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FORMAÇÃO
Avaliação de empresas
Avaliação de Empresas
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS
FICHA TÉCNICA
Não é permitida a utilização deste Manual, para qualquer outro fim que não
o indicado, sem autorização prévia e por escrito da Ordem dos Contabilistas
Certificados, entidade que detém os direitos de autor.
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Avaliação de Empresas
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS
Índice
ÍNDICE DE ILUSTRAÇÕES.................................................................................................................... 5
SUMÁRIO EXECUTIVO ........................................................................................................................ 6
1. ENQUADRAMENTO GERAL AO TEMA DE AVALIAÇÃO DE EMPRESAS ................................................ 8
1.1. INTRODUÇÃO................................................................................................................... 8
1.2. CONTEXTO DA AVALIAÇÃO DE EMPRESAS ........................................................................ 9
1.2.1. PRINCIPAIS FATORES DE INFLUÊNCIA NUMA AVALIAÇÃO DE EMPRESAS.......................... 9
1.2.2. FINALIDADE DA AVALIAÇÃO ..................................................................................... 11
1.2.3. DIFERENÇAS NA AVALIAÇÃO DE PME E DE GRANDES EMPRESAS ................................. 13
1.3. PRINCIPAIS DEFINIÇÕES DE VALOR ................................................................................ 14
1.3.1. VALOR E PREÇO ..................................................................................................... 14
1.3.2. ENTERPRISE VALUE E EQUITY VALUE ....................................................................... 15
1.3.3. OUTRAS NOÇÕES DE VALOR .................................................................................... 16
1.4. PROCESSO DE AVALIAÇÃO DE EMPRESAS ....................................................................... 18
1.4.1. FASES DO PROCESSO DE AVALIAÇÃO ........................................................................ 18
1.4.2. ESTRUTURA DO RELATÓRIO DE AVALIAÇÃO .............................................................. 20
1.5. ERROS MAIS COMUNS NUMA AVALIAÇÃO ....................................................................... 22
1.6. NOTAS FINAIS ............................................................................................................... 24
2. ÓTICA PATRIMONIAL (ASSET APPROACH) ................................................................................ 26
2.1. INTRODUÇÃO................................................................................................................. 26
2.2. VALOR CONTABILÍSTICO OU HISTÓRICO ........................................................................ 26
2.3. VALOR CONTABILÍSTICO AJUSTADO .............................................................................. 27
2.4. VALOR DE LIQUIDAÇÃO ................................................................................................. 32
2.5. VALOR SUBSTANCIAL .................................................................................................... 34
2.6. MÉTODO DE INCLUSÃO DO GOODWILL ........................................................................... 35
2.7. LIMITAÇÕES E VANTAGENS DA ÓTICA PATRIMONIAL ...................................................... 38
2.8. NOTAS FINAIS ............................................................................................................... 39
3. ÓTICA DE MERCADO (MARKET APPROACH).............................................................................. 41
3.1. INTRODUÇÃO................................................................................................................. 41
3.2. CORREÇÕES ÀS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS ............................................................. 42
3.3. VALOR DA EMPRESA / VENDAS ...................................................................................... 46
3.4. VALOR DA EMPRESA / EBITDA ..................................................................................... 48
3.5. VALOR DA EMPRESA / EBIT .......................................................................................... 50
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ÍNDICE DE ILUSTRAÇÕES
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ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS
SUMÁRIO EXECUTIVO
O ato de avaliar tem um caráter subjetivo já que depende de vários fatores internos
e externos ao ativo alvo de avaliação. No caso especifico de empresas, a
subjetividade aumenta já que uma sociedade é um organismo complexo e dinâmico
que envolve o equilíbrio de um conjunto de variáveis físicas, humanas e intangíveis.
Para o efeito, o presente manual faz o levantamento das principais variáveis que
constituem o contexto da avaliação económico-financeira, principalmente no âmbito
de um processo de avaliação de PME, bem como as principais óticas de avaliação e
respetivas metodologias que são aplicadas na prática pelos profissionais do setor.
1
A análise fundamental consiste na avaliação de uma empresa de acordo com sua situação financeira,
económica e de mercado; tem como base o uso de dados económicos, indicadores do mercado,
demonstrações financeiras das empresas e métodos próprios de forma a identificar oportunidades de
mercado.
6
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ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS
Por fim, o quarto módulo do curso tem como objetivo dar a conhecer a Ótica do
Rendimento, que se baseia numa perspetiva mais ativa face às outras óticas, pois
assenta na metodologia dos fluxos de caixa futuros descontados. É identificada e
aprofundada a forma cálculo dos fluxos de caixa mais utilizada pelos profissionais na
avaliação de PME.
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1.1. INTRODUÇÃO
Desta forma, a escolha do modelo de avaliação mais adequado para utilizar numa
determinada situação depende de vários fatores. Assim, na realização de uma
avaliação económico-financeira, é importante perceber: (1) o contexto da avaliação,
nomeadamente os fatores que podem influenciar o resultado final; (2) quais podem
ser as suas finalidades; (3) os diferentes conceitos de valor; (4) o processo mais
adequado para realização do trabalho; (5) a importância do diagnóstico do ativo alvo
de avaliação; e (6) quais os principais erros que podem ser cometidos durante a
execução deste processo.
Por fim, referir que por mais cuidado e detalhado que o processo de avaliação seja, o
resultado obtido terá sempre subjetividade implícita, sendo por isso essencial que o
avaliador minimize ao máximo a influência de todos os fatores que envolvem o
processo de avaliação.
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ÓTICA DO AVALIADOR
CARACTERÍSTICAS DO AVALIADOR
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O entendimento desses princípios é essencial para que o avaliador possa escolher a(s)
metodologia(s) mais adequada(s) para o efeito. Este tema será aprofundado no
subponto seguinte.
A correta seleção dos modelos de avaliação é essencial para a adequação dos outputs
da fase de maturidade da empresa e das circunstâncias que determinam a
necessidade de realização da avaliação. Paralelamente à escolha está a aplicação,
devendo existir um conhecimento profundo das metodologias de avaliação e da sua
correta utilização, para que os resultados obtidos não sejam enviesados e
desprovidos de significado.
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ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS
Nos módulos seguintes deste manual serão abordadas as óticas de avaliação mais
utilizadas na valorização de PME e as respetivas explicações para a aplicação das
metodologias. As óticas de avaliação são: (1) Patrimonial; (2) de Mercado; e (3) de
Rendimento.
PROCESSO DINÂMICO
Com a normal evolução do mercado, existem sempre novas informações que surgem
com o desenvolvimento da atividade, levando a que a avaliação de uma empresa não
seja perpétua e por isso necessita de ser periodicamente atualizada para refletir as
informações mais próximas possível da realidade atual da empresa.
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Assim a antecipação deste trabalho pode conceder aos sócios mais uma
ferramenta para auxiliar na negociação.
2
Será explicado no segundo módulo as características da ótica patrimonial de avaliação que se baseia na
valorização das contas de Balanço; nestas situações não faz sentido a aplicação de métodos que avaliem
a capacidade de criação de rendimento futuro.
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Face ao exposto é importante ter noção das principais definições de valor, já que
para a aplicação das metodologias presentes neste manual, é necessário que o
avaliador conheça a terminologia e o significado dos resultados obtidos.
14
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Por outro lado importa distinguir as duas principais terminologias de Valor que
surgem na aplicação das metodologias e que são essenciais para a interpretação dos
resultados: (1) Valor da Empresa ou Enterprise Value na terminologia anglo-saxónica;
(2) Valor dos Capitais Próprios ou Equity Value na terminologia anglo-saxónica.
As mesmas também podem ser referidas como valor da empresa na ótica da entidade
(Enterprise Value) ou valor da empresa na ótica do sócio ou acionista (Equity Value).
