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SUMÁRIO
UNIDADE 01: EXEMPLO DE TEXTO......................................................................103
FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO
FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO
Marina Leme Rosa
2021
CASA NOSSA SENHORA DA PAZ – AÇÃO SOCIAL FRANCISCANA, PROVÍNCIA
FRANCISCANA DA IMACULADA CONCEIÇÃO DO BRASIL –
ORDEM DOS FRADES MENORES
PRESIDENTE
Frei Thiago Alexandre Hayakawa, OFM
DIRETOR GERAL
Jorge Apóstolos Siarcos
REITOR
Frei Gilberto Gonçalves Garcia, OFM
VICE-REITOR
Frei Thiago Alexandre Hayakawa, OFM
PRÓ-REITOR DE ADMINISTRAÇÃO E PLANEJAMENTO
Adriel de Moura Cabral
PRÓ-REITOR DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO
Dilnei Giseli Lorenzi
COORDENADOR DO NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA - NEAD
Renato Adriano Pezenti
GESTOR DO CENTRO DE SOLUÇÕES EDUCACIONAIS - CSE
Fernando Rodrigo Andrian
CURADORIA TÉCNICA
Daniel Amaro Cirino de Medeiros
CURADORIA INSTITUCIONAL
Maria Helena Peçanha Mendes
DESIGNER INSTRUCIONAL
Luiza Cunha Canto Correia de Morais
REVISÃO ORTOGRÁFICA
Rita de Cassia Sorrocha Pereira
PROJETO GRÁFICO
Impulsa Comunicação
DIAGRAMADORES
Andréa Ercília Calegari
CAPA
Andréa Ercília Calegari
2. Concepções histórico-filosóficas.......................................................................... 12
1. Epistemologia....................................................................................................... 35
2. Ética .................................................................................................................... 38
3. Estética ................................................................................................................ 43
4. Política.................................................................................................................. 48
5. Ontologia.............................................................................................................. 52
1. Filosofia e Educação............................................................................................ 61
1 UNIDADE 1
CONCEITOS BÁSICOS
INTRODUÇÃO
"Conheça-te a ti mesmo”, a icônica frase encontrada no oráculo de Delfos, traduz a
essência do que é Filosofia. O saber é um dos objetos de estudo dessa forma de ver
o mundo e que se utiliza da razão como matéria-prima, e, muitas vezes, ao conseguir
uma possível resposta para uma questão, ela suscita novas questões, por isso os seres
humanos vivem em constante busca pelo saber.
Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/1/1a/Delphi_by_Albert_Tournaire.jpg.
Acesso em: 2 dez. 2020.
E o que é ser um ser humano crítico? É aquele que não aceita as respostas óbvias
sobre as questões fundamentais. É aquele que busca refletir e encontrar os porquês
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dessas perguntas longe do senso comum, amando o buscar a sabedoria mais até do 1
que a possibilidade de uma resposta pronta.
Nesta unidade, você estudará o que é Filosofia, suas concepções a partir do contexto
histórico e os principais autores e correntes filosóficas.
1. O QUE É FILOSOFIA?
Definir Filosofia não é tarefa fácil, nem para os próprios filósofos, pois o senso comum
busca uma resposta para estabelecer definições exatas em relação a esse conhecimento.
É possível dizer que Filosofia é a opção de não ter como óbvias e evidentes as ideias,
coisas e fatos, jamais aceitá-los sem investigar e compreender (CHAUÍ, 2000, p. 9).
E por que se estuda Filosofia? A cultura popular costuma entender que algo somente
tem valor quando há finalidade prática, lucrativa ou utilidade imediata (CHAUÍ, 2000, p.
10). A Filosofia serve então para ser a base da Ciência, porque para existir ciência tem
que existir verdade, e a possibilidade de verdade só é alcançada através de questiona-
mentos, pensamentos e reflexão crítica acerca da realidade.
Diante disso, o caminho para discutir o que é Filosofia é tentar entender o que é o co-
nhecimento e quais são as suas formas.
SUGESTÃO DE LEITURA
Convite à Filosofia – Marilena Chauí
Nesse livro, a autora convida seus leitores a entenderem sobre Filosofia de uma forma práti-
ca e com uma linguagem acessível.
Filosofia da educação 7
Conceitos básicos
O que é belo? O que não é belo? De onde vim? Para onde vou?
Todas as perguntas nos fazem refletir e tentar chegar a pontos de esclarecimento de concei-
tos. Mas, como chegamos a eles? Você já parou para pensar? Por meio de conhecimento.
A seguir, você estudará brevemente cinco tipos de conhecimento: mítico, empírico, te-
ológico, científico e filosófico.
Conhecimento mítico
Saci-pererê, Mula Sem Cabeça, Medusa, Pandora, Titãs: quem nunca ouviu falar em pelo
menos um desses personagens ou de alguma dessas histórias? Alguns deles perpetuam o
imaginário de crianças do Brasil e do mundo inteiro.
Para as pessoas, de modo geral, os mitos primitivos ficam no nosso imaginário como histó-
rias fantasiosas, juntamente com contos de fadas, contos de terror e mistério, entre outras
tipologias. Mas será que mito é realmente isso?
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A resposta para essa questão é não, pois há diferenças entre um texto de ficção e um mito. 1
O mito tem uma razão diferente para existir, é a maneira como os diferentes personagens se
Mito e folclore são confundidos, muitas vezes, pelo senso comum. Enquanto o mito é uma re-
presentação não analítica da realidade que se mostra como possível resposta para o ser hu-
mano com o objetivo de dar uma explicação aos fenômenos da natureza e da vida, o folclore
surge como um conjunto de mitos, crenças, lendas e histórias populares que são transmitidos
de geração para geração e que fazem parte de uma expressão cultural dos povos, não sendo
capazes porém de responder a anseios destes.
Explicações sobre a existência do sol, da lua, da água, da terra, do ar e de tudo que envolve a
natureza e os homens em geral começaram a surgir como mito, uma forma de conhecimento
entre povos que era uma maneira de explicar os fenômenos existentes. Embora diferentemente
do folclore em alguns aspectos, o que há em comum entre eles é que o conhecimento mítico é
sim expresso por meio de uma linguagem simbólica e imaginária (CYRINO; PENHA, 1992, p. 14).
Por meio de linguagem simbólica e, por vezes, imaginária, o mito surge do desejo de enten-
dimento e dominação do mundo para dar fim aos anseios e medos da humanidade, pois, a
partir do momento em que o homem não consegue controlar as forças naturais, ele passa a
dar nomes e contar uma história sobre esses fenômenos.
Conhecimento empírico
Quem nunca se sentiu enjoado depois de comer alguma coisa que não lhe caiu bem? É co-
mum ouvir que o chá de boldo ajuda a melhorar o enjoo e problemas de fígado em geral. O
chá de boldo é, de fato, utilizado há muito tempo por várias gerações, sem que, necessaria-
mente, as pessoas fossem buscar uma explicação científica por trás dos seus componentes
para comprovar efetivamente tal melhora.
Esse é um exemplo de pensamento empírico: embora haja muitas pessoas que se sintam
melhor depois de tomar o chá de boldo, nem todas elas se questionam o porquê de tal erva
ser capaz de melhorar os problemas do fígado e trazer alívio ao enjoo.
Por intermédio do exemplo é possível explicar com efeito mais elucidativo o que é o
pensamento empírico, e que, mesmo não tendo seu valor comprovado cientificamente, é
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Conceitos básicos
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um conhecimento existente, popular, e para algumas questões essenciais consegue se
fazer efetivo.
Na Antiguidade é possível notar pensamentos empíricos nos sofistas (veremos adiante), mas
o mais importante empirista que viveu na modernidade (HESSEN, 2000, p. 41) é John Locke
(1632-1704). Ele afirma que a experiência é a escrita em uma superfície em branco que é a
nossa alma, e que o conhecimento vai sendo adquirido com as vivências, passando por duas
operações: a sensação e a reflexão. A primeira seria a percepção que chega até nós pelos
sentidos, pela experiência sensível, enquanto a segunda é formada por operações internas,
operações da mente.
Conhecimento teológico
“O que há depois da morte?” “O que Deus reserva para nós?” O conhecimento teológico pode
também ser considerado um pensamento religioso, pois este é o tipo de pensamento que se
baseia na fé.
De certa maneira, pelo fato de esse conhecimento envolver a fé, acaba por ir além da possibili-
dade de questionar, como na frase popular “com fé não há perguntas, sem fé não há respostas”
(não há definição de autor), no sentido de que Deus seria a resposta a qualquer pergunta.
O conhecimento teológico busca então uma resposta para o “absoluto” e com isso há uma
possibilidade de apaziguar nossos anseios, que é dada em introspecção. A teoria do co-
nhecimento dentro do pensamento teológico é absorvida em sua totalidade pela metafísica
(HESSEN, 2000, p. 67).
Conhecimento científico
O conhecimento científico é, talvez, um dos mais proeminentes na atualidade, pois ele re-
laciona a lógica, o pensamento analítico e crítico. É nele que as especulações se tornam
teorias sobre a ocorrência dos fatos, quando comprovados através da Ciência, isto é, quando
se consiga comprovar a veracidade ou até mesmo a falsidade de algo.
Esse fato torna o conhecimento científico infalível? Não! Uma vez que as teorias científicas
podem ser comprovadas ou refutadas, isto é, novas ideias comprovadas cientificamente po-
dem mudar teorias antigas que em determinado tempo foram aceitas, o conhecimento cien-
tífico é falível e pode ser verificado.
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De certa forma, o conhecimento científico vive em constante construção e reavaliação, partin-
do do pressuposto de que é um pensamento lógico/instrumental e é elaborado por intermédio
Conhecimento filosófico
Depois de conceituar alguns tipos de conhecimento, chega a vez da Filosofia, que significaria
“amor à sabedoria”. O significado já nos diz alguma coisa, não? Para amar a sabedoria de-
ve-se, então, amar o saber, amar o investigar, o conhecer. Além disso, a Filosofia apresenta
algumas características fundamentais, como a universalidade e a sistematização das ideias
sem a necessidade de provas científicas.
Algumas das principais características do conhecimento filosófico (mas que não se restrin-
gem apenas a elas) são: a capacidade de refletir sobre a humanidade de maneira racional,
conseguir produzir especulações e levantar hipóteses sobre o tema.
SUGESTÃO DE LEITURA
Para elucidar um pouco mais sobre a teoria do conhecimento, você poderá ler o conto “A
alegoria da caverna", retirado do livro A República, de Platão, em que há a conversa entre
Sócrates e Glauco em que imaginam a história de há, no interior de uma caverna, alguns
prisioneiros que estão ali desde o seu nascimento. Na caverna, esses prisioneiros conviviam
com sombras, as quais eram a única realidade conhecida por eles. Certo dia, um dos prisio-
neiros se torna livre, assim, ele começa a explorar a caverna e percebe que as sombras, na
verdade, formadas a partir da fogueira montada para os prisioneiros. O homem, então, sai
da caverna e acaba por conhecer uma realidade inimaginável e muito mais complexa do que
a que havia vivenciado na caverna por toda a sua vida.
Filosofia da educação 11
Conceitos básicos
Esse mito, embora date de 514-517 a.C., continua atual se trouxermos a metáfora para
os dias de hoje. Você já parou para analisar a rede social Instagram? Questionou se
todos os influenciadores digitais têm realmente a vida que apresentam por meio de
suas fotos e vídeos? Refletiu sistematicamente em quantas vezes você já quis com-
prar algo que viu lá, ou sentiu que a sua vida não tem a maior graça comparada com a
desses influenciadores? Essas questões também são inerentes à vida humana, e, em
um aspecto atual, podem até ser consideradas questões fundamentais, uma vez que a
sociedade moderna está cada vez mais digital.
SUGESTÃO DE LEITURA
Neste livro, você conseguirá se aprofundar em algumas das teorias do conhecimento apren-
didas aqui.
HESSEN, J. Teoria do Conhecimento. Tradução de João Vergílio Gallerani Cuter. São Pau-
lo: Martins Fontes, 2000.
2. CONCEPÇÕES HISTÓRICO-FILOSÓFICAS
Entender o contexto histórico em que se desenvolvem as correntes filosóficas é funda-
mental para conseguir perceber quais eram as ideias e os pensamentos que norteiam
os filósofos e as correntes de pensamentos deles, pois estavam inseridos num espaço
e numa cultura que os faziam ter questionamentos pertinentes.
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2.1. PERÍODO CLÁSSICO GREGO 1
O Pensamento Clássico Filosófico é conhecido também como Filosofia Grega Clássica
Depois do Período Pré-Socrático, no chamado então, Período Socrático, que tem como
temas a vida na pólis, os valores humanos, o conhecer, chegamos então a ele, Só-
crates. Sócrates é conhecido como o patrono da Filosofia, pois foi ele que buscou se
aprofundar no estudo racional do homem, da moral e da razão, sem recorrer a mitos;
seu objetivo era, então, buscar conceitos através da razão.
O filósofo disse a frase popularmente conhecida, “Sei que nada sei”, para enfatizar que,
quando chegava a uma resposta para seus questionamentos, muitos outros surgiam;
isso era a maiêutica, ou seja, dar luz as ideias, ou a ironia socrática, a arte do diálogo,
da argumentação e da reflexão até alcançar as ideias verdadeiras e inatas. As reflexões
de Sócrates levaram a Filosofia, de maneira acessível, para as pessoas, fazendo com
que elas tivessem a capacidade de questionar a vida, a moral, a política, o bem e o mal.
Platão, seu discípulo, foi um dos responsáveis e o principal por transmitir o conhecimen-
to e as ideias do seu mestre através de diálogos. Ele usava muitas metáforas e criava
alegorias para explicar seus pensamentos, fazendo o outro refletir e chegar à própria
conclusão sobre determinada temática.
Aristóteles, pupilo de Platão, além de estudar Filosofia com seu mestre, também es-
tudou as áreas biológicas, como botânica e zoologia, quando elas ainda não tinham
esse nome. Seus estudos contribuíram muito para o conhecimento científico. Embora
estudioso da Filosofia, ele foi além de metáforas, afirmando a importância de verificar o
empirismo. Foi através de seus estudos que a Ciência ganhou espaço.
Você verá mais adiante as principais correntes filosóficas e os principais autores per-
tencentes a elas.
Filosofia da educação 13
Conceitos básicos
E o que isso quer dizer? Quer dizer que os principais filósofos dessa época eram homens
religiosos, isto é, de ordem religiosas. No geral, seus objetos de estudo eram as relações
entre os dogmas aceitos pelas crenças religiosas de fé e as descobertas racionais.
Como a Idade Média foi um longo período da História, a Filosofia Medieval ganhou con-
tribuições, em várias fases, por filósofos de dentro da perspectiva religiosa (cristianismo
católico apostólico romano), causando uma subdivisão dentro do Pensamento Medie-
val, e assim foram criadas diferentes correntes filosóficas.
SUGESTÃO DE LEITURA
O livro O nome da rosa, do autor Umberto Eco, foi adaptado para cinema com o filme de
nome homônimo e é uma grande oportunidade de entender melhor como funcionava o Pen-
samento Medieval no Período Escolástico.
ECO, Umberto. O nome da rosa. Tradução de Aurora Fornoni Bernardini e Homero Freitas
de Andrade. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora Record, 2011.
Mais informações sobre o filme O nome da rosa (1986), dirigido por Jean-Jacques Annaud,
está disponível em: https://www.imdb.com/title/tt0091605/. Acesso em: 11 jan. 2021.
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antropocentrismo clássico, nesse caso a valorização do homem e de suas ideias trazi- 1
das, de certa forma, pelo ceticismo e pela ideia de que o ser humano e seu intelecto é
independente das ideias cristãs.
Outro marco histórico da Filosofia Moderna foi a invenção da primeira prensa, feita por
Johannes Gutenberg, que disseminou a informação por meio dos impressos, fazendo
com que mais pessoas, antes não alfabetizadas, se interessassem por aprender a ler e
escrever, e esse fato mudou a história do pensamento moderno e da educação.
De modo geral, o Pensamento Moderno deu espaço para a Ciência e para o conheci-
mento racional, principalmente através do racionalismo, marcado pelo filósofo, cientista
e matemático René Descartes.
Durante esse período, houve muitos pensadores importantes, dentre eles Voltaire, Ale-
xis de Tocqueville, Denis Diderot e Jean Le Rond D'Alembert, sendo os últimos dois os
criadores da enciclopédia.
Filosofia da educação 15
Conceitos básicos
Nessa época os filósofos buscavam conceitos para tentar entender a natureza e os fe-
nômenos naturais, ou buscavam entender o mundo através da natureza. Eles foram os
pensadores que começaram a busca para tentar definir conceitos além das explicações
míticas, isto é, buscavam a racionalidade dentro dos pensamentos e das questões fun-
damentais da época (MARCONDES, 2009, p. 13) – que nesse primeiro momento girava
em torno da origem do mundo.
Durante essa fase da Filosofia, dois termos foram utilizados: o primeiro é cosmogo-
nia (cosmo: universo; gignomai: gênese), ou seja, esse termo buscava explicações e
conceitos por meio da ideia de nascimento entre deuses da mitologia e de forças ge-
radoras (CHAUÍ, 2000, p. 34). Por exemplo, na mitologia grega, Poseidon é conhecido
como o deus dos mares, dos oceanos e das tempestades, o senhor das águas. Por
intermédio desse mito é possível conseguir explicações para algumas questões levan-
tadas sobre as ideias relacionadas a Poseidon.
Tales de Mileto, nascido em Mileto (624 a.C.-548 a.C.), ficou famoso por acreditar que a
água (CHAUÍ, 2000, p. 41) era o elemento principal, a origem de todas as coisas. “Tudo é
água”; através de observação e reflexão ele chegou a essa conclusão racional de que tudo
que existia vinha da água.
Heráclito de Éfeso, nascido em Éfeso, (540 a.C.-476 a.C.), é considerado o pai da dialética.
“Nada é permanente, exceto a mudança.” Acreditava que uma pessoa nunca se banharia no
mesmo rio, pois ele estava em constante mudança. Para esse pensador, o princípio de tudo
se concentrava no fogo. (CHAUÍ, 2000, p. 42).
Pitágoras de Samos, nascido da cidade de Samos (570 a.C.-497 a.C.), é muito conhecido
através do seu teorema – o teorema de Pitágoras. Para ele os números eram os principais ele-
mentos de reflexão (CHAUÍ, 2000, p. 332). Além de suas contribuições matemáticas, Pitágoras
é o autor do termo “filósofo” – aquele que tem amor ao conhecimento.
Parmênides também foi um pensador importante durante a era pré-socrática. Ele nasceu por
volta de 151 a.C., na cidade de Eleia, na Magna Grécia, hoje no sul da Itália. Diferentemente de
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outros filósofos pré-socráticos, Parmênides não apresentou uma teoria baseada na cosmologia
de um princípio. Pelo contrário, já acreditava em uma organização racional do universo.
Sócrates, nascido em Atenas, em 470 a.C., foi um dos pensadores mais importantes de
toda a história da Filosofia. Percebe-se tal importância no fato de a Filosofia ser dividida
em Período Pré-Socrático e Pós-Socrático.
Muitas vezes sua existência chegou até a ser questionada, pois não há escritos de sua
obra (STRATHERN, 1997, p. 12), já que ele valorizava a oralidade. O que se sabe dos
pensamentos e ensinamentos se Sócrates encontra-se nas obras de outros pensado-
res, e principalmente de Platão, seu discípulo, que registrou seus diálogos e ensina-
mentos (STRATHERN, 1997, p. 13).
Sócrates
“Conhece-te a ti mesmo” é uma frase que foi assumida por Sócrates e é encontrada na en-
trada do oráculo de Delfos, que consegue elucidar o pensamento socrático, um pensamento
de autoconhecimento que marcou a Filosofia grega antiga. Essa premissa se interpõe como
elemento que instiga Sócrates, pois ele acredita que para conhecer o mundo é necessário,
primeiramente, conhecer a si mesmo.
“Só sei que nada sei”, outra frase conhecida atribuída também ao pensador Sócrates, le-
va-nos a refletir sobre o saber. Quando o filósofo diz que nada sabe, não é por não saber
de nada ou por falsa modéstia, é por ter conhecimento de que ainda há muitas coisas para
serem descobertas e entendidas, era uma parte de seu método. Ele reconhecia que não
sabia de tudo e reforçava a ideia de autoconhecimento. Só sabe que não sabe de tudo quem
conhece a si mesmo.
