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Sumário

A quem se destina este livro ............................................................................................ 6


O autor ............................................................................................................................. 6
Agradecimentos ............................................................................................................... 7
Capítulo I - Comecei a poupar, e agora? .......................................................................... 8
A história costuma ser a mesma... ............................................................................... 8
Por que investir?........................................................................................................... 9
Investindo para alcançar nossos objetivos ................................................................. 10
Capítulo II - Qual o seu objetivo? ................................................................................... 11
O que leva você a investir?......................................................................................... 11
Características dos objetivos ...................................................................................... 11
A importância dos objetivos ....................................................................................... 13
Capítulo III - Reserva de emergência .............................................................................. 15
O que é a reserva de emergência? ............................................................................. 15
Qual o valor ideal da reserva de emergência? ........................................................... 16
A importância da reserva de emergência .................................................................. 16
Quais seriam boas opções de investimento para a reserva de emergência? ............ 17
Cuidado com a empolgação inicial ............................................................................. 18
Capítulo IV - Gastos básicos e gastos supérfluos ........................................................... 19
O que são gastos básicos e gastos supérfluos? .......................................................... 19
Mantenha seu gasto básico baixo .............................................................................. 19
Faça simulações prévias dos gastos básicos para tempos difíceis ............................. 20
A reserva de emergência ajuda no curto prazo, mas e no longo? ............................. 20
Capítulo V - Seguros de vida e planos de saúde ............................................................. 21
Como se proteger do imprevisível?............................................................................ 21
Para que servem realmente os planos de saúde?...................................................... 22
Qual a real utilidade do seguro de vida? .................................................................... 23
Um risco sério desconhecido por muitos: o processo de inventário ......................... 23
Em que devemos prestar atenção ao contratar planos de saúde ou seguro de vida 24
O que deve ser protegido principalmente de acordo com cada perfil ...................... 25
Uma forma inteligente de dividir a renda .................................................................. 26
Capítulo VI - Introdução aos investimentos ................................................................... 28
O medo de investir ..................................................................................................... 28
O que acontece com o dinheiro investido?................................................................ 28
Investir através de bancos ou corretoras? ................................................................. 29
A barreira do “economês”.......................................................................................... 30
Capítulo VII - Termos técnicos e siglas descomplicadas................................................. 31
Entendendo os principais termos técnicos ................................................................ 31

2
Títulos financeiros ...................................................................................................... 31
Imposto de renda (IR)................................................................................................. 31
IPCA ............................................................................................................................ 32
SELIC ........................................................................................................................... 33
CDI .............................................................................................................................. 33
Prefixado e Pós-fixado ................................................................................................ 33
Liquidez....................................................................................................................... 34
Volatilidade................................................................................................................. 35
D+1 (D+3, D+5, D+30...) .............................................................................................. 35
Vencimento ................................................................................................................ 35
Rentabilidade ............................................................................................................. 36
B3 ................................................................................................................................ 36
Renda Fixa e Renda Variável ...................................................................................... 36
Capítulo VIII - Renda fixa ................................................................................................ 37
O que são investimentos de Renda Fixa?................................................................... 37
Vantagens e desvantagens da renda fixa ................................................................... 37
Principais produtos de Renda Fixa ............................................................................. 38
Poupança ................................................................................................................ 38
Títulos do tesouro nacional (tesouro direto) ......................................................... 39
CDB ......................................................................................................................... 41
LCI e LCA: ................................................................................................................ 42
LCs: ......................................................................................................................... 44
Debêntures ............................................................................................................. 44
CRIs e CRAs: ............................................................................................................ 45
COEs:....................................................................................................................... 46
É importante se aprofundar mais quando for investir ............................................... 48
Perguntas a serem feitas antes de aplicar em um produto de renda fixa ................. 48
Qual o vencimento? ............................................................................................... 48
Qual a liquidez? ...................................................................................................... 48
Qual a alíquota de imposto de renda aplicada?..................................................... 48
Quais as taxas pagas? ............................................................................................. 48
Quais as garantias do investimento? ..................................................................... 49
O que acontece se precisarmos retirar o dinheiro antes do prazo? ...................... 49
Qual a rentabilidade? ............................................................................................. 49
Recomendações ......................................................................................................... 49
Capítulo IX - Renda Variável ........................................................................................... 50
O que é Renda Variável .............................................................................................. 50
Por que investir em renda variável?........................................................................... 50

3
O que normalmente acontece com o dinheiro na renda variável e o porquê do risco
................................................................................................................................................. 52
Ações (Daytrade e Buy and Hold) ........................................................................... 53
Fundos de investimento (ações, multimercados e outros) .................................... 59
Previdência privada ................................................................................................ 62
Fundos de renda fixa e DI ....................................................................................... 64
ETFs......................................................................................................................... 65
Fundos imobiliários ................................................................................................ 66
Outros ativos de renda variável ............................................................................. 69
Capítulo X - O poder da diversificação ........................................................................... 73
Por que diversificar? ................................................................................................... 73
Como funciona a alocação de ativos? ........................................................................ 74
Balanceamento da carteira e piloto automático........................................................ 74
O quanto devo me aprofundar em finanças? ............................................................ 75
A importância do aporte consistente ......................................................................... 76
Capítulo XI - Escolha bem seus consultores e assessores .............................................. 78
Qual a diferença entre assessores e consultores? ..................................................... 78
Assessores financeiros................................................................................................ 78
Vantagens e desvantagens dos Assessores financeiros ............................................. 79
Consultores financeiros .............................................................................................. 79
Vantagens e desvantagens ......................................................................................... 80
Qual profissional é recomendado para mim? ............................................................ 80
Capítulo XII - Escolhendo produtos para seus objetivos ................................................ 81
Rentabilidade é tudo? ................................................................................................ 81
O objetivo deve guiar o investimento ........................................................................ 81
Escolher dentre as opções viáveis .............................................................................. 82
Podemos ter vários objetivos em paralelo ................................................................. 82
Exemplos de objetivos e produtos viáveis ................................................................. 82
1 - Reserva de emergência: .................................................................................... 82
2 - Casamento:........................................................................................................ 83
3 - Objetivos em geral em menos de dois anos: .................................................... 83
4 – Viagens e/ou moradia no exterior:................................................................... 83
5 - Independência financeira e/ou aposentadoria: ................................................ 84
Como analisar novos produtos e ativos financeiros .................................................. 84
1 - O que será feito com o nosso dinheiro? ........................................................... 85
2 - Renda fixa ou renda variável? ........................................................................... 85
3 - Vencimento ....................................................................................................... 86
4 - Liquidez ............................................................................................................. 86

4
5 - Taxas e Imposto de Renda ................................................................................ 86
6 - Rentabilidade .................................................................................................... 87
7 - Valor do aporte mínimo .................................................................................... 87
8 - Volatilidade ....................................................................................................... 87
9 - Riscos ................................................................................................................. 88
Capítulo XIII - O que seria uma boa estrutura financeira ............................................... 89
O que buscar em um bom planejamento (e em qual ordem de prioridade) ............. 89
Resumo do passo a passo prático .............................................................................. 90
1 - Definir o objetivo, os valores a serem acumulados e o prazo .......................... 90
2 - Entender as peculiaridades do projeto ............................................................. 90
3 - Fazer a triagem inicial de produtos viáveis ....................................................... 91
4 - Escolher os produtos e começar a aportar ....................................................... 91
5 - Acompanhamento e manutenção..................................................................... 91
Os objetivos seguem em paralelo .............................................................................. 92
Capítulo XIV - Pontos de atenção ................................................................................... 93
Pontos de atenção a serem lembrados ...................................................................... 93
Os objetivos guiam os investimentos ..................................................................... 93
Reserva de emergência antes de tudo ................................................................... 93
Proteções são fundamentais .................................................................................. 94
Sempre procure diversificar e minimizar o risco .................................................... 94
Esteja atento à rentabilidade real de cada produto .............................................. 94
Compare entre corretoras e instituições antes de aplicar ..................................... 94
Sempre tenha fontes confiáveis e atualizadas de informação............................... 94
Sempre analise profundamente qualquer produto com retorno muito acima da
média em renda fixa............................................................................................................ 94
Em renda variável, não é possível GARANTIR rentabilidades ................................ 95
Cuidado com a relação investimento x especulação ............................................. 95
Estudar e se manter informado nunca é demais ................................................... 95
Capítulo XV – Isso é apenas o começo ........................................................................... 96
Reflexão ...................................................................................................................... 96
Referências ..................................................................................................................... 97

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A quem se destina este livro

Muitas pessoas têm dificuldades em começar a investir simplesmente por não


entenderem do assunto, ou por se sentirem intimidadas com a quantidade de
conteúdos e jargões técnicos da área, deixando de aproveitar seu potencial e todos os
benefícios que um planejamento financeiro bem estruturado pode trazer.

Este livro tem como objetivo, através da leitura rápida e simplificada, auxiliar a
todos os que conseguem guardar dinheiro com frequência, ou já possuem algum
montante acumulado, independentemente da quantidade, levando-os do zero (ou de
qualquer nível de conhecimento que se encontrem) a serem capazes de montar suas
próprias carteiras de investimentos de forma segura e eficiente. O conhecimento
prático é muito mais simples do que aparenta, por isso, irei desmistificar conceitos e
termos técnicos de forma fácil para o investidor iniciante durante a leitura.

A primeira parte do livro tem o propósito de explicar qual o papel dos


investimentos em um planejamento financeiro e o que se deve esperar deles em termos
estruturais e de resultados. Na segunda parte, vou adentrar um pouco mais na descrição
de cada tipo de produto financeiro e suas funções, para, em seguida, concluir a terceira
parte, dispondo de alguns exemplos de estrutura de investimentos por perfil.

O autor

Danilo Gato possui anos de experiência na área de finanças, já tendo prestado


consultoria de proteção financeira pessoalmente para centenas de famílias. Conquistou
prêmios e reconhecimentos importantes, sendo um deles a qualificação para o MDRT
(Million Dollar Round Table), organização mundial que reúne 1% dos melhores
profissionais da área financeira do mundo.

Durante as consultorias, notou muitos clientes com grandes somas poupadas, mas
que não tinham ideia do que fazer com elas, muitas vezes alocadas em produtos de
baixíssima rentabilidade, e alguns prestes a tomar decisões completamente
equivocadas por falta de conhecimento básico. Por isso, decidiu escrever este livro, para
que seja um ponto inicial bem estruturado, a fim de ajudar a quem tem interesse de
participar do mundo dos investimentos, mas sente grande dificuldade.

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Agradecimentos

Gostaria de agradecer à minha família, à minha esposa, aos meus amigos,


parceiros de negócios, mentores, clientes e a todos que me apoiaram durante a minha
carreira. Sem o suporte de cada um não teria sido possível concluir o presente projeto.

Este livro é a consolidação de muito trabalho, muitas horas de estudo, anos de


experiência e dedicação. Espero que gostem!

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Capítulo I - Comecei a poupar, e agora?

A história costuma ser a mesma...

Acredito que muitos de vocês já passaram por isso: depois de muito esforço e
disciplina, começamos a poupar dinheiro. Logo passamos a pensar onde colocar este
valor acumulado, para "render mais", já que a poupança é coisa do passado. É nessa
hora que a complicação começa, pois nos deparamos com uma infinidade de produtos,
taxas, termos técnicos os quais nunca ouvimos falar na vida, como "CDIs", "SELICs",
"Prefixados", entre outros, resultando na desistência do investimento, o que nos faz
desistir e voltar para a boa e velha poupança "temporariamente, enquanto não
entendemos melhor de investimentos". Com isso, os anos vão passando…

A grande realidade é que por trás de todos os termos técnicos e a infinidade de


produtos, existe um conteúdo principal relativamente simples, que pode ser aprendido
por todos, capaz de multiplicar nosso patrimônio e nos fazer alcançar muitos projetos
antes do tempo planejado.

O economista Vilfredo Pareto é tido como criador do famoso princípio de Pareto,


mais conhecido como regra do 80/20. Esse conceito declara que aproximadamente 80%
dos resultados vêm de apenas 20% das causas, nas finanças isso não é diferente. Pessoas
que se dedicam a aprender pelo menos esses 20% de conteúdo e estratégias principais,
conseguem obter resultados expressivamente superiores aos das pessoas que hoje não
entendem absolutamente nada de finanças e nem têm interesse de aprender.

Meu objetivo aqui é justamente apontar o caminho das pedras e o conhecimento


essencial para investir de forma simplificada, deixando de fora toda a parte mais
avançada e específica (os 80% restantes que são responsáveis por apenas 20% dos
resultados), que deveria ser aprendida apenas por profissionais da área que pretendem
fazer disso sua carreira. É importante dizer que se capacitar cada vez mais é sempre
bom, mas o conhecimento básico é mais do que suficiente para atingir resultados muito
expressivos.

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Este conhecimento é importante até mesmo para quem prefere contratar
profissionais especializados e delegar o acompanhamento dos investimentos a
terceiros, pois o mercado financeiro, como qualquer outro, também possui muitos
profissionais de competência duvidosa. A leitura deste livro vai permitir que o investidor
consiga conversar com estes profissionais em um nível bom o suficiente para entender
as estratégias que eles estão traçando e identificar bons profissionais dos que não o são
antes de amargar altos prejuízos após décadas de investimentos ruins.

Por que investir?

Quem está já começou a guardar dinheiro talvez se pergunte por que deveria
investi-lo, já que ir acumulando na conta corrente seria muito mais simples. Aqui,
explicarei três motivos principais:

1 - Se proteger da inflação

De forma simplificada, a inflação é o aumento de preços dos produtos e serviços


no decorrer do tempo, fazendo com que o nosso dinheiro vá se desvalorizando.

Para entender melhor, vamos tomar como exemplo uma pessoa que hoje
consegue fazer suas compras do mês com exatamente R$100,00. Se ela deixar um
montante de R$100,00 parado em uma conta corrente, durante um ano, sem investir
em nada, ao final desse ano, ela não irá conseguir realizar suas compras do mês com o
mesmo valor de R$100,00, já que os produtos terão sofrido aumento de preço, por
causa da inflação. Podemos dizer nesse caso que os mesmos R$100,00 perderam poder
de compra, já que um ano depois ela não conseguirá comprar as mesmas coisas com o
mesmo montante do ano anterior.

Então, um dos primeiros motivos pelos quais devemos investir é para nos proteger
da inflação, já que se aplicarmos o dinheiro em algum produto que renda pelo menos o
mesmo valor da inflação do ano, não perderemos poder de compra com o passar do
tempo.

Porém, apenas “não perder” não é um motivo tão interessante, já que podemos
também ganhar. E isso nos leva ao segundo motivo.

2 - O efeito multiplicador dos juros compostos

Se guardarmos R$100,00 por mês na conta corrente, em um ano teremos


R$1.200,00, em dez anos, R$12.000 e em trinta anos R$36.000,00, ou seja, exatamente
o valor que guardamos.

Entretanto, se aplicarmos esses mesmos R$100,00 por mês em um produto que


rende 7% ao ano, de forma simplificada, em um ano teremos R$1.284,00, em 10 anos
R$16.579,73 e em 30 anos R$113.352,94!

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Podemos perceber que quanto maior o período, maior é a diferença que os juros
compostos fazem, de modo que ao final de 30 anos, o valor acumulado quando há
investimento é quase o triplo daquele parado na conta corrente.

Investir vai ajudar muito a multiplicar o patrimônio que acumulamos no decorrer


do tempo.

3 - Renda passiva

Através do acúmulo de grandes quantias, há possibilidade de fazer com que os


rendimentos mensais do valor aplicado se tornem uma fonte de renda passiva. Tal
rendimento pode ser utilizado em nosso dia-a-dia para pagar contas específicas, ou até
mesmo para arcar com todo o nosso padrão de vida, dependendo da quantia.

Esse é o verdadeiro significado de “fazer o dinheiro trabalhar por nós”.

Investindo para alcançar nossos objetivos

Primeiramente, gostaria de apresentar a definição de investimento segundo o


dicionário:

"Aplicação de recursos, tempo, esforço etc. a fim de se obter algo"

Chamo atenção de vocês para a parte do "obter algo", pois isso pressupõe que o
investidor precisa sempre de um objetivo. Pode parecer óbvio, mas é algo de extrema
importância, sendo muitas vezes esquecido pelos investidores iniciantes, que acabam
não dando atenção aos seus objetivos e procuram apenas investir nos produtos que
"rendem mais" esquecendo todo o resto.

O objetivo é o primeiro e mais importante filtro que define quais produtos vão ser
os ideais para os investimentos, por isso vamos falar um pouco mais sobre a relação
entre os objetivos e os investimentos no capítulo a seguir.

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Capítulo II - Qual o seu objetivo?

O que leva você a investir?

Quem está começando a investir pode não ter a menor ideia de por onde começar.
Eu diria que, antes de qualquer outra coisa, antes mesmo de começarmos a estudar os
produtos, ou fazer movimentações financeiras, devemos entender, em primeiro lugar,
quais motivos nos levam a investir.

Os investimentos são apenas meios de atingir nossos objetivos e projetos, logo


devemos definir quais são os nossos objetivos individuais antes de começar qualquer
investimento, pois os produtos financeiros onde você irá alocar o seu dinheiro para casar
daqui a dois anos, por exemplo, podem ser muito diferentes dos produtos pensados
para se ter uma boa aposentadoria, ou até mesmo dos produtos onde você irá manter
sua reserva de emergência.

Já ouvi muitas vezes de quem está começando a pergunta “qual o melhor


investimento?”, porém esta é uma pergunta incompleta. Eu diria que uma versão um
pouco mais completa e desejável dessa pergunta seria: “Quais as melhores opções de
investimento para __(objetivo) em __(tempo)?”. Digo isso, porque cada pessoa pode ter
vários objetivos, com prazos diferentes, e para cada um deles uma gama de produtos
que podem ser utilizados e montados em carteiras separadas. Estou considerando
apenas as variáveis financeiras, mas também devemos levar em consideração as
variáveis psicológicas e o perfil de risco de quem vai investir.

Ao definir os objetivos, você acabou de dar o primeiro passo em direção a fazer


um bom investimento.

Características dos objetivos

Dentro de cada objetivo, existem algumas características a serem levadas em


consideração para que possamos, em seguida, mapear quais os melhores produtos para
o objetivo em questão. Vamos nos aprofundar mais em cada uma delas em capítulos

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posteriores do livro, mas segue um breve resumo dessas características principais,
usando como exemplo o objetivo "Reformar o apartamento daqui a dois anos":

- Montante necessário: qual o valor necessário para realizarmos a reforma do


apartamento? Nesse caso, faríamos um levantamento de todos os materiais e
orçamento de fornecedores, a fim de sabermos qual valor precisamos acumular.

- Prazo: é extremamente importante sabermos qual o prazo final para realização


do objetivo em questão, pois muitos investimentos possuem datas específicas em que
irão entregar suas melhores rentabilidades, ou a partir das quais o dinheiro pode ser
recuperado.

No caso do nosso exemplo, o prazo é de dois anos, portanto temos que tomar o
cuidado de escolher produtos que possam ser resgatados até o prazo estipulado.

Isto parece óbvio, mas precisa ser dito, uma vez que, como citado acima, alguns
investimentos só podem ser resgatados no vencimento: um investidor iniciante incauto
pode não se atentar e investir em algum produto com vencimento mais longo do que o
prazo final do objetivo, não conseguindo resgatar o dinheiro na data que precisar.

- Aporte mínimo: o valor que você tem disponível para aplicação inicial e mensal
também vai acabar filtrando os produtos disponíveis, já que grande parte possui
aplicações mínimas iniciais de milhares de reais, as quais muitas vezes ficam inacessíveis
para investidores iniciantes com montantes menores disponíveis.

- Tolerância ao risco: existe uma grande relação entre risco e retorno, pois
produtos com maior risco e/ou volatilidade (em que o valor aplicado pode oscilar muito,
tanto positivamente quanto negativamente) tendem a dar os melhores resultados, mas
ao mesmo tempo os maiores prejuízos, quando mal aplicados. Assim sendo, investidores
precisam identificar se possuem um perfil mais conservador ou arrojado, a fim de saber
se montarão carteiras de investimentos para cada objetivo com produtos menos ou
mais arriscados.

No caso do exemplo da reforma, como iremos precisar de um valor exato


predefinido ao final do prazo, investimentos mais arriscados e/ou voláteis podem não
ser boas opções. Pela imprevisibilidade desse tipo de investimento, não podemos correr
o risco de o valor que precisamos não ser atingido no prazo. O que nos resta para este
caso são as opções mais conservadoras e previsíveis.

- Liquidez: é a capacidade de liquidar rapidamente seus investimentos e voltar a


ter o dinheiro em mãos. Alguns produtos possuem liquidez diária (podem ser resgatados
a qualquer momento) e outros podem deixar seu dinheiro preso por meses ou anos em
troca de rentabilidades maiores. É necessário saber de antemão se o dinheiro a ser
aplicado possui alguma possibilidade de precisar ser utilizado antes do prazo do
objetivo, ou se é um montante que podemos abrir mão da liquidez sem grandes riscos
ao nosso planejamento financeiro.

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Uma reserva de emergência, por exemplo, deve estar sempre aplicada em
investimentos de liquidez alta, pois pode ser necessário utilizá-la a qualquer momento
no caso de algum imprevisto. No nosso exemplo da reforma, como temos dois anos de
prazo, temos a opção de "travar" parte dos investimentos em produtos de baixa liquidez
em troca de uma rentabilidade maior, desde que eles estejam disponíveis para resgate
até o prazo do objetivo.

Acredito que vocês já conseguiram perceber que, ao entendermos essas


características, o que parecia ser uma quantidade imensa de opções de produtos para
nossos objetivos, vai acabar se restringindo a apenas alguns viáveis. É importante
verificar quais produtos vão conseguir preencher todos os requisitos do objetivo em
questão e perfil do investidor, pois isso facilita muito na hora da escolha.

Posteriormente, neste livro, explicarei algumas formas de analisar as opções


disponíveis após triagem, para poder escolher as melhores, e também falarei mais a
respeito de rentabilidade dos investimentos.

A importância dos objetivos

Muitas vezes, tive oportunidade de conversar com pessoas e clientes sobre seus
investimentos. Quando perguntei por que eles possuíam determinadas aplicações, ouvi
coisas como: “meu gerente do banco disse que eu tinha um dinheiro parado na conta e
me sugeriu colocar nesses produtos para render mais”, ou “meu pai falou pra deixar na
poupança porque é mais seguro”, ou até mesmo “um amigo me disse que esse fundo
estava tendo resultados muito bons e me sugeriu colocar meu dinheiro nele”,
mostrando total falta de objetivos bem definidos e entendimento de como se deveria
montar uma carteira de investimentos de forma correta.

Em resumo, nós não devemos montar uma carteira aleatória unificada de


investimentos baseada em conselhos rasos de terceiros. Como já expliquei no início
deste capítulo, primeiramente devemos definir todos os objetivos para os quais
queremos investir (aposentadoria, casamento, reformar o apartamento, trocar de
carro…), os montantes necessários, prazos e características de cada um deles, para
enfim planejar e montar uma carteira de investimentos com os produtos viáveis para
cada um.

Para quem já tem dinheiro guardado e nenhum objetivo definido, aumentar o


patrimônio no decorrer dos anos também pode ser considerado um objetivo e deve ser
tratado como tal, já que também existem estratégias a serem aplicadas e produtos
financeiros específicos a serem utilizados para este fim. O importante é não ficar à
deriva!

Como disse o filósofo Sêneca, quando se navega sem destino, nenhum vento é
favorável.

Sei que muitos de vocês já querem chegar na parte dos investimentos, porém
antes de começar a falar deles, preciso introduzir alguns conceitos os quais são

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extremamente importantes para que os investimentos possam realmente agregar ao
planejamento financeiro como um todo de forma harmônica. Para isso, vou começar
apresentando o primeiro objetivo que todos os investidores deveriam ter como meta
inicial, antes mesmo de pensar em investir em qualquer outra coisa: a reserva de
emergência.

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Capítulo III - Reserva de emergência

O que é a reserva de emergência?

Como citei no capítulo anterior, a reserva de emergência (ou colchão financeiro)


deveria ser o primeiro objetivo de qualquer investidor iniciante. Ela é aquele montante
alocado preferencialmente em ativos de alta liquidez e baixo risco, a fim de ser utilizado
em tempos difíceis, ou para algum imprevisto. Enquanto ela não estiver consolidada,
todo o planejamento corre o risco de desmoronar no caso de alguma situação
inesperada, como um desemprego ou algum gasto urgente que não estávamos
contando.

