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Esse ebook foi elaborado pela Trevisan Escola de Negócios, uma das instituições de
ensino mais tradicionais voltada para gestão de negócios e contabilidade, e foi editado
e revisado pela equipe do Valor Investe, site de investimentos do Valor Econômico.
Valuation como
ferramenta de gestão
para Investimentos
1
Você pode não perceber, mas muitas vezes o Valuation está presente no seu dia a
dia. O nome em inglês pode não dizer muito pra você, mas quando você quer com-
prar um terreno ou uma casa, por exemplo, é comum que faça uma comparação
do imóvel de interesse com outro da mesma região – avaliando a localização, área
útil e condições estruturais. Desse jeito, ainda que de uma maneira simplificada,
você consegue chegar a uma faixa de valor — às vezes usando uma métrica que
compara o valor por metro quadrado de cada imóvel, por exemplo —, avalia se o
preço da casa está num intervalo que considera justo e, então, fecha ou não o ne-
gócio.
Quando se sai desse universo mais próximo do nosso cotidiano, você vai notar que
esse mesmo tipo de métrica — de uma maneira mais refinada, como explicaremos
nesse eBook — pode ser usada como uma das formas de se medir o valor de uma
empresa com ações negociadas na bolsa de valores.
Neste último caso, porém, existe uma diferença bastante clara, que é a existência
do preço pelo qual as ações dessas companhias são compradas e vendidas por in-
vestidores, e que aparece nas telas de negociação e no seu homebroker.
É importante que você saiba desde já, contudo, que por mais que preço e valor
pareçam ter o mesmo significado, esses são dois conceitos totalmente diferentes.
Para os investidores que tomam decisões tendo como base a chamada análise
fundamentalista, PREÇO é aquilo que se paga e VALOR é aquilo que se leva
dentro do pacote adquirido.
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Em tese, você deve sempre buscar comprar ativos (ou ações) cujo preço seja infe-
rior ao valor intrínseco (real) — ou seja, qual o valor justo, considerando os funda-
mentos daquele negócio. No longo prazo, o preço (cotação do papel) tenderia a se
aproximar do valor real. Na teoria parece fácil. Você compra a ação mais barato que
seu valor real de fato, e espera o restante dos agentes de mercado se darem conta
disso.
Quando isso ocorre, a ação sobe e você ganha dinheiro. Mas tem um pequeno pro-
blema. Se o preço das ações na bolsa está disponível na tela de cada homebroker,
o valor instrínseco depende da percepção de cada investidor ou analista.
Para calcular esse valor real de uma empresa é preciso levar em con-
sideração diferentes aspectos que afetam o negócio dela, e investi-
gar todos eles a fundo.
No caso de uma empresa, entre os fatores que afetam seu valor real estão o setor
de atuação, diferenciais competitivos, cenário de concorrência, planos de cresci-
mento, equipe de gestão, gestão de custos, além de fatores macroeconômicos de
cada país, para citar apenas alguns itens.
Aí você pensa: será que decidir comprar uma ação apenas porque ela tem tido va-
lorizações sucessivas na bolsa é uma boa ideia? Será que elas já estão caras
demais? Ou o movimento de valorização continuará?
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Ou no sentido inverso, se uma ação caiu muito, será que ela ficou barata e é hora
de comprar, porque o preço retornará ao patamar anterior? Ou será que a ação se
desvalorizou porque virou um mico e deve ser rejeitada?
Primeiro, deve-se conhecer o valor real (instrínseco) da empresa que deseja inves-
tir, e o que de fato significa esse valuation, ou como ele pode te ajudar a tomar uma
decisão sobre comprar, manter ou vender uma ação.
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Os principais
modelos de Valuation
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1 Fluxo de caixa
descontado
O fluxo de caixa mede a entrada e saída
de dinheiro no caixa, durante um deter-
minado período. A premissa básica
dessa técnica de avaliação de negócios é que uma empresa vale quanto ela pode
gerar de caixa — leia-se dinheiro para o acionista — ao longo do tempo. Logo, o
modelo de avaliação por Fluxo de Caixa Descontado tem como objetivo fazer uma
projeção do que a empresa poderá produzir de fluxo de caixa no futuro, conside-
rando tanto quanto ela obtém de recursos na operação, como também os investi-
mentos que serão necessários para realizar esse objetivo.
