.19. A concorrência pura, juntamente com o monopólio, a ser comentado na sub-
seção seguinte, constitui um caso-limite. Cada um desses dois casos-limite se
A função de demanda por determinada mercadoria é dada por q i=30pj/pi, sendo
situa em uma extremidade da seqüência de estruturas de mercado existentes.
pj o preço de um bem correlato do bem i. Determinar a elasticidade-cruzada-
Todos os demais refletem estruturas intermediárias entre essas duas.
preço da demanda por i com respeito ao preço do bem j para pi=3 u.m. e pj=2
u.m.. Considerando as definições já dadas de agentes atomizados e de produtos
homogêneos, diz-se que a concorrência pura é uma estrutura ou regime de
Solução
mercado na qual os agentes, tanto os da procura, isto é, os compradores,
Partindo de ƞ=(∂qi/∂pj)/(pj/qi), tem-se ƞ=30pj/piqi. Quando pi=3 e pj=2, qi=20 u.f., quanto os da oferta, ou seja, os vendedores, são atomizados, ao mesmo tempo
obtido diretamente da função de demanda. Daí, ƞ=(30x2)/(3x20)=1. em que o produto objeto do mercado é homogêneo.

08. Breve estudo seletivo dos mercados Diz-se, também, que qualquer estrutura ou regime de mercado que não
satisfizer integralmente a uma das duas condições acima, é dito mercado
Esta seção apresenta um panorama geral das principais características dos distintos
imperfeito, ou estrutura de concorrência imperfeita. Conforme ver-se-á à
mercados. Está dividida em duas partes: a dos mercados de bens e serviços de
continuação, os mercados em oligopólio, concorrência monopolística e o próprio
consumo e a dos mercados de fatores produtivos. O estudo dos mecanismos de
monopólio, são mercados imperfeitos.
formação de preços não são apresentados, entretanto, para todos os mercados,
limitando-se àqueles de interesse para os cursos de engenharia e química Por outro lado, define-se como mercado de concorrência perfeita aqueles que,
industrial. além de satisfazerem às duas condições da concorrência pura, perfazem,
também, as condições apresentadas no quadro da Figura 02.34. Esses atributos
08.01. Mercados de bens de consumo
adicionais que perfazem a classificação da concorrência em perfeita ― e não
Os mercados de bens finais compreendem a concorrência perfeita, o monopólio, o pura ― resultam mais propriamente do desejo de se praparar um cenário que
oligopólio e a concorrência monopolística. A concorrência perfeita e o monopólio, permita o exercício do caráter absoluto de competição que se pretende
por constituirem casos-limite de situações de mercado, são os únicos para os quais conceber para este regime de mercado. Em outras palavras, um mercado de
concorrência perfeita, na prática, não existe.

70
Uma análise mais detida dessas definições levará o leitor à percepção que as 08.01.02. Síntese do equilíbrio em concorrência perfeita
demais condicionantes para a concorrência perfeita estão embutidas nas duas
O equilíbrio em concorrência perfeita, abrange três distintas situações de prazo: o
primeiras condições que serviram para definir a concorrência pura. O que é
prazo de mercado, também referido como curtíssimo prazo; o curto prazo e o
importante assinalar é que a competição na concorrência perfeita não é maior
longo prazo. Comenta-se, a seguir, cada uma dessas situações.
do que na concorrência pura, sendo ambas, antes, estruturas concebidas para
permitir o estudo de alguns regimes de mercado que se aproximem de um (i) Prazo de mercado
desses dois modelos teóricos. Em verdade, a expressão concorrência pura faz O prazo de mercado, ou curtíssimo prazo, corresponde à situação em que a firma
mais o estilo de economistas americanos, enquanto que a concorrência perfeita dispõe de determinado estoque do bem produzido e precisa vendê-lo. Os custos de
é mais utilizada por economistas britânicos. Embora seja difícil identificar-se um produção já não mais interessam nessa análise pois o problema agora é a
exemplo prático que reflita plenamente as condições de concorrência perfeita, necessidade de desovar o estoque. Nesse caso, o diagrama é de demanda e oferta
costuma-se indicar a feira livre como o exemplo clássico deste tipo de estrutura até aqui frequentemente utilizado para as primeiras reflexões sobre o equilíbrio. A
de mercado. Figura 02.35 ilustra essa circunstância.
Fig. 02.34 – Condições adicionais para a concorrência perfeita Fig. 02.35 – Equilíbrio no prazo de mercado
Indiferença
Não há qualquer diferença, ou mesmo desvantagem para o agente comprador em
transacionar com qualquer um dos vendedores, ou que qualquer um destes transacione com
qualquer um dos compradores, porque supõe-se que todos os agentes, tanto os da procura
quanto os da oferta conhecem a natureza do bem ou serviço, como também o seu preço de
mercado.
Transparência do mercado
Todos os agentes, compradores e vendedores, conhecem o mercado, as condições
econômicas dos agentes, o preço do produto e outros fatores necessários às suas respectivas
tomadas de decisão.
Igualdade dos custos de transporte
Os preços finais dos bens ou serviços são afetados de uma mesma proporção pelos custos de
transporte pata todos os consumidores.
Divisibilidade absoluta dos bens ou serviços
Cada bem ou serviço pode ser decomposto em uma fração tão pequena quanto se pretenda
para indicar sua quantidade transacionada.
Livre mobilidade dos agentes e dos bens e serviços O equilíbrio ocorre no ponto E, representado pelo par de coordenadas (q;pE), que
Na perspectiva de longo prazo, os agentes econômicos podem entrar ou sair do mercado.. resulta da interseção de oferta e demanda. Se as funções de oferta e demanda
forem, respectivamente, p=a+bq e p=c-dq, a quantidade de equilíbrio será:

q*=(c-a)/(b+d),

E o preço de equilíbrio será:

71
pE=(ad+bc)/(b+d) direita para o diagrama de custos de curto prazo da firma típica, à esquerda da
referida figura.
Exemplo de aplicação 02.20.
O preço pE, constante porque a firma é tomadora de preços, é igual à receita
As funções de demanda e oferta por um bem são respectivamente p=q 2 e
marginal. A maximização do lucro ocorrerá para:
p=1000/q. Determinar quantidade e preço de equilíbrio desse mercado no prazo
de mercado ou curtíssimo prazo.. pE=Cmg

Solução
Fig. 02.34 – Equilíbrio de curto prazo
O equilíbrio desse mercado é alcançado quando q2=1000/q, donde q=10 u.f.. Daí, o
preço será p=102, donde p=100 u.m. O gráfico da Figura 02.34 ilustra esse
equilíbrio de mercado.
Figura 02.34 – Equilíbrio no curtíssimo prazo

A igualdade acima ocorre para a abscissa q*, do diagrama da esquerda, que o da


firma típica. Essa será a produção da firma. A produção do mercado será Q*=nq*,
onde “n” é o número de firmas presentes no mercado. Os exercícios práticos a
serem ministrados em classe ensejarão o cálculo e/ou a verificação do lucro da
firma e a natureza deste.

Exemplo de aplicação 02.21.

A função de custo de curto prazo de uma firma que produz um só produto é


(ii) Curto prazo CT=q3-10q2+17q+66. Determinar o nível de produção em que uma firma
maximizará seu lucro considerando que o preço do produto é igual a 5 u. m..
No curto prazo, a firma submete o preço de mercado à sua estrutura de custos de Determinar, ainda, esse lucro.
curto prazo. O diagrama da Figura 02.34 mostra a transmissão do preço de
equilíbrio pE, estabelecido pelas forças de demanda e oferta, do diagrama da Solução

72
A maximização de lucro ocorre quando CMG=RMG sendo que, em se tratando de Em seu deslocamento, a curva de oferta passará por infinitas posições até que o
concorrência perfeita RMG=p. Daí (d/dq)CT=3q2-20q+17=5, donde 3q2-20q+12=0, preço se iguale ao custo mínimo da curva envoltória do diagrama da esquerda.
donde q’=6 e q”=2/3 e, desprezando-se a menor raiz, q*=6. O descarte da raiz Nesse ponto, ter-se-á:
menor se dá em razão de esta situar-se no ramo descendente da curva de custo
CTlp=CTcp=Cmelp=Cmecp=Cmglp=Cmgcp=Rmg=pE
marginal. O lucro é obtido a partir de π=RT-CT, donde π=pq-CT, donde π=(5x6)-[63-
Fig. 02.35 – Equilíbrio de longo prazo
(10x62)+(17x6)+66], donde π=6 u.m. (lucro extraordinário). O gráfico da Figura
02.35 mostra essa situação. O diagrama da direita comparece apenas para
mostrar a origem de p=5 u.m..
Figura 02.35 – Maximização do lucro da firma

O lucro econômico da firma será zero e nenhuma firma adicional se interessará


em adentrar ao mercado. Os exercícios da Parte II trarão oportunidade de outras
verificações sobre o equilíbrio em concorrência perfeita no longo prazo.

Exemplo de aplicação 02.22.

(iii) Longo prazo O custo total de longo prazo de uma firma que produz um único produto é C T=q3-
q2+10q. Determinar preço e produção no equilíbrio de longo prazo.
No longo prazo, não há custos fixos para a firma, a qual pode fazer variar seu
tamanho. Além disso, observar-se-á a entrada e saída de firmas no mercado. Solução
Enquanto o mercado for lucrativo, surgirão novas firmas, fenômeno que O equilíbrio de longo prazo ocorre para p=CMELPmín. A expressão do custo médio de
contribuirá para a expansão da oferta cuja curva deslocar-se-á para a direita e para longo prazo é CMELP=cTLP/q=q2-q-10. A condição de primeira ordem para obtenção
baixo. O diagrama da Figura 02.35 resume esse movimento apresentando as do custo médio de longo prazo mínimo é /dq=0, donde 2q-1=0, donde q*=0,5. O
curvas S e S’. preço será p=CMELPmín=0,52-0,5+10=9,75. A Figura 02.36 apresenta esse equilíbrio
de longo prazo.

73
O monopólio é um regime de mercado no qual um só produtor vende seu
produto homogêneo a consumidores atomizados, podendo vendê-lo a preço
único ou discriminando preços. O monopolista se defronta diretamente com o
mercado consumidor o que implica, ao estudar-se o equilíbrio, confrontar as
Fig. 02.36 – Equilíbrio da firma em concorrência perfeita no longo prazo curvas de custo da firma com as curvas de demanda e de receita marginal do
consumidor típico.

A condição de equilíbrio é a clássica Rmg=Cmg, já demonstrada no texto dos


mercados de concorrência perfeita, porém, no monopólio, o preço praticado é
maior do que a receita marginal porque a curva de demanda não é infinitamente
elástica e, portanto, não é colinear à curva de receita marginal, ostentando
ordenadas sempre superiores às desta.

O fato de o monopolista cobrar um preço superior à receita marginal é indicativo


de que ele realiza lucro puro, isto é, uma parcela de lucro além da parcela de
lucro normal. O monopolista pode operar cobrando um só preço, caso do
monopólio a preço único, ou discriminando preços.

O equilíbrio do monopolista, tal como ocorre com firmas em outros regimes de


mercado, é estudado em três horizontes temporais: o prazo de mercado (ou
08.01.03. Breve estudo do monopólio
curtíssimo prazo), o curto prazo e o longo prazo.
O monopólio constitui um caso-limite das estruturas de mercado de bens e
No campo de interesse do presente Curso, realizar-se-á apenas o estudo do
serviços. Nesse mercado, firma e indústria se confundem, porquanto a indústria,
equilíbrio no curto prazo, tanto para a monopólio a preço único quanto para
no monopólio, é constituída de uma única unidade. O outro caso-limite, como já
monopólio com discriminação de preços.
visto, é o da concorrência perfeita.
(ii) Monopólio no curto prazo
A existência de uma s firma não significa que outras não estejam tentando
disputar o mesmo mercado. Essas outras quase sempre não conseguem romper Conforme referido na seção antecedente, as curvas de custo do monopolista são
as barreiras à entrada no mercado do monopolista e continuam atuando postas em presença das curvas de receita média (curvas de demanda ou linhas de
perifericamente, ocupando um espaço muito pequeno da demanda, o que faz preços) e de receita marginal do consumidor, isto é, a interseção da curva Cmg do
com que, na prática, o monopolista possa ser considerado como tal. gráfico da Figura 02.37 com a receita marginal Rmg (ponto E) indica o nível de
produção no qual o monopolista maximizará seu lucro.
(i) Conceito e condição de equilíbrio

74
O preço corresponderá à ordenada da função de demanda D (linha de preços) 190=210 u.m. O gráfico da Figura 02.38 elucida o desenvolvimento algébrico
para o nível de quantidade q*. A receita total do monopolista corresponderá à acima apresentado.
área do retângulo pEAq*0.

Fig. 02.37 – Equilíbrio do monopólio no curto prazo


Fig. 02.38 – Equilíbrio da firma monopolista no curto prazo

O custo total do monopolista equivale ao retângulo CBq*0. Esse custo é


composto de duas parcelas, a de custo fixo, correspondente à área do retângulo (iii) Monopólio com discriminação de preços
CBGF, e a de custo variável, correspondente à área do retângulo FGq*0. Na discriminação de preços, o monopolista tem a compreensão de que o
Exemplo de aplicação 02.23. mercado consumidor total pode ser dividido em vários quinhões (sub-mercados)
com diferentes capacidades econômicas. O gráfico da Figura 02.39 ilustra o
Um monopolista defronta-se com a função de demanda dada por p=100-4q.
equilíbrio com discriminação de preços separando o mercado em apenas dois
Estudar o equilíbrio no curto prazo, determinando preço, produção e lucro,
quinhões.
sabendo-se que sua função de custo total é CT=6q2+40.
O mercado consumidor foi dividido, conforme referido, em duas partes, o
Solução
mercado (i) e o mercado (ii). Esses dois quinhões se somam horizontalmente
De p=100–4q, tem-se RT=pq=100q–4q2, donde Rmg=(d/dq)RT=100–8q. O custo conformando o mercado total com o qual o monopolista se defronta.
marginal da firma é CMG=dCT/dq=12q. A condição de equilíbrio é Rmg=Cmg. Daí:
100–8q=12q, donde q*=5. O preço de equilíbrio será pE=100–(4x5)=80, e o lucro 
será igual a (RT-CT), sendo RT=pq=80x5=400, e CT=(6x52)+40=190, donde =400-

75
O custo marginal do monopolista é lançado no mercado total e, da igualdade 0,4p1 e q2=18-0,1p2. A função de custo total do monopolista é C T=q2+10q.
Cmg=Rmg, estabelece-se o nível de produção Q*, a ser produzido e vendido, o qual Determine preços e quantidades de equilíbrio em cada fatia do mercado, bem
determina o preço único que poderia ser cobrado (pu). como preço e quantidade de equilíbrio caso o monopolista não discriminasse
preço, isto é, adotasse o preço único. Mostre que, na discriminação de preços, ele
impõe um preço maior ao mercado menos elástico e um preço menor ao mercado
mais elástico.
Fig. 02.39 – Monopólio com discriminação de preços
Solução

Inicia-se pelo cálculo do preço único considerando, para tanto, que o mercado
total é a soma das quantidades dos dois quinhões em que o monopolista o
dividiu e que, evidentemente, p1=p2=p, ou seja: q=q1+q2=(32-0,4p)+(18-0,1p);
donde: q=50-0,5p; donde: p=100-2q. Essa última expressão é a função de
demanda do mercado total, a qual ensejará o cálculo da receita marginal que
será confrontada com o custo marginal do monopolista (condição de equilíbrio).
Daí: RT=pq=(100-2q)q; donde RT=100q-2q2; donde RMG=dRT/dq=100-4q.

O custo marginal é: dCT/dq=2q+10, e a quantidade de equilíbrio resultará, como


Os preços discriminados são encontrados nos diagramas dos mercados (i) e (ii), mencionado, de: CMG=RMG, donde 2q+10=100-4q, donde q*=15, quantidade que,
respectivamente, transferindo-se o nível de Cmg=Rmg para estes dois diagramas, levada à função de demanda p=100-2q, permite revelar o preço de equilíbrio
marcando-se as abcissas q1* e q2* que serão as quantidades de equilíbrio de cada pE=70. Para q*=15, a receita marginal corresponde a R MG=100-(4x15), isto é
mercado e, mediante uma linha de chamada vertical em cada um, obter-se o RMG=40.
preço a ser cobrado no espectivo mercado, isto é, pE1 e pE2. Essa receita marginal será a mesma em cada fatia de mercado quando o
A ordenada preço único pu é transferida para os dois diagramas da esquerda monopolista decide discriminar preços. As expressões de receita marginal em
apenas para enfatizar que o preço único tem um nível intermediário entre os dois cada fatia do mercado são, respectivamente:
outros. É possível demonstrar-se, também, que o preço maior é imposto ao (i) De q1=32-0,4p1, tem-se p1=80-2,5q1, donde RT1=80q1-2,5q12, donde RMG1=80-
mercado menos elástico e vice-versa. 5q1
Exemplo de aplicação 02.24 (ii) De q2=18-0,1p2, tem-se p2=180-10q2, donde RT2=180q2-10q22, donde
Um monopolista vende seu produto cobrando preços diferenciados a duas fatias RMG2=180-20q2
de um mesmo mercado cujas funções de demanda são respectivamente q 1=32-

76
Daí: RMG1=80-5q1=40; e RMG2=180-20q2=40, donde q1*=8 e q2*=7. Entrando-se a um preço unitário menor do que as unidades adicionais consumidas. Isso
com essas quantidades nas correspondentes funções de demanda, têm-se pE1=60 significa dizer que as famílias que consomem menos pagam um preço menor
e pE2=110. O gráfico da Figura 02.40 ilustra este processo de diferenciação de pela água e pela energia, porque estão sujeitas ao menor preço unitário do
preços em monopólio. escalonamento que é feito.

Aquelas famílias que consomem mais, passam a ter um preço médio final maior,
porque pagam o preço menor pelas primeiras unidades consumidas, mas pagam
um preço maior pelas unidades adicionais que consomem.

A Figura 02.41 mostra a tabela de preços unitários do fornecimento da água


Fig. 02.40 – Resultado da diferenciação de preços
potável pela Empresa Baiana de Saneamento – EMBASA, no Estado da Bahia.
Observa-se que o preço varia, na tarifa residencial, por exemplo, entre R$0,165
e R$1,66 por metro cúbico de água fornecido.
Fig. 02. 41 – Tarifas residenciais normais/veraneio
de abastecimento de água da Embasa30
INTERVALO DE CONS (m3) PREÇO (R$/m3)
0 a 10 1,94
11 a 15 5,42
16 a 20 5,80
21 a 25 6,51
26 a 30 7,27
31 a 40 7,65
Finalmente, as elasticidades-preço da demanda nesses dois pares de pontos são:
41-50 8,77
Ɛd1=(dq1/dp1)(pE1/q1*)=-0,4x(60/8)=-3; e Ɛd2=(dq2/dp2)(pE2/q2*)=-0,1x(110/7)=- >50 10,55
Fonte: EMBASA. Salvador. 2014.
1,57, comprovando que o monopolista impõe um preço mais alto ao sub-
Assinala-se que, na prática, o cálculo dos preços progressivos nem sempre é
mercado de menor módulo da elasticidade-preço da demanda e um preço mais
feito com base nas elasticidades-preço da demanda. É comum que os saltos de
baixo ao sub-mercado mais elástico.
um nível tarifário para o seguinte seja definido levando-se em conta a vazão
(iv) Exemplo prático de discriminação de preços média de consumo das diversas classes de usuários formando-se as tarifas em
O monopólio com discriminação de preços, também referido como monopólios bloco. Na tabela da referida Figura 02.41, os blocos são os intervalos de vazão
com diferenciação de preços, é muito comum, ocorrendo, por exemplo, com o contidos na coluna da esquerda.
fornecimento de água e com o fornecimento de energia, nos quais os primeiros
metros cúbicos de água e os primeiros quilowatts-hora de energia são cobrados 30
As demais categorias de tarifas residenciais são a residencial social, a residencial intermediária e a residencial
filantrópica.

77
Um breve exame das cifras dessa tabela permite deduzir que os consumidores (vi) Poder de monopólio
de renda mais alta subsidiam os menos aquinhoados com a riqueza material, A firma monopolista tem a capacidade de cobrar um preço superior ao custo
pois, mesmo cobrando um preço unitário menor pelas primeiras unidades marginal. A proporção dessa diferença (pE-CMG) em relação ao preço cobrado que
é o preço de equilíbrio pE é denominada Poder de Monopólio.
vendidas, o produtor não deixará de arrecadar tudo quanto precisa para
Considerando que, no equilíbrio, o custo marginal iguala-se à receita marginal,
equilibrar o seu orçamento, cobrando a maior daqueles consumidores que busca-se a expressão desta última, que é dada por:
consomem mais e que são os de renda mais elevada. RMG=dRT/dq
E quando o monopólio é privado, os lucros são extraordinários, superando o Onde:
RT é a receita total do monopolista (RT=p.q), sendo p=f(q); e
lucro normal nulo que é praticado nos mercados de concorrência perfeita. Nos
q é a produção da firma.
monopólios privados não regulados ou fracamente regulados, os preços vão à Portanto:
perversidade. RMG=p+q(dp/dq) (I)
Multiplicando-se e dividindo-se a expressão (I) por “p”, tem-se:
E, quando esse monopólio adota a diferenciação de preços, os preços mais
RMG=(p/p)(p+q.dp/dq)
elevados são ainda mais perversos, são preços escorchantes para cima. Donde:
(v) Natureza das barreiras à entrada RMG=p[1+(1/εd)],
Considerando-se que εd<0, e tomando-a por seu valor absoluto:
Conforme se percebe, uma preocupação constante do monopolista é a de RMG=p[1-(1/│εd│)]
manter à distância os potenciais concorrentes, o que é feito por meio das Adicionalmente, considerando-se que, como já referido, no equilíbrio, RMG=CMG, a
barreiras à entrada. As barreiras à entrada podem ser de natureza tecnológica expressão (II) pode ser reescrita do modo seguinte:
ou legal-institucional. CMG=p[1-(1/│εd│)],
Donde, subtraindo-se CMG de “p” e dividindo-se toda a expressão por “p”, resulta
As barreiras tecnológicas ocorrem nos casos dos monopólios naturais, o poder de monopólio (PM):
constituídos por firmas de proporções grandes, situação em que não encontra PM= (p-CMG)/p=p-{p[1-(1/│εd│)]}
competidores, pois as firmas de menor tamanho não são capazes de produzir Donde finalmente:
PM=1/│εd│
com a mesma eficiência que tem o monopolista. Exemplos de monopólios com
Exemplo de aplicação 02.25
barreiras tecnológicas são setores como os que atuam por meio de franquias. A função de demanda com que se defronta um monopolista é dada por p=80-q2 e
As barreiras à entrada legais-institucionais podem ser de natureza variada. A sua função de custo total é CT=q2+10q. Calcular a produção e o preço de equilíbrio
proteção às inovações sob a forma de marcas registradas ou patentes, conforme dessa firma e, em seguida, calcular seu poder de monopólio.
Solução
o caso, constituem tipos de barreiras legais-institucionais. O privilégio de que se
O equilíbrio é dado por CMG=RMG,
beneficiou a Petrobrás na exploração do petróleo no Brasil por muitos anos é Donde:
outro exemplo de barreira legal-institucional para proteger um monopólio. 2q+10=80-3q2

78
Donde: tal como se tivesse diante de si um tabuleiro de xadrez, o qual funcionaria como
q*=4,51 (desprezando-se a menor das duas raízes). seu mercado, estando do outro lado o seu concorrente e rival.
O preço de equilíbrio é pE=80-4,512=59,66.
Daí, o custo marginal é: Os oligopólios podem ser classificados em puros e diferenciados. O oligopólio é
CMG=(2x4,51)+10=19,02. puro quando o seu produto ou serviço é homogêneo. Os produtores das
Com os dados obtidos, o poder de monopólio pode ser calculado pelos dois diversas marcas de cimento Portland costumam formar um oligopólio puro, pois
seguintes métodos: praticamente há um só tipo deste material 32 e com características bem
(i) PM=1/│εd│ definidas, nada indicando que o comprador exerça, com freqüência, algum tipo
A elasticidade-preço da demanda é dada por:
de preferência por essa ou por aquela marca.
εd=(dq/dp)(pE/q*)=(-1/2q)(pE/q*)=[-1/(2x4,51)](59,66/4,51)=1,47
Donde: Diz-se que o oligopólio é diferenciado, quando o produto tem substitutos
PM=0,68; e próximos, ou seja, o consumidor tem a percepção de que diferentes tipos ou
(ii) PM=(p-CMG)/p=(59,66-19,02)/59,66
mesmo marcas do produto são objeto da oferta por parte de um número
Donde:
PM=0,68. reduzido de vendedores que controla uma parte expressiva do mercado. O
consumidor, neste caso, pode exercer a sua escolha por este ou por aquele
08.01.04. Notas sobre os oligopólios
produto em um rol de alguns tipos ou marcas diferenciadas. A indústria de
Oligopólios são regimes de mercado nos quais poucas firmas vendedoras, cigarros, com suas distintas marcas, constitui um tipo de oligopólio diferenciado.
concorrentes e rivais, controlam a maior parte da oferta de um produto,
Na análise de formação de preços em oligopólio, há diversos modelos de
homogêneo ou diferenciado, que é vendido a consumidores atomizados.
desfecho. Entre estes, o de Cournot, o de Bertrand, o de Chamberlin, o de
A rivalidade, característica forte no oligopólio pode, em alguns desfechos 31, ser Edgeworth, o de Stackelberg, o modelo da coalisão, entre outros33. No espaço
substituída por acordos, fazendo com que as firmas se unam em torno de um
mesmo propósito. Isso, no entanto, não retira a índole do oligopolista de ser
sempre um rival dos demais, figura que se acentua ainda mais no caso dos 32 Em verdade, há cimentos de distintas categorias em termos de contribuição para a resistência dos produtos que
duopólios. são fabricados mediante o seu uso. As peças e as obras de concreto protendido, por exemplo, exigem cimentos de
alta resistência, diferentes dos cimentos para as obras correntes. Mas para cada mesmo tipo de cimento, não há
uma preferência diferenciada, conotando o caráter homogêneo desse produto.
Outra característica importante do oligopólio resulta do número pequeno de 33 No modelo de Cournot, cada firma adapta passivamente a sua conduta à do rival. O modelo de Bertrand é, em

firmas, que faz com que o comportamento de uma afete o comportamento das certo sentido, um sucedâneo do de Cournot, com a diferença para este que no processo de ajustamento, as
decisões das firmas serão calcadas sobre os preços de transação e não sobre as quantidades produzidas,
demais. E mais, ao adotar determinada decisão, cada oligopolista fica atento às admitindo que os preços das rivais se mantenham fixos. O modelo de Chamberlin produz resultados diferentes do
modelo de Cournot, porque admite que os vendedores consideram a dependência mútua entre si, afetando seus
possíveis reações de seus concorrentes, para melhor situar sua nova “jogada”, respectivos comportamentos. No modelo de Edgworth, à semelhança do modelo de Bertrand, as firmas admitem
que colocarão no mercado toda a sua produção, supondo que os preços dos demais vendedores continuarão
fixos. O modelo de Stackelberg orienta o seu cálculo mediante as escolhas das firmas entre as que pretendem
31 O estudo da formação de preços em oligopólio se dá sempre pela análise de um certo tipo de desfecho, ou seja, o atuar como líder e aquelas que concordam em atuar como seguidoras. E o modelo da coalisão equivale, no que
comportamento adotado pelas firmas até chegar-se ao preço de estabilidade. concerne à formação de preços, a uma fusão entre as firmas (merger).

79
do presente capítulo, não serão desenvolvidos os mecanismos de formação de Exemplo de aplicação 02.26.
preços para o oligopólio.
As firmas de um duopólio homogêneo praticam o comportamento previsto na
(I) Modelo de Cournot solução clássica de Cournot. As funções de custo total de curto prazo são
CT1=0,1q12+20q1+100.000 e CT2=0,4q22+32q2+20.000. As duas firmas fabricam um
Por comodidade de cálculo, analisa-se o caso do oligopólio singular que é o
produto homogêneo cuja função de demanda é q=4.000-10p. Considerando que o
duopólio. Ambas as firmas duopolistas se defrontam com a mesma função de
equilíbrio de Cournot é alcançado, pede-se determinar: (i) a produção de
demanda que é dada por p=f(q1+q2), onde q1 é a quantidade que o duopolista 1
equilíbrio de cada firma; (ii) o preço de equilíbrio; (iii) o lucro puro de cada firma;
produzirá e q2 é a quantidade que o duopolista 2 produzirá. As receitas totais das
e (iv) a representação gráfica das equações de reação indicando o ponto de
firmas serão dadas pelo produto pxqi, isto é, RT1=q1.f(q1+q2) e RT2=q2.f(q1+q2). O
equilíbrio de Cournot.
custo de cada um dos duopolistas depende de sua própria quantidade produzida,
isto é, CT1=g1(q1) e CT2=g2(q2). Daí, os lucros serão dados por: Solução

π1=q1.f(q1+q2)-g1(q1), e A função de demanda pode ser escrita do modo seguinte: q 1+q2=4000-10p,


donde p=400-0,1(q1+q2). Os lucros dos duopolistas são dados por π1=pq1-CT1 e
π2=q2.f(q1+q2)-g2(q2)
π2=pq2-CT2, donde π1=[400-0,1(q1+q2)]q1-0,1q12-20q1-100.000 e π2=[400-
A conduta de cada uma das firmas é a da maximização do lucro admitindo que a 0,1(q1+q2)]q2-0,4q22-32q2-20.000, donde π1=380q1-0,2q12-0,1q1q2-100.000 e
rival não altere a quantidade que produz em função da quantidade que ele π2=368q2-0,5q22-0,1q1q2-20.000. As condições de primeira ordem para o
próprio decide produzir. Para tanto, as condições de primeira ordem são: equilíbrio dos duopolistas implicam: ∂π1/dq1=0 e ∂π2/dq2=0, donde π1=380-0,4q1-
∂π1/∂q1=0, e 0,1q2=0 e 368-q2-0,1q1=0, donde determinam-se as equações de reação dos
duopolistas: q1=950-0,25q2 e q2=368-0,1q1. A solução do sistema formado pelas
∂π2/∂q2=0. equações de reação conduzem ao ponto de equilíbrio de Cournot e responde à
As condições de segunda ordem são: primeira indagação do problema: (i) a solução do sistema formado pelas
equações de reação pode ser encontrada, por exemplo, pelo método de
∂2π1/∂q12<0, e
substituição, entrando-se com a expressão explícita em relação a “q2” na curva
∂2π2/∂q22<0. de reação do duopolista I, como se segue: q 1=950-0,25(368-0,1q1), donde q1=880
u.f.; levando-se esse resultado á curva de reação do duopolista II, tem-se:
O sistema de equações relativo às condições de primeira ordem, ao ser
q2=368-(0,1x880), donde q2=280 u.f.; (ii) o preço de equilíbrio é encontrado por
explicitado em relação a q1 e q2, corresponde às equações de reação, isto é,
meio da função de demanda indireta p=400-0,1(q1+q2), substituindo-se os valores
determinam o critério mediante o qual cada duopolista reage às decisões do
de q1 e q2, isto é: p=400-0,1(880+280), donde p=284 u.m.; (iii) os lucros são
rival. A solução desse sistema de equações de reação é o próprio desfecho do
obtidos entrando-se com as quantidades produzidas em alguma das expressões
modelo de Cournot.
do lucro de cada duopolista anteriormente estabelecidas, preferencialmente nas

80
expressões que se apresentem mais simplificadas. Desse modo: π1=(380x880)- seguidora; e (iii) uma das firmas pretende ser a líder e a outra pretende ser a
(0,2x8802)-(0,1x880x280)-100.000 e π2=(368x280)-(0,5x2802)-(0,10x280x880)- seguidora.
20.000, donde π1=54.880 e π2=19.200; o gráfico que ilustra as curvas reativas e o
No primeiro caso, ocorre o desequilíbrio de Stackelberg, e as firmas poderão
ponto de equilíbrio é apresentado na Figura 02.42.
buscar o entendimento para que maximizem o lucro conjunto das duas.
Eventualmente, durante esse processo, uma das duas poderá liderar a outra
Figura 02.42 – Curvas de reação e equilíbrio de Cournot conduzindo o entendimento para o terceiro caso. No segundo caso, ocorre o
equilíbrio de Stackelberg cuja solução corresponde ao modelo de Cournot, isto é,
por meio da solução do sistema de equações de reação. E, no terceiro caso, há
complementaridade de interesses e cada firma se coloca na condição que lhe é
mais lucrativa, ou seja, uma liderando e a outra sendo liderada ou seguidora.

Exemplo de aplicação 02.27.

Em um duopólio homogêneo, a função de demanda é dada por p=80-0,4(q1+q2) e


as funções de custo dos dois duopolistas são respectivamente C T1=4q1 e
CT2=0,6q22. Estudar o desfecho desse duopólio por meio da solução de Stakelberg.

Solução

As funções de lucro dos duopolistas são:


(ii) Modelo de Stackelberg
π1=pq1-CT1, e
O modelo de Stackelberg tem a primeira parte de seu desenvolvimento igual à
solução de Cournot, até à produção das equações de reação. A partir daí, em vez π2=pq2-CT2
de resolver-se o sistema formado por essas equações, o desfecho de Stackelberg
Donde:
é obtido por meio de duas suposições. A primeira, segundo a qual um dos
duopolistas liderará o duopólio e, em consequência, o outro será seguidor; e, a π1=[80-0,4(q1+q2)]q1-4q1, e
segunda, dando-se a liderança ao outro duopolista, ocasião em que seu rival é π2=[80-0,4(q1+q2)]q2-0,6q22
seguidor, isto é, reage à sua decisão. O desfecho dependerá dos níveis de lucro
As condições de primeira ordem são:
que cada firma poderá auferir em cada uma das duas condições (de líder e de
seguidor ou liderado, ou ainda satélite). Cada firma procurará colocar-se na ∂π1/∂q1=0, e
condição que lhe for mais lucrativa, e daí poderão suceder três situações: (i)
∂π2/∂q2=0.
ambas as firmas pretendem ser a líder; (ii) ambas as firmas pretendem ser a

81
Donde, as equações de reação são: E a produção do duopolista seguidor será:

q1=(76-0,4q2)/0,8=95-0,5q2 q*2=40-(0,2x93,75)

q2=(80-0,4q1)/2=40-0,2q1 Donde:

Até esta altura, a conduta foi exatamente a mesma que se seguiu na solução de q*2=21,25 u.f.
Cournot. No modelo de Stackelberg, estudam-se duas hipóteses a partir deste
O preço único (o oligopólio é homogêneo ou puro) será:
ponto. A primeira é a de considerar o duopolista 1 como líder do duopólio e, em
consequência, o duopolista 2 como seguidor do líder. Na segunda suposição, os PE=80-0,4(93,75+21,25)
papeis dos duopolistas são invertidos. Donde:
Hipótese 1: pE=34,00 u.m.
Duopolista 1 é líder e duopolista 2 é seguidor: Conhecidos o preço de equilíbrio e as quantidades a produzir por cada duopolista
Nesta hipótese, substitui-se, na expressão do lucro da empresa líder a variável q 2 nesta primeira hipótese, determinam-se os lucros:
(produção da empresa seguidora) por sua equação de reação, uma vez que o π1=pq1-4q1=(34,00x93,75)-(4x93,75)
seguidor apenas reage às decisões do líder. O lucro do duopolista líder fica
explicitado em relação à sua própria produção (sobre a qual ele detém controle), Donde:
e é submetido à conduta de maximização, como se segue: π1=2812,50 u.m.
π1={80-0,4[q1+(40-0,2q1)]}q1-4q1 π2=pq2-0,6q22=(34,00x21,25)-(0,6x21,252)
A condição de primeira ordem para maximizar o lucro 34 é: Donde:
dπ1/dq1=0, π2=451,56 u.m.
Donde: Os dois lucros ora calculados serão levados à comparação, no final, com os da
60-0,64q1=0 Hipótese 2, a seguir analisada.

Donde: Hipótese 2:

q1*=93,75 u.f. Duopolista 2 é líder e duopolista 1 é seguidor:

Na presente hipótese, a equação de reação da empresa 1 é que será introduzida


34 Deixa-se de verificar a condição de segunda ordem que apenas confirma tratar-se de um ponto de máximo (e não na expressão do lucro da empresa 2, ora líder:
de mínimo), o que já é reconhecido pela natureza da função (lucro).

82
π2={80-0,4[(95-0,5q2)+q2]}q2-0,6q22 π1=2681,57 u.m.

A condição de primeira ordem para maximizar o lucro 35 é: π2=pq2-0,6q22=(36,75x26,25)-(0,6x26,252)

dπ1/dq1=0, Donde:

Donde: π2=551,25 u.m.

42-1,6q2=0 Do mesmo modo como se indicou no final da Hipótese 1, os dois lucros ora
calculados serão levados à comparação com os daquela Hipótese.
Donde:
Quadro comparativo
q2*=26,25 u.f.
Para a verificação do desfecho de Stackelberg, elabora-se o painel seguinte:
E a produção do duopolista seguidor será:
DUOPOLISTA LÍDER SEGUIDOR
q*1=95-(0,5x26,25) I 2.812,50 2.681,57
II 551,25 451,56
Donde:
Verifica-se que ambas as empresas realizam lucro maior quando se encontram na
q*1=81,88 u.f. condição de líder, ou seja, ambas pretendem liderar o duopólio. Neste caso,
ocorrerá o desequilíbrio de Stackelberg e é provável que as firmas busquem o
O preço único (o oligopólio é homogêneo ou puro) será:
entendimento para a maximização do lucro conjunto.
PE=80-0,4(81,88+26,25)
08.01.05. Concorrência monopolística
Donde:
A concorrência monopolística é uma estrutura de mercado na qual vendedores
pE=36,75 u.m. atomizados ofertam seus bens ou serviços diferenciados a compradores
Conhecidos o preço de equilíbrio e as quantidades a produzir por cada duopolista também atomizados, sendo que cada vendedor percebe ser detentor de um
nesta segunda hipótese, determinam-se os lucros: certo domínio do mercado.

π1=pq1-4q1=(36,75x81,88)-(4x81,88) Os bens ou serviços objeto desse mercado são, portanto, substitutos próximos
mas não perfeitos. A diferenciação, em concorrência monopolística, pode ser
Donde: real ou artificial. A diferenciação é real quando baseada em diferentes
características de tamanho, densidade, natureza de substância, no caso de bens,
e quando baseada em atributos de serviços concretamente diferentes, no caso
35 Deixa-se de verificar a condição de segunda ordem que apenas confirma tratar-se de um ponto de máximo (e não
de mínimo), o que já é reconhecido pela natureza da função (lucro). de serviços.

83
Mas a diferenciação pode ser artificial, também denominada imaginária ou das transações. Apresentam-se, a seguir, breves comentários sobre esses
fictícia, quando apenas leva o consumidor a crer que esteja diante de um mercados.
produto ou serviço diferente daquele que é oferecido por outro(s) vendedor(es).
08.02.01. Concorrência pura e concorrência perfeita dos fatores de produção
A propaganda muito contribui para a disseminação de um produto
artificialmente diferenciado. A concorrência perfeita de fatores de produção é uma estrutura de mercado
praticamente igual à concorrência perfeita de bens e serviços para o
A propaganda é tão importante que a diferenciação se torna acentuadamente
consumidor, com a diferença que os bens e serviços que são vendidos a agentes
dependente dela. Em verdade, são os apelos da publicidade que fazem com que
da produção e não do consumo. Por isso mesmo, neste caso, os bens e serviços
o consumidor passe a dar uma maior atenção ao bem ou serviço objeto da
são ditos fatores de produção.
propaganda, terminando por preferi-lo em razão da percepção a que é induzido
em relação aos atributos do produto ou serviço. Assim, todas as condições enumeradas no sub-item (i), da sub-seção (08.01.01)
são aqui aplicáveis, e os agentes, tanto os que compram quanto os que vendem,
Há uma variada gama de exemplos de estruturas de mercado de concorrência
não podem influir nos níveis de preços nem no comportamento dos demais
monopolística. Muitos estão associados a produtos cujo apelo maior se dê em
agentes que compõem o mercado.
relação a gostos e preferências do consumidor como, por exemplo,
determinados alimentos que são oferecidos por um expressivo número de Em outras palavras, como na concorrência perfeita dos bens serviços finais, os
marcas. Por igual aí incluem-se os artigos de higiene e toucador, de escritório, os agentes econômicos são tomadores de preços. Os preços em concorrência
inúmeros artigos que obedecem às ondas da moda, como peças de vestuário, perfeita resultam da igualdade entre receita e custo marginais e são constantes.
equipamentos individuais de esportes, entre outros. São produtos que 08.02.02. Monopsônio
costumam ser apresentados com embalagens vistosas, fator importante da
diferenciação, para chamar a atenção do consumidor. De modo inverso ao que se passa no monopólio, o regime de monopsônio tem
um único comprador de determinado fator de produção, que atua perante
08.02. Mercados de fatores de produção vendedores atomizados desse fator. Se, em monopólio, é o produtor que
Os mercados dos fatores de produção correspondem a transações que, em um explora os consumidores compradores, no caso presente, de monopsônio, é um
grande número de casos, são realizadas entre firmas, umas produzindo e único comprador que explora os produtores, empurrando o preço do fator de
vendendo insumos produtivos a outras. Mas não somente firmas são agentes produção para baixo.
desses mercados. Mesmo quando um fator de produção é vendido por uma Pode-se afirmar, portanto, que monopsônio é uma estrutura de mercado em
pessoa física, esta última está atuando como agente produtor. É o caso de que um único comprador, ou mesmo um grupo de compradores atuando em
profissionais que vendem seus serviços a firmas ou a outros profissionais. O que bloco, procura e compra sozinho uma determinada quantidade de um fator de
caracteriza o mercado de fatores de produção é a presença destes como objeto produção que lhe é ofertado por vendedores atomizados.

84
Do mesmo modo que o monopolista, o monopsonista não pode fixar, ao mesmo Solução
tempo a quantidade do fator que pretende comprar e o preço que está disposto
A receita total do monopsonista é RT=pq=48L2-0,6L3 e o custo total é
a pagar. Se o monopsonista definir a quantidade, o preço que será pago será
CT=wL=140L+23L2. O lucro será: π=48L2-0,6L3-140L-23L2, donde π=25L2-0,6L3-
definido pelo mercado. Se, ao contrário, o monopsonista estabelecer o preço
140L. A condição de primeira ordem é dπ/dL=0, donde 50L-1,8L3-140=0, donde
que quer impor aos detentores do fator de produção, a quantidade a ser
L’=24,62 e L’=3,16. Verificando-se a condição de segunda ordem, tem-se: -
transacionada depende da função de oferta destes.
3,6L+50<0, donde L>13,88, o que elimina a menor das duas raízes, resultando a
Habitualmente, estuda-se a conduta otimizadora do monopsonista como um solução L=24,62. Essa solução corresponde a um nível de produto igual a
comprador único do fator mão de obra (L), com o qual ele produz o seu produto q=(16x24,622)-(0,2x24,623), donde q*=6713,65 u.f., donde a receita total é
(q). Ele paga salário (w) ao trabalhador e vende seu produto por um preço o RT=pq=3x6713,65=20.140,95 u.m., o custo total é
preço (p), admitido constante, isto é, como se fosse vendido em mercado de CT=(140x24,62)+(23x24,622)=17.388,12 u.m., donde finalmente o lucro é π=RT-
concorrência perfeita. CT=20.140,95-17.388,12=2.752,83 u.m..