Tomemos como exemplo uma pessoa que atua como empresária e está em um
momento financeiro estável há alguns anos, tendo poupado um determinado montante,
fruto de sua disciplina e planejamento financeiro. Tal pessoa resolve que é hora de
colocar o dinheiro para “render mais” e, influenciada pela tranquilidade e estabilidade
dos últimos anos, resolve aplicar todas as suas reservas em um produto financeiro que
promete uma boa rentabilidade em dois anos, mas que não permite resgate do valor
antes do vencimento. A tranquilidade dura alguns meses, até um certo dia, em que o
seu maior cliente, responsável por 80% da sua renda, encerra o contrato com a sua
empresa. Certamente, esse empresário se enxergará em uma situação extremamente
desfavorável financeiramente, não podendo contar com suas próprias reservas, por não
estarem disponíveis devido à falta de liquidez do produto no qual ela aplicou.

Se essa pessoa tivesse estruturado sua reserva de emergência em produtos de


alta segurança e liquidez, investindo apenas o excedente no produto de baixa liquidez
citado, talvez ela pudesse passar por esses tempos difíceis de forma bem mais tranquila,
sem o alto risco de endividamento.

Se você está poupando há pouco tempo e ainda possui um valor baixo a ser
investido, sugiro fortemente consolidar primeiramente a sua reserva de emergência
antes de pensar em outros objetivos financeiros. Porém, para quem já possui um valor
alto acumulado e está apenas querendo direcionar para seus objetivos e metas atuais,
a sugestão também é deixar separado o valor referente à reserva de emergência em

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produtos de alta segurança e liquidez e investir o restante de acordo com suas outras
estratégias.

Qual o valor ideal da reserva de emergência?

Muitos consultores financeiros sugerem como objetivo ideal para a reserva de


emergência um valor referente a seis meses da sua renda atual. Na minha opinião, este
é um objetivo bastante desafiado, já que para ser conquistado em curto prazo, exigiria
que uma pessoa conseguisse guardar metade de toda sua renda por um ano, podendo
gerar desmotivação e desistência por parte de muitos investidores iniciantes.

Após conversar com várias pessoas e entender as dificuldades comumente


passadas no dia-a-dia, eu sugiro um plano em três etapas para estruturar a reserva de
emergência:

1 - O primeiro objetivo é conseguir guardar o equivalente a seis meses dos gastos


mais básicos e fundamentais, como alimentação, moradia e contas de consumo. Isso já
torna o objetivo muito mais acessível, pois na maioria dos casos o valor dos gastos
básicos tende a ser um percentual baixo dos gastos totais. Além disso, seria um objetivo
coerente, visto que em uma situação financeira difícil, como um desemprego, por
exemplo, cortaríamos os gastos supérfluos e passaríamos a viver apenas com os gastos
básicos. Seguindo esse raciocínio, teríamos seis meses para nos recolocarmos no
mercado.

2- O segundo passo é atingir seis meses dos gastos totais, incluindo as despesas
supérfluas e custos de estilo de vida, como academia e restaurantes, fazendo com que
a recuperação em tempos difíceis possa ser menos desconfortável a você e à sua família.
Desta forma, evitamos cortes de gastos que possam trazer complicações futuras, como
a saída de algum curso no meio do caminho, que posteriormente terá que ser retomado
desde o início.

3- Por último, àqueles que buscam ainda mais segurança, é possível estender a
reserva de emergência para o valor de um ano dos gastos totais, pois algumas profissões
e cargos de gestão, por exemplo, podem possuir um período longo para uma boa
recolocação no mercado.

A importância da reserva de emergência

A reserva de emergência possui uma importância fundamental, não só em


relação ao restabelecimento de vida em caso de dificuldades, mas também com o intuito
de viabilizar oportunidades que surgem quando menos esperamos. Digo isso, porque a
maioria das grandes oportunidades de alto ganho, que cruzam nossos caminhos,
necessita de um investimento de capital, ou até mesmo de um período inicial com baixa
ou nenhuma renda.

Pessoas que não têm essa liquidez da reserva de emergência disponível podem
se ver deixando passar oportunidades das quais se arrependerão por muitos anos. Além

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disso, uma pessoa com reserva de emergência consolidada vive com muito mais
tranquilidade, sem receio de ver a família chegar ao fundo do poço de uma hora para
outra, tendo também muita clareza para identificar oportunidades no decorrer da
carreira sem medo de correr riscos calculados em troca de altos ganhos futuros.

Quais seriam boas opções de investimento para a reserva de emergência?

Justamente pelo fato de que o dinheiro precisa estar disponível rapidamente em


seu valor total, caso necessário, não é recomendado que ele seja aplicado em soluções
voláteis, de alto risco ou baixa liquidez. Falarei com mais detalhes dos produtos abaixo
posteriormente no livro, mas antecipo que algumas opções viáveis de acordo com estes
critérios para a reserva de emergência seriam:

- Tesouro Selic: investimento mais conservador do Brasil e atrelado a taxa Selic.


Possui rentabilidade e liquidez diárias, risco baixíssimo, além de um investimento inicial
muito baixo, o que o torna viável a praticamente qualquer pessoa.

- CDB com liquidez diária: aplicação de renda fixa bem conservadora, também
atrelada ao CDI, entretanto é preciso procurar com mais calma alguma opção que
apresente rentabilidade razoável, visto que a maioria das opções oferecidas por grandes
bancos apresenta retornos abaixo da média. Precisa ter liquidez diária (digo isso pelo
fato de existirem CDBs sem liquidez diária, onde o dinheiro pode ficar preso até o
vencimento). Normalmente, são necessários valores mais altos para aplicar, o que acaba
afastando investidores com montantes menores disponíveis.

- Fundos DI: São fundos de investimento atrelados ao CDI. Também são boas
opções para a reserva de emergência por possuírem baixo risco e liquidez diária. Deve-
se tomar cuidado para encontrar fundos com baixa taxa de administração.

- Conta corrente remunerada: Alguns bancos digitais vêm oferecendo


recentemente esta opção, onde o dinheiro alocado em conta corrente rende de forma
similar ao tesouro Selic com liquidez diária sem precisarmos fazer nada. Como é uma
modalidade recente, oferecida principalmente por instituições financeiras que ainda
não possuem a estabilidade dos grandes bancos, o ideal ainda é agirmos com cautela e
diversificar com as opções citadas acima.

A poupança poderia parecer uma boa opção a princípio, por também possuir
liquidez diária e baixo risco, mas, apesar disso, possui uma grande desvantagem, que é
o fato de só rentabilizar no aniversário mensal da aplicação, ou seja, se você aplicar um
montante no início do mês e precisar retirá-lo vinte e nove dias depois, ao invés de em
trinta dias, por exemplo, não terá rentabilidade nenhuma. Um outro ponto desfavorável
é que a rentabilidade vai perder para investimentos como o tesouro Selic, em
praticamente qualquer cenário.

17
Cuidado com a empolgação inicial

É difícil sugerir a criação de uma reserva de emergência como um primeiro


objetivo para quem está adentrando no mundo dos investimentos, pois a maioria das
pessoas encontra-se em um momento de empolgação, ficando afoitas para investir em
produtos mais elaborados e arriscados. Ao conversar sobre isso com amigos e familiares,
elas ouvirão muitas vezes que começar com a reserva de emergência é desnecessário
ou talvez um excesso de cuidado e que o melhor caminho é aplicar em produtos mais
arrojados que “rendem mais”. Mas reforço a extrema importância de fazer as coisas na
ordem certa e não colocar a carroça na frente dos bois. O investidor consciente e
precavido vai mais longe, seguindo por uma estrada muito mais tranquila e sem grandes
perigos.

Para detalharmos um pouco mais a estruturação da reserva de emergência e


conseguirmos fazer um cálculo mais eficaz do valor a ser alocado, é extremamente
importante que saibamos diferenciar bem os gastos básicos dos gastos supérfluos, como
veremos no próximo capítulo.

18
Capítulo IV - Gastos básicos e gastos supérfluos

O que são gastos básicos e gastos supérfluos?

Já vimos que uma boa estratégia para montar a reserva de emergência é começar
poupando seis meses dos gastos básicos., por isso, vamos entender mais a fundo o que
são os gastos básicos e supérfluos e como calculá-los.

Como os nomes já dão a entender, os gastos básicos são aqueles obrigatórios,


primordiais para a sobrevivência, aqueles sem os quais não conseguiríamos passar o
mês. Normalmente, eles incluem despesas com moradia, como condomínio, aluguel ou
financiamento, alimentação, mensalidade de escola dos filhos, contas de consumo e
quaisquer outras despesas que no momento atual não podem ser cortadas.

Já os gastos supérfluos são aqueles que acrescentamos em nosso padrão para


ter uma vida mais confortável, podendo ser cortados no caso de situações financeiras
difíceis. Em se tratando de gastos supérfluos, temos como exemplos o custo com
restaurantes, com academia, com viagens e hobbies, entre outros.

Mantenha seu gasto básico baixo

Uma das coisas mais importantes para um planejamento financeiro sólido é


manter o gasto básico enxuto. Eu sugeriria, em termos percentuais, manter os gastos
básicos abaixo de 40% dos gastos totais mensais, pois possuir uma alta margem de
manobra pode ser algo extremamente importante. Caso venhamos a passar por tempos
difíceis, essa margem pode prevenir o endividamento.

Não me entendam mal, uma pessoa pode possuir um padrão de vida alto e
extremamente confortável, desde que a maior parte dele possa ser cortada de um mês
para o outro se for necessário. Por esse motivo, devemos evitar parcelamentos
relacionados a gastos supérfluos, pois em uma situação de crise, ainda seríamos
obrigados a arcar com as parcelas.

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Faça simulações prévias dos gastos básicos para tempos difíceis

Se hoje o seu gasto básico é muito alto e você não consegue reduzi-lo facilmente,
tente, pelo menos, fazer o exercício de imaginar quais medidas você teria que tomar, a
fim de diminuí-lo no caso de uma emergência. Apenas identificar antecipadamente o
valor mínimo que você conseguiria chegar no caso de situações financeiras difíceis já é
o suficiente, pois podemos usar este valor como base de cálculo inicial para montar a
reserva de emergência.

Por exemplo, uma pessoa pode estar usufruindo de duas vagas de garagem no
seu prédio, sendo uma alugada, pois possui um segundo carro que é usado pelo seu
filho. Nesse caso, ela não iria imediatamente vender o carro e devolver a vaga, mas já
iria mapear tal possibilidade e calcular o quanto suas despesas diminuiriam, no caso de
ter que tomar essa ação.

Acredito ser muito importante que todos, antecipadamente, já tenham uma


noção do plano de ação financeiro de corte de custos a que teriam de recorrer no caso
de uma dificuldade de modo a mapear o mínimo valor de custo básico possível. Isso
evitaria o risco de, em um momento financeiro desfavorável, descobrirem da pior forma
que o mínimo possível ainda estaria acima do que seria viável para o fluxo de caixa,
resultando num processo de endividamento.

A preocupação com a solidez da estrutura financeira é muito válida, porque todo


projeto financeiro precisa de tempo para ser concluído. Esse tempo pode vir a ser de
muitas décadas, como no caso da aposentadoria, por exemplo. Em prazos longos como
este, a probabilidade de imprevistos acontecerem no meio do caminho é muito grande,
sendo papel da reserva de emergência nos auxiliar a passar por eles sem termos que
dilapidar os nossos outros investimentos, ou termos que vender patrimônio a valores
abaixo do mercado, atrasando nossos objetivos.

A reserva de emergência ajuda no curto prazo, mas e no longo?

A reserva de emergência vai nos auxiliar muito com problemas de curto prazo,
como em casos de desemprego, calotes, ou o surgimento de algum gasto adicional não
planejado. Porém, quando os imprevistos são relacionados a situações graves de saúde
ou acidentes, muitas vezes os valores envolvidos podem ser extremamente altos e as
consequências podem nos afetar por um longo prazo, ou até definitivamente. Para estes
casos, a reserva de emergência não será suficiente e teremos que recorrer a outras
ferramentas financeiras, que são os seguros.

20
Capítulo V - Seguros de vida e planos de saúde

Como se proteger do imprevisível?

Sempre que vamos fazer uma viagem longa, antes que qualquer coisa, devemos
realizar a revisão do carro, verificar se todos os itens de segurança estão em perfeito
estado e nos assegurar de que os passageiros estão com os cintos de segurança. Todos
esses cuidados ajudam na proteção, no caso de algum imprevisto na estrada. Com os
investimentos não é diferente, assim, antes de começarmos os capítulos sobre os
produtos financeiros e como investir na prática, precisamos falar sobre os produtos de
segurança financeira.

O gráfico acima, demonstra que nossas estratégias financeiras seguem de forma


geral um modelo de acúmulo x tempo, principalmente as de longo prazo, como a
aposentadoria. Quando planejamos corretamente a estratégia, os aportes e os produtos
a serem utilizados, de modo a otimizar a rentabilidade, é fácil prever que conseguiremos
atingir com tranquilidade nossos objetivos no prazo planejado, ou até mesmo antes
dele, se tudo correr bem. Entretanto, este gráfico está incompleto, pois imaginem
comigo as seguintes situações:

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- Uma pessoa solteira e sem filhos está dirigindo e é atingida por um motorista
irresponsável, que atravessa um farol vermelho. Como consequência do acidente, ela
precisará se locomover através de cadeira de rodas, não conseguindo mais exercer sua
profissão anterior.

- Uma empresária casada, com filhos, aos 35 anos, descobre que está com
câncer, de um dia para o outro. Em seguida, fica sabendo que seu plano de saúde não
vai cobrir o custo do cirurgião, nem os remédios para o tratamento. O valor envolvido
parte, inicialmente, de R$120.000,00. Devemos considerar também o tempo em que ela
irá ficar afastada da empresa, que pode durar meses. A empresa está em um momento
de investimento e a empresária não possui caixa disponível para arcar com estes custos.

- Um autônomo muito bem sucedido que trabalha com as mãos (cirurgião,


fisioterapeuta, programador...) é fechado por um caminhão na estrada e, em
decorrência do acidente, perde definitivamente o movimento de uma das mãos.

- Um jovem pai de família falece em um assalto, deixando sua esposa e seus


filhos. Sua renda era a maior da casa e todo o patrimônio da família estava em seu nome.
Por causa da fatalidade, a família ficou com um déficit grave de fluxo de caixa mensal e
com custos altíssimos para arcar com seu inventário e liberação de patrimônio,
resultando na falta de dinheiro para pagar as despesas de curto prazo (condomínio,
escola dos filhos…), fora todo o impacto emocional e psicológico na família.

Todos os exemplos citados possuem algo em comum: nenhum deles podia ser
previsto com antecedência e os custos resultantes são muito altos. Além disso, eles
acontecem todos os dias com milhares de pessoas, destruindo famílias, carreiras e
planejamentos financeiros.

É justamente por não sabermos se algum dia o ocorrido será conosco e também
pelo fato de que os custos envolvidos podem chegar à casa de centenas de milhares de
reais, que necessitamos de soluções de proteção, como planos de saúde e seguros de
vida. O papel deles para o nosso planejamento financeiro é como o das travas de
segurança de quem pratica escalada, que em caso de queda, faz a corda parar na última
trava colocada, preservando a vida do escalador, que sem ela, despencaria até o chão.

Para que servem realmente os planos de saúde?

Muitas pessoas acreditam que o papel principal dos planos de saúde é cobrir
custos de consultas e exames, na realidade, essas são apenas as funções mais básicas.
O verdadeiro papel do plano de saúde é custear internações e procedimentos como
cirurgias, que podem custar dezenas ou centenas de milhares de reais.

Durante meus anos de consultoria financeira, conversei com várias pessoas que
cancelaram seus planos de saúde porque "não usavam muito", pensando que fariam
uma grande economia. Se elas soubessem que apenas um dia de internação em uma
UTI de um hospital particular, para uma pessoa, em caso de um acidente, por exemplo,

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pode custar R$15.000 e que muitos casos de internação podem durar bem mais do que
um dia, talvez elas repensassem a decisão do cancelamento. Tal situação pode resultar
em uma dívida para a vida inteira, como também pode afetar a família, que nada tem a
ver com a falta de planejamento da pessoa, mas que vai se ver obrigada a auxiliar seu
familiar.

Qual a real utilidade do seguro de vida?

Com os seguros de vida, o cenário é outro, visto que, diferentemente dos planos
de saúde, eles precisam ser analisados de acordo com a necessidade e estrutura
financeira de cada pessoa. Muitas pessoas acham que um seguro de vida serve para
cobrir apenas morte, mas na realidade sua função correta é também proteger a renda
em várias situações em vida, como invalidez total e parcial, diagnóstico de doenças
graves, internações e afastamentos do trabalho por motivos de saúde.

Costuma ser difícil para a maioria de nós pensarmos em contratar um seguro de


vida, porque existe um fator psicológico muito forte contra ele: primeiro, pelo fato de
que vamos “pagar para não usar”, segundo por não vermos nenhum benefício imediato
no dia-a-dia.

Outro ponto importante é que algumas pessoas que começam a investir acabam
se empolgando e passam a querer economizar, cortando todo tipo de gasto a fim de
acumular montantes maiores para aportar. Ao fazer isso com o montante que seria
destinado ao seguro de vida ou plano de saúde, a pessoa estaria alavancando sua
rentabilidade, colocando a si mesmo e sua família em risco. Em minha opinião, não
valeria o benefício de ter uma quantia a mais por mês para investir, em troca da
estabilidade e segurança, visto que os gastos cobertos por esses tipos de produto vão
superar de longe a reserva que a maioria das pessoas acumula por anos e garantir a
sobrevivência financeira de seus entes queridos e dependentes financeiros no caso de
sua falta.

É muito importante superar a barreira psicológica e contratar soluções de


proteção, já que elas possuem um papel muito importante em qualquer estrutura
financeira, principalmente o de evitar um endividamento alto, ou até mesmo a falência
de toda uma família.

Um risco sério desconhecido por muitos: o processo de inventário

O inventário é o processo de transmissão de bens que todos nós vamos repassar


um dia, quando viermos a falecer. Todos os que planejam acumular patrimônio devem
compreender que no Brasil, ele é caro e burocrático.

Há duas grandes preocupações relacionadas a ele:

1- Liquidez: Normalmente quando uma pessoa falece, todos os bens que ela
possui são congelados para que passem pelo processo de inventário. São inclusos
imóveis, carros, investimentos e até mesmo a conta corrente (mesmo que seja conta

23
conjunta). Dependendo de como funciona a estrutura financeira da família, isso pode
gerar um problema muito sério de falta de dinheiro em curto prazo, pois em algumas
situações, praticamente todo o patrimônio da família, assim como os investimentos,
estavam no nome da pessoa que faleceu, de modo que a família passe a não ter recursos
para arcar com os gastos de curto prazo do dia-a-dia.

2- Custo: Para realizar o processo de inventário, os custos com impostos e


advogados podem chegar a 10%, ou mais, do patrimônio da pessoa que faleceu. Nem
preciso dizer que na maioria dos casos, os herdeiros não vão ter recursos para pagar tais
custos à vista, em curto prazo, principalmente levando em consideração que o dinheiro
da família pode também ser congelado juntamente com o restante do patrimônio, se
estiver em posse da pessoa que faleceu.

É por esse motivo que muitas vezes ouvimos de colegas ou familiares histórias
de inventários que levaram anos para ficarem prontos. Se um idoso falece, deixando
filhos adultos, com suas próprias rendas, a situação toda acaba sendo apenas um grande
incômodo. Mas se a pessoa falece jovem, deixando filhos pequenos e pouco dinheiro
guardado, a probabilidade é alta de o patrimônio congelado fazer uma falta muito
grande para o outro cônjuge e os filhos, gerando um problema financeiro grave no curto
e médio prazo.

Dentre as melhores soluções para resolver a questão do inventário, está o seguro


de vida, pois ele não entra no processo do inventário e vai direto para a família em
poucos dias. Uma estratégia muito inteligente seria calcular quanto custaria
aproximadamente seu inventário atual, além da soma de alguns meses ou anos do
padrão de vida da família e fazer um seguro de vida vitalício para cobrir este valor caso
algum dos pilares financeiros da casa venha a falecer. Outra vantagem importante é que
o seguro é isento de imposto de renda e livre de bloqueios judiciais.

Hoje, o Brasil já conta com empresas especializadas em seguros de vida


personalizados, onde o consultor monta um plano sob medida, tanto com proteções
para situações em vida (invalidez, diagnóstico de doenças...), como em casos de óbito,
de acordo com as necessidades do segurado. Podemos contar também com um
acompanhamento por parte deste consultor, que faz novos estudos e ajustes ao plano
no decorrer da vida, com o intuito de o planejamento estar sempre atualizado com as
necessidades.

Em que devemos prestar atenção ao contratar planos de saúde ou seguro de


vida

Em termos de planos de saúde é sempre importante saber quais os hospitais


cobertos pelo plano, também valores de reembolso e procurar empresas sólidas que
possuam um bom atendimento ao cliente.

No caso dos seguros de vida, sugiro procurar empresas que possuam seguros
personalizados, vitalícios e com a opção de resgate ao final do plano. Caso o segurado
não utilize o plano, o valor do resgate acaba sendo um recurso a mais, podendo ser

24
utilizado na aposentadoria, se o segurado quiser. Apenas chamo a atenção para o fato
de que seguros de vida resgatáveis têm como objetivo principal a proteção, sendo o
resgate apenas um benefício extra, sendo assim não devem ser considerados como
investimentos.

O que deve ser protegido principalmente de acordo com cada perfil

Seguem abaixo alguns perfis de pessoas e composições familiares e as


necessidades principais as quais devem ser protegidas para cada um:

- Solteiros: por não terem dependentes, devem pensar muito em proteger a si


mesmos em relação a situações de invalidez, internação e diagnóstico de doenças
graves, de modo que não venham a se endividar, ou prejudicar as finanças de terceiros
no caso de algum desses eventos.

- Casados: devem levar sempre em consideração os percentuais de renda de


cada cônjuge dentro de casa, para ambos protegerem as rendas de forma proporcional.
É importante mapear dívidas de longo prazo, como financiamentos, e incluí-las no
seguro a fim de não sobrecarregar o cônjuge sobrevivente em caso de óbito.

- Com filhos: é extremamente importante proteger o padrão de vida e educação


das crianças em casos de óbito e invalidez, já que são valores altos e que, em muitos
casos, apenas um cônjuge não é capaz de prover. O inventário também é uma grande
preocupação e deve ser resolvida com antecedência.

- Autônomos: por não possuírem garantias e proteções, devem procurar a maior


quantidade possível de coberturas em relação a invalidez, doenças e problemas de
saúde, pois caso não possam trabalhar, além dos gastos relacionados a doença, podem
ficar sem renda por longos períodos.

- Empresários: normalmente, as empresas estão sempre precisando de


investimentos, sendo muito comum os valores de capital de giro serem baixos, fazendo
com que a maioria das empresas opere com baixa liquidez. Logo, é muito importante
para os sócios se protegerem de problemas de saúde com os seguros, pois uma doença
séria pode obrigá-los a tirar dinheiro da empresa, ou vender patrimônio em momentos
muito delicados, resultando até mesmo a falência da empresa. Há também a situação
de sucessão empresarial, em que um sócio vem a falecer e os restantes não possuem
liquidez para liquidar as cotas, fazendo com que tenham que aceitar os herdeiros do
falecido sócio como novos sócios, ou ter que fazer empréstimos para arcar com os
custos, colocando a empresa em uma situação delicada.

Hoje, os maiores seguros de vida do Brasil são pagos por empresários cujas
empresas possuem patrimônios altíssimos e de baixa liquidez, de modo que apenas os
custos de sucessão, em caso de óbito de algum dos sócios, poderia facilmente levar a
empresa a falência. Sugiro fortemente que empresários nessa situação, ou pessoas que
possuam muito patrimônio imobilizado, procurem consultores especializados em
seguros de vida vitalícios personalizados para estruturar essa questão o quanto antes,

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mesmo que a empresa já possua estrutura de holding, já que o seguro atua como um
ótimo complemento paralelo a esta estratégia que serve como garantia adicional.

Uma forma inteligente de dividir a renda

Para facilitar o entendimento do que falei até aqui, o gráfico abaixo mostra como
deveríamos dividir nossa renda e o papel de cada solução em um planejamento
financeiro completo, vejamos:

- Padrão de vida (P.V.): É o nosso estilo de vida completo. Costuma ser a maior
parte dos gastos mensais, incluindo nossas contas.

- Investimentos (I): É a parcela que devemos poupar todo mês, para as mais
variadas funções, como reserva de emergência, projetos diversos e investimentos para
a aposentadoria.

