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Índice

Valuation como ferramenta de gestão


para investimentos
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Principais modelos de Valuation


página 7

Case Magazine Luiza


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Esse ebook foi elaborado pela Trevisan Escola de Negócios, uma das instituições de
ensino mais tradicionais voltada para gestão de negócios e contabilidade, e foi editado
e revisado pela equipe do Valor Investe, site de investimentos do Valor Econômico.
Valuation como
ferramenta de gestão
para Investimentos

1
Você pode não perceber, mas muitas vezes o Valuation está presente no seu dia a
dia. O nome em inglês pode não dizer muito pra você, mas quando você quer com-
prar um terreno ou uma casa, por exemplo, é comum que faça uma comparação
do imóvel de interesse com outro da mesma região – avaliando a localização, área
útil e condições estruturais. Desse jeito, ainda que de uma maneira simplificada,
você consegue chegar a uma faixa de valor — às vezes usando uma métrica que
compara o valor por metro quadrado de cada imóvel, por exemplo —, avalia se o
preço da casa está num intervalo que considera justo e, então, fecha ou não o ne-
gócio.

Quando um pequeno empresário está decidindo comprar ou vender uma padaria


ou um restaurante de bairro, não é muito diferente. É comum que se use referên-
cias de transações anteriores, de negócios semelhantes na mesma região, para
saber quanto vale aquele estabelecimento. O faturamento mensal, em muitos
casos, acaba sendo a referência para determinar o preço da transação.

Da mesma maneira, mesmo sem saber, esses pequenos empresários estão


usando uma técnica de valuation comparativo para tomar a decisão de com-
prar ou vender um negócio.

Quando se sai desse universo mais próximo do nosso cotidiano, você vai notar que
esse mesmo tipo de métrica — de uma maneira mais refinada, como explicaremos
nesse eBook — pode ser usada como uma das formas de se medir o valor de uma
empresa com ações negociadas na bolsa de valores.

Neste último caso, porém, existe uma diferença bastante clara, que é a existência
do preço pelo qual as ações dessas companhias são compradas e vendidas por in-
vestidores, e que aparece nas telas de negociação e no seu homebroker.

É importante que você saiba desde já, contudo, que por mais que preço e valor
pareçam ter o mesmo significado, esses são dois conceitos totalmente diferentes.
Para os investidores que tomam decisões tendo como base a chamada análise
fundamentalista, PREÇO é aquilo que se paga e VALOR é aquilo que se leva
dentro do pacote adquirido.

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Em tese, você deve sempre buscar comprar ativos (ou ações) cujo preço seja infe-
rior ao valor intrínseco (real) — ou seja, qual o valor justo, considerando os funda-
mentos daquele negócio. No longo prazo, o preço (cotação do papel) tenderia a se
aproximar do valor real. Na teoria parece fácil. Você compra a ação mais barato que
seu valor real de fato, e espera o restante dos agentes de mercado se darem conta
disso.

Quando isso ocorre, a ação sobe e você ganha dinheiro. Mas tem um pequeno pro-
blema. Se o preço das ações na bolsa está disponível na tela de cada homebroker,
o valor instrínseco depende da percepção de cada investidor ou analista.

Para calcular esse valor real de uma empresa é preciso levar em con-
sideração diferentes aspectos que afetam o negócio dela, e investi-
gar todos eles a fundo.

Considerando o mesmo exemplo anterior, imagine que você precise comprar um


terreno para a construção de um edifício comercial. Por se tratar de um investi-
mento alto, você deverá levar em consideração algumas premissas, como a ex-
pectativa de crescimento da região, acessos e vias que ligam a cidade, o relatório
de sondagem do solo, além do impacto ambiental e de vizinhança que o empreen-
dimento pode causar.

Essas premissas estão diretamente ligadas ao valuation intrínseco e a sua com-


plexidade vai depender da quantidade de variáveis que deseja considerar.

No caso de uma empresa, entre os fatores que afetam seu valor real estão o setor
de atuação, diferenciais competitivos, cenário de concorrência, planos de cresci-
mento, equipe de gestão, gestão de custos, além de fatores macroeconômicos de
cada país, para citar apenas alguns itens.

