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FACULDADE NOROESTE

CURSO: PEDAGOGIA

FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO

EMENTA: Fundamentos filosóficos da Educação: pensamento filosófico em seu


desenvolvimento diacrônico. Filosofia Antiga, Filosofia Medieval, filosofia Moderna e
Filosofia Contemporânea. Principais filósofos da Educação e suas abordagens teóricas.
Desenvolvimento de uma consciência crítica dos problemas educacionais. A racionalidade
historicamente determinada e a educação.

SELEÇÃO DE TEXTOS

PROF: Ms. SEBASTIÃO MARQUES GONÇALVES

GOIÂNIA
2017
FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO
CURSO DE PEDAGOGIA

SUMÁRIO

Introdução.................................................................................................................................04

O Que é Filosofia? ...................................................................................................................04

Características do Pensamento Filosófico.................................................................................07

Aplicações da Filosofia da Educação........................................................................................08

O Que você entende por Filosofia da Educação.......................................................................08

Educação como Transformação da Sociedade..........................................................................10

FilosofiaAntiga..........................................................................................................................11

Filosofia Medieval....................................................................................................................12

Filosofia Moderna.....................................................................................................................14

Características Gerais da Filosofia Moderna............................................................................15

Filosofia Contemporânea..........................................................................................................16

Principais Filósofos da Educação e suas Abordagens Teóricas................................................19

Educação Grega: Sócrates e os Sofistas....................................................................................20

Platão e a Educação...................................................................................................................21

Aristóteles e a Educação...........................................................................................................24

Filosofia da Educação de Santo Agostinho...............................................................................25

São Tomás de Aquino e a defesa da Educação para a Sabedoria.............................................27

Princípios Fundamentais da Educação em Rousseau...............................................................29

Descartes e a Educação.............................................................................................................33

Anísio Teixeira, o inventor da Escola Pública no Brasil..........................................................36

A Influência de Marx na Educação...........................................................................................38

Desenvolvimento de uma Consciência Crítica dos Problemas Educacionais...........................42

A Racionalidade e a Educação..................................................................................................49

Educação e emancipação Humana: uma Fundamentação Filosófica........................................51

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A Emancipação Enquanto Esclarecimento...............................................................................52

Educação para Emancipação.....................................................................................................54

Bibliografia Básica....................................................................................................................57

Bibliografia Complementar.......................................................................................................57

Plano de Ensino.........................................................................................................................59

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INTRODUÇÃO

Não há como educar fora do mundo. Nenhum educador, nenhuma instituição


educacional pode colocar-se à margem do mundo, encarapitando- se numa torre de marfim. A
educação, de qualquer modo que a entendamos, sofrerá necessariamente o impacto dos
problemas da realidade em que acontece, sob pena de não ser educação.

Em função dos problemas existentes na realidade é que surgem os problemas


educacionais, tanto mais complexos quanto mais incidem na educação todas as variáveis que
determinam uma situação. Deste modo, a “Filosofia na educação” transforma - se em
“Filosofia da Educação” enquanto reflexão rigorosa, radical e global ou de conjunto sobre os
problemas educacionais. De fato, os problemas educacionais envolvem sempre os problemas
da própria realidade. A Filosofia da Educação apenas não os considera em si mesmos, mas
enquanto imbricados no contexto educativo.

Penso que disto decorrem duas consequências muito simples, óbvias até! A primeira é
que todo educador deve filosofar. Melhor ainda, filosofa sempre, queira ou não, tenha ou não
consciência do fato. Só que nem sempre filosofa bem. A este respeito afirma Kneller (1972. p.
146): “se um professor ou líder educacional não tiver uma filosofia da educação, dificilmente
chegará a algum lugar. Um educador superficial pode ser bom ou mau. Se for bom, é menos
bom do que poderia ser e, se for mal, será pior do que precisava ser”.

Que problemas no campo da educação exigem de nós uma reflexão filosófica? Já que
a educação é o processo de tornar - se homem de cada homem, é necessário refletir sobre o
homem para que se possa saber o “para onde” se deve orientar a educação. É necessário,
porém, que esta reflexão não seja unicamente teórica, abstrata, desencarnada. É preciso levar
em conta a situação espaço - temporal em que ocorre o processo. Com efeito, não importa
apenas o “tornar - se homem”, mas o “tornar - se homem hoje no Brasil”. Só desta forma
podemos estabelecer com clareza o que, por exemplo, se tem convencionalmente chamado de
“marco referencial”, a partir do qual, numa instituição educativa, currículo, planejamento e
atividades podem atingir um mínimo de coerência e de eficiência.

O QUE É FILOSOFIA?

Filosofia é uma palavra grega que significa "amor à sabedoria" e consiste no estudo de


problemas fundamentais relacionados à existência, ao conhecimento, à verdade, aos valores
morais e estéticos, à mente e à linguagem.

Filósofo é um indivíduo que busca o conhecimento de si mesmo, sem uma visão


pragmática, é movido pela curiosidade e sobre os fundamentos da realidade. Além do
desenvolvimento da filosofia como uma disciplina, a filosofia é intrínseca à condição humana,
não é um conhecimento, mas uma atitude natural do homem em relação ao universo e seu
próprio ser.

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A filosofia foca questões da existência humana, mas diferentemente da religião, não é


baseada na revelação divina ou na fé e sim na razão. Desta forma, a filosofia pode ser definida
como a análise racional do significado da existência humana, individual e coletivamente, com
base na compreensão do ser. Apesar de algumas semelhanças com a ciência, muitas das
perguntas da filosofia não podem ser respondidas pelo empirismo experimental.

A filosofia pode ser dividida em vários ramos. A filosofia do ser, por exemplo, inclui a
metafísica, ontologia e cosmologia, entre outras disciplinas. A filosofia do conhecimento
inclui a lógica e a epistemologia, enquanto filosofia de trabalho está relacionado a questões
como a ética.

Diversos filósofos deixaram seu nome gravado na história mundial, com suas teorias
que são debatidas, aceitas e condenadas até os dias de hoje. Alguns desses filósofos são
Aristóteles, Pitágoras, Platão, Sócrates, Descartes, Locke, Kant, Freud, Habermas e muitos
outros. Cada um desses filósofos fez suas teorias baseadas nas diversas disciplinas da
filosofia, lógica, metafísica, ética, filosofia política, estética e outras.

De acordo com Platão, um filósofo tenta chegar ao conhecimento das Ideias, do


verdadeiro conhecimento caracterizado como episteme, que se opõe à doxa, que é baseado
somente na aparência. Segundo Aristóteles, o conhecimento pode ser divido em três
categorias, de acordo com a conduta do ser humano: conhecimento teórico (matemática,
metafísica, psicologia), conhecimento prático (política e ética) e
conhecimento poético (poética e economia).

A Filosofia surgiu na Grécia Antiga, por volta do século VI a.C. Naquela altura, a
Grécia era um centro cultural importante e recebia influências de várias partes do mundo.
Assim, o pensamento crítico começou a florescer e muitos indivíduos começaram a procurar
respostas fora da mitologia grega. Essa atitude de reflexão que busca o conhecimento
significou o nascimento da Filosofia.

A filosofia sempre foi uma interrogação das coisas essenciais da vida: quem somos,
para onde vamos, de onde viemos e qual o caminho e a chave da felicidade humana. Os
gregos, buscaram responder estas questões, a partir da vida vivida, sem recorrer aos mitos e
aos deuses. Não há por isso a filosofia, há filosofias. Os caminhos são muitos. Muitas são as
maneiras de configurar os dados da nossa experiência de vida e emprestar-lhes um sentido. Há
aquelas filosofias que inclusive negam tudo, com receio de pedir emprestado qualquer salva-
vidas; apostam no NADA, fazem do nada seu sentido - posição filosófica que se chama
niilista [nihil (ismo) do latim: nada]! Será uma escolha possível.

A filosofia é aquilo com a qual, ou sem a qual, o mundo continua tal e qual.

(Monteiro Lobato)

Marx, certa ocasião, ironicamente dizia que, a gente joga “a filosofia pela porta, e ela
entra pela janela”. Essa coisa pegajosa que se cola à alma e ao pensamento humano.

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Sempre que buscamos a verdade, conhecer, compreender, analisar, temos pelo menos
hipóteses filosóficas ou formas de interpretação acerca do nosso conhecimento do e por sobre
o mundo: estamos no campo da filosofia chamado teoria do conhecimento ou epistemologia,
que dirige nossos valores e ações.

Nos conduzimos pelas balisas feita por nós, em diálogo com nosso grupo, nossa etnia,
nossa civilização. Estamos no campo da ética, da moral, campo da axiologia (campo dos
valores) regulado pelas filosofias.

Ao realizar uma ação, uma prática concreta, um projeto político, processos


educacionais que criam pessoas, estamos no habitat da filosofia, o campo da axiologia (agir e
pensar o que se fez, para um novo agir).

Filosofar é chamar de fora; con-vocar é chamar de dentro. Provação e convocação,


para juntar-se à luta de todos os outros e outras. Não é que a filosofia seja por si mesma um
instrumento para a guerra. O contexto histórico que a circunscreve lhe dirá qual papel lhe
cabe representar para garantir a formação da pessoa, seu melhor entendimento de si, dos
outros e do mundo; e, qual poderá ser o sentido de suas escolhas e ação no agora. Estamos
numa batalha, não se ganhará a luta só. Neste contexto a filosofia é uma aliada à luta dos
educadores no contexto da violência, expropriação de direitos, formulação de políticas
públicas. Neste contexto, a filosofia é sim arma imprescindível para qualificar pessoas para a
luta em favor da mesma grande perseguição dos primeiros homens e mulheres que pensaram
filosoficamente o mundo: o projeto humano de construir a felicidade pessoal e coletiva de
todos e todas!

Filosofia se faz na vida. Pode, até, ser uma investigação, mas terá de ser sempre vida.
Dize-me como fazes, porque e para que, e eu te direi que filosofia te inspira. Quando
descobrimos algumas coisas novas, algum poeta (Freud) e, sobretudo, algum filósofo, já
andou por lá. É por isso que temos muito a aprender conversando com os outros, com outras
filosofias, sabendo ouvir e aprendendo sempre. Porque nada somos sós. Somos, em
comunhão, e através das lutas.

É a busca de reflexão intencionada, de um pensamento que se pensa a si próprio e se


confronta com todos os outros pensamentos, em busca de melhor compreender, de melhor
eleger valores, de posicionar-se num mundo complexo e conflitivo. É busca da transformação
desse próprio mundo, sabendo que a felicidade pessoal desejada inclui, necessariamente, a
felicidade de todos os demais. Filosofia será sempre luta, num contexto de hegemonia da
mesmidade, reprodução, acomodação, subserviência e dominação.

“Filosofar, assim, se impõe não como puro encanto mas, como espanto diante do
mundo, diante das coisas, da História que precisa ser compreendida ao ser vivida no jogo em
que, ao fazê-la, somos por ela feitos e refeitos”. (Paulo Freire, Pedagogia da Indignação,
2000, p. 46.)

Como se sabe, o objeto da filosofia não é predeterminado. Com efeito, seu objeto é o
próprio pensamento ou então a realidade em geral enquanto suscetível, ou melhor, enquanto
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necessita ser pensada seja em si mesma, na sua generalidade, seja nas suas manifestações
particulares. Dizer que o objeto da filosofia é o pensamento nos permite compreender porque
o assunto de que se ocupa a filosofia é de interesse de todos os homens já que todos os
homens pensam e, portanto, são, num certo sentido, filósofos. Consequentemente, o filósofo
propriamente dito é um especialista do pensamento, o que significa que ele "não só 'pensa'
com maior rigor lógico, com maior coerência, com maior espírito de sistema, do que os outros
homens, mas conhece toda a história do pensamento, isto é, sabe quais as razões do
desenvolvimento que o pensamento sofreu até ele e está em condições de retomar os
problemas a partir do ponto onde eles se encontram após terem sofrido a mais alta tentativa de
solução, etc." O mesmo não se pode dizer dos especialistas nos vários campos científicos,
uma vez que "é possível imaginar um entomólogo especialista

CARACTERÍSTICAS DO PENSAMENTO FILOSÓFICO

O trabalho do filósofo é refletir sobre a realidade, qualquer que seja ela, descobrindo
seus significados mais profundos. Porém, como se faz isso?

Em primeiro lugar, é preciso estabelecer o que é reflexão. Refletir é pensar, considerar


cuidadosamente o que já foi pensado. Como um espelho que reflete a nossa imagem, a
reflexão do filósofo também deixa ver, revela, mostra, traduz os valores envolvidos nas
coisas, nos acontecimentos e nas ações humanas.

Para chegar a isso, segundo o filósofo e educador Demerval Saviani, a reflexão


filosófica deve possuir as seguintes características:

 Radicalidade - ou seja, chegar até a raiz dos acontecimentos, isto é, aos seus fundamentos;
à sua origem, não só cronológica, mas no sentido de chegar aos valores originais que
possibilitaram o fato. A reflexão filosófica, portanto, é uma reflexão em profundidade.
 Rigor - isto é, seguir um método adequado ao objeto em estudo, com todo o rigor,
colocando em questão as respostas mais superficiais, comuns à sabedoria popular e a
algumas generalizações científicas apressadas.
 Contextualidade - como já se disse antes, a filosofia não considera os problemas
isoladamente, mas dentro de um conjunto de fatos, fatores e valores que estão relacionados
entre si. A reflexão filosófica contextualiza os problemas tanto verticalmente, dentro do
desenvolvimento histórico, quanto horizontalmente, relacionando-os a outros aspectos da
situação da época.

Assim, embora os sistemas filosóficos possam chegar a conclusões diversas,


dependendo das premissas de partida e da situação histórica dos próprios pensadores, o
processo do filosofar será sempre marcado por essas características, resultando em uma
reflexão rigorosa, radical e de conjunto.

Filosofia é um corpo de conhecimento, constituído a partir de um esforço que o ser


humano vem fazendo de compreender o seu mundo e dar-lhe um sentido, um significado
compreensivo. Corpo de conhecimentos, em Filosofia, significa um conjunto coerente e

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organizado de entendimentos sobre a realidade. Conhecimentos estes que expressam o


entendimento que se tem do mundo, a partir de desejos, anseios e aspirações.

Assim, podemos dizer que, a filosofia cria o ideário que norteia a vida humana em
todos os seus momentos e em todos os seus processos. 

Neste sentido, a filosofia é uma força, é o sustentáculo de um modo de agir. É uma


arma na luta pela vida e pela emancipação humana. 

Em síntese, a filosofia é uma forma de conhecimento que, interpretando o mundo, cria


uma concepção coerente e sistêmica que possibilita uma forma de ação efetiva. Esta forma de
compreender o mundo tanto é condicionada pelo meio histórico, como também é seu
condicionante. Ao mesmo tempo, pois, é uma interpretação do mundo e é uma força de ação.

APLICAÇÕES DA FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO 

A educação dentro de uma sociedade não se manifesta como um fim em si mesma,


mas sim como um instrumento de manutenção ou transformação social. Assim sendo, ela
necessita de pressupostos, de conceitos que fundamentem e orientem os seus caminhos. 

A Filosofia fornece á educação uma reflexão sobre a sociedade na qual está situada,
sobre o educando, o educador e para onde esses elementos podem caminhar. 

O educando, quem é, o que deve ser, qual o seu papel no mundo; o educador, quem é,
qual o seu papel no mundo; a sociedade, o que é, o que pretende; qual deve ser a finalidade da
ação pedagógica. Esses são alguns problemas que exigem a reflexão filosófica. 

A Filosofia propõe questionar, a interpretação do mundo que temos, e procura buscar


novos sentidos e novas interpretações de acordo com os novos anseios que possam ser
detectados no seio da vida humana. 

O QUE VOCÊ ENTENDE POR FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO

O estudo da filosofia da educação, na verdade preocupa-se com problemática


educacional que ocorre em todos os segmentos da sociedade, pois se trata, com efeito, de
filosofia da educação e não simplesmente de filosofia, e também da educação sem postura
reflexiva [porque neste caso a educação não seria um processo intencionalmente conduzido]
(Saviani, 1984, p.35). Educação dentro de uma sociedade não se expressa como um fim em si
mesmo, mas como um instrumento de manutenção ou transformação social.

A filosofia fornece uma reflexão sobre a sociedade na qual esta inserida, sobre o
educando, o educador e para onde devem seguir. De um lado a educação, é entendida num
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conceito amplo, oferece a filosofia problemas que se tornam cada vez mais complexos,


inesperados e incertos como a miséria, a fome, a violência, a corrupção, o individualismo, a
concorrência, a perda dos valores, a exclusão social e o analfabetismo. 

Na visão de Platão, a filosofia deveria transcender a contingência histórica,


contribuindo para o processo de esclarecimento da verdadeira sabedoria, na superação das
falsas crenças, lançando a ideia de uma educação para a virtude, uma educação perfeita, com
a qual o homem se torna culto e erudito. Nessa expectativa, a educação acabou tornando-se
objeto de estudos e reflexão da filosofia desde os tempos gregos.

Pode-se dizer que a filosofia da educação surgiu do forte vínculo entre a filosofia e
a pedagogia estabelecido no decorrer dos anos, pois a filosofia, preocupada com as formas do
conhecimento perfeito, orientou o ser humano segundo a razão, inferindo um pensamento
pedagógico que busca a perfeição. A filosofia procura entender quais os pensamentos
construíram a maneira de fazer ciência atualmente. É nessa lógica que persiste e insiste em
fazer da própria vida do homem um produto descartável que a filosofia da educação procura
problematizar e dar-lhe outro sentido, outra finalidade.

A filosofia ela faz presente no início do processo quando estabelecemos metas em


nosso discurso, quando traçamos ou executamos estratégias. Sabemos que a educação
atualmente passa por transformações circunstanciais e advindas de um modelo tradicional de
ensino, torna-se necessário entender que ela se realiza em três modalidades: educação
informal, educação formal e educação não formal, sendo necessário que o professor e aluno
revejam seus objetivos, pois há a necessidade pedagógica de se encontrarem enquanto bom
professor e bom aluno.

A filosofia propõe questionar, a interpretação do mundo que temos e procura buscar


novos sentidos e novas interpretações de acordo com os novos anseios que possam ser
detectados no seio da vida humana.

Sabemos que a relação da filosofia com a educação existe desde os tempos atrás no
mundo grego. Pode-se dizer que a filosofia da educação surgiu do forte vínculo entre a
filosofia e a pedagogia estabelecido no decorrer dos anos, pois a filosofia, preocupada com as
formas do conhecimento perfeito, orientou o ser humano segundo a razão, inferindo um
pensamento pedagógico que busca a perfeição.

A filosofia da educação contribuiu com alguns requisitos. Considerando as exigências


do século XXI, que tipo de homem a sociedade está procurando-o homem “overnight”, que
muda seus valores, seus comportamentos da noite para o dia. Esse modelo de educação já vem
determinado e condicionado pelos aspectos sociais, políticos, econômicos e históricos nos
quais se desenvolve.

Assim alguns perfis foram estabelecidos e pensados, para serem alcançados por meio


da educação. Apresentar as grandes concepções de homem que ocorrem até o presente
momento; as teorias do conhecimento que a elas deram origem, bem como o modelo de
escolas que elas influenciaram/influenciam” num permanente processo de afirmação, negação
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e superação como marcas características e dominantes dos diversos momentos dessa história”
(Severino, 1994).

Na concepção essencialista, o período da Antiguidade até a Idade Média, o homem


tem uma natureza fixa, imutável, que orienta os valores e suas ações, e a busca da perfeição é
um ideal a ser atingido.

A teoria ou corrente filosófica de conhecimento é o empirismo. O sujeito recebe as


influências do mundo externo. A concepção naturalista é como compreende o conhecimento
onde o homem passa a ser o centro de toda essa mudança.

A teoria deste conhecimento é o racionalismo, ou seja, é a razão do conhecimento


deste período é o racionalismo, ou seja, é a razão que orienta as ações do homem. Já a
concepção histórica social ela avança em relação ás duas anteriores.

A visão de homem é a de um ser integral em sua capacidade individual, espiritual e em


suas necessidades concretas de existência/sobrevivências. Como diz Dermeval Saviani.

É de pequeno que se torce o pepino, ou seja, os adultos vão moldando as crianças


desde pequenas através do processo educativo. Na filosofia moderna e contemporânea, as
investigações em torno desses objetos estão em uma situação diferente da filosofia grega onde
eram considerados distintos e independentes.

EDUCAÇÃO COMO TRANSFORMAÇÃO DA SOCIEDADE 

Não há uma pedagogia que esteja isenta de pressupostos filosóficos. 


É possível compreender a educação dentro da sociedade, com seus determinantes e
condicionantes, mas com a possibilidade de trabalhar pela sua democratização. 

Para tanto, importa interpretar a educação como uma instância dialética, que serve a
um projeto, a um modelo, a um ideal de sociedade. Ela trabalha para realizar esse projeto na
prática. Assim, se o projeto for conservador, medeia a conservação, contudo se o projeto
for transformador, medeia a transformação; se o projeto for autoritário, medeia a realização do
autoritarismo; se o projeto for democrático, medeia a realização da democracia. 

