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da aplicação das medidas previstas nos Art. 101 a 110 da Lei n.º 9.610/98."

Ficha catalogada na Biblioteca CEUNI-Fametro

P117f Pacifico, Bruno Victor Brito.

Filosofia e ética / Bruno Victor Brito Pacifico. -- Manaus: CEUNI-


FAMETRO, 2021.
p. 156

ISBN: 978-85-64293-12-0

1. Crítica da ideologia 2. Aristóteles 3. Epistemologia I. Título.

CDU.:17

Responsável Técnico: Lorena de Fátima Vidal (CRB: 410/11-AM)


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com respeito ao meio ambiente capazes de contribuir
para o desenvolvimento da nossa Amazônia.
A Fametro, portanto, tem premissas claras a
cumprir como instituição de ensino de qualidade.
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A Fametro, ao longo das últimas duas décadas,
vem se consolidando como a melhor instituição de
ensino do Norte, um espaço democrático e docentes
com variadas visões de mundo. Somos uma instituição
de ensino plural que avança a cada ano em busca
sempre de desenvolver a economia da Amazônia. Nossa
estrutura é moderna, estamos em diversos municípios
levando uma educação inclusiva e de qualidade.
Conheça o Centro Universitário Fametro e viva a
experiência em estudar numa instituição com o corpo
“É a educação que
docente com mestres e doutores e de qualidade de
faz o futuro
ensino comprovada pelo MEC.
parecer um lugar
Maria do Carmo Seffair de esperança e
Reitora transformação”.
(Mariana Moreno)
Sumário
UNIDADE I - A IMPORTÂNCIA DA
FILOSOFIA

Cultura: conceitos 16

Distinção entre natureza e cultura: 17


questões sobre o conceito de natureza

Filosofia: conceito e origem 21

O conhecimento: capacidade humana de 24


entender, apreender e compreender

Teoria do conhecimento, ciência e técnica 25


UNIDADE II - A IMPORTÂNCIA DA
FILOSOFIA NO MUNDO DE HOJE

A formação histórica da Filosofia 35

Os principais períodos e escolas 36


filosóficas: dos pré-socráticos aos
contemporâneos

Período do helenismo: 49
a busca pela felicidade

Filosofia Medieval: as filosofias de Santo 58


Agostinho e São Tomás de Aquino

O nascimento da Filosofia Moderna: 62


o Período Renascentista

UNIDADE III - O PAPEL DOS


VALORES DE NOSSA SOCIEDADE

A Ética e a Filosofia 94

Diferenças entre ética e moral 98

Do estabelecimento de valores e sua 99


importância: um estudo axiológico

A dimensão moral da 101


vida social

A conduta humana 103


UNIDADE IV - REFLEXÕES SOBRE A
ÉTICA NO TRABALHO E NA CIDADANIA

A ética e as empresas: 112


uma relação histórica

Ética e responsabilidade social na 115


contemporaneidade

A importância da ética no trabalho 117

As questões da atividade profissional 122


a partir da ética

A filosofia e a ética no campo profissional hoje 122

Referências 128

Caderno de Exercícios 141


Unidade 1
Videoaula 1 Videoaula 4

Videoaula 2 Videoaula 5

Videoaula 3
13

A IMPORTÂNCIA
DA FILOSOFIA

Mostrar a importância da
Filosofia como área de conheci-
mento humano em nossos dias é
uma tarefa complicada mediante
o mundo em que vivemos. Depara-
mo-nos com a seguinte indagação:
fazer Filosofia tem alguma utili-
dade nos dias de hoje? Este tipo
de pergunta é recorrente e não
ocorre em relação às demais áreas
de investigação científica, como
se fosse uma espécie de precon-
ceito a respeito da Filosofia, seja
ela de humanas (como a Socio-
logia), de exatas (como a Física),
14

Anotações:
seja da biológica (como a Medicina Veterinária).
Não cabem, pois, os argumentos do senso co-
mum responder esta questão a respeito de sua
possível utilidade. No entanto, faz-se necessário
estar inserido na dinâmica de pensamentos e de
teorias fundamentais da Filosofia para alcançar a
compreensão de sua importância em nossas vidas.
Para muitos, pessoas que tomam o conceito
contemporâneo de utilidade, como forma de medir
seu tempo apreendido, seja pelo trabalho, seja pelo
estudo, a Filosofia não poderia estar inserida na
hierarquia de importância vital do conhecimento
porque ela não teria o potencial de interferir, de
forma imediata, no mundo que nos cerca. Assim,
podemos pensar que a Filosofia estaria na categoria
de forma de conhecimento sem valor de troca, isto
é, que não gera lucro, pois a sua finalidade não
está inserida somente nas relações de produção.
Segundo Chauí (2011), a Filosofia não está limitada
ao conjunto de ciências práticas que servem
apenas de pontes para a evolução das técnicas de
produção.
A Filosofia pode ser compreendida como
uma das formas de conhecimento que pensa e
repensa a produção teórica de grandes filósofos e
filósofas, desde o período clássico, isto é, desde a
Grécia Antiga, trazendo uma luz sobre os paradoxos
da vida contemporânea ou respondendo mesmo
que, indiretamente aos problemas que circundam
a humanidade e a sociedade desde a antiguidade.
Vemos, por exemplo, a investigação filosófica em
torno da cultura, da política e da arte como alguns
dos campos de seu interesse.
Nos estudos filosóficos, convencionou-
se a ideia de que a filosofia está inteiramente
15

Anotações:
relacionada à busca da verdade universal. Apesar
desta ideia de busca da verdade não ser mais um
consenso entre nós, filósofos, há de se reconhecer
que tal ideia é uma base muito importante para
tratar de temas fundamentais da humanidade.
Um dos filósofos mais importantes e conhecidos
da história do pensamento, o alemão Arthur
Schopenhauer (2014, p. 1380), escreveu em sua
obra O mundo como vontade e como representação,
Tomo de número II, que “o tema da Filosofia se limita
ao mundo, à natureza, à essência do mundo, e que
é o único resultado honesto que a Filosofia pode
nos dar.” Assim, pensar sobre a essência das coisas
que nos cercam é uma manifestação da reflexão
pré-científica, capaz de entender o mundo em seu
interior.
Os pensadores contemporâneos franceses,
Guattari e Deleuze (2007) sugerem, na obra O que é
a Filosofia?, escrita por eles, que a Filosofia é uma
disciplina que, de forma rigorosa, cria conceitos.
Os conceitos são formas abstratas construídas
pelo pensamento humano. É a partir deles que
se constitui a investigação filosófica. A exemplo
do que são conceitos, podemos citar os termos
mencionados: política, arte e cultura. Estes três
substantivos femininos são formas conceituais
do entendimento humano e que possuem funções
distintas dentro da dinâmica social. Podemos,
inclusive, compreender a política e a arte como
manifestações derivadas do conceito de cultura.
Para iniciarmos nossos estudos, começare-
mos resumindo a investigação a respeito de um dos
conceitos fundamentais do campo filosófico. A sa-
ber, trata-se da cultura.
16

