Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
ENGENHARIA ECONÓMICA
2021/2022
Licenciatura em
Engenharia e Gestão Industrial
Texto de apoio
Jorge Cunha
jscunha@dps.uminho.pt
Texto de Apoio – Introdução à Engenharia Económica
_____________________________________________________________________________________
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 5
1.1 DEFINIÇÃO DE ECONOMIA ............................................................................................................... 5
1.2 ABORDAGEM CIENTÍFICA ................................................................................................................ 6
1.3 PROBLEMAS BÁSICOS DE ORGANIZAÇÃO ECONÓMICA ..................................................................... 8
1.4 FRONTEIRA DE POSSIBILIDADES DE PRODUÇÃO ............................................................................... 8
1.5 CRESCIMENTO............................................................................................................................... 10
1.6 MICROECONOMIA E MACROECONOMIA ........................................................................................ 12
1.7 O ÂMBITO DA ECONOMIA DA EMPRESA ......................................................................................... 13
1.8 A NATUREZA E A FUNÇÃO DOS LUCROS......................................................................................... 16
1.8.1 Distinção entre lucro contabilístico e lucro económico ..................................................... 16
1.8.2 Função do lucro ................................................................................................................. 18
2 O MODELO DA PROCURA E DA OFERTA............................................................................. 19
2.1 ANÁLISE DA OFERTA E DA PROCURA ............................................................................................. 19
2.1.1 A curva da oferta ................................................................................................................ 20
2.1.2 A curva da procura ............................................................................................................. 22
2.1.3 Equilíbrio de mercado ........................................................................................................ 23
2.2 DETERMINANTES DA OFERTA E DA PROCURA ................................................................................ 26
2.2.1 Determinantes da procura .................................................................................................. 27
2.2.2 Determinantes da oferta ..................................................................................................... 28
2.3 PREVER E EXPLICAR AS ALTERAÇÕES NOS PREÇOS E NAS QUANTIDADES ...................................... 29
2.3.1 Alterações na procura versus alterações na quantidade procurada .................................. 29
2.3.2 Quatro regras simples ........................................................................................................ 30
2.4 UTILIZAÇÃO DO MODELO .............................................................................................................. 32
2.4.1 Preços máximos .................................................................................................................. 32
2.4.2 Preços mínimos .................................................................................................................. 34
2.4.3 Limites às quantidades transacionadas .............................................................................. 36
2.4.4 Impostos.............................................................................................................................. 38
3 TEORIA DA PROCURA ............................................................................................................... 41
3.1 A PROCURA DE UM PRODUTO ........................................................................................................ 41
3.1.1 A procura individual de um produto................................................................................... 42
3.1.2 Da procura individual à procura de mercado .................................................................... 45
3.1.3 A procura que uma empresa enfrenta................................................................................. 46
3.2 ELASTICIDADE PREÇO DA PROCURA .............................................................................................. 49
3.2.1 Elasticidade preço da procura ........................................................................................... 49
3.2.2 Elasticidade preço, receita total e receita marginal........................................................... 51
3.2.3 Fatores que afetam a elasticidade preço da procura ......................................................... 54
3.3 ELASTICIDADE RENDIMENTO DA PROCURA ................................................................................... 55
3.4 ELASTICIDADE CRUZADA DA PROCURA ......................................................................................... 57
3.5 A UTILIZAÇÃO DAS ELASTICIDADES NA TOMADA DE DECISÃO NAS EMPRESAS .............................. 59
3.6 ESTIMAÇÃO DA PROCURA ............................................................................................................. 62
3.6.1 Estimação da procura através de técnicas de marketing ................................................... 62
3.6.2 Estimação da procura através da análise de regressão ..................................................... 63
4 TEORIA DA PRODUÇÃO ............................................................................................................ 67
4.1 A FUNÇÃO DE PRODUÇÃO ............................................................................................................. 67
4.1.1 Produtos intermédios e valor acrescentado ....................................................................... 69
4.1.2 Fatores produtivos fixos e variáveis ................................................................................... 69
4.2 PRODUÇÃO NO CURTO PRAZO ....................................................................................................... 70
4.2.1 Produtos total, marginal e médio ....................................................................................... 72
4.2.2 A relação entre as curvas de produtos total, marginal e médio ......................................... 75
4.2.3 Utilização ótima do fator produtivo variável ..................................................................... 77
4.3 PRODUÇÃO NO LONGO PRAZO ....................................................................................................... 78
4.3.1 A taxa marginal de substituição técnica ............................................................................. 80
4.4 RENDIMENTOS À ESCALA .............................................................................................................. 82
4.4.1 Ilustração de rendimentos à escala no mapa de isoquantas .............................................. 83
4.4.2 A diferença entre rendimentos decrescentes e rendimentos decrescentes à escala ............ 84
4.4.3 O Puzzle lógico dos rendimentos decrescente à escala ...................................................... 84
2
Introdução
_____________________________________________________________________________________
3
Introdução
_____________________________________________________________________________________
1 INTRODUÇÃO
1.1 Definição de economia
Não existe uma definição que seja a mais correta de todas. Ao longo do tempo
foram apresentadas várias definições. Vamos considerar a definição proposta por
Samuelson:
“A economia é o estudo de como as pessoas e a sociedade escolhem o
emprego de recursos escassos, que podem ter usos alternativos, de forma a
produzir vários bens e a distribui-los para consumo, agora e no futuro, entre
as várias pessoas e grupos na sociedade.”
Análise ponto a ponto desta definição:
O objetivo da economia é o conhecimento e a compreensão da realidade, em geral,
e o comportamento do ser humano, em particular.
Definição de bem: é algo que satisfaz uma necessidade humana.
Definição de recursos: são determinadas coisas que não satisfazem diretamente as
necessidades humanas, e por isso não são designados estritamente de bens, mas
servem para produzir bens. A utilidade dos recursos existe apenas indiretamente
através dos bens que permitem produzir – bens intermédios ou fatores.
A escolha é um elemento essencial da economia, pois é dessa decisão que nasce
o problema a resolver pelo agente ou pela sociedade, o qual vai motivar o seu
comportamento.
o Necessidade de existência de alternativas.
o Necessidade de liberdade de escolha.
o Escassez: causa a necessidade de escolha. Se os bens disponíveis para
satisfazer as necessidades forem mais do que suficientes para todas as
pessoas, não há problema económico.
Consumo: ato de satisfação das necessidades humanas através da utilização de
bens. Não tem que ser material. Por outro lado, o consumo é a única finalidade do
comportamento económico: a satisfação das suas necessidades.
Tempo: as decisões económicas implicam comportamentos que se repercutem
«agora ou no futuro». As pessoas ao decidirem como devem usar os bens para
consumo hoje, entram em conta com o que preveem que possa vir a acontecer.
Como o futuro é incerto a tomada de decisão torna-se complicada e difícil.
5
Texto de Apoio – Introdução à Engenharia Económica
_____________________________________________________________________________________
6
Introdução
_____________________________________________________________________________________
empresas procuram maximizar os lucros e, com base nesse pressuposto, prevê qual a
quantidade de produto que a empresa deve produzir sob diferentes estruturas de mercado.
Embora a empresa possa ter outros objetivos, o modelo da maximização dos lucros prevê
com bastante rigor o comportamento das empresas e, por isso, ele é aceite. Ou seja, a
metodologia da ciência económica é aceitar uma teoria ou modelo se for capaz de prever
adequadamente e se as previsões decorrem logicamente dos pressupostos assumidos.
Salientem-se, ainda, dois aspetos particulares da análise económica e que têm a ver
com o facto de o objeto da economia ser a realidade complexa e variável das relações
humanas, que constitui uma intrincada rede, influenciada por múltiplos fatores
incontroláveis:
Hipótese ceteris paribus (tudo o resto constante). Dada aquela rede de inter-
relações, é necessário isolar uma parte do problema, para que possam ser retiradas
conclusões, sobre o efeito de determinado fenómeno. Ou seja, pretende-se facilitar
a análise.
Problema da incerteza. A realidade, além de complexa, é extremamente volúvel e
variável e consequentemente, as leis e os teoremas económicos nunca conseguem
captar a enorme variedade das realizações concretas dos fenómenos. Por esta
razão, as leis e os teoremas económicos são leis estatísticas. Elas não são leis
universais e imutáveis, não se aplicam a todos os casos, mas apenas “em média”,
à generalidade das situações normais.
7
Texto de Apoio – Introdução à Engenharia Económica
_____________________________________________________________________________________
8
Introdução
_____________________________________________________________________________________
decidir afetar a totalidade dos recursos ao bem B obtém uma dada quantidade máxima
produzida do bem B e nada do bem A. Estas são as duas possibilidades de produção
extremas. No entanto, podemos obter uma combinação entre os dois bens. Isto é, podemos
afetar os recursos aos dois bens. Vejamos um exemplo numérico:
16 A
B
14
C
12
10 D
BEM B
8
6 E
4
2
F
0
0 1 2 3 4 5 6
BEM A
Olhando o gráfico constata-se que se obteve uma linha curva a qual se designa por
fronteira de possibilidades de produção (FPP). Esta representa o total de produção
máximo que pode ser obtido por uma economia, dados o conhecimento tecnológico e a
quantidade de fatores de produção disponíveis.
Associado ao conceito de FPP está o conceito de eficiência. Quando a economia
se situa num ponto sobre a FPP diz-se que está a produzir eficientemente. Assim, neste
contexto eficiência significa ausência de desperdício, os recursos da economia são
utilizados tão bem quanto possível para satisfazer as necessidades e desejos dos
9
Texto de Apoio – Introdução à Engenharia Económica
_____________________________________________________________________________________
indivíduos. Dito de outro modo, a economia está a produzir eficientemente quando não
pode produzir mais de um bem sem deixar de produzir menos do outro bem, quando se
situa sobre a FPP.
No caso do gráfico acima, o ponto G é impossível de se verificar, enquanto que o
ponto H representa um ponto de produção ineficiente.
Desta análise ressalta, ainda, um outro conceito. Tomar uma decisão num mundo
de escassez obriga-nos a prescindir de alguma coisa, custa-nos de facto a oportunidade
de fazer outra coisa. Daqui se falar de custo de oportunidade: é dado pela alternativa de
que se abdicou; é o valor do bem ou serviço de que se prescinde. Por outras palavras, o
custo de oportunidade de qualquer bem ou serviço é a quantidade de outros bens ou
serviços que se tem de deixar de consumir para obter aquele bem ou serviço.
Este conceito pode ser explicitado recorrendo ao gráfico anterior. Por exemplo,
quando se passa do ponto B para o ponto C significa que para obter uma unidade adicional
do bem A teve que prescindir-se de duas unidades do bem B. Estas duas unidades
correspondem ao custo de oportunidade.
Se a análise for feita para todos os pontos (de A para B, de B para C até se atingir
o ponto F) constata-se que o custo de oportunidade é crescente.
Olhando para a configuração da FPP constata-se que ela é côncava em relação à
origem, precisamente para ilustrar o facto de os custos de oportunidade serem crescentes.
E estes são crescentes porque os métodos de produção (a forma como são combinados os
recursos para levar a cabo a produção), nas diferentes indústrias, são diferentes.
1.5 Crescimento
A FPP é definida para uma dotação de fatores fixa e para a tecnologia existente,
numa dada economia.
Admita-se que, de repente, mais bens de capital estão disponíveis na economia que
estamos a considerar. O que acontece à FPP? Esta desloca-se para fora e para a direita
(como se pode ver no gráfico 1.2), o que significa que é possível produzir mais bens e
serviços nesta economia.
10
Introdução
_____________________________________________________________________________________
Bem B
Bem A
Gráfico 1.2 – Exemplo de um aumento dos bens de capital na economia
Face a esta constatação, verifica-se que qualquer sociedade ou economia enfrenta uma
escolha importante: consumir hoje ou mais no futuro. De forma a crescer rapidamente
uma economia deverá restringir o consumo atual e fazer investimento, que só no futuro é
que recompensará o sacrifício feito.
A questão pode ser vista graficamente, recorrendo a um exemplo. No gráfico 1.3
comparamos duas economias hipotéticas (Extravagania e Poupania). No ano 2020, as
duas têm a mesma FPP (FPP2020). Os cidadãos de Extravagania gostam de viver o hoje,
produzindo principalmente bens de consumo e poucos bens de capital (ponto A). Como
reflexo o stock de bens de capital de Extravagania no ano 2035 não será muito maior que
o stock atual, daí que a FPP se tenha deslocado pouco para fora. Em contraste, os cidadãos
de Poupania reduzem a produção de bens de consumo a fim de construir mais bens de
capital (ponto B). Até ao ano 2035 a sua capacidade produtiva terá aumentado
significativamente, o que se reflete num deslocamento acentuadamente para fora da sua
FPP. Conclui-se, assim, que a escolha entre mais consumo hoje e níveis mais altos de
produção no futuro é importante para qualquer país.
11
Texto de Apoio – Introdução à Engenharia Económica
_____________________________________________________________________________________
Bens de capital
Bens de capital
FPP2035
FPP2035
B
FPP2020 A FPP2020
12
Introdução
_____________________________________________________________________________________
13
Texto de Apoio – Introdução à Engenharia Económica
_____________________________________________________________________________________
14
Introdução
_____________________________________________________________________________________
t
n
RT C T
V
A1 (
t 1 r
)t
t
(1.2)
15
Texto de Apoio – Introdução à Engenharia Económica
_____________________________________________________________________________________
16
Introdução
_____________________________________________________________________________________
ou explícita. Os seus custos implícitos são o que estes mesmos recursos poderiam auferir
no seu melhor uso alternativo fora da empresa. Por isso é que os economistas incluem
ambos os custos (explícitos e implícitos) na sua definição de custos. Isto é, incluem um
rendimento normal sobre os recursos detidos como parte dos custos, de modo que o lucro
económico é a receita menos os custos explícitos e implícitos. Conquanto o conceito de
lucro contabilístico possa ser útil para propósitos contabilísticos ou fiscais, é o conceito
de lucro económico que deve ser usado para se tomarem corretas decisões de
investimento.
Por exemplo, admita-se que uma empresa reporta um lucro contabilístico de €
30.000 num determinado ano, mas o empresário poderia ter auferido um salário de €
35.000 ao gerir outra empresa e € 10.000 ao emprestar o seu capital a outra empresa que
enfrenta um risco idêntico. Para o economista este empresário está na realidade a incorrer
numa perda económica de € 15.000 dado que, do lucro contabilístico de € 30.000, teria
que subtrair o custo implícito ou de oportunidade de € 35.000 para o seu salário e de €
10.000 para o seu capital. Um lucro contabilístico de € 30.000 corresponde, então, a um
prejuízo económico de € 15.000. Mesmo se o empresário não possuísse capital, incorreria
na mesma num prejuízo económico de € 5.000 por continuar a operar a sua própria
empresa que gerava um lucro de € 30.000 em vez de trabalhar para outrem numa função
semelhante por € 35.000.
Igualmente, se uma empresa está completamente capitalizada (isto é, não pede
emprestado nenhum capital) enquanto outra empresa paga € 50.000 por ano sobre o
capital que pediu emprestado, a primeira exibirá um lucro contabilístico por ano € 50.000
mais elevado do que a segunda se as empresas forem no resto idênticas. O lucro
económico de ambas as empresas, no entanto, é o mesmo.
Deve, também, ser salientado que embora o cidadão comum em conversa de rua
possa usar o conceito contabilístico de lucro, intuitivamente aplica o conceito económico
de lucro e fechará o seu coffee shop se obtém um lucro de € 25.000, sabendo que pode
auferir mais do que isso se gerir o coffee shop de outra pessoa. Portanto, é o conceito
económico de lucro, em vez do conceito contabilístico, que é importante para a afetação
dos recursos entre os diferentes setores da economia.
17
Texto de Apoio – Introdução à Engenharia Económica
_____________________________________________________________________________________
18
O Modelo da Procura e da Oferta
_____________________________________________________________________________________
19
Texto de Apoio – Introdução à Engenharia Económica
_____________________________________________________________________________________
acerca deste assunto. Smith e outros economistas pioneiros (incluindo Karl Marx)
pensavam que o preço de mercado de um bem era determinado pelo seu custo de
produção. Mas embora os custos afetem certamente o preço, não conseguem explicar o
motivo pelo qual os quadros de Pablo Picasso se vendem muito mais caro que os de
Jackson Pollock. Stanley Jevons e outros economistas do século XIX tentaram explicar o
preço centrando-se no valor que as pessoas retiram do consumo de diferentes bens e
serviços. Parece certamente plausível que as pessoas paguem muito por um bem que
valorizem muito. Contudo, a disposição para pagar também não pode ser a única
explicação. Por exemplo, alguém que ficasse privado de água no deserto morreria em
poucas horas, e, no entanto, o metro cúbico de água vende-se por poucos cêntimos. Em
contrapartida, os seres humanos podem viver perfeitamente bem sem ouro, e, no entanto,
o ouro é vendido a mais de €250 por onça. Custo de produção? Valor para o utilizador?