Do ponto de vista prático trata-se de retomar vigorosamente a luta contra a


seletividade, a discriminação e o rebaixamento do ensino das camadas populares. Lutar contra
a marginalidade, através da escola, significa engajar-se no esforço para garantir aos
trabalhadores um ensino da melhor qualidade possível nas condições históricas atuais.

O papel de uma teoria crítica da educação é dar substância concreta a essa bandeira de
luta, de modo a evitar que ela seja apropriada e articulada com os interesses dominantes? ( in
Saviani).

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A educação como transformadora da sociedade recusa-se tanto ao otimismo ilusório,


quanto ao pessimismo imobilizador. Por isso, propõe-se compreender a educação dentro de
seus condicionantes e agir estrategicamente para a sua transformação. Propõe-se desvendar e
utilizar das próprias contradições da sociedade, para trabalhar criticamente pela sua
transformação. Quando não pensamos, somos pensados e dirigidos por outros. 

FILOSOFIA ANTIGA

A filosofia é um saber específico e tem uma história que já dura mais de 2.500 anos. A
filosofia nasceu na Grécia antiga - costumamos dizer - com os primeiros filósofos,
chamados pré-socráticos. Mas a filosofia não é compreendida hoje apenas como um saber
específico, mas também como uma atitude em relação ao conhecimento, o que faz com que
seus temas, seus conceitos e suas descobertas sejam constantemente retomados.
A história da filosofia coloca em perspectiva o conhecimento filosófico e apresenta textos e
autores que fundamentam nosso conhecimento até hoje.

A história da filosofia na Antiguidade pode ser dividida em três grandes períodos: o


período pré-socrático, a Grécia clássica e a época helenística.

Pré-socráticos
Os filósofos que viveram antes da época de Sócrates, como Parmênides e Heráclito,
investigaram a origem das coisas e as transformações da natureza. De seus textos só restaram
fragmentos. O conhecimento especulativo no período pré-socrático não se distinguia dos
outros conhecimentos, como a astronomia, a matemática ou a física.

Tales de Mileto foi o primeiro pensador que podemos chamar de filósofo. Como


outros pré-socráticos, Tales dedicou-se a caracterizar o princípio ou a matéria de que é feito o
mundo. Sustentou que este princípio era a água.

A Grécia clássica
No período clássico, a filosofia vinculou-se a um momento histórico privilegiado - o
da Grécia clássica. Nesse período, que compreende os séculos 5 a.C. e 4 a.C., a civilização
grega conheceu seu apogeu, com o esplendor da cidade de Atenas. Essa cidade-estado
dominou a Grécia com seu poderio militar e econômico.

Adotando a democracia como sistema político, Atenas assistiu a um florescimento


admirável das ciências e das artes. Foi esse período histórico que deu origem ao pensamento
dos três maiores filósofos da Antiguidade: Sócrates, Platão e Aristóteles.
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Sócrates não deixou uma obra escrita, mas conhecemos seu pensamento através das
obras de seu discípulo Platão. Este não escreveu uma obra sistemática, organizada de forma
lógica e abstrata, mas sim um rico conjunto de textos em forma de diálogo, em que diferentes
temas são discutidos. Os diálogos de Platão estão organizados em torno da figura central de
seu mestre - Sócrates.

Platão e Aristóteles
O conhecimento é resultado do convívio entre homens que discutem de forma livre e
cordial. No livro "A República", por exemplo, temos um grupo de amigos que incluem o
filósofo Sócrates, dois irmãos de Platão - Glauco e Adimanto - e vários outros personagens,
que serão provocados pelo mestre. O diálogo vai tratar de assuntos relacionados à organização
da sociedade e à natureza da política. A palavra política vem do grego polis, que significa
cidade ou Estado.

Aristóteles - ao contrário de Platão - criou uma obra sistemática e ordenada. A


filosofia aristotélica cobre diversos campos do conhecimento, como a lógica, a retórica, a
poética, a metafísica e as diversas ciências. No livro "A Política", Aristóteles entende a
ciência política como desdobramento de uma ética, cuja principal formulação encontra-se no
livro "Ética a Nicômaco".

Helenismo
O período helenístico corresponde ao final do século 3 a.C. (período que se sucede à
morte de Alexandre Magno, em 323 a.C.) e se estende, segundo alguns historiadores, até o
século 6 d.C. As preocupações filosóficas fundamentais voltam-se para as questões morais,
para a definição dos ideais de felicidade e virtude e para o saber prático.

FILOSOFIA MEDIEVAL

Com a dissolução do Império romano, as invasões bárbaras e o desaparecimento das


instituições, os centros de difusão cultural também se desagregaram. Os chamados "pais da
igreja" foram os primeiro filósofos a defender a fé cristã nos primeiros séculos, até
aproximadamente o século 8.

Os padres da igreja foram os filósofos que, nesse período, tentaram conciliar a herança
clássica greco-romana, com o pensamento cristão. Essa corrente filosófica é conhecida
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como patrística. A filosofia patrística começa com as epístolas de São Paulo e o evangelho de


São João. Essa doutrina tinha também um propósito evangelizador: converter os pagãos à
nova religião cristã.

Surgiram ideias e conceitos novos, como os de criação do mundo, pecado original,


trindade de Deus, juízo final e ressurreição dos mortos. As questões teológicas, relativas às
relações entre fé e razão, ocuparam as reflexões dos principais pensadores da filosofia cristã.

Santo Agostinho e a interioridade


Santo Agostinho (354-430) foi o primeiro grande filósofo cristão. Uma de suas
principais formulações foi a ideia de interioridade, isto é, de uma dimensão humana dotada de
consciência moral e livre arbítrio.

As ideias filosóficas tornam-se verdades reveladas (reveladas por Deus, através da


Bíblia e dos santos) e inquestionáveis. Tornaram-se dogmas. A partir da formulação das
ideias da filosofia cristã, abre-se a perspectiva de uma distinção entre verdades reveladas e
verdades humanas. Surge a distinção entre a fé e a razão.

O conhecimento recebido de Deus torna-se superior ao conhecimento racional. Em


decorrência desta própria dicotomia, surge a discussão em torno da possibilidade de
conciliação entre fé e razão.

Escolástica e Tomas de Aquino


A partir do século 12, a filosofia medieval é conhecida como escolástica. Surgem as
universidades e os centros de ensino e o conhecimento é guardado e transmitido de forma
sistemática. Platão e Aristóteles, os grandes pensadores da Antiguidade, também foram as
principais influências da filosofia escolástica. Nesse período, a filosofia cristã alcançou um
notável desenvolvimento. Criou-se uma teologia, preocupada em provar a existência de Deus
e da alma.

O método da escolástica é o método da disputa. A disputa consiste na apresentação de


uma tese, que pode ser defendida ou refutada por argumentos. Trata-se de um pensamento
subordinado a um princípio de autoridade (os argumentos podem ser tirados dos antigos,
como Platão e Aristóteles, dos padres da igreja ou dos homens da igreja, como os papas e os
santos).

O filósofo mais importante desse período é São Tomás de Aquino, que produziu uma
obra monumental, a "Suma Teológica", elaborando os princípios da teologia cristã.
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FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO
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No período medieval a educação era desenvolvida em estreita simbiose com a Igreja,


com a fé cristã e com as instituições eclesiásticas que – enquanto acolhiam os oratores (os
especialistas da palavra, os sapientes, os cultos, distintos dos bellatores e dos laboratores) –
eram as únicas delegadas (com as corporações no plano profissional) a educar, a formar, a
conformar. Da Igreja partiram os modelos educativos e as práticas de formação, organizavam-
se as instituições ad hoc e programavam-se as intervenções, como também nela se discutiam
tanto as práticas como os modelos. Práticas e modelos para o povo, práticas e modelos para as
classes altas, uma vez que era típico também da Idade Média o dualismo social das teorias e
das práxis educativas, como tinha sido no mundo antigo. 

 Também a escola, como nós conhecemos, é um produto da Idade Média. A sua


estrutura ligada à presença de um professor que ensina a muitos alunos de diversas
procedências e que deve responder pela sua atividade à Igreja ou a outro poder (seja ele local
ou não); as suas práticas ligadas à lectio e aos autores, a discussão, ao exercício, ao
comentário, à arguição etc.; as suas práxis disciplinares (prêmios e castigos) e avaliativas vêm
daquela época e da organização dos estudos nas escolas monásticas e nas catedrais e,
sobretudo nas universidades. Vêm de lá também alguns conteúdos culturais da escola
moderna e até mesmo da contemporânea: o papel do latim; o ensino gramatical e retórico da
língua; a imagem da filosofia, como lógica e metafísica. 

FILOSOFIA MODERNA

A Filosofia Moderna corresponde ao pensamento desenvolvido da metade do século


XV ao final do século XVIII. O que chamamos de mentalidade moderna advém das
transformações culturais, sociais, religiosas e econômicas que ocorreram na Europa deste
período. Os historiadores da filosofia designam como filosofia moderna aquele saber que se
desenvolve na Europa durante o século XVII tendo como referências principais o
cartesianismo - que é, a filosofia de René Descartes , a ciência da Natureza galilaica — isto é,
a mecânica de Galileu Galilei —, a nova ideia do conhecimento como síntese entre
observação, experimentação e razão teórica baconiana — isto é, a filosofia de Francis Bacon
— e as elaborações acerca da origem e das formas da soberania política a partir das ideias de
direito natural e direito civil hobbesianas — isto é, do filósofo Thomas Hobbes. Muitos
historiadores preferem localizar a filosofia moderna no período designado como Século de
Ferro, situado entre 1550 e 1660, tomando como referência as grandes transformações sociais,
políticas e econômicas trazidas pela implantação do capitalismo, enquanto outros consideram
decisivo o período entre 1618 e 1648, isto é, a Guerra dos Trinta Anos, que delineia a
paisagem política e cultural da Europa moderna. Os primeiros pontos de luz nas trevas do
14
FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO
CURSO DE PEDAGOGIA

pensar livre, provocados pela rendição da razão à soberania da fé durante a chamada idade
média, são percebidos nas obras de pensadores como Copérnico que, em sua defesa e
interpretação da teoria heliocêntrica provocou uma verdadeira revolução. O deslocamento da
terra, obra prima do Deus criador, do centro do universo significou que o homem, tido como o
supremo ato da criação, deixou também de ocupar seu lugar de criatura sujeito aos caprichos
desse Deus. Da mesma forma que Sócrates, Platão e Aristóteles antes deles os filósofos da
modernidade chamaram para o âmbito da inteligência e capacidade humana a tarefa de pensar
o mundo.

 CARACTERÍSTICAS GERAIS DA FILOSOFIA MODERNA

O Racionalismo: A filosofia moderna propriamente falando iniciou-se com a teoria


do conhecimento do René Descartes. Conhecido como pai da filosofia moderna, parece que
ele levou muito a sério as palavras do Leonardo Da Vinci que diz "Quem pouca pensa, muito
erra”.  Na Idade Média, na sociedade e na política a Palavra de Deus, considerada fonte única
do conhecimento absoluto, foi interpretada pela igreja que dominava todos os aspectos da
vida. As obras do Descartes formaram a base sobre qual os racionalistas desenvolveram seus
processos.
O Empirismo: Leonardo Da Vinci resume em poucas palavras a crença dos
empiristas ingleses cujo trabalho antecedeu por quase um século. Francis Bacon, John Locke,
David Hume e outros pensadores contra posição aos racionalistas do continente europeu
desenvolveram e propagavam o raciocínio experimental, ou seja, a teoria de que o único
caminho pelo qual o homem pode chegar ao conhecimento é através da experiência sensível
(empírica). Os historiadores afirmam que o renascimento nos séculos XIV e XV marcado pela
redescoberta da arte e literatura grega, o humanismo com sua ênfase no temporal e o
consequente colocação do homem no centro da realidade, o repensar da política e estilo de
governo marcado pelas obras do Maquiavel, o estudo científico e a Filosofia Moderna com
sua ênfase do poder racional do homem, sinalizaram um retorno às raízes do pensamento
racional e a morte do poder de controle do astrólogo, do mago e da igreja sobre o
conhecimento.
A perfectibilidade: Os precursores da filosofia moderna entre eles Leonardo da Vinci,
Copérnico e Galileu acreditaram na perfectibilidade da natureza e defenderam a teoria da
perfectibilidade da razão humana. Iniciou-se uma "busca por expressar, entender, explicar
pela razão perfeita a natureza perfeita. A ciência renascentista entendeu que pelo fato que
Deus criou a natureza é possível conhecer Deus através da natureza e, portanto, produzir
conhecimento. Embora enfatizando e dando destaque alto à razão e a perfectibilidade humana,
Kant e outros filósofos modernos não fizeram nenhuma ruptura dramática dos valores
religiosos da idade média. Essa ruptura veio com os Iluministas franceses como Voltaire e

15
FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO
CURSO DE PEDAGOGIA

Diderot que produziram obras laicas e seculares e, por vezes extremamente críticas da ação de
igreja e sua influência opressiva na sociedade e interferência no governo.

FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA

O mundo em que vivemos, das telecomunicações, da internet, dos programas


espaciais, da física quântica, ou da medicina de alta tecnologia parece não ter lugar para a
filosofia. Onde está a filosofia? O filósofo Bertrand Russel pensou nessa questão:

A filosofia, como todos os outros estudos, visa em primeiro lugar ao conhecimento. O


conhecimento a que ela aspira é o tipo de conhecimento que dá unidade e sistematiza o corpo
das ciências, e que resulta de um exame crítico dos fundamentos de nossas convicções,
preconceitos e crenças.

Bertrand Russell, Os problemas da filosofia


Isso mesmo. Essa é uma das definições de filosofia: ela é uma disciplina que estuda os
fundamentos de nossas convicções. No entanto, enquanto as ciências estabelecem um corpo
sólido de conhecimentos e verdades a partir do qual passam a se desenvolver, a filosofia não
alcança os mesmos resultados. Ela não dá respostas definitivas a nenhuma questão. E agora?
O próprio Bertrand Russel matou a charada:

Isto se deve em parte ao fato de que, assim que o conhecimento definitivo a respeito
de qualquer assunto torna-se possível, esse assunto deixa de ser chamado de filosofia, e torna-
se uma ciência independente. O estudo total dos céus, que agora pertence à astronomia, foi
um dia incluído na filosofia; a grande obra de Newton chamava-se ‘princípios matemáticos de
filosofia natural’. Do mesmo modo, o estudo da mente humana, que fazia parte da filosofia,
agora foi separado da filosofia e tornou-se a ciência da psicologia. Assim, em grande medida,
a incerteza da filosofia é mais aparente que real: as questões que são capazes de ter respostas
definitivas são abrigadas nas ciências, enquanto aquelas para as quais, até o presente, não
podem ser dadas respostas definitivas, continuam a formar o resíduo que é chamado de
filosofia.

Estamos mergulhados num mundo que não cessa de colocar novas questões para a
filosofia. Por isso mesmo, não é fácil reconhecer o que é a filosofia contemporânea. Estamos
perto demais. Percebemos a filosofia do passado com mais clareza e mais coesão do que
percebemos a filosofia que se faz hoje.

16
FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO
CURSO DE PEDAGOGIA

Mas vamos lá! Chamamos de filosofia contemporânea aquela que teve início no século
19, atravessou o século 20 e chegou até os dias de hoje.

A filosofia contemporânea fundamenta-se em alguns conceitos que foram elaborados


no século 19. Um desses conceitos é o conceito de história, que foi formulado pelo
filósofo G.W.F. Hegel. A filosofia de Hegel relaciona-se com as ideias de totalidade e de
processo. Passamos a entender o homem como um ser histórico, assim como a sociedade.
Uma das consequências dessa percepção é a ideia de progresso. O filósofo Auguste Comte foi
um dos principais teóricos a pensar essa questão. Tanto a razão quanto o saber científico
caminham na direção do desenvolvimento do homem (o lema da bandeira brasileira, ordem e
progresso, é inspirado nas ideias de Comte).

As utopias políticas elaboradas no século 19, como o anarquismo, o socialismo e o


comunismo, também devem muito à ideia de desenvolvimento e progresso, como caminho
para uma sociedade justa e feliz.
 Progresso descontínuo

A ideia de que a história fosse um movimento contínuo e progressivo em direção ao


aperfeiçoamento sofreu duras restrições durante o século 20.

No século 20, porém, formou-se a noção de que o progresso é descontínuo, isto é, não
se faz por etapas sucessivas. Desse modo, a história universal não é um conjunto de várias
civilizações em etapas diferentes de desenvolvimento. Cada sociedade tem sua própria
história. Cada cultura tem seus próprios valores.

Essa visão de mundo possibilitou o desenvolvimento de várias ciências como a


etnologia, a antropologia e as ciências sociais.

Ciência e técnica
A confiança no saber científico foi outra das atitudes filosóficas que se desenvolveram
no século 19. Essa atitude implica que a natureza pode ser controlada pela ciência e pela
técnica. Mas não apenas isso, o desenvolvimento da ciência e da técnica passa a ser capaz de
levar ao progresso vários aspectos da vida humana. Surgiram disciplinas como a psicologia, a
sociologia e a pedagogia.

No século 20, a filosofia passou a colocar em cheque o alcance desses conhecimentos.


Essas ciências podem não conseguir abranger a totalidade dos fenômenos que estudam. E
também muitas vezes não conseguem fundamentar e validar suas próprias descobertas.

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FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO
CURSO DE PEDAGOGIA

O triunfo da razão
A ideia de que a razão, ciência e o conhecimento são capazes de dar conta de todos os
aspectos da vida humana também foi pensada criticamente por dois grandes filósofos: Karl
Marx e Sigmund Freud.

No campo político, Marx tornou relativa a ideia de uma razão livre e autônoma ao
formular a noção de ideologia - o poder social e invisível que nos faz pensar como pensamos
e agir como agimos.

No campo da psique, Freud abalou o edifício das ciências psicológicas ao descobrir a


noção de inconsciente - como poder que atua sem o controle da consciência.

Teoria crítica
A ideia de progresso humano como percurso racional sofreu um duro golpe com a
ascensão dos regimes totalitários, como o nazismo, o fascismo e o stalinismo. O desencanto
tomou o lugar da confiança que existia anteriormente na ideia de uma razão triunfante.

Para fazer face a essa realidade, um grupo de intelectuais alemães elaborou uma teoria
que ficou conhecida como teoria crítica. Um dos principais filósofos desse grupo é Max
Horkheimer. Ele pensou que as transformações na sociedade, na política e na cultura só
podem se processar se tiverem como fim a emancipação do homem e não o domínio técnico e
científico sobre a natureza e a sociedade.

Esse pensamento distingue a razão instrumental da razão crítica. O que seria a razão
instrumental? Aquela que transforma as ciências e as técnicas num meio de intimidação do
homem, e não de libertação. E a razão crítica? É a que estuda os limites e os riscos da
aplicação da razão instrumental.

Existencialismo
O filósofo Jean-Paul Sartre também pensou as questões do homem frente à liberdade e
ao seu compromisso com a história. Utilizando também as contribuições do marxismo e da
psicanálise, o filósofo elaborou um pensamento sistemático que põe em relevo a noção de
existência em lugar da essência.

Fenomenologia
O estudo da linguagem científica, dos fundamentos e dos métodos das ciências tornou-
se um foco de atenção importante para a filosofia contemporânea. O filósofo Edmund Husserl

18
FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO
CURSO DE PEDAGOGIA

propôs à filosofia a tarefa de estudar as possibilidades e os limites do próprio conhecimento.


Husserl desenvolveu uma teoria chamada fenomenologia.

Filosofia analítica
As formas e os modos de funcionamento da linguagem foram estudados pelo filósofo
Ludwig Wittgenstein. A filosofia analítica é uma disciplina que se vale da análise lógica como
método e entende a linguagem como objeto da filosofia. Bertrand Russel e Quine também
estudaram os problemas lógicos das ciências, a partir da linguagem científica.

Embora tenha se desdobrado em disciplinas especializadas, a filosofia ainda é - como


sempre foi - uma atitude filosófica.

Assim que começamos a filosofar achamos que mesmo as coisas mais cotidianas
levam a problemas para os quais só podem ser dadas respostas muito incompletas. A filosofia,
embora incapaz de nos dizer com certeza quais são as respostas verdadeiras às dúvidas que ela
suscita, está apta a sugerir muitas possibilidades que ampliam nossos pensamentos e os
libertam da tirania do hábito. Assim, embora diminuindo nosso sentimento de certeza a
respeito do que as coisas são, ela aumenta enormemente nosso conhecimento em direção ao
que as coisas podem ser.

PRINCIPAIS FILÓSOFOS DA EDUCAÇÃO E SUAS ABORDAGENS


TEÓRICAS

O método socrático.