Para uma melhor perceção, de forma simplista podemos considerar que o Valor da
Empresa (Enterprise Value) entende-se pelo valor económico da empresa ou do
negócio, independentemente da forma como a sociedade se financia; enquanto que o
Valor dos Capitais Próprios (Equity Value) corresponde ao valor da empresa para o
sócio ou acionista, refletindo a forma de financiamento da sociedade e a respetiva
gestão financeira, considerando a dívida líquida da empresa (-Dívida Remunerada4 +
Excesso de Meios Libertos5) (Ferreira, 2002).
𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸 𝑉𝑉𝑉𝑉𝑉𝑉𝑉𝑉𝑉𝑉 = 𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸 𝑉𝑉𝑉𝑉𝑉𝑉𝑉𝑉𝑉𝑉 − 𝐷𝐷í𝑣𝑣𝑣𝑣𝑣𝑣𝑣𝑣 𝑅𝑅𝑅𝑅𝑅𝑅𝑅𝑅𝑅𝑅𝑅𝑅𝑅𝑅𝑅𝑅𝑅𝑅𝑅𝑅 + 𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸 𝑑𝑑𝑑𝑑 𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀𝑀 𝐿𝐿𝐿𝐿𝐿𝐿𝐿𝐿𝐿𝐿𝐿𝐿𝐿𝐿𝐿𝐿
3
Do ponto de vista monetário, o preço corresponde ao valor de troca de um ativo, traduzindo o valor
acordado entre o comprador e vendedor, após o processo de negociação.
4
Corresponde a todas as fontes de financiamento de capital alheio (desde financiamentos bancários a
empréstimos de sócios caso se considere o seu reembolso), à data de referência da avaliação.
5
Corresponde a todos os meios líquidos da empresa que não sejam necessários para a gestão normal e
corrente da empresa, nomeadamente os meios líquidos em depósitos a prazo e outras aplicações
financeiras de elevada liquidez à data de referência da avaliação; na prática corresponde à riqueza
acumulada que foi criada pela empresa.
15
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Este raciocínio é muito importante para que o sócio perceba uma de duas coisas: (1)
que a empresa a nível operacional não está a conseguir gerar valor suficiente para
suprir as suas necessidades, perguntando-se se é possível melhorar a rentabilidade da
empresa; ou (2) que a empresa está muito alavancada para a sua capacidade de
gerar valor (muitas vezes derivado de investimentos que não tiveram sucesso),
perguntando-se se é possível reduzir o peso do capital alheio na estrutura de
financiamento da empresa.
Estes conceitos e a sua diferenciação muitas vezes é de difícil compreensão por parte
dos sócios, nomeadamente nas situações em que pretende alienar a empresa. Na
prática, uma transação da sociedade é normalmente feita pelo Equity Value, ficando
o comprador responsável pela liquidação do capital alheio.
No limite o valor do Equity Value poderá ser igual ao Enterprise Value caso a
empresa se financie totalmente com capitais próprios (sem capital alheio) e reinvista
ou distribua constantemente a riqueza criada, não acumulando excesso de meios
líquidos.
Nos módulos seguintes serão abordadas três óticas de avaliação e para cada
metodologia será explicado o cálculo do Enterprise Value e do Equity Value.
Para uma melhor compreensão desta temática e de outras noções de Valor que são
usados no mercado, podemos ainda evidenciar mais algumas terminologias6, das quais
se destacam:
• Valor Nominal - Corresponde ao valor facial das ações do capital social que
estão registadas aquando da escritura da empresa ou em aumentos de capital;
6
Algumas das noções de valor apresentadas vão ser aprofundadas nas óticas de avaliação, já que a sua
terminologia resulta da aplicação de uma metodologia específica.
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• Justo Valor (Fair Value) – Na mesma linha que o Valor de Mercado, de acordo
com a International Financial Reporting Standards (IFRS), o Justo Valor
corresponde ao valor pelo qual um ativo pode ser transacionado (ou um
passivo liquidado), entre duas partes que não têm relação entre si e estão
interessados e totalmente informados de todos os contornos do negócio (IFRS
13);
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Recolha da Informação
Sempre que possível, o avaliador deve visitar as instalações, já que permite uma
melhor compreensão da empresa e do negócio, permitindo uma melhor interpretação
dos números e das informações recolhidas sobre a organização.
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Análise da Informação
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Para cada uma das metodologias de avaliação utilizadas, nas diferentes óticas de
avaliação, o avaliador deve expressar o valor da empresa (Enterprise Value) e o valor
dos capitais próprios (Equity Value).
Relatório de Avaliação
O processo termina com a sua tangibilização num relatório de avaliação que deverá
ser entregue e apresentado aos sócios ou acionistas. No subponto seguinte é feita
uma sugestão de estrutura de relatório.
1. Enquadramento da Avaliação
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www.appraisers.org
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2. Descrição do Negócio
7. Conclusão
8
No caso da Ótica de Rendimento, deve-se apresentar os pressupostos para a atividade futura da
empresa e para o cálculo da taxa de desconto utilizada.
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Tal como pudemos verificar nos pontos anteriores, o caráter subjetivo de uma
avaliação, aliado ao ativo subjacente ser uma empresa com todos os fatores internos
e externos que a envolvem, conduzem a que no final de qualquer processo de
avaliação, por mais detalhado e cuidado possível, exista sempre algum nível de
incerteza quanto ao valor final obtido. De referir que na análise de PME, devido às
suas característica especificas, o nível de incerteza aumenta.
Diagnóstico Incorreto
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Por vezes o erro da seleção da metodologia pode estar relacionado com a dificuldade
obter informação de mercado que permite aplicá-la da forma mais correta, como por
exemplo os múltiplos de mercado da Ótica de Mercado9.
A previsão futura é já por si incerta, contudo a maior parte dos erros está ligada à
criação de pressupostos irrealistas, erros na estimativa dos fluxos de caixa, erros na
estimativa da taxa de desconto (risco) com a utilização de inputs não coerentes com
o mercado e setor em que a empresa está inserida, erros no cálculo do valor para a
perpetuidade, entre outros12.
9
A Ótica de Mercado e o respetivo método dos múltiplos serão aprofundados no terceiro módulo.
10
Na explicação da Ótica Patrimonial, no segundo módulo, serão dados exemplos de possíveis correções
e ajustamentos aos valores contabilísticos do Balanço.
11
Na explicação da Ótica de Mercado e de Rendimento, no terceiro e quarto módulo, serão dados
exemplos de possíveis correções e ajustamentos aos valores contabilísticos da Demonstração de
Resultados.
12
Estes conceitos serão abordados no quarto módulo, na explicação da Ótica de Rendimento e da
metodologia dos Fluxos de Caixa Descontados.
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Podem ocorrer inconsistências nos valores obtidos e erros conceptuais que podem
descredibilizar uma avaliação. A correta aplicação das metodologias e a utilização
certa das terminologias na avaliação económico-financeira de empresas é essencial
para que o resultado obtido seja coerente e possa sustentar a tomada de decisão dos
intervenientes (sócios, investidores ou outras entidades).
Um dos erros mais comuns é a confusão entre o Enterprise Value e o Equity Value e
qual a interpretação de cada um destes conceitos.
Preconceitos do Avaliador
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Por fim, referir que o valor obtido por qualquer método de avaliação modifica-se de
acordo com novas informações que surjam sobre a empresa e sobre o mercado. Esta
situação leva a que o resultado de uma avaliação não seja constante, necessitando
de ser periodicamente atualizada para refletir as novas informações e aproximar o
mais possível os pressupostos à realidade da empresa.
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2.1. INTRODUÇÃO
Esta ótica apresenta uma abordagem estática, baseando-se no facto das empresas
terem uma história de acumulação de riqueza decorrente das entradas de capital e
dos resultados retidos (Ferreira, 2002). Assim, o valor na ótica do acionista (Equity
Value) é a diferença entre os ativos (ativos fixos tangíveis, inventários, outras contas
a receber, disponibilidades e outras contas de ativo passiveis de recebimento), e os
passivos (representando pelas dívidas contraídas e não liquidadas), chegando-se
assim ao conceito contabilístico de Capital Próprio ou de Situação Líquida de uma
sociedade.