Com esses elementos, pode-se afirmar que a função de produção do 08.02.03. Oligopsônio
monopsonista é p=f(L), que sua receita total é RT=pq e seu custo total é dado por
Inversamente ao que se passa com o oligopólio, o oligopsônio é uma estrutura
CT=wL, ou seja, o custo total da firma monopsonista é o custo total do trabalho.
ou regime de mercado em que poucos compradores de fatores de produção
Sucede que o salário que o monopsonista paga depende da quantidade de
adquirem a posse ou o direito de uso de algum desses fatores em mercados
trabalho que ele contrata, isto é, w=g(L) com dw/dL>0. Daí, dC T/dL=w+L.dw/dL.
ofertantes atomizados, influindo no nível de preço a pagar.
Na sua conduta, ele procura maximizar o lucro π=R T-CT=pq-wL, ou ainda,
π=p.f(L)-wL. A condição de primeira ordem é d π/dL=0, donde p.f’L-w- O oligopsônio pode ser puro ou diferenciado, de acordo com a natureza
L.dw/dL=0, donde p.f’L=w+L.dw/dL, o que corresponde a afirmar que o valor do homogênea ou diferenciada, respectivamente, do fator de produção objeto do
produto marginal do monopsonista (membro à esquerda na expressão) é igual mercado oligopsonístico. Como exemplo de oligopsônio, tem-se a venda da
ao custo marginal do trabalho (membro à direita da mesma expressão. A farinha a poucas redes de supermercados em Salvador por um significativo
condição de segunda ordem é: d2π/dL2=p.f”(L)-2g’(L)-L.g”(L)<0, donde número de “Casas de Farinha”, pequenas fábricas, algumas caseiras, no
p.f”(L)<2g’(L)+L.g”(L). Recôncavo Baiano e adjacências. Nesse caso da venda da farinha, as condições
da transação são comandadas pelas poucas redes de supermercados
Exemplo de aplicação 02.28.
compradoras, que avaliam as condições da oferta atomizada e definem os seus
Estudar a conduta otimizadora de um monopsonista cuja função de produção limites de negociação com os donos das referidas pequenas fábricas.
seja q=16L2-0,2L3, sabendo que o preço do salário que ele paga é w=140+23L e
No espaço deste Curso, estuda-se o duopsônio homogêneo e seu desfecho.
que o preço de seu produto é p=3 u.m.
Nesse modelo, cada uma das firmas compradoras detém o controle sobre a
quantidade de suas compras mas é afetada pela quantidade adquirida por seu

85
concorrente. Admita-se que o único fator de produção adquirido seja o trabalho Donde:
(L)36, pago por meio de salário (w) cuja função cresce com a quantidade
p1.g1”(L1)<2f’(L1+L2)+L1.f”(L1+L2)<0
adquirida, isto é, w=f(L1+L2). Admita-se, adicionalmente, que o produto da firma
seja vendido em mercado de concorrência perfeita, isto é, os preços p 1 e p2 são p2.g2”(L2)<2f’(L1+L2)+L2.f”(L1+L2)<0
constantes. As funções de produção das firmas dependem, portanto, apenas do As expressões acima são indicativas de que o valor do produto marginal de cada
fator mão de obra e são do tipo q1=g(L1) e q2=g(L2). Os lucros dos duopsonistas duopsonista deve crescer mais lentamente do que o custo marginal do único
serão: fator de produção.
π1=p1.g1(L1)-L1.f(L1+L2) Exemplo de aplicação 02.29.
π2= p2.g2(L2)-L2.f(L1+L2) Duas firmas prestadoras de serviços cujo insumo único é a mão de obra vão se
As condições de primeira ordem para um máximo são: instalar em uma região e contratarão trabalhadores para esta finalidade. O preço
do salário é função da quantidade total empregada de acordo com a função
∂π1/∂L1=p1.g1’(L1)-f(L1+L2)-L1.f’(L1+L2)=0, e
seguinte: w=1,6+0,1(L1+L2). As funções de produção das firmas são
∂π2/∂L2=p2.g2’(L2)-f(L1+L2)-L2.f’(L1+L2)=0. respectivamente q1=14L1-0,3L12 e q2=10l2-0,1L22. Os produtos das firmas são
vendidos em mercados de concorrência perfeita aos preços unitários p 1=3 u.m. e
Donde:
p2=4 u.m.. Essas firmas adquirirão mais de 70% dos serviços de mão de obra
p1.g1’(L1)=f(L1+L2)+L1.f’(L1+L2) disponível na região, configurando um caso de duopsônio. Estude o desfecho
p2.g2’(L2)=f(L1+L2)-L2.f’(L1+L2) desse caso fazendo uso da solução modificada de Cournot.

As expressões acima indicam que, no equilíbrio, o valor do produto marginal de Solução


cada duopsonista (membro à esquerda de cada equação) é igual ao custo Os lucros dos dois duopsonistas são:
marginal do fator de produção (membro à direita de cada equação). É possível
π1=3(14L1-0,3L12)-L1[1,6+0,1(L1+L2)]
verificar-se que o custo marginal do duopsonista que adquire o mais elevado
nível do fator produtivo é maior do que o custo marginal de seu rival. π2=4(10L2-0,1L22)-L2[1,6+0,1(L1+L2)]

As condições de segunda ordem são: Desenvolvendo essas expressões e reduzindo-as aos termos semelhentes, têm-
se:
p1.g1”(L1)-2f’(L1+L2)-L1.f”(L1+L2)<0
π1=40,4L1-L12-0,1L1L2
p2.g2”(L2)-2f’(L1+L2)-L2.f”(L1+L2)<0,
π2=38,4L2-0,5L22-0,1L1L2
36 O estudo aplica-se a qualquer outro fator de produção.

86
As condições de primeira ordem para a maximização dos lucros dos circunstância é indicativa de que não pode haver uma diferenciação artificial do
duopsonistas são: fator como sói ocorrer com o bem ou serviço na concorrência monopolística.

∂π1/∂L1=0, e 08.03. Monopólio bilateral

∂π2/∂L2=0. O monopólio bilateral é uma estrutura singular de mercado. Nela, defrontam-se


um monopolista com um monopsonista. Sucede que o monopolista, neste caso,
Donde:
não tem uma função de oferta de seu produto, relacionando pares de preço e
40,4-2L1-0,1L2=0 quantidade, pois costuma recorrer à função de demanda de seus compradores,
38,4-L2-0,1L1=0 elegendo um par de preço e quantidade no qual ele maximiza seu lucro.

A solução do sistema de equações acima resulta em L1*=18,37 u.f. e em Do mesmo modo, o monopsonista não tem uma função de demanda pelo
L2*=36,56 u.f.. Conhecidas as quantidades do insumo utilizado, determinam-se insumo que quer comprar. Ele seleciona na função de oferta dos vendedores do
os níveis de produto dos duopsonistas: insumo que ele pretende comprar um par de preço e quantidade que lhe enseje
a maximização de seu lucro.
q1=(14x18,37)-(0,3x18,372)=155,94 u.f., e
Dos comentários acima resulta que, ao se defrontarem, a firma compradora não
q2=(10x36,56)-(0,1x36,562)=231,94 u.f.. tem diante de si uma função de oferta para selecionar um par de valores
Finalmente, os lucros auferidos pelos duopsonistas são: (quantidade e preço), como faria se fosse um monopsonista. E, reciprocamente,
a firma vendedora não encontra diante de si uma função de demanda para
π1=(3x155,94)-18,37[1,6+0,1(18,37+36,56)]=337,52
selecionar um par de valores (quantidade e preço), como faria se fosse um
π2=(4x231,94)-36,56[1,6+0,1(18,37+36,56)]=668,44. monopolista.

08.02.04. Concorrência monopsonística Não é um problema de fácil solução, este da pesquisa do equilíbrio em
monopólio bilateral. Há um certo entendimento entre autores segundo o qual,
A definição de concorrência monopsonística pode ser dada buscando-se a
na negociação das duas firmas, a determinação da quantidade é mais fácil de ser
simetria que existe entre este regime de mercado e a concorrência
alcançada do que a determinação do preço. É razoável imaginar-se que, ao
monopolística. Trata-se, pois, de uma estrutura de mercado em que as firmas
analisarem quantidades possíveis de ser negociadas, as firmas observem que
compradoras são numerosas e não influem no preço do fator de produção que
cada quantidade seja compatível com um determinado nível de lucros máximos
adquirem a detentores de fatores de produção diferenciados.
conjuntos para ambas as partes. E que, por algum processo de entendimento,
Na concorrência monopsonística, é o comprador que emite sinais sobre as elas dividam esse lucro máximo.
características que diferenciam um fator de produção de seu similar. Esta

87
No caso em que busquem negociar o preço, várias forças entram em ação no de preços qualquer que seja o regime de mercado pode ser desenvolvido pelo(a)
processo negocial. Uma dessas forças advém do grau de informação que uma próprio(a) aluno(a) que se interesse em aprofundar o conhecimento de
firma tem sobre a outra, além, evidentemente, da diferença entre suas microeconomia por meio dos exercícios passados em sala.
respectivas capacidades econômicas, sendo o tamanho da firma um dos fatores
que influem nessa capacidade. Adicionado a isso, os níveis de aspiração do
comprador e do vendedor também desempenham importante papel na
negociação. A aspiração todavia constitui um conceito subjetivo, relativo à
disposição de cada uma das partes, que depende da intensidade do desejo de
maximizar seus respectivos resultados. A teoria econômica pouco pode
contribuir na análise desse conceito.

Em geral, o desfecho de um monopólio bilateral pode levar a um de quatro


resultados possíveis: (i) uma das firmas, por ser detentora de condições
econômicas mais vantajosas, ou por outra razão que seja valorizada na
negociação, pode dominar a outra firma, conduzindo-a aceitar as suas bases
negociais; (ii) pode haver coalisão, o que é curioso porque será entre comprador
e vendedor; (iii) pode haver barganha, chegando-se a um resultado negociado; e
(iv) pode não ocorrer nenhum dos casos anteriores e o mecanismo de mercado
ser destruído.

09. Conclusão

Neste Capítulo, estudaram-se os conhecimentos básicos da teoria


microeconômica. Às noções da teoria da produção acrescentaram-se os
conhecimentos relativos ao comportamento da firma racional, destacando-se o
objetivo de maximização de lucro como a principal diretriz seguida pelo
empresário. Esse objetivo está presente na firma qualquer que seja a natureza
do mercado do bem e/ou serviço em que esta atua. Em particular, foram
estudadas a formação de preços em concorrência perfeita e em monopólio,
tratando-se os demais regimes de mercado apenas conceitualmente por falta de
espaço em uma ementa assaz delongada. Apesar disso, o fato de a igualdade
entre custo e receita marginais constituir o mecanismo básico para a formação

88
noções de macroeconomia_________________________________ As unidades que compõem os agregados são o indivíduo ou a família, formando o
capítulo 3 agregado dos consumidores; a firma e outras formas de organizações produtivas
formando o agregado dos produtores; e os órgãos e entidades públicas,
formando o agregado governo.

Questões como a determinação do conjunto de todas as riquezas produzidas por


uma sociedade, a análise do nível geral de preços e o que interfere na
estabilidade destes, a formação da renda da sociedade, o número total de
desempregados e a dinâmica do emprego e desemprego, o salário, a taxa de juro,
a taxa de câmbio fazem parte, entre outros, do rol dos problemas enfrentados na
análise macroeconômica. Cada um desses problemas é representado por uma ou
mais variáveis, ditas variáveis macroeconômicas.

Em macroeconomia, a agregação não é um processo simples pois depende da


variável considerada. A renda total de uma sociedade, por exemplo, resulta da
somatória das rendas de todas as famílias, enquanto que a taxa de inflação
corresponde a uma média de taxas inflacionárias de uma quantidade
razoavelmente grande de setores em cada regiâo. De outro lado, o produto bruto
resulta da adição dos incrementos de valor adicionado a cada etapa da cadeia de
relações interssetoriais, e, assim, o tratamento a cada variável depende das
01. Generalidades características desta.

A macroeconomia compreende o estudo das atividades econômicas por meio da As causas e consequências das expansões, recessões e crises econômicas são,
avaliação do comportamento dos agentes econômicos tomados em agregado, também, objeto dos estudos macroeconômicos, sendo os governos, no
isto é, analisando-se o comportamento dos conjuntos formados por estes cumprimento de sua missão de promover o bem estar social, os grandes
agentes. As economias ditas livres são compostas de três agregados que são os interessados nesses estudos atuando, inclusive, como autores de vários deles.
consumidores, os produtores e o governo. Desse modo, distintamente dos Por isso mesmo, diz-se que o conteúdo teórico macroeconômico é produzido em
estudos microeconômicos, no presente capítulo estudar-se-ão os mecanismos dois distintos níveis de abordagem. O primeiro se dá no terreno da explicação, e
que explicam o comportamento de cada um desses três conjuntos sem é útil para esclarecer o comportamento observado no desempenho das variáveis
necessariamente analisar em detalhe o comportamento de cada unidade ou macroeconômicas. A segunda abordagem, da previsão, objetiva antever o
grupo de unidades que os integra. comportamento das mesmas variáveis macroeconômicas bem como a reação dos
agentes econômicos a esse comportamento. Para tanto, utiliza-se não somente a

89
análise histórica como também a racionalidade das expectativas e formulações O juro ou preço do dinheiro é a remuneração do capital, resultando da aplicação
econométricas que ensejam a simulação do comportamento futuro dos deste. O capitalista pode ser pessoa física ou jurídica. O empresário, quando opta
agregados econômicos. por fazer aplicação financeira de seu capital ― e não aplicação produtiva em
troca de lucro ― recebe, como ganho, o juro. E o aluguel é a remuneração
Os governos, como já referido, são os principais beneficiários da construção do
recebida pelo proprietário de bens, um tipo de riqueza de capital sob a forma de
conhecimento macroeconômico. Eles são, também, os produtores de uma vasta
imobilizado.
quantidade de informações por meio de fatos político-econômicos, números-
índice e de uma variada gama de estatísticas que conformam uma expressiva Ao conceito de salário estão relacionadas duas importantes variáveis
parte da matéria-prima utilizada pelos economistas e pelas instituições de macroeconômicas: emprego e desemprego. Emprego é a utilização do fator de
pesquisa e ensino que consagram o seu esforço à produção do conhecimento produção mão de obra ou trabalho; nos estudos macroeconômicos, o emprego é
macroeconômico. Na primeira das duas condições, isto é, como beneficiários, os caracterizado pelo número de indivíduos com ocupação profissional; e o
governos utilizam tanto os elementos explicativos quanto os de cunho desemprego, por oposição, é a não utilização desse mesmo fator de produção, ou
previsional37 para formular e executar as políticas públicas. seja corresponde à quantidade de pessoas que não encontra ocupação
remunerada. Ambos, emprego e desemprego, podem ser medidos em números
02. Conceitos básicos
absolutos ou por meio de taxas percentuais. A soma desses dois contingentes em
O estudo da macroeconomia implica, como ponto de partida, a definição de uma uma economia em um dado momento é igual à força de trabalho dessa
série de variáveis e indicadores cujos conceitos são sucintamente explorados economia. Portanto, a força de trabalho é a parcela da população que está apta e
nesta seção. O comportamento de cada uma das variáveis macroeconômicas em idade de trabalhar e que, se estiver totalmente ocupada, caracteriza o pleno
afeta a todos os agentes econômicos, direta ou indiretamente. emprego.
Inicia-se pelo conceito de renda que é a remuneração dos proprietários de A poupança é a parcela da renda de um indivíduo ou família que não é dirigida
fatores produtivos. Há quatro tipos de renda: salários, lucros, juros e alugueis. O para o consumo, ou seja, é indicativa de adiamento do consumo. A poupança é a
salário é o pagamento feito aos proprietários do fator trabalho. O termo é economia feita por um agente econômico, reservando recursos financeiros para
derivado da palavra sal que, historicamente, foi uma mercadoria-moeda com que necessidades futuras.
se fazia o pagamento pelo trabalho das pessoas 38. Os lucros são a remuneração
O consumo é a parte da renda de um indivíduo ou família que se destina aos
do empresário que, para obtê-la, faz investimentos e paga salários, além de pagar
gastos com a compra de mercadorias e serviços para a satisfação de suas
para obter outros insumos produtivos inerentes à sua atividade empresarial. O
necessidades. São os gastos com alimentação, saúde, transportes, vestuários,
empresário tanto aufere lucros como os distribui por meio de dividendos.
educação, recreação, entre outros.

O investimento é a aplicação de recursos financeiros poupados para aumentar a


37 37 Termo consagrado pelo uso no linguajar dos economistas. capacidade produtiva, isto é, objetivando ganhos nos médio e longo prazos. Tem,
38 Procede de salariu, palavra latina que significa ração de sal.

90
portanto, a finalidade da formação de novas riquezas, que são riquezas de apenas os valores adicionados entre cada etapa e a imediatamente seguinte para
capital. Freqüentemente são feitas referências, em economia, a investimento por evitar-se a dupla contagem.
meio de aplicação de dinheiro em títulos, ações, imóveis e em caderneta de
O Nível Geral de Preços constitui um indicador econômico cuja variação identifica
poupança, com o objetivo de se obterem ganhos. O conceito de investimento é,
a inflação ou deflação em um dado período. No Brasil, o índice de preços mais
entretanto, mais abrangente, correspondendo, também e em grande medida, à
comum é o Índice de Preços ao Consumidor – IPC, que corresponde à medida do
aplicação de capital em empreendimentos produtivos, direta ou indiretamente,
custo de vida39. Dois relevantes conceitos associados ao Nível Geral de Preços são
como fábricas, infra-estrutura, obras diversas e outros mais.
os dos Preços Rígidos e Preços Flexíveis. Os Preços Rígidos são relacionados com a
O Produto Interno Bruto – PIB é a medida de toda a produção realizada em um análise de curto prazo, enquanto que os Preços Flexíveis são inerentes à análise
país ou região durante um dado intervalo de tempo, normalmente de um ano, e de longo prazo. A flexibilidade nos níveis de preços que se observa na análise de
corresponde à somal de todos os bens e serviços que se produziram longo prazo resulta de novos cenários de procura e oferta que vão surgindo com
internamente na economia deste país ou região. O PIB inclui, portanto, a o passar do tempo e que vão modificando as condições de cada mercado
contribuição dos estrangeiros que residem e produzem no país, mas deixa de parcial40.
computar a contribuição dos emigrantes que estão produzindo em outros
Inflação é o aumento persistente do Nível Geral de Preços de uma expressiva
ambientes econômicos que não o do país.
quantidade ― senão de todos ― de bens e serviços. De outro lado, o movimento
O Produto Nacional Bruto – PNB é um outro conceito de grande relevância no oposto que os preços podem experimentar, isto é, a queda persistente,
contexto da análise macroeconômica. Define-se o PNB como a medida de toda a corresponde ao fenômeno da deflação. À elevação de preços em um ritmo
produção realizada em um país ou região durante determinado intervalo de menor do que o que se observava em período imediatamente anterior dá-se o
tempo, normalmente de um ano, adicionada do saldo líquido dos fatores nome de desinflação, ou seja, quando se passa a ter uma desaceleração da
externos que resulta das receitas recebidas do exterior, deduzidas das receitas inflação. Portanto, enquanto a deflação corresponde a uma queda absoluta do
enviadas para outros países de acordo com os registros do balanço de nível de preços, a desinflação corresponde a uma redução no ritmo de
pagamentos, adiante comentado. crescimento destes.

Ambos, PIB e PNB, são fundamentalmente medidas básicas da atividade Câmbio é a conversão de um preço em uma dada moeda para outra moeda por
econômica, porque refletem o tamanho de uma economia, sendo os parâmetros meio de um multiplicador. Esse multiplicador é denominado taxa de câmbio. A
que costumam ser observados desde as abordagens preliminares que se fazem a taxa de câmbio constitui o elemento chave para as atividades de importação e
respeito da economia de um país, estado ou região. Seus respectivos cálculos exportação. A importação é a aquisição de bens e/ou serviços de outro país por
podem ser feitos pelos preços de mercado dos bens e serviços finais uma vez que meio de agentes econômicos do país importador, enquanto que a exportação é a
estes incorporam os custos sucessivos das etapas anteriores de cada cadeia de
relações interssetoriais. Podem, também, ser procedidos seguindo-se as trilhas 39 Tema abordado na parte final deste capítulo.
40 A expressão mercado parcial é indicativa do mercado individualizado de cada bem ou serviço conforme estudado
dessas cadeias de relações interssetoriais porém com o cuidado de somarem-se no Capítulo 2 (Noções de Microeconomia).

91
venda de bens e/ou serviços para outro país pela ação de agentes econômicos do As variáveis macroeconômicas podem ser classificadas como exógenas e
país exportador. Em macroeconomia, tanto importação quanto exportação são endógenas. As primeiras são variáveis de origem externa a determinado processo
referidas por uma cifra monetária. No caso das importações, essa cifra resulta da que se esteja analisando e que afetem este processo, enquanto que as variáveis
soma monetária de todos os bens e serviços adquiridos a agentes econômicos de endógenas são variáveis inerentes ao processo ou fenômeno estudado, ou seja,
outros países. No caso das exportações, essa cifra resulta da soma monetária de são internas a este. A crise de 2008, nascida nos Estados Unidos, produziu
todos os bens e serviços vendidos, por agentes econômicos, públicos ou privados, variáveis que afetaram, em maior ou menor grau, a economia de outros países.
a compradores de outros países. Tais variáveis foram exógenas às economias dos países afetados.

A balança comercial e o balanço de pagamentos são conceitos associados ao Conforme já mencionado, os conceitos ora relacionados dizem respeito a um ou
câmbio. A balança comercial é o registro das exportações e importações mais agregados da economia, caracterizando o caráter macroeconômico da
realizadas em determinado período de tempo, normalmente anualizado. Os análise. Há, evidentemente, uma série de outros conceitos de interesse dos
preços adotados nesse registro não incluem o frete e o seguro das mercadorias, estudos macroeconômicos afora os citados. Uma significativa parte desses outros
isto é, são preços FOB41. O balanço de pagamentos corresponde ao registro conceitos é derivada dos acima enumerados. Por exemplo, a propensão a
contábil de todas as transações econômicas de um país com todos os outros consumir deriva do conceito de consumo, tanto quanto a propensão a poupar
países, incluindo as transações correntes e a conta de capital financeira. As deriva do conceito de poupança. Entretanto, é aos conceitos que integram a
transações correntes contêm a balança comercial, a balança de serviços, a relação da presente seção que mais se recorre, o que fez com que a ênfase deste
balança de rendas e as transferências unilaterais correntes. É na balança de texto recaísse sobre eles. Outros conceitos e variáveis serão objeto de referência
serviços que se procedem aos registros de seguros e fretes, serviços na continuação deste capítulo.
governamentais, alugueis de equipamentos, entre outros.
03. Estoques e Fluxos
Recessão é a redução significativa porém passageira da atividade econômica. Há
Algumas variáveis econômicas podem ser analisadas ou entrar no cálculo de
várias definições técnicas para recessão, sendo a mais usual a de considerar-se
algum tipo de avaliação simplesmente por sua magnitude em dado momento.
que uma economia entra em recessão quando vê o seu PIB reduzir-se por dois
Essas são chamadas de variáveis de estoque. Por exemplo, a quantidade de
trimestres consecutivos. Por outro lado, depressão reflete uma grave crise
papel-moeda em um país, tanto quanto a população desse país, é um estoque
econômica com drástica e duradoura redução da produção e do consumo.
em dado momento que pode se estender por um lapso de tempo menor ou
41Os preços FOB (Free on Board) não incluem os custos de embarque, transporte e desembarque entre dois países
maior. Com a moderna dinâmica econômica, o estoque de moeda em circulação
que mantêm relações comerciais, tampouco os seguros associados às operações de importação e exportação. pode manter-se por várias semanas e mesmo por alguns meses, sem sofrer
Distinguem-se dos preços CIF (Cost, Insurance and Freight) que resultam da soma do preço FOB com os custos com
seguros e fretes. Esses conceitos de preços são, também, habitualmente utilizados no mercado de bens domésticos variação apreciável, dependendo do grau de estabilidade e do ritmo de
mediante adaptação. Por essa adaptação, por exemplo, se um fabricante produz e vende um equipamento ou bem crescimento da economia. Analogamente, em demografia, tema recorrente no
outro qualquer a um comerciante, entregando-o na loja do fabricante e, portanto, cobrando o seguro e o frete além
do preço do equipamento, o preço é dito CIF ou preço posto-loja (produto posto na loja do comprador). Mas se, contexto dos estudos macroeconômicos, pode suceder o mesmo com o estoque
nessa transação, diferentemente, o comprador se responsabilizar pelo transporte e seguro, pagando ao fabricante
apenas pelo equipamento, então o preço é FOB ou preço posto-fábrica (produto posto na fábrica do vendedor). da população de uma região em que se observe um balanço zero (na prática, um

92
número muito pequeno) entre nascimentos, mortes, imigração e emigração. De poupança nasce já nos primeiros dias do ser humano no planeta: poupar
modo igual, a quantidade de pessoas empregadas é uma variável de estoque. significa, como já foi referido, adiar consumo.

Mas há variáveis que implicam a noção de tempo em sua definição. É o que Ao mesmo tempo, o ser humano fez, quando necessário, trocas de algo de que
sucede, por exemplo, com o PIB de um país, o qual costuma ser avaliado por ano. dispunha por bens outros de que precisava. A moeda de troca que ele usava para
Do mesmo modo ocorre com os gastos governamentais desse país, ou, ainda, pagar, que era a própria mercadoria de que dispunha, um dia mais tarde veio a
com o salário do trabalhador uma vez que, neste último caso, há um fluxo mensal dar lugar ao aparecimento da moeda tal como esta se apresenta hodiernamente.
ou semanal. Essas são variáveis de fluxo. Conforme se percebe, essa moeda de troca era fruto do trabalho do ser humano
já que se tratava de algo que ele produziu. Nesse caso, a referida moeda de troca
A distinção entre estoques e fluxos é importante na formulação de soluções para
usada na transação era parte de sua renda, isto é, parte da renda de sua
a Política Econômica. Por exemplo, se o fluxo de gastos governamentais
atividade produtiva. Daí infere-se que tudo quanto ele produziu durante
aumentar, certamente o fluxo de alguma outra variável econômica também
determinado intervalo de tempo transformou-se em renda sua nesse mesmo
precisará ser aumentado, ao mesmo tempo em que, possivelmente, os fluxos de
período e, portanto, produto é igual a renda! Essa é a primeira identidade
terceira(s) outra(s) variável(eis) terão que reduzir-se. Por exemplo, o aumento do
macroeconómica a fixar, a qual será indicada do modo seguinte:
salário mínimo pode ser acompanhado da redução do ritmo com que vinha
crescendo a inadimplência na praça. Em um outro exemplo, no caso de uma Y=P,
variável de estoque, pode-se considerar a análise de como a quantidade de
Onde:
capital de uma economia afeta o nível de emprego e renda. No processo de
análise econômica é importante ter-se em mente a natureza da variável, se de Y é a renda; e
estoque ou se de fluxo, pois cada uma dessas duas categorias (estoques e fluxos) P é o produto, ou produto bruto, podendo ser interno ou nacional.
influi no processo econômico de modo distinto. Enquanto uma variável de
estoque se altera apenas episodicamente, uma variável de fluxo está em No trato teórico, a unidade de medida, tanto de Y quanto de P, será a moeda, ou
permanente ritmo de modificação. dinheiro ou, ainda, numerário, como usualmente se refere a dinheiro Na prática,
P é o conjunto total da riqueza produzida sob a forma de produtos e serviços
04. Produto e renda: abordagem preliminar heterogêneos, e Y é a remuneração recebida pelas famílias porquanto estas,
O agente motor de uma economia é o ser humano que, desde os tempos além de atuarem como agentes do consumo, também atuam como agentes que
primitivos, precisou consumir e, para ter o que consumir, também precisou realizam a produção para as firmas e outras formas de organizações produtivas. A
produzir. Caça, pesca, colheita e busca de abrigo foram as atividades produtivas firma é o principal agente moderno da produção fazendo uso dos fatores
dos primórdios do ser humano na Terra. Uma parte do produto da caça, da pesca produtivos, entre os quais a mão de obra (família). Portanto, o conceito a fixar,
e/ou da colheita era consumida imediatamente (função consumo) e outra era
guardada para consumo nos dias seguintes (função poupança). O conceito de

93
repete-se, é o da igualdade entre produto e renda, o que explica o fato de, em Fig. 03.01 – Produto Interno Bruto de uma economia fictícia no ano 1
Bem ou serviço Unid de Medida Quantidade Prç Unitário (u.m.*) Prod. Econ. (u.m.)
inúmeras ocasiões, tomar-se um pelo outro42. A ton 180 12,00 2.160,00
B m3 70 60,00 4.200,00
Há outras identidades macroeconômicas básicas. Para melhor entendimento C gl** 82 45,00 3.690,00
dessas identidades adicionais, no entanto, expendem-se, nas sub-seções Total - - - 10.050,00
* unidade monetária.
imediatamente seguintes, algumas variantes do conceito macroeconômico da ** galão
palavra produto. Surgirão, nesse contexto, além das variantes produto interno, Como já referido, esse exercício financeiro, isto é, o ano de 1, é o ano-base para
produto nacional e produto potencial, alguns conceitos associados como, por fins de análise da evolução do PIB-real, ao longo deste e do ano imediatamente
exemplo, deflator e hiato de produto, todos de grande relevância na análise subsequente. Como o ano-base é o ponto de partida, então o PIB observado
macroeconômica. nesse ano, igual a 10.050,00 u.m., é, ao mesmo tempo, o PIB-real e o PIB-
04.01. PIB e deflator nominal. O ano-base de uma série para fins de acompanhamento do crescimento
de uma economia pode ser qualquer um. É comum que sejam escolhidos anos
O Produto Interno Bruto é a somatória do valor monetário de todos os bens finais
iniciais de uma série do calendário. Por exemplo, o ano 2000 para a série 2000-
produzidos em um dado país ou região durante um ano, como já referido neste
2009; ou o ano 2001, para a década 2001-2010. Entretanto, repete-se, a escolha
texto. Há uma diferença entre o PIB e o Produto Nacional Bruto – PNB,
de um ano para ser tomado como referência pode recair sobre qualquer um. O
explicitada mais adiante.
que norteia a escolha de um ano-base são o objeto e o critério da análise que se
Para melhor compreensão da medida do Produto Interno Bruto, suponha-se a pretenda elaborar.
existência de uma hipotética economia na qual somente três bens e/ou serviços
Como já referido na seção 02, ao definir-se o Produto Interno Bruto, arrolaram-se
finais sejam produzidos, os bens ou serviços A, B e C. Proceder-se-á à análise do
somente os bens e produtos finais para entrar nessa contagem. Por exemplo,
comportamento dessa economia em dois anos consecutivos, 1 e 2. As
peças de vestuário que não para fardamento de pessoal em organizações são
quantidades e os preços unitários dos bens e/ou serviços dessa economia,
bens finais, e, portanto, entram no cômputo. Camisas, calças, lenços e um sem-
admitidos constantes durante todo o ano 1, são apresentados no quadro da
número de outras mercadorias de consumo final estão também enquadradas
Figura 03.01. Considere-se que esta seja a produção de um ano, tomado como
nessa condição. Entretanto, os produtos intermediários que servem à fabricação
exercício financeiro e que corresponda ao ano-base para determinação do PIB-
de peças de vestuário como, por exemplo, os tecidos, a linha de costura, os
real em anos subsequentes.
botões e outros complementos, não devem ser computados no cálculo, porque já
O Produto Interno Bruto dessa economia é igual a 10.050,00 unidades estão embutidos no custo da mercadoria ou bem final. O fato de incluir no
monetárias e está calculado em valores nominais, ou seja em valores correntes cálculo os produtos intermediários levaria a uma múltipla contagem para a
do exercício financeiro correspondente ao ano 1. formação do Produto Interno Bruto, aumentando o valor deste de maneira
equivocada. Para que não haja, portanto, a múltipla contagem, somente os bens
42 Seguidamente, autores utilizam a notação Y para indicar o produto de uma economia.
e serviços finais devem compor o quadro de cálculo do Produto Interno Bruto.

94
Alternativamente, no entanto, pode-se fazer o cálculo do Produto Interno Bruto economia. Para se determinar que parcela desse percentual cabe a cada uma das
incluindo-se as diversas etapas de cada processo, desde que computando-se alterações mencionadas, pode-se fazer o cálculo do Produto Bruto Total do ano 2
apenas o valor adicionado entre uma etapa e a que se lhe segue imediatamente a preços do ano 1, do que resultarão os valores constantes da tabela da Figura
na trama de relações intersetoriais, evitando-se, assim, a repetição de valores já 03.03.
computados.
Mediante esse artifício, o incremento do Produto Interno Bruto calculado entre
Suponha-se, agora, que, no exercício financeiro 2, o Produto Interno Bruto dessa as tabelas das Figuras 03.01 e 03.03 terá sido resultante apenas do aumento das
mesma economia seja dado pela tabela da Figura 03.02, à qual não se quantidades produzidas, e será igual a:
acrescentou nenhum produto novo, mas suas respectivas produções Fig. 03.03 – Produto Interno Bruto da economia fictícia considerada no ano de 2 a
(quantidades) e preços se alteraram. preços do ano 1
Bem ou serviço Unid de Medida Quantidade Prç Unitário (u.m.*) Prod. Econ. (u.m.)
A ton 200 12,00 2.400,00
B m3 80 60,00 4.800,00
C gl** 100 45,00 4.500,00
Total - - - 11.700,00
Fig. 03.02 – Produto Interno Bruto da economia fictícia considerada no ano 2 * unidade monetária.
Bem ou serviço Unid de Medida Quantidade Prç Unitário (u.m.*) Prod. Econ. (u.m.) ** galão
A ton 200 16,00 3.200,00
B m3 80 65,00 5.200,00 Variação (Ano 2/Ano 1) a preços correntes de 1=[(11.700,00/10.050,00)-
C gl** 100 50,00 5.000,00 1,00].100=11,43%,
Total - - - 13.400,00
* unidade monetária. que é o aumento real da atividade econômica. Daí, o aumento devido ao
** galão
aumento de preços (inflação) será igual à diferença entre o aumento nominal e o
Comparando-se as tabelas das referidas Figuras 03.01 e 03.02, percebe-se que
aumento real da economia, ou seja:
houve um incremento de 33% entre os exercícios financeiros de 1 e 2, conforme
o cálculo seguinte: Variação real (Ano 2-Ano 1)=33,00%-11,43%= 21,57%

Variação (Ano 2/Ano 1) a preços correntes de cada À relação (PIB-nominal/PIB-real) de um mesmo exercício financeiro dá-se o
exercício=[(13.400,00/10.050,00)-1,00].100=33% nome de Deflator do PIB. No caso presente do ano 2, tendo-se como ano-base o
ano 1, o Deflator é igual a (13.400,00/11.700,00)=1,145.
Sucede que, tendo havido incremento de preços e também de quantidades
produzidas, o incremento de 33% no Produto Interno Bruto dessa sociedade é Por fim, o PIB pode também ser referido a cada indivíduo que integra a sociedade
explicado em parte pelo aumento de preços, e em outra parte pelo aumento das (PIB per capita), bastando, para tanto, que se o divida pela população. Caso a
quantidades produzidas. A parte do aumento do PIB devida ao aumento de população da hipotética economia acima ilustrada fosse de 1.000 habitantes no
preços corresponde à inflação, enquanto que a parte do aumento do PIB devido ano 1, então o PIB per capita a preços do ano 1 seria:
ao aumento de quantidades de bens produzidas reflete o crescimento real da PIB per capita a preços do ano 1=11.700,00/1.000=11,70 u.m./habitante

95
E, caso a população fosse de 1020 habitantes no ano 2, então o PIB per capita do externos são medidos pelo saldo de remessas de rendas do país para fora e de
ano 2, será: fora para o país.

PIB per capita do ano 2=13.400/1.020=13,14 u.m./habitante. PIB+RLFE=PNB

Exemplo de aplicação 03.01 onde:


O PIB de um país passou de 1.000 u.m. para 1.100 u.m. de um ano para o
RLFE é a renda líquida de fatores externos.
seguinte. Qual o deflator desse PIB no segundo ano sabendo-se que a inflação de
um ano para o outro foi de 7,00%? A RLFE, por seu turno, é igual a:
Solução RLFE=RR-RE,
O deflator do segundo ano é dado por:
Defl(2)=PIBnom(2)/PIBreal(2), onde:
Sendo o PIBrea(2)=PIB(1) + (0,10-0,07)xPIB(1) RR é a renda recebida do exterior; e
Donde:
RE é a renda enviada ao exterior.
PIBrea(2)=1.000 + (0,03 x 1.000)
Donde: Se RE>RR, resultará que RLFE<0 e, conseqüentemente, PNB>PIB. Conforme se
PIBrea(2)= 1.030 u.m. percebe, o Produto Nacional Bruto pode ser maior ou menor do que o Produto
E o deflator será: Interno Bruto, tudo dependendo do saldo entre a renda enviada e a renda
Defl(2)=1.100/1.030, recebida do exterior.
Donde:
Exemplo de aplicação 03.02
Defl(2)=1,068.
O PIB de uma economia é 3.000 u.m.. As receitas recebidas do exterior são de 120
04.02. PIB e PNB u.m. e as receitas enviadas para o exterior são de 80 u.m.. Calcular o PNB dessa
economia.
Conforme já referido, o Produto Interno Bruto – PIB é o valor agregado de todos
Solução
os bens e serviços finais produzidos no território de um país, independentemente
da nacionalidade dos proprietários dos fatores de produção. Como já Partindo de:
mencionado, excluem-se, neste caso, as transações intermediárias, cuidado
PNB=PIB+RRE—REE,
essencial para que seja evitada a multiplicidade na contagem das parcelas do PIB.
Tem-se:
De outro lado, conceitua-se como Produto Nacional Bruto – PNB, ao valor do PIB
somado algebricamente com a receita líquida dos fatores externos. Os fatores PNB=3.000 +120-80

Donde:

96
PNB=3.040 u.m. O PIB potencial é uma variável de difícil determinação pois refere-se ao que
poderia ter sido produzido se restrições tecnológicas e/ou econômicas fossem
04.03. Produto potencial e hiato de produto
removidas ou inexistissem.
O Produto Potencial é o nível de PIB correspondente a um estado da economia
Uma das hipóteses mais presentes na análise do produto potencial é a de
no qual todos os fatores de produção estão sendo plenamente empregados. Dito
restrições impostas pela inflação uma vez que este fenômeno macroeconômico
de outro modo, é o nível de PIB que corresponde ao limite de crescimento de
impede o emprego de todos os fatores de produção em sua plenitude.
uma economia sem que surjam desequilíbrios. O PIB potencial é normalmente
comparado com o PIB medido (PIB observado), também referido como PIB
efetivo, e a diferença entre um e outro é denominada hiato do produto. Fig. 03.04 – PIB potencial e PIB efetivo da economia brasileira no período 1992-2005 em
termos de números-índice (ano de 2004=100)
Trata-se de um indicador útil na formulação das políticas monetária e fiscal. No
primeiro caso, o PIB potencial ― ou mesmo o hiato do produto ― serve para
avaliar possíveis pressões de demanda que podem produzir flutuações
econômicas, ensejando a antecipação de medidas para contê-las. Entre as
possíveis flutuações econômicas, prioridade é dada à inflação. No caso da política
fiscal, o produto potencial é extremamente útil para avaliar-se o resultado fiscal
estrutural do governo. O gráfico da Figura 03.04 apresenta resultados do PIB
potencial brasileiro no período 1992-2005, a valores de 2004.

Uma rápida leitura do mencionado gráfico permite verificar, por exemplo, que o
período que se estende entre o segundo semestre de 1994 e o segundo semestre
de 1995 foi de expansão econômica uma vez que o hiato do produto apresentou-
se positivo (linha rosa por cima da linha azul); e, que, contrariamente, o período
que vai do terceiro trimestre de 1997 até o quarto trimestre de 2001 foi de
Fonte: Souza Jr, J.R. Produto Potencial: conceitos, métodos de estimação e aplicação à economia brasileira. IPEA.
contração econômica porquanto o hiato do produto esteve negativo; e, que entre Texto para discussão no 1.130. Rio de Janeiro. 2005.
o final do primeiro período indicado nesse exemplo e o início do segundo período
utilizado também nesse exemplo, o PIB potencial esteve muito próximo do PIB
observado. Essa aderência do PIB observado ao potencial é indicativa de que a Reforça-se, aqui, o fato de que o produto potencial não é o máximo que se pode
economia esteve, no referido período, em um estado próximo ao estado de conseguir a qualquer custo, isto é, em marcha forçada. Trata-se, antes, do
equilíbrio. produto alcançado quando todos os mercados se encontram em equilíbrio de

97
longo prazo. O conceito de PIB potencial ainda experimenta limitações que, por Em macroeconomia, essa distinção é importante porque a variável preço pode
certo, serão superadas com o avanço da pesquisa. ser analisada em termos de preços de mercado e em termos de preços a custos
de fatores, dependendo do enfoque de cada análise.
Destacam-se, aqui, duas dessas limitações. A primeira reside no fato de a
determinação do produto potencial cingir-se a uma análise somente do lado da Exemplo de aplicação 03.03
oferta, deixando de considerar a demanda como fator indutor do aumento do Determinar o PIB a preços de ,mercado sabendo que o PIB a custo de fatores é
investimento, o que retroalimentaria a oferta. E, a segunda, é o fato de a análise 1.000 u.m., que o governo paga subsídios no montante de 100 u.m. e que os
não revisitar ou mesmo não aprofundar o conceito de Produtividade Total dos impostos indiretos correspondem a 20% do PIB a preços de mercado.
Fatores de Produção, referida como PTF. Solução
Partindo de:
04.04. PIB e PNB a preços de mercado e a custos de fatores
PIBpm=PIBcf+II-Subsd,
O produto bruto, interno ou nacional, normalmente é referido a preços de Tem-se:
mercado. Os preços de mercado incluem os tributos indiretos que são pagos PIBpm=1.000+(0,20 x PIBpm)-100,
pelas firmas ao produzirem e ao comercializarem seus bens e serviços. No Brasil, Donde:
esses tributos são, no caso de mercadorias, respectivamente, o Imposto sobre PIBpm=1.125 u.m.
Produtos Industrializados – IPI que é um tributo federal, e o Imposto sobre a
Circulação de Bens e Serviços – ICMS, que é um tributo estadual. 04.05. Produtos interno e nacional brutos e líquidos
O fato de esses tributos já se encontrarem embutidos nos preços do bens e Na seção seguinte, serão estudadas as identidades macroeconômicas básicas. Na
serviços adquiridos pelo consmidor é indicativo de que ditos tributos são decomposição do produto, ver-se-á que uma das parcelas é o investimento.
indiretos, representados pela notação II. Conforme se percebe, a notação está Quando se faz referência ao investimento sem qualquer restrição, diz-se estar
tomando o todo pela parte dado que impostos são um dentre os vários tipos de tratando do investimento bruto. O investimento bruto é composto de duas
tributos. parcelas: o investimento líquido e a depreciação de ativos já existentes.
preços de mercado são resultado da soma dos preços a custos de fatores com os A depreciação de um ativo reflete o custo da manutenção da capacidade
tributos indiretos pagos pelas firmas e deduzidos os subsídios, estes últimos se funcional desse ativo. Por exemplo, a manutenção de equipamentos e do prédio
houver. A expressão do PIB a preços de mercado é: de uma fábrica, tanto quanto o recapeamento da camada de asfalto de uma
PIBpm=PIBcf+II-Sbsd rodovia implicam custos de depreciação.