O raciocínio socrático foi um marco para a Filosofia, pois marca uma mudança de fase no
pensamento. Enquanto os pré-socráticos buscavam conceitualizar questões pertinentes à
natureza e à criação do mundo, Sócrates traz a ideia do antropocentrismo, de olhar as ques-
tões inerentes ao homem, indagações sobre ética, política, raciocínio e até os sentimentos,
conhecendo a si mesmo (STRATHERN, 1997, p. 22).
A morte de Sócrates foi algo extremamente atípico, pois ele foi condenado ao suicídio. Con-
denado ao suicídio? Sim, exatamente. Isso aconteceu porque Sócrates foi acusado de cor-
romper os jovens atenienses no sentido de que ele estaria influenciando a juventude a não
acreditar nos deuses.
O ato de pensar e de indagar questões inerentes ao ser humano, como política e ética, por
exemplo, incomoda quem está no poder há muito tempo, e esse foi o fator que levou à con-
denação de Sócrates, porque ele começou a fazer com que parte da população refletisse,
questionasse, e por isso ele foi acusado e os políticos atenienses não gostaram.
Filosofia da educação 17
Conceitos básicos
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Figura 03. A morte de Sócrates - Jacques-Louis David Quando levado ao júri, Sócrates
não fez os apelos que eram comuns
àquela época, pois acreditava que, se
os fizesse, estaria partindo do pres-
suposto de que era culpado (MAR-
CONDES, 2009, p. 22). Portanto, ele
aceitou sua condenação à morte, pois
preferia morrer que desmerecer a Fi-
losofia. Sócrates optou pelo suicídio
após ingerir um copo de veneno.
SUGESTÃO DE LEITURA
O livro Fédon, escrito por Platão, narra as últimas reflexões de Sócrates depois da condena-
ção à morte dos seus discípulos e fala sobre a imortalidade da alma.
É um livro extremamente interessante para quem tem vontade de se aprofundar nas refle-
xões de Sócrates através dos escritos de Platão.
Platão
Platão, o principal discípulo de Sócrates, nasceu em Atenas no ano de 428 a.C., e seu nome
verdadeiro era Arístocles, porém ficou conhecido como Platão devido a seus atributos físicos:
ele era um homem forte e Platon significa “costas largas” (STRATHERN,1996, p. 6).
Ele foi um dos mais importantes pensadores da história da Filosofia. O filósofo ganhou evi-
dência por ter escrito a maioria dos textos conhecidos atualmente sobre Sócrates.
Embora Platão fosse discípulo de Sócrates e tenha escrito sobre os ensinamentos do seu
mestre, ele conseguiu aperfeiçoar ainda mais as ideias de seu antecessor e criar novas,
como, por exemplo, a ideia de dialética, com inspiração de Parmênides, que era uma técnica
de extração de conclusão baseada em ideias opostas.
Dentre as principais ideias de Platão, a que mais marcou foi a teoria das ideias (ou das for-
mas) (STRATHERN,1996, p. 22), que trazia ideias dualistas, o inteligível e o sensível. Dentro
do mundo inteligível de Platão estavam o intelecto como essência e também a sabedoria e o
conhecimento. Já no mundo sensível, era o campo das aparências e do conhecimento através
dos sentidos. Em um dos textos escritos por Platão consegue-se perceber essa ideia entre o
inteligível e o sensível: é a “Alegoria da Caverna”, que está presente no livro A República.
Para conhecer um pouco mais sobre as ideias platônicas e sua obra, uma ótima opção de
leitura é “Platão em 90 minutos”, escrita por Paul Strathern, em que ele apresenta as ideias
platônicas de forma resumida e com uma linguagem acessível.
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SUGESTÃO DE LEITURA 1
OS FILÓSOFOS através dos textos: de Platão a Sartre. São Paulo: Paulus, 2003-2004. 331
Aristóteles
O filósofo estudou na academia de Platão até se tornar professor no mesmo local. Mesmo
“bebendo na água de Platão”, o pensador era crítico e foi além de Platão (STRATHERN,1996,
p. 7). De maneira bem genérica, pode-se dizer que as teorias desenvolvidas por Aristóteles
questionam algumas das ideias do seu antecessor, pois, enquanto Platão valorizava apenas
o conhecimento advindo do raciocínio intelectual, Aristóteles passou a valorizar também o
conhecimento empírico.
Com a morte de seu mestre Platão, Aristóteles acreditava que receberia o cargo de ges-
tão da Academia de Platão, porém foi recusado por ser considerado estrangeiro (STRA-
THERN,1996, p. 8). A decepção foi tamanha, que o pensador resolveu mudar-se para Atar-
neu, onde foi conselheiro político.
Depois desse período, Aristóteles voltou a Macedônia em 343 a.C., e Felipe II da Macedônia
o convidou para ser tutor do seu filho, Alexandre, o Grande (STRATHERN,1996, p. 11), pois
o rei queria que o filho fosse um respeitado filósofo.
Depois de alguns anos, em 335 a.C., de volta a Atenas, o filósofo fundou sua escola, intitu-
lando-a de Liceu. Os estudos de Aristóteles, como Platão, discutirão o conceito de belo, da
função das artes. Ele escreveu inúmeras obras que são lidas e relidas por muitas pessoas
da atualidade.
Para conhecer um pouco mais sobre sua obra, sua história de uma maneira resumida e as-
sertiva, uma boa oportunidade é o livro Aristóteles em 90 minutos, do escritor Paul Strathern.
GLOSSÁRIO
arte
ar·te
sf
1 FILOS Segundo Platão, toda forma de conhecimento ou atividade humana racional e utili-
tária, submetida a regras, em oposição ao acaso, ao espontâneo ou ao natural, abrangendo
ciência e filosofia; assim, estabelece dois tipos de arte ou técnica: a) as judicativas, dedica-
Filosofia da educação 19
Conceitos básicos
3.3. MEDIEVAIS
A Filosofia Medieval aconteceu durante o período da Idade Média no continente eu-
ropeu. Era um período da expansão do cristianismo e, por consequência, dos valores
cristãos que não só se expandiam, mas também se consolidavam.
Essa vertente da Filosofia serviu como um conciliador entre esta e a religião, isto é, uma
forma de unir dois pensamentos, a razão e a fé. O Período Medieval contou com valioso
conteúdo filosófico. Mesmo sendo conhecido como um período de trevas, foi um mo-
mento de grande reflexão e produção intelectual, e contou com nomes de pensadores
extremamente importantes dentro da Filosofia.
Muitos filósofos da era medieval eram religiosos ou faziam parte do clero. Neste mo-
mento você estudará os dois principais nomes da Filosofia Medieval: Santo Agostinho
e São Tomás de Aquino.
Agostinho
Santo Agostinho (354- 430) foi um filósofo e teólogo, o mais influente pensador ocidental dos
primeiros séculos da Idade Média, pois ele busca utilizar de artifícios racionais para explicar
a fé, no período denominado como Escolástica, dando suporte racional ao cristianismo.
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O pensador pertencia à corrente filosófica patrística (CHAUÍ, 2000, p. 53), que recebia esse 1
nome justamente por serem os primeiros idealizadores da teologia cristã, que refletiu sobre
Nem sempre ele pertenceu à Igreja, pelo contrário, sempre foi um estudioso e conheceu a
filosofia através de Cícero. Antes de se converter, Agostinho chegou a ter um filho. Ele co-
nheceu o cristianismo por intermédio de Santo Ambrósio, e somente depois dos 30 anos de
idade se tornou membro da Igreja Católica.
Agostinho conseguiu fazer, num momento delicado em que existiam muitas pessoas pagãs,
adeptos da religião católica com a introdução da razão em algumas questões. Conseguiu
influenciar pessoas e mostrar a elas que era possível continuar pensando em questões fun-
damentais, atrelando esses pensamentos às ideias cristãs.
Por meio da prática de disseminar a Filosofia Medieval feita por Agostinho, a Igreja ganhava
espaço também de escolarização através da catequese, e elas praticamente se equivaliam
nessa época. De certa maneira, o conhecimento tinha destaque, e a educação patrística
estimulava a humildade e a resignação para merecer a salvação divina.
Agostinho sofreu a influência de algumas ideias platônicas, como, por exemplo, o dualismo
entre o inteligível e o sensível, porém conseguiu transformar essas ideias dentro do campo
cristão, isto é, adaptou esse dualismo à religião (CHAUÍ, 2000, p. 54).
O filósofo propõe que a filosofia deveria ser uma serva da teologia, ou seja, a razão seria um
valioso instrumento que auxiliaria a fé, pois para ele a fé apenas poderia apontar para a verda-
de absoluta. Pois, ele acreditava que a real justiça só poderia ser encontrada através de Deus.
Tomás de Aquino
São Tomás de Aquino, nascido na Itália, no ano de 1224, foi também, assim como San-
to Agostinho um filósofo e teólogo. Aquino foi o principal filósofo da Filosofia Escolástica
(CHAUÍ, 2000, p. 507). Por ter nascido no fervor da Idade Média, o pensador teve educação
dominicana, ou seja, uma educação voltada para os ideais cristãos, e isso fez com que ele
se tornasse um frade dominicano.
Quando Tomás de Aquino resolveu continuar seus estudos dentro do campo cristão, ele foi
para a Universidade de Paris e recebeu o apelido de “Boi Mudo”, porque quase não falava, era
muito quieto e um pouco robusto. Todavia, essa característica mais tímida se alterou quando
ele conheceu o professor Alberto Magno, também frade e pesquisador de teologia e filosofia.
Alberto Magno percebeu que Tomás de Aquino era um pensador especial, com uma capa-
cidade intelectual excepcional, e enxergou um talento nele a ser explorado. Essa visão de
Magno foi demasiadamente importante, pois Tomás de Aquino tornou-se o maior pensador
da escolástica.
O período escolástico foi fortemente influenciado pelo aristotelismo, constituído pelo ensino
do trívio e do quadrívio, representando os tipos de conhecimento aos quais as pessoas da
corrente escolástica davam mais relevância na época, como, por exemplo, no trívio o ensino
de gramática, lógica e retórica, no quadrívio, música, astronomia, geometria e aritmética.
Filosofia da educação 21
Conceitos básicos
1 da Igreja dos livros aristotélicos, juntar a fé e a razão, pois ele enxergava, nos estudos de
Aristóteles, a possibilidade de combater as heresias.
Figura 04. O triunfo de São Tomás de Aquino –
Benozzo Gozzoli
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Tom%C3%A1s_de_
Aquino#/media/Ficheiro:Benozzo_Gozzoli_004a.jpg.
Acesso em: 2 dez. 2020.
Na visão de Aquino os estudos aristotélicos não excluíam o pensamento cristão, pelo con-
trário, o filósofo conseguiu reunir o que havia de bom e juntar no contexto religioso, isto é,
conseguiu unir a razão e a fé.
3.4. MODERNOS
A Filosofia Moderna começa no Renascimento, isto é, o período de transição entre o me-
dievo para a Idade Moderna, o renascimento de uma cultura clássica, e tem como carac-
terística marcante a mudança dos pensamentos teocêntricos para os antropocêntricos.
Além das ideias de Maquiavel, a Filosofia Moderna foi também estimulante em vários
aspectos. Com a invenção da primeira prensa e o início de uma imprensa, a possibili-
dade de leitura chegou a mais pessoas, influenciando-as a serem alfabetizadas, e isso
trouxe “luz” para a sociedade que vivia naquela época.
Alguns dos nomes mais importantes da Filosofia Moderna surgiram com o Renascimen-
to e suas ideias mudaram a história da Filosofia. Alguns desses nomes são: Descartes,
Hume, Kant, Voltaire, Rousseau, Locke, Smith, Marx, Nietzsche e Diderot e D’Alembert,
22
os quais serão abordados a seguir. Outros nomes que foram muito significativos para o 1
período, são: Espinosa, Hobbes. Bacon, Tocqueville e Freud, que não era filósofo, mas
fez parte e contribuiu com alguns estudos na área.
René Descartes nasceu em Haye, no ano de 1596, e faleceu em Estocolmo, em 1650. Esse
filósofo tem uma importância muito grande para a Filosofia Moderna (MARCONDES, 2009,
p. 81), porque foi responsável pelo início do racionalismo nesta fase.
Descartes, através de suas ideias racionalistas, rompeu com a Filosofia aristotélica e criticou
o ensino de tradição escolástica. Além do campo da Filosofia, com 22 anos de idade ele
iniciou os estudos matemáticos com Isaac Beeckman, o que foi de grande valia para que, no
futuro, desenvolvesse seus estudos sobre geometria analítica através do plano cartesiano,
que serviu de grande contribuição para o mundo. Ele se considerava não só filósofo, mas
também cientista (MARCONDES, 2009, p. 81).
Descartes escreveu sobre a ordem natural do mundo. Nesse texto, intitulado como “Tratado
do Mundo” ele fala sobre o heliocentrismo, mas acaba por não publicar seu trabalho temendo
sofrer retaliações devido à experiência de Galileu Galilei em relação à Igreja Católica sobre
a teoria heliocêntrica.
O filósofo funda o racionalismo como teoria do conhecimento, ou seja, como área de conheci-
mento filosófico que se dedica ao conhecimento humano e busca conceituá-lo. Nesse estudo
pretendia chegar a uma forma de conhecimento válido para entender como o ser humano pensa
e entende o mundo, por meio da rigidez analítica e argumentativa (MARCONDES, 2009, p. 81).
O método filosófico que ele criou está baseado no conceito de ideias inatas, que já nasce com
o ser humano. Com o tempo o ser humano vai acessando essas informações e ideias através
do exercício racional (MARCONDES, 2009, p. 88). Essa teoria desenvolvida por ele está re-
gistrada no livro Discurso do método, em que ele descreve os fundamentos do seu método.
John Locke
John Locke, nascido em 1632, no condado de Somerset, na Inglaterra, foi um grande nome
da Filosofia Moderna e ele foi um dos mais importantes empiristas ingleses, (CHAUÍ, 2000,
p. 88) ele acreditava que as pessoas obtinham o conhecimento através de suas experiências.
O filósofo escreveu o primeiro grande livro que fundamentou o empirismo, intitulado Ensaio
sobre o entendimento humano. Locke com sua teoria influenciou outros filósofos empiristas,
como Hume e Berkeley.
Filosofia da educação 23
Conceitos básicos
1
Ele era contrário à ideia inatista de Descartes (CHAUÍ, 2000, p. 146), isto é, Locke não acre-
ditava que o ser humano já nasce com conhecimento inato, mas que as ideias são fruto da
vivência, que o conhecimento é obtido através de experiência. Locke até dizia que “o homem
é uma tábula rasa”, isto é, uma folha em branco, e com a vivência e experiências do dia a dia
as folhas vão sendo escritas.
Depois de John Locke, outros pensadores empiristas ganharam espaço no Período Moderno
da Filosofia, entre eles David Hume.
David Hume
David Hume nasceu no ano de 1711 e foi um dos principais nomes da Filosofia Moderna
(MARCONDES, 2009, p. 111), principalmente no quesito teoria do conhecimento, pois ele
apresentou uma teoria empirista que revolucionou o debate entre empiristas e racionalistas.
A teoria empirista de Hume diz que há uma experiência sensorial nas nossas vidas que pro-
porciona nosso conhecimento de mundo (CHAUÍ, 2000, p. 293). David Hume parte desse
pressuposto, por causa da experiência prática e da organização racional.
Segundo Hume, quanto mais passa o tempo da sua experiência, mais fraco fica o conheci-
mento, e esse tempo, segundo o filósofo, entre a memória e o conhecimento, quando você
teve sua primeira ideia, deve ser o mais curto possível. Se você pratica a força do hábito
todos os dias, as ideias vão se fortalecendo; se você não a pratica, o conhecimento vai en-
fraquecendo.
Hume também explora o embate sobre subjetividade e formação de ideias gerais. Enquanto
a subjetividade é o olhar de cada um, o eu subjetivo, a maneira como cada um experimenta
as coisas e vê o mundo, as ideias gerais estão ligadas mais à objetividade, à maneira em
comum de as pessoas verem algo. As experiências são particulares para cada indivíduo, e
cada um entende o conceito de suas experiências através de suas vivências, isto é, de forma
subjetiva. Então, como conseguir as ideias gerais dentro desse pensamento subjetivo?
Através desse questionamento entra a parte lógica do empirismo de Hume. Ele diz que cer-
tas estruturas estão guardadas e são compartilhadas. Embora cada um possa perceber de
maneira diferente os conceitos, é possível tirar uma ideia geral em comum entre o sujeito do
conhecimento individual e as ideias em geral (CHAUÍ, 2000, p. 293).
Por meio dessas ideias, Hume praticamente admite que temos duas concepções dentro da
formação das ideias. Uma é a concepção formal da ideia que é obtida através da experiência.
A outra é uma concepção lógica obtida através do raciocínio, inclusive pelo ensino matemático,
das ciências dedutivas. Não partem do conhecimento empírico, e sim do conhecimento puro.
David Hume rejeita a metafísica dentro do campo da Filosofia. Para ele o que nos dá expe-
riência são os fatos. Impressões fortes vêm das sensações e causam experiências fortes;
impressões fracas geram lembranças, que são conhecimentos fracos.
24
Jean Jacques Rousseau – contratualismo (contrato social) 1
Rousseau nasceu na Suíça, em Genebra, no ano de 1712. Logo ficou órfão de mãe e aos 10
O filósofo foi o pensador mais popular da Revolução Francesa e um dos principais influen-
ciadores do pensamento educacional e político moderno. Pertenceu à corrente filosófica do
iluminismo, embora fosse um grande crítico dela.
No ano de 1746, Denis Diderot convidou Rousseau para escrever parte do que viria a ser
uma enciclopédia, algo muito importante para a educação moderna, e a partir daí ele intensi-
ficou sua produção literária filosófica
Ainda sobre esses dois estados, o filósofo fala sobre as desigualdades, a natural e a civil.
Por exemplo, a forma física como nascemos e como nos formamos, para Rousseau, não
representa uma desigualdade, porque não tivemos escolha sobre ela, foi algo natural, isto
é, a desigualdade física por natureza não causa desigualdade (STRATHERN, 1996, p. 15).
A desigualdade social ou política (cívica), muito criticada por Rousseau, causa desigualda-
des, como, por exemplo, quem manda e quem obedece, quem tem e quem não tem, isto é,
questões sociais.
De certa forma, em O contrato social – uma de suas obras fundamentais, Rousseau diz
que, quando todas as pessoas, a partir de um contrato, abrem mão de suas vontades indi-
viduais, forma-se a vontade geral, que é o que detém o poder absoluto, permitindo que as
pessoas participem abertamente nos assuntos do Estado (CHAUÍ, 2000, p. 517). Isso parece
algo comum a você?
Para Rousseau, com o contrato social, a ideia de antigo governo torna-se secundária, pois os
líderes são os delegados da população em geral, e a vontade de todos asseguraria aos indi-
víduos um sentimento de pertencimento e participação aberta em seu Estado (STRATHERN,
1996, p. 23).
No geral, pode-se dizer que as ideias de Rousseau estão presentes na política e na demo-
cracia moderna, isto é, as ideias do filósofo iluminista ainda influenciam a nossa vida em
sociedade. As ideias contidas em O contrato social são a base da democracia que se tem
hoje, por isso algumas de suas ideias nos parecem tão comuns.
SUGESTÃO DE LEITURA
O contrato social – Jean Jacques Rousseau
Você gostou e ficou curioso para saber um pouco mais sobre as ideias de Rousseau? Uma
boa dica de leitura é a sua principal obra: O contrato social.
Filosofia da educação 25
Conceitos básicos
1 Voltaire – iluminismo
François Marie Arouet, conhecido como Voltaire, foi um dos principais filósofos da corrente
iluminista, fazendo parte da chamada Filosofia Moderna. O pensador nasceu no ano de 1694,
em Paris (CHAUÍ, 1984, p. 9).
O filósofo parisiense foi um defensor das liberdades individuais e da tolerância. Para ele,
deveria ser garantida a todas as pessoas a liberdade de expressão, religiosa e política. Por
esse pensamento, Voltaire foi perseguido pela Igreja Católica e teve de deixar a França por
algum tempo.