De acordo com Ferreira (2002), até meados os anos 80 esta ótica era a mais utilizada
para a valorização de empresas, já que é a abordagem mais direta e simples com
informação disponível nas demonstrações contabilísticas.
De acordo com Ferreira (2002), o Valor Contabilístico é o método mais simples que
utiliza o Balanço de uma sociedade para a sua avaliação. Na prática esta abordagem
determina o Valor da Empresa como o valor do total do Ativo e o Valor para o
acionista como a diferença entre o Total do Ativo e o Total do Passivo, resultando no
Capital Próprio (Situação Líquida da Empresa):
Este método, que passa simplesmente pela análise dos valores contabilísticos, tem
algumas limitações evidentes, uma vez que os documentos contabilísticos que os
suportam são, na sua maioria, elaboradas tendo em conta critérios contabilísticos e
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fiscais que podem ser discutíveis face à necessidade de comparar com critérios
económicos.
Podemos então afirmar que as correções e ajustamentos são justificados por práticas
contabilísticas e fiscais que conduzem ao afastamento dos valores económicos e por
variações monetárias. Assim, esta metodologia propõe incluir as correções dos ativos
(ajustamento para valores de mercado e anulação de ativos inexistentes ou que não
tenham qualquer liquidez) e dos passivos (que podem incluir situações que, embora
não inscritas nas contas, podem conduzir a variações no valor da empresa, em
particular a dividas esquecidas, não escrituradas, mas que se sabe que são exigíveis à
data da análise dos passivos contingenciais).
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De referir que se deve ter atenção a determinados imóveis que, devido à sua
especificidade, podem ser valorizados de diferentes formas: (1) podem ter um valor
superior quando são direcionados para potenciais compradores que pretendam
continuar o mesmo tipo de atividade (layout, licenças, localização); ou (2) podem ter
um valor mais baixo caso exista o custo de limpeza e reestruturação para a
adaptação a outras atividades.
De salientar também que a sua revalorização permite aos sócios das organizações
perceberem o real valor dos seus ativos, permitindo ter informação importante para
que numa fase de investimento para a expansão da atividade ou numa nova área de
negócio, o desinvestimento em ativos para obtenção de liquidez possa ser uma opção
a considerar.
Ativos intangíveis
Em regra, todos os ativos intangíveis são excluídos e anulados aquando das correções
do Balanço, principalmente pela sua dificuldade ou mesmo impossibilidade de
alienação. Para reforçar esta prática, muitas vezes estas contas são utilizadas
ficticiamente para aumentar o Ativo e consequentemente melhorar os rácios e
indicadores da organização.
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Inventários
Muitas vezes o valor contabilístico desta rubrica não espelha a realidade no armazém
da empresa: (1) por um lado, podem ser um instrumento privilegiado na manipulação
do resultado contabilístico e fiscal nomeadamente nas PME, já que está
estreitamente associado ao Custo das Mercadorias Vendidas e das Matérias
Consumidas (CMVMC); (2) por outro lado, podem existir mercadorias ou produtos que
já não tenham valor de mercado ou, no limite, já não existem fisicamente, contudo
nunca foram eliminados contabilisticamente, através de perdas por imparidade em
inventários.
Clientes
De salientar que o avaliador pode usar como referência a comparação com a média
do prazo médio de recebimento do setor de atividade e dos principais concorrentes
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para auxiliar a determinar o que pode ser considerado como um crédito de cobrança
duvidosa, não descurando, naturalmente, situações específicas.
Disponibilidades
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Contas de Passivo
De acordo com Ferreira (2002), as correções efetuadas têm como objetivo antecipar
todos os riscos que podem influenciar a vida da empresa após a sua aquisição por
terceiros e cujos efeitos serão sempre negativos. Não se pretende definir um cenário
pessimista, mas sim determinar um cenário o mais rigoroso e objetivo possível para
evitar surpresas desagradáveis e posteriores processos de litigação judicial, por
exemplo.
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*Os custos com indemnização de colaboradores (15.000 euros) e os outros custos de liquidação (7.000 euros) foram
subtraídos à conta de “Caixa e Depósitos Bancários”.
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De referir, que há autores que indicam que os ativos que não são utilizados na
exploração (extra-exploração) devem ser retirados do cálculo, contudo existem
outros que indicam que estes mesmos ativos devem constar do cálculo pelo seu valor
venal; na prática, se a empresa tem ativos extra-exploração significa que foi criada
riqueza no desenvolvimento da sua atividade e, por essa razão, deve constar da
metodologia. Outra das diferenças está na inclusão de investimentos em ativos
intangíveis que permitiram à empresa objeto de avaliação estar neste ponto,
nomeadamente a componente de licenciamento necessário para dar início à
atividade (em alguns setores pode ser demorado e ter custos avultados), bem como
os custos e o esforço inerente à criação da marca e da posição de mercado que
ocupa.
Nesta abordagem a análise também pode ser realizada na: (1) ótica da empresa; ou
(2) ótica do sócio ou acionista (valor capitais próprios). O da entidade refere-se ao
valor substancial bruto, que corresponde à avaliação individual de todos os
elementos do ativo ao valor de reposição. O dos capitais próprios refere-se ao valor
substancial líquido, resultante do valor substancial bruto deduzido de todo o passivo.
De acordo com Neves (2002) “na perspetiva económica tradicional, o valor de uma
empresa depende do seu potencial de rendimento considerado como a capacidade de
gerar lucros.”. Face a esta afirmação, o mesmo autor reitera que nesta perspetiva,
para além do valor patrimonial é necessário considerar o valor associado aos ativos
intangíveis que se traduzem no aumento da capacidade de rendimento da empresa,
como as marcas, carteira de clientes, localização das instalações, entre outros
elementos que não são visíveis no Balanço.
De acordo com Ferreira (2002), numa transação de uma empresa podem existir vários
fatores que podem influenciar o valor do Goodwill: (1) o Goodwill inerente à
empresa, pela sua capacidade de gerar valor; (2) o Goodwill de fusão, derivado da
existência de sinergias e outros ganhos de eficiência; e (3) o Goodwill derivado de
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Avaliação de Empresas
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LEGENDA:
GW - Goodwill
RLt – Resultado Líquido para cada um dos períodos considerados no horizonte temporal estimado
VP0 – Valor Patrimonial (Valor Contabilístico Ajustado)
ke - Custo de Capital14
t - representa o número do período
n – número de anos do horizonte temporal
O cálculo do Valor dos Capitais Próprios (Equity Value) é então a soma do Valor
Contabilístico Ajustado e do valor do Goodwill.
Para além deste método, os restantes métodos de cálculo do valor da empresa que
utilizam o goodwill combinam critérios históricos e patrimoniais com critérios de
rendimento futuro (valor atual dos rendimentos futuros excedentes). Os principais
13
Para além da metodologia indicada existem outras semelhantes, nomeadamente o método clássico, o
modelo anglo-saxónico ou direto, o método indireto ou dos práticos ou mesmo o EVA (Economic Value
Added) e o MVA (Market Value Added), que não serão abordados neste manual.
14 No custo de Capital, considera-se a utilização do modelo CAPM (Capital Asset Pricing Model) que
determina o retorno que um investidor aceitaria por investir numa empresa. Permite assim calcular os
resultados considerados normais.
36
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• Custo de Capital (ke): Considerámos uma taxa de 10,0% que representa uma
taxa de rendibilidade do capital;
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Por outro lado, esta ótica não inclui perspetivas de evolução futura da atividade, já
que se trata de uma ótica com uma metodologia passiva, que espelha apenas a
fotografia do património a uma determinada data de referência. Não obstante a
necessidade de conhecer o passado da empresa para que seja possível entender a sua
evolução e determinar a situação económica e financeira atual (a análise financeira
como parte integrante da avaliação de empresas), de acordo com a abordagem
tradicional, a avaliação de uma empresa fundamenta-se nas expectativas de
evolução futura (Ferreira, 2002). Para esta limitação existem abordagens que
incluem o valor do Goodwill ao valor do património, contudo a sua aplicação não é
comumente aceite no mercado.