De igual modo, conceitua-se o PNB a preços de mercado e o PNB a custos de De outro lado, a ampliação do número de equipamentos e/ou do prédio da
fatores, com a seguinte expressão análoga: fábrica bem como a duplicação da rodovia implicam investimento que fazem
aumentar esses ativos, correspondendo, portanto, a investimento líquido.
PNBpm=PNBcf+II-Sbsd

98
No cálculo do PIB, e também do PNB, a parcela de investimento corresponde ao PNBpm=5.000 +200 -100=5.100,
investimento bruto. Se se deduzir a depreciação da parcela do investimento
Donde:
bruto, passa-se a ter apenas o investimento líquido na formação do produto, e
estes deixam de ser os produtos brutos para se tornarem produtos líquidos, PNLpm=5.100-(0,10 x 5.000),
respectivamente Produto Interno Líquido (PIL) e Produto Nacional Líquido (PNL). Donde PNLpm=4.600 u.m.
As representações algébricas, para um outro, são:
05. Identidades macroeconômicas básicas
PIL=PIB-D; e
O estudo das identidades macroeconômicas básicas implica analisar o equilíbrio
PNL=PNB-D, macroeconômico, a identidade entre poupança e investimento, o financiamento
onde D é a parcela da depreciação. do déficit público e a decomposição da renda nacional.

Por extensão, haverá Produto Interno Líquido a preços de mercado (PILpm), o 05.01. Equilíbrio macroeconômico
Produto Interno Líquido a custos de fatores (PILcf), o Produto Nacional Líquido a O equilíbrio macroeconômico é alcançado quando oferta e demanda agregadas
preços de mercado (PNLpm) e o Produto Nacional Líquido a custos de fatores de bens e serviços se igualam. A oferta agregada de bens e serviços depende da
(PNLcf). disponibilidade de fatores de produção existente na economia em um dado
Exemplo de aplicação 03.04 momento.
O PIB de uma economia a preços de mercado é 5.000 u.m. Calcule o PNL a preços Em uma perspectiva de curto prazo, admite-se que as quantidades disponíveis
de mercado dessa economia sabendo que as receitas recebidas do exterior desses fatores sejam constantes oferecendo um determinado nível de produto
montam a 200 u.m., as receitas enviadas para o exterior correspondem a 100 potencial. Para melhor entendimento, o equilíbrio macroeconômico será
u.m. e a taxa de depreciação é 10% do PIB a preços de mercado. estudado, nesta seção, para três hipóteses de economia, partindo da mais
Solução simples para a mais complexa, esta última a mais aderente à realidade das
A expressão do PNLpm=PNBpm-D economias dos países.

Donde: Essa divisão em três hipóteses de economia, uma primeira, fechada e sem
governo, uma segunda, também fechada e com governo, e, a terceira, aberta e
PNLpm=PNBpm- (0,10 x PIB),
necessariamente com governo, não passa de um artifício didático de que se lança
Onde: mão para que se compreenda melhor o papel do agregado governo (na passagem
da primeira para a segunda hipótese) e, em seguida, do comércio exterior (na
PNBpm=PIBpm+RRE-REE,
passagem da segunda para a terceira hipótese).
Donde:

99
(i) Economia fechada e sem governo As transferências representam gastos do governo em favor do bem estar das
famílias, com fundos de previdência social e de auxílios de tipos diversos como os
Em uma economia fechada e sem governo a oferta se compõe da soma de duas
valores pagos por meio da Bolsa-Família e outros programas assistenciais. O total
parcelas: a que é produzida para atender ao consumo (C); e a que é produzida a
G dos gastos governamentais é sustentado por duas fontes principais que são os
título de investimento para permitir a continuidade e o crescimento do processo
tributos (T) e a venda de títulos de sua emissão no mercado financeiro. O
produtivo (I). Nessa mesma economia, a demanda agregada é composta dos bens
governo recorre à emissão de títulos quando há déficit orçamentário, isto é
e serviços que são consumidos (C), acrescidos de uma parcela que corresponde
quando T<G. Idealmente, um governo deveria não contrair dívidas e gastar
ao que é poupado (S).
exatamente o montante arrecadado, isto é T=G. Comumente ocorre, no entanto,
Daí, a igualdade entre oferta e demanda conduz a C+I=C+S, donde I=S, ou seja, que desequilíbrios de fases governamentais anteriores, ou então quando
tudo quanto é poupado em uma economia é drenado para investimento. governos pretendem realizar ações cujos custos não encontram contrapartida na
(ii) Economia fechada e com governo arrecadação, seja contraída dívida: a dívida pública. Nessas situações, o governo
precisa ajustar seus custos totais de modo a produzir um superávit, denominado
Na sub-seção anterior, considerou-se uma economia fechada e sem governo. Na superávit primário que é igual a (T-G). São os casos em que aparece a
presente, analisa-se uma economia ainda fechada, porém com governo. Não desigualdade T>G.
havendo trocas com o exterior, o equilíbrio é alcançado mediante a igualdade da
oferta (produto Y) e demanda, agora constituída de três parcelas: consumo (C), O tratamento da questão relativa à magnitude de G e de T diz respeito à política
investimento (I) e gastos de governo (G), como se segue: fiscal e não são considerados no modelo de equilíbrio que se analisa nesta seção.
Dito de outro modo, G e T são variáveis de controle, controle este que é exercido
Y=C+I+G pelo governo, portanto são variáveis exógenas ao modelo.
O governo realiza gastos com a manutenção de suas respectivas estruturas (iii) Economia aberta e com governo
orgânicas, com investimentos de interesse coletivo e com as transferências. Para
a manutenção das estruturas, o governo paga salários e outras formas de Introduzindo, agora, o conceito de economias abertas, que corresponde ao caso
remuneração a servidores, realiza compras, faz transferências de recursos, mais geral, sobretudo em um mundo de economia globalizada, surgem as
totalizando seus gastos (G). Os investimentos públicos integram a parcela “I”, do importações e as exportações que precisam ser integradas à expressão do
produto “Y”. Por exemplo, quando o governo contrata a construção de uma equilíbrio. As importações, cuja notação será M, integram-se à oferta agregada,
ferrovia, está realizando um investimento, no caso, um investimento público. isto é, ao membro à esquerda da expressão. E as exportações, cuja notação será
Mas quando o governo adquire cartuchos de tinta para a produção de X, integram-se à demanda agregada, ou seja, ao membro à direita da mesma
documentos, está realizando um gasto de consumo. O pagamento das faturas da expressão, do que resulta:
construtora que executa a ferrovia é parte de “I”, enquanto que o pagamento Y+M=C+I+G+X
pela compra dos cartuchos é parte de “G”.

100
A expressão acima reflete o lado da economia real, e não a monetária. As Solução
importações M (em bens e serviços) se acrescentam ao produto Y (em bens e
Partindo-se de Y=C+I+G+X-M e substituindo os dados conhecidos, tem-se:
serviços) compondo a oferta agregada. Analogamente, as exportações X
correspondem a demandas exercidas por agentes econômicos de outros países, Y=0,60Y+0,20Y+300+500-300
também em termos de bens e serviços. Juntamente com o consumo, os Donde:
investimentos e os gastos de governo, X comporá a demanda agregada. A
referida expressão do equilíbrio entre oferta e demanda agregadas considerando Y=2.500 u.m.
uma economia aberta pode ser reescrita do modo seguinte: 05.02. Decomposição do investimento
Y=C+I+G+X-M Há duas abordagens distintas para a análise da composição do investimento. A
A parcela binomial (X-M) representa as exportações líquidas ou saldo da balança primeira, já apresentada na seção 04.05, está relacionada com a separação do
comercial. Essa parcela é simétrica da poupança externa (M-X), porque, como já investimento bruto em investimento líquido (Ilíq) e depreciação (D). Como já
mencionado, M é a parte da produção de agentes de outros países que é referido, o investimento líquido corresponde à aplicação de recursos monetários
ofertada na economia do país sob estudo e X é a parte da produção deste país que efetivamente fazem aumentar o produto da economia, enquanto que a
sob estudo que é exportada, isto é, que é comprada por agentes de outros depreciação corresponde à aplicação de recursos objetivando a manutenção da
países. A partir dessa expressão, é possível determinar-se como o investimento é capacidade funcional de investimentos já realizados.
financiado pela poupança e como o excesso de poupança em relação ao A segunda abordagem da composição do investimento está relacionada com a
investimento pode financiar o déficit público. As duas subseções seguintes natureza dos bens resultantes da ação de investir. Nessa abordagem, separa-se o
mostrarão, respectivamente, como a poupança atua como fonte de recursos do montante correspondente ao capital fixo daquele correspondente aos bens
investimento, e como o déficit público pode ser socorrido pelo excesso de produzidos para serem vendidos mas que ainda não foram transacionados. Esses
poupança privada em relação ao investimento e/ou pela poupança externa últimos, como são bens de consumo futuro, integram a parcela do investimento.
positiva. Convém observar que o investimento é a parte do produto da economia que não
Exemplo de aplicação 03.05 é consumida durante o período de formação do produto. Portanto, na
Determinar o produto interno bruto de uma economia aberta e com governo decomposição da parcela do investimento segundo esta abordagem surgem as
sabendo-se que o investimento bruto corresponde a 20% deste produto, o duas seguintes parcelas:
consumo equivale a 60% também deste produto, que os gastos do governo I=FBKF+ΔE,
montam a 300 u.m., que as exportações são iguais a 500 u.m. e as importações
Onde:
são iguais a 300 u.m.
FBKF é a formação bruta de capital fixo; e

101
ΔE é a variação de estoques. Simplificando-se, em seguida, o membro da direita e rearranjando-se os termos
de ambos os membros de modo a explicitar I em relação à demais variáveis, tem-
Observa-se que a variação de estoques pode ser positiva ou negativa.
se:
Exemplo de aplicação 03.06
I=(Y-C-T)+(T-G)+(M-X)
Em uma economia, dados PIBpm=1450 u.m. (unidades monetárias), C=800 u.m.,
FBKF=100 u.m., G=400 u.m., X=600 u.m., e M=500 u.m., determinar a variação do Onde:
estoque experimentada por essa economia.
Y-C-T corresponde à poupança privada que é a parcela que sobra da renda
Solução
depois de deduzidos o consumo e os tributos;
Partindo de:
T-G corresponde à poupança pública porque é a diferença entre a
PIBpm=C+FBKF+ΔE+G+X-M, arrecadação e o gasto total do governo; e

Tem-se: M-X é a poupança externa, porque é a diferença positiva entre o que


produziu-se em outros países e que veio por compra internacional para
ΔE=PIBpm-C-FBKF-G-X+M
consumo ou utilização no país sob estudo e o que se produziu neste país
Donde: sob estudo e que foi levado, mediante venda internacional, para
ΔE=1450-800-100-400-600+500, consumo ou utilização em outros países.

Donde: A expressão portanto é o mesmo que I=Sprivada+Spública+Sexterna, ou, ainda, em


termos de totalização:
ΔE=50 u.m.
I=S,
05.03. Origem dos recursos para investimento
A poupança privada corresponde ao saldo remanescente em mãos das famílias e
Recursos para investimento podem advir de fontes diversas podendo, inclusive, firmas depois de deduzidos as despesas com o consumo e o pagamento dos
ser providos por empréstimos de curto e longo prazos. A fonte natural de tributos (obrigações fiscais). A poupança pública corresponde ao saldo do
recursos para investimento é, no entanto e como já referido anteriormente, a governo em conta corrente e sua formação depende de o governo gastar menos
poupança. A seguir, demonstra-se o porquê dessa afirmação. do que arrecada. E a poupança externa equivale ao déficit em transações
Subtraindo-se C+T de ambos os membros de Y=C+I+G+X-M, obtém-se: correntes do balanço de pagamentos.

Y-C-T=C+I+G+X-M-C-T,
Exemplo de aplicação 03.07

102
O PIB de uma economia aberta e com governo é 4.000 u.m.. O consumo é de fatores de ampliação de dívida pública, normalmente administradas e, quando
2.500 u.m., os gastos governamentais são de 900 u.m. e a arrecadação de não quitadas, transferidas de uma gestão de governo para a seguinte. A fonte
tributos corresponde a 20% do PIB. As exportações líquidas são de 180 u.m.. Qual natural de eliminação do déficit público reside nas poupanças, privada e externa,
a capacidade de investimento dessa economia em termos de proporção do PIB? como se demonstra a seguir.
Solução
Partindo-se da expressão Y-C-T=C+I+G+X-M-C-T, e explicitando-se (G-T) em
Partindo-se de: relação às demais variáveis, encontrar-se-á:

I=(Y-C-T)+(T-G)+(M-X), e considerando T=0,20 x Y = 800, além dos demais dados G-T=(Y-C-T)-I+(M-X)


do enunciado, tem-se:
Donde:
I=(4.000-2.500-800)+(800-900)+180,
Déficit público=(Spriv-I)+Sexterna
Donde:
O membro à direita da igualdade acima mostra que é necessário que a soma da
I=780 u.m. que, como proporção do PIB é igual a (780/4000)x100=19,50%. poupança privada com a externa supere o investimento

para que sejam gerados recursos objetivando a eliminação do déficit público. Em


outras palavras, em uma economia aberta, o déficit público deve ser financiado
05.04. Origem dos recursos para financiar o déficit público
por uma composição entre as poupanças privada e externa e o nível de
O déficit público pode ser financiado por meio de recursos de natureza variada. investimento. Nos tópicos especiais deste Capítulo (subseção 11.01), voltar-se-á
Entre esses, alinham-se o aumento de tributos, a emissão de títulos da dívida ao tema da dívida pública, como ela surge e os critérios de seu manejo.
pública, empréstimos, reescalonamento de compromissos já assumidos, vencidos
Exemplo de aplicação 03.08
e/ou vincendos por prazos mais elastecidos e, mesmo tratando-se de um recurso
O deficit público de uma economia aberta e com governo em dado momento é
condenável à economia, emissão de moeda. O exame dessas possibilidades faz
800 u.m.. O PIB a preços de mercado dessa economia é 5.000 u.m., o consumo
parte do estudo da economia do setor público, não integrante do programa deste
corresponde a 60% deste PIB e a carga tributária equivale a 10% deste mesmo
Curso. Idealmente, não deveria haver déficit público uma vez que os governos
PIB. As exportações montam a 600 u.m. e o investimento é igual a 1.100 u.m..
deveriam gastar exatamente o que arrecadam. Na prática, entretanto, não é o
Pergunta-se: qual o montante das importações? Suponha que o governo adote
que ocorre, não somente pela imprevisibilidade que assalta alguns gastos
medidas que estimulem o aumento do consumo c, e que, destas medidas tenham
governamentais como, por exemplo, uma inesperada epidemia que surge depois
resultado, ao cabo de um ano, um aumento do consumo para 3.200 u.m., do PIB
que o orçamento público já se encontra em aplicação sem a correspondente
para 5.100 u.m., e da arrecadação para 510 u.m. tudo o mais mantido constante,
provisão para enfrentá-la. Em outra ordem de exemplo, um eventual
qual o nível final do deficit público?
desaquecimento da economia que implique significativa redução da arrecadação
Solução
de tributos. Déficits públicos ocorrem com freqüência, e são os geradores ou

103
Substituindo-se os dados conhecidos em: PILcf=C+Ilíq+G+X-M-II+Sbsd,

G-T=(Y-C-T)-I+(M-X) Transformando-se o Produto Interno Líquido em Produto Nacional Líquido


acrescentando-se ao PILcf a receita recebida do exterior e deduzindo-se a receita
Tem-se:
enviada ao exterior:
800=(5.000-3.000-500)-1.100+(M-600)
PNLcf=C+Ilíq+G+X-M+RRE-REE-II+Sbsd
Donde:
A expressão acima corresponde, por definição, à renda nacional RN. Daí:
M=1.000 u.m.
RN= C+Ilíq+G+X-M+Rre-Ree-II+Sbsd
Com a adoção das medidas, o deficit público passa a ser:
A renda nacional é formada a partir dos salários, juros, lucro e alugueis recebidos
G-T = (5.100 – 3.200 – 510)-1.100+(1.000-600), pelas famílias.
Donde: G-T = 690 u.m. Em continuação, se se deduzirem da renda nacional os lucros retidos pelas
firmas, os impostos diretos pagos pelas firmas, as contribuições previdenciárias
recolhidas pelas firmas e, ao mesmo tempo, se se acrescentarem as
05.05. Decomposição da renda nacional transferências feitas pelo governo e os juros pagos pelo governo, obtém-se a
Partindo-se do Produto Interno Bruto a preços de mercado, a expressão do renda pessoal, ou seja:
equilíbrio maacroeconômico geral é: Rpess=RN-Lretfirm-IDfirm-Cprev+Tr+Jgov = C+Ilíq+G+X-M+Rre-Ree-II+Sbsd-Lretfirm-IDfirm-Cprev+Tr+Jgov
Y=PIBpm=C+I+G+X-M Por fim, se se deduzir, da renda pessoal, o imposto de renda pessoa física, chega-
Donde, decompondo a parcela do investimento em investimento líquido e se à renda pessoal disponível, isto é:
depreciação, tem-se: Rpessdisp=Rpess-IRPF.
PIBpm=C+Ilíq+D+G+X-M A renda pessoal disponível se reparte em consumo, poupança, juros e
Deduzindo-se a parcela da depreciação, passa-se do Produto Bruto ao Produto prestações.
Líquido: Exemplo de aplicação 03.09
PILpm=PIBpm-D=C+Ilíq+G+X-M, Considerem-se os seguintes dados macroeconômicos de um país: (i) PNB a preços
de mercado=2.000 unidades monetárias (u.m.); (ii) Receitas enviadas para o
Considerando-se, em seguida, que PILpm=PILcf+II-Sbsd, pode-se explicitar o Produto exterior=10 u.m.; (iii) Receitas recebidas do exterior=20 u.m.; (iv)
Interno Líquido a custo de fatores: Exportações=400u.m.; (v) Importações=180u.m.; (vi) Gastos do Governo=600
u.m.; (vii) Depreciação=10% do Investimento; (viii) Investimento=25% do PIB a

104
preços de mercado; (xii) Impostos Indiretos=8% do PIB a preços de mercado; (xiii) fossem dando conformação a diferentes tipos de abordagem ao problema. Essas
A soma dos lucros retidos pelas empresas com os impostos diretos e as diferentes abordagens constituem os modelos de análise que serão sintetizados
contribuições previdenciárias recolhidas pelas empresas é 430 u.m.; (xiv) As na presente seção. Na sequência, são apresentadas as características principais
transferências oriundas do governo montam a 25 u.m.; (xv) Os juros pagos pelo
do modelo clássico, do modelo keynesiano e do modelo ISxLM para uma
governo correspondem a 30 u.m.; e (xvi) A alíquota média do Imposto de Renda
da pessoa física é de 15% sobre a renda disponível. Pede-se determinar: (i) O PIB a economia fechada. O estudo do modelo ISxLM para uma economia aberta é
preços de mercado; (ii) O PNL a preços de mercado; (iii) O consumo; (iv) A renda remetido para leitura posterior de parte de alunos(as) que pretenderem se
nacional; (v) A renda pessoal; e (vi) A renda pessoal disponível. aprofundar nos estudos macroeconômicos. No espaço deste Curso, a base do
conhecimento se limita até o modelo ISxLM em economias fechadas, ou ISxLM
Solução
simplesmente, porquanto, com esta base assimilada, o(a) estudante tem
(i) A expressão PIBpm+RRE-REE=PNBpm permite calcular o PIBpm, como se segue: condições de desenvolver o modelo ISxLM para economias abertas, referido
PIBpm=2.000-10+20, donde PIBpm=2.010 u.m.; como ISxLMxBP. Esse mesmo comentário é válido para o estudo dos casos
especiais dos modelos ISxLM, excluídos deste texto e para o modelo de
(ii) Partindo de PNLpm=PNBpm-D, sendo D=0,10 x 0,25 x 2.500, donde D=50,25 determinação conjunta de produto e inflação. Inobstante tais exclusões, este
u.m.. Daí, PNLpm=2.000-50,25, donde PNLpm=1.949,75 u.m.; capítulo consagra algumas seções ao estudo da taxa de câmbio, da inflação, do
(iii) Da expressão PIBpm=C+I+G+X-M, tem-se C=PIBpm-I-G-X+M, sendo I=0,25 x desemprego, entre outras que conceituam importantes variáveis
2.010, donde I=502,50, e finalmente: C=2.010-502,50-600-100+180, donde macroeconômicas.
C=1.087,50 u.m.; 06.01. Síntese do modelo clássico
Historicamente, o primeiro exercício desenvolvido para explicar o nível de renda
(iv) RN=PNLcf, sendo PNLcf=PNLpm-II+Sbsd e II=0,08 x 2.010, ou seja, II=160,80. Daí,
de uma economia foi o modelo clássico, que elegeu a quantidade de trabalho
PNLcf=1.949,75-160,80+60, donde PNLcf=RN=1.848,95 u.m.
como variável determinante do produto. Para tanto, foram alinhadas no modelo
(v) Rpess=RN-Lucrretp/firmas-IDpagosp/firmas-Cprevrecolhpfirmas+Transfgov+Juropagopgov, donde as seguintes considerações:
Rpess=1.848,95-430+25+30, isto é, Rpess=1.413,95 u.m.; e (i) os mercados da economia são de concorrência perfeita e tendem a se auto-
regular;
(vi) Rpessdisp=(1-0,15).Rpess=0,85 x 1.413,95, donde Rpessdisp=1.201,86 u.m.
(ii) a oferta gera sua própria demanda (lei de Say43);
06. Determinação da renda (iii) o estoque de capital e o nível de tecnologia são constantes;
A determinação da renda constitui uma das questões centrais da análise (iv) inexistência de desemprego involuntário; e
macroeconômica, pois a renda de uma economia depende do concurso de vários (v) papel neutro da moeda que atua apenas para refletir os níveis de preços
fatores (variáveis macroeconômicas), alguns dos quais são utilizados determinado pela demanda agregada.
(administrados) na formulação da política macroeconômica de um país. A
evolução dos estudos sobre a determinação da renda fez com que os avanços 43 Say, Jean-Baptiste (1767-1832), economista francês.

105
Incorpora-se às condições ora apresentadas, as quais refletem as simplificações mudança de dois para três trabalhadores é de 80 unidades físicas do produto, e o
do modelo, a função de produção, da forma: valor desse produto marginal é igual a (80 u.f. x 10 u.m./u.f.)=800 u.m.
Y=f(K,L,Tg) Em decorrência desse valor do produto marginal, para demandar o trabalho de
Onde: três trabalhadores, os produtores estarão dispostos a remunerar cada um dos
Y é o produto ou renda; três por 800 u.m. porque este é o valor monetário acrescentado pelo terceiro
K é o estoque de capital que, como referido, é constante; trabalhador.
L é o estoque utilizado de trabalho, que é a variável do modelo; e Fig. 03.05 – Demanda das firmas por trabalho
Tg é o nível de tecnologia, também considerado invariável. No de Produto Prod. marg. Preço unit do Valor do
trabalhadores total Y do trabalho produto prod
Como todo e qualquer mercado, o de trabalho é comandado por uma função de (u.f). (u.f.*) (u.m.**) marginal
demanda e por uma função de oferta que são representadas em diagrama de (u.m)
1 100 100 10 1.000
quantidade de trabalho e preço do salário. 2 190 90 10 900
Analisa-se, preliminarmente, a demanda. As firmas contratarão mão de obra até 3 270 80 10 800
determinada quantidade cujo valor do incremento da produtividade seja igual ao 4 340 70 10 700
5 400 60 10 600
salário pago. *Unidade física.
Essa condicionante pode ser melhor compreendida por meio dos dados da tabela ** Unidade monetária.
A condição de equilíbrio corresponde, portanto, à igualdade entre o salário
da Figura 03.05. Nessa tabela, a quantidade de trabalho é representada pelo
nominal que é pago e o valor do produto marginal. Em termos algébricos, essa
número de trabalhadores e o nível de produto é dado por uma quantidade física
condição é representada por:
que corresponde à de um produto equivalente de toda a economia, ou seja, a
VPMGL=W
quantidade que seria produzida caso a economia só produzisse um único produto
Dadas as condições ora apresentadas, o nível de produto, e consequentemente
encarnando o conceito de produto típico, isto é, um só produto representativo da
da renda da economia, são definidos com base na lei dos rendimentos
quantidade e da heterogeneidade de todos os produtos dessa economia.
decrescentes (vide Capítulo 2 deste Curso), considerando-se a quantidade de
Além disso, o preço unitário do produto é fixo dado o pressuposto do modelo
trabalho como insumo variável.
segundo o qual o ambiente é de concorrência perfeita. Por fim, o valor do
A quantidade de trabalho é determinada, por seu turno, pelo equilíbrio do
produto marginal é dado em unidades monetárias., resultado da multiplicação do
mercado de trabalho, resultante da interação de oferta e demanda de mão de
produto marginal pelo preço de venda do produto.
obra.
O incremento de produto a cada novo trabalhador adicionado corresponde ao
Os diagramas da Figura 03.06 apresentam esse resultado do modelo. O nível de
produto marginal do trabalho. Por exemplo, ao passar de uma operação com dois
utilização do fator trabalho (L) é transferido do diagrama inferior da referida
trabalhadores para três, o conjunto de produtores vê seu produto físico evoluir
Figura 03.06 para o diagrama superior, definindo o produto da economia e,
de 190 unidades físicas para 270 unidades físicas. O produto marginal dessa
consequentemente, a renda Y.

106
A quantidade de trabalho corresponde à variável independente em ambos os Determinar, pelo modelo clássico, o produto bruto de uma economia cuja função
diagramas, enquanto que a variável dependente é a renda (e o produto) no de produção agregada é Y=12L2-0,3L3, e que as funções de demanda e oferta de
diagrama superior e o salário real no diagrama inferior. trabalho sejam respectivamente Wr=80-L e Wr=20+5L, sendo Wr o salário real, e
L expresso em 106 trabalhadores.
Fig. 03.06 – Produto de equilíbrio no Modelo Clássico Solução
De Ws=WD, tem-se 80-L=20+5L, donde L*=10x106. Entrando-se com o número de
trabalhadores encontrado na equação do produto (PIB), tem-se: YE=900x106 u.m.

06.02. Síntese do modelo keynesiano


O ambiente econômico da grande depressão de 1929 inspirou o economista
britânico John Maynard Keynes (1883-1946) a elaborar um modelo com diretrizes
para o combate ao desemprego que se alastrava nos Estados Unidos, havia
atravessado o Atlântico e já promovia desarranjo macroeconômico em algumas
nações europeias. O modelo formulado é, ao mesmo tempo, uma crítica ao
modelo clássico.
O ponto de partida é a observação de Keynes segundo a qual níveis reduzidos de
consumo privado e de investimentos produtivos motivaram o desemprego em
1929. Em 1936, ele publicou seu trabalho principal A Teoria do Emprego, do Juro
e da Moeda, no qual demonstrou que as decisões de gasto é que determinam o
nível de renda. O resultado do modelo keynesiano é o estabelecimento do
multiplicador autônomo de gastos, o qual revela que a renda, e
consequentemente o produto de uma economia, cresce em uma proporção
superior aos gastos realizados, seja de consumo seja de investimento. Para
melhor compreensão, o modelo será estudado em três etapas, uma primeira
admitindo que a economia somente conte com dois agregados, consumidores e
produtores; uma segunda, considerando os três agregados, isto é,
acrescentando-se o governo à etapa anterior, porém limitando a economia a seu
mercado interno (economia fechada); e, a terceira e última etapa, considerando
Exemplo de aplicação 03.10
os três agregados macroeconômicos em um ambiente de economia aberta, ou

107
seja, uma economia que mantém relações com outras, trazendo como novo Quando a renda de uma família aumenta, o consumo também aumenta, mas
ingrediante, as exportações e importações. quase sempre as alterações observadas nos padrões desse consumo não
Antes de desenvolver cada uma dessas etapas, aborda-se o tratamento dado por obedecem a um comportamento estritamente proporcional, ou seja, não há uma
Keynes a quatro importantes variáveis: o consumo, a poupança, o investimento e linearidade na variação dos gastos quando comparada com a variação do
os gastos de governo. Nesse contexto, surgem os conceitos de propensão a consumo da família. Isso sucede porque a relação entre a propensão média a
consumir, de propensão a poupar, e de propensão a tributar, todos em duas consumir e a propensão média a poupar sofre alteração quando se altera o nível
dimensões, a média e a marginal. de renda. O que se mantém constante é a soma das participações relativas
dessas duas propensões, que é sempre igual à unidade, ou seja, uma parte da
Para melhor compreender como se formam consumo e poupança, convém
renda de cada família é canalizada para o consumo, e o seu complemento, se
analisar a maneira como a renda das famílias correntemente se distribui entre
houver, é poupado. As variações do que se consome e do que se poupa quando a
estas duas variáveis. Admita-se, para tanto, que a tabela da Figura 03.07 seja
renda varia, que, para variações elementares da renda, correspondem,
indicativa do comportamento da família típica de uma economia fictícia em
respectivamente, a propensão marginal e consumir e propensão marginal a
termos de distribuição de sua renda.
poupar são, também, variáveis macroeconômicas de relevo na análise do
As necessidades de consumo costumam indicar, quando confrontadas com o equilíbrio da economia. A renda da família aqui considerada é a renda líquida,
nível de renda, a parcela que resta à família para a finalidade de poupar. O isto é, o que sobra da renda bruta depois de deduzidos os tributos que a família
consumo de uma família depende do número de seus integrantes, suas faixas de recolhe ao erário. Em continuação, passa-se a analisar o tratamento conferido
idade, seus hábitos e, evidentemente, de seu nível de renda. Surgem, nesta por Keynes às mencionadas variáveis.
análise, dois novos conceitos: o da propensão a consumir e o da propensão a
- Consumo
poupar, ambos relacionados com suas respectivas dimensões média e marginal.
As quatro colunas à direita na referida Figura 03.07 apresentam aplicações O consumo da sociedade depende principalmente de quanto lhe resta em termos
desses conceitos. da renda Y depois de deduzidos os tributos, isto é,
Fig. 03.07 – Distribuição da renda de uma família
Renda disp. Consumo Poupança Prop. Mg. a Prop. Mg. a Prop. Méd. Prop. Méd. C=f(Y-T),
Y C S cons. poup. cons a poup.
ΔC/ΔY ΔS/ΔY C/Y S/Y onde T representa os tributos cobrados. Parte dessa sobra de renda após o
1000 1200 -200 1,1 -0,1 1,2 -0,2
2000 2300 -300 0,7 0,3 1,15 -0,15
pagamento dos tributos é aplicada em consumo e o restante é poupado. A parte
3000 3000 0 0,8 0,2 1 0 que é destinada ao consumo depende da propensão marginal a consumir das
4000 3800 200 0,3 0,7 0,95 0,05
5000 4100 900 0,4 0,6 0,82 0,18 famílias, que corresponde a [dC/d(Y-T)]. Essa derivada reflete a inclinação em
6000 4500 1500 0,5 0,5 0,75 0,25 cada ponto da curva de consumo em função da renda disponível, também
7000 5000 2000 --- --- 0,71 0,29
chamada de Curva da Função Consumo, conforme ilustrado pela Figura 03.08.

108
A forma corrente da representação da função consumo é C=C.+Pmgc(Y-T), onde C0 posto que, mesmo sem renda, o indivíduo realiza o consumo autônomo. Daí
é o consumo autônomo, Pmgc é a propensão marginal a consumir e Y é a renda. resulta que o gráfico cartesiano do consumo tem o formato mostrado na Figura
Além disso, por mera simplificação de raciocínio, considera-se que a função de 03.09. Uma vez mais, observa-se que, no caso de uma economia sem governo,
consumo seja linear. T=0 na abcissa do gráfico cartesiano da função sob análise.

No gráfico da mencionada Figura 03.08, a propensão marginal a consumir das


famílias corresponde à inclinação da curva de consumo. Por fim, observa-se que a
Fig. 03.09 – Curva da função poupança
parte não consumida da renda disponível é levada à poupança que, em última
análise, nada mais é, conforme já referido, do que o adiamento do consumo.
Observa-se que, no caso de uma economia sem governo, o nível de “T” (tributos)
na abcissa do gráfico da já referida Figura 03.08 seria T=0.

Fig. 03.08 – Curva da função consumo

A expressão da curva da função poupança é S=-Ca+Pmgs(Y-T), onde:


- Pmgs é a propensão marginal a poupar, sendo Pmgs=1-Pmgc.;
- Ca é o consumo autônomo;
- Y é a renda; e
- T é o tributo.
- Investimento
No Brasil, a proporção do consumo em relação ao PIB vem se reduzindo, tendo Em seu modelo, Keynes não explica esta função, admitindo-a como autônoma,
passado de um patamar superior a 75% no final dos anos 1940 para ou seja: I=Ia.
aproximadamente 60% nos dias atuais. - Gastos de governo
O modelo keynesiano considera que o governo tenha gastos definidos
- Poupança
autonomamente, tanto em suas despesas correntes de custeio e investimento
Poupança significa o adiamento do consumo. Como já referido, poupança e quanto nas tranferências que faz ao setor privado.
consumo se complementam na formação da renda. Para a renda líquida nula, isto
é, para Y-T=0, a poupança é negativa e igual em módulo ao consumo autônomo,

109
A seguir, apresentam-se as três etapas de desenvolvimento do modelo Onde a expressão entre colchetes é o multiplicador dos gastos autônomos em
keynesiano, começando pelo formato mais simples de uma economia fictícia uma economia fechada e sem governo. Chamando esse multiplicador de ᾳ, e os
constituída apenas de dois agregados, os consumidores e os produtores. gastos autônomos de A, tem-se, finalmente:
Y=ᾳGA, e ΔY=ᾳ(ΔA), o que significa que uma variação dos gastos autônomos
(i) Economia fechada e sem governo produz uma variação na renda em uma proporção maior do que a variação de
A simulação de uma economia fechada, isto é, sem relações com outros países, e tais gastos, posto que, como Pmgc é sempre menor do que a unidade, o
sem governo, dois artifícios que serão removidos na sequência desta seção, faz multiplicador ᾳ será sempre maior do que a unidade. Daí resulta uma
com que a renda nacional se origine apenas da necessidade das famílias para consequência importante para a formulação da política macroeconômica que é o
satisfazerem o seu consumo e, em havendo sobras, guardarem-nas para fato de que um aumento nos gastos autônomos (C e/ou Ia) faz o produto bruto da
necessidades futuras. Essas sobras são a poupança. Genericamente, pode-se economia crescer em uma proporção superior a este aumento.
então afirmar que a renda das famílias se distribui em consumo, ou gasto, e Exemplo de aplicação 03.11
poupança, sendo que a poupança é drenada para investimento, isto é: Dada a propensão marginal a consumir P mgc=0,60 de uma economia, determine o
gasto autônomo capaz de produzir uma variação na renda igual a 2.500 unidades
Y=C+I,
monetárias (u.m.), Se o gasto autônomo com o investimento não variar, qual a
Onde: variação do gasto autônomo com o consumo?
Y é a renda nacional;
Solução
C é o consumo; e O multiplicador é igual a ᾳ=1/(1-0,60)=2,5. De ΔY=ᾳ(ΔA), tem-se ΔA=2500/2,5,
I é o investimento. donde ΔA=1000. Considerando que ΔA=ΔCa+ΔIa, se ΔIa=0, donde ΔCa=1000.

Com base nos conceitos de consumo e poupança formulados na teoria


(ii) Economia fechada e com governo
keynesiana, já expendidos, e na acepção igualmente keynesiana do caráter
A equação do equilíbrio macroeconômico assume a forma seguinte:
autônomo do investimento, passa-se ao cálculo do multiplicador dos gastos
Y=C+I+G,
autônomos.
onde a variável nova em relação ao modelo anterior cuja economia era fechada e
Substituindo as expressões C=Ca+PmgcY e I=Ia em Y=C+I, tem-se: sem governo, são exatamente os gastos de governo (G). O governo atua
Y=Ca+PmgcY+Ia. realizando gastos para adquirir bens e serviços de interesse público, e com a
Explicitando-se a renda em relação às demais variáveis, chega-se à expressão: transferência de recursos monetários para o setor privado. Tais transferências
Y=[1/(1-Pmgc)](Ca+Ia), correspondem a aposentadorias, pensões, bolsas-auxílio, entre outros. Para fazer
face a esses custos, o governo arrecada tributos de espécies diversas como, por
exemplo, impostos, taxas, contribuições de melhoria e preços públicos.

110
O modelo keynesiano adota o critério segundo o qual tanto os gastos quanto as Y={1/[1-Pmgc(1—Pmgt)]}(Ca+Ia+Ga+Pmgc.Tr).
transferências governamentais sejam autônomos, ou seja. G=Ga e Tr=Tra. Ao O multiplicador keynesiano será a parte da última expressão que está entre entre
mesmo tempo, considera que o governo tribute consoante sua propensão chaves, ou seja:
marginal relativa a esta finalidade, isto é, sua propensão marginal a tributar β=1/[1-Pmgc(1—Pmgt)].
(Pmgt). Em outras palavras, que o montante de tributos seja igual a uma fração da A variação da renda será, portanto, igual a:
renda dada por: T=Pmgt.Y ΔY=β.[Δ(Ca+Ia+Ga+Pmgc.Tra).
A renda disponível, Yd, será:
Yd=Y-T+Tr. Exemplo de aplicação 03.12
Considerando a expressão do consumo já estudada no modelo de economia Dadas as propensões marginais a consumir e a tributar, P mgc=0,55 e Pmgt=0,35,
fechada e sem governo, esta passará a ser escrita do modo seguinte: além dos seguintes gastos autônomos: Ia=0,18Y; Ga=1000; Tr=100 e Ca=400.
C=Ca+Pmgc.Yd, Determine a renda da economia.
donde: Solução
C=Ca+Pmgc (Y-T+Tr), Cálculo do multiplicador:
donde: β=1/[1-0,55(1-0,35)]=1,56
C=Ca+Pmgc.Tr+Pmgc[Y-Pmgt.Y] A renda ou produto será:
donde finalmente: Y=1,56[400+0,18Y+1000+(0,55x100]
C=Ca+Pmgc.Tr+Pmgc[1-Pmgt.]Y. Donde:
A expressão acima corresponde à versão da função consumo em uma economia Y=3.113,00 u.m.
fechada e com governo. Essa expressão indica que quanto maior for a propensão (iii) Economia aberta
marginal a consumir e menor for a propensão marginal a tributar, tanto maior No estudo da economia aberta e com governo, o modelo keynesiano considera
será o consumo da economia. que as exportações sejam autônomas (X=Xa) e que as importações sejam
Para determinar-se o multiplicador dos gastos autônomos, entra-se com a compostas de uma parcela autônoma e de uma segunda parcela que depende da
expressão de C, acima encontrada, na equação do equilíbrio macroeconômico propensão marginal a importar, isto é, M=Ma+Pmgm. Dadas essas condições, a
Y=C+I+G, consideranjohndo, como já indicado, que as variáveis I e G sejam renda será:
autônomas. Daí: Y=Ca+Pmgc.Tr+Pmgc[1-Pmgt.]Y+Ia+Ga+Xa-Ma-Pmgm.
Y=Ca+Pmgc.Tr+Pmgc[1-Pmgt.]Y+Ia+Ga, Explicitando-se a expressão acima em relação a Y, tem-se:
Isolando os gastos que dependem de decisões autônomas na equação da renda Y={1/[1-Pmgc(1-Pmgt)]+Pmgm}.[Ca+(Pmgc.Tr)+Ia+Ga+Xa-Ma,
acima: O multiplicador keynesiano será a parte da última expressão que está entre entre
Y-Pmgc[1-Pmgt]Y=Ca+ Ia+Pmgc.Tr, chaves, ou seja:
donde:] γ=1/[1-Pmgc(1—Pmgt)+Pmgm].

111
E variação da renda será: Y=C+I+G,
ΔY= γ.[Δ(Ca+Ia+Ga+Pmgc.Tr+Xa-Ma). E os seguintes pressupostos são adotados:
Exemplo de aplicação 03.13 - O consumo C segue o mesmo padrão do modelo keynesiano;
Dados C=120+0,60Y, Tr=2, Ia=180, Ga=30, Xa=200, M=120+0,10Y, e Pmgt=0,30 - O gasto de governo é autônomo (G=Ga); e
determinar a renda de equilíbrio da economia e o multiplicador de gastos. - O investimento depende da taxa de juro “i”, variando numa proporção inversa à
da variação deste conforme se demonstra na seção 07.
Solução Daí:
Cálculo do multiplicador: C=Ca+Pmgc.Tra+Pmgc(1-Pmgt)Y;
γ=1/[1-0,60(1—0,30)+0,10] G=Ga; e
Donde: I=Ia-θi.
γ=2,08. Na terceira das condições acima, “θ” é a sensibilidade-juro da demanda por
A renda será: investimento. Estabelecem-se, a seguir, as equações e representações gráficas
Y=2,08[120+(0,60x2)+180+30+200-120-0,10Y], das curvas IS e LM:
Donde: Y=706,30 u.m. - Curva IS:
Parte-se do produto (ou renda) de equilíbrio:
06.03.Síntese do modelo ISxLM
Y=Ca+Pmgc.Tr+Pmgc(1-Pmgt)Y+Ia-θi+Ga
Este modelo, conhecido pelos nomes de duas curvas (IS e LM), teve sua versão Separando-se, no membro da direita da expressão acima, os gastos que
original apresentada por Hicks e resulta da evolução da Teoria Geral de Keynes, dependem de decisões autônomas, tem-se:
trazendo como ingrediente novo o mercado monetário. Y[1-Pmgc(1-Pmgt)]=Ca+Pmgc.Tra+(Ia-θi)+Ga
O sistema é organizado, portanto, em dois mercados, o de bens e serviços, Em seguida, chamando-se os gastos autônomos de A, isto é: Ca+Pmgc.Tra+Ia+Ga, a
representado pela curva IS (investment savings), e o monetário, representado expressão da renda de equilíbrio se transforma em:
pela curva LM (liquidity preference money)44. Y={1/[1-Pmgc(1-Pmgt)]}.(A- θi),
O modelo ISxLM é aplicado a economias fechadas e com governo. Para as Onde 1/[1-Pmgc(1-Pmgt)]=β, isto é, é o muliplicador keynesiano para uma economia
economias abertas (necessariamente com governos), o modelo que deriva do fechada e com governo.
ISxLM é ISxLMxBP, onde BP é o Balanço de Pagamentos, indicativo das relações Daí:
da economia de um país com outras economias. Y=β(A-θi),
Portanto, a equação do equilíbrio geral macroeconômico para economias
fechadas e com governo é: que é a equação da curva IS, de primeiro grau em “i” e negativamente inclinada,
como mostra a Figura 03.10.
44Keynes trabalhou somente com o mercado de bens e serviços (economia real), admitindo que o equilíbrio deste
independia do mercado monetário.