1
Koller, Tim, Marc H. Goedhart, David Wessels. Valuation: Measuring and Managing the Value of Companies.
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Hoboken, N.J: John Wiley & Sons, 2015.
Mas é importante destacar que o modelo DFC pode não ser tão preciso, já que as
suas projeções são baseadas em muita subjetividade – quanto a empresa irá
crescer a cada ano, qual será sua margem, qual a taxa de desconto a ser usada
para os fluxos de caixa futuros etc. Além disso, quanto maior for o tempo de proje-
ção, menos precisas são as estimativas para a geração de caixa de determinada
companhia.
A avaliação por meio do Fluxo de Caixa Descontado pode ser dividida em: análise
do desempenho histórico; estimativa do custo do capital (chamado de WACC), isso
é, a expectativa de retorno de quem financia a companhia (como acionista ou
credor); previsão do desempenho no curto e médio prazo; estimativa do valor con-
tínuo (perpetuidade); e cálculo e interpretação de resultados.
Para fazer a análise e as projeções, é importante ter claro que toda empresa pro-
cura obter fluxos positivos de caixa com suas operações ao longo do tempo, mas
que também pode gerar ou depender de injeção de caixa com atividades de finan-
ciamento e/ou investimento. Ou seja, esses demais aspectos, como necessidade
de financiamento, pagamento de juros, investimento ou desinvestimentos, entre
outros fluxos, devem ser levados em conta nas projeções.
Para conseguir avaliar uma empresa pelo método do fluxo de caixa descontado,
portanto, você deve dominar os conceitos contábeis, conseguir analisar as de-
monstrações financeiras da companhia e também conhecer bem seu setor de
atuação e modelo de negócios, para que possa projetar expectativa de cresci-
mento, margem, necessidade de investimento em ativos fixos e capital de giro, a
fim de estimar qual será seu fluxo de caixa a cada ano.
Feito isso, precisa saber calcular a taxa pela qual esses fluxos futuros de caixa
serão trazidos ao valor de hoje, para chegar na estimativa de quanto vale a empre-
sa, e também sua a ação. Embora não seja uma tarefa fácil, ela pode ser aprendida
com dedicação e esforço.
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2 Múltiplos
de mercado
Múltiplos são indicadores que medem
algum aspecto relacionado aos núme-
ros de informações financeiras ou
mesmo gerenciais de uma empresa.
A principal razão para se avaliar múltiplos de valor de mercado é que eles são com-
plementares ao método de Fluxo de Caixa Descontado. Neste modelo, normal-
mente comparamos os múltiplos da empresa que queremos avaliar aos de empre-
sas do mesmo setor. Porém é importante lembrar que as companhias são diferen-
tes, e que estas comparações se referem a períodos, que estão relacionados às di-
vulgações dos relatórios financeiros e gerenciais.
Numa forma simplificada, significa dizer que, se a empresa distribuísse todo o lucro
na forma de dividendos aos acionistas, o investidor teria retorno (payback) do in-
vestimento em cinco anos. Por essa lógica, ao menos em tese, quanto maior o
múltiplo, a empresa está mais cara (porque o retorno do acionista demoraria mais
anos para ocorrer), e vice-versa.
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ração para tomada de decisão de comprar, manter ou vender uma ação ou dizer se
ela está cara ou barata. Até porque uma empresa pode ter um diferencial competi-
tivo em relação à competidora. Mas quando se observa a realidade de mercado, o
que se nota é que, normalmente, os múltiplos de empresas do mesmo setor
tendem a ficar próximos ao longo do tempo.
E a conta não precisa ser feita só com base no lucro líquido. Um dos indicadores
muito considerados nos modelos de avaliação por Múltiplos de Mercado é o
EBITDA, que é a sigla em inglês para o lucro antes do resultado financeiro, dos tri-
butos sobre o lucro, da depreciação e da amortização de uma companhia,
2
também chamado de LAJIDA, em português. De acordo com Reinaldo Luiz Lunelli
, EBITDA representa o potencial de geração operacional de caixa da companhia,
ou seja, o quanto a empresa pode gerar de recursos apenas em suas atividades
operacionais, sem levar em consideração os efeitos financeiros e de impostos
(além da necessidade de investimento em capital de giro).