Quanto à política, Voltaire não concordava com o Antigo Regime, isto é, o poder absoluto
(quando os três poderes ficavam sob a responsabilidade de um monarca). Portanto, ele era
crítico à monarquia absolutista, pois acreditava que um monarca deveria governar tendo
como base as leis, e como conselheiro, alguém que buscasse a razão, e para ele esse con-
selheiro poderia ser algum filósofo.
Outro ponto discutido por Voltaire é a questão religiosa. Ele acreditava que a razão poderia
provar a existência de um deus, porém as duas ideias (razão e religião) buscavam combater
a intolerância religiosa, até porque os antigos reis governavam com base no que o cristianis-
mo pregava, e não na razão em si. O filósofo conseguiu separar a religião e a fé e não viu
nenhum problema em ter alguma crença, em acreditar em algo, desde que essa credulidade
fosse praticada de maneira racional.
Para resumir Voltaire, há uma frase que foi atribuída a ele, mas não há nenhuma comprova-
ção de que foi ele quem disse, mas que de certa forma resume as ideias do filósofo: “Não
concordo com o que me dizes, mas defendo até a morte o seu direito de dizer”. Possivel-
mente essa frase foi escrita por alguém que consegue transmitir suas ideias de tolerância e
respeito às liberdades individuais.
Outros dois grandes nomes do Iluminismo que não poderiam ser esquecidos são: Denis
Diderot (1713-1784) e Jean Le Rond D’Alembert (1717-1783). Ambos são os principais cria-
dores da Enciclopédia Francesa no século XVIII.
Os iluministas, através da enciclopédia, pretendiam levar “luz” às pessoas, queriam que a so-
ciedade tivesse a oportunidade de saber, de ter o conhecimento de todas as ciências que havia
e estavam sendo estudadas, com o objetivo de tirar as pessoas das “trevas” e levar até elas o
conhecimento racional. Essas ideias começaram a transmitir também um ideal de educação.
26
Kant – criticismo 1
Immanuel Kant nasceu em 1724, na cidade de Königsberg, na Prússia Oriental (MARCON-
Immanuel Kant tentou buscar uma reflexão que considere tanto o empirismo (STRATHERN,
1996, p. 11) quanto o racionalismo. Ele acreditava que se deve averiguar e aprofundar as
pesquisas apenas nos assuntos que apresentam essa necessidade, deixando de lado o que
não é tão importante e o que não contribuiria de forma significativa para a Ciência.
Na tentativa de juntar a dualidade entre empirismo e racionalismo, Kant cria a Teoria dos
Juízos (STRATHERN, 1996, p. 21); para ele os juízos são as formas de conhecimento. O
primeiro deles, o juízo analítico, é a forma de conhecimento segura, em que o predicado não
altera o sujeito. Por exemplo: todo quadrado tem quatro lados iguais. Vê-se aqui que se trata
de uma forma de conhecimento segura.
Entretanto, nem todo conhecimento é seguro como o analítico. Então, Kant também fala
sobre o juízo sintético; neste caso, é uma forma de conhecimento insegura, na qual o pre-
dicado pode alterar o sujeito. Por exemplo: “aquele vaso é azul”; o vaso realmente pode ser
azul, mas será que todo vaso é azul? Não! Podem existir vasos de outras cores, o que torna
esse tipo de conhecimento inseguro.
Em suma, Kant conseguiu, por meio da sua Teoria de Juízos, juntar o dualismo entre empiris-
mo e racionalismo, portanto ele se tornou um marco para a história da Ciência e da Filosofia,
porque ele foi capaz de fazer essa ligação entre dois pontos importantes para a Filosofia de
maneira coerente e assertiva.
Adam Smith
Adam Smith (1723-1790), nascido em Kirkcaldy, na Escócia, foi um filósofo social do ilumi-
nismo escocês e economista. Até hoje ele é considerado o pai da economia moderna, do
liberalismo econômico.
Vale salientar que, no século XVIII, a economia não era uma vertente específica, pois
fazia parte da “Filosofia moral”, por isso Smith foi o primeiro filósofo moral a reconhecer
que as ações de mercado deveriam ter um estudo especial dentro das Ciências Sociais.
A economia política só surge como Ciência no final do século XVIII e início do século XIX
(CHAUÍ, 2000, p. 531).
Filosofia da educação 27
Conceitos básicos
1
Na Universidade de Glasgow, Smith se tornou mestre e se encantou com as ideias do libe-
ralismo clássico, do Direito e da Economia Política. Anos mais tarde, Smith conseguiu uma
bolsa na Universidade de Oxford, mas acabou não se formando, pois criticou a instituição e
os professores.
Smith, com A Teoria dos Sentimentos Morais, busca analisar criticamente a moral e a nature-
za humana de seu tempo, tentando entender as motivações para atuar na sociedade.
A riqueza das nações é outro livro escrito por Adam Smith que visa explicar o sistema econô-
mico e as mudanças pelas quais a economia passava naquela época, além de sugerir novos
caminhos diante da Revolução Industrial que estava começando.
A Mão invisível também é um conceito de Adam Smith, feita em forma de metáfora da mão
invisível, que se tornaria a figura mais conhecida da economia, e fala sobre a sociedade
pensar em consumir produtos da indústria nacional, e não da indústria internacional. Os con-
ceitos desenvolvidos por Smith nesse livro são utilizados para explicar as leis de mercado da
oferta e da procura.
De modo geral, o economista e filósofo acreditava que o poder deveria estar mais nas mãos
das pessoas do que do Estado e defendia a igualdade de direito para todos, acreditando que
era errado o governo conceder vantagens para alguns à custa de outros.
Smith considerava descabido qualquer lei que contivesse a produção dos homens e refor-
çava a ideia de que as pessoas devessem buscar de maneira livre seus interesses, partindo
do pressuposto de que não se desrespeitasse o direito de outro. Além da defesa de um libe-
ralismo econômico, em seus textos ele deu destaque à divisão de trabalho, que fortalecia a
ideia de setores, e para ele a concorrência é responsável pela riqueza social e pela harmonia
entre interesse coletivo e privado (CHAUÍ, 2000, p. 531). Suas obras são referências para
economistas e filósofos de todo o mundo até a atualidade.
Karl Marx
Karl Marx nasceu em 1818, em Trier, na então Prússia, hoje Alemanha (STRATHERN, 1996,
p. 6). Foi um filósofo, sociólogo, jornalista, economista e teórico político da Alemanha. Até
hoje é possível dizer que seu nome é polêmico, pois foi ele, juntamente com Friedrich Engels,
que criou uma teoria política que serviu como base para o socialismo científico, porém a obra
de Marx vai muito além da ideia de socialismo.
O contexto social que Marx viveu era o da Revolução Industrial, portanto ele busca interpretar
e criticar o mundo capitalista, até mais do que a própria ideia de socialismo. Ele se ocupou
bastante em sua vida acadêmica em tentar entender as relações dentro do capitalismo.
28
1
Estrutura é a relação do dono do meio de produção (os proprietários) e de seus trabalhado-
res, que são os que vendem a sua força de trabalho para os donos das fábricas. Superestru-
Por exemplo, se trouxermos a teoria de Marx para os dias atuais, a estrutura poderia ser
os dias e horários de trabalho semanais, que influenciaram nas ações que podemos fazer
durante a nossa semana. Algo de lazer, por exemplo, seria colocado para o dia de folga. Em
suma, a cultura que se cria dentro do trabalho influencia também na vida pessoal, ou seja, o
filósofo era um crítico em valorizar mais o trabalho do que a vida pessoal.
Karl Marx acredita que as pessoas devem ter consciência de classe e passar a valorizar
mais a vida do que a produção em massa. Para ele, as pessoas precisam transformar essa
realidade e partir para a luta de classes, transformar as ideias em prática, tendo consciên-
cia de que tudo que foi produzido foi criado pelo homem. Ele busca esclarecer que essas
relações materialistas são contraditórias e que para transformar a história é necessária uma
revolução. Marx procura criar consciência no trabalhador, quebrando a “alienação” (a falsa
consciência feliz) (STRATHERN, 1996, p. 18) para que o trabalhador consiga entender a sua
importância nessa relação material.
Sua obra é extensa e nem sempre fácil de ser interpretada. O filósofo tornou-se popular,
pois a sociedade, em geral, já ouviu falar quem é Karl Marx e tem algumas noções de suas
ideias e obras, mas poucas pessoas de fato o leem e buscam entender o contexto histórico
no qual foi inserido.
As principais obras do autor são: O capital, uma coletânea de quatro volumes em que ele dis-
serta sobre produção e capital, a circulação do capital, a globalização por meio da produção
capitalista e a teoria da mais-valia. A segunda obra famosa feita em parceria com Engels é
O manifesto comunista, em que eles apresentam a teoria de luta de classes e do materia-
lismo histórico. Além dessas duas obras famosas, há outras, como Diferença da filosofia da
natureza em Demócrito e Epicuro, A questão judaica, Miséria da filosofia, A burguesia e a
contrarrevolução, Os 18 de brumário de Luís Bonaparte, Punição capital, A decadência da
autoridade religiosa, População, crime e pauperismo, Manifesto de lançamento da primavera
internacional e Salário, preço e lucro.
Nietzsche
Friedrich Nietzsche nasceu em 1844, em Saxônia, na então Prússia, hoje Alemanha (STRA-
THERN, 1996, p. 8). Era filho de pastor luterano, mas ficou órfão de pai aos 5 anos, sendo
criado com mais dois irmãos por sua mãe. Sua formação foi muito rígida com os princípios
luteranos, porém, no período da adolescência, Nietzsche começou a fazer os primeiros ques-
tionamentos acerca da religião.
Nietzsche foi um filósofo contemporâneo e poeta, e sua obra despertou muita polêmica, pois
ele se dedicou à moral judaico-cristã e nela fez um tipo de comparação das sociedades pré e
pós-cristianismo. Acabou por classificar o cristianismo como fator central do enfraquecimento
humano na era moderna.
Nietzsche, embora fosse um filósofo contemporâneo, tem parte de sua inspiração no Perío-
do Pré-Socrático, aquela fase em que os filósofos se preocupavam com algumas questões
Filosofia da educação 29
Conceitos básicos
1
da natureza em geral e o conhecimento prevalente era o mítico. O filósofo contemporâneo
trabalha com conceito apolíneo (de Apolo) e dionisíaco (de Dionísio) (STRATHERN, 1996, p.
13), em que o primeiro seria o deus grego da lucidez, harmonia e ordem, e o segundo seria o
deus da embriaguez, exuberância e desordem, isto é, eles representavam o oposto entre si.
Em sua obra, Nietzsche diz que, a partir de Sócrates, a sociedade focou mais no conceito
apolíneo do que no dionisíaco isto é, a humanidade se preocupou mais com a razão do que
com a emoção, e isso fez com que fôssemos ao caos, perdendo a humanidade. O objetivo
de Nietzsche busca pelo devaneio, pois para ele a vida é isso.
Uma de suas obras mais polêmicas é O anticristo, pois muitas pessoas fizeram diversas
interpretações sobre ela, umas diferentes das outras. Nessa obra, Nietzsche diz que o cris-
tianismo é responsável por esse sentido infeliz que a humanidade tomou, pois se sustenta
pelo pecado das pessoas, manipulando a salvação como meio de dominação da sociedade,
isto é, o filósofo não era contra Cristo, ele era crítico do cristianismo e dizia que a moral cristã
destruiu a sociedade (MARCONDES, 2009, p. 160).
Um ponto importante em sua obra é a morte de Deus, pois ele diz que a causa principal da
morte dele são as nossas ações, o que construímos de humanidade, pois esquecemos das
origens do que era puro e bonito, ou seja, ele diz que a humanidade matou Deus em nome
de uma razão falha, que o que temos hoje não é aquele Deus puro, pois nas Cruzadas e na
Inquisição, por exemplo, matavam em nome de Deus.
Nietzsche trabalha com a ideia de niilismo, que para o senso comum, é uma espécie de ceti-
cismo, mas para o filósofo o conceito vai um pouco mais além: é uma forma de se distanciar
das crenças impostas pelo cristianismo, de deixar de crer nessa verdade absoluta, descons-
truindo e estabelecendo uma nova base moral onde ela não está interligada com os valores
cristãos, e sim com os éticos.
CONCLUSÃO
Nesta unidade, você estudou os principais conceitos de filosofia em um aspecto geral
para ter uma noção ampla do que significa filosofia e quais são seus fundamentos, em-
bora tenha se percebido o quão complexo é tentar conceitualizar o termo com palavras
e o esforço que muitos teóricos usaram para tentar fazê-lo.
Vale salientar que foram escolhidos alguns dos principais nomes da Filosofia de todos
os períodos históricos. Trata-se de um resumo de suas teorias e obras, que são, de fato,
muito maiores e mais complexas do que a síntese aqui apresentada. Portanto, se você
se interessou por a teoria de alguns desses filósofos, a sugestão é que se aprofunde
nos estudos desenvolvidos por eles.
30
SUGESTÃO DE LEITURA 1
É uma boa opção para quem deseja conhecer um pouco mais sobre algum pensador
especificamente.
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Filosofia da educação 31
Conceitos básicos
32
Filosofia da educação
33
1
UNIDADE 2
2
CAMPOS DA FILOSOFIA
INTRODUÇÃO
Quando você pensa em Filosofia, o que vem a sua mente? Partindo do pressuposto de
que conhece o significado da palavra, diria que é “amor pela sabedoria” ou “amor pelo sa-
ber”, mas o que de fato isso significa? Será que só há uma maneira de entender Filosofia?
Nesta unidade, “Campos da Filosofia”, você verá que, há muitos e muitos anos, a Filo-
sofia englobava vários estudos sobre diversos tipos de conhecimento, como, por exem-
plo, o que hoje conhecemos por física, matemática, química, biologia e até medicina
eram, de certa forma, parte da Filosofia, porque dentro de todas essas áreas havia algo
em comum: a curiosidade pelo saber, a arte de investigar, de querer buscar “respostas”
para as questões fundamentais da vida.
Algumas das questões fundamentais que você conhece e que levam o ser humano
em busca de conhecer a realidade, podem, muitas vezes, ser refletidas por um desses
campos que a Filosofia tem.
Quando fazemos a pergunta a nós mesmos, “Quem eu sou?”, o que lhe vem à mente?
Sua profissão? Idade? O que você faz? Mas se parar para analisar mais profunda-
mente, como você responderia a essa pergunta? Onde iria buscar respostas? Você é
somente a sua idade e a sua profissão?
E quando questionamos “O que é belo?”, tentamos buscar qual resposta? Seria essa
uma questão de opinião? Entendemos o quão essa pergunta é subjetiva, mas onde
conseguimos buscar uma resposta para esse questionamento de maneira plausível? E
a ideia de feiura? De onde vem? Quem criou o padrão de beleza?
O que você fez é certo? O que ele fez está errado? Com qual fita métrica você mede o
que o outro fez? Seria com a mesma precisão que mede o que você mesmo fez? Como
responderia a perguntas como essa? Com qual balança você julga as ações do outro
e a sua própria ação? Onde buscaria respostas coerentes para questões como essas?
“De onde eu vim?”, “Para onde eu vou?”; indagações como essas são comuns desde
que nascemos e nos entendemos como seres humanos, mas onde buscar resposta
para tais questões? Na religião? Na ciência? Nos dois? Qual deles é mais importante e
qual é mais eficaz? Será que há resposta para isso? Será que há o mais eficaz?
34
comum? Será que o que é bom para você pode ser bom para o seu vizinho? Será que
todas as ações pensadas para a sociedade, em geral, englobam, de fato, todas as pes-
soas? Como englobar todas as pessoas em prol do que é o bem dentro de um mundo 2
tão diversificado e globalizado?
1. EPISTEMOLOGIA
A Filosofia, como área de estudo, tenta encontrar soluções para as indagações da vida.
Tendo em vista tamanha complexidade para tais questionamentos, você pode observar
que a Filosofia é subdividida em campos.
Essa busca por entendimento, para a epistemologia, gira em torno de três perguntas:
(1) Qual é a ideia de conhecimento? (2) Quais são as fontes de conhecimento? (3)
Quais são as possibilidades de conhecimento?
A epistemologia já existia enquanto conceito inclusive nas ideias dos pensadores clássi-
cos como Platão. Para ele, a epistemologia se opõe à crença, pois enquanto a primeira
trata de um conhecimento fundamentado, a segunda diz respeito a um ponto de vista
subjetivo (PLATÃO, 1991, p. 3).
EXEMPLO
Uma pessoa que acaba de ser diagnosticada com câncer – através da ciência dentro da área da
medicina, ela conseguirá seguir um tratamento adequado para a doença. Mas a pessoa também
pode acreditar que, com a crença em determinada entidade religiosa, ela pode se curar.
Filosofia da educação 35
Campos da Filosofia
Para o exemplo anterior não há uma resposta certa nem como se obter uma resposta
absoluta. A sociedade, de maneira geral, responde questionamentos mais profundos
como esse com base no que acredita sobre ciência e religião, além da possibilidade de
ambas andarem juntas para determinados indivíduos.
Durante a Modernidade, a discussão sobre epistemologia passou a ser feita por duas
vertentes da teoria do conhecimento, que são opostas: o empirismo e o racionalismo,
porque os pensadores empiristas acreditavam que o conhecimento era assimilado por
meio da experiência, da vivência, enquanto os racionalistas acreditavam que o conhe-
cimento se dava a partir da racionalidade.
Dentre os filósofos racionalistas, René Descartes é um dos principais nomes, pois é ele
o pensador que busca a razão de todas as formas através de sua dúvida metódica, isto
é, para conseguir chegar a uma exatidão é necessário colocar todo o conhecimento em
dúvida e nunca aceitar algo como verdadeiro (DESCARTES, 2013, p. 14).
Por meio dessa estratégia de pensamento, Descartes chegou à conclusão de que a úni-
ca coisa sobre a qual não cabia dúvida era o pensamento, ou seja, mesmo colocando
todas as coisas que sabia em dúvida, a única que não restava era de que ele era capaz
de pensar (DESCARTES, 2013, p. 22). Portanto, ele percebeu que a racionalidade era
o início pelo qual todas as afirmações poderiam ser realizadas.
No debate entre racionalistas e empiristas, John Locke surge com ideias contrárias às
de Descartes. Locke é um dos principais nomes do empirismo e afirma que o pensa-
mento humano é como uma “tábula rasa”, e através dessa frase ele reafirma que a fonte
viável de conhecimento, para ele e para os empiristas da Modernidade, é a experiência
(CHAUÍ, 2000, p. 88).
No ponto de vista do filósofo empirista, é o passar do tempo e as experiências que vão nos
passando o conhecimento necessário para responder (ou não) às questões fundamentais.
O embate entre os filósofos racionalistas e os empiristas perdura por algum tempo, até
Kant surgir com uma outra perspectiva, sugerindo, então, que o homem se torne o prin-
cipal elemento a ser discutido.
Kant, através de sua “teoria dos juízos”, conseguiu propor uma teoria que contemplava
as ideias dos pensadores empiristas e racionalistas, dando a devida importância às
duas formas de pensar e obter conhecimento.
36
1.1. CIÊNCIA & EPISTEMOLOGIA
Todas as discussões que giravam em torno de como o ser humano adquiria o conhe- 2
cimento e a discussão entre pensadores racionalistas e empiristas, juntamente com
as ideias de Immanuel Kant, colaboraram para construir a ideia que temos hoje sobre
A ciência, de maneira geral, inicia suas pesquisas como uma hipótese, ou até uma supo-
sição (de uma ideia racional), e depois se começa a investigar e experimentar (vivências,
experiências) até de fato se tornar uma tese, e assim é formado um pressuposto científico.
EXEMPLO
O mundo vive uma pandemia de Covid-19 para a qual todas as pesquisas são muito recentes
e estão passando por constantes mudanças através da observação de pesquisadores em
relação às pessoas que já foram infectadas e das que estão infectadas.
O conhecimento que se tem sobre transmissão do vírus foi adquirido de maneira testada
cientificamente e por meio de experimentos.
Esse conhecimento que temos até o presente momento pode ser refutado por especialistas
que também estejam estudando o contágio e a maneira como o vírus age e infecta as pessoas.
Os estudos não podem ser questionados por uma pessoa que acredita que o vírus não é
contagioso, porque teve contato com alguém que estava infectado e não ficou doente, pois isso
seria opinião, especulação, e ciência se refuta com ciência, e não com suposições, palpites.