Anotações:
CULTURA: CONCEITOS

Segundo Hale e Wright (1995), a cultura é tudo


aquilo que está relacionado ao que se estabelece
como conhecimento (ciência), costumes (moral e
ética), religião (crença), jurisdição (lei e justiça), e
arte (artesanato e técnica) criados pelo ser huma-
no, e que não pode ser é repassado geneticamente
como conhecimento natural, inato. É a cultura,
como veremos a seguir, que nos diferencia das de-
mais espécies animais. Antes de tudo, é preciso
compreender como o conceito de cultura foi uti-
lizado ao longo da história do pensamento humano.
O pesquisador Cuche (2002), de acordo
com Godoy e Santos (2014), afirma que o termo
“cultura”, no sentido figurado passa a ser usado
com mais frequência no século XVIII, inicialmente,
seguido de um complemento, “cultura das
artes”, “cultura das letras”, “cultura das ciências”,
como se fosse necessário que a coisa cultivada
estivesse explicitada. Em seguida, para designar a
“formação”, e a “educação” do espírito, Cuche (2002)
comenta que em um dado momento posterior, num
movimento contrário, aqueles termos perdem o
seu significado de “cultura” como expressão de uma
ação (a ação de instruir), passando a “cultura” como
um estado, ou seja, um estado de espírito cultivado
pela instrução, um estado em que o indivíduo
possui cultura. O termo Cultura apareceu pela
primeira vez na língua francesa, no século XVIII, só
depois difundido em outras línguas, como a alemã
e a inglesa.
Ainda, para Cuche (2002), a cultura é própria
do ser humano, além de toda a distinção de povos
17

Anotações:
ou de classes. A palavra “cultura”, no século XVIII, é
empregada no singular, refletindo o universalismo
e o humanismo dos filósofos (GODOY; SANTOS,
2014). Desse modo, pode-se dizer que “Cultura” se
inscreve na ideologia do Iluminismo, na medida em
que a palavra é associada às ideias de progresso,
de evolução, de educação, e da razão que estão no
centro do pensamento da época, conforme afirmam
os autores.
A seguir, veremos a distinção entre os
conceitos de cultura e de natureza dentro dos
estudos da Filosofia, bem como de outras áreas de
conhecimento.

DISTINÇÃO ENTRE NATUREZA E


CULTURA: QUESTÕES SOBRE O
CONCEITO DE NATUREZA

A filósofa Chauí (2011) afirma que distinguir o


que é o natural e o cultural não é uma tarefa fácil,
uma vez que criamos e transformamos nosso
meio convertendo o natural em cultural, porém o
contrário é impossível. Expõe ainda as questões
da natureza e da cultura. Segundo ela, ser capaz de
distinguir entre os conceitos de natureza e cultura
é requisito fundamental para qualquer estudante de
filosofia. Natureza é tudo aquilo que nos rodeia, que
existe por si mesmo e que, portanto, não depende
do ser humano. Por outro lado, entende-se por
cultura tudo aquilo que é pensado e construído pelo
ser humano. Assim, a cultura é uma característica
exclusiva do ser humano, portanto, só existe
porque nós existimos. O ser humano, por ser um
ente da natureza, primordialmente, é também um
18

Anotações:
animal como tantos outros. No entanto, nós nos
diferenciamos graças à aquisição da consciência,
uma consequência do processo evolutivo de nossa
espécie.
Ainda, segundo Chauí (2011), percebemos
que são nossas ações que transformam o nosso
meio. Ações essas designadas como trabalho,
outro conceito fundamental para esse estudo.
Temos noções sobre nós, as ideias de passado,
presente e futuro. A autora enfatiza que adquirimos
conhecimento, ou ao menos, algum entendimento
sobre a realidade que nos cerca, ao intervir sobre
ela. Isso tudo é permitido devido à consciência
que possuímos dos fenômenos no mundo. Para a
filósofa, significa o “saber de si”. Neste sentido,
a natureza de alguma coisa é o conjunto de
qualidades, propriedades e atributos que a definem,
é seu caráter ou sua índole inata, espontânea. Aqui,
Natureza se opõe às ideias do que seria acidental
(o que pode ser ou deixar de ser) e do que pode
ser adquirido por costume ou pela relação com as
circunstâncias; organização universal e necessária
dos seres segundo uma ordem regida por leis
naturais (CHAUÍ, 2000).
Podemos pensar que a Natureza é caracteriza-
da da seguinte forma: há um ordenamento entre os
seres, há um parâmetro que regula os fenômenos,
ou as ocorrências naturais. Neste sentido, po-
demos dizer que se trata de uma regularidade,
uma frequência, uma constância e uma repetição
de encadeamentos das ocorrências e fenômenos
naturais. Em alguns casos, são fixos, outros em
transformação. Tudo isto pode ser observado pela
ótica da relação de causalidade que há nas ocorrên-
19

