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MARINA LEME ROSA

SUMÁRIO
UNIDADE 01: EXEMPLO DE TEXTO......................................................................103

1. Título de Peso .................................................................................................... 103

2. Mauris tristique velit facilisis nulla hendrerit rutrum. ........................................... 105

FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO
FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO
Marina Leme Rosa

2021
CASA NOSSA SENHORA DA PAZ – AÇÃO SOCIAL FRANCISCANA, PROVÍNCIA
FRANCISCANA DA IMACULADA CONCEIÇÃO DO BRASIL –
ORDEM DOS FRADES MENORES

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© 2021 Universidade São Francisco


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CEP 12916-900 – Bragança Paulista/SP
O AUTOR
MARINA LEME ROSA
Nasceu em Bragança Paulista, São Paulo, em 1992. Professora de línguas há 8 anos, é li-
cenciada em Letras e bacharel em Comunicação Social com ênfase em Relações Públicas.
Lecionou em escolas públicas e particulares no Brasil e em centros de estudos, na ci-
dade do Porto, em Portugal.
Atualmente é mestranda em Estudos Africanos pela Faculdade de Letras da Univer-
sidade do Porto (FLUP), em Portugal e também atua como escritora, pesquisadora e
produtora de conteúdo.
SUMÁRIO
UNIDADE 01: CONCEITOS BÁSICOS....................................................................6

1. O que é Filosofia? ............................................................................................... 7

2. Concepções histórico-filosóficas.......................................................................... 12

3. Principais autores e suas correntes filosóficas.................................................... 15

UNIDADE 02: CAMPOS DA FILOSOFIA.................................................................34

1. Epistemologia....................................................................................................... 35

2. Ética .................................................................................................................... 38

3. Estética ................................................................................................................ 43

4. Política.................................................................................................................. 48

5. Ontologia.............................................................................................................. 52

UNIDADE 03: FILOSOFIA E EDUCAÇÃO..............................................................60

1. Filosofia e Educação............................................................................................ 61

2. Educadores e fundamentos filosóficos................................................................. 66

UNIDADE 04: FILOSOFIA E OS NOVOS DESAFIOS............................................86

1. Novas tendências para a Filosofia contemporânea ............................................ 86

2. Filosofia e os desafios para a Educação atual .................................................... 95

3. Contribuição da Filosofia para uma educação transformadora............................ 109


Conceitos básicos

1 UNIDADE 1

CONCEITOS BÁSICOS

INTRODUÇÃO
"Conheça-te a ti mesmo”, a icônica frase encontrada no oráculo de Delfos, traduz a
essência do que é Filosofia. O saber é um dos objetos de estudo dessa forma de ver
o mundo e que se utiliza da razão como matéria-prima, e, muitas vezes, ao conseguir
uma possível resposta para uma questão, ela suscita novas questões, por isso os seres
humanos vivem em constante busca pelo saber.

Figura 01. Oráculo de Delfos

Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/1/1a/Delphi_by_Albert_Tournaire.jpg.
Acesso em: 2 dez. 2020.

É na Filosofia que a sociedade vem buscando, há séculos, conceituar e propor cami-


nhos para conduzir às perguntas da vida, isto é, às questões fundamentais que rodeiam
a existência humana. Quem eu sou? O que é o belo? O que é certo? O que é er-
rado? De onde vim? Para onde vou? Como pensar o bem comum? Como eu sei
que eu sei? Esses são alguns exemplos das perguntas fundamentais que cercam as
pessoas desde que elas passam a se enxergar como seres humanos.

E o que é ser um ser humano crítico? É aquele que não aceita as respostas óbvias
sobre as questões fundamentais. É aquele que busca refletir e encontrar os porquês

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dessas perguntas longe do senso comum, amando o buscar a sabedoria mais até do 1
que a possibilidade de uma resposta pronta.

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SAIBA MAIS
Estude mais sobre o termo senso comum pela leitura do artigo indicado abaixo:

PORFÍRIO, F. Mito da Caverna. Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.


br/filosofia/mito-caverna-platao.htm. Acesso em: 13 nov. 2020.

Nesta unidade, você estudará o que é Filosofia, suas concepções a partir do contexto
histórico e os principais autores e correntes filosóficas.

1. O QUE É FILOSOFIA?
Definir Filosofia não é tarefa fácil, nem para os próprios filósofos, pois o senso comum
busca uma resposta para estabelecer definições exatas em relação a esse conhecimento.
É possível dizer que Filosofia é a opção de não ter como óbvias e evidentes as ideias,
coisas e fatos, jamais aceitá-los sem investigar e compreender (CHAUÍ, 2000, p. 9).

A Filosofia é o despertar da suspeita, são os questionamentos que as pessoas já têm


em sua vida cotidiana que passam a ser mais bem elaborados: “Por quê?”, “O que
é?” E assim, buscam encontrar novos conceitos, conceitos estes que podem se tor-
nar novas perguntas. Ela é uma possibilidade de trazer o pensamento que questiona
e, propõe criticidade, porque o pensar produz capacidade de questionamento sobre o
espaço, tempo e acontecimentos, não só acontecimentos passados, mas para também
tentar entender a realidade presente.

E por que se estuda Filosofia? A cultura popular costuma entender que algo somente
tem valor quando há finalidade prática, lucrativa ou utilidade imediata (CHAUÍ, 2000, p.
10). A Filosofia serve então para ser a base da Ciência, porque para existir ciência tem
que existir verdade, e a possibilidade de verdade só é alcançada através de questiona-
mentos, pensamentos e reflexão crítica acerca da realidade.

Diante disso, o caminho para discutir o que é Filosofia é tentar entender o que é o co-
nhecimento e quais são as suas formas.

SUGESTÃO DE LEITURA
Convite à Filosofia – Marilena Chauí

Nesse livro, a autora convida seus leitores a entenderem sobre Filosofia de uma forma práti-
ca e com uma linguagem acessível.

CHAUÍ, M. S. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2000.

Filosofia da educação 7
Conceitos básicos

1 1.1. CONHECIMENTO X FORMA DE CONHECIMENTO


Figura 02. Reflexões

O que é certo? O que é errado? Quem eu sou? Quem ele é?

O que é belo? O que não é belo? De onde vim? Para onde vou?

Por que não fazer


Por que é assim?
diferente?

Fonte: elaborada pela autora.

Todas as perguntas nos fazem refletir e tentar chegar a pontos de esclarecimento de concei-
tos. Mas, como chegamos a eles? Você já parou para pensar? Por meio de conhecimento.

O conhecimento surge com base na necessidade do ser humano de tentar compre-


ender a realidade e conceitualizar as perguntas fundamentais (CORTELLA, 2008, p.
49). Ele é, no geral, as concepções que assumimos individual ou coletivamente. Esse
conhecimento varia da interação com o meio em que o sujeito vive e cresce, depen-
dendo, principalmente, da circunstância na qual ele obtém o saber, isto é, é possível ter
conceitos diferentes para todas essas respostas.

Há várias formas de conhecimento, como a Ciência e a Religião, que respondem dife-


rentemente às perguntas “De onde eu vim?” e “Para onde vou?”.

O senso comum, enquanto tipo de conhecimento, e a ética, enquanto campo da Filo-


sofia, podem também responder de maneiras diferentes às questões “O que é certo?”
e “O que é errado?”. É na busca por conceitos que respondam a essas questões que a
Filosofia surge como uma forma de conhecimento. Esses conhecimentos estão atrela-
dos à época em que eles surgiram.

A seguir, você estudará brevemente cinco tipos de conhecimento: mítico, empírico, te-
ológico, científico e filosófico.

Conhecimento mítico

Saci-pererê, Mula Sem Cabeça, Medusa, Pandora, Titãs: quem nunca ouviu falar em pelo
menos um desses personagens ou de alguma dessas histórias? Alguns deles perpetuam o
imaginário de crianças do Brasil e do mundo inteiro.
Para as pessoas, de modo geral, os mitos primitivos ficam no nosso imaginário como histó-
rias fantasiosas, juntamente com contos de fadas, contos de terror e mistério, entre outras
tipologias. Mas será que mito é realmente isso?

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A resposta para essa questão é não, pois há diferenças entre um texto de ficção e um mito. 1
O mito tem uma razão diferente para existir, é a maneira como os diferentes personagens se

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situam no mundo e encontram respostas para aquelas questões fundamentais. Saci-pererê,
Mula Sem Cabeça, Medusa e outros personagens não são mito, e sim folclore.

Mito e folclore são confundidos, muitas vezes, pelo senso comum. Enquanto o mito é uma re-
presentação não analítica da realidade que se mostra como possível resposta para o ser hu-
mano com o objetivo de dar uma explicação aos fenômenos da natureza e da vida, o folclore
surge como um conjunto de mitos, crenças, lendas e histórias populares que são transmitidos
de geração para geração e que fazem parte de uma expressão cultural dos povos, não sendo
capazes porém de responder a anseios destes.

Explicações sobre a existência do sol, da lua, da água, da terra, do ar e de tudo que envolve a
natureza e os homens em geral começaram a surgir como mito, uma forma de conhecimento
entre povos que era uma maneira de explicar os fenômenos existentes. Embora diferentemente
do folclore em alguns aspectos, o que há em comum entre eles é que o conhecimento mítico é
sim expresso por meio de uma linguagem simbólica e imaginária (CYRINO; PENHA, 1992, p. 14).

Por meio de linguagem simbólica e, por vezes, imaginária, o mito surge do desejo de enten-
dimento e dominação do mundo para dar fim aos anseios e medos da humanidade, pois, a
partir do momento em que o homem não consegue controlar as forças naturais, ele passa a
dar nomes e contar uma história sobre esses fenômenos.

Conhecimento empírico

Empirismo, segundo o dicionário Michaelis, é “o sistema filosófico que nega a existência de


axiomas como princípios de conhecimento”, isto é, uma forma de ver o mundo que acredita
que alguns conceitos não precisam ser necessariamente comprovados, ou seja, acredita que
o conhecimento é adquirido pela experiência sensorial.

O conhecimento empírico pode ser também chamado de senso comum, é o conhecimento


popular, isto é, aquele saber obtido através do olhar, da observação e da interação/relação do
ser humano com o seu meio ambiente. Quase sempre tem como base a vivência, as expe-
riências, em detrimento da Ciência. Nesta forma de conhecimento não há, necessariamente,
uma preocupação em refletir criticamente sobre o tema tratado. A dedução, muitas vezes, é
mais valiosa que a reflexão por se tratar de assuntos recorrentes ao dia a dia. Essa forma de
pensar baseia-se em crenças, tradição e ao possível não questionamento, e é um saber que
pode ser transmitido por qualquer pessoa.

Quem nunca se sentiu enjoado depois de comer alguma coisa que não lhe caiu bem? É co-
mum ouvir que o chá de boldo ajuda a melhorar o enjoo e problemas de fígado em geral. O
chá de boldo é, de fato, utilizado há muito tempo por várias gerações, sem que, necessaria-
mente, as pessoas fossem buscar uma explicação científica por trás dos seus componentes
para comprovar efetivamente tal melhora.

Esse é um exemplo de pensamento empírico: embora haja muitas pessoas que se sintam
melhor depois de tomar o chá de boldo, nem todas elas se questionam o porquê de tal erva
ser capaz de melhorar os problemas do fígado e trazer alívio ao enjoo.

Por intermédio do exemplo é possível explicar com efeito mais elucidativo o que é o
pensamento empírico, e que, mesmo não tendo seu valor comprovado cientificamente, é

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Conceitos básicos

1
um conhecimento existente, popular, e para algumas questões essenciais consegue se
fazer efetivo.

Na Antiguidade é possível notar pensamentos empíricos nos sofistas (veremos adiante), mas
o mais importante empirista que viveu na modernidade (HESSEN, 2000, p. 41) é John Locke
(1632-1704). Ele afirma que a experiência é a escrita em uma superfície em branco que é a
nossa alma, e que o conhecimento vai sendo adquirido com as vivências, passando por duas
operações: a sensação e a reflexão. A primeira seria a percepção que chega até nós pelos
sentidos, pela experiência sensível, enquanto a segunda é formada por operações internas,
operações da mente.

Conhecimento teológico

“O que há depois da morte?” “O que Deus reserva para nós?” O conhecimento teológico pode
também ser considerado um pensamento religioso, pois este é o tipo de pensamento que se
baseia na fé.

Dessa maneira, o conhecimento teológico parte do pressuposto da aceitação e da existência de


um deus ou de deuses, que, por sua vez, criaram os seres e todas as coisas. Um exemplo clás-
sico de um pensamento teológico é a criação do mundo, de Adão e Eva, e outros escritos que
buscam conceituar as questões fundamentais, neste caso: “De onde vim?”, “Para onde vou?”.

De certa maneira, pelo fato de esse conhecimento envolver a fé, acaba por ir além da possibili-
dade de questionar, como na frase popular “com fé não há perguntas, sem fé não há respostas”
(não há definição de autor), no sentido de que Deus seria a resposta a qualquer pergunta.

O conhecimento teológico busca então uma resposta para o “absoluto” e com isso há uma
possibilidade de apaziguar nossos anseios, que é dada em introspecção. A teoria do co-
nhecimento dentro do pensamento teológico é absorvida em sua totalidade pela metafísica
(HESSEN, 2000, p. 67).

Conhecimento científico

O conhecimento científico é, talvez, um dos mais proeminentes na atualidade, pois ele re-
laciona a lógica, o pensamento analítico e crítico. É nele que as especulações se tornam
teorias sobre a ocorrência dos fatos, quando comprovados através da Ciência, isto é, quando
se consiga comprovar a veracidade ou até mesmo a falsidade de algo.

Esse fato torna o conhecimento científico infalível? Não! Uma vez que as teorias científicas
podem ser comprovadas ou refutadas, isto é, novas ideias comprovadas cientificamente po-
dem mudar teorias antigas que em determinado tempo foram aceitas, o conhecimento cien-
tífico é falível e pode ser verificado.

Esse é o tipo de pensamento proveniente do pensamento empírico. Você se lembra de que


o empirismo é aquele conhecimento baseado em experiências vividas? O científico usa das
experiências, indo além, buscando provas para sustentar a hipótese apresentada, isto é, a
suposição de algo pode ser verdadeiro. Além disso, o conhecimento científico se organiza
segundo duas exigências: o método e a comprovação científica.

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1
De certa forma, o conhecimento científico vive em constante construção e reavaliação, partin-
do do pressuposto de que é um pensamento lógico/instrumental e é elaborado por intermédio

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da investigação da realidade.

Exemplos populares de conhecimento científico são: as vacinas, desenvolvidas através do


vírus que se quer combater; estudos astronômicos que comprovam que existe água em Mar-
te; desenvolvimento de um método para ensinar línguas estrangeiras; entre diversos ou-
tros temas que podem ser estudados e comprovados cientificamente, pois o conhecimento
científico abrange tanto as ciências exatas como as biológicas e as humanas. David Hume
(1711-1776), filósofo empirista inglês, defendia um ceticismo teórico, ou seja, ele afirmava
que o conhecimento científico se sustentaria por probabilidades, e não em certezas eternas
ou mesmo irrefutáveis.

Conhecimento filosófico

Depois de conceituar alguns tipos de conhecimento, chega a vez da Filosofia, que significaria
“amor à sabedoria”. O significado já nos diz alguma coisa, não? Para amar a sabedoria de-
ve-se, então, amar o saber, amar o investigar, o conhecer. Além disso, a Filosofia apresenta
algumas características fundamentais, como a universalidade e a sistematização das ideias
sem a necessidade de provas científicas.

O pensamento filosófico é uma maneira de buscar o conhecimento e questionar as pergun-


tas da vida. É uma maneira diferente de tentar conceituar as respostas para as indagações:
“Para onde eu vou?”, “De onde eu vim?”, “O que é belo?”, “O que é o tempo?”.

Algumas das principais características do conhecimento filosófico (mas que não se restrin-
gem apenas a elas) são: a capacidade de refletir sobre a humanidade de maneira racional,
conseguir produzir especulações e levantar hipóteses sobre o tema.

Entretanto, toda a tentativa de definição de Filosofia ou de conhecimento filosófico vai de


encontro com a própria ideia da Filosofia, que é não se contentar com uma resposta, com
uma definição, é continuar buscando, refletindo e questionando, isto é, a Filosofia acaba por
ser um exercício de autorreflexão espiritual sobre o comportamento, uma visão racional de
mundo (HESSEN, 2000, p. 10).

SUGESTÃO DE LEITURA

A alegoria da caverna – Platão

Para elucidar um pouco mais sobre a teoria do conhecimento, você poderá ler o conto “A
alegoria da caverna", retirado do livro A República, de Platão, em que há a conversa entre
Sócrates e Glauco em que imaginam a história de há, no interior de uma caverna, alguns
prisioneiros que estão ali desde o seu nascimento. Na caverna, esses prisioneiros conviviam
com sombras, as quais eram a única realidade conhecida por eles. Certo dia, um dos prisio-
neiros se torna livre, assim, ele começa a explorar a caverna e percebe que as sombras, na
verdade, formadas a partir da fogueira montada para os prisioneiros. O homem, então, sai
da caverna e acaba por conhecer uma realidade inimaginável e muito mais complexa do que
a que havia vivenciado na caverna por toda a sua vida.

Filosofia da educação 11
Conceitos básicos

1 Nele podemos enxergar a passagem do conhecimento mítico para o conhecimento filo-


sófico, e é possível levar as questões fundamentais a um campo de discussão mais amplo.

PLATÃO. A alegoria da caverna. A República, 514a-517c. Tradução de Lucy Magalhães. In:


MARCONDES, Danilo. Textos básicos de Filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. 2.
ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2000.

Depois de ler A alegoria da caverna, é possível perceber, nitidamente, que o texto é um


mito repleto de metáforas que nos leva a refletir sobre o fazer filosófico e se apreender o
mundo (seja em sua idealização ou sua perspectiva sensível, muitas vezes enganado-
ra), remetendo ao ideal de educação clássica, na visão de Platão, autor do texto. A fim
de responder a algumas das questões fundamentais da época em que estava inserido,
diante do que tinha de buscar, Platão criou essa conversa entre seu mentor, Sócrates,
e um interlocutor, Glauco, para que as pessoas, por meio da metáfora, conseguissem
entender o que ele havia encontrado como possível conceito dentro da política.

Esse mito, embora date de 514-517 a.C., continua atual se trouxermos a metáfora para
os dias de hoje. Você já parou para analisar a rede social Instagram? Questionou se
todos os influenciadores digitais têm realmente a vida que apresentam por meio de
suas fotos e vídeos? Refletiu sistematicamente em quantas vezes você já quis com-
prar algo que viu lá, ou sentiu que a sua vida não tem a maior graça comparada com a
desses influenciadores? Essas questões também são inerentes à vida humana, e, em
um aspecto atual, podem até ser consideradas questões fundamentais, uma vez que a
sociedade moderna está cada vez mais digital.

Nessa condição, quem você seria? Os prisioneiros? O ex-prisioneiro que se libertou?


Os amos da caverna que aceitavam o trabalho de “fazer sobras”? A luz? Vale a reflexão.

SUGESTÃO DE LEITURA

Teoria do Conhecimento – Johannes Hessen

Neste livro, você conseguirá se aprofundar em algumas das teorias do conhecimento apren-
didas aqui.

HESSEN, J. Teoria do Conhecimento. Tradução de João Vergílio Gallerani Cuter. São Pau-
lo: Martins Fontes, 2000.

2. CONCEPÇÕES HISTÓRICO-FILOSÓFICAS
Entender o contexto histórico em que se desenvolvem as correntes filosóficas é funda-
mental para conseguir perceber quais eram as ideias e os pensamentos que norteiam
os filósofos e as correntes de pensamentos deles, pois estavam inseridos num espaço
e numa cultura que os faziam ter questionamentos pertinentes.

A seguir você conhecerá três momentos do pensamento histórico-filosófico: Pensamen-


to Clássico, Pensamento Medieval e Pensamento Moderno.

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2.1. PERÍODO CLÁSSICO GREGO 1
O Pensamento Clássico Filosófico é conhecido também como Filosofia Grega Clássica

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e compreende o período ativo de VII a.C. a VI d.C., entre os pré-socráticos e os pós-so-
cráticos, passando por Sócrates, Platão, seu principal discípulo, e chega a Aristóteles,
pupilo de Platão.

Dentro do Período Clássico está o Período Pré-Socrático, marcado por pensadores


que buscavam entender e conceitualizar os fenômenos da natureza e do universo por
meio da lógica e da razão. Foi nesse período que se surgiram as primeiras noções de
geometria, matemática e física.

É ainda no Período Pré-Socrático, marcado por questões como a cosmologia ou a ori-


gem da existência, que surgem os primeiros nomes da Filosofia, como Tales de Mileto,
com o teorema de Tales; Heráclito, com a ideia de devir; e Pitágoras, com a noção de
realidade com fundamentação em princípios numéricos. Esses são alguns dos princi-
pais nomes do Período Pré-Socrático, mas há alguns outros além deles.

Depois do Período Pré-Socrático, no chamado então, Período Socrático, que tem como
temas a vida na pólis, os valores humanos, o conhecer, chegamos então a ele, Só-
crates. Sócrates é conhecido como o patrono da Filosofia, pois foi ele que buscou se
aprofundar no estudo racional do homem, da moral e da razão, sem recorrer a mitos;
seu objetivo era, então, buscar conceitos através da razão.

O filósofo disse a frase popularmente conhecida, “Sei que nada sei”, para enfatizar que,
quando chegava a uma resposta para seus questionamentos, muitos outros surgiam;
isso era a maiêutica, ou seja, dar luz as ideias, ou a ironia socrática, a arte do diálogo,
da argumentação e da reflexão até alcançar as ideias verdadeiras e inatas. As reflexões
de Sócrates levaram a Filosofia, de maneira acessível, para as pessoas, fazendo com
que elas tivessem a capacidade de questionar a vida, a moral, a política, o bem e o mal.

Platão, seu discípulo, foi um dos responsáveis e o principal por transmitir o conhecimen-
to e as ideias do seu mestre através de diálogos. Ele usava muitas metáforas e criava
alegorias para explicar seus pensamentos, fazendo o outro refletir e chegar à própria
conclusão sobre determinada temática.

Aristóteles, pupilo de Platão, além de estudar Filosofia com seu mestre, também es-
tudou as áreas biológicas, como botânica e zoologia, quando elas ainda não tinham
esse nome. Seus estudos contribuíram muito para o conhecimento científico. Embora
estudioso da Filosofia, ele foi além de metáforas, afirmando a importância de verificar o
empirismo. Foi através de seus estudos que a Ciência ganhou espaço.  

Você verá mais adiante as principais correntes filosóficas e os principais autores per-
tencentes a elas.

2.2. PERÍODO MEDIEVAL


É possível que a fé e a razão caminhem juntas? Embora possa parecer contraditório,
por uma tratar da racionalidade humana e a outra da subjetividade, na Época Medieval

Filosofia da educação 13
Conceitos básicos

1 percebe-se que era possível, sim, ambas se complementarem e iniciarem um pensa-


mento filosófico que se estendeu por quase 10 séculos.

O segundo período histórico-filosófico foi a Filosofia Medieval, posteriormente à Filoso-


fia Clássica. Foi nesse momento histórico que a Filosofia interligou a fé e a razão, pois
historicamente estava no ápice da Idade Média ocidental, época de domínio cultural da
Igreja Católica.

E o que isso quer dizer? Quer dizer que os principais filósofos dessa época eram homens
religiosos, isto é, de ordem religiosas. No geral, seus objetos de estudo eram as relações
entre os dogmas aceitos pelas crenças religiosas de fé e as descobertas racionais.

Dentre os temas estudados pelos filósofos da época medieval estão: a existência de


Deus, a imortalidade da alma humana, o que se entende por salvação e pecado, o livre-
-arbítrio e até a própria existência de Deus.

Embora esses questionamentos fossem todos pertinentes à sociedade e levassem a


uma profunda reflexão, esses conceitos ficavam apenas no âmbito de discussão, pois
não podiam contrapor os escritos bíblicos, isto é, os estudos científicos não aconteciam.
Mesmo assim, as discussões, por vezes, eram proibidas e as pessoas eram obrigadas
a se calarem.

Como a Idade Média foi um longo período da História, a Filosofia Medieval ganhou con-
tribuições, em várias fases, por filósofos de dentro da perspectiva religiosa (cristianismo
católico apostólico romano), causando uma subdivisão dentro do Pensamento Medie-
val, e assim foram criadas diferentes correntes filosóficas.

O Pensamento Medieval tem duas principais fases: a primeira chamada de Patrística,


que teve início com as cartas de Pedro e Paulo, e seu maior pensador é Santo Agosti-
nho; e depois a fase Escolástica, na qual, por necessidade de formação de massa cató-
lica, a Igreja construiu muitas escolas e universidades católicas. Seus principais nomes
são Alberto Magno e Tomás de Aquino.

SUGESTÃO DE LEITURA

O livro O nome da rosa, do autor Umberto Eco, foi adaptado para cinema com o filme de
nome homônimo e é uma grande oportunidade de entender melhor como funcionava o Pen-
samento Medieval no Período Escolástico.  

ECO, Umberto. O nome da rosa. Tradução de Aurora Fornoni Bernardini e Homero Freitas
de Andrade. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora Record, 2011.

Mais informações sobre o filme O nome da rosa (1986), dirigido por Jean-Jacques Annaud,
está disponível em: https://www.imdb.com/title/tt0091605/. Acesso em: 11 jan. 2021.

2.3. PERÍODO MODERNO


O Pensamento Moderno dentro da Filosofia começa com o Período do Renascimen-
to e assim transita entre o Medieval e o Moderno. Essa transição marca a crítica do
teocentrismo, isto é, a ideia de Deus como o centro de tudo, e tem-se um retorno ao

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antropocentrismo clássico, nesse caso a valorização do homem e de suas ideias trazi- 1
das, de certa forma, pelo ceticismo e pela ideia de que o ser humano e seu intelecto é
independente das ideias cristãs.

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Um importante nome da Filosofia Moderna é Maquiavel, que escreveu a famosa obra O
príncipe. Ele traz consigo a ideia e defesa de um pensamento político monárquico, pela
primeira vez sem a ligação com a religiosidade, como era na Época Medieval.

Outro marco histórico da Filosofia Moderna foi a invenção da primeira prensa, feita por
Johannes Gutenberg, que disseminou a informação por meio dos impressos, fazendo
com que mais pessoas, antes não alfabetizadas, se interessassem por aprender a ler e
escrever, e esse fato mudou a história do pensamento moderno e da educação.

De modo geral, o Pensamento Moderno deu espaço para a Ciência e para o conheci-
mento racional, principalmente através do racionalismo, marcado pelo filósofo, cientista
e matemático René Descartes.

Dentro do Pensamento Moderno houve também o empirismo, em que a experiência hu-


mana e a forma de ver o mundo individual e pessoal eram levadas em consideração em
termos filosóficos, e os principais filósofos do pensamento empírico são: David Hume,
John Locke e Francis Bacon.

Um grandioso ponto do Pensamento Moderno foi o contratualismo no âmbito político,


que seria a ideia de um contrato social que formava o governo e a sociedade. Hobbes
e Locke faziam parte dos filósofos defensores dessa ideia, juntamente com Jean-Jac-
ques Rousseau, que também era crítico da ideia, pois acreditava que o ser humano se
afastava da sua natureza ao viver em sociedade.

Depois das ideias renascentistas, surgiram ainda, dentro do Pensamento Moderno, a


ideia do iluminismo, que foi um período extremamente importante para a consolidação
da Filosofia Moderna e também para o futuro da Filosofia, a Filosofia Contemporânea.

Durante esse período, houve muitos pensadores importantes, dentre eles Voltaire, Ale-
xis de Tocqueville, Denis Diderot e Jean Le Rond D'Alembert, sendo os últimos dois os
criadores da enciclopédia.

A enciclopédia surge com a ideia inovadora de levar o conhecimento adquirido a todos


como parte de uma evolução moral, e isso é um grande passo para a ideia de escola
universal e laica: levar luzes a todos – o saber.

3. PRINCIPAIS AUTORES E SUAS CORRENTES FILOSÓFICAS


Na seção anterior, você já foi apresentado às três concepções histórico-filosóficas. A se-
guir, você conhecerá um pouco mais sobre os principais nomes da Filosofia. Tais autores
estão organizados conforme a corrente filosófica que seguiram, ou seja, de acordo com o
pensamento no qual eles eram amparados, no que eles, de fato, acreditavam.

Filosofia da educação 15
Conceitos básicos

1 3.1. PRÉ-SOCRÁTICOS (COSMOGONIA E COSMOLOGIA)


No primeiro período da Filosofia na Época Clássica, existiam alguns pensadores que
fizeram e desenvolveram suas teorias antes do termo “Filosofia”, antes mesmo de Só-
crates, por isso esse período histórico da Filosofia foi denominado Pré-Socrático.

Nessa época os filósofos buscavam conceitos para tentar entender a natureza e os fe-
nômenos naturais, ou buscavam entender o mundo através da natureza. Eles foram os
pensadores que começaram a busca para tentar definir conceitos além das explicações
míticas, isto é, buscavam a racionalidade dentro dos pensamentos e das questões fun-
damentais da época (MARCONDES, 2009, p. 13) – que nesse primeiro momento girava
em torno da origem do mundo.

Durante essa fase da Filosofia, dois termos foram utilizados: o primeiro é cosmogo-
nia (cosmo: universo; gignomai: gênese), ou seja, esse termo buscava explicações e
conceitos por meio da ideia de nascimento entre deuses da mitologia e de forças ge-
radoras (CHAUÍ, 2000, p. 34). Por exemplo, na mitologia grega, Poseidon é conhecido
como o deus dos mares, dos oceanos e das tempestades, o senhor das águas. Por
intermédio desse mito é possível conseguir explicações para algumas questões levan-
tadas sobre as ideias relacionadas a Poseidon.

Os pensadores do Período Pré-Socrático contrariaram essa ideia de cosmogonia e


introduziram o conceito de cosmologia (logos dá origem à palavra “lógica”, “razão”, isto
é, a cosmologia buscava argumentar a origem do mundo e das questões fundamentais
de outra forma, de maneira racional e reflexiva ao enxergar as temáticas, e não através
do conhecimento mitológico (CHAUÍ, 2000, p. 40).

Todo esse conhecimento desenvolvido do Período Pré-Socrático foi demasiadamente


importante na representação da realidade e serviu como base para os filósofos que
vieram nas fases seguintes.

Os nomes mais conhecidos do Período Pré-Socrático são:

Tales de Mileto, nascido em Mileto (624 a.C.-548 a.C.), ficou famoso por acreditar que a
água (CHAUÍ, 2000, p. 41) era o elemento principal, a origem de todas as coisas. “Tudo é
água”; através de observação e reflexão ele chegou a essa conclusão racional de que tudo
que existia vinha da água.

Heráclito de Éfeso, nascido em Éfeso, (540 a.C.-476 a.C.), é considerado o pai da dialética.
“Nada é permanente, exceto a mudança.” Acreditava que uma pessoa nunca se banharia no
mesmo rio, pois ele estava em constante mudança. Para esse pensador, o princípio de tudo
se concentrava no fogo. (CHAUÍ, 2000, p. 42).

Pitágoras de Samos, nascido da cidade de Samos (570 a.C.-497 a.C.), é muito conhecido
através do seu teorema – o teorema de Pitágoras. Para ele os números eram os principais ele-
mentos de reflexão (CHAUÍ, 2000, p. 332). Além de suas contribuições matemáticas, Pitágoras
é o autor do termo “filósofo” – aquele que tem amor ao conhecimento.

Parmênides também foi um pensador importante durante a era pré-socrática. Ele nasceu por
volta de 151 a.C., na cidade de Eleia, na Magna Grécia, hoje no sul da Itália. Diferentemente de

16
1
outros filósofos pré-socráticos, Parmênides não apresentou uma teoria baseada na cosmologia
de um princípio. Pelo contrário, já acreditava em uma organização racional do universo.

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3.2. PERÍODO CLÁSSICO GREGO
O Período Clássico Grego da Filosofia conta com os mais famosos filósofos da história
da humanidade: Sócrates, Platão e Aristóteles. É um período muito importante para a
Filosofia, marcado pelo desenvolvimento cultural.

Sócrates, nascido em Atenas, em 470 a.C., foi um dos pensadores mais importantes de
toda a história da Filosofia. Percebe-se tal importância no fato de a Filosofia ser dividida
em Período Pré-Socrático e Pós-Socrático.

Muitas vezes sua existência chegou até a ser questionada, pois não há escritos de sua
obra (STRATHERN, 1997, p. 12), já que ele valorizava a oralidade. O que se sabe dos
pensamentos e ensinamentos se Sócrates encontra-se nas obras de outros pensado-
res, e principalmente de Platão, seu discípulo, que registrou seus diálogos e ensina-
mentos (STRATHERN, 1997, p. 13).