Qual deles será? A resposta, que para os economistas atuais parece óbvia, é que ambos
são importantes. Ao escrever em fins do século XIX, o economista britânico Alfred
Marshall foi dos primeiros a mostrar claramente a forma como os custos e o valor
interagem para determinar o preço de mercado de um bem e qual a quantidade desse bem
a ser comprada e vendida. A nossa tarefa, nas páginas seguintes, será a de explorar as
ideias de Marshall e exercitar a sua aplicação prática. Numa primeira fase, introduzimos
os dois componentes principais da análise pioneira de Marshall: a curva da oferta e a
curva da procura.
20
O Modelo da Procura e da Oferta
_____________________________________________________________________________________
de produzir e vender hambúrgueres: para quem tenha poucos estudos e pouca experiência
de trabalho, o custo de oportunidade de vender hambúrgueres é relativamente baixo
(obviamente, estes indivíduos não têm muitas alternativas para obter rendimentos altos).
Para outros, o custo de oportunidade é de valor moderado, e para outros ainda, como as
estrelas do rock e os atletas profissionais, o custo seria proibitivamente alto. Devido a
estas diferenças entre as pessoas relativamente ao custo de oportunidade de vender
hambúrgueres, a curva da oferta diária deste bem terá inclinação positiva em relação ao
preço.
Para ilustrar, observe-se a Figura 2.1, que mostra uma curva da oferta hipotética
para o mercado de hambúrgueres na Praça do Toural, em Guimarães, num determinado
dia (embora os economistas se refiram normalmente às «curvas» da procura e oferta,
desenhamo-las, regra geral, nos nossos exemplos, como linhas retas).
Oferta
4
Preço (€ / hambúrguer)
0
8 12 16
4
Quantidade (milhares de hambúrgueres/dia)
Por que razão a curva da oferta de hambúrgueres tem inclinação positiva? Quando
o preço dos hambúrgueres é baixo - digamos €2 por hambúrguer - apenas aquelas pessoas
cujo custo de oportunidade da venda é menor ou igual a esse valor oferecerão
hambúrgueres para venda. Para a curva da oferta da Figura 2.1, a quantidade oferecida ao
preço de €2 será de 8000 hambúrgueres por dia. Nesse exemplo, aquela é a quantidade
total de hambúrgueres oferecidos para venda por pessoas cujo custo de oportunidade é de
€2 por hambúrguer, ou menos. No entanto, se o preço unitário subisse acima dos €2,
haveria mais vendedores no mercado a tentar vender hambúrgueres. Ao preço de €3, por
exemplo, a Figura 2.1 mostra que a quantidade oferecida é de 12000 por dia, enquanto ao
preço de €4 a quantidade oferecida é de 16000. Quanto mais alto for o preço, mais pessoas
acham que vale a pena vender hambúrgueres.
Por outras palavras, o facto de a curva da oferta de um bem ser inclinada
21
Texto de Apoio – Introdução à Engenharia Económica
_____________________________________________________________________________________
A curva da oferta, por si só, não diz quantos hambúrgueres serão vendidos na
Praça do Toural num determinado dia, nem a que preço serão vendidos. Mas para
encontrar o preço e a quantidade prevalecentes, necessita-se igualmente da curva da
procura de hambúrgueres desse mercado. A curva da procura é um gráfico que indica qual
a quantidade total de hambúrgueres que os compradores desejam adquirir aos vários
preços Uma propriedade fundamental da curva da procura de um determinado bem é que
esta tem inclinação negativa em relação ao preço desse bem. Por exemplo, a curva da
procura de hambúrgueres indica que quanto mais alto for o seu preço, menos pessoas
haverá, no conjunto, interessadas em comprá-los. Deste modo, a curva diária da procura
de hambúrgueres na Praça do Toural pode assemelhar-se à curva que mostramos na
Figura 2.2.
4
Preço (€/hambúrguer)
3
Procura
0
8 12 16
22
O Modelo da Procura e da Oferta
_____________________________________________________________________________________
Esta curva indica-nos que quando o preço dos hambúrgueres é baixo, digamos €2
por unidade, os compradores desejarão comprar 16000 hambúrgueres por dia, enquanto
comprarão só 12000 ao preço de €3 e apenas 8000 se o preço for €4. A curva da procura
de hambúrgueres, tal como a de qualquer outro bem, tem uma forma descendente por
duas razões: primeiro, à medida que os hambúrgueres se tornam mais caros algumas
pessoas mudam para sandes de galinha, pizas e outros tipos de alimento que os
substituem; em segundo lugar as pessoas não podem simplesmente comprar tantos
hambúrgueres a preços altos como fazem quando os preços são baixos.
O conceito de equilíbrio é empregado, quer nas ciências físicas quer nas sociais,
e tem uma importância primordial na análise económica. Em geral, um sistema está em
equilíbrio quando todas as forças que operam dentro do sistema são contrabalançadas
umas pelas outras, resultando numa situação estável, equilibrada ou inalterada. Na Física,
por exemplo, diz-se que uma bola pendurada por uma mola está em equilíbrio quando a
mola se distendeu suficientemente até ao ponto em que a força que exerce para cima sobre
a bola seja exatamente contrabalançada pela força que a gravidade exerce para baixo. Em
Economia, diz-se que um mercado está em equilíbrio quando os participantes nesse mer-
cado não têm qualquer razão para alterar o seu comportamento, pelo que não existe qual-
quer tendência para que a produção ou os preços desse mercado se alterem.
Se se quiser determinar a posição final de uma bola pendurada por uma mola, é
necessário encontrar o ponto em que as forças da gravidade e de tensão da mola se
contrabalançam e o sistema se encontra em equilíbrio. De forma análoga, se se quiser
determinar o preço a que um determinado bem será vendido (a que se dá o nome de preço
de equilíbrio) e a quantidade que será vendida (a quantidade de equilíbrio), é necessário
encontrar o equilíbrio no mercado desse bem. As ferramentas básicas para encontrar o
equilíbrio num mercado para um determinado bem são as curvas da oferta e da procura
para esse bem. Por razões que serão explicadas mais à frente, o preço de equilíbrio e a
quantidade de equilíbrio de um bem são o preço e a quantidade aos quais as curvas da
oferta e da procura para esse bem se cruzam. Para as hipotéticas curvas da oferta e da
procura de hambúrgueres na Praça do Toural, o preço de equilíbrio será, portanto, de €3,
e a quantidade de equilíbrio dos hambúrgueres vendidos será 12000 por dia, tal como se
pode ver na Figura 2.3.
23
Texto de Apoio – Introdução à Engenharia Económica
_____________________________________________________________________________________
Oferta
Preço (€/hambúrguer)
3
Procura
0
12
24
O Modelo da Procura e da Oferta
_____________________________________________________________________________________
Preço (€/hambúrguer)
Excesso de oferta
4 Oferta
2 Procura
0 8 12 16
Procura
4 Oferta
3
Excesso de procura
0 8 12 16
25
Texto de Apoio – Introdução à Engenharia Económica
_____________________________________________________________________________________
A análise da oferta e da procura é útil pelo facto de ajudar a prever como é que os
preços e as quantidades de equilíbrio poderão reagir a alterações das forças de mercado.
Dado que as curvas da oferta e da procura se intersetam para determinar o preço e a
quantidade de equilíbrio, qualquer fator que faça variar estas curvas terá tendência a
alterar os valores de equilíbrio, de forma previsível.
Embora nos capítulos posteriores se analise mais detalhadamente os fatores que
afetam a oferta e a procura, apresenta-se, de seguida, uma síntese dos mesmos.
26
O Modelo da Procura e da Oferta
_____________________________________________________________________________________
Gostos. Nem todas as pessoas partilham os mesmos gostos. Nem os gostos se mantêm
inalterados ao longo do tempo. Por exemplo, nas sociedades ocidentais, a cultura
incentiva o gosto de nos sentarmos em mobiliário estofado, enquanto que em muitas
sociedades orientais as pessoas são condicionadas a sentar-se de pernas cruzadas no chão.
A procura de sofás tenderá, portanto, a ser maior no ocidente do que no oriente. Outro
exemplo, a procura de saias com a bainha acima ou abaixo do joelho varia,
acentuadamente, de uma década para outra.
População. Regra geral, quanto maior for um mercado, tanto maior será a quantidade
adquirida de um bem ou serviço a um dado preço. Assim, nas cidades onde se regista um
aumento populacional, a procura de habitação aumenta de ano para ano, tendendo a baixar
nas cidades onde se verifica um declínio populacional.
27
Texto de Apoio – Introdução à Engenharia Económica
_____________________________________________________________________________________
Preço dos fatores de produção. Os pagamentos que os produtores têm que efetuar aos
seus fatores de produção – mão de obra, capital, etc – constituem outro determinante
importante dos custos. Se o preço dos barcos para a pesca de lagostas subir ou se os
ordenados pagos aos operários aumentarem, a curva da oferta das lagostas sofre uma
deslocação para a esquerda.
28
O Modelo da Procura e da Oferta
_____________________________________________________________________________________
Preço
quantidade procurada
D’
D D
0 0
2 4 Quantidade
Quantidade (milhares de latas/dia) (b)
(a)
29
Texto de Apoio – Introdução à Engenharia Económica
_____________________________________________________________________________________
Preço
S
P’
P
P D’
P’ D
D
D’
0
Q Q’ 0
Q’ Q
Quantidade
Quantidade
Um aumento na procura levará a um
aumento no preço e na quantidade Um decréscimo na procura levará
de equilíbrio. a um decréscimo no preço e na
quantidade de equilíbrio.
Preço
Preço
S S’
P S’ P’ S
P’ P
D
D
Q Q’ Q’ Q
Quantidade Quantidade
Figura 2.7 – Quatro regras que regem os efeitos dos deslocamentos da oferta e da procura.
30
O Modelo da Procura e da Oferta
_____________________________________________________________________________________
S
Preço (€/embalagem)
S
Preço (€/embalagem)
P S’ P S’
P’ D
P’
D D’
D’
Q’ Q Q Q’
31
Texto de Apoio – Introdução à Engenharia Económica
_____________________________________________________________________________________
P
S
P*
P’
D
Q
Q1 Q* Q2
32
O Modelo da Procura e da Oferta
_____________________________________________________________________________________
O Estado português sempre teve uma grande apetência por fixar preços máximos,
apetência que foi grandemente acentuada no período após 1974. Nessa altura, uma grande
quantidade de produtos teve o seu preço fixado pelo Estado. Um desses preços era a taxa
de juro.
No início da década de 80 a inflação foi extremamente elevada, tendo chegado a
atingir níveis à volta dos 35%. Quer isto dizer que para comprar um bem que no início de
um ano custasse 100$00 seriam necessários em média 135$00 no início do ano seguinte.
Pela mesma ocasião a taxa de juro estava fixada em valores perto dos 30%. Por cada
100$00 que alguém tomasse emprestado no início de um ano teria que devolver ao banco
130$00 no início do ano seguinte. É fácil perceber que nestas circunstâncias os bancos
não quisessem emprestar dinheiro. Em vez de emprestar dinheiro, seria melhor comprar
um bem que pudesse ser revendido um ano mais tarde, realizando desta forma um valor
superior.
Os mercados encontram muitas vezes formas de ultrapassar as limitações que o
Estado lhes impõe. A solução que os bancos encontraram nessa ocasião para, respeitando
a letra da lei, ultrapassar esta situação insustentável foi passar a fazer a chamada
"cobrança dos juros à cabeça". O cliente tinha que pagar os juros não no fim, mas no
início do prazo do empréstimo. Ou seja, em vez de receber 100$00 e pagar 130$00 um
ano mais tarde, recebia apenas 70$00 (100$00 menos 30$00 de juros), tendo que devolver
100$00 no fim do prazo. Ou seja, por cada 70$00 efetivamente recebido pagava 30$00
juros o que equivale a uma taxa de juro superior a 42%.
Também muitos produtos alimentares tiveram o seu preço fixado legalmente,
33
Texto de Apoio – Introdução à Engenharia Económica
_____________________________________________________________________________________
havendo penalidades para quem não respeitasse esses limites. Em muitos casos os
comerciantes vendiam efetivamente a preços superiores, mas só vendiam a clientes
conhecidos que tinham a certeza de não serem fiscais de preços. Outros havia que
respeitavam preços fixados, mas que obrigavam os clientes a comprar outros produtos em
que eles não estavam interessados. Por cada quilo de bife, o cliente tinha que comprar
também um quilo de carne de cozer, a carne cujo preço estava fixado a níveis superiores
àquele que seria o preço de equilíbrio desse mercado.
Outro exemplo de fixação de preços, este anterior a 1974, é o congelamento das
rendas de casa. Inicialmente adotado com objetivo de proteger os inquilinos, os preços
congelados tiveram como efeito fazer desaparecer o mercado de arrendamento de
habitação e levaram à degradação de muitos prédios de habitação. Uma vez estabelecidas,
as rendas das habitações não podiam ser alteradas. Com a inflação que grassou durante
as décadas de 70 e 80, as rendas de casa caíram para níveis irrisórios. Adicionalmente,
foram criados limites ao montante em que as rendas podiam ser aumentadas relativamente
ao contrato anterior, quando se estabelecia um novo contrato.
Dada a natureza continuada da relação de arrendamento, não era fácil ao mercado
encontrar formas de ultrapassar estas restrições legais. No entanto, algumas práticas
surgiram, que tentavam minorar o efeito destas restrições. Uma destas foi a prática de
exigir indemnizações compensatórias no momento da realização do contrato. Como os
contratos não podiam ser denunciados nem as rendas livremente fixadas, nos poucos
casos em que os senhorios faziam novos contratos, passou a ser prática exigir, para além
da renda mensal, o pagamento uma quantia inicial: o chamado pagamento pela chave.
Apesar destas práticas, o resultado do congelamento de rendas foi que grande
parte dos proprietários deixaram de pôr no mercado casas que iam ficando livres, tendo
passado a ser praticamente impossível encontrar uma casa para arrendar. Adicionalmente,
os proprietários deixaram de ter interesse em efetuar a conservação dos seus prédios (e
em muitos casos as posses para o fazer). As casas degradaram-se substancialmente, tendo
havido prédios que chegaram a cair por falta de obras de manutenção.
Os preços mínimos não são um fenómeno muito diferente dos preços máximos.
Se o Estado decidir fixar um preço mínimo P’ superior ao preço de equilíbrio P* uma
situação semelhante à descrita para o caso da fixação de preços máximos sucederá. Na
34
O Modelo da Procura e da Oferta
_____________________________________________________________________________________
figura 2.10, ao preço P’, os vendedores quererão vender Q2, mas a este preço só haverá
compradores para Q1 unidades do bem. Se o problema fosse deixado ao mercado, a
concorrência entre vendedores levaria à redução de preço. Se tal redução for ilegal,
surgirão situações de excesso de produção ou de vendedores que querem vender o seu
produto e não encontram comprador.
P S
P’
P*
P’’
Q
Q1 Q* Q2
Salário mínimo:
Uma situação em que os vendedores não encontram comprador para o produto
devido à fixação de preços mínimos ocorre no mercado de trabalho com a imposição de
salários mínimos. O salário é o preço do mercado de trabalho e a quantidade é o número
de trabalhadores ou de horas de trabalho contratadas. A procura no mercado de trabalho
é constituída pelas empresas e a curva da procura relaciona o número de trabalhadores ou
de horas de trabalho que as empresas querem contratar para cada nível de salário. O lado
da oferta é constituído pelas famílias. A curva da oferta relaciona o número de horas que
os indivíduos estão dispostos a trabalhar para cada nível de salário.
A existência de um salário mínimo P’ superior ao salário que equilibra o mercado
P* faz com que existam pessoas que, estando dispostas a trabalhar pelo salário mínimo,
não encontram emprego a esse salário. Deixando o salário ser determinado no mercado,
este tipo de desemprego não existiria, em parte porque mais empresas estariam dispostas
a contratar pessoas ao salário P* do que o estão ao salário P’ (Q*>Q1) e em parte porque
menos pessoas estariam interessadas em trabalhar a esse salário (Q*<Q2). Em Portugal o
desemprego devido ao salário mínimo não é possivelmente maior porque existem muitos
mecanismos que permitem às empresas pagar salários inferiores ao mínimo,
nomeadamente quando se trata de jovens e aprendizes.
35
Texto de Apoio – Introdução à Engenharia Económica
_____________________________________________________________________________________
Uma outra intervenção que o Estado pode ter é a fixação de limites máximos às
quantidades transacionadas, exemplificada no modelo descrito pela Figura 2.11. Neste
mercado o preço de equilíbrio é P*, preço ao qual são transacionadas Q* unidades do
produto desse mercado. Agora o Estado resolve limitar a quantidade de bens que podem
ser transacionados à quantidade Q’. Quais serão as consequências de tal decisão?