Embora lucro e EBITDA sejam as medidas mais usadas para múltiplos, é possível
fazer essa conta com o lucro operacional, receita, ou mesmo com medidas geren-
ciais, como área bruta locável de shoppings ou empresas de properties, com
número de lojas para varejistas, banco de terrenos para incorporadoras, reservas
de barris para petroleiras e assim por diante – lembrando que estamos falando
aqui de uma medida a mais (e não única) para a tomada de decisão.
2
http://www.portaldecontabilidade.com.br/tematicas/calculodoebitda.htm.
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Que método escolher e como fazer as contas?
O que talvez tenha ficado claro até aqui é que, para dar seus primeiros passos nas
técnicas de valuation você vai precisar, pelo menos, dominar alguns conceitos de
contabilidade, aprender a fazer análise de demonstrações financeiras e também
aprender a projetar fluxos de caixa futuros das companhias, para poder fazer as
contas.
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Case
Magazine Luiza
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3 Case: Magazine Luiza
A Magazine Luiza é uma rede varejista brasileira de eletrônicos e móveis. Foi fun-
dada por Luiza Trajano Donato e Pelegrino José Donato em 1957, na cidade de
Franca em São Paulo. Entre a mínima no fim de 2015 e a máxima no início de 2020,
suas ações chegariam a subir mais de 48.000%.
É isso mesmo, quem investisse R$ 100 nas ações da empresa na mínima teria
obtido pouco mais de R$ 49 mil se vendesse no pico. O que será que aconteceu?
No Gráfico 01, vemos o cenário de dezembro de 2015, quando a ação estava num
dos momentos de maior baixa da história da empresa. O preço chegou a evoluir
um pouquinho em 2016, ano em que a economia do país estava numa situação
também de muita instabilidade.
Mas como imaginar que, em quatro anos, a Magazine Luiza daria uma volta astro-
nômica e apresentaria um crescimento fantástico em suas ações, como tem apre-
sentado até então? (sem considerar a queda após a pandemia do coronavírus).
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Demonstrações Financeiras
As Demonstrações Financeiras das empresas nos ajudam a entender bastante
sobre seus negócios, e analisa-las é o passo numero um para quem quer avaliar
uma companhia. Também conhecidas como demonstrações contábeis, elas são
compostas por Balanço Patrimonial, Demonstração de Resultados do Exercício
(DRE), Demonstração de Fluxos de Caixa, notas explicativas e relatório de admi-
nistração.
Esse é o principal (mas não o único) documento por meio do qual acionistas atuais
e potenciais sócios de companhia podem compreender a evolução financeira das
empresas com ações listadas na B3 e tomar decisões que envolvam os recursos
da empresa com mais segurança e efetividade.
Balanço Patrimonial
O balanço patrimonial tem como objetivo fornecer um quadro da situação finan-
ceira e patrimonial de uma empresa nas datas de fechamentos contábeis (a cada
fim de trimestre no caso das companhias abertas brasileiras). Ele lista de que ma-
neira a companhia investe (ou aloca) seus recursos (do lado dos ativos) e também
como aquela empresa é financiada, seja em termos de perfil (quanto de acionistas
e quanto de credores), e em que condições e prazos – do lado dos passivos.
Gráfico 02 – Evolução do ativo total e patrimônio líquido
Demonstrações Financeiras
O Gráfico 1 mostra, de forma sintética, a evolução de duas das principais contas
do balanço patrimonial de uma empresa. No caso da Magazine Luiza, ele nos pos-
sibilita algumas conclusões. A primeira é que a empresa vem crescendo ano a ano
de forma expressiva e consistente no tempo. Entre dezembro de 2015 e dezembro
de 2019, os ativos totais da companhia praticamente se multiplicaram por 4 vezes,
saindo de R$ 5,5 bilhões para quase R$ 20 bilhões. A segunda, a partir do cresci-
mento do patrimônio líquido da companhia, é que seus sócios vem investindo na
empresa – seja via retenção de lucros ou de aumentos de capital.