Sócrates

“Conhece-te a ti mesmo” é uma frase que foi assumida por Sócrates e é encontrada na en-
trada do oráculo de Delfos, que consegue elucidar o pensamento socrático, um pensamento
de autoconhecimento que marcou a Filosofia grega antiga. Essa premissa se interpõe como
elemento que instiga Sócrates, pois ele acredita que para conhecer o mundo é necessário,
primeiramente, conhecer a si mesmo.

“Só sei que nada sei”, outra frase conhecida atribuída também ao pensador Sócrates, le-
va-nos a refletir sobre o saber. Quando o filósofo diz que nada sabe, não é por não saber
de nada ou por falsa modéstia, é por ter conhecimento de que ainda há muitas coisas para
serem descobertas e entendidas, era uma parte de seu método. Ele reconhecia que não
sabia de tudo e reforçava a ideia de autoconhecimento. Só sabe que não sabe de tudo quem
conhece a si mesmo.

O raciocínio socrático foi um marco para a Filosofia, pois marca uma mudança de fase no
pensamento. Enquanto os pré-socráticos buscavam conceitualizar questões pertinentes à
natureza e à criação do mundo, Sócrates traz a ideia do antropocentrismo, de olhar as ques-
tões inerentes ao homem, indagações sobre ética, política, raciocínio e até os sentimentos,
conhecendo a si mesmo (STRATHERN, 1997, p. 22).

A morte de Sócrates foi algo extremamente atípico, pois ele foi condenado ao suicídio. Con-
denado ao suicídio? Sim, exatamente. Isso aconteceu porque Sócrates foi acusado de cor-
romper os jovens atenienses no sentido de que ele estaria influenciando a juventude a não
acreditar nos deuses.

O ato de pensar e de indagar questões inerentes ao ser humano, como política e ética, por
exemplo, incomoda quem está no poder há muito tempo, e esse foi o fator que levou à con-
denação de Sócrates, porque ele começou a fazer com que parte da população refletisse,
questionasse, e por isso ele foi acusado e os políticos atenienses não gostaram.

Filosofia da educação 17
Conceitos básicos

1
Figura 03. A morte de Sócrates - Jacques-Louis David Quando levado ao júri, Sócrates
não fez os apelos que eram comuns
àquela época, pois acreditava que, se
os fizesse, estaria partindo do pres-
suposto de que era culpado (MAR-
CONDES, 2009, p. 22). Portanto, ele
aceitou sua condenação à morte, pois
preferia morrer que desmerecer a Fi-
losofia. Sócrates optou pelo suicídio
após ingerir um copo de veneno.

Mesmo condenado à morte, sabe-


-se pela escrita de Platão, no livro
Fédon, sobre os últimos ensina-
mentos e reflexões de Sócrates a
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/A_Morte_de_S%C3%B3crates#/
media/Ficheiro:David_-_The_Death_of_Socrates.jpg. Acesso em:
respeito da morte e da imortalidade
11 jan. 2021. da alma. Ao pensar sobre a morte,
ele é capaz de vencê-la.

SUGESTÃO DE LEITURA

O livro Fédon, escrito por Platão, narra as últimas reflexões de Sócrates depois da condena-
ção à morte dos seus discípulos e fala sobre a imortalidade da alma.

É um livro extremamente interessante para quem tem vontade de se aprofundar nas refle-
xões de Sócrates através dos escritos de Platão.  

Platão
Platão, o principal discípulo de Sócrates, nasceu em Atenas no ano de 428 a.C., e seu nome
verdadeiro era Arístocles, porém ficou conhecido como Platão devido a seus atributos físicos:
ele era um homem forte e Platon significa “costas largas” (STRATHERN,1996, p. 6).

Ele foi um dos mais importantes pensadores da história da Filosofia. O filósofo ganhou evi-
dência por ter escrito a maioria dos textos conhecidos atualmente sobre Sócrates.

Embora Platão fosse discípulo de Sócrates e tenha escrito sobre os ensinamentos do seu
mestre, ele conseguiu aperfeiçoar ainda mais as ideias de seu antecessor e criar novas,
como, por exemplo, a ideia de dialética, com inspiração de Parmênides, que era uma técnica
de extração de conclusão baseada em ideias opostas.

Dentre as principais ideias de Platão, a que mais marcou foi a teoria das ideias (ou das for-
mas) (STRATHERN,1996, p. 22), que trazia ideias dualistas, o inteligível e o sensível. Dentro
do mundo inteligível de Platão estavam o intelecto como essência e também a sabedoria e o
conhecimento. Já no mundo sensível, era o campo das aparências e do conhecimento através
dos sentidos. Em um dos textos escritos por Platão consegue-se perceber essa ideia entre o
inteligível e o sensível: é a “Alegoria da Caverna”, que está presente no livro A República.

Para conhecer um pouco mais sobre as ideias platônicas e sua obra, uma ótima opção de
leitura é “Platão em 90 minutos”, escrita por Paul Strathern, em que ele apresenta as ideias
platônicas de forma resumida e com uma linguagem acessível.

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SUGESTÃO DE LEITURA 1

OS FILÓSOFOS através dos textos: de Platão a Sartre. São Paulo: Paulus, 2003-2004. 331

Universidade São Francisco


p. (Coleção filosofia). ISBN 85-349-0980-6.

Aristóteles

Aristóteles, pupilo de Platão, é um dos principais nomes da Filosofia Clássica, juntamente


com Sócrates e seu antecessor, Platão. Nascido na cidade de Estagira, no Império Macedô-
nico, no ano de 384 a.C., Aristóteles é considerado um filósofo da Grécia Antiga, mesmo sem
ser ateniense (MARCONDES, 2009, p. 49).

O filósofo estudou na academia de Platão até se tornar professor no mesmo local. Mesmo
“bebendo na água de Platão”, o pensador era crítico e foi além de Platão (STRATHERN,1996,
p. 7). De maneira bem genérica, pode-se dizer que as teorias desenvolvidas por Aristóteles
questionam algumas das ideias do seu antecessor, pois, enquanto Platão valorizava apenas
o conhecimento advindo do raciocínio intelectual, Aristóteles passou a valorizar também o
conhecimento empírico.

Com a morte de seu mestre Platão, Aristóteles acreditava que receberia o cargo de ges-
tão da Academia de Platão, porém foi recusado por ser considerado estrangeiro (STRA-
THERN,1996, p. 8). A decepção foi tamanha, que o pensador resolveu mudar-se para Atar-
neu, onde foi conselheiro político.

Depois desse período, Aristóteles voltou a Macedônia em 343 a.C., e Felipe II da Macedônia
o convidou para ser tutor do seu filho, Alexandre, o Grande (STRATHERN,1996, p. 11), pois
o rei queria que o filho fosse um respeitado filósofo.

Depois de alguns anos, em 335 a.C., de volta a Atenas, o filósofo fundou sua escola, intitu-
lando-a de Liceu. Os estudos de Aristóteles, como Platão, discutirão o conceito de belo, da
função das artes. Ele escreveu inúmeras obras que são lidas e relidas por muitas pessoas
da atualidade.

Para conhecer um pouco mais sobre sua obra, sua história de uma maneira resumida e as-
sertiva, uma boa oportunidade é o livro Aristóteles em 90 minutos, do escritor Paul Strathern.

GLOSSÁRIO

Ao buscar a palavra arte no dicionário online Michaelis, você encontra mais de 20


definições como resultado. Para conseguir elucidar melhor o conceito que queremos
trazer aqui, escolhemos as principais definições, de acordo com a Filosofia.

arte

ar·te

sf

1 FILOS Segundo Platão, toda forma de conhecimento ou atividade humana racional e utili-
tária, submetida a regras, em oposição ao acaso, ao espontâneo ou ao natural, abrangendo
ciência e filosofia; assim, estabelece dois tipos de arte ou técnica: a) as judicativas, dedica-

Filosofia da educação 19
Conceitos básicos

1 das apenas ao conhecimento, as do mundo inteligível; e b) as dispositivas ou imperativas,


voltadas para a elaboração de uma atividade material, as do mundo sensível.

2 FILOS Segundo Aristóteles, já separando arte, filosofia e ciência, técnica de imitação da


natureza, sustentada por um fim utilitário e uma concepção mimética que não se confunde
com a simples reprodução, mas que corresponde à representação da natureza, de modo que
na obra de arte figure algum ser, sentimento ou fato, por meio da obediência a um conjunto
de regras, em busca da harmonia e da perfeição; mimese.

3 FILOS Na concepção medievalista, símbolo ou manifestação espiritual que permite alcan-


çar a visão direta da perfeição de Deus e cujo caráter doutrinário deveria despertar no cristão
a consciência da morte e o desejo de fugir dos pecados da vida para alcançar a salvação.

4 FILOS Segundo a estética da criação, em ascensão durante os séculos XVII e XVIII, e já


vigorando no movimento romântico, capacidade que tem o ser humano de criar o belo, como
produto da ação individual, do gênio e da sensibilidade do artista, valendo-se de sua faculda-
de de inspiração; exteriorização dos sentimentos de um gênio excepcional, capaz de dominar
a matéria e o pensamento, independentemente de uma finalidade utilitária.

5 FILOS Na concepção estética contemporânea, expressão criadora e processo de cons-


trução que elabora a transfiguração do elemento sonoro, do movimento, da linguagem, dos
gestos, das cores, enfim, da própria realidade, em produtos artísticos; não se trata de pura
receptividade imitativa, concepção inspirada de um criador genial ou de um processo ilusório
sobre a realidade, nem pura criatividade espontânea e livre, mas da construção de um sen-
tido novo para a obra (e a realidade), assim como sua instituição como objeto da cultura, em
um embate contínuo com a natureza e com a sociedade.
Fonte: https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-brasileiro/arte/. Acesso em: 11 jan. 2021.

3.3. MEDIEVAIS
A Filosofia Medieval aconteceu durante o período da Idade Média no continente eu-
ropeu. Era um período da expansão do cristianismo e, por consequência, dos valores
cristãos que não só se expandiam, mas também se consolidavam.

Essa vertente da Filosofia serviu como um conciliador entre esta e a religião, isto é, uma
forma de unir dois pensamentos, a razão e a fé. O Período Medieval contou com valioso
conteúdo filosófico. Mesmo sendo conhecido como um período de trevas, foi um mo-
mento de grande reflexão e produção intelectual, e contou com nomes de pensadores
extremamente importantes dentro da Filosofia.

Muitos filósofos da era medieval eram religiosos ou faziam parte do clero. Neste mo-
mento você estudará os dois principais nomes da Filosofia Medieval: Santo Agostinho
e São Tomás de Aquino.

Agostinho

Santo Agostinho (354- 430) foi um filósofo e teólogo, o mais influente pensador ocidental dos
primeiros séculos da Idade Média, pois ele busca utilizar de artifícios racionais para explicar
a fé, no período denominado como Escolástica, dando suporte racional ao cristianismo.

20
O pensador pertencia à corrente filosófica patrística (CHAUÍ, 2000, p. 53), que recebia esse 1
nome justamente por serem os primeiros idealizadores da teologia cristã, que refletiu sobre

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os fundamentos religiosos da Igreja Católica.

Nem sempre ele pertenceu à Igreja, pelo contrário, sempre foi um estudioso e conheceu a
filosofia através de Cícero. Antes de se converter, Agostinho chegou a ter um filho. Ele co-
nheceu o cristianismo por intermédio de Santo Ambrósio, e somente depois dos 30 anos de
idade se tornou membro da Igreja Católica.

Agostinho conseguiu fazer, num momento delicado em que existiam muitas pessoas pagãs,
adeptos da religião católica com a introdução da razão em algumas questões. Conseguiu
influenciar pessoas e mostrar a elas que era possível continuar pensando em questões fun-
damentais, atrelando esses pensamentos às ideias cristãs.

Por meio da prática de disseminar a Filosofia Medieval feita por Agostinho, a Igreja ganhava
espaço também de escolarização através da catequese, e elas praticamente se equivaliam
nessa época. De certa maneira, o conhecimento tinha destaque, e a educação patrística
estimulava a humildade e a resignação para merecer a salvação divina.

Agostinho sofreu a influência de algumas ideias platônicas, como, por exemplo, o dualismo
entre o inteligível e o sensível, porém conseguiu transformar essas ideias dentro do campo
cristão, isto é, adaptou esse dualismo à religião (CHAUÍ, 2000, p. 54).

O filósofo propõe que a filosofia deveria ser uma serva da teologia, ou seja, a razão seria um
valioso instrumento que auxiliaria a fé, pois para ele a fé apenas poderia apontar para a verda-
de absoluta. Pois, ele acreditava que a real justiça só poderia ser encontrada através de Deus.

Tomás de Aquino

São Tomás de Aquino, nascido na Itália, no ano de 1224, foi também, assim como San-
to Agostinho um filósofo e teólogo. Aquino foi o principal filósofo da Filosofia Escolástica
(CHAUÍ, 2000, p. 507). Por ter nascido no fervor da Idade Média, o pensador teve educação
dominicana, ou seja, uma educação voltada para os ideais cristãos, e isso fez com que ele
se tornasse um frade dominicano.

Quando Tomás de Aquino resolveu continuar seus estudos dentro do campo cristão, ele foi
para a Universidade de Paris e recebeu o apelido de “Boi Mudo”, porque quase não falava, era
muito quieto e um pouco robusto. Todavia, essa característica mais tímida se alterou quando
ele conheceu o professor Alberto Magno, também frade e pesquisador de teologia e filosofia.

Alberto Magno percebeu que Tomás de Aquino era um pensador especial, com uma capa-
cidade intelectual excepcional, e enxergou um talento nele a ser explorado. Essa visão de
Magno foi demasiadamente importante, pois Tomás de Aquino tornou-se o maior pensador
da escolástica.

O período escolástico foi fortemente influenciado pelo aristotelismo, constituído pelo ensino
do trívio e do quadrívio, representando os tipos de conhecimento aos quais as pessoas da
corrente escolástica davam mais relevância na época, como, por exemplo, no trívio o ensino
de gramática, lógica e retórica, no quadrívio, música, astronomia, geometria e aritmética.   

Ao estudar o conceito de belo e também a Filosofia platônica, Tomás de Aquino descobriu os


estudos de Aristóteles (CHAUÍ, 2000, p. 244) e conseguiu, mesmo com a proibição por parte

Filosofia da educação 21
Conceitos básicos

1 da Igreja dos livros aristotélicos, juntar a fé e a razão, pois ele enxergava, nos estudos de
Aristóteles, a possibilidade de combater as heresias.  
Figura 04. O triunfo de São Tomás de Aquino –
Benozzo Gozzoli

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Tom%C3%A1s_de_
Aquino#/media/Ficheiro:Benozzo_Gozzoli_004a.jpg.
Acesso em: 2 dez. 2020.

Na visão de Aquino os estudos aristotélicos não excluíam o pensamento cristão, pelo con-
trário, o filósofo conseguiu reunir o que havia de bom e juntar no contexto religioso, isto é,
conseguiu unir a razão e a fé.

3.4. MODERNOS
A Filosofia Moderna começa no Renascimento, isto é, o período de transição entre o me-
dievo para a Idade Moderna, o renascimento de uma cultura clássica, e tem como carac-
terística marcante a mudança dos pensamentos teocêntricos para os antropocêntricos.

Um nome muito importante que marca o início do Renascimento na Europa é Nicolau


Maquiavel. Ele era um teórico político, jurista e filósofo, e apresentava grande influência
política. Em sua principal obra, O príncipe, Maquiavel faz uma defesa do que seria um
pensamento monárquico, um pensamento político sem a influência divina, isto é, sem a
influência cristã que era tão comum na Europa Medieval.

Além das ideias de Maquiavel, a Filosofia Moderna foi também estimulante em vários
aspectos. Com a invenção da primeira prensa e o início de uma imprensa, a possibili-
dade de leitura chegou a mais pessoas, influenciando-as a serem alfabetizadas, e isso
trouxe “luz” para a sociedade que vivia naquela época.

Alguns dos nomes mais importantes da Filosofia Moderna surgiram com o Renascimen-
to e suas ideias mudaram a história da Filosofia. Alguns desses nomes são: Descartes,
Hume, Kant, Voltaire, Rousseau, Locke, Smith, Marx, Nietzsche e Diderot e D’Alembert,

22
os quais serão abordados a seguir. Outros nomes que foram muito significativos para o 1
período, são: Espinosa, Hobbes. Bacon, Tocqueville e Freud, que não era filósofo, mas
fez parte e contribuiu com alguns estudos na área.

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Descartes – racionalismo

René Descartes nasceu em Haye, no ano de 1596, e faleceu em Estocolmo, em 1650. Esse
filósofo tem uma importância muito grande para a Filosofia Moderna (MARCONDES, 2009,
p. 81), porque foi responsável pelo início do racionalismo nesta fase.

Descartes, fundador do racionalismo, nasceu em um contexto em que a ideia estava se modi-


ficando, isto é, o pensamento racional ganhava força e já havia uma explosão do pensamento
moderno desse período.

O filósofo estudou em um colégio bastante tradicional chamado Royal Henry-Le-Grand, que


ensinava a educação jesuíta. Depois de sua formação de base, Descartes entra para a uni-
versidade para estudar Direito, porém nunca atuou como advogado, interessando-se mais
pelos estudos filosóficos.

Descartes, através de suas ideias racionalistas, rompeu com a Filosofia aristotélica e criticou
o ensino de tradição escolástica. Além do campo da Filosofia, com 22 anos de idade ele
iniciou os estudos matemáticos com Isaac Beeckman, o que foi de grande valia para que, no
futuro, desenvolvesse seus estudos sobre geometria analítica através do plano cartesiano,
que serviu de grande contribuição para o mundo. Ele se considerava não só filósofo, mas
também cientista (MARCONDES, 2009, p. 81).

Descartes escreveu sobre a ordem natural do mundo. Nesse texto, intitulado como “Tratado
do Mundo” ele fala sobre o heliocentrismo, mas acaba por não publicar seu trabalho temendo
sofrer retaliações devido à experiência de Galileu Galilei em relação à Igreja Católica sobre
a teoria heliocêntrica.

O filósofo funda o racionalismo como teoria do conhecimento, ou seja, como área de conheci-
mento filosófico que se dedica ao conhecimento humano e busca conceituá-lo. Nesse estudo
pretendia chegar a uma forma de conhecimento válido para entender como o ser humano pensa
e entende o mundo, por meio da rigidez analítica e argumentativa (MARCONDES, 2009, p. 81).

O método filosófico que ele criou está baseado no conceito de ideias inatas, que já nasce com
o ser humano. Com o tempo o ser humano vai acessando essas informações e ideias através
do exercício racional (MARCONDES, 2009, p. 88). Essa teoria desenvolvida por ele está re-
gistrada no livro Discurso do método, em que ele descreve os fundamentos do seu método.

John Locke

John Locke, nascido em 1632, no condado de Somerset, na Inglaterra, foi um grande nome
da Filosofia Moderna e ele foi um dos mais importantes empiristas ingleses, (CHAUÍ, 2000,
p. 88) ele acreditava que as pessoas obtinham o conhecimento através de suas experiências.

O filósofo escreveu o primeiro grande livro que fundamentou o empirismo, intitulado Ensaio
sobre o entendimento humano. Locke com sua teoria influenciou outros filósofos empiristas,
como Hume e Berkeley.

Filosofia da educação 23
Conceitos básicos

1
Ele era contrário à ideia inatista de Descartes (CHAUÍ, 2000, p. 146), isto é, Locke não acre-
ditava que o ser humano já nasce com conhecimento inato, mas que as ideias são fruto da
vivência, que o conhecimento é obtido através de experiência. Locke até dizia que “o homem
é uma tábula rasa”, isto é, uma folha em branco, e com a vivência e experiências do dia a dia
as folhas vão sendo escritas.

Depois de John Locke, outros pensadores empiristas ganharam espaço no Período Moderno
da Filosofia, entre eles David Hume.

David Hume

David Hume nasceu no ano de 1711 e foi um dos principais nomes da Filosofia Moderna
(MARCONDES, 2009, p. 111), principalmente no quesito teoria do conhecimento, pois ele
apresentou uma teoria empirista que revolucionou o debate entre empiristas e racionalistas.

A teoria empirista de Hume diz que há uma experiência sensorial nas nossas vidas que pro-
porciona nosso conhecimento de mundo (CHAUÍ, 2000, p. 293). David Hume parte desse
pressuposto, por causa da experiência prática e da organização racional.

Para estabelecer as bases do empirismo e suas teorias de conhecimento, Hume revisa o


método de Francis Bacon, também filósofo empirista, como, por exemplo, a ideia do hábito;
o hábito leva a um conhecimento verdadeiro através do método indutivo.

Segundo Hume, quanto mais passa o tempo da sua experiência, mais fraco fica o conheci-
mento, e esse tempo, segundo o filósofo, entre a memória e o conhecimento, quando você
teve sua primeira ideia, deve ser o mais curto possível. Se você pratica a força do hábito
todos os dias, as ideias vão se fortalecendo; se você não a pratica, o conhecimento vai en-
fraquecendo.

Hume também explora o embate sobre subjetividade e formação de ideias gerais. Enquanto
a subjetividade é o olhar de cada um, o eu subjetivo, a maneira como cada um experimenta
as coisas e vê o mundo, as ideias gerais estão ligadas mais à objetividade, à maneira em
comum de as pessoas verem algo. As experiências são particulares para cada indivíduo, e
cada um entende o conceito de suas experiências através de suas vivências, isto é, de forma
subjetiva. Então, como conseguir as ideias gerais dentro desse pensamento subjetivo?

Através desse questionamento entra a parte lógica do empirismo de Hume. Ele diz que cer-
tas estruturas estão guardadas e são compartilhadas. Embora cada um possa perceber de
maneira diferente os conceitos, é possível tirar uma ideia geral em comum entre o sujeito do
conhecimento individual e as ideias em geral (CHAUÍ, 2000, p. 293).

Por meio dessas ideias, Hume praticamente admite que temos duas concepções dentro da
formação das ideias. Uma é a concepção formal da ideia que é obtida através da experiência.
A outra é uma concepção lógica obtida através do raciocínio, inclusive pelo ensino matemático,
das ciências dedutivas. Não partem do conhecimento empírico, e sim do conhecimento puro.

David Hume rejeita a metafísica dentro do campo da Filosofia. Para ele o que nos dá expe-
riência são os fatos. Impressões fortes vêm das sensações e causam experiências fortes;
impressões fracas geram lembranças, que são conhecimentos fracos.  

24
Jean Jacques Rousseau – contratualismo (contrato social) 1
Rousseau nasceu na Suíça, em Genebra, no ano de 1712. Logo ficou órfão de mãe e aos 10

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anos foi abandonado pelo pai, sendo entregue a um pastor (MARCONDES, 2009, p. 106).
Quando adolescente, mudou-se para a França, onde estudou diversos conteúdos.

O filósofo foi o pensador mais popular da Revolução Francesa e um dos principais influen-
ciadores do pensamento educacional e político moderno. Pertenceu à corrente filosófica do
iluminismo, embora fosse um grande crítico dela.

No ano de 1746, Denis Diderot convidou Rousseau para escrever parte do que viria a ser
uma enciclopédia, algo muito importante para a educação moderna, e a partir daí ele intensi-
ficou sua produção literária filosófica

Rousseau, como filósofo, também estudou as questões fundamentais, as questões da vida, e


para isso contrapõe dois estados: o de natureza e o cívico. Uma frase popularmente atribuída
a ele é “O homem nasce bom e a sociedade que o corrompe”. Embora ele não tenha dito
exatamente isso, com essas palavras, Rousseau afirma que o homem no estado de natureza
é um ser solitário, ele nasce tranquilo, ainda não conhece a bondade ou a maldade. Quando
ele passa a fazer parte da vida em sociedade (civil), passa a se corromper (MARCONDES,
2009, p.106).

Ainda sobre esses dois estados, o filósofo fala sobre as desigualdades, a natural e a civil.
Por exemplo, a forma física como nascemos e como nos formamos, para Rousseau, não
representa uma desigualdade, porque não tivemos escolha sobre ela, foi algo natural, isto
é, a desigualdade física por natureza não causa desigualdade (STRATHERN, 1996, p. 15).

A desigualdade social ou política (cívica), muito criticada por Rousseau, causa desigualda-
des, como, por exemplo, quem manda e quem obedece, quem tem e quem não tem, isto é,
questões sociais.

De certa forma, em O contrato social – uma de suas obras fundamentais, Rousseau diz
que, quando todas as pessoas, a partir de um contrato, abrem mão de suas vontades indi-
viduais, forma-se a vontade geral, que é o que detém o poder absoluto, permitindo que as
pessoas participem abertamente nos assuntos do Estado (CHAUÍ, 2000, p. 517). Isso parece
algo comum a você?

Para Rousseau, com o contrato social, a ideia de antigo governo torna-se secundária, pois os
líderes são os delegados da população em geral, e a vontade de todos asseguraria aos indi-
víduos um sentimento de pertencimento e participação aberta em seu Estado (STRATHERN,
1996, p. 23).

No geral, pode-se dizer que as ideias de Rousseau estão presentes na política e na demo-
cracia moderna, isto é, as ideias do filósofo iluminista ainda influenciam a nossa vida em
sociedade. As ideias contidas em O contrato social são a base da democracia que se tem
hoje, por isso algumas de suas ideias nos parecem tão comuns.

SUGESTÃO DE LEITURA
O contrato social – Jean Jacques Rousseau
Você gostou e ficou curioso para saber um pouco mais sobre as ideias de Rousseau? Uma
boa dica de leitura é a sua principal obra: O contrato social.

Filosofia da educação 25
Conceitos básicos

1 Voltaire – iluminismo

François Marie Arouet, conhecido como Voltaire, foi um dos principais filósofos da corrente
iluminista, fazendo parte da chamada Filosofia Moderna. O pensador nasceu no ano de 1694,
em Paris (CHAUÍ, 1984, p. 9).

O filósofo parisiense foi um defensor das liberdades individuais e da tolerância. Para ele,
deveria ser garantida a todas as pessoas a liberdade de expressão, religiosa e política. Por
esse pensamento, Voltaire foi perseguido pela Igreja Católica e teve de deixar a França por
algum tempo.

Quanto à política, Voltaire não concordava com o Antigo Regime, isto é, o poder absoluto
(quando os três poderes ficavam sob a responsabilidade de um monarca). Portanto, ele era
crítico à monarquia absolutista, pois acreditava que um monarca deveria governar tendo
como base as leis, e como conselheiro, alguém que buscasse a razão, e para ele esse con-
selheiro poderia ser algum filósofo.

Outro ponto discutido por Voltaire é a questão religiosa. Ele acreditava que a razão poderia
provar a existência de um deus, porém as duas ideias (razão e religião) buscavam combater
a intolerância religiosa, até porque os antigos reis governavam com base no que o cristianis-
mo pregava, e não na razão em si. O filósofo conseguiu separar a religião e a fé e não viu
nenhum problema em ter alguma crença, em acreditar em algo, desde que essa credulidade
fosse praticada de maneira racional.

Voltaire é um grande pensador e defensor da liberdade de expressão e da tolerância (CHAUÍ,


1984, p. 14). Ele se preocupou em buscar a razão para todas as questões fundamentais da
vida, defendendo a liberdade de pensamentos e de escolhas. É um filósofo que consegue
traduzir bem com seus legados o que era o iluminismo.

Para resumir Voltaire, há uma frase que foi atribuída a ele, mas não há nenhuma comprova-
ção de que foi ele quem disse, mas que de certa forma resume as ideias do filósofo: “Não
concordo com o que me dizes, mas defendo até a morte o seu direito de dizer”. Possivel-
mente essa frase foi escrita por alguém que consegue transmitir suas ideias de tolerância e
respeito às liberdades individuais.

Diderot e D'Alembert – a enciclopédia

Outros dois grandes nomes do Iluminismo que não poderiam ser esquecidos são: Denis
Diderot (1713-1784) e Jean Le Rond D’Alembert (1717-1783). Ambos são os principais cria-
dores da Enciclopédia Francesa no século XVIII.

Os dois iluministas foram grandes pensadores da humanidade, e para desenvolver a enciclo-


pédia eles contaram com a contribuição dos trabalhos de pessoas fundamentais da Filosofia,
como Voltaire e Rousseau.

Os iluministas, através da enciclopédia, pretendiam levar “luz” às pessoas, queriam que a so-
ciedade tivesse a oportunidade de saber, de ter o conhecimento de todas as ciências que havia
e estavam sendo estudadas, com o objetivo de tirar as pessoas das “trevas” e levar até elas o
conhecimento racional. Essas ideias começaram a transmitir também um ideal de educação.

26
Kant – criticismo 1
Immanuel Kant nasceu em 1724, na cidade de Königsberg, na Prússia Oriental (MARCON-

Universidade São Francisco


DES, 2009, p. 122), hoje Alemanha. Pertenceu a uma família tradicional protestante e foi um
grande pensador da modernidade. Embora filho de pais protestantes, ele sempre teve uma
relação polêmica com a religião, pois era um defensor do criticismo, que é a ideia de ques-
tionar a possibilidade de conhecimento, ou seja, para obter algum resultado o indivíduo tem
que considerar as análises críticas da possibilidade e do conhecimento e se estrutura a partir
das críticas ao empirismo e ao racionalismo.

Immanuel Kant tentou buscar uma reflexão que considere tanto o empirismo (STRATHERN,
1996, p. 11) quanto o racionalismo. Ele acreditava que se deve averiguar e aprofundar as
pesquisas apenas nos assuntos que apresentam essa necessidade, deixando de lado o que
não é tão importante e o que não contribuiria de forma significativa para a Ciência.

Na tentativa de juntar a dualidade entre empirismo e racionalismo, Kant cria a Teoria dos
Juízos (STRATHERN, 1996, p. 21); para ele os juízos são as formas de conhecimento. O
primeiro deles, o juízo analítico, é a forma de conhecimento segura, em que o predicado não
altera o sujeito. Por exemplo: todo quadrado tem quatro lados iguais. Vê-se aqui que se trata
de uma forma de conhecimento segura.

Entretanto, nem todo conhecimento é seguro como o analítico. Então, Kant também fala
sobre o juízo sintético; neste caso, é uma forma de conhecimento insegura, na qual o pre-
dicado pode alterar o sujeito. Por exemplo: “aquele vaso é azul”; o vaso realmente pode ser
azul, mas será que todo vaso é azul? Não! Podem existir vasos de outras cores, o que torna
esse tipo de conhecimento inseguro.

E a terceira forma de conhecimento é uma tentativa de unir os juízos analítico e sintético, o


que chamamos de juízo sintético a priori, isto é, ela pode ser segura em alguns aspectos e
insegura em outros. Por exemplo: todo corpo é pesado – e sim, todo corpo para existir deve
ter massa, isto é, precisa de peso, o que representa um conhecimento seguro, comprovado
cientificamente –, porém o peso pode variar, o que torna esse conhecimento variável. O peso
na terra pode ser X por causa da força da gravidade, e, quando esse mesmo peso está em
um ambiente onde não há gravidade, o peso torna-se Y.

Em suma, Kant conseguiu, por meio da sua Teoria de Juízos, juntar o dualismo entre empiris-
mo e racionalismo, portanto ele se tornou um marco para a história da Ciência e da Filosofia,
porque ele foi capaz de fazer essa ligação entre dois pontos importantes para a Filosofia de
maneira coerente e assertiva.

Adam Smith

Adam Smith (1723-1790), nascido em Kirkcaldy, na Escócia, foi um filósofo social do ilumi-
nismo escocês e economista. Até hoje ele é considerado o pai da economia moderna, do
liberalismo econômico.

Vale salientar que, no século XVIII, a economia não era uma vertente específica, pois
fazia parte da “Filosofia moral”, por isso Smith foi o primeiro filósofo moral a reconhecer
que as ações de mercado deveriam ter um estudo especial dentro das Ciências Sociais.
A economia política só surge como Ciência no final do século XVIII e início do século XIX
(CHAUÍ, 2000, p. 531).

Filosofia da educação 27
Conceitos básicos

1
Na Universidade de Glasgow, Smith se tornou mestre e se encantou com as ideias do libe-
ralismo clássico, do Direito e da Economia Política. Anos mais tarde, Smith conseguiu uma
bolsa na Universidade de Oxford, mas acabou não se formando, pois criticou a instituição e
os professores.

Smith, com A Teoria dos Sentimentos Morais, busca analisar criticamente a moral e a nature-
za humana de seu tempo, tentando entender as motivações para atuar na sociedade.  

A riqueza das nações é outro livro escrito por Adam Smith que visa explicar o sistema econô-
mico e as mudanças pelas quais a economia passava naquela época, além de sugerir novos
caminhos diante da Revolução Industrial que estava começando.

