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DESCRIÇÃO

Conceituação das diferentes formas financiamento das atividades comerciais e seus tratamentos
contábeis.

PROPÓSITO
Compreender o conceito e a importância das diferentes formas de financiamento das atividades
comerciais para a captação recursos de modo otimizado pela empresa, tal como os efeitos contábeis
de tais decisões.

PREPARAÇÃO
Antes de iniciar o conteúdo deste tema, tenha em mãos recursos computacionais, como acesso a
planilhas eletrônicas (Excel) e calculadora, visando efetuar o cálculo das questões.

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OBJETIVOS

MÓDULO 1

Definir o conceito de financiamento de atividades

MÓDULO 2

Descrever as operações básicas financeiras relativas ao financiamento das atividades

MÓDULO 3

Calcular adequadamente os financiamentos das atividades de uma empresa comercial

INTRODUÇÃO
Para compreendermos como uma empresa se financia, é necessário que entendamos as diferentes
formas possíveis para que isso ocorra. Além disso, é necessário que uma empresa também saiba
como as suas decisões de financiamento afetam as suas demonstrações contábeis.

Neste tema, aprenderemos sobre como as empresas se financiam, a diferença entre o financiamento
de e o financiamento via dívida, bem como os tratamentos contábeis para diferentes formas de
atividades financeiras que ocorrem na empresa.

MÓDULO 1

 Definir o conceito de financiamento de atividades

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Fonte: Number1411/Shutterstock

CONCEITOS FUNDAMENTAIS
Qualquer atividade empresarial necessita de financiamento para o seu funcionamento. A necessidade,
portanto, de obtenção de recursos é de fundamental importância para que uma empresa consiga fazer
a sua operação de forma eficiente e lucrativa. No entanto, há diversas formas de se obter o necessário
para financiar um negócio. Quais são elas?

FINANCIAMENTO VIA DÍVIDA E VIA CAPITAL

IMAGINE QUE VOCÊ QUEIRA CONSTRUIR UM


IMÓVEL EM UM TERRENO QUE VOCÊ JÁ POSSUA A
FIM DE ALUGÁ-LO. SÃO NECESSÁRIOS
R$100.000,00 PARA A CONSTRUÇÃO DESSE
IMÓVEL, MAS VOCÊ SÓ POSSUI R$20.000,00. QUAIS
SÃO SUAS OPÇÕES?

RESPOSTA

RESPOSTA

A primeira seria você poupar e guardar os R$80.000,00 necessários. Na segunda opção, você
convidaria outra pessoa a aportar os R$80.000,00 e dividiria a receita de aluguel com essa
pessoa. Finalmente, na terceira opção, você obtém um empréstimo bancário dos R$80.000,00 e
pagaria de volta, ao banco, o valor do principal mais um valor a título de juros.
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Note que a primeira opção demanda um tempo muito grande para ser implementada e, portanto, não
será incluída como possibilidade durante os nossos estudos. A segunda opção é interessante, pois
você não estaria assumindo a obrigação de arcar com os valores de um empréstimo. A outra pessoa
assumiria, junto com você, os riscos da operação, mas ela teria direito à parte da receita de aluguel na
perpetuidade. Na terceira opção, a dívida será quitada um dia e, desse ponto em diante, toda a receita
do aluguel será sua. No entanto, mesmo que o imóvel não esteja alugado, você terá de arcar com as
parcelas do financiamento.

Na realidade empresarial, a segunda forma é o financiamento via capital, ou seja, com a inclusão de
novos sócios na empresa. Esses sócios compartilharão o risco com você, em troca de receberem uma
porcentagem dos lucros da empresa na perpetuidade. Outra opção é o financiamento via dívida. Nesse
caso, a estrutura societária permanece intacta, e a empresa assume uma dívida cuja obrigação de
pagar é dela, independentemente do seu resultado.

O tratamento contábil também é diferente nesses dois tipos de financiamento. A dívida ficará
contabilizada no passivo da empresa e, a depender do vencimento dela, será contabilizada tanto como
circulante como não circulante. O passivo circulante é aquele que a empresa deverá pagar até os
próximos 12 meses, e o não circulante é o que vence após isso. Já o valor do capital é contabilizado
no Patrimônio Líquido da instituição. Essa diferenciação é importante, uma vez que, como veremos na
próxima seção, alguns tipos de contratos possuem cláusulas de covenant, que levam em conta o
endividamento da empresa (ou seja, o passivo).

CÁLCULO DOS VALORES PRESENTES E DECISÃO


DA EMPRESA

Para uma empresa saber o quanto valeria a pena financiar via dívida ou via capital, é necessário que
cálculos sejam feitos, a fim de que os valores sejam comparados. Todos esses cálculos serão
estimados com base no Valor Presente do custo de uma dívida versus o valor presente do custo de um
sócio.

Para a estimação do valor presente da dívida, o valor a ser estimado é:

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 Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal

Em que VPD é o valor presente da dívida, Pn é a n-ésima parcela da dívida e r é a taxa interna de

retorno que a firma utiliza para valorar os seus investimentos.

Para a estimação do valor presente do capital, é utilizada a seguinte fórmula:

 Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal

Em que VPC é o valor presente do capital, D é o valor do dividendo a ser pago no primeiro ano para
o(s) novo(s) sócio(s), r é a taxa interna de retorno e c é a taxa de crescimento esperada dos dividendos
nos próximos anos, com c < r.

 EXEMPLO

João tem uma startup no ramo de tecnologia e necessita de R$100.000,00 para aumentar as suas
operações. Ele pode pegar um empréstimo de R$100.000,00 no banco, que cobrará 10 parcelas
anuais e sucessivas de R$22.000,00. No entanto, José se ofereceu para aportar R$100.000,00 em
troca de 10% na participação da empresa. Levando em conta que a TIR da empresa é de 15% a.a., os
lucros do ano atual foram de R$80.000,00 (assuma que todos os lucros são distribuídos como
dividendos) e que há uma expectativa de crescimento de 10% a.a. da empresa, qual forma de
financiamento é melhor para João escolher?

Vamos calcular o VPD, conforme indicado a seguir:

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 Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal

Agora, vamos calcular o VPC:

 Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal

Parece que o financiamento por dívida está melhor do que o financiamento por capital. Será, então,
que João deve escolher o financiamento por dívida? Não necessariamente. Ele somente deve escolher
o financiamento por dívida se sua empresa tiver certeza de que poderá arcar com as parcelas do
financiamento. Lembre-se: o financiamento via dívida não reparte os riscos!

DECISÃO DAS STARTUPS E PEQUENAS EMPRESAS

Pelo fato de o financiamento via dívida não repartir os riscos, muitas startups e pequenas empresas se
financiam, normalmente, via inclusão de novos sócios, e não via dívida. Há tantas incertezas no
negócio que tais empresas não podem assumir a obrigação de arcar com as parcelas dessa dívida.