- Proteções (P): O papel dela é justamente proteger o nosso padrão de vida e


investimentos enquanto ainda não alcançamos a independência financeira, porque caso
as proteções não fizessem parte do planejamento, qualquer imprevisto de saúde mais
sério iria acarretar imediatamente em redução de padrão de vida e gasto de todas as
economias, fazendo-nos voltar à estaca zero, ou até mesmo ao endividamento.

Não vou entrar no detalhe de quais seriam os percentuais corretos de cada uma
das categorias, pois como a estrutura financeira de cada pessoa é única, com fraquezas,
forças, riscos e garantias diferentes, isso deveria ser definido juntamente a um
profissional da área e, conforme os anos passam, a estrutura deve continuar sendo
acompanhada e ajustada de acordo com as mudanças que vão ocorrendo em nossas
vidas. Mas apenas como intuito de prover uma referência genérica inicial, a maior
parcela tende a ser referente ao padrão de vida, seguida pelos investimentos e a menor
parcela seria referente as proteções.

De posse desse conhecimento, podemos agora visualizar o gráfico inicial de


forma completa, adicionando a ele a linha de proteção:

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O eixo X corresponde ao prazo de conclusão do objetivo, o eixo Y corresponde
aos valores que vão sendo acumulados no decorrer do tempo, até que o objetivo seja
alcançado. A linha tracejada de cima é justamente referente ao seguro de vida, que deve
estar sempre atualizado de modo a fornecer os recursos necessários, caso algo aconteça
no meio do caminho. Então, o papel dele é justamente nos proteger enquanto estamos
poupando.

Os cintos estão afivelados, agora, podemos começar!

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Capítulo VI - Introdução aos investimentos

O medo de investir

Quando falamos em investimentos, muitas pessoas já sentem calafrios só de


pensar em todos os jargões técnicos e histórias de investidores que perderam todo o
dinheiro em alguma situação específica. Por isso, acabam achando que é algo para
poucos afortunados, que possuem muito dinheiro no banco ou grande patrimônio. Mas
a realidade é mais simples do que parece, pois as soluções de investimentos são apenas
produtos financeiros com características diferentes que visam proteger, diversificar ou
multiplicar o patrimônio do investidor. Cada pessoa deve investir apenas no que julgar
mais adequado, se fizer sentido para sua estrutura financeira e psicológica, levando em
consideração os seus objetivos.

Nos próximos capítulos vou explicar de forma bastante simples como os


investimentos funcionam na prática, porém é fundamental termos alguns conceitos em
mente, que serão explicados abaixo.

O que acontece com o dinheiro investido?

Sempre acho importante entendermos o que acontece com o nosso dinheiro em


cada investimento, não apenas imaginar que é como um “lugar mágico onde o dinheiro
fica parado e todo mês ele aumenta”.

Por exemplo, em investimentos classificados como renda fixa, na maioria dos


casos, nosso dinheiro é emprestado a terceiros e o rendimento que recebemos, na
realidade, são os juros desses empréstimos. Já em fundos imobiliários, nós compramos
pequenas partes de fundos, que são donos de vários imóveis, alugados a terceiros,
sendo a maior parte da renda desses investimentos os valores mensais que os inquilinos
pagam de aluguel.

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Aproveito para relembrar uma regra muito importante dos investimentos:
investir apenas no que conhecemos e entendemos. Sempre procure entender o que será
feito com o seu dinheiro ao aplicar em algum produto financeiro.

Investir através de bancos ou corretoras?

Normalmente, é necessário um intermediador quando vamos aplicar nosso


dinheiro em investimentos. Na maioria dos casos, esses intermediadores são bancos ou
corretoras. Funciona da mesma forma em ambos, você coloca seu dinheiro na conta,
seleciona o investimento que você quer aplicar, faz uma ordem de compra e está tudo
resolvido. A diferença costuma estar em itens como taxas, diversidade de produtos,
atendimento e infraestrutura.

- Taxas: Sempre que formos aplicar nosso dinheiro, devemos prestar atenção nas
taxas que podem corroer nossa rentabilidade, como taxas de administração e
carregamento. Falarei um pouco mais sobre elas no próximo capítulo.
Muitas vezes, para aplicar em um mesmo produto, como o tesouro direto, por
exemplo, determinadas corretoras e bancos podem cobrar taxas e outros não, por isso,
é uma boa prática fazer comparações de taxas antes de decidir quem vai ser seu
intermediário.

- Diversidade de produtos: Este é um dos pontos que mais faz a diferença,


deixando os grandes bancos em desvantagem. Pelo fato de os bancos possuírem seus
próprios produtos (CDBs, LCIs, fundos etc.), na maioria dos casos, eles vão oferecê-los
aos seus clientes sem disponibilizar a escolha de produtos de outros bancos. Por
possuírem uma estrutura muito grande, acabam apresentando taxas menos atrativas.
Então, se um dia você for até o seu gerente e pedir indicações de investimentos, a
chance de ele te apresentar apenas produtos do próprio banco, sem mostrar opções de
outras instituições, que podem ser muito melhores, é muito grande.

Já as corretoras costumam trabalhar com um leque abrangente de produtos,


incluindo os disponibilizados por vários bancos, dando ao investidor oportunidade de
comparar vários produtos do mesmo tipo para escolher a melhor opção.

- Atendimento: Quando falamos de investimentos, é muito importante termos


um profissional de confiança, que entende do mercado e possa nos auxiliar a escolher
os melhores produtos para o nosso objetivo. Tanto os bancos quanto as corretoras
possuem profissionais qualificados para esta função, mas devido ao fato de que os
profissionais do banco, na maioria dos casos dão prioridade aos produtos do próprio
banco, acredito que na corretora o atendimento tende a ser mais imparcial.

- Infraestrutura: Essa é a parte relacionada à estrutura do banco ou corretora,


como a quantidade de agências, escritórios, se possuem também estrutura virtual, como
sites, aplicativos etc. Atualmente, a maior parte das movimentações mensais é feita
através de meios digitais, ou seja, na hora de selecionar seu intermediário, é importante
também verificar quais possuem as estruturas físicas e digitais capazes de atender aos
seus objetivos.

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A barreira do “economês”

Como citei no início do capítulo, muitos investidores começam a estudar finanças


bastante empolgados, porém ao se depararem com palavras como “CDI”, “Selic” e afins,
acabam se intimidando e desistindo.

Finalmente, chegou a hora de falar sobre o que mais assusta os investidores


iniciantes, que são os termos técnicos. Mas podem ficar tranquilos, pois é mais simples
do que parece!

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Capítulo VII - Termos técnicos e siglas descomplicadas

Entendendo os principais termos técnicos

Lembro-me da dificuldade de entender os termos técnicos quando comecei a


estudar finanças. Eu só encontrava explicações complexas, que pareciam ter saído de
trabalhos acadêmicos, visto isso decidi criar este capítulo, trazendo aos investidores
iniciantes uma facilidade da qual não tive. Separei os principais termos técnicos
recorrentes nos estudos de finanças e investimentos. Aqui, vou explicar cada um deles
de forma simples e resumida.

Títulos financeiros

Títulos são os nomes dados aos contratos de empréstimos entre duas partes.
Como a maioria dos investimentos de renda fixa (tema do próximo capítulo) são
empréstimos que fazemos a bancos, ao governo ou a instituições financeiras, quando
adquirimos algum produto de renda fixa (CDBs, tesouro nacional, LCIs, LCAs...), dizemos
que agora possuímos um título de renda fixa.

Quando emprestamos dinheiro ao governo, como é feito através de títulos do


tesouro nacional, são chamados de títulos públicos. Quando emprestamos dinheiro a
bancos e instituições financeiras, como é o caso de CDBs e debêntures, entre outros,
chamamos de títulos privados.

Imposto de renda (IR)

O imposto de renda é um velho conhecido de todos, um dos custos que mais


deve ser levado em consideração na hora de investir, porque, na maioria dos casos, ele
vai ser aplicado quando apresentarmos ganho de capital (mais conhecido como lucro).
Sendo o lucro justamente o objetivo de praticamente todos os investidores, seria
correto afirmar que o conhecimento do valor do IR sobre os investimentos que iremos
fazer é imprescindível para não vermos nossa rentabilidade corroída quando formos
sacar os recursos.

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Ele normalmente é apresentado em percentuais e cada produto possui uma
alíquota (taxa) diferente. Se uma pessoa estivesse comparando um produto com
rentabilidade anual de 9% com outro de 8%, sem analisar o imposto de renda, em um
primeiro momento, ela escolheria, sem dúvidas, a primeira opção, se o objetivo fosse
uma rentabilidade maior. Porém, se analisasse a incidência do imposto de renda, veria
que na primeira opção é descontada uma alíquota de 25% de imposto sobre a
rentabilidade e a segunda é uma aplicação isenta de IR, o que teria uma rentabilidade
real muito maior do que a primeira opção no decorrer dos anos.

Além disso, existem dinâmicas diferentes em relação ao imposto de renda em


alguns produtos, como a tabela regressiva e a progressiva, onde os valores a serem
pagos como imposto mudam de acordo com o tempo que o dinheiro permanece
aplicado, ou com a quantidade de dinheiro que sacamos.

Resumidamente, ao escolher seus investimentos, sempre pergunte como


funciona a aplicação de imposto de renda sobre eles.

IPCA

A sigla significa "Índice de Preço ao Consumidor Amplo". Esse é o índice que


mede o nível de inflação do Brasil, apresentado em percentuais, sendo medido
principalmente de forma anual ou acumulada nos últimos 12 meses.

É muito importante termos em mente os valores do IPCA em nosso dia a dia,


pois, como expliquei anteriormente, nossos investimentos precisam, no mínimo,
superá-lo, caso contrário estaremos perdendo dinheiro. Muitos investimentos inclusive
usam o IPCA como o índice que pretendem seguir, oferecendo também uma
rentabilidade extra acima dele. Por exemplo, um título do tesouro nacional pode
oferecer como rentabilidade IPCA+5% ao ano, o que significaria que ele não só
protegeria seu montante aplicado da inflação anual, como daria uma rentabilidade
adicional de 5% acima da inflação.

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SELIC

SELIC, “Sistema Especial de Liquidação e Custódia”, é a taxa básica de juros da


economia brasileira calculada por um sistema que analisa as operações diárias
relacionadas a títulos do tesouro nacional entre os bancos convencionais e o banco
central.

Se você não entendeu o parágrafo anterior, não se preocupe, pois não é


necessário nos aprofundarmos muito em como a taxa Selic é calculada, devemos
entender apenas que ela tem grande importância na economia nacional, pois o governo
consegue controlar a inflação, ou estimular a economia quando aumenta ou diminui
essa taxa.

Assim como o IPCA, a Selic também é medida em percentuais, sendo que muitos
investimentos de renda fixa estão atrelados diretamente a ela, como o tesouro SELIC,
por exemplo, o qual entrega como rentabilidade 100% da taxa Selic. Outros também
podem estar atrelados indiretamente a ela através do CDI.

CDI

É uma sigla que significa "Certificado de Depósito Interbancário", nome dado a


títulos específicos emitidos pelos bancos para que consigam emprestar dinheiro entre
eles de modo a cumprir com suas obrigações financeiras junto ao banco central ao
final de cada dia. Esses empréstimos geram uma taxa de juros média chamada de taxa
CDI, um dos índices mais importantes relacionados à renda fixa e ao mercado
financeiro em geral.

Tais operações diárias entre bancos estão fortemente relacionadas com as


operações praticadas por eles com o banco central, por isso o CDI e a taxa Selic tendem
a possuir valores quase iguais. Assim sendo, quando seu investimento está atrelado a
um destes indicadores, ele vai dispor praticamente da mesma rentabilidade que teria se
atrelado ao outro.

O CDI é uma das taxas mais importantes relacionadas à rentabilidade de


investimentos de renda fixa (explicados no próximo capítulo), pois é utilizado como sua
principal referência. É extremamente comum, ao procurarmos investimentos,
encontrarmos produtos oferecendo uma rentabilidade anual apresentada em
percentuais do CDI.

Prefixado e Pós-fixado

Esses termos definem se a taxa de rentabilidade do investimento vai ser definida


no momento em que vamos investir, ou apenas no vencimento do título em questão. Se
o investimento for prefixado, no momento da aplicação já saberemos qual será a taxa
de rentabilidade oferecida (10% ao ano, por exemplo).

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Se for pós-fixado, ele estará atrelado a algum indicador de forma mais dinâmica,
podendo ou não oferecer uma taxa adicional. Não saberemos ao certo a rentabilidade
exata que ele irá entregar, apenas que irá acompanhar o indicador escolhido. O tesouro
IPCA+, por exemplo, pode oferecer IPCA+5% ao ano, o que significaria que se em um
ano o IPCA for de 6%, esse produto entregará 11% de rentabilidade, que seria a
somatória do IPCA + os 5%.

Um não é necessariamente melhor do que o outro, e ambos podem ser utilizados


em momentos e estratégias diferentes de acordo com os objetivos do investidor.

Para exemplificar, se o objetivo é investir para daqui a trinta anos se protegendo


da inflação, talvez um investimento pós-fixado atrelado ao IPCA seja uma opção melhor
que algum investimento prefixado, uma vez que não conseguimos prever quanto será a
inflação nas próximas décadas. Estando atrelado ao IPCA o investimento vai
acompanhar a inflação, não importando o valor do índice, nesse caso o seu investimento
estará sempre protegido.

Liquidez

Este é outro ponto muito importante a ser analisado na hora de fazer um


investimento, pois representa a capacidade de liquidarmos o investimento e receber
nosso dinheiro de volta. Ou seja, é a capacidade que determinado investimento possui
de voltar a se transformar em dinheiro na conta do investidor. Quanto mais fácil e mais
rápido, dizemos que é um investimento de alta liquidez.

Se aplicarmos, por exemplo, R$1.000,00 em um determinado produto financeiro


e a qualquer momento podemos retirar esse montante de volta sem perdas, dizemos
que este investimento tem alta liquidez. Já em uma situação onde só conseguimos sacar
o dinheiro depois de 2 anos de aplicação dizemos que é um investimento de baixa
liquidez.

Também é possível encontrarmos situações intermediárias em que podemos


resgatar um ativo a qualquer momento, porém o processamento do resgate pode levar
alguns dias (3 dias ou até 30 dias), situações em que podemos retirar percentuais do
valor aplicado cada vez maiores, conforme o tempo de aplicação ou até mesmo

34
situações em que pode ser cobrada uma multa predefinida se tirarmos o dinheiro antes
do prazo.

Volatilidade

É a característica que determinados investimentos, principalmente de renda


variável, possuem de apresentar oscilações no valor aplicado, para mais ou para menos,
de acordo com o mercado, tais oscilações podem ser pequenas, ou muito grandes e
imprevisíveis.

Para citar como exemplo, se comprarmos ações de uma determinada empresa,


e ficarmos observando a cotação no decorrer do dia, veremos que o valor da ação vai
ficar oscilando entre valores maiores e menores, de acordo com a oferta e demanda do
mercado. Se a alteração for pequena, dizemos que a volatilidade é baixa, mas se a
variação for muito grande, a volatilidade é alta.

É muito importante entendermos que a volatilidade é um fenômeno natural,


logo, principalmente quando aplicamos em investimentos de renda variável, onde
ocorrem as maiores oscilações, devemos nos preparar psicologicamente para lidar com
ela, para não tomarmos decisões precipitadas e/ou nocivas guiadas por uma emoção
momentânea.

D+1 (D+3, D+5, D+30...)

São siglas que representam o prazo do resgate dos investimentos. Se for


solicitado o resgate do valor investido, em um investimento com resgate D+1, por
exemplo, o recurso estará disponível um dia depois (+1) do dia da solicitação (D), na
conta do investidor. Já em um D+30, o dinheiro vai estar disponível na conta trinta dias
após a solicitação do resgate. Então, é muito importante saber o prazo de resgate dos
investimentos antes de adquiri-los.

Vencimento

É a data na qual o dinheiro aplicado em um determinado investimento é


devolvido ao investidor, juntamente com a rentabilidade acordada na data de
contratação. Costuma estar presente na maioria dos investimentos de Renda Fixa. Nem

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todos os investimentos possuem data de vencimento, podendo o investidor ficar com o
ativo por tempo indeterminado, o que é muito comum em investimentos de Renda
Variável, por exemplo.

Sempre que for investir, informe-se sobre a data de vencimento do ativo em


questão e como funciona a liquidez relacionada a esse vencimento, para que você se
planeje corretamente e identifique se o investimento é viável aos seus objetivos.

Rentabilidade

É a taxa de retorno que obteremos com o investimento escolhido. Há três tipos


de rentabilidade: a bruta, a nominal e a real. Vejamos cada uma delas:

A rentabilidade bruta é a rentabilidade total que um produto oferece antes de


descontarmos taxas e impostos.

A rentabilidade nominal ou líquida é a rentabilidade bruta, após descontarmos


impostos e taxas.

A rentabilidade real é a rentabilidade líquida após descontarmos a inflação do


período. É muito importante conhecê-la, pois em muitas situações podemos achar que
estamos lucrando, mas, na realidade, a inflação pode estar corroendo nossos
rendimentos.

B3

É a bolsa de valores oficial do Brasil, fusão da Bm&fBovespa e a Cetip.

Renda Fixa e Renda Variável

São as duas categorias principais de investimentos que se diferenciam em


relação ao quanto conseguimos prever seus rendimentos, que pode ser através de uma
taxa predeterminada ou de acordo com oferta e demanda de mercado. Nos próximos
capítulos vou explicar melhor a respeito de cada uma.

36
Capítulo VIII - Renda fixa

O que são investimentos de Renda Fixa?

São todos os tipos de investimento que possuem uma regra definida quando
contratamos, por conta disso sabemos exatamente quais os critérios que suas
rentabilidades vão seguir, podendo ser tanto prefixados ou pós-fixados (por exemplo,
10% ao ano, IPCA+5%, 120% do CDI...).

Normalmente, os produtos de Renda Fixa funcionam com operações nas quais


estamos emprestando nosso dinheiro a terceiros e recebendo juros pelo empréstimo,
por esse motivo são considerados investimentos conservadores, já que na maioria dos
casos estamos emprestando nosso dinheiro a bons pagadores, como grandes bancos,
instituições financeiras ou ao governo.

São as principais opções para quem hoje está na poupança (que também pode
ser considerada um investimento de renda fixa, porém o pior de todos eles em termos
de rentabilidade) e também para quem está começando a guardar dinheiro ou até
mesmo possui um montante parado em conta corrente sem saber onde aplicar e não
pretende correr riscos mais altos com o valor.

Os produtos de renda fixa têm como principal referência o CDI e as suas


rentabilidades costumam ser dadas ou comparadas a percentuais do CDI (100% do CDI,
120% do CDI…). Portanto, se um investimento oferece 120% do CDI ao ano e, em
determinado ano o valor do CDI for 10%, o investimento irá render 12% ao ano.

Vantagens e desvantagens da renda fixa

As principais vantagens dos produtos de renda fixa são a segurança e a


previsibilidade, visto que a grande maioria oferece pouquíssimo risco e podemos prever
com certa facilidade os resultados que teremos. Além disso, muitos investimentos de
renda fixa contam com proteções, no caso de falência da instituição a que emprestamos

37
nosso dinheiro, através do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), que reembolsa os
investidores em valores até, no máximo, de R$250.000,00 por instituição, e apresentam
pouca ou nenhuma volatilidade em relação ao valor aplicado, oferecendo solidez e
tranquilidade ao investidor.

Em relação ao FGC, é possível aplicar mais do que R$250.000,00 de forma


protegida, desde que aplique menos do que esse valor em várias instituições diferentes,
pois assim terá uma proteção diferenciada em cada uma delas. Lembrando que existe
um limite máximo de reembolso de R$1.000.000,00, por CPF, a cada quatro anos.

A desvantagem da renda fixa é que, justamente por apresentar baixo risco, a


tendência é obtermos uma rentabilidade mais conservadora em relação a produtos de
renda variável. Então, não devemos esperar por um aumento significativo de capital, em
curto prazo, com esses produtos, mas sim apenas um aumento bom, consistente e
seguro do patrimônio, o qual será beneficiado com os juros compostos no decorrer de
décadas, fazendo deles ótimas opções para alocarmos a maior parte do nosso capital,
se formos montar carteiras de investimentos mais conservadoras ou moderadas em
relação a risco.

Principais produtos de Renda Fixa

Poupança

A poupança é o investimento mais conhecido e mais tradicional do Brasil, sendo


um tipo de operação em que emprestamos dinheiro para o banco, que por sua vez,
repassa a terceiros, principalmente na forma de crédito imobiliário. Ela pode ser inclusa
na categoria “renda fixa”, porque existem regras para sua remuneração.

Infelizmente, ela pode ser considerada o pior investimento de renda fixa em


termos de rentabilidade, perdendo para todos os outros em praticamente qualquer
cenário. Porém, ela possui duas utilidades interessantes que servem para um fim bem
específico: é extremamente fácil de aplicar na poupança e ela possui resgate imediato.

Até as mais rápidas aplicações de renda fixa normalmente precisam de pelo


menos um dia útil para processar e resgatar os valores. Por isso, pode ser interessante
deixar um pequeno montante guardado em poupança disponível àqueles casos muito
urgentes, que precisam ser resolvidos no mesmo dia. Há outras formas de lidar com isso,
por exemplo, utilizando o cheque especial de um banco, que não cobre juros nos
primeiros dias e, no dia seguinte, repor o dinheiro com o saque das aplicações.
Entretanto, essa operação pode ser um pouco mais arriscada do que deixar este
pequeno montante na poupança para urgências.

Além dessa, outra alternativa recente muito interessante está começando a se


tornar cada vez mais popular: alguns bancos digitais estão oferecendo aplicação
automática, com liquidez diária a taxas praticamente iguais a Selic, se você apenas deixar
o dinheiro na sua conta corrente. Esta facilidade oferecida pelos bancos digitais pode
colaborar para o fim da poupança, em um futuro próximo, pois só de estarmos com o

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dinheiro parado na conta, ele já estará aplicado e rendendo o equivalente a taxa Selic
(que como citei anteriormente, é quase o mesmo valor que o CDI), podendo ser sacado
a qualquer momento.

Sendo assim, se o objetivo é ter rentabilidade, mesmo com segurança, a


poupança seria a pior opção, mas, para ter um pequeno valor à disposição para uso
imediato em uma urgência, ela pode ser cogitada.

Títulos do tesouro nacional (tesouro direto)

O que são:

São títulos de dívida do governo brasileiro, que ganharam muita visibilidade nos
últimos anos, por seu baixíssimo risco e bom retorno, sendo considerados por muitos
economistas como "a nova poupança" e como os investimentos mais seguros do Brasil.
Quando compramos títulos através do Tesouro Direto (plataforma digital do governo
onde eles são negociados), estamos, na prática, emprestando dinheiro ao governo.

Características:

Existem alguns tipos diferentes de títulos do tesouro, tanto nas modalidades


prefixadas (Tesouro Prefixado), como na forma pós-fixada (Tesouro SELIC e Tesouro
IPCA+). São diferenciados também através dos prazos de vencimento, que podem ser
mais curtos, ou estar a décadas de distância do momento da aquisição.

Com exceção do Tesouro Selic, as rentabilidades costumam estar atreladas aos


vencimentos, sendo indicada a retirada dos recursos apenas na data final, a fim de obter
a rentabilidade máxima prometida sem riscos de prejuízo.

Possuem valores de investimento muito baixos, começando na faixa de R$30,00,


fazendo deste tipo de investimento acessível para praticamente qualquer investidor.

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Além disso, contam com liquidez diária, ou seja, a qualquer momento você pode
solicitar o resgate dos recursos. O montante estará disponível na conta corrente no dia
seguinte, o que é conhecido no mercado como D+1.

Risco

É considerado um tipo de investimento muito conservador, já que o risco de um


país calotear a própria dívida é muito baixo, mesmo quando falamos de países
subdesenvolvidos e com alto grau de corrupção. Muitas das principais empresas do país,
grandes bancos e investidores internacionais possuem grande parte do patrimônio em
títulos do tesouro. O risco de um país calotear a própria dívida é chamado de risco
soberano, que é considerado um dos menores riscos existentes se relacionados a outros
tipos de investimento, incluindo a poupança.