P
S
P2
P*
P1
D
Q’ Q* Q’’ Q
36
O Modelo da Procura e da Oferta
_____________________________________________________________________________________
fica apenas com um problema para resolver, que é saber quais são os vendedores que
terão o privilégio de vender nesse mercado. De facto, a este preço P2, os vendedores
quererão vender Q’’. A forma que o mercado teria de resolver este problema levaria a que
a concorrência entre vendedores fizesse baixar o preço até que a oferta e a procura se
equilibrassem.
Não existindo tal possibilidade e havendo necessidade de uma autorização para
aceder ao mercado e realizar a transação, a concorrência entre vendedores vai dar-se para
a aquisição desta autorização, como foi o caso das autorizações de importações
verificadas em Portugal durante o fim da década de setenta.
37
Texto de Apoio – Introdução à Engenharia Económica
_____________________________________________________________________________________
2.4.4 Impostos
O último aspeto que se trata neste capítulo diz respeito a um elemento que está
presente em virtualmente todos os mercados e que tem um impacto imediato sobre a
determinação do preço: os impostos. Vamos ver como é que o modelo da procura e oferta
pode ser usado para analisar o efeito dos impostos, concentrando a nossa atenção apenas
num tipo de impostos, os impostos indiretos.
A este tipo de impostos, de que o IVA ou o imposto sobre os veículos automóveis
são exemplos, chama-se indireto, porque ao contrário de outros impostos como o IRS,
são cobrados independentemente do rendimento ou de outra qualquer característica da
pessoa que compra o bem sobre o qual o imposto incide.
Os impostos indiretos têm um impacto imediato sobre o preço dos produtos sobre
os quais incidem. A forma específica destes impostos pode ser muito variável. No caso
do imposto sobre os veículos automóveis na União Europeia, por exemplo, os impostos
podem ser uma percentagem do valor do veículo em países como a Espanha, a Dinamarca
ou a Holanda, podem ser determinados com base na cilindrada, como em Portugal e na
Irlanda, ou ainda com base no peso (Finlândia), ou no consumo que efetuam e poluição
que geram (Áustria). Embora os detalhes da análise de cada uma destas formas de imposto
sejam diferentes, os aspetos essenciais são idênticos, pelo que nos vamos concentrar no
caso particular em que o imposto é cobrado como uma percentagem do valor do veículo.
Se um determinado produto tem uma taxa de imposto de 20%, todas as vezes que
uma unidade desse produto é transacionada, um quinto do seu preço destina-se aos cofres
públicos, o que faz com que o preço do produto seja (quase sempre) diferente do que seria
caso não existisse o imposto. Como se verá adiante, na maior parte dos casos, a subida de
preços será inferior ao montante do imposto. A introdução do imposto faz com que passe
38
O Modelo da Procura e da Oferta
_____________________________________________________________________________________
a existir uma divergência entre o preço que o cliente paga e o preço que a empresa recebe.
A diferença entre estes dois preços é, naturalmente, a receita fiscal que o Estado arrecada
por cada unidade transacionada. As decisões dos compradores são determinadas pelo
preço a pagar, enquanto que as dos vendedores pelo preço que recebem.
P ScI
P2 S
P1
P3
D
Q2 Q1 Q
39
Texto de Apoio – Introdução à Engenharia Económica
_____________________________________________________________________________________
(P2-P3) é o imposto por unidade vendida, sendo o total do imposto arrecadado pelo Estado
o produto deste imposto unitário pela quantidade vendida Q2.
P ScI P
S ScI
P2 P2
S
P1 P1
D
P3
P3 D
Q2 Q1 Q Q2 Q1 Q
40
Teoria da Procura
_____________________________________________________________________________________
3 TEORIA DA PROCURA
Depois de se ter analisado, de uma forma genérica, o modelo da procura e da
oferta, neste capítulo estuda-se mais aprofundadamente a procura dos consumidores. A
procura é um dos aspetos mais importantes da economia da empresa dado que uma
empresa não sobreviverá se não existir uma procura suficiente para os seus produtos. Por
outras palavras, uma empresa pode ter as técnicas de produção mais eficientes e uma
equipa de gestão eficaz, mas sem existir uma procura para o seu produto que seja
suficiente para cobrir pelo menos todos os custos de produção e venda no longo prazo, a
empresa não poderá, simplesmente, sobreviver. Na verdade, muitas empresas abandonam
a atividade/negócio pouco tempo depois de serem criadas porque as suas expectativas de
uma procura suficiente para os seus produtos não se verificaram, mesmo com uma grande
campanha publicitária. Também é frequente assistir-se ao fecho de empresas previamente
bem estabelecidas e lucrativas como resultado de os consumidores passarem a dirigir as
suas aquisições para outras empresas ou produtos. A procura é, então, essencial para a
criação, sobrevivência e rendibilidade de uma empresa.
Neste capítulo examina-se a teoria da procura ou os fatores que determinam a
procura do produto de uma empresa. Introduz-se, também, o importante conceito de
elasticidades. Estas medem a resposta na quantidade procurada de um produto a
alterações em cada um dos fatores que determinam a procura. Mostrar-se-á, ainda que de
uma forma sintética, como uma empresa pode na realidade estimar a procura para os seus
produtos e como uma empresa pode prever a procura futura para os seus produtos.
41
Texto de Apoio – Introdução à Engenharia Económica
_____________________________________________________________________________________
42
Teoria da Procura
_____________________________________________________________________________________
1
Note-se que, por convenção, a quantidade por unidade de tempo (a variável dependente) em vez do preço
(a variável independente) é representada no eixo horizontal.
43
Texto de Apoio – Introdução à Engenharia Económica
_____________________________________________________________________________________
Px (€)
D’’x
1 D’x
0.5
Dx
Qdx
1 3 4
44
Teoria da Procura
_____________________________________________________________________________________
na Figura 3.1. Se as alterações fossem no sentido oposto, Dx deslocava-se para D’’x, por
exemplo.
Para claramente se distinguir entre um movimento ao longo de uma dada curva da
procura (como resultado de uma alteração no preço desse produto) de uma alteração na
procura (como resultado de uma alteração no rendimento, preço dos bens relacionados ou
gostos), referir-se-á a primeira como uma variação da quantidade procurada e a segunda
como variação da procura.
2 2 2
1
1 D1 1 DM
D2
45
Texto de Apoio – Introdução à Engenharia Económica
_____________________________________________________________________________________
alteração nas curvas de procura individuais. Assim, pode-se exprimir a função da procura
de mercado geral do produto X como:
Qdx = f(Px, N, I, Py, T). (3.2)
46
Teoria da Procura
_____________________________________________________________________________________
47
Texto de Apoio – Introdução à Engenharia Económica
_____________________________________________________________________________________
48
Teoria da Procura
_____________________________________________________________________________________
pelos recursos ou fatores de produção, que são necessários para produzir os bens e
serviços.
Em jeito de conclusão desta secção, é importante salientar que quando se fala de
procura é necessário identificar, claramente, que conceito/tipo de procura se está a
utilizar. Na verdade, existem várias procuras. Existe a procura de um produto por um
indivíduo, a procura de mercado de um produto, a procura de um produto que uma
empresa defronta e a procura derivada da empresa pelos recursos que necessita para
produzir os bens finais.
49
Texto de Apoio – Introdução à Engenharia Económica
_____________________________________________________________________________________
6 A
5 B
4 C
3 F
DX
2 G
1 H
J
0
100 200 300 400 500 600 QX
2
Muitas vezes é reportado o valor absoluto de εP (isto é, |εP|). Isto não cria qualquer dificuldade desde que
não se esqueça que o preço e a quantidade procurada se movem em direções opostas ao longo da curva da
procura.
3
Dado que o declive e o seu inverso são constantes para uma curva da procura linear, mas P e Q variam
em diferentes pontos na curva da procura, εP varia em diferentes pontos da curva da procura.
50
Teoria da Procura
_____________________________________________________________________________________
51
Texto de Apoio – Introdução à Engenharia Económica
_____________________________________________________________________________________
52
Teoria da Procura
_____________________________________________________________________________________
RT (€)
900
800
500
RTX
5 B
4 C |εP|=1
3 F |εP|<1
DX
2 G
1 H
J
0 100 200 300 400 500 600 QX
-1
-2 RmgX
Existe uma relação importante, e muitas vezes usada, entre a receita marginal, o
preço e a elasticidade preço da procura que é dada por4:
Rmg = P (1 + 1/εP) (3.8)
Por exemplo, da tabela 3.2 sabe-se que quando P = € 4, εP = -2. Substituindo estes
valores na equação acima, obtém-se:
Rmg = € 4(1 + 1/-2) = 2
O valor de Rmg = € 2 quando P = € 4 é confirmado examinando a parte inferior
da figura 3.5.
Para P = € 3, εP = -1 e Rmg = € 3(1 + 1/-1) = 0.
Para P = € 2, εP = -1/2 e Rmg = € 2(1 + 1/-0.5) = -2.
A relação acima entre P, εP, RT e Rmg verifica-se para a empresa e para o mercado
sob qualquer forma de organização do mercado. Se a empresa é um concorrente perfeito
no mercado do produto, enfrenta uma curva da procura do produto perfeitamente
(infinitamente) elástica ou horizontal. Então, a variação na receita total ao vender cada
4
Dado que RT = PQ, em termos de cálculo, Rmg = d(PQ)/dQ = P + Q(dP/dQ) = P (1 + (dP/dQ)(Q/P)) = P
(1 + 1/εP).
53
Texto de Apoio – Introdução à Engenharia Económica
_____________________________________________________________________________________
unidade adicional do bem (isto é, a Rmg) iguala o preço. Usando a fórmula 3.8, pode
constatar-se isto mesmo,
Rmg = P (1 + 1/-∞) = P.
Por exemplo, na figura 3.5, se uma empresa vender 3 unidades do bem X, a sua
RT = € 12. Se vender 4 unidades de X, a RT = € 16. Assim, a Rmg = P = € 4, e as curvas
da receita marginal e da procura que a empresa enfrenta coincidem.
PX(€)
DX
4 P = Rmg
0 1 2 3 4 5 QX
Figura 3.5 – A curva da procura que uma empresa perfeitamente concorrencial enfrenta.
Pelo contrário, se a empresa enfrentar uma curva da procura vertical (de modo que
a quantidade procurada permanece inalterada independentemente do preço), εP = 0 ao
longo de toda a curva da procura.
54
Teoria da Procura
_____________________________________________________________________________________
dos refrigerantes em geral e ainda maior do que a elasticidade preço da procura de todas
as bebidas não alcoólicas.
Tempo. A elasticidade preço da procura é também maior quanto maior for o
período de tempo que os consumidores têm para responder a variações nos preços dos
produtos. A razão é que, geralmente, demora tempo até os consumidores se inteirarem
acerca dos substitutos disponíveis e adaptarem as suas aquisições às variações nos preços.
Por exemplo, durante o período imediatamente a seguir ao forte aumento dos preços dos
combustíveis em 1974, a elasticidade preço da procura de gasolina era muito baixa. Ao
longo de um período de vários anos, contudo, a redução na quantidade procurada de
gasolina foi muito maior (isto é, a elasticidade preço de longo prazo da procura de
combustíveis era muito maior) do que no curto prazo à medida que os consumidores
substituíram os seus carros que consumiam muito por carros mais eficientes no consumo
de gasolina, reduziram as suas viagens diárias através de combinações com outras
pessoas, e começaram a utilizar mais transportes públicos, entre outras medidas. Assim,
para uma dada variação do preço, a resposta da quantidade procurada é provavelmente
muito maior no longo prazo do que no curto prazo e, desse modo, a elasticidade preço da
procura é provavelmente muito maior no longo prazo do que no curto prazo.
Peso no orçamento. Quanto maior for o peso relativo do produto na despesa total,
mais importante será o efeito rendimento de uma alteração no preço. Bens como o sal,
pensos rápidos, papel, porta-chaves e muitos outros, representam quotas tão pequenas das
despesas totais que, para a maior parte das pessoas, o efeito rendimento de uma variação
no seu preço é provavelmente desprezível. Pelo contrário, o efeito rendimento de uma
variação no preço de bens como a habitação e ensino superior será sem dúvida
significativo. Em geral, quanto menor for a quota na despesa total de um bem, menos
elástica será a procura respetiva.
55
Texto de Apoio – Introdução à Engenharia Económica
_____________________________________________________________________________________
56
Teoria da Procura
_____________________________________________________________________________________
muito afetada (isto é, não irá flutuar acentuadamente) como resultado de uma expansão
económica ou de uma recessão. Pelo contrário, a procura de um bem de luxo, como por
exemplo umas férias nas Caraíbas, irá aumentar muito quando se verifica um período de
expansão económica e irá baixar acentuadamente quando a economia entrar em recessão.
Embora relativamente protegida de variações nas condições económicas, uma
empresa que vende bens de necessidade pode querer melhorar (upgrade) os seus produtos
para poderem partilhar/beneficiar do aumento do rendimento na economia ao longo do
tempo. O conhecimento da elasticidade rendimento da procura é, também, importante
para uma empresa na identificação mais precisa do mercado para o seu produto (que tipo
de consumidores comprarão com maior probabilidade o produto) e na determinação dos
meios mais adequados para as suas campanhas publicitárias de forma a atingir a audiência
alvo.
57
Texto de Apoio – Introdução à Engenharia Económica
_____________________________________________________________________________________
58
Teoria da Procura
_____________________________________________________________________________________
inclui o celofane, papel encerado, e folha de alumínio, entre outros. Baseada na elevada
elasticidade cruzada da procura entre o celofane e estes outros materiais, a DuPont
argumentou com sucesso que o mercado relevante não era o do celofane mas o dos
produtos de embalagem flexíveis. Dado que a DuPont tinha menos de vinte por cento
deste mercado, os tribunais concluíram em 1953 que a DuPont não tinha monopolizado
o mercado.
A análise dos fatores ou variáveis que afetam a procura e estimativas fiáveis dos
seus efeitos quantitativos nas vendas são essenciais para uma empresa tomar as melhores
decisões operacionais e no planeamento do seu crescimento futuro. Algumas das forças
que afetam a procura estão sob o controlo da empresa enquanto outras não. Uma empresa
pode geralmente fixar o preço do produto que vende e decidir sobre o nível das suas
despesas em publicidade, qualidade do produto, serviço ao consumidor, mas não tem
controlo sobre o nível e o crescimento do rendimento dos consumidores, sobre as
expectativas de preços dos consumidores, sobre as decisões de preços dos concorrentes,
e sobre as despesas dos concorrentes em publicidade, qualidade do produto e serviço ao
cliente.
Uma empresa pode estimar a elasticidade da procura em relação a todos os fatores
ou variáveis que afetam a procura do produto que a empresa vende. A empresa necessita
destas estimativas da elasticidade em ordem a determinar as políticas operacionais ótimas
e a forma mais eficaz de responder às políticas dos seus concorrentes. Por exemplo, se a
procura do produto é inelástica em relação ao preço, a empresa não iria querer diminuir
o seu preço dado que isso iria reduzir a sua receita total, aumentar os seus custos totais (à
medida que mais unidades do produto iriam ser vendidas a um preço mais baixo) e, por
isso, iria obter menores lucros. Igualmente, se a elasticidade das vendas da empresa em
relação à publicidade for positiva e mais elevada do que para as suas despesas em
qualidade do produto e serviço ao cliente, então a empresa poderá querer concentrar os
seus esforços de venda na publicidade em vez de na qualidade do produto e do serviço ao
cliente.
59
Texto de Apoio – Introdução à Engenharia Económica
_____________________________________________________________________________________
60
Teoria da Procura
_____________________________________________________________________________________
Assim, este ano a firma iria vender 2 milhões de quilos de café da marca X.
A empresa pode, em seguida, usar estas elasticidades para prever a procura para a
sua marca de café no próximo ano. Por exemplo, admita-se que no próximo ano a empresa
tenciona aumentar o preço da sua marca de café em 5% e as suas despesas de publicidade
em 12%. Admita-se, também, que a empresa espera que o rendimento pessoal disponível
aumente 4%, PY aumente 7%, e PS diminua 8%. Usando o nível das vendas (QS) de 2
milhões de quilos deste ano, as elasticidades calculadas acima, as políticas que a empresa
tenciona implementar no próximo ano, e as expectativas da empresa acerca das alterações
nas outras variáveis dadas acima, a empresa pode determinar as suas vendas no próximo
ano como segue:
A empresa Cafezeira, Lda poderia usar, também, esta informação para determinar
que poderia vender 2 milhões de quilos da sua marca de café no próximo ano (o mesmo
que este ano) aumentando o seu preço em 8.33% em vez de 5% (se tudo o resto se
mantivesse igual). O aumento extra de 3.33% em PX resultaria em 2(0.033)(-3) = -0.198,
61
Texto de Apoio – Introdução à Engenharia Económica
_____________________________________________________________________________________
ou 198.000 quilos a menos vendidos de café do que os 2.2 milhões de quilos previstos
para o próximo ano com um aumento de PX de apenas 5%.