Entretanto, como já mencionado, muitas empresas e startups escolhem se financiar por dívida,
especialmente quando elas trabalham na parte financeira.

 EXEMPLO

A Affirm se financiou por meio de dívida para prover crédito para consumidores adquirem produtos. Já
a Opendoor fez isso para financiar os imóveis dos quais eles fazem a intermediação de vendas. Por
fim, a SoFi tomou dívida para emprestar a estudantes no pagamento de suas faculdades.

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Nesse caso, as firmas ganham no spread — elas tomam empréstimos a taxas menores do que
emprestam para seus clientes. Além dessas empresas, várias outras startups, como a Avant e a Tala,
cresceram seus negócios utilizando dívida.

CLÁUSULAS DE COVENANT
Para finalizar este módulo, no qual falamos da decisão da empresa de se financiar por dívida ou por
capital, veremos uma parte muito importante: as cláusulas de covenant.

Essas cláusulas servem para proteger os credores de possíveis situações de insolvência da empresa.
Ou seja, essas cláusulas ajudam a reduzir o risco do contrato, já que diminuem o risco de default
(“calote”) pela empresa.

Adicionalmente, essas cláusulas de covenant também podem ser benéficas para as empresas que
estão tomando empréstimos. Elas podem possibilitar que empresas que não conseguiriam acessar
linhas de crédito, por serem julgadas muito arriscadas, tenham acesso a essas linhas. Além disso,
empresas que já conseguem acessar essas linhas podem obter condições de empréstimos mais
favoráveis, como maiores valores de empréstimo ou menores taxas de juros.

A cláusula de covenant, normalmente, contém um ou mais triggers relacionados a índices contábeis e


financeiros, como endividamento da empresa, rating da empresa, margem de lucro, entre outros. Além
disso, tais cláusulas podem estar relacionadas a fatos específicos, como proibição de aumento de
capital, vinculação do empréstimo para fins específicos e necessidade de prestação de contas.

 EXEMPLO

Uma empresa consegue R$1.000.000,00 em empréstimos e paga todo mês R$10.000,00 de


abatimento da dívida mais os juros contratuais. O contrato de empréstimo possuía uma cláusula de
covenant na qual era estipulado um nível máximo de endividamento da empresa. No entanto, após 18
meses, a empresa estoura esse limite contratual. Portanto, essa empresa deverá quitar o valor do
empréstimo antecipadamente, já que ela violou a cláusula de covenant.

O valor que ela deverá pagar devido à violação da cláusula de covenant será, então, de:

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 Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal

Portanto, ao assumir uma dívida de longo prazo com cláusulas de covenant, a administração da
empresa deve estar atenta à capacidade da mesma em cumprir essas cláusulas no longo prazo, tendo
em vista que o não cumprimento enseja em uma necessidade grande de caixa para fazer o pagamento
antecipado da dívida.

Desse modo, conforme já mencionado, não é necessário apenas que sejam feitos os cálculos de VPC
e VPD, mas também deve-se olhar para:

A capacidade de pagamento da dívida pela empresa;

O tipo de negócio dessa empresa (empresas financeiras podem, normalmente, assumir mais
dívidas, pois elas ganham no spread entre a taxa de juros pagas e as cobradas de seus clientes);
e

As possíveis cláusulas de covenant, as quais a empresa pode (ou não) ter como cumprir.

Consequentemente, a decisão de se financiar via dívida ou via capital é bastante complexa e afetará a
vida da empresa por um grande período.

FINANCIAMENTO DAS EMPRESAS

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VERIFICANDO O APRENDIZADO

1. ACERCA DO FINANCIAMENTO DE ATIVIDADES OPERACIONAIS DE


EMPRESAS, PODEMOS AFIRMAR, EXCETO:

A) O financiamento de uma empresa pode se dar por meio de dívida ou capital.

B) O financiamento via dívida tem um momento de vencimento a partir do qual nenhum pagamento é
mais devido.

C) Uma das vantagens do financiamento via dívida é a divisão dos riscos do negócio.

D) O financiamento via capital acarreta uma mudança da estrutura societária da empresa.

E) Ambos os financiamentos, via dívida ou capital, servem para dar à empresa acesso a mais recursos
para suas operações.

2. UMA EMPRESA PODE ACESSAR UM FINANCIAMENTO VIA DÍVIDA, COM UM


BANCO, DE R$200.000,00, COM 10 PAGAMENTOS ANUAIS E SUCESSIVOS DE
R$30.000,00. ENTRETANTO, ELA TAMBÉM PODERÁ ADMITIR UM NOVO SÓCIO
QUE APORTARÁ R$200.000,00 EM TROCA DE 1,5% DE PARTICIPAÇÃO
ACIONÁRIA NA EMPRESA. SABENDO QUE A EMPRESA PODE ARCAR COM OS
VALORES DOS EMPRÉSTIMOS E QUE SEU LUCRO ANUAL É DE R$500.000,00,
COM UMA EXPECTATIVA DE CRESCIMENTO DE 4% A.A., E SUA TAXA INTERNA
DE RETORNO É DE 9% A.A., QUAL FORMA DE FINANCIAMENTO É A MAIS
ATRATIVA?

A) O financiamento via dívida é mais atrativo, pois tem valor presente de R$200.000,00.
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B) O financiamento via capital é mais atrativo, pois tem valor presente de R$180.000,00.

C) Ambos possuem a mesma atratividade.

D) O financiamento via capital é mais atrativo, pois tem um valor presente de R$42.529,73 abaixo do
financiamento via dívida.

E) O financiamento via dívida é mais atrativo, pois tem um valor presente de R$42.529,73 abaixo do
financiamento via capital.

GABARITO

1. Acerca do financiamento de atividades operacionais de empresas, podemos afirmar, exceto:

A alternativa "C " está correta.

O financiamento de uma empresa pode ocorrer tanto por meio de dívida como de capital, e ambos têm
como objetivo fornecer mais recursos para a empresa crescer. O financiamento via capital ocorre com
a entrada de um ou mais sócios, ou pelo aumento no aporte de capital de um ou mais sócios que já se
encontravam no corpo societário da empresa, acarretando uma mudança da estrutura societária dessa
empresa. Entretanto, o financiamento via dívida NÃO incorpora os riscos do negócio, de modo que os
pagamentos devidos não têm qualquer relação com o desempenho da empresa.

2. Uma empresa pode acessar um financiamento via dívida, com um banco, de R$200.000,00,
com 10 pagamentos anuais e sucessivos de R$30.000,00. Entretanto, ela também poderá admitir
um novo sócio que aportará R$200.000,00 em troca de 1,5% de participação acionária na
empresa. Sabendo que a empresa pode arcar com os valores dos empréstimos e que seu lucro
anual é de R$500.000,00, com uma expectativa de crescimento de 4% a.a., e sua taxa interna de
retorno é de 9% a.a., qual forma de financiamento é a mais atrativa?