Aí você pensa: será que decidir comprar uma ação apenas porque ela tem tido va-
lorizações sucessivas na bolsa é uma boa ideia? Será que elas já estão caras
demais? Ou o movimento de valorização continuará?

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Ou no sentido inverso, se uma ação caiu muito, será que ela ficou barata e é hora
de comprar, porque o preço retornará ao patamar anterior? Ou será que a ação se
desvalorizou porque virou um mico e deve ser rejeitada?

Não é possível responder a nenhuma dessas questões sem fazer a comparação


citada alguns parágrafos acima. Quando dizemos que uma ação subiu ou caiu es-
tamos falando do preço dela. Falta, em cada questionamento desses, comparar
esse preço com o valor real do negócio. E é para te ajudar a dar algumas refe-
rências sobre como calcular esse valor que fizemos esse eBook.

Como, então, buscar as informações necessárias


para investir de forma rentável?

Primeiro, deve-se conhecer o valor real (instrínseco) da empresa que deseja inves-
tir, e o que de fato significa esse valuation, ou como ele pode te ajudar a tomar uma
decisão sobre comprar, manter ou vender uma ação.

O termo em inglês “valuation” poderia ser traduzido como “avaliação da empresa”


ou simplesmente como o “valor da empresa”. Mas em vez de apenas repetir uma
expressão sem entender bem do que se trata, é importante entender que essa
técnica envolve várias perspectivas.

O valuation é um processo por meio do qual se estima o valor de um negócio, com


base em diferentes premissas de quem faz essa análise (o que deixa claro que se
trata de uma metodologia um tanto quanto subjetiva, e que depende de conheci-
mento sobre economia e sobre o negócio da companhia que se pretende avaliar).
E não existe uma única maneira ou técnica para se estimar o valor de uma empre-
sa. Aqui abaixo, listamos algumas delas.

1 Fluxo de Caixa Descontado (DFC, na sigla em inglês)


2 Múltiplos de mercado
3 Valuation Contábil
4 Valuation de Liquidação
5 Avaliação por direitos contingentes (opções)

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Os principais
modelos de Valuation

2
1 Fluxo de caixa
descontado
O fluxo de caixa mede a entrada e saída
de dinheiro no caixa, durante um deter-
minado período. A premissa básica
dessa técnica de avaliação de negócios é que uma empresa vale quanto ela pode
gerar de caixa — leia-se dinheiro para o acionista — ao longo do tempo. Logo, o
modelo de avaliação por Fluxo de Caixa Descontado tem como objetivo fazer uma
projeção do que a empresa poderá produzir de fluxo de caixa no futuro, conside-
rando tanto quanto ela obtém de recursos na operação, como também os investi-
mentos que serão necessários para realizar esse objetivo.

A expressão “descontado” se deve ao fato de que os fluxos de caixa futuros preci-


sam ser descontados por uma taxa (o custo de capital da empresa), dado que R$
1 milhão daqui a 5 anos ou 10 anos não podem ser somados diretamente com R$
1 milhão de hoje.

De acordo com Koller 1, Goedhart e Wessels, existem quatro argumentos para se


usar o método de DFC:

1 - As expectativas, e não 2 - O método leva em conta o


o desempenho absoluto, crescimento futuro da com-
são mais importantes para panhia e os capitais investi-
o retorno do investidor; dos;

3 - O mercado precifica muito


4 - O resultado de longo
mais que os lucros correntes da
prazo é tão ou mais im-
companhia. Eles também ava-
portante que os resulta-
liam os resultados econômicos
dos de curto prazo.
subjacentes;

1
Koller, Tim, Marc H. Goedhart, David Wessels. Valuation: Measuring and Managing the Value of Companies.
8
Hoboken, N.J: John Wiley & Sons, 2015.
Mas é importante destacar que o modelo DFC pode não ser tão preciso, já que as
suas projeções são baseadas em muita subjetividade – quanto a empresa irá
crescer a cada ano, qual será sua margem, qual a taxa de desconto a ser usada
para os fluxos de caixa futuros etc. Além disso, quanto maior for o tempo de proje-
ção, menos precisas são as estimativas para a geração de caixa de determinada
companhia.