Na maior parte das vezes, esta ótica não serve para representar o valor económico-
financeiro de uma empresa, contudo pode e deve ser usado como indicativo do valor
de empresas sem perspetivas de continuidade do negócio e para empresas cujo
objetivo seja a propriedade de ativos, como por exemplo uma holding imobiliária ou
de investimento.
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Avaliação de Empresas
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Trata-se de uma ótica passiva que determina o valor de uma empresa pela análise do
Balanço; devido às suas limitações, é uma ótica pouco utilizada no mercado, sendo
apenas preponderante na determinação do valor da empresa em situações muito
específicas, nomeadamente em empresas em liquidação, que não tenham perspetiva
de continuidade do negócio ou holdings imobiliárias ou de investimento.
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Avaliação de Empresas
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS
No entanto, a aplicação desta ótica mesmo não resultando num valor de referência
numa avaliação económico-financeira, deve na maioria das vezes ser utilizada de
forma complementar e para auxilio à análise financeira, de forma a fazer o
levantamento patrimonial líquido da empresa e determinar ajustamentos que podem
influenciar a sua atividade e a sua saúde financeira, prevenindo riscos futuros.
De referir ainda que o cálculo do valor Contabilístico Ajustado permitirá aos sócios ou
acionistas conhecer o valor real do património da empresa, que no limite é o valor
aproximado pelo qual poderá ser possível vender os ativos e permitir liquidar todos
os passivos. De salientar que na maior parte das PME, o sócio não tem uma noção real
do valor do seu património e o Balanço pode não refletir a realidade da empresa, já
que, como referido anteriormente, a contabilidade está assente em valores históricos
e podem estar realizadas numa ótica de eficiência fiscal e ter alguma criatividade
contabilística no registo das operações.
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3.1. INTRODUÇÃO
(1) Baseiam-se nos dados contabilísticos das sociedades com informação pública
que sejam semelhantes à empresa alvo de avaliação para o cálculo dos
múltiplos sobre indicadores de referência. Devido à dificuldade na conjugação
desta informação, os avaliadores utilizam bases de dados que agregam
informações setoriais. O website de Aswath Damodaran15 é uma fonte de
informação importante no âmbito de avaliação de empresas, não só na
indicação de múltiplos por cada setor de atividade, como para outras
informações necessárias na aplicação de outras metodologias.
15
Aswath Damodaran é um professor de finanças da Stern School of Business, na Universidade de New
York e através do website (http://pages.stern.nyu.edu/~adamodar/) tem disponível informação sobre
os diferentes indicadores dos principais setores de atividade e pelas principais regiões do globo. O autor
agrega informação setorial disponível no mercado e calcula os respetivos múltiplos (Link com exemplo
de múltiplos setoriais para o mercado dos Estados Unidos da América https://bit.ly/1N0D39B).
16
Através da subscrição no website (www.businessreferenceguide.com) é possível obter informação
sobre transações.
17
Através da subscrição no website (www.ttrecord.com) é possível obter informação sobre transações.
41
Avaliação de Empresas
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS
Nesta ótica a recolha de informação é uma das dificuldades na sua aplicação, já que
o avaliador precisa de ter acesso a bases de dados para que seja possível sustentar os
múltiplos de valorização aplicados. Por outro lado, a própria seleção de empresas ou
setores comparáveis, é complexa devido à inexistência de duas empresas exatamente
iguais, tanto na atividade que desenvolvem e no setor em que atuam, como no risco,
na rendibilidade ou nas taxas de crescimento que têm.
Esta ótica é muito utilizada para efeitos de fusões e aquisições de empresas, embora
seja necessário ter presente o estádo do ciclo de vida em que a empresa se encontra
(a aplicação desta ótica pode não fazer sentido em empresas recentes com pouco
histórico ou numa fase de elevado crescimento).
42
Avaliação de Empresas
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS
Em certas situações, em que exista relação entre empresas do mesmo sócio, pode
também existir a subvalorização ou sobrevalorização do custo ou rendimento nas
operações entre empresas.
Por outro lado, é necessário verificar rubricas que podem estar subvalorizadas ou
sobrevalorizadas. A rubrica de Rendas e Alugueres é um exemplo recorrente da
possibilidade de subdimensionamento, nomeadamente quando a propriedade do
imóvel, no qual a empresa está instalada, está na esfera pessoal do sócio ou numa
outra empresa do grupo, verificando-se o pagamento de uma renda abaixo do valor
de mercado (caso a empresa arrendasse a terceiros); assim o valor deve ser corrigido
para valores de mercado, para que os resultados retratem a rentabilidade
operacional, excluindo situações específicas da gestão que beneficiem a sociedade
mas que deixam de ser verdade aquando da sua venda a terceiros.
43
Avaliação de Empresas
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Por outro lado, a rubrica pode estar subvalorizada, nomeadamente nas situações em
que se determina que os responsáveis da empresa ou pessoas da família recebem
compensações menores que as praticadas no mercado para funções semelhantes (por
exemplo os sócios da empresa com funções de gestão e operacionais receberem o
ordenado mínimo).
44
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Avaliação de Empresas
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS
O múltiplo com base nos proveitos de uma sociedade baseia o Valor da Empresa na
sua capacidade geradora de receitas, multiplicando as vendas por um múltiplo de
mercado indicativo para determinado setor ou atividade que está a ser alvo de
avaliação. Determinado o valor da empresa, é possível depois calcular o valor dos
capitais próprios ou o valor para o sócio ou acionista.
Este indicador é considerado muito simples, uma vez que as vendas de uma empresa
são informações acessíveis, para além de nunca apresentar valores negativos e se
poder comparar empresas nacionais com estrangeiras; de salientar a possível
necessidade de se realizarem correções sempre que necessário, tal como indicado no
ponto anterior.
Por outro lado, este indicador tem uma grande desvantagem, já que não espelha se a
empresa está a gerar resultados positivos ou negativos; assim pode acontecer, no
limite, a avaliação de duas empresas muito semelhantes com o mesmo volume de
negócios mas com resultados operacionais muito distintos, enviesando toda a análise
e justificação do valor. Os múltiplos são definidos com base num conjunto de
pressupostos como rendibilidades médias do setor ou da atividade, devendo-se
sempre que possível complementar este múltiplo com os resultados obtidos a partir
do EBITDA21 ou EBIT22 que serão abordados de seguida.
Normalmente calcula-se numa base anual e é realizada a média dos 2 a 3 anos mais
recentes face à data de referência da avaliação. Se existir forte variação nas vendas
18
Corresponde a todos os ativos fixos tangíveis que sejam propriedade da empresa mas que não estejam
afetos à sua atividade, à data de referência da avaliação.
19
Corresponde a todos as fontes de financiamento de capital alheio (desde financiamentos bancários a
empréstimos de sócios caso se considere que são para reembolsar), à data de referência da avaliação.
20
Corresponde a todos os meios líquidos da empresa que não sejam necessários para a gestão normal e
corrente da empresa, nomeadamente os meios líquidos em depósitos a prazo e outras aplicações
financeiras de elevada liquidez (na prática corresponde a valores acumulados de riqueza que foi criada
ao longo do tempo pela empresa), à data de referência da avaliação.
21
EBITDA é o acrónimo de “Earnings Before Interest, Taxes, Depreciation and Amortization”, que em
português significa "Resultados antes de juros, impostos, depreciação e amortização".
22
EBIT é o acrónimo de “Earnings Before Interest and Taxes”, que em português significa "Resultados
antes de juros e impostos".
46
Avaliação de Empresas
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS
da empresa, deve-se utilizar os valores dos anos mais recentes e que representam a
informação mais atual possível.
23
Para o exemplo não se considerou nenhum múltiplo de mercado efetivo, sendo o mesmo fictício.