A alternativa "D " está correta.

O valor presente da dívida é de R$192.529,73, e o valor presente do capital é de R$ 150.000,00. A


diferença entre os dois é portanto de R$192.529,73 - R$150.000,00 = R$42.529,73. Como o valor
presente da dívida é superior ao valor presente de capital, o financiamento via capital é mais atrativo,
pois representa um custo menor para a empresa.

MÓDULO 2
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 Descrever as operações básicas financeiras relativas ao financiamento das atividades

Fonte: TimeShops/Shutterstock

OPERAÇÕES DE JUROS E DESCONTOS

JUROS SIMPLES E JUROS COMPOSTOS

Conforme vimos no módulo anterior, as operações financeiras sempre dependem de taxas de juros a
fim de trazer os valores do presente a um valor futuro, ou valores do futuro a um valor presente. Há
duas formas de fazer esse cálculo: utilizando juros simples ou juros compostos. A seguir, veremos
cada uma dessas formas:

JUROS SIMPLES
No caso dos juros simples, os juros apenas incidem sobre o principal. Assim sendo, o valor futuro é
dado por meio da multiplicação:

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 Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal

Em que VF é o valor futuro, VP é o valor presente, n é o número de períodos de distância entre o


presente e o futuro, e r é a taxa de juros. Com a fórmula apresentada, podemos calcular o valor
presente, a partir do valor futuro, da seguinte maneira:

 Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal

JUROS COMPOSTOS
No caso dos juros compostos, os juros incidem sobre o principal e também sobre os juros anteriores,
por isso, tal sistema é conhecido como “juros sobre juros”. Portanto, o valor futuro é dado a partir da
exponenciação:

 Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal

Assim como fizemos no caso dos juros simples, podemos fazer o cálculo do valor presente, a partir dos
valores apresentados, da seguinte maneira:

 Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal

Tendo em vista que as operações financeiras utilizam-se, normalmente, dos juros compostos,
estudaremos, deste ponto em diante, apenas operações que envolvam juros compostos.

 EXEMPLO /
Uma empresa pega um empréstimo no valor de R$120.000,00. O valor dos juros é de 10% a.a. Qual o
valor da dívida passados 1, 2 e 3 anos após ela ser contratada, sendo que nenhum pagamento foi feito
ainda?

Os cálculos dão-se conforme vemos a seguir:

Ano 1: 120000 × (1,1)1 120000 × 1,1 = 132.000

Ano 2: 120000 × (1,1)²=120000 × 1,21 = 145.200

Ano 3: 120000 × (1,1)³=120000 × 1,331 = 159.720

Nesse exemplo, fica claro o efeito do “juros sobre juros”. No ano 1, o valor dos juros foi de 132.000-
120.000=R$ 12.000. No entanto, no ano 2, o valor foi ainda maior, sendo igual a 145.200-132.000=R$
13.200. No ano 3, o valor dos juros foi maior ainda, chegando a 159.720-145.200=R$ 14.520. Por isso,
ao se financiar por meio de dívida, uma empresa necessita levar em consideração o tempo de
pagamento, já que ele influencia, direta e exponencialmente, o custo da dívida.

Agora, vamos supor que, continuando no caso do exemplo apresentado, a empresa pague
R$24.000,00 por ano para quitar a dívida, mais os juros anuais. Quanto tempo demoraria para quitar a

dívida? Esse tempo seria calculado da seguinte maneira: Portanto, demoraria 5 anos para
a empresa quitar a sua dívida.

Existe, entretanto, outra pergunta importante: quanto essa empresa pagaria de juros?

Para tal cálculo, precisamos de uma tabela como esta a seguir:

Ano Saldo inicial Juros Pagamento Saldo final

1 120000 12000 36000 96000

2 96000 9600 33600 72000

3 72000 7200 31200 48000

4 48000 4800 28800 24000

5 24000 2400 26400 0

/
Ano Saldo inicial Juros Pagamento Saldo final

Total: 36000 156000

 Atenção! Para visualizaçãocompleta da tabela utilize a rolagem horizontal

A coluna de saldo inicial traz o saldo do início do período. O valor dos juros é o valor do saldo inicial
vezes 10% (o valor dos juros no período). O valor do pagamento é o valor dos juros mais o abatimento
de R$24.000,00 por ano, e o saldo final é igual ao valor do saldo inicial menos o abatimento anual de
R$24.000,00.

Ao somar as colunas de juros, chega-se ao valor dos juros totais de R$36.000,00. Uma maneira
adicional seria somar todos os pagamentos e diminuir o valor do empréstimo. Portanto, o valor é de
R$156.000 - R$120.000 = R$36.000.

 DICA

Note que, no primeiro caso, no qual a empresa toma R$120.000,00 de empréstimo e paga o valor
apenas em um pagamento único no final de 3 anos, ela pagará um total de R$159.720,00, ou seja, um
total de R$39.720,00 de juros. No segundo caso, ela pagou apenas R$36.000,00 de juros, sendo que
teve 5 anos para pagar (2 anos a mais do que no primeiro caso). Isso demonstra que não só o tempo
de pagamento é importante, mas também o abatimento da dívida, pois isso reduz o efeito dos “juros
sobre juros”.

TAXAS DE JUROS CONTÍNUAS

Até agora, vimos os casos em que os juros são capitalizados em períodos discretos, ou seja, todo
ano, todo mês, ou todo dia. Agora, iremos analisar a taxa de juros capitalizada de forma contínua.

Em alguns tipos de problemas de finanças (e também em certos tipos de contratos), os juros são
capitalizados continuamente. Na maioria dos casos, temos capitalizações anuais (a.a.), mensais
(a.m.) e diária (a.d.). Porém, a capitalização contínua é calculada instantaneamente. Em casos assim,
usamos a fórmula com o exponencial:

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 Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal

Em que e é o número de Euler que equivale a 2,718281828... (número irracional).

Vejamos a diferença entre um investimento de R$1.000,00 nessas taxas por dois anos:

10% a.a., capitalizados anualmente;

10% a.a., capitalizados mensalmente;

10% a.a., capitalizados continuamente.

Para calcular o segundo caso, temos de fazer uma transformação da taxa a.a. para taxa a.m., e isso
pode ser feito por meio da fórmula de juros compostos:

 Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal

Na primeira, o valor final será de 1.000 × 1,12= R$1.210,00. Na segunda, temos que 1.000 ×

1,00797424 = R$1.210,00 também, e na terceira, temos que 1000 × e0.2 = R$1.221,40. Note que a
capitalização contínua dará valores ligeiramente superiores aos das capitalizações em regimes de
tempos discretos.