Além disso, pelo fato de os títulos públicos serem a última opção que o governo
calotearia, devido ao caos que seria gerado, podemos presumir que neste cenário as
poupanças já teriam sido atingidas bem antes, já que são propriedades de bancos, que
em sua maioria são instituições privadas. Outro ponto importante é que os títulos
públicos, como o próprio nome diz, podem usar recursos públicos a fim de garantir os
pagamentos. Ainda posso citar que é mais provável os bancos quebrarem do que o
governo de um país, uma vez que os primeiros tendem a estarem sujeitos ao segundo,
através do Banco Central.

Um outro risco a ser citado é a venda dos títulos antes do prazo. Se uma pessoa
compra um título com vencimento em 2023, e, por conta de um imprevisto, precise
vendê-lo em 2020, ela pode, porém a venda é feita com o valor que chamamos de
marcação a mercado. Isso significa que dependendo de como o mercado está, você pode
vender lucrando; pode vender com valor muito próximo do valor inicial o qual você
aportou; ou em casos raros pode até perder um pouco de dinheiro.

A única exceção a essa regra é o Tesouro Selic. Neste título, como a rentabilidade
é diária, sempre que resgatarmos teremos acesso a totalidade dos lucros acumulados
até então. O único momento onde podemos resgatar o dinheiro com valor ligeiramente
abaixo do aplicado, é nos primeiros dias após a aplicação, pois existe um pequeno
deságio em relação ao valor de compra, que logo é coberto pela rentabilidade diária e,
a partir daí, só obteremos lucro. Com o tesouro Selic, você não terá risco de perdas, caso
retire o valor da aplicação no vencimento.

Portanto, se você não tem certeza se vai precisar do dinheiro antes, ou se o


intuito é ter uma reserva de emergência disponível a qualquer momento, uma boa
prática seria utilizar o Tesouro Selic.

Vantagens e desvantagens

Suas vantagens são o investimento inicial baixo, a alta liquidez e o baixo


risco. Como desvantagens estão os riscos de pequeno prejuízo com vendas antes do
vencimento (exceto no tesouro SELIC) e o prazo de um dia útil para o resgate, fazendo

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com que seja importante você ter um valor em poupança ou conta corrente, para
despesas urgentes no mesmo dia. Outro risco é o fato de termos que tomar cuidado
com algumas corretoras que cobram taxas para investir em títulos do tesouro, porém
existem muitas corretoras com taxa zero para o Tesouro Direto.

Indicações

São excelentes opções para o investidor conservador, que quer ver seu
patrimônio crescer correndo o mínimo de risco, sem complicações e com lucros reais
acima da inflação. Também são muito úteis para quem está começando a guardar
dinheiro e deseja montar a sua reserva de emergência (Tesouro Selic).

CDB

O que é?

A sigla significa Certificado de Depósito Bancário, sendo um dos produtos de


renda fixa mais populares. Quando adquirimos um CDB, na prática, estamos
emprestando dinheiro ao banco, o qual emitiu o título, e recebendo como rentabilidade
os juros do empréstimo.

Características

O CDB pode ser tanto prefixado, com uma rentabilidade predefinida, quanto pós-
fixado, atrelado ao CDI ou IPCA, por exemplo.

Todos possuem um prazo de vencimento, onde a rentabilidade acordada é


entregue.

Sua rentabilidade, normalmente, é dada em percentuais do CDI. Possuem tanto


modalidades com liquidez diária, os quais podem ser resgatados a qualquer momento,
quanto opções onde o dinheiro fica travado, podendo ser resgatado apenas no
vencimento, mas com a vantagem de obter uma rentabilidade maior.

Possuem uma tabela regressiva de imposto de renda aplicada apenas na


rentabilidade do investimento, começando na alíquota de 22,5% para investimentos
regatados antes de 180 dias, chegando a 15% em investimentos resgatados com mais
de 720 dias (dois anos).

Risco

Pode ser considerado um ativo de baixo risco por possuir proteção do FGC.

Além disso, é importante sempre estarmos atentos ao prazo de vencimento e à


liquidez, já que existem alguns tipos de CDB os quais não disponibilizam o saque antes
do vencimento.

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Vantagens e desvantagens

A grande vantagem do CDB é a diversidade, sendo emitido por vários bancos,


logo temos muitas opções de compra. Esse fator gera competitividade entre os bancos,
fazendo com que taxas de rentabilidade maiores sejam oferecidas.

Possuem também a modalidade de “travarmos” o nosso dinheiro, muito boa


para ganharmos uma rentabilidade adicional em cima de montantes os quais não
pretendemos usar nos próximos anos, sem precisarmos recorrer a produtos de risco
mais elevado.

A desvantagem é que muitos possuem aplicações iniciais mais altas (partindo de


R$1.000, por exemplo), tornando-os menos acessíveis a pequenos investidores.

Também precisamos pesquisar o banco emissor do CDB, para identificarmos se


é um banco que está operando de forma saudável, ou se é uma instituição em processo
de falência. No caso da segunda ocorrência, correríamos um risco maior de o banco falir
e termos que ativar o FGC (essa sugestão de analisar o banco emissor do título vale para
todos os produtos emitidos por bancos).

Indicações

Em se tratando de reserva de emergência, a modalidade de liquidez diária dos


CDBs é muito boa, desde que entregue pelo menos 100% do CDI, caso contrário é mais
vantajoso o tesouro SELIC.

De modo geral, os CDBs são ótimos produtos para se diversificar uma carteira de
renda fixa, ou conservadora, com boa rentabilidade e baixo risco.

LCI e LCA:

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O que são?

São letras de crédito emitidas por bancos com o objetivo de financiar o mercado
imobiliário (LCI), ou o agronegócio (LCA). De forma mais simples, estamos emprestando
dinheiro ao banco, para que ele invista nesses dois setores da economia.

Características

Sua rentabilidade, assim como a maioria dos produtos de renda fixa,


normalmente é dada em percentuais do CDI. Porém, diferentemente dos CDBs, eles não
possuem a modalidade com liquidez diária e costumam apresentar, na maioria dos
casos, prazos de vencimento superiores a um ano.

O principal diferencial desses tipos de investimentos é o fato de serem isentos


de imposto de renda, mesmo em algumas situações em que eles entregariam
percentuais menores do CDI. Se fizermos a conta final, descontando o IR desses outros
produtos, as LCIs e LCAs podem sair ganhando na rentabilidade final.

Risco

Também são produtos muito seguros, contando com a proteção do FGC.

O principal risco é a liquidez, logo devemos sempre alocar em LCIs e LCAs aqueles
montantes dos quais temos certeza de que não iremos precisar antes da data de
vencimento.

Vantagens e Desvantagens

As principais vantagens são a isenção de imposto de renda somada à proteção


do FGC, tornando-os produtos de boa rentabilidade e segurança.

Possuem como desvantagens os valores mínimos de investimento, por serem


bem mais altos do que a maioria (R$10.000, por exemplo, embora hoje existam algumas
poucas opções com valores menores de aporte inicial); a questão da falta de liquidez,
podendo ser sacados apenas no dia do vencimento; não costumam estar disponíveis em
abundância, havendo momentos nos quais podemos ter dificuldades em encontrar
alguma LCI ou LCA disponível para contratação em nossa corretora.

O governo atual tem levantado com frequência a ideia de retirar a isenção de IR


que as LCIs e LCAs possuem, por conta disso é importante ficarmos atentos, para
verificar se estes produtos ainda serão atrativos sem esse diferencial.

Indicações

São ótimas opções para rentabilizar uma parte do patrimônio, com um resultado
acima da média, que não pretendemos utilizar em curto prazo. Serve também para

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montar uma poupança destinada a algum projeto futuro com prazo de alguns anos,
como casamento, troca de carro, ou uma viagem mais longa para o exterior.

LCs:

O que são?

As Letras de Câmbio são investimentos com comportamento similar aos CDBs.


São utilizadas com a finalidade de arrecadação de empréstimos com os investidores, a
fim de repassar a terceiros, pagando juros em troca. A diferença é que enquanto os
CDBs são emitidos por bancos, as LCs são emitidas por financeiras.

Características

Suas rentabilidades também são apresentadas em percentuais do CDI; possuem


opções prefixadas e pós-fixadas; dispõem também de opções com liquidez diária, ou
apenas no vencimento.

Apresentam a mesma tabela regressiva de imposto de renda, comum a muitos


investimentos de renda fixa, onde o imposto começa em 22,5%, para saques que
ocorrerem com menos de seis meses da aplicação, até chegar ao mínimo de 15% após
dois anos de aplicação.

Risco

É um investimento de baixo risco, pelo fato de também ser protegido pelo FGC,
porém devemos estar atentos à liquidez e vencimento do título contratado.

Vantagens e Desvantagens

Possuem a mesma vantagem dos CDBs, que é o fato de serem produtos de boa
rentabilidade e segurança. As desvantagens estão no fato de possuírem valores
relativamente altos de investimento inicial (R$5.000, por exemplo), de sempre termos
que tomar cuidado com a liquidez do investimento contratado e com a situação
financeira da instituição que está emitindo.

Indicações

São mais uma ótima opção para diversificar uma boa carteira de renda fixa.

Debêntures

O que são

São títulos emitidos por empresas privadas com o objetivo de arrecadar capital
para projetos próprios, como expansões ou construção de novas fábricas, por exemplo.

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Funcionam de modo semelhante ao tesouro direto, mas com a diferença de que o
dinheiro emprestado é para financiar empresas privadas, não o governo, assim
ganhamos os juros que a empresa paga como rendimento.

Características

Podem ser prefixadas ou pós-fixadas e entregam a rentabilidade no vencimento.

Possuem tabela de IR regressiva aplicada sobre a rentabilidade. Porém, existem


algumas debêntures isentas de IR, chamadas debêntures incentivadas.

Riscos

É um dos investimentos mais arriscados da renda fixa, pois como emprestamos


dinheiro para empresas, não contamos com a proteção do FGC, correndo o risco de um
possível calote. Por isso, torna-se ainda mais importante analisarmos a solidez e situação
financeira da empresa emissora da debênture, a fim de minimizarmos riscos.

Vantagens e desvantagens

Possuem como vantagem a rentabilidade maior do que os outros investimentos


de renda fixa, justamente por apresentarem maior risco.
As desvantagens estão relacionadas à liquidez e ao risco de calote da empresa
emissora. Por este motivo, devemos analisar a empresa antes de aplicarmos.

Indicações

São ótimas opções para diversificar a carteira de renda fixa e obter uma
rentabilidade adicional a quem já possui uma carteira mais robusta. Como é necessária
uma análise mais cautelosa das empresas das quais iremos adquirir as debêntures,
sugiro estudar mais a fundo o produto antes de investir nele.

CRIs e CRAs:

O que são?

São investimentos criados mais recentemente, não muito populares. Suas siglas
significam "Certificados de Recebíveis Imobiliários" (CRI) e "Certificados de Recebíveis
do Agronegócio" (CRA).

Possuem comportamento similar as LCIs e LCAs, com as diferenças de que os CRs


são emitidos diretamente pelas empresas necessitadas dos recursos, não pelos bancos.
Por isso, quando investimos em um CRI ou CRA, na prática estamos emprestando
dinheiro diretamente às empresas emissoras. Nesse caso, também recebemos juros
como rentabilidade pelo empréstimo.

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Características

Tendem a possuir aportes iniciais altos e longos prazos de vencimento, podem


ser prefixados e pós-fixados, tendo como principal característica a isenção de imposto
de renda. A maioria possui liquidez apenas no vencimento, que é quando entregam sua
rentabilidade.

Risco

Pelo fato de não serem emitidos por bancos, os CRs não possuem proteção do
FGC, então, para que o investimento seja feita da forma correta, é muito importante
analisarmos com cautela a situação financeira da empresa da qual vamos adquirir os
CRIs e CRAs.

Vantagens e Desvantagens

A vantagem desses tipos de investimento é a possibilidade de obtermos


rentabilidades maiores, pois apresentam maior risco, além de serem isentos de imposto
de renda.

Já as desvantagens são justamente o fator de risco mais elevado, pela falta de


proteção do FGC, altos valores de investimento inicial e a nossa necessidade de analisar
com cautela superior à de outros investimentos de renda fixa as empresas emissoras
dos títulos antes de contratar.

Indicações

Tendo uma complexidade maior para análise de risco, normalmente, não é um


tipo de investimento recomendado para quem está começando.

São boas opções aos quem têm um perfil mais arrojado em relação a risco e
gostariam de obter uma rentabilidade melhor, em parte a carteira de renda fixa.

COEs:

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O que são?

Os Certificados de Operações Estruturadas (COEs) são investimentos


relativamente recentes de renda fixa emitidos por bancos. O seu diferencial é ter a
rentabilidade indiretamente atrelada a renda variável.

Características

Quando um banco emite um COE, ele cria cenários futuros e define a


rentabilidade atrelada a esses cenários. Por exemplo, um COE pode ser criado baseado
na cotação futura de uma ação específica. Os cenários seriam: se a cotação da ação
atingir um valor X em dois anos, o COE vai render Y, mas se não atingir, o investidor tem
seu dinheiro de volta, sem ganhos nem perdas após dois anos.

O COE pode ser criado com cenários atrelados a vários indicadores de renda
variável, como o desempenho de ações, dólar, ouro e o índice Bovespa, entre outros. O
IR é cobrado apenas sobre a rentabilidade usando tabela regressiva.

Risco

Os COEs são emitidos por bancos, porém não contam com a proteção do FGC,
ou seja, o investidor está sujeito a perda de todo seu capital aplicado, caso a instituição
emissora venha a falir. Além disso, também existem algumas opções de COE em que o
capital investido pode ser perdido, por isso é importante analisar bem as características
do COE antes de contratar.

Vantagens e Desvantagens

A principal vantagem do COE é podermos ter uma rentabilidade maior,


concorrendo com produtos de renda variável, mas com baixo risco, já que na maioria
dos casos o montante investido fica protegido mesmo em cenários desfavoráveis.

Dentre as desvantagens, está o fato de que, por serem investimentos


relativamente novos no mercado brasileiro, normalmente, existem poucas opções de
COE disponíveis a contratação em um determinado momento. Além disso, se o
investidor precisar do dinheiro antes do prazo de vencimento, pode ter dificuldades em
vender o título a mercado e acabar perdendo um pouco de dinheiro no processo. O fato
de não serem protegidos pelo FGC também pesa negativamente para este tipo de
investimento.

Indicações

Os COEs são ótimas opções àquele investidor que está começando a ficar um
pouco mais confortável com o risco, objetivando rentabilidades maiores, porém ainda
não quer arriscar mais com a renda variável pura. Por este motivo, o COE, como um
produto híbrido, pode ajudar a carteira de renda fixa a ter rentabilidades superiores,
mantendo o risco sob controle.

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É importante se aprofundar mais quando for investir

Esses são os principais produtos de renda fixa negociados, no Brasil, até a data
da criação deste livro. A minha breve explicação a respeito de cada um é suficiente para
que você possa entender de forma simples e geral como eles funcionam. A intenção é
despertar o discernimento, a fim de que você escolha melhor quando for montar a sua
carteira de renda fixa. Mais uma vez eu friso: é sempre importante estudar de forma um
pouco mais aprofundada o investimento escolhido, quando você for aplicar.

Posteriormente, neste livro, apontarei algumas opções de produtos baseadas em


exemplos de necessidades, com o objetivo de auxiliá-lo na hora de escolher na prática.
Mas, agora, vou citar abaixo algumas perguntas as quais acho muito importantes de
serem feitas na hora de adquirir um ativo de renda fixa, uma vez que precisamos
verificar se o ativo em questão atende às nossas necessidades.

Perguntas a serem feitas antes de aplicar em um produto de renda fixa

Qual o vencimento?

A maioria dos produtos de renda fixa atrela a rentabilidade ao vencimento, por


isso, é importante sabermos se o vencimento do produto coincide com o objetivo para
o qual ele está sendo feito. Por exemplo, se você pretende aplicar na renda fixa para
casar daqui a dois anos, não seria indicado aplicar em um Tesouro IPCA+ com
vencimento para o ano de 2045, pois, ao liquidar o produto antes do prazo, você
correria o risco de perder parte da rentabilidade, ou, até em alguns casos mais raros, ter
um pouco de prejuízo vendendo com marcação a mercado.

Qual a liquidez?

É importantíssimo sabermos se podemos resgatar os valores investidos a


qualquer momento no decorrer do plano, ou se apenas no vencimento, pois isso vai
auxiliar bastante a definir quais os produtos ideais para os nossos objetivos. Por
exemplo, se estamos aplicando para a nossa reserva de emergência, precisamos utilizar
algum título que possua liquidez diária, assim teremos acesso ao nosso dinheiro quando
for necessário.

Qual a alíquota de imposto de renda aplicada?

Alguns investimentos com taxa bruta de rentabilidade aparentemente atrativa,


podem perder o encanto após sofrerem o impacto do imposto de renda. Por isso,
devemos saber qual a dinâmica do imposto de renda, ou até mesmo se a aplicação é
isenta de IR antes de aplicarmos.

Quais as taxas pagas?

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A taxa de administração e a taxa de carregamento, são exemplos de taxas que
podem corroer bastante a rentabilidade final da aplicação. A dica é comparar os títulos
entre si e também as corretoras ou bancos os quais iremos utilizar como intermediários,
pois alguns cobram taxas para aplicar em determinados produtos e outros não.

Quais as garantias do investimento?

Devemos saber antecipadamente se a aplicação é protegida pelo FGC, se tem


alguma outra garantia, ou se o valor que aplicamos pode ser perdido caso a instituição
venha a falir. Isso é de extrema importância, para que possamos escolher o melhor
investimento de acordo com nosso perfil relacionado a rentabilidade x risco.

O que acontece se precisarmos retirar o dinheiro antes do prazo?

Essa pergunta pode ser encarada como um complemento da pergunta sobre


liquidez, mesmo não se tratando da mesma coisa. Alguns investimentos podem
apresentar uma rentabilidade menor ao serem resgatados antes do prazo, enquanto
outros podem cobrar alguma multa, aumentando as perdas.

Qual a rentabilidade?

Não poderíamos deixar de saber qual seria a taxa de rentabilidade que o título
oferece. Lembremo-nos que, normalmente, elas são apresentadas de forma bruta, sem
descontar IR ou possíveis taxas, logo precisamos saber tudo o que será descontado na
hora do resgate, tendo, assim, uma noção da rentabilidade real da aplicação. Após
sabermos efetivamente quanto a aplicação renderia com os descontos, devemos
comparar os títulos da mesma categoria, verificando também se alguma outra
instituição oferece a possibilidade de aplicação sem taxas. Isso nos ajudará a
escolhermos a melhor opção de custo x benefício.

Recomendações

Em linhas gerais, os produtos de renda fixa são ótimas opções para aquelas
pessoas que não querem se aprofundar muito no mercado financeiro, mas querem
colocar seu dinheiro em produtos seguros, com rentabilidade melhor do que a da
poupança e a inflação, para se beneficiarem dos juros compostos no decorrer dos anos.

Porém, para quem está disposto a separar uma parte do capital com o objetivo
de aplicar em produtos um pouco mais arriscados, no intuito de obter ganhos muito
mais expressivos, vale à pena conhecer os produtos de renda variável os quais irei
apresentar no próximo capítulo.

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Capítulo IX - Renda Variável

O que é Renda Variável

A renda variável é justamente o oposto da renda fixa, ou seja, quando


desconhecemos ou não conseguimos prever as regras que vão ser usadas para definir a
rentabilidade do investimento.

Por exemplo, podemos investir em ações de uma empresa, acreditando ser boa
opção, na esperança que a ação se valorize. Entretanto, não conseguimos prever o
quanto ela se valorizaria ou até mesmo se essa valorização iria acontecer, logo, a
rentabilidade é imprevisível, por isso se caracteriza como renda variável. Outros
exemplos de renda variável, além de ações são os fundos imobiliários, os fundos
multimercados, os ETFs, entre outros…

Por que investir em renda variável?

Normalmente, qualquer pessoa com quem conversamos sobre renda variável,


principalmente a respeito de ações, está ciente de que se trata de um investimento de
risco mais elevado do que a renda fixa. Mas, então, por que valeria à pena enfrentarmos
o risco?

Um dos conceitos mais fundamentais de finanças é o da relação entre risco e


retorno. Sempre que vamos nos expor a investimentos mais arriscados, como é o caso
da renda variável, é normal esperarmos retornos maiores do que a renda fixa. Não
haveria sentido em adquirir ações de uma empresa, ao invés de títulos do tesouro
nacional, que são muito mais seguros sem esta contrapartida de obtermos melhores
resultados. Então, devemos sempre esperar que produtos com maior risco, na maioria
dos casos, possuam também maior retorno.

Outro fator importante é que, diferente dos ativos de renda fixa, os ativos de
renda variável sofrem muito a ação da volatilidade, considerada um dos maiores
carrascos dos investidores iniciantes. Ela é apenas a variação natural dos preços dos

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ativos, de acordo com o mercado, mas que tende a seguir uma valorização a longo prazo,
se o ativo for bom, e uma desvalorização se o ativo for ruim.

Para entendermos porque a volatilidade é tão perigosa para o investidor


iniciante, vamos imaginar uma situação em que adquirimos ações de uma boa empresa
a qual está entregando bons resultados, com tendência à valorização, com o passar dos
anos. Mesmo sabendo desta alta probabilidade de valorização, é difícil nos controlarmos
para não tomar decisões precipitadas em momentos nos quais o mercado está em baixa,
devido a alguma crise momentânea. Em um momento de crise, tomados pela angústia
de ver nossos ativos perdendo valor de mercado, corremos o risco de vende-los de
forma precipitada, quando estão desvalorizados e termos prejuízo. É preciso estarmos
bem preparados psicologicamente e possuir uma estratégia bem definida para
investirmos corretamente em renda variável.

Por esse motivo, o investidor que está apenas interessado em ver seu patrimônio
crescer, sem ficar fazendo "apostas" ou especulações, normalmente só irá alocar em
produtos de renda variável percentuais do seu capital que acredita ter pouca
possibilidade de ser requisitado a curto prazo. Desse modo, uma carteira de
investimentos mais conservadora poderia ter, por exemplo, 80% do capital em renda
fixa, para um crescimento constante com baixo risco e volatilidade. Os 20% restantes
poderiam ser alocados em renda variável. Esta parcela menor do capital é justamente a
responsável por potencializar a rentabilidade média da carteira como um todo e, sendo
um percentual relativamente pequeno do patrimônio, terá menos chances de
influenciar negativamente o psicológico de tomada de decisão do investidor, em
momentos delicados de mercado.

Além disso, a renda variável pode ser uma ótima opção para diversificar uma
carteira com objetivo a longo prazo. Embora ocorram as oscilações de curto prazo, a
tendência é de que a valorização seja expressivamente maior na renda variável do que
nos produtos de renda fixa.

Coloquei abaixo um gráfico fictício simplificado, simulando o comportamento da


rentabilidade de um ativo de renda fixa (linha tracejada) comparado com um ativo de
renda variável (linha contínua). Assim, podemos ter uma noção mais visual. É possível
notar que o ativo de renda fixa tende a valorizar de forma constante ao longo do tempo,
sem grandes oscilações, enquanto o de renda variável varia bastante, havendo inclusive
momentos em que ele pode ficar abaixo da renda fixa. Porém, no longo prazo, se
compararmos um bom ativo de renda fixa com um bom ativo de renda variável, a chance
é grande de vermos uma discrepância de rentabilidade como demonstrada no gráfico.

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O que normalmente acontece com o dinheiro na renda variável e o porquê do
risco

Diferentemente da renda fixa, na renda variável, normalmente, não estamos


emprestando dinheiro a terceiros para receber juros como remuneração, mas
adquirindo ativos, cotas de fundos ou especulando cenários futuros de mercado no
intuito de receber ganhos maiores, muitas vezes ilimitados. Já na renda fixa, se
contratarmos um título que pague 100% do CDI, em nenhuma hipótese iremos receber
uma rentabilidade maior que essa no seu vencimento.

O risco da renda variável é justamente o risco de mercado, ou seja, seria o


mesmo risco que estaríamos expostos ao abrirmos uma empresa, ou ao comprarmos
um imóvel em uma área de alta valorização, no intuito de ganharmos renda com
aluguéis, ou com a venda posterior acima do valor de compra. Em ambas situações,
embora o potencial de ganho seja muito alto, não há nenhuma garantia de que a
empresa dará certo, ou, no caso do imóvel, de que consigamos bons inquilinos ou um
bom preço na hora da venda.

Porém, sabemos que nas duas situações, com um conhecimento adequado do


mercado onde estamos atuando, competência e planejamento prévio, conseguimos
colocar as estatísticas a nosso favor para que a chance de dar certo seja muito maior do
que a de dar errado. Tomando estas precauções, mesmo que as coisas não sigam pelo
caminho no qual gostaríamos, é possível minimizar as perdas e causar pouco impacto
em nosso patrimônio.