A avaliação por meio do Fluxo de Caixa Descontado pode ser dividida em: análise
do desempenho histórico; estimativa do custo do capital (chamado de WACC), isso
é, a expectativa de retorno de quem financia a companhia (como acionista ou
credor); previsão do desempenho no curto e médio prazo; estimativa do valor con-
tínuo (perpetuidade); e cálculo e interpretação de resultados.

Para fazer a análise e as projeções, é importante ter claro que toda empresa pro-
cura obter fluxos positivos de caixa com suas operações ao longo do tempo, mas
que também pode gerar ou depender de injeção de caixa com atividades de finan-
ciamento e/ou investimento. Ou seja, esses demais aspectos, como necessidade
de financiamento, pagamento de juros, investimento ou desinvestimentos, entre
outros fluxos, devem ser levados em conta nas projeções.

Para conseguir avaliar uma empresa pelo método do fluxo de caixa descontado,
portanto, você deve dominar os conceitos contábeis, conseguir analisar as de-
monstrações financeiras da companhia e também conhecer bem seu setor de
atuação e modelo de negócios, para que possa projetar expectativa de cresci-
mento, margem, necessidade de investimento em ativos fixos e capital de giro, a
fim de estimar qual será seu fluxo de caixa a cada ano.

Feito isso, precisa saber calcular a taxa pela qual esses fluxos futuros de caixa
serão trazidos ao valor de hoje, para chegar na estimativa de quanto vale a empre-
sa, e também sua a ação. Embora não seja uma tarefa fácil, ela pode ser aprendida
com dedicação e esforço.

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2 Múltiplos
de mercado
Múltiplos são indicadores que medem
algum aspecto relacionado aos núme-
ros de informações financeiras ou
mesmo gerenciais de uma empresa.

A principal razão para se avaliar múltiplos de valor de mercado é que eles são com-
plementares ao método de Fluxo de Caixa Descontado. Neste modelo, normal-
mente comparamos os múltiplos da empresa que queremos avaliar aos de empre-
sas do mesmo setor. Porém é importante lembrar que as companhias são diferen-
tes, e que estas comparações se referem a períodos, que estão relacionados às di-
vulgações dos relatórios financeiros e gerenciais.

Uma medida bastante comum, por exemplo, é relacionar o valor de mercado de


uma companhia (que se obtém pela multiplicação do preço da ação pela quanti-
dade de ações emitidas) com seu lucro líquido. Exemplo: se uma empresa de
varejo de vestuário ABC lucra R$ 100 milhões por ano e tem valor de mercado
de R$ 500 milhões na bolsa, é possível dizer que o múltiplo que compara seu
“preço” (P) com seu “lucro” (L) é de 5 vezes. No jargão do mercado, diz-se que a
empresa ABC tem um múltiplo P/L de 5 vezes.

Numa forma simplificada, significa dizer que, se a empresa distribuísse todo o lucro
na forma de dividendos aos acionistas, o investidor teria retorno (payback) do in-
vestimento em cinco anos. Por essa lógica, ao menos em tese, quanto maior o
múltiplo, a empresa está mais cara (porque o retorno do acionista demoraria mais
anos para ocorrer), e vice-versa.

Já se uma concorrente dessa varejista, a empresa XYZ, tem lucro anual


de R$ 200 milhões, qual seria um bom palpite para seu valor de mercado?

Se o mesmo múltiplo de 5 vezes fosse aplicado, a resposta seria algo em torno de


R$ 1 bilhão. E aqui é claro que esse não seria o único fato a ser levado em conside-

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ração para tomada de decisão de comprar, manter ou vender uma ação ou dizer se
ela está cara ou barata. Até porque uma empresa pode ter um diferencial competi-
tivo em relação à competidora. Mas quando se observa a realidade de mercado, o
que se nota é que, normalmente, os múltiplos de empresas do mesmo setor
tendem a ficar próximos ao longo do tempo.