Anotações:
cias da Natureza. Em outros termos, a Natureza é
a ordem e a conexão universal é necessária entre
as coisas que nos cercam, e que se expressam em
leis naturais, tudo o que existe no universo sem a
intervenção da vontade e da ação humana (CHAUÍ,
2000).
Podemos definir o que é próprio à natureza
da seguinte maneira: é tudo aquilo que não é
produzido artificialmente pelas mãos do ser
humano, a exemplo de um artefato de barro, um
artifício mecânico, uma técnica de produção de
cadeiras ou algo mais avançado, como a tecnologia
da informação. Natural é tudo quanto se produz e
se desenvolve sem qualquer interferência humana;
um conjunto de tudo quanto existe e é percebido
pelos humanos como o meio e o ambiente no qual
estamos inseridos.
Para Descola (2005), a divisão entre nature-
za e cultura e a demarcação de fronteiras entre
humanos e não humanos, como vimos, têm sido
colocadas de forma recorrente no pensamen-
to antropológico contemporâneo. Essas grandes
divisões são tematizadas atualmente por antro-
pólogos que têm buscado a revalorização do que
é político-metafísica. Isto porque, deriva de um
pensamento que pode ser classificado como “ani-
mista” ou “panpsiquista”, tendo como ponto de par-
tida as cosmologias indígenas da Amazônia. Assim,
o antropólogo recuperou o termo “animismo” para
designar uma ontologia particular que contrasta o
“naturalismo” ocidental com outras ontologias pos-
síveis. Há muito tempo, sabe-se que existem povos
que não concebem a natureza como um domínio
exterior e manejável, que está disponível para os
20

Anotações:
seres humanos. Assim, fica claro que eles ofere-
cem imagens de outras relações possíveis com os
seres não humanos e com os quais compartilhamos
a nossa existência.
Claro, não se trata de idealizar o outro,
a alteridade, mas, sim, de reconhecer que, ao
estudar outras culturas, a antropologia apresenta
ao campo de investigação filosófica outros mundos
possíveis a partir dos quais poderíamos repensar
os nossos modelos e valores, assim como, talvez,
as dimensões da crise ambiental e civilizatória em
que nos encontramos (DESCOLA, 2005).

Mas afinal, o que é a Cultura?

Segundo Laraia (2001), a primeira constatação


formal sobre o conceito de cultura foi desenvolvida
por Edward Tylor que a entendia de forma etnográ-
fica, como um complexo sistema social que abarca
crença, conhecimento, moral, arte, costumes e leis.
Portanto, é tudo aquilo que pode ser realizado pelo
ser humano. A cultura é assim, o aprimoramento da
espécie humana através da educação.
Uma outra compreensão de cultura é aquela
formulada a partir do século XVIII, em que tem
início a separação e, posteriormente, a oposição
entre Natureza e Cultura. Pesquisadores da área
filosófica consideram, sobretudo, que isto se deu
a partir de Kant. Essa compreensão filosófica
postula, que há uma diferença entre o homem e
a natureza em suas essências: a natureza opera,
mecanicamente, de acordo com leis necessárias
de causa e efeito. Já o homem, enquanto espécie,
é dotado de liberdade e razão, agindo por escolha,
21

Anotações:
de acordo com valores e fins. Desta forma, a cultura
tornou-se sinônimo de História. Se, por um lado,
a natureza é o reino da repetição, a cultura, por
outro, é lugar da transformação racional. Portanto,
é a relação dos humanos com o tempo e no tempo
(CHAUÍ, 2000).
A partir do que foi exposto, podemos agora
falar mais sobre o que é a Filosofia em seu amplo
aspecto. A seguir abordaremos sobre o conceito
de filosofia e o método adotado por ela para
compreender o mundo.

FILOSOFIA: CONCEITO E ORIGEM

Em conformidade com Costa (2004), no


manual de Filosofia, a palavra ‘Filosofia’ é composta
por duas palavras gregas: Philos que, em grego,
significa amor, e Sophia, que significa sabedoria.
Assim, a Filosofia significa amor pela sabedoria.
Marcondes (1997) afirma que a Filosofia é uma
forma de pensamento que se originou na Grécia
Antiga, numa data não específica, mas que tem
por sugestão histórica o século VI a.C. A palavra,
como a conhecemos, foi utilizada pela primeira
vez por Pitágoras no século VI a.C., um filósofo e
matemático bem conhecido. Já a palavra filósofo
significa “aquele que ama a sabedoria” e tem
amizade pelo saber, que deseja o saber. “Assim, a
filosofia indica um estado de espírito, o da pessoa
que ama, isto é, deseja o conhecimento, a estima, a
procura e o respeito” (CHAUÍ, 2000, p. 19).
Uma das bases fundamentais para o surgimen-
to da Filosofia, como área de conhecimento, advém
do pensamento racional sobre a natureza. Isto quer
22

Anotações:
dizer que seu surgimento deriva justamente de uma
oposição às explicações sobrenaturais ou míticas,
que eram consideradas formas de conhecimento
pré-filosóficas. Para Marcondes (1997), se hoje po-
demos pensar de forma racional e científica sobre
as ocorrências do mundo, foi porque a emergência
para o nascimento de um novo tipo de conhecimento
sobre o mundo, revelou a necessidade de pensá-lo
de forma reflexiva. Então, foi a partir dos primeiros
filósofos, cuja necessidade de entender como o
mundo funcionava sem explicações antinaturais,
que se deu o início da filosofia. Logo, pode-se afir-
mar que as formas de entendimento sobre o mundo,
anteriores à filosofia, foram caracterizadas como
insuficiente para compreendê-lo.
Podemos dizer dessa forma que, desde a
antiguidade, a surpresa e o espanto perante o
mundo levaram o homem a formular questões sobre
a origem e a razão do universo e, a buscar o sentido
da própria existência. Segundo a Filosofia, todos os
aspectos da cultura humana podem ser objetos de
reflexão.
Para Costa (2004), o homem, naquele período
em que se convencionou chamar de primitivo,
não filosofava. Os mitos foram inscritos na mente
humana pela necessidade de explicar a natureza, que
para o homem era completamente desconhecida.
O salto evolutivo da biologia humana possibilitou
ao ser humano pensar sobre essas questões que
o cercavam. Se o mito serviu como uma forma de
explicação do mundo, a Filosofia, enquanto uma
forma de conhecimento não biológico da espécie
humana, surgiu a partir da vontade e do desejo de
saber (COSTA, 2004).
23

Anotações:
Foi na própria natureza (na physis) que os
primeiros filósofos encontraram uma explicação
para o mundo. Isto significa dizer que as explicações
sobre o seu funcionamento se concentraram nas
causas naturais. É no próprio mundo que os homens
podiam encontrar a sua própria compreensão, não
em causas externas a ele. Deste modo, a Filosofia
é uma forma de conhecimento para explicar a
realidade. O seu surgimento representou, portanto,
uma ruptura profunda em relação ao conhecimento
mítico (MARCONDES, 1997).