SAIBA MAIS
Epistemologia (teoria do conhecimento) – Brasil Escola
Filosofia da educação 37
Campos da Filosofia
Figura 01. Mapa mental da epistemologia – síntese de autores e teoria sobre como
adquirimos conhecimento.
2
EPISTEMOLOGIA
` Como adquirimos conhecimento
2. ÉTICA
Como podemos perceber, a Filosofia é dividida em alguns campos muito importantes
de estudos e a ética é um deles. Os conceitos filosóficos de ética estão presentes na
sociedade desde a época clássica, na medieval, na moderna e também na contem-
porânea, pois ora ou outra nos deparamos com algumas questões que se enquadram
nesse campo.
Sempre que algum crime acontece envolvendo menores de idade, a sociedade se volta
para a questão da redução da maioridade penal, e algumas pessoas se baseiam em
experiências próprias e opinam sobre o assunto, mas será que somente a opinião é im-
portante quando se trata de uma questão como essa? Neste momento, recorre-se aos
estudos sobre ética. O que é certo? O que é errado? Será que na sua opinião o crime
cometido pelo outro deve ser julgado da mesma maneira como seu filho ou ente familiar
seria julgado, caso o cometesse?
Vale salientar que assuntos que envolvem a ética, como os exemplos citados, são, mui-
tas vezes, apresentados em alguns livros didáticos escolares com o objetivo de discutir
38
a ética e o pensamento crítico para a elaboração de redações de vestibulares, ou seja,
o debate ético se faz importante e presente no âmbito escolar e educacional.
2
No contexto histórico da Filosofia, há três diferentes momentos, com diferentes pensa-
Dessa maneira, Aristóteles acreditava que viver eticamente é o objetivo dos seres humanos,
um exercício na coletividade que busca a felicidade, que para ele seria o que de concreto o
homem tem de melhor (STRATHERN, 1996, p. 14). De certa forma, entende-se que a ética
é buscar o bem maior. Ele dividiu a ética em duas perspectivas: a razão e a justa medida.
A razão serve para buscarmos a ética; para o filósofo, nós precisamos ser portadores
dela, pois a consciência nos dá segurança para discernir entre o certo e o errado. Já
a justa medida, ou meio termo, é o saber agir sem excessos, evitando extremos. Uma
pessoa ética e feliz é aquela que age com prudência na vida, evitando exageros e bus-
cando respeitar os outros.
Ainda na visão de Aristóteles, a ética é um valor tanto social como individual, a busca
pelo sumo bem. A política está ligada a valores coletivos, o bem comum. A política, de
certa forma, está ligada aos interesses de estado e ao conjunto de bem-estar coletivo.
Assim como a ética aristotélica, a utilitarista vai em busca de maior felicidade, porém
ela preza por um cálculo moral; isso significa que a felicidade dentro da ética utilitarista
não é a felicidade embasada em virtudes defendida por Aristóteles, e sim uma felicidade
que busca valores coletivos.
Os principais nomes do pensamento utilitarista são Jeremy Bentham e John Stuart Mill.
Filosofia da educação 39
Campos da Filosofia
John Stuart Mill nasceu em 1806, em Londres, na Inglaterra. Foi um influente pensador
do século XIX, tendo o utilitarismo como ideologia, e destinou parte da sua vida ao es-
2 tudo de questões sociais.
Figura 02. Trilhos Em linhas gerais e breves, eles defen-
dem que o ser humano busca por pra-
Fonte: 123RF.
zeres, que são divididos em prazeres
intelectuais e prazeres sensoriais. Para
eles, o intelectual fica em primeiro pla-
no, porque dura mais tempo, e o sen-
sorial fica em segundo plano, porque
perdura por menos tempo. Além disso,
uma maneira de resumir a ética utilita-
rista é: aquela que beneficia o maior
número de pessoas. Mas será que isso
é sempre eficiente?
Imagine que você ficou responsável por um trem e que ele perde o freio. Você olha a
sua frente e vê cinco pessoas no trilho que vão ser mortas porque o trem não consegui-
rá parar, mas você olha ao lado e tem a opção de mudar de trilho, só que nesse trilho
também há uma pessoa que será morta. O que você faria? Sacrificaria um para salvar
cinco? Mudaria algo se esse um fosse um membro da sua família ou um amigo?
SAIBA MAIS
Para entender ainda mais, você pode assistir ao episódio 5 da segunda temporada da série
The Good Place, disponível na Netflix, em que um professor tenta explicar o que é ética atra-
vés do dilema do bonde.
The Good Place. 2ª temporada. Episódio 5. Direção: Dean Holland. Produção: Fremulon, 3
Arts Entertainment e Universal Television. Netflix, Estados Unidos, 2017 (23 min), son., color.
Netflix. Acesso em: 27 jan. 2021.
Immanuel Kant é conhecido pela sua “teoria dos juízos”, na qual consegue, de certa
maneira, interligar o empirismo e o racionalismo, mas, quando Kant resolve falar de
ética, ele retoma alguns conceitos e apresenta outros muito importantes para fazer uma
reflexão acerca do mundo.
40
Imperativo hipotético
Diz respeito às ações justificadas em detrimento da finalidade ou da paixão, mas que não 2
têm necessariamente a racionalidade ética envolvida. Por exemplo: quando você sabe que
Imperativo categórico
Relaciona-se às ações movidas pela racionalidade. Nesse caso, é a razão que movimenta a
ética dentro de uma razão genuína, e que acaba se tornando mais embasada em regras de
conduta, pois apresenta limites e de maneira ampla é possível viver em comunidade quan-
do se tem ética de maneira categórica. No imperativo categórico, as ações são feitas em
conformidade com a máxima de tornar-se uma lei universal (CHAUÍ, 2000, p. 444). É nesse
conceito de imperativo categórico que é pautada a ética.
Definida a ética kantiana, esta se torna ainda mais complexa quando ela se divide em ética
a priori e ética posteriori.
Ética a priori
É a ação que vem antes da ética em si, como, por exemplo: você quer fazer algo, mas
ainda não sabe o que fazer, porque não viveu essa situação anteriormente. Segundo
Kant: “a priori quer dizer anteriormente a toda percepção de um objeto, e, por conseguin-
te, ser pura e não empírica” (KANT, 2001, p. 33). Nesse momento, você julga apenas o
que não sabe, pois ainda não experienciou, e com isso pratica uma espécie de julgamen-
to moral do que desconhece.
A ética a priori acaba por ser a moral e a moral é um conjunto de fatores, regras e costumes
inseridos por uma sociedade em geral, isto é, a moral são valores que a sociedade tem como
construção tradicional. Segundo Kant, ela pode ir de encontro com os sentimentos, inclina-
ções e paixões, e por isso ela não seria nunca uma ciência (KANT, 2001, p. 60). Um exemplo
é que, em algumas sociedades, mesmo o Estado sendo laico, algumas leis são baseadas em
princípios religiosos, como, por exemplo, a discussão sobre aborto.
Ética a posteriori
Filosofia da educação 41
Campos da Filosofia
Um exemplo atual que consegue nos fazer pensar na ética kantiana são os da reporta-
gem a seguir:
REFLITA
No dia 1o de dezembro de 1955, uma senhora de 42 anos chamada Rosa Parks se negou a
ceder seu lugar para um homem branco dentro de um ônibus nos Estados Unidos.
Para contextualizar: No Alabama, no ano de 1955, havia uma lei que reservava a pessoas
brancas as primeiras filas nos bancos de transportes públicos. Nos bancos traseiros negros
podiam se sentar, desde que nenhum branco estivesse de pé.
Nesse dia, a costureira Rosa Parks tomou uma condução na volta de seu trabalho, a caminho
de casa, e se sentou em dos lugares do meio.
Após algum tempo, o motorista ordenou para que ela e outros três negros saíssem de seus
assentos para dar lugar a pessoas brancas que haviam entrado no ônibus.
A mulher resolveu negar a ordem e foi levada à prisão. Sua prisão tomou uma proporção
enorme e foi o ponto alto que iniciou a luta contra a desigualdade racial, depois conhecida
como Movimento pelos Direitos Civis.
Depois de mais de um ano, no dia 21 dezembro de 1956 a Suprema Corte dos EUA declarou
inconstitucional a segregação de raças nos transportes públicos de todo o país. A atitude de
Rosa Parks foi extremamente representativa pois mudou a lei que estava em vigor.
Mesmo que a segregação racial, naquela época, fosse algo moral, através do pensa-
mento ético e da reflexão sobre as regras vigentes, percebeu-se que a situação era
antiética e isso fez com que se pudesse modificar os códigos morais existentes.
42
A lei foi mudada após um movimento reflexivo e de muita luta do povo negro. Depois de
mais de um ano, no dia 21 de dezembro de 1956, a Suprema Corte dos Estados Unidos
alterou a lei e declarou inconstitucional a segregação de raças nos transportes públicos 2
de todo o país.
Ética
` Aristotélica, utilitarista e kantiana
Dois momentos:
Felicidade
Aristotélica “sumo bem”.
Razão & Justa
Medida.
Cálculo moral,
Como diz o próprio
Utilitarista nome: “deve ser útil”.
felicidade em
valores coletivos.
Filosofia da educação 43
Campos da Filosofia
Na Filosofia, é possível dizer que esse é um ramo que estuda a arte, as formas dela
e como acontecem os processos de criação do que conhecemos por obras artísticas,
2 aliás ela também busca compreender as relações sociais envolvidas no meio da arte,
da ética e até da política. Hoje, esta área intitula-se como Filosofia da Arte.
Para conseguir entender melhor o que é de fato a ideia de estética na Filosofia, é ne-
cessário traçar um panorama histórico que compreenda mais assertivamente a ideia em
diversos momentos e por diversos pensadores. Sendo assim, podemos dividi-lo em clás-
sico, medieval e moderno, embora o conceito de estética tenha surgido somente no perí-
odo moderno com o filósofo Alexander Baumgarten (1714-1762) (CHAUÍ, 2000, p. 411).
Neste momento, você passará brevemente por alguns contextos históricos na estética.
Platão
Platão, através da sua teoria das ideias, apresenta o problema filosófico das definições, isto
é, a compreensão da realidade em dois planos: o inteligível e o físico. Ele consegue trazer
essas ideias para a Filosofia da Arte, isto é, para a arte dentro do campo da estética, que para
ele é a imitação das coisas sensíveis (CHAUÍ, 2000, p. 413).
Segundo Platão, há, no mundo, vários objetos que são percebidos através das nossas sen-
sações (olfato, paladar, visão, audição e tato). A grande questão é que, para o filósofo, essas
sensações nos dão a impressão dos objetos, mas não explicam quais são as essências
deles, o que são os objetos propriamente (PLATÃO, 1991, p. 23).
Platão coloca então em notoriedade a teoria das ideias, que visa acessar o mundo dos con-
ceitos, das idealizações, por meio de uma realidade diferente, através do raciocínio, para ab-
sorver toda a existência e essência desses objetos e tentar entender como eles são sentidos.
Na ideia platônica, todos os objetos existentes acabam por ser cópias imperfeitas dos con-
ceitos que temos através das nossas ideias. Por exemplo: quando eu vejo o objeto “vaso”,
o que está na minha frente é uma cópia da ideia de quem o produziu. Isto é, para Platão, o
objeto é cópia da cópia.
Partindo desse pressuposto, o pensador acaba por criticar a arte, pois acredita que todo o
mundo material é uma cópia do mundo das ideias, do idealismo. O mundo material é imper-
feito, porque é dessemelhante, uma cópia que não condiz com a ideia original. Em suma, ele
acredita que a arte imita o mundo material e, de maneira geral, as obras são imitações da
realidade sensível.
Aristóteles
Aristóteles, através de sua teoria do conhecimento, discorda da ideia de Platão sobre o du-
alismo entre o mundo sensível e o inteligível. Ele acredita que essa visão é insuficiente na
concepção de arte.
Para Aristóteles, a realidade material tem grande valor, pois se consegue o conhecimento
por meio da apreensão dos sentidos, e a partir disso nós obtemos conhecimento, inclusive o
conhecimento racional.
44
Na visão aristotélica, a arte faz a imitação, a cópia o que coincide com a visão de Platão
sobre a vida, porém a arte traz diversas possibilidades, pois cada ser humano pode, através 2
das artes, imaginar e se colocar em várias situações diferentes, isto é, a pessoa é capaz de
se colocar na realidade da arte, e assim acontece a catarse (a purificação, a libertação), que
Ainda nesse contexto, a imitação artística, seja ela por meio das artes plásticas, da literatu-
ra, do teatro, entre outros tipos de artes, pode ajudar o ser humano a ver opções, pois em
contato com a arte e por decorrência da catarse o homem se identifica com a obra, ou seja,
aprende-se sobre a vida por meio da observação da arte.
Para o pensador, a tragédia, como peça de teatro, era uma das melhores maneiras de fazer
arte, pois ela apresenta situações dramáticas que somente os heróis dotados dos melhores
predicativos e muito capacitados conseguiriam resolver. Chegavam a um final que até po-
deria ser trágico, mas apresentava uma solução virtuosa para aquele problema que ocorria
dentro da narrativa. Na visão aristotélica, a tragédia prepara o ser humano para a vida em
sociedade. Nas palavras dele: “É pois a tragédia imitação de uma ação de caráter elevado,
completa e de certa extensão, [...] não por narrativa, mas mediante atores, e que, suscitando
o “terror e a piedade, tem por efeito a purificação dessas emoções” (ARISTÓTELES apud
DUARTE, 2012, p. 37).
3.2 MEDIEVAL
O conceito do que é belo e da estética também se fez presente dentro da Filosofia me-
dieval. Nesse contexto unindo a fé e a razão, a ideia de beleza também se encontrava,
porém, dessa vez, em um cenário cristão.
Santo Agostinho, um dos filósofos mais importantes da Idade Média, também fez con-
tribuições para o campo da estética na Filosofia. Agostinho traz novamente a ideia do
dualismo de Platão para sua visão de belo no medievo.
Para o filósofo medieval, a beleza está na bondade de Cristo, e isso pode ser comprova-
do pela ordem das coisas na natureza e a beleza das proporções do universo (AGOS-
TINHO, 1993, p. 1041). Além da influência de Platão, no quesito da estética, o filósofo
sofre influência de Pitágoras, pois acredita que o número é belo. É o que se percebe no
trecho do Diálogo sobre o livre-arbítrio:
Contempla o céu, a terra, o mar e todos os seres neles contidos, brilhando
nas alturas ou rastejando a teus pés, voando ou nadando. Todos possuem
beleza, porque têm seus números. Suprima-os e eles nada mais serão.
Logo, de onde vêm eles, a não ser daquele de onde procede todo número?
Visto que o ser que neles está não existe a não ser na medida que realiza os
números que possui. (AGOSTINHO, 1995, p. 128)
Embora acreditasse no belo quanto às suas formas e números, ele também fazia uma
distinção entre a beleza sensível e a inteligível, assim como Platão. A beleza era um
bem divino, por isso, então, as ideias de Platão foram retomadas. Agostinho troca a
ideia de ideal de Platão para a ideia de divino, portanto o que é belo para ele é o que é
divino para a religião cristã.
Filosofia da educação 45
Campos da Filosofia
Vale salientar que, durante a Idade Média, a arte foi usada a serviço da fé e da evange-
lização, como uma ferramenta da expansão do cristianismo. A arte passou a ter carac-
2 terísticas próprias nessa época, nos tons das pinturas, nas esculturas, havia uma ideia
de perfeição e do que era belo atrelado à inspiração divina.
3.3 MODERNO
Com a chegada do Renascimento e das ideias iluministas, a noção de belo se modificou
e buscou uma separação da visão religiosa que havia na Idade Média. Nesse momento,
a ideia de estética tentava se relacionar diretamente com o que é real, deixando de lado
a ideia de divindade.
Alexander Baumgarten
Um nome muito importante para a estética é o filósofo alemão Alexander Baumgarten, pois
foi ele quem conceituou a estética como um dos campos da Filosofia.
Anteriormente a Baumgarten, a ideia do que é belo estava distante da reflexão filosófica e era
considerada “à margem de análises temáticas exclusivas” (CECIM, 2014, p. 3). Isso ocorria
porque o belo não era uma vertente separada da Filosofia; as questões relacionadas ao belo
entravam nas questões éticas.
Vimos que, na Filosofia platônica, o belo era uma maneira como o homem se direcionava ao
que era moral e perfeito, mas a arte era a cópia da cópia e ocorria através do dualismo entre
o sensível e o inteligível. Depois, na época medieval, o belo estava ligado à religião e a tudo
que se aproximasse do divino. Nesse cenário, Baumgarten sentiu a necessidade de concei-
tuar a estética como uma disciplina filosófica, separando a ideia de estética de belo e bem.
O filósofo divide o espírito humano em duas faculdades: superior e inferior, a primeira tratando
de temas metafísicos e a segunda, que necessita da ajuda do intelecto, é o conhecimento tido
como sensível (CECIM, 2014, p. 5). Ainda para Cecim, citando Baumgarten, a estética é “a arte
de pensar de modo belo, é análoga a razão: portanto, a estética, como ciência do conhecimen-
to sensitivo, [...] se relaciona com o conhecimento conceitual e abstrato” (CECIM, 2014, p. 6).
A estética kantiana
Immanuel Kant, como filósofo, contribuiu para vários campos da Filosofia, e a estética tam-
bém foi um deles. Ele sugeriu uma mudança significativa no que diz respeito à arte. O pen-
sador colocou três pontos importantes para ver a arte no seu conjunto.
É por intermédio da estética kantiana que a arte se responsabiliza também como sendo
parte da comunicação com o interlocutor, e para o filósofo a arte para existir depende de: um
46
criador (o artista), responsável pela criação do belo (LEAL, 2015, p. 10), que é sua obra de
arte; e o público, cujas artes consome. 2
Através da Filosofia, Kant apresenta uma ideia de que o gosto sobre algo não é subjetivo
De modo geral, pode-se dizer que Kant afirma a ideia de que gosto é discutível e vai contra
a ideia de que cada ser humano tem seu próprio gosto, porque apesar da subjetividade do
gostar de algo, há a necessidade de universalizar o que ele chama de juízo de gosto (LOPES,
2010, p. 76) a partir da aceitação do outro sobre a mesma opinião.
Em resumo, Kant afirma que, para algo ser considerado belo, é preciso compreender o que
realmente ele é, antes de tudo. A noção de belo é real e afirmada de maneiras diferentes em
cada pessoa. A universalidade está no compartilhamento desse sentimento de comunhão do
que é belo, que seria a somatória do que é imaginação e entendimento referente às obras
(LEAL, 2015, p. 6).
Estética
` A ciência que estuda a percepção sensorial.
Período Clássico
Período Medieval
Filosofia da educação 47
Campos da Filosofia
Período Moderno
2
Alexandre Baumgarten: criador da palavra estética. Separa o con-
ceito de belo do "bem" e cria a ideia de Faculdade Superior (temas
metafísicos) e Faculdade Inferior (há ajuda do intelecto - há conhe-
cimento sensitivo)
4. POLÍTICA
Você já deve ter ouvido alguém falar “política, futebol e religião não se discutem”, não
é mesmo? Essa afirmação é muito utilizada pelo senso comum quando algum assunto
polêmico referente à política local ou mundial ganha destaque. Mas, será que essa
afirmação é coerente?
A maneira como você foi acordado, o celular que o despertou, o que você comeu (ou
não) no café da manhã, a maneira como foi trabalhar (meio de transporte, combustível)
ou estudar, ou se você está desempregado, tudo isso é política. Viver é um ato político.
Então, como não discutir?
Figura 06. Múltiplos caminhos Como não falar sobre política, quando fala-
mos sobre o número de desempregados?
Fonte: 123RF.
48
É por isso que a Filosofia também estuda esse campo tão importante para fazer ques-
tionamentos e buscar conceitos, mas que se difere da ciência política, pois a Filoso-
fia não visa formar conhecimento científico nessa área, e, sim, a problematização das 2
questões fundamentais. Pode-se dizer que a Filosofia Política auxilia como instrumento
GOVERNO ESTADO
Vale salientar que Governo e Estado são conceitos diferentes. Enquanto o Estado é
toda a máquina pública, todos os órgãos públicos e o que separa o que pertence e o
que não pertence ao coletivo e fixo, isto é, não passa por mudanças, a não ser que
essas mudanças sejam votadas pelo coletivo, o Governo é o contrário disso, não é fixo,
é transitório. No Brasil, por exemplo, a população vai às urnas a cada quatro anos para
escolher seus representantes de maneira democrática (escolhe o governo), ou seja, os
governantes e suas bases de governo são transitórias, diferentemente do Estado.