112
Colocando a expressão da curva IS na forma da equação reduzida da reta i=f(Y), W/P=(DT/P)+(L/P).
tem-se: O equilíbrio do mercado financeiro implica:
i=(A/θ)-(1/βθ).Y (OT/P)+(M/P)=(DT/P)+(L/P)
donde: Donde:
i=(1/θ)[A-(1/β)].Y, [(OT/P)-(DT/P)]+[(M/P)-(L/P)]=0
Fig. 03.10 – Curva IS Um rápido exame da expressão acima permite concluir que se o mercado de
títulos estiver em equilíbrio, o de moeda também estará e vice-versa, porque se
(OT/P)-(DT/P)=0, obrigatoriamente (M/P)-(L/P)=0. Em face dessa implicação,
basta analisar-se um dos dois mercados. Opte-se, no caso, pelo mercado de
moeda.
A oferta de moeda é controlada pelo Banco Central que é a autoridade monetária
de cada país. Essa oferta é, em termos reais, M/P. De outro lado, a demanda por
moeda, isto é, quanto os agentes desejam manter de sua riqueza em dinheiro,
corresponde, em termos reais,a:
L/P=λY-ρi
Onde:
que permite observar que, quanto menor o valor de θ (sensibilidade-juro da λ é a sensibilidade-renda da demanda por moeda; e
demanda por investimento), tanto maior será a inclinação da reta IS e, ρ é a sensibilidade-juro da demanda por moeda.
consequentemente, menor será o impacto da alteração da taxa de juro sobre o O equilíbrio do mercado de moeda é dado por:
nível de renda. L/P=M/P,
- Curva LM Donde:
Na determinação da curva LM, o pressuposto básico é a existência de apenas dois λY-ρi=M/P,
tipos de ativos financeiros: títulos (que rendem juros) e moeda sonante. Sejam donde:
OT a oferta de títulos, M a oferta de moeda, P o nível geral de preços, e W a i=(1/ρ)[λY-(M/P)],
oferta monetária total (de títulos e moedas). A valores reais, a oferta monetária que é a equação da curva LM. Ela revela que, quanto maior for a variação da
total é: renda, mantida constante a oferta de moeda M, maior será a taxa de juro “i”. O
W/P=(OT/P)+(M/P). gráfico da Figura 03.11 apresenta a curva LM.
Fig. 03.11 – Curva LM
Adicionalmente, sejam DT a demanda por títulos e L a demanda por moeda.
Analogamente, a demanda monetária total é:

113
Exemplo de aplicação 03.14
Uma economia tem a seguinte função de consumo: C=0,70(1-Pmgt)Y. A função de
investimento é dada por I=2000-47,5i. Determinar a taxa de juro e o nível de
renda dessa economia sabendo-se que Pmgt=0,25, os gastos do governo são iguais
a 755, a função de demanda por moeda é L/P=0,30Y-50i e a oferta de moeda em
termos reais (M/P) é igual a 500.

Solução
Determinação da curva IS:
De Y=C+I+G, tem-se:
Y=0,70(1-0,25)Y+2000-47,5i+755, donde Y=5800-100i;
Determinação da curva LM:
A taxa de juro e a renda de equilíbrio resultará da intersecção das duas curvas. De L/P=M/P, tem-se 0,30Y-50i=500, donde i=0,006Y-10;
Superpondo os diagramas das Figuras 03.10 e 03.11, tem-se o resultado do Cálculo do equilíbrio ISxLM:
modelo, ilustrado pela Figura 03.12. De Y=5800-100i, tem-se i=58-0,01Y. Equiparando-se a taxa de juro dessa
expressão (curva IS) com a taxa de juro da expressão da curva LM, isto é:
Fig. 03.12 – Taxa de juro e renda de equilíbrio i=0,006Y-10, encontra-se i=8% e Y=3000.

06.04. Outros modelos


Há, ainda, o modelo ISxLMxBP que é voltado para economias abertas, o qual é
construído acrescentando-se o Balanço de Pagamentos (BP) ao modelo ISxLM.
Este modelo não é previsto de ser estudado no presente Curso por falta de
espaço. Fica, entretanto, a sugestão ao(à) aluno(a) de, a título de exercício, tentar
estruturá-lo utilizando o mesmo critério adotado no desenvolvimento do modelo
ISxLM, mediante a incorporação da relação do país com outras economias.

Por fim, e igualmente por falta de espaço, não é previsto estudar-se, no presente
Curso, a determinação do produto em ambiente de variação de preços, isto é, o
cálculo conjunto do produto e da inflação.

114
07. Taxa de juro alterando-se o depósito compulsório, conforme referido na seção 12.09
Em uma definição simples, conceitua-se o juro como o preço do dinheiro, (Processo de criação de moeda).
refletindo quanto o agente econômico que dele precisa está disposto a pagar e,
No Brasil, a taxa básica de juro é a taxa SELIC45. Essa taxa corresponde à média da
ao mesmo tempo, quanto o agente emprestador está disposto a receber para remuneração dos títulos federais negociados entre os bancos. Como se dá o seu
dispor de dinheiro. O primeiro procura dinheiro por ter necessidade de liquidez cálculo? Os bancos emprestam diariamente dinheiro uns aos outros. Quando um
(preferência pela liquidez) e, o segundo, por ter interesse em receber uma banco toma um desses empréstimos, ele dá ao banco emprestador títulos
recompensa por abrir mão durante um certo tempo do ativo líquido de que públicos federais em garantia e cada uma dessas operações, ditas operações
dispõe. Portanto, o preço da taxa de juro depende da procura e da oferta de compromissadas, é registrada no SELIC. A taxa média ponderada pelo volume
total das operações diárias é anualizada com base no expoente 252 que é o
dinheiro. Comentam-se brevemente os principais fatores influentes na procura e
número de dias úteis de um ano. O resultado é a taxa overnight anualizada do
na oferta de dinheiro.
SELIC. A expressão de cálculo é, portanto:
(i) Procura de dinheiro Taxa SELIC={[(∑i=1nRi/∑i=1nIi)252-1]x100}% a.a.
A procura da liquidez ocorre para satisfazer a uma ou mais das três seguintes Onde:
finalidades: (i.1) transação, que resulta das necessidades dos indivíduos e das n é o número de operações que entram na base de cálculo;
firmas para seus gastos habituais; (i.2) precaução, que está relacionada não Ri é o valor financeiro da recompra/revenda da i-ésima operação
somente com a possibilidade do surgimento de oportunidades que devam ser compromissada; e
Ii é o valor financeiro da compra/venda da i-ésima operação
aproveitadas e para as quais uma reserva de caixa (de liquidez) seja necessária,
compromissada.
como também pela natural necessidade de os indivíduos e as firmas contarem Apesar de o SELIC haver sido criado em 1979, é somente a partir de 04 de março
com alguma folga de dinheiro acima da demanda pelo motivo transação; e (iii) e de 1999 que o governo passou a utilizar a taxa SELIC como referência para a
especulação, finalidade de aplicação do dinheiro que procede da incerteza economia brasileira, revogando o sistema da Bandas de Juros que havia sido
quanto à taxa de juro futura. O indivíduo ou a firma poderá especular quando criado em 1996.
julgar que a taxa de juro futura lhe trará um resultado favorável (um lucro Convém assinalar que algumas operações realizadas entre os bancos são
esperado). excluídas do cálculo da SELIC. Deixa-se, aqui, de especificar a natureza dessas
operações por corresponder a um detalhamento do tema que escapa ao
(ii) Oferta de dinheiro
interesse do presente Curso. Tais exclusões podem ser conhecidas mediante a
A oferta de dinheiro é controlada pelo sistema bancário cujas decisões mais leitura da Circular no 3.671, do Banco Central do Brasil, editada em 18 de outubro
relevantes são tomadas, no Brasil, pelo Comitê de Política Monetária – COPOM e de 2013.
implementadas pelo Banco Central. Dado um nível constante de oferta
monetária, a taxa de juro aumentará com o aumento da demanda por dinheiro e
decrescerá com a redução dessa demanda. A autoridade monetária poderá
45
Forma abreviada de referir-se ao Sistema Especial de Liquidação e Custódia. O SELIC foi criado em 1979 pelo
interferir para evitar oscilações na taxa de juro expandindo ou contraindo a Banco Central e pela Associação Nacional das Instituições do Mercado Aberto – ANDIMA com o objetivo de tornar
oferta monetária, e uma das maneiras de se proceder a essa interferência é mais transparente e segura a negociação com títulos públicos. Trata-se de um sistema eletrônico que permite a
atualização diária das posições das instituições financeiras, assegurando maior controle sobre as reservas bancárias.

115
08.Determinantes do investimento agentes tomarão empréstimo a 14% a.a., farão o projeto que lhes enseja um
O investimento corresponde à aplicação de capital para gerar nova riqueza. Os retorno de 15% a.a. e saem ganhando 1% a.a. sobre o capital investido.
Fig. 03.13 – Tipos de projeto (fictícios) para interesse em investir
empresários investem em novos negócios ou expandem seus negócios correntes
PROJETO I II III IV V
em busca de uma maior lucratividade. Investimentos resultam de decisões que RETORNO ANUAL (%) 15 10 5 3 2
dependem basicamente da taxa de juro. Dependem da expectativa do agente
Os agentes que, por motivo outro que não os juros, não estiverem interessados
investidor em relação ao futuro (expectativa otimista ou pessimista). Dependem,
no projeto do tipo I darão as costas também para os projetos cuja rentabilidade
ainda, de confiança no sistema econômico. A confiança está relacionada com
seja inferior a 14% a.a. e aplicarão seus recursos no mercado financeiro para
alternâncias políticas que possam interferir no sistema econômico pondo em
obterem o ganho de 14% a.a..
risco, por exemplo, a garantia do direito de propriedade.
Nesse mesmo ambiente econômico, caso a taxa de juro real fosse, por exemplo,
Como a taxa de juro é a mesma que remunera o capital que é tomado
6% a.a., investidores investiriam em projetos dos tipos I e II e descartariam o
emprestado pelas entidades financeiras, então, ceteris paribus, se a taxa estiver
interesse nos demais tipos de projeto.
alta, o empresário deixa de canalizar seu dinheiro para o investimento produtivo
e o leva para aplicações no mercado financeiro pois auferirá uma remuneração Se a taxa de juro real da economia fosse de, por exemplo, apenas 4% a.a., a
mais alta ensejada por essa elevada taxa de juro. No entanto, se a taxa de juro for escolha dos agentes recairia sobre os projetos que oferecessem um retorno anual
baixa, o investimento produtivo se torna atraente desde que o seu retorno, isto superior a 4% a.a..
é, sua lucratividade seja superior à propiciada pela aplicação financeira. No caso, muitos agentes aplicariam seus recursos em projeto do tipo I (o mais
Para melhor compreensão, suponha-se que em uma economia existam cinco rentável), outros aplicariam em projetos do tipo II ou em projetos do tipo III, mas
tipos de projetos passíveis de ser realizados pelos agentes econômicos. certamente nenhum agente empregaria seus recursos em projetos dos tipos IV
Denominem-se esses projetos por Projeto I, Projeto II, Projeto III, Projeto IV e ou V.
Projeto V. Cada tipo de projeto poderá ser alvo do interesse de uma grande O resultado dessas escolhas pode ser lançado em um diagrama cartesiano que
quantidade de agentes (empresários) que, dispondo de recursos ou podendo relacione a taxa de juro real “i-π” com o investimento, como apresentado na
aportar recursos via empréstimos, terão interesse em investir em um ou mais Figura 03.14, que explicita valores fictícios de taxas reais de juros e os
desses tipos de projeto. Admita-se que os retornos anuais dos projetos sejam os correspondentes totais de investimentos, também fictícios, em unidades
que se apresentam no quadro da Figura 03.13. monetárias.
Caso a taxa de juro real da economia seja, por exemplo, 14% a.a., os agentes Portanto, para cada taxa de juro real haverá um portfólio de projetos que
investidores somente estarão interessados no projeto do tipo I cuja rentabilidade interessa aos investidores. Essas preferências são representadas pela ligação dos
é maior do que 14% a.a.. Mesmo que precisem tomar dinheiro emprestado, os pontos A, B e C que correspondem ao lugar geométrico dos conjuntos de

116
projetos que serão realizados, dando conformação à curva que relaciona a taxa constituir, em muitos casos, o próprio investimento, como ocorre com quem
de juros reais com os investimentos. investe em terrenos ou imóveis rurais apenas para aguardar que o preço destes
Fig. 03.14 – Investimento e Juro aumente, ocasião em que os revenderá. Se o preço desses bens aumenta, a
tendência de comportamento de quem os compraria é de, para uma mesma taxa
de juro da economia, investir menos.

Além do preço em si, esses bens também são avaliados quanto à capacidade de
gerar um fluxo futuro de lucros que trazem para o investidor. Se esses lucros
futuros derem indicação de que serão elevados, a atração pelo investimento é
maior; contrariamente, se a análise mostrar que os lucros futuros podem ser
pouco atraentes, o investimento é menor.

O aumento do custo dos bens de capital ou expectativa pessimista ou, ainda,


prováveis baixos níveis de lucros futuros, corresponde a um deslocamento para a
esquerda e para baixo da curva do investimento, como mostrado na Figura 03.15
no qual a curva sai da posição I1 para a posição I2.

Quanto à confiança no sistema econômico, o empresário não realiza


Sublinha-se que a taxa de juro que entra na decisão do investimento é a taxa real, investimento sempre que percebe o risco de perder seu capital. Empresas
que resulta da taxa nominal de juro corrigida pela inflação. Pode-se afirmar, multinacionais, por exemplo, examinam cuidadosamente a geopolítica dos países
portanto, que I=g(i), e esta expressão será um dos elementos balizadores da nos quais aplicam seus recursos em investimentos, principalmente as inversões
decisão de investimento, sobretudo nos casos em que o investidor precise de significativa monta.
contrair empréstimo para investir. Nesses casos, quando a taxa de juro for alta, o
investidor prefere empregar seu dinheiro, como já referido, no mercado A história tem mostrado que, quando são adotadas medidas de nacionalização de
financeiro para obter a alta remuneração correspondente, em vez de arriscar-se a ativos por países politicamente instáveis, medidas que são protegidas pelo
fazer um investimento na economia real cujo retorno percentual seja inferior à princípio da soberania, dificilmente elas são materializadas mediante níveis de
taxa de juro. ressarcimento que reflitamm o custo real dos ativos tomados às empresas.

Para variações da taxa de juro real, o nível de investimento varia deslocando-se Por fim, convém observar que há distintas modalidades de taxas nominais de
ao longo da curva da mencionada Figura 03.14. juro. No Brasil, praticam-se a Taxa SELIC, a Taxa Referencial – TR, a Taxa de Juro
de Longo Prazo – TJLP, entre outras.
Abordam-se, neste ponto, variações nos custos de bens de capital. São bens que
precisam ser adquiridos para a materialização dos investimentos. Eles podem

117
Fig. 03.15 – Investimento, custos de bens de capital e expectativas também, utilizar-se o ano móvel, isto é indicar-se o índice de inflação dos doze
meses imediatamente anteriores, do mesmo modo que frequentemente se faz
referência à inflação trimestral móvel. Em qualquer caso, a expressão geral de
cálculo para um determinado ano em relação ao ano imediatamente anterior, já
abordada neste texto, é a seguinte:

π={[P(ano-base+1)-P(ano-base)]/P(ano-base)}x100

A inflação pode se apresentar de modo explícito ou implícito, isto é, aberta ou


represada. No primeiro caso, a subida de preços é visível enquanto que, na
inflação represada, ou reprimida, os preços não sobem em razão de
interferências governamentais para controlar o nível geral de preços. Tais
interferências são medidas de controle (regulação de preços) que, uma vez
retiradas, fazem com que os preços reprimidos subam aberta e vigorosamente.

As diferenças entre as taxas de juro decorrem, inicialmente, da finalidade da Considerando que o crescimento dos preços nem sempre é acompanhado de
operação financeira a que se destinam. Mas decorrem também dos prazos das correspondentes aumentos de salários e outras formas de ganho, a inflação
operações, do nível da inadimplência dos mercados em que são utilizadas, além promove uma redução na capacidade de compra das pessoas e famílias e este é o
do regime tributário a que estão submetidas. aspecto crucial do problema que preocupa a área econômica de governos.

O fato, pois, de a inflação estar descolada do aumento das disponibilidades


monetárias dos consumidores é indicativo de que a mesma quantidade de
09.Inflação
dinheiro que um indivíduo dispõe por mês, fruto de seu trabalho e/ou de outras
Inflação é um estado persistente de aumento dos preços das mercadorias e fontes de renda, perde valor perante os preços persistentemente incrementados
serviços corroendo o valor da moeda. Isso não significa que todos os preços dos bens e serviços que esse consumidor precisa adquirir.
estejam rigorosamente em ascensão, podendo, inclusive, observar-se a queda de
09.01. Tipos de inflação e comentários sobre fatores determinantes
alguns. Mas a tendência geral é de subida. Trata-se de um processo pelo qual os
preços da maior parte dos bens e serviços se movimenta para cima, o que é A inflação pode ser classificada consoante as causas que lhe dão origem e
diferente de os preços estarem em um nível alto. consoante a intensidade. No que diz respeito às causas, a inflação pode ser de
demanda, de custos, inercial e monetária. Alguns autores se estendem por mais
A inflação é, pois, a medida de uma variação percentual dos preços entre
um ou dois casos que refletem, em verdade, variantes destes ora mencionados.
momentos que se sucedem. É usual fazer-se referência à inflação entre um ano e
Quanto à intensidade, a inflação pode ser moderada, galopante e hiperinflação.
o subsequente. Nesse caso, o ano anterior é tomado como ano-base. É comum,

118
Comenta-se, brevemente, cada um dos tipos de inflação acima relacionados, de compras, também opera em favor de uma movimentação da curva de demanda
um e de outro grupos. agregada para cima e para a direita.

(i) Inflação de demanda

A inflação de demanda resulta de de um movimento da curva de demanda Fig. 03.16 – Movimento da função de demanda agregada
agregada para cima e para a direita mantida a oferta agregada em sua posição. O
gráfico da Figura 03.16 ilustra esse movimento, de DA para DA’, fazendo com que
o nível geral de preços se eleve de P para P’.

Note-se que a variável independente, apesar de corresponder a demanda e


oferta de bens, é representada em unidades monetárias dado tratar-se do
conjunto de todos os bens e serviços que são transacionados na economia,
consumindo a renda Y, dos agentes econômicos.

A inflação de demanda pode estar associada a um incremento da renda dos


agentes econômicos quando, por exemplo, ocorre o aumento do salário mínimo,
que também gera repercussão nos salários de algumas outras categorias. Nesse
mesmo contexto, a inflação de demanda pode resultar de um efeito riqueza pela
incorporação de uma quantidade significativa de agentes econômicos a uma
classe de renda mais alta. A inflação de demanda pode ser provocada, ainda, pelo efeito da expectativa dos
agentes econômicos, principalmente firmas que antecipam compras para formar
Mas a inflação de demanda também pode ser causada pela expansão dos gastos
estoques preventivos. Nesses casos, a expectativa é de que possa ocorrer alta de
públicos que, quando sob a forma de investimentos, pode vir associada à
preços de determinados insumos, ou mesmo a escassez destes. As firmas
contratação de obras e outros tipos de encomendas a firmas que exercerão
adotam, então, uma postura preventiva comprando quantidades maiores do que
pressão de demanda por insumos para a concretização dos objetos de seus
as habituais o insumo produtivo que pode faltar ou ter seu preço elevado,
contratos com o governo.
contribuindo desta forma para o aumento da demanda agregada.
Essa pressão de demanda, quando os programas governamentais são de vulto,
Por fim, a inflação de demanda também procede do excesso de estoque de
contribui para o movimento da curva de demanda agregada já referido (Figura
moeda em circulação em relação ao estoque necessário para a realização das
03.16). Há, ainda, outros fatores determinantes da inflação de demanda. A
transações da economia. Por essa razão, a emissão de moeda é administrada
expansão do crédito ao consumidor, ao facilitar o impulso em direção às
mediante rigorosa avaliação do Banco Central com base nos princípios da teoria
quantitativa da moeda, brevemente explorada neste texto. O excesso de dinheiro

119
em circulação incita a demanda fazendo com que a curva de demanda agregada mercados imperfeitos sob regulação insuficiente, além dos já referidos custos
realize o movimento para cima e para a direita, contribuindo para o aumento dos com a mão de obra acima de seu índice de produtividade.
preços dos bens e serviços. Historicamente, o fenômeno foi detectado já nos
O aumento da taxa de juros faz o custo do dinheiro para as firmas produtoras
primórdios da história do pensamento econômico quando os escolásticos 46
aumentar, incorporando-se ao custo de fabricação e elevando os preços dos bens
verificaram que, a cada nova chegada de ouro e prata à Europa, advinda das
e serviços ofertados por essas firmas. A desvalorização cambial, ao tornar a
Américas, os preços das mercadorias subiam em razão do aumento da demanda.
moeda do país mais fraca do que outras, implica a necessidade de uma
(ii) Inflação de custos
quantidade maior de dinheiro para importar bens e serviços que o país não
A inflação de custos ocorre por um aumento nos preços de alguns fatores de produz. O aumento dos preços internacionais causa efeito assemelhado ao
produção, isto é, pelo aumento do custo com a mão de obra se este aumento for imediatamente anterior, com a diferença que não é um aumento causado pela
acima da produtividade do trabalho; pelo aumento do preço das matérias primas taxa de câmbio quando a moeda do país é desvalorizada e sim por tratar-se de
e outros insumos como a energia, os transportes, fazendo com que as firmas um aumento dos preços de bens e serviços produzidos no ambiente externo.
passem a ofertar seus bens e/ou serviços por preços mais elevados. Quando os
As firmas atuantes nos mercados imperfeitos, principalmente os monopólios e
derivados de petróleo têm seus preços aumentados, o que pode ocorrer por
oligopólios, quando sob regulação insuficiente, isto é, quando as agências
causas exógenas ao mercado doméstico, praticamente todos os preços sobem
reguladoras não cumprem adequadamente o seu papel de vigilantes desses
em razão da parcela relativa aos fretes que está embutida nos custos finais dos
mercados, praticam preços escorchantes para cima, fazendo subir a taxa de
bens e serviços.
inflação. O aumento frequente dos tributos também se acrescenta à perturbação
Influem na inflação de custos o aumento da taxa de juros, a desvalorização dos preços relativos causando inflação.
cambial, o aumento dos preços externos, a prática de preços perversos em
(iii) Inflação inercial

Conceitua-se como inércia inflacionária o fato de a inflação passada influir nos


46 Na fase do mercantilismo (1500-1776), alguns religiosos se dedicavam a estudos que relacionavam a teologia com
índices de inflação presente e futuro. O efeito desse processo é a inflação
a filosofia, explorando temas de conteúdo econômico. A publicação Comentarios Resolutorios del Cambio (1556), da inercial, que está estreitamente relacionada com o comportamento dos agentes
autoria de Martín de Azpicuelta, padre e professor nas universidades de Salamanca e Coimbra, aponta os efeitos
sobre os preços das mercadorias na Espanha causados pela grande quantidade de metais preciosos que chegava da formadores de preços, os quais agem, neste caso, por precaução. Eles aumentam
América para o país. O metal era a moeda de troca por mercadorias. Ele comparava esses preços com os
correspondentes que eram praticados, à época, na França, país cujo estoque metalista era bem menor do que o
os preços das mercadorias e serviços por considerarem que os preços dos fatores
espanhol. Notando a proporcionalidade entre quantidade de metal (moeda) e os níveis de preços a cada novo produtivos de que eles dependem para prosseguir no seu ciclo de produção virão
desembarque de ouro e prata, ele deduziu o conceito segundo o qual um estoque elevado de dinheiro contribui
para a prática de preços elevados. Rudimentar que tivesse sido quando comparado ao conhecimento atual da aumentados.
economia, o estudo de Azpicuelta pode ser tomado como um dos primeiros vestígios da teoria quantitativa da
moeda. A inflação inercial pode ocorrer em um ambiente econômico indexado, isto é,
quando os preços em geral estão atrelados a algum indicador de correção
nominal para que seu valor real seja recomposto com base na inflação

120
observada. Em outras palavras, é preciso que exista algum nível de inflação tolerância da meta, o Banco Central é obrigado a informar ao Ministro da
originada por causa outra que não a inercial para que a inflação inercial se Fazenda quais as medidas que adotará para fazer a inflação retornar para a meta.
materialize. Sucede que, quando essas medidas são programadas para que o retorno se dê
em prazo muito longo, os agentes formadores de preços atribuem um peso maior
A indexação é um mecanismo de convivência com a inflação pois garante que os
à inflação passada do que à meta. Os agentes seguem a lógica segundo a qual o
preços sejam reajustados entre dois momentos com base na inflação ― motivada
retorno da inflação ao centro da meta pode ocorrer linearmente no tempo e,
por outra causa conforme referido ― do período que vai de um momento a
neste caso, se o Banco Central estabelece o tempo de retorno em dois anos, por
outro. Quando a inflação com a qual se pretende conviver é moderada, a
exemplo, o comportamento dos agentes, o qual baseia-se na expectativa de
indexação tem a virtude de promover a confiança dos agentes econômicos que
inflação, confere igual importância tanto à inflação passada quanto à meta. Se o
negociam entre si de que nenhum sairá perdendo pois os preços nominais são
planejamento do Banco Central estabelecer três anos para o retorno da inflação
atualizados por meio da indexação. Essa confiança dos agentes no sistema de
à meta, os agentes considerarão que este retorno pode se dar em três saltos e,
preços reduz incertezas e cria oportunidades de contratos de longo prazo.
para tanto, atribuirão uma importância maior à inflação passada (com peso igual
A indexação, quando generalizada para todos os preços traz consigo, entretanto, a 2/3) e uma importância menor à meta (com peso igual a 1/3). O resultado
a desvantagem de fazer com que a inflação de um período qualquer seja o desse processo é que, quanto maior for o prazo de retorno à meta que o Banco
patamar mínimo da inflação do período imediatamente seguinte, isto é, a Central previr, tanto mais persistente se torna a inflação observada no passado.
indexação não está comprometida com a redução da taxa inflacionária. Ela está
09.02. Notas sobre a teoria quantitativa da moeda
comprometida com a manutenção da taxa observada e esta manutenção pode
ser perturbada por episódios de inflação de demanda ou de custo cujos A quantidade de dinheiro à disposição dos agentes econômicos lhes permite
resultados, uma vez incorporados à inflação então observada, elevam-na para realizar um número significativamente grande de transações em determinado
níveis que podem tornar-se indesejáveis. Nesses casos, a indexação terá criado período de tempo, fazendo com que este dinheiro circule entre eles. Para
um ambiente favorável à alimentação do processo inflacionário. comodidade de exposição, suponha-se que esse número de transações se limite a
cinco por ano e que estas cinco transações anuais sejam as que são mostradas no
No Brasil, praticou-se a indexação durante o período de 1964 até 1994 quando o
quadro da Figura 03.17. Um breve exame do referido quadro permite observar,
Plano Real extinguiu a correção monetária. Vários índices eram utilizados, sendo
na coluna de sub-totais, que há transações de elevados valores totais tanto
as Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional – ORTN o mais divulgado. As
quanto há transações de baixos e de médios valores. A transação típica é a média
ORTNs foram depois transformadas em OTNs.
aritmética dos valores de todas as cinco transações e corresponde a
As metas de inflação desempenham, em certo sentido, o papel de um sistema R$174.952,90.
indexado, porque os agentes econômicos mais influentes (os grandes agentes
Suponha-se, agora, que a quantidade de dinheiro em circulação seja
formadores de preços) mantêm-se atentos à vigilância do Banco Central sobre o
R$200.000,00. Se se dividir o total transacionado pela quantidade disponível de
cumprimento destas. Sempre que a inflação observada ultrapassa o limite de
dinheiro em poder dos agentes econômicos, chegar-se-á ao número de vezes que

121
cada unidade monetária trocou de mãos, ou seja, de vezes que cada unidade monetária entre na renda de um agente econômico
R$874.764,50/R$200.000,00=4,37 vezes por ano. por ano. Convém notar que Y é o produto bruto real, ou seja, medido em valores
Fig. 03. 17 – Transações de uma economia fictícia monetários. Quando multiplicado por P, preço da transação típica da economia, o
Transação Quantidade de Bens Preço Unit. do Sub-Total (R$)
produto P.Y passa a significar o produto nominal da economia. Por outro lado, se
Bem (R$)
1 2000 10,00 20.000,00 se transpuser o fator V para o membro direito da equação e, ao mesmo tempo, o
2 5.800 136,00 788.800,00 fator P para o membro esquerdo, ter-se-á uma nova forma de se escrever a
3 12.560 4,20 52.752,00
4 20.000 0,65 13.000,00
equação da velocidade renda da moeda, que será:
5 25 8,50 212,50
TOTAL 874.764,50
M/P=Y/V

O significado dessa operação é o que se define como velocidade de circulação da A razão M/P é chamada saldo monetário real, que, ao dividir a quantidade
moeda, que resulta do produto do número de transações pelo preço típico destas nominal de moeda pelo nível de preços, faz com que esta razão corresponda ao
dividido pela quantidade de dinheiro em circulação. Em outras palavras, sendo P, poder de compra da moeda.
o preço da transação típica desse todo; T, o número de transações; M, a De outro lado, a velocidade de circulação, que depende da demanda por moeda,
quantidade de dinheiro que circula; e V, a velocidade com o dinheiro circula, pode ser considerada constante, isto é, V=Vo, sendo Vo=cte. Então:
então:
M/P=Y/Vo
M.V=P.T,
Considerar a velocidade de circulação da moeda constante reflete uma
que reflete a equação da teoria quantitativa da moeda. Como as economias, por possibilidade razoável pois mudanças no valor de V dependem, conforme
menores que sejam, envolvem um número muito grande de transações, número referido, da demanda por moeda que é uma função da maior ou menor facilidade
este que oferece dificuldade em seu dimensionamento, substitui-se o número de com que as transações podem ser feitas. A intensificação do uso de cartões de
transações T pelo produto bruto real da economia, Y, o que não é o mesmo que a crédito, associada ao uso dos caixas automáticos, produziu uma queda enorme
equação acima por não incluir o número de transações e sim a renda total. Mas na demanda por moeda, aumentando, em conseqüência, a velocidade de
convém lembrar que o produto bruto total é igual à renda total, conforme já circulação desta. É que os agentes econômicos passaram a retirar de cada vez
assinalado neste texto. apenas o montante necessário para cada transação, fazendo cair a demanda por
Então, o que ter-se-á feito ao permutar T por Y, foi escrever-se uma outra moeda.
equação para a teoria quantitativa da moeda igual a: Fazendo-se, agora, 1/Vo=α, a equação da velocidade renda da moeda passa a ser
M.V=P.Y, escrita da forma seguinte:

que corresponde ao que se intitula equação da velocidade renda da moeda, que (M/P)d=αY
é a mais utilizada e que faz com que a variável V passe a representar o número

122
A expressão acima indica que os saldos monetários que as pessoas pretendem relatividade vai adquirindo criam um cenário de incerteza deixando de ser uma
manter são proporcionais à renda, sendo o parâmetro α, que é o inverso da referência segura para a tomada de decisões de parte dos agentes econômicos.
velocidade de circulação, a constante de proporcionalidade. Além de afetar os investimentos que o consumidor cogita realizar, a incerteza
afeta, em montantes globais bem mais elevados, os investimentos das firmas,
Por fim, considerando a condição de equilíbrio que é uma tendência natural do
uma vez que dificulta a avaliação dos ganhos ou perdas que destes podem
confronto das forças de demanda e oferta, o saldo monetário demandado será
resultar. Tais incertezas estimulam, ainda, a especulação. A inflação faz, também,
igual ao saldo monetário ofertado, isto é:
com que o Banco Central se incline a aumentar a taxa de juros, o que significa
(M/P)d=M/P, custo mais elevado do dinheiro, inibindo ainda mais os investimentos produtivos.
e, sucessivamente, se retroage a M/P=αY, donde M(1/α)=PY, donde MVo=PY, o No que concerne à distributividade, a inflação, quando elevada, contribui para a
que implica afirmar que uma variação na quantidade de moeda ofertada M concentração de renda porquanto os mais abastados podem aplicar seus
promove um aumento no produto bruto nominal PY. Ora, considerando que recursos no mercado financeiros beneficiando-se de elevados retornos, enquanto
Y=f(K,L), e que K,L=constantes donde Y também é constante, então um aumento que os que dependem de rendimento fixo (salário) não somente não contam com
na quantidade de moeda ofertada M causa um aumento no nível geral de preços folga para investir como também veem seu poder aquisitivo se deteriorar. Os
P. Em outras palavras, a causa primária da inflação é a elevação da quantidade de empresários podem repassar aos preços, sobretudo quando participantes de
moeda em circulação. Emissão de moeda além do estritamente necessário, mercados imperfeitos. Assim, quanto maior for a taxa de inflação, tanto maior
portanto, constitui medida a ser evitada de todas as formas. será o desarranjo promovido na distribuição da renda. Quanto aos efeitos sobre
09.03. Efeitos do processo inflacionário o balanço de pagamentos, taxas inflacionárias muito altas que coloquem os
preços do país, uma vez transformados para uma moeda comum, em níveis mais
A inflação a taxas moderadas costumam ser recebidas com naturalidade. Embora elevados do que os preços externos, empurram as exportações para baixo e
não haja uma limitação claramente definida do percentual acima do qual ela estimulam as importações reduzindo o saldo da balança comercial e dificultando,
deixe de ser moderada, estudiosos do tema consideram que uma taxa anual de em consequência, o balanço de pagamentos pela menor acumulação de
até 3% seja perfeitamente suportável e, até mesmo, desejável. quantidade de moeda internacional. Nesta altura, convém enfatizar que a
A inflação produz inúmeros efeitos desfavoráveis e este caráter negativo é tanto balança comercial é parte integrante do balanço de pagamentos compondo as
mais forte quanto mais alta for sua taxa. A inflação deixa marcas no mundo dos transações correntes, conforme já mencionado no presente texto.
preços relativos dos bens e serviços, atua sobre os investimentos prejudicando-os Quando o saldo de exportações se torna indesejavelmente baixo, o governo pode
em seu planejamento, piora a distributividade, afeta o balanço de pagamentos e desvalorizar a moeda do país, o que faz aumentar as exportações e reduzir as
a balança comercial do país, além de prejudicar o mercado de capitais. No caso importações. Essa medida, apesar de trazer a vantagem de melhorar o resultado
da relatividade dos preços dos bens e serviços, como nem todos os preços sobem da balança comercial, pode contribuir para a inflação de custos uma vez que os
por igual em um regime inflacionário, as distintas configurações que a referida insumos importados pela indústria se tornam mais caros.

123
A inflação impõe efeitos também sobre o mercado de capitais sempre que supera 09.04. Breve referência à curva de Phillips
os níveis que podem ser considerados moderados, pois a insegurança em relação
No ano de 1958, o economista inglês A. William Phillips apontou a relação
à moeda faz com que os agentes econômicos passem a drenar suas aplicações
existente entre a taxa de desemprego e a inflação salarial, uma forma alternativa
para bens de raiz (imóveis) que costumam se valorizar acentuadamente em
de expressar a oferta agregada, cujos modelos dão suporte à Curva de Phillips.
períodos de alta e prolongada inflação. Adicionalmente, os agentes econômicos
Phillips elaborou curvas para alguns países aí incluídos os Estados Unidos, a
costumam incorporar os custos da inflação esperada, principalmente quando
Inglaterra e a França. Nessa construção, o autor levou em conta que a inflação
muito elevada, que incluem as conseqüências diretas de ter que receber e pagar
depende de três fatores principais: a inflação esperada, o desemprego cíclico e os
compromissos a intervalos cada vez menores, antes que a inflação corroa o valor
choques de oferta. O formato encontrado para as curvas nos diversos países para
das importâncias em jogo em cada momento.
os quais foram construídas foi aproximadamente o mesmo, formato este que é
No caso da inflação não esperada, quando as transações, em especial os mostrado na Figura 03.18.
financiamentos de longo prazo, são feitas com base em taxas de juro ex-ante, isto
Fig. 03.18 – Curva de Phillips
é, pré-fixadas, e ocorre de a inflação verificada ser diferente, um dos agentes, o
emprestador ou o tomador do empréstimo, será prejudicado economicamente.
Dessa maneira, a inflação termina atuando como mecanismo de redistribuição de
renda, deslocando recursos pertencentes a um agente para o outro com quem
estiver negociando. Uma forma de evitar esse deslocamento de riqueza é a
adoção de taxas de juro ex-post.

Por fim, breve referência deve ser feita ao fenômeno da hiperinflação. É


considerada, por vários autores, uma taxa hiperinflacionária aquela que alcança o
patamar mensal do entorno de 50%. As economias sob hiperinflação
representam prejuízo para todos os agentes econômicos e, por via de
consequência, para toda a sociedade. Nas firmas e nas famílias todos passam a Ocorre que as decisões do governo relativamente à inflação e ao desemprego
interromper as atividades-fim para cuidar do caixa, com enorme desperdício de buscam minimizar ambas as variáveis. Entretanto, considerando que, quando
tempo. Os regimes hiperinflacionários costumam ser resolvidos com ajustes uma aumenta a outra diminui, o processo é orientado para uma escolha (trade-
fiscais severos que aproximem os gastos governamentais das respectivas receitas off) mediante a qual busca-se responder à indagação seguinte: quanto de inflação
públicas, afastando de uma vez por todas a necessidade da prática da pode-se tolerar para que uma baixa taxa de desemprego seja alcançada?
senhoriagem, isto é, não implicando a necessidade de emitir-se moeda nova.

124
09.05.Metas de inflação estabelecer uma meta para esta taxa, antes para permitir-lhe variar, pois a
experiência, pelo menos de países emergentes como o Brasil, já demonstrou que
As metas de inflação são um regime de Política Monetária adotado por vários
uma âncora cambial (taxa de câmbio invariável) constitui um engessamento que
países, desenvolvidos e em desenvolvimento que tem como objetivo principal
empurra a economia para crises monetário-cambiais. A variação da taxa de
zelar pela estabilidade dos preços dos bens e serviços com baixas taxas
câmbio, para mais ou para menos, pode ser operada por meio de bandas
inflacionárias. As metas de inflação têm outros objetivos adicionais, com
cambiais ou de câmbio flutuante. Essa flexibilidade é de extrema relevância para
destaque para o crescimento do produto bruto desde que observadas as
o trabalho do conjunto binário formado pela taxa de juro com a taxa de câmbio
referidas baixas taxas de inflação, além de propiciarem uma articulação mais
no controle inflacionário.
fluida entre os agentes do mercado e os formuladores da política
macroeconômica, e de dar transparência, disciplina e flexibilidade à política A própria meta é projetada com uma tolerância para mais ou para menos, uma
monetária. flexibilidade necessária ao controle ao longo do ano, pois que permite que se vá
controlando a estabilidade do produto ao mesmo tempo em que se acomodam
Na implementação do regime de metas de inflação, pelo menos três requisitos
os movimentos que a taxa nominal de câmbio precisa realizar. Essa faixa de
devem fazer-se presentes. O primeiro é a entrega do comando do processo aos
tolerância para a meta de inflação pode ser simétrica ou assimétrica em relação à
formuladores da política monetária por tratar-se de uma faceta da política
meta. O fato de a faixa apresentar simetria em relação à meta é indicativo de que
macroeconômica que é mais dinâmica do que a política fiscal, onde também o
se está tratando preventivamente tanto a inflação quanto a deflação. Bandas
governo atua com o propósito de controlar os índices inflacionários. É que a
assimétricas com a folga para cima, de outro lado, são indicativas de
política monetária realiza movimentos mais rápidos do que a política fiscal,
probabilidade de a inflação poder ficar fora de controle.
induzindo esta última alinhar-se a ela.
O segundo requisito reside no fato de que a política monetária deve ser No Brasil, a operacionalização do regime de metas inflacionárias começa com a
operacionalizada com base em critérios técnicos, preferencialmente mediante a proposta do Ministro da Fazenda ao Conselho Monetário Nacional – CMN, que
atuação de um banco central independente para, com isto, evitar a adoção de estabelece as metas para os três anos imediatamente seguintes e suas faixas de
decisões de cunho político. Esse requisito se justifica na medida em que a classe tolerância. O acompanhamento do desempenho da economia em relação à meta
política, interessada em receber a preferência pelo voto, quase sempre busca é feito pelo Comitê de Política Monetária – COPOM, que administra a taxa de
oferecer ganhos de curto prazo para a sociedade mesmo que a decisão que juro de curto prazo, a SELIC. Presentemente, a meta da inflação brasileira é de
venha a tomar contribua, no momento seguinte, para um aumento da inflação, 4,5% aa, válida até 2015 como demonstrado na tabela da Figura 03.19, extraída
criando o que se chama de inconsistência intertemporal. O terceiro requisito está do website do Banco Central.
relacionado com as economias abertas, ou seja, as que transacionam com outras
Quando do final do exercício financeiro coincidente com o calendário gregoriano,
economias, caso mais geral no mundo. Nesses casos, o tratamento dado à
apura-se o resultado quanto ao cumprimento da meta. O referencial é o Índice
inflação precisa levar em conta a taxa de câmbio, não necessariamente para
de Preços ao Consumidor Amplo – IPCA, editado pelo Instituto Brasileiro de

125
Geografia e Estatística – IBGE. Em caso de descumprimento como já ocorreu por No entanto, se for percebida a necessidade de proceder-se a alguma alteração na
quatro vezes (2001, 2002, 2003 e 2004), o presidente do Banco Central envia taxa entre uma reunião e a imediatamente seguinte, esta medida é adotada por
carta aberta ao Ministro da Fazenda explicando as razões do insucesso e seu presidente devidamente autorizado pelo Comitê.
informando as medidas adotadas para fazer a inflação retornar à meta com a 10. Desemprego e emprego
indicação do prazo em que a recuperação ocorrerá.
O desemprego é um dos temas mais relevantes dos estudos de macroeconomia
Fig. 03.19 – Histórico das metas de inflação no Brasil e seu acompanhamento
porquanto afeta diretamente uma das variáveis socioeconômicas mais sensíveis
que é a que quantifica a ocupação e desocupação do ser humano. O impacto
principal do desemprego se dá justamente sobre o agente econômico que
cumpre o duplo papel de consumidor e de detentor do fator de produção mais
nobre que é o trabalho, tomando decisões em ambas as circunstâncias, o que,
por si só, põe em relevo a importância deste estudo.

Além do aspecto acima considerado, as crises de desemprego, ou mesmo as


crises econômicas em que este é apenas uma de suas facetas, trazem grandes
preocupações coletivas, podendo causar pânico na sociedade. O objetivo do
estudo do desemprego é, pois, identificar e analisar suas causas para contribuir
com a formulação de políticas públicas que promovam a redução desse
fenômeno indesejável. Complementarmente, o estudo sobre a busca de emprego
é útil para indicar linhas de políticas públicas voltadas para o combate ao
desemprego.