O Método da Filosofia

A palavra método vem do grego "méthodos",


sendo formada pelo prefixo metá, “além de”, “através
de”, “para”, e pelo radical odós, “caminho”. Poder-se-
ia, então, traduzir o método por “caminho para” ou,
então, “prosseguimento”, “pesquisa”. Método é um
processo intelectual de abordagem de qualquer
problema mediante a análise prévia e sistemática
de todas as vias possíveis de acesso a uma solução.
Opõe-se, portanto, a um modo de trabalho atrelado,
exclusivamente, à improvisação ou à inspiração
repentina.
Todo método, seja na Filosofia ou em qualquer
outro campo de conhecimento, tem por finalidade
formular ou buscar afirmações, previsões, expli-
cações, no caso específico da Filosofia, descobrir
meios para chegar a uma reflexão mais precisa e
eficaz sobre o eu, o outro e o mundo externo, isto
é, entender a natureza. Entretanto, ainda segundo
o autor, os métodos úteis para solucionar um certo
conjunto de problemas podem ser totalmente inefi-
24

Anotações:
cazes para resolver outros conjuntos de problemas.
Pode-se, então, distinguir os métodos filosóficos
do método puramente científico.

O CONHECIMENTO: CAPACIDADE
HUMANA DE ENTENDER, APREENDER E
COMPREENDER
Figura 1: O Pensador de Rodin

De acordo com Chauí (2013), conhecimento,


oriundo do latim cognoscere, “ato de conhecer”, tal
como a origem etimológica da palavra indica, é o
ato ou efeito de conhecer. No conhecimento, temos
dois elementos básicos: o sujeito (cognoscente) e
o objeto (cognoscível). O cognoscente é o indivíduo
capaz de adquirir conhecimento ou o indivíduo que
possui a capacidade de conhecer. Já o cognoscível
é o que se pode conhecer.
O tema “conhecimento” inclui descrições, hipó-
teses, conceitos, teorias, princípios e procedimen-
tos que são úteis ou verdadeiros. A ciência que es-
25

Anotações:
tuda o conhecimento é a gnoseologia. Atualmente,
existem vários conceitos para esta palavra, sendo de
ampla compreensão que conhecimento é aquilo que
se sabe sobre algo ou alguém. Dessa forma, o conhe-
cimento está associado com a pragmática, ou seja,
relaciona-se com alguma coisa existente no “mundo
real” do qual temos uma experiência direta.
Ainda em conformidade com Chauí (2013), o
conhecimento pode ser também apreendido como
um processo ou como um produto. Quando nos
referimos a uma acumulação de teorias, ideias e
conceitos, o conhecimento surge como um produto
resultante dessas aprendizagens, mas como todo
produto é indissociável de um processo, podemos,
então, olhar o conhecimento como uma atividade
intelectual por meio da qual é feita a apreensão de
algo exterior à pessoa.

TEORIA DO CONHECIMENTO, CIÊNCIA


E TÉCNICA

Atualmente, discute-se sobre a relação entre


ciência e conhecimento e seus aspectos históricos.
A esse respeito, há várias teorias que descrevem a
inter-relação entre o conhecimento científico no
campo prático e teórico. Silva (2013) salienta que
a ciência foi responsável por uma nova forma de
pensar e agir do homem, trazendo um equilíbrio
na resolução de problemas que antes eram
inimagináveis e, isso, levou-o a olhar o problema
com outros olhos e trilhar novos horizontes (CRUZ,
2018).
Neste contexto, Silva (2013) afirma que a
ciência possui sua origem no termo em latim
26

Anotações:
“scientia”, que significa conhecimento. É plausível
destacar a estreita relação entre a ciência e o
conhecimento, sendo este disponível a todo
indivíduo em sociedade. No entanto, é importante
ressaltar que a ciência, de modo geral, não se traduz
em uma verdade total, em princípios imutáveis e ou
intransigíveis (CRUZ, 2018).
Na ciência, convencionou-se fazer classifi-
cações a partir de duas áreas do conhecimento,
sendo: 1) as ciências da natureza, que busca com-
preender os fenômenos da natureza; 2) aquela que
se convencionou chamar de ciências humanas, que
buscam entender os fenômenos sociais e culturais.
Augusto Comte, filósofo francês e expoente da cor-
rente Positivista do século XIX, classificou as ciên-
cias do seguinte modo: as abstratas, que tratam das
questões teóricas e universalistas; e as concretas,
que tratam dos recortes particulares e específicos.
Este ponto de vista de Comte contraria o ideal de
Aristóteles, que dividia as ciências em teórica ou es-
peculativa (metafísica), o que, por sua vez, limitava o
conhecimento à reprodução cognitiva da realidade
(CRUZ, 2018).
Para Tesser (1994), a Filosofia é uma exten-
sa área do saber humano que se divide em muitos
campos de análise, e um deles é a teoria do conhec-
imento. É claro que os gregos já pensavam e conhe-
ciam as coisas, mas foi apenas no período moderno
que esse campo filosófico se consolidou. O princi-
pal fator que contribuiu para esse evento foi a bus-
ca pelas certezas de Descartes, que culminou em
muitas críticas, de modo que as diferentes formas
de conhecer o mundo ficaram mais evidentes.
Chama-se Teoria do Conhecimento tudo aquilo
que se refere ao desenvolvimento do conhecimento
27

Anotações:
humano. Entre os assuntos mais tematizados,
neste campo teórico, estão a distinção entre
conhecimento e opinião, conhecimento científico
e conhecimento comum, a observação dentro do
conhecimento, conhecimento empírico, raciocínios
indutivo e abdutivo, entre outras questões (UNESP,
2013). Na verdade, o conhecimento passou por
etapas evolutivas e a mais elevada, a última delas,
é o conhecimento científico. Nele, verifica-se o real
em sua abstração. Pensa-se sobre os conceitos e
os princípios, sejam leis naturais ou da cosmologia
(MARCONDES, 1997).
A teoria do conhecimento busca, portanto,
compreender o modo pelo qual o homem conhece
as coisas. Essa busca se dá, basicamente, através
de duas perguntas: o que é o conhecimento? Como
nos conhecemos? Muitos filósofos se dedicaram
seriamente a essas questões, de modo que se
tornaram grandes referências no assunto. Para
Aranha (2012), o método adotado pela filosofia para
resolver esse problema é a divisão do assunto em
duas partes: fontes primárias e possibilidades de
conhecimento.
Segundo Marcondes (1997), no período clássico
havia uma distinção entre a teoria e a técnica.
Sobre a teoria, Aristóteles indicava que, tal saber
é definido pela observação das ocorrências no
mundo e que não tem finalidade imediata ou prática
na vida de quem reflete sobre o mundo. A teoria é
um tipo de saber cuja finalidade está em si mesma
porque traz satisfação ao descobrir a natureza do
homem. Isto representa aquele mencionado desejo
de conhecer, que falamos anteriormente. Este
tipo de saber é gratuito, e a sua gratuidade quando
28