Filosofia da educação 49
Campos da Filosofia
Nessa obra, ele já falava, inclusive, sobre política de educação que deveria ser totalmente
2 responsabilidade do Estado. O pensador também chegou à conclusão de que a pessoa que
deveria governar o Estado seria quem tivesse mais aptidão intelectual, uma espécie de “rei
filósofo’’, com mais instruções ao longo da vida.
Aristóteles também tinha uma teoria e seus estudos na área política, que focavam em sua
prática. Para ele, juntamente com a ética, pois o filósofo acreditava em uma forma de governo
democrático e que só através dela a sociedade conseguiria ser mais justa.
Mesmo sua existência datando de centenas de anos antes de Cristo, isto é, há milhares de
anos, ele já pensava que o ideal para esse bem em comum era a separação dos poderes,
isto é, separação entre quem governava e os cidadãos que legislavam. Essa ideia já era algo
incomum para a época em que ele vivia.
Figura 09. Maquiavel, de Santi di Tito (se- Depois de muitos anos, no período do
gunda metade do século 16) Renascimento, temos Nicolau Maquia-
vel, suas ideias são refletidas na po-
Niccol%C3%B2_Machiavelli_by_Santi_di_Tito.jpg. Acesso em: 27
50
Figura 10. Rousseau, réplica de Quentin Dentre esses filósofos, um que se destacou
de La Tour (1753) foi Rousseau, que escreveu a sua mais im- 2
portante obra, intitulada O contrato social
(1762). Nesse livro, o filósofo sugere que o
Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Jean-Jacques_
o governa. Para isso, ele deixa seu estado
No âmbito da educação, ela se faz presente e se faz necessária, pois é por meio de discus-
sões políticas que se busca a melhor maneira de educar e de pensar a educação de maneira
ampla e assertiva.
SAIBA MAIS
Participação Política
No vídeo sugerido nesta caixa, o professor Mário Sérgio Cortella traz exemplos atuais sobre
o que é política e a participação da população em atitudes básicas do dia a dia.
Período Clássico
Filosofia da educação 51
Campos da Filosofia
Período Moderno
5. ONTOLOGIA
Desde que o ser humano passa a ter consciência de sua existência, ele faz alguns
questionamentos a si mesmo sobre a vida, sobre o mundo e tudo que o cerca, e a on-
tologia é, de certa forma, o estudo do ser enquanto ser. Pode- se dizer que é o campo
da Filosofia que tenta entender o conhecimento do que é ser, perceber a realidade dos
seres em geral, ou busca até mesmo compreender a essência da realidade (CHAUÍ,
2000, p. 50).
Parece um pouco confuso, e até mesmo muito complexo, mas a ontologia é um ramo da
metafísica que tenta entender o princípio, o início de tudo e os fundamentos que regem
todos os seres. Os primeiros pensadores gregos faziam questionamentos sobre: “O
que existe?”; “Qual é a origem do mundo?”; “Por que eu existo?”; “Por que as coisas ao
redor existem?”. E com a busca pela origem de tudo surgiu a ontologia, que resumida-
mente é a busca pelo conhecimento do que é o ser, o que é o saber.
No período clássico grego, os sofistas acreditavam que não era possível conhecer o
ser, e sim ter opiniões subjetivas sobre a realidade (CHAUÍ, 2000, p. 139) e isso impac-
tava a ideia sobre o que é o ser, o saber, pois para eles a verdade era “uma questão
de opinião e de persuasão, e a linguagem é mais importante do que a percepção e o
pensamento” (CHAUÍ, 2000, p. 139).
Sócrates já pensava diferentemente sobre esse mesmo tema: ele dizia que a verdade
poderia ser alcançada apenas pelo pensamento, mas que, para isso, era preciso afastar
as ilusões (CHAUÍ,2000, p. 139). Depois que Sócrates se esforçou e criou os primeiros
caminhos para se pensar a Filosofia, Platão e Aristóteles acrescentaram a ela suas
teorias mais complexas sobre como pensar e como validar esses pensamentos, teorias
essas que você já estudou neste livro, inclusive.
Conforme Platão, a ontologia está também nas suas ideias dualistas, nos dois mundos
diferentes: o sensível e o inteligível, já que para o filósofo o conhecimento passa pelo
mundo sensível e chega ao inteligível, vai da aparência ao real (CHAUÍ, 2000, p. 277).
52
Apesar de as ideias de metafísica e ontologia terem começado pelos sofistas, ela ganha
força mesmo com Aristóteles, pois ele é o primeiro dos filósofos clássicos que foca suas
teorias do mundo real, e não nas coisas sensíveis, estudando, então, o ser enquanto ser, 2
já que ele não crê no mundo das coisas sensíveis, pelo contrário, para ele é ilusório. Ele
Através das ideias dos pensadores clássicos, é possível perceber que a ideia de “onto-
logia” já estava presente muito antes de o termo, de fato, existir, pois a palavra só existiu
no começo do século XVII (MORA, 1978, p. 203), antes disso, os termos metafísica e
ontologia eram confundidos. Com o tempo, perceberam que era necessário separar os
significados. Assim, a ontologia passou a estudar a ciência do ser em si, “a ciência das
essências e não das existências” (MORA, 1978, p. 204).
Depois da invenção do termo no século XVII, outros autores também seguiram estudan-
do a ontologia nos séculos seguintes.
Tanto para Heidegger quanto para Merleau-Ponty, a nova ontologia parte do pressupos-
to de que os seres estão no mundo e de que o mundo é mais velho que os seres, en-
tretanto estes são capazes de dar sentido ao mundo, conhecendo-o e transformando-o
(CHAUÍ, 2000, p. 307).
Em suma, na visão da nova ontologia e segundo Marilena Chauí (2000, p. 308), a onto-
logia “estuda as essências antes que sejam fatos da ciência explicativa e depois que se
tornam estranhas para nós”. Por exemplo, enquanto uma pessoa pergunta que horas
são, a ontologia questiona o que é o tempo, qual a percepção dele.
No geral, todos os campos da Filosofia passam pela ontologia, por exemplo, enquanto
estudamos na estética a definição do que é belo, a ontologia questiona o que é beleza
Filosofia da educação 53
Campos da Filosofia
SOFISTAS
` O saber era uma questão de opinião e de persuasão. A linguagem é mais importante
do que a percepção e o pensamento.
SÓCRATES
` A verdade pode ser alcançada pelo pensamento, mas para isso é necessário afastar
as ilusões.
PLATÃO
` DUALISMO: acredita que o conhecimento do ser passa pelo mundo sensível e chega
ao inteligível.
ARISTÓTELES
` Foca no mundo real, pois acredita que o mundo sensível não passa de ilusão. A es-
sência (ontologia) está no mundo inteligível.
HUSSERL
` Acredita na ontologia formal e material. A formal é a junção de todas as ciências e a
material a junção de todas as ontologias existentes.
GLOSSÁRIO
Liceu: ginásio situado fora de Atenas, onde Aristóteles ensinava¹; designação antiga dos es-
tabelecimentos oficiais de instrução secundária²; ensino secundário³ (significados a partir
do dicionário Priberam da Língua Portuguesa).
Sofistas: pensadores não considerados filósofos; em geral, não tinham uma doutrina em
comum e o ensino que praticavam era voltado a fins instrumentais.
54
SAIBA MAIS
Gostaria de entender mais sobre o que é ontologia? 2
O professor Pedro Rennó, do canal Parabólica, explicou em seu vídeo O que é ontologia um
SUGESTÃO DE LEITURA
DICIONÁRIO DE FILOSOFIA, de José Ferrater Mora, é um dicionário sobre os principais
conceitos da Filosofia, inclusive sobre a ontologia.
É uma ótima indicação de livro para quem gosta do assunto ou para quem se interessa por
Filosofia, onde o autor consegue ser bem objetivo e preciso nos principais termos filosóficos.
CONCLUSÃO
Nesta unidade, você pôde conhecer um pouco sobre o que é a Filosofia e os seus con-
ceitos. Estudou as suas divisões – epistemologia, ética, estética, política e ontologia – e,
depois de cada divisão, um mapa mental, resumindo as principais ideias.
O conceito de ética também passou por vários períodos históricos e foi se transforman-
do ao longo deles. A ética aristotélica era aquela que acreditava que o conceito estava
ligado à felicidade, à ideia de “sumo bem”, de certa forma individual, que busca o bem
maior e se divide em dois principais momentos: razão e justa medida.
Passado algum tempo, a ética utilitarista também acreditava na ideia de felicidade re-
lacionada à ética, mas não de maneira individual. Nesse sentido, como o próprio nome
diz, a ética deveria ser “útil”, portanto a felicidade estava ligada a valores coletivos.
Kant estudou sobre ética e se aprofundou em relação aos conceitos. Para ele, havia
dois imperativos: o imperativo hipotético e o imperativo categórico. O primeiro não en-
volvia a razão, e o segundo referia-se a ações movidas pela racionalidade; e o impera-
tivo categórico era pautado na ética, dividida em a priori e a posteriori.
A ética a priori de Kant acreditava que nesse ponto as pessoas julgavam sem experi-
mentar, o conceito ainda não era algo empírico. Já a posteriori não, depois de experien-
ciar, julgava-se sobre algo.
Filosofia da educação 55
Campos da Filosofia
No período clássico, Platão e Aristóteles tiveram ideias sobre a estética, mas as ideias
eram diferentes uma da outra. Platão e seu dualismo, nas teorias das ideias, era um
crítico de arte e acreditava que ela imitava o mundo material, enquanto as obras eram,
na verdade, imitações da realidade sensível. Já Aristóteles acreditava que por meio da
arte o ser humano poderia entrar em estado de catarse e se colocar em várias situações
através dela, isto é, que a arte exercia uma função pedagógica na questão de transmis-
são de conhecimento.
No período medieval, um dos seus principais pensadores, Santo Agostinho, dizia que
o conceito de belo, a beleza em si, está na bondade de Cristo, e em certos momentos
é possível notar semelhanças do pensamento de Agostinho com Platão por causa das
dualidades, e também com Pitágoras, porque o filósofo medieval conseguia enxergar a
beleza do divino através dos números e da noção de proporcionalidade.
O período moderno já separa a ideia de beleza da ideia do divino e traz para o campo
da realidade. Foi justamente nesse período que o termo passou a existir através de
Alexander Baumgarten, que separa a estética em dois momentos: Faculdade Superior
e Faculdade Inferior. A primeira cuidava de temas metafísicos, enquanto a segunda
tratava do conhecimento sensitivo que tinha ajuda do intelecto.
Kant também faz seus estudos no campo filosófico da estética. Segundo ele, a ideia de gosto
é discutível e a noção de belo se afirma de maneiras diferentes em cada pessoa. A ideia de
universalidade está no compartilhamento desse sentimento de comunhão do que é belo.
No campo filosófico da política, você pode perceber que praticamente todas as ações
são políticas, inclusive o pensar. O pensar como ato político torna-se um ensino para a
sociedade, inclusive com a morte de Sócrates, que foi condenado por fazer as pessoas
refletirem sobre algumas questões fundamentais, colocando o antropocentrismo em
destaque, no lugar das ideias dos deuses. Esse fator foi determinante para a sentença
que lhe foi dada.
Platão dedicou uma parte de sua obra para o estudo da política e tem suas ideias
desenvolvidas no seu livro A república, em que disserta através de utopias políticas e
sobre como seria a organização ideal para a sociedade ser administrada.
Além da importância de Maquiavel para a política, outro nome bastante influente nesse
campo filosófico é Jean-Jacques Rousseau, que defendeu, através da sua principal
56
obra O contrato social, a ideia de que o homem abre mão de seu estado de natureza,
isto é, de sua própria liberdade natural, para que uma pessoa seja responsável por
criar leis e fiscalizá-las, uma espécie de bem coletivo, que influencia ainda hoje no que 2
chamamos de democracia.
Nesse caso, até antes do período socrático, ou seja, no período pré-socrático, os pen-
sadores da época já falavam sobre essa ideia. Os sofistas viam o saber como uma
questão de opinião e persuasão, e para eles a linguagem era mais importante que a
percepção e o pensamento.
Sócrates já tinha uma visão um pouco diferente: a verdade sobre o saber pode ser al-
cançada pelo pensamento, mas para isso é necessário que se afastem as ilusões. Pla-
tão com suas ideias dualistas acreditava que o conhecimento do ser passa pelo mundo
sensível e chega ao mundo inteligível.
Aristóteles, como em quase todos os campos, tem ideias que divergem das ideias de
Platão, pois ele foca no mundo real e acredita que o mundo sensível não passa de ilu-
são. A essência, isto é, a ontologia está no mundo inteligível.
Muitos anos depois, Husserl também falou sobre ontologia, mas com ideias diferen-
tes, pois ele está presente em outro contexto histórico que os filósofos clássicos. Para
Husserl, há a ontologia formal e a informal. A formal é a junção de todas as ciências,
enquanto a material é a junção de todas as ontologias existentes.
Como você pode perceber, esta unidade está repleta de conceitos importantes e funda-
mentais que o auxiliarão a entender melhor a Filosofia e também a Filosofia da Educação.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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conhecimento das belas coisas ou belo pensamento? Créditos da digitalização: membros do grupo de dis-
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so em: 16 dez. 2020. J. Dias Pereira. Lisboa: Fundação Calouste Gul-
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Sciences, Maringá, v. 32, n. 1, p. 73-80, 3 dez. 2009. organização, introdução e notas de Nair de Assis Oli-
Disponível em: http://periodicos.uem.br/ojs/index. veira; revisão Honório Dalbosco. São Paulo: Paulus,
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Acesso em: 16 dez. 2020. 21.STRATHERN, P. Aristóteles em 90 minutos.
13.MAQUIAVEL, Nicolau. O príncipe. São Paulo: Tradução de Maria Helena Geordane. Rio de Janei-
ro: Jorge Zahar, 1996.
58
Filosofia da educação
59
2
UNIDADE 3
FILOSOFIA E EDUCAÇÃO
3
INTRODUÇÃO
Você já parou para pensar quando a Filosofia e a Educação se interligaram e o porquê de
existir uma área de estudo denominada Filosofia da Educação? Nesta unidade, você sabe-
rá como a Educação e a Filosofia se aproximam, ou melhor, dialogam de modo dialético.
Já é corrente que a Filosofia busca o saber e está ligada diretamente ao ser humano,
suas descobertas e seus pensamentos. Como, então, a Filosofia poderia ser um ramo
desprezado dentro da Educação, sendo que a Educação é um lugar para pensar, des-
cobrir, aprender e ensinar?
Na história da Filosofia, é possível perceber que a Educação sempre fez parte do pen-
samento dos principais filósofos e pensadores (teólogos, matemáticos, físicos etc.).
De certa forma, pode-se dizer que esses pensadores se preocupam com a edu-
cação e com o ser humano, isto é, com a forma como os seres humanos buscam
informação e conhecimento.
É possível entender, através disso, que a intenção da Filosofia sempre foi, de certa
maneira, conduzir o nosso pensamento para o exterior, “pensar fora da caixinha” e co-
60
nhecer o mundo por diversas maneiras, e é exatamente nesse ponto que a Educação e
a Filosofia se relacionam de forma dialética, uma complementando a outra.
Nesta unidade, você verá como ambas se articulam e a influência das principais corren- 3
tes filosóficas no pensamento educacional. Além disso, conhecerá algumas tendências
pedagógicas utilizadas no processo de ensino e no de aprendizagem dentro da sala de
1. FILOSOFIA E EDUCAÇÃO
Neste item, você estudará as influências e as contribuições da Filosofia para a área da
Educação e entenderá porque até agora você conheceu alguns nomes importantes da
Filosofia clássica, da medieval e da moderna e como eles influenciam, por meio das
suas ideias, a educação que temos até hoje presente no nosso dia a dia.
Para começar a discussão, você já pensou o que é, de fato, a educação? Seria ela:
É interessante frisar que essas questões norteadoras servem para você refletir de que
forma vê a educação a princípio e que não há uma única resposta para essas indaga-
ções. Todas elas apontam para uma perspectiva do que seria educar, dependendo da
maneira como vemos a educação, e quais são os objetivos dela perante seus alunos.
E, então, para que serve a Filosofia dentro da Educação? Como relacionar ambas?
Ao longo do que já foi estudado nesta disciplina, você já deve ter notado que a Filosofia
é um exercício de indagação, questionamentos e busca por conceitos para as questões
fundamentais (Quem eu sou? De onde eu vim? O que é belo? O que está certo? O que
é está errado?), não é mesmo?
Nas ideias dos pensadores clássicos, como Sócrates e Platão, já havia a intenção de
falar sobre educação, seja pela maiêutica de Sócrates, ou pela dialética de Platão. Os
filósofos que vieram depois deles foram modificando suas teorias, mas todas elas leva-
vam ao exercício do pensamento e da reflexão.
Filosofia da educação 61
Filosofia e educação
GLOSSÁRIO
FILOS. Ato de pensar o próprio pensamento; ato do conhecimento que se volta sobre si mes-
mo, tendo como objeto seu próprio ato.
Observação atenta e profunda, oral ou escrita, sobre alguma coisa, resultado de intensa
meditação e entendimento.
FÍS. Retorno de onda de qualquer tipo (som, luz etc.) ao meio onde se propagava, após inci-
dir sobre a interface com outro meio.
GEOM. Operação pela qual um ponto se transforma em seu simétrico, em relação a outro
ponto, ou a uma linha.
Como podemos perceber através do glossário, para a Filosofia refletir é o “ato de pensar o
próprio pensamento; ato do conhecimento que se volta sobre si mesmo, tendo como
objeto seu próprio ato”. Isto é, refletir é conseguir refletir sobre o que já foi pensado ante-
riormente, dar um novo olhar para aquele objeto que merece atenção e ver se os conceitos
já debatidos anteriormente fazem sentido ainda, com novas questões pertinentes.
Vale salientar que todo questionamento feito pelo senso comum é demasiadamente impor-
tante, assim como o pensamento filosófico, pois, antes de uma questão filosófica ser pro-
priamente uma questão de debate da Filosofia, ela já foi uma indagação do senso comum.
` Então, tendo em vista todos esses apontamentos, se o ser humano é capaz de levantar
todas essas indagações, qual é a necessidade da Filosofia?
No mundo em que vivemos hoje, há diversas ações que precisam ser tomadas no
nosso dia a dia e, em geral, não paramos para refletir sobre elas, apenas pensamos
rapidamente (ou, às vezes, nem temos tempo para isso). Tentar fazer alguns questio-
namentos sobre esses atos necessários em nossa vivência é importante para entender
por que os fazemos.
62
` Você já pensou no último item que comprou para si mesmo? Qual foi a finalidade da com-
pra? Para que o comprou? Onde ouviu, ou leu, sobre ele? Por que preferiu o produto X do
que o produto Y? Pela marca? Funções? Preços?
3
Graças ao mundo moderno em que estamos inseridos, somos expostos a muitas infor-
PARA REFLETIR
Você já se sentiu influenciado por algo que um influenciador digital ou uma celebridade mos-
trou na internet ou em campanhas publicitárias? Não precisa ser exatamente algum produto
que você tenha comprado, mas algo que despertou o seu desejo e você foi buscar informa-
ções sobre o assunto.
Quanto o seu desejo reflete o que é sua própria vontade ou a influência da vontade do outro?
Como você mesmo pode perceber, todas essas perguntas são extremamente pessoais
ou subjetivas, e cada ser humano pode respondê-las de uma maneira diferente, de
acordo com o grau de sua subjetividade do meio envolvido.
Mas e a Filosofia?
Esse olhar reflexivo que temos acerca das questões da vida, as tais questões funda-
mentais, deve se fazer presente quando falamos sobre educação e pedagogia.
GLOSSÁRIO
Pedagogia:
pe·da·go·gi·a - s.f.
2. Conjunto de doutrinas, princípios e métodos que visam assegurar uma educação eficiente.
3. Método de ensino.
Filosofia da educação 63
Filosofia e educação
GLOSSÁRIO
Educação:
e·du·ca·ção - s.f.
2. Processo que visa ao desenvolvimento físico, intelectual e moral do ser humano, através
da aplicação de métodos próprios, com o intuito de assegurar-lhe a integração social e a
formação da cidadania.