As discrepâncias (com empresas do mesmo setor com múltiplos muito diferentes)


são raras ou, quando existem, não costumam durar para sempre sem que haja um
bom motivo. E embora não haja uma receita de bolo aqui, trata-se de um método
simples (ainda que não muito preciso) para se ter uma ideia de quanto vale um ne-
gócio.

E a conta não precisa ser feita só com base no lucro líquido. Um dos indicadores
muito considerados nos modelos de avaliação por Múltiplos de Mercado é o
EBITDA, que é a sigla em inglês para o lucro antes do resultado financeiro, dos tri-
butos sobre o lucro, da depreciação e da amortização de uma companhia,
2
também chamado de LAJIDA, em português. De acordo com Reinaldo Luiz Lunelli
, EBITDA representa o potencial de geração operacional de caixa da companhia,
ou seja, o quanto a empresa pode gerar de recursos apenas em suas atividades
operacionais, sem levar em consideração os efeitos financeiros e de impostos
(além da necessidade de investimento em capital de giro).

Embora lucro e EBITDA sejam as medidas mais usadas para múltiplos, é possível
fazer essa conta com o lucro operacional, receita, ou mesmo com medidas geren-
ciais, como área bruta locável de shoppings ou empresas de properties, com
número de lojas para varejistas, banco de terrenos para incorporadoras, reservas
de barris para petroleiras e assim por diante – lembrando que estamos falando
aqui de uma medida a mais (e não única) para a tomada de decisão.

2
http://www.portaldecontabilidade.com.br/tematicas/calculodoebitda.htm.

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Que método escolher e como fazer as contas?

Como dissemos alguns parágrafos acima, o valuation é um processo, sem uma


resposta única. A melhor maneira de um investidor buscar o valor instrínseco ou
valor real de uma empresa é usar o máximo de informações disponíveis de que
dispuser sobre aquela empresa. Se você tem as ferramentas, portanto, use todas
as que tiver.

Em outras palavras, a combinação de diferentes métodos (como o Fluxo de Caixa


Descontado e dos Múltiplos) te ajuda a chegar numa faixa mais confiável para esse
valor real. E isso pode incluir tanto as suas próprias avaliações (se você souber
fazer esses cálculos), como também a combinação ou comparação de análises
feitas por diferentes agentes, que devem ser analisadas de maneira crítica para a
tomada de posição.

O que talvez tenha ficado claro até aqui é que, para dar seus primeiros passos nas
técnicas de valuation você vai precisar, pelo menos, dominar alguns conceitos de
contabilidade, aprender a fazer análise de demonstrações financeiras e também
aprender a projetar fluxos de caixa futuros das companhias, para poder fazer as
contas.

Na próxima seção deste eBook, vamos apresentar um breve caso prático, a fim de


dar exemplos e suscitar alguns questionamentos sobre valuation.

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Case
Magazine Luiza

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3 Case: Magazine Luiza
A Magazine Luiza é uma rede varejista brasileira de eletrônicos e móveis. Foi fun-
dada por Luiza Trajano Donato e Pelegrino José Donato em 1957, na cidade de
Franca em São Paulo. Entre a mínima no fim de 2015 e a máxima no início de 2020,
suas ações chegariam a subir mais de 48.000%.

É isso mesmo, quem investisse R$ 100 nas ações da empresa na mínima teria
obtido pouco mais de R$ 49 mil se vendesse no pico. O que será que aconteceu?

Em dezembro de 2015, a Família Trajano vivenciava o pior momento da cotação de


suas ações na Bolsa de Valores, com cada ação em torno de R$ 0,12 (em valores
ajustados por dividendos e desdobramentos). Isso mesmo, as ações valiam
apenas centavos de real.
Gráfico 01 – Evolução das Ações da Magalu

Fonte: B3 e Valor PRO

No Gráfico 01, vemos o cenário de dezembro de 2015, quando a ação estava num
dos momentos de maior baixa da história da empresa. O preço chegou a evoluir
um pouquinho em 2016, ano em que a economia do país estava numa situação
também de muita instabilidade.