Com um método dialético examinador, Sócrates se apresenta “consciente de que não


sabe” diante de um interlocutor que “julga que sabe” e o interpela numa conversação
(“erótesis”), aplicando argumentações que levam a uma contradição de definições
previamente aceita pelo interlocutor, utilizando em outras situações exemplos na busca de
uma definição que mais se aproximasse de uma verdade universal, o que também acabava
refutando o conceito anteriormente definido. Esse método próprio de articular questões para a
obtenção de um conceito foi conceituado de maiêutica – que significa parto – por ser Sócrates
filho de uma parteira. O seu método conhecido filosoficamente como elenchos traduzia na
prática a busca incessante do mestre pela verdade acerca de determinado conceito que,
normalmente tratava-se de uma virtude como coragem, piedade, amor, e outros. A busca
contínua pela verdade através de diálogos públicos proporciona condições pedagógicas que
traz a seus interlocutores um aprendizado consistente sobre os temas que serviam de
19
FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO
CURSO DE PEDAGOGIA

fundamento para as questões discutidas e nessas conversações Sócrates era seguido por jovens
que procuravam aprender o suficiente para serem introduzidos na vida pública e política de
Atenas.

EDUCAÇÃO GREGA: SÓCRATES E OS SOFISTAS

A meditação sobre educação e as ideias pedagógicas existem desde o período clássico


da filosofia grega e aparecem expostas de forma elementar com os sofistas, que tiveram na
história grande representatividade a partir do século V a.C., sendo considerados os primeiros
professores, e educadores profissionais da história, desenvolvendo suas atividades docentes
como professores ambulantes, num momento de grande transformação social e política de
Atenas, em que era exigida uma preparação tanto intelectual como física aos jovens gregos.
Dessa necessidade surgiram esses sofistas, homens que sem conexão entre si, tinham,
contudo, o mesmo objetivo: educação remunerada direcionada seu resultado para a vida
pública, formação do político e do orador. Os sofistas são antes professores que cientistas ou
filósofos originais, e exerceram influência considerável na cultura e na educação da sua
época.

Sócrates, embora discordasse dos sofistas em muitos pontos, participava da crença


geral de que a educação tornava o homem um cidadão melhor e mais feliz. Mas,
diferentemente dos sofistas que se preocupavam mais com o homem como indivíduo,
Sócrates o considerava como membro da sociedade e divulgava que a coisa mais valiosa que
o homem pode possuir é o saber, que se obtém eliminando as divergências conceituais
existentes e descobrindo os elementos essenciais da verdade desses conceitos com os quais
todos eles próprios conhecem. Sócrates foi um mestre dedicado à prática do ensino tendo
como principal discípulo, Platão, que desenvolveu uma das primeiras teorias sobre a educação
cuja descrição pormenorizada de um sistema educacional está em um de seus diálogos A
República, que em sua opinião, asseguraria a existência de um Estado justo e feliz.

A influência imediata do ensino de Sócrates sobre a educação grega deu-se em relação


ao conteúdo, constituindo uma exaltação sem precedentes, ao conhecimento, coincidindo com
a idêntica influência dos sofistas, que proclamavam dar conhecimento aos jovens pela
exigência das novas condições sociais da época. Mas, justamente porque o conhecimento,
para Sócrates, continha uma inevitável projeção moral, encerrava, também uma concepção

20
FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO
CURSO DE PEDAGOGIA

muito mais ampla que o conhecimento dos filósofos primitivos, e do que a educação dada
pelos sofistas.

Para Sócrates pouco progresso mental se obtinha do simples fato de ministrar


conhecimentos com os métodos populares que os sofistas proporcionavam – que almejavam
disseminar informações por meio de prestações formais – uma vez que o método de
conversação socrática trazia mais benefícios de aprendizagem, e tinha como objetivo o poder
de pensar. O seu alvo era formar jovens capazes de tirar conclusões corretas, e formular a
verdade por si mesmos, em vez de dar-lhes conclusões já elaboradas. Portanto, para Sócrates,
a educação tinha por objetivo imediato o desenvolvimento da capacidade de pensar, não
apenas ministrar conhecimentos, processo educacional que pode ser encontrado nos
momentos atuais da moderna pedagogia.

Filosoficamente, a maior contribuição de Sócrates corresponde, com efeito, ao


desenvolvimento da moral e da ética com o fim último do seu método educacional era a busca
da verdade, o conhecimento das virtudes e a entendimento do bem, pois atendendo à máxima
grafada no portal do templo de Delfos “Conheça-te a ti mesmo”, Sócrates mostrava
insistentemente que era necessário ensinar a pensar. Não tendo conseguido formular uma
filosofia de maneira sistemática, o processo principal de Sócrates consistia em interrogar, em
ajudar cada um a tomar consciência dos seus próprios pensamentos, ou melhor, em despertar
dentro de cada indivíduo a consciência da verdade universalizada.

Assim, os ensinamentos de Sócrates mostravam dois propósitos: o primeiro de


demonstrar que o conhecimento era a base de toda a ação virtuosa; o segundo indicar que o
conhecimento devia ser desenvolvido pelo próprio indivíduo com sua própria existência,
através do seu método dialético. O conhecimento para Sócrates, era o requisito prévio da livre
ação em todas as artes que conduzia o jovem ao sucesso profissional. Isto é sobretudo
verdadeiro no caso da mais elevada das artes, a arte de bem viver. Esse conhecimento para
Sócrates não podia ser adquirido pela simples aceitação de opiniões individuais, mas somente
pela procura daquilo que é comum a todos e que constitui a verdade universalmente válida – a
verdade. O indivíduo sem instrução é incapaz, segundo Sócrates, de descobrir experiencial
mente essa verdade de reconhecimento universal, em consequência, o alvo do trabalho de
Sócrates, assim como o seu ponto de vista sobre o objetivo geral da educação, era o de
desenvolver em cada indivíduo o poder de formular com seu próprio esforço, verdades
universais.

PLATÃO E A EDUCAÇÃO
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FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO
CURSO DE PEDAGOGIA

"A educação deve propiciar ao corpo e à alma toda a perfeição e a beleza que podem
ter". 

"Ao longo dos anos, os antigos encontraram uma boa receita para a educação:
ginástica para o corpo e música para a alma" 

Platão nasceu por volta de 427 a.C. em uma família aristocrática de Atenas. Quando
tinha cerca de 20 anos, aproximou-se de Sócrates, por quem tinha grande admiração. Como a
maioria dos jovens de sua classe, quis entrar na política. Contudo, a oligarquia e a democracia
lhe desagradaram. Com a condenação de Sócrates à morte, Platão decidiu se afastar de Atenas
e saiu em viagem pelo mundo. Numa de suas últimas paradas, esteve na Sicília, onde fez
amizade com Dion, cunhado do rei de Siracusa, Dionísio I. De volta a Atenas, com cerca de
40 anos, Platão fundou a Academia, um instituto de educação e pesquisa filosófica e científica
que rapidamente ganhou prestígio. Três décadas depois, ele foi convidado por Dion a viajar a
Siracusa para educar seu sobrinho Dionísio II, que se tornara imperador. A missão foi
frustrada por intrigas políticas que terminaram num golpe dado por Dion. Platão morreu por
volta de 347 a.C. Já era um homem admirado em toda Atenas. 

Na história das ideias, Platão foi o primeiro pedagogo, não só por ter concebido um
sistema educacional para o seu tempo, mas, principalmente, por tê-lo integrado a uma
dimensão ética e política. O objetivo final da educação, para o filósofo, era a formação do
homem moral, vivendo em um Estado justo. 

Platão foi o segundo da tríade dos grandes filósofos clássicos, sucedendo Sócrates
(469-399 a.C.) e precedendo Aristóteles (384-322 a.C.), seu discípulo. Como Sócrates, Platão
rejeitava a educação que se praticava na Grécia em sua época e que estava a cargo dos
sofistas, incumbidos de transmitir conhecimentos técnicos - sobretudo a oratória - aos jovens
da elite, para torná-los aptos a ocupar as funções públicas. "Os sofistas afirmavam que podiam
defender igualmente teses contrárias, dependendo dos interesses em jogo", diz Sérgio
Augusto Sardi, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. "Platão,
ao contrário, pensava em termos de uma busca continuada da virtude, da justiça e da
verdade." 

Para Platão, "toda virtude é conhecimento". Ao homem virtuoso, segundo ele, é dado
conhecer o bem e o belo. A busca da virtude deve prosseguir pela vida inteira - portanto, a
educação não pode se restringir aos anos de juventude. Educar é tão importante para uma
ordem política baseada na justiça - como Platão preconizava - que deveria ser tarefa de toda a
sociedade.

O ideal da escola pública

22
FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO
CURSO DE PEDAGOGIA

Baseado na ideia de que os cidadãos que têm o espírito cultivado fortalecem o Estado
e que os melhores entre eles serão os governantes, o filósofo defendia que toda educação era
de responsabilidade estatal - um princípio que só se difundiria no Ocidente muitos séculos
depois. Igualmente avançada, quase visionária, era a defesa da mesma instrução para meninos
e meninas e do acesso universal ao ensino. 

Contudo, Platão era um opositor da democracia - há estudiosos que o consideram um


dos primeiros idealizadores do totalitarismo. O filósofo via no sistema democrático que
vigorava na Atenas de seu tempo uma estrutura que concedia poder a pessoas despreparadas
para governar. Quando Sócrates, que considerava "o mais sábio e o mais justo dos homens",
foi condenado à morte sob acusação de corromper a juventude, Platão convenceu-se, de uma
vez por todas, de que a democracia precisava ser substituída. 

Para ele, o poder deveria ser exercido por uma espécie de aristocracia, mas não
constituída pelos mais ricos ou por uma nobreza hereditária. Os governantes tinham de ser
definidos pela sabedoria. Os reis deveriam ser filósofos e vice-versa. "Como pode uma
sociedade ser salva, ou ser forte, se não tiver à frente seus homens mais sábios?", escreveu
Platão.

A educação, segundo a concepção platônica, visava a testar as aptidões dos alunos


para que apenas os mais inclinados ao conhecimento recebessem a formação completa para
ser governantes. Essa era a finalidade do sistema educacional planejado pelo filósofo, que
pregava a renúncia do indivíduo em favor da comunidade. O processo deveria ser longo,
porque Platão acreditava que o talento e o gênio só se revelam aos poucos. 

A formação dos cidadãos começaria antes mesmo do nascimento, pelo planejamento


eugênico da procriação. As crianças deveriam ser tiradas dos pais e enviadas para o campo,
uma vez que Platão considerava corruptora a influência dos mais velhos. Até os 10 anos, a
educação seria predominantemente física e constituída de brincadeiras e esporte. A idéia era
criar uma reserva de saúde para toda a vida. Em seguida, começaria a etapa da educação
musical (abrangendo música e poesia), para se aprender harmonia e ritmo, saberes que
criariam uma propensão à justiça, e para dar forma sincopada e atrativa a conteúdos de
Matemática, História e Ciência. Depois dos 16 anos, à música se somariam os exercícios
físicos, com o objetivo de equilibrar força muscular e aprimoramento do espírito. 

Aos 20 anos, os jovens seriam submetidos a um teste para saber que carreira deveriam
abraçar. Os aprovados receberiam, então, mais dez anos de instrução e treinamento para o
corpo, a mente e o caráter. No teste que se seguiria, os reprovados se encaminhariam para a
carreira militar e os aprovados para a filosofia - neste caso, os objetivos dos estudos seriam
pensar com clareza e governar com sabedoria. Aos 35 anos, terminaria a preparação dos reis-
filósofos. Mas ainda estavam previstos mais 15 de vida em sociedade, testando os
conhecimentos entre os homens comuns e trabalhando para se sustentar. Somente os que
fossem bem-sucedidos se tornariam governantes ou "guardiães do Estado".

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FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO
CURSO DE PEDAGOGIA

Platão defendia a ideia de que a alma precede o corpo e que, antes de encarnar, tem
acesso ao conhecimento. Dessa forma, todo aprendizado não passaria de um esforço de
reminiscência - um dos princípios centrais do pensamento do filósofo. Com base nessa teoria,
que não encontra eco na ciência contemporânea, Platão defendia uma ideia que,
paradoxalmente, sustenta grande parte da pedagogia atual: não é possível ou desejável
transmitir conhecimentos aos alunos, mas, antes, levá-los a procurar respostas, eles mesmos, a
suas inquietações. Por isso, o filósofo rejeitava métodos de ensino autoritários. Ele acreditava
que se deveria deixar os estudantes, sobretudo as crianças, à vontade para que pudessem se
desenvolver livremente. Nesse ponto, a pedagogia de Platão se aproxima de sua filosofia, em
que a busca da verdade é mais importante do que dogmas incontestáveis. O processo dialético
platônico - pelo qual, ao longo do debate de ideias, depuram-se o pensamento e os dilemas
morais - também se relaciona com a procura de respostas durante o aprendizado. "Platão é do
mais alto interesse para todos que compreendem a educação como uma exigência de que cada
um, professor ou aluno, pense sobre o próprio pensar",

Platão acreditava que, por meio do conhecimento, seria possível controlar os instintos,
a ganância e a violência. O acesso aos valores da civilização, portanto, funcionaria como
antídoto para todo o mal cometido pelos seres humanos contra seus semelhantes. Hoje poucos
concordam com isso; a causa principal foram as atrocidades cometidas pelos regimes
totalitários do século 20, que prosperaram até em países cultos e desenvolvidos, como a
Alemanha. Por outro lado, não há educação consistente sem valores éticos. Você já refletiu
sobre essas questões? Até que ponto considera a educação um instrumento para a formação de
homens sábios e virtuosos?

ARISTÓTELES E A EDUCAÇÃO

Aristóteles não era, como Platão, um crítico da sociedade e da democracia de Atenas.


Ao contrário, considerava a família, como se constituía na época, o núcleo inicial da
organização das cidades e a primeira instância da educação das crianças. Atribuía, no entanto,
aos governantes e aos legisladores o dever de regular e vigiar o funcionamento das famílias
para garantir que as crianças crescessem com saúde e obrigações cívicas. Por isso, o Estado
deveria também ser o único responsável pelo ensino. 

Na escola, o princípio do aprendizado seria a imitação. Segundo ele, os bons hábitos


se formavam nas crianças pelo exemplo dos adultos. Quanto ao conteúdo dos estudos,
Aristóteles via com desconfiança o saber "útil", uma vez que cabia aos escravos exercer a
maioria dos ofícios, considerados indignos dos homens livres.

“A educação, para Aristóteles, é um caminho para a vida pública”, prossegue Carlota.


Cabe à educação a formação do caráter do aluno. Perseguir a virtude significaria, em todas as
24
FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO
CURSO DE PEDAGOGIA

atitudes, buscar o “justo meio”. A prudência e a sensatez se encontrariam no meio-termo, ou


medida justa – “o que não é demais nem muito pouco”, nas palavras do filósofo. 

Um dos fundamentos do pensamento aristotélico é que todas as coisas têm uma


finalidade. É isso que, segundo o filósofo, leva todos os seres vivos a se desenvolver de um
estado de imperfeição (semente ou embrião) a outro de perfeição (correspondente ao estágio
de maturidade e reprodução). Nem todos os seres conseguem ou têm oportunidade de cumprir
o ciclo em sua plenitude, porém. Por ter potencialidades múltiplas, o ser humano só será feliz
e dará sua melhor contribuição ao mundo se desfrutar das condições necessárias para
desenvolver o talento. A organização social e política, em geral, e a educação, em particular,
têm a responsabilidade de fornecer essas condições. 

A virtude, para Aristóteles, é uma prática e não um dado da natureza de cada um,
tampouco o mero conhecimento do que é virtuoso, como para Platão (427-347 a.C.). Para ser
praticada constantemente, a virtude precisa se tornar um hábito. Embora não se conheça
nenhum estudo de Aristóteles sobre o assunto, é possível concluir que o hábito da virtude
deve ser adquirido na escola. 

Grande parte da obra que originou o legado aristotélico se desenvolveu em oposição à


filosofia de Platão, seu mestre e fundador da Academia ateniense, que Aristóteles frequentou
durante duas décadas. Posteriormente, ele fundaria uma escola própria, o Liceu. Uma das duas
grandes inovações do filósofo em relação ao antecessor foi negar a existência de um mundo
supra-real, onde residiriam as ideias. Para Aristóteles, ao contrário, o mundo que percebemos
é suficiente, e nele a perfeição está ao alcance de todos os homens. A oposição entre os dois
filósofos gregos – ou entre a supremacia das ideias (idealismo) ou das coisas (realismo) –
marcaria para sempre o pensamento ocidental.

Aristóteles não era, como Platão, um crítico da sociedade e da democracia de Atenas.


Ao contrário, considerava a família, como se constituía na época, o núcleo inicial da
organização das cidades e a primeira instância da educação das crianças. Atribuía, no entanto,
aos governantes e aos legisladores o dever de regular e vigiar o funcionamento das famílias
para garantir que as crianças crescessem com saúde e obrigações cívicas. Por isso, o Estado
deveria também ser o único responsável pelo ensino. Na escola, o princípio do aprendizado
seria a imitação. Segundo ele, os bons hábitos se formavam nas crianças pelo exemplo dos
adultos. Quanto ao conteúdo dos estudos, Aristóteles via com desconfiança o saber "útil",
uma vez que cabia aos escravos exercer a maioria dos ofícios, considerados indignos dos
homens livres.

Aristóteles acreditava que educar para a virtude era também um modo de educar para
viver bem – e isso queria dizer, entre outras coisas, viver uma vida prazerosa. No mundo
atual, nem sempre se vê compatibilidade entre a virtude e o prazer. Ainda assim, você acredita
que seja possível desenvolver em seus alunos uma consciência ética e, ao mesmo tempo, a
capacidade de apreciar as coisas boas da vida?
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FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO
CURSO DE PEDAGOGIA

FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO DE SANTO AGOSTINHO

Em capítulos de alguns de seus livros Santo Agostinho aborda temas filosóficos da


educação e também recomenda um método pedagógico que acredita o mais eficaz para o
ensino dos jovens.

No Sobre o mestre (De Magistro) e no seu Sobre a Doutrina Cristã (De doctrina


christiana) encontramos o objetivo último que Santo Agostinho dá para a educação: voltar-se
o Homem para Deus. Mas como os seres humanos são um mistério para si mesmos, Deus é
entendido como inteiramente misterioso. Assim, a busca incessante de Deus é sempre uma
busca de um objetivo inatingível pelo buscador. Ele considerava o ensino como mera
preparação para a compreensão, e esta seria uma iluminação do "professor íntimo", que é
Cristo. Ensinar, diz ele, é o maior de todos os atos de caridade (**).

Método pedagógico:

Agostinho tinha farta experiência de ensino. Havia sido professor em Milão e Roma
por vários anos e dedicado anos a especular sobre a origem do conhecimento e como atingir o
verdadeiro saber. O método de Agostinho não é o socrático, que usa o diálogo como alguém
que não sabe nada, e que procura descobrir a verdade caminhando junto com o aluno nesse
sentido. Ao contrário, ele acreditava mais em transmitir o conhecimento para os alunos como
aquele que sabe a verdade para os que não sabem nada. Assim, ele estabeleceu uma
metodologia cristã, que influenciou estudiosos e educadores ao longo da história do Ocidente.

Ser professor nesse contexto era um ato de amor. Este amor era necessário, pois sabia
das dificuldades de estudo, e a resistência ativa dos jovens para a aprendizagem. Ele também
considerou o idioma um obstáculo para a aprendizagem, uma vez que a mente se move mais
rápido do que as palavras que o professor pronuncia, e as palavras, por sua vez, não
expressam adequadamente o que o professor pretende.

O professor, ao ensinar estudantes que têm alguma cultura, precisa começar por
questioná-los sobre o que já sabem, a fim de não repetir o que já conhecem e sim levá-los com
rapidez às matérias que ainda não tenham dominado. Ao ensinar o aluno superficialmente
educado, o professor precisava insistir na diferença entre terem de memória as palavras e ter
efetiva compreensão. Com relação ao aluno sem educação, Agostinho incentivou o professor
a ser simples, clara, direta e paciente. Este tipo de ensinamento muita repetição necessária, e
pode induzir o tédio no professor, mas Agostinho pensei que este tédio seria superado por
uma simpatia com o aluno. Este tipo de simpatia induz alegria no professor e alegria no aluno.

De um modo geral o ensino deve ser feito no que Agostinho chamou o "método
moderado". Esse estilo de ensino exige que o professor não sobrecarregue o aluno com muito
material, mas aborde um tema de cada vez, para revelar ao aluno o que está escondido nele,
para resolver dificuldades, e antecipar outras questões que possam surgir. Considera
importante até mesmo o modo de falar do professor, que deve ter em ritmo equilibrado,
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FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO
CURSO DE PEDAGOGIA

usando frases bem elaboradas em equilíbrio com frases simples, com o propósito de encantar
os alunos e atraí-los para a beleza do material.