8. Adestramento de animais.
Ao analisar os dois termos pode-se perceber que o termo educar é mais amplo e en-
volve o conhecimento através de diversas formas, não somente o que chamamos de
escolarização, como, por exemplo, o educar para cuidar da natureza, animais, convívio
social e diversas outras maneiras. Pensando nisso, para educar, o que é preciso? É
preciso ter um educador em todos esses processos de educação citados no glossário?
64
Portanto, é através da Filosofia que alguns questionamentos quanto à Educação e à
Pedagogia se fazem presentes:
Como já visto, o pensamento filosófico busca a reflexão, isto é, retroceder ao que já foi
pensando anteriormente de forma mais precisa e verificar se as indagações e conceitos
já existentes ainda se fazem assertivos e coerentes com a discussão atual. Através
disso, é possível buscar caminhos para uma educação coerente e justa.
` Educação libertadora?
Através desses questionamentos, fica muito claro o quanto a Filosofia e a prática peda-
gógica estão interligadas.
É claro que, muitas vezes, nós não temos essa percepção rapidamente, mas o exercí-
cio da reflexão nos faz repensar tais situações. Principalmente quando se fala de pro-
cesso educacional para crianças, pois suas reflexões ainda não chegaram a tal ponto
de elaboração.
Nesses casos, deve-se levar em consideração o que a criança já traz consigo de “ba-
gagem” histórica – vale salientar que esse modelo não é só aplicado em crianças, mas
também na formação de jovens e adultos de maneira geral. Quem fala sobre isso é
o educador Paulo Freire, que você estudará mais adiante. Mas já conhecerá, de certa
maneira, um pouco da ideia dele.
Quando um aluno chega ao professor, o que você acredita que deva ser levado em
consideração? Há duas maneiras mais básicas de se entender isso:
Filosofia da educação 65
Filosofia e educação
01. Você lida como se ele não tivesse nenhuma bagagem de aprendizagem? Dessa ma-
neira, a educação torna-se uma espécie de enciclopédia que é colocada no aluno para de
3 certa forma “preencher” o “vazio” da falta de conhecimento. Porém, essa é uma maneira de
educação padronizada, que visa uma memorização de conceitos, e de certa forma até uma
doutrinação de quem explica. Essa é uma forma de educação que você conhecerá mais para
a frente, que o educador Paulo Freire (1987, p. 40) chama de educação bancária, em seu
livro Pedagogia do oprimido.
02. Uma outra maneira de ver o processo educacional é levando em consideração a construção
histórico-social do estudante ali presente, que de certa forma é um modelo de educação que
serve como um mediador entre o sujeito em formação (estudante) e o professor que deve, então,
tentar entender o ambiente em que esse sujeito está inserido, além de sua vida e história.
Fonte: 123RF.
Ao longo deste item você deve ter percebido que parte da função da Filosofia da Edu-
cação é propor reflexões acerca de todo o processo educacional, envolvendo escola,
professores e métodos didáticos.
Para haver uma instituição de ensino, são necessários alguns pontos, sendo eles: pro-
fessores, currículo escolar e estudantes. Todos esses elementos juntos formam uma
unidade educacional que vai reger essa instituição de ensino.
66
2.1 JEAN PIAGET
Jean William Fritz Piaget (1896-1980), mais conhecido como Jean Piaget, nasceu em
Figura 03. Jean Piaget 1896, em Genebra, e, diferentemente do que pensam,
não foi um pedagogo, e sim um biólogo e psicólogo 3
Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Jean_Piaget_in_
epistemológico, mas seus estudos contribuem muito
Através de duas ideias notou-se, em geral, que as crianças não raciocinam como um adulto e
que, aos poucos, elas conseguem se inserir às regras, principalmente quando conseguem per-
ceber o mundo ao redor e assim ganham maturidade psicológica, notando valores e símbolos.
Nesse contexto, Piaget percebeu que a aprendizagem pode ser feita por assimilação e
por acomodação.
EXEMPLO
Assimilação e acomodação
Pense em uma criança que já conhece alguns animais, inclusive aves. Ela pode associar o
conceito de uma ave a um animal que voa. Fez uma associação de mundo externo com uma
estrutura de pensamento já existente.
E quando ela se depara com uma ema ou até mesmo um avestruz? Nesse momento, ela
perceberá que se trata de aves, pois possuem características comuns, como as penas e as
asas, mas que não voam. Ocorre, então, a acomodação, pois um pensamento que já existia
sofreu influência externa e se modificou.
Filosofia da educação 67
Filosofia e educação
Em suma, Piaget (apud MUNARI, 2010, p. 31) acredita que a adaptação intelectual
ocorre por meio de um equilíbrio progressivo entre um mecanismo assimilador e uma
acomodação complementar, e entende também que o ser humano só é considerado
3 adaptado a determinada realidade quando absolutamente nada nessa realidade modi-
fica os esquemas do indivíduo (MUNARI, 2010, p. 31).
(3) (4)
(1) (2)
Operacional- Operacional-
Sensório-motor Pré-operacional
concreto formal
Na tabela a seguir você poderá entender melhor quais são esses estágios, a idade de
vida correspondente do indivíduo e quais as capacidades observadas por Piaget (apud
MOREIRA, 1999, p. 96-99) para cada faixa etária.
Tabela 01. Estágios de desenvolvimento cognitivo de Jean Piaget
68
ESTÁGIO IDADE APROXIMADA CAPACIDADES
Nesta fase, a principal característica é a capacidade de
raciocinar com hipóteses e não somente com o concreto.
Operacional- 3
12 anos + Percebe-se o pensamento proposicional, é capaz de ma-
formal
nipular proposições. O adolescente é capaz de ter pensa-
Como podemos perceber, mesmo sem ser pedagogo, Piaget tornou-se um educador,
pois influenciou de maneira profunda o processo de aprendizagem e auxiliou a forma
como o professor pode trabalhar na sala de aula. Seu legado é o de que educar não
é simplesmente transmitir conhecimento, mas sim procurar prover um ambiente com
desafios, no qual o desenvolvimento da criança seja possível através dos processos de
assimilação, acomodação e adaptação. Além disso, entender que a criança só aprende
o que está preparada para aprender naquele momento dentro do seu estágio de desen-
volvimento cognitivo por conta da sua maturidade mental.
SAIBA MAIS
` Indicação de leitura:
Assista: Pensadores na Educação: Jean Piaget, 2018. 1 vídeo (12 min e 35 s). Publicado pelo
Instituto Claro. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=MwKEO2pkLP8. Acesso
em: 5 jan. 2021.
Piaget
` Biólogo e psicólogo epistemologista
Filosofia da educação 69
Filosofia e educação
Assimilação
` Agregar objetos do mundo externo a uma estrutura de pensamento
3
existente.
Acomodação Adaptação:
0 a 2 anos.
SENSO - Principais características: Noções de reflexos básicos. Criança egocêntrica.
MOTOR
2 aos 7 anos.
7 aos 12 anos.
+ 12 anos.
OPERACIONAL- Principais características: Capacidade de raciocinar com hipóteses. Há
FORMAL pensamento lógico.
Vygotsky foi um dos maiores psicólogos do século XX, mesmo sem ter se formado em
Psicologia de fato. Morreu muito jovem, aos 38 anos, e mesmo assim contribuiu muito
para a ciência, tendo publicado mais de 200 trabalhos importantes.
70
Figura 06. Lev Vygotsky Além de ter sua obra consagrada em um período rela-
tivamente curto, devido a sua morte precoce, Vygotsky
desenvolveu seus estudos em um período histórico
conturbado em que vivia: o período da Revolução de 3
Outubro ou Revolução de Bolchevique, que, em resu-
Em sua obra, o educador dissertou sobre o homem e sua relação e contato com a
sociedade. Uma frase atribuída a ele é: “Na ausência do outro, o homem não constrói
homem”. Para ele, a formação ocorre na relação entre o sujeito e o mundo ao redor, por
isso era crítico das teorias inatistas (que o ser humano já nasce com todas as caracte-
rísticas e que desenvolve ao longo da vida) e crítico também das teorias empiristas (que
veem o ser humano como um ser que depende de estímulos externos).
CURIOSIDADE
Figura 07. Escultura de
Tarzan por Nevit Dilmen (2007)
Você já deve ter ouvido falar na história de Tarzan,
File:Harikalar_Diyari_Tarzan_06007_nevit.jpg.
Filosofia da educação 71
Filosofia e educação
É importante saber também que o professor não é o único mediador, as ferramentas peda-
gógicas também podem funcionar como mediação no processo de ensino-aprendizagem.
Na visão do autor, o aprendizado não está somente relacionado com as estruturas intelec-
tuais de uma criança; para ele, o essencial da educação é assegurar o desenvolvimento,
proporcionando instrumentos e técnicas para operações intelectuais (IVIC, 2010, p. 31).
A fim de melhor entender a ideia de zona de desenvolvimento proximal, vale a pena pensar
em outras duas zonas de desenvolvimento: a real e a potencial. A zona de desenvolvimento
real é aquela em que a criança consegue desenvolver suas atividades sozinha e de forma
autônoma. A zona de desenvolvimento potencial é aquela em que a criança ainda não con-
segue realizar as aptidões com independência, são as atividades que a criança precisa de
um adulto para auxiliá-la.
SAIBA MAIS
` Sugestão de leitura:
IVIC, I. Lev Semionovich Vygotsky. Edgar Pereira Coelho (Org.). Recife: Fundação Jo-
aquim Nabuco, Editora Massangana, 2010. 140 p. (Coleção Educadores). Disponível em:
http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_
obra=205241. Acesso em: 6 jan. 2021.
Assista: Pensadores na Educação: Vygotsky, 2018. 1 vídeo (12 min. e 8 s.). Publicado pelo
Instituto Claro. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=BS8o_B5M9Zs. Acesso
em: 6 jan. 2021.
72
Figura 08. Mapa conceitual de Lev Vygotsky
Vygotsky
3
` advogado de formação, mas seus
estudos contribuem para a área de
Zona de desenvolvimento
Filosofia da educação 73
Filosofia e educação
Percebe-se pela sua carreira que ele foi um grande estudioso da área de desenvolvi-
mento psicológico, inclusive relacionado à infância, e esses estudos contribuem direta-
mente com o processo educacional.
3
A teoria desenvolvida por Wallon entende o ser humano em sua totalidade, interligando
razão e emoção, por isso ele defende a ideia de uma formação integral capaz de unir
três partes importantes: a formação afetiva, intelectual e a motora.
Para o psicólogo, o ser humano necessita se relacionar com o meio para ser capaz de se
desenvolver, isto é, que o indivíduo (principalmente as crianças) se relacione com o ambien-
te em que essas partes estão envolvidas naquela determinada faixa etária. O meio de que
Wallon fala é composto por linguagem, espaço e cultura (XAVIER; NUNES, 2015, p. 31).
A tabela que você verá a seguir tenta resumir as ideias de estágios de desenvolvimento
de Wallon.
Tabela 02. Estágios de desenvolvimento de Henri Wallon
74
ESTÁGIO IDADE CARACTERÍSTICAS
É o estágio que tem como característica
principal conflitos e redefinição de perso-
nalidade e de identidade. O adolescente 3
Estágio da adolescência Adolescência: + 11 anos carrega consigo suas conquistas, tanto
Como você pode perceber, mesmo sendo psicólogo, os estudos de Wallon fizeram mui-
to pela educação, pois, através desses conhecimentos, a escola e sua equipe passam
a fazer reflexões acerca dos alunos e dos comportamentos deles, enxergando-os como
seres racionais e emocionais ao mesmo tempo.
A ideia de ter uma formação integral (envolvendo formação afetiva, intelectual e moto-
ra) foi, de certa forma, nova, pois levava também as emoções para a sala de aula. Em
suma, a obra de Wallon apud Xavier e Nunes (2015, p. 36) defende a ideia de que, para
aprender, o sujeito depende tanto de ter a capacidade biológica quanto do ambiente (o
meio) em que ele está inserido.
SAIBA MAIS
` Sugestão de leitura:
Assista: Pensadores na Educação: Wallon, 2018. 1 vídeo (12 min. e 59 s.). Publicado pelo Institu-
to Claro. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=ZfXIkidkFQI. Acesso em: 6 jan. 2021.
Wallon
Filosofia da educação 75
Filosofia e educação
0 a 1 ano.
1 aos 3 anos.
3 aos 6 anos.
+ 12 anos.
+ 12 anos
Freire desenvolveu um método que era capaz de alfabetizar jovens e adultos em cerca
de 40 horas com baixo custo e isso inspirou o Plano Nacional de Alfabetização no go-
verno de João Goulart.
76
Figura 11. Paulo Freire
Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Paulo_
Na década de 1960 só podia votar quem era alfabetizado, e um projeto como o Plano Nacio-
nal de Alfabetização poderia mudar o cenário político da época, pois milhões de brasileiros
que eram analfabetos tornar-se-iam letrados e, com isso, eleitores. Esse fato foi decisivo
para o cancelamento do Plano Nacional da Alfabetização, no ano de 1964, o primeiro ano
da ditadura militar brasileira, que perdurou por 21 anos, tendo seu fim somente no de 1985.
No período da ditadura militar, Paulo Freire ficou preso por 70 dias, acusado de subversão
pelo trabalho com alfabetização de jovens adultos, e depois da prisão Freire foi exilado.
O educador só retornou ao Brasil no ano de 1980, pois em 1978 a Lei da Anistia permitiu o
retorno de exilados políticos.
No ano de 1988, Paulo Freire se tornou secretário da educação da cidade de São Paulo (BEI-
SIEGEL, 2010, p. 15). Ele recebeu 48 títulos honoris causa e, desde 2012, foi reconhecido
como Patrono da Educação Brasileira.
Paulo Freire é autor de muitas obras, mas a principal delas é a Pedagogia do oprimido, na
qual o educador fala da sua experiência na alfabetização de jovens e adultos, sobre o con-
ceito de educação bancária e sobre a ideia de educação libertadora.
Na pedagogia proposta por Freire (1987, p. 44), o educador, através de uma educação vol-
tada para o diálogo, expõe problemáticas e faz com que o outro participe do processo edu-
cacional. Para isso, ele cria uma forma de aproximação e empatia que gera vínculo com o
aluno. Ele também propõe que cada indivíduo seja valorizado pelo que é. Essa lógica criada
por Freire (1987, p. 45) sugere um movimento de liberdade que surge através dos oprimidos,
e não dos opressores.
Filosofia da educação 77
Filosofia e educação
No começo da obra, Freire (1987, p.19-28) busca justificar o título do livro ao explicar que o ho-
mem, como indivíduo, tem de se transformar em um sujeito da realidade histórica na qual ele se
insere, através de lutas pela liberdade, pela desalienação e pela sua afirmação, isto é, conse-
3 guir pensar por si só, de maneira independente do que a classe dominadora sempre “pregou”.
O capítulo 2 é um dos mais conhecidos e comentados, pois é nele que Paulo Freire fala sobre
um conceito já bastante utilizado nos dias de hoje, que é a concepção bancária da educa-
ção, como movimento de opressão, que nada mais é do que a visão da educação como um
depósito de informação dada ao povo, para o qual e estudante é apenas ouvinte, expectador.
Na educação bancária, Freire (1987, p. 37-44) mostra que o saber é uma doação fundamen-
tada na absolutização da ignorância instrumental da ideologia da opressão, que tem como
objetivo transformar o pensamento do oprimido e não da situação que o oprime.
Ao longo do texto, o autor aborda o diálogo como ferramenta essencial para a educação e
como prática da liberdade. Para Freire (1987, p. 47), o diálogo se faz de forma horizontal,
baseada na confiança entre os sujeitos envolvidos na educação, e através disso é possível
criar um pensamento crítico.
Para ele, através do diálogo, inicia-se a busca por um conteúdo programático, que tanto para
educador como para o educando vai funcionar de maneira mais eficaz, pois o aluno vai apren-
der de maneira mais rápida quando aprende através da realidade em que ele está inserido.
O método de alfabetização desenvolvido por Freire (1987, p. 65) tinha como base as “palavras
geradoras” que deveriam estar de acordo com o contexto do aluno e a partir delas e de seu sig-
nificado (que fazia então sentido para o aluno) ele começava a trabalhar as letras e as sílabas.
EXEMPLO
Para um aluno adulto que trabalha em uma plantação, fazia sentido alfabetizá-lo dando
exemplos do seu dia a dia: ensinar a palavra “terra”, por exemplo, no lugar de “taça” faria
muito mais sentido, porque a terra faz parte do cotidiano desse aluno. A partir da primeira
palavra Freire ia construindo outras e o repertório ia crescendo. Sempre de acordo com a
realidade do aluno e levando em consideração o repertório que o estudante já trazia consigo.
Em suma, o método de educação desenvolvido por Paulo Freire busca oferecer opor-
tunidades para o aluno aprender dentro da realidade dele e que o diálogo é de grande
importância, pois através dele os oprimidos conseguem firmar um compromisso com a
liberdade, que implica a transformação da realidade.
Além da obra Pedagogia do oprimido, Freire escreveu outros livros importantes para a
área educacional, como A Educação como prática da liberdade (1967), Cartas à Guiné
Bissau (1977), Pedagogia: diálogo e conflito (1986), Pedagogia da autonomia (1996),
entre outros.
78
SAIBA MAIS
` Sugestão de leitura:
3
BEISIEGEL, Celso de Rui. Paulo Freire. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, Editora Mas-
sangana, 2010. 128 p. (Coleção Educadores). Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.
Pensadores na Educação: Paulo Freire e a educação para mudar o mundo. 2018. 1 vídeo
(13 min. e 27 s.). Publicado pelo Instituto Claro. Disponível em: https://www.youtube.com/
watch?v=4M69rga5ENo. Acesso em: 6 jan. 2021.
Paulo Freire
` advogado e educador.
Nóvoa viveu sua adolescência no período do Estado Novo*, que foi uma ditadura portu-
guesa, e viu de perto a Revolução dos Cravos**, quando tinha 19 anos.
SAIBA MAIS
Estado Novo*: Portugal teve, assim como no Brasil, um período histórico chamado de Estado
Novo. Foi um regime autoritário, ditatorial e nacionalista que perdurou de 1933 a 1974 e teve
como referência Antônio Salazar, que ocupou a liderança do governo a maior parte do período.
Filosofia da educação 79
Filosofia e educação
Fonte: ANGELO, Vitor Amorim de. Estado Novo em Portugal – Regime salazarista foi marcado pelo autoritarismo.
História geral. Educação. UOL, 2012. Disponível em: https://educacao.uol.com.br/disciplinas/historia/estado-novo-em-
portugal-regime-salazarista-foi-marcado-pelo-autoritarismo.htm. Acesso em: 6 jan. 2021.
3
Revolução dos Cravos**: foi a revolução que derrubou o regime ditatorial de Salazar em
Portugal. O movimento teve início no dia 25 de abril de 1974 e é uma data fortemente come-
morada no país até hoje.
Fonte: SOUSA, Rainer Gonçalves. Revolução dos Cravos. História do Mundo, [s.d.]. Disponível em: https://www.
historiadomundo.com.br/idade-contemporanea/revolucao-dos-cravos.htm. Acesso em: 6 jan. 2021.
Após concluir sua formação em Teatro, António Nóvoa formou-se em Ciências da Edu-
cação pela Universidade de Genebra. Em 1985, após o nascimento de seu filho, o
educador voltou para Portugal e foi convidado para lecionar no Instituto Superior de
Educação Física. Mais tarde, foi convidado para atuar na Faculdade de Psicologia e
Figura 13. António Nóvoa Ciências da Educação, tornando-se, de-
pois, concursado e professor catedráti-
co da Universidade de Lisboa, onde é,
Educa%C3%A7%C3%A3o_em_Santar%C3%A9m_(Abril_2015)_
atualmente, reitor.
da_N%C3%B3voa,_confer%C3%AAncia_na_Escola_de_
Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Sampaio_
Ele também diz que a formação de professores não tem se atentado para os projetos
das escolas e com isso não tornam viável a formação que ele acredita ser o eixo de
referência: o desenvolvimento profissional de professores (NÓVOA, 1992, p. 13).
80
[a] formação não se constrói por acumulação (de cursos, de conhecimentos
ou de técnicas), mas sim através de um trabalho de reflexividade crítica so-
bre as práticas e de (re)construção permanente de uma identidade pessoal.