62
Teoria da Procura
_____________________________________________________________________________________
63
Texto de Apoio – Introdução à Engenharia Económica
_____________________________________________________________________________________
64
Teoria da Procura
_____________________________________________________________________________________
947 por cada $1.000 de aumento no rendimento real (I), aumenta 479 por cada aumento
de $1 no preço da batata branca (PB), e diminui em 271 com cada ano que passa. Verifica-
se, assim, que a curva da procura é negativamente inclinada e desloca-se para a direita
com um aumento na população, no rendimento real e no preço da batata brana e desloca-
se para a esquerda com cada ano que passa. Uma vez que a procura de batata doce
aumenta: a) com um aumento do rendimento, é um bem normal, b) com um aumento do
preço da batata branca, esta é um substituto da batata doce. Finalmente, o coeficiente
negativo de T pode ser interpretado como refletindo a diminuição da preferência dos
consumidores por batata doce ao longo do tempo.
65
Teoria da Produção
_____________________________________________________________________________________
4 TEORIA DA PRODUÇÃO
No capítulo anterior relacionado com a teoria da procura, admitia-se a existência
de um determinado conjunto de bens e serviços. Nos próximos dois capítulos a atenção
centrar-se-á nas decisões económicas subjacentes ao lado da oferta.
Neste capítulo, o objetivo é descrever as possibilidades de produção disponíveis
no mercado, dada a tecnologia e a dotação de recursos naturais. Pretende-se saber como
varia o produto com a utilização de fatores produtivos tanto no curto prazo como no longo
prazo. As respostas a estas questões estabelecerão o enquadramento necessário para
descrever, no próximo capítulo, a forma como as empresas escolhem entre métodos
tecnológicos alternativos para produzirem um determinado nível de produto.
Existem várias formas de definir produção. Uma delas identifica a produção como
qualquer atividade que produza utilidade no presente ou no futuro. A produção pode, da
mesma forma, ser descrita como o processo que transforma fatores produtivos em
produtos5. (As duas definições são equivalentes, pois produto é algo que cria utilidade
presente ou futura.) Por exemplo, a IBM contrata trabalhadores, utiliza máquinas e
equipamentos e adquire matérias-primas de forma a serem produzidos computadores nas
suas fábricas.
A produção de uma empresa pode ser um produto final (e.g. computador pessoal)
ou um produto intermédio (e.g. semicondutores que são utilizados na produção dos
computadores e em outros produtos). Por outro lado, a produção de uma empresa pode
ser um serviço em vez de um bem. Exemplos de serviços são a educação, medicina, banca,
comunicações, transportes, entre outros.
Os fatores produtivos são os recursos (ou inputs) usados na produção de bens e
serviços. Tradicionalmente, os economistas incluem nos fatores produtivos a terra (ou
recursos naturais), o trabalho (e.g. motoristas de autocarros, operários de linhas de
montagem, contabilistas, advogados, médicos, cientistas, etc) e o capital (e.g. instalações
fabris, máquinas-ferramenta, equipamento, veículos, armazéns, lojas, etc).
5
A expressão produto deve ser entendida como estando a referir-se a um bem ou serviço que está a ser
produzido.
67
Texto de Apoio – Introdução à Engenharia Económica
_____________________________________________________________________________________
Factores
produtivos
Função de produção
Produtos
6
Neste caso, 1 frigideira-hora/semana é uma frigideira utilizada por 1 hora no decorrer de uma semana.
Assim, uma frigideira que seja utilizada durante 8 horas/dia todos os dias de uma semana de trabalho de 5
dias, dará 40 frigideiras-hora/semana do fator produtivo capital.
68
Teoria da Produção
_____________________________________________________________________________________
Trabalho
(pessoa-horas/semana)
1 2 3 4 5
(equipamento-
horas/semana)
1 2 4 6 8 10
Capital
2 4 8 12 16 20
3 6 12 18 24 30
4 8 16 24 32 40
5 10 20 30 40 50
Tabela 4.1 – A função de produção Q = 2KL.
69
Texto de Apoio – Introdução à Engenharia Económica
_____________________________________________________________________________________
adequado para o lançamento da nova estação pode demorar semanas. Da mesma forma,
pode demorar meses ou mesmo anos adquirir o local adequado e construir uma nova torre
de transmissão.
O longo prazo para um determinado processo de produção é definido pelo menor
período de tempo necessário para alterar os montantes de todos os fatores produtivos. Um
fator produtivo cuja quantidade pode ser alterada livremente é denominado fator
produtivo variável. Um fator produtivo cuja quantidade não pode ser alterada - exceto
talvez com custos proibitivos - num determinado período de tempo é denominado fator
produtivo fixo em relação a esse período de tempo. Por definição, no longo prazo, todos
os fatores produtivos são fatores produtivos variáveis. Contrariamente, o curto prazo é
definido como o período durante o qual um ou mais fatores produtivos não podem ser
alterados. No exemplo do programa de música clássica, os discos de vinil e os discos
compactos são fatores produtivos variáveis no curto prazo, mas a torre de emissão é um
fator produtivo fixo. Contudo, se passar o tempo suficiente, este fator produtivo pode
transformar-se num fator produtivo variável.
70
Teoria da Produção
_____________________________________________________________________________________
Q=F(K1, L)=6L
Q=F(K0, L)=2L
Q (refeições/semana)
Q (refeições/semana)
6 6
Q=F(K0, L)=2L
3 1 3
L (pessoa-hora/semana) L (pessoa-hora/semana)
(a) (b)
No entanto, os gráficos das funções de produção no curto prazo nem sempre são
linhas retas. A função de produção no curto prazo apresentada na Figura 4.3 possui várias
características que se encontram frequentemente nas funções de produção observadas na
realidade. Em primeiro lugar, passa pela origem, o que significa que não se produzem
quantidades positivas se não utilizarmos quantidades positivas do fator produtivo
variável. Segundo, a adição de mais uma unidade de fator produtivo variável às unidades
iniciais aumenta o produto a uma taxa crescente: o aumento de 1 para 2 unidades rende
10 unidades adicionais de produto, enquanto que se aumentarmos o trabalho de 2 para 3
unidades o produto aumenta em 13 unidades. Finalmente, a função apresentada na Figura
4.3 possui a característica de que, a partir de um determinado ponto (L = 4 no diagrama),
se se aumentar o número de unidades do fator produtivo variável, serão obtidos aumentos
cada vez menores de produto. Por conseguinte, o aumento de 5 para 6 unidades de
trabalho resulta em 14 unidades adicionais de produto, enquanto um aumento de 6 para 7
unidades de trabalho apenas resulta em 9 unidades adicionais de produto. Para algumas
funções de produção, a quantidade de produto pode eventualmente diminuir com o
aumento de unidades do fator produtivo variável, a partir de um determinado ponto, como
acontece neste caso para L>8. Com um montante limitado de capital para operar, o
número de trabalhadores pode eventualmente levar a um congestionamento, isto é, dar
origem a que eles se comecem a «atropelar».
Esta última característica relativa à função de produção no curto prazo é designada
por lei dos rendimentos decrescentes. Apesar de não ser também uma característica
universal das funções de produção no curto prazo, é bastante comum. A lei dos
rendimentos decrescentes é um fenómeno no curto prazo. Formalmente, pode ser definida
como:
Se forem adicionados montantes iguais de fator produtivo variável e todos os
71
Texto de Apoio – Introdução à Engenharia Económica
_____________________________________________________________________________________
Q(refeições /
semana)
Q = F(K0, L)
86
81
72
58
43
27
14
4
0
1 2 3 4 5 6 7 8 L (pessoa-
hora/semana)
72
Teoria da Produção
_____________________________________________________________________________________
Q (refeições/semana)
86 Pmg=0
72
Pmg=16
Q=F(K0, L)
43
Pmg=12
Pmg, PM (refeições/pessoa-hora) 14
1 2 4 7 8
L (pessoa-hora/semana)
16
12
1 2 4 7 8 L (pessoa-hora/semana)
PmgL
73
Texto de Apoio – Introdução à Engenharia Económica
_____________________________________________________________________________________
curvatura passa de convexa (crescente a uma taxa crescente) a côncava (crescente a uma
taxa decrescente). Note também que a curva de produtividade marginal atinge zero para
o valor de L para o qual a curva de produto total atinge o seu máximo.
A importância do conceito de produtividade marginal reside no facto de as
decisões relativas à gestão de uma empresa surgirem mais naturalmente sobre a forma de
decisões relativas a variações. Deveremos contratar mais um engenheiro ou mais um
contabilista? Deveremos reduzir o número de trabalhadores na manutenção? Deveremos
instalar outra máquina fotocopiadora? Deveremos alugar outro camião para entregas?
Para responder a estas perguntas de uma forma inteligente, deve-se comparar o
benefício da variação em questão com o respetivo custo. O conceito de produtividade
marginal desempenha um papel essencial no cálculo dos benefícios quando se altera o
nível de um dos fatores produtivos. Analisando a Figura 4.4, podem identificar-se um
conjunto de níveis para o fator produtivo variável que um gestor racional nunca
empregaria. Em particular, enquanto o trabalho tiver um salário positivo, esse gestor
nunca quererá empregar mais uma unidade de um fator produtivo variável na região onde
a sua produtividade marginal é negativa (L > 8 na Figura 4.4). Da mesma forma, aquele
nunca empregaria mais uma unidade de um fator produtivo variável para além do ponto
onde a curva de produto total atinge o seu valor máximo.
74
Teoria da Produção
_____________________________________________________________________________________
Q (refeições/semana)
R3
R2
86
72
Q=F(K0, L)
43
R1
PM (refeições/pessoa-hora) 14
2 4 6 8
L (pessoa-hora/semana)
12
10.75
PML
7
2 4 6 8 L (pessoa-hora/semana)
Devido à forma como são definidos os produtos total, marginal e médio, existem
relações bem definidas entre eles. O diagrama superior da Figura 4.6 apresenta uma curva
de produto total e três dos raios cujos declives definem o produto médio do fator produtivo
variável. O raio com maior declive, R3, é tangente à curva de produto total em L = 6. O
seu declive, 72/6 = 12, é a produtividade média do trabalho em L = 6. A produtividade
marginal do trabalho em L = 6 é definida pelo declive da curva de produto total em L =
6, que é exatamente o declive de R3, dado que R3 é tangente à curva de produto total.
Assim, PML=6 = PmgL=6, tal como está ilustrado no diagrama inferior, pelo facto de a
curva PML intercetar a curva PmgL para L = 6.
75
Texto de Apoio – Introdução à Engenharia Económica
_____________________________________________________________________________________
Q (refeições/semana)
R3
R2
86
72
Q=F(K0, L)
43
R1
Pmg, PM (refeições/pessoa-hora) 14
2 4 6 8
L (pessoa-hora/semana)
16
12 PML
10.75
2 4 6 8 L (pessoa-hora/semana)
PmgL
Para valores de L menores que 6, note-se que, no diagrama superior da Figura 4.6,
o declive da curva de produto total é maior que o declive do raio para o ponto
correspondente. Assim, para L<6, PmgL>PML, tal como é mostrado no diagrama inferior.
Note-se também que, no diagrama superior, para os valores de L maiores que 6, o declive
da curva de produto total é menor que o declive do raio no ponto correspondente. Isto
significa que, para L>6, tem-se PML>PmgL como se mostra no diagrama inferior da
Figura 4.6.
Finalmente, note-se que na Figura 4.6, para valores muito baixos de L, o declive
do raio da curva de produto total torna-se indistinguível do declive da própria curva de
produto total. Isto diz-nos que, para L=0, a produtividade média e a produtividade
marginal são iguais. Tal pode ser verificado no diagrama inferior da Figura 4.6, uma vez
que ambas as curvas partem do mesmo ponto.
A relação entre as curvas da produtividade marginal e da produtividade média
pode ser resumida da forma seguinte: Quando a curva da produtividade marginal se situa
acima da curva da produtividade média, a curva da produtividade média deve estar a
crescer; e quando a curva da produtividade marginal se situa abaixo da curva da
produtividade média, a curva da produtividade média deve estar a decrescer. As duas
76
Teoria da Produção
_____________________________________________________________________________________
Qual deveria ser o montante do fator variável (trabalho) que uma empresa deve
contratar de modo a maximizar os seus lucros? A resposta a esta questão é a seguinte:
uma empresa deve empregar uma unidade adicional do fator trabalho desde que a receita
adicional gerada pela venda do produto produzido exceda o custo adicional de contratar
essa unidade de trabalho. Por exemplo, se a utilização de uma unidade adicional do fator
trabalho gera uma receita acrescida de €30 e custa €20, compensa à empresa contratar
essa unidade adicional do fator trabalho, uma vez que isso faz aumentar os seus lucros.
O acréscimo na receita gerado pela utilização de uma unidade adicional do fator
trabalho designa-se por valor da produtividade marginal do trabalho (VPmgL) e é
calculada como o produto entre o produto marginal do trabalho (PmgL) e o preço a que é
vendida essa quantidade adicional produzida. Por sua vez, o custo adicional de contratar
mais uma unidade do fator produtivo trabalho corresponde à taxa salarial (w). Assim, a
empresa deve continuar a contratar trabalhadores enquanto VPmgL > w e até que VPmgL
= w.
Na Tabela 4.2 apresenta-se um exemplo muito simples para ilustrar esta ideia. A
primeira coluna representa a quantidade de fator trabalho usada, com o respetivo produto
marginal associado na segunda coluna. A terceira coluna representa o preço unitário a
que a quantidade produzida pode ser vendida. As duas últimas colunas representam o
valor do produto marginal do trabalho e a taxa salarial, respetivamente.
L Pmg P VPmgL w
1 3 10 30 20
2 5 10 50 20
3 4 10 40 20
4 2 10 20 20
5 0 10 0 20
6 -2 10 -20 20
Tabela 4.2 – Determinação da utilização ótima do fator produtivo variável.
77
Texto de Apoio – Introdução à Engenharia Económica
_____________________________________________________________________________________
(a) (b)
Figura 4.8 – Aumento da taxa salarial (painel a). Diminuição do preço de venda (painel b).
78
Teoria da Produção
_____________________________________________________________________________________
produção Q = F(K, L), foi possível ilustrar graficamente a função de produção usando um
diagrama simples a duas dimensões. Contudo, com K e L variáveis, é necessário usar um
diagrama a três dimensões em vez de duas. E quando existem mais de dois fatores
produtivos variáveis, necessita-se ainda de mais dimensões.
Para evitar este problema, pode fixar-se a quantidade a produzir (Q) e resolver em
ordem a uma das outras variáveis.
A título de ilustração, considere mais uma vez a função de produção que se
analisou no início deste capítulo:
Q = F (K,L) = 2KL (4.1)
e suponha-se que se quer descrever todas as combinações possíveis de K e L que
dão origem a uma determinada quantidade de produto, digamos Q = 16. Para o fazer,
resolve-se a equação Q = 2KL = 16 exprimindo K em termos de L, donde:
K=8/L (4.4)
Os pares (L, K) que satisfazem a equação (4.4) são representados pela curva
identificada por Q = 16 na Figura 4.9. Os pares (L, K) que geram 32 e 64 unidades de
produto são representados na Figura 4.9 pelas curvas designadas por Q=32 e Q=64,
respetivamente. Estas curvas são chamadas isoquantas e são definidas formalmente por
todas as combinações de fatores produtivos que originam uma determinada quantidade
de produto.
Capital (K)
12 Produção crescente
C
D
Q=64
4 A
Q=32
1 Q=16
2 8 12 Trabalho (L)
79
Texto de Apoio – Introdução à Engenharia Económica
_____________________________________________________________________________________
qualquer cabaz de fatores produtivos que se situe acima dela. Assim, o cabaz C na Figura
4.9 dá como resultado mais produto do que o cabaz A, mas menos produto que o cabaz
D. Finalmente, o número atribuído a uma isoquanta corresponde à quantidade real de
produto que se obtém de um cabaz de fatores produtivos ao longo dessa isoquanta. Com
os mapas de isoquantas, as denominações são unicamente determinadas pela função de
produção.