Agostinho influenciou diretamente o estadista e escritor romano Flavius Magnus


Aurelius Cassiodorus (c. 490-c.583), que propôs o aprendizado progressivo a partir da leitura
e interpretação dos salmos, conjuntamente com o ensino profano das artes liberais, buscando,
como Santo Agostinho, criar no estudante uma mentalidade aberta e inteligente, e somente
após, quando o aluno tivesse o intelecto treinado para um melhor entendimento, o ensino das
matérias mais complexas.

O intelectual e mestre anglo-saxão Alcuin (735-804), um eminente educador, sábio e


teólogo. Utilizou, no século VIII, as obras de Agostinho sobre o ensino cristão como livros
didáticos. Também o humanismo cristão de Erasmo, erudito holandês do século XVI pode ser
entendido como uma extensão da obra de Agostinho.

SÃO TOMÁS DE AQUINO E A DEFESA DA EDUCAÇÃO PARA A


SABEDORIA

Tomás de Aquino, também conhecido como o doctor angelicus, é universalmente


considerado como o maior dos mestres escolásticos.

Nasceu em Aquino, no reino de Nápoles, no seio de uma família nobre. Em 1230, com
cinco anos, foi entregue aos cuidados do tio Sinnibaldi, abade do mosteiro de Monte-Cassino,
onde deu os primeiros passos na cultura. Em 1236 ou 1239 ingressou na Faculdade de Artes
da Universidade de Nápoles onde, provavelmente, contactou pela primeira vez com a
Filosofia aristotélica. Por volta de 1243/44 vestiu o hábito dominicano, o que lhe facultou a
possibilidade de estudar e ensinar, em várias Universidades da Europa. A sua missão foi
incorporar o legado aristotélico no saber cristão. Nesse trabalho “descobriu na razão uma
«terra sagrada» destinada a cultivar no seu recinto, por direito próprio, a árvore da ciência”
(Galino, 1981, p. 551).

Defendeu a autonomia da razão pela recusa da tese da “iluminação divina” advogada


pelos franciscanos e da tese do “intelecto único” defendida pelos árabes. Contrariamente à
convicção de que existiria apenas um intelecto agente, Deus ou Inteligência, São Tomás
considerava que cada homem possui um intelecto particular, sendo que daí decorre a
dignidade humana.

A sua vasta obra revela o génio que o caracterizou. Dessa obra,


destacamos aqui a Suma contra os Gentios e a Suma Teológica, como referência para quem
quiser iniciar um contato com o seu pensamento pedagógico. Aí percebemos o destaque que
deu à moral como dimensão fundamental no aperfeiçoamento do ser humano que, assim, deve
consistir no fim último da educação: “a moral é o ser do homem, doutrina sobre o que o
homem é e está chamado a ser” (Lauand, 1998, p. 285),

É pela educação que o homem pode alcançar a sabedoria, que, nessa medida, está
intimamente ligada à responsabilidade e liberdade. Os imperativos dos mandamentos (farás X,
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FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO
CURSO DE PEDAGOGIA

não farás Y) são enunciados sobre a natureza humana, uma vez que a felicidade e a realização
do homem implicam que se pretenda X numa atitude de incompatibilidade com Y (Lauand,
1998, p. 286).

Numa carta - “De modo Studenti” - endereçada a um dominicano “irmão João” que,
"como iniciado e desejoso de alcançar a sabedoria, escreveu ao mestre no sentido de este o
aconselhar sobre os atalhos que deveria seguir”, apresenta os princípios para que o estudo se
efetive de modo adequado e com sucesso. Frisa “que não há atalhos, mas caminhos”, que
“pelos riachos é que se chega ao mar” e que o “difícil deve ser atingido a partir do
fácil” (Lauand, 1998, p. 300).

No sentido de mostrar que a obtenção do conhecimento é uma tarefa que não se


alcança de uma só vez, emprega o gerúndio – acquirendo – , "adquirindo”, como que a
indicar que a formação intelectual é mais um contínuo processo do que pacífica posse
decorrente de uma ação que se perfaz de uma vez.

Significativo, nesse sentido, é o uso do verbo (…) caminhar, marchar. Com efeito, já
na primeira questão da Suma, referindo-se à busca pela razão humana da verdade mais
elevada, São Tomás diz que “só depois de muito tempo e com mistura de muitos erros se pode
lá chegar".

De modo Studenti reflete uma concepção de educação que pode parecer estranha aos
olhos de um pedagogo de hoje que, preocupado com o modo de estudar ou com a forma de
adquirir conhecimentos, apresentaria uma panóplia de princípios programáticos e
motivacionais. Isto acontece porque pensamos o conhecimento separado da existência
humana, enquanto que para São Tomás o saber faz parte dessa existência, não decorre de um
“estudo frio” mas é algo que se experimenta e saboreia. Isto diz ele também claramente na
primeira questão da Suma Teológica.

Destaca o facto de, na sua língua latina, “sapere" significar tanto "saber" como
"saborear". Assim, o verdadeiro sábio é aquele que sabe porque saboreou. A sabedoria não
pressupõe apenas uma dimensão intelectual, antes é intrínseca ao sujeito.

Esta ideia está presente nos seus conselhos para estudar: “a exortação ao silêncio, à
vida de oração, à humildade, à pureza de consciência, à santidade” (Lauand, 1998, p. 302). É
nesse sentido que se compreende o alcance semântico da palavra studium, que envolve uma
maior abrangência do que a palavra estudo. “Studium significa amor, afeição, devotamento, a
atitude de quem se aplica a algo porque ama e, não por acaso”, o que hoje designamos por
“dedicação aos estudos” (Lauand, 1998, p. 302).

Efetivamente, São Tomás propõe uma dedicação integral aos estudos, uma
consagração à vida intelectual, um estilo de vida ascético que propicie uma relação com Deus,
com os outros e consigo próprio. No De modo studendi é muito claro: “alguém dedicado ao
estudo deve, antes de mais, cuidar das atitudes da alma” (Lauand, 1998, p. 302).

A aquisição do tesouro do conhecimento exigirá, diz no “De modo studendi”, uma


ordenação interior do sujeito que estuda, bem como uma ordenação exterior: “do mais fácil
para o mais complexo, do riacho para o alto-mar”. Nesta articulação entre o interior e o
exterior, Tomás apresenta em De Magistro, a aprendizagem intelectual como um movimento

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FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO
CURSO DE PEDAGOGIA

gradual, que faz com que a aquisição da ciência (saber) seja uma passagem progressiva de
potência a ato.

A aprendizagem não é entendida como anamnesis (já que Tomás não admite a


preexistência da alma), mas sim como a aquisição de verdades até então desconhecidas. O
saber que o discípulo possui antes de receber os ensinamentos do mestre, é apenas um saber
“inicial”, fruto de uma adaptação espontânea da inteligência, contudo, falta-lhe todo um
caudal de conhecimentos, que serão adquiridos pela ajuda da do mestre, que o guia por
“caminhos seguros até à obtenção de conclusões certas” (Galino, 1981, p. 559).

Para São Tomás existem dois modos de adquirir a ciência: por si próprio, o modo
natural, e por intermédio do mestre. Apesar de o homem poder adquirir conhecimentos por si
próprio, a ação do mestre é sempre fecunda e insubstituível na busca da ciência.

Assim, para além do exercício da inteligência realizado pelo aluno, a ação do mestre
condiciona a instrução de tal modo que, na sua ausência, pode faltar (falhar) a aprendizagem,
até porque, em muitos casos, o mestre tem de proceder à remoção de tudo o que pode ser
obstáculo ou entrave ao reto exercício das faculdades do discípulo (Galino, 1981).

PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DA EDUCAÇÃO EM ROUSSEAU

Rousseau, um dos mais bem conceituados pensadores do Século XVIII, na sua


obra Emílio ou da Educação, propõe um projeto para a formação de um novo homem e de
uma nova sociedade, apresentando-nos os princípios gerais para uma educação de
qualidade. A sua influência, no campo educacional, deve-se assim a esta obra. Nela, trata
da educação de uma criança acompanhada de um preceptor que a auxiliará a ter uma
educação conforme a natureza, preservando-a da sociedade corruptora. Pois o autor
preconiza uma educação afastada do artificialismo das convenções sociais.

A proposta de Rousseau, de uma educação de acordo com a natureza, foi


considerada inovadora e revolucionária, pois ele se opõe a educação do seu tempo e a
formação humana em geral proposta pela educação de sua época. Dessa forma, apresenta
uma proposta que valoriza a liberdade, bem como o desenvolvimento das faculdades das
crianças. Deste modo, preconizando a educação conforme a natureza, Rousseau quer que o
homem seja educado para si mesmo. Assim ver-se-á necessidade de se repensar a
educação, considerando para tanto uma nova forma de compreender a infância, a
adolescência e a fase adulta. A partir disto chega-se aos diferentes modos de educar
segundo as diferentes etapas de formação humana, conforme o proposto por Rousseau.

A primeira destas etapas é a infância que, para Rousseau, é o período no qual


acontece o desenvolvimento físico do ser humano. Assim sendo, é neste período em que

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FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO
CURSO DE PEDAGOGIA

as faculdades naturas do indivíduo humano se desenvolverão, constituindo-se, pois, a sua


primeira formação.

A criança precisa de liberdade para viver e aproveitar cada fase da sua vida em seu
devido tempo e não ser considerada um adulto em miniatura.: “amai a infância, favorecei
as brincadeiras, seus prazeres, seu amável instinto” (ROUSSEAU, 2004, p.72). Isto por
ser a infância um período curto que não volta mais. Faz-se, então, necessário deixar que a
criança goze desse tempo valioso, porque, nesta idade, o sorriso está sempre nos lábios e
não se deve impor a vontade de um adulto sobre ela, já que a mesma tem maneiras
próprias de agir.

Assim, é preciso pensar seriamente no significado da infância, para que se


proporcione uma educação cujo processo será determinado pela natureza, dando atenção
às diversas fases do seu desenvolvimento. Pois não devemos impor os saberes dos homens
à criança; é preciso considerar cada um em seu lugar, ou seja, considerar o homem no
homem e a criança na criança, sabendo-se que ambos são diferentes e têm suas próprias
características.

Seguindo esta linha de entendimento, compreendemos que a educação é um processo


natural e não artificial. Portanto, a educação deve ser efetivada a partir do momento que se
respeite o desenvolvimento natural da criança e não forçá-la a aprender coisas de adultos
com uma educação bárbara voltada para um futuro incerto, deixando assim de viver o
presente. Ao invés disto, dar-se-á mais ênfase a uma educação de acordo com a natureza e
que valorize o presente. Isso nos diz Rousse, quando nos chama a atenção para o seguinte:
“Que mania a de um ser tão passageiro como o homem sempre olhar para longe, num
futuro que vem tão raramente, e desdenhar o presente de que tem certeza!” (ROUSSEAU,
2004, p.78). Partindo disso, entende-se que o homem deve valorizar o presente e não viver
sempre em busca de um futuro incerto, tornando-se tão longe de si mesmo, conduzido por
desejos supérfluos, isto é, necessidades imaginárias que farão o homem infeliz, não
mantendo ele o equilíbrio entre os seus desejos e suas capacidades de realizá-los.
De acordo com o exposto acima, Rousseau nos diz o seguinte: “É na desproporção
entre os nossos desejos e nossas faculdades que consiste a nossa miséria. Um ser sensível
cujas faculdades igualassem os desejos seria um ser absolutamente feliz” (Rousseau, 2004,
p.74). Pois a felicidade consiste no uso de sua liberdade e será feliz quanto mais puder
fazer o que necessita, não adquirindo excesso de desejos sobre suas faculdades. Ou seja,
quanto mais o homem permanece perto de sua condição natural mais se distancia dos
desejos supérfluos que os torna infeliz, por causar um desequilíbrio entre a potência e a
vontade.
30
FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO
CURSO DE PEDAGOGIA

É indispensável conservar a criança, ao máximo possível, numa educação de acordo


com a natureza e assim deixá-la viver o presente, evitando os vícios e os erros para que, ao
chegar aos doze anos, o seu entendimento em relação à razão seja sem preconceitos e sem
vícios. Assim o seu caráter se desenvolverá em liberdade, aproveitando cada minuto desse
tempo valiosíssimo. Pois, de acordo com Rousseau (2004, p.97) “A primeira educação
deve ser previamente negativa. Consiste não em ensinar as virtudes ou a verdade, mas em
proteger o coração contra o vício e o espírito contra o erro”. Por isso deve-se preparar a
criança desde os primeiros anos, para que seus primeiros olhares sejam impressionados
com objetos que lhe convém, e não gerar os erros e vícios. Pois a educação moral deve ser
consequência natural do desenvolvimento da criança.

É importante ressaltar que as lições devem consistir mais em atos do que em


palavras. Não se deve aplicar às crianças o castigo como castigo, mas devemos fazer com
que sintam as consequências naturais de sua má ação. Diante de tal contexto, Rousseau
afirma que “O primeiro de todos os bens não é a autoridade, mas a liberdade. O homem
verdadeiramente livre só quer o que pode e faz o que lhe agrada” (ROUSSEAU, 2004,
P.81). Portanto, um homem livre é um homem que tem autonomia em suas decisões, e não
necessita de outras pessoas para fazer as coisas no seu lugar. Pois a felicidade consiste no
uso de sua liberdade, será feliz quanto mais poder fazer o que necessita. E assim aprende
pelos seus atos e não porque alguém o obriga a fazer. Com isso, tornará as crianças mais
livres e menos dependentes dos adultos. Assim, elas se acostumam desde cedo a pôr sob a
dependência seus desejos e suas forças. A

É necessário educarmos o homem desde o nascimento, para que lhe seja garantida a
preservação de todas suas inclinações naturais, até que construa a sua formação física e
moral durante a infância e a adolescência, quando passa a adquirir as qualidades que
permitem inserir-se na sociedade, abrindo espaço para a construção da sua cidadania.
A adolescência, conforme Rousseau, é um período de modificações, um novo
nascimento que remete o indivíduo a um processo de aprendizagem em direção a
autonomia da vida adulta.

No período que vai dos doze aos treze anos, próximo à adolescência, a criança, por
não ter todas as suas necessidades desenvolvidas, as suas forças são superiores. Pois, “aos
doze ou treze anos, as forças da criança desenvolvem-se bem mais rapidamente do que
suas necessidades” (ROUSSEAU, 2004, p.211). Neste período, o progresso da força
ultrapassa o das necessidades. Assim, podendo mais do que deseja, será um ser muito
forte.
31
FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO
CURSO DE PEDAGOGIA

De acordo com Rousseau, a fraqueza do homem decorre da desigualdade existente


entre a sua força e seus desejos. Nesse sentido, entende-se que, se diminuirmos os desejos,
teremos capacidades suficientes para satisfazer o que nos é necessário, como também
seremos felizes. Pois são as necessidades imaginárias que tornam o homem infeliz.

É importante mencionar que as paixões, que dominam e destroem o homem, não


provem da natureza; o indivíduo é quem se apropria delas, tornando-se, assim, infeliz, pois
a única que nasce com o homem é o amor de si, as outras são modificações. Nesse sentido,
Rousseau afirma: “Fiz ver que a única paixão que nasce com o homem, o saber, o amor de
si, é uma paixão em si mesma indiferente ao bem e ao mal, que se torna boa ou má a não
ser por acidente e segundo as circunstâncias nas quais se desenvolve”. (ROUSSEAU in
FORTES, 1989, p. 12). Pensando assim, compreendemos que, na natureza, tudo é correto:
o homem é quem modifica tudo. Pois a fonte de nossas paixões é natural; as outras são
modificações que se aglutinam a esta fonte natural.

A educação de quinze a vinte anos, ou melhor, a adolescência é o período em que se


educa o coração para a vida em comum e para as relações sociais. Neste período, deve-se
encontrar meios de satisfazer o indivíduo, colocando-o ao seu alcance o que ele deve
aprender para aquisição de sua formação moral, o que preparará para a vida adulta. Pois é
o período de preparar o indivíduo moralmente para as suas relações com a humanidade.
Partindo disso, é fundamental mencionar a importância do princípio da utilidade,
conforme nos diz o próprio Rousseau (2004, p. 234):

Assim que chegamos a dar ao nosso aluno uma ideia da palavra útil, temos mais um
grande meio para educá-lo, pois essa palavra o impressiona muito, dado que tem para ele
apenas um sentido relativo à sua idade e que ele vê claramente a sua relação com o seu
bem-estar atual.

Pensando assim, cabe ao preceptor colocar ao alcance do aluno o que ele deve
aprender e fornecer meios de satisfazê-lo; como também é papel do educando procurar
desejar e encontrar o que lhe é útil e conseguir conhecer a si mesmo para compreender em
que consiste o seu bem-estar.

O ser humano deve formar sua personalidade de forma a ser um homem natural que
se satisfaz, tendo assim opinião própria e buscando se conhecer cada vez mais e não
satisfazer apenas as outras pessoas. Pois o período que constitui a adolescência é um
estado turbulento de mudanças.
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FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO
CURSO DE PEDAGOGIA

A adolescência é o período em que surgem as primeiras manifestações da


consciência e dos primeiros sentimentos de amor e ódio, como também é o período da
educação religiosa, que, segundo Rousseau, não deve ser imposta ao indivíduo, isto é, não
deve ser imposta a religião que ele deve seguir, mas o que se deve fazer é colocá-lo em
condições de escolher a sua própria religião e que, na sua escolha, seja conduzido pelo
melhor emprego da razão. Assim terá autonomia para escolher, princípio fundamental para
que, ao chegar à fase adulta, possa fazer as suas próprias escolhas. 

A última etapa da formação humana é a fase adulta. Nesta, segundo Rousseau, se


efetiva a educação do ser moral e, na qual, se dá o direcionamento do indivíduo à vida
sócio e política do Estado.

Assim, na fase adulta, a educação está voltada mais para a formação intelectual,
estética e moral, como também é importante ter conservado os bons hábitos da infância. A
esse respeito, Rousseau (2004, p. 636) diz o seguinte: “Se quiserdes prolongar pela vida
inteira o feito de uma boa educação, conservai ao longo da juventude os bons hábitos da
infância, e, quando nosso aluno for o que deve ser, fazei com que seja o mesmo em todos
os tempos; eis a última perfeição que vos está dar à vossa obra”. Portanto, para se alcançar
uma boa educação, faz-se necessário preservar os hábitos da infância, pois não é porque se
tornou adulto que excluirá estes hábitos de quando criança; ao contrário, deve-se mantê-
los.

Para Rousseau, é também na fase adulta que se enfatizam as diferenças entre o


homem e a mulher. Estas diferenças, segundo ele, pertencem ao sexo. Pois considera que,
de acordo com a lei da natureza, a mulher foi feita para agradar ao homem e que ela deve
ser conforme a constituição de sua espécie e de seu sexo, ou seja, deve usufruir os seus
direitos e não se apossar dos direitos dos homens. A esse respeito, Rousseau afirma que
“A mulher vale mais como mulher e menos como homem; em toda parte onde faz valer
seus direitos, leva vantagem, em toda parte onde quer usurpar os nossos, permanece
inferior a nós”. (ROUSSEAU, 2004, p. 525). Com isso, compreendemos que a mulher
deve cultivar suas qualidades, pois terá mais vantagens do que se apropriar das qualidades
dos homens, como também ocupará o seu lugar na ordem física e moral.

Mas, independentemente do sexo, é importante desenvolver bem a razão para que o


indivíduo possa ter suas próprias opiniões, decidindo por si mesmo o que é melhor para si
próprio, pois, até a idade em que a razão não está formada, o que é bom ou mal é decidido
pelas pessoas que o rodeiam. Por isso, faz-se necessário proporcionar uma educação que, o
ser humano, ao ser educado intelectualmente, não seja persuadido pelas pessoas que
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FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO
CURSO DE PEDAGOGIA

querem impor à forma dele se comportar. Com isso observamos a importância de educar o
homem conforme a natureza, para que ele tenha a educação que lhe convém.

Assim, o indivíduo, nesta fase adulta, deve estar preparado para cumprir as suas funções
de homem, ou melhor, ser capaz de viver em liberdade, sem que fique dependente dos
homens, comprometendo sua felicidade.

DESCARTES E A EDUCAÇÃO

Esta reflexão partirá da análise da primeira parte do Discurso do Método (1637), de


Descartes, a fim de se pensar a educação a partir da ótica filosófica. 

A contribuição filosófica de Descartes para a educação centra-se na proposta do


método sem o qual a mente não se organiza para processar o conhecimento seguro. Para ele, a
razão é igual em todos os homens. A razão é o bom senso, e todos devem desejar possui-la,
pois representa o poder de julgar de forma correta e discernir entre o verdadeiro e o falso.

Mas, sendo assim, de onde se origina a diversidade de opiniões? Seria do fato de que
alguns serem mais racionais do que outros? Para Descartes, a diversidade de opiniões decorre
do direcionamento do pensamento e por não serem consideradas as mesmas coisas por todos,
indistintamente. Não haveria, a princípio, pessoas mais racionais que outras. Pois, seria
insuficiente ter o espírito bom, o importante seria aplicá-lo bem, se continuasse pelo caminho
reto (método), mesmo avançando devagar, sem desistir, poderiam avançar bem mais do que
aqueles que não persistiram. 