Por isso é tão importante investir a pessoa e dar um estatuto ao saber da
experiência. (NÓVOA, 1992, p. 13) 3
António Nóvoa (1992, p. 15) defende a educação continuada para professores, pois dar
Para António Nóvoa (1992, p. 18), quando se fala em formação de professores, fala-se
também de um investimento educativo dos projetos de escola, pois ambos estão inter-
ligados e o local onde o professor aprende e se desenvolve é justamente na escola, já
que, na visão dele, a formação deve ser encarada como contínua e permanente.
SAIBA MAIS
` Sugestão de leitura:
HUBERMAN, Michaël. O ciclo de vida profissional dos professores. In: NÓVOA, António
(Org.). Vidas de professores. 2. ed. Porto: Porto, 2000. p. 31-61.
Neste capítulo, o professor fala sobre o ciclo profissional do professor, desde o início da sua
carreira até o final, e disserta sobre suas ideias.
“Precisamos colocar o foco na formação profissional dos professores”, avalia António Nóvoa.
2017. 1 vídeo (9 min. e 27 s.). Publicado pelo Instituto Claro. Disponível em: https://www.
youtube.com/watch?v=KqopJQO3K0E&t=51s. Acesso em: 6 jan. 2021.
António Nóvoa
` educador.
Filosofia da educação 81
Filosofia e educação
CONCLUSÃO
Nesta unidade, você pôde entender como a Filosofia e a Educação estão interligadas
através do pensamento crítico e da reflexão acerca das questões fundamentais e do
processo educacional.
Você percebeu também que a ideia de Educação é muito antiga, vem do período clássi-
co, que os filósofos chamavam de Paideia, e pensavam em uma educação integral, que
compreendia todo tipo de ensino.
Nesta unidade, você conheceu alguns nomes que são importantes para a área da Pe-
dagogia, como: Jean Piaget, Lev Vygotsky, Henri Wallon, Paulo Freire e António Nóvoa.
Piaget não era um educador de formação, e sim biólogo, mas seus estudos contribuíram
muito para a Educação. Ele é autor da teoria dos estágios de desenvolvimentos cogniti-
vos e também da ideia de aprendizagem por assimilação, acomodação e adaptação, e
acredita que a criança aprende o que consegue aprender de acordo com sua maturidade.
Vygotsky é considerado um dos grandes nomes da educação, mesmo não tendo for-
mação específica na área. Embora tenha morrido precocemente, deixou um legado
que conta com mais de 200 estudos acadêmicos, e alguns deles contribuíram para a
Educação. Segundo ele, um conceito importante é o de mediação, que ocorre na zona
de desenvolvimento proximal, que fica entre o que a criança já sabe (zona real) e o que
ela ainda não sabe (zona potencial).
Wallon foi um psiquiatra e psicólogo que concentrou parte dos seus estudos na área da
psicologia infantil, ele vê o ser humano em sua totalidade e defende a ideia de formação
integral, que compreenda a formação afetiva, intelectual e motora. É autor também de
82
uma teoria de estágios de desenvolvimento, que pode contribuir para a área educacio-
nal, auxiliando professores a entenderem as fases e pensarem na educação através da
formação integral.
3
Paulo Freire, patrono na educação brasileira, foi um importante educador e ganhou desta-
que por conta do seu método de alfabetização de jovens e adultos, que era feito em pouco
Esses foram alguns dos principais nomes da Educação que você estudou nesta unida-
de de aprendizagem, e percebeu que, embora alguns não sejam educadores de forma-
ção, seus estudos contribuíram e contribuem para a Educação e para a Pedagogia de
maneira assertiva.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. ANGELO, V. A. de. Estado Novo em Portugal – dez. 2020.
Regime salazarista foi marcado pelo autoritarismo. 7. GRATIOT-ALFANDÉRY, H. Henri Wallon. Tra-
História geral. Educação. UOL, 2012. Disponível em: dução e organização de Patrícia Junqueira. Recife:
https://educacao.uol.com.br/disciplinas/historia/esta- Fundação Joaquim Nabuco, Editora Massangana,
do-novo-em-portugal-regime-salazarista-foi-marca- 2010. 134 p. (Coleção Educadores). Disponível em:
do-pelo-autoritarismo.htm. Acesso em: 26 dez. 2020. http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/Deta-
2. ANTÓNIO Sampaio da Nóvoa, 60 anos. Biogra- lheObraForm.do?select_action=&co_obra=205242.
fia. Sampaio da Nóvoa, [s. d]. Disponível em: http:// Acesso em: 26 dez. 2020.
www.sampaiodanovoa.pt/biografia/. Acesso em: 6 8. HADDAD, S. A prisão de Paulo Freire, “subver-
jan. 2021. sos dos menos favorecidos”, na ditadura. El País,
3. BEISIEGEL, C. R. Paulo Freire. Recife: Funda- 2019. Disponível em: https://brasil.elpais.com/bra-
ção Joaquim Nabuco, Editora Massangana, 2010. sil/2019/10/22/cultura/1571754417_189523.html.
128 p. (Coleção Educadores). Disponível em: http:// Acesso em: 26 dez. 2020.
www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObra- 9. HENRI, Wallon: O educador integral. Nova Es-
Form.do?select_action=&co_obra=205216. Acesso cola, [s. d.]. Disponível em: https://novaescola.org.
em: 26 dez. 2020. br/conteudo/7229/henri-wallon. Acesso em: 26 dez.
4. CRUZ, A. USP concede título de Doutor honoris 2020.
causa ao professor António Nóvoa. Jornal da USP, 10.IVIC, I. Lev Semionovich Vygotsky. Edgar Pe-
2020. Disponível em: https://jornal.usp.br/institucio- reira Coelho (Org.). Tradução de José Eustáquio
nal/usp-concedera-titulo-de-doutor-honoris-causa- Romão. Recife: Fundação Joaquim Nabuco, Editora
-ao-professor-da-universidade-de-lisboa-antonio-no- Massangana, 2010. 140 p. (Coleção Educadores).
voa/. Acesso em: 26 dez. 2020. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/
5. EDUCAÇÃO, Michaelis, UOL, [s. d.]. Disponível pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_
em: https://michaelis.uol.com.br/moderno-portu- obra=205241. Acesso em: 26 dez. 2020.
gues/busca/portugues-brasileiro/educa%C3%A7%- 11. MOREIRA, M. A. Teorias de aprendizagem. São
C3%A3o/. Acesso em: 20 dez. 2020. Paulo: EPU, 1999.
6. FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 17. ed. Rio 12.MUNARI, A. Jean Piaget. Tradução e organiza-
de Janeiro: Paz e Terra, 1987. Disponível em: https:// ção de Daniele Saheb. Recife: Fundação Joaquim
cpers.com.br/wp-content/uploads/2019/10/Pedago- Nabuco, Editora Massangana, 2010. 156 p. (Coleção
gia-do-Oprimido-Paulo-Freire.pdf. Acesso em: 26 Educadores). Disponível em: http://www.dominiopu-
Filosofia da educação 83
Filosofia e educação
84
Filosofia da educação
85
3
UNIDADE 4
INTRODUÇÃO
No decorrer deste livro, você viu conceitos básicos da Filosofia ao longo da história da
humanidade, aprendeu sobre algumas formas de conhecimento e como elas se iden-
tificam com a Educação, além de estudar os principais filósofos e os grandes nomes
ligados à Educação e suas teorias.
Nesta última unidade, você conhecerá um pouco sobre os novos desafios para a Filo-
sofia e de que maneira podemos relacioná-los com a Educação e com a Pedagogia na
atualidade.
Você estudará também, de maneira breve, sobre a transição da Filosofia moderna para
a Filosofia contemporânea, que ocorre entre os séculos XVIII e XIX e solidifica-se nos
séculos XX e XXI, além de entender como esses pensamentos filosóficos influenciaram
e influenciam a Educação atual.
Para isso, falaremos sobre a Escola de Frankfurt, que teve início no século XX, e como
ela foi um marco para a ideia de Educação que se tem hoje. Por meio dela, você saberá
quais eram os pensamentos predominantes, quais eram as pautas estudadas e quais
os principais nomes ligados à escola.
Ainda nesta unidade você estudará sobre a Indústria Cultural, como a ideia está ligada ao
conceito de alienação de uma sociedade e a produção de arte como objeto de consumo.
Todas essas indagações nos fazem refletir sobre qual é o papel do professor dentro
da contemporaneidade e como a Filosofia pode contribuir para uma educação, de fato,
transformadora.
86
GLOSSÁRIO
con·tem·po·râ·ne·o
adj
4
1. Que é do mesmo tempo; que existiu ou viveu na mesma época; coetâneo, coevo, temporâneo.
sm
Informações complementares
VAR.: contemporão.
Etimologia
lat contemporanĕus.
Através do significado contido no dicionário Michaelis, você pode observar que “con-
temporâneo” tem ligação com atualidade, o que é do nosso tempo, mas será que para
a Filosofia e para a História a palavra tem o mesmo significado?
Filosofia da educação 87
Filosofia e os novos desafios
SAIBA MAIS
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Revolu%C3%A7%C3%A3o_Francesa#/
media/Ficheiro:Anonymous_-_Prise_de_la_Bastille.jpg. Acesso em: 23 fev.
2021.
A Revolução Francesa, como o próprio nome diz, aconteceu na França, entre os anos de
1789 e 1799. Durante esse período, percebia-se um grande movimento político e social no
país que, por consequência, teve um impacto que perdurou na história da França e abrangeu
toda a Europa. A desigualdade social que ocorria no país motivou a revolução, pois a nação
vivia em regime de monarquia absolutista e a maioria da população pagava altos impostos e
vivia em condições precárias.
Assista ao vídeo sugerido a seguir e veja um resumo do que foi a Revolução Francesa.
https://www.youtube.com/watch?v=I8q0S_XGwdg&t=415s. Acesso em: 23 fev. 2021.
Pode-se dizer que o iluminismo foi um movimento intelectual que surgiu na Europa
depois do período medieval. O foco principal era usar a razão, que remete à luz, para
fazer as reflexões que antes eram feitas, em geral, pelos pensadores religiosos. O anti-
go período era visto como “trevas”, portanto a luz do iluminismo surgia com o intuito de
“combater” as trevas.
88
Ainda no século XIX, contrapondo-se ao capitalismo, surgiu o pensamento socialista,
em que, resumidamente, através da ótica da economia, ocorreu o processo histórico-
-social da exploração, da força de trabalho e seus desdobramentos, o que mobilizou os
trabalhadores a entenderem qual era sua classe, ganhando, assim, consciência.
SAIBA MAIS
Pode-se dizer que os direitos humanos são os direitos básicos que devem ser assegurados
para todos os seres humanos, sem distinguir classe social, raça, nacionalidade, religião,
cultura, orientação sexual e gênero.
Para entender mais sobre o que são os direitos humanos, assista ao seguinte vídeo:
A seguir, você estudará sobre a Escola de Frankfurt e sobre a Indústria Cultural, conhe-
cerá os principais pensadores da época e verá como é possível ligar suas ideias com
a Educação.
Vale salientar que a Escola de Frankfurt surgiu em um período histórico entre as Duas
Grandes Guerras, na Alemanha, e teve como nomes importantes alguns pensadores
como Theodor Adorno e Max Horkheimer, que faziam críticas ao regime fascista italia-
no, ao nazismo alemão e ao socialismo soviético, ou seja, criticavam regimes tanto da
direita quanto da esquerda.
É possível perceber então que, mesmo tendo como base as ideias marxistas, a Es-
cola de Frankfurt critica o governo socialista soviético de Stalin e tudo que tem como
base o totalitarismo.
Filosofia da educação 89
Filosofia e os novos desafios
Dentro desse contexto, você conhecerá três pensadores muito importantes para a Es-
cola de Frankfurt, dentre outros grandes estudiosos que contribuíram demasiadamente
para a escola e sua filosofia.
Theodor Adorno
4
Figura 02. Theodor Adorno Theodor Wiesengrund-Adorno nasceu no ano de
1903, em Frankfurt, na Alemanha, e foi um gran-
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Theodor_W._Adorno#/
de pensador que pertenceu à Escola de Frank-
Juntamente com Horkheimer, Adorno escreveu Dialética do iluminismo, que também foi pu-
blicado como Dialética do esclarecimento, em que ambos desenvolveram a Teoria Crítica
(ARANTES, 1980, p. 10). Nessa obra, ambos esclarecem o conceito de Indústria Cultural
(sobre o qual você verá mais adiante), conceito esse que fazia parte da Escola de Frankfurt.
A Teoria Crítica tratava-se justamente de uma crítica à academia e aos modelos culturais em
voga e à recente hegemonia americana na cultura que surgia. Essa teoria também propunha
uma nova visão/interpretação do socialismo e revisava os conceitos da psicanálise e da so-
ciologia, tentando apresentar formas de romper com a alienação e a exploração do operário
e da população em geral.
SUGESTÃO DE LEITURA
O livro Dialética do esclarecimento é uma obra muito importante para entender o período
contemporâneo, pois ele faz uma análise de como a sociedade chegou ao ponto em que
está, isto é, como, após o iluminismo e a tentativa de universalização de conhecimento, a
chegada da tecnologia, as pessoas enquanto sociedade resolveram apoiar regimes autoritá-
rios como, por exemplo, o fascismo e o nazismo. Reflete sobre a Indústria Cultural e o poder
de dominação em massa.
É uma obra densa, com muitos conceitos importantes que conseguem transmitir a essência
do período contemporâneo.
90
SAIBA MAIS
Em suma, pode-se dizer que nessa obra os autores dizem que o esclarecimento acaba por
ser o anseio que os sujeitos têm de dominar a natureza a seu favor, isto é, ter conhecimento,
dominar as técnicas, e com isso conclui-se que o esclarecimento é uma forma de totalitarismo,
pois seu objetivo é a dominação, e é exatamente nesse ponto que iniciam as críticas de ambos
contra os regimes totalitários, como o fascismo, o nazismo e, de certa forma, até o comunismo.
SAIBA MAIS
Para conhecer mais sobre Max Horkheimer acesse o vídeo a seguir que trata um pouco so-
bre a Teoria Crítica e o marxismo. Trata-se de um trecho de um vídeo de 1969, com legendas
em inglês e português.
HORKHEIMER, Max. Teoria Crítica e marxismo, 1969. 1 vídeo (1 min 57 s). Publicado por Vicfiori.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=o-WWvteGCWM. Acesso em: 27 jan. 2021.
Filosofia da educação 91
Filosofia e os novos desafios
Walter Benjamin
Figura 04. Walter Benjamin Walter Benjamin nasceu no ano de 1892, em Berlim,
na Alemanha, em uma família de judeus. Ele foi filó-
commons/c/cc/Walter_Benjamin_vers_1928.jpg.
sofo, crítico literário e ensaísta. Segundo Baixo: “A
Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/
4 filosofia da história de Walter Benjamim bebe em três
fontes diferentes: o romantismo alemão, o messia-
nismo judeu e o marxismo” (BAIXO, 2002, p. 1). Isto
é, para tentarmos entender suas ideias é necessário
que saibamos o contexto no qual ele viveu, pois atra-
vés dessas três concepções ele criou uma nova.
A história dele sendo um alemão judeu está intimamente ligada às suas ideias, e o pensador
contribuiu com a Escola de Frankfurt, pois parte de sua obra tenta entender a sociedade por
meio da cultura de massa e da indústria cultural, conceitos extremamente importantes que
ainda influenciam o mundo atual. As ideias de Benjamin você verá mais profundamente no
próximo item, intitulado “Indústria Cultural”, em que conhecerá o conceito de “aura” e a per-
cepção dele sobre o assunto.
Além desses três grandes nomes, outras duas figuras importantes do período contemporâ-
neo são Herbert Marcuse e Erich Fromm.
Herbert Marcuse
92
Ele partia do princípio de que, com o avanço da sociedade industrial, as falsas necessidades
de consumo acabam por fazer parte da mentalidade do indivíduo e que os meios de comu-
nicação de massa induzem a sociedade a desejar o consumo cada vez mais. Portanto, suas
ideias se fazem pertinentes, inclusive, nos dias de hoje, pois, além dos meios de comunica-
ção que já existiam naquela época, surgiram outros que reproduzem o mesmo pensamento. 4
Devido a sua formação, Fromm entendia que a Psicologia e a Sociologia eram capazes de estudar
as questões da sociedade contemporânea, portanto fazia uma análise psicanalítica da sociedade.
Dessa forma, Indústria Cultural engloba uma crítica feita pelos autores em relação às
classes sociais dominantes, que utilizavam os meios de comunicação de massa, a cul-
tura e as artes para dominar o povo, aliená-los sobre o que de fato acontecia e também
com objetivo comercial. Nessa ótica, Adorno e Horkheimer acreditavam que os produtos
dessa indústria da cultura eram problemáticos, pois visavam apenas o lucro, e a arte
Filosofia da educação 93
Filosofia e os novos desafios
em si perdia suas características reais. Na visão deles, os produtos culturais são pro-
duzidos com o intuito de venda, geração de receita e de forma massiva, como numa
indústria em larga escala (ARANTES, 1980, p. 16).
Mas será que esse conceito criado por Adorno e Horkheimer está distante da realidade atual?
4
Reportagem
Compositores de música sertaneja moram juntos para produzir hits. Fantástico
A reportagem do programa “Fantástico” fala sobre uma espécie de “república” na qual compositores de
música sertaneja moram e produzem músicas do gênero em tempo integral.
Os compositores moram em uma casa em Goiânia, onde produzem muitas canções durante o dia, funcio-
nando como uma fábrica de composições. As canções são vendidas a cantores, tanto iniciantes quanto
músicos já consagrados. Todas as composições têm objetivo comercial e não necessariamente artístico.
Observando tal fato, será que o conceito de “Indústria Cultural” criado por Adorno e Horkheimer ainda se
encontra atual?
COMPOSITORES DE MÚSICA SERTANEJA MORAM JUNTOS PARA PRODUZIR HITS. G1, 2019. Dis-
ponível em: https://g1.globo.com/fantastico/noticia/2019/04/08/compositores-de-musica-sertaneja-moram-
-juntos-para-produzir-hits.ghtml. Acesso em: 27 jan. 2021.
Outro pensador que também contribuiu para a Escola de Frankfurt e para o contexto de
Indústria Cultural foi Walter Benjamin. É autor do livro A obra de arte na era de sua re-
produtibilidade técnica, no qual fala sobre o conceito de “aura” – algo único, singular, da
própria obra de arte, e quando a arte é reproduzida em escala perde essa aura, fazendo
com que a própria obra perca seu valor artístico (ARANTES, 1980, p. 15).
Por exemplo, a reprodução de uma das obras de arte mais famosas do mundo, como
a Monalisa, fez com que a obra de Leonardo da Vinci se popularizasse, que pessoas
do mundo inteiro que não têm condições de ir até o Museu do Louvre, em Paris, co-
nhecessem a pintura. Porém, somente na pintura original encontra-se a singularidade
da obra, segundo Benjamin. Na obra original, é possível notar sua autenticidade, sua
singularidade, ou seja, sua aura.
Atualmente, através da internet, é possível visitar museus do mundo inteiro por meio
virtual, conhecer as obras de arte mais famosas sem sair de casa. Mas será que essa
reprodução traz a mesma essência de realmente estar no próprio museu? Essa é a
ideia de reprodutibilidade que Benjamin descreveu em seu livro, mostrando o contraste
da reprodução em massa das obras de arte.
94
Experiência virtual: casa de Anne Frank online
A casa de Anne Frank é um dos pontos turísticos mais procurados em Amsterdã, na Holanda, pois ela
serviu de anexo secreto para a família de Anne e mais quatros pessoas, durante o período da Segunda
Guerra Mundial. O grupo ficou confinado por mais de dois anos, fugindo do Holocausto.
4
Através da internet, é possível conhecer a casa toda, que se transformou em um museu que conta a
história da garota judia. O diário em que ela relata sua vivência durante esses dois anos está exposto lá.
Theodor Adorno
Max Horkheimer
Walter Benjamin
INDÚSTRIA CULTURAL
É claro que, conforme o tempo passa, a sociedade muda e traz novas demandas a se-
rem pensadas e repensadas referentes à vida e à prática pedagógica.