A capitalização em intervalo contínuo também possui a vantagem de a taxa de juros estar na


exponenciação, e não na base, o que torna cálculos mais complexos bem mais fáceis de serem
construídos. Entretanto, neste conteúdo, todos os cálculos de juros se darão em regimes discretos, o
que é mais comum no dia a dia.

OPERAÇÕES DE DESCONTO

Muitas vezes, quando empresas se financiam por dívida — seja por meio de emissão de debêntures
ou de empréstimos —, é vantajoso para ela pagar (ou quitar) antecipadamente um título. Para isso, é
necessária a utilização de uma taxa de desconto, que pode ser aplicada “por dentro” ou “por fora”.

Em ambos os casos, o valor do desconto será a diferença entre o valor futuro e o valor presente.
/
No caso do desconto “por dentro”, o cálculo se dará da seguinte maneira:

 Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal

Já no cálculo do desconto “por fora”, a fórmula é a seguinte:

 Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal

CÁLCULO DE DESCONTO
Uma empresa se financiou emitindo títulos de debêntures no valor futuro de 10 milhões de reais. A
taxa de juros é igual à taxa de desconto, que é de 8% a.a., e os títulos vencem daqui a 2 anos. A
empresa deseja fazer uma proposta para quitação antecipada das debêntures. Qual é o valor do
desconto se ele for calculado “por fora”? E se fosse calculado “por dentro”?

A partir da fórmula do desconto “por fora”, podemos realizar o seguinte cálculo:

 Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal

Ou seja, o valor do desconto “por fora” seria de R$1.536.000,00. Já o cálculo do desconto “por dentro”
se daria da seguinte maneira:

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 Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal

O desconto “por dentro” ficaria em cerca de R$1.426.611,80.

Como seria o cálculo se o valor futuro não fosse conhecido? O caso a seguir descreve essa situação.

CÁLCULO DE DESCONTO COM VALOR FUTURO


DESCONHECIDO
Uma empresa emitiu debêntures para se financiar no valor de 1 milhão de reais. Ela pagará o principal
mais juros em 5 anos. Após 4 anos, ela quer quitar antecipadamente. Qual o valor do cálculo do
desconto tanto “por dentro” como “por fora”?

Primeiramente, temos de calcular o valor futuro através da fórmula de juros compostos, conforme
mostrado a seguir:

 Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal

O cálculo do desconto “por dentro” fica:

 Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal

Já o desconto “por fora” é igual a:

 Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal

No primeiro caso, o valor a pagar é de R$1.276.281,56 - R$60.775,31 = R$1.215.506,25; já no


segundo caso, é de R$ 1.276.281,56 - R$ 63.814,08 = R$ 1.212.467,48. Note que, calculando o valor
/
de R$ 1.000.000×1,054, chegamos ao mesmo valor do desconto “por dentro”, ou seja, o valor de R$
1.215.506,25.

Portanto, o valor do desconto “por dentro” dará sempre igual ao desconto se usarmos a fórmula dos
juros compostos. A fórmula do desconto “por fora” é uma aproximação mais “fácil” de se calcular, mas
sempre tenderá a dar um valor presente menor.

Fonte: Rawpixel.com/Shutterstock

ENCARGOS FINANCEIROS
Muitas das vezes em que empresas se financiam por meio de empréstimos contraídos com instituições
financeiras, há a incidência de encargos financeiros. Tais encargos, se forem pagos separadamente
antes da obtenção do empréstimo, são encarados como despesa no resultado. Porém, se forem pagos
depois ou incorporados ao empréstimo, eles integram o custo do empréstimo e, portanto, são
contabilizados como pagamentos do empréstimo, alterando a taxa de juros nominal.

A taxa de juros nominal é a que conta no contrato e remunera o valor emprestado pela instituição
financeira. Já a taxa de juros efetiva é o quanto o tomador do empréstimo está pagando efetivamente
para recebe-lo. Portanto, como estamos sempre analisando os eventos contábeis por meio da ótica do
tomador do empréstimo (isto é, a firma que está se financiando por dívida), sempre nos atentaremos à
taxa de juros efetiva.

Por exemplo, imagine que uma empresa contrate um empréstimo de R$100.000,00 e que efetue o
pagamento em 12 meses com valor mensal de R$8.811,84, conforme a tabela a seguir:

Valor devido Juros Valor pago Valor final

0 100000,00 2% 8811,84 93188,16

/
Valor devido Juros Valor pago Valor final

1 93188,16 2% 8811,84 86240,07

2 86240,07 2% 8811,84 79153,03

3 79153,03 2% 8811,84 71924,25

4 71924,25 2% 8811,84 64550,89

5 64550,89 2% 8811,84 57030,06

6 57030,06 2% 8811,84 49358,82

7 49358,82 2% 8811,84 41534,15

8 41534,15 2% 8811,84 33552,99

9 33552,99 2% 8811,84 25412,21

10 25412,21 2% 8811,84 17108,61

11 17108,61 2% 8811,84 8638,94

12 8638,94 2% 8811,84 0,00

 Atenção! Para visualizaçãocompleta da tabela utilize a rolagem horizontal

Agora, imagine que há encargos no empréstimo no valor de R$2.400,00, que será parcelado em 12
vezes de R$200,00 e embutidos nas parcelas do empréstimo. Nesse caso, a nova prestação mensal é
de R$9.011,84, e a nova taxa de juros (que pode ser encontrada via Excel ou utilizando uma
calculadora financeira) é de, aproximadamente, 2,3423% ao mês, conforme mostra a tabela a seguir:

Valor Devido Juros Valor Pago Valor Final

/
Valor Devido Juros Valor Pago Valor Final

0 100000,00 2,34% 9011,84 93330,43

1 93330,43 2,34% 9011,84 86504,64

2 86504,64 2,34% 9011,84 79518,97

3 79518,97 2,34% 9011,84 72369,67

4 72369,67 2,34% 9011,84 65052,93

5 65052,93 2,34% 9011,84 57564,80

6 57564,80 2,34% 9011,84 49901,28

7 49901,28 2,34% 9011,84 42058,26

8 42058,26 2,34% 9011,84 34031,53

9 34031,53 2,34% 9011,84 25816,80

10 25816,80 2,34% 9011,84 17409,66

11 17409,66 2,34% 9011,84 8805,59

12 8805,59 2,34% 9011,84 0,00

 Atenção! Para visualizaçãocompleta da tabela utilize a rolagem horizontal

A taxa de 2,00% é chamada de taxa nominal, e a taxa de 2,3423% é chamada de taxa efetiva. O
lançamento contábil ocorrerá, portanto, da seguinte maneira (para o lançamento dos juros do primeiro
mês):

D – Despesa financeira = R$2.286,26 [100.000 x 0.022986]


/
C – Empréstimos = R$2.286,26

Quando do pagamento, o lançamento ocorrerá normalmente:

D – Empréstimos = R$9.845,08

C – Bancos = R$9.845,08

Em seguida, o lançamento do valor dos juros ocorrerá igualmente ao feito anteriormente, só que sobre
o saldo devedor de R$94.785,86, e não sobre os R$100.000,00:

D – Despesa financeira = R$2.178,75 [94.785,86 x 0.022986]

C – Empréstimos = R$2.178,75

Fonte: TippaPatt/Shutterstock

AJUSTE A VALOR PRESENTE


Muitas vezes, são necessários ajustes a valor presente de diversos tipos de financiamento. A forma
mais comum disso acontecer é, como vimos na seção anterior, no caso de lançamento de juros. A
capitalização dos juros sempre traz o valor da dívida ao valor presente da mesma. No entanto, há
outros casos em que podem ser necessários lançamentos adicionais.