Foi na juventude que Descartes sentiu a necessidade de um método pelo qual


conseguiria argumentar de forma gradativa o seu conhecimento, que o levaria a considerações
e máximas, e que poderia elevá-lo, pouco a pouco, ao mais alto nível que o seu espírito e a
breve duração de sua vida lhe permitisse alcançar. 

Desde muito cedo Descartes foi instruído nas letras. Estava convencido de que, por
intermédio delas, poder-se-ia adquirir um conhecimento claro e seguro de tudo o que é útil na
vida. Porém, assim que terminou os estudos, mudou radicalmente de opinião pelo fato de
estar embaraçado em inúmeras dúvidas e erros, o que, pensava, não seria próprio ocorrer após
ter recebido instruções. Constatou que quanto mais tentava se instruir, descobria cada vez
mais a sua ignorância, apesar de ter estudado numa das mais célebres escolas da Europa, onde
imaginava que devia haver homens sábios, se é que havia em algum lugar da Terra. 

Porém, isso não o desestimulava a deixar de apreciar os exercícios com os quais se


ocupam nas escolas, pois tinha convicção da necessidade e do valor que representavam para a
sua personalidade ávida por conhecimentos. Pois, sabia que: “as línguas que nelas se
aprendem são necessárias ao entendimento dos livros antigos; que a gentileza das fábulas
estimula o espírito; que as realizações notáveis das histórias o fazem crescer, e que, sendo
lidas com discrição, ajudam a formar o juízo; que a leitura de todos os bons livros é igual a
uma conversação com as pessoas mais qualificadas dos séculos passados, que foram seus
autores, e até uma conversação premeditada, na qual eles nos revelam apenas seus melhores

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FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO
CURSO DE PEDAGOGIA

pensamentos; que a eloquência possui forças e belezas incomparáveis; que a poesia tem
delicadezas e ternuras deveras encantadoras; que as matemáticas têm invenções bastante sutis,
e que podem servir muito, tanto para satisfazer os curiosos quanto para facilitar todas as artes
e reduzir o trabalho dos homens; que os escritos que tratam dos costumes contêm muitos
ensinamentos e muitos estímulos à virtude que são muito úteis; que a teologia ensina a ganhar
o céu; que a filosofia ensina a falar com coerência de todas as coisas e de se fazer admirar
pelos que possuem menos erudição; que a jurisprudência, a medicina e as outras ciências
proporcionam honras e riquezas àqueles que as cultivam; e, enfim, que é bom havê-las
examinado a todas, até mesmo as mais eivadas de superstição e as mais falsas, a fim de
conhecer-lhes o exato valor e evitar ser por elas enganado” (DESCARTES. 1999. p. 38).

Com isso, Descartes não abria mão das formas possíveis de conhecer a realidade. Uma
dessas formas merece destaque: a conversação com as pessoas mais qualificadas do passado,
que se estabelece com a leitura de bons livros. 
Julgava já ter gasto bastante tempo com as línguas, como também com a leitura de livros
antigos, com histórias e fábulas. Entendia que o ato de viajar seria quase a mesma coisa que
conversar com os homens de outros séculos para saber alguma coisa dos hábitos de diferentes
povos. Assim, seria possível julgar os próprios hábitos mais justamente, a fim de não pensar
que tudo quanto é diferente dos próprios costumes seria ridículo e contrário à razão, como
muitos fazem sem conhecer. 

Alerta para o fato de se voltar exclusivamente ao passado e esquecer o presente como


também a constante ausência da terra em que se vive: “quando gastamos excessivo tempo em
viajar, acabamos tornando-nos estrangeiros em nossa própria terra; e quando somos
excessivamente curiosos das coisas que se realizavam nos séculos passados, ficamos
geralmente muito ignorantes das que se realizam no presente” (DESCARTES. 1999. p. 39).

Nesse sentido, a educação deve fazer a equalização entre o passado e o presente para
nortear o futuro. E mais, deve dar vazão à cultura que está próxima, sem afastar a
possibilidade de conhecer a de outros povos. 

Quando se desvencilhou de seus preceptores pela idade, abandona totalmente o estudo


das letras. Decide a não procurar outra ciência além daquela que poderia encontrar em si
mesmo, ou no grande livro do mundo, aproveitando a juventude que lhe restava para viajar.
Conhecer cortes e exércitos, frequentar pessoas de diferentes humores e condições, fazer
variadas experiências, pôr-se à prova nos reencontros que o destino lhe propunha, e, por toda
parte, refletir a respeito das coisas que lhe apresentavam, a fim de tirar proveito delas. Essas
experiências seriam de suma importância para o que buscava: o desejo de aprender a
diferenciar o verdadeiro do falso, para ver claramente as suas ações e caminhar com
segurança na vida. 

Contudo, em verdade, ao limitar-se a observar os costumes dos outros homens, pouco


encontrava que lhe satisfizesse, pois percebia neles tanta diversidade como a que notara
anteriormente entre as opiniões dos filósofos. O maior proveito que tirou disso, foi que, vendo
uma quantidade de coisas que, apesar de lhe parecerem muito extravagantes e ridículas, são
comumente recebidas e aprovadas por outros grandes povos. Isso o leva a concluir outra face
de seu método: a não acreditar com demasiada convicção em nada do que seja inculcado só
pelo exemplo e pelo hábito. Dessa maneira, acredita ter se livrado, pouco a pouco, de muitos
enganos que ofuscam a razão e nos torna menos capazes de ouvir a razão. 

35
FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO
CURSO DE PEDAGOGIA

Após dedicar-se por alguns anos em estudar assim o livro do mundo, e procurar
adquirir alguma experiência, tomou um dia a decisão de estudar também a si próprio e de
empregar todas as forças de seu espírito na escolha dos caminhos que iria seguir. E, isso,
garante Descartes, trouxe-lhe muito melhor resultado do que se nunca tivesse se distanciado
de seu país e de seus livros. 

Descartes não tinha o propósito de ensinar o método que cada qual devesse seguir para
bem conduzir sua razão, mas somente mostrar de que modo se esforçou para conduzir sua
vida. Para ele, os que se aventuram a fornecer normas devem considerar-se mais hábeis do
que aqueles a quem as dão; e, se falham na menor coisa, são por isso censuráveis. Mas, não
tendo proposto o que foi escrito senão como uma história, ou, se preferissem, como uma
fábula, na qual, entre alguns exemplos que se pudessem imitar, encontrar-se-iam talvez
muitos outros que se teriam razão de não seguir, esperava que fosse útil a alguns, sem ser
danoso a ninguém, e que todos a final seriam gratos pela sua franqueza. 

Em conclusão, embora não fosse a intenção de Descartes em dar contribuições efetivas


para a educação, a forma que pautou a sua vida e o relato dessa experiência acabou por não só
alertar à humanidade sobre a necessidade do método como também legar um método (método
cartesiano) como caminho seguro para a produção de conhecimentos seguros. O método
cartesiano partia da premissa “duvidar de tudo” e tinha quatro regras principais: (i) só aceitar
como verdadeiro o que está claro e não suscita dúvidas; (ii) dividir cada problema em tantas
partes quantas forem necessárias; (iii) analisar cada parte com clareza e plenamente,
acrescentando-a ao conhecimento do todo; (iv) não deixar de levar em conta nada que possa
ser fonte de erro. 

Em grande parte devido a esse método, que enfatizava como sabemos o que sabemos e não o
que é possível saber, geralmente se diz que a filosofia moderna começou com Descartes. 

ANÍSIO TEIXEIRA, O INVENTOR DA ESCOLA PÚBLICA NO BRASIL

O educador que propôs e executou medidas para democratizar o ensino brasileiro e


defendeu a experiência do aluno como base do aprendizado.

Considerado o principal idealizador das grandes mudanças que marcaram a educação


brasileira no século 20, Anísio Teixeira (1900-1971) foi pioneiro na implantação de escolas
públicas de todos os níveis, que refletiam seu objetivo de oferecer educação gratuita para
todos. Como teórico da educação, Anísio não se preocupava em defender apenas suas ideias.
Muitas delas eram inspiradas na filosofia de John Dewey (1852-1952), de quem foi aluno ao
fazer um curso de pós-graduação nos Estados Unidos.

Dewey considerava a educação uma constante reconstrução da experiência. Foi esse


pragmatismo, observa a professora Maria Cristina Leal, da Universidade do Estado do Rio de
Janeiro, que impulsionou Anísio a se projetar para além do papel de gestor das reformas
educacionais e atuar também como filósofo da educação. A marca do pensador Anísio era
36
FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO
CURSO DE PEDAGOGIA

uma atitude de inquietação permanente diante dos fatos, considerando a verdade não como
algo definitivo, mas que se busca continuamente. 

Para o pragmatismo, o mundo em transformação requer um novo tipo de homem


consciente e bem preparado para resolver seus próprios problemas acompanhando a tríplice
revolução da vida atual: intelectual, pelo incremento das ciências; industrial, pela tecnologia;
e social, pela democracia. Essa concepção exige, segundo Anísio, "uma educação em
mudança permanente, em permanente reconstrução".

Anísio Teixeira aderiu rapidamente às ideias de democracia e de ciência, que


apontavam a educação como o canal capaz de gerar as transformações necessárias para a
realidade brasileira e sua modernização. Dizia ele: "Como a escola visa a formar o homem
para o modo de vida democrático, toda ela deve procurar, desde o início, mostrar que o
indivíduo, em si e por si, é somente necessidades e impotências; que só existe em função dos
outros e por causa dos outros; que a sua ação é sempre uma transação com as coisas e pessoas e
que saber é um conjunto de conceitos e operações destinados a atender àquelas necessidades,
pela manipulação acertada e adequada das coisas e pela cooperação com os outros no trabalho
que, hoje é sempre de grupo, cada um dependendo de todos e todos dependendo de cada um".

Ele acreditava que as modificações da sociedade brasileira precisavam modificar o


homem também e esse papel deveria ser da escola que daria a esse "novo homem" uma visão
democrática da vida. "Fácil demonstrar como todos os pressupostos em que a escola se
baseava foram alterados pela nova ordem de coisas e pelo novo espírito de nossa civilização",
costumava se referir ao novo estado das coisas que deveria estar associado às transformações
materiais, mudança da escola e consequentemente do homem que dela participava.

Anísio teve como base para sua proposta de educação o escolanovismo ou Escola
Nova, surgido em fins do século XIX, na Europa e no EUA. O movimento teve como base a
oposição aos métodos tradicionais de ensino em prol do movimento educacional renovador.
Na época, no Brasil, havia uma falha da capacidade de os intelectuais desenvolverem um
programa ou um ideal próprio e John Dewey dá essa base referindo-se ao respeito às
características individuais das pessoas fazendo-as, assim, ser parte integrante e participante da
sociedade.

A ideia deweyana era de que o sujeito com liberdade daria maior contribuição ao
coletivo e foi aplicada assim aqui no Brasil. E Anísio foi um de seus maiores seguidores. Para
ele a escola deveria ser o agente da contínua transformação e reconstrução social,
colaboradora da constante reflexão e revisão social frente à dinâmica e mobilidade de uma
sociedade democrática: "o conceito social de educação significa que, cuide a escola de
interesses vocacionais ou interesses especiais de qualquer sorte, ela não será educativa se não
utilizar esses interesses como meios para a participação em todos os interesses da sociedade...
Cultura ou utilitarismo serão ideais educativos quando constituírem processo para uma plena
e generosa participação na vida social".

37
FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO
CURSO DE PEDAGOGIA

Para o educador o conhecimento das diferentes realidades escolares poderia dar início
a uma sociedade mais justa e igualitária. E diante disso a figura do professor contribuiria de
forma definitiva, pois formava o homem e permitiria sua relação com o mundo. Anísio foi
responsável, em 1961, por uma grande inovação quando formou a "Escola Parque", em
Salvador - escola-modelo onde as crianças, durante o dia todo, estudavam e aprendiam
ofícios, faziam dança, desenho, pintura, escultura, teatro, cinema, esporte, música etc. Ele
iniciou nesta escola o método de alfabetização de Iracema Meireles que ensina as crianças a
ler por meio de suas próprias atividades lúdicas e criadoras.

Sem os homens públicos que façam a máquina andar não há como expandir os
pensamentos modernos aos seus alvos (aqui de educador a educando). A diferença entre
Anísio Teixeira e Paulo Freire é que o primeiro era progressista enquanto o segundo liberal,
mas ambos lutaram para melhoria da educação. Anísio era um cientificista - pertencente à
concepção filosófica de matriz positivista que afirma a superioridade da ciência sobre todas as
outras formas de compreensão humana da realidade (religião, filosofia metafísica etc.), por ser
a única capaz de apresentar benefícios práticos e alcançar autêntico rigor cognitivo.

Apesar de ser um profissional público que ajudava a gerar a máquina para mover a
educação achava que jamais administração escolar poderia ser equiparada à administração de
empresa. Em educação o alvo supremo é o educando, a que tudo mais está subordinado; na
empresa, o alvo supremo é o produto material, a que tudo mais está subordinado.

Reforma do ensino de 1968 foi baseada na experiência da Universidade de Brasília


(UnB), que apesar de uma invasão militar na época da ditadura conseguiu servir de exemplo
para que outras universidades fossem moldadas. Previu ele, com esperança: "A universidade
será assim um centro de saber, destinado a aumentar o conhecimento humano, um noviciado
de cultura capaz de alargar a mente e amadurecer a imaginação dos jovens para a aventura do
conhecimento, uma escola de formação de profissionais e o instrumento mais amplo e mais
profundo de elaboração e transmissão da cultura comum brasileira. Estas são as ambições da
universidade. Profundamente nacional, mas intimamente ligada, por esse amplo conceito de
suas finalidades, às universidades de todo o mundo, à grande fraternidade internacional do
conhecimento e do saber".

Por tudo isso Anísio Teixeira se transformou em bem mais do que o nome de um
pavilhão da Unb e ganhou notoriedade de um lutador em defesa dos valores democráticos
para a educação dos brasileiros independentemente de raça, condição financeira ou credo.
Uma educação em escola pública da melhor qualidade para todos. E para a concretização
desses valores foi importante que ocupasse os cargos que ocupou onde defendeu a escola
pública, leiga, universal, gratuita e ótima para todas as crianças brasileiras. Anísio sonhou e
no seu sonho viu uma escola eficiente para o povo brasileiro.

A INFLUÊNCIA DE MARX NA EDUCAÇÃO

38
FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO
CURSO DE PEDAGOGIA

Marx acreditava que a educação era parte da superestrutura de controle usada pelas
classes dominantes. Por isso, ao aceitar as ideias passadas pela escola à classe dos
trabalhadores (que Marx denominava classe proletária) cria uma falsa consciência, que a
impede de perceber os interesses de sua classe. Assim, Marx concebia uma educação
socializada e igualitária a todos os cidadãos. 

Versar sobre os paradigmas e suas contribuições para o processo educacional, não é


um trabalho fácil, exige a localização da relação sujeito-objeto como um eixo central. A
história da filosofia tem demonstrado ser esta preocupação e é um dos principais problemas
da filosofia. Assim, compreender a relação sujeito-objeto é compreender como o ser humano
se relaciona com o ambiente, com a natureza, em suma, com a vida (Gramsci, 1991). 

Marx não via com bons olhos uma educação oferecida pelo Estado-Nação burguês,
capitalista, basicamente por desacreditar no currículo que ela traria e na forma como seria
ensinado. Mesmo que tenha defendido a educação compulsória em 1869, Marx opunha-se a
qualquer currículo baseado em distinções de classe. Defendia a educação técnica e industrial,
mas não um vocacionalismo estreito, essas ideias tiveram um impacto posterior na educação,
especialmente no que diz respeito à educação tecnológica. 

Para Ghiraldelli Junior (2003), as ideias de Marx, conta-se tipicamente, a percepção do


mundo social pela categoria de classes, definida pelas relações com os processos econômicos
e produtivos, a crença no desenvolvimento da sociedade além da fase capitalista através de
uma revolução do proletariado. Na prática, o marxismo é um comprometimento com as
classes exploradas e oprimidas, e com a revolução que deverá melhorar sua situação. 

Um ponto forte do marxismo [1] como filosofia é que ela fornece uma visão da
transformação social e promove uma visão da ação humana determinada a levar adiante essa
transformação. Ela retrata um mundo onde as coisas não são fixas e luta por mudança. Por
essas características, o marxismo, muitas vezes, tem um apelo àqueles que se vêem como
oprimidos. Além disso, enfatiza um ideal de poder social para as classes menos favorecidas,
dessa forma, têm um forte elo para aqueles que vivem sob regimes ou em circunstâncias que
demonstram pouca preocupação com a classe mais pobre. 

No Brasil as obras de Marx começaram a ser mais divulgada depois da fundação do


Partido Comunista do Brasil, isto é, a partir de 1930. Ainda nesta época o educador Paschoal
Lemme considerado marxista, publica um trabalho sobre o ensino dos adultos e organiza
cursos para operários no Distrito Federal. 

Neste documento pode ser visto algumas características do marxismo que o


influenciava. Contudo, Lemme (1988:213), “argumentou que só algum tempo mais tarde,
principalmente, a partir de 1933, influenciado pelos acontecimentos político-sociais que
vinham se desenrolando no mundo e no país, é que se interessou mais de perto pelo estudo
dessas questões, ou seja, as obras de Marx”. Vale salientar, os pressupostos do pensamento
neoliberal estão povoando a educação nacional e disputam uma nova configuração
educacional, especialmente no que diz respeito às políticas de formação profissional. 

Todavia, todo e qualquer processo relacionado com a educação é lento, o que induz a
persistência e luta dos ideais, pois somente então poderá haver a concretização do saber

39
FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO
CURSO DE PEDAGOGIA

teórico com a prática, o que será motivo de muitas contradições e ao mesmo tempo de
aprendizagem, e isto, têm início em cada um de nós. 

Antigamente, a educação existia principalmente para a sobrevivência. As crianças


aprendiam as habilidades necessárias para viver. Gradualmente, entretanto, as pessoas
passaram a usar a educação para uma grande variedade de funções. 

Hoje em dia, a educação ainda pode ser usada para sobrevivência, mas também ajuda
proporcionar um melhor uso do tempo dando maior refinamento à vida social e cultural. O
homem depende da educação e ela está presente no seu cotidiano. Porém, existem diferentes
concepções de educação e diferentes modelos. Sua prática vai além da escola e abrange desde
sociedades primitivas até as sociedades mais desenvolvidas e industrializadas. 

Assim como a prática da educação desenvolveu-se, as teorias da educação seguiram o


mesmo caminho, no entanto, tornou-se fácil não vermos a conexão entre a teoria filosófica e a
prática educacional bem como lidar como a prática separada da teoria. 

Para Ozmon e Craver (2004), a filosofia da educação começou quando as pessoas se


tornaram conscientes da educação como uma atividade humana diferenciada. As sociedades
pré-alfabetizadas não tinham os objetivos em longo prazo e os sistemas sociais complexos dos
tempos modernos nem possuíam as ferramentas analíticas dos filósofos modernos, mas
mesmo a educação da pré-alfabetização envolvia uma atitude filosófica com relação à vida.
Em essência a filosofia da educação é aplicação de princípios fundamentais da filosofia à
teoria e ao trabalho da educação. 

Para Enguita (2004), um dos debates mais insistentes e repetidos em torno da


instituição escolar, sempre foi à questão de evidenciar o seu papel, que era reprodutor ou
transformador, isto é, se contribuía para conservar a sociedade ou mudá-la. Até certo ponto,
era trivial, pois, por um lado nenhuma sociedade poderia substituir sem formar seus membros
em certos valores, habilidades, etc. e, por isso, toda educação é reprodutora; mas ao mesmo
tempo, nenhuma sociedade atual seria, sem a escola, o mesmo que chegou a ser com ela, e,
por isso, toda educação é transformadora. 

Pela educação o ser humano aprende como se criam e recriam as invenções de uma
cultura em uma sociedade. Cada povo, cada cultura, apresenta sua educação. Ela pode ser
imposta por um sistema centralizado de poder ou existe de forma livre entre os grupos. Pela
educação se pensa tipos de homens, pois ela existe no imaginário das pessoas e na ideologia
dos grupos sociais, cuja missão é transformar sujeitos e mundos em algo melhor a partir da
imagem que se tem uns dos outros (Brandão, 1984). 

A educação tende a ser considerada como elemento conservador da sociedade, mas


por ser um instrumento formador e de expressividade em qualquer tipo de sociedade, não
pode e nem deve ser vista dentro de limites fechados, analisada independentemente do
contexto sócio-político e econômico em que vive tal sociedade. Deve ser encarada como parte
integrante e necessária de um sistema, já que é usada de acordo com seus interesses. 

Podemos dizer que a educação é um reflexo da política adotada em um país e do


interesse desse país em coordená-la, é um dos maiores instrumentos de dominação em massa

40
FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO
CURSO DE PEDAGOGIA

dentro de um sistema, perdendo apenas para a mídia que é acessada por muito mais pessoas
do que o sistema educativo. 