Então, estudando bem e entendendo seu funcionamento, não há razão para ter
medo da renda variável, pois ela pode ser uma grande aliada do nosso planejamento e
antecipação de resultados se trabalharmos com ela da forma correta. Abaixo, vou
descrever alguns dos principais ativos de renda variável e, em seguida, sugestões de
como deveríamos alocá-los em nossas carteiras de investimentos.

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Ações (Daytrade e Buy and Hold)

Vamos começar a falar de renda variável pelas ações, motivo de medo e respeito
por parte de muitos investidores, principalmente os leigos. Por este motivo, irei me
alongar um pouco mais no assunto do que nos outros ativos.

Quem nunca ouviu histórias de um amigo de um amigo que ganhou uma fortuna
em apenas uma tarde "mexendo com ações", ou também o contrário, de alguém que
perdeu dezenas de milhares de reais do dia para a noite?

Esses "relatos de causos", em minha opinião, fazem um mal muito grande ao


mercado financeiro, pois acabam afastando muitos investidores os quais poderiam estar
investindo em boas empresas brasileiras, estimulando a nossa economia da maneira
correta (claro que obtendo também seus ganhos acima da média da renda fixa em
troca). Então, primeiramente, vamos tentar diminuir o ruído para entender de uma vez
por todas o que são ações e as mais variadas formas de trabalhar com elas.

O que são ações?

Ação é a menor parte negociável de uma empresa, havendo um número limitado


delas, em um determinado momento disponível para compra. Quando as adquirimos,
nos tornamos sócios minoritários da empresa no percentual onde as compramos,
passando a partilhar de percentuais de seus lucros e também de seus riscos.

Como surgem as ações?

Para entendermos isso, devemos, primeiro, compreender como surgem as


empresas. É uma história um pouco longa, mas muito importante para consolidar o
entendimento sobre ações.

Uma empresa convencional surge de uma ideia, que, em seguida, é posta em


prática pelo seu idealizador juntamente a seus sócios. Se a ideia for boa e bem
executada, a empresa começa a crescer de forma orgânica. Para que o crescimento seja

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mais rápido, muitas vezes é necessário um valor de capital mais alto do que o valor que
ela gera de lucro, com isso, ela passa a adquirir empréstimos e financiamentos, a fim de
acelerar o crescimento. Esse ciclo se repete até chegar um momento que os sócios
podem decidir arrecadar volumes ainda maiores de recursos, abrindo o capital da
empresa. Em outras palavras, os empresários aceitam muitos outros sócios capazes de
injetar altíssimas quantias de dinheiro novo na empresa.

Para que a empresa efetue a abertura de capital, primeiramente os sócios


definem percentuais de distribuições de cotas para os acionistas. Nesse momento, é
muito comum os sócios idealizadores manterem o controle da companhia detendo a
maioria das cotas (por exemplo, manteriam 70% das ações da empresa para eles e
disponibilizariam apenas 30% para o mercado).

Em seguida, a empresa passa por todo um processo de preparação,


regulamentação, precificação das cotas e criação de área de relacionamento com os
investidores (RI). Enfim, realiza-se uma IPO (Initial Public Offering ou Oferta Pública
Inicial) onde tais ações serão colocadas à venda na bolsa de valores e compradas por
todos que tiverem interesse em se tornar sócios minoritários da empresa.

O recurso captado com as vendas iniciais chamadas de mercado primário


(primeira vez que são compradas diretamente da empresa pelos novos acionistas), é
repassado a empresa a fim de ser utilizado para financiar seu crescimento. A partir daí
a empresa não recebe mais dinheiro vindo das novas compras e vendas dessas ações,
que passam a ser feitas no que chamamos de mercado secundário. Ou seja, passam a
ter apenas suas propriedades trocadas (compradas e vendidas) entre acionistas
minoritários na bolsa de valores.

Características das ações

Uma das principais características das ações é a imprevisibilidade. Não é possível


ter certeza de possíveis retornos ou perdas, podemos apenas trabalhar com
probabilidades e estatísticas para aumentar nossas chances de sucesso. Porém, com
boas estratégias de análise, somadas a uma diversificação eficaz, é possível ter ganhos
muito expressivos com ações em longo prazo, correndo riscos relativamente baixos.

As ações são disponibilizadas para compra e venda no chamado pregão (nome


que se dá ao funcionamento do mercado de ações), ao qual podemos acessar através
do "home broker"(programa específico para operações na bolsa de valores)
disponibilizado por nossa corretora.

Podem ser classificadas em dois tipos, ordinárias ou preferenciais. As ordinárias


dão ao seu detentor direito de voto nas assembleias de acionistas e direito garantido de
tag along (direito de vender suas ações em condições muito próximas ou iguais às dos
sócios majoritários, caso eles vendam o controle da empresa para um terceiro). Já as
preferenciais permitem o recebimento de dividendos em valor superior ao das ações
ordinárias, assim como a prioridade no recebimento de reembolso do capital, porém o

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tag along não é um direito garantido ao investidor neste caso, podendo a empresa optar
por oferecer este benefício ou não.

As ações são identificadas por siglas de 4 letras, que, normalmente, lembram o


nome da empresa a qual pertencem seguidas de um número, que determina o tipo da
ação (preferencial, ordinária…). Um exemplo seria: PETR4 para ação preferencial da
Petrobrás, ou ITUB3 para ação ordinária do Itaú Unibanco.

As cotações dos valores das ações são feitas em tempo real conforme as compras
e vendas vão acontecendo, fazendo a tela do home broker aparentar ser muito
dinâmica, até mesmo confusa aos que estão observando pela primeira vez. Entretanto,
basta acessarmos algumas vezes para logo nos familiarizarmos com ela.

Quando decidimos comprar ou vender ações, emitimos ordens de compra, ou


venda, com a quantidade de ações e preço que desejamos. Em um caso de querermos
vender ações, por exemplo, após definirmos o valor da venda e a quantidade, a ordem
fica disponível no book de ofertas, aguardando o encontro entre os valores que
definimos para venda e algum comprador disposto a pagar este valor. Ao encontrar o
pagador a venda é executada, assim, recebemos o valor acordado na nossa conta da
corretora.

Um ponto importante de ser comentado é que o Imposto de Renda,


normalmente, é de 15% em cima do lucro obtido na transação, mas vendas mensais as
quais não ultrapassem R$20.000 são isentas de IR. Logo, muitos investidores costumam
fazer transações mensais abaixo desse limite, evitando o pagamento de impostos. Fora
isso, muitas corretoras também cobram taxas de corretagem toda vez que é feito um
processo de compra ou venda, o que pode corroer bastante a rentabilidade, se fizermos
muitas operações mensais com nossas ações.

Vantagem das ações

Como já citei, ações são investimentos considerados arriscados, e, como tais,


naturalmente, possuem potencial de retornos bem elevados. Mas qual a vantagem
especificamente do retorno das ações? Em resposta, posso dizer que as perdas sempre
são limitadas pelo valor que aplicamos (exceto em operações alavancadas), mas os
ganhos são ilimitados!

Para ilustrar, consideremos o exemplo simplificado de uma aplicação de


R$50.000 em uma carteira com cinco ações, de modo que foram distribuídos
R$10.000,00 para cada ação. No período de dois anos, três das empresas ficaram na
mesma situação inicial, mantendo o valor de R$10.000,00, uma empresa faliu
(perdemos todo o valor investido) e a outra teve um crescimento muito grande, fazendo
nossa alocação nela valer R$60.000,00. Nesses dois anos, nosso investimento inicial, que
era de R$50.000,00, transformou-se em R$90.000,00, mesmo com uma empresa
falindo, pois, no pior cenário, perdemos apenas os R$10.000,00 aplicados inicialmente.
Já a empresa que valorizou, não teve limites para o crescimento, fazendo a sua

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valorização não só cobrir a perda da outra, como ainda garantir uma rentabilidade muito
boa da carteira.

Com o exemplo citado, podemos compreender a importância de diversificarmos


nossas aplicações. Antes de aplicarmos nosso dinheiro, devemos fazer uma boa triagem,
escolhendo ações de empresas sólidas, com lucro consistente e mercado de atuação
promissor, uma vez que a probabilidade de empresas nessas condições falirem é muito
baixa, sendo a probabilidade de crescimento extraordinário por alguma delas muito alta.
Esse processo de seleção encaminha a nossa carteira para um alcance de rentabilidades
muito superiores as de renda fixa, principalmente a longo prazo.

Como funcionam os riscos em ações

O risco principal relacionado às ações, está na perda parcial, ou total do


montante aplicado, não sendo de responsabilidade do acionista minoritário nenhum
tipo de consequência legal de possíveis atos ilícitos praticados pela empresa. Este risco
está atrelado a dinâmica de mercado, então, para entendermos melhor seu
funcionamento, vamos observar a seguinte situação: se nos tornássemos sócios
investidores de um amigo que está abrindo uma padaria, estaríamos nos expondo a um
investimento de risco, pois não temos nenhuma garantia que a padaria dará certo,
podendo, inclusive, falir pelos mais variados motivos, ocasionando a perda do montante
aplicado.

Porém, é claro que podemos manter esse risco controlado. Seguindo com esse
mesmo exemplo da padaria, consideremos a hipótese de que esse amigo é dono de
várias outras padarias de sucesso, se mostrando um gestor muito competente. Imagine
que ele tenha condições de sustentar uma nova padaria só com o lucro das outras, em
possíveis tempos difíceis. Ou até mesmo que ele esteja abrindo outra padaria com
exclusividade em uma posição privilegiada de um shopping. Nesta situação, nós
teríamos motivos bem fortes para acreditar que a chance de o negócio dar certo é muito
maior do que a de dar errado.

É exatamente a mesma coisa que acontece com as ações, por isso que o ideal é
estudarmos bem as empresas, suas forças, fraquezas, mercado de atuação, governança
e balanços financeiros, antes de aplicarmos. Outra opção inteligente é contratar uma
assessoria capacitada para nós dar auxílio, de modo que possamos obter retornos muito
maiores do que a renda fixa a longo prazo, correndo o mínimo de risco possível.

Investidor x Especulador

Antes de prosseguirmos, se faz muito importante utilizar o conceito citado por


Benjamin Graham, no livro "O investidor inteligente", para diferenciar investidores de
especuladores. Esse é um dos maiores fatores de confusão no mercado de ações,
principalmente para os leigos e investidores iniciantes, criando um medo sem
fundamento.

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Segundo Graham, o investidor é aquela pessoa que aloca seus recursos após
análise profunda em busca de um retorno adequado, de modo a manter os riscos sob
controle e seu montante principal seguro. Estas operações tendem a dar os melhores
resultados no longo prazo. Já o especulador é aquela pessoa que busca retornos muito
altos, principalmente à curto prazo, tenta explorar distorções de mercado ou possíveis
cenários futuros, muitas vezes expondo seus capitais a altos riscos em operações
alavancadas, onde caso ele acerte, pode multiplicar o patrimônio em várias vezes, caso
erre pode perder tudo o que investiu, ou até mais do que possuía.

Vejam bem, minha intenção não é condenar este tipo de operação, visto que é
uma forma válida de operar no mercado. Quando feita da forma correta, por
profissionais especializados com seus capitais alocados a risco, pode ser muito útil para
ganhos de patrimônio. O que eu quero, realmente, é apenas diferenciar bem os dois
estilos de investimento em ações ao investidor que ainda não entende muito bem sobre
eles. Esse esclarecimento é importante para que não haja um engano por parte de um
investidor inexperiente, que acabe perdendo capital e se traumatizando com esse
universo.

Especulando com ações

Como falei acima, a maior parte das histórias que conhecemos a respeito de
ações, assim como promessas de altos ganhos do dia para a noite em sites sobre
investimentos, são de especuladores e não de investidores. Então, o que um
especulador faz afinal?

Vamos imaginar que um especulador tem um montante de R$100.000,00 para


aplicar em ações. Em dado momento ele fica sabendo que quando um determinado
político assumir o governo, após as eleições, ele irá viabilizar uma nova lei que fará a
empresa X, que possui capital aberto na bolsa, se tornar extremamente lucrativa, pois o
produto que ela fabrica vai valorizar muito.

Assim, antes mesmo das eleições acontecerem, todos os especuladores do


mercado vão criar um burburinho e começar a comprar ações da empresa, na esperança
de obter altos ganhos, levando em consideração a possível valorização. Com a compra
em excesso, as ações da empresa começam a se valorizar muito e o preço da ação, que
antes era R$10,00, subiu para espantosos R$50,00, sem que nada de diferente tenha
acontecido com ela.

Os lucros não cresceram, os prejuízos e dívidas não minimizaram, ou seja, não


ocorreu nada que justificasse a valorização no preço das ações, ela aconteceu
puramente pela especulação do mercado devido a tal possível nova lei.

Nesse momento, o especulador citado decide utilizar seus R$100.000,00 para


comprar ações da empresa x, no valor de R$50,00 por ação, pois ele acredita que se a
lei for aprovada, o valor das ações vai subir ainda mais, chegando a R$100,00 por ação.

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Pelo exemplo citado, chegamos a uma bifurcação, pois, se realmente a lei se
tornar realidade, o especulador poderá transformar os seus R$100.000,00 em
R$200.000,00 em um curto período. Mas ocorrendo o contrário, as pessoas vão começar
a tentar se desfazer de suas ações a qualquer custo, uma vez que, sem a lei aprovada, a
empresa X não terá nenhum atrativo. Isso ocasionará uma desvalorização intensa,
fazendo com que o valor volte a ser de R$10,00 por ação, ou até menos, transformando
os R$100.000,00 do especulador, que comprou no momento em que cada ação estava
valendo R$50,00, em apenas R$20.000. Logo o seu prejuízo será de R$80.000 do dia para
a noite.

Como podemos ver com a história, o especulador poderia ter alcançado altos
ganhos, mas iria correr altos riscos também. O nome que se dá no mercado de ações
para esse tipo de operação especulativa, visando altos ganhos em curto prazo é "trade",
existindo subcategorias, como o "daytrade", em que essas operações de compra e venda
acontecem no mesmo dia, ou “swing trade”, em que as operações podem levar semanas
ou meses até sua conclusão.

Não há nada errado em ser um “trader”, porém, é uma habilidade que exige
muito estudo e disponibilidade de tempo diária analisando o mercado para que possa
ser realizada, mantendo os riscos sob controle e maximizando os ganhos. Um trader
utiliza principalmente da chamada "análise técnica", em que aprendemos a interpretar
gráficos e tentar prever possíveis movimentos matemáticos futuros, para que possamos
nos posicionar antecipadamente e obter retornos maiores.

Caso algum dia você queira fazer esse tipo de operação, lembre-se de sempre
utilizar para ela o chamado capital alocado a risco, ou seja, uma parcela pequena do
montante que você reservou para renda variável, que você poderia se dar ao luxo de
perder em uma situação desfavorável, sem prejudicar de forma significativa seu
patrimônio.

Como investir em ações de maneira conservadora para o longo prazo

Ficou bem claro no exemplo anterior que a especulação é uma forma arriscada
de operar com ações. Mas existe alguma forma mais segura?

Sim, o estilo de aplicação chamado "buy and hold", que significa comprar e
segurar. O Buy and hold tem como principal fator para tomada de decisão o
entendimento dos fundamentos da empresa, ou seja, suas finanças, governança,
mercado, entre outros, através do que chamamos de análise fundamentalista. Nessa
estratégia, visamos comprar ações com o objetivo de nos tornarmos sócios de boas
empresas a fim de aumentarmos nosso patrimônio de forma consistente, com as
distribuições de lucros (dividendos), crescimento e valorização das cotas das empresas
em longo prazo, pois boas empresas, que possuem lucro e crescimento consistente,
tendem a valorizar muito com passar das décadas e entregar excelentes resultados aos
acionistas.

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Podemos ver que essa abordagem é o oposto da especulação, pois visa o longo
prazo e não utiliza distorções de mercado e/ou oscilações de preço em curto prazo como
critério de decisão de compra ou venda ações.

Voltando ao exemplo da padaria, se nos tornássemos sócios do empresário


extremamente competente na padaria que gera lucros constantes, distribui dividendos,
está valorizando e expandindo, criando novas unidades e tem um potencial brilhante de
crescimento futuro, qual razão teríamos para vender nossas cotas, mesmo que surgisse
alguém querendo pagar mais do que nós investimos inicialmente? Nenhuma, isso seria
abrir mão de ganhos imensos futuros em troca de um pequeno ganho de curto prazo.
Então, colocando de uma forma um pouco mais simples, quem especula, opera
com preço em curto e médio prazo, quem investe opera com valor a longo prazo.

Imposto de renda e taxas sobre ações

A alíquota padrão aplicada sobre ações é de 15% sobre o lucro, se vendidos mais
do que R$20.000 no mês. Valores abaixo desse, estão isentos de IR. A exceção são
operações de “day trade”, em que a alíquota aplicada é de 20% em cima dos lucros.

Os dividendos distribuídos pelas empresas são isentos de imposto de renda


(devemos ficar atentos, pois na data que escrevo este livro, já estão sendo realizados
estudos no governo para que esta isenção seja removida).

Além do IR, devemos prestar atenção nas outras taxas cobradas no mercado de
ações, como a taxa de corretagem. Hoje, existem corretoras que isentam seus clientes
desse tipo de taxa.

Indicações

Trabalhar com ações é indicado para os investidores que já possuem um


conhecimento mais avançado de finanças e/ou já possuem um capital no mínimo
superior a reserva de emergência. Como são investimentos mais arriscados e voláteis, o
ideal é trabalharmos com ações pensando em longo prazo, com aquela pequena parcela
do nosso capital a qual temos intenção de expor ao risco, para obtermos mais
rentabilidade, mas que em uma situação de perda, não impactará nosso patrimônio de
forma significativa.

Fundos de investimento (ações, multimercados e outros)

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O que são

Fundos são uma modalidade de investimento onde adquirimos cotas de uma


carteira de ativos criada e administrada por um gestor. Na prática, estamos
disponibilizando nosso dinheiro para ser gerido e aplicado por um terceiro de acordo
com o regulamento e estratégias do fundo em questão.

Características

O fundo viabiliza a união de um gestor bastante competente na área de


investimentos, que possui grande potencial de atingir retornos acima da média para a
categoria de ativos na qual vai atuar e vários investidores que, acreditando no trabalho
desse gestor, disponibilizam um capital para que ele administre. Na prática, pessoas que
querem investir em renda variável e não possuem tempo e/ou conhecimento para
estudar e acompanhar o mercado, acabam terceirizando esta função, investindo através
de fundos.

A propriedade do fundo para os investidores se dá através de cotas, que podem


ser compradas e vendidas com valores dinâmicos, de forma parecida com o mercado de
ações. Devemos prestar muita atenção antes de investir em fundos de investimento,
porque cada fundo pode investir em coisas completamente diferentes, existindo opções
que são muito conservadores (fundos de renda fixa, por exemplo) e outras que são
extremamente agressivas (alguns tipos de fundos de ações, entre outros).

Os fundos costumam estabelecer uma referência (benchmark) a qual tentam


superar. Por exemplo, fundos de renda fixa podem ter como meta entregar pelo menos
110% do CDI, assim como fundos de ações podem tentar superar a rentabilidade do
índice da BOVESPA. Alguns fundos, inclusive, podem estabelecer uma taxa de
performance, que é um valor a mais a ser pago pelos investidores, caso ele supere a
referência.

Riscos

Os principais riscos relacionados aos fundos de investimento são os riscos dos


próprios ativos que compõem o fundo. Ou seja, em fundos de ações ou fundos
multimercados pode ocorrer o risco de mercado, que acaba fazendo os preços
oscilarem, podendo ocasionar perdas no caso da desvalorização de ativos. Em um fundo
de renda fixa pode ocorrer o risco de crédito (calotes), já que os produtos que esse tipo
de fundo investe são normalmente CBDs, LCIs, LCAs e debêntures, podendo ou não estar
protegidos pelo FGC.

Além dos riscos com os ativos dos fundos, existem alguns riscos menos prováveis,
mas que devem ser levados em consideração: o risco operacional, se ocorrer algum
problema com procedimentos do fundo, a compra e venda de ativos, ou até o risco do
gestor do fundo realizar operações que fogem do regulamento do fundo em questão.

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Vantagens e desvantagens

Uma das maiores vantagens dos fundos é o poder da diversificação. Se tivermos


R$1.000,00 para aplicar, poderíamos comprar, em uma determinada corretora, apenas
um CDB, mas se aplicarmos esse valor em uma cota de um fundo de renda fixa, dentro
dele poderão existir dezenas de CDBs, entre outros ativos de renda fixa. Isso faz com
que o investidor possa usufruir de todos os benefícios de uma boa diversificação
aplicando apenas em uma única cota de fundo.

Além disso, esses fundos costumam estar atrelados a instituições renomadas,


geridos por profissionais extremamente capacitados. Logo, quando compramos cotas
de fundos, dispomos dos melhores profissionais do mercado, trabalhando o nosso
dinheiro, buscando nos trazer resultados acima da média. Também dão acesso a
mercados aos quais muitos não teriam, já que um investidor que não entende de ações
pode investir nesse mercado com relativa segurança, através de um fundo de ações
gerido por um bom profissional.

As principais desvantagens dos fundos são as taxas incididas sobre ele, como
taxas de administração, que devem ser bem analisadas antes de investirmos em um
fundo. Os fundos possuem uma característica muito indesejável, que é o efeito "come
cotas". Esse efeito é uma antecipação do imposto de renda feita pelo governo, que seria
pago pela rentabilidade do fundo. No último dia útil do mês de maio e do mês de
novembro, a receita recolhe o valor referente ao imposto de renda, através da redução
das cotas, o que dá origem ao nome "come cotas". Isso faz com que o dinheiro recolhido
antecipadamente para o imposto deixe de fazer parte do montante e acaba reduzindo
o efeito que os juros compostos teriam no montante total em longo prazo. Alguns
fundos são isentos do efeito come cotas, como fundos de ações, fundos de previdência
privada e fundos imobiliários, por exemplo.

Indicações

Os fundos são uma ótima forma de diversificar a carteira de investimentos e


também dar acesso a mercados mais complexos de forma simples. Porém, devemos
sempre analisar os ativos que compõem o fundo, pois fundos são caixinhas de surpresas.
As diferenças entre cada um podem ser muito grandes, existindo fundos conservadores,
com alta liquidez, e outros extremamente agressivos, que investem em operações de
alto risco, possuindo liquidez baixa, além de prazos de resgate altos.

Para tanto, é muito importante mapear todas as taxas as quais serão aplicadas
no fundo, pois alguns possuem taxas de administração tão altas, que muitas vezes
podem deixar o resultado final do fundo até abaixo da média de mercado.

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Previdência privada

O que é

Previdência Privada é uma espécie de fundo de investimento voltado para gerar


uma renda extra, em um determinado momento predefinido, como a aposentadoria.
Diferente de outros tipos de investimento, os fundos de previdência são fiscalizados pela
SUSEP. É importante notarmos que a Previdência Privada pode ser considerada um
produto de renda variável, pois a rentabilidade de cada uma depende exclusivamente
da performance dos ativos e do gestor do fundo, não oferecendo nenhum tipo de
rentabilidade predefinida “garantida”, apenas projeções e simulações.

Características

Normalmente, são divididas entre PGBL (Plano Gerador de Benefício Livre) e


VGBL (Vida Gerador de Benefício Livre), sendo a diferença entre os dois relacionada a
forma como o IR será pago.

O PGBL é indicado para quem faz declaração completa do Imposto de Renda,


pois é possível abater até 12% da renda bruta nas declarações anuais. Entretanto, ao
final do plano, o IR é aplicado sobre todo o valor acumulado.

Já o VGBL é indicado para quem faz a declaração simplificada ou é isento, visto


que não possui a característica do abatimento nas declarações anuais de IR, mas possui
como vantagem o fato de que o IR só será aplicado no lucro obtido ao final do plano e
não sobre o montante total, como ocorre no PGBL.

É possível, além de escolher entre PGBL e VGBL, escolher se a tabela de IR


aplicada no plano será progressiva ou regressiva. Na progressiva, o valor da alíquota
aumenta de acordo com o aumento do montante de saque, independentemente do
tempo de contribuição. Na regressiva, quanto mais tempo deixamos o recurso aplicado,
menor será a alíquota de IR independentemente do valor de saque.

Pelo fato de a previdência privada funcionar como um fundo, estão disponíveis


as mais variadas opções, tanto relacionadas à rentabilidade quanto ao risco. Cada
gestora possui um objetivo e uma performance diferente.