47
Avaliação de Empresas
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS
De acordo com Ferreira (2002), este múltiplo de mercado é dos mais utilizados no
mercado e na análise de empresas, devido às vantagens que apresenta, dos quais
destacamos as seguintes:
24
EBITDA recorrente e normalizado após ajustamentos, sendo normalmente utilizada a média dos 2 ou 3
anos completos mais recentes face à data de referência da avaliação.
25
Na terminologia anglo-saxónica, é o acrónimo para capital expenditure que pode ser traduzido para a
língua portuguesa como “despesas de capital”.
48
Avaliação de Empresas
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS
Por outro lado, sendo este indicador extraído da demonstração de resultados, tal
como visto nos pontos anteriores, é muitas vezes necessária a realização de ajustes e
correções para tornar o EBITDA mais próximo da realidade, expurgando as
componentes extra exploração e não afetas às operações.
Normalmente calcula-se numa base anual e é realizada a média dos 2 a 3 anos mais
recentes face à data de referência da avaliação. Se existir forte variação neste
indicador, deve-se utilizar os valores dos anos mais recentes e que representam a
informação mais atual possível.
26
Para o exemplo não se considerou nenhum múltiplo de mercado efetivo, sendo o mesmo fictício.
49
Avaliação de Empresas
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS
Tal como o EBITDA, o múltiplo com base no EBIT baseia o Valor da Empresa na sua
capacidade geradora de resultados. Compara-se neste indicador o valor de mercado
da empresa com os resultados operacionais antes dos juros e dos impostos sobre os
lucros.
27
Para o exemplo não se considerou nenhum múltiplo de mercado efetivo, sendo o mesmo fictício.
50
Avaliação de Empresas
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS
De referir que há empresas em que, pela sua reduzida dimensão, o sócio assume
funções operacionais, não podendo delegar devido à reduzida geração de fluxo de
caixa; esta situação agrava o risco de um potencial investidor, já que a empresa
torna-se muito dependente do sócio e das suas ações (one man show).
Desta forma, o cálculo do SDE pretende expurgar os benefícios que o sócio retira da
empresa para despesas pessoais e familiares, assumindo que os mesmos são custos
não operacionais (igual às correções que devem ser feitos ao EBITDA) e ainda soma
todos as compensações contratualizadas28 do(s) sócio(s) e os respetivos encargos
sociais; assim, para cada um dos anos de análise, podemos determinar o cálculo do
SDE da seguinte forma:
28Desde os vencimentos brutos, subsídios de alimentação e outros benefícios como seguro de saúde caso
faça parte do pacote salarial; caso os valores contratualizados sejam muito reduzidos, devem-se ajustar
para valores próximos dos praticados no mercado.
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Avaliação de Empresas
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS
Tal como nos indicadores anteriores, normalmente calcula-se os valores numa base
anual e determina-se a média dos 2 a 3 anos mais recentes. Se existir forte variação
nos ganhos do sócio, deve-se utilizar os valores dos anos mais recentes e que
representam a informação mais atual possível.
29
Ver ajustamentos ao EBITDA na explicação do indicador “Valor da Empresa / EBTIDA”.
30
Encargos diretos que a empresa tem relativamente às compensações do(s) sócio(s), como por exemplo
o pagamento da Segurança Social a cargo da empresa sobre o respetivo rendimento bruto.
31 Para o exemplo não se considerou nenhum múltiplo de mercado efetivo, sendo o mesmo fictício.
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Avaliação de Empresas
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS
(1) PER (Price Earnings Ratio) – Representa a relação entre o valor da ação e o
resultado líquido por ação.
𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶çã𝑜𝑜 𝐴𝐴𝐴𝐴𝐴𝐴𝐴𝐴𝐴𝐴
𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃 =
𝑅𝑅𝑅𝑅𝑅𝑅𝑅𝑅𝑅𝑅𝑅𝑅𝑅𝑅𝑅𝑅𝑅𝑅 𝑝𝑝𝑝𝑝𝑝𝑝 𝐴𝐴çã𝑜𝑜
(2) PBV (Price Book Value) - Representa a relação entre o valor da ação e o valor
contabilístico do capital próprio por ação.
𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶çã𝑜𝑜 𝐴𝐴𝐴𝐴𝐴𝐴𝐴𝐴𝐴𝐴
𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃 =
𝑉𝑉𝑉𝑉𝑉𝑉𝑉𝑉𝑉𝑉 𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶 𝑃𝑃𝑃𝑃ó𝑝𝑝𝑝𝑝𝑝𝑝𝑝𝑝 𝑝𝑝𝑝𝑝𝑝𝑝 𝐴𝐴çã𝑜𝑜
53
Avaliação de Empresas
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS
(3) PSR (Price Sales Ratio) - Representa a relação entre o valor da ação e as
vendas por ação.
𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶çã𝑜𝑜 𝐴𝐴𝐴𝐴𝐴𝐴𝐴𝐴𝐴𝐴
𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃𝑃 =
𝑉𝑉𝑉𝑉𝑉𝑉𝑉𝑉𝑉𝑉𝑉𝑉 𝑝𝑝𝑝𝑝𝑝𝑝 𝐴𝐴çã𝑜𝑜
Neste manual, estes indicadores não são aprofundados, pois raramente são utilizados
na avaliação económico-financeira de pequenas e médias empresas, já que requerem
os mesmos pressupostos que estão por base uma valorização no mercado bolsista, na
informação que as empresas cotadas estão obrigadas a fornecer ao mercado e no
controlo e supervisão das demonstrações contabilísticas.
Uma das limitações desta ótica, senão a maior, é não existirem duas empresas
exatamente iguais para que a comparação possa ser exata. Por mais semelhanças que
duas empresas possam ter, diferem sempre na dimensão, na quota de mercado, na
posição estratégica, na gama de produtos e negócios que oferecem, nas estruturas de
gastos, no tipo de instalações, na estrutura financeira ou na estrutura organizacional
(Ferreira, 2002). Esta situação, aquando da sua aplicação, pode levar a resultados
muitos díspares, já que não é possível testar a qualidade dos parâmetros utilizados.
Outro ponto menos positivo que se pode apontar a esta ótica, é a facilidade que
existe na sua manipulação, já que se pode ignorar deliberadamente os múltiplos que
não sirvam os objetivos propostos na avaliação e escolher aqueles que são mais
favoráveis (por exemplo, se o múltiplo do EBITDA dá um resultado negativo, utiliza-
se o indicador das Vendas para valorizar a empresa).
Como esta ótica se baseia em indicadores chave que são retirados das demonstrações
financeiras, tal como acontece na aplicação da Ótica Patrimonial, as informações
contabilísticas podem não revelar a realidade operacional da empresa e ser
necessária a realização de ajustamentos e correções, como indicado no ponto
“Correções às Demonstrações de Resultados”.
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Avaliação de Empresas
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS
A simplicidade advém de serem necessários apenas dois dados para se avaliar uma
empresa: (1) o multiplicador; e (2) o indicador de referência (Vendas, EBITDA, EBIT,
SDE).
De referir ainda que na aplicação desta metodologia, pode existir uma dificuldade
acrescida que se prende no acesso a bases de dados dos múltiplos com informação
histórica sobre as empresas/setores e informação sobre operações de transação de
empresas.
55
Avaliação de Empresas
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS
De acordo com o gráfico podemos observar que, caso a empresa não tivesse qualquer
dívida financeira, o valor da empresa seria igual ao valor dos Capitais Próprios.
Mesmo com as limitações identificadas nesta ótica, acaba por ser utilizada muitas
vezes de forma complementar a outras óticas de avaliação, servindo para justificar e
suportar os valores obtidos pela Ótica do Rendimento por exemplo (ótica que será
abordada no ponto seguinte).