A Mão invisível também é um conceito de Adam Smith, feita em forma de metáfora da mão
invisível, que se tornaria a figura mais conhecida da economia, e fala sobre a sociedade
pensar em consumir produtos da indústria nacional, e não da indústria internacional. Os con-
ceitos desenvolvidos por Smith nesse livro são utilizados para explicar as leis de mercado da
oferta e da procura.

De modo geral, o economista e filósofo acreditava que o poder deveria estar mais nas mãos
das pessoas do que do Estado e defendia a igualdade de direito para todos, acreditando que
era errado o governo conceder vantagens para alguns à custa de outros.

Smith considerava descabido qualquer lei que contivesse a produção dos homens e refor-
çava a ideia de que as pessoas devessem buscar de maneira livre seus interesses, partindo
do pressuposto de que não se desrespeitasse o direito de outro. Além da defesa de um libe-
ralismo econômico, em seus textos ele deu destaque à divisão de trabalho, que fortalecia a
ideia de setores, e para ele a concorrência é responsável pela riqueza social e pela harmonia
entre interesse coletivo e privado (CHAUÍ, 2000, p. 531). Suas obras são referências para
economistas e filósofos de todo o mundo até a atualidade.

Karl Marx

Karl Marx nasceu em 1818, em Trier, na então Prússia, hoje Alemanha (STRATHERN, 1996,
p. 6). Foi um filósofo, sociólogo, jornalista, economista e teórico político da Alemanha. Até
hoje é possível dizer que seu nome é polêmico, pois foi ele, juntamente com Friedrich Engels,
que criou uma teoria política que serviu como base para o socialismo científico, porém a obra
de Marx vai muito além da ideia de socialismo.

O contexto social que Marx viveu era o da Revolução Industrial, portanto ele busca interpretar
e criticar o mundo capitalista, até mais do que a própria ideia de socialismo. Ele se ocupou
bastante em sua vida acadêmica em tentar entender as relações dentro do capitalismo.

Marx é o fundador de um conceito de materialismo histórico e dialético (STRATHERN, 1996,


p. 18) em que o corpo social é baseado na relação material de produção, isto é, do proleta-
riado (os trabalhadores) e da burguesia (donos de fábricas). Para ele, a relação entre ambos
define uma sociedade capitalista e pode ser chamada de materialista (CHAUÍ, 2000, p. 537).

Para o filósofo essa relação materialista é extremamente contraditória, porque, enquanto os


trabalhadores produzem riqueza, quem enriquece são os donos dos meios de produção, e o
pensador busca criar essa consciência de classe através de seus estudos. Marx apresenta
dois conceitos: estrutura e superestrutura.

28
1
Estrutura é a relação do dono do meio de produção (os proprietários) e de seus trabalhado-
res, que são os que vendem a sua força de trabalho para os donos das fábricas. Superestru-

Universidade São Francisco


tura é tudo que envolve essa relação, como, por exemplo, a cultura. Para Marx, a estrutura
influencia a superestrutura, pois “as relações sociais de produção não são responsáveis ape-
nas pela gênese da sociedade, mas também pela do Estado” (CHAUÍ, 2000, p. 537).

Por exemplo, se trouxermos a teoria de Marx para os dias atuais, a estrutura poderia ser
os dias e horários de trabalho semanais, que influenciaram nas ações que podemos fazer
durante a nossa semana. Algo de lazer, por exemplo, seria colocado para o dia de folga. Em
suma, a cultura que se cria dentro do trabalho influencia também na vida pessoal, ou seja, o
filósofo era um crítico em valorizar mais o trabalho do que a vida pessoal.

Karl Marx acredita que as pessoas devem ter consciência de classe e passar a valorizar
mais a vida do que a produção em massa. Para ele, as pessoas precisam transformar essa
realidade e partir para a luta de classes, transformar as ideias em prática, tendo consciên-
cia de que tudo que foi produzido foi criado pelo homem. Ele busca esclarecer que essas
relações materialistas são contraditórias e que para transformar a história é necessária uma
revolução. Marx procura criar consciência no trabalhador, quebrando a “alienação” (a falsa
consciência feliz) (STRATHERN, 1996, p. 18) para que o trabalhador consiga entender a sua
importância nessa relação material.

Sua obra é extensa e nem sempre fácil de ser interpretada. O filósofo tornou-se popular,
pois a sociedade, em geral, já ouviu falar quem é Karl Marx e tem algumas noções de suas
ideias e obras, mas poucas pessoas de fato o leem e buscam entender o contexto histórico
no qual foi inserido.

As principais obras do autor são: O capital, uma coletânea de quatro volumes em que ele dis-
serta sobre produção e capital, a circulação do capital, a globalização por meio da produção
capitalista e a teoria da mais-valia. A segunda obra famosa feita em parceria com Engels é
O manifesto comunista, em que eles apresentam a teoria de luta de classes e do materia-
lismo histórico. Além dessas duas obras famosas, há outras, como Diferença da filosofia da
natureza em Demócrito e Epicuro, A questão judaica, Miséria da filosofia, A burguesia e a
contrarrevolução, Os 18 de brumário de Luís Bonaparte, Punição capital, A decadência da
autoridade religiosa, População, crime e pauperismo, Manifesto de lançamento da primavera
internacional e Salário, preço e lucro.

Nietzsche

Friedrich Nietzsche nasceu em 1844, em Saxônia, na então Prússia, hoje Alemanha (STRA-
THERN, 1996, p. 8). Era filho de pastor luterano, mas ficou órfão de pai aos 5 anos, sendo
criado com mais dois irmãos por sua mãe. Sua formação foi muito rígida com os princípios
luteranos, porém, no período da adolescência, Nietzsche começou a fazer os primeiros ques-
tionamentos acerca da religião.

Nietzsche foi um filósofo contemporâneo e poeta, e sua obra despertou muita polêmica, pois
ele se dedicou à moral judaico-cristã e nela fez um tipo de comparação das sociedades pré e
pós-cristianismo. Acabou por classificar o cristianismo como fator central do enfraquecimento
humano na era moderna.
Nietzsche, embora fosse um filósofo contemporâneo, tem parte de sua inspiração no Perío-
do Pré-Socrático, aquela fase em que os filósofos se preocupavam com algumas questões

Filosofia da educação 29
Conceitos básicos

1
da natureza em geral e o conhecimento prevalente era o mítico. O filósofo contemporâneo
trabalha com conceito apolíneo (de Apolo) e dionisíaco (de Dionísio) (STRATHERN, 1996, p.
13), em que o primeiro seria o deus grego da lucidez, harmonia e ordem, e o segundo seria o
deus da embriaguez, exuberância e desordem, isto é, eles representavam o oposto entre si.

Em sua obra, Nietzsche diz que, a partir de Sócrates, a sociedade focou mais no conceito
apolíneo do que no dionisíaco isto é, a humanidade se preocupou mais com a razão do que
com a emoção, e isso fez com que fôssemos ao caos, perdendo a humanidade. O objetivo
de Nietzsche busca pelo devaneio, pois para ele a vida é isso.

Uma de suas obras mais polêmicas é O anticristo, pois muitas pessoas fizeram diversas
interpretações sobre ela, umas diferentes das outras. Nessa obra, Nietzsche diz que o cris-
tianismo é responsável por esse sentido infeliz que a humanidade tomou, pois se sustenta
pelo pecado das pessoas, manipulando a salvação como meio de dominação da sociedade,
isto é, o filósofo não era contra Cristo, ele era crítico do cristianismo e dizia que a moral cristã
destruiu a sociedade (MARCONDES, 2009, p. 160).

Um ponto importante em sua obra é a morte de Deus, pois ele diz que a causa principal da
morte dele são as nossas ações, o que construímos de humanidade, pois esquecemos das
origens do que era puro e bonito, ou seja, ele diz que a humanidade matou Deus em nome
de uma razão falha, que o que temos hoje não é aquele Deus puro, pois nas Cruzadas e na
Inquisição, por exemplo, matavam em nome de Deus.

Nietzsche trabalha com a ideia de niilismo, que para o senso comum, é uma espécie de ceti-
cismo, mas para o filósofo o conceito vai um pouco mais além: é uma forma de se distanciar
das crenças impostas pelo cristianismo, de deixar de crer nessa verdade absoluta, descons-
truindo e estabelecendo uma nova base moral onde ela não está interligada com os valores
cristãos, e sim com os éticos.

CONCLUSÃO
Nesta unidade, você estudou os principais conceitos de filosofia em um aspecto geral
para ter uma noção ampla do que significa filosofia e quais são seus fundamentos, em-
bora tenha se percebido o quão complexo é tentar conceitualizar o termo com palavras
e o esforço que muitos teóricos usaram para tentar fazê-lo.

Além da conceitualização, você conheceu também quais são as principais concepções


histórico-filosóficas desenvolvidas durante todos os séculos em que a Filosofia vem
sendo estudada e os pensamentos que dominavam cada período histórico, e como isso
influenciou seus pensadores e suas teorias.

Apresentamos os principais e mais influentes filósofos do mundo e as correntes filosó-


ficas das quais eles participaram, acreditaram e contribuíram para a história da huma-
nidade e da educação.

Vale salientar que foram escolhidos alguns dos principais nomes da Filosofia de todos
os períodos históricos. Trata-se de um resumo de suas teorias e obras, que são, de fato,
muito maiores e mais complexas do que a síntese aqui apresentada. Portanto, se você
se interessou por a teoria de alguns desses filósofos, a sugestão é que se aprofunde
nos estudos desenvolvidos por eles.

30
SUGESTÃO DE LEITURA 1

Filósofos em 90 Minutos – Paul Strathern

Universidade São Francisco


Toda a coleção “Filósofos em 90 minutos” foi escrita por Paul Strathern e apresenta os maio-
res pensadores da Filosofia, de várias correntes filosóficas diferentes, de maneira simples,
didática e resumida.

É uma boa opção para quem deseja conhecer um pouco mais sobre algum pensador
especificamente.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Filosofia da educação 31
Conceitos básicos

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32.STRATHERN, P. Aristóteles em 90 minutos. Zahar, 1998.
Tradução de Maria Helena Geordane. Rio de Janei-

32
Filosofia da educação
33
1

Universidade São Francisco


Campos da Filosofia

UNIDADE 2
2
CAMPOS DA FILOSOFIA

INTRODUÇÃO
Quando você pensa em Filosofia, o que vem a sua mente? Partindo do pressuposto de
que conhece o significado da palavra, diria que é “amor pela sabedoria” ou “amor pelo sa-
ber”, mas o que de fato isso significa? Será que só há uma maneira de entender Filosofia?

Nesta unidade, “Campos da Filosofia”, você verá que, há muitos e muitos anos, a Filo-
sofia englobava vários estudos sobre diversos tipos de conhecimento, como, por exem-
plo, o que hoje conhecemos por física, matemática, química, biologia e até medicina
eram, de certa forma, parte da Filosofia, porque dentro de todas essas áreas havia algo
em comum: a curiosidade pelo saber, a arte de investigar, de querer buscar “respostas”
para as questões fundamentais da vida.

Algumas das questões fundamentais que você conhece e que levam o ser humano
em busca de conhecer a realidade, podem, muitas vezes, ser refletidas por um desses
campos que a Filosofia tem.

Quando fazemos a pergunta a nós mesmos, “Quem eu sou?”, o que lhe vem à mente?
Sua profissão? Idade? O que você faz? Mas se parar para analisar mais profunda-
mente, como você responderia a essa pergunta? Onde iria buscar respostas? Você é
somente a sua idade e a sua profissão?

E quando questionamos “O que é belo?”, tentamos buscar qual resposta? Seria essa
uma questão de opinião? Entendemos o quão essa pergunta é subjetiva, mas onde
conseguimos buscar uma resposta para esse questionamento de maneira plausível? E
a ideia de feiura? De onde vem? Quem criou o padrão de beleza?

O que você fez é certo? O que ele fez está errado? Com qual fita métrica você mede o
que o outro fez? Seria com a mesma precisão que mede o que você mesmo fez? Como
responderia a perguntas como essa? Com qual balança você julga as ações do outro
e a sua própria ação? Onde buscaria respostas coerentes para questões como essas?

“De onde eu vim?”, “Para onde eu vou?”; indagações como essas são comuns desde
que nascemos e nos entendemos como seres humanos, mas onde buscar resposta
para tais questões? Na religião? Na ciência? Nos dois? Qual deles é mais importante e
qual é mais eficaz? Será que há resposta para isso? Será que há o mais eficaz?

“Como decidir o bem comum de uma sociedade?” Muitos responderiam: “Fazendo o


bem” ou “Votando em bons políticos”. Mas como percebemos a ideia do que é o bem

34
comum? Será que o que é bom para você pode ser bom para o seu vizinho? Será que
todas as ações pensadas para a sociedade, em geral, englobam, de fato, todas as pes-
soas? Como englobar todas as pessoas em prol do que é o bem dentro de um mundo 2
tão diversificado e globalizado?

Universidade São Francisco


Por conta de questionamentos tão amplos como os exemplos anteriores, a Filosofia tem
diferentes perspectivas que podem abordar tais questões e, dentro de suas característi-
cas, buscar conceitos que tentem nos dar dissoluções para as indagações da vida. Será
que ela consegue?

Em busca de tentar conhecer melhor tudo que envolve as questões fundamentais e


as suas complexidades, a Filosofia tem diferentes áreas dentro de si e essas áreas
conseguem, de certa forma, apresentar alguns conceitos mais contundentes a essas
questões fundamentais específicas, e é o que você estudará nesta unidade.

1. EPISTEMOLOGIA
A Filosofia, como área de estudo, tenta encontrar soluções para as indagações da vida.
Tendo em vista tamanha complexidade para tais questionamentos, você pode observar
que a Filosofia é subdividida em campos.

Um desses campos no qual a Filosofia é dividida é a epistemologia, que é a área que


estuda a maneira como se conhecem as coisas. A palavra episteme vem de conheci-
mento, e logia de estudo, isto é, a epistemologia é a Filosofia do Saber.

A epistemologia busca entender como é possível o homem adquirir o conhecimento fide-


digno necessário, compreendendo as formas como nós desenvolvemos o conhecimento.
Em suma, é o ramo da Filosofia que tenta entender como o ser humano pode conhecer
algo, seja no campo das ciências exatas, biológicas ou sociais (CHAUÍ, 2000, p. 66).

Essa busca por entendimento, para a epistemologia, gira em torno de três perguntas:
(1) Qual é a ideia de conhecimento? (2) Quais são as fontes de conhecimento? (3)
Quais são as possibilidades de conhecimento?

Através do pressuposto de que a epistemologia visa entender como chegamos ao sa-


ber, compreende-se então que, desde o começo do que se percebe por Filosofia, os
pensadores já buscavam, de certa forma, essa resposta, e muito antes de o termo
existir, o conceito já existia.

A epistemologia já existia enquanto conceito inclusive nas ideias dos pensadores clássi-
cos como Platão. Para ele, a epistemologia se opõe à crença, pois enquanto a primeira
trata de um conhecimento fundamentado, a segunda diz respeito a um ponto de vista
subjetivo (PLATÃO, 1991, p. 3).

EXEMPLO
Uma pessoa que acaba de ser diagnosticada com câncer – através da ciência dentro da área da
medicina, ela conseguirá seguir um tratamento adequado para a doença. Mas a pessoa também
pode acreditar que, com a crença em determinada entidade religiosa, ela pode se curar.

Filosofia da educação 35
Campos da Filosofia

Ambas, geralmente, tentam buscar soluções para o mesmo problema do exemplo.


2
Mas será que, se ignorarmos uma delas, somente a outra conseguirá solucionar o problema
de saúde? Se sim, qual delas? Por que você chegou a essa resposta? Através de conheci-
mento empírico ou através de conhecimento científico?

Para o exemplo anterior não há uma resposta certa nem como se obter uma resposta
absoluta. A sociedade, de maneira geral, responde questionamentos mais profundos
como esse com base no que acredita sobre ciência e religião, além da possibilidade de
ambas andarem juntas para determinados indivíduos.

A ideia de Platão dizia que a opinião era diferente de conhecimento, e a episte-


mologia é a forma de buscar esse conhecimento com algum fundamento. Mesmo
Platão já fazendo questionamentos como esse, a epistemologia ganhou ainda mais
destaque na Modernidade.

Durante a Modernidade, a discussão sobre epistemologia passou a ser feita por duas
vertentes da teoria do conhecimento, que são opostas: o empirismo e o racionalismo,
porque os pensadores empiristas acreditavam que o conhecimento era assimilado por
meio da experiência, da vivência, enquanto os racionalistas acreditavam que o conhe-
cimento se dava a partir da racionalidade.

Dentre os filósofos racionalistas, René Descartes é um dos principais nomes, pois é ele
o pensador que busca a razão de todas as formas através de sua dúvida metódica, isto
é, para conseguir chegar a uma exatidão é necessário colocar todo o conhecimento em
dúvida e nunca aceitar algo como verdadeiro (DESCARTES, 2013, p. 14).

Por meio dessa estratégia de pensamento, Descartes chegou à conclusão de que a úni-
ca coisa sobre a qual não cabia dúvida era o pensamento, ou seja, mesmo colocando
todas as coisas que sabia em dúvida, a única que não restava era de que ele era capaz
de pensar (DESCARTES, 2013, p. 22). Portanto, ele percebeu que a racionalidade era
o início pelo qual todas as afirmações poderiam ser realizadas.

No debate entre racionalistas e empiristas, John Locke surge com ideias contrárias às
de Descartes. Locke é um dos principais nomes do empirismo e afirma que o pensa-
mento humano é como uma “tábula rasa”, e através dessa frase ele reafirma que a fonte
viável de conhecimento, para ele e para os empiristas da Modernidade, é a experiência
(CHAUÍ, 2000, p. 88).

No ponto de vista do filósofo empirista, é o passar do tempo e as experiências que vão nos
passando o conhecimento necessário para responder (ou não) às questões fundamentais.

O embate entre os filósofos racionalistas e os empiristas perdura por algum tempo, até
Kant surgir com uma outra perspectiva, sugerindo, então, que o homem se torne o prin-
cipal elemento a ser discutido.

Kant, através de sua “teoria dos juízos”, conseguiu propor uma teoria que contemplava
as ideias dos pensadores empiristas e racionalistas, dando a devida importância às
duas formas de pensar e obter conhecimento.

36
1.1. CIÊNCIA & EPISTEMOLOGIA
Todas as discussões que giravam em torno de como o ser humano adquiria o conhe- 2
cimento e a discussão entre pensadores racionalistas e empiristas, juntamente com
as ideias de Immanuel Kant, colaboraram para construir a ideia que temos hoje sobre

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ciência e conhecimento científico.

A ciência, de maneira geral, inicia suas pesquisas como uma hipótese, ou até uma supo-
sição (de uma ideia racional), e depois se começa a investigar e experimentar (vivências,
experiências) até de fato se tornar uma tese, e assim é formado um pressuposto científico.

Na circunstância do conhecimento científico, vale lembrar que nenhuma teoria é infa-


lível, isto é, mesmo o conhecimento científico tendo seu valor baseado na ciência, em
experimentos, ele pode ser contestável por uma outra pesquisa científica que refute a
primeira, e não pelo senso comum.

EXEMPLO
O mundo vive uma pandemia de Covid-19 para a qual todas as pesquisas são muito recentes
e estão passando por constantes mudanças através da observação de pesquisadores em
relação às pessoas que já foram infectadas e das que estão infectadas.

O conhecimento que se tem sobre transmissão do vírus foi adquirido de maneira testada
cientificamente e por meio de experimentos.

Esse conhecimento que temos até o presente momento pode ser refutado por especialistas
que também estejam estudando o contágio e a maneira como o vírus age e infecta as pessoas.

Os estudos não podem ser questionados por uma pessoa que acredita que o vírus não é
contagioso, porque teve contato com alguém que estava infectado e não ficou doente, pois isso
seria opinião, especulação, e ciência se refuta com ciência, e não com suposições, palpites.

Consegue perceber a diferença? O conhecimento científico é falível, isto é, podem


surgir outras pesquisas científicas que invalidem a primeira ou que a complementem,
porém só se consegue questionar a ciência com outra ciência, e não com discussões
baseadas em trivialidades ou em experiências próprias tomadas como verdade univer-
sal. Pode-se dizer, então, que uma teoria científica exige que os cientistas passem seus
experimentos ou teorias por métodos para validar o conhecimento.

SAIBA MAIS
Epistemologia (teoria do conhecimento) – Brasil Escola

Gostou de saber um pouco mais sobre o que é epistemologia?

Se sim, o vídeo “Epistemologia (teoria do conhecimento)”, que está no canal do Youtube do


“Brasil Escola”, conta com uma aula curtinha e bem didática sobre o assunto.

https://www.youtube.com/watch?v=UYYucWHzCko. Acesso em: 27 jan. 2021.

Filosofia da educação 37
Campos da Filosofia

Figura 01. Mapa mental da epistemologia – síntese de autores e teoria sobre como
adquirimos conhecimento.
2
EPISTEMOLOGIA
` Como adquirimos conhecimento

Platão Era Moderna Kant

- Epistemologia se - Empirismo x Através de suas


opõe a crença. Racionalismo. teorias do juízo, o
filósofo tentou “unir”
- Epistemologia: - Empirismo: as ideias
conhecimento fun- conhecimento atra- racionalistas e
damentado. vés da experiência. empiristas.
-Crença: conheci- - Racionalismo:
mento subjetivo conhecimento a par-
tir da racionalidade.

Fonte: elaborada pela autora.

2. ÉTICA
Como podemos perceber, a Filosofia é dividida em alguns campos muito importantes
de estudos e a ética é um deles. Os conceitos filosóficos de ética estão presentes na
sociedade desde a época clássica, na medieval, na moderna e também na contem-
porânea, pois ora ou outra nos deparamos com algumas questões que se enquadram
nesse campo.

Sempre que algum crime acontece envolvendo menores de idade, a sociedade se volta
para a questão da redução da maioridade penal, e algumas pessoas se baseiam em
experiências próprias e opinam sobre o assunto, mas será que somente a opinião é im-
portante quando se trata de uma questão como essa? Neste momento, recorre-se aos
estudos sobre ética. O que é certo? O que é errado? Será que na sua opinião o crime
cometido pelo outro deve ser julgado da mesma maneira como seu filho ou ente familiar
seria julgado, caso o cometesse?

Questões polêmicas, como redução da maioridade penal, aborto, legalização da maconha,


são temas que, quando apontados na atualidade, geram discussões e debates acalorados,
porque entram no campo da ética e esbarram na opinião pessoal de cada indivíduo.

Vale salientar que assuntos que envolvem a ética, como os exemplos citados, são, mui-
tas vezes, apresentados em alguns livros didáticos escolares com o objetivo de discutir

38
a ética e o pensamento crítico para a elaboração de redações de vestibulares, ou seja,
o debate ético se faz importante e presente no âmbito escolar e educacional.
2
No contexto histórico da Filosofia, há três diferentes momentos, com diferentes pensa-

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dores e correntes filosóficas que dissertam sobre a ética.

A seguir, você conhecerá a ética aristotélica, a ética utilitarista e a ética kantiana.

2.1. ÉTICA ARISTOTÉLICA


Ao falar de Aristóteles, devemos primeiramente conceitualizar o pensamento dele com
o período em que ele viveu, isto é, de 384 a.C. a 322 a.C., e levar em consideração a
época na qual ele refletiu sobre o termo e concluiu certas ideias.

Segundo Aristóteles, a ética está intrinsecamente ligada ao conceito de felicidade. Para


ele, todos buscam algo na vida e todos desejam ser felizes de alguma maneira. O filó-
sofo acreditava em uma doutrina que busca a nossa causa final, o que ele chamava de
“sumo bem” (ARISTÓTELES apud CHAUÍ, 2000, p. 497). O filósofo chegou a distinguir
a ética entre a teoria e a prática, para conseguir separar a política da ética.

Dessa maneira, Aristóteles acreditava que viver eticamente é o objetivo dos seres humanos,
um exercício na coletividade que busca a felicidade, que para ele seria o que de concreto o
homem tem de melhor (STRATHERN, 1996, p. 14). De certa forma, entende-se que a ética
é buscar o bem maior. Ele dividiu a ética em duas perspectivas: a razão e a justa medida.

A razão serve para buscarmos a ética; para o filósofo, nós precisamos ser portadores
dela, pois a consciência nos dá segurança para discernir entre o certo e o errado. Já
a justa medida, ou meio termo, é o saber agir sem excessos, evitando extremos. Uma
pessoa ética e feliz é aquela que age com prudência na vida, evitando exageros e bus-
cando respeitar os outros.

Ainda na visão de Aristóteles, a ética é um valor tanto social como individual, a busca
pelo sumo bem. A política está ligada a valores coletivos, o bem comum. A política, de
certa forma, está ligada aos interesses de estado e ao conjunto de bem-estar coletivo.

2.2. ÉTICA UTILITARISTA


A ética utilitarista traz consigo o significado semântico da própria palavra “utilitarismo”,
isto é, algo útil. Esse é um tipo de ética voltada para a prática, por isso pode ser chama-
da também de ética pragmática.

Assim como a ética aristotélica, a utilitarista vai em busca de maior felicidade, porém
ela preza por um cálculo moral; isso significa que a felicidade dentro da ética utilitarista
não é a felicidade embasada em virtudes defendida por Aristóteles, e sim uma felicidade
que busca valores coletivos.

Os principais nomes do pensamento utilitarista são Jeremy Bentham e John Stuart Mill.

Jeremy Bentham nasceu em 1748, em Londres, na Inglaterra, e foi filósofo e teórico,


conhecido como um pensador radical, pois falava sobre reformas sociais e políticas.

Filosofia da educação 39
Campos da Filosofia

John Stuart Mill nasceu em 1806, em Londres, na Inglaterra. Foi um influente pensador
do século XIX, tendo o utilitarismo como ideologia, e destinou parte da sua vida ao es-
2 tudo de questões sociais.
Figura 02. Trilhos Em linhas gerais e breves, eles defen-
dem que o ser humano busca por pra-

Fonte: 123RF.
zeres, que são divididos em prazeres
intelectuais e prazeres sensoriais. Para
eles, o intelectual fica em primeiro pla-
no, porque dura mais tempo, e o sen-
sorial fica em segundo plano, porque
perdura por menos tempo. Além disso,
uma maneira de resumir a ética utilita-
rista é: aquela que beneficia o maior
número de pessoas. Mas será que isso
é sempre eficiente?

Imagine que você ficou responsável por um trem e que ele perde o freio. Você olha a
sua frente e vê cinco pessoas no trilho que vão ser mortas porque o trem não consegui-
rá parar, mas você olha ao lado e tem a opção de mudar de trilho, só que nesse trilho
também há uma pessoa que será morta. O que você faria? Sacrificaria um para salvar
cinco? Mudaria algo se esse um fosse um membro da sua família ou um amigo?

SAIBA MAIS

Conseguiu entender um pouco melhor o que é a ética utilitarista no campo da Filosofia?

Para entender ainda mais, você pode assistir ao episódio 5 da segunda temporada da série
The Good Place, disponível na Netflix, em que um professor tenta explicar o que é ética atra-
vés do dilema do bonde.

The Good Place. 2ª temporada. Episódio 5. Direção: Dean Holland. Produção: Fremulon, 3
Arts Entertainment e Universal Television. Netflix, Estados Unidos, 2017 (23 min), son., color.
Netflix. Acesso em: 27 jan. 2021.

2.3. ÉTICA KANTIANA


A ética kantiana talvez seja a mais complexa e uma das mais utilizadas na socieda-
de atual, quando paramos para discutir algumas questões importantes e pertinentes à
questão ética.

Immanuel Kant é conhecido pela sua “teoria dos juízos”, na qual consegue, de certa
maneira, interligar o empirismo e o racionalismo, mas, quando Kant resolve falar de
ética, ele retoma alguns conceitos e apresenta outros muito importantes para fazer uma
reflexão acerca do mundo.

Enquanto Aristóteles trabalha a ética relacionando-a com a felicidade, Kant a vê de ou-


tra maneira. Ele criou dois conceitos que se referem a ética e são baseados nas ações;
são eles: imperativos hipotético e categórico.

40
Imperativo hipotético

Diz respeito às ações justificadas em detrimento da finalidade ou da paixão, mas que não 2
têm necessariamente a racionalidade ética envolvida. Por exemplo: quando você sabe que

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suas economias estão apertadas para pagar as contas, vê um objeto do desejo e compra
mesmo sem necessidade de tê-lo. Essa atitude é tomada no impulso e não passa por um
filtro da razão. “Se eu comprar, não vou ter dinheiro para pagar as contas.” Esse é um exem-
plo simples, porém extremamente comum. Não há racionalidade ética envolvida no caso de
imperativo hipotético.

Imperativo categórico

Relaciona-se às ações movidas pela racionalidade. Nesse caso, é a razão que movimenta a
ética dentro de uma razão genuína, e que acaba se tornando mais embasada em regras de
conduta, pois apresenta limites e de maneira ampla é possível viver em comunidade quan-
do se tem ética de maneira categórica. No imperativo categórico, as ações são feitas em
conformidade com a máxima de tornar-se uma lei universal (CHAUÍ, 2000, p. 444). É nesse
conceito de imperativo categórico que é pautada a ética.

Definida a ética kantiana, esta se torna ainda mais complexa quando ela se divide em ética
a priori e ética posteriori.

Ética a priori

É a ação que vem antes da ética em si, como, por exemplo: você quer fazer algo, mas
ainda não sabe o que fazer, porque não viveu essa situação anteriormente. Segundo
Kant: “a priori quer dizer anteriormente a toda percepção de um objeto, e, por conseguin-
te, ser pura e não empírica” (KANT, 2001, p. 33). Nesse momento, você julga apenas o
que não sabe, pois ainda não experienciou, e com isso pratica uma espécie de julgamen-
to moral do que desconhece.

A ética a priori acaba por ser a moral e a moral é um conjunto de fatores, regras e costumes
inseridos por uma sociedade em geral, isto é, a moral são valores que a sociedade tem como
construção tradicional. Segundo Kant, ela pode ir de encontro com os sentimentos, inclina-
ções e paixões, e por isso ela não seria nunca uma ciência (KANT, 2001, p. 60). Um exemplo
é que, em algumas sociedades, mesmo o Estado sendo laico, algumas leis são baseadas em
princípios religiosos, como, por exemplo, a discussão sobre aborto.

Ética a posteriori

Nesse caso, diferentemente do primeiro, a ética se dá através da razão, pois só assim é


possível definir os preceitos éticos baseados em ações universais. Enquanto na ética a priori
você julga antes de experimentar, na posteriori é o oposto, você experimenta primeiro para
depois conseguir julgar o que é moral ou não. Em suma, neste caso, depois de você ter uma
experiência sobre algo, com base na sua vivência, será capaz de julgar isto com respeito e
opinar de acordo com a ética.

Filosofia da educação 41
Campos da Filosofia

2.4 ÉTICA X MORAL


2 De modo geral, é importante entender que ética e moral são dialéticas, isto é, são cor-
relacionadas. A moral é a ação ética, enquanto a ética é a teoria moral.

Um exemplo atual que consegue nos fazer pensar na ética kantiana são os da reporta-
gem a seguir:

REFLITA

Leia a reportagem de dezembro de 2019 sobre Rosa Parks.

“HÁ 64 ANOS, ROSA PARKS RECUSAVA-SE A ENTREGAR SEU LUGAR NO ÔNIBUS


PARA UM HOMEM BRANCO” no site :https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/repor-
tagem/ha-64-anos-rosa-parks-recusava-se-entregar-seu-lugar-no-onibus-para-um-homem-
-branco.phtml

No dia 1o de dezembro de 1955, uma senhora de 42 anos chamada Rosa Parks se negou a
ceder seu lugar para um homem branco dentro de um ônibus nos Estados Unidos.

Para contextualizar: No Alabama, no ano de 1955, havia uma lei que reservava a pessoas
brancas as primeiras filas nos bancos de transportes públicos. Nos bancos traseiros negros
podiam se sentar, desde que nenhum branco estivesse de pé.

Nesse dia, a costureira Rosa Parks tomou uma condução na volta de seu trabalho, a caminho
de casa, e se sentou em dos lugares do meio.

Após algum tempo, o motorista ordenou para que ela e outros três negros saíssem de seus
assentos para dar lugar a pessoas brancas que haviam entrado no ônibus.

A mulher resolveu negar a ordem e foi levada à prisão. Sua prisão tomou uma proporção
enorme e foi o ponto alto que iniciou a luta contra a desigualdade racial, depois conhecida
como Movimento pelos Direitos Civis.

No dia seguinte da prisão de Rosa Parks, os negros da cidade de Montgomery, no Alabama,


se movimentaram e fizeram um protesto em forma de boicote aos ônibus com a ajuda de
Martin Luther King Jr.