Outra característica é que podem ser classificadas em fundos fechados, quando


são oferecidos por empresas apenas aos seus funcionários e abertos, quando estão
disponíveis ao público em geral através de bancos ou corretoras.

Normalmente, possuem muitas taxas atreladas, como taxa de administração,


carregamento e taxa de saída, que tendem a corroer bastante a rentabilidade.

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Riscos

Embora a maioria dos fundos de previdência privada sejam conservadores e


invistam a maior parte de seus recursos em renda fixa, é importante saber que não
possuem garantia do FGC em caso de quebra da instituição.

Além disso, existem opções de fundos mais arriscados, sendo importante nos
atentarmos ao perfil de risco do fundo antes de investir.

Vantagens e desvantagens

Possuem como vantagens a alta liquidez, a possibilidade de portabilidade do


plano entre diferentes instituições, a isenção de imposto de inventário (embora alguns
estados estejam começando a mudar este fato), a isenção de come-cotas, o
recebimento dos valores em forma de renda mensal ao final do plano da forma que
escolhermos. Também posso citar a utilização do imposto de renda em nosso favor
através das modalidades de PGBL e VGBL. Uma outra vantagem está no auxílio aos
investidores iniciantes, em relação a educação financeira e disciplina em guardar
dinheiro.

A grande desvantagem diz respeito aos descontos de muitas taxas


(administração carregamento, entre outras). Por esse motivo, precisamos estudar e
comparar bem os produtos na hora de contratar, pois o entendimento sobre o assunto
é primordial para não desencadear numa perda de rentabilidade alta no decorrer dos
anos. Uma desvantagem oculta é o fato de os fundos de previdência privada
aparentarem ser investimentos simples, mas na realidade a escolha é complexa e exige
um conhecimento aprofundado para que o investidor não escolha modelos de
pagamento e tabela de imposto de renda completamente incompatíveis com a sua
estrutura financeira e objetivos, resultando em perda de dinheiro em longo prazo.

Indicações

São bons produtos para quem está começando a investir e, principalmente,


ainda possui dificuldades em relação à disciplina de aportar dinheiro mensalmente nas
aplicações. Porém, a seleção deve ser feita com cautela, sempre com ajuda de um
especialista para uma escolha adequada.

Também podem ser utilizados para planejamento sucessório, embora os seguros


de vida pareçam ser opções mais eficientes e menos arriscadas, visto que a isenção de
imposto de inventário sobre fundos de previdência privada tem sido questionada nos
últimos anos, possuindo risco de sofrer alguma mudança no futuro.

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Fundos de renda fixa e DI

O que são

Fundos de renda fixa e fundos DI são fundos de investimento que possuem a


maior parte dos investimentos em produtos conservadores de renda fixa, como títulos
do tesouro, CDBs, debêntures etc. (no mínimo 80% no caso dos fundos de renda fixa e
95% no caso dos fundos DI). A diferença entre os dois é que os fundos DI costumam
estar atrelados ao CDI, por isso investem em produtos pós fixados, enquanto os fundos
de renda fixa tendem a investir principalmente em produtos prefixados.

Características

Como qualquer fundo de investimento, os fundos de renda fixa e DI são


administrados por um gestor, eles possuem estratégias e ativos diferentes entre si, se
fazendo importante estudar bem cada fundo antes de aplicar. Entretanto, na maioria
dos casos, costumam possuir perfil mais conservador em relação a risco, quando
comparados a outros tipos de fundos.

Possuem taxas atreladas, como a taxa de administração, porém cada fundo irá
cobrar um valor de taxa diferente. Assim sendo, é sempre bom compararmos as taxas
cobradas em cada um.

Sofrem incidência da tabela regressiva de imposto de renda e também do come-


cotas.

Riscos

Fundos DI e de renda fixa costumam ser conservadores em relação a risco,


justamente por investirem a maior parte de seu patrimônio em ativos de renda fixa.
Dessa maneira, é importante nos atentarmos ao fato de que eles não possuem proteção
do FGC.

Vantagens e Desvantagens

A principal vantagem destes fundos é a diversificação e acesso à gestão


profissional, com baixo custo e segurança.

As desvantagens estão no fato de que as taxas podem corroer bastante a


rentabilidade, sendo importante analisar bem antes de escolher o fundo.

Indicações

Podem ser boas opções para quem quer diversificar uma carteira de renda fixa
com baixo custo, gestão profissional e de maneira conservadora.

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ETFs

O que são

ETFs (Exchange Traded Funds ou também conhecidos como fundos de índice)


podem ser definidos como uma espécie de fundo de investimento em ações, que pode
ser negociado na bolsa de valores da mesma forma que negociaríamos ações.

Características

Uma das principais características dos ETFs é o fato de que a maioria tem como
objetivo seguir fielmente algum índice relacionado ao mercado de ações. Por exemplo,
o BOVA11 é um dos ETFs mais conhecidos, tendo como objetivo seguir o índice Bovespa.
Para que isso aconteça, ele contém mais de 60 ações cujo próprio índice Bovespa utiliza
como referência. Então, se compararmos o gráfico do ETF e o do índice Bovespa, os
movimentos são muito similares.

Eles são tributados com a mesma alíquota de 15% em cima de lucro, como
acontece com ações, a diferença é que não possuem a isenção para vendas abaixo de
R$20.000 por mês.

Possuem uma diversificação natural, visto que um ETF, normalmente, vai conter
dezenas de ações.

Riscos

Os riscos dos ETFs são menores do que os de ações individuais, porque, como
dito anteriormente, uma única cota pode conter dezenas de ações, fazendo com que
essa diversificação mantenha o risco sob controle. Logo, devemos estar atentos
basicamente à volatilidade (variação do valor das cotas, tanto para cima como para
baixo), que é uma característica de qualquer fundo e às taxas aplicadas, que podem
corroer a rentabilidade.

Vantagens e Desvantagens

A maior vantagem dos ETFs, similar a dos fundos de investimento, é


disponibilizar o investimento em ações de forma profissional e diversificada aos
investidores que não compreendem o mercado e/ou que não possuem muito capital
para investir. O valor da cota de um ETF, que contém dezenas de ações, pode ser
equivalente ao valor de apenas uma ação de uma empresa, facilitando muito a
diversificação, já que o investidor precisaria investir valores muito altos para obter esta
mesma diversificação comprando ações individuais por conta própria.

"Mas não seria melhor adquirir uma cota de fundo de investimentos


convencional então?". Não necessariamente. A taxa de administração embutida no
valor das cotas de um ETF normalmente é MUITO menor que as taxas dos fundos de

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investimento, o que pode fazer a diferença em longo prazo. Além disso, podemos citar
a grande facilidade de comprar e vender as cotas dos ETFs através do home broker.

O valor da cota de um ETF costuma ser mais acessível do que cotas de fundos, na
data em que escrevo este livro, a cotação de uma cota do BOVA11 está em
aproximadamente R$90,00 e a maioria dos fundos de ações disponíveis nas principais
corretoras do mercado possuem em sua maioria aporte inicial mínimo de R$1.000,00,
havendo muitos com valores superiores a este.

A principal desvantagem dos ETFs está nas estratégias muito engessadas, que
costumam estar atreladas aos índices. Se um ETF está atrelado ao Bovespa (como é o
caso do BOVA11) e o índice Bovespa começa a decair, o ETF também decai, não fazendo
nada para mudar esta situação, já que seu objetivo é replicar o índice, tanto nas altas
quando nas baixas. Por outro lado, em um fundo convencional, o gestor poderia aplicar
estratégias diferenciadas para evitar grandes quedas e até lucrar com elas.

Uma outra desvantagem que pode ser citada é que o ETF não busca
rentabilidades diferenciadas, apenas segue a referência a qual está atrelado.
Dificilmente o ETF terá ganhos tão expressivos quanto uma boa estratégia de
investimento em ações feita por pessoas qualificadas. Porém, mesmo assim, tendem a
ganhar a rentabilidade da renda fixa no longo prazo, dependendo do ETF escolhido.

Indicações

ETFs são uma excelente opção de diversificação da carteira de renda variável aos
quem têm pouco capital para investir e/ou querem investir em ações, mas não conhece
muito do mercado a ponto de escolher por conta própria ações individuais.

Fundos imobiliários

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O que são

Fundos imobiliários (conhecidos pela sigla FIIs) são fundos de investimento que,
como o próprio nome demonstra, investem basicamente em imóveis.

Características

Como todos os outros fundos, também podemos adquiri-los através de cotas.


Um fundo imobiliário pode ter em sua gestão tanto um imóvel como dezenas deles, dos
mais variados tipos, como prédios comerciais, galpões logísticos, lajes corporativas ou
shopping centers.

Uma das principais diferenças dos fundos imobiliários para outros tipos de fundo,
é que podemos ganhar, além da valorização das suas cotas, parte dos aluguéis dos
imóveis que compõem o fundo. Esses aluguéis são isentos de imposto de renda,
podendo se tornar uma ótima fonte de renda extra para o investidor. Embora possuam
isenção de IR nos aluguéis mensais, o lucro obtido na venda de cotas é tributado com
alíquota de 20%.

Em se tratando de imóveis, existem características atreladas a este tipo de


mercado, cujos outros fundos não possuem, devendo ser analisadas com cautela. A taxa
de vacância, por exemplo, é o percentual dos imóveis que compõem o fundo que estão
sem inquilinos em um determinado momento, os quais, consequentemente, não irão
contribuir com os aluguéis distribuídos pelo fundo enquanto não forem ocupados.

A principal referência para os fundos imobiliários é o índice IFIX da B3, que


representa uma carteira teórica dos fundos imobiliários mais negociados e com maior
liquidez na bolsa de valores. Sua principal função é demonstrar o desempenho das
cotações desses fundos, portanto quando formos analisar um fundo imobiliário para
investir, é sempre bom compararmos ao índice IFIX para termos uma noção de como
está seu desempenho em relação ao mercado.

Riscos

Como qualquer ativo de renda variável, o principal risco atrelado aos fundos
imobiliários é o risco de mercado, ou seja, a possibilidade da oscilação de preços das
cotas de acordo com a oferta e demanda. Além disso, existe o risco de vacância ou
inadimplência nos imóveis do fundo, fazendo com que eles deixem de gerar as rendas
dos aluguéis e ocasione a desvalorização das cotas.

Existe também o risco de depreciação dos imóveis presentes no fundo, fazendo


com que sempre seja uma boa ideia analisarmos com calma seu histórico, localização e
outras características. Também é importante escolhermos fundos os quais possuam um
grande número e variedade de tipos de imóveis e inquilinos, para que o risco do fundo
esteja bastante reduzido com a diversificação.

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Outro risco a ser levado em consideração é o risco de liquidez, já que alguns
fundos imobiliários específicos podem ter poucas negociações no mercado, fazendo
com que seja difícil comprar ou vender suas cotas.

Vantagens e desvantagens

As principais vantagens dos fundos imobiliários são a possibilidade de investir em


imóveis e obter renda de aluguel com valores muito inferiores ao necessário para
comprar um imóvel; isenção de imposto de renda; renda passiva, corrigida pela inflação,
que pode ser utilizada no dia a dia; a valorização das cotas que ainda ocorre em paralelo
à renda de aluguel. Além disso, o valor das cotas tende a ser baixo em relação a outros
investimentos de renda variável, fazendo com que os fundos imobiliários sejam muito
acessíveis a quem possui pouco capital para aportar.

Podemos considerar também que cada cota pode fazer parte de um fundo que
possui diversos imóveis, fazendo com o que o risco esteja muito mais controlado, uma
vez que o fundo não dependeria necessariamente apenas de um imóvel ou dos
pagamentos realizados por apenas um único inquilino.

Um dos principais riscos é a inadimplência e taxa de vacância. Caso os inquilinos


dos imóveis do fundo deixem de pagar o aluguel ou saiam do imóvel, a renda dos
aluguéis diminui, ou cessa, resultando na desvalorização das cotas do fundo. Isso pode
ser solucionado quando escolhemos fundos com vários tipos de imóvel e inquilinos no
portifólio. Tal escolha diminui o risco para que não aconteça como no famoso caso do
fundo torre Almirante, em que a Petrobrás ocupava completamente o único imóvel do
fundo, e, em determinado momento, abandonou o imóvel inteiro de uma vez, fazendo
o fundo passar por dificuldades.

Um outro risco a ser mapeado é o de liquidez, pois alguns fundos imobiliários


específicos possuem um pouco mais de dificuldade de compra e venda do que outros
ativos de renda variável. Porém, este problema pode ser solucionado facilmente com
uma escolha criteriosa de fundos, visto que muitos possuem liquidez excelente.

Indicações

Fundos imobiliários são uma excelente forma de diversificar uma carteira de


renda variável, sendo muito indicados para quem quer investir em imóveis e ganhar
renda de aluguel, sem ter que arcar com o alto custo e burocracia de ter que comprar
um imóvel. É ainda mais vantajoso pelo fator da diversificação, pois um fundo pode
possuir vários imóveis.

Fica sempre o lembrete de analisar com calma os ativos que compõem o fundo,
taxa de vacância e número de negociações (liquidez) do fundo antes de investir, assim
teremos as melhores opções para os nossos objetivos.

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Outros ativos de renda variável

Existem muitos ativos de renda variável que podem ser utilizados pelo investidor,
cada um com suas características, potenciais retornos e riscos. Segue um breve resumo
de mais alguns, os quais não costumam ser tão populares na carteira da maioria dos
investidores, mas que é importante conhecermos.

Criptomoedas

São uma nova espécie de dinheiro digital com algumas características muito
importantes, como a descentralização. Significa dizer que não há uma grande instituição
organizadora por trás de tudo, elas operam de acordo com o próprio programa e cada
transação efetuada entre seus usuários, assim como a criação de novas unidades, é
baseada na criptografia em um sistema chamado blockchain. O Blockchain, por sua vez,
é uma tecnologia que possui uma capacidade diferenciada de gravação e validação de
transações. Significa dizer que os detalhes de cada transação são arquivados em um
bloco de dados automaticamente distribuídos na web por todos os usuários os quais
possuem a criptomoeda em questão, fazendo com que seja quase impossível fraudar o
sistema.

Farei uma analogia simplista de como o blockchain opera para facilitar o


entendimento: Imaginem se vazasse uma foto de alguém no WhatsApp e tal foto fosse
distribuída entre milhões de outras pessoas. À princípio, seria impossível retirar todas
as fotos de circulação e, se alguém tentasse adulterar a foto e espalhá-la novamente,
seria muito simples encontrar alguém com a versão original para comparar e descartar
a que é falsa. É exatamente isso que acontece com o Bitcoin. É impossível retirar as
moedas já ativas de circulação e todas as transações oficiais realizadas são salvas e
validadas em toda a rede, impedindo transações fraudulentas.

A criptomoeda mais conhecida atualmente é o Bitcoin, porém já existem várias


outras ganhando destaque.

Existem duas formas mais globais de se utilizar as criptomoedas em um contexto


financeiro. A primeira, seria justamente o intuito pelo qual ela foi criada, ou seja, utilizá-
la como dinheiro no futuro, quando ela for mais amplamente aceita no mercado. Visto
que por ser descentralizada e possuir o blockchain por trás, pode se tornar um tipo de
dinheiro muito seguro e útil sendo utilizado no mundo inteiro para transações entre
países, sem pagamento de impostos ou organizações que lucram com as transações,
como é o caso de bancos. Também são programadas para ter um número finito de
unidades, ou seja, podem ser imunes à inflação por serem escassas, se tornando uma
forma de diversificação de patrimônio e reserva de valor, como o ouro e o dólar.

A segunda forma seria especular com seu valor e tentar lucrar com a possível e
incerta valorização da moeda. Entretanto é um procedimento bem arriscado e deve ser
feito com cautela, pois não há 100% de garantia de que este futuro de moedas digitais
irá se concretizar em breve, muito menos que a moeda X ou a Y que será a mais utilizada.

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Em termos de especulação, elas podem tanto apresentar uma valorização exponencial
como perda total.

Cambio / moeda sólida:

O nosso país possui uma moeda altamente instável, sujeita a processos de


inflação muito intensos e muito volátil, em relação a moedas estrangeiras. Isso pode
criar mercado para principalmente 3 tipos de operação.

A primeira seria especulação. Investidores compram moeda estrangeira quando


estão em uma possível situação de baixa, seguida por alta, com o intuito de obterem
lucro com a valorização. Esse é um mercado muito arriscado, pois existem diversas
variáveis, quase impossíveis de serem calculadas com precisão, podendo influenciar nas
variações de preços entre as moedas. Logo, não é muito recomendável para investidores
iniciantes operar dessa forma.

A segunda forma seria proteção contra a desvalorização da nossa moeda em


relação a determinado objetivo. Por exemplo, uma pessoa que pretende viajar para os
Estados Unidos, em 2 anos, resolveu economizar um valor mensal. Ela pode começar de
imediato a comprar dólares mensalmente no decorrer do período de economia, para
evitar uma possível desvalorização do dinheiro, caso ocorra uma alta do dólar bem às
vésperas da viagem.

Outro caso onde isso é ainda mais importante, é o de empresas que trabalham
com importação e exportação, ou possuem dívidas em moeda estrangeira, pois uma
desvalorização muito alta da nossa moeda pode levar uma empresa, que não se
preparou mantendo reservas na moeda estrangeira em questão, a níveis de
endividamentos muito perigosos, ou à falência.

A terceira e última das principais formas de operar com moeda estrangeira é


manter uma reserva de valor em moeda forte, nesse caso pode tanto ser uma moeda
de muita estabilidade, como o dólar.

Reserva de valor

O papel de uma reserva de valor é proteção de patrimônio e diversificação de


risco. Aqui a rentabilidade pode ser inclusive desconsiderada. É sempre importante
termos parte de nosso patrimônio em ativos valiosos como forma de proteção em
situações de crise nacionais e mundiais muito graves, como guerras, ou até contra
possíveis intervenções governamentais, inflação e/ou taxas abusivas que desvalorizem
a moeda do país em que vivemos.

Para este fim, podem ser utilizadas moedas fortes e de alta estabilidade, como o
dólar. Também podem ser utilizados bens considerados preciosos, escassos, de valor
intrínseco atemporal e reconhecidos mundialmente, como pedras preciosas, joias, obras
de arte etc.

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Alguns, possuem acesso mais fácil ao investidor, como é o caso de moedas
estrangeiras e o ouro, que são negociados em fundos de investimentos específicos e
podem ter suas cotas adquiridas como em outros fundos convencionais.

Especulação

Coloquei especulação em uma categoria específica, mesmo sem ser um tipo de


investimento, porque é uma forma muito comum de se operar em renda variável, sendo
possível especular com vários tipos de ativos. Como falei anteriormente, a especulação
é uma espécie de aposta que acontece sempre que estamos adquirindo um bem ou
direito esperando que algum cenário incerto favorável ocorra, para termos altos ganhos,
mas ao mesmo tempo correndo altos riscos de perdas se o cenário não se tornar
realidade.

É possível especular com ações, derivativos, fundos imobiliários, criptomoedas,


câmbio e vários outros ativos, assim como também é possível investir neles de forma
conservadora, utilizando cada um dos ativos por sua função principal e características.
Para ficar mais claro, INVESTIR em ações, por exemplo, seria, como já mencionado,
adquirir partes de boas empresas, sólidas, e esperar ter lucros em longo prazo com o
crescimento da empresa e distribuição de dividendos. Já ESPECULAR, seria comprar
ações de uma empresa não necessariamente boa, porque você acha que determinada
situação pode acontecer e fazer as ações multiplicarem o valor por 100 vezes.

INVESTIR em moeda estrangeira seria, por exemplo, comprar dólares a fim de


proteger o poder de compra de uma reserva da qual você está fazendo para uma viagem
aos Estados Unidos daqui a dois anos. ESPECULAR com moeda estrangeira seria comprar
dólares sem necessariamente precisar deles, puramente porque você acha que eles
estão em um valor baixo, pensando que se um novo presidente for eleito, por exemplo,
ele vai dobrar de valor e você vai ter lucro vendendo.

Veja bem, não há nada de errado em especular. É uma atitude válida que pode
alavancar os lucros de sua carteira, quando feita corretamente, porém é uma atividade
a ser feita com o que chamamos de "capital de risco", ou seja, uma pequena parte do
capital que temos disponível para renda variável e que podemos nos dar ao luxo de
perder se tudo der errado sem impactos significativos em nosso patrimônio. O grande
problema é que pessoas leigas não conhecem a diferença e acabam especulando
achando que estão investindo utilizando parcelas representativas de seus patrimônios
para isso.

Muitas vezes ouvimos histórias de pessoas que, baseando-se apenas em notícias


de jornais, colocaram mais da metade do patrimônio em ações sem um estudo
aprofundado prévio, porque acharam que as empresas as quais escolheram iriam
multiplicar de valor em poucos meses. Como consequência, encararam prejuízos
imensos, quando o cenário não ocorreu como previsto, resultando em traumas
relacionados a finanças e renda variável.

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O mais curioso é que essas mesmas pessoas não teriam apostado essa mesma
quantidade de recursos em um cassino em Las Vegas, mostrando que não possuíam nem
mesmo um perfil favorável a riscos em primeiro lugar. Isso aconteceu apenas porque
estavam mal informadas em relação aos riscos, operando em um mercado que não
conheciam e de forma incorreta.

Para concluir, sempre que for especular, já tenha definido anteriormente qual
percentual da sua carteira de renda variável você pretende utilizar como o seu capital
de risco. Utilize apenas ele para atividades especulativas. Além disso, procure conhecer
bem onde você vai especular, pois já que não há garantias de vitória, podemos pelo
menos colocar as probabilidades a nosso favor.

Todas as aplicações possuem algum nível de risco agregado, umas com risco
maior e outras com risco muito pequeno. A melhor forma de nos protegermos desses
riscos e ao mesmo tempo obter altos retornos é através da diversificação, tema do
próximo capítulo.

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Capítulo X - O poder da diversificação

Por que diversificar?

Muitos de vocês já devem ter ouvido: “nunca se deve colocar todos os ovos em
uma mesma cesta”. Esse ditado é extremamente válido para os investimentos.

Até o título mais conservador de renda fixa pode ser caloteado. Mesmo a
poupança, o investimento que era considerado o mais conservador e seguro do Brasil
enfrentou tempos difíceis e perdas durante o governo Collor.

Então, como poderíamos evitar tal situação, ou pelo menos diminuir


consideravelmente os impactos?

Utilizando a estratégia denominada "Alocação de ativos" (Asset Allocation), que


prega a diversificação dos ativos que compõem uma carteira de investimentos através
de percentuais predeterminados atribuídos a cada um deles no intuito de obter um
equilíbrio ideal entre retorno e risco. Esses percentuais devem ser mantidos através da
compra e venda de ativos, pois eles se tendem a se alterar ao longo do tempo devido às
variações de mercado.

O estudo "Does Asset Allocation Policy Explain 40, 90 or 100 percent of


perfomance?" realizado pelo professor de finanças de Yale, Roger Ibbotson, teve como
objetivo entender se o que trazia maiores resultados para uma carteira de investimentos
era a habilidade do gestor da carteira de comprar e vender os títulos na hora certa, ou
a forma como ele alocava os ativos da carteira.

Foram realizados acompanhamentos de mais de 150 fundos de investimento em


um período de 10 anos, o estudo concluiu que mais de 90% do retorno de uma carteira
de investimentos em longo prazo pode ser atribuída a alocação dos seus ativos e apenas
os 10% restantes à habilidade do gestor de comprar na baixa e vender na alta. Podemos
concluir que parece ser muito mais útil para investir, de forma segura e sólida,

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aprendermos formas de diversificar nossa carteira de investimentos de maneira
adequada e deixá-la em piloto automático, fazendo pequenas alterações ao longo do
tempo, para termos 90% de retorno, do que estudarmos formas e metodologias
complexas de comprar na baixa e vender na alta (especulação), resultando em altas
taxas de corretagem e grandes chances de perda no longo prazo para apenas 10% de
retorno relativo.

Como funciona a alocação de ativos?

O método de alocação de ativos consiste em dividir uma determinada carteira


de investimentos em percentuais, dependendo da estrutura financeira, perfil de risco e
objetivos de cada um. Mas, via de regra, normalmente o percentual maior tende a ser
alocado em renda fixa e investimentos mais seguros, e a parte menor em renda variável
e ativos de risco maior.

A lógica da alocação de ativos é que a parcela conservadora da carteira fica


responsável por proteger a maior parte do patrimônio, rentabilizando de forma razoável
e constante, no decorrer dos anos. A parte de renda variável e ativos de risco tem como
objetivo obter rentabilidades maiores em longo prazo, fazendo com que a média de
rentabilidade da carteira aumente como um todo.