Mas como imaginar que, em quatro anos, a Magazine Luiza daria uma volta astro-
nômica e apresentaria um crescimento fantástico em suas ações, como tem apre-
sentado até então? (sem considerar a queda após a pandemia do coronavírus).

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Demonstrações Financeiras
As Demonstrações Financeiras das empresas nos ajudam a entender bastante
sobre seus negócios, e analisa-las é o passo numero um para quem quer avaliar
uma companhia. Também conhecidas como demonstrações contábeis, elas são
compostas por Balanço Patrimonial, Demonstração de Resultados do Exercício
(DRE), Demonstração de Fluxos de Caixa, notas explicativas e relatório de admi-
nistração.

O objetivo principal das Demonstrações Financeiras é retratar a performance fi-


nanceira e a evolução patrimonial e de caixa de uma empresa para seus acionistas
e credores. As Demonstrações são obrigatórias por lei para empresas constituídas
como S.A. no Brasil e tem divulgação trimestral mandatória para as companhias
abertas com registro na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que é o caso de
todas as empresas com ações negociadas em bolsa.

Esse é o principal (mas não o único) documento por meio do qual acionistas atuais
e potenciais sócios de companhia podem compreender a evolução financeira das
empresas com ações listadas na B3 e tomar decisões que envolvam os recursos
da empresa com mais segurança e efetividade.

Balanço Patrimonial
O balanço patrimonial tem como objetivo fornecer um quadro da situação finan-
ceira e patrimonial de uma empresa nas datas de fechamentos contábeis (a cada
fim de trimestre no caso das companhias abertas brasileiras). Ele lista de que ma-
neira a companhia investe (ou aloca) seus recursos (do lado dos ativos) e também
como aquela empresa é financiada, seja em termos de perfil (quanto de acionistas
e quanto de credores), e em que condições e prazos – do lado dos passivos.
Gráfico 02 – Evolução do ativo total e patrimônio líquido

Fonte: Valor PRO 15


Ilustração 1 – Histórico do Balanço Patrimonial da Magazine Luiza

Fonte: Valor PRO

Demonstrações Financeiras
O Gráfico 1 mostra, de forma sintética, a evolução de duas das principais contas
do balanço patrimonial de uma empresa. No caso da Magazine Luiza, ele nos pos-
sibilita algumas conclusões. A primeira é que a empresa vem crescendo ano a ano
de forma expressiva e consistente no tempo. Entre dezembro de 2015 e dezembro
de 2019, os ativos totais da companhia praticamente se multiplicaram por 4 vezes,
saindo de R$ 5,5 bilhões para quase R$ 20 bilhões. A segunda, a partir do cresci-
mento do patrimônio líquido da companhia, é que seus sócios vem investindo na
empresa – seja via retenção de lucros ou de aumentos de capital.

Já a Ilustração 1, que traz os dados do balanço patrimonial, nota-se que a as


contas de “créditos (contas a receber)”, estoques e imobilizado são as principais do
lado do ativo, em linha com o que se espera de uma empresa de varejo. É possivel
observar também um valor elevado, de aproximadamente R$ 4,7 bilhões, quando
se soma a linha de caixas e aplicações financeiras, em dezembro de 2019. A cifra é
bem maior que a observada nos anos anterioes, e coincide com um aumento do
capital social promovido pelos sócios. e quanto de credores), e em que condições
e prazos – do lado dos passivos.

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Na Tabela 1 é possível observar que a empresa tinha liquidez corrente de 1,60 em
dezembro de 2019, o que significa que para cada 1 real em compromissos de curto
prazo, a empresa tem 1,60 em ativos que já são caixa ou se tornarão caixa em até
12 meses. É possível percebr ainda ainda que o indicador de dívida líquida (sem
considerar arrendamento) tem sinal negativo, o que significa que a disponibilidade
de caixa e aplicações financeiras da empresa é superior ao volume de emprésti-
mos e financiamentos que aparecem no passivo.
Tabela 01 – Indicadores de liquidez e endividamento

Fonte: Valor PRO

Demonstração de Resultados do Exercício


Embora o termo “balanço” seja o mais popular, a Demonstração de Resultados do
Exercício (DRE) é a peça contábil mais analisada por investidores. Afinal, é ela que
mostra a evolução das vendas e do lucro líquido das companhias, que são a base
para distribuição de dividendos.