Como não existem duas empresas iguais, de forma a não limitar o valor indicado pelo
múltiplo, normalmente calcula-se um intervalo de valores que possam ser adequados
na valorização de determinada empresa. Por vezes surge a indicação de que o
múltiplo de determinado tipo de negócio é de 4 a 5 vezes o EBITDA, já que,
dependendo das características de cada empresa, o valor pode alterar mesmo que
seja do mesmo setor, do mesmo negócio ou tenham inclusive estruturas
relativamente semelhantes.
56
Avaliação de Empresas
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS
57
Avaliação de Empresas
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS
4.1. INTRODUÇÃO
Esta nova ótica vem desenvolver um modelo de avaliação que permite ultrapassar
muitos dos inconvenientes encontrados nas óticas anteriores, em particular com a
inclusão de fatores relacionados com o risco económico e financeiro, a
desvalorização do dinheiro ao longo do tempo, o custo do capital, os investimentos
futuros necessários para o desenvolvimento da atividade da empresa e a gestão do
fundo de maneio (fatores que podem influenciar de forma significativa a valorização
de uma empresa).
De acordo com Ferreira (2002), este tipo de aproximação baseia-se no facto de que o
valor de um negócio deve ser determinado em função de três variáveis:
Para a aplicação desta metodologia, existem dois tipos de fluxos de caixa que podem
ser utilizados: (1) o FCFF - Free Cash-Flow to Firm (Fluxo de caixa operacional na
ótica da empresa); e (2) o FCFE - Free Cash-Flow to Equity (Fluxo de caixa
operacional na ótica do sócio ou acionista). Cada um destes fluxos de caixa tem
formas de cálculo distintas e são sujeitos a diferentes riscos, já que o FCFF é
descontado pelo custo médio ponderado do capital que representa o risco ponderado
associado às diferentes fontes de financiamento (Próprio e alheio) e o FCFE é
descontado pelo custo do Capital Próprio que representa o risco associado ao
investimento em capital (ambos os conceitos e formas de cálculo serão abordados nos
pontos seguintes deste manual).
58
Avaliação de Empresas
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS
Nos pontos seguintes serão explicadas as etapas da metodologia dos fluxos de caixa
descontados e a explicação das principais variáveis, conceitos e terminologias
necessárias para a realização da avaliação económico-financeira através desta ótica.
De referir ainda que as projeções financeiras da empresa devem ter por base o seu
posicionamento estratégico, as suas drivers de valor, a sua cadeia de valor, a
evolução da indústria e a evolução dos concorrentes.
59
Avaliação de Empresas
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS
RUBRICAS DO ATIVO
Para além do ativo já existente na empresa, o avaliador deve, junto dos responsáveis
da empresa, perceber quais os investimentos (CAPEX) que estão previstos realizar
durante o período previsional ou definir um nível de investimentos médio que garanta
a manutenção da atividade da empresa (tanto em ativos fixos tangíveis como ativos
intangíveis). A indicação de investimentos durante o período previsional é importante
para sustentar, por exemplo, aumentos da capacidade produtiva instalada e
consequentemente das vendas, e refletir a normal necessidade de investimento
recorrente para a manutenção da atividade, tal como acontece na realidade.
INVENTÁRIOS
No âmbito da avaliação, é crucial ter uma noção mais concreta do prazo médio de
inventários para um controlo efetivo da gestão de tesouraria da empresa, já que é
uma rubrica que influencia diretamente as necessidades de fundo de maneio. Para o
futuro, o analista deve considerar o prazo médio de inventários o mais próximo da
realidade da empresa e deve também tomar em consideração determinadas ações da
gestão operacional que possam influenciar positiva ou negativamente os pressupostos
históricos.
CLIENTES
Verificar se nesta rubrica existem valores que estão previstos serem liquidados ou se
existe tendência para o seu aumento ao longo do horizonte previsional. Para esta
rubrica, é importante considerar pressupostos nas projeções, já que a mesma
contribui para o cálculo das necessidades de fundo de maneio da empresa.
60
Avaliação de Empresas
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS
RUBRICAS DO PASSIVO
FORNECEDORES
Deve-se verificar se nesta rubrica existem valores com prazos de reembolso definidos
ou se existe tendência para o seu aumento ao longo do período. Para está rubrica, é
importante considerar pressupostos nas projeções, já que a mesma contribui para o
cálculo das necessidades de fundo de maneio da empresa.
61
Avaliação de Empresas
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS
Para as projeções futuras, o avaliador deve separar os custos empresariais dos custos
restritamente pessoais (não contabilizando estes últimos) e ajustar os custos para
valores de mercado caso estejam sub ou sobredimensionados.
32
Neste ponto podem ser utilizados as estatísticas da CAE de atividade da empresa que estão presentes
tanto no Instituto Nacional de Estatística (INE) como no Banco de Portugal (BdP).
62
Avaliação de Empresas
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS
Tal como abordado na Ótica de Mercado, na rúbrica de gastos com pessoal é natural
surgirem situações de sub e sobrevalorização face a parâmetros standards da
atividade/setor, nomeadamente em PME de base familiar.
OUTROS RENDIMENTOS
Nas projeções financeiras, nesta rubrica deve apenas estar contabilizado o que
advém da atividade operacional da empresa, devendo-se excluir os rendimentos
extra-exploração como por exemplo a renda de um imóvel que não está afetado à
atividade da empresa.
OUTROS CUSTOS
Tal como na rubrica anterior, devem apenas estar contabilizados os custos que são
provenientes da atividade operacional da empresa, devendo-se excluir os que sejam
considerados extra-exploração.
AMORTIZAÇÕES E DEPRECIAÇÕES
JUROS SUPORTADOS
63
Avaliação de Empresas
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS
Nesta rubrica o avaliador deve, nas projeções financeiras, considerar a taxa de IRC
(Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Coletivas) e a taxa de derrama. Caso a
empresa tenha a possibilidade de deduzir prejuízos fiscais, o analista deve também
considerar nas projeções financeiras.
Como vamos verificar mais adiante na explicação do cálculo dos fluxos de caixa
operacionais, a gestão do fundo de maneio é uma variável crítica numa empresa e
pode influenciar significativamente a sua valorização. De referir que esta é uma
variável que as outras óticas de avaliação não consideram.
(+) Inventários
(+) Clientes
(+) Adiantamento de Fornecedores
(+) Estado Outros Entes Públicos
(+) Outras Contas A Receber
(=) Necessidades (Ativo)
(+) Fornecedores
(+) Adiantamentos de Clientes
(+) Estado Outros Entes Públicos
(+) Outras Contas A Pagar
(=) Recursos (Passivo)
64
Avaliação de Empresas
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS
valorizando assim a empresa que consegue nesse período reter meios líquidos para
financiar a operação; por outro lado, considerando por exemplo um fornecedor de
um supermercado que recebe entre 60 a 90 dias mas que tem um prazo médio de
pagamentos de 30 dias, tem mais necessidades do que recursos, necessitando
constantemente de se financiar.
65
Avaliação de Empresas
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS
𝐹𝐹𝐹𝐹𝐹𝐹𝐹𝐹𝑛𝑛
𝑉𝑉𝑉𝑉 = ∑
(1 + 𝑇𝑇𝑇𝑇)𝑛𝑛
LEGENDA:
𝑽𝑽𝑽𝑽 = Valor económico da empresa;
𝑭𝑭𝑭𝑭𝑭𝑭𝑭𝑭 = Free Cash-Flow to Firm (Fluxo de caixa operacional na ótica da entidade no período n);
𝑻𝑻𝑻𝑻 = Taxa de atualização que reflete o risco associado aos fluxos de caixa estimados;
𝒏𝒏 = Representa o número do período.
De salientar, que através desta metodologia, quanto maior for o valor da taxa de
atualização (associada a um maior risco e incerteza), menor será o valor económico
da empresa.