Depois de mais de um ano, no dia 21 dezembro de 1956 a Suprema Corte dos EUA declarou
inconstitucional a segregação de raças nos transportes públicos de todo o país. A atitude de
Rosa Parks foi extremamente representativa pois mudou a lei que estava em vigor.

A reportagem anterior serve para ilustrar a ética kantiana e percebe-se a diferença de


ética e moral, pois a atitude do motorista do ônibus naquela situação era constitucio-
nal, portanto era considerada moral. Por esta razão, quando Rosa Parks se negou a
respeitar a ordem do motorista e não cedeu o lugar a uma pessoa branca, sua atitude
foi considerada imoral, pois desrespeitou a lei, ou seja, por isso foi vista como imoral.

Mesmo que a segregação racial, naquela época, fosse algo moral, através do pensa-
mento ético e da reflexão sobre as regras vigentes, percebeu-se que a situação era
antiética e isso fez com que se pudesse modificar os códigos morais existentes.

42
A lei foi mudada após um movimento reflexivo e de muita luta do povo negro. Depois de
mais de um ano, no dia 21 de dezembro de 1956, a Suprema Corte dos Estados Unidos
alterou a lei e declarou inconstitucional a segregação de raças nos transportes públicos 2
de todo o país.

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Você consegue perceber a diferença da ética e da moral? É nesse sentido que Kant diz
que a ética deve estar acima da moral, pois os preceitos éticos devem ser universaliza-
dos para o convívio em sociedade.
Figura 03. Mapa mental da ética

Ética
` Aristotélica, utilitarista e kantiana

Dois momentos:
Felicidade
Aristotélica “sumo bem”.
Razão & Justa
Medida.

Cálculo moral,
Como diz o próprio
Utilitarista nome: “deve ser útil”.
felicidade em
valores coletivos.

Dois imperativos: Imperativo cate-


Categórico: ações movidas
górico é pautado
Kantiana pela racionalidade.
na ética: a priori
Hipotético: não há racionali-
dade ética envolvida. e a posteriori.

Fonte: elaborada pela autora.

Figura 04. Narciso, de Caravaggio (1594-1596) 3. ESTÉTICA


Quando se ouve falar na palavra “es-
tética”, automaticamente muitas pes-
soas se lembram do ramo da estética:
Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Narcissus-

cabeleireiro, manicure, massagens mo-


Caravaggio_(1594-96).jpg. Acesso em: 27 jan. 2021.

deladoras, dermatologia e até cirurgia


plástica. Porém, todo esse contexto de
embelezamento vem da palavra “belo”,
um termo já utilizado pelos filósofos há
séculos. O que é belo? Como adquiri-
mos essa percepção?

A palavra “estética” tem origem grega,


“estheta”, “Ika”, em que o primeiro ter-
mo refere-se a coisas que são percebi-
das pelos sentidos, e o segundo indica
estudo e ciência. Em suma, “estética”
pode ser considerada a ciência que es-
tuda a percepção sensorial.

Filosofia da educação 43
Campos da Filosofia

Na Filosofia, é possível dizer que esse é um ramo que estuda a arte, as formas dela
e como acontecem os processos de criação do que conhecemos por obras artísticas,
2 aliás ela também busca compreender as relações sociais envolvidas no meio da arte,
da ética e até da política. Hoje, esta área intitula-se como Filosofia da Arte.

Para conseguir entender melhor o que é de fato a ideia de estética na Filosofia, é ne-
cessário traçar um panorama histórico que compreenda mais assertivamente a ideia em
diversos momentos e por diversos pensadores. Sendo assim, podemos dividi-lo em clás-
sico, medieval e moderno, embora o conceito de estética tenha surgido somente no perí-
odo moderno com o filósofo Alexander Baumgarten (1714-1762) (CHAUÍ, 2000, p. 411).
Neste momento, você passará brevemente por alguns contextos históricos na estética.

3.1. CLÁSSICO: PLATÃO E ARISTÓTELES

Platão

Platão, através da sua teoria das ideias, apresenta o problema filosófico das definições, isto
é, a compreensão da realidade em dois planos: o inteligível e o físico. Ele consegue trazer
essas ideias para a Filosofia da Arte, isto é, para a arte dentro do campo da estética, que para
ele é a imitação das coisas sensíveis (CHAUÍ, 2000, p. 413).

Segundo Platão, há, no mundo, vários objetos que são percebidos através das nossas sen-
sações (olfato, paladar, visão, audição e tato). A grande questão é que, para o filósofo, essas
sensações nos dão a impressão dos objetos, mas não explicam quais são as essências
deles, o que são os objetos propriamente (PLATÃO, 1991, p. 23).

Platão coloca então em notoriedade a teoria das ideias, que visa acessar o mundo dos con-
ceitos, das idealizações, por meio de uma realidade diferente, através do raciocínio, para ab-
sorver toda a existência e essência desses objetos e tentar entender como eles são sentidos.

Na ideia platônica, todos os objetos existentes acabam por ser cópias imperfeitas dos con-
ceitos que temos através das nossas ideias. Por exemplo: quando eu vejo o objeto “vaso”,
o que está na minha frente é uma cópia da ideia de quem o produziu. Isto é, para Platão, o
objeto é cópia da cópia.

Partindo desse pressuposto, o pensador acaba por criticar a arte, pois acredita que todo o
mundo material é uma cópia do mundo das ideias, do idealismo. O mundo material é imper-
feito, porque é dessemelhante, uma cópia que não condiz com a ideia original. Em suma, ele
acredita que a arte imita o mundo material e, de maneira geral, as obras são imitações da
realidade sensível.

Aristóteles

Aristóteles, através de sua teoria do conhecimento, discorda da ideia de Platão sobre o du-
alismo entre o mundo sensível e o inteligível. Ele acredita que essa visão é insuficiente na
concepção de arte.

Para Aristóteles, a realidade material tem grande valor, pois se consegue o conhecimento
por meio da apreensão dos sentidos, e a partir disso nós obtemos conhecimento, inclusive o
conhecimento racional.

44
Na visão aristotélica, a arte faz a imitação, a cópia o que coincide com a visão de Platão
sobre a vida, porém a arte traz diversas possibilidades, pois cada ser humano pode, através 2
das artes, imaginar e se colocar em várias situações diferentes, isto é, a pessoa é capaz de
se colocar na realidade da arte, e assim acontece a catarse (a purificação, a libertação), que

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tem objetivo pedagógico.

Ainda nesse contexto, a imitação artística, seja ela por meio das artes plásticas, da literatu-
ra, do teatro, entre outros tipos de artes, pode ajudar o ser humano a ver opções, pois em
contato com a arte e por decorrência da catarse o homem se identifica com a obra, ou seja,
aprende-se sobre a vida por meio da observação da arte.

Para o pensador, a tragédia, como peça de teatro, era uma das melhores maneiras de fazer
arte, pois ela apresenta situações dramáticas que somente os heróis dotados dos melhores
predicativos e muito capacitados conseguiriam resolver. Chegavam a um final que até po-
deria ser trágico, mas apresentava uma solução virtuosa para aquele problema que ocorria
dentro da narrativa. Na visão aristotélica, a tragédia prepara o ser humano para a vida em
sociedade. Nas palavras dele: “É pois a tragédia imitação de uma ação de caráter elevado,
completa e de certa extensão, [...] não por narrativa, mas mediante atores, e que, suscitando
o “terror e a piedade, tem por efeito a purificação dessas emoções” (ARISTÓTELES apud
DUARTE, 2012, p. 37).

3.2 MEDIEVAL
O conceito do que é belo e da estética também se fez presente dentro da Filosofia me-
dieval. Nesse contexto unindo a fé e a razão, a ideia de beleza também se encontrava,
porém, dessa vez, em um cenário cristão.

Santo Agostinho, um dos filósofos mais importantes da Idade Média, também fez con-
tribuições para o campo da estética na Filosofia. Agostinho traz novamente a ideia do
dualismo de Platão para sua visão de belo no medievo.

Para o filósofo medieval, a beleza está na bondade de Cristo, e isso pode ser comprova-
do pela ordem das coisas na natureza e a beleza das proporções do universo (AGOS-
TINHO, 1993, p. 1041). Além da influência de Platão, no quesito da estética, o filósofo
sofre influência de Pitágoras, pois acredita que o número é belo. É o que se percebe no
trecho do Diálogo sobre o livre-arbítrio:
Contempla o céu, a terra, o mar e todos os seres neles contidos, brilhando
nas alturas ou rastejando a teus pés, voando ou nadando. Todos possuem
beleza, porque têm seus números. Suprima-os e eles nada mais serão.
Logo, de onde vêm eles, a não ser daquele de onde procede todo número?
Visto que o ser que neles está não existe a não ser na medida que realiza os
números que possui. (AGOSTINHO, 1995, p. 128)

Embora acreditasse no belo quanto às suas formas e números, ele também fazia uma
distinção entre a beleza sensível e a inteligível, assim como Platão. A beleza era um
bem divino, por isso, então, as ideias de Platão foram retomadas. Agostinho troca a
ideia de ideal de Platão para a ideia de divino, portanto o que é belo para ele é o que é
divino para a religião cristã.

Filosofia da educação 45
Campos da Filosofia

Vale salientar que, durante a Idade Média, a arte foi usada a serviço da fé e da evange-
lização, como uma ferramenta da expansão do cristianismo. A arte passou a ter carac-
2 terísticas próprias nessa época, nos tons das pinturas, nas esculturas, havia uma ideia
de perfeição e do que era belo atrelado à inspiração divina.

3.3 MODERNO
Com a chegada do Renascimento e das ideias iluministas, a noção de belo se modificou
e buscou uma separação da visão religiosa que havia na Idade Média. Nesse momento,
a ideia de estética tentava se relacionar diretamente com o que é real, deixando de lado
a ideia de divindade.

Alexander Baumgarten

Um nome muito importante para a estética é o filósofo alemão Alexander Baumgarten, pois
foi ele quem conceituou a estética como um dos campos da Filosofia.

Baumgarten nasceu em Berlim, na Alemanha (1714-1762), e foi professor em duas grandes


universidades, a de Halle e de Frankfurt, além de autor do livro A esthetica, no qual criou o
conceito de estética, abrindo caminhos para novos estudos sobre a área, inclusive para Kant
com a crítica do juízo.

Anteriormente a Baumgarten, a ideia do que é belo estava distante da reflexão filosófica e era
considerada “à margem de análises temáticas exclusivas” (CECIM, 2014, p. 3). Isso ocorria
porque o belo não era uma vertente separada da Filosofia; as questões relacionadas ao belo
entravam nas questões éticas.

Vimos que, na Filosofia platônica, o belo era uma maneira como o homem se direcionava ao
que era moral e perfeito, mas a arte era a cópia da cópia e ocorria através do dualismo entre
o sensível e o inteligível. Depois, na época medieval, o belo estava ligado à religião e a tudo
que se aproximasse do divino. Nesse cenário, Baumgarten sentiu a necessidade de concei-
tuar a estética como uma disciplina filosófica, separando a ideia de estética de belo e bem.

O filósofo divide o espírito humano em duas faculdades: superior e inferior, a primeira tratando
de temas metafísicos e a segunda, que necessita da ajuda do intelecto, é o conhecimento tido
como sensível (CECIM, 2014, p. 5). Ainda para Cecim, citando Baumgarten, a estética é “a arte
de pensar de modo belo, é análoga a razão: portanto, a estética, como ciência do conhecimen-
to sensitivo, [...] se relaciona com o conhecimento conceitual e abstrato” (CECIM, 2014, p. 6).

Portanto, em um trabalho complexo e extenso, Baumgarten criou o conceito de estética que


serviu como um caminho aberto para outros filósofos pensarem a estética de maneira mais
aprofundada do que nas eras clássica e medieval.

A estética kantiana

Immanuel Kant, como filósofo, contribuiu para vários campos da Filosofia, e a estética tam-
bém foi um deles. Ele sugeriu uma mudança significativa no que diz respeito à arte. O pen-
sador colocou três pontos importantes para ver a arte no seu conjunto.

É por intermédio da estética kantiana que a arte se responsabiliza também como sendo
parte da comunicação com o interlocutor, e para o filósofo a arte para existir depende de: um

46
criador (o artista), responsável pela criação do belo (LEAL, 2015, p. 10), que é sua obra de
arte; e o público, cujas artes consome. 2
Através da Filosofia, Kant apresenta uma ideia de que o gosto sobre algo não é subjetivo

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de tal maneira como se acreditava. Ele diz que para ter gosto é necessário que eduque o
público para a percepção e formação desse gosto. Quanto ao criador, é necessário que ele
reinterprete o mundo para tentar demonstrar a beleza por meio de sua arte.

De modo geral, pode-se dizer que Kant afirma a ideia de que gosto é discutível e vai contra
a ideia de que cada ser humano tem seu próprio gosto, porque apesar da subjetividade do
gostar de algo, há a necessidade de universalizar o que ele chama de juízo de gosto (LOPES,
2010, p. 76) a partir da aceitação do outro sobre a mesma opinião.

Em resumo, Kant afirma que, para algo ser considerado belo, é preciso compreender o que
realmente ele é, antes de tudo. A noção de belo é real e afirmada de maneiras diferentes em
cada pessoa. A universalidade está no compartilhamento desse sentimento de comunhão do
que é belo, que seria a somatória do que é imaginação e entendimento referente às obras
(LEAL, 2015, p. 6).

Figura 05. Mapa mental de estética

Estética
` A ciência que estuda a percepção sensorial.

Período Clássico

Platão: a arte imita o mundo material e as obras são imitações da


realidade sensível.

Aristóteles: através da arte, o ser humano pode se colocar em vá-


rias situações diferentes e entrar em estado de catarse.

Período Medieval

Santo Agostinho: a beleza está na bondade de Cristo - no divino.

Filosofia da educação 47
Campos da Filosofia

Período Moderno
2
Alexandre Baumgarten: criador da palavra estética. Separa o con-
ceito de belo do "bem" e cria a ideia de Faculdade Superior (temas
metafísicos) e Faculdade Inferior (há ajuda do intelecto - há conhe-
cimento sensitivo)

Kant: Gosto é discutível. A noção de belo se afirma de maneiras


diferentes para cada pessoa. A universalidade está no compartilha-
mento desse sentimento de comunhão do que é belo.

Fonte: elaborada pela autora. Figuras adaptadas de 123RF e de https://pt.wikipedia.org/wiki/Agostinho_de_Hipona#/media/


Ficheiro:Saint_Augustine_by_Philippe_de_Champaigne.jpg. Acesso em: 27 jan. 2021.

4. POLÍTICA
Você já deve ter ouvido alguém falar “política, futebol e religião não se discutem”, não
é mesmo? Essa afirmação é muito utilizada pelo senso comum quando algum assunto
polêmico referente à política local ou mundial ganha destaque. Mas, será que essa
afirmação é coerente?

Muitas vezes, a sociedade associa a política somente às questões relacionadas ao


governo ou partidárias, mas se esquecem de que tudo que a cerca também é político.
Você já parou para pensar que desde o momento em que você acorda está fazendo
política? Como assim?

A maneira como você foi acordado, o celular que o despertou, o que você comeu (ou
não) no café da manhã, a maneira como foi trabalhar (meio de transporte, combustível)
ou estudar, ou se você está desempregado, tudo isso é política. Viver é um ato político.
Então, como não discutir?

Figura 06. Múltiplos caminhos Como não falar sobre política, quando fala-
mos sobre o número de desempregados?
Fonte: 123RF.

Como não falar sobre política, enquanto


discutimos os melhores caminhos para
a educação? Como não falar de política,
quando exigimos melhores condições para
a saúde pública? Como não falar de polí-
tica, quando questionamos os valores de
combustíveis e de alimentação?

Note que a política está em toda a parte e


que é através dela que se buscam melho-
rias enquanto sociedade para o bem co-
mum. Não é possível falar em caminhos
para a educação sem falar de política.

48
É por isso que a Filosofia também estuda esse campo tão importante para fazer ques-
tionamentos e buscar conceitos, mas que se difere da ciência política, pois a Filoso-
fia não visa formar conhecimento científico nessa área, e, sim, a problematização das 2
questões fundamentais. Pode-se dizer que a Filosofia Política auxilia como instrumento

Universidade São Francisco


para a área da ciência política.
Figura 07. Governo e Estado, dois conceitos difetentes

GOVERNO ESTADO

Fonte: elaborada pela autora.

A política, enquanto ramo da Filosofia, busca fazer questionamentos sobre as pergun-


tas fundamentais, só que desta vez no que gira em torno da organização política, do
bem-estar da sociedade em geral e sobre Governo e Estado.

Vale salientar que Governo e Estado são conceitos diferentes. Enquanto o Estado é
toda a máquina pública, todos os órgãos públicos e o que separa o que pertence e o
que não pertence ao coletivo e fixo, isto é, não passa por mudanças, a não ser que
essas mudanças sejam votadas pelo coletivo, o Governo é o contrário disso, não é fixo,
é transitório. No Brasil, por exemplo, a população vai às urnas a cada quatro anos para
escolher seus representantes de maneira democrática (escolhe o governo), ou seja, os
governantes e suas bases de governo são transitórias, diferentemente do Estado.

4.1. A FILOSOFIA POLÍTICA E OS PRINCIPAIS FILÓSOFOS

Período clássico e a política


Desde a época clássica, já se falava sobre política no sentido de noções de convívio humano
e social, inclusive, se pararmos para pensar no porquê de Sócrates ser condenado à morte,
Figura 08. Platão é possível enxergarmos política. Ele
recebeu a sentença de morte porque
Fonte: 123RF.

foi acusado de fazer as pessoas pen-


sarem politicamente, por ajudá-las a
refletir mais profundamente sobre as
questões relacionadas aos homens, e
não aos deuses. A partir desse pres-
suposto, consegue-se perceber que o
pensar é um ato político. Porém, nada
se tem escrito de Sócrates; o que se
sabe sobre ele é percebido através
das escritas de Platão.

Platão foi quem de fato escreveu a


primeira obra que falava diretamente sobre política no livro A república, que, de certa forma,
poderia até ser considerado uma utopia, pois através dos diálogos ele construiu uma ideia or-
ganizada sobre política a qual foi chamada de cidade perfeita.

Filosofia da educação 49
Campos da Filosofia

Nessa obra, ele já falava, inclusive, sobre política de educação que deveria ser totalmente
2 responsabilidade do Estado. O pensador também chegou à conclusão de que a pessoa que
deveria governar o Estado seria quem tivesse mais aptidão intelectual, uma espécie de “rei
filósofo’’, com mais instruções ao longo da vida.

Aristóteles também tinha uma teoria e seus estudos na área política, que focavam em sua
prática. Para ele, juntamente com a ética, pois o filósofo acreditava em uma forma de governo
democrático e que só através dela a sociedade conseguiria ser mais justa.

Mesmo sua existência datando de centenas de anos antes de Cristo, isto é, há milhares de
anos, ele já pensava que o ideal para esse bem em comum era a separação dos poderes,
isto é, separação entre quem governava e os cidadãos que legislavam. Essa ideia já era algo
incomum para a época em que ele vivia.

Período moderno e a política

Figura 09. Maquiavel, de Santi di Tito (se- Depois de muitos anos, no período do
gunda metade do século 16) Renascimento, temos Nicolau Maquia-
vel, suas ideias são refletidas na po-
Niccol%C3%B2_Machiavelli_by_Santi_di_Tito.jpg. Acesso em: 27

lítica da atualidade. Ele faz algumas


importantes reflexões em sua principal
Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Portrait_of_

obra intitulada O príncipe, a partir da


seguinte questão: como, de forma es-
tratégica, um monarca pode conquistar
e manter o poder?

Além disso, na sua obra, ele fala sobre


como governar diante de um povo que
ama seu monarca e o que fazer, tam-
bém, caso essa simpatia não seja cons-
truída. Ele disserta sobre como tomar
atitudes positivas e negativas em um
governo e mesmo assim saber lidar com
a população em geral.

Nesse aspecto, ele trabalha os concei-


jan. 2021.

tos de virtu e fortuna – em que fortuna


representa o acaso, alguma situação
que possa colocar em risco a manuten-
ção do poder do governante e, assim, diz que o governante deve ter virtu para que isso não
aconteça, ou seja, virtu trata-se da habilidade que um monarca deveria ter para conseguir se
manter no poder independentemente do acaso.

Ainda na linha do tempo entre os clássicos e os modernos, há os filósofos contratualistas


que também estudavam e escreviam sobre política. Entre eles estão Thomas Hobbes, John
Locke e Jean-Jacques Rousseau.

Os contratualistas se afastaram das ideias anteriores, pois acreditavam em uma forma de


contrato social que seria uma passagem para viver em sociedade e adotaram a ideia dos
direitos naturais e do jusnaturalismo, ou seja, um direito natural. Na visão desses filósofos, a
lei da natureza era o que mandava antes de o ser humano conviver em sociedade.

50
Figura 10. Rousseau, réplica de Quentin Dentre esses filósofos, um que se destacou
de La Tour (1753) foi Rousseau, que escreveu a sua mais im- 2
portante obra, intitulada O contrato social
(1762). Nesse livro, o filósofo sugere que o

Universidade São Francisco


homem faça um contrato social com quem

Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Jean-Jacques_
o governa. Para isso, ele deixa seu estado

Rousseau_(painted_portrait).jpg. Acesso em: 28 jan. 2021.


de natureza, abrindo mão de sua liberdade,
porém com alguma pessoa sendo respon-
sável por criar leis e também fiscalizá-las.
Rousseau acredita que através desse con-
trato e dessa ideia de elaboração e fiscali-
zação de leis é que a sociedade consegue
se desenvolver.

A ideia que Rousseau traz em O contrato


social é uma ideia que ainda permanece na
democracia e na atual política.

Compreendeu como a política se faz pre-


sente no dia a dia das pessoas, mesmo
quando não querem discuti-la? Falar sobre
política de uma forma mais crítica pode ser
uma opção do ser humano, mas não falar
sobre ela é praticamente impossível quan-
do se vive em sociedade, pois ela foi feita para ser discutida e através de diálogos encontrar
caminhos para viver em uma sociedade de maneira mais justa e colaborativa.

No âmbito da educação, ela se faz presente e se faz necessária, pois é por meio de discus-
sões políticas que se busca a melhor maneira de educar e de pensar a educação de maneira
ampla e assertiva.

SAIBA MAIS

Participação Política

https://www.youtube.com/watch?v=fFiRnyCYnOI. Acesso em: 28 jan. 2021.

Vídeo: Participação política – Canal do Cortella.

No vídeo sugerido nesta caixa, o professor Mário Sérgio Cortella traz exemplos atuais sobre
o que é política e a participação da população em atitudes básicas do dia a dia.

Qual é a sua participação na política atual?

Figura 11. Mapa mental da política

Período Clássico

Sócrates: foi condenado à morte por fazer as pessoas pensarem. Pensar


é um ato político.

Filosofia da educação 51
Campos da Filosofia

2 Platão: desenvolvive as ideias de política em A república.

Período Moderno

Maquiavel: autor da obra O príncipe. Disserta sobre a ideia de governo por


uma pessoa estratégica e popular que busca o apoio do povo.

Contratualistas: Jean Jacques-Rousseau é autor da obra O contrato social.


O homem abre mão de seu estado de natureza, sua liberdade, porém, com
um pessoa sendo responsável por criar leis e fiscalizá-las.

Fonte: elaborada pela autora.

5. ONTOLOGIA
Desde que o ser humano passa a ter consciência de sua existência, ele faz alguns
questionamentos a si mesmo sobre a vida, sobre o mundo e tudo que o cerca, e a on-
tologia é, de certa forma, o estudo do ser enquanto ser. Pode- se dizer que é o campo
da Filosofia que tenta entender o conhecimento do que é ser, perceber a realidade dos
seres em geral, ou busca até mesmo compreender a essência da realidade (CHAUÍ,
2000, p. 50).

Parece um pouco confuso, e até mesmo muito complexo, mas a ontologia é um ramo da
metafísica que tenta entender o princípio, o início de tudo e os fundamentos que regem
todos os seres. Os primeiros pensadores gregos faziam questionamentos sobre: “O
que existe?”; “Qual é a origem do mundo?”; “Por que eu existo?”; “Por que as coisas ao
redor existem?”. E com a busca pela origem de tudo surgiu a ontologia, que resumida-
mente é a busca pelo conhecimento do que é o ser, o que é o saber.

No período clássico grego, os sofistas acreditavam que não era possível conhecer o
ser, e sim ter opiniões subjetivas sobre a realidade (CHAUÍ, 2000, p. 139) e isso impac-
tava a ideia sobre o que é o ser, o saber, pois para eles a verdade era “uma questão
de opinião e de persuasão, e a linguagem é mais importante do que a percepção e o
pensamento” (CHAUÍ, 2000, p. 139).

Sócrates já pensava diferentemente sobre esse mesmo tema: ele dizia que a verdade
poderia ser alcançada apenas pelo pensamento, mas que, para isso, era preciso afastar
as ilusões (CHAUÍ,2000, p. 139). Depois que Sócrates se esforçou e criou os primeiros
caminhos para se pensar a Filosofia, Platão e Aristóteles acrescentaram a ela suas
teorias mais complexas sobre como pensar e como validar esses pensamentos, teorias
essas que você já estudou neste livro, inclusive.

Conforme Platão, a ontologia está também nas suas ideias dualistas, nos dois mundos
diferentes: o sensível e o inteligível, já que para o filósofo o conhecimento passa pelo
mundo sensível e chega ao inteligível, vai da aparência ao real (CHAUÍ, 2000, p. 277).

52
Apesar de as ideias de metafísica e ontologia terem começado pelos sofistas, ela ganha
força mesmo com Aristóteles, pois ele é o primeiro dos filósofos clássicos que foca suas
teorias do mundo real, e não nas coisas sensíveis, estudando, então, o ser enquanto ser, 2
já que ele não crê no mundo das coisas sensíveis, pelo contrário, para ele é ilusório. Ele

Universidade São Francisco


acredita no mundo real e que a essência está no mundo inteligível (CHAUÍ, 2000, p. 278).

Através das ideias dos pensadores clássicos, é possível perceber que a ideia de “onto-
logia” já estava presente muito antes de o termo, de fato, existir, pois a palavra só existiu
no começo do século XVII (MORA, 1978, p. 203), antes disso, os termos metafísica e
ontologia eram confundidos. Com o tempo, perceberam que era necessário separar os
significados. Assim, a ontologia passou a estudar a ciência do ser em si, “a ciência das
essências e não das existências” (MORA, 1978, p. 204).

Depois da invenção do termo no século XVII, outros autores também seguiram estudan-
do a ontologia nos séculos seguintes.

Um desses filósofos que passaram a estudar a ontologia é Edmund Husserl (1859-


1938), que subdivide a ontologia em formal e material. Para ele, a primeira trata das
essências que convêm de todas as outras essências, enquanto a segunda trata, como
o próprio nome diz, das essências materiais, isto é, que ela seja respectivamente as
formas de todas as ontologias existentes, enquanto a formal seria a junção de todas as
ciências (MORA, 1978, p. 204).

5.1 NEM REAL, NEM IDEAL: A ONTOLOGIA NOVA


Outros estudiosos que vieram depois de Husserl também estudaram sobre ontologia
e desenvolveram o tema. Dentre esses pensadores, dois deles se destacam: Martin
Heidegger e Maurice Merleau-Ponty, que tentaram, de certa forma, libertar a ontologia
do dualismo entre o realismo e o idealismo (CHAUÍ, 2000, p. 306).

Maurice Merleau-Ponty (1908-1961), filósofo francês, graduou-se em Filosofia em 1931


e lecionou em vários liceus. Martin Heidegger (1889-1976), filósofo alemão, acreditava
na existência de uma ontologia fundamental, para a qual sua missão seria a descoberta
do estabelecimento do ser da existência. Para ele, a ontologia é a indagação “que se
ocupa do ser enquanto ser [...] enquanto aquilo que torna possível para as existências”
(MORA, 1978, p. 204).

Tanto para Heidegger quanto para Merleau-Ponty, a nova ontologia parte do pressupos-
to de que os seres estão no mundo e de que o mundo é mais velho que os seres, en-
tretanto estes são capazes de dar sentido ao mundo, conhecendo-o e transformando-o
(CHAUÍ, 2000, p. 307).

Em suma, na visão da nova ontologia e segundo Marilena Chauí (2000, p. 308), a onto-
logia “estuda as essências antes que sejam fatos da ciência explicativa e depois que se
tornam estranhas para nós”. Por exemplo, enquanto uma pessoa pergunta que horas
são, a ontologia questiona o que é o tempo, qual a percepção dele.

No geral, todos os campos da Filosofia passam pela ontologia, por exemplo, enquanto
estudamos na estética a definição do que é belo, a ontologia questiona o que é beleza

Filosofia da educação 53
Campos da Filosofia

e como atribuímos valor ao que é “belo”? Na ética, a ontologia já questiona qual é a


percepção do que é ético e antiético. Isto é, de maneira breve, a ontologia é a área da
2 Filosofia que estuda o sentido do existir, o sentido da essência, e por mais que possa
parecer complexo e difícil, dentro de uma sala de aula, é comum ouvirmos algumas
crianças nos questionando sobre determinadas perguntas de fundo ontológico, buscan-
do entender o sentido do existir, claro que de acordo com suas percepções de mundo e
levando em consideração sua idade.
Figura 12. Mapa mental da ontologia

SOFISTAS
` O saber era uma questão de opinião e de persuasão. A linguagem é mais importante
do que a percepção e o pensamento.

SÓCRATES
` A verdade pode ser alcançada pelo pensamento, mas para isso é necessário afastar
as ilusões.

PLATÃO
` DUALISMO: acredita que o conhecimento do ser passa pelo mundo sensível e chega
ao inteligível.

ARISTÓTELES
` Foca no mundo real, pois acredita que o mundo sensível não passa de ilusão. A es-
sência (ontologia) está no mundo inteligível.

HUSSERL
` Acredita na ontologia formal e material. A formal é a junção de todas as ciências e a
material a junção de todas as ontologias existentes.

HEIDEGGER e MERLEAU- PONTY


` Libertam a ontologia do dualismo entre racionalismo x idealismo. Acreditam que os
seres estão em um mundo mais velho que eles, mas que os seres são capazes de
dar sentido ao mundo.

ENTÃO, ONTOLOGIA É...


` A área de Filosofia que estuda o sentido de existir, o sentido da essência.

Fonte: elaborada pela autora.

GLOSSÁRIO
Liceu: ginásio situado fora de Atenas, onde Aristóteles ensinava¹; designação antiga dos es-
tabelecimentos oficiais de instrução secundária²; ensino secundário³ (significados a partir
do dicionário Priberam da Língua Portuguesa).

Sofistas: pensadores não considerados filósofos; em geral, não tinham uma doutrina em
comum e o ensino que praticavam era voltado a fins instrumentais.

54
SAIBA MAIS
Gostaria de entender mais sobre o que é ontologia? 2

O professor Pedro Rennó, do canal Parabólica, explicou em seu vídeo O que é ontologia um

Universidade São Francisco


pouco sobre o termo e o conceito de uma maneira bem explicativa.

Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=sVR71qrLRZ8. Acesso em: 27 jan. 2021.

SUGESTÃO DE LEITURA
DICIONÁRIO DE FILOSOFIA, de José Ferrater Mora, é um dicionário sobre os principais
conceitos da Filosofia, inclusive sobre a ontologia.

É uma ótima indicação de livro para quem gosta do assunto ou para quem se interessa por
Filosofia, onde o autor consegue ser bem objetivo e preciso nos principais termos filosóficos.

CONCLUSÃO
Nesta unidade, você pôde conhecer um pouco sobre o que é a Filosofia e os seus con-
ceitos. Estudou as suas divisões – epistemologia, ética, estética, política e ontologia – e,
depois de cada divisão, um mapa mental, resumindo as principais ideias.

Quanto à epistemologia, você pode perceber que é a área do conhecimento filosófico


que estuda a forma como as pessoas adquirem conhecimento, e alguns pensadores
ao longo da história já falaram sobre ela. Platão considerava que a epistemologia se
opunha à crença. Já na era moderna, a epistemologia era dividida entre o empirismo
e o racionalismo. Kant, através da sua teoria dos juízos, consegue relacionar as ideias
empíricas e racionalistas.

O conceito de ética também passou por vários períodos históricos e foi se transforman-
do ao longo deles. A ética aristotélica era aquela que acreditava que o conceito estava
ligado à felicidade, à ideia de “sumo bem”, de certa forma individual, que busca o bem
maior e se divide em dois principais momentos: razão e justa medida.

Passado algum tempo, a ética utilitarista também acreditava na ideia de felicidade re-
lacionada à ética, mas não de maneira individual. Nesse sentido, como o próprio nome
diz, a ética deveria ser “útil”, portanto a felicidade estava ligada a valores coletivos.