TMST=|ΔK/ΔL|
ΔK A
ΔL Q0
Trabalho (L)
Existe uma relação simples, mas muito importante entre a TMST em qualquer
ponto e as produtividades marginais dos respetivos fatores produtivos nesse ponto. Numa
pequena vizinhança do ponto A na Figura 4.10, admite-se que se reduz K de ΔK e se
aumenta L de um montante ΔL apenas suficiente para manter a quantidade original de
produto. Se PmgKA representa a produtividade marginal do capital em A, então a redução
do produto devido à perda de ΔK é igual a PmgKAΔK. Se se utilizar PmgLA para
representar a produtividade marginal de L em A, segue-se de forma idêntica que o
80
Teoria da Produção
_____________________________________________________________________________________
Complementares
perfeitos
Substitutos
perfeitos Q=Q3
Q=Q3 Q=Q2
81
Texto de Apoio – Introdução à Engenharia Económica
_____________________________________________________________________________________
82
Teoria da Produção
_____________________________________________________________________________________
constituem uma desvantagem. Por esta razão, não se deve esperar ver empresas grandes
numa indústria onde a produção se processa com rendimentos decrescentes à escala. Uma
razão para a existência de rendimentos decrescentes à escala prende-se com o facto de
que à medida que a escala de operações aumenta, torna-se cada vez mais difícil gerir a
empresa de forma eficiente e coordenar as várias operações e divisões da empresa.
Em termos matemáticos, os rendimentos à escala podem ser representados como
segue. Retomando a Equação 4.1:
Q = F (K, L) (4.1)
admita-se que se multiplica L e K por e que Q aumenta em , como se ilustra na Equação
4.4:
Q = F (K, L) (4.4)
Tem-se rendimentos à escala constantes, crescentes ou decrescentes dependendo
de se = , > ou < , respetivamente.
A função de produção não tem de apresentar o mesmo grau de rendimentos à
escala para as diferentes quantidades de produto. Pelo contrário, um tipo relativamente
frequente caracteriza-se por apresentar rendimentos crescentes à escala para baixas
quantidades do produto, seguido de rendimentos constantes à escala para quantidades
médias e, finalmente, por rendimentos decrescentes à escala para grandes quantidades. O
mapa de isoquantas para uma tal função de produção é analisado a seguir.
83
Texto de Apoio – Introdução à Engenharia Económica
_____________________________________________________________________________________
K R
24 H
G
21 Q=420
18
E F Q=400
15 Q=300
12
9 D Q=240
6 B C Q=180
3 A Q=90
Q=30
0
1 2 3 4 5 6 7 8 L
84
Teoria da Produção
_____________________________________________________________________________________
produzir 2Q0 unidades de produto, pode-se sempre fazê-lo através do processo utilizado
na primeira vez - nomeadamente, combinar mais uma vez K0 e L0 para se obter Q0 e
adicionar o obtido ao Q0 já existente. De forma idêntica, pode-se obter 3Q0 ao executar-
se F(K0,L0) três vezes sucessivas. Através da execução sucessiva do processo, podemos
fazer com que o produto cresça na mesma proporção do que os fatores produtivos, o que
significa ter rendimentos constantes à escala. Nos casos em que não é possível pelo menos
duplicar o produto através da duplicação de K e L, somos forçados a concluir que deverá
existir algum fator produtivo importante, para além de K e L, que não estamos a fazer
crescer ao mesmo tempo. Este fator produtivo tanto é referido como «organização» como
«comunicação». A ideia subjacente é a de que, quando uma empresa ultrapassa uma
determinada dimensão, começa a perder o controlo. Outros afirmam que o que gera
estrangulamentos na produção é a falta de gestores ou de capacidade empresarial. Se
existe na realidade um fator produtivo não mensurável que se mantém constante à medida
que se expandem K e L, então, por definição, ainda se está no curto prazo. E, por
conseguinte, não há razão para se esperar que se duplique o produto através da duplicação
de apenas alguns fatores produtivos.
85
Teoria dos Custos
_____________________________________________________________________________________
Para se ver como é que variam os custos com o produto no curto prazo, é
conveniente começar com um simples exemplo de produção do tipo que se analisou no
Capítulo 4. Suponha-se que a empresa Limpezas Clara lava sacos de roupa utilizando
trabalho (L) e capital (K). O trabalho é adquirido no mercado, sendo o salário de w = 10
euros/pessoa-hora7. O capital é constante no curto prazo. A relação entre o fator produtivo
7
Uma pessoa-hora é uma pessoa a trabalhar durante uma hora.
87
Texto de Apoio – Introdução à Engenharia Económica
_____________________________________________________________________________________
variável e o número total de sacos lavados por hora está representada na Tabela 5.1. Note-
se que, inicialmente, o produto aumenta a uma taxa crescente, à medida que unidades
adicionais do fator produtivo variável (quando L aumenta de 0 para 4 unidades) são em-
pregues, após o que passa a aumentar a uma taxa decrescente (quando L aumenta de 4
para 8 unidades).
8
Uma máquina-hora é uma máquina a trabalhar durante uma hora.
88
Teoria dos Custos
_____________________________________________________________________________________
para cada quantidade de produto. Neste exemplo, para se calcular o CV para uma
determinada quantidade de produto, multiplica-se a quantidade de trabalho necessária
para produzir essa quantidade de produto pelo salário por hora. Assim, o custo variável
de 27 sacos/hora é (10 euros/pessoa-hora) x (3 pessoas-hora/hora) = 30 euros/hora. Em
termos gerais, se L1 é a quantidade de trabalho necessária para produzir uma quantidade
de produto Ql e w é o salário por hora, tem-se:
CVQl = w L1 (5.2)
Note-se a dependência explícita do CV em relação ao produto na notação do lado
esquerdo da equação (5.2), o que não se verifica na equação (5.1). Esta relação serve para
realçar o facto de o custo variável depender da quantidade produzida, enquanto no custo
fixo tal não acontece.
O custo total (CT) é a soma do CF e do CV. Se a empresa Limpezas Clara
pretender lavar 43 sacos/hora, o custo total de o fazer será de 30 euros/hora + (10
euros/pessoas-hora) (4 pessoas-hora/hora) = 70 euros/hora. Em termos gerais, o custo
total de produzir uma quantidade de produto Ql é representado por:
CTQl = CF + CVQl = rK0 + wL1 (5.3)
Utilizando estas três categorias básicas de custo, podem definir-se quatro medidas
de custo adicionais.
O custo fixo médio (CFM) é o custo fixo dividido pela quantidade de produto. Por
exemplo, o custo fixo médio de lavar 58 sacos/hora é de (30 euros/hora) / (58 sacos/hora)
= 0,517 euros/saco. Em termos gerais, o custo fixo médio de produzir uma quantidade de
produto Ql é representado por:
CFMQ1 = CF / Q1 = rK0 / Q1 (5.4)
Note-se na equação (5.4) que, contrariamente ao CF, o CFM depende da
quantidade de produto obtida.
O custo variável médio (CVM) é o custo variável dividido pela quantidade de
produto. Se a empresa Limpezas Clara lavar 72 sacos/hora, o seu CVM será de (10
euros/pessoa-hora) (6 pessoas-hora/hora) / 72 sacos/hora = 0,833 euros / saco. O custo
variável médio de produzir uma quantidade de produto Ql pode ser representado por:
CVMQ1 = CV / Q1 = wL1 / Q1 (5.5)
O custo total médio (CTM) é o custo total dividido pela quantidade de produto.
Dado que o custo total é a soma do custo fixo total e do custo variável total, o CTM é a
soma do CFM e do CVM. Por exemplo, o CTM de lavar 58 sacos/hora é de (30
euros/hora) / (58 sacos/hora) + (10 euros/pessoa-hora) (5 pessoas-hora/hora) / (58
89
Texto de Apoio – Introdução à Engenharia Económica
_____________________________________________________________________________________
90
Teoria dos Custos
_____________________________________________________________________________________
Q = F(K0, L)
86
81
72
58
43
27
14
4
0
1 2 3 4 5 6 7 8 L
5.1.1 Representação gráfica das curvas dos custos total, variável e fixo
91
Texto de Apoio – Introdução à Engenharia Económica
_____________________________________________________________________________________
Custo Variável
100
80
Custo variável
60
40
20
0
0 20 40 60 80 100
Quantidade
92
Teoria dos Custos
_____________________________________________________________________________________
FC VC TC
Como o CF não varia com o produto, o custo fixo médio decresce de uma forma
permanente, à medida que o produto aumenta. O processo pelo qual o CFM diminui com
o produto é frequentemente designado por “diluição de custos à cabeça”.
Para a curva do custo fixo CF representada no diagrama superior da Figura 5.4, a
curva do custo fixo médio correspondente encontra-se representada no diagrama inferior
pela curva denominada CFM. Como todas as outras curvas de CFM, esta curva reveste a
forma de uma hipérbole retangular. À medida que o produto diminui para zero, o CFM
cresce sem limites e aproxima-se de zero à medida que o produto aumenta. Note-se que
as unidades no eixo vertical da curva de CFM são em euros por unidade (€/unidade) de
produto e que o eixo vertical da curva de CF, contrariamente, é medido em euros por hora
(€/hora).
Geometricamente, o custo variável médio para qualquer quantidade de produto Q,
dado por CV/Q, pode ser interpretado como o declive do raio que liga a origem à curva
do custo variável em Q. Note-se que no diagrama superior da Figura 5.4 o declive do
respetivo raio diminui quando o produto aumenta até a quantidade de produto Q2, a partir
de então, começa a aumentar.
93
Texto de Apoio – Introdução à Engenharia Económica
_____________________________________________________________________________________
R1
CT
R2
CV
CF
Q1 Q2 Q3 Q
€/unidade
de produto
Cmg
CTM
CVM
CFM
Q1 Q2 Q3 Q
Figura 5.4 – As curvas dos custos marginal, total médio, variável médio e fixo médio.
94
Teoria dos Custos
_____________________________________________________________________________________
para zero à medida que o produto aumenta para infinito. Note-se também na Figura 5.4
que o ponto mínimo da curva de CVM ocorre para uma menor quantidade de produto do
que o ponto mínimo da curva de CTM. Devido ao facto de CFM decrescer sempre, o
CTM continua a decrescer, mesmo depois de CVM começar a aumentar.
A curva do custo marginal é de longe a mais importante das sete curvas de custos
nas decisões de uma empresa relativas à quantidade do produto a produzir. Este facto
resulta de as decisões operacionais típicas numa empresa envolverem a questão de como
deverá variar o nível de quantidade de produto. Para tomar esta decisão de uma forma
inteligente, a empresa deve comparar os custos e os benefícios relevantes. O custo de
aumentar a quantidade de produto (ou as poupanças de a diminuir) é por definição igual
ao custo marginal.
Geometricamente, o custo marginal para qualquer quantidade de produto pode ser
interpretado como o declive da curva de custo total para essa quantidade de produto.
Como as curvas de custo total e de custo variável são paralelas, o custo marginal é também
igual ao declive da curva de custo variável. (Recorde-se que o custo variável é tudo o que
varia quando o custo total varia, o que significa que a alteração no custo total por unidade
de produto deve ser a mesma que a alteração no custo variável por unidade de produto.)
Note-se, no diagrama superior da Figura 5.4, que o declive da curva de custo total
diminui com o aumento de produto até Q1 e aumenta com o produto a partir de então. Isto
diz-nos que a curva de custo marginal, denominada Cmg no diagrama inferior, será
decrescente até Q1 e crescente a partir desse ponto. O ponto Q1 é o ponto onde se iniciam
os rendimentos decrescentes para esta função de produção, e na curva de custo marginal
no curto prazo são os rendimentos decrescentes que justificam o facto de a curva ser
crescente.
Para a quantidade de produto Q3, o declive da curva de custo total é exatamente o
mesmo que o declive do raio que liga a origem à curva de custo total (o raio denominado
R1 no diagrama superior da Figura 5.4). Isto significa que o custo marginal e o custo total
médio terão exatamente o mesmo valor em Q3. Para o lado esquerdo de Q3, o declive da
curva de custo total é menor do que o declive do raio correspondente, o que por sua vez
significa que o custo marginal é menor do que o custo total médio nessa região. Para as
quantidades de produto superiores a Q3, o declive da curva de custo total é superior ao
declive do raio correspondente. Por conseguinte, o custo marginal será superior ao custo
total médio para as quantidades de produto superiores a Q3. Estas relações estão ilustradas
nas curvas de custo total médio e de custo marginal no diagrama inferior da Figura 5.4.
95
Texto de Apoio – Introdução à Engenharia Económica
_____________________________________________________________________________________
96
Teoria dos Custos
_____________________________________________________________________________________
Pmg,
PM
PML
PmgL
L1 L2
L
Cmg,
CVM
Cmg
CVM
L1 L2 L
Q1 Q2 Q=LxPML
97
Texto de Apoio – Introdução à Engenharia Económica
_____________________________________________________________________________________
C/r = 100
C=rK + wL
Declive = -w/r= 2
C/w = 50 L
98
Teoria dos Custos
_____________________________________________________________________________________
A abordagem analítica para determinar o produto máximo que pode ser obtido
com um determinado custo é a seguinte. Uma determinada quantidade de produto pode
ser obtida por uma de entre um grande número de combinações diferentes de fatores
produtivos (todas situadas na mesma isoquanta). Para encontrar a combinação ótima,
sobrepõe-se a linha de isocusto no mapa de isoquantas. Na Figura 5.7, o ponto de
tangência (L*, K*) é a combinação de fatores produtivos que tem associada o maior
produto possível (Q0) para uma despesa de C.
C/r
Q1 Q2
K*
Q0
L* C/w L
K
C3/r
C2/r
C1/r
K*
Q0
L
L* C1/w C2/w C3/w
99
Texto de Apoio – Introdução à Engenharia Económica
_____________________________________________________________________________________
100
Teoria dos Custos
_____________________________________________________________________________________
10 A
K/L)=1
A’
7
(K/L)’=3/8
5 E
N
R Q2=14
3
Q1=10
B B’ B*
5 8 10 14 20 L
101
Texto de Apoio – Introdução à Engenharia Económica
_____________________________________________________________________________________
da forma da curva isoquanta. Quanto mais achatada esta curva mais fácil é substituir K
por L na produção. Pelo contrário, se a curva isoquanta é representada por um ângulo reto
(como na Figura 4.11b do capítulo anterior) não é possível fazer qualquer substituição
entre os fatores de produção (isto é, a TMST=0). Isto significa que o rácio capital-trabalho
(K/L) se mantém constante independentemente do preço de aquisição dos fatores de
produção.
5.3.3 A relação entre a escolha ótima dos fatores e os custos no longo prazo
A empresa pode sempre, se lhe for dado o tempo suficiente para se adaptar,
adquirir o cabaz de fatores produtivos que minimiza os custos para uma dada quantidade
de produto e de preços relativos dos fatores produtivos. Para se analisar como variam os
custos da empresa com o produto no longo prazo, é apenas necessário comparar os custos
dos respetivos cabazes ótimos de fatores produtivos.
Na Figura 5.10, a curva denominada EE representa a via de expansão do produto
da empresa. Esta é o lugar geométrico dos cabazes de fatores produtivos que minimizam
os custos quando o quociente do preço dos fatores produtivos é constante em w/r. Por
conseguinte, quando o preço de K é r e o preço de L é w, a forma mais económica de se
produzirem Ql unidades de produto consiste em utilizar o cabaz de fatores produtivos S,
que contém K*1 unidades de K, L1* unidades de L e custa CT1. O cabaz S é então um
ponto da via de expansão do produto. De forma idêntica, a quantidade de produto Q2 está
associada ao cabaz T, que custa CT2; Q3 está associado a U, que custa CT3 e assim
sucessivamente.
K
E
CT3/r
U
CT2/r
T Q3
CT1/r
S Q2
K1*
E
Q1
L
L1* CT1/w CT2/w CT3/w
Para se chegar da via de expansão no longo prazo à curva de custo total no longo
102
Teoria dos Custos
_____________________________________________________________________________________
€/unidade de tempo
CTLP
CT3
CT2
CT1
Q1 Q2
€/unidade de produto Q3 Q4 Q
CmgLP CMLP
Q1 Q2 Q3 Q4 Q
No longo prazo, não é necessário fazer-se a distinção entre custo total, fixo e
variável, pois todos os custos são variáveis.
A curva CTLP passará sempre pela origem, porque no longo prazo a empresa pode
liquidar todos os fatores produtivos. Se a empresa optar por não produzir, não é necessário
reter ou pagar os serviços de quaisquer dos seus fatores produtivos. A forma da curva
CTLP representada no gráfico superior é bastante idêntica à forma da curva de custo total
no curto prazo apresentada na Figura 5.3. Contudo, como se verá já a seguir, este nem
sempre é o caso. Por agora, no entanto, admita-se a forma da curva de CTLP no gráfico
superior da Figura 5.11 como um dado adquirido e veja-se o que é que implica para as
curvas de custo médio no longo prazo e de custo marginal no longo prazo.