Anotações:
relacionada à abstração do pensamento é capaz de
revelar o seu grau superior em relação à técnica.
Contudo, a concepção grega clássica de que
havia um distanciamento entre teoria e técnica,
foi superada com os filósofos modernos Galileu
Galilei e Francis Bacon. A partir de suas reflexões,
a ciência e a técnica foram pensadas em conjunto.
A técnica passou a ser uma forma de aplicação do
conhecimento científico, que pode ser considerado
como uma prática da teoria científica (MARCONDES,
1997). De acordo com Soliveréz (1992), a ciência é
comparada à mãe da técnica. Para ele, a técnica
está intimamente ligada ao modo de “como se deve
fazer”. Já a ciência, insere-se nos conhecimentos
necessários para se pôr em prática a utilização da
técnica (CRUZ, 2018).
Marcondes (1997) nos lembra que houve uma
revolução científica a partir de 1543, com a obra
de Nicolau Copérnico, intitulada Sobre a revolução
dos orbes celestes. Os orbes celestes (planetas)
passaram a ser compreendidos pelos cálculos
matemáticos, trazendo um novo entendimento
sobre o modelo cosmológico, logo: o Sol é o centro
e a Terra apenas um astro que gira em torno do
sistema heliocêntrico. Em outras palavras, a Terra
gira em torno do Sol, e não o contrário, como
se acreditava antes da teoria matemática de
Copérnico ser publicada. Acreditava-se, desde a
teoria formulada por Ptolomeu, no século II, que
a Terra era o centro do universo, um astro imóvel.
Este sistema ficou conhecido como geocêntrico.
Podemos, então, reconhecer que uma das
principais mudanças que ocorreram ao longo da
29

Anotações:
história, no método científico, esteve ancorada
numa inversão de ordem de prioridades. A ciência
moderna traz como fundamento analisar os
fenômenos e observá-los
(MARCONDES, 1997). Como mostramos,
paralelamente ao desenvolvimento da ciência,
a técnica caminhou a passos largos para a
situação de cientificação. Há um evidente
desenvolvimento da técnica atrelado ao progresso
das ciências modernas (SOLIVERÉZ, 1992). A seguir,
mostraremos a História da Filosofia.
Unidade 2
Videoaula 1 Videoaula 4

Videoaula 2 Videoaula 5

Videoaula 3
32

Anotações:
33

A IMPORTÂNCIA
DA FILOSOFIA NO
MUNDO DE HOJE

Pesquisadores renomados da
área da Filosofia como Chauí (2000),
Cotrim (2017), Cortella (2013) e ARA-
NHA (2003) afirmam que este cam-
po de conhecimento é uma forma
de aprender a pensar e refletir, des-
pertando o nosso senso crítico, o que
nos auxilia na construção de uma
visão mais ampla do mundo. Por isso,
a Filosofia ainda é de suma importân-
cia no mundo de hoje, mesmo que
muitos não saibam o seu significado
ou acreditem que ela possua serven-
tia utilitarista.
34

Anotações:
Para Cortella (2013), é a filosofia que estimula
a consciência e nos ajuda na formulação do nosso
caráter moral. A verdadeira importância da filosofia
está no efeito que ela causa sobre as pessoas,
tornando-as mais livres para uma postura crítica
e questionadora. Por esses e outros motivos, a
Filosofia é tão importante no mundo atual, pois
ajuda as pessoas a desenvolverem uma visão mais
humanista.
Deste modo, a Filosofia possui um valor
que transcende o seu significado conceitual,
pois atravessa inteiramente o modo de vida do
indivíduo. Podemos afirmar que alguns não são
guiados por doutrinas ou crenças que os orientem
e, nesse sentido, é que a Filosofia torna-se uma
área de conhecimento que supera o seu significado
científico, uma vez que é capaz de dar às pessoas
uma forma de conhecimento racional, com o qual
podem pensar.
Vemos ao longo da sua história, pensadores
passarem a seguir uma corrente filosófica. Isto
significou que a espécie humana alcançou o
interesse em buscar objetos e, ao mesmo tempo,
dirigir o seu próprio comportamento. Observa-se
isto na corrente conhecida como estoicismo, que
busca dominar as emoções humanas. A epicurista
que vai à procura da felicidade que é alcançada
mediante o prazer. A cristã, que sai em busca da
salvação através da graça e dos ensinamentos de
Jesus Cristo. Cada uma dessas correntes levou
o ser humano a uma forma de pensar a vida e o
mundo, bem como a um tipo de comportamento
(COSTA, 2004).
Assim, podemos dizer que a Filosofia traz a nos-
sa espécie o desejo do conhecimento de si próprio,
35

Anotações:
faz refletir sobre o nosso lugar no universo e na socie-
dade, sempre buscando a verdade. Dessa forma, ela
está disponível à descoberta para todos nós.
Veremos a seguir, a formação histórica da
Filosofia e seus desdobramentos.