Neste contexto, Delors (2004:82) lembra:

Um dos principais papéis reservados à educação consiste antes de tudo, dotar a


humanidade de capacidade de dominar o seu próprio desenvolvimento. Ela deve, de fato,
fazer com que cada um tome o seu destino nas mãos e contribua para o progresso da
sociedade em que vive, baseando o desenvolvimento na participação responsável dos
indivíduos e das comunidades.

Reinventar a educação é urgente além de que é preciso dessacralizá-la para se crer nela
e acreditar ainda que, diferentes tipos de homem criam diferentes tipos de educação. Mais do
que poder, a educação atribui compromissos entre as pessoas, a educação da comunidade, da
escola, a oposição entre a educação-de-educar e a educação-de-instruir, a passagem da
aprendizagem coletiva para o ensino particular, o controle do Estado, faz lembrar a educação
grega. 

Em todas as classes se cria e recria uma cultura de classe e formas de educação do


povo. A cultura popular faz parte de sistemas populares de vida e de representação da vida, e
tem uma lógica e densidade dentro da própria sociedade. 

Para promover educação para uma sociedade em mudança, é necessário saber que se
educa para a mudança, como parte e resultado dela. Educa-se não só para que o indivíduo
desempenhe melhores os mesmos e antigos papéis, mas, sobretudo, para que se desempenhem
novos papéis em uma sociedade que se renova, tornando os indivíduos os próprios fatores
conscientes da renovação social e para que se saiba que um processo de mudança social exige
a mudança da estrutura social, para que assim se possa atender às novas e crescentes
exigências do homem numa sociedade emergente. 

Neste sentido, Brzezinski, (apud Libâneo, 1998:32) assim assinala:

Presente em novas realidades econômicas e sociais, especialmente os avanços


tecnológicos na comunicação e informação, novos sistemas produtivos e novos paradigmas do
conhecimento, impõem-se novas exigências sobre a qualidade da educação e, por
consequência, sobre a formação dos educadores.

Estamos diante de produtos inovadores e de grande impacto social, agora entram em


cena o computador aliado à Internet e taxado como “máquinas de ensinar”, que trazem uma
superinformação contraditória, a desinformação de uma grande parte da população que não
possui acesso a esses instrumentos tecnológicos e nem ao menos a simples leitura e escrita
para uso crítico. 

Como entender que nunca a humanidade teve tanta capacidade científica e técnica para
satisfazer as necessidades humanas e chegamos ao novo século com mais da metade da
população excluída? Da mesma forma, a escola não tem recursos para utilizar-se desses meios
inovadores na educação para trabalhar com as exigências da atual sociedade. 

41
FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO
CURSO DE PEDAGOGIA

Todavia, o projeto moderno de educação é otimista sobre as possibilidades da natureza


humana e também o é do ponto de vista histórico, porque contribui para a libertação exterior
do homem e da mulher em relação aos poderes que os fazem menores de idade, situando o
indivíduo na sociedade e no mundo, dependendo do que ele faz e constrói. 

A educação ligou-se estreitamente à esperança da libertação social daqueles que


obtivessem frutos que a educação promete, configurando uma sociedade aberta e móvel, na
qual a hierarquia estabelecida em relação ao binômio educação-profissão substitui as
hierarquias devidas à origem social (Imbernón, 1999). 

Sabe-se que a prática de ensino e de aprendizagem não muda como um decreto. As


mudanças exigidas passarão por uma espécie de revolução cultural, que será vivida pelos
professores e só então poderão ser repassadas aos alunos. É inegável que o professor deve ser
um profissional competente e compromissado com seu trabalho, com visão de conjunto do
processo de trabalho escolar. Deseja-se um profissional capaz de pensar, planejar e executar o
seu trabalho e não mais aquele ser habilidoso para executar o que os outros concebem. 

Os filósofos educacionais, independentes de sua teoria particular, sugerem que a solução para
os nossos problemas pode ser mais bem alcançada por meio de um pensamento crítico e
ponderado sobre a relação entre mudanças perturbadoras e as ideias resistentes (Ozmon e
Craver, 2004). 

A mudança é um processo que vai se construindo aos poucos, de acordo com o nível
de desenvolvimento de cada sociedade, como consequência das mudanças de maneiras para
suprir suas necessidades, o homem muda também os padrões de cultura no decorrer dos anos,
porém: “muda a sociedade e somente mais tarde muda a educação” (Libâneo, 1998:153). 

Lembrando que, a filosofia da educação, apenas se torna significativa quando os


educadores reconhecem a necessidade de pensar claramente sobre o que estão fazendo e de
ver o que estão fazendo em um contexto maior de desenvolvimento individual e social. Uma
vez que, o estudo da filosofia não garante que as pessoas serão melhores pensadores ou
educadores, mas propõe perspectivas válidas que nos ajudam a pensar de maneira mais clara. 

DESENVOLVIMENTO DE UMA CONSCIÊNCIA CRÍTICA DOS


PROBLEMAS EDUCACIONAIS

A busca por alternativas para o desafio de uma educação de qualidade tem sido
atualmente tema de muitas pesquisas no âmbito educacional. A prática de propostas
educacionais atuais destoa daquilo que habitualmente se refere como discurso de valorização
para uma educação completa e crítica. Há uma necessidade de ampliarmos o debate sobre
como dinamizar as potencialidades das instituições educacionais a fim de propor mudanças no
sistema educacional que se encontra fragmentado e ineficaz. Nossa investigação tem o foco a
reflexão sobre os objetivos educacionais da Pedagogia Progressista, refere-se às inquietações
de Paulo Freire e outros autores que elaboraram propostas de ensino que podem se tornar
parte da construção de uma educação com propósitos para uma formação mais completa aos
estudantes brasileiros do ensino médio.
42
FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO
CURSO DE PEDAGOGIA

Este texto traz algumas reflexões sobre os objetivos e metodologia da pedagogia


progressista a fim de compreender sobre a superação da visão fragmentada e tecnicista do
ensino. A consolidação da abordagem progressista é um desafio que deve ser transposto dia a
dia. “A passagem para um novo paradigma não é abrupta e nem radical. É um processo que
vai crescendo, se construindo e se legitimando” (BEHRENS, 2005, p.26).

O foco das nossas análises está na compreensão dos objetivos e metodologia da


proposta de Paulo Freire. Durante a nossa realização de estágio na disciplina de sociologia, no
contexto do ensino médio, observamos a necessidade de um paradigma educacional que
trouxesse significado para a aprendizagem, além da única preocupação em aprovação nos
vestibulares. O texto refere-se a um problema que é a dificuldade de inserção da Pedagogia
Progressista na atualidade do contexto do ensino. Para tal mediação, estabeleceram-se os
seguintes procedimentos metodológicos: Compreender a base teórica e o conceito da visão
progressista da educação, discutir sobre a relação professor-aluno na metodologia progressista
e propor uma discussão sobre os valores e aspectos da prática pedagógica no ensino médio
mediante tal proposta de educação.

A Pedagogia Progressista é no Brasil um paradigma educacional que propõe a


transformação social por meio da educação. Tal proposta, sintetizando, tem como cerne a
maneira como o indivíduo se propõe a explicar determinada realidade. Segundo Behrens
(2005), atualmente existem três propostas inovadoras que conduz os alunos a dialogarem
sobre as problemáticas de seu espaço social: o modelo sistêmico, o progressista e a pesquisa
de campo.

Os pressupostos da pedagogia progressista caminham no sentido de propiciar que o


aluno questione os conceitos transmitidos pelas instituições escolares. Essa problematização
dos temas sociais é fundamental para uma profunda e real transformação da educação
brasileira. Enfatiza-se que se quisermos que o país tenha uma educação de qualidade, cabe-
nos a tarefa de reafirmar a escola como um espaço de acesso a cultura elaborada, espaço de
produção cultural e intelectual.

No âmbito nacional, segundo Libâneo (1990) a metodologia progressista se


manifestou por meio de três pedagogias: a libertadora, mais conhecida como pedagogia de
Paulo Freire, a libertária, que reúne defensores da autogestão pedagógica e a crítico-social dos
conteúdos, que, diferentemente das anteriores, acentua a primazia dos conteúdos no seu
confronto com as realidades sociais. O enfoque de nossas análises consiste na pedagogia de
Paulo Freire, por ser considerada crítico-social, com influência transformadora na educação.

Os Pressupostos da Metodologia Progressista levam em consideração o indivíduo


como ser que constrói a sua própria história. Consiste em desenvolver atividades de ensino,
nas quais, o centro do processo não é o professor, mas o aluno que se torna sujeito de seu
aprendizado. Os interesses, os temas e as problemáticas do cotidiano do aluno, nesta
perspectiva, devem constituir os conteúdos do conhecimento escolar. O conhecimento deve ir
além da definição, classificação, descrição e estabelecimento de correlações dos fenômenos
da realidade social. Sendo assim, é uma das tarefas do educador explicitar as problemáticas
sociais concretas e contextualizá-las, de modo a desmontar pré-noções e preconceitos que
sempre dificultam o desenvolvimento da autonomia intelectual e de ações políticas
direcionadas para uma transformação social. O ensino deve ser encaminhado de modo que a

43
FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO
CURSO DE PEDAGOGIA

dialética dos fenômenos sociais seja explicada e entendida para além do senso comum, uma
síntese que favoreça a leitura das sociedades à luz do conhecimento científico.

Sob essa perspectiva, o professor atua como educador e também sujeito do processo,
estabelece uma relação horizontal com os alunos e busca no diálogo sua fonte empreendedora
na produção do conhecimento. O professor assume o papel de mediador entre o saber
elaborado e o conhecimento a ser produzido. É importante ensinar aos alunos que as
estruturas de um determinado espaço social variam de uma sociedade para outra e numa
mesma sociedade, pois ela reflete as condições econômicas, políticas, sociais e culturais das
sociedades em um determinado contexto, e ela está sempre em construção, por isto o cenário
ideal não existe em nenhuma parte do mundo (FREIRE, 2005).

Atualmente, como reflete Behrens (2005), o aluno adquire uma visão fragmentada não
somente da realidade, mas de si mesmo, dos valores e dos seus sentimentos. A tendência
acentuada nas escolas do ensino médio tem caminhado no sentido de serem cada vez mais
tecnicista, com a finalidade única e específica de preparação para os exames e avaliações do
sistema nacional, principalmente os vestibulares. Para Behrens: A visão fragmentada levou os
professores e os alunos a processos que se restringem à reprodução do conhecimento [...]. A
ênfase do processo pedagógico recai no produto, no resultado, na memorização do conteúdo,
restringindo-se em cumprir tarefas repetitivas que muitas vezes, não apresentam sentido ou
significado para quem as realiza (2005, p. 23).

Neste sentido Kuenzer (1999, p. 167) afirma que:

Essa pedagogia foi dando origem a propostas que ora se centraram nos conteúdos, ora
nas atividades, sem nunca contemplar uma relação entre aluno e conhecimento que
verdadeiramente integrasse conteúdo e método, de modo a propiciar o domínio intelectual das
práticas sociais e produtivas. Em decorrência, a seleção e a organização dos conteúdos sempre
tiveram por base uma concepção positivista de ciência, uma concepção de conhecimento
rigorosamente formalizada, linear e fragmentada, em que a cada objeto correspondia uma
especialidade, a qual, ao construir seu próprio campo, se automatizava, desvinculando-se das
demais e perdendo também o vínculo com as relações sociais e produtivas.

Isto ocorre porque o modo de organização tecnicista exige uma escola que articule
uma formação do aluno para o sistema produtivo. A sociedade capitalista com a emergência
de uma realidade orientada por uma lógica de mercado, passaram à escola e ao trabalho, a se
restringirem apenas às tarefas estanques, sem a consciência do processo social como um todo
e do produto de suas ações. Em contraposição a isto, um dos pressupostos da Pedagogia
Progressista é instigar uma busca pela reaproximação do todo, superando a fragmentação do
ensino e a simples reprodução do conhecimento, uma ação pedagógica que leve à produção do
conhecimento que busque a formação de um sujeito crítico e inovador. Para isso, o professor
deve questionar e induzir seus alunos à crítica da realidade circundante abrindo espaço para a
democratização do saber. Segundo Freire (1997, p.81): “Ensinar é a forma que toma o ato do
conhecimento que o(a) professor(a) necessariamente faz na busca de saber o que ensina para
provocar nos alunos o seu ato de conhecimento também”. Behrens (2005, p.74) complementa:
“[...] é pela atuação do professor na prática cognoscente que os educandos vão se tornando
sujeitos críticos”.

44
FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO
CURSO DE PEDAGOGIA

Paulo Freire (1992), em sua pedagogia libertadora, apresenta uma proposta de


humanização do professor como norteador do processo sócio-educativo, com o intuito de
construir uma consciência crítica com relação à realidade social vivida, que está
fundamentada em uma concepção de competição desmedida e desigual que refletem sob todas
as camadas sociais, mas, sobretudo, com as de baixa renda.

Freire (1992) constrói seu pensamento em favor de uma sociedade mais justa e
igualitária, de uma formação crítica e consciente aos estudantes. Em relação a isto, é
interessante observar a forma como ele constrói e articula suas ideias, nos perguntamos sobre
o que está sendo lido e simultaneamente nos questionamos com a realidade vivida. Consegue
condensar de forma simples e permeada de significados vários sentimentos de estranhamento
que se encontram nas mais diversas instituições de ensino, o autor enfatiza a necessidade de
uma reflexão crítica sobre a prática educativa, sem a qual a teoria pode se tornar apenas
discurso e a prática uma reprodução alienada, sem questionamentos. Sob esse viés, a teoria
deve ser adequada à prática cotidiana do professor, que passa a ser um modelo influenciador
de seus educandos. A prática da crítica deve estar ao lado da valorização das emoções.

O professor, para Freire (1997, p.15-18) deve ensinar a “pensar certo”, sendo a prática
educativa em si um testemunho rigoroso. Para Freire (1997, p.34), faz parte do pensar certo a
"[...] disponibilidade ao risco, a aceitação do novo e a utilização de um critério para a recusa
do velho", estando presente a rejeição a qualquer forma de discriminação. Destaca a
importância de propiciar condições aos educandos, em suas socializações com os outros e
com o professor, de testar a experiência de assumir-se como um ser histórico e social, que
pensa, que critica, que opina, que dialoga. Para isso, exige-se a necessidade dos educadores
criarem condições para a construção do conhecimento pelos educandos como parte de um
processo em que o professor e o aluno não se reduzam à condição de objeto um do outro,
porque ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria
produção ou a sua construção (FREIRE, 1997).

Nesse sentido, problematizar a realidade social vivida, por essência, é uma forma de
intervenção no mundo, uma tomada de posição e decisão, por vezes, até uma ruptura com o
passado e o presente. Em uma análise sociológica, o homem não pode apenas tentar se pôr no
lugar daquele que está falando e deste modo pensar e ver toda a complexidade do espaço
social a partir apenas deste ponto de vista. Não basta conhecer os fatos sociais formalmente, é
preciso entender as relações que regem determinada conjuntura, devemos ir para além das
aparências.

Freire (1997) ressalta o quanto um determinado gesto do educador pode repercutir na


vida de um aluno (afetividade e postura) e da necessidade de reflexão sobre o assunto, pois
para o autor, ensinar exige respeito aos saberes do educando. A construção de um
conhecimento em parceria com o educando depende da relevância que o educador dá ao
contexto social. O professor mais do que aquele que ensina é uma referência aos alunos, por
isto, ensinar e orientar são ideais que devem caminhar juntos na profissão. Sendo assim, não
somente as palavras utilizadas, mas também suas condutas têm influência direta e indireta na
relação estabelecida com seus alunos. Nas salas de aula são transmitido mais do que palavras:
são transmitidos valores e conteúdos que vão além do conhecimento mensurável.

Freire (1997) defende a necessidade de conhecimento e afetividade por parte do


educador para que este tenha liberdade, autoridade e competência no decorrer de sua prática

45
FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO
CURSO DE PEDAGOGIA

docente, acredita que a disciplina verdadeira não está no silêncio dos silenciados, mas no
alvoroço dos inquietos, o que implicaria na autoridade verdadeiramente democrática. Na visão
de Freire (1997), o educador deve exercer sua autoridade e sua liberdade. Liberdade esta que
deve ser vivida em sua totalidade com a autoridade em uma relação dialética, centrada em
experiências estimuladoras de decisão e responsabilidade.

Freire (1997), salienta que a educação tem a política como uma característica inerente
à sua natureza pedagógica, e alerta para a necessidade de nos precavermos dos discursos
ideológicos, dos quais a educação também faz parte, pois ameaçam confundir a curiosidade,
além de distorcer e fragmentar a leitura e interpretação dos fatos e acontecimentos. Isso não
significa que o educador deva apresentar postura neutra, pois é um ser histórico, político,
pensante, crítico e emotivo.

Um dos impulsos mais frequentes da prática social é a naturalização. No meio social


existe uma grande tendência de apresentarem os fatos sociais como eternos, imutáveis,
distantes e obrigatórios, que ofuscam a capacidade de refletir, de acreditar na mudança.
Também como resultado desse processo, tem-se o quadro da educação brasileira expresso de
contradições e exclusões. O capitalismo leva a sociedade a um consumismo para muito além
das necessidades e a uma alienação coletiva, ou seja, nos afasta daquilo que nos faz humanos.

O fracasso educacional deve-se a um conjunto de contradições dentre os quais, em


particular, caminha para técnicas de ensino ultrapassadas e sem conexão com o contexto
social e econômico do aluno, mantendo-se o status quo, haja vista que a escola ainda é um dos
mais importantes aparelhos ideológicos do Estado, e esse papel vem sendo muito bem
desenvolvido, tendo em vista que formamos indivíduos “acríticos” ao sistema vigente, pois
muito do que os indivíduos e as coletividades pensam, sentem, imaginam ou fazem relaciona-
se direta e indiretamente com a lógica do modo de produção capitalista desenvolvida em
âmbito local, nacional, regional e mundial. Como já apontava Marx; Engels (1989), que os
homens são produzidos, envoltos pelo modo de produção capitalista. Portanto, para Marx e
Engels (1989, p. 37) “[...] não é a consciência dos homens que determina o seu ser social; mas
o seu ser social é que determina sua consciência”.

Como eixo norteador de sua prática pedagógica, Freire (1992, p.38), defende que
"formar" é muito mais que formar o ser humano em suas destrezas, atentando para a
necessidade de formação ética dos educadores, conscientizando-os sobre a importância de
estimular os educandos a uma reflexão crítica da realidade vivida.

Destaca-se que na Pedagogia Progressista as temáticas de estudo são escolhidas


basicamente em duas fontes. Na Sociologia, por exemplo, uma primeira fonte é o cotidiano
dos alunos e suas problemáticas: violência, educação, mercado de trabalho, etc. Outra fonte é
constituída pelas temáticas que interessam aos estudantes tais como: indústria cultural,
diferenças raciais, consumismo, entre outros. Para isso, o professor deve atuar como
mediador. A Pedagogia Progressista dá primazia aos conteúdos, mas não se resume a eles. É o
seu ponto de partida, é de onde se definem os seus métodos. Sua metodologia é concebida a
partir da teoria do conhecimento marxista, pela dialética materialista, pelo movimento de
continuidade e ruptura. Parte-se da necessidade e aspirações dos alunos, de sua realidade, para
então realizar as rupturas, sair do imediato e chegar ao teórico, ao abstrato; e depois retornar
ao real com uma nova visão que possibilita uma nova ação sobre ele.

46
FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO
CURSO DE PEDAGOGIA

A pesquisa é geradora de questões novas e um tema bem elaborado contribuirá


significativamente para que os alunos se defrontem com os conhecimentos científicos como
instrumentos culturais para entendimento da realidade, relacionando a teoria sociológica com
o cotidiano. É sempre importante analisar práticas pedagógicas tradicionais e alternativas
debater sobre os limites e as possibilidades.

A colaboração entre educador e estudante em um sistema aberto e colaborativo em um


esforço de construção coletiva, coordenada e continuada tem como finalidade o
aprimoramento do ensino e a valorização da construção dos saberes coletivos, objetivado pela
possibilidade de interação e compartilhar informações (BEHRENS, 2005).

Para um professor realizar o trabalho dentro de uma sala de aula, ele precisa possuir o
conhecimento sobre o tema a ser trabalhado, selecionar bibliografias, preparar
antecipadamente as aulas e pensar método de ensino a ser aplicado. É fundamental a adoção
de múltiplos instrumentos metodológicos, os quais devem adequar-se aos objetivos
pretendidos, seja a exposição, a leitura e esclarecimento do significado dos conceitos e da
lógica dos textos, a análise, a discussão, a pesquisa de campo e bibliografia ou outros. É
importante que o professor não leve ao aluno uma interpretação fechada, e sim, os relatos, os
dados pertinentes para o conhecimento.