Como ponto de partida, define-se Taxa de Desemprego TD como sendo a razão


Dp/FT, onde Dp é a quantidade de pessoas desempregadas e, FT, como a Força de
Trabalho, igual a FT=Dp+Ep, isto é, à soma dos desempregados com os
empregados. Considere-se, adicionalmente, a existência, em um mesmo período,
de um fluxo permanente de pessoas que se encontram em uma das duas fases de
A revisão da taxa SELIC é feita mensalmente em reunião do COPOM para esta um ciclo fechado que são: (i) pessoas que estão obtendo emprego; e (ii) pessoas
específica finalidade. que estão sendo desempregadas. Adicionalmente, adote-se o mês como período
referencial para essa análise e considere-se que o ritmo de obtenção do emprego
seja , e que o ritmo de perda de emprego seja indicado por . Mais ainda: que
tanto  quanto  sejam taxas fixas, uma simplificação que contribui para melhor

126
entendimento sobre como estas taxas determinam, em conjunto, o desemprego. A expressão acima é indicativa de que as políticas públicas voltadas para a
Acrescente-se, ainda, como hipótese simplificadora, a suposição de que o redução do desemprego devem atuar sobre as causas que promovem a obtenção
desemprego se encontre em estado estacionário, ou seja, nem aumente nem do emprego, fazendo aumentar , e sobre as causas que geram o desemprego,
diminua no período de aferição já indicado como mensal. fazendo diminuir . Entre as medidas de curto prazo, relacionam-se aquelas
Com base nos pressupostos ora formulados, a quantidade de pessoas que está localizadas em setores intensivos no uso de mão de obra que podem, por
exemplo, se beneficiar de uma redução provisória dos tributos que recolhem
encontrando emprego é igual a .Dp, e a quantidade de pessoas que está sendo
(desoneração). Capacitação e treinamento para desempregados também
desempregada é .Ep. Como o desemprego não cresce nem decresce, o mesmo
contribuem para uma ágil busca de nova oportunidade de trabalho. Por igual,
ocorrendo com o emprego, então a quantidade de pessoas encontrando
incentivos à abertura de negócio próprio pode atenuar o problema do
emprego resulta ser igual à quantidade de pessoas perdendo o emprego, isto é:
desemprego com o aparecimento de novos pequenos empreendedores. E como
.Dp=.Ep, solução comum a todos os desempregados, o seguro-desemprego e outras
E considerando que Ep=FT-Dp, a expressão acima pode ser re-escrita da forma formas de transferência dão o fôlego de que precisam enquanto se encontram na
seguinte: transição entre o emprego anterior e o seguinte. Em termos de longo prazo, as
medidas de combate ao desemprego podem incluir o estímulo ao investimento,
.Dp=(FT-Dp), fator gerador de novos postos de trabalho, e a substituição de importações, as
Dividindo-se ambos os membros da equação imediatamente anterior por FT, quais geram novos mercados com a oferta de vagas.
tem-se: É interessante notar que, para o desempregado, a busca do novo emprego não
.Dp/FT=[(FT-Dp)]/FT, constitui uma jornada tão curta quanto se pretende. Há um intervalo de tempo
necessário à compatibilização do trabalhador com o emprego, pois os
donde: trabalhadores são diferentes entre si em termos de habilidades e vocações, ao
Dp/FT=(FT/FT)-(Dp/FT), mesmo tempo em que os empregos também são diferentes entre si em termos
de atributos e exigências.
donde:
De outro lado, as economias das regiões em geral não costumam apresentar um
(Dp/FT)+(Dp/FT)=,
cenário estático. Como exemplo, várias regiões do Brasil experimentaram, entre
donde: os segundo e terceiro quartis do século XX, transformações econômicas mediante
as quais o padrão de economia agrária foi em grande medida substituído por
(+)(Dp/FT)=,
novos cenários baseados na indústria, apresentando ao trabalhador outros tipos
donde finalmente: de exigências em termos de conhecimento e habilidades. Em outras situações,
pessoas desempregadas por desempenho insatisfatório, mesmo que busquem
(Dp/FT)=/(+)

127
emprego no mesmo ramo que vinham atuando, precisam reciclar-se. O que é uma mercadoria que os agentes econômicos nacionais podem precisar comprar
importante destacar é que, por uma série de razões, existe sempre um ou vender.
contingente de trabalhadores desempregados em busca de trabalho que
Embora a taxa de câmbio seja o preço das moedas entre elas, é comum referir-se
constitui o que se denomina desemprego friccional. Há uma série de medidas de
ao câmbio em relação ao dólar, dado o predomínio dessa moeda nas relações
combate ao desemprego friccional, algumas vantajosas, outras trazendo
internacionais.
vantagens e desvantagens. O treinamento, o seguro desemprego, são entre
outras, medidas dessa natureza. O estudo de políticas públicas que incluam tais O câmbio exerce um papel saliente na macroeconomia do país uma vez que influi
medidas, adicionado da análise das conseqüências no campo econômico da na balança comercial e, também, na inflação. O Brasil é um país exportador, o
política de salário mínimo e da negociação sindical entre outros temas correlatos, que significa dizer que o saldo do comércio exterior é positivo, ou seja, costuma
é objeto de uma área especializada dos estudos econômicos, a da economia do apresentar saldo da balança comercial positivo. Quando o dólar se desvaloriza
trabalho. em relação ao real, os possuidores desta última moeda veem ampliada sua
capacidade de adquirir bens de outros países (importar), e os produtores
11. Câmbio
nacionais que habitualmente exportam bens e/ou serviços perdem parte de sua
As relações entre economias abertas são uma forma de ampliar as possibilidades capacidade de vender para agentes econômicos de outros países porquanto a
de atuação dos agentes econômicos de um país, produtores, consumidores e moeda brasileira terá ficado mais forte e, em conseqüência, os produtos em Real
governo, permitindo-lhes efetuar transações em um contexto mais amplo de se tornam mais caros para compradores de outros países (importadores de
opções. Um brasileiro pode, por exemplo, adquirir um automóvel que tenha sido outros países) já que estes pagam em dólar que terá se enfraquecido. Portanto,
fabricado em seu país, mas pode também comprar um veículo que tenha sido quando o preço do dólar cai, o que corresponde a uma valorização do real, o
fabricado, por exemplo, no México. Esse mesmo brasileiro pode, também, produtor nacional de soja, por exemplo, é prejudicado pois grande parte de sua
preparar um churrasco com carne da pecuária nacional tanto quanto pode produção é destinada à exportação e a demanda externa por seu produto se
prepará-lo com carne importada da Argentina ou do Uruguai. Pode ainda contrai. Sucede o mesmo com o fabricante de calçados e com os mineradores
escolher o Pantanal Matogrossense para gastar seu dinheiro com o lazer tanto que exportam seus produtos, sapatos e minérios respectivamente. E esse
quanto pode viajar para os Andes chilenos ou visitar Machu Pichu, no Peru, onde prejuízo se transmite à balança comercial que vê seu saldo reduzir-se.
despenderá a parte de sua renda destinada ao lazer. A importância em estudar- Eventualmente, com a permanência de um câmbio favorável ao Real, alguns
se o câmbio reside justamente no fato de essas transações que refletem o produtores nacionais de calçados decidirão fechar suas fábricas e os
movimento de bens e serviços entre um país e outro e, correspondentemente, de comerciantes (também nacionais) de calçados poderão substituir a fonte de
fluxo monetário no sentido inverso, terem, como traço de união, a taxa de fornecimento passando a importar sapatos da Coreia do Sul, por exemplo, para
câmbio, que é a razão do estudo desta variável macroeconômica. O ponto de vendê-los no mercado interno. Esse fenômeno, além de empurrar para baixo o
partida para o estudo do câmbio é a observação de que a moeda estrangeira é saldo da balança comercial, contribuirá também para a redução do emprego no
Brasil e para o aumento do emprego na Coréia do Sul.

128
O que interfere na taxa de câmbio é a relação entre as economias internas dos Pe é o preço do bem estrangeiro.
países cujas moedas são comparadas. Nessa relação, entram em jogo a taxa de
A expressão acima comprova o significado da TRC que é, enunciado de outro
juro, a inflação e o nível de desenvolvimento de cada um.
modo, a relação entre os preços dos bens nacionais e estrangeiros em termos de
10.01. Taxa nominal e taxa real de câmbio taxa de troca entre as economias envolvidas.

Conforme já mencionado, a taxa de câmbio representa o preço de um bem ou Como já referido, as taxas de câmbio estão estreitamente vinculadas às
serviço na moeda de um país convertido para a moeda de outro país. Ela se economias dos países envolvidos. De modo particular, o saldo da balança
apresenta nas versões nominal e real. A taxa nominal de câmbio nominal TNC comercial entre dois países e a necessidade de um dos países de usar poupança
reflete os preços relativos das moedas, enquanto que a taxa real de câmbio real do outro, isto é, usar poupança externa (M-X), são variáveis que comandam o
TRC resulta da relatividade dos preços dos bens e serviços nos distintos países. câmbio. Quando o país A precisa exportar mais para o país B, seu governo
Em outras palavras, a TRC corresponde à taxa de troca dos bens e serviços de um desvaloriza a moeda em relação à de B para que, a moeda de B, uma vez ficando
país por bens e serviços correspondentes de outro país. Tome-se, como exemplo, relativamente mais forte em relação à de A, os agentes econômicos de B passem
a aquisição de um mesmo tipo de automóvel que seja ofertado no Brasil e no a comprar mais dos agentes econômicos de A. A necessidade de A exportar mais
México. Considerem-se os seguintes preços: no Brasil, determinado tipo de para B em determinado momento pode advir de uma balança comercial que, em
automóvel é vendido por R$20.000,00 enquanto que, no México, seja vendido tal momento, seja negativa para A em relação a B. Na prática, todos os países, à
por 160.000,00 pesos mexicanos. Adicionalmente, considere-se que a taxa exceção dos Estados Unidos, tratam o tema do câmbio fazendo o confronto de
nominal de câmbio seja igual a 10,00 pesos mexicanos por cada Real. Sob essas suas respectivas moedas com o dólar americano que é a moeda internacional de
condições, alguém que disponha de R$20.000,00 e esteja viajando para o México, maior conversibilidade (aceitação). Nesse caso, a necessidade de exportar que
poderá transformar esta quantia em 200.000,00 pesos mexicanos e adquirir o pode ter um país, A ou B, corresponde à necessidade desse país de acumular
automóvel ofertado no México, restando-lhe 40.000,00 pesos mexicanos, isto é, dólares, o que pode ser-lhe útil para diversas finalidades, uma das quais fazer
o equivalente a R$4.000,00. Conforme se percebe, enquanto a taxa nominal de pagamentos no exterior caso seja, por exemplo, devedor líquido (deve mais do
câmbio TNC é de R$1,00=10,00PM, a taxa real de câmbio TRC é igual a que tem a receber).
R$1,00=1,25PM, resultante de:
Portanto, a redução da taxa de câmbio de um país faz com que uma mesma
TRC=(TNC.Pn)/Pe, quantidade de dólares possibilite, depois da redução, comprar uma quantidade
maior de bens e/ou serviços do país que teve a moeda desvalorizada em relação
Onde:
ao que se comprava antes da referida redução (desvalorização ou depreciação da
TRC é a taxa real de câmbio; moeda do país). Então, como à exceção dos Estados Unidos o dólar vem de fora,
TNC é a taxa nominal de câmbio; ao desvalorizar sua moeda, um país estimula as exportações. Contrariamente, a
elevação da taxa de câmbio de um país faz com que uma mesma quantidade de
Pn é o preço do bem nacional; e dólares já não se possa, depois da elevação, comprar a mesma quantidade de

129
bens e/ou serviços em relação ao que se comprava antes da referida elevação TCR=US$0,75/R$1,00.
(valorização ou apreciação da moeda do país) mantidos os preços de bens e/ou Com efeito, 1,33 é o inverso de 0,75. Note que o americano trabalhou com os
serviços em seus níveis originais. Então, ao valorizar sua moeda, um país estimula preços do bem na moeda dele. Em qualquer caso, a forma de expressar a taxa de
câmbio pode ser uma ou outra. Não há uma regra definida para isso.
as importações.
10.02. Regimes cambiais
Exemplo de Aplicação 03.15
Suponha que a taxa de câmbio nominal entre o dólar americano e o real seja de A taxa de câmbio pode ser fixada por decisão da autoridade econômica do país
R$1,50 por US$1.00. Determinado bem é fabricado tanto no Brasil quanto nos ou com base no mercado, caso em que a flutuação da taxa é comandada pela
Estados Unidos. O produto brasileiro custa, no Brasil, R$2.400,00; e o mesmo oferta e demanda por moeda estrangeira. No último caso, as taxas de câmbio são
produto fabricado nos Estados Unidos, custa nos Estados Unidos e na moeda ditas flutuantes ou flexíveis. Deste ponto em diante, o texto considerará que a
brasileira, R$1.200,00. Qual a taxa de câmbio real?
moeda estrangeira objeto da discussão sobre o tema do câmbio seja o dólar
Solução americano ou, simplesmente, dólar47.
A taxa de câmbio real é a taxa mediante a qual são trocados os bens de um país
pelos bens de outro país. A demanda por dólar em um país qualquer que não os Estados Unidos depende
Chamem-se: da necessidade que o conjunto dos agentes econômicos (produtores e/ou
TCN, a taxa de câmbio nominal; consumidores) tenha para importar ou para realizarem outras operações que
TCR, a taxa de câmbio real; impliquem utilizar a referida moeda estrangeira.
PBN, o preço do bem nacional; e
PBE, o preço do bem estrangeiro. A oferta de dólar depende da quantidade de bens e/ou serviços exportados bem
A taxa de câmbio real será dada por: como da realização de outros tipos de operação dos quais resultem a entrada de
TCR=TCNxPBN/PBE, dólar no país. No caso de câmbio flutuante, repete-se, é do confronto das
Donde: funções de demanda e de oferta da moeda estrangeira que resulta o
TCR=(1/1,50 dólar/real)x(R$2.400,00/bem brasileiro)/(R$1.200,00/bem estabelecimento da taxa de câmbio. Conforme se comenta adiante, nesta seção,
americano)
o Banco Central desempenha importante papel na definição de demanda e oferta
Donde:
TCR=R$1,33/US$1,00 de dólar. Os regimes de câmbio se apresentam de três modos: o da taxa de
Esta soluçã considerou a taxa de câmbio nominal como sendo a relação (R$/U$$). câmbio fixa, o da taxa de câmbio flutuante e o regime de bandas cambiais.
Normalmente representaria o cálculo feito no Brasil. Se fosse feito nos EUA, a Comenta-se, à continuação, mais detidamente cada um desses regimes.
razão da TCN seria o inverso (quanto vale cada dólar em termos de real). Nesse
(i) Taxa de câmbio fixa
caso, o cálculo seria feito do modo seguinte:
TCR=(1,50/1real/dólar)x(US$600,00/bem americano)/(US$1.200,00/bem
brasileiro)
Donde: 47 Alguns países têm moeda denominada dólar: dólar canadense e dólar australiano são exemplos de moedas desses
países.

130
No regime de taxa de câmbio fixa, o Banco Central estabelece o nível da taxa Ainda no rol das desvantagens da taxa de câmbio fixa, este regime é capaz de
mediante a qual o mercado de moeda estrangeira deve operar. Uma vez fixado fazer com que a política monetária deixe de ser um instrumento de política
esse nível, o Banco Central se obriga a colocar em disponibilidade as reservas de econômica, principalmente quanto à administração do estoque de moeda
dólar para atender às demandas. Tais demandas são exercidas pelos agentes estrangeira, o qual fica dependente da taxa de câmbio fixa. Uma outra
econômicos que precisam importar bens e/ou serviços (principalmente as firmas) desvantagem reside no fato de que o Banco Central pode eventualmente não
bem como os consumidores que precisam do dólar ou de outras moedas escolher a taxa mais adequada, ocasionando movimentos especulativos que
conversíveis para viagens, profissionais ou a turismo, ou ainda para a importação colocarão em dúvida a adequabilidade do regime de câmbio.
de bens. O Banco Central obriga-se a vender e a comprar pela taxa fixada.
(ii) Taxa de câmbio flutuante
A vantagem da taxa de câmbio fixa reside no fato de não haver espaço para
No regime de taxa de câmbio flutuante, esta é determinada, conforme já
instabilidade cambial facilitando a previsibilidade para os agentes econômicos
referido, pelo mercado em função da demanda e oferta por moeda estrangeira. A
que dependem da divisa 48. A taxa de câmbio fixa, quando em nível mais elevado
oferta é suprida pelos exportadores e todos os que trazem moeda estrangeira
do que seria o nível de equilíbrio, tem a vantagem de contribuir para o controle
para o país. E a demanda é exercida pelos importadores que precisam do dólar
da inflação pois estimulará a importação de bens e/ou serviços de fora que
para comprar bens e/ou serviços de outros países.
competirão com os nacionais, forçando estes últimos a não subirem.
Entre as vantagens do câmbio flutuante, está a não interferência do Banco
A taxa de câmbio fixa traz consigo, entretanto, a desvantagem de, quando fixada Central em sua condição de autoridade monetária. Mas o Banco Central pode
em patamares muito elevados e por muito tempo, ao promoverem a competição atuar, sob este regime, como agente econômico, seja comprando dólares que
dos preços dos importados com os preços domésticos, passar a operar em estão no país quando pretende desvalorizar o câmbio seja vendendo dólares a
desfavor da base produtiva nacional contribuindo para dificuldades dos agentes no país quando pretende valorizar o câmbio. Nesse caso, tem-se o
produtores nacionais podendo chegar até mesmo ao fechamento de algumas câmbio flutuante dito sujo (dirty float), assim denominado por ser contaminado
firmas. Portanto, do mesmo modo como enunciou-se que taxas de câmbio pela ação governamental por meio do Banco Central que, neste caso, atua como
superiores à de equilíbrio constituem uma vantagem, quando essa elevação for agente econômico e não como autoridade monetária.
exagerada e perdurar muito tempo, pode tornar-se uma desvantagem para a Uma segunda vantagem do regime de câmbio flutuante está na administração,
economia do país. pelo Banco Central, dos instrumentos de política monetária para alcançar outros
objetivos. Desses instrumentos, a taxa de juro é o mais notável uma vez que pode
O câmbio fixo também pode criar dificuldade quando a moeda nacional estiver
ser utilizada para estimular ou desestimular a atividade econômica e o emprego.
muito valorizada caso a demanda no país por moeda estrangeira aumente
Como desvantagem, há a possibilidade de a taxa de câmbio tornar-se volátil em
significativamente. O aumento da demanda forçará a subida da taxa e o Banco
função dos movimentos dos mercados financeiros nacional e internacional. Essa
Central precisará dispor de reservas suficientes para vender ao câmbio que fixou.
volatilidade pode ser provocada, também, pela especulação com a moeda.

48 Sinônimo de moeda estrangeira, conversível ou não.

131
No câmbio flutuante, pode ocorrer uma grande valorização ou uma grande câmbio (política cambial), os governos costumam adotar práticas de uma política
desvalorização da moeda nacional. O Banco Central, mantendo-se vigilante, comercial que inclui a introdução de tarifas aduaneiras de importação, a fixação
atuará vendendo ou comprando dólares, respectivamente, com o objetivo de de quotas de importação e os subsídios à exportação, entre outras medidas.
fazer a taxa de câmbio situar-se em um nível de equilíbrio. Em outras palavras, a
No caso das tarifas aduaneiras de importação, estas podem ser cobradas por
moeda nacional desvalorizada por interferência do Banco Central comprando
meio de um preço por unidade do bem ou serviço importado, ou como uma
dólares no mercado nacional, fenômeno que no economês cambial é referido
percentagem sobre este, isto é, uma tarifa ad valorem. Há, ainda, as restrições
como flutuação suja (dirty floating) pressiona a inflação. Inversamente, quando o
não tarifárias que podem se basear em critérios técnicos ou sanitários. É
Banco Central precisa fazer com que a inflação arrefeça, ele injeta (vende)
importante assinalar a atuação da Organização Mundial do Comércio – OMC, que
dólares no mercado para que este se desvalorize e as exportações se reduzam ao
substitutiu, em 1994, o antigo Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT), que
mesmo tempo em que as importações aumentem, colocando freio na inflação.
atuava desde o final da Segunda Grande Guerra.
Por fim, o câmbio flutuante puro, versão oposta ao dirty float, pode contribuir
para a desestruturação da economia do país, razão porque adotou-se no Brasil o 11. Tópicos especiais
câmbio flutuante sujo. Apresentam-se, à continuação, alguns tópicos de interesse dos estudos de
(iii) Bandas cambiais macroeconomia objetivando familiarizar o estudante com temas relativos ao
arcabouço institucional e instrumental onde se operam os conceitos
O regime de bandas cambiais consiste no estabelecimento de uma faixa de
desenvolvidos neste capítulo.
variação para a taxa de câmbio. O Banco Central somente intervém quando a
taxa se aproxima de uma das extremidades dessa faixa. Quando da edição do 11.01. Dívida Pública
Plano Real (julho de 1994), o Brasil adotou o regime de bandas cambiais, uma A dívida pública é o montante de todos os recursos tomados pelo governo por
faixa de variação admissível que limitava o dólar entre R$0,86/US$1,00 e meio da emissão e venda de títulos de sua responsabilidade com o objetivo de
R$1,00/US$1,00. Por esse regime, quando o dólar saísse do balizamento dado, o sustentar o apparatus oficial sempre que a arrecadação não é suficiente para
Banco Central intervinha. Esse regime foi substituído pelo câmbio flutuante sujo, fazê-lo. O primeiro real de uma dívida nasce de um desequilíbrio entre o gasto e a
acima referido. Tal mudança ocorreu no mesmo momento em que o Brasil arrecadação, gerando um déficit primário e criando um fluxo deficitário real que
adotou o critério de metas de inflação, abordado49 neste texto. é alimentado por novos desequilíbrios e/ou por um fluxo financeiro que faz
10.03. Atuação dos governos no mercado externo aumentar o estoque da dívida.

Conforme mencionado, a taxa de câmbio constitui o instrumento central na Quando o governo não consegue pagar parcelas da dívida que vão vencer, ou
execução da política de comércio exterior. Além da vigilância sobre a taxa de seja, quando não consegue resgatar nos vencimentos os títulos que estão em
poder dos credores, o governo negocia com o mercado e vende novos títulos.
49 Mesmo o câmbio flutuante sujo leva em conta bandas cambiais que não são divulgadas. O Banco Central as utiliza
Essa negociação envolve a rentabilidade esperada dos títulos, o indexador
sem necessariamente publicá-las.

132
adotado e os prazos de vencimento. O que sucede, nesse momento, é que as correspondentes índices que corrigem os títulos que o governo tem de resgatar.
autoridades monetárias estão sempre inclinadas a minimizar o custo da Quando os resultados dessas correções se afastam muito em desfavor da
administração da dívida, tentando colocar títulos de baixa rentabilidade, com arrecadação, o governo enfrenta dificuldades para reduzir a dívida e, na maior
prazos longos e adotando um indicador que assegure a previsibilidade. parte dos casos, passa a negociar mais, o que contribui para que o governo passe
a dever mais. A esse descompasso também se dá o nome de descasamento.
De outro lado, o mercado pretende maximizar seus lucros e os adquirentes de
títulos do governo dão preferência a comprar aqueles papeis cujos prazos de Por fim, há o fator credibilidade. Se, em determinado período, o governo não
vencimento sejam curtos, tenham rentabilidade elevada e um indexador gozar de bom conceito com o mercado enquanto pagador de seus compromissos,
vantajoso, ou seja, um indexador com histórico corrente de significativas as autoridades monetárias são induzidas, por pressão dos próprios mercados a
variações para mais oferecerem títulos com prazos mais curtos e rentabilidade mais alta.

A sustentabilidade da dívida pública resulta de quatro fatores principais. O Quanto às estratégias para a administração da dívida pública, estas variam desde
primeiro desses fatores é o tamanho da dívida. O método corrente de avaliação uma extremidade onde se adotam medidas economicamente ortodoxas, até a
do tamanho da dívida pública é o da comparação com o Produto Interno Bruto, outra extremidade, de heterodoxia agressiva, passando por estágios
em termos de proporções deste. Como o PIB é a riqueza anual produzida por um intermediários. Brevemente, comentam-se essas estratégias de administração da
país, o fato de a dívida pública refletir uma elevada percentagem deste é dívida pública. A estratégia ortodoxa consiste em promover-se um superávit
indicativo de a administração da dívida tem pouca sustentabilidade, o que é uma primário elevado, manter-se o câmbio livre e estabelecer e perseguir metas de
perspectiva desfavorável para o equilíbrio macroeconômico. Contrario sensu, inflação. Nesse caso, as autoridades monetárias supõem que o juro afeta a
quando a relação Dívida Pública/PIB é baixa, a dívida é considerada sustentável. inflação e elegem a disciplina fiscal baseada na inequação Receitas não-
Não há um limiar fixo para a análise desse percentual. O limite da Financeiras>Despesas não-Financeiras para contribuir com o cumprimento das
sustentabilidade da dívida pública muito depende do tamanho da economia do metas de inflação e maneja a taxa de juro para complementar este controle.
país do contexto vivido por esta economia, como também pode se modificar em
A segunda estratégia, considerada de heterodoxia atenuada, consiste em
decorrência de fatos novos que afetem positiva ou negativamente a economia.
promover-se um superávit primário elevado, combinado com juros baixos e
O segundo fator de sustentabilidade da dívida pública está em sua composição, câmbio desvalorizado. Nessa estratégia, supõe-se que o superávit primário tem
isto é, do portfólio dos diferentes títulos que estão em poder dos credores. uma importância maior no controle da inflação do que a taxa de juro. As
Particularmente, é relevante saber se tais títulos são pré-fixados ou se dependem conseqüências das medidas dessa estratégia são o aumento das exportações, o
de algum indexador de preços, se depende do câmbio (caso da dívida externa) ou aquecimento dos investimentos e o fato de não ensejar o crescimento do
de alguma taxa oficial de juros que o governo adote 50. O terceiro fator é o estoque da dívida. As duas últimas conseqüências são motivadas pela baixa taxa
eventual descompasso entre os índices que corrigem as receitas do governo e os de juro.

50 No caso do Brasil, a SELIC, já referida neste texto.

133
A terceira estratégia, considerada de heterodoxia forte, é baseada em um estar-se-ia incluindo no cálculo o saldo líquido das receitas enviadas ou provindas
superávit primário menor, juros baixos e câmbio desvalorizado. Por essa de outros países. Essa prática é, entretanto, pouco comum.
estratégia, considera-se que o juro afeta pouco a inflação. Ela opera em favor de
A presente seção se ocupa em estudar, ainda que de modo sumário, as causas do
uma redução gradual da relação dívida pública/PIB sem o sacrifício do aperto
crescimento econômico dos países, fazendo uso, para tanto, do Modelo de
fiscal.
Solow, nome dado em homenagem ao economista Robert Solow, detentor do
Por fim, a quarta estratégia, considerada heterodoxa agressiva, baseia-se em Prêmio Nobel de Economia de 1987 e que desenvolveu o referido modelo.
uma atitude radical para re-estruturar ou renegociar a dívida ública ou, ainda,
(i) Relevância do estudo
aplicar moratória, seja porque o tesouro não possa efetivamente pagar seja por
razões de cunho ideológico dos governantes. A importância de estudarem-se as causas do crescimento econômico decorre,
preliminarmente, da própria importância do crescimento, um imperativo de todo
Conforme se percebe a partir do comentário imediatamente anterior, o contexto
e qualquer país ou região. E trata-se de um imperativo porque as sociedades
político pode afetar o tratamento da dívida pública. Observa-se que, em países
estão em busca permanente de níveis cada vez mais elevados de bem estar, de
onde a reeleição é permitida, o governante que vai tentar um mandato
combate à pobreza, o que coloca o crescimento econômico com ponto de
subseqüente ou mesmo quando não se trata de reeleição e o governante tenta
passagem obrigatória para o aumento da renda individual dos integrantes da
manutenção de seu grupo político no poder (tenta “fazer” seu sucessor), o
sociedade, implicando a necessidade de fazer-se crescer o produto global.
controle sobre a dívida pública é rigoroso para não transmitir ao mandato
seguinte uma condição desfavorável. De outro lado, observa-se, também, que, É claro que o bem estar social na acepção da expressão somente é alcançado
governos fracos são mais relaxados em termos fiscais, sem um maior controle com o problema distributivo também solucionado. E, solucionado de uma
sobre o orçamento público, com riscos para o crescimento da dívida. maneira tal que as disparidades entre as classes sociais sejam dissipadas ou, pelo
menos, acentuadamente mitigadas.
11.02. Algumas notas sobre o crescimento econômico
Mas essa condição também obriga a que se cresça economicamente para que a
O crescimento econômico é medido habitualmente pelo Produto Interno Bruto –
repartição da riqueza seja procedida de modo tal que as rendas média, mínima e
PIB do país ou região a que se refere. Pode-se medir, também, o PIB de um
modal se situem em um patamar minimamente aceitável.
estado federado ou mesmo de um município ou de um grupo de estados ou
municípios que integrem uma região de interesse para a avaliação que se Em segundo lugar, mas não menos importante, o estudo do crescimento significa
pretenda fazer. Além do PIB, a medida da variação do PIB per capita também se um passo à frente em relação ao modelo de equilíbrio geral brevemente referido
torna necessária e, mesmo assim, ambas as medidas são insuficientes porque neste capítulo, o qual reflete a análise de uma situação estática que permita,
ignoram o crescimento do bem-estar da economia em toda a sua extensão. evidentemente, fazer a abstração em relação à vida real para fins exclusivamente
didáticos.
Em se tratando de um país, a medida do crescimento econômico poderia ser
tomada, também, em relação ao Produto Nacional Bruto – PNB e, neste caso,

134
(ii) Modelo de crescimento de Solow Os índices de preços são indicadores que mostram a evolução do
comportamento dos preços dos bens e serviços bem como os dos produtos
O Modelo de Crescimento de Solow, além de explicar como os fatores poupança,
primários, agrícolas, industriais e da mineração e mesmo de sub-setores
demografia e progresso tecnológico afetam o produto, também se ocupa em
específicos. Quando a cesta de bens e serviços é fixa entre os dois anos de cálculo
estudar o modo como a política econômica influi no nível e no aumento do
(ano-base e ano para o qual se determina o índice), o indicador é do tipo de
padrão de vida de uma sociedade.
Laspeyres e, quando a cesta varia, o indicador é do tipo de Paasche. Comentam-
Na construção do modelo, utiliza-se o conceito do estado estacionário do capital, se, brevemente, alguns desses indicadores:
que resulta da existência de um dado nível de estoque deste para o qual o
(i) IGP-DI
investimento e a depreciação se equilibram. Isso significa afirmar que a variação
para mais do estoque de capital depende de o investimento no período de Os Índices Gerais de Preços IGP-DI são produzidos pela Fundação Getúlio Vargas
análise ser superior à depreciação corrente no mesmo período. E, considerando desde 1944 com o objetivo de medir o comportamento dos preços em geral dos
que o investimento corresponde à poupança, então a poupança resulta ser uma produtos de disponibilidade interna, o que explica o sufixo DI, aposto à
importante peça motora do crescimento, pois que afasta o capital de seu estado abreviatura IGP. Por disponibilidade interna, indica-se o conjunto de todas as
estacionário. cestas de bens e serviços que, produzidas e ofertadas internamente ao país,
afetam as atividades econômicas dentro do Brasil. Exluem-se, portanto, os bens e
Para a compreensão do modelo é necessário que se analisem os aspectos que
serviços exportados. O IGP-DI é um índice mensal cujos resultados aferem o
possam explicar como a acumulação do capital é afetada pelo comportamento da
comportamento dos preços entre o primeiro e o último dias de cada mês. É
oferta e da demanda de mercadorias; a relação entre a poupança e o
formado a partir de três parcelas conforme a expressão seguinte:
crescimento, questão já tangenciada no último parágrafo; os efeitos das
flutuações demográficas sobre o crescimento econômico; e o papel do progresso IGP-DI=0,60.IPA+0,30.IPC+0,10.INCC,
tecnológico sobre o crescimento econômico.
onde:
11.03. Medida do custo de vida
IPA é o Índice de Preços por Atacado;
As variações do custo de vida são medidas por meio de indicadores que são
IPC é o Índice de Preços ao Consumidor; e
produzzidos por instituições de pesquisa econômica. Esses indicadores costumam
ser publicados pela internet e nos jornais e revistas com o objetivo de manter os INCC é o Índice Nacional da Construção Civil.
cidadãos informados sobre o comportamento de diversos setores da economia. O IGP-DI apresenta a variante IGP-10 que segue o mesmo processo de cálculo do
Uma breve visita a tais números-índice aqui é feita com o objetivo de familiarizar IGP-DI com a diferença de que o período se estende do dia 11 de cada mês ao dia
o estudante com os elementos que são utilizados na vida real, principalmente em 10 do mês seguinte, sendo o primeiro dos dois meses o chamado mês de
contratos, reforçando uma série de aspectos teóricos estudados. referência para o índice; e a variante IGP-M, que é o IGP de mercado, igualmente

135
diferenciando-se do IGP-DI apenas pelo período de coleta dos dados, que vai do - adaptação ao novo cenário econômico com a presença da correção monetária,
dia 21 do mês de referência ao dia 20 do mês imediatamente seguinte. criada em 196451.

(ii) IPA O IPA-DI é calculado a partir de dezoito índices especiais e abrange 481
mercadorias extraídas do conjunto de produtos regularmente negociados no
O Índice de Preços por Atacado foi criado em 1944 e é publicado pela Fundação
atacado. Sua publicação é mensal e o período de coleta de dados segue o mês
Getúlio Vargas, com o objetivo de medir o comportamento dos preços do
calendário.
comércio atacadista entre empresas, isto é na fase que precede ao varejo. No
início, coletavam-se dados relativos a 25 produtos, número que se elevou para 90 O Índice de Preço por Atacado IPA-OG é calculado mediante os mesmos critérios
em 1955. A ponderação de cada item era feita com base nos dados do IPA-DI, com a diferença que as séries são relativas aos setores produtivos e
complementares do Censo e nas informações relativas à importação. Em seu não aos indicadores de bens e serviços.
cálculo, considera-se o valor adicionado por cada setor ou o valor da
(iii) IPC
transformação industrial (VTI) para evitar erros de dupla contagem no
comportamento do indicador. O Índice de Preços ao Consumidor começou a ser publicado em 1920, com dados
retroagindo a 1912, e tinha como universo geográfico da coleta apenas o antigo
Até 1969, as duas versões do IPA eram denominadas IPA-Total e IPA-Exclusive o
Distrito Federal, hoje município do Rio de Janeiro. Além disso, abrangia apenas as
Café. A maior parte do café brasileiro era destinada à exportação, pouco ficando
famílias ricas, o que o tornava um indicador irreal do acompanhamento dos
disponível para o mercado interno, o que justificava o cálculo de um índice em
preços.
separado excluindo o café.
Até 1939, o IPC era publicado pela Fazenda Nacional. Em 1949, o Ministério do
A partir de 1969, a terminologia foi alterada e o IPA-Total passou a ser referido
Trabalho criou o primeiro sistema de acompanhamento do custo de vida para
como IPA-OG (Oferta Global) e o IPA-Exclusive o Café passou a ser indicado como
todo o país. O intervalo de 1939 a 1949 foi suprido pelo índice relativo ao custo
IPA-DI (Disponibilidade Interna). Mas as alterações de maior significado em 1969
de alimentação nas capitais estaduais, editado pelo Serviço Estatístico da
estiveram centradas em três pontos principais:
Previdência do Trabalho – SEPT. O IPC passou por sucessivos aperfeiçoamentos.
- ampliação da coleta de dados para 243 produtos e ampliação do território da Em 1993, foi instituído o IPC-10, por demanda do mercado financeiro.
coleta, conferindo uma maior fidelidade da amostra ao conjunto da economia;
O Índice de Preços ao Consumidor – IPC costuma ser o indicador ao qual mais se
- adequação da ponderação dos bens à nova estrutura produtiva do país em recorre para avaliar-se o custo de vida de uma sociedade. Sua determinação é
razão das expressivas transformações da economia brasileira em relação à feita estatisticamente observando-se o comportamento dos preços de bens,
primeira metade do século pela política de industrialização e de substituição de mercadorias e serviços que constam de uma cesta básica definida segundo
importações; e
51 O IPA foi o índice adotado para corrigir o valor das Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional – ORTN,
criadas com a implantação da correção monetária, um dos fatores de inflação inercial. Mais tarde, foram
transformadas em OTN, medida adotada no contexto do controle do processo inflacionário.

136
critérios também estatísticos para refletir o custo de vida que é enfrentado pelo No caso do deflator do PIB, há uma variação natural nas quantidades dos itens
consumidor típico entre os que percebem salário mínimo. produzidos no país ou sociedade para o qual ele é calculado e o ano-base, pois a
composição do PIB pode sofrer alteração entre um ano e outro.
O IPC corresponde à razão entre o custo da cesta básica a preços do ano que se
estiver apurando e esta mesma cesta básica a preços do ano tomado como ano- (iv) Índice Nacional de Custo da Construção Civil – INCC
base. Suponha-se que a cesta básica seja constituída apenas de feijão e arroz em
Este índice começou a ser publicado em fevereiro de 1985, com base em uma
quantidades, respectivamente, de 3kg e 5kg a cada vez que o consumidor faz sua
articulação dos dados do Índice de Custo da Construção – Rio de Janeiro (ICC-RJ),
compra. Seja o ano de 2000 o ano-base e 2008 o ano corrente para o qual
a série mais antiga do Brasil para esta finalidade, com a série do Índice de
pretende-se determinar o IPC. Admita-se que os preços dos dois bens em 2000
Edificações, que tinha um alcance regional maior em termos do território
fossem 1 u.m. por quilo de feijão e 1,50 u.m. por quilo de arroz e que estes
nacional.
mesmos preços no ano de 2008 houvessem sido, respectivamente, 1,60 u.m. por
quilo de feijão e 1,80 u.m. por quilo de arroz. Exemplo de aplicação 03.16
O contrato de construção de uma pequena estação de tratamento de efluentes
Com esses dados, o IPC relativo a 2008 para a referida cesta será igual a:
urbanos – ETE monta a R$30x106 e prevê o pagamento em quatro parcelas de
IPC2008=[(1,60x3,00)+(1,80x5,00)]/[(1,00x3,00)+(1,50x5,00), 25% do valor original cada uma. Essas parcelas são mensais, sendo a primeira no
ato de assinatura do contrato (jan-2010), e as demais em fevereiro, março e abril
Donde
de 2010. O contrato também prevê que as segunda, terceira e quarta parcelas
IPC2008=1,314 sejam reajustadas com base no INCC, cuja tabela, publicada pela FGV durante o
É interessante notar que o valor do IPC corresponde ao deflator da cesta período da obra, é dada a seguir. Calcule o valor nominal de cada parcela e o
estudada. O conceito de deflator ora evocado é o mesmo adotado no início do montante total recebido pela execução da obra. O mês de janeiro de 2010 é o
presente texto onde se comentou a variação do produto bruto de uma mês-base para o cálculo do reajuste.
sociedade.
Janeiro Fevereiro Março Abri
Entretanto, há diferenças a assinalar entre o deflator do PIB e o deflator de uma 2010 2010 2010 2010
cesta de mercadorias e serviços. Enquanto no primeiro caso o deflator mede a 423,740 425,268 428,476 432,079
variação de preços entre todos os bens e serviços produzidos, o IPC mede a A fórmula de reajuste é:
variação de preços de uma limitada quantidade de bens que compõe uma cesta. PR=PO x Ii/Io
Onde:
A segunda diferença reside no fato de que o IPC relaciona o efeito das variações PR é a parcela reajustada;
de preços para os mesmos bens em iguais quantidades entre o ano para o qual é PO é o valor original da parcela;
calculado e o ano-base. Em outras palavras, os pesos que afetam os preços são os Ii é o índice do mês da parcela que se está reajustando; e
mesmos em ambos os anos, o de cálculo do IPC e o ano-base. Io é o índice do mês-base para o cálculo do reajuste.

137
Solução Sem a preocupação de aprofundar o conhecimento sobre essas instituições e
instrumentos, apresentam-se, a seguir, rápidos comentários e exemplos que
PR1’=PR1=7,5 x 106
permitem travar-se contato com os tópicos essenciais
PR2’=PR2=7,5 x 106 x (425,268/423,740), donde PR2’=7.527.044,89 u.m.;
12.01. Contabilidade nacional
PR3’=PR3=7,5 x 106 x (428,476/423,740), donde PR3’=7.583.824,99 u.m.;
O conjunto ordenado de informações relativas às grandes contas das atividades
PR4’=PR2=7,5 x 106 x (432,079/423,740), donde PR4’=7.647.596,40 u.m.; econômicas internas e externas de um país é chamado Contabilidade Nacional.
O total pago pelo contratante ao contratado foi de: Sua finalidade principal é a de medir o desempenho da economia, ao mesmo
tempo que serve de subsídio ao planejamento e à execução da atividade
PR1+PR2’+PR3’+ PR4’=22.275.846,63 u.m. econômica.
(v) INPC e IPCA A Contabilidade Nacional se estrutura em cinco contas básicas: (i) conta de
Estes dois índices são produzidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e produção; (ii) conta de apropriação; (iii) conta de capital; (iv) conta-corrente de
Estatística – IBGE integrando o Sistema Nacional de Índices de Preços ao governo; e (v) contas externas. A conta de produção reflete a identidade
Consumidor – SNIPC. A coleta de dados é feita em nove regiões metropolitanas, existente entre o Produto Nacional e as Despesas Nacionais.
além do Distrito Federal e do município de Goiânia. A conta de apropriação mostra como a renda é distribuída entre consumo e
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor – INPC coleta informações referentes poupança. A conta de capital corresponde à identidade entre poupança e
a famílias com rendimentos mensais até oito salários-mínimos, enquanto que o investimento. A conta-corrente de governo permite acompanhar o
Índice de Preços ao Consumidor Amplo – IPCA é produzido a partir de coleta de comportamento das receitas e despesas do setor público. E as contas externas
informações de famílias com rendimentos mensais até quarenta salários- retratam as relações econômicas do Brasil com o resto do mundo.
mínimos. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo – IPCA é utilizado A responsabilidade pela Contabilidade Nacional do Brasil entre 1947 e 1986 era
pelo Banco Central para o monitoramento das metas de inflação. do Centro de Contas Nacionais do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação
12. Elementos do arcabouço institucional e componentes do instrumental da Getúlio Vargas – FGV. A partir de 1986, o Instituto Brasileiro de Geografia e
aplicação dos conceitos macroeconômicos Estatística – IBGE passou a se ocupar dessa relevante atribuição, cujos dados
podem ser acompanhados no website da instituição52.
A abordagem a problemas macroeconômicos implica necessariamente referir-se
a institucições no seio das quais e a instrumentos por meio dos quais as políticas
públicas relativas aos agregados econômicos são propostas, implementadas e
acompanhadas.

52 www.ibge.com.br

138
12.02. Moeda e bancos serviço em termos de versatilidade para atuar em não importa qual seja o tipo ou
o ramo, natureza ou gênero das transações econômicas.
A moeda tem uma importância muito grande no contexto dos estudos
macroeconômicos, pois em se tratando de estudos do comportamento dos A importância da moeda para uma economia é tão significativa que os governos,
agregados econômicos, um número expressivo de variáveis não poderia ser em geral, mantêm-na sob controle, nada deixando que circule livremente, sem
aferido, de forma prática, caso inexistisse um referencial único para medir tais um monitoramento por meio do qual se possa utilizá-la como instrumento da
variáveis. Esse referencial é o numerário de cada país. política econômica.