A FORMAÇÃO HISTÓRICA DA FILOSOFIA

Spinelli (2003) diz que a fase de origem da


Filosofia, entendida como uma maneira de pensar
totalmente nova, originou-se na Grécia no final do
século VII e início do século VI a.C (–para outros
pesquisadores filósofos, o período que abarca o
surgimento da Filosofia é de VI e V, a.C.–), ocor-
reu, a rigor, na região da Jônia (Grécia), onde as
cidades eram movimentadas pelos mercantis do
mar Mediterrâneo e, por isso, tinham grande con-
centração de intelectuais. O pesquisador ainda
afirma que foi, precisamente, na cidade de Mileto
onde surgiram os três primeiros filósofos (Tales,
Anaximandro e Anaxímenes), que tinham ideias que
rejeitavam as explicações tradicionais baseadas na
religião e na mitologia e buscavam, assim, apresen-
tar uma teoria cosmológica baseada em fenômenos
observáveis. Apresentamos essa questão na uni-
dade anterior.
Podemos observar, contudo, que as carac-
terísticas da Filosofia não são encontradas so-
mente na escola de Mileto, mas também em di-
versos pensadores daquele período, chamados de
pensadores pré-socráticos, pois surgiram antes
de Sócrates. Assim, os primeiros filósofos con-
tribuíram com o desenvolvimento filosófico e
através deles, surgiram as primeiras noções que
36

Anotações:
buscavam compreender a realidade e que funda-
mentaram alguns dos conceitos e das teorias sobre
a natureza (MARCONDES 1997). A seguir veremos os
períodos de cada escola e corrente filosófica.

OS PRINCIPAIS PERÍODOS E ESCOLAS


FILOSÓFICAS: DOS PRÉ-SOCRÁTICOS
AOS CONTEMPORÂNEOS

A partir deste tópico, veremos com mais


aprofundamento que a Filosofia grega Pré-
Socrática foi a primeira corrente de pensamento,
surgida por volta do século VI a.C., na Grécia Antiga.
Belo (2015) afirma que os primeiros filósofos,
aqueles antes de Sócrates, interessavam-se pelas
questões do Universo e dos fenômenos naturais,
buscando explicá-los por meio do conhecimento
racional. Podemos afirmar que se trata de um
conhecimento pré-científico.
O período pré-socrático foi o ponto inicial das
reflexões filosóficas. Suas discussões prendem-se
a entender a Cosmologia, sendo a determinação da
physis (princípio eterno e imutável que se encontra
na origem da natureza e de suas transformações),
ponto crucial de toda formulação filosófica. Pitágo-
ras, por exemplo, desenvolve seu pensamento de-
fendendo a ideia de que tudo preexiste a partir da
alma, já que ela é imortal. Já Demócrito e Leucipo
defendem a formação de todas as coisas a partir da
existência dos átomos (BELO, 2015). Os primeiros
traços da Filosofia grega pré-socrática surgem
com Tales de Mileto, comerciante e estudioso, ha-
bitante da região da Jônia, conjunto de ilhas gre-
gas situadas no atual território turco. Segundo a
37

Anotações:
História, Tales era um exímio matemático, astrôno-
mo e estrategista que previu, no ano de 585 a.C., o
acontecimento de um eclipse total do Sol, por meio
de cálculos matemáticos e previsões astronômicas
(BELO, 2015).
As escolas jônica, eleática e pitagórica são
consideradas as principais do período. Da Jônia,
surgiram os físicos: Tales de Mileto (625-546
a.C.), Anaximandro (611-547 a.C.), Anaxímenes
(570-547 a.C.) e Heráclito (544-480 a.C.). Eles
buscaram explicar o desenvolvimento da natureza
em sua essência comum a todas as coisas, além
de propagar a ideia do movimento contínuo
(eterno). Foi Heráclito quem afirmou a contradição
e a dinâmica no mundo. Segundo ele, quando
entramos num rio, ele não é o mesmo, nem nós
somos os mesmos ao sair dele. A sua frase mais
conhecida é: “não nos banhamos duas vezes no
mesmo rio” (COSTA, 2004). A escola jônica trouxe
ao pensamento humano o caráter crítico, pois as
teorias formuladas por seus pensadores não se
fundamentavam pelo dogmatismo, isto é, as suas
teorias não eram apresentadas como verdades
absolutas. Através delas, poderia suscitar-se
discussões que divergissem ou discordassem
completamente delas, portanto, eram passíveis de
crítica (MARCONDES, 1997).
Da escola de Eléa, surgiram filósofos como
Empédocles (483-430 a.C.), Parmênides (530-
460) e Anaxágoras (499-428 a.C.). Para esses,
não há mudanças nas coisas, já que a unidade e a
imobilidade são elementos do ser (a essência do
mundo). Zenon, outro pensador eleata, conceituou
o paradoxo da lógica, que é quando uma conclusão,
38

Anotações:
cuja contradição interna de um enunciado é derivada
de premissas válidas, no entanto, uma delas pode
não ser verdadeira. Ele fundamentou a base para
que os filósofos de épocas diferentes buscassem
soluções para tal paradoxo. Podemos dizer que esta
escola tinha, como um de seus interesses, questões
em torno da coerência racional, possibilitando o
surgimento da lógica como ciência (COSTA, 2004).
Porém, o filósofo mais conhecido desta escola é
Parmênides, que foi quem introduziu a distinção
entre a realidade e a aparência. Segundo ele, a
realidade é única, imóvel, eterna, imutável, por isso,
o movimento seria, em sua superficialidade, algo
aparente (MARCONDES, 1997).
A escola atomista, por sua vez, tem como
característica afirmar que o Universo é constituí-
do de átomos que são indivisíveis, infinitos (logo
eternos), que estão reunidos de modo aleatório.
Seus representantes foram Leucipo e Demócrito
(460-370 a.C.). Demócrito é o mais conhecido por ter
sido o primeiro a traçar um esboço do materialismo
determinista (COSTA, 2004).
O filósofo Pitágoras (582-500 a.C.) foi de Sa-
mos, na região da Jônia. Contudo, apesar de sua ori-
gem, ele foi para a Itália, onde fundou outra escola.
Assim, foi o representante da escola italiana, onde
deu início à transição do pensamento da Jônia para
o pensamento mais mítico e semirreligioso dentro
da filosofia (MARCONDES, 1997). Portanto, sua es-
cola tinha um caráter mais iniciático (para curiosos
da vida esotérica). Segundo Costa (2004), Pitágo-
ras afirmava que a verdadeira substância é a alma,
a qual existe antes mesmo do corpo, e encarna por
consequência de um castigo de uma vida anterior.
39