Filosofia da educação 95
Filosofia e os novos desafios
Nesse aspecto, podemos perceber que a educação visa o desenvolvimento dos seres
humanos de maneira ampla (física, intelectual e moral) e também a integração dos
sujeitos dentro de uma sociedade. Observando essas definições e as ideias contidas
nelas, a educação pode ser utilizada como uma maneira de dominação e/ou de liberta-
ção, a depender do que é ensinado e de como é ensinado.
Você já parou para pensar que tipo de educação vem sendo desenvolvida no Brasil?
Para refletir sobre isso, vale fazer um breve panorama histórico.
A necessidade de educação escolar teve início no Brasil com a chegada dos portu-
gueses e com o processo de colonização – a educação era, então, um trabalho que
tinha como objetivo catequizar os índios e aculturá-los, impondo, inclusive, a língua
portuguesa como obrigatória. A estrutura educacional desse período era política, pois
visava a desvalorização da cultura local, já que o índio era considerado um selvagem a
ser domesticado, imagem semelhante à que se tinha dos negros escravizados quando
chegaram ao Brasil – vistos como mercadoria e sem o direito de estudar –, fato que
continuou a acontecer por muitos anos.
SAIBA MAIS
Gostaria de entender um pouco mais sobre a história da Educação?
96
Ou através da série especial “História da Educação no Brasil”, da revista Nova Escola.
Nesse cenário atual, a Filosofia se faz necessária tanto quanto se fez necessária desde
o período clássico, pois é através dela que retomamos os pensamentos, por meio da
reflexão, e encontramos caminhos para avançar.
GLOSSÁRIO
cul·tu·ra
sf
1 AGR Ato, processo ou efeito de trabalhar a terra, a fim de torná-la mais produtiva; cultivo,
lavra.
5 BIOL Ato de cultivar células ou tecidos vivos numa solução com nutrientes, em condições
adequadas, a fim de realizar estudos científicos.
Filosofia da educação 97
Filosofia e os novos desafios
O significado que consegue nos levar a refletir sobre Educação é: “Conjunto de conhe-
cimentos, costumes, crenças, padrões de comportamento, adquiridos e transmitidos
socialmente, que caracterizam um grupo social”. Ou até: “formação do homem, sua me-
lhoria e seu refinamento”. Entretanto, não se deve reduzir cultura simplesmente a esse
conjunto de conhecimentos transmitido e adquirido por grupos sociais ou a formação do
homem e sua melhoria; é o que afirma Geertz no trecho a seguir:
O homem não pode ser definido nem apenas por suas habilidades inatas,
como fazia o iluminismo, nem apenas por seu comportamento real, como faz
grande parte da ciência social contemporânea, mas sim pelo elo entre elas,
pela forma em que o primeiro é transformado no segundo, suas potencialida-
des genéricas focalizadas em suas atuações específicas (...). Assim como a
cultura nos modelou como espécie única – e sem dúvida ainda nos está mo-
delando – assim também ela nos modela como indivíduos separados. É isso
o que temos realmente em comum – nem um ser subcultural imutável, nem
um consenso de cruzamento cultural estabelecido. (GEERTZ, 1989, p. 37-38)
Dessa forma, percebemos que a cultura não é estática, muito pelo contrário, ela é dinâ-
mica e muda conforme a sociedade muda, portanto está em constante evolução.
98
Para isso, deve-se levar em conta o que Silva (2005, 2005, p.85) chama de multicultu-
ralismo. O autor diz que não é possível separar as questões culturais do poder – nesse
contexto, cabe a educação colonial, por exemplo. O autor acredita que, assim como a
cultura contemporânea, o multiculturalismo é ambíguo, pois “é um movimento legítimo
de reivindicação dos grupos culturais dominados no interior daqueles países para terem
4
suas formas culturais reconhecidas e representadas na cultura nacional” (SILVA, 2005,
p. 85), porém, ainda segundo Silva, existe o outro lado, que pode ser visto como “uma
Dessa forma, é papel da Filosofia levantar questões sobre temáticas de cunho cultural
e social, com a finalidade de incluir as diversas culturas que estão presentes no nosso
país de maneira realmente representativa, mostrando que não há uma cultura superior
a outra, todas estão nos mesmos níveis, mas historicamente fomos levados a acreditar
que a cultura que vinha do Norte Global era superior à nossa, fazendo com que os pa-
drões de lá se repetissem aqui.
Através de iniciativas como a dessa lei, percebe-se que a Educação brasileira tenta
trilhar um caminho de uma educação mais inclusiva, que visa resgatar a cultura que
até então não havia sido mostrada nos livros didáticos, pois eles eram sempre feitos
na perspectiva ocidental. As leis educacionais brasileiras surgiram, então, para garantir
Filosofia da educação 99
Filosofia e os novos desafios
que essas pautas sejam colocadas em discussão e que promovam o pensamento crí-
tico dos alunos, fazendo com que eles se sintam representados e conheçam a cultura
brasileira que está ligada principalmente à cultura africana, indígena e europeia.
GLOSSÁRIO
de·sen·vol·vi·men·to
sm
3 Aumento das condições ou qualidades físicas (força, tamanho, vigor, volume etc.); cresci-
mento.
100
10 GEOM Representação da superfície de um corpo sólido sobre um plano.
12 MAT Transformação de uma expressão em outra equivalente, mais extensa, porém mais 4
acessível ao cálculo.
14 MÚS Execução de um tema (em especial, na sonata ou na fuga), motivo ou ideia, por mo-
dificações rítmicas, melódicas ou harmônicas; parte da música em que tal execução ocorre;
crescimento.
É claro que iniciativas como essas são boas, pois visam desenvolver a sociedade de
maneira sustentável, criar oportunidades para todos. Mas você já parou para pensar no
real sentido dessa educação para todos?
Como acabamos de ver, a ideia de desenvolvimento está, quase sempre, ligada a algo
positivo e que através desse conceito é possível “evoluir” como sociedade.
Portanto, há um grande desafio para a atualidade: como educar sem aculturar? Como
“desenvolver” a educação de um povo de forma inclusiva?
Essas questões não são fáceis de serem respondidas, uma vez que vivemos em um
mundo globalizado e para conseguirmos suprir as necessidades do dia a dia, como
alimentação, moradia, segurança, precisamos buscar essa educação que nem sempre
visa ensinar para educar, e sim ensinar para satisfazer a uma demanda de mercado.
Esse conceito está intimamente ligado à teoria do desenvolvimento econômico, pois, para
que uma sociedade consiga se desenvolver economicamente, é necessário que ela alar-
gue sua industrialização. “(...) a teoria do desenvolvimento econômico era concebida
como um simples alargamento da teoria econômica assente no crescimento e na indus-
trialização” (GÓMEZ, 2007, p. 16). Ou seja, para desenvolver a economia é “necessário”
formar pessoas qualificadas para conseguir acompanhar o crescimento industrial.
SUGESTÃO DE LEITURA
No livro escrito pelo francês Christian Lavan e traduzido por Mariana Echalar, a educação é
discutida através do avanço neoliberal, e o autor disserta sobre como grandes órgãos, como
o Banco Mundial, por exemplo, pressionam os sistemas de educação para se moldarem ao
capitalismo contemporâneo.
LAVAL, Christian. A escola não é uma empresa. Tradução de Mariana Echalar. São Paulo:
Boitempo Editorial, 2019.
102
2.2. AS MULHERES NA FILOSOFIA: UMA NOVA TENDÊNCIA?
Seria a Filosofia uma área predominantemente masculina? Havia mulheres filósofas na
Antiguidade? E na atualidade? Questões como essas por vezes surgem na mente de
quem estuda Filosofia, pois, quando começamos a estudar os conceitos básicos e os
principais pensadores, deparamo-nos, quase sempre, com nomes de homens, como os 4
principais filósofos da humanidade. Então, afinal, há mulheres filósofas?
SUGESTÃO DE LEITURA
Filósofas: a presença das mulheres na Filosofia. Organizadora: Juliana Pacheco
O livro Filósofas: a presença das mulheres na Filosofia, idealizado e organizado por Juliana
Pacheco, traz 19 capítulos que contam um pouco sobre a vida e a obra de 19 filósofas que
fazem parte da história da Filosofia desde a Antiguidade até o presente momento.
Vale salientar que existem muito mais que 19 mulheres filósofas, porém a autora teve de
escolher os principais nomes para sua obra.
http://docs.wixstatic.com/ugd/48d206_3d0d3201e32a4ef6bff8c18b7b85719a.pdf. Acesso
em: 27 jan. 2021.
No livro Filósofas: a presença das mulheres na Filosofia, você pode conhecer nomes
de filósofas de várias partes do mundo, alguns menos conhecidos e outros bastante
famosos, como Hannah Arendt, Simone de Beauvoir e Angela Davis.
Hannah Arendt
https://www.youtube.com/watch?v=EWpnkVJsyEs.
Acesso em: 24 fev. 2021.
Simone de Beauvoir
commons/c/c1/Simone_de_Beauvoir2.png. Acesso
sofa e feminista. Cursou Filosofia na Universidade
4 de Sorbonne e com apenas 23 anos já era profes-
Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/
sora universitária.
Angela Davis
Figura 10. Angela Davis Angela Davis nasceu em 1944, no Alabama, nos
Estados Unidos da América. Ela se formou filósofa
Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/6/66/
https://www.youtube.com/watch?v=HGa8d3uFOt4.
Acesso em: 24 fev. 2021.
104
Lélia Gonzalez
Em uma de suas obras, intitulada Racismo e sexismo na cultura brasileira, a filósofa debate
o mito da democracia social no Brasil e se baseia na psicanálise (Freud e Lacan) para tentar
entender o racismo no Brasil e o que ela chama de neurose cultural brasileira.
Infelizmente, Lélia morreu jovem, em 1994, por causa de problemas cardiovasculares, mas
certamente sua obra é fundamental para entender o Brasil e contribui muito para a Educação
contemporânea, principalmente no combate ao racismo.
SAIBA MAIS
Marilena Chauí
Marilena Chauí nasceu em 1941, na cidade de São Paulo, e é uma importante filósofa brasi-
leira. Além de professora e autora, foi também Secretária Municipal da Cultura de São Paulo,
no período de 1989 a 1992.
Marilena Chauí é uma mulher fundamental na contemporaneidade, que auxilia no saber filo-
sófico e contribui positivamente para a Educação atual, pois através de suas obras é possível
entender Filosofia de uma maneira prática e perceber o quanto a disciplina é importante para
o mundo e para o Brasil atual.
SAIBA MAIS
No vídeo indicado a seguir, a filósofa Marilena Chauí explica o que é cultura. Esta, e é uma
boa oportunidade para você conhecer um pouco sobre a pensadora.
Sueli Carneiro
Figura 13. Sueli Carneiro Sueli Carneiro nasceu em 1950, na cidade de São
Paulo, e ingressou na Universidade de São Paulo
File:SueliCarneiro.jpg; . Acesso em: 24 fev. 2021.
106
Uma de suas obras mais importantes é Racismo, sexismo e desigualdades no Brasil (2011),
na qual reflete, por meio de diversos textos, e convida o leitor a refletir criticamente sobre a
sociedade brasileira e como as relações sociais no Brasil são estruturadas através do sexis-
mo e do racismo.
4
Sem dúvida, Sueli Carneiro é uma filósofa contemporânea que auxilia a compreender a so-
ciedade brasileira atual e contribui para uma educação transformadora que visa igualdade
SAIBA MAIS
Nesse vídeo, a filósofa e doutora em Educação, Sueli Carneiro, fala brevemente sobre a
trajetória contra o racismo e como ela transformou sua indignação em luta.
Nesse pequeno vídeo, Sueli Carneiro fala sobre a relação entre a Ciência e o racismo e tam-
bém discorre sobre o conceito de epistemicídio.
Djamila Ribeiro
Em Pequeno manual antirracista, Djamila fala sobre alguns conceitos, como racismo, negritu-
de e branquitude, além de discorrer a respeito de violência racial e cultura. Em 11 capítulos,
a filósofa reflete e argumenta por que a prática antirracista é urgente e necessária.
Em suas obras, Djamila escreve sobre feminismo, racismo e sexismo. Na tese de mestrado, a
filósofa dissertou sobre a teoria feminista a partir da análise de Simone de Beauvoir e Judith Buther.
Djamila Ribeiro é uma importante pensadora contemporânea que discute temas extrema-
mente relevantes para a sociedade brasileira atual, como sexismo, feminismo e racismo.
Sua forte presença nas redes sociais consegue aproximar jovens e promover debates sobre
essas questões que, na atualidade, devem ser consideradas fundamentais em busca de uma
4 sociedade mais justa e igualitária.
SAIBA MAIS
Vídeo: Precisamos romper com os silêncios. Djamila Ribeiro. TED x São Paulo Salon
Participação da filósofa contemporânea Djamila Ribeiro no evento TED x São Paulo, falando
sobre romper silêncios, inclusão social e lugar de fala.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=6JEdZQUmdbc. Acesso em: 27 jan. 2021.
SUGESTÃO DE LEITURA
O que é lugar de fala? – Djamila Ribeiro
Nesse livro, Djamila Ribeiro fala sobre um conceito que vem sendo bastante discutido: o
lugar de fala. Na obra, ela questiona quem tem direito a voz em uma sociedade majoritaria-
mente branca, masculina e heterossexual, e nos faz pensar em outros lugares de fala e na
importância de mostrar diversas perspectivas, dando voz a quem realmente deve falar.
Lélia Gonzalez
Marilena Chauí
Sueli Carneiro
Djamila Ribeiro
108
3. CONTRIBUIÇÃO DA FILOSOFIA PARA UMA EDUCAÇÃO
TRANSFORMADORA
Através deste livro, você já percebeu que, embora seja difícil conseguir conceituar Fi-
losofia, ela é provocadora e serve para nos fazer refletir sobre diversas questões que
4
circundam a vida humana. Ela está presente na política, na ética, na estética, portanto
está presente o tempo todo, inclusive na Educação.
A Filosofia vem contribuindo para a Educação há muito tempo, desde a era clássica,
mas, quando se fala de contemporaneidade, ela se fez extremamente presente na Es-
cola de Frankfurt, pois lá grandes pensadores contemporâneos criaram o conceito de
Indústria Cultural e faziam críticas aos governos totalitaristas e como esses governos
utilizavam-se da cultura de massa para ganharem mais poder.
Um exemplo dessa temática é a propaganda nazista, que tinha apelo emocional mostrando
uma Alemanha próspera, mas, para isso estimulava o preconceito e o discurso de ódio nas
pessoas. O resultado, a própria História conta: o maior massacre da história da humanidade.
É papel da Filosofia contribuir para uma formação mais crítica, humanitária e justa. É
através dela e de seus princípios que se abre espaço para o diálogo, pois, quando há
diálogo, há, então, uma tentativa de exposição de ideias, de construção e desconstru-
ção de conceitos, há espaço para pensar, há espaço para tentar compreender o mundo
de maneira diferente.
A escola deve ser esse ambiente aberto para a conversa e para discussões de todos
os âmbitos, pois é nela que o aluno se insere com os seus conhecimentos em busca de
escolarização e da expansão desse conhecimento. Cabe à instituição de ensino, então,
acolher e promover esses debates.
Levando em consideração os dados do IBGE (2019, [n. p.]), a maioria dos estudantes
brasileiros está na rede pública de ensino. Na fase de creche e pré-escolar, são 74%
das crianças, no ensino fundamental 82%, e ensino médio 87%. (IBGE, 2019, [n. p.]).
Isso significa que a maioria das crianças e dos adolescentes brasileiros frequenta a
escola de ensino público e que para conseguirmos uma melhora global na educação é
necessário, mais do que nunca, investir na escola pública.
Não é incomum alguém ouvir um parente idoso dizer que antigamente a escola pública
era boa e que tinha qualidade, e que hoje em dia não se vê isso. Esse pensamento
do senso-comum é recorrente em muitos lugares, mas verdadeiro é relativo, pois
antigamente a escola pública não era para todos, era seletiva e elitista. Por não ser
obrigatória, muitas pessoas de origem mais humilde não terminavam o então “primeiro
grau” (hoje, ensino fundamental) e já começavam a trabalhar. Atualmente, a escola
pública está longe de ser perfeita e de atingir níveis altos de qualidade em exames
externos e internacionais, mas é melhor do que era antes, porque, hoje, ela consegue
4
englobar a maior parte da população, mais crianças estão na escola e um pouco mais
distantes do trabalho infantil.
Essas crianças que chegam às escolas todos os dias juntamente com sua mochila,
trazem consigo também seus sonhos (os que sabem sonhar), suas angústias e suas
histórias. A escola é, por vezes, o espaço de acolhimento, de alimentação, de discus-
são, de amizade, de integração, de inclusão e de ensino e aprendizagem. Portanto, o
papel do educador e da gestão escolar em si tem se tornado a cada dia mais complexo
e desafiador, pois a instituição de ensino não é apenas um lugar de absorção de conhe-
cimento e conteúdo; há muito tempo, ela tem sido, muitas vezes, a segunda casa das
crianças e adolescentes que ali passam e onde esses jovens acabam por despejar seus
problemas pessoais.
Por mais que o contexto da Indústria Cultural tenha sido criado na Escola de Frankfurt
no século passado, ele nunca esteve tão próximo de escolas da atualidade, devido à
globalização e à propagação desenfreada da internet. É possível enxergá-lo pratica-
mente a todo tempo nas redes sociais, porque através delas o mercado tomou outra
forma, e a melhor maneira de vender, seja um conceito, um serviço ou produto, está nas
plataformas digitais. A propaganda nem sempre tem “cara” de propaganda, pois, por
vezes, o produto aparece como indicação de um influenciador digital.
De certa forma, é possível dizer que a Indústria Cultural se reproduz nas redes sociais,
já que os algoritmos são capazes de nos direcionar para determinada postagem de
acordo com as publicações que curtimos, compartilhamos e comentamos, e assim esta-
mos cada vez mais conectados e mais doentes emocionalmente. Ainda relacionando a
Indústria Cultural da Escola de Frankfurt com a atualidade, a propagação de fake news
tem feito um papel semelhante à propaganda nazista, pois dissemina a desinformação
e o discurso de ódio.
O grande problema é que todos esses conflitos do período em que vivemos não estão
somente no campo virtual, eles saem das telas e chegam dentro das salas de aula e
nesse momento o que o professor deve fazer? Qual é o papel do professor? Qual o
papel da escola? Qual o papel da Filosofia?
Todas as questões aqui levantadas são atuais e pertinentes ao cenário de mundo glo-
balizado, são questões que precisam ser refletidas e discutidas dentro do ambiente
escolar, por isso a Filosofia se torna imprescindível, pois é nela que conseguimos a
base para discutir sobre política, ética, estética, ontologia e epistemologia, ou seja, tudo
110
que se faz presente em uma escola. É nela que os debates atuais sobre igualdade de
gênero, sexualidade e questões étnico-raciais vão ser baseados. Através da Filosofia os
alunos poderão debater formas de conhecimento e tornar-se cidadãos críticos e aptos
a discutir as demandas da sociedade atual.
Através dos campos da Filosofia é possível, então, utilizar de conhecimento para com- 4
preender a contemporaneidade.
` INDAGAR
EDUCAÇÃO
FILOSOFIA ` REFLETIR
EMANCIPADORA
` QUESTIONAR
CONCLUSÃO
Nesta quarta e última unidade, você pôde refletir criticamente sobre as novas tendên-
cias da Filosofia contemporânea e conheceu o conceito de contemporaneidade no sen-
tido do senso-comum e também para a História e para a Filosofia.
Além disso, você viu que as mulheres da filosofia não são exatamente uma tendência
contemporânea, que elas já existiam desde a Antiguidade, e conheceu as principais
No terceiro e último tópico, você refletiu sobre as contribuições da Filosofia para uma
Educação transformadora e pôde relacionar a Filosofia e a Educação novamente. Per-
4 cebeu que a função da Filosofia é levantar questionamentos, fazer indagações sobre
as questões fundamentais da vida e assim tentar buscar conceitos e respostas para
essas perguntas. Dessa forma, não há como excluir a Educação da Filosofia, porque
ambas caminham juntas. Através da Filosofia consegue-se enxergar caminhos para a
Educação atual. Pensando nas temáticas presentes na contemporaneidade e levando
esses questionamentos para a sala de aula, conseguimos fazer da escola um espaço
democrático que busca igualdade de gênero, sexual, étnica e respeito pelas diferenças;
a escola torna-se, então, um espaço de transformação e de busca pela equidade.
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