O ajuste a valor presente é regulado pelo CPC 12 (NBC-TG 12), que o define da seguinte maneira:

/
O AJUSTE A VALOR PRESENTE TEM COMO OBJETIVO
EFETUAR O AJUSTE PARA DEMONSTRAR O VALOR
PRESENTE DE UM FLUXO DE CAIXA FUTURO. ESSE
FLUXO DE CAIXA PODE ESTAR REPRESENTADO POR
INGRESSOS OU SAÍDAS DE RECURSOS (OU MONTANTE
EQUIVALENTE; POR EXEMPLO, CRÉDITOS QUE DIMINUAM
A SAÍDA DE CAIXA FUTURO SERIAM EQUIVALENTES A
INGRESSOS DE RECURSOS). PARA DETERMINAR O
VALOR PRESENTE DE UM FLUXO DE CAIXA, TRÊS
INFORMAÇÕES SÃO REQUERIDAS: VALOR DO FLUXO
FUTURO (CONSIDERANDO TODOS OS TERMOS E AS
CONDIÇÕES CONTRATADOS), DATA DO REFERIDO FLUXO
FINANCEIRO E TAXA DE DESCONTO APLICÁVEL À
TRANSAÇÃO.

O CPC 12, por ser mais generalista, traz diversos exemplos de situações contábeis e financeiras em
que o ajuste é necessário. Porém, neste módulo, nos ateremos apenas aos casos que envolvam
financiamentos de empresas por meio de dívida, que é o escopo deste conteúdo.

Um desses casos é quando há uma renegociação das taxas de juros, o que enseja um lançamento
para se alterar o valor presente. Vejamos o exemplo a seguir:

 EXEMPLO

Uma empresa contraiu empréstimo a pagar em 10 anos no valor de R$150.000,00, de um banco, em


janeiro de 2015, com uma taxa de juros de 18% a.a (a taxa de juros SELIC, em 2015, estava em
14,25% a.a.). Entretanto, tendo em vista que, em agosto de 2020, a taxa de juros SELIC caiu para 2%,
a empresa repactuou a taxa de juros para 9% a.a. retroativa a janeiro de 2020. Qual é o valor do
lançamento para fazer o ajuste da dívida ao seu correto valor presente em agosto de 2020?

A dívida foi de R$150.000,00, com uma taxa de juros 18%a.a., então, em agosto de 2020, o valor da
dívida estava contabilizado como:

/
 Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal

Em que o valor de 1,18 foi elevado a 5,67, pois se passaram 5 anos e 8 meses (ou 5 mais oito doze
avos). Como a dívida foi repactuada, o valor presente correto é de:

 Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal

Portanto, o valor do ajuste a valor presente será de R$19.848,15, a ser lançado da seguinte forma:

D – Empréstimo (ajuste a valor presente) = R$19.848,15

C – Receita financeira = R$19.848,15

COMO O CUSTO DA DÍVIDA INFLUENCIA A


QUESTÃO DE QUAL TIPO DE FINANCIAMENTO
/
A EMPRESA PODE ADOTAR?

VERIFICANDO O APRENDIZADO

1. UMA EMPRESA TOMA UM EMPRÉSTIMO NO VALOR DE R$200.000,00. A


TAXA DE JUROS NOMINAL É DE 0,98% AO MÊS. PORÉM, A EMPRESA TEVE
CUSTOS DE R$15.000,00 NO EMPRÉSTIMO, EM QUE ELEVARAM A TAXA DE
JUROS EFETIVA PARA 1,03% A.M. (TAIS CUSTOS SERÃO PAGOS DE FORMA
DILUÍDA NAS PARCELAS). QUAL É O VALOR DA DESPESA FINANCEIRA NO
PRIMEIRO MÊS?

A) R$1.960,00

B) R$2.060,00

C) R$15.000,00

D) R$16.960,00

E) R$17.060,00

2. UMA EMPRESA CONTRAIU UM EMPRÉSTIMO DE R$500.000,00, PAGÁVEIS


AO FIM DE 12 MESES, COM JUROS DE 1% A.M. QUAL É O VALOR DO SALDO
DO PASSIVO AO FIM DE 5 MESES?

A) R$500.000,00

B) R$505.000,00
/
C) R$525.000,00

D) R$525.505,03

E) R$563.412,52

GABARITO

1. Uma empresa toma um empréstimo no valor de R$200.000,00. A taxa de juros nominal é de


0,98% ao mês. Porém, a empresa teve custos de R$15.000,00 no empréstimo, em que elevaram a
taxa de juros efetiva para 1,03% a.m. (tais custos serão pagos de forma diluída nas parcelas).
Qual é o valor da despesa financeira no primeiro mês?

A alternativa "B " está correta.

O valor que virá como despesa financeira na DRE do primeiro mês será com a taxa de juros efetiva de
1,03% x R$200.000,00 = R$2.060,00. O valor da taxa de juros nominal, conforme já discutido
anteriormente no conteúdo, não deve integrar o cálculo da despesa financeira.

2. Uma empresa contraiu um empréstimo de R$500.000,00, pagáveis ao fim de 12 meses, com


juros de 1% a.m. Qual é o valor do saldo do passivo ao fim de 5 meses?

A alternativa "D " está correta.

Tendo em vista que não houve pagamentos, o valor do passivo é de R$500.000 × 1,015 =
R$252.505,03. Caso houvesse pagamentos, deveria ser construída uma tabela, conforme vimos no
conteúdo, com os valores dos pagamentos diminuindo o valor devido.