No caso da Magazine Luiza, a exemplo do que foi possível observar no balanço pa-
trimonial, a análise histórica da DRE mostra um salto da receita líquida, que mais
do que dobrou entre 2015 e 2019. E os dados dos gráficos 3 e 4 mostram que a
empresa conseguiu fazer isso segurando as margens bruta e operacional e até
aumentando de forma sensível a margem líquida (conta que resulta da divisão do
lucro líquido pela receita líquida).

Gráficos 3 e 4 – Análise da Demonstração de Resultados e das margens

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Fonte: Valor PRO

Tabela 2 – Evolução dos dados da Demonstração de Resultados e margens

Fonte: Valor PRO

Essa análise histórica é importante para se observar a consistência dos resultados


obtidos por uma companhia. Afinal, como projetar seus fluxos de caixa futuros se
você sequer conhece o desempenho da companhia?

Exemplo prático: se você tiver que projetar a margem bruta da Magazine Luiza,
um bom primeiro passo seria um intervalo entre 28% e 31%, a não ser que você
tenha informações sobre mudança no cenário macroeconômico ou concorrencial
que justifique um índice diferente.

Também a partir da DRE, em combinação com o balanço patrimonial, é possível


calcular o retorno sobre o patrimônio líquido de uma companhia, também
chamado de ROE, da sigla em inglês para return on equity. Essa medida é obtida
pela divisão do lucro líquido de 12 meses pelo patrimônio líquido (normalmente
usa-se a média do início e fim do período no denominador).

Essa é uma maneira de saber, por exemplo, se a empresa dá


para seus acionistas (de forma geral) um retorno absoluto re-
levante e se ele é compatível com o risco.

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Para ser sustentável ao longo do tempo, uma companhia precisa gerar retorno ao
acionistas acima do custo de oportunidade de outras aplicações, sempre ponde-
rando pelo risco.

No caso da Magalu, percebemos que o ROE de 2017 e 2018 fico entre 28,9% e
27,3%, bastante expressivo em termos absolutos, e muito acima da taxa de juros
básica da economia nesses anos, que foi de 9,94% e 6,40%, respectivamente. Em
2019, o ROE da Magazine Luiza diminuiu para 18,7%, mas vale notar que ele só ficou
menor porque o patrimônio líquido (que entra no denominador) aumentou subs-
tancialmente devido a um aumento de capital realizado no fim daquele ano.

Gráfico 5 – Evolução das Ações da Magalu

Fonte: Valor PRO

Demonstrações do Fluxo de Caixa


O Demonstrativo de Fluxo de Caixa tem a característica de informar onde os valo-
res realizados pela empresa foram aplicados (ou de onde eles vieram, no caso de
entradas), sendo divididos em: atividades operacionais, de investimento e de fi-
nanciamento.

Gráfico 6, 7 e 8 – Evolução das principais contas da Demonstração do Fluxo de Caixa

Fonte: Valor PRO


19
Fonte: Valor PRO

Tabela 3 – Evolução do fluxo de caixa – por origem

Fonte: Valor PRO

Como havíamos notado no item anterior, o fluxo de caixa das atividades de “finan-
ciamento” foi relevante em 2019, e confirma que a empresa fez uma chamada de
capital relevante, em uma operação chamada de follow on, com emissão de novas
ações.

Já a análise das atividades de investimento mostra que a empresa está constan-


temente empregando capital em planos de expansão, e que aumentou os aportes
em 2019, quando realizou o follow on. No caso das atividades operacionais, o que
se nota é uma geração contínua de caixa ao longo dos anos, o que mostra que a
companhia está conseguindo ganhar dinheiro com sua atividade principal, e que
esse dinheiro vinha sendo suficiente para investimentos “comuns” até meados de
2019, quando decidiu captar novos recursos para acelerar o crescimento.