Anotações:
Esse pensamento foi uma forma de compreender a
essência das coisas e se mostrou uma teoria prévia
ao mundo das ideias de Platão. O principal legado
da escola pitagórica (ou pitagorismo) foi a teoria de
que o número é o elemento que explica a harmonia
e o equilíbrio do real, o que, consequentemente,
ajudou a desenvolver a matemática e a geometria
grega (MARCONDES, 1997).
Outro importante momento neste período
considerado pré-socrático aconteceu no final do
século V a.C., que foi o surgimento dos sofistas.
Os nomes mais conhecidos são Protágoras (490-
410 a.C.) e Górgias (485-380). Os sofistas eram
educadores pagos pelos alunos, eles pretendiam
substituir a educação tradicional, que era destinada
a preparar verdadeiros atletas e guerreiros das
cidades-estado gregas, por uma forma pedagógica
que se preocupava com a formação de cidadãos. Em
sua pedagogia, os sofistas ensinavam a retórica,
uma arte dedicada a ensinar a falar de maneira
convincente a respeito de qualquer assunto (COSTA,
2004). Assim, os sofistas, entre eles Górgias,
Leontinos e Abdera, defendiam uma educação cujo
objetivo máximo seria a formação de um cidadão
pleno, preparado para atuar politicamente para
o crescimento da cidade. Dentro dessa proposta
pedagógica, os jovens deveriam estar preparados
para falar bem, pensar e manifestar suas qualidades
artísticas (BELO, 2015).
40

Anotações:
O início do período Clássico Grego:
a Filosofia socrática
Figura 2: Sócrates

Fonte: <https://arteeartistas.com.br/>.

Essa é considerada a melhor fase da civilização


grega. Sócrates viveu no Período Clássico, no auge
da civilização grega, e foi mestre de vários alunos,
dentre os quais Platão foi o mais destacado. Além
de ser conhecido por sua filosofia e seus diálogos
filosóficos, seu método lhe rendeu muito destaque.
Estima-se que ele tenha nascido em 470 a.C. na
cidade de Alópece, em Atenas, Grécia. De acordo
com Funari, (2002), Sócrates foi condenado à morte
e sua sentença foi a de morte por envenenamento.
Este fato aconteceu em 399 a.C. Seus pais eram
Sophroniscus, um escultor, e Phaenarete, uma
parteira. Durante sua juventude trabalhou no
mesmo ofício que seu pai, o de artesão.
Na sua juvenilidade, Sócrates visitou o
Oráculo de Delfos situado no templo dedicado ao
deus Apolo, em Atenas. O primeiro impacto do
41

Anotações:
filósofo deu-se com a percepção da frase escrita
na entrada do templo: “Conhece-te a ti mesmo e
conhecerá o mundo e os deuses”. Segundo Chauí
(2004), essa frase foi tomada como lema de vida
para Sócrates, que buscou sempre se empenhar
no autoconhecimento. O maior choque do filósofo
ocorreu, no entanto, no momento de uma conversa
com a sacerdotisa do oráculo que teria afirmado ao
jovem filósofo que ele seria o mais sábio de todos
os homens da Grécia.
Foi a afirmação “conhece-te a ti mesmo” que
chocou o filósofo e o colocou em dúvida. Para Cotrim
(2017), em uma atitude de colocar à prova o que lhe
foi dito, o pensador passou a caminhar pelas ruas
de Atenas conversando com interlocutores que se
julgavam conhecedores de certos assuntos, como
política e artes. Sócrates, no entanto, percebeu que,
realmente, aquelas pessoas que julgavam conhecer
sobre certos assuntos, na verdade não conheciam
a fundo o que elas diziam saber.
Ele fundou o método chamado de Maiêutica,
palavra que pode ser traduzida como obstetrícia, ou
seja, a arte de realizar partos. No entanto, isso não
basta para definir a maiêutica socrática. Como já foi
mencionado, sua mãe era parteira. E metaforizando
esse método, pode-se entender que, tal qual sua
mãe, Sócrates dizia realizar partos, mas não partos
de bebês, e sim de ideais. De acordo com Funari
(2002), o filósofo acreditava que ele mesmo não
detinha o seu conhecimento filosófico, mas teria
uma habilidade de retirar esse conhecimento das
outras pessoas.
Já para Aranha (2013), a Maiêutica era um
diálogo focado em aflorar o conhecimento nas
42

Anotações:
pessoas de maneira paulatina, isto é, aos poucos
fazer o indivíduo aproximar-se da verdade por meio
de um diálogo lento e gradual. A autora supracitada
esclarece que esse método se dava a partir de
questões que tinham por finalidade ironizar e
refutar conhecimentos dogmáticos. Em outras
palavras, Sócrates queria acabar com as certezas
que as pessoas de sua localidade tinham a respeito
de diversos assuntos. Com isso, ele convencia, por
meio da ironia, seus interlocutores de que eles não
sabiam tanto quanto pensavam.
Para Sócrates, o exercício fundamental
do filósofo não é informar ou transmitir saberes
definidos (acabados, prontos). É, no entanto, fazer
com que o interlocutor tenha ideias próprias,
como se desse luz a elas. É através do diálogo
que Sócrates opera a sua forma de compreensão
dialética. Primeiramente, questiona as crenças
preconcebidas do indivíduo que participa desse
diálogo, com provocações sobre essas crenças que
ele acredita ser uma verdade universal. A partir disto,
o filósofo grego utilizava a ironia e problematizava
tais crenças, o que consequentemente ia gerando
contradições nas respostas do interlocutor,
fazendo-o perceber as suas próprias contradições.
Ao se dar conta delas, o indivíduo reconhecia a sua
ignorância (MARCONDES, 1997).
Aquela famosa máxima “Conhece-te a ti
mesmo” é oriunda da Grécia e está relacionada com
a dialética socrática. Assim, para Cotrim (2017),
Sócrates anunciava que a verdade estava dentro
de nós, e por meio do questionamento das coisas
ele conseguia chegar a verdades universais. Outra
frase mais famosa de Sócrates, “Só sei que nada
43

sei”, é derivada daquela ideia de reconhecimento


de sua própria ignorância porque é o elemento
fundamental para o saber (MARCONDES, 1997).
Costa (2004) diz que Sócrates não criou um
sistema ou uma doutrina, mas a forma de viver
a vida como um método de reflexão. É através da
autorreflexão sobre nossas crenças que podemos
ser racionais e fazer problematizações críticas
em torno da ética, assunto que trataremos mais
adiante.