De outro lado, o trato da mercadoria moeda implica a existência da A moeda, ao longo de sua milenar história, passou essencialmente por seis fases
intermediação financeira, a qual é exercida, principalmente, pelas instituições principais. Seus primeiros vestígios estão nas relações de trocas que as primitivas
bancárias. comunidades precisavam fazer entre si com o objetivo da sobrevivência. É que
essas comunidades, como não produziam necessariamente tudo quanto
Os bancos são, pois, instituições, públicas ou privadas que ofertam serviços
precisavam, tinham que fazer trocas de algumas mercadorias com membros de
financeiros aos demais agentes econômicos (não-bancários) para apoiar a
outras comunidades. Essa foi a primeira fase da história da moeda, conhecida
atividade mercantil fazendo a captação de dinheiro de agentes superavitários e
como Fase do Escambo, ou era da troca de mercadorias. O escambo era essencial
emprestando este mesmo dinheiro a agentes que precisam de recursos para
porque, nessa fase, algumas comunidades se dedicavam à caça, enquanto que
finalidades diversas como investimentos, cobertura de desencaixes, entre outras.
outras consagravam o seu tempo ao plantio de tubérculos ou grãos, fazendo com
A história dos bancos está intimamente relacionada com a história da própria
que elas tivessem que permutar bens para satisfazer suas necessidades. Com o
moeda, cujos passos mais relevantes são comentados nas sub-seções seguintes.
crescimento das relações de trocas, estas foram se tornando mais trabalhosas
12.03. Breves notas sobre a história da moeda porque, cada indivíduo deveria encontrar outro que tivesse a mercadoria de que
Vista pelo prisma da Teoria do Consumidor, a moeda também é uma mercadoria, necessitasse, ao mesmo tempo que também estivesse procurando a mercadoria
pois, ao ser recebida, preenche um desejo do ser humano, que a canaliza para de que o primeiro dispusesse. Como esse tipo de coincidência dificilmente
alguma dentre quatro finalidades53 bem definidas que a moeda tem. A moeda ocorria na maior parte das situações, surgiu a necessidade de se facilitarem as
produz, assim, utilidade para o consumidor. trocas, com o que foi se firmando uma nova prática, que veio a caracterizar a
segunda fase, denominada Fase da Mercadoria-Moeda. Diversas mercadorias
Ocorre que a moeda tem a faculdade de poder atuar como equivalente geral foram utilizadas como moeda ao longo da história. O quadro da Figura 03.20
para todas as demais mercadorias54, o que a diferencia dos demais bens, ilustra algumas dessas mercadorias-moeda, associadas à época e região em que
conferindo-lhe uma importância jamais superada por qualquer outro bem ou foram adotadas. Algumas foram sendo substituídas à medida que perdiam os
atributos necessários a ser utilizadas como meio de troca.
53 Comentadas na seção imediatamente seguinte.
54 Segundo Wassily Leontief, pai da Teoria Econômica do Insumo e Produto, moeda é uma mercadoria que serve de
equivalente geral para todas as mercadorias.

139
Fig. 03.20 – Exemplos de Mercadorias-Moeda de valor, em razão de sua abundância com a descoberta de novas jazidas e o
conseqüente barateamento das operações de beneficiamento 55.
PERÍODO PAÍS OU REGIÃO MERCADORIA-MOEDA
DESDE A ANTIGÜIDADE ATÉ Assíria, Babilônia Cobre, prata, cevada A era imediatamente seguinte à da mercadoria-moeda viria a ser, então, a Fase
O ANO 410 Bretanha Barras de ferro, escravos da Moeda Metálica, que privilegiou os metais preciosos, notadamente o ouro e a
China Conchas, seda, sais, cereais
Egito Cobre prata, significativos de riqueza concreta, e que poderiam facilmente passar de
Índia Animais domésticos, arroz, metais mão em mão. Com o tempo, o porte desses metais começou a representar risco
Pérsiax Gado
DURANTE A IDADE MÉDIA Alemanha Gado, cereais, mel para o detentor de sua propriedade. As operações comerciais e de crédito,
(410-1453) China Arroz, chá, sal, estanho, prata sobretudo aquelas entre as cidades italianas e a região de Flandres, entre Bélgica
Ilhas Britânicas Moedas de couro, gado, ouro, prata
Islândia Gado, tecidos, bacalhau
e França, tornaram-se arriscadas pelo transporte de valores em moedas
Japão Anéis de cobre, pérolas, arroz metálicas, fazendo com que surgisse a operação de depósito, um dos primeiros
Noruega Gado, escravos, tecidos vestígios da atividade bancária.
Rússia Gado, prata
DURANTE A IDADE Austrália Rum, trigo, carne Com efeito, apareceriam nessa fase as chamadas Casas de Custódia, onde os
MODERNA (1453-1789) Canadá Peles, cereais
Estados Unidos Fumo, cereais, madeira, gado comerciantes podiam depositar suas moedas metálicas ou quaisquer outros
França Metais preciosos, cereais valores, sob garantia. Tais instituições emitiam, então, os Certificados de
Japão Arroz
Fonte: Lopes, J. C. et Rossetti, J. P.. Economia Monetária. Atlas. São Paulo. 1992. Depósito, que deram origem à Fase da Moeda-Papel. No início, a moeda-papel
era 100% lastreada, pois existia na casa de custódia igual valor depositado em
Tais atributos são a aceitação, o caráter de raridade, a durabilidade, a
moeda metálica.
divisibilidade, a homogeneidade e a facilidade de manuseio e transporte. Veja-se
que algumas mercadorias-moeda como o gado, por exemplo, dificilmente Sucede que os proprietários de casas de custódia perceberam que aqueles
poderiam prosperar nessa função, principalmente levando-se em conta a grande comerciantes que depositavam o seu dinheiro em moeda metálica não faziam a
quantidade e a repetição das trocas entre pessoas e homens de negócio. A reconversão ao mesmo tempo, além do que, outros comerciantes vinham fazer
dificuldade de sua movimentação e manuseio, aliada a seu limitado período de novos depósitos em ouro e prata,o que permitia emissões adicionais de
vida, explica o desuso em que foram caindo. certificados. Com isso, as casas de custódia podiam emprestar a outros
comerciantes o equivalente à parte do dinheiro que remanescia sob custódia.
De outro lado, os metais foram, aos poucos, se firmando como mercadorias-
moeda de maior aceitação, porquanto preenchiam, como preenchem, a maior Os tomadores de dinheiro por empréstimo também não retiravam o total
parte dos atributos que permitem o enquadramento como meio de troca, e tomado, deixando parte na própria casa de custódia que lhe emprestou ou então
medida e reserva de valor. A fixação no uso de metais como mercadorias-moeda
privilegiou, no início, o cobre, o bronze e o ferro, principalmente. Esses metais
55 Os metais são encontrados na natureza em suas respectivas formas brutas, misturados com outras substâncias do
foram, no entanto, sendo deixados de lado, porquanto não serviam como reserva solo e sub-solo. São os minérios, que precisam passar por operações de beneficiamento, das quais resultam as
formas puras do metal.

140
depositando em outra, ou em outras casas de custódia. O significado dessa 12.04. Funções da moeda
operação era que a casa de custódia criava moeda, isto é, de uma determinada
São quatro as funções da moeda. A primeira dessas funções tem origem
quantia depositada em seu cofre, ela promovia a circulação de um valor bem
sobretudo histórica, pois está ligada à sua própria gênese, pois a moeda nasce
maior na economia.
para servir como meio ou instrumento de troca, o mais frequente de seus usos. E
O fenômeno da criação de moeda, distinto de emissão de moeda, levava a que a foi, o uso da moeda como meio universal de troca que criou facilidade para as
moeda-papel que estava circulando não estivesse mais 100% lastreada, pois as transações comerciais e deu maior eficiência à economia.
casas de custódia emprestavam mais do que dispunham em termos de moedas
Em segundo lugar, a moeda reflete a medida de valor, posto que, sendo uma
metálicas dos depositantes.
mercadoria, pode ser comparada a outras mercadorias e ser trocada por essas
Surge, daí, o conceito de moeda fiduciária, ou papel-moeda, que caracterizaria a outras mercadorias. O que sucede é que a moeda é uma mercadoria padrão que
Fase do Papel-Moeda, que se seguiu à fase da moeda-papel. O papel-moeda serve para medir o valor de todas as outras mercadorias, simplificando
também é denominado moeda-fiduciária, de livre conversibilidade e com lastro sobremaneira os registros contábeis. Assim, a moeda é a unidade de avaliação do
apenas fracionário em ouro. Mas a emissão de papel-moeda por particulares valor de todos os bens, sendo o numerário57 de uma economia. Em outras
terminou por levar o sistema ao fracasso, o que fez com que os estados palavras, a moeda é o referencial de valor que serve como denominador comum
passassem a assumir o mecanismo de emissão e o controle da circulação do a todas as relações de troca. É também referida também como função de
papel-moeda. unidade de conta.

Pouco a pouco, foram sendo emitidas notas inconversíveis, o que caracteriza Como terceira função da moeda está a sua condição de reserva de valor. Trata-se
praticamente todos os sistemas monetários existentes, ou seja, a inexistência de de uma decorrência natural da faculdade que tem a moeda de significar riqueza
lastro metálico, a inconversibilidade absoluta e o monopólio estatal das emissões sob quaisquer circunstâncias, podendo ser transformada em bens e serviços
de moeda. As cédulas, juntamente com o que vulgarmente se chama de moedas quando em circulação, e tornando-se um estoque, entesourado, quando fora de
metálicas, constituem, portanto, o papel-moeda. circulação.

Finalmente, veio a Fase da Moeda Bancária, que atualmente convive com o Essa função somente tem sentido quando ausente a inflação. Para o indivíduo, a
papel-moeda. A moeda bancária, ou escritural56, resultou da evolução do próprio moeda exerce a função de reserva de valor a partir do momento em que é
sistema bancário. Ela é constituída pelos depósitos a vista e a curto prazo nos recebida até o instante em que é utilizada, seja para consumo seja para
bancos, sendo movimentada por meio de cheques, ordens de pagamento e investimento.
transferências eletrônicas.

57 A palavra numerário é utilizada em economia para significar uma unidade de referência monetária. O numerário,
por exemplo, do real, é R$1,00. No linguajar corrente, o termo é, também e frequentemente, confundido com
dinheiro. Inspeções bancárias, por exemplo, costumam começar pela atividade de contagem do numerário, isto é,
56 Controlada pela escrituração contábil dos bancos, com lançamentos de débito e crédito. do dinheiro existente na agência.

141
Mas é importante que a moeda não se deprecie facilmente, ou seja, que a A demanda por motivo especulativo é a procura de moeda para se fazerem
inflação não corrôa significativamente o seu valor, pois quando isto ocorre, a aplicações com o objetivo de lucro, que é o retorno do capital ampliado. Como
moeda perde exatamente a capacidade de atuar como reserva de valor. Daí a esse retorno depende da taxa de juros, a demanda especulativa é governada
importância da estabilidade da moeda, perseguida por muitas sociedades. pelos juros que são pagos. Quando a taxa é elevada como sucede ainda hoje, no
Brasil, os detentores de dinheiro se inclinam mais a emprestá-lo e, quando as
Por fim, a moeda carrega consigo, também, a função de padrão de pagamento
taxas caem de modo significativo, esses detentores de recursos preferem mantê-
diferido58. Isso significa afirmar que a moeda também pode ser utilizada como
los líquidos, pois o custo de mantê-los em caixa também é baixo.
meio de pagamento futuro, para transações em que a mercadoria ou serviço é
entregue ou prestado e tendo a contrapartida que é o pagamento feito a prazo. 12.06. Características da moeda
São transações ditas a crédito, nas quais o agente vendedor somente recebe o
As características principais da moeda são: (i) homogeneidade; (ii)
pagamento mais tarde, ou recebe imediatamente de um banco, o qual terá
indestrutibilidade e inalterabilidade; (iii) divisibilidade e multiplicidade; (iv)
financiado o comprador antecipando o pagamento ao credor deste antecipando
transferibilidade; e (iv) facilidade de porte.
o pagamento.
A homogeneidade é uma característica da moeda que não somente é necessária
12.05. Demanda por moeda
para criar uma certa familiaridade de parte do usuário quando de seu manuseio,
A demanda por moeda advém de três motivos principais: (i) motivo transacional; como também para refletir a sua condição de mercadoria padrão, numerário e
(ii) motivo precaucional; e (iii) motivo especulativo. Os dois primeiros motivos denominador comum às trocas entre os agentes econômicos, produtores,
dependem da renda do indivíduo e, o terceiro, depende da taxa de juros. consumidores e governo59.

A demanda por moeda para transação constitui o mais natural dos três motivos No que se refere à indestrutibilidade e inalterabilidade, a moeda deve ser dotada
dessa demanda pois resulta ser aquela que tem como objetivo a canalização dos de condições que lhe ensejem uma vida útil perene, uma vez que será objeto de
recursos para o pagamento das despesas dos indivíduos e suas famílias com bens manipulação e guarda por seu portador em seguidas operações de troca de que
e serviços. A demanda precaucional, distintamente da anterior, reflete a procura participará.
de moeda para ficar preventivamente em reserva, com a finalidade de atender a
A divisibilidade, tanto quanto a multiplicidade, é a característica que permite, nas
necessidades inesperadas do indivíduo ou de sua família, atuando como se fôra
transações, materializar-se a troca, qualquer que seja o valor estabelecido,
um seguro contra eventuais circunstâncias de desemprego, enfermidade ou
observada a unidade mínima que é a fração cxentesimal. Em outras palavras, a
outra que implique a necessidade de um montante de dinheiro superior àquele
moeda é o único tipo de mercadoria que permite realizar-se uma transação
que o indivíduo normalmente despende. A demanda precaucional depende, para
um mesmo nível geral de preços, da renda de cada pessoa e, evidentemente, de
quão mais − ou menos − precavida seja essa pessoa. 59 O euro, por exemplo, é produzidos por alguns países da Comunidade Européia. As moedas, tanto quanto as
cédulas, têm pequenas diferenças indicativas do país de origem dessa fabricação. No entanto, todas guardam
homogeneidade em tamanho, resistência e aparência, justamente para serem percebidas pelo portador como um
58 Alguns economistas preferem não considerar o padrão de pagamento diferido como função da moeda. bem padronizado.

142
comercial qualquer que seja o valor ajustado entre as partes. Revendo-se as fases multiplicam artificialmente por meio dos empréstimos que fazem aos agentes
da história da moeda, percebe-se facilmente que isto nem sempre era possível na tomadores. Esse mecanismo de criar moeda será retomado na sub-seção no
era da mercadoria-moeda, eis que algumas mercadorias ofereciam, como presente texto. Comenta-se, antes, o conceito de oferta monetária e seus
ofereceriam sempre, limites quanto à divisibilidade. distintos níveis.

A transferibilidade da moeda nos dias de hoje está perfeitamente assegurada 12.08. Oferta monetária
pelo caráter fiducial de que é dotada, isto é, da confiança com que é dada e
A moeda, ao lado de ser uma mercadoria referencial de valor, é um bem
recebida em pagamento. O papel-moeda, por definição, é gravado com
institucional controlado pelas autoridades monetárias. No Brasil, são o Conselho
fideicomisso, assegurado pela autoridade monetária que o emite, em sua
Monetário Nacional – CMN e o Banco Central – BC as autoridades que, em
condição de testador ou fideocomitente. A condição de fideocometido que tem a
conjunto, exercem o controle do Real.
moeda implica uma relação de confiança entre seus usuários que a farão passar
de mão em mão. Há quatro níveis de oferta da moeda, que são os distintos meios de pagamento.
São identificados por M1, M2, M3 e M4. Antes de apresentá-los, comentam-se os
Finalmente, a moeda deve ser dotada de facilidade de porte, justamente para
conceitos de moeda manual, que são: (i) papel-moeda emitido – PME; (ii) papel-
que o usuário possa levá-la a toda a parte, manuseando-a sem desconforto e
moeda em circulação – PMC; e (iii) papel-moeda em poder do público – PMP.
passando-a àqueles com quem transacionar.
O PMC é igual ao PME deduzido o montante retido temporariamente no caixa do
12.05. Papel dos bancos
Banco Central. O PMP resulta do PMC, deduzido o montante em caixa sob a
Conforme já mencionado, os bancos são instituições que fazem a intermediação forma de moeda corrente no Banco do Brasil, nos bancos comerciais e nas caixas
financeira em geral, lucrando com a diferença entre as receitas que auferem econômicas.
mediante a prestação dos serviços os custos em que incorrem para disporem dos
O primeiro nível dos meios de pagamento, o M1,, é expresso por:
recursos necessários a realizarem estes serviços. Em praticamente todos os
países, esse papel dos bancos é desempenhado sob o controle e o apoio de um M1=PMP+DVBC+CCCE,
banco central que atua como gestor da política monetária do país. No caso do onde:
Brasil, o Banco Central executa a política emanada do Conselho de Política
Monetária – COPOM. PMP é o papel-moeda em poder do público, também chamado de moeda
corrente, ou moeda manual;
Uma diferença bem marcada entre o papel desempenhado pelo Banco Central e
os demais bancos é que compete somente ao primeiro a emissão de moeda, DVBC são os depósitos a vista nos bancos comerciais, públicos e privados,
enquanto que os demais bancos, com o apoio do Banco Central, criam moeda. A incluído o Banco do Brasil; e
emissão de moeda faz aumentar o estoque de moeda em circulação, CCCE são as carteiras comerciais das caixas econômicas.
diferentemente da criação de moeda que, dado um mesmo estoque, os bancos

143
O segundo nível dos meios de pagamento, M2, tem a seguinte expressão: 12.09.O processo de criação de moeda

M2=M1+TPP+FAF+FRFcp+DER, Os correntistas de um banco comercial depositam seu dinheiro na agência onde


têm conta-corrente gerando um ativo e um passivo para o banco. O ativo é
onde:
denominado Caixa e o passivo é denominado Depósitos a vista. Sobre o
TPP são os títulos públicos, federais, estaduais e municipais em poder do público; montante de depósitos, o banco recolherá ao Banco Central uma proporção
FAF são os saldos dos fundos de aplicações financeiras; denominada Depósito compulsório cuja proporção é determinada pelo Conselho
de Política Monetária – COPOM. Se a taxa de Depósito compulsório for igual a
FRFcp são os fundos de renda fixa de curto prazo; e 10%, então para cada R$100,00 de novos depósitos o banco recolherá R$10,00
DER são os depósitos especiais remunerados. ao Banco Central. Os restantes R$90,00 são utilizados pelo banco recipiendário
do depósito para fazer suas operações. As operações principais são as de
O terceiro nível dos meios de pagamento é o M3, definido por:
empréstimos, em geral a outros correntistas, o que corresponde ao papel da
M3=M2+Depósitos em Poupança intermediação financeiraa que cabe ao banco comercial. O banco empresta,
portanto, ao tomador o dinheiro de correntistas que não estão precisando de
E o quarto e último nível dos meios de pagamento, o M4, resulta da adição do M3
dinheiro naquele momento. Mas tem que garantir a cada correntista
com os depósitos a prazo fixo, que são títulos privados, apresentando-se de
depositante, em qualquer momento, a devolução do montante depositado caso
acordo com a expressão seguinte:
ele queira resgatar o seu dinheiro. Como nem sempre todos os depositantes
M4=M3+CDB+RDB, resgatam ao mesmo tempo tudo quanto depositaram, o banco usa o Caixa para
Onde: fazer empréstimos e, ao fazer este tipo de operação, ele está multiplicando cada
R$1,00 dos Depósitos a vista por dois, sendo R$1,00 que é utilizado pelo tomador
CDB são os certificados de depósito bancário; e do empréstimo e R$1,00 que está na agência à disposição do correntista que o
RDB são os recibos de depósito bancário. depositou. Nisso reside o mecanismo de criação de moeda que é uma faculdade
dos bancos comerciais com o apoio do Banco Central que limita o montante que
A oferta total de moeda no Brasil é controlada pelo Banco Central através da
os bancos podem operar por meio da taxa do Depósito compulsório. Na verdade,
gestão do M4. Entre março de 1990 e agosto de 1992, os meios de pagamento no
o dinheiro que saiu de uma agência bancária por empréstimo a um correntista
Brasil tiveram um quinto nível, o M5, que incorporava ao M4 os saldos de
terminará sendo multiplicado por um número maior do que 2 como acima
cruzados60 bloqueados pelo Plano Econômico do governo Collor.
mencionado, porquanto o correntista tomador do empréstimo fará pagamentos
que fluirão para outros bancos (ou para o mesmo banco emprestador original)
sob a forma de depósitos (novos depósitos), os quais estão sujeitos a novos
Depósitos compulsórios, fazendo com que o processo de multiplicação se repita.
60 Padrão monetário brasileiro vigente àquela altura.

144
É possível demonstrar-se que a moeda criada adicionada a seu montante original Esse mecanismo demonstra, também, que a movimentação de uma economia
tem um limite que é dado pelo inverso da taxa de Depósito compulsório. Admita- pode acontecer por meio de um estoque de moeda bem inferior ao montante de
se por exemplo que a taxa do depósito compulsório seja de 10,00%, isto é transações realizado por essa economia. E quanto menor for o estoque de moeda
DC=0,10. Seja o caso de o banco ser detentor de uma reserva de 100 unidades para movimentar uma economia de PIB constante, tanto maior será a velocidade
monetárias (u.m.) resultante de dinheiro de seus depositantes. Ele emprestará 90 de circulação da moeda.
u.m. e fará um depósito compulsório ao Banco Central igual a 10 u.m. Os
12.10. Encaixe técnico
tomadores do montante de 90 u.m. farão pagamentos que serão depositados em
agências bancárias de outros bancos e/ou do próprio banco emprestador. Esses A sub-seção imediatamente anterior ocupou-se em apresentar o processo de
novos depósitos implicarão um compulsório de 9 u.m. e deixarão reservas de 81 criação de moeda por meio da atividade bancária. Ali, explicitou-se o papel da
u.m. para novos empréstimos. Essa série infinita de empréstimos corresponderá taxa de Depósitos compulsórios que são feitos ao Banco Central pelos bancos
à moeda criada (MC) e representa a soma de uma progressão geométrica de comerciais. Esses depósitos são uma reserva obrigatória para dar segurança ao
razão 0,9, como se segue: sistema monetário.

MC=(100x0,90)+(100x0,902)+(100x0,903)+…. O total dos depósitos nos bancos corresponde às reservas bancárias, compostas
dos já mencionados Depósitos compulsórios e do Encaixe técnico que reflete a
Donde:
maior parcela do montante dos depósitos. Essa maior parte também é referida
MC=100x(0,90+0,902+0,903+…) como Reserva voluntária. O Encaixe técnico é administrado por cada banco de
modo a atender a saída de dinheiro por meio de saques dos depositantes.
Donde:
Quando o banco enfrenta um desencaixe, isto é, quando o montante de dinheiro
MC= 100x(0,90/0,10) que sai é superior ao que entra (por novos depósitos e/ou por recebimento de
Donde: parcelas dos empréstimos concedidos), o banco pode tomar emprestado ao
Banco Central para equilibrar o seu balancete diário. Esses empréstimos tomados
MC=900. ao Banco Central são feitos mediante o pagamento de uma taxa de juro hoje
O novo montante depois que a série de todos os empréstimos se realizarem é a conhecida no Brasil como taxa SELIC, abordada no presente capítulo. Daí dizer-se
soma da reserva inicial com a moeda criada, ou seja, é igual a (100+900)=1.000 que o Banco Central é o banco dos bancos, uma vez que se trata de um banco
u.m. Esse é o limite de expansão dos meios de pagamento que, como se observa, que empresta dinheiro a todos e quaisquer bancos. O dinheiro tomado ao Banco
pode ser controlado pelas autoridades monetárias mediante a alteração na taxa Central juntamente com alguma proporção do Encaixe técnico é emprestado ao
do Depósito compulsório. Observa-se que o montante total decuplicou a reserva público (pessoas físicas, jurídicas privadas ou públicas) mediante a cobrança de
inicial, confirmando que o inverso da taxa do Depósito compulsório é o uma taxa superior à taxa SELIC. A diferença entre a taxa cobrada ao público e a
multiplicador monetário, também referido como coeficiente de expansão. taxa SELIC corresponde ao spread bancário, o qual abriga parcelas relativas aos

145
custos administrativos dos bancos, provisão para fazer face ao comportamento cadernetas de poupança; 45 % sobre recursos de garantias realizadas; e 60%
de devedores duvidosos (inadimplência) e o lucro da instituição. sobre posições de câmbio vendidas.

12.11. Base monetária. Política monetária O redesconto é uma assistência que o Banco Central presta às instituições
financeiras quando estas correm o risco de terminar o dia com saldo negativo 61
A Base Monetária corresponde ao conjunto de exigibilidades monetárias líquidas
entre os montantes que recebem (por depósito) e os que saem (por saques de
da autoridade monetária em poder do público e dos bancos comerciais. Engloba
correntistas ou por empréstimos que as instituições fazem). As taxas de
o papel-moeda emitido e o saldo dos depósitos no Banco Central.
redesconto são determinadas com base na taxa SELIC com um adicional de 1% ao
A Política Monetária é o conjunto de medidas adotadas pelo governo com o ano (a.a.) para o redesconto de um dia; SELIC acrescida de 2% a.a. para descontos
objetivo de controlar a oferta de moeda e a taxa de juro, de forma a assegurar a com ressarcimento até 90 dias. Esses percentuais vigoram atualmente desde abril
liquidez ideal da economia do país. O objetivo da Política Monetária é atuar via o de 2013, por resolução do Banco Central.
controle da moeda para: (i) aumentar o nível de emprego; (ii) manter a
Por fim, os controles seletivos do crédito está relacionado com a supervisão
estabilidade dos preços; (iii) operar com uma taxa de câmbio realista; e (iv)
bancária, principalmente nos dias correntes em que os mercados financeiros de
adequar a taxa de crescimento econômico.
todo o mundo estão interligados.
São instrumentos da Política Monetária: (i) controle direto da quantidade de
Nessas condições, quanto mais elaborados forem os instrumentos do mercado da
dinheiro em circulação; (ii) operações no mercado aberto; (iii) fixação da taxa de
moeda e quanto mais criativos forem os agentes econômicos que atuam nesse
reservas; (iii) fixação da taxa de re-desconto; e (iv) controles seletivos de crédito.
mercado tanto maior é o risco uma vez que os mercados financeiros funcionam
No que concerne ao controle da circulação, a emissão de moeda é normalmente com base em uma relação fiduciária, isto é, baseada na confiança.
destinada a financiar déficits orçamentários do governo, além de socorrer
A supervisão bancária tem o caráter de supervisão prudencial mediante critérios
instituições financeiras bancárias quando se prenunciarem crises de liquidez
definidos nas reuniões de Basileia (Suíça) da qual o Brasil passou a ser signatário
destas, e de servir para operações de câmbio de moeda.
a partir de 1994, quando do estabelecimento do Plano Real.
Quanto ao mercado aberto, este é constituído pelas operações que permitem a
regulação diária da oferta monetária e da taxa de juro promovendo a liquidez dos
títulos públicos negociados.

No que se refere às taxas de reservas, estas são estreitamente relacionadas com ]


os depósitos compulsórios, e são definidas pelo Banco Central que está limitado a
100% sobre os depósitos à vista e a 60% sobre os depósitos a prazo (uso de
títulos públicos). Em 2013 praticaram-se as seguintes taxas de depósito
compulsório: (i) 44% para os recursos a vista; (ii) 20% para os depósitos em 61 A legislação proíbe o fechamento diário negativo de qualquer instituição financeira, o que equivale a “saque a
descoberto” contra o Banco Central.

146
12.12. Mercados financeiros 13. Alguns comentários à economia brasileira recente

Os mercados financeiros estão divididos em quatro segmentos: (i) mercado de Este tópico tem o objetivo de aliar os estudos teóricos ao conhecimento prático
câmbio; (ii) mercado de capitais; (iii) mercado de crédito; e (iv) mercado da macroeconomia brasileira. A sua leitura contribuirá para um entendimento
monetário. mais claro do debate nacional que se trava, dia a dia, pelas ações do governo por
meio de seus três Poderes, pelas opiniões oferecidas por economistas,
O mercado de câmbio reúne as operações com moedas estrangeiras. As
empresários, consultores, jornalistas, professores, pesquisadores e inúmeras
transações diárias com moedas de outros países é que determinam as cotações
outras categorias profissionais.
de cada uma delas. Conforme discorrido na seção relativa a câmbio, trata-se de
um mercado de grande importância por afetar não somente o produto bruto do Os temas escolhidos são os veiculados na grande imprensa e evitam, sob todos os
país como também o controle da inflação. aspectos, as componentes de ordem política e ideológica. A finalidade deste
tópico é antes a de introduzir o estudante no mundo das instituições dos
O mercado de capitais inclui a compra e venda de ações e títulos em bolsas de
mercados de crédito, de capitais, monetário e cambial, além de aspectos
valores e instituições financeiras que operam com ações e títulos das empresas. A
inerentes à política fiscal.
função do mercado de capitais é contribuir para a formação e/ou reforço do
capital das empresas ao mesmo tempo em que criam oportunidade de ganhos Lidar com alguns elementos da terminologia própria e regras básicas de
financeiros para os adquirentes das ações e títulos. funcionamento desses mercados e políticas públicas, auxilia o(a) aluno(a) a
construir um conjunto razoavelmente extenso de conceitos, os quais precisam
O mercado de crédito abrange as operações de financiamento, pelos bancos
ser bem compreendidos, condição essencial para a participação no debate sobre
comerciais, de investimentos e mesmo os bancos múltiplos, para pessoas físicas
os rumos da sociedade brasileira.
e/ou jurídicas com o objetivo da aquisição de bens e serviços. Incluem-se não
somente o desconto de promissórias e/ou duplicatas como também operações 13.01. Sobre a taxa de juro
de longo prazo para finalidades diversas como, por exemplo, o financiamento de
O Brasil tem uma das maiores taxas de juros do mundo. A taxa básica, que é a
capital de giro de firmas, o financiamento de projetos e outras formas de
SELIC62, é atualmente (dezembro de 2013) de 10,00% ao ano, e é orientadora das
investimentos.
operações de crédito. Como a concorrência entre os bancos, no Brasil, não é
O mercado monetário constitui o espaço onde se realizam as operações de
curtíssimo prazo. Operações como as de overnight, que são operações de 62 O Sistema Especial de Liquidação e Custódia – SELIC foi criado em 1979 pelo Banco Central e pela Associação
mercado aberto, de um dia, para empresas ou pessoas físicas, além de Nacional das Instituições do Mercado Aberto – ANDIMA, com o objetivo de tornar mais transparente e segura a
negociação com títulos públicos. Trata-se de um sistema eletrônico que permite a atualização diária das posições
empréstimo a bancos comerciais que fecham o expediente diário em vermelho das instituições financeiras, assegurando maior controle sobre as reservas bancárias. Hoje a SELIC identifica,
(saldo negativo entre captação e desembolso). As operações de overnight podem também, a taxa de juro, a qual reflete a média da remuneração dos títulos federais negociados com os bancos. A
SELIC é considerada a taxa básica porque é utilizada em operações entre bancos e, por isso, tem influência sobre os
socorrer também o próprio Tesouro Nacional. juros de toda a economia. Em 04 de março de 1999, o Banco Central extinguiu o Sistema de Bandas de juros, criado
em 1996. O Governo passou a usar uma taxa apenas para sinalizar os juros de toda a economia, criando a Taxa
Referencial SELIC.

147
vigorosa, estes chegam a cobrar taxas acima de 150,00 % a.a. em empréstimos a desvantagem na corrida pelo crescimento, uma vez que elevadas taxas de juros
pessoas físicas, caso, por exemplo do cheque especial cuja média dos inibem o investimento, fator essencial para esse crescimento.
empréstimnos nesta modalidade pelos sete maiores bancos no Brasil alcançou
158,78% a.a. até outubro de 2013.. A diferença entre a taxa básica e a taxa que é
Fig. 03.21 – Taxas de juros em diversos
cobrada pelo banco ao tomador do dinheiro para empréstimo ou financiamento países (% a.a.)
é o que se denomina spread. O spread bancário é uma prevenção, como já PAÍS 2003 2013
Brasil* 56,60 10,0
referido em seção anterior, para fazer face a despesas administrativas, Indonésia* 15,50 7,50
operacionais, tributárias, o risco do não recebimento que é medido pela Áfr do Sul* 11,50 5,00
inadimplência, além da taxa de lucro da instituição emprestadora do dinheiro. Filipinas* 9,20 3,50
México* 6,60 3,75
Tem-se observado, também, que sempre que o Comitê de Política Monetária – Canadá 4,50 1,00
COPOM decide pela redução na taxa SELIC, os spreads têm sido reduzidos do E Unidos 4,00 0,25
mesmo percentual. Isto significa dizer que não se promoveu nenhuma redução Japão 1,80 0,10
Fonte: Folha de São Paulo. 23 Fev 2004;
real no spread bancário brasileiro. e www.fxstreet.pt (2014)
* Países considerados emergentes.
O quadro da Figura 03.21 mostra a taxa de juros em países que utilizam o mesmo
Nessa competição desigual com a produção de outros países, a economia
conceito que o Brasil para informar o FMI sobre suas respectivas taxas de juros
brasileira tem recorrido ao desconto em padrões salariais e/ou desvalorizações
na ponta, isto é, para o tomador de empréstimos a bancos. O quadro da
cambiais. Aliado a isso, o crédito ao setor privado no Brasil é muito restrito, uma
mencionada Figura 03.21, embora não apresente dados inteiramente
vez que é mais atraente para os bancos canalizarem seus recursos para títulos da
homogêneos, é útil para acusar a posição pouco privilegiada que o Brasil ocupa
dívida pública, que oferecem boa rentabilidade e baixo risco. Os grandes bancos
em termos de taxas de juros no contexto de uma série de países. A falta de
brasileiros têm a maior parte de seus recursos aplicada nesses títulos da dívida
homogeneidade entre as informações dos países decorre, inicialmente, do fato
pública do que emprestados ao setor privado. Para se ter uma idéia da escassez
de estes não adotarem um mesmo critério de cálculo ao informarem-nas ao
do crédito no País, os empréstimos representam somente cerca de 24,8% do PIB
Fundo Monetário Internacional – FMI, fonte original dos dados.
nacional, uma das menores taxas do mundo. Nos Estados Unidos, esse percentual
Enquanto a maior parte dos países caso do Brasil informa ao FMI a taxa de chega a 45,3%.
empréstimo (lending rate)63, outros informam a taxa para capital de giro (working
A inexistência de concorrência entre os bancos, já referida, o que é uma
capital loan), como sucede com a Grécia e a Indonésia, por exemplo.
conseqüência do pequeno número de instituições de crédito, termina por agravar
A leitura do referido quadro mostra que o Brasil tem a mais alta taxa de juros no esse quadro dos juros altos no País, mas deve-se observar, também, que os
conjunto dos países considerados emergentes, o que é indicativo de sua procedimentos judiciais para recuperação de crédito junto a devedores
inadimplentes tem um processamento lento, o que contribui para a fixação dos
63 Reflete a média dos financiamentos a curto e médio prazos ao setor privado . juros na ponta, ou seja, para o tomador de empréstimo, com elevados níveis de

148
spreads. Também é elevado o nível dos depósitos compulsórios, que é um terá de pagar para renovar seus empréstimos ou obter novos. O risco-país pode
percentual de recursos que os bancos são obrigados a depositar no Banco sofrer variações elevadas em curtos intervalos de tempo.
Central.
Veja-se, por exemplo, o caso do risco-Brasil durante os primeiros cinco meses de
Finalmente, a nova Lei de Falências, ora tramitando no Congresso Nacional, ao 2004. Em 12 de janeiro era de 410, mas chegou a 761 pontos em 7 de maio,
estabelecer mecanismos mais simples de re-estruturação de dívidas, assegurando variando, portanto, de 85,61% em pouco menos de quatro meses.O quadro da
maiores chances de recuperação de empresas em dificuldades, poderá contribuir Figura 03.22 ilustra essa variação do risco-Brasil no contexto da avaliação de risco
para a baixa da taxa de juros. Há, todavia, analistas que não tomam como certa a de outras economias.
queda dessa taxa apenas com a edição da referida lei, porquanto o volume de
Constata-se que, no período indicado, aplicar capital no Brasil, pelo menos na
insolvência dos bancos não é tão grande, além do que o recebimento de créditos
visão dos investidores internacionais, tornou-se mais arriscado do que em países
vencidos se transformou em grande negócio para os bancos, exatamente pela
como a Venezuela e a Nigéria que vinham enfrentando situações mais
elevada taxa de juros praticada no Brasil.
desfavoráveis do que a brasileira em meses então recentes.A significativa subida
13.02. O Risco-País do risco-Brasil passou por uma variação de 14,8% somente em uma semana, a
primeira do mês de maio de 2004.
O risco-país é um indicador adotado na economia internacional para orientar os
investidores a respeito do risco que têm em aplicar seu capital nos diversos O cenário político, tanto quanto fatos relevantes da economia, podem influir no
países. Um dos indicadores mais utilizados para avaliar o risco-país é intitulado comportamento desse índice.No caso do referido aumento de 14,8% do risco-
Embi+64, que reflete a visão dos próprios investidores sobre qual a possibilidade Brasil, este sucedeu em uma semana durante a qual o governo foi afetado,
de determinado país pagar ou não suas dívidas interna e, principalmente, negativamente, por alguns fatos que deixaram transparecer um certo grau de
externa. fraqueza.Foi o caso da derrota, no Congresso, na votação da Medida Provisória
sobre a proibição de funcionamento dos bingos, aliada à constituição de uma
O risco-país reflete, em verdade, o ponto de vista dos investidores internacionais
comissão mista, também no Congresso, para discutir o valor do novo salário-
sobre a possibilidade de determinado país pagar, ou deixar de fazê-lo, suas
mínimo aprovado pelo Poder Executivo.
dívidas interna e, sobretudo, externa. O seu cálculo parte do pressuposto de que
o risco-Estados Unidos é zero, ou seja, esse país não oferece nenhum risco em Na mesma semana, as perdas da Bolsa de Valores de São Paulo – BOVESPA foram
receber aplicações de capitais dos investidores internacionais e, evidentemente, de 5,4%, acumulando uma desvalorização de mais de 16% somente durante os
nacionais. Um outro indicador utilizado é o Credit Default Swap (CDS). Quanto primeiros quatro meses de 2004. Além disso, o dólar teve uma alta de 4,4% na
maior for a taxa de risco de um país, tanto maiores serão os juros que esse país primeira semana de maio, a mesma durante a qual o Embi+ elevou-se em
14,8%.Conforme se percebe, mesmo em se tratando de um indicador que é
64
O índice Embi+ foi criado pelo banco americano JP Morgan Chase & Company. Trata-se de um indicador de seguido pelos investidores, o Embi+ tem sido questionado pelos países com risco
preços de títulos da dívida externa de países diversos, no caso do Brasil, o “C-Bond”. Embi+ é a abreviatura de
Emerging Markets Bond Index Plus e é determinado pela diferença entre a taxa de juros dos títulos do Tesouro elevado, porquanto varia bruscamente em curto espaço de tempo, mesmo que
americano e a dos títulos dos países emergentes.

149
não haja mudança significativa nos fundamentos econômicos de um país. No A evolução anual do Embi+Brasil, entretanto, foi favorável às avaliações que
caso brasileiro, por exemplo, o Emb+ variou de 748 pontos em 15 de abril de vieram a ser feita posteriormente. Para tanto concorreu a melhoria do indicador
2002 para 1525 pontos em 12 de julho do mesmo ano, isto é, em apenas cerca de como mostram os dados do quadro da Figura 03.23.
três meses. Ora, sabe-se que nesse período de 2002 a inflação continuava Fig. 03.23 – Evolução anual do Embi+Brasil entre 2004 e 2013*
Ano Índice Ano Índice
razoavelmente sob controle e os resultados fiscais se situavam em níveis
2004 541 2009 302
adequados. Além disso, o déficit da conta de serviços havia 2005 394 2010 211
2006 232 2011 193
diminuído, o sistema bancário continuava sólido e o país não se 2007 183 2012 185
encontrava diante de qualquer crise político-institucional.Alguns 2008 300 2013 212
* Posição em 31 de dezembro de cada ano
analistas avaliavam que o previsível resultado das eleições
A melhoria do conceito do Brasil no seio da comunidade financeira internacional
presidenciais daquele ano é que seriam o motivo de a comunidade deveu-se sobretudo à manutenção, pelo governo brasileiro, dos fundamentos
internacional subitamente passar a olhar o panorama político- macroeconômicos que haviam sido estabelecidos no marco regulatório do Plano
econômico brasileiro com dúvidas. Real, de 1994 e seus ajustes posteriores.
Fig. 03.22 – Variação do risco-país de alguns países
13.03 – Superávit primário
entre janeiro e maio de 2004
País Risco País
O superávit primário, também referido como resultado primário, é a diferença
Em 12jan2004 Em 7mai2004
entre as receitas e as despesas do governo, excetuados os juros da dívida pública.
Argentina 5.287 Argentina 4.696 Em outras palavras, trata-se da diferença entre o que é arrecadado e tudo quanto
Equador 718 Equador 1.021
Nigéria 665 Brasil 761 é pago, à exceção dos referidos juros da dívida pública65.
Venezuela 571 Venezuela 740
Filipinas 414 Nigéria 652 O quadro da Figura 03.24 mostra o comportamento desses resultados entre abril
Brasil 410 Colômbia 529
Colômbia 363 Turquia 498
de 2003 e abril de 2004, deixando clara a vontade política do Governo em
Panamá 298 Peru 481 promover elevados resultados para, além de cumprir as metas acordadas com o
Turquia 293 Filipinas 457
Ucrânia 257 Ucrânia 374 Fundo Monetário Internacional – FMI66, ainda poder contar com um saldo extra,
Peru 257 Panamá 362 à guisa de prevenção contra possíveis turbulências da economia no futuro. Para
Rússia 227 Rússia 338
Marrocos 182 México 229 alcançar os resultados primários ora comentados, o governo tem inibido de
México 182 Bulgária 195 maneira significativa os gastos públicos. A compressão que o Executivo Federal
Bulgária 160 Marrocos 182
Egito 141 África do Sul 168 tem imposto a esses gastos é fortíssima.
África do Sul 126 Malásia 108
Malásia 77 Egito 75 65 Dívida da União, estados, municípios e empresas estatais.
Polônia 65 Polônia 59 66 O governo brasileiro começou a perseguir de modo perseverante um elevado resultado primário a partir do final
Fonte: Folha de São Paulo. Caderno Dinheiro. 08mai04.
de 1998, por exigência de acordo com o FMI.