Os temas estão inseridos na realidade das pessoas, são oriundos de debates sociais.
Fazemos parte da história local, nacional e universal. O homem é estabelecido na relação
social, o conhecimento do aluno é uma vantagem, porém ele é limitado. A sociedade não se
opõe ao indivíduo, pelo contrário, ela existe subjetivamente no indivíduo, os próprios
professores constantemente reproduzem e reafirmam os preconceitos e estereótipos sobre a
sua profissão e atuação, reproduzem uma realidade que aparentemente se nega (FREIRE,
1981, p. 15-25).

Ao pensar especificamente nos alunos, muitas vezes esses vêem de famílias carentes e
não possuem um referencial na família a respeito de uma sólida educação, o que não quer em
nenhum momento dizer que eles não tenham potencial, pelo contrário, muitas vezes precisam
apenas de oportunidades, que lhes são geralmente negadas. É evidente que nestes locais
surgem alunos que conseguem vencer nos vestibulares, porém este número é muito inferior ao
que se pode considerar como um índice satisfatório. Aliado a isto, as escolas são permeadas
de medidas burocráticas de todo o tipo, que inviabilizam uma alternativa ao ensino tecnicista,
ou a busca de novos métodos.

O pensamento de que as aulas tradicionais são tediosas e desnecessárias, se faz


presente entre a maioria dos alunos. O imediatismo presente no pensamento da maioria é
visivelmente exposto. Certa vez no nosso período de estágio num colégio estadual da região
central de Maringá/PR , em determinada aula expositiva, uma professora propôs um trabalho
sobre orientação vocacional, um aluno a questiona sobre o porquê do trabalho se o vestibular
já havia passado. Outra preocupação é de que o professor focalize somente o vestibular
deixando de lado reflexões sobre o espaço social vivido, mas se alunos e professores não
parecem estar preocupados nem com o vestibular, é possível supor que estas discussões são
ainda mais marginalizadas nas salas de aula.

47
FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO
CURSO DE PEDAGOGIA

Sendo assim, ao pensar na realidade dos alunos, para eles, diante do peso que é o
vestibular, é mais importante uma matéria que seja recorrente e caia nos exames, do que mais
uma nova experiência de ensino que pode dar certo ou não.

Porém, as instituições de ensino brasileiras não devem cair na armadilha de pautar o


vestibular como única referência de qualidade e eficiência em educação. O ensino não deve
ser pensado como mercadoria, serviço ou sinônimo de status.

Octávio Ianni (1985) estabelece que o problema preliminar que se coloca no trabalho
do professor é procurar mobilizar o conhecimento que o aluno já dispõe, e, ao mesmo tempo,
procurar levá-lo a novos horizontes. Seria uma ingenuidade acreditar que os alunos não sabem
nada sobre a realidade a qual pertence. Os meios de comunicação informam as pessoas dos
mais variados temas, apesar de muitas vezes reproduzirem o conhecimento do senso comum.
Além disso, os temas trabalhados pelos sociólogos muitas vezes fazem parte do universo
cotidiano de todos. O professor deve trabalhar fatos, dados e relações, sem pôr em questão
autoridades como famílias, crenças e religiões. Segundo Ianni (1985) “Precisa trabalhar a
partir do conteúdo da matéria e não colocar em questão essas autoridades, porque isso seria
evidentemente uma tarefa muito desigual e não é aí que está o problema”.

Como constatado, é desanimador o quadro atual da educação brasileira. A profissão do


professor está sendo bastante menosprezada no país. Mas é preciso continuar na luta
pedagógica. Como futuros sociólogos apontamos que um primeiro passo é problematizar os
fatos sociais, pois a partir do momento que refletimos e dialogamos sobre eles, muitas das
dificuldades enfrentadas na educação, podem sair do plano da constatação. Se nos calarmos,
se pararmos de reivindicar, perderemos mesmo o pouco reconhecimento que a educação ainda
possui. Por isso temos que ampliar a discussão para que a educação tenha maior espaço e
melhores condições dentro da sociedade brasileira.

O homem não está alheio ao seu tempo histórico, o agente não constrói
individualmente a si mesmo, por isso devemos produzir uma reflexão da realidade como um
todo. Neste contexto em que o ideário neoliberal incorpora, dentre outras, a categoria de
autonomia, é preciso também atentar para a força de seu discurso ideológico e para as
inversões que podem operar no pensamento e na prática social ao estimular o individualismo
e a competição. Sendo assim, para propor mudanças é preciso uma prática de vigilância
constante e contínua contra toda e qualquer prática de desumanização. Não é possível ao
sujeito ético viver sem estar permanentemente exposto a transgressão da ética, temos então de
aprender a fazer uma auto-reflexão crítica permanente. Como pondera Freire (2000, p. 23):
“A Histórica é um tempo de possibilidades e não de determinação”.

Ensinar requer a plena convicção de que a transformação é possível porque a história


deve ser encarada como uma possibilidade e não como um determinismo moldado, pronto e
inalterável. Para isso é preciso desnaturalizar, tornar evidente as contradições e fazer este
exercício de estranhamento é um dado decisivo no processo de conhecimento de nossa própria
cultura. O educador não pode ver a prática educativa como algo sem importância, ao
contrário, ele deve sempre perseguir um constante processo de reafirmação dos valores da
educação. O educador não deve barrar a curiosidade do aluno, pois é de fundamental
relevância o incentivo à sua imaginação, intuição, senso investigativo, enfim, sua capacidade
de ir além. Conhecimento é poder, poder de questionar os discursos dominantes.

48
FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO
CURSO DE PEDAGOGIA

As tendências pedagógicas não são inatas, são oriundos de conflitos e debates, das
contradições sociais, são originadas num determinado momento histórico, tendo que durante a
sua trajetória aperfeiçoá-las ou mesmo substituí-las, são as relações sociais que constituem o
ser social em qualquer contexto. A estrutura social está sempre em movimento, que se
desdobra e se especifica, se revela em relações, processos e estruturas. A sociedade não está
dada e pronta e definitiva. Para alguns interessa que ela se mantenha como está, para outros,
há o desejo que ela se modifique. Nas palavras de Bourdieu (1997, p. 20): “Apenas
conhecendo as leis específicas do campo é que podemos compreender as mudanças nas
relações entre os agentes”.

É necessário reduzir a distância entre o que se diz e o que se faz de forma que a fala
seja o reflexo da prática, enfatizamos que as teorias são importantes, no entanto cabe ao
professor construir sua didática, embasado nelas, lembrando que elas são elementos
norteadores e não "receitas" prontas. Freire (1997) nos provoca continuamente a sermos
coerentes em nossas atitudes.

A leitura de Freire (1997) nos inspira na busca de uma educação pautada no respeito
humano que na partilha de saberes possa construir novas ideias, ampliar e refutar saberes
antigos. Deve-se enxergar em meio às contradições de um sistema de ensino desigual e
injusto, alternativas para a superação, pois assim, criaremos condições de emancipação. Não
existe uma solução única e simples para resolver os problemas educacionais. Faz-se
necessário problematizar nossas questões no sentido de não esconder ou camuflar as
diferenças, de não aceitar o consolo da falsa consciência. Deve-se procurar o conhecimento
sobre a experiência concreta do vivido, nas práticas culturais de determinada sociedade; na
formalização dessa prática em produtos simbólicos; nas estruturas sociais que influenciam a
foram de ser da educação.

A prática educativa é um constante exercício em favor da construção e do


desenvolvimento da autonomia de professores e alunos, não obstante transmitindo saberes,
mas debatendo significados, construindo e redescobrindo os mesmos, pois temos a
necessidade de aprender e também de ensinar, intervir e conhecer. Construir uma nova
sociedade pode ser também construir novas relações e consciências.

A RACIONALIDADE E A EDUCAÇÃO

A educação é, por sua origem, seus objetivos e funções um fenômeno social, estando
relacionada ao contexto político, econômico, científico e cultural de uma sociedade
historicamente determinada.

Conforme Álvaro Vieira Pinto (1989, p.29), “a educação é o processo pelo qual a
sociedade forma seus membros à sua imagem e em função de seus interesses”. De tal
conceito, pode-se deduzir que, não obstante a educação ser um processo constante na história
de todas as sociedades, ela não é a mesma em todos os tempos e em todos os lugares, e se
acha vinculada ao projeto de homem e de sociedade que se quer ver emergir através do
processo educativo.
49
FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO
CURSO DE PEDAGOGIA

Dermeval Saviani (1991, p.55) afirma que:

O estudo das raízes históricas da educação contemporânea nos mostra a estreita


relação entre a mesma e a consciência que o homem tem de si mesmo, consciência esta que se
modifica de época para época, de lugar para lugar, de acordo com um modelo ideal de homem
e de sociedade.

A educação é, portanto, um processo social que se enquadra numa concepção


determinada de mundo, a qual determina os fins a serem atingidos pelo ato educativo, em
consonância com as ideias dominantes numa dada sociedade. O fenômeno educativo não pode
ser, pois, entendido de maneira fragmentada, ou como uma abstração válida para qualquer
tempo e lugar, mas sim, como uma prática social, situada historicamente, numa realidade
total, que envolve aspectos valorativos, culturais, políticos e econômicos, que permeiam a
vida total do homem concreto a que a educação diz respeito.

Assim sendo, tanto a teoria quanto as práticas educacionais desenvolvem-se,


predominantemente, segundo os paradigmas dominantes num dado momento histórico, o que
leva a educação a funcionar essencialmente como elemento reprodutor das condições
científicas, políticas, econômicas e culturais de determinada sociedade.

Tomando por referência o desenvolvimento e as rearticulações do capitalismo em


períodos diversos, percebe-se que a educação tem sido utilizada no sentido de dar suporte
ideológico a esse sistema, constituindo-se ao mesmo tempo num elemento produtivo, pela
qualificação de recursos humanos para o capital, embora algumas vezes essas funções sejam
percebidas e provoquem reações.

Conforme Frigotto (1999, p. 26):

Na perspectiva das classes dominantes, historicamente, a educação dos diferentes


grupos sociais de trabalhadores deve dar-se a fim de habilitá-los técnica, social e
ideologicamente para o trabalho. Trata-se de subordinar a função social da educação de forma
controlada para responder às demandas do capital.

Entende-se, pois, que para que os desafios que atualmente se apresentam à educação e
às instituições formais de ensino sejam devidamente equacionados, faz-se necessário uma
breve retrospectiva histórica, situando e analisando os paradigmas vigentes na sociedade,
tomando como ponto de partida as transformações que caracterizam a Idade Contemporânea.

A segunda metade do século XVIII é assinalada pelas revoluções burguesas que


trazem como consequência o fim do Absolutismo e a consolidação do capitalismo industrial.
O século XIX, por sua vez, vem marcar o triunfo do liberalismo europeu, vinculado ao direito
natural e também o triunfo do cientificismo, que se impondo de forma totalitária, nega as
formas de conhecimento que não estejam de acordo com seus princípios epistemológicos e
com suas regras metodológicas.

O cientificismo, tomando por base as ideias de Newton e Descartes, estrutura-se


segundo uma ótica mecanicista, que explica o universo a partir da linearidade determinista
dos fenômenos e reconhece uma só natureza material, que engloba e explica tanto o mundo
dos valores como o mundo dos fatos. De acordo com tal modelo de análise, conhecer significa

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FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO
CURSO DE PEDAGOGIA

quantificar, dividir e classificar, devendo o pesquisador ser neutro, imparcial, analisando seu
objeto de estudo segundo critérios de máxima objetividade.

Destaca-se neste processo a contribuição de Descartes (1596-1650), cuja obra


“Discurso do método”, apregoa os seguintes princípios: nenhum fenômeno deve ser acolhido
como verdade, sem que se demonstrem evidências concretas; cada conceito deve ser divido
em quantas parcelas seja necessário, para que seja devidamente analisado; é necessário partir
dos conceitos mais simples para os mais complexos, no sentido de conduzir, o conhecimento
degrau a degrau, buscando enumerações tão completas e revisões tão gerais, que levem à
certeza de que nada foi omitido.

Juntamente com o pensamento de Descartes, as ideias de Isaac Newton foram


significativas para a estruturação da ciência moderna. Em sua obra “Princípios matemáticos
da filosofia natural”, propõe uma complexa sistematização matemática da concepção
mecanicista da natureza, representando o universo e o ser humano como uma máquina, que
podem ser divididos e compreendidos a partir da razão. Tal visão do mundo máquina, que
implica no raciocínio lógico-dedutivo passa, a impor-se como a única forma legítima de fazer
ciência, com base no modelo explicativo mecânico –causal.

EDUCAÇÃO E EMANCIPAÇÃO HUMANA: UMA FUNDAMENTAÇÃO


FILOSÓFICA

As categorias emancipação humana ou educação emancipatória são recorrentes nos


discursos sobre educação. Porém, nem sempre seu real significado é compreendido. Para tanto
é necessário partir de uma fundamentação filosófica do conceito a fim de esclarecer o sentido
radical da palavra emancipação. A pertinência desta abordagem reside na necessidade de
resgatar uma concepção de educação que ultrapasse o simples ensino de competências – o
saber fazer – que seja mais do que somente incluir as pessoas em uma sociedade cada vez
mais desigual, através de uma educação precária que serve ao mercado de trabalho, numa
palavra, é mister reconstruir o sentido de uma educação emancipatória.

O ideal de uma sociedade emancipada e esclarecida, livre da crença e da ignorância,


está presente desde o Iluminismo, mais precisamente no artigo do filósofo alemão Immanuel
Kant (2009), Resposta a pergunta: que é Iluminismo?. Não somente para a filosofia kantiana,
mas para toda a sociedade moderna, pós Revolução Francesa (1789), a autonomia do sujeito é
um princípio muito importante. Isso porque o sujeito, fazendo bom uso de sua racionalidade,
pode superar a menoridade e construir o conhecimento científico, sem influência de crenças
ou preconceitos, a fim de dominar e quantificar toda a realidade.

Este projeto de sociedade moderna, baseado no sujeito autônomo e na independência


do Estado (garantida pelo contrato social entre os cidadãos), não atingiu a emancipação na sua
plenitude, no máximo representou uma emancipação política. Essa é a crítica que Marx
(2006) fez da sociedade burguesa, demonstrando que o Estado está emancipado politicamente,
mas o indivíduo é determinado, sendo os direitos humanos fundamentais (liberdade,

51
FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO
CURSO DE PEDAGOGIA

igualdade e propriedade), nada mais do que garantias para o individualismo e jamais para a
emancipação humana.

Posteriormente, a Teoria Crítica, em especial Theodor Adorno (1995) irá retomar essa
problemática da emancipação e relacioná-la no contexto educacional. Segundo o autor, a
proposta kantiana de esclarecimento permanece ainda válida, pois é fundamental ter em vista
que a construção de um sujeito racional e livre é condição de possibilidade de uma sociedade
democrática. O que Adorno propõe é superar a concepção idealista e individualista de
emancipação (enquanto autonomia do indivíduo) e ampliá-la a toda a sociedade, a fim de
construir coletivamente um conhecimento objetivo que supere a instrumentalidade e
fragmentação científica, sendo possível assim desvelar os mecanismos de dominação e de
alienação social.

Toda essa tradição filosófica, que reflete sobre a necessidade de construir um ser
humano esclarecido para uma sociedade emancipada, é referenciada também por Paulo Freire
(2005), que, voltando-se especificamente para a educação latino-americana, constrói uma
teoria pedagógica fundamentada nos valores humanistas, na perspectiva de transformação
social. A partir do reconhecimento da condição do ser humano enquanto responsável pela sua
própria construção histórica, Freire estabelece que os indivíduos mais desfavorecidos, os
oprimidos, coletivamente organizados, através do desvelamento crítico da realidade, podem
transformar suas existências concretas, libertando-se da opressão.

Entende-se que a ideia da emancipação humana permeia toda a história da filosofia,


porém, com a finalidade de delimitar esta análise, opta-se pela abordagem que parte dos
textos filosóficos de Immanuel Kant, Karl Marx, Theodor Adorno e Paulo Freire. Esse
recorte, longe de ser segmentado, envolve pensadores que necessariamente não possuem o
mesmo viés teórico, porém argumentar-se-á uma possível integração entre essas teorias com a
intenção de convergir para a construção de uma fundamentação possível e coerente para a
educação emancipatória.

A EMANCIPAÇÃO ENQUANTO ESCLARECIMENTO

No celebre texto Resposta a pergunta: que é o Iluminismo? Immanuel Kant (2009)


assim formulou o conceito de Esclarecimento: “[...] é a saída do homem da sua menoridade de
que ele próprio é culpado” (p. 09). A menoridade, “é a incapacidade de se servir do
entendimento sem a orientação de outrem” (p. 09). A causa dessa menoridade “[...] não reside
na falta de entendimento, mas na falta de decisão e de coragem em se servir de si mesmo sem
a orientação de outrem” (p. 09). Esse conceito reforça o aspecto da autonomia do sujeito
racional como condição de superar a menoridade. Porém, o homem na sua individualidade
tem dificuldade de superar a menoridade pelas suas próprias forças. “É, pois, difícil a cada
homem desprender-se da menoridade que para ele se tornou quase uma natureza” (KANT,
2009, p. 10). Contudo, se para o sujeito individual é difícil superar a menoridade, para a
coletividade não, pois “[...] é perfeitamente possível que um público a si mesmo se esclareça.
Mais ainda, é quase inevitável, se para tal lhe for dada liberdade” (KANT, 2009, p. 11).

52
FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO
CURSO DE PEDAGOGIA

Portanto, percebe-se o acento no aspecto público, ou seja, o Esclarecimento enquanto uma


proposta coletiva para uma comunidade livre e não somente um desafio individual.

A liberdade é “fazer um uso público da sua razão em todos os elementos” (KANT,


2009, p. 11, grifo do autor). O que significa esse uso público da razão? “[...] por uso público
da própria razão entendo aquele que qualquer um, enquanto erudito, dela faz perante o grande
público do mundo letrado. Chamo uso privado aquele que alguém pode fazer da sua razão
num certo cargo público ou função a ele confiado” (KANT, 2009, p. 12, grifo do autor). Cada
ser humano na sua vida privada desempenha alguma função, algum trabalho, nesse contexto
lhe é lícito somente obedecer às regras para determinado ofício. Porém, esse mesmo
indivíduo, enquanto cidadão (erudito) pode e deve dirigir-se a comunidade em geral e
manifestar seu pensamento sobre os assuntos de interesse geral. Um professor, um fiscal de
impostos, um clérigo, são profissionais que devem desempenhar seu uso privado da razão na
matéria específica de suas atividades, mas devem também fazer o uso público de sua razão
manifestando-se sobre os interesses da comunidade em geral. Para Kant, portanto, todas as
atividades, cargos e até a religião são de âmbito privado. A comunidade em geral seria o lugar
do uso público da racionalidade.

Pode-se afirmar que a fundamentação de uma sociedade emancipada não está


dissociada, em Kant, da fundamentação da moralidade. Na moralidade pressupõe-se um
sujeito racional que é determinado segundo as leis da natureza, mas que pode agir segundo a
representação de uma lei, nesse caso, determinando sua vontade pela razão, sendo dessa
forma livre para obedecer à lei moral. No caso da emancipação, o indivíduo em sua vida
privada é determinado por regras, mas em sociedade enquanto cidadão é livre para fazer uso
de sua razão e estender sua crítica a tudo que for do interesse geral. A autonomia racional do
sujeito é condição de possibilidade para que se estabeleça a moralidade. A emancipação
racional do sujeito dentro de uma coletividade é condição de possibilidade de uma
comunidade emancipada. O critério da racionalidade, portanto, deve estar presente tanto no
indivíduo (moral) como na sociedade (política).

Segundo Kant, “autonomia da vontade é aquela sua propriedade graças à qual ela é
para si mesma a sua lei [...] O princípio da autonomia é portanto: não escolher senão de modo
a que as máximas da escolha estejam incluídas simultaneamente, no querer mesmo, como lei
universal” (KANT, 2007, p. 85). A autonomia é o que constitui propriamente o sujeito
racional do iluminismo, mas ela por si só não garante a emancipação humana, esta depende da
vontade de toda uma coletividade, racionalmente esclarecida e livre para manifestar seu
pensamento. A moralidade depende da autonomia racional do sujeito, a emancipação depende
de uma coletividade educada para o esclarecimento. A emancipação humana, enquanto
esclarecimento é, sobretudo em Kant, uma categoria política.

A proposta de Immanuel Kant reflete apropriadamente a originalidade do projeto


racional da modernidade. Uma vez que a ordem transcendente, presente da Idade Média por
imposição religiosa, não existe mais, então cabe ao ser humano estabelecer um projeto de
sociedade, fundada em princípios racionais e não mais determinada pela tutela de uma
religião. A emergência da racionalidade moderna coloca todas as particularidades da
existência humana, inclusive a religião, em âmbito privado, devendo, pois à razão a tarefa de
conduzir a humanidade a um progressivo esclarecimento. Essa é, pois, de certo modo, a
proposta do Iluminismo.