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Na Tabela 1 é possível observar que a empresa tinha liquidez corrente de 1,60 em
dezembro de 2019, o que significa que para cada 1 real em compromissos de curto
prazo, a empresa tem 1,60 em ativos que já são caixa ou se tornarão caixa em até
12 meses. É possível percebr ainda ainda que o indicador de dívida líquida (sem
considerar arrendamento) tem sinal negativo, o que significa que a disponibilidade
de caixa e aplicações financeiras da empresa é superior ao volume de emprésti-
mos e financiamentos que aparecem no passivo.
Tabela 01 – Indicadores de liquidez e endividamento
No caso da Magazine Luiza, a exemplo do que foi possível observar no balanço pa-
trimonial, a análise histórica da DRE mostra um salto da receita líquida, que mais
do que dobrou entre 2015 e 2019. E os dados dos gráficos 3 e 4 mostram que a
empresa conseguiu fazer isso segurando as margens bruta e operacional e até
aumentando de forma sensível a margem líquida (conta que resulta da divisão do
lucro líquido pela receita líquida).
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Fonte: Valor PRO
Exemplo prático: se você tiver que projetar a margem bruta da Magazine Luiza,
um bom primeiro passo seria um intervalo entre 28% e 31%, a não ser que você
tenha informações sobre mudança no cenário macroeconômico ou concorrencial
que justifique um índice diferente.
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Para ser sustentável ao longo do tempo, uma companhia precisa gerar retorno ao
acionistas acima do custo de oportunidade de outras aplicações, sempre ponde-
rando pelo risco.
No caso da Magalu, percebemos que o ROE de 2017 e 2018 fico entre 28,9% e
27,3%, bastante expressivo em termos absolutos, e muito acima da taxa de juros
básica da economia nesses anos, que foi de 9,94% e 6,40%, respectivamente. Em
2019, o ROE da Magazine Luiza diminuiu para 18,7%, mas vale notar que ele só ficou
menor porque o patrimônio líquido (que entra no denominador) aumentou subs-
tancialmente devido a um aumento de capital realizado no fim daquele ano.
Como havíamos notado no item anterior, o fluxo de caixa das atividades de “finan-
ciamento” foi relevante em 2019, e confirma que a empresa fez uma chamada de
capital relevante, em uma operação chamada de follow on, com emissão de novas
ações.
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O Gráfico 9 tem base 100 em junho de 2014 e mostra o crescimento percentual
do EBITDA acumulado em 12 meses desde então. Na linha laranja é possível ob-
servar como a Magazine Luiza se destaca nesse aspecto.
Isso fica evidente quando observamos sua relação preço sobre lucro (P/L) chegou
a 56 vezes em dezembro de 2019, o que a coloca como a varejista com o maior
múltiplo P/L do mercado brasileiro, e com índice que a torna comparável à gigante
americana Amazon nesse aspecto. De modo simplificado, com lucro constante,
isso significa dizer que o investidor teria que esperar 56 anos para ter retorno in-
vestindo na ação.
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E para se aprofundar ainda mais em Valuation é preciso conhecer ainda melhor a
teoria e também a parte prática, de como analisar esses dados e como fazer os
cálculos.
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Glossário
Margem Bruta
Indica quanto a empresa ganha com a venda de seus produtos,
antes das despesas administrativas e de vendas.
Margem Operacional
Indica quanto o lucro operacional representa da receita líquida.
Margem Líquida
Indica quanto o lucro líquido, representa da receita total.
Liquidez seca
Indica a capacidade de pagamento no curto prazo e subtrai os esto-
ques (por essa razão o nome “seca”).
Liquidez corrente
Indica a capacidade de pagamentos no curto prazo.
follow on
Empresa de capital aberto volta ao mercado para ofertar mais
ações.
Split
Quando uma empresa aumenta o número de ações no mercado.
ticker
Cotação
Market cap
Valor de mercado
Small cap
Empresas de menor valor de mercado com menor liquidez e com
grande potencial de valorização.
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