150
Fig. 03.24 – Contas públicas nacionais em abr/2003 e em abr/2004 (R$109) Mas o efeito do elevado superávit primário sobre o crescimento é negativo,
Ano\Caracterização Resultado primário Juros Nominais Resultado Nominal porque os meios de se produzir altos resultados primários são apenas os de
2003/abril 9,849 6,353 3,496
aumentar a arrecadação via aumento de impostos ou de cortar gastos, inibindo
2004/abril 11,901 9,904 1,997
Fonte: Folha de São Paulo. Caderno Dinheiro. 29 mai 04. os investimentos. Em qualquer das duas vias, o crescimento econômico é
O governo central é o que participa com a maior parcela do esforço na formação prejudicado.Em 2004, o Brasil produziu, em termos percentuais, o sexto mais
do superávit primário, ficando as estatais em segundo lugar e os governos elevado superávit primário em todo o mundo. O quadro da Figura 03.26 mostra o
estaduais em terceiro. O quadro da Figura 03.25 ilustra o perfil da formação do ranking dos maiores, encabeçados pela Argélia, com o percentual de 6,4%.
Fig. 03.26 – Maiores resultados primários entre países (em % do PIB)
resultado primário do setor público em abril de 2004. Um resultado primário
País Sprvt-Prim País Sprvt-Prim
significativo como os que o governo brasileiro produziu no período é de grande Argélia 6,4 Argentina 4,5
utilidade tanto para o pagamento da dívida pública quanto para a realização de Turquia 5,7 Bulgária 3,3
Rússia 5,5 Finalândia 3,1
investimentos públicos, distribuição esta que é feita em função de critérios de Equador 5,4 Espanha 2,8
política monetária e fiscal. Além disso, como o montante do superávit primário Bélgica 4,7 Canadá 2,7
corresponde, em um primeiro momento pelo menos, a dinheiro arrecadado e Brasil 4,6 ---- ----
Fonte: Folha de São Paulo. Caderno Dinheiro. 2005.
não gasto, isto significa uma menor quantidade de dinheiro em circulação,
contribuindo para o controle da inflação, permitindo, em tese, que a taxa de Conforme se percebe, há países desenvolvidos e países em desenvolvimento no
juros seja reduzida. Adicionalmente, o superávit primário elevado faz parte de quadro da referida Figura 03.26. No primeiro grupo estão a Bélgica, Finlândia,
um cenário de austeridade fiscal, despertando a confiança de credores do Espanha e Canadá. Entretanto, o percentual de superávit primário desses paíse
governo. No caso do Brasil, esses credores são, em sua maioria, fundos de não são os mais altos, à exceção da Bélgica. Tais países não costumam abrir mão
investimento, que tendem a cobrar juros mais baixos em novos empréstimos. do crescimento, fazendo uma opção por um nível de investimento relativamente
Fig. 03.25 – Origens dos recursos do resultado primário do setor público maior quando comparados com aqueles do topo da lista.
Origem Contrib. p/ Particip no Participação no
result prim result prim (%) PIB nacional (%) 13.04 – Déficit público
(R$109)
Gov Federal e B Central 9,507 79,88 7,25 Na seção anterior foi abordada a questão do superávit primário e o pagamento
INSS (1,946) (16,36) (1,48) de juros da dívida. Sucede que nem sempre o resultado primário alcançado é
Governos estaduais 1,727 14,51 1,32
suficiente para pagar os referidos juros. A parcela não paga dos juros da dívida
Governos municipais 0,118 0,99 0,09
Empresas estatais federais 2,484 20,87 1,89 pública é o déficit público. Por exemplo, em 2003, o resultado primário das
Empresas estatais estaduais 0,016 0,13 0,01 contas brasileiras foi de R$66,17 bilhões, insuficientes para o pagamento de
Empresas estatais municipais (0,005) (0,02) 0,00
R$145,20x109 de juros, tendo produzido um déficit público de R$79,03 bilhões.
Total 11,901 100,00 9,08
Fonte: Folha de São Paulo. Caderno Dinheiro. 29 mai 04.
A parte dos juros não coberta pelo superávit primário é financiada pelo déficit
público. O déficit público do Brasil em 2004 foi de 2,68% do PIB, o menor entre

151
este e os quatorze anos anteriores67 e inferior inclusive aos de países como a refere à incidência sobre a renda das famílias, os impostos e contribuições
França e a Alemanha, que superam os 3% de seus respectivos produtos internos relativos aos bens e serviços de consumo comprometem relativamente mais os
brutos. ganhos das famílias de baixa renda e bem menos os ganhos das famílias com
nível de renda alto. Em 2004, para as famílias com renda inferior a R$400,00 por
A dívida pública do governo no final de 2004 estava em R$811,87x10 9, total dos
mês, a incidência desses impostos e contribuições foi de 24,4% sobre a renda 68.
títulos em circulação no país. Desses títulos, 57,1% são corrigidos pela SELIC, o
No entanto, para as famílias com rendas elevadas, acima de R$10.000,00 por
que implica dizer que a aumentos dessa taxa de juro corresponde aumento na
mês, esses impostos e contribuições significam um comprometimento médio de
mesma proporção dos 57,1% da dívida pública. A parcela da dívida pública que
apenas 17,3% sobre a renda. O quadro da Figura 03.27 exibe as taxas médias
depende da variação cambial experimentou uma forte redução em 2004 em
para diversas classes de renda entre os dois níveis de renda ora mencionados.
decorrência da variação do dólar que, com a queda, fez com que os títulos
Nesse cálculo estão incluídos o Imposto sobre os Produtos Industrializados – IPI,
corrigidos por este critério passassem a corresponder a apenas 5,2% em lugar
o Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços – ICMS e as contribuições
dos 10,8% da dívida, nível em que se encontravam no início de 2004. Ainda em
como o PIS e o COFINS. Todos são tributos pagos pelas empresas, porém
relação aos R$811,87x109, vinte por cento deste montante são de títulos pre-
repassados nos preços dos bens e serviços, afetando a economia do consumidor.
fixados, que implicam risco menor, uma vez que não se alteram com a variação
da SELIC ou do câmbio, em nada afetando o estado da dívida. Como a dívida não
pode ser quitada em curto espaço de tempo, o governo procura melhorar o seu Fig. 03.27 – Proporção da renda gasta com
perfil, e é o que vem sucedendo, uma vez que os títulos pré-fixados que os impostos sobre o consumo (%)
Classe de Renda (R$) Imposto (%)
correspondiam a 12,5% do total da dívida em 2003, passaram a 20% no final de <400,00 24,40
400,00 a 600,00 23,90
2004. Aliado a isso, os papeis baseados na variação do dólar foram reduzidos e os 600,00 a 1000,00 23,50
prazos dos investimentos foram alongados. 1000,00 a 1200,00 23,40
1200,00 a 1600,00 23,20
13.05. Política tributária e desigualdade: consumo das famílias 1600,00 a 2000,00 22,30
2000,00 a 3000,00 21,80
3000,00 a 4000,00 20,90
Embora a política tributária seja instrumento de redução de disparidades 4000,00 a 6000,00 20,10
econômicas e sociais, nem sempre é o que se observa na economia brasileira. A 6000,00 a 10000,00 17,70
>10000,00 17,30
carga tributária do país é assaz elevada, tendo alcançado mais de 37 % do PIB em Fonte: Folha de São Paulo. Caderno Dinheiro. 24mai04.
2004. Dez anos mais cedo este indicador era de aproximadamente 27 %.
O que sucede é que uma família de renda elevada, ao comprar um produto como
Atualmente (2014), o percentual de 37% sobre o PIB se mantém. No que se
o feijão, por exemplo, paga indiretamente o mesmo ICMS e o mesmo IPI que uma
67 A significativa redução do déficit público observada em 2004 decorreu do aperto fiscal conduzido pelo setor família de baixa renda. Isto significa que os impostos sobre o consumo, no Brasil,
público, que produziu um superávit primário de R$81,112x109, equivalente a 4,61% do PIB, superior ao ajustado são regressivos, pois aqueles que ganham mais consomem uma proporção menor
com o Fundo Monetário Internacional, de 4,25%. Esse superávit primário foi produzido ao custo de uma drástica
redução nos investimentos governamentais associada a um aumento da arrecadação de tributos e à queda da
parte da dívida pública dependente do câmbio com a queda do dólar, além do expressivo crescimento do PIB. 68 Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário – IBPT.

152
de suas respectivas rendas no custeio das referidas obrigações tributárias. setor de medicamentos, por exemplo,determinado produto cujo custo de
Distintamente, há impostos que são progressivos, como o Imposto sobre a fabricação seja US$1,00 deverá ser vendido no mercado consumidor a US$2,08.
Renda, que cobra mediante alíquotas mais altas daqueles contribuintes que têm Esse mesmo produto no México seria vendido por US$1,44 e, na Argentina, por
uma renda mais elevada, e menos daqueles de menor renda, havendo, inclusive US$1,76.
uma faixa de isenção em relação a essa obrigação.
Setores como o de energia elétrica, comunicações, o industrial, de combustíveis e
Em relação aos gastos com alimentação, uma família com renda inferior a a construção civil estão entre os que pagam as maiores cargas tributárias,
R$400,00 mensais precisa despender cerca de 32% de seus gastos, em média. conforme ilustra o quadro da Figura 03.28.
Para famílias com renda superior a R$6.000,00 por mês, o percentual do
Além dos percentuais elevados das obrigações, também pesam sobre os setores
orçamento para a mesma finalidade da aquisição de gêneros alimentícios é de
produtivos os efeitos do verdadeiro “caos tributário” que se vive no Brasil. As
9%, também em média. Como os impostos regressivos estão embutidos nessas
empresas em geral se queixam da perda de tempo que têm que dedicar a
compras, então reforça-se que os menos abastados pagam proprocionalmente
noventa e cinco obrigações acessórias entre preenchimento de guias e
mais impostos indiretos do que aqueles de maiores rendas.
formulários, manutenção de livros-caixa, o acompanhamento da edição
Não há nenhuma controvérsia sobre o fato de que os impostos devam ser incessante de normas da Receita Federal, cerca de trezentas a cada ano, o que
progressivos. Contrariamente, há consenso entre os economistas sobre esta impõe custos que em alguns casos chega a 1,5% sobre o faturamento dos
questão. No Brasil, entretanto, os impostos sobre o consumo, que respondem agentes produtores.
por aproximadamente cinquenta por cento de toda a arrecadação, são
Em países emergentes a carga tributária média se situa ao redor de 20% do PIB,
regressivos, impondo sacrifícios proporcionalmente maiores aos mais pobres.
portanto 13,25 pontos percentuais abaixo da brasileira de 33,25% consoante já
13.06. Política tributária: o peso das obrigações sobre setores produtivos referido.

A legislação tributária brasileira é uma das mais complexas do mundo. As Essa diferença expressiva retira do Brasil as condições de competitividade em
obrigações tributárias implicam custos que são alheios aos custos de produção e, atração de novos investimentos e, o que parece ser mais grave, as elevadas
por esta razão, deveriam ser minimizados. Não é o que sucede, entretanto, no somas arrecadadas não retornam para a sociedade, pelo menos na medida
caso do Brasil. esperada, a título de justiça social.

Do total da carga tributária brasileira, 70,3% recaem sobre as empresas e 29,7% A grande empresa brasileira em geral arca com elevados custos preventivos, não
sobre as pessoas físicas. No caso das firmas, a taxa sobre o faturamento é, em somente na área contábil mas também na área do Direito Tributário, pois, com o
média, de 33,25%, sendo de 47,14% sobre os custos e despesas, e de 52,23% verdadeiro emaranhado de normas e leis, as firmas precisam se manter
sobre o lucro. Existem no país mais de sessenta tipos diferentes de obrigações atualizadas com a interpretação dos textos legais que são constantemente
entre impostos e contribuições, sobrecarregando excessivamente os custos finais editados.
dos bens e serviços e ampliando, em conseqüência, o nível geral de preços. No

153
desse conhecimento se cinge, entretanto, à reflexão, discussão e fixação dos
Fig. 03.28. – Setores mais onerados pelos impostos conceitos básicos da matéria, para o quê, o presente texto, acompanhado de
Ramo de atividade Tributação
listas de exercícios que serão distribuídas em sala, pode dar uma siginificativa
média (%)
Energia elétrica 38,65 contribuição.
Comunicações 36,97
Indústrias 35,47
Combustíveis 32,74
Construção civil 30,93
Transportes 29,56
Comércio 23,53
Serviços 23,83
Instituições financeiras* 17,58
Administração de bens (holdings) 14,94
Agropecuária 14,29
Micro e pequenas empresas 9,78
Fonte: Folha de São Paulo. Caderno Dinheiro. 30Jan05.

Na verdade, as empresas passam a atuar preventivamente em termos de suas


respectivas gestões tributárias, produzindo relatórios e informações e
apresentando-os à Receita, o que implica custos de manutenção de
departamentos cada vez maiores e mais sofisticados, ampliando os custos alheios
à produção, com ônus para a sociedade.

14. Comentários finais

Os tópicos apresentados no presente capítulo são úteis para introduzir o


conhecimento do(a) (aluno(a) no espaço do debate sobre a macroeconomia em
geral e sobre a macroeconomia brasileira em particular. Particularmente, os
estudantes de engenharia e de química industrial defrontar-se-ão, no futuro, com
a necessidade de compreender o ambiente institucional, técnico, e legal em que
se insere o papel da empresa ou entidade de natureza outra em que estiverem
prestando seus serviços profissionais. O conhecimento econômico perpassa
todos esses aspectos, o que, mais uma vez, vem corroborar a importância do
presente Curso de economia e finanças. O grau de profundidade na abordagem

154
diretos e indiretos, a que este se prestará, e do contexto socioeconômico em que
aspectos econômicos e financeiros de um empreendimento de engenharia se insere.
capítulo 4
Quanto ao contexto socioeconômico, um aspecto a ser observado está
relacionado com o fato de o empreendimento fazer parte das prioridades
regionais, normalmente definidas pelas instâncias de governo, o que pode
revelar a maior ou menor probabilidade de ser elegível para fins de
financiamento oficial, isto é, por meio de recursos públicos, além de oferecer
pistas seguras para a avaliação dos benefícios sociais. Na avaliação dos benefícios
sociais, recorre-se ao cálculo das externalidades69 que o projeto poderá gerar.

Uma segunda averiguação a fazer está relacionada com o conjunto de


informações contido no projeto, especialmente no que se refere a fatores
produtivos demandados por este. Tais informações fazem parte do escopo do
projeto e incluem a necessidade de matérias primas, mão de obra, energia,
transportes, entre outros fatores.

Em inúmeros casos de decisão sobre empreendimento, a análise a ser feita é


comparativa entre duas ou mais opções de investimento, isto é, entre dois ou
1. Notas preliminares
mais projetos postos em competição para que se indique o de melhor resultado
A análise econômico-financeira de empreendimentos é um capítulo relevante no econômico-financeiro.
contexto dos estudos de economia por constituir uma das ferramentas mais
Há várias técnicas de análise econômica comumente aplicadas à avaliação de
potentes para decisões sobre investimentos, decisões essas que são essenciais
projetos. A análise de custos e benefícios sociais e privados é a mais utilizada
para as estratégias de desenvolvimento de empresas, instituições públicas,
pelos agentes financiadores de projetos como os bancos de fomento e agências
regiões e países.
financeiras, nacionais e internacionais, entre outras fontes. Em alguns casos,
As estratégias de desenvolvimento da empresa implicam definições importantes procede-se à técnica da análise de custo-efetividade, normalmente aplicada para
sobre o que, quando, quanto e onde investir no presente para colher benefícios comparar alternativas de projetos com níveis de produto assemelhados, embora
futuros. O objeto do investimento (no quê investir) corresponde, na imensa não substitua a análise de custos e benefícios. Uma terceira técnica é a análise
maioria dos casos, a algum tipo de empreendimento. Particularmente, a multicritério, que pode ser complementar à análise de custos e benefícios
avaliação econômico-financeira do projeto de um empreendimento de quando o projeto não apresenta um nível adequado de taxa de retorno
engenharia deve tomar, como ponto de partida, a verificação clara dos objetivos,
69 O conceito de externalidades é abordado mais adiante, neste capítulo.

155
econômico. Essa técnica também é utilizada quando, na análise de custos e mais entidades financeiras. Mesmo quando o capitalista não padece de limitação
benefícios por exemplo, os preços sociais não capturam com precisão os efeitos de recursos e pode bancar integralmente o seu empreendimento, a análise é
macroeconômicos do empreendimento. necessária porquanto o emprego do capital próprio em projeto que não
maximize o retorno deste significa perda econômica do proprietário do recurso
No espaço deste curso, será apresentada apenas a técnica de análise de custos e
pela desoportunidade do projeto. Portanto, o projeto mais indicado entre
benefícios em suas dimensões de mercado, também referida como avaliação
alternativas é aquele que maximiza o retorno e este é um fator motivador da
privada; e social, também genericamente referida como avaliação econômica.
elaboração da análise de custos e benefícios, sociais e privados.
A abordagem do tema será voltada para empreendimentos de engenharia,
3. Níveis de abordagem do problema
incluindo projetos de infraestrutura como rodovias, portos, aeroportos e outras
obras públicas ou privadas, além de contemplar, também, fábricas, hospitais, Os produtos da engenharia são bens e/ou serviços que resultam da operação de
hoteis, instalações de telecomunicações, projetos de cunho ambiental, empreendimentos. O empreendedor, pessoa física ou jurídica, é o capitalista que
empreendimentos rurais, obras de saneamento como adutoras, plantas de resolve enfrentar o risco de um projeto tendo como expectativa o ganho ou lucro
potabilização de água e de tratamento de efluentes, redes de coleta de esgotos, que vai auferir mediante o emprego de seus recursos econômico-financeiros.
exploração de minas, instalações de entretenimento, entre muitas outras
Normalmente, quando as expectativas de lucro de um projeto apontam para um
iniciativas.
percentual acima da taxa de juro de mercado, o capitalista se inclina a
2. Motivação para o estudo empreender executando esse projeto. Mas, para que a expectativa de ganho seja
aferida com segurança, necessário é que se proceda a uma minudenciosa
Além das razões apresentadas na seção anterior, a experiência tem demonstrado
avaliação econômico-financeira do projeto, objeto central deste capítulo.
que a quantidade de projetos propostos costuma ser muito maior do que a
quantidade de projetos aprovados, o que significa que há uma seleção que o Como já referido, a análise ou avaliação de projetos comporta dois distintos
empreendedor, e também o agente financeiro, fazem para se sentirem seguros níveis de abordagem. A primeira é a abordagem sob a ótica de mercado, ou
quanto ao retorno ampliado do capital empregado. Essa é a principal razão para abordagem sob a ótica privada, que é do interesse primordial do empreendedor.
que se proceda a uma avaliação econômico-financeira dos projetos em geral. E, a segunda, é a abordagem de natureza social, a qual inclui os ganhos
(benefícios) e perdas (custos) para a sociedade como um todo. Na ótica de
Um segundo fator que motiva proceder-se à análise econômico-financeira de
mercado, utilizam-se os preços ditos privados, ou de mercado, que são os preços
projetos de empreendimentos é a limitação de recursos que normalmente o
das transações comerciais tal como elas são negociadas e concretizadas. São os
empreendedor enfrenta. Frequentemente, essa limitação é tal que ele precisa
preços com que todas as pessoas estão habituadas a lidar.
recorrer a empréstimo para implantar o seu projeto. Como o dinheiro tomado
por empréstimo tem um custo, a avaliação torna-se ainda mais necessária para Na ótica social, utilizam-se os preços ditos sociais, os quais incorporam os efeitos
esclarecer como o projeto promoverá o retorno do capital empregado, aí externos gerados pelo projeto, isto é, os efeitos, favoráveis e/ou desfavoráveis
embutido o montante tomado por empréstimo a terceiros, em geral a uma ou sobre terceiras partes. Como exemplo de efeitos externos, também referidos

156
como externalidades, relacionam-se, como exemplo, os impactos ambientais os tanto sob a ótica privada quanto sob a ótica social. Não há como identificar um
quais podem ser positivos ou negativos. Portanto, os dois níveis de abordagem da projeto possível no grupo IV, a menos que por absurdo, pois não integram o rol
análise de custos e benefícios são o da análise social e o da análise privada ou de de projetos possíveis.
mercado.

4. Breves notas sobre a análise de custos e benefícios


5. Indicadores de mérito dos projetos
A análise de custos e benefícios é uma técnica mediante a qual se comparam
Há vários tipos de indicadores disponíveis dentro do instrumental da Análise de
dados econômicos do presente com os do futuro por meio de indicadores que
Custos e Benefícios. O primeiro deles é o Payback, que é o mais simples de todos
refletem o mérito, ou o demérito, de determinadas alternativas de projeto.
e que apenas estabelece o período de tempo necessário para recuperar as
Contador70 classifica os projetos em quatro tipos em função da viabilidade de inversões do projeto71.
mercado, isto é, do ponto de vista privado, e da viabilidade social, também
O segundo é o do Valor Presente Líquido-VPL, que projeta o fluxo econômico do
referida como viabilidade econômica. Esses quatro tipos constam do quadro da
empreendimento, mostrando claramente os valores de entrada e saída
Figura 01. Os projetos do tipo I são viáveis tanto em termos privados quanto em
(benefícios e custos), atualizados com base em uma taxa adequada de desconto.
termos sociais.
Nesse caso, a escolha entre alternativas dar-se-á em favor daquela que oferecer
o maior valor presente líquido.
Fig. 01 – Classificação de Projetos
PONTO DE VISTA SOCIAL Um terceiro indicador é o chamado Valor Presente Líquido Unitário – VPLU que,
+ -
PRIVADO + I II
partindo do mesmo conceito do método anterior, estabelece uma relação entre o
- III IV Valor Presente Líquido e a soma dos investimentos feitos com a implantação do
Fonte: Contador (op. cit)
projeto, a valores atualizados. Trata-se, portanto, de um indicador percentual
Os projetos do tipo II são viáveis em termos privados e inviáveis em termos que apontará como mais viável aquele projeto do qual resultar a maior relação
sociais. Fábricas que emitam quantidades excessivas de poluentes, mesmo que positiva.
mitiguem este tipo de impacto negativo, tendem a ser classificadas no grupo II de
O quarto processo de avaliação é o da Taxa Interna de Retorno – TIR, que
projetos. Os projetos do tipo III são viáveis socialmente, porém inviáveis sob o
consiste na determinação de uma taxa de retorno que iguala a zero o valor
ponto de vista da avaliação privada. Para esse grupo, o capitalista não drena seus
presente líquido de um projeto, isto é, é a taxa de desconto que permite igualar o
recursos, mas é papel do governo atuar no grupo III com o objetivo de promover
valor presente dos benefícios ao valor presente dos custos de um projeto. A
o bem estar social. Projetos na área da defesa tanto quanto projetos na área de
segurança pertencem ao grupo III. Por fim, os projetos do tipo IV são indesejáveis
71 71 O Payback é comumente referido na literatura americana como “fish-bait method” (método da isca de peixe)

por estar relacionado apenas com a velocidade com que o capital é recuperado, sem necessariamente indicar o
70 Contador, Cláudio Roberto. Avaliação Social de Projetos. Editora Atlas. São Paulo. 2000. 375p. tamanho do empreendimento.

157
decisão entre projetos alternativos será tomada em favor daquele que ostentar a notação será Ri, e custos (operacionais) cuja notação será Ci, a diferença Ri-Ci de
maior Taxa Interna de Retorno. Há ainda um quinto método, que é o da Relação cada período formará, no conjunto de todos os anos, um fluxo líquido cuja
Benefício/Custo, segundo o qual um projeto será viável sempre que esta razão, notação será Fi.Dando-se ao custo anual do capital (taxa de juro anual) a notação
que é claculada com base nos valores-presente, for superior à unidade. i, o VPL será calculado por meio da expressão72:

É de considerar-se, também, que, alguns desses métodos têm vieses próprios. Tal VPL={[F1/(1+i)]+[F2/(1+i)2]+...+[Fn/(1+i)n]}-I
é o caso do método da Taxa de Retorno do Investimento Incremental, que é uma
A operação representada pela expressão acima corresponde ao desconto do
variante do método da Taxa Interna de Retorno, que se presta à comparação de
valor do dinheiro no tempo, à taxa de i% a.a., “trazendo-o” para o valor atual ou
projetos alternativos que apresentam diferentes níveis de investimento, por meio
presente.
do cálculo da taxa de retorno para um projeto hipotético, equivalente, em
termos de fluxo de caixa, ao diferencial entre os dois projetos que se estejam Representa-se, com frequência, o fluxo de caixa por um gráfico cuja linha
comparando. Ainda como variante, há também o método do Mínimo Custo que é horizontal corresponde ao tempo de vida útil econômica do projeto, e os vetores
derivado do método da Relação Benefício/Custo e que é adotado quando os perpendiculares correspondem à receita líquida de cada ano, receitas estas que
benefícios de cada alternativa são iguais. E há, por fim, o método do Custo podem ser positivas ou negativas.
Periódico Equivalente, variante do método do Mínimo Custo, utilizado para a O VPL traz consigo a vantagem de revelar, por meio de sua cifra, a escala do
comparação de alternativas de projeto com horizontes de tempo diferentes. projeto, isto é seu tamanho, pelo menos em termos monetários. Entre dois
Muito embora aqui tenham sido relacionados inúmeros indicadores, ressalta-se projetos alternativos, a escolha deverá recair sobre aquele que ostentar o maior
que este breviário dos métodos de avaliação não esgota toda a literatura VPL.
existente a respeito do problema. Os que ora são objeto de comentários são os No caso de projetos de cunho social, caso em que as alternativas podem produzir
mais importantes e mais utilizados dos intrumentos disponíveis sobre a Análise VPLs negativos, o projeto a ser adotado é, mais uma vez, o de maior valor que, no
de Custos e Benefícios. Apresenta-se, a seguir, a sistemática operacional para o caso corresponde ao de menor valor absoluto. Um outro aspecto relevante é o
cálculo de cada um dos quatro principais desses indicadores. fato de que, para fins de comparação entre dois ou mais projetos pelo método do
5.1. Valor Presente Líquido VPL, os níveis de investimento devem ser aproximadamente iguais.

O valor presente líquido (VPL) resulta da atualização da renda econômica prevista 5.2. Taxa interna de retorno (TIR)
para o projeto por meio de seu fluxo esperado de receitas e custos, ou fluxo A taxa interna de retorno é o percentual da taxa de desconto que produz um
futuro de receitas e custos. Admita-se o caso de um projeto que esteja sendo Valor Presente Líquido nulo, isto é, aquela taxa para a qual o valor presente
concebido e que deverá produzir e vender apenas um produto. Se, no ano inicial
(ano zero), somente houver custo (custo com o investimento), cuja notação será
72
Essa expressão é a mais utilizada em geral na avaliação dos projetos pelo VPL, embora constitua um caso particular
I, e, nos anos subsequentes houver receitas (das vendas do produto), cuja da expressão VPL={[F1/(1+i1)]+[F2/(1+i2)2]+...+[Fn/(1+in)n]}-I, que abriga a condição de, tanto a taxa de desconto
anual quanto o fluxo líquido anual, ser variável.

158
líquido do fluxo esperado de receitas e custos é igual ao valor presente do fluxo 5.4. Payback
de investimentos.
De todos os indicadores de mérito dos projetos, o payback é o mais simples
Caso o investimento seja realizado integralmente no ano zero, então o montante porque mede apenas o tempo de recuperação do capital empregado. Se
I corresponde a seu próprio valor presente. A Taxa Interna de Retorno – TIR é a determinado projeto estiver previsto de ter seu investimento total (I) realizado
raiz de “i” para a equação seguinte: no ano zero, e o benefício líquido acumulado nos “n” primeiros anos for igual a
“I”, então o payback desse projeto é de “n” anos. O mérito do projeto será maior
{[F1/(1+i)]+[F2/(1+i)2]+...+[Fn/(1+i)n]}-I=0
quanto menor for “n”.
O mérito de um projeto avaliado mediante o cálculo da TIR será tão mais elevado
Apesar de sua simplicidade e de fornecer, ao capitalista que vai empregar
quanto maior for a taxa encontrada, desde que corresponda a um valor positivo e
recursos, uma relevante informação que é o tempo em que ele esperará para se
maior do que o custo de capital “i”. Esse método é vantajoso por não requerer
beneficiar da liquidez produzida pelo empreendimento, o método do payback
um conjunto muito elaborado de informações sobre o projeto, além de seu perfil
tem a desvantagem de não revelar a escala do empreendimento, de
e do custo de oportunidade do capital. Entretanto, o método da TIR apresenta a
desconsiderar o valor do dinheiro no tempo e de ser falho para projetos não
desvantagem de considerar constante a taxa de desconto ao longo da vida útil
convencionais.
econômica do projeto, ao lado de não ser aplicável a projetos ditos não
convencionais, que são os projetos que apresentam fluxos líquidos positivos e Para minorar a desvantagem de não levar em conta o valor do dinheiro no
negativos de modo aleatório. tempo, pode-se corrigir o método adotando-se o valor presente dos benefícios e
custos do projeto.
5.3. Razão de custos e benefícios
5.5. Síntese das vantagens e desvantagens dos indicadores considerados
O indicador de custos e benefícios, que também pode ser referido pelo seu
inverso, ou seja, a razão de benefícios e custos, sendo esta última a que é Todos os métodos relacionados apresentam suas vantagens e desvantagens.
adotada nesta definição, é uma fração em que figura o valor presente dos Apenas o Valor Presente Líquido revela diretamente a escala (tamanho) do
benefícios do projeto e, no denominador, o valor presente dos custos deste. Sua projeto. Os demais são indicadores expressos mediante percentuais ou, então, de
expressão é, portanto, simples, da forma: simples relação entre cifras que indicam o tempo de retorno do capital
empregado. O quadro da FIgura 02 mostra essa síntese acrescentando, em
B/C=VPB/VPc ,
relação aos métodos comentados na sub-seção precedente, o Valor Presente
Onde: Líquido Unitário – VPLU.
B/C é a razão de benefíco/custo;
VPB é o valor presente dos benefícios; e
VPc é o valor presente dos custos.

159
Fig. 02 – Vantagens e Desvantagens dos Métodos de Avaliação de Projetos 6. Taxa mínima de atratividade
MÉTODO VANTAGENS DESVANTAGENS A taxa mínima de atratividade é a menor taxa de juro que uma proposta de
Valor Presente a) Espelha rigorosamente o fluxo a) apresenta formatos complexos
Líquido . do projeto. para projeto não convencionais. investimento deve oferecer para que o projeto seja atraente. Em outras palavras,
b) Desconhecem-se falhas é a taxa mínima de retorno que que o projeto deve ter. Dito de outro modo, a
técnicas neste método.
Valor Presente a) As mesmas do método do Valor a) As mesmas do método do Valor
Taxa mínima de atratividade é o menor ganho que o capitalista se propõe a
Líquido Unitário Presente líquido. Presente Líquido. auferir quando faz um investimento. Ela é influenciada essencialmente por três
Taxa de Retorno a) É dos mais utilizados
a) Pressupõe constante a taxa de fatores:
Interno. indicadores para decisão. desconto ao longo do tempo, o
b) Prescinde de informação que raramente é verdade. (i) Custo de oportunidade
externa do projeto b) Sua expressão algébrica pode
levar a raízes múltiplas,
O custo de oportunidade é a remuneração que o capitalista abandona (descarta)
dificultando a análise.
c) Pode apresentar resultados ao decidir-se pela aplicação de seus recursos no investimento. É quanto ele deixa
distorcidos para projetos não de ganhar por não aplicar na alternativa disponível mais rentável dentre as que
convencionais.
d) Não diferencia escalas de superam o tipo de negócio em que aplica seu dinheiro. Por exemplo, a aplicação
projeto. em alguns tipos de ações na bolsa, na compra de títulos do Tesouro (Tesouro
e) Algumas vezes chega à mesma
taxa para projetos de mesma direto).
escala, porém desiguais em
custos e benefícios. (ii) Risco do negócio
Relação a) É um método bastante utilizado. a) O indicador tem inúmeras O risco do negócio em que o investidor aplica seus recursos depende de uma
Benef/Custo versões.
série de elementos. Destacam-se, entre outros, a sazonalidade do produto ou
(B/C). b) A magnitude da relação B/C
varia sensivelmente com os serviço objeto do investimento; a dependência de ações de monopólios ou
critérios de inclusão de parcelas oligopólios na área do negócio objeto do investimento; o estado da economia do
no numerador e no
denominador da relação. setor para o qual se destina o investimento, se em expansão, retração etc; e a
Payback a) Simplificado e cálculo imediato a) Não considera o valor ou existência de barreiras à entrada do negócio objeto do investimento que podem
b) Fornece idéia de liquidez e custo de recursos no tempo.
segurança do projeto b) Não esclarece o valor mínimo ser representadas por necessidade de capital elevado, complexidade da
do payback aceitável. tecnologia empregada, exigências de licenças especiais, além de dificuldades
c) Ignora o problema de escala.
d) Não aplicável a projetos de
relacionadas com outros fatores de produção como, por exemplo, obtenção da
perfil não convencional. matéria prima, energia, entre outros.
(iii) Liquidez

A liquidez é a facilidade de se converter um ativo em caixa. Quanto mais baixa for


a liquidez do negócio objeto do investimento, tanto mais alta será a Taxa mínima

160
de atratividade. A liquidez depende do tempo que se tem que aguardar para que avaliação social, também referida restritivamente como avaliação econômica, é o
a venda do ativo seja feita, de tal modo que pode ser definida também como a processo que submete aos métodos de cálculo dos mesmos indicadores acima
velocidade de conversão do empreendimento em dinheiro. referidos os benefícios e custos do projeto consoante níveis de preços que
incorporem os efeitos externos que este produz. Para maior clareza, aborda=se,
7. As óticas de mercado e social na avaliação de projetos
neste texto, o conceito de externalidades ou efeitos externos.
A avaliação de mercado, também referida como avaliação privada, é o processo
8. Fases de elaboração e componentes do projeto para a avaliação econômica
que submete aos métodos de cálculo de indicadores de mérito estudados neste
texto os benefícios e custos do projeto consoante os preços que são praticados O projeto de um empreendimento de engenharia, uma vez estabelecida a ideia
no mercado, os quais incluem as interferências governamentais, mormente os inicial, passa por várias fases que se iniciam com a pesquisa de mercado, a
impostos e subsídios, além de custos de financiamento quando é o caso, entre definição do tamanho (produção-piloto) e do processo produtivo a ser adotado,
outras distorções que estão presentes nos preços privados. Em outras palavras, além de proceder-se a uma análise das opções de localização, após a qual
as variáveis monetizadas do projeto são consideradas por meio de seus desenvolve-se o projeto básico que é uma versão prévia à de projeto executivo.
respectivos valores de troca, isto é, os preços observados nas relações de compra
Em alguns casos, em vez de um projeto básico, faz-se apenas um esboço desse
e venda dos mercados, e a análise do projeto resulta ser a que consulta os
projeto. Ainda nessa fase preliminar, estimam-se os prazos, de construção e de
interesses do empreendedor sem levar em conta os interesses dos demais
início de operação, ao mesmo tempo em que se faz a previsão da vida útil
agentes econômicos.
econômica do empreendimento.
Sucede que o mercado nem sempre é capaz de promover uma alocação eficiente
Com esses elementos, realiza-se a avaliação preliminar de custos e benefícios
de recursos de maneira a gerar a maior utilidade possível para todos os
privados que revelará o grau de viabilidade do empreendimento em termos de
indivíduos. Essa impossibilidade, que se verifica em inúmeras circunstâncias,
mercado. Uma vez sendo viável e tendo o empreendedor decidido por sua
constitui uma falha de mercado. Ditas falhas são observadas na oferta e uso de
realização, passa-se à etapa de elaboração do projeto executivo e seus
bens públicos, por meio de externalidades ou efeitos externos, ou pela
correspondentes orçamento de custo detalhado e cronograma de etapas de
informação imperfeita sobre bens e serviços, ou, ainda, pelos mercados
implementação.
incompletos
Quando se toma, como ponto de partida, a ideia de desenvolver-se um
São as externalidades que motivam a necessidade da análise social de um
empreendimento sem que outros elementos já estejam definidos, o estudo
projeto, porquanto este, como um sêr novo que será introduzido no ambiente
implica uma série de verificações que, em geral, começam com uma pesquisa de
econômico, causará efeitos sobre terceiras partes (externalidades) que precisam
mercado, avaliação de possíveis sítios para implantar o projeto, entre outras
ser avaliadas em termos de mérito (ou demérito). Portanto, os preços de
verificações que são alvo de técnicas distintas, as quais são brevemente
mercado, ou preços privados, precisam ser corrigidos para refletir os benefícios e
comentados nas sub-seções seguintes. Essas técnicas refletem as fases de
custos de oportunidade para a economia como um todo. Desse modo, a

161
elaboração de um estudo completo de avaliação de oportunidade de inversão de sobre o potencial do contingente ainda não atendido pela oferta corrente. Além
capital. disso, o que também é relevante, esse empreendedor em geral já conhece as
políticas públicas relacionadas com o setor em que se insere seu ramo de
8.1. Pesquisa de mercado
negócio. Essa circunstância é, evidentemente, diferente da pesquisa de mercado
A pesquisa ou estudo de mercado é o ponto de partida para determinar as linhas para a implantação de uma indústria nova, na qual a quantidade de dados
de contorno preliminares de um emprendimento que se pretende conceber e desconhecidos é bem maior.
projetar. Trata-se de um instrumento valioso que oferece, inclusive, as primeiras
Uma importante caracterização microeconômica que muito auxilia as pesquisas
pistas para a definição da produção-piloto, ou seja, uma ideia embrionária do
de mercado é a que resulta da observação de bens correlatos ao bem objeto da
tamanho do projeto. Uma das primeiras preocupações sobre o tema reside na
pesquisa. Nesse sentido, devem ser verificados os potenciais de demanda e de
verificação do regime de mercado em que se insere o ramo do negócio em
oferta de bens substitutos e de bens complementares. Uma ferramenta de
concepção, isto é, se se trata de concorrência perfeita ou de algum mercado
grande utilidade nessa tarefa são as elasticidades-preço, da demanda e da oferta,
imperfeito. Os enfoques de um e de outro regimes são distintos e implicam
além da elasticidade-renda da demanda.
tratamentos diferentes à análise do potencial de mercado.
Por fim, não é ocioso acrescentar, a pesquisa de mercado deve considerar os
A pesquisa de mercado comporta dois níveis de abordagem: a do mercado do
preços correntes do produto, as conjecturas de especialistas desse mercado
projeto em si, e a do mercado global. Projetos de grande envergadura não raro
como, por exemplo, expectativas de expansão ou de contração da demanda, as
implicarão a necessidade de ambas as abordagens. Nos grandes
questões relativas às facilidades comercialização do produto, aí incluída a
empreendimentos voltados para a produção de bens de consumo final, um
infraestrutura existente para o escoamento da produção, as condições de venda
conceito associado à abordagem do mercado global é o do consumo aparente,
que são praticadas, a oferta de matérias primas, entre outras.
que serve como uma primeira aproximação da demanda global. O consumo
aparente é o resultado da produção do bem no país, que corresponde à oferta
interna, acrescida das importações e deduzidas as exportações desse bem. A
8.2. Tamanho do empreendimento
expressão consumo aparente resulta do fato de o consumo, ao ser calculado
dessa forma, corresponder a uma estimativa não precisa de sua magnitude, uma A definição do tamanho de um projeto pode ser dada por diferentes parâmetros.
vez que variáveis como oscilação de preços, de estoques, bem como alterações A produção, a área física ocupada, tanto quanto o efetivo de pessoal a ser
na política de importações e de exportações afetam o resultado desse cálculo. utilizado, ou a quantidade da principal matéria prima utilizada estão entre tais
parâmetros. O mais relevante desses parâmetros, entretanto, é a sua capacidade
Um fator facilitador do estudo de mercado reside na eventual circunstância de o
de produção por unidade de tempo. Essa capacidade de produção está associada
projeto ser de ampliação de uma indústria já existente, o qual, naturalmente, é
a um nível de custo mínimo, refletindo o critério de eficiência econômica. Ela
indicativo de que o empreendedor já lida com consumidores do bem a pesquisar,
pode ser referida tanto em termos de unidades produzidas, isto é, a produção
conhecendo o comportamento destes e detendo algum grau de informação
física quanto em termos de faturamento do empreendimento.

162
O estudo de mercado, apesar de fornecer informações relevantes para a calculado para o projeto é de 1200 u.m. por semana, e o custo variável unitário é
definição do tamanho, não deve ser o fator principal nesta tarefa. Seus constante também e igual a 8,50 u.m.. Determinar o ponto de nivelamento desse
resultados são úteis para assegurar que o empreendimento encontrará sua projeto.
demanda, sugerir com que tipo e intensidade de esforço de comercialização o Solução
empreendedor deverá atuar, e se há espaço para expansão futura; ou então, será O ponto de nivelamento é o nível de produção para o qual Ct=RT, onde:
extremanente útil para alertar sobre a precariedade ou mesmo inexistência de CT é o custo total, igual à soma do custo fixo (CF) com o custo variável (CV);
e
demanda potencial a ser explorada.
RT é a receita total, igual ao produto do preço unitário (p u) pela quantidade
O tamanho do empreendimento, em si, deve resultar da lucratividade máxima produzida (q).
que se pode alcançar. Nesse sentido, um dos primeiros approaches implica O custo variável será igual a: CV=CVU.q, da[i:
recorrer a estimativas da clássica condição de igualdade entre custo marginal e CF+ CVU.q=pu.q,
Donde:
receita marginal para algumas opções de tamanho que se situem dentro dos
1200+(8,5xq)=10xq
limites dados pelas indicações do potencial de mercado, atual e futuro. Nessa Donde:
avaliação, convém simular possibilidades de instalação com mais de uma unidade q=800 unidades físicas (u.f.)/semana.
produtiva em localizações distintas, localizações estas que satisfaçam a um ou
A análise desse resultado indica que o tamanho do projeto, dado por sua
mais fatores locacionais como a regionalização do mercado, ou da ocorrência da
capacidade de produção, precisa ser superior a 800 u.f. mensais. Conforme já
matéria prima principal, ou, ainda, da disponibilidade de energia, água ou outra
mencionado, esse nível de produção serve como balizador do tamanho do
utilidade industrial de relevo para o processo.
empreendimento, o qual deve ser superior a 800 u.f., muito embora não defina
Um método simples que pode oferecer uma estimativa prévia do intervalo a qual deve ser o tamanho ótimo.
partir do qual deverá situar-se o tamanho do empreendimento é o cálculo do
Observados os critérios acima, é possível que se relacionem mais de um tamanho
ponto de nivelamento, o qual indica o nível de produção que corresponde à
para o empreendimento. Nesses casos, devem ser postas em confronto as
igualdade entre a receita e o custo totais, adotando-se como critério para
diversas variáveis presentes em cada hipótese de tamanho. Essas variáveis são os
definição de custo total o método contábil, isto é, não incluindo no custo a
custos, variáveis e fixos, a capacidade de obter-se financiamento, a
remuneração dos fatores produtivos, a qual é considerada como lucro. O cálculo
disponibilidade dos insumos produtivos na localização mais adequada para o
do ponto de nivelamento, por depender de dados de custos e receitas, é
empreendimento, a disponibilidade de mão de obra, a tecnologia a ser
apresentado no exemplo dec aplicação 01.
empregada, entre outros.
Exemplo de aplicação 03.17

O preço de um produto cujo projeto de viabilidade está em curso de elaboração é


tomado como constante e igual a 10 unidades monetárias (u.m.). O custo fixo

163
8.3. Projeto de engenharia e processo associado 8.4. Localização

Dentre as várias definições dadas a projeto, uma das mais simples conceitua este Em projetos de engenharia, o estudo de localização é mais frequentemente
instrumento de planejamento como uma representação da ideia ou concepção aplicado ao caso de indústrias, uma vez que outros tipos de iniciativas podem ter
de um produto ou serviço com duração definida e sujeita a restrições técnicas, a definição de sua localização limitada por fatores específicos de seu processo, o
econômicas e ambientais. que nem sempre ocorre com a atividade fabril. Por exemplo, o estudo de
localização de empreendimento minerário está atrelado a um determinismo
Os projetos de empreendimentos de engenharia contêm os desenhos e
geográfico que oferece poucas opções de localização, uma vez que o projeto vai
especificações técnicas do objeto a ser construído ou implantado, e de sua fase
para onde houver ocorrência do minério a ser explorado. Uma barragem para
operacional (processo), bem como os memoriais de cálculo, o orçamento de
geração hidrelétrica terá como sítio um ponto que conduza ao que se denomina
custo, a previsão de receitas e o fluxo líquido de receitas e custos ao longo de sua
aproveitamento ótimo, o qual está relacionado com o potencial hidráulico que
vida útil econômica. Alguns projetos comportam, adicionalmente, modelos
depende, por sua vez, de quedas topográficas significativas associadas a vazões
reduzidos, seja por meio de recursos da informática seja por meio de maquetes
de água caudalosas. Um empreendimento de agricultura irrigada depende de
ou protótipos.
determinadas características do solo que terminam por limitar as opções
Na elaboração da avaliação econômica, todos esses elementos são compulsados prováveis de localização. Para decidir sobre a localização de um empreendimento
pelo analista em seu trabalho de construção de um entendimento completo do imobiliário urbano, por exemplo, seu empreendedor buscará terrenos em áreas
projeto, seus objetivos e particularidades, os obstáculos que podem surgir da cidade que condigam com o cliente-alvo, o que é medido por meio da renda,
durante sua implementação, sempre com o fito de traduzir em grandezas isto é, se o imóvel que será construído for de luxo, certamente será localizado em
monetárias as características do empreendimento. Essa leitura abrangente do uma região sofisticada da cidade e, caso contrário, pode ser construído em
projeto, entretanto, fixa-se tanto mais nas cifras orçamentárias e de previsão de bairros de classes de renda mais baixas.
receitas, nos prazos correspondentes às etapas de implantação e operação, e em
Diferentemente dos setores acima relacionados, a indústria oferece um leque
outras variáveis que tenham significado econômico.
amplo de possibilidades em relação aos fatores locacionais que são levados à
Uma vez reunidas as informações acima relacionadas, a análise econômica passa análise, embora, em alguns casos, ela seja também guiada por determinismos
a ser desenvolvida mediante o cálculo dos indicadores de mérito selecionados, a geográficos, sobretudo quando o volume e/ou peso da matéria prima principal
análise dos resultados, a análise de sensibilidade do projeto e considerações e for significativamente maior do que o volume e/ou peso do produto final, caso
recomendações finais para uso dos executores do empreendimento. em que a indústria tenderá a ser localizada proximamente à fonte dessa matéria
prima. Se, contrariamente, o produto final for de proporções físicas muito
avantajadas em relação ao volume e/ou peso de sua matéria prima principal, a
indústria tende a localizar-se mais proximamente a seu mercado consumidor, de
modo a incorrer em menores custos de transporte.