Resumo da análise e Valuation


Agora que já conhecemos um pouco sobre a Magazine Luiza, vamos voltar à ques-
tão inicial, que é sobre a valorização impressionante das ações da empresa desde
2015 e também uma avaliação da empresa ao fim deste período.

Afinal, ação da empresa está cara ou barata?

Antes de ir para a análise do Valuation em si, acrescentamos aqui uma informação


comparativa sobre a evolução do EBITDA (lucro antes de juros, impostos, depre-
ciação e amortização) da Magalu e de outras empresas de varejo do país.

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O Gráfico 9 tem base 100 em junho de 2014 e mostra o crescimento percentual
do EBITDA acumulado em 12 meses desde então. Na linha laranja é possível ob-
servar como a Magazine Luiza se destaca nesse aspecto.

Gráfico 9 – Comparativo entre empresas de consumo e varejo

Fonte: Magazine Luiza

Em relação ao Valuation, quando observamos os múltiplos atuais da Magazine


Luiza fica nítido que existe uma expectativa bastante otimista com o crescimento
da empresa e de seus resultados operacionais (o que alguns poderiam considerar
euforia).

Isso fica evidente quando observamos sua relação preço sobre lucro (P/L) chegou
a 56 vezes em dezembro de 2019, o que a coloca como a varejista com o maior
múltiplo P/L do mercado brasileiro, e com índice que a torna comparável à gigante
americana Amazon nesse aspecto. De modo simplificado, com lucro constante,
isso significa dizer que o investidor teria que esperar 56 anos para ter retorno in-
vestindo na ação.

A conta que os investidores que compram os papéis da empresa fazem, porém,


não é essa. Algumas páginas acima você verá que o lucro líquido da companhia
aumentou 137% entre 2017 e 2019, saindo de R$ 389 milhões para R$ 922 milhões.
Quem acredita que o lucro da empresa tem potencial para dobrar nos próximos
dois anos, por exemplo, enxerga esse múltiplo P/L na metade deste nível de 56
vezes (no pico).

Mas como saber se é razoável ou exagerado prever que esse crescimento de


lucros pode ocorrer em um intervalo de dois anos? Isso vai depender das premis-
sas usadas por cada analista.

21
E para se aprofundar ainda mais em Valuation é preciso conhecer ainda melhor a
teoria e também a parte prática, de como analisar esses dados e como fazer os
cálculos.

Por isso, a Trevisan Escola de Negócios e o Valor Investe prepararam uma


semana imersiva com videoaulas gratuitas sobre o assunto. Para se inscrever,
acesse o link: https://bit.ly/2RBWk9s

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Glossário
Margem Bruta
Indica quanto a empresa ganha com a venda de seus produtos,
antes das despesas administrativas e de vendas.

Margem Operacional
Indica quanto o lucro operacional representa da receita líquida.

Margem Líquida
Indica quanto o lucro líquido, representa da receita total.

ROE - Return on Equity


Lucro líquido como proporção do patrimônio Líquido.

Liquidez seca
Indica a capacidade de pagamento no curto prazo e subtrai os esto-
ques (por essa razão o nome “seca”).

Liquidez corrente
Indica a capacidade de pagamentos no curto prazo.

follow on
Empresa de capital aberto volta ao mercado para ofertar mais
ações.

Split
Quando uma empresa aumenta o número de ações no mercado.

WACC - Weighted Average Capital Cost


Custo ponderado de capital, utilizado em uma análise de retorno, e
considera retorno esperado pelos acionistas e credores.

EBITDA (do inglês Earnings Before Interest, Taxes, Deprecia-


tion and Amortization)
Medida que representa a geração potencial de caixa de uma em-
presa a partir de suas atividades operacionais, portanto, sem consi-
derar impostos, juros, investimentos.

ticker
Cotação

Market cap
Valor de mercado

Small cap
Empresas de menor valor de mercado com menor liquidez e com
grande potencial de valorização.

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