Para a atualização dos FCFF deve ser utilizado o Custo Médio Ponderado do Capital
(WACC), que reflete a estrutura de financiamento da empresa que corresponde ao
custo médio ponderado entre o custo do Capital Próprio e o custo do Capital Alheio
que financiam a sua atividade. Face ao exposto o WACC pode ser calculado da
seguinte forma:
CUSTO CUSTO
CAPITAL PRÓPRIO CAPITAL ALHEIO
𝐶𝐶𝐶𝐶 𝐷𝐷
𝑊𝑊𝑊𝑊𝑊𝑊𝑊𝑊 = 𝑅𝑅 + 𝑅𝑅 (1 − 𝑡𝑡)
𝐷𝐷 + 𝐶𝐶𝐶𝐶 𝑒𝑒 𝐷𝐷 + 𝐶𝐶𝐶𝐶 𝑑𝑑
LEGENDA:
𝑾𝑾𝑾𝑾𝑾𝑾𝑾𝑾 = Weighted Average Capital Cost (Custo Médio Ponderado do Capital);
𝑪𝑪𝑪𝑪 = Capital Próprio;
𝑫𝑫 = Dívida Financeira;
𝑹𝑹𝒆𝒆 = Custo do Capital Próprio;
𝑹𝑹𝒅𝒅 = Custo do Capital Alheio;
𝒕𝒕 = Taxa de imposto sobre os lucros.
66
Avaliação de Empresas
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS
Porém, neste âmbito, para o cálculo do custo do Capital Próprio é amplamente usado
o modelo do CAPM, não só por ser comumente aceite pela comunidade académica e
profissional, como pela maior simplificação no cálculo face ao modelo do APT.
O princípio que orienta este modelo é a de que o investimento com capitais próprios
é compensado pelo risco não diversificável33. O modelo do CAPM contempla este risco
pela introdução do Beta (𝛽𝛽)34.
Assim, a fórmula do modelo do CAPM que tem por base o cálculo do Custo do Capital
Próprio é representado por:
LEGENDA:
𝑹𝑹𝒇𝒇 = Taxa de rendibilidade do ativo sem risco;
𝑹𝑹𝒎𝒎 = Rendibilidade esperada do mercado;
(𝑹𝑹𝒎𝒎 − 𝑹𝑹𝒇𝒇 ) = Prémio de risco esperado do ativo;
𝜷𝜷 = Medida de risco sistemático de um ativo, que afere a sensibilidade do ativo em relação ao mercado.
33
O risco não diversificável inclui os fatores sistemáticos que afetam todos os investimentos de uma
certa categoria. É também designado por risco de mercado (Ferreira, 2002).
34
É neste ponto que o cálculo do modelo do CAPM é mais simplificado face ao modelo APT, já que o
primeiro apenas estabelece uma relação entre a Beta e o Prémio de Risco, enquanto que o APT
incorpora diversos betas para determinar a sensibilidade das rendibilidades de um ativo a numerosos
fatores da economia (Ferreira, 2002).
67
Avaliação de Empresas
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS
O𝑹𝑹𝒇𝒇 é a taxa de rendibilidade obtida através de um ativo que não apresenta risco de
default (não pagamento). Esta taxa está normalmente associada às taxas dos títulos
de dívida dos Estados Soberanos, por se considerar que são o ativo com menor risco
possível.
Os analistas defendem que a taxa de rendibilidade do ativo sem risco deve ser dada
pela taxa de juro das Obrigações de Tesouro de longo prazo, pois ajusta-se mais ao
período de vida útil da empresa que se está a avaliar; já que o modelo introduz o
conceito de continuidade (Valor para a perpetuidade). Na análise de empresas
portuguesas utiliza-se habitualmente as taxas de rendibilidade das Obrigações do
Tesouro (OT) a 10 anos do Estado Português.
𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶(𝑅𝑅𝑒𝑒 , 𝑅𝑅𝑚𝑚 )
𝛽𝛽 =
𝑉𝑉𝑉𝑉𝑉𝑉 (𝑅𝑅𝑚𝑚 )
LEGENDA:
𝜷𝜷 = Medida de risco sistemático de um ativo, que afere a sensibilidade do ativo em relação ao mercado;
𝑹𝑹𝒆𝒆 = Taxa de rendibilidade do ativo individual;
𝑹𝑹𝒎𝒎 = Taxa de rendibilidade do mercado;
𝑪𝑪𝑪𝑪𝑪𝑪 = Covariância;
𝑽𝑽𝑽𝑽𝑽𝑽 = Variância.
35
Por exemplo, no website (http://pages.stern.nyu.edu/~adamodar/) está disponível informação sobre
os Betas (alavancado e desalavancado) dos principais setores de atividade das regiões do globo com
maior liquidez.
68
Avaliação de Empresas
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS
Para uma melhor compreensão deste conceito, os valores que o Beta pode ter podem
ser interpretados das seguintes formas:
(1) Beta Alavancado (Levered Beta) obtido através da fórmula acima descrita e
representa uma medida de risco que inclui o impacto da estrutura de capital
próprio e alavancagem da empresa/setor;
(2) Beta Desalavancado (Unlevered Beta) que representa uma medida de risco
que inclui o impacto da estrutura de capital, expurgado da alavancagem de uma
empresa/setor. Pode-se obter este Beta, desalavancando o Beta alavancado
através da seguinte fórmula:
𝛽𝛽𝛽𝛽
𝛽𝛽𝛽𝛽 =
𝐷𝐷
(1 + ((1 − 𝑡𝑡) ∗ 𝐶𝐶𝐶𝐶))
LEGENDA:
𝜷𝜷𝜷𝜷 = Beta Desalavancado;
𝜷𝜷𝜷𝜷 = Beta Alavancado;
𝑪𝑪𝑪𝑪 = Capital Próprio;
𝑫𝑫 = Dívida Financeira;
𝒕𝒕 = Taxa de imposto sobre os lucros.
𝐷𝐷
𝛽𝛽𝛽𝛽 = 𝛽𝛽𝛽𝛽 (1 + ((1 − 𝑡𝑡) ∗ ))
𝐶𝐶𝐶𝐶
LEGENDA:
𝜷𝜷a = Beta Alavancado da empresa alvo de avaliação;
𝜷𝜷𝜷𝜷 = Beta Desalavancado do setor;
𝑪𝑪𝑪𝑪 = Capital Próprio da empresa alvo de avaliação;
𝑫𝑫 = Dívida Financeira alvo de avaliação;
𝒕𝒕 = Taxa de imposto sobre os lucros.
69
Avaliação de Empresas
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS
De acordo com esta abordagem, o Beta utilizado para o cálculo do CAPM será maior,
quando maior for o endividamento da empresa.
De referir ainda que, caso a empresa ou grupo de empresas a avaliar tenha mais do
que um negócio e que sejam bastante distintos, o Beta calculado deverá ser uma
média dos Betas de cada um dos negócios, ponderado pelo peso de cada um dos
negócios na atividade global da empresa ou grupo de empresas.
(1) A volatilidade da economia na qual o ativo está inserido (países com maior
volatilidade da economia têm prémios de risco superiores a países mais
estáveis);
(2) Risco Político e Social do país no qual o ativo está inserido (países com
instabilidade politica e social têm prémios de risco mais elevados);
(3) Composição do Mercado no qual o ativo está inserido (mercados com reduzida
diversificação de empresas no mercado de capitais, normalmente têm
prémios de risco mais elevados).
Diversos autores sugerem que o prémio de risco a utilizar deve estar entre os 5% e os
7%, contudo existem fontes de informação que calculam o prémio de risco do Capital
(Equity Risk Premium) para cada país, no qual se encontra Portugal. Aswath
Damodaran disponibiliza no seu website36 esta informação por país, fazendo o cálculo
com base nas respetivas taxas de juro das obrigações do tesouro de longo prazo e no
rating de risco de crédito indicado pelas agências de rating37.
36
No link (http://twixar.me/DlS1) do website de Damodaran está disponível informação sobre o prémio
de risco do capital por país (Equity Risk Premium).
37
Como por exemplo a Standard & Poor’s ou a Moody’s.