164
Em outro contexto, indústrias buscam localizar-se proximamente a cursos d’água, sindical e a propensão a greves e outros movimentos sociais, a segurança pública,
seja para obtenção dessa utilidade seja para utilizar o rio como via de normas do zoneamento, entre outros.
escoamento de sua produção ou de recebimento de matérias primas; podem
localizar-se, também, proximamente a ferrovias para tirar proveito de custos
mais accessíveis do frete; podem, ainda, localizar-se proximamente a fontes de 8.5. Investimento
energia de geração, transmissão ou subtransmissão de energia elétrica para ter O investimento é a aplicação de determinado montante de capital na
acesso a esta utilidade com maior confiabilidade. As indústrias também tendem a implantação e na operação da fase inicial de produção do projeto visando a
aglomerar-se, e as aglomerações industriais (polos, distritos e cidades industriais) concretização de um fluxo de benefícios durante sua vida útil econômica. O
passaram a ser objeto de planejamento de infraestrutura para abrigar fábricas. O capital investido na implantação do empreendimento, também referido como
Brasil conta hoje com muitas dezenas de aglomerações industriais planejadas. capital fixo, é destinado à aquisição ou construção de edifícios, compra de
Os elementos acima referidos constituem fatores de localização e são úteis para maquinário e outros itens do ativo fixo.
quaisquer tipos de projeto, seja industrial, minerário, agrícola, de geração de Uma outra parte do capital é destinada à operação da fase inicial de
energia e de outros ramos de negócio. O que é importante assinalar é que cada funcionamento do projeto, a qual pode limitar-se a seu primeiro ciclo de
fator pode ter um peso (importância) maior para determinado tipo de produção, ou a mais de um ciclo conforme a decisão do empresário, decisão esta
empreendimento e menor para outros. Essa ponderação é essencial para definir- que é tomada em função do momento em que o capital começa a retornar em
se a localização mais indicada de um emprendimento. virtude das vendas. Trata-se do capital de giro do projeto.
Há vários critérios de classificação dos fatores locacionais. Um dos critérios de Os ativos fixos se classificam em dois grupos: os tangíveis e os intangíveis. O
uso mais recorrente é o que os agrupa em fatores de avaliação quantitativa e em grupo dos ativos fixos tangíveis incluem itens sujeitos a depreciação e itens não
fatores de avaliação qualitativa. sujeitos a depreciação. Entre os primeiros, estão as construções, os maquinários,
São fatores de avaliação quantitativa as matérias primas, os transportes, a as jazidas, os veículos e móveis e utensílios. De outro lado, o terreno, embora
energia elétrica, a água, bruta e/ou potabilizada, infraestrutura de tratamento de seja classificado como ativo fixo tangível, não é sujeito a depreciação. Entre os
efluentes industriais, facilidades para o abastecimento de combustíveis e de ativos fixos intangíveis, relacionam-se as marcas e patentes, licenças de
outras utilidades especiais, os incentivos fiscais e governamentais; e a funcionamento, ambientais, os direitos autorais de projetos e processos, entre
proximidade de zonas urbanas com os serviços básicos de comunicações e outros. O conceito de depreciação estudado no Capítulo III deste curso aqui se
agências bancárias. repete, com a diferença que é aplicado a determinado projeto, enquanto que,
em macroeconomia, o conceito se aplica ao investimento bruto agregado de uma
De outro lado, são fatores de avaliação quantitativa o clima, a frequência de
economia.
ocorrência de acidentes naturais e/ou fenômenos cataclísmicos, o ambiente

165
O orçamento dos investimentos deve ser acompanhado do cronograma de 8.7. Financiamento
aplicação dos recursos durante a fase de implantação do empreendimento. Esse
O financiamento é a concepção e implementação de meios pelos quais se realiza
cronograma permite que seja elaborado o fluxo dos custos relativos às inversões
o provimento, parcial ou integral, de recursos financeiros, internos ao grupo
em capital fixo, a ser incorporado ao fluxo de custos e receitas do
empreendedor ou de terceiros, para realizar o projeto. No caso de recursos
empreendimento durante sua vida útil econômica.
internos ao grupo empreendedor, os recursos podem provir de lucros não
distribuídos ou de lucros retidos e de reservas. Quando se trata de recursos
externos ao grupo empreendedor, estes podem ser obtidos por meio de
8.6. Custos e receitas
empréstimos tomados a instituições financeiras, ou por meio de lançamento de
Os orçamentos de custos e de receitas (ou previsão de receitas) são a títulos no mercado financeiro ou, ainda, por meio da venda de ações da empresa
representação monetizada das rubricas um projeto. Constituem o conjunto de no mercado de capitais (bolsas de valores).
informações que subsidiará o empreendedor na condução de seu negócio
Os empréstimos, desde que se consigam prazo e custo do dinheiro (taxa de juros)
comercial. O orçamento de custo, tanto quanto o de receitas, deve indicar o
adequados, trazem a vantagem do menor custo em relação a venda de ações,
período, normalmente o ano-calendário a que os valores monetários utilizados se
uma vez que a taxa de juro paga à instituição financeira terá que ser menor do
referem. Daí serem habituais as expressões orçamento a custo de 2014, o que é o
que a taxa de dividendos paga aos acionistas, caso contrário, não valeria a pena
mesmo que orçamento em reais de 2014. Expressões correspondentes também
tomar o empréstimo. Além disso, são vantajosos também porque os juros pagos
são utilizadas para orçamento de receitas referido a algum ano, e, em ambos, os
são dedutíveis da renda tributável, o que não ocorre com os dividendos pagos, e,
casos, a razão de situar-se um orçamento no tempo é a inflação.
ainda, não representam redução da participação do empreendedor no capital de
Os orçamentos de custos e receitas oferecem, de pronto, uma avaliação da sua empresa.
rentabilidade do projeto ao mesmo tempo em que permitem o cálculo do ponto
As fontes de recursos financeiros podem ser nacionais ou internacionais. No caso
de nivelamento, também referido como break even point, que é o nível de
de empréstimos, as fontes nacionais incluem as agências de desenvolvimento
produção para o qual receitas e custos se igualam, e acima do qual as receitas
estaduais como a Desenbahia, por exemplo, os bancos múltiplos, públicos ou
suplantam os custos. Conforme se percebe o ponto de nivelamento pode ser
privados. No Nordeste, tem papel preponderante o Banco do Nordeste, sediado
utilizado como uma ferramenta auxiliar no estabelecimento do tasmanho do
em Fortaleza.
empreendimento.

Para facilitar a análise social do projeto, etapa que se segue à análise de mercado
ou privada, deve-se separar as rubricas orçamentárias por classes destacando, 9. Subsídios para a avaliação de projetos sob a ótica social
necessariamente, as matérias primas, os insumos, a mão de obra, especializada e
A avaliação social de um projeto constitui um campo dos estudos econômicos
não-especializada, os encargos sociais e trabalhistas, o preço do terreno, a
que visa apurar os benefícios líquidos que um dado projeto é capaz de gerar para
energia, a depreciação e os subsídios.

166
a sociedade. Ela se mostra tanto mais necessária em economias que convivam Falhas de mercado são imperfeições do mecanismo de mercado que o afastam
com imperfeições no mercado dos fatores, imperfeições estas que, em uma das condições de concorrência perfeita, e são devidas aos fatores seguintes: (i)
expressiva quantidade de casos, procede das interferências governamentais em existência de mercados imperfeitos (principalmente monopólios, oligopólios e
praticamente todos os mercados, seja sob a forma de tributos ou de subsídios, concorrência monopolística); (ii) informações incompletas dos agentes
seja sob a forma de políticas de preços máximos ou de preços mínimos, seja sob a econômicos; (iii) custos de transação elevados; e (iv) externalidades.
forma de quotas de importação ou, ainda, de racionamento. Essas interferências
A análise de mecanismos capazes de corrigir falhas de mercado é desenvolvida,
são incorporadas pelos preços privados distorcendo o valor real do projeto para a
no contexto da análise social de projetos, notadamente em relação a falhas
sociedade, criando a necessidade de proceder-se a uma análise de cunho social,
capazes de produzir externalidades.
além da análise baseada nos preços a custos de fatores que é a análise de
mercado ou análise de cunho privado. Há diversos tipos de externalidades e a sua tipificação depende da natureza dos
agentes causadores e dos agentes afetados. Em todos os exemplos de
A avaliação social de projetos tem como premissa básica o bem-estar da
externalidades, os agentes causadores buscam, em seus respectivos cálculos
coletividade e estabelece especificamente indicações nas seguintes direções: (i) o
econômicos, a igualdade entre custos e benefícios marginais privados, deixando
bem-estar do indivíduo é o objeto primordial que se sobrepõe a todos os demais
de lado os efeitos externos, positivos e/ou negativos, que sua atividade gera.
objetivos; (ii) a avaliação das mudanças no bem-estar de cada indivíduo deve ser
feita pelo próprio indivíduo; e (iii) o critério para julgar essas mudanças sociais é É justamente o fato de o agente causador não corrigir os efeitos externos que
o da Melhoria Potencial de Pareto. obriga o setor público, quando tais efeitos são prejudiciais a terceiras partes, a
adotar medidas para que o referido agente causador materialize a internalização
Diz-se que um projeto promove uma melhoria de Pareto, se os indivíduos
dos efeitos externos. Comentam-se, a seguir, os principais mecanismos de
beneficiários do projeto têm suas condições de vida melhoradas, sem contudo
correção de externalidades. Esse processo de corrigir uma externalidade é
reduzir as condições de vida dos outros. Alternativamente, para certos tipos de
comumente referido como processo de internalização da externalidade. Diz-se
projetos, pode-se adotar o Princípio da Compensação Potencial de Kaldor, o qual
que uma externalidade é internalizada quando o(s) indivíduo(s) e/ou firma(s) que
sugere que o bem estar social pode ser melhorado quando as partes beneficiadas
a geraram incorporam-na a seus cálculos internos de custos e benefícios. Quando
pelo projeto podem potencialmente compensar aquelas partes que perdem, de
determinada externalidade é integralmente internalizada, o consumo ou
modo a deixá-las exatamente como antes e ainda obter alguns benefícios pela
produção (conforme o agente causador seja consumidor ou produtor) passa a
troca. A análise social opera para corrigir as falhas de mercado, sendo as
situar-se em seu nível socialmente ótimo. Comentam-se a seguir alguns dos
externalidades o principal tipo de falha de mercado levado em conta em seus
instrumentos corretivos de efeitos externos.
mecanismos de cálculo.
(i) Tributos e subsídios
9.1. Correção de falhas de mercado como medida para a racionalidade dos
gastos públicos Os mecanismos dos tributos e subsídios, já estudados no capítulo 2 deste curso,
costumam ser utilizados para corrigir falhas de mercado. Um tributo (imposto,

167
taxa, preço público ou outra modalidade de obrigação fiscal) é utilizado para pensionato com um pequeno quintal. Admita, ainda, que um deles pretenda usar
ajustar uma externalidade negativa, enquanto que os subsídios se prestam a o terreno para manter uma horta e ou outro pretenda usar o mesmo espaço para
ajustar externalidades positivas. manter uma cancha de voleibol para cujo entretenimento convidaria amigos
regularmente. Se o dono da pensão estabelecer que o direito de usar assiste ao
(ii) Persuasão
que pretende usar o terreno para produzir cultivares, a externalidade negativa
São incontáveis os casos de externalidades negativas que são impostas a terceiras está instalada, prejudicando o esportista. Entretanto, se o que vai cultivar o solo
partes por agentes econômicos que simplesmente os ignoram. Muitas soluções, resolver internalizar a externalidade por meio de um pagamento mensal que
entretanto, têm sido encontradas pela ação e capacidade de persuasão dos permita seu vizinho entrar para o quadro de associados de um clube onde possa
agentes potencialmente alvo da externalidade negativa. Nesse sentido, as praticar o voleibol e que também custeie o transporte de ida e volta ao clube
campanhas educativas, o proselitismo cívico e outras ações indutoras do deduzida amortização dos custos com a instalação do quadra (rede, postes,
convencimento dos agentes em direção a atitudes sadias, são instrumentos que, revestimento do piso e pintura dos limites da quadra), a externalidade terá
em muitos casos, induzem os agentes econômicos geradores de externalidades desaparecido.
negativas a internalizá-las.
Nesse exemplo, fica clara que qualquer que seja a definição do direito de
Essas campanhas, hoje enormemente facilitadas pelo alcance da televisão e da propriedade ― propriedade do direito de uso do espaço, no caso ― permitirá
internet, normalmente têm o apelo moral como foco, ou seja, seus argumentos que a outra parte, ou seja, a não detentora do direito, possa ser compensada
procuram demonstrar ao administrado a importância e o ganho coletivo de uma pela externalidade sofrida. A notar, é essencial a definição do direito de
atitude correta. propriedade.

(iv) Regulação
(iii) Reconhecimento ou estabelecimento de direitos de propriedade Uma solução para que externalidades sejam internalizadas, especialmente as
Quando um agente proprietário de um bem ou ente de prestação de serviços externalidades negativas, é a aplicação de instrumentos regulatórios, pelo
pode ser prejudicado pela ação de outro agente econômico, a aclaração sobre o governo, diretamente sobre a atividade causadora de externalidades. A regulação
direito de propriedade do primeiro é a solução normalmente encontrada para é aplicada, em geral, a serviços públicos essenciais e têm custo elevado, uma vez
que o agente causador da externalidade promova a internalização da que exige do governo um grau aprofundado de conhecimento do setor regulado.
externalidade por meio do ressarcimento do dano causado ou que pode vir a ser A atividade requer uma atuação criteriosa do ente regulador porquanto as ações
causado. dos agentes econômicos, uma vez reguladas, passam a contar com dispositivos
de anuência de difícil remoção mais tarde, quando se mostram inadequados.
Em alguns casos, o direito de propriedade pode ser objeto de definição quando
da possibilidade ou iminência da imposição de uma externalidade. Admita-se o 9.2. Variações Compensatórias como medida de convivência com as
exemplo de dois consumidores que sejam os únicos moradores de um mesmo externalidades

168
O conceito de externalidades, ou efeitos externos, foi inicialmente abordado em ambiente em todas as partes do mundo. Isso sugere a ocorrência do fenômenos
1925 por Alfred Marshall e posteriormente aprofundado por Pigou. Dentre da Internalização dos efeitos externos. Deve-se ressaltar também a peculiaridade
algumas das situações mais representativas de externalidades estão os efeitos que têm os efeitos externos de não estarem sob o controle das pessoas ou
danosos decorrentes dos processos produtivos industriais sobre a flora, a fauna, entidades por eles afetadas, sejam eles vantajosos ou desvantajosos.
os cursos d’água, as florestas e outros bens da natureza que, uma vez alterados
Uma solução para internalizar um efeito externo é incorporar os dois processos
em sua qualidade e em seu equilíbrio, culminam por afetar o bem-estar social.
produtivos em apenas um. No caso do exemplo mencionado do curtume e da
Se determinada fábrica, um curtume por exemplo, vier a descartar seus rejeitos, fábrica de bebidas a jusante, é como se o proprietário da empresa poluidora
sem tratamento, nas águas de um rio que sirvam à captação, a jusante, por uma viesse a adquirir a empresa prejudicada, o que, certamente, traz-lhe a
empresa de bebidas já anteriormente instalada, ter-se-á, nesse caso, bem preocupação com a poluição das águas porque prejudica a qualidade da bebida
caracterizada uma externalidade negativa imposta à empresa de bebidas, visto que ele mesmo passa, agora, a fabricar. Assim, o custo da poluição das águas
que, ao se manter constante o custo de produção de bebidas, a qualidade do deixa de ser uma externalidade imposta por uma empresa à outra, e passa a ser
produto ficará comprometida com a poluição da água provocada pela indústria um custo do conjunto das duas empresas.
que se localizou a montante. Alternativamente, o efeito externo sobre a fábrica
A avaliação da externalidade imposta por determinado projeto pode ser medida
de bebidas fica também caracterizado porque, para produzir bebidas com a
de várias maneiras. A maneira mais recorrente reside no cálculo da diferença
mesma qualidade, será necessário, agora, um custo adicional. Esse acréscimo de
causada ao bem-estar das pessoas, com e sem a presença de projeto causador da
custo representa uma estimativa da externalidade negativa causada à fabricante
externalidade. Essa diferença deve ser convertida em valores monetários
de bebidas e que deveria, a rigor, ser internalizada pela empresa causadora de
equivalentes à quantia que as pessoas estariam dispostas a pagar para receber
tais efeitos.
um certo benefício, ou que estariam dispostas a receber para aceitar sofrer os
É digno de observação, também, o caráter não intencional do efeito produzido. efeitos de uma ação externa que lhe fosse de alguma forma nociva. O pagamento
Em geral, a pessoa ou organização que empreende alguma atividade da qual ou recebimento da referida quantia faz com que o bem-estar da pessoa
resultam efeitos externos, não tem uma percepção sequer razoável dos prejuízos permaneça inalterado. Por essa razão, essas diferenças são chamadas variações
– ou benefícios, no caso de externalidades positivas – que poderão gerar para compensatórias.
terceiros. Até 1972, esses efeitos externos negativos advindos do processo
10. Preços sociais
produtivo, quando impostos ao meio ambiente por exemplo, não preocupavam
como preocupam hoje as empresas e nem costumavam fazer parte da avaliação Para efetuar a avaliação das variações compensatórias e, com isto, poder-se
econômica destas. Entretanto, deve-se admitir que nos anos recentes, essa proceder à avaliação social, convém explicitar as diferenças entre as distintas
preocupação passou a estar cada vez mais presente no planejamento empresarial categorias de preços. Particularmente, interessa conhecer o que difere um preço
e governamental, e sobretudo no planejamento do setor industrial, em social de um preço de mercado e de um preço sombra.
decorrência dos movimentos desencadeados em favor da ecologia e do meio

169
Preço social é a estimativa de preço na qual certos objetivos econômicos e sociais curva de demanda, que corresponde à soma dos excedentes do consumidor e do
são levados em consideração, isto é, é uma medida do valor real de um insumo produtos, além dos custos de produção; (ii)o custo dos fatores e recursos
ou de um produto para a economia como um todo, em termos de objetivos envolvidos em uma mudança na produção pode ser medido através da curva de
econômicos ou sociais. O preço social reflete benefícios e custos de oportunidade custo marginal, com fatores avaliados a seus preços sociais e incluídas as
para todo o conjunto da economia, dependendo de estimativas das elasticidades- externalidades. O ramo ascendente dessa curva acima do custo variável médio se
preço da demanda e da oferta bem como da divergência entre custos sociais e confunde com a curva de oferta do bem ou serviço; e (iii)os benefícios hauridos e
preços dos fatores. os custos incorridos por cada indivíduo ou agente de produção podem ser
adicionados com a equidade social.Com base nesses pressupostos, comentam-se,
Preço de mercado é o preço efetivamente praticado nas transações, resultante do
nas sub-seções imediatamente seguintes, os resultados dos métodos de cálculo
equilíbrio entre a demanda ordinária (marshalliana) e a oferta, correspondendo a
dos diversos preços sociais.
benefícios e custos de oportunidade para as firmas e indivíduos. O preço de
mercado de certos insumos é em geral um indicador não realístico do seu valor
real, em virtude de uma série de distorções nos mercados onde esses insumos
11.1. Preço social do capital ou taxa social de desconto
são comprados e vendidos.
O preço do capital é obtido pelo custo social que o projeto causa ao mercado de
Preço-sombra é o preço que reflete o equilíbrio em concorrência perfeita em
capitais, ao captar recursos nesse mercado. Em outras palavras, o projeto
ausência de distorções da economia. Sua determinação implica conhecer a
demanda recursos de duas fontes: em primeiro lugar de outros projetos que
equação de demanda e a equação de oferta em cada momento, o que torna o
agora são inviáveis devido ao aumento da taxa de juros de mercado, e, em
processo pouco prático. O preço-sombra também é referido como preço-de-
segundo lugar, do aumento de poupanças provocando pelo aumento de taxa de
conta ou, ainda, preço-contábil.
juros. Isso quer dizer que as necessidades de capital do projeto são atendidas
12. Determinação dos Preços Sociais com uma parcela oriunda dos investimentos postergados, e a outra parcela das
poupanças adicionais, o que conduz à definição da taxa social de desconto como
Há várias metodologia para o cálculo de preços sociais, entretanto as mais
sendo igual à taxa de produtividade marginal do capital medida pela taxa de
conhecidas são da UNIDO, do Banco Mundial e de Harberger. Autores e
retorno do investimento na economia. Daí, a razão de preço social do capital é
estudiosos divergem quanto à superioridade de umas sobre as outras, inexistindo
definida pela relação entre o preço social (taxa social de desconto) e o preço de
hoje uma preferência segura da maioria por esse ou por aquele método. Neste
mercado (taxa de juros de mercado) do capital, i. e.,
curso, adotar-se-á a metodologia desenvolvida por Harberger, também
conhecido como Método da Universidade de Chicago, o qual segue o princípio RPS = i*/i. Essas taxas variam de economia para economia e, dentro de cada uma,
básico da busca do bem-estar geral, em seu curso de ação, pelos seguintes pode variar de época para época. Uma coletânea dessas taxas para economias
postulados: (i) os benefícios obtidos com o consumo de um produto ou com o
emprego de um fator podem ser medidos através da área situada por baixo da

170
latinoamericanas encontra-se nos diapositivos das Figuras 03 e 04, extraídos de levar em consideração a dimensão intertemporal do consumo, associada com a
Aldunate, Eduardo73. drenagem dos montantes poupados em direção aos investimentos, processo que
ocorre sacrificando-se o consumo presente em troca de um maior consumo
futuro.
Fig. 03 – Taxa de Desconto Social em economias latinoamericanas

Taxa de Desconto Social


País Tasa Referencias
Fig. 04 – Taxa de Desconto Social em economias latinoamericanas
Argentina 12% Resolución N 110/96 de la Secretaría de Programación Económica* (1996)

Bolivia 12,07% Ministerio de Hacienda, Resolución No. 684, 2002 Taxa de Desconto Social
Chile 8% Precios Sociales para la evaluación de los proyectos. SEBI 2006

Colombia 12% Preguntas frecuentes, Nº 15 en el sitio del DNP. “A taxa social de desconto (ou preço social do
México
16.29 a 21.57 El Costo de Oportunidad de los Fondos Públicos y la Tasa Social De
% Descuento, Héctor Cervini Iturre.
capita) na economia brasileira foi avaliada por
Anexo SNIP 09: Parámetros de Evaluación CONTADOR (1997), situando-se entre 15 e
Perú 14%
La Tasa Social de Descuento, Informe Final (2000)
18% ao ano. Mas, em função das condições
Los Parámetros Nacionales de Cuenta en el Uruguay, Presidencia de la
Uruguay 12%
República, Oficina de Planeamiento y Presupuesto (1986) conjunturais atuais, será tomado neste estudo o
Entre 4,8 y Tasas de descuento para la evaluación de inversiones públicas: estimaciones
seu limite superior, de 18% ”
España
más de 20% para España, Guadalupe Souto Nieves, (2003)

* Esta resolución fue derogada el año 97, pero no hay información más actualizada. O Princípio dos Usos Múltiplos dos Recursos Hídricos: Uma Análise a
Introdução Custos e Beneficios Indicadores Avaliação Social partir da Bacia do Rio Formoso no Oeste Baiano. José Carrera-Fernandez,
Fonte: Aldunate, Eduardo, op. cit. Revista Econômica do Nordeste, Fortaleza, v. 31, n. Especial p. 810-835,
novembro 2000
Sob o prisma de visada da OCDE, a Taxa Social de Desconto corresponde à taxa
de retorno dos projetos de investimentos mais rentáveis não realizados em razão
da exaustão do volume de poupança da economia. Introdução Custos e Beneficios Indicadores Avaliação Social
Fonte: Aldunate, Eduardo, op. cit.
Pelo método de Harberger, a Taxa Social de Desconto é determinada com base
nos aumentos das taxas de juros decorrentes do lançamento público de títulos 11.2. Preço social da terra:
governamentais, nas decisões de poupanças dos indivíduos e nas decisões de
investimentos das empresas. O preço social da terra é o custo alternativo desta para a sociedade, ou seja, é
quanto a sociedade é sacrificada com a utilização da área pelo projeto. O ponto
Nitidamente, qualquer que seja a abordagem, a questão se relaciona com a
de partida para o preço social da terra, P*T, é o preço de mercado das áreas
intertemporalidade da decisão econômica. Portanto, o preço do capital precisa
adjacentes e de qualidade semelhante, PT. O preço de mercado da terra
corresponde ao valor presente do fluxo de benefícios líquidos privados FJ (isto é,
73 Aldunate, Eduardo. Políticas Orçamentárias e Gestão Pública por Resultados – Avaliação Social. ILPES/CEPAL.
2009.

171
à receita bruta menos custos) menos o valor dos impostos, FJ(1-t), descontados à migração e demais desvantagens do emprego na cidade, VPC isto é, se VP
taxa privada de juros, i. Por esse mecanismo, chega-se à expressão: (WNEC -WNER)>=VPC, onde  é a possibilidade de um trabalhador vindo do campo
encontrar trabalho na cidade, que depende negativamente do número de
P*T=PTo/[(1-t).δ],
migrações.
Onde:
P*T é o preço social da terra; Como a mão de obra qualificada que migra para a cidade vem do campo,
PTo é o preço de mercado de uma unidade de terra; principalmente de áreas circunvizinhas, e não existe um setor não protegido na
cidade capaz de absorver o excedente de mão de obra não contratada nesta,
t é a taxa de imposto cobrado sobre o benefício líquido do uso da terra; e
então o preço social da mão de obra não especializada na cidade corresponde ao
δ é a relação entre a taxa de desconto nsocial e a taxa de desconto
salário rural (nas áreas circunvizinhas), isto é:
privada.
WNE*= WNER

11.3. Preço social do trabalho

Em geral, o preço social da mão de obra para uma dada economia não é único, 11.4. Preço social de um insumo básico
dependendo de vários fatores, tais como: qualificação do trabalhador, a região e O preço social de insumo básico utilizado é soma de duas parcelas. A primeira é o
as características do projeto. Enquanto o preço social do trabalho especializado custo unitário para os antigos consumidores desse insumo por terem de reduzir o
WE*, corresponde ao salário de mercado, WE, isto é: seu consumo devido ao aumento do preço de mercado causado pela chegada do
WE*=WE, projeto. A segunda parcela é o custo de oportunidade unitário para a sociedade,
por ter de dispor de recursos produtivos para produzir uma quantidade adicional
o preço social da mão de obra não especializada, WNE* depende, em geral de se o do insumo. Essas parcelas, quando explicitadas em termos de elasticidades, dão
projeto se localiza no setor urbano ou rural, bem como se este absorve lugar à seguinte expressão para o preço social de um insumo básico:
trabalhadores do setor rural ou do setor tradicional urbano. O salário social
normalmente é mais baixo na área rural do que nos centros urbanos. P*x =Px[|d|+(1+)]/(|d|+s)
Onde:
O preço social do trabalho não especializado deve levar em consideração a
migração campo-cidade que existe motivada por salários mais altos nesta última d é a elasticidade-preço da demanda;
(setor moderno protegido) WNEC, em relação ao salário no setor rural, WNER. É s é a elasticidade-preço da oferta desse insumo;
exatamente a diferença positiva de salários entre a cidade e o campo (i. é, W NEC – Px é o preço de mercado do insumo; e
WNER> 0) que fará com que haja a migração. Um emigrante em potencial só se  é a proporção de aumento da produção do insumo na região do projeto.
desloca do campo para o cidade se o valor presente do diferencial de salários
esperados, VP (WNEC -WNER), for pelo menos igual ao valor presente dos custos de

172
11.5. Preço social da energia Há projetos que utilizam insumos que são produzidos no país para serem
exportados, e insumos produzidos em outros países que precisam ser
O preço social da energia elétrica P** depende, de um lado do sistema utilizado
importados. Frequentemente, ocorre apenas uma dessas duas situações em um
para geração e, de outro, do período de utilização da energia, dentro e fora de
mesmo projeto.
ponta. Se  for o percentual de ponta, então o seu preço social pode ser
determinado por: Insumos que são exportados geram divisas para o país, enquanto que insumos
importados demandam divisas e insumos que substituem importações liberam
P**=PP+(1-)PFP,
divisas. Essas três condições são a base da análise social do câmbio.
Onde: Adicionalmente, se há subsídios ou tributos às importações ou às exportações, o
valor privado da divisa afastar-se-á do valor social desta. Mas não é somente na
PP e PFP são os custos (tarifas) marginais sociais por quilowatt-hora dentro e
fase da produção que o câmbio afeta a análise social. Muitos projetos também
fora da ponta.
são de firmas exportadoras, isto é, atraem divisas para a economia do país
Considerando a predominância, no Brasil, da geração hidrelétrica, então o custo
Sem preocupação de modelar o cálculo do preço social do câmbio, apresentam-
marginal social de energia nos períodos de consumo fora de ponta, é
se, no diapositivo da Figura 05, alguns exemplos de economias sulamericanas. No
praticamente nulo, isto é:
Brasil, estudos anteriores indicaram que a taxa social de câmbio se situava entre
PFP=0, 16% e 29% acima da taxa privada de câmbio, a depender do autor e sua
enquanto que este custo nos períodos de consumo de ponta é igual ao valor que abordagem.
Fig. 05 – Algumas RPS de câmbio em economias sulamericanas
permite cobrir os custos de ampliação da capacidade do sistema. Dessa forma, o
preço social da energia elétrica pode ser escrito da forma seguinte: Taxa social de câmbio
Taxa social de câmbio
P**=PP Razão de preço social =
Taxa privado de câmbio

Algumas dificuldades se apresentam para o cálculo de PP (custo marginal social Razão de
País Referencia
preço social
de energia no período de consumo de ponta), pois as empresas geradoras de
Bolivia 1,19 Ministerio de Hacienda, Resolución No. 684, 2002
energia elétrica cobram uma tarifa positiva, mesmo no período de capacidade
Precios Sociales para la evaluación de los proyectos
ociosa, o que representa um custo privado, porém não social. Além disso, as Chile 1,01
SEBI 2005

tarifas brasileiras de energia elétrica são diferenciadas por classes de Anexo SNIP 09: Parámetros de Evaluación
Perú 1,08
El Precio Sombra de la Divisa, Informe final (2000)
consumidores.
Actualización de precios de cuenta para el Uruguay,
Uruguay 1,31
Roberto Fernández Gaeta, 1995.

Introdução Custos e Beneficios Indicadores Avaliação Social


11.6. Preço social da taxa de câmbio Fonte: Aldunate, Eduardo (op. cit.)

173
A política cambial de um país pode sofrer alterações para adequar-se a novas Fig. 06 – Custos de implantação e RPSs
Discriminação Custo (u.m.) RPS
circunstâncias do mercado externo e mesmo do mercado interno quando uma Terrenos 20.000 0,70
possível porta de saída é aumentar exportações. São inúmeros os aspectos a Construção civil (basicamente o cimento) 118.000 0,50
Mão de obra não especializada 95.000 0,20
considerar na política cambial e praticamente todos afetam a taxa social de Encargos sociais e trabalhistas 95.000 0,00
câmbio. Remuneração dos fatores de produção 24.000 0,80

Os custos operacionais do projeto ao longo dos nove anos restantes do horizonte


temporal do projeto são dados no quadro da Figura 07, acompanhados das
A oferta de dólares tanto quanto a demanda por dólares geram custos sociais e razões de preços sociais a considerar.
fazem parte dessa política. De outro lado, câmbio e inflação se relacionam e, Fig. 07 – Custos operacionais do projeto
neste caso, a análise do preço social da taxa de câmbio deve levar em Discriminação\ Ano 2 Ano 3 Ano 4 Ano 5 Ano 6 Ano 7 Ano 8 Ano 10 RPS
Período
consideração os efeitos sobre a estabilidade dos preços internos. Mão de obra 4.000 4.000 3.500 3.500 3.000 3.000 3.000 3.000 3.000 1,00
especializ.
Mão de obra n- 20.000 18.000 18.000 17.000 16.000 12.000 12.000 12.000 10.000 0,20
12. Breve estudo de caso: um projeto pecuário fictício especializ
Encargos sociais 24.000 22.000 21.500 20.500 19.000 15.000 15.000 15.000 13.000 0,00
O Projeto Pecuário Fictício – PPF ocupa uma área de 20 mil hectares em uma e trab.
Energia elétrica 1.000 1.000 1.100 1.100 1.200 1.200 1.200 1.200 1,300 0,30
região semiárida, abriga 200 famílias de baixa renda e tem por objetivo fortalecer Medicamentos 500 500 500 500 500 500 500 500 500 0,60
a atividade pecuária como meio de combater a pobreza rural por meio da p/gado

assistência ao pequeno produtor.

Não há viabilidade de desenvolver-se atividade agrícola na região em função da As receitas anuais do projeto são apresentadas no quadro da Figura 08.
Fig. 08 – receitas do projeto
climatologia e da baixa fertilidade dos solos. O programa prevê a construção e Discriminação\ Ano 2 Ano 3 Ano 4 Ano 5 Ano 6 Ano 7 Ano 8 Ano 9 Ano
manutenção de reservatórios de água e de instalações para satisfazer às Período 10
Venda de 20.000 22.000 22.000 22.000 25.000 28.000 28.000 28.000 30.000
necessidades de seus habitantes e da atividade pecuária. touros
Venda de 30.000 35.000 35.000 35.000 40.000 40.000 40.000 40.000 40.000
bezerros
As expectativas em torno do projeto incluem (i) aumentar a produção pecuária Manutenção 2.000 2.000 2.000 2.500 2.500 2,5000 3.000 3.000 3.000
na região; (ii) melhorar as condições sanitárias do gado; (iii) formar uma de reservat.
Assistência a 5.000 5.700 5.700 5.700 6.500 6.800 6.800 6.800 7.000
cooperativa de colonos; e (iv) melhorar o nível da qualidade de vida das 200 animal

famílias. Os benefícios sociais incluem o desligamento de duzentas pessoas do programa de


O horizonte temporal da análise é de dez anos, sendo o primeiro reservado para salário desemprego que paga 80 u.m. por ano a cada família. Além disso, a perda
a implantação do empreendimento, e os nove restantes de operação efetiva. Os de plantel de criação que o projeto deverá evitar corresponde a 10% do valor
custos com a implantação no primeiro ano e as razões de preços sociais (RPS) a comercial do animal, previsto no quadro de receitas anuais.
adotar são dados no quadro da Figura 06.

174
Por fim, observa-se que o empreendimento produzirá uma externalidade que é a Fig. 10 – Custos privados operacionais
Discriminação\ Período Ano 2 Ano 3 Ano 4 Ano 5 Ano 6 Ano 7 Ano 8 Ano 9 Ano 10
decisão do governo, não prevista anteriormente, de asfaltar, em decorrência do Mão de obra especializ. 4.000 4.000 3.500 3.500 3.000 3.000 3.000 3.000 3.000
Mão obra n-especializ 20.000 18.000 18.000 17.000 16.000 12.000 12.000 12.000 10.000
projeto, uma estrada que liga dois municípios importantes e que passa nas Encargos sociais e trab. 24.000 22.000 21.500 20.500 19.000 15.000 15.000 15.000 13.000
Energia elétrica 1.000 1.000 1.100 1.100 1.200 1.200 1.200 1.200 1,300
imediações do empreendimento. Essa estrada trará inúmeros benefícios para a Medicamentos p/gado 500 500 500 500 500 500 500 500 500
região como a economia de combustível e, em conseqüência, dos preços dos bens Tot anual custos soc 49.500 45.500 44.600 42.600 39.700 31.700 31.700 31.700 27.800

e serviços transportados, além da economia de tempo no deslocamento de As receitas privadas foram dadas na terceira tabela do enunciado e aparecem no
pessoas e cargas, aumento da vida útil da frota, entre outros benefícios. quadro da Figura 11 já totalizadas em confronto com os custos anuais privados
A construção dessa rodovia, não prevista anteriormente como referido, nos planos da tabela imediatamente anterior. Desse confronto resultam o fluxo líquido
governamentais, é tomado como uma externalidade positiva estimada em 200.000 anual, mostrado no mesmo quadro da referida Figura 11.
u.m. já apropriada no segundo ano de vida do projeto agropecuário. Para a Fig. 11 – Receitas privadas, totais e fluxo líquido de receitas
avaliação do mérito do empreendimento, é necessário calcular o VPL privado, o Discriminação\ Ano 2 Ano 3 Ano 4 Ano 5 Ano 6 Ano 7 Ano 8 Ano 9 Ano 10
Período
VPL social, a TIR privada e a TIR social, considerando os elementos dados e que as Receita privada anual 57.000 64.700 64.700 65.200 74.000 74.803 77.800 77.800 80.000
taxas de desconto privada e social sejam, respectivamente, 12% a.a. e 16% a.a.. O Custo privado anual 49.500 45.500 44.600 42.600 39.700 31.700 31.700 31.700 27.800
Fluxo líq. priva. anual 7.500 19.200 20.100 22.600 34.300 43.103 46.100 46.100 52.200
estudo, a partir deste ponto, resume-se aos cálculos desses indicadores.

Em seguida, por meio de planilha Excel, determinam-se o VPLpriv e a TIRpriv. São os


Solução seguintes os dados de entrada:

Os custos privados dos investimentos, isto é, os custos dos investimentos a valor (i) Para o VPLprivado (0,12;-
de mercado, totalizam 352.000 u.m., resultado da soma dos custos de terrenos, 352.000;7.500;19.200;20.100;22.600;34.300;43.103;46.100;46.1000;52.200);
e
construção e outros da primeira tabela do enunciado, como mostrado no quadro
(ii) Para a TIRpriv: (-
da Figura 09.
352.000;7.500;19.200;20.100;22.600;34.300;43.103;46.100;46.1000;52.200).
Fig. 09 – Cálculo dos investimentos
Discriminação Custo (u.m.) Os resultados obtidos são:
Terrenos 20.000
VPLsoc=-180.117,62
Construção civil (basicte o cimento) 118.000
Mão de obra não especializada 95.000 TIRsoc=-3,00%
Encargos sociais e trabalhistas 95.000
Remuneração dos fatores de produção 24.000
Os custos sociais de investimentos são obtidos multiplicando-se cada
Custos com investimentos 352.000 especificação de custo da primeira tabela por sua respectiva razão de preço
social. Os resultados são mostrados no quadro da Figura 12.
Os custos privados operacionais constam da segunda tabela dada no enunciado
reproduzida no quadro da Figura 10 tendo-se acrescentado os totais anuais.

175
Fig. 12 – Custos sociais dos investimentos empreendimento (iii) Para o VPLsoc:
Discriminação Custo (u.m.) RPS Custo social (u.m.)
Terrenos 20.000 0,70 14.000 (0,16;-;33.470;34.840;37.590;50.840;60.523;63.820;63.820;71.809); e
Construção civil (basicte o cimento) 118.000 0,50 59.000
(iv) Para a TIRsoc:
Mão de obra não especializada 95.000 0,20 19.000
Encargos sociais e trabalhistas 95.000 0,00 0,00 (111.200;220.600;33.470;34.840;37.590;50.840;60.523;63.820;63.820;71.809).
Remuneração dos fatores de produção 24.000 0,80 19.200
Custos com investimentos 352.000 --- 111.200 Os resultados obtidos são:

Os custos sociais resultam do produto de cada especificação de custo VPLsoc=413.034,17


multiplicada por sua respectiva razão de preço social (RPS). Esse cálculo produziu TIRsoc=191,73%.
os resultados constantes do quadro da Figura 13. A análise dos resultados permite constatar que o empreendimento é do tipo I
Fig. 13 – Custos sociais da operação do empreendimento (vide seção 4). Conforme se percebe, os resultados sociais são bastante
Discriminação\ Período Ano 2 Ano 3 Ano 4 Ano 5 Ano 6 Ano 7 Ano 8 Ano 9 Ano 10
Mão de obra especializ. 4.000 4.000 3.500 3.500 3.000 3.000 3.000 3.000 3.000 favoráveis, o que é indicativo de que o empreendimento reúne o mérito para,
Mão obra n-especializ 4.000 3.600 3.600 3.400 3.200 2.400 2.400 2.400 2.000
Encargos sociais e trab. 0 0 0 0 0 0 0 0 0 por exemplo, contar com apoio financeiros de órgãos oficiais de governo, uma
Energia elétrica 300 300 330 330 360 360 360 360 390
Medicamentos p/gado 300 300 300 300 300 300 300 300 300
vez que opera em favor do bem ester social, ao mesmo tempo em que atrai o
Tot anual custos soc 8.600 8.200 7.730 7.530 6.860 6.060 6.060 6.060 5.690 capital privado.
Os benefícios sociais resultam da adição do faturamento previsto da cooperativa
REFERÊNCIAS UTILIZADAS NESTE CAPÍTULO:
com o ganho social da exclusão dos colonos do auxílio-desemprego (valores ALDUNATE, Eduardo. Políticas Orçamentárias e Gestão Pública por Resultados – Avaliação Social.
anuais iguais) mais uma segunda parcela correspondente ao plantel preservado ILPES/CEPAL. 2009.
CONTADOR, Cláudio Roberto. Projetos Sociais: Avaliação e Prática. ATLAS. São Paulo. 2000.
na base de 10% do valor comercial deste, calculado ano a ano, e acrescido ainda
da externalidade de 200 mil u.m.. Esses cálculos, elaborados em Excel, são
demonstrados no quadro da Figura 14.
Fig. 14 – Benefícios sociais
Discriminação\ Período Ano 2 Ano 3 Ano 4 Ano 5 Ano 6 Ano 7 Ano 8 Ano 9 Ano 10
Venda de touros 20.000 22.000 22.000 22.000 25.000 28.000 28.000 28.000 30.000
Venda de bezerros 30.000 35.000 35.000 35.000 40.000 40.000 40.000 40.000 40.000
Manut reservat. 2.000 2.000 2.000 2.500 2.500 2,5000 3.000 3.000 3.000
Assist a animal 5.000 5.700 5.700 5.700 6.500 6.800 6.800 6.800 7.000
Dispensa aux-desempr 16.000 16.000 16.000 16.000 16.000 16.000 16.000 16.000 16.000
Ganho preserv plantel 5.700 6.470 6.470 6.520 7.400 7.480,25 7.780 7.780 8.000
Externalidade (rodovia) 200.000 0 0 0 0 0 0 0 0
Receita social total 278.700 87.170 87.170 87.720 97.400 98.283 101.580 101.580 104.000

Com os totais de receita e custo sociais, calculam-se os fluxos líquidos anuais e,


em seguida, por meio de planilha Excel o VPLsoc e a TIRsoc. São os seguintes os
dados de entrada:

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