De forma idêntica ao caso do curto prazo, o custo marginal no longo prazo
(CmgLP) é o declive da curva de custo total no longo prazo:
CmgQ = ΔCTLPQ / ΔQ (5.14)
Ou seja, CmgLP é o custo para a empresa, no longo prazo, de expandir o seu
103
Texto de Apoio – Introdução à Engenharia Económica
_____________________________________________________________________________________
produto em 1 unidade.
O custo médio no longo prazo (CMLP) é o quociente entre o custo total no longo
prazo e o produto:
CMLPQ = CTLPQ / Q (5.15)
Mais uma vez, não é necessário analisarem-se as diferenças entre os custos total
médio, fixo e variável, pois todos os custos no longo prazo são variáveis.
O gráfico inferior da Figura 5.11 representa as curvas de CMLP e CmgLP que
correspondem à curva de CTLP representada no gráfico superior. O declive da curva de
CTLP diminui até à quantidade de produto Ql e aumenta a partir de então, o que significa
que a curva de CmgLP tem o seu valor mínimo em Ql. O declive de CTLP e o declive do
raio até a CTLP são iguais em Q3, o que significa que a CMLP e a CmgLP se intercetam
para essa quantidade de produto. E, mais uma vez, como anteriormente, mantém-se a
relação tradicional entre médio-marginal: a CMLP diminui sempre que a CmgLP se situa
abaixo dela e aumenta sempre que a CmgLP se situa acima dela.
A forma das curvas dos custos total, médio e marginal no longo prazo são o reflexo
do grau dos rendimentos à escala na produção. As relações inerentes são facilmente
identificadas no caso da função de produção cujo mapa de isoquantas se encontra
representado na Figura 5.12, para a qual a via de expansão no longo prazo é uma linha
reta através da origem.
CT3/r
E
CT2/r
U
CT1/r
T Q=3
S
Q=1 Q=2
0 L
CT1/w CT2/w CT3/w
Figura 5.12 – Mapa de isoquantas para uma função de produção com rendimentos constantes à
escala.
Para as funções de produção deste tipo, à medida que nos deslocamos para fora
ao longo dum raio qualquer, todos os fatores produtivos crescem na mesma proporção.
Admita-se que, no movimento de S para T na Figura 5.12, são duplicados ambos os
fatores produtivos. O efeito é claramente o de duplicar os custos totais. Contudo, qual é
104
Teoria dos Custos
_____________________________________________________________________________________
CMLP = CmgLP
Declive=CmgLP = CMLP
0 (a) Q 0 (b) Q
Figura 5.13 – As curvas de CTLP, CmgLP e CMLP com rendimentos constantes à escala.
105
Texto de Apoio – Introdução à Engenharia Económica
_____________________________________________________________________________________
CmgLP
CTLP CMLP
0 (a) Q 0 (b) Q
Figura 5.14 - As curvas de CTLP, CmgLP e CMLP com rendimentos decrescentes à escala.
CTLP
CMLP
CmgLP
0 (a) Q 0 (b) Q
Figura 5.15 - As curvas de CTLP, CmgLP e CMLP com rendimentos crescentes à escala.
106
Teoria dos Custos
_____________________________________________________________________________________
66
52
Q=6
40
36 Q=5
30 Q=4
20
Q=3
E Q=2
Q=1
10 15 18 20 26 33 L
Figura 5.16 – O mapa de isoquantas para um processo de produção com rendimentos crescentes
no início e passando, depois, para rendimentos decrescentes à escala.
€/unidade de produto
CmgLP
CMLP
0 4 Q
Figura 5.17 – As curvas de CMLP e CmgLP para o mapa de isoquantas representado na Figura
5.16.
A existência de rendimentos à escala crescentes9 (ou custos médios e marginais
decrescentes) deve-se quer a razões tecnológicas quer a razões financeiras. Quanto às
9
Os rendimentos à escala crescentes são na linguagem comum referidas como economias de escala.
107
Texto de Apoio – Introdução à Engenharia Económica
_____________________________________________________________________________________
108
Teoria dos Custos
_____________________________________________________________________________________
€/Q €/Q
CMLP
CMLP
(a) Q (b) Q0 Q
109
Texto de Apoio – Introdução à Engenharia Económica
_____________________________________________________________________________________
produto vendido.
A curva de custo médio no longo prazo associada ao mercado servido por várias
empresas poderá assumir uma das três formas representadas na Figura 5.19. Se Q0, o
ponto mínimo da curva de custo médio em forma de U no gráfico (a), constitui apenas
uma pequena fração do produto total do setor, esperar-se-á encontrar um grande número
de empresas, cada uma delas produzindo apenas uma pequena percentagem do produto
total do setor. A pequena dimensão das empresas não é uma desvantagem quando o
processo de produção dá origem a uma curva de CMLP horizontal como a representada
no gráfico (b). Para este tipo de processos, todas as empresas - grandes ou pequenas - têm
o mesmo custo por unidade de produção. Na curva de CMLP crescente representada no
gráfico (c) da Figura 5.19, a pequena dimensão da empresa não é apenas compatível com
a sobrevivência no mercado, mas também um requisito importante, dado que as empresas
grandes terão sempre custos médios superiores aos das empresas pequenas. Na prática,
contudo, é muito pouco provável que alguma vez possa existir uma curva de CMLP
crescente, mesmo para quantidades muito baixas de produto.
CMLP
CMLP
CMLP
110
Teoria dos Custos
_____________________________________________________________________________________
€/Q CmgCP3
CMCP3
CMCP1
CmgCP1 CmgCP2
CMCP2
CMLP
CmgLP
Q1 Q2 Q3 Q
111
Texto de Apoio – Introdução à Engenharia Económica
_____________________________________________________________________________________
112
Teoria dos Custos
_____________________________________________________________________________________
200 CF
Prejuízo
0
Q*=40 Quantidade
Figura 5.21 – Análise custo-volume-resultado.
113
Texto de Apoio – Introdução à Engenharia Económica
_____________________________________________________________________________________
Apesar da utilidade prática deste modelo deve ter-se cuidado com a sua aplicação
na realidade devido aos pressupostos simplistas em que assenta, designadamente o facto
de se assumir a linearidade das funções receita total e custo total. Ou seja, os resultados
obtidos com este modelo apenas são válidos para o caso em que se assume que quer o
preço quer os custos variáveis médios são constantes. Além disso, é assumido, também,
que a empresa produz (ou vende) apenas um produto ou um mix constante de produtos.
Pode acontecer que este mix se altere com o decorrer do tempo e pode tornar-se difícil
distribuir os custos fixos pelos vários produtos.
114
Teoria dos Custos
_____________________________________________________________________________________
Π = Q x (P – CVM) – CF
e
ΔΠ = ΔQ x (P – CVM)
subsituindo estas expressões na Equação 5.18, obtém-se:
GAO = (ΔQ x (P – CVM) x Q) / (ΔQ x (Q x (P – CVM) – CF))
GAO = (Q x (P – CVM)) / (Q x (P – CVM) – CF) (5.19)
115
Mercados e Formação dos Preços
_____________________________________________________________________________________
117
Texto de Apoio – Introdução à Engenharia Económica
_____________________________________________________________________________________
Pelo facto de uma empresa ser tão pequena em relação à indústria/mercado em que se
insere, faz com que ela seja uma tomadora do preço (a empresa assume o preço de
mercado como um dado). Dessa forma, a curva de procura que a empresa enfrenta é
perfeitamente elástica, como se pode verificar na Figura 6.1.
118
Mercados e Formação dos Preços
_____________________________________________________________________________________
P P
S
P* P* D
Q* Q Q
Como o preço de mercado não é afetado pela produção da empresa, a receita marginal
resultante de um aumento unitário da quantidade vendida é constante e igual ao preço do
produto. A receita média comporta-se de igual modo. Assim, a curva da procura
(perfeitamente elástica) que a empresa enfrenta é igual à curva da receita média e à da
receita marginal. Isto é, se por exemplo, o preço de mercado por unidade do produto X
for 5 euros e a curva da procura de X perfeitamente elástica, toda a quantidade adicional
de X vendida aumentará em igual valor a receita. Por outras palavras, a receita marginal
é de 5 euros sendo também de 5 euros a receita média.
119
Texto de Apoio – Introdução à Engenharia Económica
_____________________________________________________________________________________
CTM CMT*
perda
P0 P0
lucro CVM CVM
CMT*
CVM* CVM*
Q* Q*
(c) Cmg
P CTM
custos CVM
CMT*
perda
CVM*
P0
Q*
6.2 – Decisão da quantidade a produzir no curto prazo.
120
Mercados e Formação dos Preços
_____________________________________________________________________________________
CTM
Preço de break-even
CVM
Preço de
encenamento
Q1 Q
6.3 – Curva da oferta da empresa no curto prazo.
Pode verificar-se na figura 6.3 que a curva da oferta coincide com a curva do custo
marginal para preços superiores ao custo variável médio mínimo. Se o preço estiver
abaixo do CVM mínimo a empresa encerrará. Deve, então, distinguir-se entre preço de
121
Texto de Apoio – Introdução à Engenharia Económica
_____________________________________________________________________________________
P P P
SA S
SB
P3 P3 P3
P2 P2 P2
P1 P1 P1
Q Q Q
Empresa A Empresa B Mercado
P
CmgLP
SLP
CMLP
PA
Preço de
break-even Q
QA Q
122
Mercados e Formação dos Preços
_____________________________________________________________________________________
6.3 Monopólio
123
Texto de Apoio – Introdução à Engenharia Económica
_____________________________________________________________________________________
Rmg D
Q*
Q
RT
Receita Máxima
Q* Q
124
Mercados e Formação dos Preços
_____________________________________________________________________________________
P Cmg
CTM
P*
CTM*
Rmg* = Cmg*
D
Q* Rmg Q
Quadro resumo:
Verificação do
Período Condição marginal
lucro
Produzir se
Escolher o nível de produção P*≥CVM
Curto Prazo
onde Rmg=Cmg Encerrar se
P<CVM
Produzir se
Escolher o nível de produção P*≥CMLP
Longo Prazo
onde Rmg=CmgLP Encerrar se
P*<CMLP
125
Texto de Apoio – Introdução à Engenharia Económica
_____________________________________________________________________________________
Recorre-se ao gráfico abaixo, Figura 6.8, para ver o que acontece quando um
mercado de concorrência perfeita se torna um monopólio. Hipótese assumidas: (a) a curva
126
Mercados e Formação dos Preços
_____________________________________________________________________________________
da procura é a mesma quer seja concorrência quer seja monopólio; (b) os custos são os
mesmos para o monopolista e para a indústria competitiva.
Cmg
Pm
Pc
Qm Qc Rmg Q
127
Política de Preços
_____________________________________________________________________________________
7 POLÍTICA DE PREÇOS
Uma empresa para maximizar os lucros deve produzir uma quantidade de produto
de modo a que a receita marginal (Rmg) seja igual ao custo marginal (Cmg) e depois
cobrar o preço indicado na curva de procura que enfrenta. Isto parece implicar que a
empresa pratica um único preço para cada produto que produz e vende. Contudo, em
muitos casos, as empresas vendem o mesmo produto cobrando por ele preços distintos a
diferentes clientes. A esta prática de cobrar preços diferentes consoante o cliente a que se
vende chama-se "discriminação de preços". Este capítulo analisa os modelos básicos de
discriminação de preços, que estão na base de muitas das práticas de preços verificadas
na realidade. Em praticamente toda a análise será considerado o caso em que os custos
marginais são constantes. Esta é uma hipótese que, em conjunto com a da linearidade da
procura, simplifica os cálculos e facilita a comparação entre situações. A hipótese de
custos marginais constantes não é, porém, decisiva para as conclusões qualitativas a que
chegaremos.
129
Texto de Apoio – Introdução à Engenharia Económica
_____________________________________________________________________________________
Para que uma empresa seja capaz de implementar uma política de discriminação
de preços devem observar-se três condições. Primeiro, a empresa deve ter algum controlo
sobre o preço do produto que vende, isto é, a empresa deve estar inserida num mercado
de concorrência imperfeita. Segundo, a empresa tem que conseguir identificar os
compradores que valorizem o produto de forma distinta e oferecer o bem a cada um a um
preço correspondente à sua disposição a pagar. Finalmente, a empresa deve conseguir
separar de forma eficaz estes diferentes grupos de compradores, de forma a que os clientes
a quem o bem é oferecido a baixo preço não o possam revender àqueles a quem ele é
130
Política de Preços
_____________________________________________________________________________________
A Figura 7.1 representa a decisão ótima da empresa que, tendo poder de mercado
(isto é, enfrentando uma procura não horizontal), cobra o mesmo preço por cada unidade
vendida. Igualando a receita marginal (Rmg) ao custo marginal (Cmg) a empresa
determina o preço ótimo P1, a que venderá Q1 unidades do bem.
P
D
P1
Cmg
Q1 Rmg Q
Depois de vendida esta quantidade a este preço, resta ainda uma procura por
satisfazer, dada pela porção da curva da procura que fica à direita de Q1. Dado que pratica
um preço único, a empresa escolhe não satisfazer esta procura, uma vez que, para vender
uma unidade adicional para além de Ql, teria que aceitar um preço inferior a Pl
relativamente a todas as unidades vendidas. No entanto, se for possível garantir que os
clientes representados pela procura à esquerda de Ql não adquirem o bem a preços
inferiores a Pl, a empresa poderá aumentar o seu lucro satisfazendo esta procura residual.
Para esta procura residual, é possível traçar uma nova receita marginal (RmgR na
Figura 7.2). Igualando o custo marginal a esta nova receita marginal, é possível encontrar
um novo preço P2, a que o produto da empresa pode ser vendido aos consumidores re-
presentados pela procura residual. A este preço serão vendidas Q2 unidades do bem que,
adicionadas às primeiras Ql unidades, perfazem um total de QT unidades vendidas. Ao
lucro da empresa, que no caso em que a empresa pratica um só preço é dado pelas áreas
A e B, vem agora juntar-se a contribuição do segundo preço, dada pela área C.
131
Texto de Apoio – Introdução à Engenharia Económica
_____________________________________________________________________________________
P
D
P1
A
P2
B C Cmg
Q1 QT RmgR Q
P
D
P1
A
P2
B C
Cmg
Q1 QT Q
10
Este resultado pode ser provado matematicamente de uma forma relativamente simples.
132
Política de Preços
_____________________________________________________________________________________
cada um dos grupos, que possa fazer com que o preço mais baixo apenas seja acessível
aos consumidores com valorizações mais baixas, e que não seja possível que os
consumidores que adquirem o produto ao preço mais baixo o revendam aos outros
consumidores. Cada um destes requisitos apresenta dificuldades óbvias que podem
comprometer, na prática, a possibilidade de segmentar os mercados e, em particular, de
os segmentar de acordo com um esquema de preços ótimos.
Uma das formas por vezes empregue para realizar esta separação de segmentos é
exigir aos consumidores que vão comprar ao preço mais baixo uma prova de pertença ao
grupo que se supõe ter menor disponibilidade para pagar. Por exemplo, os cartões jovem,
de terceira idade, de estudante, de professor, etc., podem servir para atestar que o titular
faz parte de um grupo que supostamente terá menor disponibilidade para pagar e, desta
forma, contribuir para realizar a segmentação do mercado.
Embora o grupo que pode comprar a preços mais baixos possa ser alargado ou
restringido através da concessão do desconto a um maior ou menor conjunto de pessoas,
pode não ser fácil dividir os consumidores de forma a cobrar exatamente os preços ótimos
atrás determinados. No entanto, ainda que os preços não sejam os óptimos, a prática de
dois preços diferenciados consoante os clientes em vez da prática de um preço único pode
proporcionar em muitas circunstâncias um acréscimo de lucro à empresa.
O mesmo raciocínio que leva à conclusão que a prática de dois preços pode ser
preferível à prática de um preço único pode, naturalmente, ser aplicado a mais do que
dois preços. Se a empresa conseguir segmentar a sua procura, não em dois, mas em três
grupos, o seu lucro será maior do que quando ela pratica apenas dois preços (painel da
esquerda da Figura 7.4). Se ela continuar a aumentar o número de preços praticados, o
seu lucro continuará a crescer. Na situação limite, ela conseguirá identificar o montante
máximo que cada consumidor estaria disposto a pagar e cobrar-lhe esse montante. Nessa
situação, a empresa apropria-se de todo o excedente gerado no mercado, e o seu lucro é
o máximo possível.
133
Texto de Apoio – Introdução à Engenharia Económica
_____________________________________________________________________________________
P P P
D D D
Π Π Π
Cmg Cmg Cmg
Q Q Q
134
Política de Preços
_____________________________________________________________________________________
de tempo despendido com a compra do bem. Este custo é menor para pessoas cujo tempo
tem menos valor e, portanto, só as pessoas que dão relativamente pouco valor ao tempo
se darão ao trabalho de fazer o que é necessário para poder adquirir o bem a preço
reduzido.