Uma vantagem presente nesse método é que dificilmente vai ocorrer uma
situação no mercado na qual todos os ativos vão desvalorizar simultaneamente.
Situações que muitas vezes fazem o mercado de ações cair, valorizam a renda fixa e vice
versa, fazendo com que a carteira esteja sempre protegida de altas perdas através deste
fator de diversificação.

Esse método permite, também, até mesmo um investidor iniciante montar e


manter uma boa carteira de investimentos, mesmo com um conhecimento limitado
sobre finanças.

Balanceamento da carteira e piloto automático

Uma grande vantagem deste método, é que, a partir do momento no qual


definimos a estratégia percentual a ser utilizada na carteira, torna-se extremamente

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fácil acompanhar e fazer as manutenções. Vamos usar um exemplo para entendermos
melhor.

Uma pessoa conservadora pode montar uma carteira de baixo risco seguindo os
seguintes percentuais: 60% investimentos conservadores (renda fixa), 30%
investimentos de risco moderado (Fundos multimercado, fundos imobiliários, entre
outros) e 10% em investimentos de risco mais expressivo (ações e ativos especulativos).
Após comprar os produtos de cada seção, ela decide fazer uma estratégia de aportes
mensais. No final do primeiro mês, quando ela recebe o salário, percebe que, com as
variações de mercado, as proporções dos percentuais mudaram. No dado mês, as ações
valorizaram muito e os percentuais ficaram da seguinte forma: 50% conservador, 20%
moderado e 30% arriscado.

Nessa situação, ele vai tentar buscar novamente o equilíbrio dos percentuais
iniciais, o que pode ser feito tanto colocando dinheiro "novo" do aporte mensal nas
partes que desvalorizaram (conservadoras e moderadas), ou até mesmo vendendo um
pouco do que valorizou muito (caso apenas o aporte mensal não seja suficiente para
corrigir os percentuais). Como as variações vão ocorrer com frequência, não há
necessidade de sermos tão rígidos a ponto de deixar sempre exatamente da forma
inicial, podemos definir uma margem de erro de 5% a 10%, para mais ou para menos, e
só fazermos o balanceamento quando a alteração ultrapassar esse valor.

Um benefício escondido desse método dos percentuais, é comprar na baixa e


vender na alta de forma natural e não especulativa, pois, na prática, vamos vender o
que valorizou e comprar mais do que desvalorizou. Isso é o que a maioria dos
investidores busca sem sucesso. Além disso, como só iremos rebalancear a carteira se
os percentuais distorcerem muito, a partir do momento que definimos a estratégia
inicial e começamos os aportes, não há necessidade de ficarmos dedicando muito tempo
aos investimentos, estudando horas a fio e olhando a carteira o tempo todo. Assim, a
atividade de investir se torna muito mais simples e prazerosa, deixando nosso tempo
mais disponível para que possamos nos dedicar cada vez mais às nossas carreiras, para
crescermos profissionalmente e termos mais dinheiro para aportar em um ciclo virtuoso
de desenvolvimento profissional e acúmulo de riqueza.

Essa foi apenas uma breve abordagem do método da alocação de ativos. Quem
quiser se aprofundar um pouco mais pode ler o excelente livro "Alocação de ativos",
uma leitura muito agradável e rápida, de Henrique Carvalho, dedicado inteiramente ao
assunto.

O quanto devo me aprofundar em finanças?

Com todas as crises e instabilidades de governos e das garantias que antes eram
tidas como certas (INSS, CLT.), as pessoas têm se preocupado em entender questões
relativas às finanças, ficar no controle de seus investimentos e ativos sem delegar isso a
terceiros. Porém, com isso surge um problema: o mercado financeiro é extremamente
complexo e possui assunto suficiente para uma vida inteira de estudo dedicado, então
até que ponto vale a pena nos aperfeiçoarmos neste mercado?

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Eu diria que um ponto de partida inicial seria dividir as pessoas em dois perfis, as
que gostam de finanças e as que não gostam.

Para as que não gostam, a má notícia é que o conhecimento de finanças básicas


está se tornando praticamente obrigatório a todos os que não querem passar
dificuldades financeiras no decorrer da vida, ou se arrependerem amargamente na
aposentadoria.

A boa notícia é que deveriam estudar apenas o suficiente para entender o básico
de planejamento financeiro, de como uma carteira de investimentos deveria ser
montada, entendendo ao menos o que são cada um dos ativos mais populares de renda
fixa e variável e o que elas deveriam esperar das características e retornos de cada um
deles. Com base nesses conhecimentos, terão discernimento para montar uma carteira
básica de renda fixa e variável por conta própria, ou para não serem enganadas por
consultores financeiros de índole duvidosa, em busca apenas de comissões maiores,
indicando produtos inadequados ao perfil ou necessidades do investidor. É possível
chegar nesse nível com apenas alguns meses de estudo. O objetivo desse livro, portanto,
é colocar os leitores no caminho certo.

Já as pessoas que gostam de finanças podem se capacitar cada vez mais, porém
é sugerido que façam isso com calma, sem dedicar necessariamente muito tempo e
recursos de uma só vez, já que o assunto vai ficando cada vez mais complexo, sendo
importante consolidarmos bem o conhecimento.

A importância do aporte consistente

Muitos economistas concordam que o que realmente faz as pessoas ricas na


maioria dos casos não é seu amplo conhecimento de finanças e mercado financeiro, mas
a capacidade de poupar constantemente e seu crescimento profissional em sua área de
atuação. Por isso, o maior investimento de tempo e recursos deve ser feito
principalmente em nos aprimorarmos enquanto profissionais de nossas áreas, para que
possamos aumentar a nossa renda e capacidade de poupança, gerando montantes cada
vez maiores que, quando bem aplicados, vão nos garantir a independência financeira no
futuro.

Por exemplo, uma pessoa que estudou muito sobre finanças a ponto de
conseguir durante vinte anos seguidos uma rentabilidade anual de 12%, mas conseguia
guardar por mês apenas R$500,00, terminou com o montante de R$432.314,65. Já uma
pessoa que apenas estudou o suficiente para entender o básico de finanças e aplicou no
mesmo período de vinte anos apenas em renda fixa, com uma rentabilidade anual de
6% (metade da do outro investidor), mas que se dedicou à carreira e conseguiu
aumentar sua renda, de modo a conseguir aportar um valor de R$1.500,00 por mês,
obteve um resultado de R$662.140,64.

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Nada impediria também que a segunda pessoa continuasse estudando finanças
com calma, e no decorrer dos anos fosse aplicando o montante de forma cada vez
melhor, resultando em um valor ainda mais expressivo.

Meu objetivo com isso é chamar atenção para um ponto principal. Muitas
pessoas que começam a estudar finanças acabam se empolgando com o tema, na ilusão
de que, se estudarem muito mais, ficarão ricas da noite para o dia apenas no mercado
financeiro, deixando de dar a devida atenção às suas atividades remuneradas principais.
É importante compreendermos que o conhecimento de finanças, quando bem aplicado,
na realidade, nos ajuda a multiplicar o patrimônio ganhado em nossa atividade principal.

Minha sugestão é que o investidor iniciante apenas se capacite a fim de obter


competência na escolha de bons investimentos para cada objetivo e siga focando em
sua área de atuação principal. Qualquer conhecimento além desse deveria ser encarado
como um extra a ser adquirido com calma, no passar dos anos.

Além de nos capacitarmos e definirmos estratégias para manter uma carteira de


investimentos saudável, também precisamos aprender a escolher bons profissionais
para nos acompanhar. Vamos aprender a fazer isso no próximo capítulo.

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Capítulo XI - Escolha bem seus consultores e assessores

Qual a diferença entre assessores e consultores?

É muito importante aos iniciantes no mundo dos investimentos o


acompanhamento de mentores ou pessoas de confiança para auxiliá-los tirando dúvidas
e direcionando-os a evitarem muitos erros.

Existem muitos profissionais no mercado dedicados a tais funções, porém cada


um deles tem uma área de atuação específica. Na área de recomendação e auxílio de
plano de investimentos, existem dois tipos principais de profissional, o consultor e o
assessor financeiro. Vamos entender as diferenças entre os dois.

Assessores financeiros

Os assessores, conhecidos no Brasil como Agentes Autônomos de Investimentos,


são profissionais que obtêm uma certificação financeira (ANCORD) e se associam às
instituições financeiras específicas para trabalhar com seus produtos. São remunerados
através de comissões pagas pelas instituições as quais emitem os produtos vendidos por
eles. Ou seja, o investidor que usufrui dos seus serviços não vai pagar nada diretamente
ao assessor, ele vai apenas investir o seu dinheiro nos produtos indicados, que por sua
vez, já foram precificados de modo a conter o percentual que vai servir de
comissionamento aos assessores.

O papel de um assessor de investimentos é apresentar aos investidores o


portfólio de produtos das instituições as quais ele está vinculado, demonstrando os
produtos indicados para cada perfil. Dentre suas atribuições está explicar como os
produtos funcionam, auxiliar os investidores com a parte prática e acompanhar as
carteiras sob gestão.

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Vantagens e desvantagens dos Assessores financeiros

A grande vantagem é não ter que desembolsar valores adicionais para ter o
serviço do assessor, o que pode ser uma grande economia. Além disso, os assessores
podem estar vinculados a várias instituições, fazendo com que possuam uma ampla
gama de bons produtos a oferecer aos investidores.

Como desvantagens, podemos citar a probabilidade de conflito de interesses


relacionado às comissões, pois, como os assessores são remunerados por elas, alguns
profissionais podem sugerir produtos aos investidores os quais não necessariamente
seriam as melhores opções para seus objetivos, visando apenas as suas altas comissões.
Por conta disso, precisamos ter o discernimento para reconhecermos se o profissional
se importa realmente conosco, ou apenas com seu próprio bolso.

Outra desvantagem está relacionada à qualidade do serviço. Como os assessores


recebem comissões por produtos vendidos e não pela qualidade do serviço, eles tendem
a prestar uma consultoria muito rasa e um acompanhamento mais superficial. Isso se
dá, porque grande parte do seu tempo vai ser gasto prospectando novos clientes para
angariar mais vendas.

Aos que procuram um auxílio mais aprofundado e um atendimento mais


disponível e qualificado, talvez não encontrem nos assessores a melhor opção.

Consultores financeiros

Os consultores financeiros são profissionais que trabalham em um nível mais


aprofundado em relação aos assessores, pois seu papel principal é realmente dar
atenção aos seus clientes, fazer uma análise detalhada de suas finanças e objetivos,
para, então, montar um plano de investimentos personalizado para atingi-los. Eles são
remunerados diretamente pelos seus clientes, pelo serviço prestado, sendo impedidos
por lei de receber comissão dos produtos vendidos. Há diversas formas de serem
remunerados e de prestarem os serviços, variando de consultor para consultor.

O papel de um consultor é entender o panorama financeiro completo de seus


clientes, educá-los em relação a finanças e influenciá-los a ter bons hábitos financeiros.
Podem auxiliar seus clientes a guardar dinheiro, sair de situação de endividamento e
traçar planejamentos completos, como aposentadoria, liberdade financeira e realização
de grandes projetos financeiros. Normalmente fazem um acompanhamento periódico
muito mais aprofundado e chegam até a atuar como uma espécie de coach financeiro
de seus clientes.

Também podem agregar serviços como elaboração de relatórios, cursos e outros


materiais que ofereçam um diferencial aos seus clientes.

79
Vantagens e desvantagens

A principal vantagem de contratar um consultor é o serviço bem mais


personalizado e qualificado, visto que o profissional irá montar um plano sob medida
para cada pessoa. Além disso, por não receberem comissões, podemos ficar mais
tranquilos de que serão imparciais na escolha dos produtos, pensando no que é melhor
para os investidores.

As maiores desvantagens estão relacionadas aos custos, já que iremos pagar um


valor à parte pelos seus serviços, e, dependendo do profissional que contratamos,
podem ser valores altos, podendo existir mensalidades recorrentes. Porém, como
sabemos que investir em bons produtos no longo prazo pode fazer uma diferença
imensa em nossos retornos, uma boa consultoria com certeza vai cobrir seus próprios
custos e garantir que possamos atingir nossos objetivos financeiros.

Qual profissional é recomendado para mim?

Levando em consideração o que foi dito sobre ambos profissionais, seria razoável
sugerir às pessoas que possuem patrimônios menores, ou pouco valor para investir, o
trabalho dos assessores. Àquelas que já possuem grandes capitais e patrimônio
substancial podem ter grandes retornos investindo no trabalho de bons consultores.

Quando escolhemos um profissional de confiança, ele pode se tornar um grande


aliado para nos auxiliar em várias situações, dentre elas ser uma fonte de conhecimento
e de conselhos para tirarmos dúvidas sempre que nos oferecerem novos produtos
financeiros, ou quando estivermos pensando e fazer algo diferente em relação às nossas
finanças.

Após entendermos melhor a respeito dos produtos e dos profissionais do


mercado financeiro, vamos entender mais, na prática, como escolher produtos de
acordo com nossos objetivos.

80
Capítulo XII - Escolhendo produtos para seus objetivos

Rentabilidade é tudo?

Muitas pessoas acreditam que escolher bons investimentos é apenas uma


questão de escolher aquele que "rende mais", mas isso está muito distante da
realidade.

A rentabilidade é um fator importante, porém, ela é apenas uma das


características que devemos levar em consideração e, muitas vezes não é a prioridade
na hora da escolha.

O objetivo deve guiar o investimento

Quando entramos na parte prática, muita gente não tem ideia de por onde
começar, então, vou descrever abaixo o processo inteiro, partindo desde a definição do
objetivo até a escolha propriamente dita dos investimentos para ele.

Como comentei no início deste livro, antes de fazer qualquer investimento,


devemos saber qual o objetivo, ou seja, por qual motivo estamos investindo. Vou
relembrar este ponto, pois ele é o primeiro passo na hora de escolhermos nossos
investimentos.

Quando nos perguntarmos o motivo pelo qual estamos investindo, várias


respostas podem começar a surgir: quero me aposentar daqui a trinta anos, quero pagar
meu casamento daqui a dois anos, decidi montar uma reserva de emergência, ou até
mesmo vou morar fora do Brasil em cinco anos.

No momento em que definimos este objetivo, a triagem já começa a ser feita,


pois se o objetivo é a reserva de emergência, por exemplo, liquidez e estabilidade são
fundamentais. Logo, investimentos arriscados e voláteis, como ações, seriam riscados
de imediato das possíveis opções, já que se em algum dia precisarmos do dinheiro para
a emergência, não podemos correr o risco de o mercado estar em baixa e conseguirmos
sacar apenas metade do que aplicamos.

81
Ainda nesse mesmo exemplo, uma LCI que só pode ser resgatada em dois anos
também não seria ideal, visto que a emergência pode acontecer a qualquer momento e
precisaríamos do dinheiro imediatamente. Entretanto, se o objetivo fosse casar-se daqui
a dois anos, talvez a LCI já seria interessante, pois poderia nos dar uma rentabilidade
diferenciada e não iríamos utilizar o dinheiro antes do prazo.

Escolher dentre as opções viáveis

Vocês percebem como chega a ser simples e intuitivo? Só de definirmos com


clareza nosso objetivo e conhecermos as características básicas de cada produto, já
reduzimos a lista de opções de investimentos viáveis. Após esse primeiro passo dado,
podemos usar fatores como rentabilidade ou risco para escolhermos qual é o mais
adequado ao nosso perfil.

Podemos ter vários objetivos em paralelo

É muito normal em cada momento de nossa vida termos vários objetivos, tanto
os de longo prazo, como a aposentadoria, quanto os de curto prazo, como trocar de
carro no final do ano. Para cada um deles vamos definir o montante que vamos aplicar
periodicamente, os produtos viáveis, de acordo com as características de cada um, e
acompanharemos constantemente para verificar se precisamos fazer alguma alteração
de percurso.

Exemplos de objetivos e produtos viáveis

Vou listar abaixo alguns objetivos muito comuns e possíveis produtos viáveis de
acordo com as características de cada um (lembrando que não são indicações diretas de
compra, apenas demonstração de produtos, que por suas características técnicas,
podem ser boas opções iniciais de estudo para cada um dos objetivos).

1 - Reserva de emergência: Este deveria ser o primeiro objetivo de qualquer


pessoa, antes de qualquer outra coisa, pois é a proteção que vai evitar a utilização dos
valores alocados em outros objetivos futuros para imprevistos que ocorram no meio do
caminho. Esta reserva também será a segurança que vai nos permitir tomar várias
decisões mais ousadas em nossa vida que podem trazer grandes retornos financeiros.
Como é um dinheiro que precisa estar disponível de forma imediata, em seu valor total,
no caso de alguma emergência, os produtos a serem utilizados precisam de segurança,
estabilidade e liquidez.

Opções de produtos viáveis: baseado no que foi dito acima, boas opções podem
ser o tesouro SELIC, CDBs com liquidez diária, contas correntes remuneradas ou fundos
DI com baixa taxa de administração, visto que todos são produtos muito seguros, com
rentabilidade relativamente boa e altamente disponíveis para resgate.

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2 - Casamento: Este é um objetivo que muitas pessoas vão ter em algum
momento da vida. Para ele é necessário utilizar produtos seguros e líquidos, porém, se
a data do casamento estiver mais distante, com prazo para mais de dois anos, por
exemplo, podemos diversificar com alguns outros produtos.

Opções de produtos viáveis: Os mesmos produtos da reserva de emergência


também podem ser ideais neste caso, mas se o casamento for ocorrer em mais de dois
anos, também podemos utilizar produtos que "travam" o dinheiro, em troca de uma
rentabilidade maior, como LCIs, LCAs e alguns CDBs para termos retornos um pouco
maiores. Lembrando de sempre utilizarmos o prazo do investimento para tentarmos
resgatar os montantes com alíquotas de IR menor, visto que a maioria dos produtos de
renda fixa atinge as menores alíquotas a partir de dois anos de investimento.

Neste caso, devemos apenas mapear quanto do dinheiro vai precisar ser
utilizado para ir pagando as despesas antes do dia da festa (esses valores serão aplicados
nos produtos mais líquidos) e usar os produtos menos líquidos apenas para aqueles
gastos que serão pagos mais próximos do dia do casamento.

Outro caso seria o de estarmos guardando dinheiro para a lua de mel em


paralelo. Aqui, podemos guardar uma parte do dinheiro comprando a moeda local do
país o qual iremos ou investindo em fundos cambiais atrelados a ela, para não sermos
surpreendidos com uma alta da moeda em relação ao Real às vésperas da viagem,
resultando na perda do nosso poder de compra.

3 - Objetivos em geral em menos de dois anos: Podemos agrupar em uma


mesma categoria praticamente todos os objetivos em que pretendemos guardar
dinheiro para prazos inferiores a dois anos, como a troca de um carro ou uma reforma
em casa.

Os mesmos investimentos utilizados para a reserva de emergência também


podem ser boas opções aqui, já que em apenas dois anos o poder dos juros compostos
sobre a rentabilidade ainda é muito fraco para fazer alguma diferença significativa no
montante final. Por isso, o foco é maior em produtos seguros, líquidos e constantes com
rentabilidades que, pelo menos, protejam o montante da inflação e consigam um
retorno razoável em relação ao CDI.

Opções de produtos viáveis: Como dito acima, boas opções podem ser o tesouro
Selic, CDBs com liquidez diária, contas correntes remuneradas e fundos DI com baixa
taxa de administração.

4 – Viagens e/ou moradia no exterior: Para estes objetivos, antes de pensar


em rentabilidade, talvez seja mais sensato pensar em proteção contra a desvalorização
da nossa moeda em relação a moeda do país que iremos e investir em produtos os quais
possam prover essa proteção.

Opções de produtos viáveis: Boas opções podem ser compras periódicas da


moeda local do país ao qual iremos e/ou fundos cambiais atrelados a à moeda local.

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5 - Independência financeira e/ou aposentadoria: Aqui, a questão é mais
complexa. Como é um objetivo a longo prazo (na maioria dos casos) que pode levar até
décadas para ser alcançado, ficamos livres para utilizar os mais variados tipos de
produtos, tanto de renda fixa, quando de renda variável, variando as proporções de cada
carteira de acordo com o perfil de risco de cada pessoa.
O primeiro passo é sempre definir o valor objetivo, ou seja, qual montante
precisaríamos para nos aposentar ou conseguir nossa independência financeira.

Com este valor calculado, o próximo passo é entendermos nosso perfil de risco.
Algumas pessoas possuem grande frieza em relação a investimentos e conseguem ver
grandes oscilações negativas no valor do patrimônio, mantendo a cabeça no lugar, pois
entendem que este é um comportamento natural do mercado. Já outras pessoas não
conseguem suportar a experiência de acessar mensalmente os ativos da carteira e ver
quedas constantes de cotações, que podem durar meses seguidos até chegar a época
de altas.

Como o acúmulo de patrimônio deve ser uma atividade prazerosa, até mesmo
para nos incentivar cada vez mais a poupar, é importante conhecermos a nós mesmos,
para que pessoas mais tolerantes a risco possam investir partes maiores da carteira em
ativos mais arrojados, que podem trazer mais retorno, e pessoas mais conservadoras
possam ter a maior parcela de sua carteira em ativos conservadores, que só aumentam
constantemente com rentabilidade e volatilidade mais controladas.

Opções de produtos viáveis: Aqui o leque é imenso, pois podemos usar


praticamente todos os produtos de renda fixa e renda variável, fazendo uma
composição com produtos como títulos do tesouro, CDBs, debêntures, LCIs e LCAs, por
exemplo, na parte de renda fixa e fundos imobiliários, fundos de investimentos e ações
na parte de renda variável. O critério de decisão basicamente vai ser o conhecimento e
o perfil de risco do investidor. Sempre reforço que devemos investir naquilo que
conhecemos e onde nos sentimos confortáveis, até mesmo porque para investimentos
de aposentadoria, estamos falando de décadas de aplicação e disciplina. Se fugirmos
dessa regra, podemos acabar desistindo ou tendo grandes perdas no longo prazo.

Pessoas mais conservadoras irão se beneficiar de um percentual maior de sua


carteira em renda fixa e pessoas mais arrojadas podem aumentar o percentual em renda
variável de acordo com seus conhecimentos.

Como analisar novos produtos e ativos financeiros

"Mais importante do que dar o peixe é ensinar a pescar"

Como o mercado financeiro é muito dinâmico e constantemente novos produtos


são lançados, a habilidade mais importante que podemos ter é a de aprendermos quais
são as características de cada investimento que realmente importam. Desse modo, não
importa qual produto novo seja lançado, sempre seremos capazes de analisá-lo para

84
que vejamos em que tipo de objetivo ele pode se encaixar, ou decidir se é um
investimento viável para o nosso planejamento.

Então seguem abaixo algumas das características mais importantes para nossa
análise:

1 - O que será feito com o nosso dinheiro?

Toda vez que investimos em algum produto, estamos cedendo nosso dinheiro
para que alguém faça algo com ele ou adquirindo algum tipo de ativo. Muitas pessoas
investem sem nem saber o que vai ser feito com o dinheiro e isso pode levar a erros
grosseiros, os quais poderiam ser facilmente evitados.

Vamos imaginar uma situação hipotética de um novo produto financeiro que


está sendo lançado, com uma rentabilidade altíssima, mas com vencimento para daqui
a vinte anos. Ao analisar o produto, percebemos que ele é um título de empréstimo para
empresas que fabricam CDs e acreditam que no determinado período irão conseguir se
restabelecer e fazer os CDs voltarem a ativa. Neste caso, não precisaríamos nem analisar
as outras características para sabermos que se trata de um produto de alto risco, já que
a chance de sucesso é mínima. Aos que compartilhassem dessa crença sobre o
ressurgimento dos CDs, poderiam até analisar mais a fundo o produto, porém, já tendo
em mente que se trata de um produto especulativo, e como tal, deve ser adquirido
apenas com aquela pequena parcela dos nossos investimentos destinadas a produtos
de risco mais alto, mas com grande potencial de retorno (nosso capital alocado a risco).

Então, sempre saiba o que será feito com seu dinheiro ao investir, pois esta já é
uma triagem inicial muito útil para entendermos melhor o produto em questão.

Exemplos de perguntas a serem feitas para identificarmos essa característica:

- O que vai ser feito com meu dinheiro se eu investir neste produto?
- Como a empresa emissora do título irá operar para me entregar esta
rentabilidade?
- Por que este produto está entregando uma rentabilidade tão acima da média?