MÓDULO 3

 Calcular adequadamente os financiamentos das atividades de uma empresa comercial

/
Fonte: Monster Ztudio/Shutterstock

CONTABILIZAÇÃO DE OPERAÇÕES
FINANCEIRAS COM JUROS PREFIXADOS E
PÓS-FIXADOS
Na contabilidade, segue-se o regime de competência, ou seja, os fatos contábeis só são
contabilizados conforme ocorrem. O CPC 00 traz a definição e a importância do regime de
competência da seguinte maneira:

O REGIME DE COMPETÊNCIA REFLETE OS EFEITOS DE


TRANSAÇÕES E OUTROS EVENTOS E CIRCUNSTÂNCIAS
SOBRE REIVINDICAÇÕES E RECURSOS ECONÔMICOS DA
ENTIDADE QUE REPORTA NOS PERÍODOS EM QUE ESSES
EFEITOS OCORREM, MESMO QUE OS PAGAMENTOS E
RECEBIMENTOS À VISTA RESULTANTES OCORRAM EM /
PERÍODO DIFERENTE. ISSO É IMPORTANTE PORQUE
INFORMAÇÕES SOBRE OS RECURSOS ECONÔMICOS E
REIVINDICAÇÕES DA ENTIDADE QUE REPORTA E
MUDANÇAS EM SEUS RECURSOS ECONÔMICOS E
REIVINDICAÇÕES DURANTE O PERÍODO FORNECEM UMA
BASE MELHOR PARA A AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO
PASSADO E FUTURO DA ENTIDADE DO QUE
INFORMAÇÕES EXCLUSIVAMENTE SOBRE
RECEBIMENTOS E PAGAMENTOS À VISTA DURANTE ESSE
PERÍODO.

Portanto, os juros só são contabilizados após o período que foi transcorrido. Por quê?

 EXEMPLO

Vamos supor que sua empresa tenha contraído um empréstimo de R$100.000,00, com juros de 1%
a.m. para serem pagos, na totalidade, após 12 meses. O que acontecerá se a empresa quitar o

empréstimo na data de pagamento? Nesse caso, ela pagará R$100.000 × (1,01)12 = R$112.682,50.
Ou seja, os juros totalizarão R$12.682,50. Mas o que ocorrerá se ela pagar antecipadamente no

primeiro mês? Nesse caso, ela pagará R$100.000 × (1,01)1 = R$101.000,00.

Note que, agora, o valor dos juros é de apenas R$1.000,00. Ou seja, o valor dos juros muda com o
decorrer do tempo e a contabilidade deve refletir isso. Caso fossem contabilizados os R$112.682,50 na
contabilidade, se a empresa pagasse antecipadamente a dívida já no primeiro mês, o passivo ficaria
maior em R$11.682,50 (pois a empresa pagou R$101.000,00, mas o valor da dívida na contabilidade
estava em R$112.682,50). Isso geraria um erro contábil que teria de ser corrigido. Dessa forma, é
sempre importante contabilizar os juros mês a mês, a fim de evitar erros contábeis.

Além disso, um aspecto muito importante é referente à diferença entre amortização e juros. No caso
apresentado anteriormente, após 12 meses, a empresa pagará R$112.682,50 sendo R$100.000,00 de
amortização e R$12.682,50 de juros.

A amortização é a devolução do valor emprestado, e os juros são o pagamento pelo tempo do


dinheiro.

É importante diferenciar, pois os R$100.000,00 não são uma despesa da empresa, já que ela apenas
estaria devolvendo o valor que tinha tomado emprestado e estava contabilizado em seu ativo. Porém, /
os R$12.682,50 representam uma despesa que a empresa incorreu para obter o empréstimo.

A amortização é contabilizada por meio de uma contraprestação no passivo (diminui a dívida da


empresa) no caixa, enquanto os juros são contabilizados como despesa.

Veja o exemplo, a seguir, das contabilizações do exemplo anterior.

RECEBIMENTO DO EMPRÉSTIMO
C – Passivo = R$100.000,00

D – Caixa = R$100.000,00

Contabilizações dos juros (mês a mês)

APÓS O FIM DO PRIMEIRO MÊS


C – Passivo = (valor dos juros do mês)

D – Despesa = (valor dos juros no mês)

Esses valores das despesas de juros vão acumulando, mês a mês, na conta de passivo, até que a
mesma chegue ao valor de R$112.682,50 no décimo segundo mês, e o empréstimo é quitado,
conforme lançamento a seguir:

APÓS O PAGAMENTO
D – Passivo = R$112.682,50

C – Caixa = R$112.682,50

No caso apresentado, os juros são prefixados, ou seja, os valores dos juros mensais são conhecidos
já no início de contrato. No caso dos pós-fixados, os mesmos são conhecidos com o passar do
tempo. Um exemplo do caso de juros pós-fixados seria um empréstimo tendo como juros o IPCA +
0,50% a.m. Nesse caso, sempre há um componente prefixado e um pós-fixado.

Portanto, em casos assim, a contabilização é um pouco diferente. A mecânica contábil é a mesma, no


entanto, como os juros são definidos mês a mês de forma dinâmica, a taxa tem que ser calculada
sempre ao lançamento, em vez de se lançar uma taxa fixa.

Por exemplo, se o IPCA foi 0,25%, em fevereiro de 2020, a taxa do mês para a contabilização da
despesa com juros seria de 0,75% do saldo do passivo (0,25%+0,50%). Porém, em março de 2020,
como o IPCA foi de 0,07%, a taxa para a contabilização da despesa com juros seria apenas de 0,57%
(0,07%+0,50%).

/
No entanto, pode haver casos em que ambas as taxas estejam descritas em taxas anuais (a.a.), mas
precisamos atualizar o valor mês a mês (a.m.) para fins contábeis. Como fazer essa transformação?
Vejamos um exemplo:

 EXEMPLO

Uma empresa emite um título que paga 5,0% + IPCA a.a., mas o IPCA foi de 0,2% no primeiro mês.
Qual é o valor contábil dos juros, no primeiro mês, a fim de se ajustar o passivo? Primeiramente, temos
de transformar a taxa prefixada, que está em a.a., em a.m. Isso pode ser feito utilizando a fórmula de
juros compostos, conforme veremos a seguir:

 Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal

Desse modo, um título que rende 5,0% + IPCA a.a. é como um título que rende 0,407% + IPCA a.m. A
partir dessa transformação, podemos calcular o valor para o mês, que será de 0,407 + 0,200 = 0,607%.
Assim, o valor para atualizar o título nesse mês seria de 0,607%.

Fonte: Setthawuth/Shutterstock

/
PERDAS ESTIMADAS EM CRÉDITOS DE
LIQUIDAÇÃO DUVIDOSAS
À diferença dos casos que vimos até aqui, este item se refere à parte que detém o direito de receber o
crédito. Muitas empresas, para manter as suas margens de lucro e aumentar a sua clientela, vendem
seus produtos a prazo para continuar a financiar as suas atividades.

Entretanto, para todas as vendas, há a probabilidade de os clientes não efetuarem os pagamentos,


com o famoso “calote”.

Tal “calote” faz parte da operação da empresa, de modo que ela deve reconhecer sempre uma
provisão para isso. Tal normativa estava no CPC 38 até o ano de 2018 e foi substituída para pelos
CPCs 47 e 48.