Kant estudou sobre ética e se aprofundou em relação aos conceitos. Para ele, havia
dois imperativos: o imperativo hipotético e o imperativo categórico. O primeiro não en-
volvia a razão, e o segundo referia-se a ações movidas pela racionalidade; e o impera-
tivo categórico era pautado na ética, dividida em a priori e a posteriori.

A ética a priori de Kant acreditava que nesse ponto as pessoas julgavam sem experi-
mentar, o conceito ainda não era algo empírico. Já a posteriori não, depois de experien-
ciar, julgava-se sobre algo.

Filosofia da educação 55
Campos da Filosofia

Quanto ao campo filosófico da estética, vimos a análise filosófica em torno do que é


belo e as visões de acordo com o tempo histórico. De maneira geral, o conceito é defi-
2 nido como a ciência que estuda a percepção sensorial.

No período clássico, Platão e Aristóteles tiveram ideias sobre a estética, mas as ideias
eram diferentes uma da outra. Platão e seu dualismo, nas teorias das ideias, era um
crítico de arte e acreditava que ela imitava o mundo material, enquanto as obras eram,
na verdade, imitações da realidade sensível. Já Aristóteles acreditava que por meio da
arte o ser humano poderia entrar em estado de catarse e se colocar em várias situações
através dela, isto é, que a arte exercia uma função pedagógica na questão de transmis-
são de conhecimento.

No período medieval, um dos seus principais pensadores, Santo Agostinho, dizia que
o conceito de belo, a beleza em si, está na bondade de Cristo, e em certos momentos
é possível notar semelhanças do pensamento de Agostinho com Platão por causa das
dualidades, e também com Pitágoras, porque o filósofo medieval conseguia enxergar a
beleza do divino através dos números e da noção de proporcionalidade.

O período moderno já separa a ideia de beleza da ideia do divino e traz para o campo
da realidade. Foi justamente nesse período que o termo passou a existir através de
Alexander Baumgarten, que separa a estética em dois momentos: Faculdade Superior
e Faculdade Inferior. A primeira cuidava de temas metafísicos, enquanto a segunda
tratava do conhecimento sensitivo que tinha ajuda do intelecto.

Kant também faz seus estudos no campo filosófico da estética. Segundo ele, a ideia de gosto
é discutível e a noção de belo se afirma de maneiras diferentes em cada pessoa. A ideia de
universalidade está no compartilhamento desse sentimento de comunhão do que é belo.

No campo filosófico da política, você pode perceber que praticamente todas as ações
são políticas, inclusive o pensar. O pensar como ato político torna-se um ensino para a
sociedade, inclusive com a morte de Sócrates, que foi condenado por fazer as pessoas
refletirem sobre algumas questões fundamentais, colocando o antropocentrismo em
destaque, no lugar das ideias dos deuses. Esse fator foi determinante para a sentença
que lhe foi dada.

Platão dedicou uma parte de sua obra para o estudo da política e tem suas ideias
desenvolvidas no seu livro A república, em que disserta através de utopias políticas e
sobre como seria a organização ideal para a sociedade ser administrada.

No período moderno, a ideia de política foi se modificando e ganhando a concepção que


recebe na atualidade. Você viu, nesta unidade, que um dos grandes nomes para a Filo-
sofia Política foi Nicolau Maquiavel, que escreveu a obra O príncipe, no qual dissertou
sobre uma pessoa estratégica que deveria governar e ser popular, buscando sempre
o apoio do povo; e em seu livro, Maquiavel também passa orientações sobre como o
governador deve agir em diversas situações, inclusive quando não consegue o apoio e
a simpatia da população em geral.

Além da importância de Maquiavel para a política, outro nome bastante influente nesse
campo filosófico é Jean-Jacques Rousseau, que defendeu, através da sua principal

56
obra O contrato social, a ideia de que o homem abre mão de seu estado de natureza,
isto é, de sua própria liberdade natural, para que uma pessoa seja responsável por
criar leis e fiscalizá-las, uma espécie de bem coletivo, que influencia ainda hoje no que 2
chamamos de democracia.

Universidade São Francisco


O último campo filosófico analisado nesta unidade é o da ontologia, área destinada ao
estudo do sentido da existência. Esse campo, assim como os outros anteriores, sofre
influência desde a área clássica.

Nesse caso, até antes do período socrático, ou seja, no período pré-socrático, os pen-
sadores da época já falavam sobre essa ideia. Os sofistas viam o saber como uma
questão de opinião e persuasão, e para eles a linguagem era mais importante que a
percepção e o pensamento.

Sócrates já tinha uma visão um pouco diferente: a verdade sobre o saber pode ser al-
cançada pelo pensamento, mas para isso é necessário que se afastem as ilusões. Pla-
tão com suas ideias dualistas acreditava que o conhecimento do ser passa pelo mundo
sensível e chega ao mundo inteligível.

Aristóteles, como em quase todos os campos, tem ideias que divergem das ideias de
Platão, pois ele foca no mundo real e acredita que o mundo sensível não passa de ilu-
são. A essência, isto é, a ontologia está no mundo inteligível.

Muitos anos depois, Husserl também falou sobre ontologia, mas com ideias diferen-
tes, pois ele está presente em outro contexto histórico que os filósofos clássicos. Para
Husserl, há a ontologia formal e a informal. A formal é a junção de todas as ciências,
enquanto a material é a junção de todas as ontologias existentes.

Separando a ontologia do dualismo entre racionalidade e idealismo, Heidegger e Merle-


au-Ponty acreditam que os seres humanos estão em um mundo mais velho que eles, mas
que esses seres são capazes de dar sentido ao mundo, o que para eles é a essência.

Como você pode perceber, esta unidade está repleta de conceitos importantes e funda-
mentais que o auxiliarão a entender melhor a Filosofia e também a Filosofia da Educação.

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php/ActaSciHumanSocSci/article/view/7060/7060. 1995. (Patrística).
Acesso em: 16 dez. 2020. 21.STRATHERN, P. Aristóteles em 90 minutos.
13.MAQUIAVEL, Nicolau. O príncipe. São Paulo: Tradução de Maria Helena Geordane. Rio de Janei-
ro: Jorge Zahar, 1996.

58
Filosofia da educação
59
2

Universidade São Francisco


Filosofia e educação

UNIDADE 3

FILOSOFIA E EDUCAÇÃO
3

INTRODUÇÃO
Você já parou para pensar quando a Filosofia e a Educação se interligaram e o porquê de
existir uma área de estudo denominada Filosofia da Educação? Nesta unidade, você sabe-
rá como a Educação e a Filosofia se aproximam, ou melhor, dialogam de modo dialético.

Já é corrente que a Filosofia busca o saber e está ligada diretamente ao ser humano,
suas descobertas e seus pensamentos. Como, então, a Filosofia poderia ser um ramo
desprezado dentro da Educação, sendo que a Educação é um lugar para pensar, des-
cobrir, aprender e ensinar?

Na história da Filosofia, é possível perceber que a Educação sempre fez parte do pen-
samento dos principais filósofos e pensadores (teólogos, matemáticos, físicos etc.).

De certa forma, pode-se dizer que esses pensadores se preocupam com a edu-
cação e com o ser humano, isto é, com a forma como os seres humanos buscam
informação e conhecimento.

Figura 01. Filosofia – lugar de perspectiva A origem da palavra “educação” vem de


“educar”, do latim “educare” (prefixo “ex”,
Fonte: 123RF.

de exterior, fora; “ducare”: “instruir, guiar”,


isto é, guiar para fora, conduzir para o ex-
terior), e a Filosofia é uma área do conheci-
mento que propicia o “guiar para fora”, essa
visão de “mundo exterior”.

Muito antes de pensarmos na palavra edu-


cação, na Grécia Antiga, já se discutia a
formação do cidadão enquanto “Paideia".
Não há uma tradução para a palavra, mas
o conceito está atrelado à maneira como os
gregos pensavam a educação, que era em
um sentido extremamente amplo com uma
formação integral que contempla os sabe-
res do corpo e também do espírito.

É possível entender, através disso, que a intenção da Filosofia sempre foi, de certa
maneira, conduzir o nosso pensamento para o exterior, “pensar fora da caixinha” e co-

60
nhecer o mundo por diversas maneiras, e é exatamente nesse ponto que a Educação e
a Filosofia se relacionam de forma dialética, uma complementando a outra.

Nesta unidade, você verá como ambas se articulam e a influência das principais corren- 3
tes filosóficas no pensamento educacional. Além disso, conhecerá algumas tendências
pedagógicas utilizadas no processo de ensino e no de aprendizagem dentro da sala de

Universidade São Francisco


aula, e os principais autores e educadores, juntamente com seus fundamentos filosófi-
cos e suas teorias educacionais.

1. FILOSOFIA E EDUCAÇÃO
Neste item, você estudará as influências e as contribuições da Filosofia para a área da
Educação e entenderá porque até agora você conheceu alguns nomes importantes da
Filosofia clássica, da medieval e da moderna e como eles influenciam, por meio das
suas ideias, a educação que temos até hoje presente no nosso dia a dia.

Para começar a discussão, você já pensou o que é, de fato, a educação? Seria ela:

` Uma forma de transmitir conhecimento?

` Um caminho para o desenvolvimento? Se sim, qual desenvolvimento? O que é para você


a palavra desenvolvimento?

` Possivelmente, um exercício de aculturamento?

É interessante frisar que essas questões norteadoras servem para você refletir de que
forma vê a educação a princípio e que não há uma única resposta para essas indaga-
ções. Todas elas apontam para uma perspectiva do que seria educar, dependendo da
maneira como vemos a educação, e quais são os objetivos dela perante seus alunos.

E, então, para que serve a Filosofia dentro da Educação? Como relacionar ambas?

Ao longo do que já foi estudado nesta disciplina, você já deve ter notado que a Filosofia
é um exercício de indagação, questionamentos e busca por conceitos para as questões
fundamentais (Quem eu sou? De onde eu vim? O que é belo? O que está certo? O que
é está errado?), não é mesmo?

Nas ideias dos pensadores clássicos, como Sócrates e Platão, já havia a intenção de
falar sobre educação, seja pela maiêutica de Sócrates, ou pela dialética de Platão. Os
filósofos que vieram depois deles foram modificando suas teorias, mas todas elas leva-
vam ao exercício do pensamento e da reflexão.

Porém, é injusto reduzir o ato filosófico somente ao campo do questionamento, porque


todos os seres humanos são capazes de pensar e de fazer indagações. O ato filosófico
vai mais além, pois ele não apenas pensa, indaga e questiona, mas também parte para
o exercício da reflexão, e este sim é mais abrangente e vai além de fazer perguntas.

Filosofia da educação 61
Filosofia e educação

GLOSSÁRIO

Reflexão: segundo o dicionário Michaellis [s. d.], a palavra reflexão significa:


3
re·fle·xão (cs) s.f.

Ação ou efeito de refletir(-se); repercussão.

FILOS. Ato de pensar o próprio pensamento; ato do conhecimento que se volta sobre si mes-
mo, tendo como objeto seu próprio ato.

Observação atenta e profunda, oral ou escrita, sobre alguma coisa, resultado de intensa
meditação e entendimento.

Ação de pensar demorada e ponderadamente para melhor compreender as causas ou ra-


zões de um fato, evitando juízo precipitado e comportamento impulsivo.

FÍS. Retorno de onda de qualquer tipo (som, luz etc.) ao meio onde se propagava, após inci-
dir sobre a interface com outro meio.

GEOM. Operação pela qual um ponto se transforma em seu simétrico, em relação a outro
ponto, ou a uma linha.

REFLEXÃO. Michaelis, UOL, [s. d.]. Disponível em: http://michaelis.uol.com.br/moderno-por-


tugues/busca/portugues-brasileiro/reflex%C3%A3o/. Acesso em: 20 dez. 2020.

Como podemos perceber através do glossário, para a Filosofia refletir é o “ato de pensar o
próprio pensamento; ato do conhecimento que se volta sobre si mesmo, tendo como
objeto seu próprio ato”. Isto é, refletir é conseguir refletir sobre o que já foi pensado ante-
riormente, dar um novo olhar para aquele objeto que merece atenção e ver se os conceitos
já debatidos anteriormente fazem sentido ainda, com novas questões pertinentes.

Através desse conceito, consegue-se separar a ideia de pensamento do senso comum,


que todas as pessoas podem ter sobre qualquer assunto, de um ato reflexivo filosófico,
ou seja, o ato de pensar a Filosofia é um ato que exige mais reflexão acerca dos temas
primordiais do que é ser humano, do que simplesmente levantar alguns questionamentos.

Vale salientar que todo questionamento feito pelo senso comum é demasiadamente impor-
tante, assim como o pensamento filosófico, pois, antes de uma questão filosófica ser pro-
priamente uma questão de debate da Filosofia, ela já foi uma indagação do senso comum.

` Então, tendo em vista todos esses apontamentos, se o ser humano é capaz de levantar
todas essas indagações, qual é a necessidade da Filosofia?

No mundo em que vivemos hoje, há diversas ações que precisam ser tomadas no
nosso dia a dia e, em geral, não paramos para refletir sobre elas, apenas pensamos
rapidamente (ou, às vezes, nem temos tempo para isso). Tentar fazer alguns questio-
namentos sobre esses atos necessários em nossa vivência é importante para entender
por que os fazemos.

62
` Você já pensou no último item que comprou para si mesmo? Qual foi a finalidade da com-
pra? Para que o comprou? Onde ouviu, ou leu, sobre ele? Por que preferiu o produto X do
que o produto Y? Pela marca? Funções? Preços?
3

Graças ao mundo moderno em que estamos inseridos, somos expostos a muitas infor-

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mações o tempo todo, seja por rádio, televisão e agora a internet, que acaba sendo um
dos principais meios que nos influencia direta e indiretamente, porque, por vezes, nem
nos damos conta o que, de fato, estamos consumindo.

PARA REFLETIR

Você já se sentiu influenciado por algo que um influenciador digital ou uma celebridade mos-
trou na internet ou em campanhas publicitárias? Não precisa ser exatamente algum produto
que você tenha comprado, mas algo que despertou o seu desejo e você foi buscar informa-
ções sobre o assunto.

Você considera que foi influenciado? Por quê?

Quanto o seu desejo reflete o que é sua própria vontade ou a influência da vontade do outro?

Como você mesmo pode perceber, todas essas perguntas são extremamente pessoais
ou subjetivas, e cada ser humano pode respondê-las de uma maneira diferente, de
acordo com o grau de sua subjetividade do meio envolvido.

Mas e a Filosofia?

O conhecimento filosófico busca a reflexão e o pensamento crítico, inclusive em seus


próprios atos e ações nesse mundo globalizado e com muita informação que temos
hoje. O ato de refletir é importante até para as atitudes que são vistas como banais,
como o desejo de comprar algo ou consumir um serviço, dentre várias outras atitudes
rotineiras, e essa visão mais complexa que adquirimos através da reflexão se faz mui-
to presente também na educação; é exatamente neste ponto que entra a Filosofia da
Educação.

Esse olhar reflexivo que temos acerca das questões da vida, as tais questões funda-
mentais, deve se fazer presente quando falamos sobre educação e pedagogia.

GLOSSÁRIO

Pedagogia:

pe·da·go·gi·a - s.f.

1. Ciência da educação e do processo de ensino e aprendizagem.

2. Conjunto de doutrinas, princípios e métodos que visam assegurar uma educação eficiente.

3. Método de ensino.

Filosofia da educação 63
Filosofia e educação

4. Profissão ou exercício da arte de ensinar.


PEDAGOGIA. Michaelis, UOL, [s. d.]. Disponível em: https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-
-brasileiro/PEDAGOGIA/. Acesso em: 20 dez. 2020.
3

GLOSSÁRIO

Segundo o dicionário Michaelis:

Educação:

e·du·ca·ção - s.f.

1. Ato ou processo de educar(-se).

2. Processo que visa ao desenvolvimento físico, intelectual e moral do ser humano, através
da aplicação de métodos próprios, com o intuito de assegurar-lhe a integração social e a
formação da cidadania.

3. Conjunto de métodos próprios a fim de assegurar a instrução e a formação do indivíduo;


ensino.

4. Conhecimento, aptidão e desenvolvimento em consequência desse processo; formação,


preparo.

5. Nível ou tipo específico de ensino.

6. Desenvolvimento sistemático de uma faculdade, um sentido ou um órgão.

7. Conhecimento e prática de boas maneiras no convívio social; civilidade, polidez.

8. Adestramento de animais.

9. Prática de cultivar e aclimatar plantas.


EDUCAÇÃO, Michaelis, UOL, [s. d.]. Disponível em: https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-
-brasileiro/educa%C3%A7%C3%A3o/. Acesso em: 20 dez. 2020.

Você considera educação e pedagogia sinônimos? Por quê?

Ao analisar os dois termos pode-se perceber que o termo educar é mais amplo e en-
volve o conhecimento através de diversas formas, não somente o que chamamos de
escolarização, como, por exemplo, o educar para cuidar da natureza, animais, convívio
social e diversas outras maneiras. Pensando nisso, para educar, o que é preciso? É
preciso ter um educador em todos esses processos de educação citados no glossário?

E se formos para outro caminho, o caminho da pedagogia? Quando se fala em pedago-


gia, falamos de uma ciência que visa o processo de ensino e aprendizagem, doutrinas
e também de técnicas educativas de acordo com o objetivo de cada método desenvol-
vido por profissionais da área da Pedagogia e da Educação. O caminho é mais longo e
um tanto quanto mais complexo, porque nesse momento entram teorias – que podem
ser diversas – de como educar da melhor maneira; e para esses momentos reflexivos
contamos com a Filosofia.

64
Portanto, é através da Filosofia que alguns questionamentos quanto à Educação e à
Pedagogia se fazem presentes:

` Através da Filosofia, então, busca-se entender a prática pedagógica. Como ensinar da 3


melhor maneira? Quais os caminhos para chegar até esse objetivo? Quais as melhores
práticas pedagógicas para atingir o objetivo?

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` Como entender o processo de educação como parte da formação de indivíduos e como
transformar tais práticas em algo humanizado, que respeite a individualidade do ser e lhe
dê liberdade de pensamento?

Como já visto, o pensamento filosófico busca a reflexão, isto é, retroceder ao que já foi
pensando anteriormente de forma mais precisa e verificar se as indagações e conceitos
já existentes ainda se fazem assertivos e coerentes com a discussão atual. Através
disso, é possível buscar caminhos para uma educação coerente e justa.

Portanto, faz parte do exercício da Filosofia da Educação indagar qual é o objetivo da


ação educativa.

` O que é, então, pensar na educação, de maneira geral, como um método de formação


humana? Quando nos deparamos com essa questão, o que lhe vem à mente?

` Educação influenciadora? (aculturação)

` Educação libertadora?

Através desses questionamentos, fica muito claro o quanto a Filosofia e a prática peda-
gógica estão interligadas.

A partir do momento em que se coloca um ser humano em um contexto educacional (no


início da vida na escola, depois em faculdades, cursos profissionalizantes etc.), deve-se
então analisar o projeto existente para sua formação pedagógica, que pode ser algo
ligado à transmissão de conhecimento, instruções, e de certa forma até uma maneira
de aculturação, como também pode ser o contrário, algo libertador, conscientizador e
veículo de emancipação.

É claro que, muitas vezes, nós não temos essa percepção rapidamente, mas o exercí-
cio da reflexão nos faz repensar tais situações. Principalmente quando se fala de pro-
cesso educacional para crianças, pois suas reflexões ainda não chegaram a tal ponto
de elaboração.

Nesses casos, deve-se levar em consideração o que a criança já traz consigo de “ba-
gagem” histórica – vale salientar que esse modelo não é só aplicado em crianças, mas
também na formação de jovens e adultos de maneira geral. Quem fala sobre isso é
o educador Paulo Freire, que você estudará mais adiante. Mas já conhecerá, de certa
maneira, um pouco da ideia dele.

Quando um aluno chega ao professor, o que você acredita que deva ser levado em
consideração? Há duas maneiras mais básicas de se entender isso:

Filosofia da educação 65
Filosofia e educação

01. Você lida como se ele não tivesse nenhuma bagagem de aprendizagem? Dessa ma-
neira, a educação torna-se uma espécie de enciclopédia que é colocada no aluno para de
3 certa forma “preencher” o “vazio” da falta de conhecimento. Porém, essa é uma maneira de
educação padronizada, que visa uma memorização de conceitos, e de certa forma até uma
doutrinação de quem explica. Essa é uma forma de educação que você conhecerá mais para
a frente, que o educador Paulo Freire (1987, p. 40) chama de educação bancária, em seu
livro Pedagogia do oprimido.

02. Uma outra maneira de ver o processo educacional é levando em consideração a construção
histórico-social do estudante ali presente, que de certa forma é um modelo de educação que
serve como um mediador entre o sujeito em formação (estudante) e o professor que deve, então,
tentar entender o ambiente em que esse sujeito está inserido, além de sua vida e história.

Figura 02. Mediação em sala de aula

Fonte: 123RF.

Ao longo deste item você deve ter percebido que parte da função da Filosofia da Edu-
cação é propor reflexões acerca de todo o processo educacional, envolvendo escola,
professores e métodos didáticos.

2. EDUCADORES E FUNDAMENTOS FILOSÓFICOS


Como você pode perceber, a Filosofia e a Educação caminham juntas há muitos anos
através das reflexões de filósofos de toda a história. O pensar e o transmitir conhecimento
sempre foram uma prática comum e uma preocupação entre os principais pensadores.

A Filosofia da Educação surge, então, para fundamentar os princípios que orientam


a prática educativa e as reflexões acerca de toda essa prática. É ela quem vai refletir
sobre os objetivos educacionais e os métodos pedagógicos adotados no decorrer da
história da educação.

Para haver uma instituição de ensino, são necessários alguns pontos, sendo eles: pro-
fessores, currículo escolar e estudantes. Todos esses elementos juntos formam uma
unidade educacional que vai reger essa instituição de ensino.

Essas instituições de ensino podem adotar filosofias diferentes quanto à metodologia


de ensino para seus alunos, algumas mais conservadoras, outras mais modernas, de
acordo com o perfil de ensino que a escola acredita ser o mais eficiente.

66
2.1 JEAN PIAGET
Jean William Fritz Piaget (1896-1980), mais conhecido como Jean Piaget, nasceu em
Figura 03. Jean Piaget 1896, em Genebra, e, diferentemente do que pensam,
não foi um pedagogo, e sim um biólogo e psicólogo 3

Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Jean_Piaget_in_
epistemológico, mas seus estudos contribuem muito

Universidade São Francisco


para a Pedagogia e para a área da Educação. Desde
muito cedo Piaget se dedicou à vida acadêmica e, en-
quanto adolescente, escreveu seu primeiro artigo so-
bre um pardal albino a partir da observação.
Ann_Arbor.png. Acesso em: 28 jan. 2021. Embora o nome Piaget tenha se tornado comum de-
vido a suas ideias educacionais, ele mesmo afirmava
que não existe um “método Piaget”. Por ser biólogo,
ele acreditava em uma observação científica rigorosa
no processo de aprendizagem do indivíduo.

O pensador acreditava que as crianças só aprendiam


o que estavam preparadas para aprender e assimi-
lar de acordo com a sua maturidade, e que cabia ao
professor aperfeiçoar o processo de descoberta dos
seus estudantes, porque para ele o educar é provo-
car, provocar o estímulo, provocar o raciocínio.

Assimilação, acomodação e adaptação

Através de duas ideias notou-se, em geral, que as crianças não raciocinam como um adulto e
que, aos poucos, elas conseguem se inserir às regras, principalmente quando conseguem per-
ceber o mundo ao redor e assim ganham maturidade psicológica, notando valores e símbolos.

Nesse contexto, Piaget percebeu que a aprendizagem pode ser feita por assimilação e
por acomodação.

A assimilação consiste em agregar objetos do mundo externo a uma estrutura de pensamen-


to já existente. A acomodação é a ideia de que o sistema de assimilação se modifica pela in-
fluência externa. E para ele a adaptação é um equilíbrio entre a assimilação e a acomodação
(MUNARI, 2010, p. 30).

EXEMPLO
Assimilação e acomodação

Pense em uma criança que já conhece alguns animais, inclusive aves. Ela pode associar o
conceito de uma ave a um animal que voa. Fez uma associação de mundo externo com uma
estrutura de pensamento já existente.

E quando ela se depara com uma ema ou até mesmo um avestruz? Nesse momento, ela
perceberá que se trata de aves, pois possuem características comuns, como as penas e as
asas, mas que não voam. Ocorre, então, a acomodação, pois um pensamento que já existia
sofreu influência externa e se modificou.

Filosofia da educação 67
Filosofia e educação

Em suma, Piaget (apud MUNARI, 2010, p. 31) acredita que a adaptação intelectual
ocorre por meio de um equilíbrio progressivo entre um mecanismo assimilador e uma
acomodação complementar, e entende também que o ser humano só é considerado
3 adaptado a determinada realidade quando absolutamente nada nessa realidade modi-
fica os esquemas do indivíduo (MUNARI, 2010, p. 31).

Além das ideias de assimilação e acomodação, Piaget também desenvolveu a Teoria


dos Estágios de Desenvolvimento, entre os anos de 1940 a 1945, quando, através de
atenta observação, ele propôs a existência de quatro estágios de desenvolvimento cog-
nitivo do ser humano.

Os quatro estágios de desenvolvimento cognitivo desenvolvidos por Piaget apud Morei-


ra (1999, p. 96) são:
Figura 04. Os quatro estágios de desenvolvimento cognitivo

(3) (4)
(1) (2)
Operacional- Operacional-
Sensório-motor Pré-operacional
concreto formal

Fonte: elaborada pela autora.

Na tabela a seguir você poderá entender melhor quais são esses estágios, a idade de
vida correspondente do indivíduo e quais as capacidades observadas por Piaget (apud
MOREIRA, 1999, p. 96-99) para cada faixa etária.
Tabela 01. Estágios de desenvolvimento cognitivo de Jean Piaget

ESTÁGIO IDADE APROXIMADA CAPACIDADES


Nesta fase a criança começa a apresentar reflexos, suc-
ção, preensão, atividade corporal indiferenciada. Ela é o
centro das atenções, então ocorre o egocentrismo pra-
Sensório-motor 0 a 2 anos ticamente total. Tudo o que a criança vê é a extensão
dela mesma. No fim desse estágio, a criança começa a
descentrar as ações em relação a ela mesma. Os objetos
existem independentemente dela.
Nesta fase, a criança já começa a dominar a capacidade
de linguagem e a representação por meio de símbolos.
Ela é capaz de começar a organizar o pensamento. Sua
atenção gira em torno de aspectos mais atraentes da per-
cepção. Ainda está em uma perspectiva egocêntrica ven-
Pré-operacional 2 aos 7 anos
do como a realidade a afeta.

Nesta fase, as explicações dadas pelas crianças são fei-


tas em relação a suas experiências (que podem ou não
ser verdades).
Nesta fase, há uma noção de reversibilidade das ações. É
possível notar uma descentração progressiva em relação
Operacional-
7 aos 12 anos ao egocentrismo. É um pensamento mais organizado, há
concreto
lógica de operações reversíveis. Há também precisão no
contraste de objetos reais.

68
ESTÁGIO IDADE APROXIMADA CAPACIDADES
Nesta fase, a principal característica é a capacidade de
raciocinar com hipóteses e não somente com o concreto.
Operacional- 3
12 anos + Percebe-se o pensamento proposicional, é capaz de ma-
formal
nipular proposições. O adolescente é capaz de ter pensa-

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mentos hipotético-dedutivos.
Fonte: adaptada de Moreira (1999, p. 96-99).

Como podemos perceber, mesmo sem ser pedagogo, Piaget tornou-se um educador,
pois influenciou de maneira profunda o processo de aprendizagem e auxiliou a forma
como o professor pode trabalhar na sala de aula. Seu legado é o de que educar não
é simplesmente transmitir conhecimento, mas sim procurar prover um ambiente com
desafios, no qual o desenvolvimento da criança seja possível através dos processos de
assimilação, acomodação e adaptação. Além disso, entender que a criança só aprende
o que está preparada para aprender naquele momento dentro do seu estágio de desen-
volvimento cognitivo por conta da sua maturidade mental.

SAIBA MAIS

` Indicação de leitura:

MUNARI, A. Jean Piaget. Tradução e organização de Daniele Saheb. Recife: Fundação


Joaquim Nabuco, Editora Massangana, 2010. 156 p. (Coleção Educadores). Disponível
em: http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_
obra=205232. Acesso em: 5 jan. 2021.

A coleção “Os Educadores”, desenvolvida pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC) em


parceria com a Unesco e a Fundação Joaquim Nabuco, foi lançada em 2010 e apresenta
mais de 60 livros sobre os principais educadores que influenciam a educação brasileira. O
conteúdo está disponível em domínio público na internet e é uma boa oportunidade para
quem quer conhecer as ideias dos educadores de maneira resumida.

` Gostaria de conhecer um pouco mais sobre Jean Piaget?

Assista: Pensadores na Educação: Jean Piaget, 2018. 1 vídeo (12 min e 35 s). Publicado pelo
Instituto Claro. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=MwKEO2pkLP8. Acesso
em: 5 jan. 2021.

Figura 05. Mapa conceitual de Jean Piaget

Piaget
` Biólogo e psicólogo epistemologista

Acredita que o sujeito só aprenda o que con-


segue assimilar de acordo com a sua matu-
ridade.

Filosofia da educação 69
Filosofia e educação

Assimilação
` Agregar objetos do mundo externo a uma estrutura de pensamento
3
existente.

Acomodação Adaptação:

` O sistema de assimila- ` Equilíbrio entre a assimi-


ção se modifica com a lação e a acomodação.
influência externa.

TEORIA DOS ESTÁGIOS DE DESENVOLVIMENTOS COGNITIVOS

0 a 2 anos.
SENSO - Principais características: Noções de reflexos básicos. Criança egocêntrica.
MOTOR

2 aos 7 anos.

PRÉ- Principais características: Continua egocêntrica. Inicia-se a capacidade de


OPERACIONAL linguagem por símbolos.

7 aos 12 anos.

OPERACIONAL- Principais características: Inicia-se a noção de reversibilidade. Descentra-


CONCRETO ção do egocentrismo. Há precisão de contrastes.

+ 12 anos.
OPERACIONAL- Principais características: Capacidade de raciocinar com hipóteses. Há
FORMAL pensamento lógico.

Fonte: elaborada pela autora.

2.2 LEV SEMIONOVICH VYGOTSKY


Lev Semionovich Vygotsky (1896-1934), mais conhecido como Lev Vygotsky, nasceu
em Orsha, no ano de 1896, e estudou Direito, Filosofia e História em Moscou. Depois,
também estudou sobre Linguística, Estética e Literatura.

Vygotsky foi um dos maiores psicólogos do século XX, mesmo sem ter se formado em
Psicologia de fato. Morreu muito jovem, aos 38 anos, e mesmo assim contribuiu muito
para a ciência, tendo publicado mais de 200 trabalhos importantes.

70
Figura 06. Lev Vygotsky Além de ter sua obra consagrada em um período rela-
tivamente curto, devido a sua morte precoce, Vygotsky
desenvolveu seus estudos em um período histórico
conturbado em que vivia: o período da Revolução de 3
Outubro ou Revolução de Bolchevique, que, em resu-

Universidade São Francisco


mo, foi a primeira revolução comunista marxista do sé-
culo XX (IVIC, 2010, p. 12).

É comum ver as pessoas traçarem um paralelo entre


Vygotsky e Piaget, uma vez que ambos fizeram parte
de seus estudos na mesma época, porém, enquan-
to Piaget focava em aspectos biológicos e estruturas
para entender o desenvolvimento humano, Vygotsky
falava sobre uma dimensão social, cultural e histórica
do desenvolvimento mental (IVIC, 2010, p. 13).

Dentre toda a produção literária científica de Vygotsky


durante sua carreira, a parte que mais interessa aos pro-
Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/
fissionais da educação são os estudos sobre o desen-
File:Lev_Vygotsky_1896-1934.jpg. Acesso volvimento intelectual, pois ele explicava a importância
em: 28 jan. 2021. das relações sociais no processo de aprendizagem.

Em sua obra, o educador dissertou sobre o homem e sua relação e contato com a
sociedade. Uma frase atribuída a ele é: “Na ausência do outro, o homem não constrói
homem”. Para ele, a formação ocorre na relação entre o sujeito e o mundo ao redor, por
isso era crítico das teorias inatistas (que o ser humano já nasce com todas as caracte-
rísticas e que desenvolve ao longo da vida) e crítico também das teorias empiristas (que
veem o ser humano como um ser que depende de estímulos externos).

Então, segundo a teoria de Vygotsky, a educação é um processo social de mediação,


pois é através dela que as pessoas são capazes de assimilar a realidade.