70
Avaliação de Empresas
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS
O cálculo do custo do capital alheio pode ser obtido através da seguinte fórmula:
LEGENDA:
𝑹𝑹𝒅𝒅 = Custo do Capital Alheio;
𝑻𝑻𝑻𝑻 𝑬𝑬𝑬𝑬𝑬𝑬𝑬𝑬𝑬𝑬𝑬𝑬𝑬𝑬 = Taxa Euribor a 12 meses;
𝑺𝑺𝑺𝑺𝑺𝑺𝑺𝑺𝑺𝑺𝑺𝑺 = Taxa spread praticada nos financiamentos de longo prazo;
𝒕𝒕 = Taxa de imposto sobre os lucros.
Por outro lado, para o cálculo do custo do capital alheio, nomeadamente quando a
empresa já recorre historicamente a esta fonte de financiamento, o avaliador pode
realizar uma média do custo do capital alheio ponderada dos financiamentos já
contraídos ou simplesmente fazer a divisão entre os custos financeiros totais e o total
da dívida remunerada.
𝐹𝐹𝐹𝐹𝐹𝐹𝐹𝐹𝑛𝑛 × (1 + 𝑔𝑔)
𝑉𝑉𝑉𝑉 =
𝑊𝑊𝑊𝑊𝑊𝑊𝑊𝑊 − 𝑔𝑔
LEGENDA:
VP = Valor para a Perpetuidade;
FCFF = Free Cash-Flow to Firm (Fluxo de caixa operacional na ótica da entidade);
WACC = Weighted Avarage Cost of Capital (Custo Médio Ponderado do Capital);
g - Taxa de crescimento sustentável para a perpetuidade.
38
Podem existir empresas ou negócios que têm um período finito de vida pré-definido; por exemplo uma
empresa que foi criada com um objetivo único de exploração de um determinado espaço por um período
limitado.
71
Avaliação de Empresas
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS
No limite, caso a empresa já esteja numa fase madura, com um crescimento estável
e sustentável que não faça variar significativamente os fluxos de caixa, o valor da
empresa pode ser obtido aplicando unicamente o valor para a perpetuidade.
O Valor para a perpetuidade tem por base um crescimento sustentável para o futuro
(após horizonte temporal definido); essa taxa de crescimento sustentável esperada
para a perpetuidade (g) pode ser obtida através da seguinte fórmula (Ferreira, 2002):
𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝐸𝑛𝑛−1 (1 − 𝑡𝑡)
𝑅𝑅𝑅𝑅𝑅𝑅 =
𝐴𝐴𝐴𝐴𝐴𝐴𝐴𝐴𝐴𝐴𝑛𝑛−1
LEGENDA:
ROA = Return of Asset;
EBIT = Earnings Before Interest and Taxes que significa “Resultados antes de juros e impostos”;
t = taxa de imposto sobre o rendimento;
Ativo = Valor do total do ativo contabilístico.
72
Avaliação de Empresas
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS
39
Dado que os períodos projetados estão normalmente em anos, a data de referência da avaliação
utilizada é habitualmente o último ano fiscal fechado.
73
Avaliação de Empresas
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS
De acordo com o gráfico podemos observar que, caso a empresa não tivesse qualquer
dívida financeira, o valor da empresa seria igual ao valor dos Capitais Próprios.
40
Corresponde a todos os ativos fixos tangíveis que sejam propriedade da empresa mas que não estejam
afetos à sua atividade, à data de referência da avaliação.
41
Corresponde a todos as fontes de financiamento de capital alheio (desde financiamentos bancários a
empréstimos de sócios), à data de referência da avaliação.
42
Corresponde a todos os meios líquidos da empresa que não sejam necessários para a gestão normal e
corrente da empresa, nomeadamente os meios líquidos em depósitos a prazo e outras aplicações
financeiras de elevada liquidez (na prática corresponde a valores acumulados de riqueza que foi criada
pela empresa), à data de referência da avaliação.
74
Avaliação de Empresas
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS
75
Avaliação de Empresas
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS
definido: (1) Período de reembolso: 72 meses; (2) Taxa Spread de 3,0% + Taxa
Euribor de 0,0% por se encontrar negativa;
• Prémio de Risco (Rm – Rf) – Considerou-se Prémio de Risco (Total Equity Risk
Premium) de 9,02% para Portugal (Fonte: Damodaran)
43
Para este exemplo, para simplificação considerou-se um valor fictício para o beta desalavancado.
44
Considerou-se a taxa de 1,0% pela sua razoabilidade, já que pelo cálculo da taxa pela fórmula do ROA,
a taxa é de 12,0% (valor que se considera demasiado elevado como taxa de crescimento sustentável para
a perpetuidade).
76
Avaliação de Empresas
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS
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Avaliação de Empresas
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS
78
Avaliação de Empresas
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS
Cálculos a salientar:
Pode-se observar pelos resultados que o Valor para a Perpetuidade tem um peso de
81,5% do valor total, enquanto que o somatórios dos FCFF dos 3 anos previsionais
perfazem apenas 18,5%. Esta é uma situação em que o valor da empresa sofre uma
influência significativa da componente da perpetuidade, mesmo com uma taxa de
crescimento sustentável de apenas 1,0%.
79
Avaliação de Empresas
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS
Podemos então concluir que de acordo com estes resultados, o Valor da Empresa
(Enterprise Value) é de 319.454 euros, enquanto que o Valor para o sócio ou
acionista (Equity Value), após dedução da dívida financeira líquida, é de 244.454
euros.
80
Avaliação de Empresas
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS
Por outro lado, para além do risco de incerteza que a definição de pressupostos
futuros introduz, a mesma também pode variar de avaliador para avaliador. Na maior
parte das vezes, se confrontarmos os trabalhos de dois avaliadores independentes
sobre a mesma empresa, as probabilidades de terem opiniões diferentes
relativamente às estimativas e às variáveis que mais irão influenciar a avaliação são
muito elevadas; a experiência, o conhecimento, a abordagem aos inputs e mesmo o
bom senso são fatores que podem influenciar um avaliador na definição dos fluxos de
caixa futuros.
Para além dos pressupostos dos fluxos de caixa previsionais, outra componente que
pode ser discutida é a taxa de atualização utilizada na avaliação de PME. Na prática,
os fluxos de caixa de uma empresa de pequena dimensão e consequentemente com
maior risco, deve ser atualizada a uma taxa de desconto superior a uma grande
empresa, contudo o custo médio ponderado do capital depende de algumas variáveis
que advém de informações de empresas cotadas e dos mercados financeiros.
Ainda no âmbito das limitações, há que voltar a referir a influência que o valor para
a perpetuidade pode ter na avaliação de uma empresa. Na prática, o valor da
empresa é muito sensível à taxa de crescimento sustentável para a perpetuidade (g)
e, quanto maior esta taxa, maior o peso desta componente no valor final. Assim,
para que a valorização não seja enviesada e demasiado otimista por causa desta
componente, é importante ser conservador na definição da taxa “g”.
O ideal será, com estas variações e análises de sensibilidade, determinar, tal como
na Ótica de Mercado, um intervalo de valores que pode representar o valor
económico da empresa e o respetivo valor dos capitais próprios.
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Avaliação de Empresas
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS
Outra das vantagens face às restantes óticas de avaliação, é a inclusão das variáveis:
(1) Investimentos (CAPEX); e (2) gestão de fundo de maneio, que em certas situações
podem ter uma influência significativa no valor.
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(5) A metodologia deve ser bem aplicada (cálculo do fluxo de caixa e a sua
consistência, cálculo do taxa de atualização e tratamento do valor residual).
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ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS
Por outro lado, uma empresa madura que apresente uma atividade muito estável,
apresentará à partida valores semelhantes, tanto o resultado da Ótica do Rendimento
como da Ótica de Mercado; esta situação pode ocorrer, principalmente numa
empresa que não apresente variações significativas das necessidades de fundo de
maneio e realize apenas investimentos para manutenção da atividade.
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ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS
BIBLIOGRAFIA
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Trabalhadoresdeindependentes
Consolidação - Enquadramento
contas e método de equivalênciacontributivo
patrimonial
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS
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