2 - Renda fixa ou renda variável?

É importante também entendermos se há ou não regras para a rentabilidade do


produto em questão, para que possamos saber se estamos lidando com um produto de
renda fixa ou renda variável, assim, alocando-o em nossa carteira de forma correta.

Exemplos de perguntas a serem feitas para identificarmos esta característica:

- Este produto é de renda fixa ou variável?


- Como funciona a rentabilidade deste produto?
- Existe alguma regra para a rentabilidade deste produto ou ela varia de acordo
com o mercado?

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3 - Vencimento

Outra coisa importantíssima é sabermos qual o vencimento do produto para que


possamos alocá-lo de acordo com os prazos dos nossos objetivos. O vencimento
normalmente é mais presente em produtos de renda fixa.

Caso seja um produto de renda variável, onde estamos adquirindo um ativo ou


uma cota de fundo, provavelmente não haverá uma data de vencimento.

Exemplos de perguntas a serem feitas para identificarmos esta característica:

- Qual o vencimento do produto?

4 - Liquidez

Sempre devemos saber de quais formas e em quais prazos nosso dinheiro estará
disponível, se precisarmos dele.

Exemplos de perguntas a serem feitas para identificarmos esta característica:

- Posso resgatar meu dinheiro a qualquer momento ou só no vencimento?


- Existe alguma penalidade se resgatar antes do vencimento?
- Eu consigo resgatar a qualquer momento 100% do valor ou apenas algum
percentual?
- É possível regatar apenas parte do dinheiro ou apenas tudo de uma vez? Qual
o valor mínimo dessa parte?
- Qual o prazo para o meu dinheiro estar de volta na conta, quando eu solicitar o
resgate?

5 - Taxas e Imposto de Renda

Devemos sempre saber todas as taxas que serão aplicadas sobre a nossa
rentabilidade e também como funciona o imposto de renda para o produto em questão
(ou se é isento de IR), desse modo, podemos fazer os cálculos de rentabilidade da forma
correta.

Exemplos de perguntas a serem feitas para identificarmos esta característica:

- Quais são as taxas aplicadas nesses produtos e quais os percentuais?


(carregamento, custodia, administração, performance…)
- Como funciona o imposto de renda nesse produto?
- A alíquota de imposto de renda para este produto é progressiva, regressiva ou
fixa?
- Qual a alíquota de imposto de renda aplicada no produto?
- O imposto de renda é aplicado apenas sobre a rentabilidade ou sobre o
montante total?

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6 - Rentabilidade

Devemos perguntar qual a rentabilidade do produto em questão para podermos


comparar depois com outras opções da mesma categoria. No caso da renda variável,
conseguiremos apenas analisar o histórico de rentabilidade e possíveis projeções
futuras, mas sem termos nenhuma garantia de que essas projeções serão concretizadas.

Exemplos de perguntas a serem feitas para identificarmos esta característica:

- Qual a rentabilidade do produto?


- É possível ter rentabilidade negativa (prejuízo) com o produto? Em quais
cenários?
- A rentabilidade é prefixada ou pós fixada?
- Esta rentabilidade é garantida ou é apenas uma estimativa?
- Esta rentabilidade oferecida pelo produto é diária, apenas no vencimento ou
em algum período específico?
- Qual a média de rentabilidade do ativo no último(s) ano(s)? (para ativos de
renda variável).
- Existe alguma estimativa projetada de rentabilidade futura do produto? E estas
projeções são baseadas em quais fatores? (para produtos de renda variável).

7 - Valor do aporte mínimo

Cada produto possui um valor de aporte mínimo e muitas vezes isso pode acabar
sendo um fator de triagem. Devemos saber se este valor não estiver de acordo com
nosso planejamento ou com o percentual que o produto em questão deveria ocupar em
nossa carteira.

Exemplos de perguntas a serem feitas para identificarmos esta característica:

- Qual o valor de aporte mínimo inicial para o produto? E de aportes mensais?

8 - Volatilidade

Essa característica, embora seja muito comum e normal para investimentos


(principalmente de renda variável), é o pesadelo de muitos investidores iniciantes.
Alguns tipos de investimento vão apresentar oscilações positivas e negativas conforme
o tempo passa, de acordo com o mercado. Investidores iniciantes podem se desesperar
ao checar seus investimentos e perceberem que naquele período a rentabilidade está
negativa, causando a tomada de decisões de maneira apressada e prejudicial,
influenciadas pelo medo.

Por isso, é extremamente importante sabermos se o investimento em questão


vai apresentar volatilidade no decorrer do tempo, para nos prepararmos
adequadamente. Ajuda também os investidores muito conservadores, que não
aguentam nenhum tipo de oscilação, a nem começarem a aplicar no produto.

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Exemplos de perguntas a serem feitas para identificarmos esta característica:

- Este produto apresenta algum tipo de volatilidade?


- Qual foi a volatilidade máxima e mínima que este produto já apresentou?
- Você consegue me mostrar algum gráfico da rentabilidade nos últimos anos
para eu analisar visualmente a volatilidade?
- Que tipo de percentuais negativos posso esperar neste produto em cenários
muito desfavoráveis?

9 - Riscos

Esta parte é um pouco subjetiva, pois muitas vezes os riscos não são
apresentados diretamente por quem está oferecendo o produto e cabe a nós, depois de
fazermos uma análise mais aprofundada, tentar entender a quais riscos estamos
expostos. Ainda assim é possível obter algumas informações as quais podem auxiliar
nossa análise.

Exemplos de perguntas a serem feitas para identificarmos esta característica:

- Este produto é protegido pelo FGC ou alguma outra instituição?


- Existe algum tipo de garantia para o investidor, caso o emissor do investimento
venha a falir ou calotear o pagamento?
- Quais você considera os principais riscos associados a este produto para o
investidor?
- Este produto é considerado conservador, moderado ou agressivo em termos de
risco?
- A instituição que emitiu o produto é sólida? Onde posso encontrar mais
informações sobre ela?
- Qual o pior cenário que pode acontecer com meu dinheiro neste produto?
- Existe risco de perder dinheiro neste produto?
- Existe risco de perder dinheiro acima do aplicado neste produto? (pode
acontecer com operações alavancadas)

Quando entendemos como cada investimento funciona e também suas


características, começa a ficar cada vez mais fácil identificarmos quais são as opções
ideais para cada um de nossos objetivos. Com isso, montamos carteiras diversificadas
para cada um deles, minimizando muito as chances de erros no processo.

Agora vamos consolidar todo o conhecimento demonstrando como seria um


exemplo de estrutura financeira saudável.

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Capítulo XIII - O que seria uma boa estrutura financeira

O que buscar em um bom planejamento (e em qual ordem de prioridade)

Após estudar e entender um pouco mais a respeito de investimentos muitas


vezes ficamos sem saber por onde começar. Para facilitar, citarei três objetivos que
normalmente deveriam ser nossos primeiros passos.

O primeiro deles é a reserva de emergência. Já falei sobre isso neste livro, mas
repito, para que entendamos da melhor maneira possível que ela deve ter prioridade
sobre os outros projetos, uma vez que ao montarmos estratégias de investimento para
outros objetivos, estamos partindo do pressuposto que não vamos precisar resgatar o
dinheiro por causa de imprevistos. Então, na prática, se você ainda não tem recursos
suficientes para montar sua reserva de emergência, os outros projetos deveriam esperar
um pouco até que ela esteja estruturada.

O segundo passo, que deve ser dado em paralelo ao primeiro é contratar nossas
proteções (seguros de vida e planos de saúde), já que a reserva de emergência vai servir
para gastos pontuais e dificuldades financeiras de tempo mais curto. Para situações de
saúde gravíssimas, como invalidez, doenças graves, ou até mesmo o óbito, os recursos
da reserva de emergência serão insuficientes, sendo justamente as proteções que
oferecerão os recursos adicionais, evitando uma falência ou endividamento.

O terceiro, seria definirmos nossos objetivos de aposentadoria, juntamente com


o planejamento de investimentos e aportes necessários para chegar lá. Quanto antes o
planejamento de aposentadoria for feito, menor o esforço e maiores as recompensas
ao se chegar lá. Eu sugiro a leitura do excelente livro “Adeus aposentadoria”, escrito por
Gustavo Cerbasi. Na minha opinião é um dos melhores a respeito do tema. O livro nos
faz refletir e abrir a cabeça em relação às expectativas atuais sobre a aposentadoria. Ele
foi um divisor de águas para mim.

Quando esses três objetivos iniciais estiverem estruturados, podemos migrar


para outros objetivos específicos (casamento, viagens, reformas…), com a segurança de
saber que estamos protegidos contra imprevistos e que a nossa aposentadoria está
sendo construída.

89
Lembrando que essa é apenas uma sugestão dada pela minha experiência ao
fazer consultoria com centenas de famílias nos últimos anos, que se adequaria à maioria
dos casos. Mas, é importante que você analise seu caso individual, pois dependendo da
estrutura que cada pessoa tem (heranças a receber, cargos públicos com aposentadoria
integral, altos capitais acumulados), as sugestões de objetivos iniciais podem ser
readequadas.

Resumo do passo a passo prático

Após definirmos quais objetivos serão nossas prioridades, tomando como base
o início deste capítulo, ao “meter a mão na massa”, praticamente qualquer objetivo
financeiro vai seguir, de forma geral e resumida, os passos a seguir:

1 - Definir o objetivo, os valores a serem acumulados e o prazo

Objetivos bem estruturados contém esses três pontos definidos. Por exemplo,
“Reformar a casa com R$80.000,00 em dois anos” ou “Casar com R$100.000,00 em 1
ano e meio”. Isso vai permitir que tenhamos clareza tanto em relação ao objetivo,
quanto em relação ao que precisaremos fazer para atingi-lo, além de facilitar a escolha
dos produtos que irão compor a carteira.

2 - Entender as peculiaridades do projeto

O dinheiro precisa estar disponível a qualquer momento? Vamos conseguir


aportar todo mês? Qual o valor do nosso aporte? Ao final do prazo do objetivo
precisamos de um valor exato ou pode haver alguma oscilação para mais ou para
menos?

Entender as peculiaridades já é uma ótima triagem em relação aos produtos os


quais iremos utilizar. Segue mais um exemplo rápido para fixar este conceito: se
precisamos de exatamente R$100.000,00 para reformar um apartamento, em dois anos,
muitos produtos de renda variável serão excluídos, pois podemos dar o azar de
exatamente quando formos precisar do dinheiro, o mercado estar em baixa e, ao invés
de termos R$100.000 nas aplicações, naquele período específico de baixa, teríamos
disponível apenas R$85.000,00.

Para a maioria dos objetivos de curto prazo (menos de três anos), a maioria dos
produtos de renda variável mais arrojados não tendem a ser aconselhados, justamente
pela sua imprevisibilidade e volatilidade. Eles, normalmente, são muito úteis para
objetivos de longo prazo, como aposentadoria, ou objetivo de aumento de patrimônio
constante, sem prazo definido, já que, mesmo com muita volatilidade, no longo prazo a
tendência é se valorizarem bastante.

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3 - Fazer a triagem inicial de produtos viáveis

Após definirmos o objetivo e quais as peculiaridades do projeto, faremos uma


triagem inicial de quais classes de produtos usar. Este é o momento de analisar com
cuidado as características de cada produto, como vencimento, risco, aporte mínimo e
liquidez, entre outras, para podermos escolher os produtos adequados para o objetivo
em questão.

4 - Escolher os produtos e começar a aportar

Nessa fase vamos efetivamente escolher quais produtos utilizar e qual será o
percentual de cada um dentro da carteira, selecionar as corretoras que aplicam as
menores taxas nos produtos e comparar as opções com melhor rentabilidade dentro da
mesma classe de ativo e nível de risco. Por exemplo, se dentre os produtos escolhidos
estão CDBs, iremos escolher dentre CDBs de bancos financeiramente saudáveis, cujo
aporte esteja adequado com a nossa realidade financeira e, em seguida, qual rende
mais. Iremos repetir isso para todos os produtos que escolhemos na triagem e pronto,
agora é só começar a aportar.

O processo de aporte na prática tende a ser feito da seguinte forma:


primeiramente abrimos uma conta na instituição que vamos utilizar como intermediária
(banco ou corretora) caso ainda não tenhamos, o que hoje é feito de forma bem simples
e rápida. Na área do cliente, os produtos costumam estar separados por categorias
(renda fixa, renda variável...) e subcategorias (CDBs, Tesouro nacional, Ações...). A partir
de então poderemos analisar cada produto, contando com suas descrições detalhadas
e até simuladores de rentabilidade. Após análise, basta selecionar a opção de compra
para os ativos de renda fixa e fundos de investimentos escolhidos ou acessar o home
broker para adquirir os ativos de renda variável. É importante ressaltar que alguns
ativos, principalmente os de renda variável, possuem períodos que podem levar até
alguns dias, para que a operação seja processada e eles apareçam ativos em nossas
carteiras para acompanhamento.

Se acontecer qualquer problema, normalmente as instituições possuem áreas de


suporte ao cliente bem estruturadas que conseguem auxiliar de forma bem eficiente os
investidores.

Não achei interessante disponibilizar um passo a passo com fotos porque cada
instituição possui interfaces diferentes e que são constantemente atualizadas, mas
todas seguem os passos que descrevi de forma geral acima. Além disso, existem
inúmeros vídeos em plataformas como o Youtube que conseguem demonstrar de forma
muito mais eficiente o processo de investimento pelas plataformas de bancos e
corretoras do que eu conseguiria fazer através deste livro.

5 - Acompanhamento e manutenção

Neste momento a carteira já está montada e resta apenas acompanharmos


mensalmente através das plataformas dos nossos bancos e corretoras enquanto

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fazemos os aportes, para verificar se tudo está indo nos conformes. Caso algo mude
significativamente, basta fazermos as alterações necessárias de acordo com a estratégia
traçada inicialmente.

Os objetivos seguem em paralelo

Nossa estrutura financeira, na maioria dos casos, vai possuir mais de um projeto,
realizados em paralelo e tendo uma carteira de ativos para cada um deles. Talvez
tenhamos, por exemplo, uma carteira bem diversificada de renda fixa e variável em
andamento para a aposentadoria, quando ao mesmo tempo, também possuiremos uma
carteira de produtos conservadores de renda fixa destinada a uma reforma no
apartamento daqui a dois anos, e também um valor em tesouro Selic e CDB de liquidez
diária para nossa reserva de emergência. Cabe a nós manter a organização de todos eles,
a fim de que os valores e produtos não se misturem.

Isso resume o conhecimento básico de planejamento financeiro, restando


apenas relembrarmos alguns pontos importantes no próximo capítulo.

92
Capítulo XIV - Pontos de atenção

Pontos de atenção a serem lembrados

Antes de concluir o livro gostaria apenas de resumir e reforçar alguns pontos de


atenção que julgo importantes:

Os objetivos guiam os investimentos

Nunca esqueçam isso. Na maioria dos casos não é a rentabilidade que vai ditar
qual investimento faremos, mas sim, quais as peculiaridades de nossos objetivos em
relação a risco, liquidez, vencimento e outros fatores. Após encontrarmos produtos que
atendam esses quesitos, podemos então escolher os mais rentáveis entre eles.

Assim sendo, da próxima vez que algum colega perguntar a você “Quanto está
rendendo a sua carteira?”, saiba que a probabilidade de ele ser um investidor iniciante
é muito grande. Um investidor mais experiente poderia perguntar primeiramente quais
são seus projetos atuais em relação aos investimentos e perfil de risco, para depois
tentar entender as peculiaridades da sua estratégia.

Reserva de emergência antes de tudo

Repito, tenha sua reserva de emergência estruturada antes de pensar em outros


objetivos. Ela é um fator extremamente importante, não apenas financeiramente, como
também psicologicamente. Qualquer pessoa vai viver muito mais ansiosa, com fatores
de estresse psicológico altos sabendo que se algum imprevisto ocorrer (demissão,
problemas com carro, gastos com saúde...), ela vai ter que se endividar ou prejudicar o
padrão de vida da família. A reserva de emergência é o melhor remédio para isso,
permitindo que sigamos com as nossas estratégias, sem medo das oscilações de curto
prazo.

93
Proteções são fundamentais

Juntamente com a reserva de emergência, precisamos estar sempre protegidos


com bons seguros de vida e planos de saúde, antes de começarmos a investir. Deste
modo, imprevistos de saúde ou acidentes não nos farão gastar todos os nossos
investimentos, deixando nossos filhos e/ou dependentes financeiros em situação de
miséria ou nos endividar de forma irreversível.

Sempre procure diversificar e minimizar o risco

Uma das melhores formas de minimizar risco é não colocar todos os ovos na
mesma cesta. Até o produto mais conservador de renda fixa possui um risco de perdas
(por menor que seja), que pode ocorrer por falência da instituição emissora, mudança
de leis, intervenção governamental, entre outros fatores. Cabe a nós minimizar os
impactos diversificando nosso risco em produtos diferentes.

Esteja atento à rentabilidade real de cada produto

Podemos ter surpresas muito desagradáveis, se investirmos em produtos sem


saber que taxas serão aplicadas e qual a alíquota de imposto de renda no vencimento,
então sempre devemos fazer bem as contas antes de aplicar.

Compare entre corretoras e instituições antes de aplicar

Há uma grande diferença entre taxas aplicadas e produtos oferecidos entre


instituições, visto isso, é sempre uma boa prática termos contas abertas em mais de uma
instituição, assim estaremos a par dos melhores produtos e taxas que o mercado tem a
oferecer em determinado período.

Sempre tenha fontes confiáveis e atualizadas de informação

Vale à pena investirmos em assinaturas ou acompanharmos programas e/ou


profissionais de finanças em sites, blogs e redes sociais para que possamos sempre
estar a par dos melhores produtos e taxas que o mercado tem a oferecer em
determinado período, além de notícias e acontecimentos relevantes do mercado
financeiro.

Sempre analise profundamente qualquer produto com retorno muito acima da


média em renda fixa

É ideal utilizarmos o CDI ou a Selic como uma referência, além da média de


rentabilidade da maioria dos produtos oferecidos. Qualquer produto de renda fixa que
ofereça um retorno muito acima da média pode conter algum risco escondido. Por
exemplo, se em um determinado momento, vários CDBs oferecerem uma média de
110% do CDI e surgir um que oferece 140% nas mesmas condições (prazo, liquidez e

94
afins), não devemos exclui-lo de imediato dos nossos planos, como se fosse uma
“roubada”, tampouco seremos levianos de investir nele sem fazermos uma análise mais
aprofundada da instituição emissora. Nesse caso também deveríamos perguntar para
algum consultor ou profissional do mercado financeiro, atuante na área, se conhece o
produto e se tem alguma ressalva em relação a ele.

Em renda variável, não é possível GARANTIR rentabilidades

A palavra “variável” não está no nome por acaso, se fosse possível garantir taxas,
seria renda fixa. Então, sempre desconfie muito de qualquer profissional ou instituição
que oferece produtos, fundos ou estratégias que GARANTAM retorno X ou taxa Y, em
renda variável. Nesta modalidade, é possível estimar, aumentar probabilidades ou
reduzir riscos, porém nunca garantir. A maioria das “grandes oportunidades” que
surgiram em renda variável nos últimos anos, com retorno “garantido em contrato
acima da média”, acabaram se provando esquemas de pirâmide ou fraudes que fizeram
os investidores perderem todo seu dinheiro. Esses esquemas sempre funcionam em
curto prazo, fazendo com que os investidores baixem a guarda e comecem a investir
cada vez mais, mas em longo prazo a conta chega.

Cuidado com a relação investimento x especulação

Provavelmente, na maioria dos casos, o ideal é nos mantermos com


comportamento de investidor, que busca tentar atingir objetivos, utilizando produtos
compatíveis, tentando aumentar a rentabilidade, mas mantendo o patrimônio com um
risco previamente analisado e controlado. O especulador faz apostas, e muitas vezes
com preços caros a pagar em caso de perda. Não tenho nada contra especular com
produtos de risco, operações de trade, derivativos e afins, mas quando você fizer isso,
tenha em mente que estará especulando, e não investindo. Utilize o seu capital de risco
previamente alocado para isso e nada mais. Por exemplo, se você definiu que quer
separar 5% do seu capital para ativos de alto risco, utilize apenas este valor, porque,
caso venha a perdê-lo, basta poupar novamente com seus aportes mensais o percentual
direcionado ao risco, até que possa arriscar novamente, sem envolver os seus outros
investimentos.

Estudar e se manter informado nunca é demais

Para finalizar, o mercado financeiro é muito dinâmico. Produtos que funcionam


em determinado contexto podem deixar de fazê-lo com mudanças de legislação ou até
mesmo com o lançamento de novos produtos. Para tanto, o estudo precisa ser nosso
aliado, além do acompanhamento de notícias do mercado financeiro, através de redes
sociais, assinaturas de serviços de confiança, entre outros, para que, caso ocorra alguma
grande mudança, possamos reajustar nossa estratégia e absorvê-la da melhor forma
possível.

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Capítulo XV – Isso é apenas o começo

Muito obrigado por ter concluído esta leitura! Espero que tenha conseguido
ajudar você a estar mais capacitado para desenvolver as suas próprias estratégias de
investimento, montar sua carteira e analisar o mercado financeiro a fim de potencializar
seus resultados no longo prazo.

Este livro teve como objetivo ser uma leitura rápida e eficiente, por isso, preferi
me aprofundar mais na parte estratégica e estrutural do que em produtos de forma mais
específica. Também deixo minhas sugestões para que vocês pesquisem mais a fundo
cada produto escolhido, a fim de que possam entender suas características, controlar
seus riscos e aproveitar todos os benefícios que eles possam oferecer.

Estou desenvolvendo materiais mais aprofundados de educação financeira, além


do meu curso online completo do Finanças em Desenho. Fiquem atentos aos perfis, por
lá eu informarei sobre a abertura das primeiras turmas!

Sigam os perfis:

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Reflexão

“Dinheiro é apenas uma ferramenta. Ele irá levá-lo onde quiser, mas não vai
substitui-lo como motorista” Ayn Rand

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Referências
ARCURI, N. Canal "Me Poupe" no Youtube. Youtube, 2020. Disponivel em:
<https://www.youtube.com/channel/UC8mDF5mWNGE-Kpfcvnn0bUg>.

BASTOS, M. B. E. D. Guia Suno fundos imobiliários. [S.l.]: Vivalendo, 2018.

BLOG da Rico. Site da Rico, Março 2020. Disponivel em: <https://blog.rico.com.vc/>.

CANAL do André Bona no Youtube. Youtube, 2020. Disponivel em:


<https://www.youtube.com/user/andrelvbona>.

CANAL do Bastter no Youtube. Youtube, 2020. Disponivel em:


<https://www.youtube.com/channel/UCsra3f6ogpXhIZbSUe2OoaA>.

CARVALHO, H. Alocação de Ativos. [S.l.]: [s.n.], 2012.

CERBASI, G. Adeus, aposentadoria. [S.l.]: Sextante, 2014.

CERBASI, G. Como organizar sua vida financeira. [S.l.]: Sextante, 2015.

CERBASI, G. Investimentos Inteligentes. [S.l.]: Sextante, 2019.

FARIA, F. Aprenda o Buy and Hold - O Guia Definitivo. [S.l.]: [s.n.], 2020.

GRAHAM, B. O investidor inteligente. [S.l.]: Casa dos livros, 2015.

IBBOTSON, R. G.; KAPLAN, P. D. Does asset allocation policy explain 40 percent, 90


percent, or 100 percent of performance?, 2000.

NIGRO, T. Canal "O Primo Rico" no Youtube. Youtube, 2020. Disponivel em:
<https://www.youtube.com/user/thigas>.

PERINI, B. Canal "Você mais rico" no Youtube. Youtube, 2020. Disponivel em:
<https://www.youtube.com/channel/UCCE-jo1GvBJqyj1b287h7jA>.

REIS, T.; TOSETTO, J. Guia Suno dividendos. [S.l.]: Vivalendo, 2017.

REIS, T.; TOSETTO, J. Guia Suno de contabilidade para investidores. [S.l.]: Vivalendo,
2018.

RENDA Fixa. Site da Rico, março 2020. Disponivel em: <https://www.rico.com.vc/renda-


fixa/>.

RENDA Fixa e Valores Mobiliários. Site da B3, Março 2020. Disponivel em:
<http://www.b3.com.br/pt_br/produtos-e-servicos/registro/renda-fixa-e-valores-
mobiliarios/>.
RENDA Variável. Site da B3, março 2020. Disponivel em:
<http://www.b3.com.br/pt_br/produtos-e-servicos/negociacao/renda-variavel/>.

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