CURIOSIDADE
Figura 07. Escultura de
Tarzan por Nevit Dilmen (2007)
Você já deve ter ouvido falar na história de Tarzan,
File:Harikalar_Diyari_Tarzan_06007_nevit.jpg.

o menino que é encontrado em uma floresta por um


Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/

chimpanzé e é criado como se fosse um filhote do ani-


mal, por isso adquire hábitos e costumes dos animais
e não humanos.

Esse é um exemplo da ideia de Vygotsky: a criança


Acesso em: 28 jan. 2021.

aprende através dos estímulos que recebe de outra


pessoa, que faz essa mediação entre ela e o mundo.

É claro que esse exemplo é baseado em uma obra de


ficção, mas por se tratar de senso comum é possível
ilustrar de maneira didática parte da teoria do educador.

Filosofia da educação 71
Filosofia e educação

Nos estudos de Vygotsky, o adulto tem papel fundamental no processo de ensino-


-aprendizagem, pois é ele quem faz a mediação da criança com o objeto de estudo,
portanto sua teoria salienta a importância de o professor atuar de maneira mais ativa
3 na condução da educação, principalmente no primeiro contato do indivíduo com algu-
ma atividade nova, porque, depois desse primeiro contato, a criança se apropria dessa
informação e torna-se independente.

É importante saber também que o professor não é o único mediador, as ferramentas peda-
gógicas também podem funcionar como mediação no processo de ensino-aprendizagem.

Na visão do autor, o aprendizado não está somente relacionado com as estruturas intelec-
tuais de uma criança; para ele, o essencial da educação é assegurar o desenvolvimento,
proporcionando instrumentos e técnicas para operações intelectuais (IVIC, 2010, p. 31).

Zona de desenvolvimento proximal

Vygotsky propõe o conceito de “zona de desenvolvimento proximal”, que trata da concepção


sociocultural de desenvolvimento, no qual o contexto sociocultural da criança deve ser levado
em consideração durante o processo educacional, para assim desenvolver suas aptidões.

A fim de melhor entender a ideia de zona de desenvolvimento proximal, vale a pena pensar
em outras duas zonas de desenvolvimento: a real e a potencial. A zona de desenvolvimento
real é aquela em que a criança consegue desenvolver suas atividades sozinha e de forma
autônoma. A zona de desenvolvimento potencial é aquela em que a criança ainda não con-
segue realizar as aptidões com independência, são as atividades que a criança precisa de
um adulto para auxiliá-la.

A distância entre a zona de desenvolvimento real e a potencial é o que podemos chamar de


zona de desenvolvimento proximal, e é exatamente aí onde o professor pode atuar como
mediador (IVIC, 2010, p. 33), auxiliando no processo de desenvolvimento do aluno.

SAIBA MAIS

` Sugestão de leitura:

IVIC, I. Lev Semionovich Vygotsky. Edgar Pereira Coelho (Org.). Recife: Fundação Jo-
aquim Nabuco, Editora Massangana, 2010. 140 p. (Coleção Educadores). Disponível em:
http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_
obra=205241. Acesso em: 6 jan. 2021.

` Gostaria de conhecer um pouco mais sobre Vygotsky?

Assista: Pensadores na Educação: Vygotsky, 2018. 1 vídeo (12 min. e 8 s.). Publicado pelo
Instituto Claro. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=BS8o_B5M9Zs. Acesso
em: 6 jan. 2021.

72
Figura 08. Mapa conceitual de Lev Vygotsky

Vygotsky
3
` advogado de formação, mas seus
estudos contribuem para a área de

Universidade São Francisco


Psicologia e Educação.

Perspectiva educacional é o sociointeracionis-


mo.

A palavra-chave da sua teoria é: MEDIAÇÃO.

Zona de desenvolvimento

ZONA REAL ZONA PROXIMAL ZONA POTENCIAL

A criança consegue É a distância entre a zona A criança necessita de


desenvolver ações so- real e a zona potencial. ajuda para desenvolver
zinha. as ações.
É onde o mediador atua.

Fonte: elaborada pela autora.

2.3. HENRI PAUL HYACINTHE WALLON


Figura 09. Henri Wallon Henri Paul Hyacinthe Wallon (1879-1962), co-
nhecido como Henri Wallon, nasceu no ano de
1879 na cidade de Paris, na França. Perten-
Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Wallon_henri.

cente a uma família burguesa, ele entrou na


Escola Normal Superior e se formou em Filo-
sofia. Após lecionar por mais de um ano, de-
cidiu cursar Medicina e seguir os estudos em
Psicologia, dedicou-se a psiquiatria, principal-
mente a psiquiatra infantil (GRATIOT-ALFAN-
DÉRY, 2010, p. 12).
jpg. Acesso em: 28 jan. 2021.

Wallon vivenciou o período das duas Grandes


Guerras, e durante a Primeira Guerra Mun-
dial foi convocado como médico para prestar
serviços e o contato com os ex-combatentes
impactou sua vida e fez com que ele revisas-
se seus trabalhos anteriores. O psicólogo le-
cionou em Sorbonne, abriu um consultório e
um laboratório em Paris, que serviu de espaço
para pesquisas na época (GRATIOT-ALFANDÉRY, 2010, p. 12).

Filosofia da educação 73
Filosofia e educação

Percebe-se pela sua carreira que ele foi um grande estudioso da área de desenvolvi-
mento psicológico, inclusive relacionado à infância, e esses estudos contribuem direta-
mente com o processo educacional.
3
A teoria desenvolvida por Wallon entende o ser humano em sua totalidade, interligando
razão e emoção, por isso ele defende a ideia de uma formação integral capaz de unir
três partes importantes: a formação afetiva, intelectual e a motora.

Para o psicólogo, o ser humano necessita se relacionar com o meio para ser capaz de se
desenvolver, isto é, que o indivíduo (principalmente as crianças) se relacione com o ambien-
te em que essas partes estão envolvidas naquela determinada faixa etária. O meio de que
Wallon fala é composto por linguagem, espaço e cultura (XAVIER; NUNES, 2015, p. 31).

Wallon, assim como Piaget, descreve o desenvolvimento infantil em fases/estágios.

A tabela que você verá a seguir tenta resumir as ideias de estágios de desenvolvimento
de Wallon.
Tabela 02. Estágios de desenvolvimento de Henri Wallon

ESTÁGIO IDADE CARACTERÍSTICAS


Nessa fase o bebê não se diferencia do
outro. A diferenciação ocorre mais tarde
em relação a ele mesmo e ao objeto. Tem
Impulsivo: 0 a 3 meses.
Estágio impulsivo-emo- a emoção como o centro do processo de
cional desenvolvimento. A primeira comunicação
Emocional: 3 meses a 1 ano
é pelo choro. Portanto, é por meio da afeti-
vidade que a criança estabelece as primei-
ras relações com o meio.
A criança continua a formar a ideia do pró-
prio corpo. Nesse estágio ela começa a
explorar o redor. Tem alguma autonomia,
Sensório-motor: 12 a 18
como andar e pegar objetos. A criança co-
Estágio sensório-motor e meses.
meça a se expressar através de movimen-
projetivo
tos, aponta mostrando o que quer. Todo o
Projetivo: 3 anos
desenvolvimento da criança tem referên-
cia ao meio em que ela vive, e a imitação
favorece a aquisição da linguagem.

Personalismo: 3 a 6 anos. A principal característica desse estágio é a


formação da personalidade. É o momento
Crise de oposição: 3 a 4 anos em que ela se diferencia do outro. É co-
mum que nessa fase a criança se oponha
Estágio do personalismo aos adultos e que reforce alguns desejos
de posse, dizendo que as coisas são suas
Idade de graça: 4 a 5 anos para fortalecer quem é e o que tem. É co-
mum também que nessa fase a criança
Imitação: 5 a 6 anos passe a imitar pessoas que ela admira.
É a fase em que há avanços no desen-
volvimento da inteligência, pois o aspecto
Estágio categorial Categorial: 6 a 11 anos
cognitivo ganha destaque. A inteligência
está na explanação da realidade.

74
ESTÁGIO IDADE CARACTERÍSTICAS
É o estágio que tem como característica
principal conflitos e redefinição de perso-
nalidade e de identidade. O adolescente 3
Estágio da adolescência Adolescência: + 11 anos carrega consigo suas conquistas, tanto

Universidade São Francisco


físicas quanto como indivíduo social. É a
partir dessa fase que há um predomínio
no controle da emoção no lugar da razão.
Fonte: adaptada de Xavier e Nunes (2015, p. 32-35).

Como você pode perceber, mesmo sendo psicólogo, os estudos de Wallon fizeram mui-
to pela educação, pois, através desses conhecimentos, a escola e sua equipe passam
a fazer reflexões acerca dos alunos e dos comportamentos deles, enxergando-os como
seres racionais e emocionais ao mesmo tempo.

A ideia de ter uma formação integral (envolvendo formação afetiva, intelectual e moto-
ra) foi, de certa forma, nova, pois levava também as emoções para a sala de aula. Em
suma, a obra de Wallon apud Xavier e Nunes (2015, p. 36) defende a ideia de que, para
aprender, o sujeito depende tanto de ter a capacidade biológica quanto do ambiente (o
meio) em que ele está inserido.

SAIBA MAIS

` Sugestão de leitura:

GRATIOT-ALFANDÉRY, Hélène. Henri Wallon. Tradução e organização de Patrícia Junquei-


ra. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, Editora Massangana, 2010. 134 p. (Coleção Educa-
dores). Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?se-
lect_action=&co_obra=205242. Acesso em: 6 jan. 2021.

` Gostaria de conhecer um pouco mais sobre Wallon?

Assista: Pensadores na Educação: Wallon, 2018. 1 vídeo (12 min. e 59 s.). Publicado pelo Institu-
to Claro. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=ZfXIkidkFQI. Acesso em: 6 jan. 2021.

Figura 10. Mapa conceitual de Henri Wallon

Wallon

` médico, psiquiatra e psicólogo.

Parte de seus estudos são na área da psico-


logia infantil.

Ele vê o ser humano em sua totalidade.

Filosofia da educação 75
Filosofia e educação

Defende a ideia de uma formação inte-


3 gral: afetiva, intelectual e motora.

ESTÁGIOS DE DESENVOLVIMENTO DE WALLON

0 a 1 ano.

IMPULSIVO- Principais características: É por meio da afetividade que a criança estabe-


EMOCIONAL lece as primeiras relações com o meio.

1 aos 3 anos.

SENSÓRIO- Principais características: Começa a ter alguma autonomia. Expressa-se


MOTOR através de movimentos. A imitação favorece a aquisição de linguagem.
PROJETIVO

3 aos 6 anos.

PERSONALISMO Principais características: Formação da personalidade. Opõe-se a adultos.


Imita quem admira.

+ 12 anos.

CATEGORIAL Principais características: Avanços no desenvolvimento da inteligência.

+ 12 anos

Principais características: Conflito e redefinição da personalidade e da


ADOLESCÊNCIA
identidade.

Fonte: elaborada pela autora.

2.4. PAULO REGLUS NEVES FREIRE


Paulo Reglus Neves Freire (1921-1997), mais conhecido como Paulo Freire, nasceu no
Recife, em Pernambuco, no ano de 1921. Ele se formou em Direito pela tradicional Es-
cola de Direito do Recife, em 1946, mas logo deixou a advocacia e iniciou sua carreira
em sala de aula como professor de Língua Portuguesa (BEISIEGEL, 2010, p. 13).

Depois, seguiu carreira como professor e lecionou na disciplina de Filosofia da Educa-


ção na Escola de Serviço Social do Recife. Foi com seu trabalho de alfabetização de
jovens e adultos que ganhou mais destaque.

Freire desenvolveu um método que era capaz de alfabetizar jovens e adultos em cerca
de 40 horas com baixo custo e isso inspirou o Plano Nacional de Alfabetização no go-
verno de João Goulart.

76
Figura 11. Paulo Freire

Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Paulo_

Universidade São Francisco


Freire_1977.jpg. Acesso em: 28 jan. 2021.
Contexto histórico

Na década de 1960 só podia votar quem era alfabetizado, e um projeto como o Plano Nacio-
nal de Alfabetização poderia mudar o cenário político da época, pois milhões de brasileiros
que eram analfabetos tornar-se-iam letrados e, com isso, eleitores. Esse fato foi decisivo
para o cancelamento do Plano Nacional da Alfabetização, no ano de 1964, o primeiro ano
da ditadura militar brasileira, que perdurou por 21 anos, tendo seu fim somente no de 1985.

No período da ditadura militar, Paulo Freire ficou preso por 70 dias, acusado de subversão
pelo trabalho com alfabetização de jovens adultos, e depois da prisão Freire foi exilado.

O educador só retornou ao Brasil no ano de 1980, pois em 1978 a Lei da Anistia permitiu o
retorno de exilados políticos.

No ano de 1988, Paulo Freire se tornou secretário da educação da cidade de São Paulo (BEI-
SIEGEL, 2010, p. 15). Ele recebeu 48 títulos honoris causa e, desde 2012, foi reconhecido
como Patrono da Educação Brasileira.

Obra: Pedagogia do oprimido

Paulo Freire é autor de muitas obras, mas a principal delas é a Pedagogia do oprimido, na
qual o educador fala da sua experiência na alfabetização de jovens e adultos, sobre o con-
ceito de educação bancária e sobre a ideia de educação libertadora.

Na pedagogia proposta por Freire (1987, p. 44), o educador, através de uma educação vol-
tada para o diálogo, expõe problemáticas e faz com que o outro participe do processo edu-
cacional. Para isso, ele cria uma forma de aproximação e empatia que gera vínculo com o
aluno. Ele também propõe que cada indivíduo seja valorizado pelo que é. Essa lógica criada
por Freire (1987, p. 45) sugere um movimento de liberdade que surge através dos oprimidos,
e não dos opressores.

Filosofia da educação 77
Filosofia e educação

No começo da obra, Freire (1987, p.19-28) busca justificar o título do livro ao explicar que o ho-
mem, como indivíduo, tem de se transformar em um sujeito da realidade histórica na qual ele se
insere, através de lutas pela liberdade, pela desalienação e pela sua afirmação, isto é, conse-
3 guir pensar por si só, de maneira independente do que a classe dominadora sempre “pregou”.

O capítulo 2 é um dos mais conhecidos e comentados, pois é nele que Paulo Freire fala sobre
um conceito já bastante utilizado nos dias de hoje, que é a concepção bancária da educa-
ção, como movimento de opressão, que nada mais é do que a visão da educação como um
depósito de informação dada ao povo, para o qual e estudante é apenas ouvinte, expectador.

Na educação bancária, Freire (1987, p. 37-44) mostra que o saber é uma doação fundamen-
tada na absolutização da ignorância instrumental da ideologia da opressão, que tem como
objetivo transformar o pensamento do oprimido e não da situação que o oprime.

Ao longo do texto, o autor aborda o diálogo como ferramenta essencial para a educação e
como prática da liberdade. Para Freire (1987, p. 47), o diálogo se faz de forma horizontal,
baseada na confiança entre os sujeitos envolvidos na educação, e através disso é possível
criar um pensamento crítico.

Para ele, através do diálogo, inicia-se a busca por um conteúdo programático, que tanto para
educador como para o educando vai funcionar de maneira mais eficaz, pois o aluno vai apren-
der de maneira mais rápida quando aprende através da realidade em que ele está inserido.

O método de alfabetização desenvolvido por Freire (1987, p. 65) tinha como base as “palavras
geradoras” que deveriam estar de acordo com o contexto do aluno e a partir delas e de seu sig-
nificado (que fazia então sentido para o aluno) ele começava a trabalhar as letras e as sílabas.

EXEMPLO

Para um aluno adulto que trabalha em uma plantação, fazia sentido alfabetizá-lo dando
exemplos do seu dia a dia: ensinar a palavra “terra”, por exemplo, no lugar de “taça” faria
muito mais sentido, porque a terra faz parte do cotidiano desse aluno. A partir da primeira
palavra Freire ia construindo outras e o repertório ia crescendo. Sempre de acordo com a
realidade do aluno e levando em consideração o repertório que o estudante já trazia consigo.

Esse é apenas um exemplo, mas consegue ilustrar a proposta do método de Paulo


Freire, que busca entender qual é a realidade do aluno e quais são as suas necessida-
des, para que, assim, a educação ocorra de maneira eficaz e genuína, com respeito à
liberdade do indivíduo e amor ao próximo.

Em suma, o método de educação desenvolvido por Paulo Freire busca oferecer opor-
tunidades para o aluno aprender dentro da realidade dele e que o diálogo é de grande
importância, pois através dele os oprimidos conseguem firmar um compromisso com a
liberdade, que implica a transformação da realidade.

Além da obra Pedagogia do oprimido, Freire escreveu outros livros importantes para a
área educacional, como A Educação como prática da liberdade (1967), Cartas à Guiné
Bissau (1977), Pedagogia: diálogo e conflito (1986), Pedagogia da autonomia (1996),
entre outros.

78
SAIBA MAIS
` Sugestão de leitura:
3
BEISIEGEL, Celso de Rui. Paulo Freire. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, Editora Mas-
sangana, 2010. 128 p. (Coleção Educadores). Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.

Universidade São Francisco


br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=205216. Acesso em: 6 jan. 2021.

` Gostaria de conhecer um pouco mais sobre Paulo Freire?

Pensadores na Educação: Paulo Freire e a educação para mudar o mundo. 2018. 1 vídeo
(13 min. e 27 s.). Publicado pelo Instituto Claro. Disponível em: https://www.youtube.com/
watch?v=4M69rga5ENo. Acesso em: 6 jan. 2021.

Figura 12. Mapa conceitual de Paulo Freire

Paulo Freire

` advogado e educador.

` é o patrono da educação brasileira


desde 2012.

Criador de um método capaz de educar jovens


e adultos com baixo custo e pouco tempo.

Defende a ideia de uma educação para


liberdade e não como "depósito bancá-
rio" (transferência de conhecimento).

Fonte: elaborada pela autora.

2.5. ANTÓNIO MANUEL SAMPAIO DA NÓVOA


António Nóvoa nasceu em Valença, norte de Portugal, no ano de 1954. Aos 16 anos foi
matriculado no curso de Matemática na Universidade de Coimbra, onde dividiu a vida
acadêmica com o futebol e o Teatro dos Estudantes de Coimbra.

Nóvoa viveu sua adolescência no período do Estado Novo*, que foi uma ditadura portu-
guesa, e viu de perto a Revolução dos Cravos**, quando tinha 19 anos.

SAIBA MAIS

Estado Novo*: Portugal teve, assim como no Brasil, um período histórico chamado de Estado
Novo. Foi um regime autoritário, ditatorial e nacionalista que perdurou de 1933 a 1974 e teve
como referência Antônio Salazar, que ocupou a liderança do governo a maior parte do período.

Filosofia da educação 79
Filosofia e educação

Fonte: ANGELO, Vitor Amorim de. Estado Novo em Portugal – Regime salazarista foi marcado pelo autoritarismo.
História geral. Educação. UOL, 2012. Disponível em: https://educacao.uol.com.br/disciplinas/historia/estado-novo-em-
portugal-regime-salazarista-foi-marcado-pelo-autoritarismo.htm. Acesso em: 6 jan. 2021.
3
Revolução dos Cravos**: foi a revolução que derrubou o regime ditatorial de Salazar em
Portugal. O movimento teve início no dia 25 de abril de 1974 e é uma data fortemente come-
morada no país até hoje.
Fonte: SOUSA, Rainer Gonçalves. Revolução dos Cravos. História do Mundo, [s.d.]. Disponível em: https://www.
historiadomundo.com.br/idade-contemporanea/revolucao-dos-cravos.htm. Acesso em: 6 jan. 2021.

Após concluir sua formação em Teatro, António Nóvoa formou-se em Ciências da Edu-
cação pela Universidade de Genebra. Em 1985, após o nascimento de seu filho, o
educador voltou para Portugal e foi convidado para lecionar no Instituto Superior de
Educação Física. Mais tarde, foi convidado para atuar na Faculdade de Psicologia e
Figura 13. António Nóvoa Ciências da Educação, tornando-se, de-
pois, concursado e professor catedráti-
co da Universidade de Lisboa, onde é,
Educa%C3%A7%C3%A3o_em_Santar%C3%A9m_(Abril_2015)_

atualmente, reitor.
da_N%C3%B3voa,_confer%C3%AAncia_na_Escola_de_
Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Sampaio_

Além disso, no ano de 2014, António


Nóvoa esteve no Brasil em uma missão
internacional da Unesco e como profes-
sor visitante na Universidade de Brasí-
lia. Aqui no Brasil, Nóvoa já recebeu o
(cropped).png. Acesso em: 28 jan. 2021.

título de doutor honoris causa em várias


universidades.

O educador português concentra seus


estudos na formação de professores, seja
ela na inicial ou na continuada, e também
nos processos de aprendizagem. Em sua
visão, a prática pedagógica inclui o indiví-
duo como um todo com suas característi-
cas singulares e afetivas.

Em um artigo chamado “Formação de professores e profissão docente”, Nóvoa aponta


que a formação de professores não tem levado em consideração o desenvolvimen-
to pessoal: “[...] confundindo o ‘formar’ com o ‘formar-se’, não compreendendo que a
lógica da atividade educativa nem sempre coincide com as dinâmicas próprias da for-
mação” (NÓVOA, 1992, p. 12), isto é, por vezes, o que o profissional aprende em sua
formação não coincide, necessariamente, com a prática.

Ele também diz que a formação de professores não tem se atentado para os projetos
das escolas e com isso não tornam viável a formação que ele acredita ser o eixo de
referência: o desenvolvimento profissional de professores (NÓVOA, 1992, p. 13).

Além do desenvolvimento profissional, o educador também dá devida importância ao


desenvolvimento pessoal dos professores, pois acredita que

80
[a] formação não se constrói por acumulação (de cursos, de conhecimentos
ou de técnicas), mas sim através de um trabalho de reflexividade crítica so-
bre as práticas e de (re)construção permanente de uma identidade pessoal.
Por isso é tão importante investir a pessoa e dar um estatuto ao saber da
experiência. (NÓVOA, 1992, p. 13) 3

António Nóvoa (1992, p. 15) defende a educação continuada para professores, pois dar

Universidade São Francisco


continuidade ao aprender é essencial para a prática docente, mas acredita que se essa
prática for feita de maneira individual ela é boa para a aprendizagem técnica, entretan-
to reforça a visão do professor como transmissor do saber. Mas, quando a formação
ocorre de maneira coletiva, essa visão é modificada, pois contribui, segundo ele, para a
“emancipação profissional” e para a consolidação de uma profissão que é autônoma na
produção dos seus saberes e seus valores.

Para António Nóvoa (1992, p. 18), quando se fala em formação de professores, fala-se
também de um investimento educativo dos projetos de escola, pois ambos estão inter-
ligados e o local onde o professor aprende e se desenvolve é justamente na escola, já
que, na visão dele, a formação deve ser encarada como contínua e permanente.

A ideia de formação continuada está na partilha de experiências e, assim, cria-se uma


nova cultura de formação de professores. Ele ainda diz que: “[t]oda formação encerra
um projecto de acção. E e de transformação” (NÓVOA, 1992, p. 21). Ou seja, através
da prática de formação as ações educativas acontecem e se desenvolvem.

SAIBA MAIS
` Sugestão de leitura:

HUBERMAN, Michaël. O ciclo de vida profissional dos professores. In: NÓVOA, António
(Org.). Vidas de professores. 2. ed. Porto: Porto, 2000. p. 31-61.

Neste capítulo, o professor fala sobre o ciclo profissional do professor, desde o início da sua
carreira até o final, e disserta sobre suas ideias.

` Gostaria de conhecer um pouco mais sobre António Nóvoa?

“Precisamos colocar o foco na formação profissional dos professores”, avalia António Nóvoa.
2017. 1 vídeo (9 min. e 27 s.). Publicado pelo Instituto Claro. Disponível em: https://www.
youtube.com/watch?v=KqopJQO3K0E&t=51s. Acesso em: 6 jan. 2021.

Figura 14. Mapa conceitual de António Nóvoa

António Nóvoa

` educador.

` reitor da Universidade de Lisboa.

Filosofia da educação 81
Filosofia e educação

Foca seus estudos na formação de professo-


res e defende que a formação se faz dentro
3 da escola.

` Defende o desenvolvimento pessoal


e profissional do professor.

` Defende a formação continuada.

` Acredita que formação não é


acumulação

Fonte: elaborada pela autora.

CONCLUSÃO
Nesta unidade, você pôde entender como a Filosofia e a Educação estão interligadas
através do pensamento crítico e da reflexão acerca das questões fundamentais e do
processo educacional.

Você percebeu também que a ideia de Educação é muito antiga, vem do período clássi-
co, que os filósofos chamavam de Paideia, e pensavam em uma educação integral, que
compreendia todo tipo de ensino.

Ao longo da humanidade, outros pensadores foram refletindo sobre educação e desen-


volvendo seus estudos, e alguns deles não eram precisamente educadores, mas suas
pesquisas contribuíram diretamente para a educação. Outros já eram educadores de
formação e buscaram desenvolver suas técnicas para o ensino e aprendizagem.

Nesta unidade, você conheceu alguns nomes que são importantes para a área da Pe-
dagogia, como: Jean Piaget, Lev Vygotsky, Henri Wallon, Paulo Freire e António Nóvoa.

Piaget não era um educador de formação, e sim biólogo, mas seus estudos contribuíram
muito para a Educação. Ele é autor da teoria dos estágios de desenvolvimentos cogniti-
vos e também da ideia de aprendizagem por assimilação, acomodação e adaptação, e
acredita que a criança aprende o que consegue aprender de acordo com sua maturidade.

Vygotsky é considerado um dos grandes nomes da educação, mesmo não tendo for-
mação específica na área. Embora tenha morrido precocemente, deixou um legado
que conta com mais de 200 estudos acadêmicos, e alguns deles contribuíram para a
Educação. Segundo ele, um conceito importante é o de mediação, que ocorre na zona
de desenvolvimento proximal, que fica entre o que a criança já sabe (zona real) e o que
ela ainda não sabe (zona potencial).

Wallon foi um psiquiatra e psicólogo que concentrou parte dos seus estudos na área da
psicologia infantil, ele vê o ser humano em sua totalidade e defende a ideia de formação
integral, que compreenda a formação afetiva, intelectual e motora. É autor também de

82
uma teoria de estágios de desenvolvimento, que pode contribuir para a área educacio-
nal, auxiliando professores a entenderem as fases e pensarem na educação através da
formação integral.
3
Paulo Freire, patrono na educação brasileira, foi um importante educador e ganhou desta-
que por conta do seu método de alfabetização de jovens e adultos, que era feito em pouco

Universidade São Francisco


tempo e com baixo orçamento. Autor de diversos livros, criou alguns conceitos importan-
tes, como o de “educação bancária”, descrita na obra Pedagogia do oprimido, e o de edu-
cação libertadora como forma de emancipar os estudantes das ideias que os oprimiam.

António Nóvoa é um educador português, que atualmente é reitor da Universidade de


Lisboa, e concentra seus estudos na área de formação dos professores, seja ela inicial
ou continuada. Já veio ao Brasil algumas vezes e recebeu título de doutor honoris causa
de algumas universidades brasileiras.

Esses foram alguns dos principais nomes da Educação que você estudou nesta unida-
de de aprendizagem, e percebeu que, embora alguns não sejam educadores de forma-
ção, seus estudos contribuíram e contribuem para a Educação e para a Pedagogia de
maneira assertiva.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. ANGELO, V. A. de. Estado Novo em Portugal – dez. 2020.
Regime salazarista foi marcado pelo autoritarismo. 7. GRATIOT-ALFANDÉRY, H. Henri Wallon. Tra-
História geral. Educação. UOL, 2012. Disponível em: dução e organização de Patrícia Junqueira. Recife:
https://educacao.uol.com.br/disciplinas/historia/esta- Fundação Joaquim Nabuco, Editora Massangana,
do-novo-em-portugal-regime-salazarista-foi-marca- 2010. 134 p. (Coleção Educadores). Disponível em:
do-pelo-autoritarismo.htm. Acesso em: 26 dez. 2020. http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/Deta-
2. ANTÓNIO Sampaio da Nóvoa, 60 anos. Biogra- lheObraForm.do?select_action=&co_obra=205242.
fia. Sampaio da Nóvoa, [s. d]. Disponível em: http:// Acesso em: 26 dez. 2020.
www.sampaiodanovoa.pt/biografia/. Acesso em: 6 8. HADDAD, S. A prisão de Paulo Freire, “subver-
jan. 2021. sos dos menos favorecidos”, na ditadura. El País,
3. BEISIEGEL, C. R. Paulo Freire. Recife: Funda- 2019. Disponível em: https://brasil.elpais.com/bra-
ção Joaquim Nabuco, Editora Massangana, 2010. sil/2019/10/22/cultura/1571754417_189523.html.
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www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObra- 9. HENRI, Wallon: O educador integral. Nova Es-
Form.do?select_action=&co_obra=205216. Acesso cola, [s. d.]. Disponível em: https://novaescola.org.
em: 26 dez. 2020. br/conteudo/7229/henri-wallon. Acesso em: 26 dez.
4. CRUZ, A. USP concede título de Doutor honoris 2020.
causa ao professor António Nóvoa. Jornal da USP, 10.IVIC, I. Lev Semionovich Vygotsky. Edgar Pe-
2020. Disponível em: https://jornal.usp.br/institucio- reira Coelho (Org.). Tradução de José Eustáquio
nal/usp-concedera-titulo-de-doutor-honoris-causa- Romão. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, Editora
-ao-professor-da-universidade-de-lisboa-antonio-no- Massangana, 2010. 140 p. (Coleção Educadores).
voa/. Acesso em: 26 dez. 2020. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/
5. EDUCAÇÃO, Michaelis, UOL, [s. d.]. Disponível pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_
em: https://michaelis.uol.com.br/moderno-portu- obra=205241. Acesso em: 26 dez. 2020.
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C3%A3o/. Acesso em: 20 dez. 2020. Paulo: EPU, 1999.
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de Janeiro: Paz e Terra, 1987. Disponível em: https:// ção de Daniele Saheb. Recife: Fundação Joaquim
cpers.com.br/wp-content/uploads/2019/10/Pedago- Nabuco, Editora Massangana, 2010. 156 p. (Coleção
gia-do-Oprimido-Paulo-Freire.pdf. Acesso em: 26 Educadores). Disponível em: http://www.dominiopu-

Filosofia da educação 83
Filosofia e educação

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84
Filosofia da educação
85
3

Universidade São Francisco


Filosofia e os novos desafios

UNIDADE 4

FILOSOFIA E OS NOVOS DESAFIOS


4

INTRODUÇÃO
No decorrer deste livro, você viu conceitos básicos da Filosofia ao longo da história da
humanidade, aprendeu sobre algumas formas de conhecimento e como elas se iden-
tificam com a Educação, além de estudar os principais filósofos e os grandes nomes
ligados à Educação e suas teorias.

Nesta última unidade, você conhecerá um pouco sobre os novos desafios para a Filo-
sofia e de que maneira podemos relacioná-los com a Educação e com a Pedagogia na
atualidade.

Você estudará também, de maneira breve, sobre a transição da Filosofia moderna para
a Filosofia contemporânea, que ocorre entre os séculos XVIII e XIX e solidifica-se nos
séculos XX e XXI, além de entender como esses pensamentos filosóficos influenciaram
e influenciam a Educação atual.

Para isso, falaremos sobre a Escola de Frankfurt, que teve início no século XX, e como
ela foi um marco para a ideia de Educação que se tem hoje. Por meio dela, você saberá
quais eram os pensamentos predominantes, quais eram as pautas estudadas e quais
os principais nomes ligados à escola.

Ainda nesta unidade você estudará sobre a Indústria Cultural, como a ideia está ligada ao
conceito de alienação de uma sociedade e a produção de arte como objeto de consumo.

Através desse panorama sobre a Filosofia contemporânea você chegará à Educação


e como os conceitos que foram abordados até aqui se relacionam com ela. Será que a
escola, assim como a arte na Indústria Cultural, tornou-se um objeto de consumo? E a
Educação? E a Pedagogia?

Todas essas indagações nos fazem refletir sobre qual é o papel do professor dentro
da contemporaneidade e como a Filosofia pode contribuir para uma educação, de fato,
transformadora.

1. NOVAS TENDÊNCIAS PARA A FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA


Para falarmos sobre as novas tendências da Filosofia contemporânea, vale a pena in-
vestigar um pouco o significado da palavra “contemporâneo”. Quando falamos nela, o
que lhe vem à mente?

86
GLOSSÁRIO

con·tem·po·râ·ne·o

adj
4
1. Que é do mesmo tempo; que existiu ou viveu na mesma época; coetâneo, coevo, temporâneo.

Universidade São Francisco


2. Que é do tempo atual.

sm

1. Homem do mesmo tempo.

2. Homem do nosso tempo.

Informações complementares

VAR.: contemporão.

Etimologia

lat contemporanĕus.