O CPC 00, que traz todo o arcabouço teórico da Contabilidade, diz o seguinte sobre a representação
fidedigna das informações contábeis em relatórios financeiros:

RELATÓRIOS FINANCEIROS REPRESENTAM FENÔMENOS


ECONÔMICOS EM PALAVRAS E NÚMEROS. PARA SEREM
ÚTEIS, INFORMAÇÕES FINANCEIRAS NÃO DEVEM
APENAS REPRESENTAR FENÔMENOS RELEVANTES, MAS
TAMBÉM REPRESENTAR DE FORMA FIDEDIGNA A
ESSÊNCIA DOS FENÔMENOS QUE PRETENDEM
REPRESENTAR. [...] PARA SER REPRESENTAÇÃO
PERFEITAMENTE FIDEDIGNA, A REPRESENTAÇÃO TEM
TRÊS CARACTERÍSTICAS. ELA É COMPLETA, NEUTRA E
ISENTA DE ERROS. OBVIAMENTE, A PERFEIÇÃO NUNCA
OU RARAMENTE É ATINGIDA. O OBJETIVO É MAXIMIZAR
ESSAS QUALIDADES TANTO QUANTO POSSÍVEL. A
REPRESENTAÇÃO COMPLETA INCLUI TODAS AS
INFORMAÇÕES NECESSÁRIAS PARA QUE O USUÁRIO /
COMPREENDA OS FENÔMENOS QUE ESTÃO SENDO
REPRESENTADOS, INCLUSIVE TODAS AS DESCRIÇÕES E
EXPLICAÇÕES NECESSÁRIAS.

Ou seja, a contabilidade tem de representar, fidedignamente, todas as transações e a realidade


econômico-financeira da empresa. É irreal esperar que todos os seus clientes façam os pagamentos
em dia e sem probabilidade de “calote”. Ademais, a normativa contábil estabelece que “[a]
representação completa inclui todas as informações necessárias para que o usuário compreenda os
fenômenos que estão sendo representados”. Em outras palavras, os usuários das informações
contábeis e financeiras que a empresa disponibiliza precisam saber da estimativa que a empresa faz
de possíveis “calotes” que receberá no futuro. Assim sendo, a empresa deve demonstrar essa
possibilidade em seus demonstrativos contábeis.

A empresa, de acordo com tais normativas, deve estimar, nas suas operações financeiras de venda a
prazo, o percentual dos créditos que possui liquidação duvidosa, isto é, que possui o risco de “calote”.
Normalmente, isso é feito por meio de previsões estatísticas que levam em conta tanto os valores
passados que não foram pagos quanto aspectos macroeconômicos, tais como taxa de juros, inflação,
PIB etc.

A contabilização é feita por meio de uma conta redutora no ativo. Vejamos um exemplo a seguir:

LANÇAMENTO DA PERDA
REVERSÃO DA PERDA

LANÇAMENTO DA PERDA

Uma empresa estimou que R$10.000,00 dos seus créditos de venda a prazo não seriam recebidos.
Nesse caso, o lançamento contábil correto é o seguinte:

C – Provisão para créditos de liquidação duvidosa = 10.000

D – Despesa com PCLD = 10.000

Com o tempo, a empresa verifica que R$2.000,00 de uma dívida de um cliente não serão pagos (não
vale a pena cobrar judicialmente a dívida, e o cliente está com a dívida há anos). O lançamento dessa
perda, portanto, não irá influenciar o resultado da empresa, pois não será contabilizada uma despesa,
apenas será incorporada a PCLD na conta de clientes:

C – Clientes = 2.000

D – Provisão para créditos de liquidação duvidosa = 2.000


/
Há também o caso contrário: a reversão da perda. Isso acontece quando todos os créditos são
quitados ou a empresa revisa a sua estimativa de PCLD para baixo. Vejamos o exemplo a seguir:

REVERSÃO DA PERDA

Retomando o exemplo anterior, vamos supor que a empresa revisasse sua estimativa de PCLD de 10
mil para 8 mil. O lançamento de reversão seria feito da seguinte maneira:

C – Reversão de PCLD = 2.000

D – Provisão para créditos de liquidação duvidosa = 2.000

Nesse caso, a reversão é contabilizada como uma receita da empresa.

CONTABILIZAÇÃO DAS OPERAÇÕES DE PDD


E DAS RECEITAS E DESPESAS FINANCEIRAS
DAS ATIVIDADES COMERCIAIS DE UMA
EMPRESA

/
OPERAÇÕES COM INSTRUMENTOS
FINANCEIROS
Primeiramente, temos de definir o que é um instrumento financeiro. O instrumento financeiro pode ser
definido como um contrato que dá origem a um ativo ou passivo financeiro, ou a um instrumento
patrimonial. Portanto, os casos anteriores que já analisamos se enquadram em instrumentos
financeiros. Agora, vamos analisar a contabilização de operações com instrumentos financeiros de
forma mais geral.

Os ativos financeiros deverão ser contabilizados da seguinte maneira:

PELO CUSTO AMORTIZADO


Se a empresa mantiver o ativo com o propósito de receber os juros contratuais sobre o principal
investido;

PELO VALOR JUSTO ATRAVÉS DE OUTROS RESULTADOS


ABRANGENTES (ORA)
Se a empresa mantiver o ativo tanto para negociação quanto para recebimento de juros;

PELO VALOR JUSTO ATRAVÉS DE RESULTADO


Se a empresa não se enquadrar em nenhum dos dois casos anteriores.

Vejamos a aplicação dessas regras nos exemplos a seguir:

A empresa XYZ compra 10 títulos de dívida que pagam 10% a.a. de juros mais 10.000 de amortização
do principal anualmente. O objetivo da empresa é receber os juros contratuais, e não negociar o título. /
A partir dessas informações, podemos calcular a tabela a seguir:

Ano Saldo inicial Juros Amortização Recebimento Saldo final

1 100000 2000 10000 12000 90000

2 90000 1800 10000 11800 80000

3 80000 1600 10000 11600 70000

4 70000 1400 10000 11400 60000

5 60000 1200 10000 11200 50000

6 50000 1000 10000 11000 40000

7 40000 800 10000 10800 30000

8 30000 600 10000 10600 20000

9 20000 400 10000 10400 10000

10 10000 200 10000 10200 0

 Atenção! Para visualizaçãocompleta da tabela utilize a rolagem horizontal

Podemos, nesse caso, realizar a contabilização do primeiro ano para a entidade que comprou essa
dívida da seguinte maneira:

D – Ativo financeiro = R$1.000.000,00

C – Caixa = R$1.000.000,00

D – Caixa = R$120.000,00

C – Ativo financeiro = R$100.000,00

C – Receita com juros = R$20.000,00

/
O segundo lançamento será repetido todos os 10 anos até o saldo da conta ser zerado. No entanto,
caso a empresa o mantivesse também para a venda, ela deveria contabilizar o instrumento por meio
do Valor Justo em ORA. Ou seja, vamos supor que a taxa de juros básica caia e o instrumento esteja
cotado em R$98.000,00 ao fim do ano 1. Nesse caso, os R$8.000,00 de “ganho” versus o valor
contratual de R$90.000,00 deverão ser contabilizados em outros resultados abrangentes, como
veremos a seguir:

D – Ativo financeiro = R$80.000,00

C – Outros resultados abrangentes = R$80.000,00

 EXEMPLO

Vamos supor que a empresa invista o valor de R$100.000,00 em um Fundo Multimercado e, após 1
mês, o saldo seja de R$102.500.00. Tendo em vista que esse tipo de investimento não se enquadra
em nenhum dos dois primeiros itens, o valor é lançado como valor justo por meio do Resultado,
conforme o exemplo a seguir:

D – Investimentos em Fundo Multimercado = R$100.000,00

C – Caixa = R$100.000,00

D – Investimentos em Fundo Multimercado = R$2.000,00

C – Receita financeira = R$2.000,00

VERIFICANDO O APRENDIZADO

1. UMA EMPRESA DECIDE INVESTIR R$50.000,00 DO SEU CAIXA EM UM


TÍTULO QUE PAGA IPCA +2,0% A.A. A EMPRESA DESEJA MANTER O TÍTULO
ATÉ O VENCIMENTO E NÃO NEGOCIÁ-LO. O TÍTULO NÃO POSSUI CUPONS (O
VALOR SERÁ PAGO APENAS NO VENCIMENTO). APÓS 1 ANO, O VALOR DO
IPCA FOI DE 2,25%. COMO DEVERÁ SER FEITO O LANÇAMENTO DOS JUROS?

A) Não deve ser feito lançamento dos juros, apenas a marcação a valor justo.

B) Deve ser feito no valor de R$2.125,00 na conta do ativo contra a conta de Outros Resultados
Abrangentes.
/
C) Deve ser feito no valor de R$2.125,00 na conta do ativo contra a conta de Receita Financeira no
Resultado.

D) Deve ser feito no valor de R$4.250,00 na conta do ativo contra a conta de Receita Financeira no
Resultado.

E) Deve ser feito no valor de R$ 4.250 na conta do ativo contra a conta de Outros Resultados
Abrangentes.

2. UMA EMPRESA TOMOU UM EMPRÉSTIMO DE R$100.000,00 COM JUROS DE


10% A.A. E PAGAMENTOS ANUAIS. NO PRIMEIRO ANO, PAGOU R$60.000,00, E
NO SEGUNDO ANO, PAGOU R$55.000,00. QUAL É O VALOR DA AMORTIZAÇÃO
ANUAL?

A) R$50.000,00

B) R$55.000,00

C) R$60.000,00

D) R$80.000,00

E) R$100.000,00

GABARITO

1. Uma empresa decide investir R$50.000,00 do seu caixa em um título que paga IPCA +2,0% a.a.
A empresa deseja manter o título até o vencimento e não negociá-lo. O título não possui cupons
(o valor será pago apenas no vencimento). Após 1 ano, o valor do IPCA foi de 2,25%. Como
deverá ser feito o lançamento dos juros?

A alternativa "C " está correta.

Tendo em vista que o ativo é mantido para recebimento dos juros, o método utilizado deverá ser o do
custo amortizado. Portanto, deverá ser lançado o valor de R$50.000 × (2,0% + 2,25%) = R$2.125,00
na conta de resultado (Receitas Financeiras).

2. Uma empresa tomou um empréstimo de R$100.000,00 com juros de 10% a.a. e pagamentos
anuais. No primeiro ano, pagou R$60.000,00, e no segundo ano, pagou R$55.000,00. Qual é o
valor da amortização anual?

A alternativa "A " está correta.


/
Ao fim do primeiro ano, a empresa teve um valor de juros de 10% × R$100.000,00 = R$10.000,00.
Como o pagamento foi de R$60.000,00 e os juros são de R$10.000,00, o valor da amortização foi de
R$50.000,00. Para o ano 2, o valor é de 10% × R$50.000,00 = R$5.000,00, com a parcela sendo de
R$55.000,00, com os R$50.000,00 de amortização. Portanto, a amortização, em ambos os anos, foi do
mesmo valor de R$50.000,00, e a resposta correta é a alternativa A. Note que, embora a amortização
total tenha sido de R$100.000,00, a pergunta se refere à amortização anual e, por isso, a alternativa E
está incorreta.

CONCLUSÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste tema, você aprendeu sobre as principais formas de financiamento das empresas e suas
diferentes formas de contabilização. Foi abordada a decisão entre emitir ações e se financiar por
dívida, bem como o tratamento contábil de empréstimos, vendas a prazo e outras operações
financeiras.

Além disso, abordamos tipos de instrumentos pré e pós-fixados, a diferença entre a taxa de juros real e
nominal, bem como os tipos de desconto “por dentro” e “por fora”.

Os conhecimentos adquiridos ajudarão você a contabilizar corretamente diferentes tipos de situações


financeiras e entender os impactos das decisões financeiras nos demonstrativos financeiros.

REFERÊNCIAS /
GALDI, F. C.; BARRETO, E.; FLORES, E. Contabilidade de instrumentos financeiros – IFRS 9 –
CPC 48. Rio de Janeiro: Atlas, 2018.

GELBCKE, E. R; SANTOS, A.; IUDÍCIBUS, S.; MARTINS, E. Manual de Contabilidade Societária.


Rio de Janeiro: Atlas, 2018.

PUCCINI, A. Matemática Financeira objetiva e aplicada. 7. ed. Rio de Janeiro: Saraiva, 2006.

ROSS, S.; WESTERFIELD, R.; JAFFE, J.; LAMB, R. Administração Financeira. 10. ed. [s.l.]:
McGraw-Hill, 2015.

SZUSTER, N.; CARDOSO, R. L.; SZUSTER, F. R. Contabilidade geral: introdução à Contabilidade


Societária. 4. ed. Rio de Janeiro: Atlas, 2013.

EXPLORE+
Indicamos, como leitura complementar, o livro Contabilidade de Instrumentos Financeiros – IFRS 9 –
CPC 48, de Galdi, Barreto e Flores. O livro aborda, com mais detalhes, a contabilização de diversos
tipos de instrumentos financeiros. Além disso, aborda a mudança do CPC 38 para o 48, que ocorreu
recentemente e ainda gera muitas dúvidas entre contadores.

CONTEUDISTA
Rodrigo de Oliveira Leite

 CURRÍCULO LATTES

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