Exemplos:
Regatear: Uma das formas mais antigas de medir as disponibilidades para pagar
consiste no hábito de regatear preços. Ao pedir um desconto ou regatear um preço, o
potencial comprador está a aumentar a probabilidade de poder vir a adquirir o bem a um
preço inferior ao inicialmente pedido pelo vendedor. Se ele vier efetivamente a adquirir
o bem, a obtenção do desconto traduzir-se-á num benefício igual à poupança realizada.
Por outro lado, ele incorre num custo, que é o custo do seu próprio tempo. Assim, os
compradores que valorizem muito o seu tempo (normalmente aqueles que têm maiores
rendimentos) normalmente discutirão menos os preços do que os compradores para quem
o tempo tenha relativamente pouco valor. Mantendo-se tudo o resto constante, isto
quererá dizer que os compradores para quem o tempo tenha relativamente pouco valor
obterão descontos maiores.
Vales de desconto: Frequentemente, com a compra de um bem de consumo, o
comprador recebe um vale que lhe dá direito a um desconto, se o consumidor o levar e
entregar da vez seguinte que se for abastecer do bem em causa. Outras vezes, tais vales
aparecem-nos na caixa de correio sob a forma de publicidade distribuída anonimamente,
e sem que tenhamos para isso que comprar nada. Os folhetos promocionais da Pizza-Hut,
contendo ofertas de descontos em compras a realizar em determinadas condições, por
exemplo, são regularmente distribuídos por algumas caixas de correio,
independentemente das compras anteriores. O custo associado ao resgate dos vales de
desconto é o tempo e a preocupação associados à coleção dos vales e ao seu transporte na
próxima visita a uma loja que os possa resgatar. Com estes vales, a empresa consegue
discriminar preços entre clientes para quem os produtos têm valor diferente, sem que para
isso tenha que previamente identificar a valorização que os diferentes clientes fazem do
produto. Os mesmos vales podem ser aproveitados também para realizar discriminação
de preços interperíodos. Os descontos oferecidos pela Pizza-Hut nos seus folhetos, por
exemplo, não são válidos aos fins de semana, quando a procura é maior.
Contabilização da utilização: Há alguns anos, a Xerox tinha como política alugar
em vez de vender as suas máquinas fotocopiadoras. Em vez de estabelecer o aluguer
135
Texto de Apoio – Introdução à Engenharia Económica
_____________________________________________________________________________________
apenas com base no período que as máquinas passavam nas instalações do cliente, a
Xerox baseava também o aluguer no número de fotocópias que cada cliente fazia.
Presumivelmente, o número de cópias é um índice da utilidade que a fotocopiadora tem
para cada cliente. Ao cobrar o aluguer com base no número de cópias feitas, a Xerox
estava a diferenciar os preços de acordo com as diferentes valorizações que os clientes
faziam das máquinas.
Esta estratégia não se adapta a todos os produtos, mas encontram-se exemplos de
contabilização da utilização em produtos bem distintos. Por exemplo, a tarifa cobrada nos
automóveis de aluguer inclui normalmente uma taxa diária e um preço por quilómetro
percorrido. Da mesma forma, a taxa de alguns canais de televisão por cabo é função do
número de filmes/espetáculos desportivos efectivamente visionados. Um caso com
algumas semelhanças com o da Xerox é o da IBM que, no tempo em que os computadores
trabalhavam com cartões perfurados, alugava os seus computadores, exigindo que neles
apenas fossem usados cartões vendidos pela própria IBM. Em cada cartão era escrita
(perfurada) uma linha de programação, pelo que as empresas que utilizavam o
computador de forma mais intensiva precisavam de usar um maior número de cartões. Os
cartões eram vendidos pela IBM a preços muito superiores aos praticados pela
concorrência, de modo que os clientes que usavam intensivamente o computador
pagavam um prémio por essa utilização intensiva.
Descontos de quantidade: Em vez de medir o uso específico de cada cliente, é
possível realizar discriminação de preços através da concessão de descontos de
quantidade. Esta forma de discriminar preços evita os custos de medição específica e
permite criar um sistema de preços em que os clientes autosselecionam os seus preços
através da quantidade que compram. Obriga, contudo, a prestar particular atenção à
possibilidade de efetuar a revenda do bem. O diferencial de preços que é possível
estabelecer desta forma está limitado pelo montante dos custos de revenda.
A avaliação da utilidade que os produtos têm para cada potencial cliente é muitas
vezes difícil. Assim, em muitos casos, a discriminação de preços assenta tipicamente em
informações indiretas sobre os consumidores, que se julga estarem relacionadas com a
sua capacidade de pagamento. Mesmo quando a informação sobre os clientes não é muito
detalhada, é muitas vezes possível conseguir ganhos separando os clientes em dois
136
Política de Preços
_____________________________________________________________________________________
Exemplo:
Fotocópias para estudantes: As lojas de fotocópias cobram preços mais baixos
aos estudantes do que aos restantes clientes, por julgarem que os estudantes mais
facilmente estarão na disposição de procurarem outra loja onde fazer as suas fotocópias
do que outro cliente. Tipicamente, as fotocópias representam uma fatia maior no
orçamento dos estudantes do que no orçamento da maioria dos restantes clientes.
Por um lado, o orçamento dos estudantes é normalmente menor do que o dos
restantes clientes. Por outro lado, os estudantes fazem habitualmente um volume de
fotocópias maior do que a generalidade dos clientes. Este facto tem como consequência
que o valor de estar informado acerca dos preços praticados pelas diversas lojas é
relativamente mais elevado para um estudante do que para outro cliente. Dados os grandes
volumes de cópias habitualmente mandados executar pelos estudantes, a poupança
potencialmente realizada pela deslocação a uma loja que pratique preços mais baixos é
também normalmente maior para os estudantes do que para os restantes clientes.
Se juntarmos a isto o facto de o custo de oportunidade do tempo do estudante ser
relativamente baixo, em comparação com o dos outros clientes, concluiremos que
provavelmente estão reunidos os ingredientes decisivos para pensar que a elasticidade da
procura dos estudantes é mais elevada do que a da generalidade dos clientes, e que,
portanto, é racional fazer descontos nas cópias executadas para estudantes.
Naturalmente que isto não quer dizer que não existam outros clientes altamente
sensíveis ao preço, que se disponham a procurar lojas com preços baixos, mesmo que
distantes da localização que para eles seria mais conveniente. Para estes clientes, faria
também sentido praticar descontos comparáveis aos oferecidos aos estudantes. A questão
é que não é fácil reunir estes outros clientes num grupo facilmente identificável como os
estudantes.
137
Texto de Apoio – Introdução à Engenharia Económica
_____________________________________________________________________________________
específicos; nomeadamente sobre o seu padrão anterior de compras, para estudar a sua
sensibilidade a variações de preços. Estes desenvolvimentos, combinados com práticas
comerciais personalizadas, permitem enviar catálogos com preços diferenciados a cada
cliente e favorecem o desenvolvimento de estratégias de discriminação de preços cada
vez mais completas. As empresas que efetuam vendas por correio conhecem a história de
consumo de cada cliente. Sabem como cada cliente reage às promoções especiais
oferecidas pela empresa e podem usar essa informação para fazerem promoções seletivas,
que enviam apenas a clientes com determinados passados de compra.
Exemplo:
TelePizza: promoções dirigidas: Se a Pizza-Hut distribui folhetos promocionais
de forma anónima, a TelePizza usa a informação que tem registada sobre a última vez
que o cliente fez uma encomenda para oferecer descontos a clientes que já não fazem
encomendas há algum tempo. Com estas promoções, a empresa está a identificar clientes
para quem o produto tem um valor relativamente baixo e a oferecer-lho a preços
reduzidos. O facto de um cliente ter deixado de encomendar uma determinada refeição
ou de não a encomendar com muita frequência sinaliza que essa refeição tem para ele um
valor mais baixo do que tem para outros, e justifica que a empresa queira fazer-lhe preços
mais baixos para o atrair para o seu produto.
Exemplos:
Bebidas frescas nas tardes de verão: A Coca-Cola anunciou no final de 1999 uma
máquina de venda de bebidas que tem a capacidade de medir a temperatura exterior e
ajustar os preços das bebidas automaticamente. Quando a temperatura ambiente é mais
elevada, uma bebida fresca é mais valorizada. Consequentemente, a bebida é vendida
mais cara.
Bilhetes de avião: Uma das aplicações das novas tecnologias de informação e de
comunicação, que permitem às empresas manterem bases de dados com elementos sobre
138
Política de Preços
_____________________________________________________________________________________
Para além de identificar as disposições para pagar dos diferentes clientes, para
poder discriminar preços de forma eficaz, a empresa precisa de garantir que o bem não
pode ser revendido. Caso contrário, os consumidores identificados com o grupo de mais
139
Texto de Apoio – Introdução à Engenharia Económica
_____________________________________________________________________________________
baixa disponibilidade para pagar poderiam comprar o bem ao preço mais baixo e revendê-
lo ao grupo de consumidores com valorizações mais elevadas. Em alguns casos, a revenda
é naturalmente difícil. Noutros casos, as empresas podem deliberadamente torná-la mais
difícil.
Natureza do produto
A revenda é naturalmente mais difícil para alguns produtos do que para outros. É
particularmente difícil para os serviços, que são consumidos no momento da compra. Por
essa razão, a discriminação de preços surge com mais frequência na venda de serviços do
que na venda de produtos, que são potencialmente armazenáveis para serem revendidos
mais tarde.
Exemplo:
Discriminação de preço nos serviços: Encontramos exemplos de discriminação
de preços em inúmeros serviços. Diversos meios de transporte praticam tarifas muito
diferenciadas em primeira e em segunda classe. Os hotéis normalmente oferecem preços
mais baixos às empresas que os usam frequentemente do que aos clientes individuais que
fazem uma utilização ocasional, e fazem descontos às agências de viagens que compram
grandes blocos de reservas. Os cinemas vendem bilhetes mais baratos à segunda-feira e
os restaurantes oferecem ementas turísticas a preços inferiores à soma dos preços dos seus
componentes. As tarifas dos operadores de redes de telemóveis variam normalmente com
a quantidade consumida por cada cliente, e a energia é vendida a preços distintos de dia
e de noite. No setor de prestação de serviços às empresas o preço é normalmente
estabelecido cliente a cliente, o que é muitas vezes facilitado pelo facto de os serviços a
prestar serem não padronizados. Mesmo em serviços aparentemente normalizados
(contabilidade, por exemplo) o preço é muitas vezes estabelecido em função do volume
de vendas do cliente e não do número de documentos a tratar. O mesmo se pode, aliás,
dizer dos serviços legais em diversos países (sobretudo os de tradição anglo-saxónica),
em que os honorários dos advogados são estabelecidos em função do valor da ação.
140
Política de Preços
_____________________________________________________________________________________
partida posta de parte pela natureza do produto, existem circunstâncias que a podem
tornar mais difícil e, portanto, facilitar a discriminação de preços. Se a discriminação de
preços se faz entre duas localizações geográficas (por exemplo, entre dois países), a
simples existência de custos de transporte importantes pode dificultar a revenda. Contudo,
o número de produtos para os quais os custos de transporte não oferecem protecção
significativa é muito extenso. Em alguns casos, é possível proibir expressamente a
revenda para outro país. Esta solução pode ser implementada no comércio entre zonas
económicas, mas é de mais difícil implementação dentro de um mesmo espaço económico
e, com o aumento dos fenómenos de integração económica, tem vindo a perder
importância.
Exemplo:
Manuais universitários a preços económicos: A Prentice-Hall International é uma
editora que publica diversos tipos de livros académicos. Num desses tipos de livros, a
contracapa tem impressas duas frases. As frases estão impressas em locais claramente
distintos, não havendo aparentemente qualquer relação entre elas. A primeira frase,
impressa no centro da contracapa, informa: "Estes volumes brochados são reedições de
versões integrais de manuais consagrados, amplamente usados em universidades de todo
o mundo. A Prentice-Hall International publica estas edições económicas em benefício
dos estudantes." A segunda frase aparece no fundo da contracapa e estabelece: "Esta
edição só pode ser vendida nos países para onde ela foi autorizada pela Prentice-Hall
International. Não pode ser reexportada, e não pode ser vendida nos Estados Unidos,
México ou Canadá."
Um olhar familiarizado com a teoria da discriminação de preços percebe
facilmente por que é que a segunda frase acompanha a primeira. Os mesmos livros
(possivelmente encadernados) são vendidos a preços mais elevados na América do Norte.
Se é certo que a venda das edições brochadas a preços reduzidos beneficia os estudantes
fora da América do Norte, a verdade é que a razão fundamental para esta prática é o
benefício próprio da Prentice- Hall International.
Criação de versões
141
Texto de Apoio – Introdução à Engenharia Económica
_____________________________________________________________________________________
Exemplo:
Processadores numéricos: As primeiras gerações de computadores pessoais
tinham um processador principal, que se podia combinar com um processador numérico.
Este processador auxiliar era totalmente dispensável para as utilizações de tipo escritório
(processador de texto, gráficos, etc.) mas acelerava enormemente os cálculos
normalmente necessários ao trabalho científico e era indispensável para o funcionamento
de alguns programas científicos. Em meados da década de oitenta, um destes
processadores custava cerca de um quarto do preço de um computador doméstico de gama
baixa.
Quando a geração do 486 foi introduzida, o processador numérico passou a estar
integrado no processador central e deixou de ser um componente autónomo. À primeira
vista, a indústria parecia ter perdido a possibilidade de discriminar preços entre os clientes
que valorizavam a rapidez e aqueles que não a valorizavam. Tal não aconteceu, porém.
Surgiram no mercado os chamados 486SX, a preços significativamente inferiores aos
486. Os 486SX mais não eram do que computadores com o processador 486, nos quais
tinha sido deliberadamente destruída a parte encarregue de acelerar o processamento das
operações numéricas. Enquanto que no tempo da coexistência do processador principal
com o processador numérico autónomo se podia pensar que o preço a que o processador
numérico era vendido era essencialmente determinado pelo seu custo de produção, com
o surgimento dos 486SX ficou bem claro que o preço era bem mais determinado pela
procura do que pelos custos de produção. Os 486SX não tinham custos mais baixos do
que os 486. Pelo contrário, tinham ainda que ser sujeitos ao processo de inutilização da
área encarregue das operações numéricas. Ainda assim, eram vendidos a preços mais
baratos.
Nessa altura, levantaram-se vozes contra esta inutilização com o argumento de
que era um desperdício de recursos. Ironicamente, era este "desperdício" que possibilitava
142
Política de Preços
_____________________________________________________________________________________
que alguns dos compradores com disposição para comprar um computador o pudessem
fazer a preços reduzidos.
Exemplo:
Discriminação de preços no alumínio. Por vezes, podem existir diferentes
segmentos de mercado com valorizações muito distintas para o produto, cuja separação
pode ser impossível pela dificuldade de impedir a revenda do produto. Um caso que ficou
famoso é o da indústria do alumínio nos Estados Unidos no início do século. As procuras
de alumínio para as diversas utilizações tinham elasticidades muito diferentes. Em
particular, o alumínio era usado pela indústria de produção de cabos elétricos e pela
indústria da aeronáutica. Para a utilização que era feita pela indústria da aeronáutica, o
alumínio não tinha substitutos, o que fazia com que a elasticidade desta procura fosse
muito baixa. Pelo contrário, para a produção de cabos elétricos, o cobre era um substituto
próximo do alumínio, o que fazia com que esta procura fosse muito mais elástica.
A Aluminum Company of America (Alcoa), que dominava a produção de
alumínio nos Estados Unidos, desejaria, pois, cobrar preços mais elevados à indústria da
aeronáutica do que à indústria de produção de cabos elétricos. O obstáculo a esta
estratégia de discriminação de preços era a facilidade com que os lingotes de alumínio
podiam ser transportados de um lugar para o outro, e que os tornava mito fáceis de
revender.
Para ultrapassar esta dificuldade, a solução encontrada pela Alcoa foi integrar-se
verticalmente e passar ela própria a produzir cabos elétricos. Dado que tinha acesso ao
alumínio, a Alcoa podia produzir os cabos elétricos a preços competitivos com os dos
cabos de cobre. A vantagem desta estratégia era que, uma vez o alumínio transformado
em cabos elétricos, ele deixava de poder ser usado pela indústria aeronáutica. Eliminada
143
Texto de Apoio – Introdução à Engenharia Económica
_____________________________________________________________________________________
4 B
H
2 K C
G
D
J F
0
20 40 60 Q
144
Política de Preços
_____________________________________________________________________________________
unidade do produto por um pouco menos do que €6 por unidade, poderia vender a
vigésima unidade a um preço de €4, e a quadragésima unidade a um preço de €2 (veja-se
a figura). Assim, se a empresa vendesse cada unidade do produto separadamente e
cobrasse o preço mais elevado possível, a empresa geraria uma receita total de €160. Na
ausência de discriminação de preços de primeiro grau, contudo, a empresa cobrará o preço
de €2 (tanto quanto os consumidores estão dispostos a pagar pela quadragésima unidade
do produto) por todas as 40 unidades do produto e gera uma receita total de apenas CF0G
= €80. A diferença entre o que os consumidores estão dispostos a pagar (ACF0 = €160)
e o que efetivamente pagam (CF0G = €80) é o excedente do consumidor (triângulo ACG
= €80). Assim, ao praticar a discriminação de preços de primeiro grau, a empresa
consegue captar todo o excedente do consumidor dos compradores e aumentar as suas
receitas totais de €80 para €160. Dado que o custo total de produzir as 40 unidades do
produto não é afetado pelo preço ao qual o produto é vendido, os lucros totais da empresa
aumentam rapidamente ao praticar a discriminação de preços de primeiro grau.