MICHAELIS: Moderno Dicionário da Língua Portuguesa. https://michaelis.uol.com.br/moder-


no-portugues/busca/portugues-brasileiro/contempor%C3%A2neo/. Acesso em: 27 jan. 2021.

Através do significado contido no dicionário Michaelis, você pode observar que “con-
temporâneo” tem ligação com atualidade, o que é do nosso tempo, mas será que para
a Filosofia e para a História a palavra tem o mesmo significado?

Quando se trata da palavra “contemporâneo” na História e na Filosofia o sentido é um


pouco modificado, pois ele incorpora também uma parte do passado até os dias atuais.
Alguns historiadores acreditam que o período contemporâneo inicia no final do século
XVIII e início do século XIX e se estende até a atualidade. Para a filósofa Marilena Chauí
a Filosofia contemporânea tem início em meados do século XIX: “(...) a Filosofia contem-
porânea vai dos meados do século XIX até nossos dias e que, por estar próxima de nós, é
mais difícil se ser vista em sua generalidade, pois os problemas e as diferentes respostas
dadas a eles parecem impossibilitar uma visão de conjunto” (CHAUÍ, 2000, p. 59).

Pensa-se, então, que o período contemporâneo, para alguns historiadores, começou


com a Revolução Francesa, e com ela houve a ascensão da burguesia e a consolidação
dos ideais iluministas.

Filosofia da educação 87
Filosofia e os novos desafios

SAIBA MAIS

Figura 01. Queda da Bastilha

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Revolu%C3%A7%C3%A3o_Francesa#/
media/Ficheiro:Anonymous_-_Prise_de_la_Bastille.jpg. Acesso em: 23 fev.
2021.

A Revolução Francesa, como o próprio nome diz, aconteceu na França, entre os anos de
1789 e 1799. Durante esse período, percebia-se um grande movimento político e social no
país que, por consequência, teve um impacto que perdurou na história da França e abrangeu
toda a Europa. A desigualdade social que ocorria no país motivou a revolução, pois a nação
vivia em regime de monarquia absolutista e a maioria da população pagava altos impostos e
vivia em condições precárias.

Assista ao vídeo sugerido a seguir e veja um resumo do que foi a Revolução Francesa.
https://www.youtube.com/watch?v=I8q0S_XGwdg&t=415s. Acesso em: 23 fev. 2021.

Pode-se dizer que o iluminismo foi um movimento intelectual que surgiu na Europa
depois do período medieval. O foco principal era usar a razão, que remete à luz, para
fazer as reflexões que antes eram feitas, em geral, pelos pensadores religiosos. O anti-
go período era visto como “trevas”, portanto a luz do iluminismo surgia com o intuito de
“combater” as trevas.

Mediante o progresso científico ocorrido no iluminismo, houve a Revolução Industrial e


o capitalismo se consolidou. Juntamente com ele, por meio dos processos de produção
mais eficazes e rápidos, novos itens de consumo passaram a surgir, entretanto a mes-
ma tecnologia que era capaz de produzir carros também era capaz de produzir armas.
Esse “progresso” passou a ser criticado, segundo Chauí (2000, p. 59), porque serviu
como cenário para tornar legítimos colonialismos e imperialismos – com a perspectiva
de superioridade de cultura e que os “adiantados” poderiam então aculturar os “atrasa-
dos” –, fortalecendo a ideia eurocêntrica como o padrão cultural a ser seguido.

88
Ainda no século XIX, contrapondo-se ao capitalismo, surgiu o pensamento socialista,
em que, resumidamente, através da ótica da economia, ocorreu o processo histórico-
-social da exploração, da força de trabalho e seus desdobramentos, o que mobilizou os
trabalhadores a entenderem qual era sua classe, ganhando, assim, consciência.

Porém, é somente no século XX que as ideias do período contemporâneo se solidifi- 4


caram, principalmente no âmbito dos direitos humanos, tendo em vista a tragédia que

Universidade São Francisco


foram as duas Guerras Mundiais, e os pensadores buscaram entender o que havia
acontecido de errado em relação ao século XIX e as consequências negativas que as
tecnologias haviam provocado para a humanidade, como, por exemplo, a bomba de
Hiroshima e Nagasaki, os campos de concentração nazistas, ditaduras, invasões comu-
nistas, etc. (CHAUÍ, 2000, p. 60).

SAIBA MAIS

Você sabe o que são os direitos humanos?

Pode-se dizer que os direitos humanos são os direitos básicos que devem ser assegurados
para todos os seres humanos, sem distinguir classe social, raça, nacionalidade, religião,
cultura, orientação sexual e gênero.

Para entender mais sobre o que são os direitos humanos, assista ao seguinte vídeo:

A Declaração Universal dos Direitos Humanos. Canal: Parabólica – Pedro Rennó.


https://www.youtube.com/watch?v=tqmp8PDDeaM. Acesso em: 23 fev. 2021.

A seguir, você estudará sobre a Escola de Frankfurt e sobre a Indústria Cultural, conhe-
cerá os principais pensadores da época e verá como é possível ligar suas ideias com
a Educação.

1.1. ESCOLA DE FRANKFURT


A Escola de Frankfurt encontra-se no século XX e também no século XXI. Ela surgiu
no ano de 1924 como uma escola filosófica dentro do departamento de pesquisa social
da Universidade de Frankfurt (ARANTES, 1980, p. 6). Compreendia o pensamento de
vários filósofos da época e tinha uma forte influência marxista, porém não o marxismo
ortodoxo, ligado a partidos e sindicatos. Pelo contrário, eles eram capazes inclusive de
fazer críticas a esses movimentos (ARANTES, 1980, p. 7).

Vale salientar que a Escola de Frankfurt surgiu em um período histórico entre as Duas
Grandes Guerras, na Alemanha, e teve como nomes importantes alguns pensadores
como Theodor Adorno e Max Horkheimer, que faziam críticas ao regime fascista italia-
no, ao nazismo alemão e ao socialismo soviético, ou seja, criticavam regimes tanto da
direita quanto da esquerda.

É possível perceber então que, mesmo tendo como base as ideias marxistas, a Es-
cola de Frankfurt critica o governo socialista soviético de Stalin e tudo que tem como
base o totalitarismo.

Filosofia da educação 89
Filosofia e os novos desafios

Dentro desse contexto, você conhecerá três pensadores muito importantes para a Es-
cola de Frankfurt, dentre outros grandes estudiosos que contribuíram demasiadamente
para a escola e sua filosofia.

Theodor Adorno
4
Figura 02. Theodor Adorno Theodor Wiesengrund-Adorno nasceu no ano de
1903, em Frankfurt, na Alemanha, e foi um gran-

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Theodor_W._Adorno#/
de pensador que pertenceu à Escola de Frank-

media/Ficheiro:Adorno.jpg. Acesso em: 23 fev. 2021.


furt. (ARANTES, 1980, p. 10). Na Universidade
de Frankfurt estudou Filosofia, Musicologia, Psi-
cologia e Sociologia.

No ano de 1924, Adorno e alguns colegas funda-


ram o então “Instituto de Pesquisas Sociais” na
Universidade de Frankfurt, que mais tarde seria
chamado de “Escola de Frankfurt”.

Por conta no nazismo, Adorno se refugiou na


Inglaterra, onde se tornou professor de Filosofia
na Universidade de Oxford, porém, mais tarde,
refugiou-se nos Estados Unidos e passou a es-
tudar mídia a fim de conhecer a cultura, a arte e
o consumo do país. Mais adiante, ainda nos Es-
tados Unidos da América, foi convidado por Max
Horkheimer para dar aulas em Princeton (ARANTES, 1980, p. 10).

Juntamente com Horkheimer, Adorno escreveu Dialética do iluminismo, que também foi pu-
blicado como Dialética do esclarecimento, em que ambos desenvolveram a Teoria Crítica
(ARANTES, 1980, p. 10). Nessa obra, ambos esclarecem o conceito de Indústria Cultural
(sobre o qual você verá mais adiante), conceito esse que fazia parte da Escola de Frankfurt.

A Teoria Crítica tratava-se justamente de uma crítica à academia e aos modelos culturais em
voga e à recente hegemonia americana na cultura que surgia. Essa teoria também propunha
uma nova visão/interpretação do socialismo e revisava os conceitos da psicanálise e da so-
ciologia, tentando apresentar formas de romper com a alienação e a exploração do operário
e da população em geral.

SUGESTÃO DE LEITURA

Dialética do esclarecimento: Theodor Adorno e Max Horkheimer

O livro Dialética do esclarecimento é uma obra muito importante para entender o período
contemporâneo, pois ele faz uma análise de como a sociedade chegou ao ponto em que
está, isto é, como, após o iluminismo e a tentativa de universalização de conhecimento, a
chegada da tecnologia, as pessoas enquanto sociedade resolveram apoiar regimes autoritá-
rios como, por exemplo, o fascismo e o nazismo. Reflete sobre a Indústria Cultural e o poder
de dominação em massa.

É uma obra densa, com muitos conceitos importantes que conseguem transmitir a essência
do período contemporâneo.

90
SAIBA MAIS

Vídeo: Escola de Frankfurt. Theodor Adorno. Brasil Escola

Gostaria de conhecer um pouco mais sobre Theodor Adorno?


4
Assista ao vídeo do Brasil Escola disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=3pT-
m8W1TK2k. Acesso em: 27 jan. 2021.

Universidade São Francisco


Max Horkheimer

Figura 03. Max Horkheimer Max Horkheimer nasceu no ano 1985, em


Stuttgart, na Alemanha (ARANTES, 1980, p.
11). Filho de pais judeus, aos 16 anos pausou
seus estudos para trabalhar numa indústria
juntamente com seu pai. Quando iniciou a
Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/

Primeira Guerra Mundial, ele teve de servir


seu país no exército.
commons/9/94/Max_Horkheimer.jpg

Ao fim da Primeira Guerra, Horkheimer re-


tomou seus estudos e formou-se em Psico-
logia e Filosofia. Conheceu Theodor Adorno
em Frankfurt, pessoa com a qual ele funda-
ria mais à frente a então Escola de Frankfurt.

Seus pensamentos são considerados mar-


xistas não ortodoxos, pois ele, embora con-
cordasse com as ideias de Marx, era tam-
bém crítico a elas. Juntamente com Theodor
Adorno publicou, em 1944, a obra Dialética
do esclarecimento, em que, juntos, desenvolveram a Teoria Crítica, na qual falavam sobre
duas ideias por meio de uma análise contextualizada com o momento histórico vivido (Guer-
ras) e também com os pensamentos iluministas, tentando entender o que havia dado errado
com a tecnologia e por que, mesmo com tanto desenvolvimento, o mundo ainda apresentava
vários problemas de cunho social e econômico.

Em suma, pode-se dizer que nessa obra os autores dizem que o esclarecimento acaba por
ser o anseio que os sujeitos têm de dominar a natureza a seu favor, isto é, ter conhecimento,
dominar as técnicas, e com isso conclui-se que o esclarecimento é uma forma de totalitarismo,
pois seu objetivo é a dominação, e é exatamente nesse ponto que iniciam as críticas de ambos
contra os regimes totalitários, como o fascismo, o nazismo e, de certa forma, até o comunismo.

SAIBA MAIS

Para conhecer mais sobre Max Horkheimer acesse o vídeo a seguir que trata um pouco so-
bre a Teoria Crítica e o marxismo. Trata-se de um trecho de um vídeo de 1969, com legendas
em inglês e português.

HORKHEIMER, Max. Teoria Crítica e marxismo, 1969. 1 vídeo (1 min 57 s). Publicado por Vicfiori.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=o-WWvteGCWM. Acesso em: 27 jan. 2021.

Filosofia da educação 91
Filosofia e os novos desafios

Walter Benjamin

Figura 04. Walter Benjamin Walter Benjamin nasceu no ano de 1892, em Berlim,
na Alemanha, em uma família de judeus. Ele foi filó-

commons/c/cc/Walter_Benjamin_vers_1928.jpg.
sofo, crítico literário e ensaísta. Segundo Baixo: “A

Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/
4 filosofia da história de Walter Benjamim bebe em três
fontes diferentes: o romantismo alemão, o messia-
nismo judeu e o marxismo” (BAIXO, 2002, p. 1). Isto
é, para tentarmos entender suas ideias é necessário
que saibamos o contexto no qual ele viveu, pois atra-
vés dessas três concepções ele criou uma nova.

Benjamin estudou Filosofia, mas com a ascensão


do nazismo, ele emigrou para Paris no ano de 1935
(ARANTES, 1980, p. 10). Quando o regime nazis-
ta invadiu a França, o pensador tentou fugir para a
Espanha, com o objetivo de viajar para os Estados
Unidos, porém, quando chegou à fronteira, os espa-
nhóis não lhe deram a passagem. Receoso de ser entregue aos nazistas, ele se suicidou com
uma dose de morfina que tinha levado consigo (ARANTES, 1980, p. 6).

A história dele sendo um alemão judeu está intimamente ligada às suas ideias, e o pensador
contribuiu com a Escola de Frankfurt, pois parte de sua obra tenta entender a sociedade por
meio da cultura de massa e da indústria cultural, conceitos extremamente importantes que
ainda influenciam o mundo atual. As ideias de Benjamin você verá mais profundamente no
próximo item, intitulado “Indústria Cultural”, em que conhecerá o conceito de “aura” e a per-
cepção dele sobre o assunto.

Além desses três grandes nomes, outras duas figuras importantes do período contemporâ-
neo são Herbert Marcuse e Erich Fromm.

Herbert Marcuse

Figura 05. Herbert Marcuse Herbert Marcuse nasceu na Alemanha,


na cidade de Berlim, em 1898, e era filho
de judeus. Foi um estudioso na área de
Literatura e Filosofia e recebeu influência
de Husserl e de Heidegger.

No ano de 1932, ele passou a fazer par-


te do Instituto de Pesquisas Sociais de
Frankfurt (Escola de Frankfurt), coman-
dado por Theodor Adorno e Max Horkhei-
mer. Porém, devido ao crescimento do
nazismo, ele se mudou para Nova Iorque.

De visão política voltada para a esquerda,


Marcuse fez várias críticas à sociedade
capitalista em suas obras. Uma delas é
Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/ Eros e civilização (1955).
commons/6/69/Herbert_Marcuse_in_Newton%2C_
Massachusetts_1955.jpeg. Acesso em: 23 fev. 2021.

92
Ele partia do princípio de que, com o avanço da sociedade industrial, as falsas necessidades
de consumo acabam por fazer parte da mentalidade do indivíduo e que os meios de comu-
nicação de massa induzem a sociedade a desejar o consumo cada vez mais. Portanto, suas
ideias se fazem pertinentes, inclusive, nos dias de hoje, pois, além dos meios de comunica-
ção que já existiam naquela época, surgiram outros que reproduzem o mesmo pensamento. 4

Universidade São Francisco


Erich Fromm

Figura 06. Erich Fromm Erick Fromm nasceu no ano de 1900, em


Frankfurt, na Alemanha e foi psicanalista, fi-
lósofo e sociólogo. Filho de judeus, Fromm
foi pesquisador no Instituto de Pesquisa So-
cial da Universidade de Frankfurt (Escola de
Frankfurt).

Por conta da ascensão do nazismo na Ale-


manha, Fromm mudou-se para Genebra, na
Suíça, e depois para os Estados Unidos, onde
se tornou cidadão americano e trabalhou em
algumas instituições, como, por exemplo, o
Instituto de Pesquisas Sociais da Universida-
de de Colúmbia, na cidade de Nova Iorque.
Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/
commons/7/72/Erich_Fromm_1974.jpg. Acesso em: O psiquiatra e filósofo produziu inúmeras
24 fev. 2021. obras, dentre elas Psicanálise da sociedade
contemporânea e Análise do homem.

Devido a sua formação, Fromm entendia que a Psicologia e a Sociologia eram capazes de estudar
as questões da sociedade contemporânea, portanto fazia uma análise psicanalítica da sociedade.

1.2. INDÚSTRIA CULTURAL


Indústria Cultural é um termo desenvolvido por Theodor Adorno e Max Horkheimer na famo-
sa obra Dialética do esclarecimento. O termo “indústria” está ligado, segundo o dicionário
online Michaelis ([s. d.], [n. p.]), à “série de atividades despendidas para transformar maté-
ria-prima em produto comerciável”. Dessa forma, quando associamos o termo “indústria”
com a palavra “cultura”, há uma visão de cultura feita em escala como objeto de consumo.

É justamente nesse sentido que Adorno e Horkheimer criaram a expressão “Indústria


Cultural” para se referirem à produção da cultura com um produto de consumo, servindo
como um objeto alienador da realidade. Vale relembrar que eles escreveram essa obra
em 1944, ano em que a Segunda Guerra estava vigente e quando havia uma ascensão
no nazismo, que se propagou devido à comunicação massiva e à propaganda nazista.

Dessa forma, Indústria Cultural engloba uma crítica feita pelos autores em relação às
classes sociais dominantes, que utilizavam os meios de comunicação de massa, a cul-
tura e as artes para dominar o povo, aliená-los sobre o que de fato acontecia e também
com objetivo comercial. Nessa ótica, Adorno e Horkheimer acreditavam que os produtos
dessa indústria da cultura eram problemáticos, pois visavam apenas o lucro, e a arte

Filosofia da educação 93
Filosofia e os novos desafios

em si perdia suas características reais. Na visão deles, os produtos culturais são pro-
duzidos com o intuito de venda, geração de receita e de forma massiva, como numa
indústria em larga escala (ARANTES, 1980, p. 16).

Mas será que esse conceito criado por Adorno e Horkheimer está distante da realidade atual?
4
Reportagem
Compositores de música sertaneja moram juntos para produzir hits. Fantástico

A reportagem do programa “Fantástico” fala sobre uma espécie de “república” na qual compositores de
música sertaneja moram e produzem músicas do gênero em tempo integral.

Os compositores moram em uma casa em Goiânia, onde produzem muitas canções durante o dia, funcio-
nando como uma fábrica de composições. As canções são vendidas a cantores, tanto iniciantes quanto
músicos já consagrados. Todas as composições têm objetivo comercial e não necessariamente artístico.

Observando tal fato, será que o conceito de “Indústria Cultural” criado por Adorno e Horkheimer ainda se
encontra atual?

COMPOSITORES DE MÚSICA SERTANEJA MORAM JUNTOS PARA PRODUZIR HITS. G1, 2019. Dis-
ponível em: https://g1.globo.com/fantastico/noticia/2019/04/08/compositores-de-musica-sertaneja-moram-
-juntos-para-produzir-hits.ghtml. Acesso em: 27 jan. 2021.

Outro pensador que também contribuiu para a Escola de Frankfurt e para o contexto de
Indústria Cultural foi Walter Benjamin. É autor do livro A obra de arte na era de sua re-
produtibilidade técnica, no qual fala sobre o conceito de “aura” – algo único, singular, da
própria obra de arte, e quando a arte é reproduzida em escala perde essa aura, fazendo
com que a própria obra perca seu valor artístico (ARANTES, 1980, p. 15).

Quando Benjamin fala sobre a reprodutibilidade, ele tem o cuidado de visualizá-la, em


partes, como algo positivo. Ele dizia que muitas das técnicas artísticas, quando repro-
duzidas, também contribuem positivamente, promovendo uma espécie de democratiza-
ção de arte, assim mais pessoas conseguem ter acesso ao que antes era restrito a um
grupo de pessoas muito menor. Entretanto, essa reprodutibilidade faz com que a obra
perca sua essência, sua aura (ARANTES, 1980, p. 15).

Por exemplo, a reprodução de uma das obras de arte mais famosas do mundo, como
a Monalisa, fez com que a obra de Leonardo da Vinci se popularizasse, que pessoas
do mundo inteiro que não têm condições de ir até o Museu do Louvre, em Paris, co-
nhecessem a pintura. Porém, somente na pintura original encontra-se a singularidade
da obra, segundo Benjamin. Na obra original, é possível notar sua autenticidade, sua
singularidade, ou seja, sua aura.

Atualmente, através da internet, é possível visitar museus do mundo inteiro por meio
virtual, conhecer as obras de arte mais famosas sem sair de casa. Mas será que essa
reprodução traz a mesma essência de realmente estar no próprio museu? Essa é a
ideia de reprodutibilidade que Benjamin descreveu em seu livro, mostrando o contraste
da reprodução em massa das obras de arte.

94
Experiência virtual: casa de Anne Frank online

A casa de Anne Frank é um dos pontos turísticos mais procurados em Amsterdã, na Holanda, pois ela
serviu de anexo secreto para a família de Anne e mais quatros pessoas, durante o período da Segunda
Guerra Mundial. O grupo ficou confinado por mais de dois anos, fugindo do Holocausto.
4
Através da internet, é possível conhecer a casa toda, que se transformou em um museu que conta a
história da garota judia. O diário em que ela relata sua vivência durante esses dois anos está exposto lá.

Universidade São Francisco


É possível também fazer um passeio por meio de realidade virtual, tecnologia que aproxima a experiência
da visita virtual para mais perto da realidade.

Você pode fazer essa visita através do link: https://www.annefrank.org/en/museum/web-and-digital/. Aces-


so em: 27 jan. 2021.

Figura 07. Mapa conceitual

Theodor Adorno

Max Horkheimer

Walter Benjamin

INDÚSTRIA CULTURAL

Produção de cultura como um objeto de consumo servindo


como um alienador da realidade.

Fonte: elaborada pela autora.

2. FILOSOFIA E OS DESAFIOS PARA A EDUCAÇÃO ATUAL


Como você já estudou neste livro, a Educação faz parte da vida dos seres humanos há muitos
séculos, pois os grandes pensadores já refletiam sobre as formas de adquirir conhecimento.

É claro que, conforme o tempo passa, a sociedade muda e traz novas demandas a se-
rem pensadas e repensadas referentes à vida e à prática pedagógica.

Quando se busca a palavra “educação” no dicionário online Michaelis, um dos significa-


dos apresentados é: “Processo que visa o desenvolvimento físico, intelectual e moral

Filosofia da educação 95
Filosofia e os novos desafios

do ser humano, através de métodos próprios com o intuito de assegurar-lhe a integra-


ção social e a formação da cidadania”. Ainda sobre o significado da palavra, se procu-
rarmos no dicionário de Filosofia de Abbagnano, temos: “EDUCAÇÃO (gr. 7iOü.5eíoe;
lat. Educatio; in. Education; fr. Éducation; ai. Erziehung; it. Educazioné). Em geral, de-
signa-se com esse termo a transmissão e o aprendizado das técnicas culturais, que
4
são as técnicas de uso, produção e comportamento, mediante as quais um grupo de
homens é capaz de satisfazer suas necessidades, proteger-se contra a hostilidade do
ambiente físico e biológico e trabalhar em conjunto, de modo mais ou menos ordenado
e pacífico. Como o conjunto dessas técnicas se chama cultura (v. CULTURA, 2), uma
sociedade humana não pode sobreviver se sua cultura não é transmitida de geração
para geração; as modalidades ou formas de realizar ou garantir essa transmissão cha-
mam-se educação. (...)” (ABBAGNANO, 2007, p. 305-306).

Nesse aspecto, podemos perceber que a educação visa o desenvolvimento dos seres
humanos de maneira ampla (física, intelectual e moral) e também a integração dos
sujeitos dentro de uma sociedade. Observando essas definições e as ideias contidas
nelas, a educação pode ser utilizada como uma maneira de dominação e/ou de liberta-
ção, a depender do que é ensinado e de como é ensinado.

Você já parou para pensar que tipo de educação vem sendo desenvolvida no Brasil?
Para refletir sobre isso, vale fazer um breve panorama histórico.

A necessidade de educação escolar teve início no Brasil com a chegada dos portu-
gueses e com o processo de colonização – a educação era, então, um trabalho que
tinha como objetivo catequizar os índios e aculturá-los, impondo, inclusive, a língua
portuguesa como obrigatória. A estrutura educacional desse período era política, pois
visava a desvalorização da cultura local, já que o índio era considerado um selvagem a
ser domesticado, imagem semelhante à que se tinha dos negros escravizados quando
chegaram ao Brasil – vistos como mercadoria e sem o direito de estudar –, fato que
continuou a acontecer por muitos anos.

Com o passar dos séculos, mudanças significativas ocorreram na história da Educação,


que começaram desde esse primeiro período do Brasil Colônia, indo para o início do Im-
pério, Primeira República, Era Vargas, Ditadura até o Pós-ditadura e o momento em que
vivemos hoje (SOUZA, 2018, [n. p.]). Com isso, avanços aconteceram, como a criação
da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), gratuidade do ensino, ensino
fundamental obrigatório, atendimento em creches e educação infantil, além de outros
programas, como, por exemplo, o Programa Nacional da Alimentação Escolar (PNAE)
e o Plano Nacional do Livro Didático (PNLD), entre outros.

SAIBA MAIS
Gostaria de entender um pouco mais sobre a história da Educação?

Através da revista Educação Pública e do texto “Educação e história da Educação no Brasil”,


você pode compreender, de maneira sintetizada, o processo de Educação no Brasil desde a
época colonial até os dias atuais.

Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/18/23/educao-e-histria-da-edu-


cao-no-brasil. Acesso em: 27 jan. 2021.

96
Ou através da série especial “História da Educação no Brasil”, da revista Nova Escola.

Disponível em: https://novaescola.org.br/conteudo/1910/serie-especial-historia-da-educa-


cao-no-brasil#. Acesso em: 27 jan. 2021.
4
De acordo com tudo que aprendemos até agora, você pensa que o Brasil está no cami-

Universidade São Francisco


nho certo quando se trata de Educação? Esta é uma pergunta muito comum e nela ca-
bem muitas respostas. Se pararmos para pensar em como era a Educação e como ela
avançou, dizemos que sim, que estamos no caminho certo, pois há progressos signifi-
cativos quando olhamos o todo. É o suficiente? Ainda não. Dados do IBGE nos mostram
que, em 2019, no Brasil, ainda havia 11 milhões de pessoas analfabetas, o equivalente
a 6,6% da população brasileira, porém o número é 0,2% menor que no ano anterior, o
que nos mostra que, mesmo lentamente, o percentual de analfabetos diminuiu.

Mesmo representando 6,6% da população brasileira, 11 milhões de pessoas analfabe-


tas é ainda um número grande de pessoas não alfabetizadas, e isso significa que ainda
há muito o que ser feito pela Educação brasileira.

Nesse cenário atual, a Filosofia se faz necessária tanto quanto se fez necessária desde
o período clássico, pois é através dela que retomamos os pensamentos, por meio da
reflexão, e encontramos caminhos para avançar.

As demandas filosóficas a serem pensadas na atualidade estão ligadas à cultura, pois


desde que a Educação chegou ao Brasil por parte dos colonizadores, o ensino se apro-
xima mais do que vem do norte global do que das demandas regionais.

Antes de começarmos uma discussão mais aprofundada, conheça o significado de cul-


tura, segundo o dicionário.

GLOSSÁRIO
cul·tu·ra
sf
1 AGR Ato, processo ou efeito de trabalhar a terra, a fim de torná-la mais produtiva; cultivo,
lavra.

2 AGR Ato de semear ou plantar vegetais.

3 AGR A área cultivada de um sítio.

4 AGR Produção agrícola com técnicas especiais; cultivo.

5 BIOL Ato de cultivar células ou tecidos vivos numa solução com nutrientes, em condições
adequadas, a fim de realizar estudos científicos.

6 Criação de determinados animais.

7 ANTROP Conjunto de conhecimentos, costumes, crenças, padrões de comportamento,


adquiridos e transmitidos socialmente, que caracterizam um grupo social.

Filosofia da educação 97
Filosofia e os novos desafios

8 Conjunto de conhecimentos adquiridos, como experiências e instrução, que levam ao de-


senvolvimento intelectual e ao aprimoramento espiritual; instrução, sabedoria.

9 Requinte de hábitos e conduta, bem como apreciação crítica apurada.


4 MICHAELIS: Moderno Dicionário da Língua Portuguesa. Disponível em: https://michaelis.
uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-brasileiro/cultura/. Acesso em: 27 jan. 2021.

Para Abbagnano (2007), o conceito de cultura se aprofunda ainda mais:


CULTURA (in. Culture, fr. Culture, ai. Kultur, it. Cultura). Esse termo tem dois
significados básicos. No primeiro e mais antigo, significa a formação do ho-
mem, sua melhoria e seu refinamento. F. Bacon considerava a C. nesse
sentido como ‘a geórgica do espírito’ (De augm. scient., VII, 1), esclarecendo
assim a origem metafórica desse termo. No segundo significado, indica o
produto dessa formação, ou seja, o conjunto dos modos de viver e de pensar
cultivados, civilizados, polidos, que também costumam ser indicados pelo
nome de civilização (v.). A passagem do primeiro para o segundo significado
ocorreu no séc. XVIII por obra da filosofia iluminista, o que se nota bem neste
trecho de Kant: ‘Num ser racional, cultura é a capacidade de escolher seus
fins em geral (e, portanto, de ser livre). Por isso, só a C. pode ser o fim último
que a natureza tem condições de apresentar ao gênero humano’ (Crít. do Ju-
ízo, § 83). Como ‘fim’, a C. é produto (mais que produzir-se) da ‘geórgica da
alma’. No mesmo sentido, Hegel dizia: ‘Um povo faz progressos em si, tem
seu desenvolvimento e seu crepúsculo. O que se encontra aqui, sobretudo,
é a categoria da C, de sua exageração e de sua degeneração: para um povo,
esta última é produto ou fonte de ruína’ (Pbil. der Geschichte, ed. Lasson, p.
43). (ABBAGNANO, 2007, p. 225)

O significado que consegue nos levar a refletir sobre Educação é: “Conjunto de conhe-
cimentos, costumes, crenças, padrões de comportamento, adquiridos e transmitidos
socialmente, que caracterizam um grupo social”. Ou até: “formação do homem, sua me-
lhoria e seu refinamento”. Entretanto, não se deve reduzir cultura simplesmente a esse
conjunto de conhecimentos transmitido e adquirido por grupos sociais ou a formação do
homem e sua melhoria; é o que afirma Geertz no trecho a seguir:
O homem não pode ser definido nem apenas por suas habilidades inatas,
como fazia o iluminismo, nem apenas por seu comportamento real, como faz
grande parte da ciência social contemporânea, mas sim pelo elo entre elas,
pela forma em que o primeiro é transformado no segundo, suas potencialida-
des genéricas focalizadas em suas atuações específicas (...). Assim como a
cultura nos modelou como espécie única – e sem dúvida ainda nos está mo-
delando – assim também ela nos modela como indivíduos separados. É isso
o que temos realmente em comum – nem um ser subcultural imutável, nem
um consenso de cruzamento cultural estabelecido. (GEERTZ, 1989, p. 37-38)

Dessa forma, percebemos que a cultura não é estática, muito pelo contrário, ela é dinâ-
mica e muda conforme a sociedade muda, portanto está em constante evolução.

O desafio para a Filosofia contemporânea é conseguir agregar as demandas culturais de


forma inclusiva, que propague o debate saudável sobre várias questões importantes refe-
rentes à reflexão de preconceitos, inclusão social, práticas educativas de maneira geral.

98
Para isso, deve-se levar em conta o que Silva (2005, 2005, p.85) chama de multicultu-
ralismo. O autor diz que não é possível separar as questões culturais do poder – nesse
contexto, cabe a educação colonial, por exemplo. O autor acredita que, assim como a
cultura contemporânea, o multiculturalismo é ambíguo, pois “é um movimento legítimo
de reivindicação dos grupos culturais dominados no interior daqueles países para terem
4
suas formas culturais reconhecidas e representadas na cultura nacional” (SILVA, 2005,
p. 85), porém, ainda segundo Silva, existe o outro lado, que pode ser visto como “uma

Universidade São Francisco


solução para os ‘problemas’ que a presença de grupos raciais e étnicos coloca, no interior
daqueles países, para a cultura nacional dominante” (SILVA, 2005, p. 85). Mesmo mos-
trando os dois lados do multiculturalismo, Silva acreditava que não seria possível separar
a cultura das relações de poder, pois quem tinha mais poder fazia com que diferentes
grupos, de diferentes grupos, se relacionassem e convivessem no mesmo espaço.

Dessa forma, é papel da Filosofia levantar questões sobre temáticas de cunho cultural
e social, com a finalidade de incluir as diversas culturas que estão presentes no nosso
país de maneira realmente representativa, mostrando que não há uma cultura superior
a outra, todas estão nos mesmos níveis, mas historicamente fomos levados a acreditar
que a cultura que vinha do Norte Global era superior à nossa, fazendo com que os pa-
drões de lá se repetissem aqui.