53
FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO
CURSO DE PEDAGOGIA

A filosofia kantiana não está isolada de seu tempo. O século XVIII é o século das
luzes, onde a educação ganha importância fundamental. Isso porque o Iluminismo estabelece
a educação como formadora do ser humano. A existência humana depende, para constituir-se
como tal, de uma educação emancipadora. A educação adquire o significado não somente de
transmitir habilidades e competências, mas de instruir para o exercício da cidadania, mais
ainda, de formar a própria natureza humana.

A filosofia da educação esclarecida prima por fortalecer uma ideia do sujeito – criação
do homem por ele mesmo – formar e transformar sua natureza. Para levar a efeito tão grande
tarefa, os educadores centram seus esforços na formação moral do indivíduo. (MENEZES,
2000, p. 114).

A educação do Iluminismo tem, portanto um fundamento ético, no sujeito dotado de


racionalidade e liberdade. A ética justifica a educação e dela depende, pois é através da
educação que os indivíduos desenvolvem a sua razão.

A filosofia do esclarecimento de Immanuel Kant, fundamentada na racionalidade ética


do sujeito autônomo, é uma forma de compreender a educação, o ser humano e a sociedade
em geral. Ela parte de uma concepção de ser humano dotado de razão, que deve ser educado
para desenvolver suas potencialidades e assim, conviver de forma ética e em comunidade com
seu semelhante.

O processo histórico, que se efetivou na modernidade, compreendeu muito bem o


aspecto da autonomia individual do sujeito em sua vida privada. Exemplo disso é a
constituição do conceito de sociedade civil, onde reúnem-se todas as particularidades do
homem singular (religião, profissão, propriedade), garantindo a independência do sujeito em
sua vida particular. Porém, o que não se levou a cabo, e que Kant preconizou, foi o aspecto
coletivo da emancipação humana. Não basta estabelecer os direitos individuais dos cidadãos,
é necessário que a sociedade garanta o exercício público e racional desses mesmos cidadãos.
A filosofia de Kant fundamenta muito bem o conhecimento e a ética a partir do sujeito
racional e autônomo, e também propõe a ideia de uma sociedade livre e emancipada, mas não
chega a construir uma teoria da ação para se atingir coletivamente este ideal.

EDUCAÇÃO PARA A EMANCIPAÇÃO

No pensamento contemporâneo o filósofo Theodor Adorno retoma a proposta kantiana


de emancipação através do esclarecimento. Esse pensador, também com forte influência
marxista, proclama a necessidade de se resgatar o que Kant argumentou sobre o
esclarecimento. Segundo ele, é fundamental ter em vista que a construção de um sujeito
racional e livre é condição de possibilidade de uma sociedade democrática.

Adorno é um dos representantes da Escola de Frankfurt4 , que elabora a Teoria Crítica


como oposição à Teoria Tradicional. Esta representa a fragmentação da ciência especializada
e a coisificação da realidade através da separação sujeito-objeto. Ao passo que a Teoria
Crítica visa, não somente ampliar o saber, mas, sobretudo emancipar o homem. Ela desvela a
54
FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO
CURSO DE PEDAGOGIA

neutralidade científica e a reconhece enquanto vinculada a uma práxis social determinada. A


existência humana é contraditória, e a razão instrumental aumenta as distorções sociais.

O Movimento Iluminista abrangentemente pensava que a superioridade do homem


residia em seu saber, o qual seria o único caminho de sua emancipação. Entretanto, o tipo de
racionalidade privilegiado pelo desenvolvimento da ciência a partir do século XVIII foi quase
que exclusivamente o modelo cartesiano hipotético dedutivo. Assim, o caminho histórico
percorrido pelo sujeito racional, ao contrário da pretendida libertação da humanidade das
correntes do obscurantismo, acabaram por reconduzir a tantas outras formas de
irracionalidade. (OLIVEIRA, 2005, p. 06).

Na obra Dialética do Esclarecimento, que escreveu com Max Horkheimer, Adorno


(2011) faz uma crítica ao conceito de esclarecimento, demonstrando o seu lado instrumental e
desumano. A Dialética do Esclarecimento faz um mapeamento histórico, desde os mitos
gregos até a filosofia e a ciência moderna, argumentando que o esclarecimento sempre esteve
presente enquanto tentativa de dominação racional da realidade.

O mundo do esclarecimento torna-se desencantado, pois tudo pode ser medido,


reproduzido e vendido. O homem, através da capacidade de representação da realidade, cópia
ou abstrai a realidade e transfere-a para imagens ou mitos, posteriormente os mitos tornam-se
teorias e essas se transformam em técnicas que voltam à realidade, agora não para entendê-la,
mas para dominá-la. A racionalidade e o mito são partes de um mesmo processo: dominar a
natureza pela razão. Isso significa medir e calcular, objetivar o real, de modo a torná-lo
repetitivo e previsível. O esclarecimento neste viés seria o método científico moderno mais
frio e calculista, no qual a natureza e o próprio homem tornam-se objetos de experimentação.

O pensamento, no sentido do esclarecimento, é a produção de uma ordem científica


unitária e a derivação do conhecimento factual a partir de princípios, não importa se estes são
interpretados como axiomas arbitrariamente escolhidos, ideias inatas ou abstrações supremas.
(ADORNO, 2011, p. 40).

A ciência não reflete sobre si mesma, é o esclarecimento que fundamenta a verdade


como resultado do procedimento científico. Uma vez justificada filosoficamente, a verdade
científica abdica da própria filosofia que a criou/justificou. A filosofia de Kant, por exemplo,
tem na razão um lado utópico, no qual estabelece a ideia de uma comunidade universal que
convive na liberdade, mas essa mesma razão é que fundamenta o método científico, que
objetiva a realidade, inclusive o próprio ser humano, inviabilizando nesse sentido, o próprio
ideal moral. Este é o aspecto contraditório do Iluminismo que é denunciado por Adorno na
Dialética do Esclarecimento, ou seja, ao mesmo tempo em que a racionalidade proclama uma
sociedade emancipada, cria também estruturas de dominação e de impedimento da própria
emancipação.

Se o pensamento de Adorno é uma crítica a maneira como foi efetivada a proposta


iluminista de esclarecimento, então se deve ver em que medida na educação se reflete essa
distorção. Como se dá, no aspecto educativo, o desenvolvimento do saber instrumental
fragmentado e o esquecimento da dimensão ética da modernidade. Isso porque, a Teoria
Crítica, além de rever os fundamentos da razão (em crise) e desvelar os mecanismos de

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FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO
CURSO DE PEDAGOGIA

dominação da Indústria Cultural (cultura de massa), também propõe a retomada da inspiração


kantiana da educação para emancipação.

No texto Educação e Emancipação, Adorno (1995) defende uma educação


fundamentada no uso da razão objetiva, na autonomia, na auto legislação. Se a razão pura no
sentido que foi defendida pelo idealismo alemão, não pode hoje ser proposta, é inegável que a
formulação de um pensamento rigoroso e autônomo é a base para a construção de um ser
humano emancipado. Não se trata de defender a razão no sentido ontológico, mas sim a
racionalidade ética.

A educação para emancipação deve ser primeiramente crítica. “A educação tem


sentido unicamente como educação dirigida a uma auto-reflexão crítica” (ADORNO, 1995, p.
121). Apoiando-se em Freud, Adorno defende que a civilização tende a construir a barbárie. O
mal-estar civilizatório seria a causa de tantos genocídios e crueldades. A educação, portanto,
deve entender esse aspecto da sociedade moderna e ter presente que ela é formadora da
consciência dos indivíduos.

A organização do mundo é pautada pela heteronomia e não pela autonomia. Isso


conduz a uma revolta do indivíduo contra a civilização. Essa revolta é o que constitui a
barbárie que vivemos atualmente, que representa o aprisionamento do indivíduo dentro de
uma “rede densamente interconectada” produtora da violência irracional.

Entendo por barbárie algo muito simples, ou seja, que, estando na civilização do mais
alto desenvolvimento tecnológico, as pessoas se encontrem atrasadas de um modo
peculiarmente disforme em relação a sua própria civilização — e não apenas por não terem
em sua arrasadora maioria experimentado a formação nos termos correspondentes ao conceito
de civilização, mas também por se encontrarem tomadas por uma agressividade primitiva, um
ódio primitivo ou, na terminologia culta, um impulso de destruição, que contribui para
aumentar ainda mais o perigo de que toda esta civilização venha a explodir, aliás uma
tendência imanente que a caracteriza. Considero tão urgente impedir isto que eu reordenaria
todos os outros objetivos educacionais por esta prioridade. (ADORNO, 1995, p. 155).

A sociedade da heteronomia é entendida como “um tornar-se dependente de


mandamentos, de normas que não são assumidas pela razão própria do indivíduo”
(ADORNO, 1995, p. 124). Para Adorno a própria organização do mundo é heterônoma, que
se converte em ideologia dominante. “Ela exerce uma pressão tão imensa sobre as pessoas,
que supera toda a educação” (ADORNO, 1995, p. 143).

Partindo do desafio de se efetivar uma educação para emancipação numa realidade


onde prevalece a menoridade do indivíduo e, tendo presente que a sociedade do
esclarecimento científico não conduziu a humanidade para a emancipação, Adorno, então
reafirma a necessidade de pensar a educação de forma crítica e racional, deixando de lado a
razão pura do iluminismo, mas evidenciando o papel fundamental de uma racionalidade ética
e comunitária. “Creio que filosoficamente é muito bem possível criticar o conceito de uma
razão absoluta [...]”, porém “sem o pensamento, e um pensamento insistente e rigoroso, não
seria possível determinar o que seria bom a ser feito, uma prática correta” (ADORNO, 1995,
p. 174).

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FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO
CURSO DE PEDAGOGIA

É nesse sentido, que Adorno retoma a perspectiva kantiana de esclarecimento,


reforçando o seu lado emancipatório, sem deixar, ao mesmo tempo, de desvelar seu aspecto
desumano enquanto objetivação e dominação da realidade. A evolução da razão instrumental
construiu uma sociedade que as sujeita o indivíduo. A Indústria Cultural é a representação de
como a organização social domina as pessoas, tornando-as submissas a diversas normas, sem
que o sujeito possa assumir-se condutor de sua própria existência, de forma racional e
emancipada.

[...] a organização social em que vivemos continua sendo heterônoma, isto é, nenhuma
pessoa pode existir na sociedade atual realmente conforme suas próprias determinações;
enquanto isto ocorre, a sociedade forma as pessoas mediante inúmeros canais e instâncias
mediadoras, de um modo tal que tudo absorvem e aceitam nos termos desta configuração
heterônoma que se desviou de si mesma em sua consciência. É claro que isto chega até às
instituições, até à discussão acerca da educação política e outras questões semelhantes. O
problema propriamente dito da emancipação hoje é se e como a gente — e quem é "a gente",
eis uma grande questão a mais — pode enfrentá-lo. (ADORNO, 1995, pp. 181-182).

Segundo Adorno, existem dois elementos presentes na prática educativa: adaptação e


resistência. Preparar a pessoa para se orientar no mundo e ao mesmo tempo não deixar que o
mundo a desoriente, ou seja, manter a individualidade dentro da sociedade. Para Adorno, a
dimensão da resistência é muito mais importante, pois o sujeito já nasce praticamente
adaptado no mundo, que ideologicamente domina o sujeito individual, sem que a escola seja
necessária para a adaptação desse sujeito na sociedade, então a educação deve conduzir para
resistir às formas de assujeitamento.

Para isso, a educação para a emancipação pressupõe um conceito de inteligência mais


amplo do que o saber formal e científico. Ela pressupõe uma inteligência concreta que
entende o pensar e a realidade num processo dialético. A educação deve preparar o ser
humano para o confronto com a experiência real e não para experiência alienada de mundo. O
indivíduo estaria alienado, sobretudo pela técnica, e não saberia mais orientar-se na realidade
concreta, somente na realidade cultural e social que não é produzida por ele. Assim, Adorno
argumenta a favor de um conceito de racionalidade e de consciência que não correspondem e
até superam, aquela forma de entender da sociedade cientificamente fragmentada:

Mas aquilo que caracteriza propriamente a consciência é o pensar em relação à


realidade, ao conteúdo — a relação entre as formas e estruturas de pensamento do sujeito e
aquilo que este não é. Este sentido mais profundo de consciência ou faculdade de pensar não é
apenas o desenvolvimento lógico formal, mas ele corresponde literalmente à capacidade de
fazer experiências. Eu diria que pensar é o mesmo que fazer experiências intelectuais. Nesta
medida e nos termos que procuramos expor, a educação para a experiência é idêntica à
educação para a emancipação. (ADORNO, 1995, p. 151).

Essa nova forma de entender a relação do sujeito com a realidade, enquanto sujeito
crítico que não se submete a cultura dominante, servirá de fermento para uma nova concepção
de educação popular e libertadora, que irá reconhecer no indivíduo oprimido pela organização
social heterônoma, o agente transformador dessa mesma sociedade, a partir da compreensão
crítica da opressão que está submetido, recriando sua maneira de pensar (ler) o mundo.

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FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO
CURSO DE PEDAGOGIA

BIBLIOGRAFIA BÁSICA

1. GHIRALDELLI JUNIOR, Paulo; CASTRO, Susana de. A nova filosofia da educação.


Barueri: Manole, 2013
2. NISKIER, Arnaldo. Filosofia da Educação. 2. ed. São Paulo, SP: Ed. Loyola, 2001.
3. SILVA, Divino Jose da; PAGNI, Pedro Angelo. Introduçao a filosofia da educaçao. São
Paulo: Avercamp, 2007

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

1. BRACHT, Valter; Almeida, Felipe Q. DE. Emancipaçao e diferença na educaçao.


Campinas, SP: Autores Associados , 2006
2. LUCKESI, Carlos Cipriano. Filosofia da Educação. 18.ed. São Paulo: Cortez 2011.
3. DILTHEY, Wilhelm; Amaral, Maria Nazare De Camargo Pacheco. Filosofia E
Educaçao. São Paulo: Edusp, 2011.
4. PAIVA, Vanilda Pereira. Historia Da Educaçao Popular No Brasil. 7.ed. São Paulo:
Loyola, 2015.
5. GAARDER, J. O mundo de Sofia: romance da história da filosofia. São Paulo:
Companhia das Letras, 2002.

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CURSO DE PEDAGOGIA

PLANO DE ENSINO

INFORMAÇÕES GERAIS

CURSO TURMA SEMESTRE CARGA HORÁRIA TOTAL

Pedagogia A1 2017/1
60 horas

DISCIPLINA PERÍODO/s ANO TEÓRICA PRÁTICA


Filosofia da Educação 1º Período 2017 80% 20%

PROFESSOR: Sebastião Marques Gonçalves


E-MAIL: sebastiamill2@hotmail.com

EMENTA

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EMENTA:

Fundamentos filosóficos da Educação. Pensamento filosófico em seu desenvolvimento


diacrônico. Filosofia antiga, Filosofia Medieval, Filosofia Moderna e Filosofia Contemporânea.
Principais filósofos da Educação e suas abordagens teóricas. Desenvolvimento de uma consciência
Crítica dos problemas educacionais. A Racionalidade historicamente determinada e a educação.

OBJETIVOS

Objetivo Geral

 Contribuir para a Compreensão e reconhecimento da função da filosofia no processo


educacional e nos processos de ensino aprendizagem. Contribuir para a compreensão das
relações entre sistemas filosóficos e as teorias educacionais.

Objetivos Específicos

 Relacionar filosofia e educação, destacando a importância da filosofia à educação.


 Abordar a Filosofia da Educação como uma metodologia para pensar a educação.
 Analisar os principais pressupostos filosóficos da educação.
 Oportunizar o desenvolvimento de uma postura filosófica diante do contexto educacional.

METODOLOGIA DE ENSINO

 Aulas expositivas e dialogadas mediadas pelo docente com plena participação discente. A
disciplina será desenvolvida ainda mediante previa leitura do material bibliográfico sugerido
como mecanismo de fundamentação teórica para os debates propostos. Elaboração de textos
individuais (relatórios, resumos, comentários, artigos, fichamentos). Preparação e realização
de seminários, verificação de conhecimento subjetiva, memorial, pesquisa escolar, entre
outros. Aulas através de exposições utilizando data-show, debates, seminários, vídeos e
pesquisas.

AVALIAÇÃO

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CURSO DE PEDAGOGIA

CRONOGRAMAS DE ATIVIDADES AVALIATIVAS

AVALIAÇÕES TIPO DATA VALOR

Aplicação de Atividades
Avaliativa para N1 sobre todos
01/03/2017 2,0
os conteúdos estudado. 2.0
N1 pontos.

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CURSO DE PEDAGOGIA

Atividade avaliativa através de 2,0


estudo dirigido e explanação
15/03/2017
em plenário para N1 2.0
pontos.

Prova Escrita 29/03/2017 6,0

TOTAL 10,0

2,0

Projeto de Leitura ou AVI. 10/05/2017

N2 Apresentação de Seminário
sobre conteúdos proposto no
24/05/2017 2,0
valor de 2.0 pontos para N2.

Prova Escrita 10/06/2017 6,0

TOTAL 10,0

N3 Prova Escrita 10,0

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BIBLIOGRAFIA BÁSICA:

4. GHIRALDELLI JUNIOR, Paulo; CASTRO, Susana de. A nova filosofia da educação. Barueri:
Manole, 2013
5. NISKIER, Arnaldo. Filosofia da Educação. 2. ed. São Paulo, SP: Ed. Loyola, 2001.
6. SILVA, Divino Jose da; PAGNI, Pedro Angelo. Introduçao a filosofia da educaçao. São Paulo:
Avercamp, 2007

LEITURAS COMPLEMENTARES

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR:
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FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO
CURSO DE PEDAGOGIA

6. BRACHT, Valter; Almeida, Felipe Q. DE. Emancipaçao e diferença na educaçao. Campinas, SP:
Autores Associados , 2006
7. LUCKESI, Carlos Cipriano. Filosofia da Educação. 18.ed. São Paulo: Cortez 2011.
8. DILTHEY, Wilhelm; Amaral, Maria Nazare De Camargo Pacheco. Filosofia E Educaçao. São Paulo:
Edusp, 2011.
9. PAIVA, Vanilda Pereira. Historia Da Educaçao Popular No Brasil. 7.ed. São Paulo: Loyola, 2015.
10. GAARDER, J. O mundo de Sofia: romance da história da filosofia. São Paulo: Companhia das
Letras, 2002.

SÍNTESE DO PLANO DE AULA

CURSO: Pedagogia PERÍODO:

DISCIPLINA: Filosofia da Educação

PROFESSOR: Sebastião Marques Gonçalves

CRONOGRAMA DE AULAS

DATA CONTEÚDO

01/02/2017 Apresentação da Ementa e da proposta de trabalho, do componente curricular,


comentários sobre o Plano de Ensino e o Plano de Aula. O que é filosofia? Surgimento
da Filosofia.

08/02/2017 Características do Pensamento Filosófico.

15/02/2017 Aplicações da Filosofia da Educação.

22/02/2017 O que você entende por filosofia da Educação.

01/03/2017 Educação como Transformação da Sociedade. Aplicação de Atividades Avaliativa para


N1 sobre todos os conteúdos estudado. 2.0 pontos.

08/03/2017 Filosofia Antiga e a Educação.

Estudo da Filosofia Medieval e a Educação. Atividade avaliativa através de estudo


15/03/2017 dirigido e explanação em plenário para N1 2.0 pontos.

22/03/2017 Reflexão da Filosofia Moderna no Âmbito Educacional.


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CURSO DE PEDAGOGIA

29/03/2017 Aplicação de Prova N1. 6.0 pontos.

05/04/2017 Características Gerais da Filosofia Moderna.

12/04/2017 Filosofia Contemporânea e a Educação. Anísio Teixeira inventor da Escola Pública.

19/04/2017 Principais Filósofos da Educação e suas Abordagens Teóricas.

26/04/2017 Educação Grega: Sócrates e os Sofistas. Descartes e a Educação.

03/05/2017 Platão e a Educação. A Racionalidade e a Educação.

10/05/2017 Apresentação de Projeto de Leitura. 2.0 pontos.

17/05/2017 Aristóteles e a Educação. Educação e Emancipação Humana: uma fundamentação


Filosófica.

Filosofia da Educação de Santo Agostinho.

A Emancipação enquanto Esclarecimento. Educação para a Emancipação.

24/05/2017 Apresentação de Seminário sobre conteúdos proposto no valor de 2.0 pontos para N2.

31/05/2017 Tomás de Aquino e a defesa da Educação para a Sabedoria.

Princípios Fundamentais da Educação em Rousseau.

07/06/2017 Aplicação de Prova N2. 2.0 pontos.

14/06/2017 Aplicação de Segunda Chamada de N2 e devolução de Trabalhos e provas.

21/06/2017 Aplicação de das avaliações de N3.

28/06/2017 Entrega de resultados e entrega de trabalhos e fechamento do Semestre letivo.

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