A discriminação de preços de primeiro grau, no entanto, raramente é encontrada
no mundo real, dado que para o praticar a empresa necessita de ter um conhecimento
preciso de cada curva de procura de um consumidor individual e cobrar o preço mais
elevado possível para cada unidade separada do produto vendido. Isto é praticamente
impossível. Uma situação onde isto parece acontecer é quando os colégios e as
universidades independentes ajustam o montante de ajuda financeira baseados em
informação detalhada sobre o rendimento familiar, sobre o pagamento de empréstimos à
habitação e a poupança, e cobra o preço mais elevado possível.
Mais comum e praticável é a discriminação de preços de segundo grau. Isto refere-
se à cobrança de um preço uniforme por unidade para uma quantidade específica ou um
bloco do produto vendido a cada cliente, um preço mais baixo por unidade para um lote
ou bloco adicional do produto, e assim por diante. Ao proceder desta forma, uma empresa
consegue captar parte, mas não todo, o excedente do consumidor. Por exemplo, admita-
se que a empresa da figura 7.5 fixa o preço de €4 por unidade para as primeiras 20
unidades do produto e o preço de €2 por unidade para o bloco seguinte de 20 unidades do
produto. A receita total da empresa seria, então, de BJ0H = €80 do primeiro bloco de 20
unidades do produto e CFJK = €40 do bloco seguinte de 20 unidades, para uma receita
total de €120 (comparada com uma receita de €160 no caso de discriminação de primeiro
grau e de €80 para o caso de não haver qualquer discriminação). Assim, a empresa
consegue captar metade ou €40 (a área do retângulo BKGH) do total do excedente do
145
Texto de Apoio – Introdução à Engenharia Económica
_____________________________________________________________________________________
146
Política de Preços
_____________________________________________________________________________________
€
Mercado 1 € Mercado 2 € Mercado Total
12
12
7 P1
6 6
6 P D=ΣD1+2
D1 4 P2 D2 5
Cmg
2 E1 2 E2 2 E Rmg=ΣRmg1+2
Rmg1 Rmg2
0 0 0
50 60 Q1 40 60 Q2 30 60 90 120 Q
A figura 7.6a mostra D1 e Rmg1 (as curvas da procura e da receita marginal que a
empresa enfrenta no mercado 1); o painel (b) mostra D2 e Rmg2 (as curvas da procura e
da receita marginal que a empresa enfrenta no mercado 2); e o painel (c) mostra D e Rmg
(as curvas da procura e da receita marginal para o produto que a empresa enfrenta em
ambos os mercados em conjunto). A curva da procura do mercado total (D) é obtida a
partir da soma horizontal das curvas de procura nos mercados 1 e 2. Note-se que até Q=60,
D=D1. De forma semelhante, a curva da receita marginal total (Rmg) é obtida a partir da
soma horizontal de Rmg1 e Rmg2. Note-se, também, que até Q=30, Rmg=Rmg1.
O melhor nível de produto da empresa é 90 unidades do produto e é dado pelo
ponto E no painel (c), onde Rmg = ΣRmg1+2 = Cmg = €2. Para maximizar os lucros, a
empresa deve, então, vender 50 unidades do produto no primeiro mercado e as restantes
40 unidades do produto no segundo mercado, de modo a que Rmg1 = Rmg2 = Rmg = Cmg
= €2 (veja-se, respetivamente, os pontos E1, E2 e E nos três painéis da Figura 6.6). Para
Q=50, P1=€7 em D1 no mercado 1, e para Q2=40, P2=€4 em D2 no mercado 2. Note-se
que o preço é mais elevado no mercado com a procura mais inelástica. Assim, a empresa
gera receitas totais de €350 no mercado 1 e €160 no mercado 2, para uma receita total
global de €510 nos dois mercados em conjunto.
Se o custo total médio (CTM) da empresa for de €3 no melhor nível de produto
de 90 unidades (50 unidades para o mercado 1 e 40 unidades para o mercado 2), então a
empresa aufere um lucro de P1-CTM = €7-€3 = €4 por unidade e €200 no total no
mercado 1, e P2-CTM = €4-€3 = €1 por unidade e €40 no total no mercado 2, para um
147
Texto de Apoio – Introdução à Engenharia Económica
_____________________________________________________________________________________
11
Um CTM = €3 para Q=90 e um Cmg constante = 2 para qualquer nível de produto implica uma função
de custo total (CT) de CT = 90 + 2Q, de modo que a curva de custo total (não mostrada na figura 6.6) é
uma linha reta com uma interseção vertical ou custos fixos totais de €90 e um declive constante ou custo
marginal de €2.
148
Matemática Financeira
_____________________________________________________________________________________
8 MATEMÁTICA FINANCEIRA
Por que é que, para uma pessoa, um euro hoje vale mais do que um euro daqui a
um ano? A forma mais simples de explicar a intuição subjacente é notar que aquela pessoa
poderia ter investido o euro e, dessa forma, obter um determinado rendimento, por
exemplo sob a forma de juro, de dividendos ou de uma mais-valia. Assim, se uma pessoa
puder obter uma taxa de juro de 5% num depósito bancário, o euro hoje valerá €1,05
daqui a um ano.
Embora se tome a taxa de juro que se pode obter nas nossas poupanças como um
dado, vale a pena considerar o que está por detrás desta taxa de juro.
Assumindo que a pessoa recebe aquele retorno com certeza, existem duas razões
pelas quais uma pessoa necessita obter aquela taxa de juro para ter incentivo para poupar.
A primeira é que a existência de inflação significa que o euro hoje adquirirá mais bens e
serviços do que um euro daqui a um ano. Consequentemente, uma pessoa exigirá uma
taxa de juro para ser compensada pela perda de poder de compra que poderá ser originada
pela inflação. A segunda razão é que a maior parte das pessoas prefere o consumo
presente ao consumo futuro. Deste modo, mesmo que não exista inflação e um euro hoje
e um euro daqui a um ano tenham o mesmo poder aquisitivo, uma pessoa prefere gastar
o euro e consumir os bens hoje. Assim, para que uma pessoa tenha incentivo a adiar o seu
consumo, deverá ser compensada por isso na forma de uma taxa de juro a aplicar às
poupanças a efectuar. Isto designa-se por taxa de juro real. Qual deveria ser o valor da
taxa de juro oferecida? Este valor depende de quão elevadas são as preferências de uma
pessoa pelo consumo presente – quanto mais elevada for a preferência mais elevada terá
que ser a taxa de juro. A taxa de juro que inclui a inflação esperada e a taxa de juro real é
designada por taxa de juro nominal.
Até este ponto, tem-se assumido que a pessoa recebe com certeza o rendimento que
exige para as suas poupanças. Contudo, se existir incerteza acerca da garantia de que uma
pessoa obterá o rendimento prometido, então existe uma terceira componente a considerar
no rendimento que a pessoa espera obter do seu investimento. Esta terceira componente
corresponde à compensação que a pessoa exige receber para compensar o risco a que está
149
Texto de Apoio – Introdução à Engenharia Económica
_____________________________________________________________________________________
exposta – esta componente será tanto mais elevada quanto maior o risco que a pessoa
enfrenta.
Em síntese, quando se fala do rendimento que uma pessoa pode obter ao investir
um euro hoje, existem três componentes deste rendimento: a taxa de inflação esperada, a
taxa de juro real e um prémio de risco.
A base para toda a análise do valor temporal é que um euro investido hoje
transformar-se-á num valor mais elevado no futuro. A fórmula matemática que descreve
aquele processo é, em grande medida, o fundamento para a compreensão de como o
mundo financeiro funciona.
Uma simples conta de poupança pode ser usada para desenvolver o princípio básico
do valor temporal. Admita-se que uma conta de poupança no Banco do Norte, SA,
proporciona uma taxa de juro de 10%, com capitalização composta anual. Isto significa
que no fim de cada ano, se não houver novos depósitos ou levantamentos durante o ano,
o banco adiciona à conta dez por cento do saldo que existia no início do ano. Represente
VFn o montante na conta ao fim de n anos. O crescimento do saldo da conta ao longo de
um período de dois anos pode ser visto como (admitindo que se deposita inicialmente um
valor de €100):
VF1 = 100 + 0.1 x 100 = 100(1+0.1) = 110.
VF2 = 110 + 0.1 x 110 = 110(1+0.1) = 100(1+0.1)2 = 121.
Este padrão de crescimento pode ser generalizado para quaisquer valor presente
(VP), taxa de juro (i) e número de períodos (n):
VFn = VP (1 + i)n (8-1)
O problema de resolver para (1+i)n quando n é grande pode ser resolvido
recorrendo a uma calculadora financeira, a uma folha de cálculo ou às designadas tabelas
financeiras.
Exemplo. Admita-se que são investidos €100, numa conta de poupança durante 20
anos a uma taxa de juro de 10%. Qual o valor acumulado? O problema pode ser
representado da seguinte forma:
VF20 = 100 (1 + 0.1)20
VF20 = 100 x 6.7275 = € 672,75.
150
Matemática Financeira
_____________________________________________________________________________________
Exemplo. A taxa de juro obtida num determinado investimento também pode ser
obtida a partir da Equação 1-1. Espera-se que um investimento de € 1000 hoje num fundo
de investimento gere um valor acumulado ao fim de 20 anos de € 4661. Para se obter a
taxa de juro, é preciso resolver em ordem a i na equação:
4661 = 1000 (1 + i)20
i = 0.08.
A taxa de juro obtida foi de 8%.
O montante que uma pessoa estaria disposta a pagar hoje em troca de um euro numa
qualquer data futura não excederia o montante que seria necessário investir hoje de forma
a obter-se um euro nessa data futura. O valor presente (atual) de um valor futuro pode ser
obtido rearranjando as parcelas na Equação 1-1:
VP = VFn / (1 + i)n = VFn (1 + i)-n (8-2)
Exemplo. Admita que o tio do André, que faz hoje 15 anos, lhe prometeu dar €
20000, quando fizer 20 anos. Se a taxa de juro for 10%, qual o valor presente daquele
valor futuro?
VP5 = 20000 (1 + 0.1)-5 = 20000 x 0.6209 = € 12418.
151
Texto de Apoio – Introdução à Engenharia Económica
_____________________________________________________________________________________
Ano 0 1 2 3
Figura 8-1: Ilustração num diagrama temporal do valor futuro de uma anuidade. Esta figura ilustra o valor
futuro de uma anuidade de €1000 por ano durante 3 anos, a uma taxa de juro de 10%.
152
Matemática Financeira
_____________________________________________________________________________________
Exemplo. Suponha-se que uma pessoa decide depositar €1000 numa conta
poupança reforma no final de cada ano durante o seu período de vida ativa de 40 anos. O
dinheiro pode ser investido a uma taxa de juro de 10% ao ano. Então, os 1000 euros anuais
transformar-se-ão num valor futuro de:
VFA40 = 1000 FAF, i, n = 1000 x 442.59 = € 442590.
153
Texto de Apoio – Introdução à Engenharia Económica
_____________________________________________________________________________________
Ano 0 1 2 3
Figura 8-2: Ilustração num diagrama temporal do valor presente de uma anuidade. Esta figura ilustra o valor
presente de uma anuidade de €1000 por ano durante 3 anos, a uma taxa de juro de 10%.
154
Matemática Financeira
_____________________________________________________________________________________
Este procedimento pode ser generalizado como o valor presente de uma anuidade, VPAn:
VPAn = Σnt=1 [At/(1 + i)t] (8-4)
Quando o pagamento é o mesmo em cada período, a Equação 6-4 pode ser
simplificada com um pequeno rearranjo dos termos:
VPAn = A x [1 – 1/(1 + i)n]/i (6-4a)
VPAn = A x FAP, i, n (6-4b)
onde FAP, i, n = [1 – 1/(1 + i)n]/i, representa o valor presente de uma anuidade de €1 no
final de cada período durante n períodos a uma taxa de juro de i por período.
Introduziu-se este capítulo com um exemplo no qual o juro anual era adicionado a
uma conta de poupança no final de cada ano. Contudo, os bancos podem adicionar o juro
ganho numa base semestral ou mensal, ou outra. Por exemplo, o juro cobrado num
empréstimo de crédito ao consumo ou crédito hipotecário típico é calculado numa base
mensal. Muitos investimentos em bens de capital geram benefícios numa base diária ou
semanal em vez de montantes fixos anuais. Esta secção expande a análise para se lidar
com estas situações em que o período de capitalização é diferente do período da taxa de
juro.
Se uma conta de poupança paga um juro de 10%, com o juro composto anualmente
(ou capitalização anual), um depósito de €100 transformar-se-á num valor de €110 ao fim
de 1 ano. Se a capitalização for semestral (ou seja, se o juro obtido for calculado ao fim
de 6 meses), a conta proporcionará uma taxa de juro de 5% em cada semestre. O montante
que irá existir na conta ao fim de um ano será:
155
Texto de Apoio – Introdução à Engenharia Económica
_____________________________________________________________________________________
Exemplo. Suponha-se que o Banco da Lua, SA, paga uma taxa de juro de 10% ao
ano, com capitalização semestral. Um depósito de €100 transformar-se-á num valor
futuro, ao fim de 3 anos, de:
VF3 = €100(1 + 0.10/2)3x2 = €134,
e a taxa de juro efectiva anual é de:
i = (1 + 0.10/2)2 – 1 = 0.1025.
i = 10.25%.
Exemplo. O valor presente de €10000 a ser recebido dentro de 10 anos a uma taxa
de juro nominal de 16% ao ano, com capitalização trimestral, é:
VP = 10000[1/(1 + 0.16/4)10x4] = 10000 x 0.2083 = €2083.
Alternativamente, pode ser usada a equação (6) para obter a taxa de juro efectiva,
i:
156
Matemática Financeira
_____________________________________________________________________________________
i = (1 + 0.16/4)4 – 1 = 16.986%,
e, em seguida, usar-se o valor de i para obter o valor presente:
VP = 10000[1 / (1 + 0.16986)10] = €2083.
Uma perpetuidade paga dinheiro em cada período para sempre. Um depósito bancário
pode ser visto como uma perpetuidade. Um depósito de €1000 numa conta bancária que
proporciona uma taxa de juro de 10% ao ano, renderá €100 anualmente para sempre, se
o juro for levantado da conta todos os anos em vez de ser reinvestido. Escrevendo o
rendimento anual nesta conta bancária como uma equação:
A = VP x i (8-7)
onde VP é o montante depositado na conta, i é a taxa de juro paga, e A é o pagamento
anual. Para se obter o valor presente de um fluxo perpétuo de pagamentos constantes, é
apenas necessário rearranjar os termos:
VP = A / i (6-7a)
A uma taxa de rendibilidade exigida de 10%, o valor de €100 no final de cada ano
para sempre é:
VP = 100/0.1 = €1000.
Isto faz sentido. Se €1000 depositados numa conta de poupança renderão um juro de €100
todos os anos para sempre, não existe razão para se pagar mais do que €1000 por um
investimento que proporciona um rendimento de €100 por ano perpetuamente.
TABELA RESUMO:
Descrição Fórmula Fator
Valor futuro de um único pagamento VFn = VP (1 + i)n FPF, i, n
Valor presente de um único pagamento VP = VFn [1 / (1 + i)n] FFP, i, n
Valor futuro de uma anuidade VFAn = A x [(1 + i)n – 1]/i FAF, i, n
Valor presente de uma anuidade VPAn = A x [1 – 1/(1 + i) ]/i
n
FAP, i, n
Valor presente de uma perpetuidade VP = A / i
Taxa de juro efectiva anual i = (1 + i’/k)k – 1
Tabela 8-3: Estas fórmulas servem como ferramentas úteis para aplicar os princípios
básicos do valor composto (regime de juro composto) a um vasto conjunto de
problemas.
157
Matemática Financeira
_____________________________________________________________________________________
9 BIBLIOGRAFIA
Estes apontamentos foram elaborados a partir da seguinte bibliografia:
159