Ainda na visão de Tomaz Tadeu da Silva (2005), a perspectiva crítica do multiculturalis-


mo pode ser dividida em duas partes, uma visão pós-estruturalista (1) e uma materia-
lista (2). Na primeira, a diferença está basicamente no processo linguístico discursivo,
por exemplo, para ele a diferença é sempre uma relação, pois para algo ser diferente
ela tem de se diferir de algo que seria “não diferente” – e as relações de poder fazem
com que essa diferença adquira a ideia do que é “normal” ou não (SILVA, 2005, p. 87).
A perspectiva materialista é inspirada no marxismo e, na visão do autor, “enfatiza, em
troca, os processos institucionais, econômicos, estruturais que estariam na base da pro-
dução dos processos de discriminação e desigualdade baseados na diferença cultural”
(SILVA, 2005, p. 87). O autor ainda explica sobre o multiculturalismo materialista, com
um exemplo referente à discussão do racismo:
Assim, por exemplo, a análise do racismo não pode ficar limitada a processos
exclusivamente discursivos, mas deve examinar também (ou talvez principal-
mente) as estruturas institucionais e econômicas que estão em sua base. O
racismo não pode ser eliminado simplesmente através do combate a expres-
sões linguísticas racistas, mas deve incluir também o combate à discriminação
racial no emprego, na educação, na saúde. (SILVA, 2005, p. 87-88)

Nesse sentido, a Lei n. 10.639, de 9 de janeiro de 2003, estabeleceu como obrigatório


o ensino da temática “História da Cultura Afro-Brasileira”, com a finalidade de ensinar no
conteúdo programática “a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na
formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social,
econômica e política pertinentes à História do Brasil” (Lei n. 10.639) (BRASIL, 2003, [n. p.]).

Através de iniciativas como a dessa lei, percebe-se que a Educação brasileira tenta
trilhar um caminho de uma educação mais inclusiva, que visa resgatar a cultura que
até então não havia sido mostrada nos livros didáticos, pois eles eram sempre feitos
na perspectiva ocidental. As leis educacionais brasileiras surgiram, então, para garantir

Filosofia da educação 99
Filosofia e os novos desafios

que essas pautas sejam colocadas em discussão e que promovam o pensamento crí-
tico dos alunos, fazendo com que eles se sintam representados e conheçam a cultura
brasileira que está ligada principalmente à cultura africana, indígena e europeia.

No entanto, Silva ainda destaca, em uma visão mais conservadora, o multiculturalismo


4 pode ser visto como “um ataque aos valores da nacionalidade, da família e da heran-
ça cultural comum (...) pretende substituir o estudo das obras consideradas como de
excelência da produção intelectual ocidental pelas obras consideradas intelectualmente
inferiores produzidas por representantes das chamadas ‘minorias’” (SILVA, 2005, p. 89).
Essa visão do autor demonstra uma preocupação ainda atual por parte da sociedade, que
não enxerga com bons olhos a inclusão de temáticas como racismo, igualdade de gênero,
entre outras, como prática reflexiva dentro da sala de aula, portanto esse acaba por ser
um dos desafios da Filosofia na Educação atual: conseguir combater o preconceito em
temas importantes que merecem ser refletidos no âmbito educacional.

2.1. EDUCAÇÃO OU MERCADO?


Quando pesquisamos o significado de educação, ele vem atrelado à noção de desen-
volvimento, mas você já parou para pensar no que significa de fato “desenvolvimento”?
Quando se procura o significado dela no dicionário, surgem mais de 10 interpretações.

GLOSSÁRIO
de·sen·vol·vi·men·to

sm

1 Ato ou efeito de desenvolver(-se); desenvolução.

2 Passagem gradual (da capacidade ou possibilidade) de um estágio inferior a um


estágio maior, superior, mais aperfeiçoado etc.; adiantamento, aumento, crescimento,
expansão, progresso.

3 Aumento das condições ou qualidades físicas (força, tamanho, vigor, volume etc.); cresci-
mento.

4 Aumento da capacidade ou competência (moral, psicológica, espiritual, intelectual etc.);


amadurecimento, crescimento, evolução.

5 REL Exercício ou aprimoramento da capacidade mediúnica.

6 Exposição, apresentação, explanação, explicação ou exame minucioso, em sequência ló-


gica (escrita ou oral), de um tema qualquer; detalhamento, elaboração.

7 Revelação gradativa de; desenrolamento, evolução, prosseguimento.

8 Em um texto (normalmente constituído por introdução, desenvolvimento e conclusão), essa


segunda parte que abrange o assunto principal e corresponde à exposição detalhada e pro-
funda do eixo narrativo, descritivo ou argumentativo.

9 ECON Crescimento econômico de um país ou região, acompanhado por alterações na


estrutura política e social, que resulta em melhoria do padrão de vida da população.

100
10 GEOM Representação da superfície de um corpo sólido sobre um plano.

11 MAT Expressão de uma função qualquer na forma de uma série.

12 MAT Transformação de uma expressão em outra equivalente, mais extensa, porém mais 4
acessível ao cálculo.

Universidade São Francisco


13 ECOL V sucessão.

14 MÚS Execução de um tema (em especial, na sonata ou na fuga), motivo ou ideia, por mo-
dificações rítmicas, melódicas ou harmônicas; parte da música em que tal execução ocorre;
crescimento.

15 TOPOGR Extensão exata e efetiva de uma estrada; prolongamento.

MICHAELIS: Moderno Dicionário da Língua Portuguesa. Disponível em: https://michaelis.uol.


com.br/moderno-portugues/busca/portugues-brasileiro/desenvolvimento/

Para Abbagnano (2007) o significado é:


DESENVOLVIMENTO (in. Development; fr. Développement; ai. Entwicklung;
it. Sviluppo, Svolgimentó). Movimento em direção ao melhor. Embora essa no-
ção tenha precedentes no conceito aristotélico de movimento (v.) como passa-
gem da potência ao ato ou explicação do que está implícito (CÍCERO, Top., 9),
seu significado otimista é peculiar à filosofia do séc. XIX e está estreitamente
ligado ao conceito de progresso (v.). (...). (ABBAGNANO, 2007, p. 252)

A palavra “desenvolvimento” está ligada ao significado de crescimento, algo maior, su-


perior. Mas será que o desenvolvimento é sempre bom? Será que todo desenvolvimen-
to gera somente benefícios?

A ideia de Educação, quando vinculada ao desenvolvimento, deixa subentendido que,


por vezes, a educação é o único caminho para desenvolver uma sociedade, e órgãos
como a Organização das Nações Unidas (ONU), através de iniciativas como Objetivos
de Desenvolvimento do Milênio (ODM) e Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
(ODS), reforçam essa ideia, pois entre os objetivos dessas agendas globais está a
educação para todos.

É claro que iniciativas como essas são boas, pois visam desenvolver a sociedade de
maneira sustentável, criar oportunidades para todos. Mas você já parou para pensar no
real sentido dessa educação para todos?

Como acabamos de ver, a ideia de desenvolvimento está, quase sempre, ligada a algo
positivo e que através desse conceito é possível “evoluir” como sociedade.

No entanto, a ideia de desenvolvimento na área da Educação deve ser cautelosa, pois,


caso contrário, repete-se o conceito eurocêntrico utilizado na época colonial, que Amaro
(2003, p. 42-47) chama de “conceito eurocentrado”, em que “a experiência histórica dos
países europeus considerados desenvolvidos” era levada em consideração como o que
deveria ser seguido.

Filosofia da educação 101


Filosofia e os novos desafios

Nesse aspecto, quando falamos em “desenvolvimento” na área educacional, seguindo


esse conceito eurocêntrico, fazemos da Educação um objeto de monocultura, no qual,
em qualquer lugar no mundo, aprende-se os mesmos conteúdos, fazendo com que as
pessoas se eduquem para serem capazes de alimentar um sistema de produção de
massa e acompanhar a industrialização – tornando a educação um produto para servir
4
à demanda do mercado.

Portanto, há um grande desafio para a atualidade: como educar sem aculturar? Como
“desenvolver” a educação de um povo de forma inclusiva?

Essas questões não são fáceis de serem respondidas, uma vez que vivemos em um
mundo globalizado e para conseguirmos suprir as necessidades do dia a dia, como
alimentação, moradia, segurança, precisamos buscar essa educação que nem sempre
visa ensinar para educar, e sim ensinar para satisfazer a uma demanda de mercado.

Esse conceito está intimamente ligado à teoria do desenvolvimento econômico, pois, para
que uma sociedade consiga se desenvolver economicamente, é necessário que ela alar-
gue sua industrialização. “(...) a teoria do desenvolvimento econômico era concebida
como um simples alargamento da teoria econômica assente no crescimento e na indus-
trialização” (GÓMEZ, 2007, p. 16). Ou seja, para desenvolver a economia é “necessário”
formar pessoas qualificadas para conseguir acompanhar o crescimento industrial.

Seguindo essa linha de raciocínio, o grande e principal desafio da Filosofia na Educação


atual é conseguir ser multicultural, respeitando as diferenças, sendo inclusiva e agregadora
para o maior número de pessoas, visando uma educação libertadora e não aprisionante.

Documentário: Escolarizando o mundo: o último fardo do homem branco


O documentário Escolarizando o mundo (Schooling The World: The White Man's Last Burden) busca
redirecionar o olhar do espectador para uma visão diferente de Educação. De forma crítica, faz reflexões
muito fortes sobre o modelo educacional ocidental que é replicado no mundo todo e levanta a questão:
será que essa Educação ocidental que tanto replicamos é libertadora ou molda os seres humanos para
serem produtos do capitalismo?

O documentário está disponível, gratuitamente, no YouTube através do link: https://www.youtube.com/


watch?v=6t_HN95-Urs&t=1570s. Acesso em: 27 jan. 2021.

SUGESTÃO DE LEITURA

A escola não é uma empresa – Christian Laval

No livro escrito pelo francês Christian Lavan e traduzido por Mariana Echalar, a educação é
discutida através do avanço neoliberal, e o autor disserta sobre como grandes órgãos, como
o Banco Mundial, por exemplo, pressionam os sistemas de educação para se moldarem ao
capitalismo contemporâneo.

LAVAL, Christian. A escola não é uma empresa. Tradução de Mariana Echalar. São Paulo:
Boitempo Editorial, 2019.

102
2.2. AS MULHERES NA FILOSOFIA: UMA NOVA TENDÊNCIA?
Seria a Filosofia uma área predominantemente masculina? Havia mulheres filósofas na
Antiguidade? E na atualidade? Questões como essas por vezes surgem na mente de
quem estuda Filosofia, pois, quando começamos a estudar os conceitos básicos e os
principais pensadores, deparamo-nos, quase sempre, com nomes de homens, como os 4
principais filósofos da humanidade. Então, afinal, há mulheres filósofas?

Universidade São Francisco


Sim, há atualmente grandes nomes femininos que representam a Filosofia na contem-
poraneidade, porém esse fato não é exclusivo do período contemporâneo. Já existiam
filósofas mulheres há muito tempo, inclusive na Antiguidade. É exatamente isso que
mostra a seguinte obra:

SUGESTÃO DE LEITURA
Filósofas: a presença das mulheres na Filosofia. Organizadora: Juliana Pacheco

O livro Filósofas: a presença das mulheres na Filosofia, idealizado e organizado por Juliana
Pacheco, traz 19 capítulos que contam um pouco sobre a vida e a obra de 19 filósofas que
fazem parte da história da Filosofia desde a Antiguidade até o presente momento.

Vale salientar que existem muito mais que 19 mulheres filósofas, porém a autora teve de
escolher os principais nomes para sua obra.

Você pode baixar o livro em versão digital através do link:

http://docs.wixstatic.com/ugd/48d206_3d0d3201e32a4ef6bff8c18b7b85719a.pdf. Acesso
em: 27 jan. 2021.

No livro Filósofas: a presença das mulheres na Filosofia, você pode conhecer nomes
de filósofas de várias partes do mundo, alguns menos conhecidos e outros bastante
famosos, como Hannah Arendt, Simone de Beauvoir e Angela Davis.

Hannah Arendt

Figura 08. Hannah Arendt


Hannah Arendt nasceu na Alemanha, em 1906,
commons/b/b1/Hannah_Arendt_1933.jpg. Acesso

mas mudou-se muito jovem para a Prússia com a


Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/

sua família, que era judaica. Ela foi uma importante


filósofa da contemporaneidade. Por ser judia, pôde
ver de perto os horrores do nazismo, o que fez com
que ela estudasse o totalitarismo.

À frente de sua época, Hannah é uma das mais impor-


tantes filósofas do período contemporâneo.

Para saber um pouco mais sobre ela, assista ao vídeo:


em: 24 fev. 2021.

Para refletir sobre Hannah Arendt – Canal Curta!

https://www.youtube.com/watch?v=EWpnkVJsyEs.
Acesso em: 24 fev. 2021.

Filosofia da educação 103


Filosofia e os novos desafios

Simone de Beauvoir

Figura 09. Simone de Beauvoir A francesa Simone de Beauvoir nasceu em Paris,


no ano de 1908, e foi uma importante escritora, filó-

commons/c/c1/Simone_de_Beauvoir2.png. Acesso
sofa e feminista. Cursou Filosofia na Universidade
4 de Sorbonne e com apenas 23 anos já era profes-

Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/
sora universitária.

A filósofa é autora do famoso livro O segundo sexo – sua


principal obra –, que representou fortemente uma deses-
truturação dos padrões sociais daquela época. Sua obra
foi extremamente importante, pois combatia várias ques-
tões ligadas à opressão feminina e ao patriarcado.
em: 24 fev. 2021.
Para saber mais sobre Simone de Beauvoir, assista
ao vídeo:

Dia Internacional da Mulher. Saiba quem foi Simone


Beauvoir – Personalidades Antigas – Canal Objetos
Antigos.

https://www.youtube.com/watch?v=06fAe25K8fs. Acesso em: 24 fev. 2021.

Angela Davis

Figura 10. Angela Davis Angela Davis nasceu em 1944, no Alabama, nos
Estados Unidos da América. Ela se formou filósofa
Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/6/66/

e é escritora, professora e ativista.

O pensamento de Davis é influenciado por Marx e


Angela_Davis_en_Bogot%C3%A1%2C_Septiembre_

pela Escola de Frankfurt, mas sua luta e militância


vão além. Ela participa de muitos movimentos so-
ciais nos quais defende a igualdade de gênero e a
igualdade racial.
de_2010.jpg. Acesso em: 24 fev. 2021.

Sua obra e luta influenciaram e ainda influenciam


várias filósofas brasileiras da atualidade, como, por
exemplo, Lélia Gonzales e Djamila Ribeiro.

Para saber mais sobre Angela Davis, assista ao vídeo:

Angela Davis: quem é e por que ela é importante.


Jaqueline Conceição – Canal Casa do Saber.

https://www.youtube.com/watch?v=HGa8d3uFOt4.
Acesso em: 24 fev. 2021.

Nesta unidade, por tratarmos de contemporaneidade, falaremos de alguns nomes de


filósofas contemporâneas brasileiras, como: Lélia Gonzalez, Marilena Chauí, Sueli Car-
neiro e Djamila Ribeiro.

104
Lélia Gonzalez

Figura 11. Filósofa Lélia Gonzales Lélia de Almeida nasceu em Minas


Gerais, no ano de 1935. Na década
de 1960, casou-se com Luiz Gon-
zalez, de quem herdou o sobreno- 4
me. Lélia era filha de pai negro e

Universidade São Francisco


mãe indígena, o que a motivou em
sua luta.

No ano de 1942, Lélia mudou-se


para o Rio de Janeiro. Graduou-se
em Filosofia e História; depois se
tornou mestre em Comunicação
Social e doutora em Antropologia.

A pensadora se destacou como in-


telectual e foi ativista nas áreas de
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/L%C3%A9lia_Gonzalez#/media/
raça, classe e gênero – seus estu-
Ficheiro:L%C3%A9lia_Gonzalez_by_Cezar_Loureiro.jpg. Acesso
em: 27 jan. 2021. dos e sua vida inspiraram muitas
outras mulheres negras a seguirem os estudos pelo caminho da Filosofia também.

Em uma de suas obras, intitulada Racismo e sexismo na cultura brasileira, a filósofa debate
o mito da democracia social no Brasil e se baseia na psicanálise (Freud e Lacan) para tentar
entender o racismo no Brasil e o que ela chama de neurose cultural brasileira.

Infelizmente, Lélia morreu jovem, em 1994, por causa de problemas cardiovasculares, mas
certamente sua obra é fundamental para entender o Brasil e contribui muito para a Educação
contemporânea, principalmente no combate ao racismo.

SAIBA MAIS

Vídeo: Lélia Gonzalez: o racismo estrutural. Jaqueline Conceição


Nesse vídeo, Jaqueline Conceição explica brevemente sobre racismo estrutural e sobre a
ideia de neurose cultural brasileira que Lélia Gonzalez falava em sua obra.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=X2ruqJntOWc&t=304s. Acesso em: 27 jan. 2021.

Vídeo: A história e o legado de Lélia Gonzalez


Uma breve explanação sobre a história e o legado de Lélia Gonzalez.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=fv5_xRpHV2s. Acesso em: 27 jan. 2021.

Marilena Chauí

Marilena Chauí nasceu em 1941, na cidade de São Paulo, e é uma importante filósofa brasi-
leira. Além de professora e autora, foi também Secretária Municipal da Cultura de São Paulo,
no período de 1989 a 1992.

A pensadora graduou-se em Filosofia no ano de 1965, período da ditadura militar brasileira.

Filosofia da educação 105


Filosofia e os novos desafios

Figura 12. Marilena Chauí Ela tem mais de 30 livros publicados


e atualmente é professora titular da
Universidade de São Paulo (USP).

4 Suas pesquisas no âmbito acadêmi-


co, tanto no Brasil quanto no exterior,
são focadas em Spinoza e Merleau-
-Ponty.

Dentre tantas obras, uma que se des-


taca para quem quer iniciar os estu-
dos em Filosofia é Convite à Filoso-
fia, na qual a autora convida o leitor
a conhecer a Filosofia e alguns de
seus conceitos básicos através dos
Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/e/ea/
Marilena_chau%C3%AD_flickr.jpg. Acesso em: 24 fev. 2021. principais filósofos da história e refletir
sobre as questões fundamentais.

Marilena Chauí é uma mulher fundamental na contemporaneidade, que auxilia no saber filo-
sófico e contribui positivamente para a Educação atual, pois através de suas obras é possível
entender Filosofia de uma maneira prática e perceber o quanto a disciplina é importante para
o mundo e para o Brasil atual.

SAIBA MAIS

Vídeo: Escritos de Marilena Chauí. O que é cultura?

No vídeo indicado a seguir, a filósofa Marilena Chauí explica o que é cultura. Esta, e é uma
boa oportunidade para você conhecer um pouco sobre a pensadora.

Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=-YQcFNoiDMw. Acesso em: 27 jan. 2021.

Sueli Carneiro

Figura 13. Sueli Carneiro Sueli Carneiro nasceu em 1950, na cidade de São
Paulo, e ingressou na Universidade de São Paulo
File:SueliCarneiro.jpg; . Acesso em: 24 fev. 2021.

(USP), no curso de Filosofia, no ano de 1971. A fi-


lósofa é militante nos movimentos feminista e negro;
Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/

além disso, sua produção intelectual é voltada para


questões de raça e gênero.

Sueli é fundadora do Geledés – Instituto da Mulher


Negra –, uma organização independente feminista e
negra de São Paulo que atua na área social e como
organização não governamental.

A filósofa é doutora em Educação também pela


USP e autora de diversas obras, incluindo livros e
artigos científicos.

106
Uma de suas obras mais importantes é Racismo, sexismo e desigualdades no Brasil (2011),
na qual reflete, por meio de diversos textos, e convida o leitor a refletir criticamente sobre a
sociedade brasileira e como as relações sociais no Brasil são estruturadas através do sexis-
mo e do racismo.
4
Sem dúvida, Sueli Carneiro é uma filósofa contemporânea que auxilia a compreender a so-
ciedade brasileira atual e contribui para uma educação transformadora que visa igualdade

Universidade São Francisco


de gênero e racial.

SAIBA MAIS

Vídeo: Ela transformou sua indignação em luta contra o racismo

Nesse vídeo, a filósofa e doutora em Educação, Sueli Carneiro, fala brevemente sobre a
trajetória contra o racismo e como ela transformou sua indignação em luta.

Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=PnEa-U4P06E Acesso em: 27 jan. 2021.

Vídeo: Sueli Carneiro: Ciência e racismo

Nesse pequeno vídeo, Sueli Carneiro fala sobre a relação entre a Ciência e o racismo e tam-
bém discorre sobre o conceito de epistemicídio.

Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=gBYk4ePmS6s. Acesso em: 27 jan. 2021.

Djamila Ribeiro

Figura 14. Djamila Ribeiro Djamila Ribeiro nasceu em 1980, na ci-


dade de Santos, São Paulo. Graduou-se
em Filosofia pela Universidade Federal
de São Paulo (Unifesp), no ano de 2012,
e na mesma instituição tornou-se mestre
em Filosofia Política, em 2015.

Em 2016, foi Secretária Adjunta de Direi-


tos Humanos e Cidadania em São Paulo
e atualmente é colunista do jornal Folha
de São Paulo e da revista Elle Brasil.
Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/
Djamila é coordenadora do Selo Sueli Ri-
commons/4/47/Djamila_Ribeiro.jpg. Acesso em: 24 fev.
2021. beiro e da Coleção Feminismos Plurais.
A filósofa é autora também de diversas
obras, como Lugar de fala, Quem tem medo do feminismo negro? e de um dos livros mais
vendidos pela Amazon, Pequeno manual antirracista, dentre outras obras.

Em Pequeno manual antirracista, Djamila fala sobre alguns conceitos, como racismo, negritu-
de e branquitude, além de discorrer a respeito de violência racial e cultura. Em 11 capítulos,
a filósofa reflete e argumenta por que a prática antirracista é urgente e necessária.

Em suas obras, Djamila escreve sobre feminismo, racismo e sexismo. Na tese de mestrado, a
filósofa dissertou sobre a teoria feminista a partir da análise de Simone de Beauvoir e Judith Buther.

Filosofia da educação 107


Filosofia e os novos desafios

Djamila Ribeiro é uma importante pensadora contemporânea que discute temas extrema-
mente relevantes para a sociedade brasileira atual, como sexismo, feminismo e racismo.
Sua forte presença nas redes sociais consegue aproximar jovens e promover debates sobre
essas questões que, na atualidade, devem ser consideradas fundamentais em busca de uma
4 sociedade mais justa e igualitária.

SAIBA MAIS

Vídeo: Precisamos romper com os silêncios. Djamila Ribeiro. TED x São Paulo Salon
Participação da filósofa contemporânea Djamila Ribeiro no evento TED x São Paulo, falando
sobre romper silêncios, inclusão social e lugar de fala.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=6JEdZQUmdbc. Acesso em: 27 jan. 2021.

Vídeo: O feminismo negro: entrevista com Djamila Ribeiro

Entrevista com Djamila Ribeiro sobre o feminismo negro.

Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=0k1mh7N8Caw. Acesso em: 27 jan. 2021.

SUGESTÃO DE LEITURA
O que é lugar de fala? – Djamila Ribeiro

Nesse livro, Djamila Ribeiro fala sobre um conceito que vem sendo bastante discutido: o
lugar de fala. Na obra, ela questiona quem tem direito a voz em uma sociedade majoritaria-
mente branca, masculina e heterossexual, e nos faz pensar em outros lugares de fala e na
importância de mostrar diversas perspectivas, dando voz a quem realmente deve falar.

Figura 15. Mapa conceitual – Filosofia e os desafios para a Educação atual

MULHERES DA FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA BRASILEIRA

Lélia Gonzalez

Marilena Chauí

Sueli Carneiro

Djamila Ribeiro

Fonte: elaborada pela autora.

108
3. CONTRIBUIÇÃO DA FILOSOFIA PARA UMA EDUCAÇÃO
TRANSFORMADORA
Através deste livro, você já percebeu que, embora seja difícil conseguir conceituar Fi-
losofia, ela é provocadora e serve para nos fazer refletir sobre diversas questões que
4
circundam a vida humana. Ela está presente na política, na ética, na estética, portanto
está presente o tempo todo, inclusive na Educação.

Universidade São Francisco


O ato de pensar em Filosofia, levantar questões, indagar, refletir, nos tira da zona de
conforto e nos faz enxergar várias temáticas de maneira diferente, com uma visão mais
questionadora, que visa à busca pelo conhecimento, pelo saber.

Na Educação, o processo não é diferente; os pensadores que discutiram sobre essa


temática estão presentes em toda a história da humanidade, na busca de aprender e
também de transmitir conhecimento.

A Filosofia vem contribuindo para a Educação há muito tempo, desde a era clássica,
mas, quando se fala de contemporaneidade, ela se fez extremamente presente na Es-
cola de Frankfurt, pois lá grandes pensadores contemporâneos criaram o conceito de
Indústria Cultural e faziam críticas aos governos totalitaristas e como esses governos
utilizavam-se da cultura de massa para ganharem mais poder.

Um exemplo dessa temática é a propaganda nazista, que tinha apelo emocional mostrando
uma Alemanha próspera, mas, para isso estimulava o preconceito e o discurso de ódio nas
pessoas. O resultado, a própria História conta: o maior massacre da história da humanidade.

E o que isso tem que ver com a Educação? Tudo!

É papel da Filosofia contribuir para uma formação mais crítica, humanitária e justa. É
através dela e de seus princípios que se abre espaço para o diálogo, pois, quando há
diálogo, há, então, uma tentativa de exposição de ideias, de construção e desconstru-
ção de conceitos, há espaço para pensar, há espaço para tentar compreender o mundo
de maneira diferente.

A escola deve ser esse ambiente aberto para a conversa e para discussões de todos
os âmbitos, pois é nela que o aluno se insere com os seus conhecimentos em busca de
escolarização e da expansão desse conhecimento. Cabe à instituição de ensino, então,
acolher e promover esses debates.

Levando em consideração os dados do IBGE (2019, [n. p.]), a maioria dos estudantes
brasileiros está na rede pública de ensino. Na fase de creche e pré-escolar, são 74%
das crianças, no ensino fundamental 82%, e ensino médio 87%. (IBGE, 2019, [n. p.]).
Isso significa que a maioria das crianças e dos adolescentes brasileiros frequenta a
escola de ensino público e que para conseguirmos uma melhora global na educação é
necessário, mais do que nunca, investir na escola pública.

Não é incomum alguém ouvir um parente idoso dizer que antigamente a escola pública
era boa e que tinha qualidade, e que hoje em dia não se vê isso. Esse pensamento
do senso-comum é recorrente em muitos lugares, mas verdadeiro é relativo, pois

Filosofia da educação 109


Filosofia e os novos desafios

antigamente a escola pública não era para todos, era seletiva e elitista. Por não ser
obrigatória, muitas pessoas de origem mais humilde não terminavam o então “primeiro
grau” (hoje, ensino fundamental) e já começavam a trabalhar. Atualmente, a escola
pública está longe de ser perfeita e de atingir níveis altos de qualidade em exames
externos e internacionais, mas é melhor do que era antes, porque, hoje, ela consegue
4
englobar a maior parte da população, mais crianças estão na escola e um pouco mais
distantes do trabalho infantil.

Essas crianças que chegam às escolas todos os dias juntamente com sua mochila,
trazem consigo também seus sonhos (os que sabem sonhar), suas angústias e suas
histórias. A escola é, por vezes, o espaço de acolhimento, de alimentação, de discus-
são, de amizade, de integração, de inclusão e de ensino e aprendizagem. Portanto, o
papel do educador e da gestão escolar em si tem se tornado a cada dia mais complexo
e desafiador, pois a instituição de ensino não é apenas um lugar de absorção de conhe-
cimento e conteúdo; há muito tempo, ela tem sido, muitas vezes, a segunda casa das
crianças e adolescentes que ali passam e onde esses jovens acabam por despejar seus
problemas pessoais.

Por mais que o contexto da Indústria Cultural tenha sido criado na Escola de Frankfurt
no século passado, ele nunca esteve tão próximo de escolas da atualidade, devido à
globalização e à propagação desenfreada da internet. É possível enxergá-lo pratica-
mente a todo tempo nas redes sociais, porque através delas o mercado tomou outra
forma, e a melhor maneira de vender, seja um conceito, um serviço ou produto, está nas
plataformas digitais. A propaganda nem sempre tem “cara” de propaganda, pois, por
vezes, o produto aparece como indicação de um influenciador digital.

De certa forma, é possível dizer que a Indústria Cultural se reproduz nas redes sociais,
já que os algoritmos são capazes de nos direcionar para determinada postagem de
acordo com as publicações que curtimos, compartilhamos e comentamos, e assim esta-
mos cada vez mais conectados e mais doentes emocionalmente. Ainda relacionando a
Indústria Cultural da Escola de Frankfurt com a atualidade, a propagação de fake news
tem feito um papel semelhante à propaganda nazista, pois dissemina a desinformação
e o discurso de ódio.

O grande problema é que todos esses conflitos do período em que vivemos não estão
somente no campo virtual, eles saem das telas e chegam dentro das salas de aula e
nesse momento o que o professor deve fazer? Qual é o papel do professor? Qual o
papel da escola? Qual o papel da Filosofia?

Quando a educação é valorizada, professores têm formação continuada, plano de car-


reira e vivem em constante manutenção do conhecimento e aprimoramento, assim são
capazes de lidar com os múltiplos debates em sala de aula. Porém, sabe-se que nem
sempre a prática funciona dessa maneira, portanto responder à indagação anterior não
é tão simples quanto parece, mas a Filosofia pode ajudar.

Todas as questões aqui levantadas são atuais e pertinentes ao cenário de mundo glo-
balizado, são questões que precisam ser refletidas e discutidas dentro do ambiente
escolar, por isso a Filosofia se torna imprescindível, pois é nela que conseguimos a
base para discutir sobre política, ética, estética, ontologia e epistemologia, ou seja, tudo

110
que se faz presente em uma escola. É nela que os debates atuais sobre igualdade de
gênero, sexualidade e questões étnico-raciais vão ser baseados. Através da Filosofia os
alunos poderão debater formas de conhecimento e tornar-se cidadãos críticos e aptos
a discutir as demandas da sociedade atual.

Através dos campos da Filosofia é possível, então, utilizar de conhecimento para com- 4
preender a contemporaneidade.

Universidade São Francisco


Figura 16. Mapa conceitual – uma educação transformadora

CONTRIBUIÇÃO DA FILOSIFIA PARA UMA EDUCAÇÃO


TRANSFORMADORA

` INDAGAR
EDUCAÇÃO
FILOSOFIA ` REFLETIR
EMANCIPADORA
` QUESTIONAR

Fonte: elaborada pela autora.

CONCLUSÃO
Nesta quarta e última unidade, você pôde refletir criticamente sobre as novas tendên-
cias da Filosofia contemporânea e conheceu o conceito de contemporaneidade no sen-
tido do senso-comum e também para a História e para a Filosofia.

No primeiro tópico, você conheceu a Escola de Frankfurt, uma importante instituição do


século XX que se baseava em conceitos do marxismo não ortodoxo para criticar regi-
mes totalitários, como o nazismo, o fascismo e o regime socialista soviético.

Na escola de Frankfurt, Theodor Adorno e Max Horkheimer criaram o conceito de Indús-


tria Cultural, que criticava a produção de cultura como um objeto de consumo que servia
como alienador da sociedade. Neste contexto, Walter Benjamin também contribuiu para
a Escola de Frankfurt e para os estudos sobre a Indústria Cultural, pois ele acreditava
que, mesmo uma obra de arte perdendo sua “aura” quando replicada, servia positiva-
mente como democratização artística.

No tópico 2, você refletiu criticamente sobre os desafios para a Educação contemporânea


e pôde pensar mais profundamente sobre o que é, de fato, uma educação libertadora e
os interesses na educação como um objeto de consumo, assim como a Indústria Cultural.

Além disso, você viu que as mulheres da filosofia não são exatamente uma tendência
contemporânea, que elas já existiam desde a Antiguidade, e conheceu as principais

Filosofia da educação 111


Filosofia e os novos desafios

filósofas brasileiras da atualidade: Lélia Gonzalez, Marilena Chauí, Sueli Carneiro e


Djamila Ribeiro.

No terceiro e último tópico, você refletiu sobre as contribuições da Filosofia para uma
Educação transformadora e pôde relacionar a Filosofia e a Educação novamente. Per-
4 cebeu que a função da Filosofia é levantar questionamentos, fazer indagações sobre
as questões fundamentais da vida e assim tentar buscar conceitos e respostas para
essas perguntas. Dessa forma, não há como excluir a Educação da Filosofia, porque
ambas caminham juntas. Através da Filosofia consegue-se enxergar caminhos para a
Educação atual. Pensando nas temáticas presentes na contemporaneidade e levando
esses questionamentos para a sala de aula, conseguimos fazer da escola um espaço
democrático que busca igualdade de gênero, sexual, étnica e respeito pelas diferenças;
a escola torna-se, então, um espaço de transformação e de busca pela equidade.

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