Platão e sua epistemologia

Platão nasceu por volta de 427 a.C., em uma


família aristocrática de Atenas. Quando tinha
cerca de 20 anos, aproximou-se de Sócrates,
por quem tinha grande admiração. Como a
maioria dos jovens de sua classe, quis entrar na
política. Com cerca de 40 anos, Platão fundou a
Academia, um instituto de Educação e pesquisa
filosófica e científica que, rapidamente,
ganhou prestígio. Platão morreu por
volta de 347 a.C. e já era um homem
admirado em toda Atenas (SARDI,
2005).
De modo geral, a
sua filosofia trouxe um
esboço daquilo que viria
a ser conhecido como
sistematização do conhe-
cimento. A sua filosofia
fundamenta-se pela te-
oria das ideias ou
teoria das for-
44

Anotações:
mas. A sua contribuição para o conceito de bem
absoluto foi fundamental para teorias filosóficas
posteriores (COSTA, 2004). Assim como Sócrates,
Platão rejeitava a Educação que se praticava na Gré-
cia em sua época, por essa ficar a cargo dos sofistas,
que eram incumbidos de transmitir conhecimentos
técnicos - sobretudo a retórica - aos jovens que
podiam pagar a eles para torná-los aptos a ocupar
as funções públicas, como aponta Sardi (2005).
Para Platão, toda virtude é conhecimento e, ao
homem virtuoso, segundo ele, é dado a conhecer
o bem e o belo. Para Chauí (2004), a busca da vir-
tude deve prosseguir pela vida inteira, portanto,
a Educação não pode se restringir aos anos de
juventude. Educar é muito importante para uma
ordem política baseada na justiça, como Platão
preconizava, que deveria ser tarefa de toda a socie-
dade.
É por conta da complexidade da teoria
filosófica de Platão que a Filosofia Clássica virou
um marco na história do pensamento humano. É
possível caracterizar o pensamento de Platão por
meio da problematização do conhecimento. Há
algumas questões que ajudam a corroborar esta
caracterização, são elas:
1. Existe a possibilidade do conhecimento
do mundo e da realidade, de vê-los como
são em si?
2. Existe um método capaz de conhecer este
mundo?
3. As questões dos sentidos e da razão são
como instrumentos do conhecimento?
4. A questão da materialidade do mundo
ou da realidade superior, cuja natureza
é inteligível, e a realidade mutável e não
45

Anotações:
duradoura versus a essência imutável é
infinita?
Podemos afirmar que a faceta epistemológica
do pensamento de Platão é muito importante para
entender a sua filosofia. O problema fundamental
para o seu pensamento é poder avaliar as formas de
conhecimento para alcançar o nível mais profundo,
que está além das coisas do mundo que nos cercam
(MARCONDES, 1997).
O processo dialético platônico pelo qual, ao
longo do debate de ideias, depuram-se o pensa-
mento e os dilemas morais, também se relaciona
com a procura de respostas durante o aprendiza-
do. Platão é do mais alto interesse para todos que
compreendem a Educação como uma exigência de
que cada um, professor ou estudante, pense sobre
o próprio pensar, como explica Sardi (2003). Neste
sentido, podemos dizer que a obra de Platão é uma
síntese que abarca o conhecimento verdadeiro, a
moralidade e a política. Traz ao campo da Filoso-
fia preocupações em torno dos fatores pedagógi-
cos-políticos do conhecimento. Isto o leva à con-
clusão de que é o conhecimento em alto nível que
leva o homem a fazer o Bem (MARCONDES, 1997).
Uma das alegorias mais conhecidas da história
é A Alegoria da Caverna (conhecida popularmente
como “Mito da Caverna”). Esta alegoria está inscrita
na obra A República, no capítulo VII (514a-517d) e é
contada através de um diálogo entre os personagens
Sócrates e Glauco. Trata-se de uma metáfora de
Platão sobre o nosso mundo, representado pela
caverna. Nelas estão pessoas acorrentadas (como
prisioneiros), desde crianças, sem se moverem,
podendo somente observar o que está a frente,
46

Anotações:
onde elas veem apenas sombras. Estas pessoas
aprisionadas são representações nossas, como se
Platão descrevesse o ser humano inserido em um
mundo ilusório, onde enxergássemos unicamente
uma parte ínfima do mundo real.
Do lado de fora da caverna há uma fogueira,
cuja luz projeta as sombras, que são os homens
que passam (como sombra) pelo lado de fora da
caverna. Eles são representações dos sofistas
que manipulam as opiniões dos homens e são
parte da ilusão. Quando um dos prisioneiros se
liberta e conhece o que há no exterior da caverna,
ele consegue enxergar a realidade plenamente,
compreendendo-a a tal ponto de não querer voltar
para a caverna (MARCONDES, 1997).

Aristóteles e a ética a Nicômaco

Aristóteles (384-322 a.C.), ao lado de Sócrates


e Platão, é considerado um dos grandes filósofos
do período clássico. Ele definiu os conceitos e
princípios basilares de muitas teorias científicas.
Fundamentou as teorias da lógica, da biologia,
da física e também da psicologia. Na lógica,
desenvolveu a teoria da inferência dedutiva, que
são o silogismo e um conjunto de regras, que depois
ajudaram a formar o método científico (COSTA,
2004).
Nascido na cidade de Estagira, na Macedônia,
Aristóteles foi discípulo de Platão por muitos anos,
rompendo com a filosofia do mestre após a morte
dele. Então, fundou o seu próprio sistema filosófico,
partindo da crítica à teoria das ideias. Assim,
toda a sua filosofia funda-se sobre a crítica aos
47

Anotações:
fundamentos pré-socráticos e às teorias de Platão.
O filósofo estagirita redefine a Filosofia, tanto no
seu projeto quanto no seu sentido, para alcançar o
seu objetivo de construir um sistema de saber, com
a intenção de superar as limitações e as falhas de
seus antecessores. Este projeto aristotélico pode
ser observado na sua monumental obra intitulada
Metafísica (MARCONDES, 1997).
Devemos mencionar outra obra de Aristóteles,
muito importante na História da Filosofia, que é
a Ética a Nicômaco. Nela, Aristóteles apresenta
uma nova concepção de virtude, de uma razão
voltada para questões práticas e do justo meio. A
investigação de Aristóteles estreita os laços entre
a ética e a política, como se uma dependesse da
outra. Apesar do modelo ético apresentado por
ele ser muito semelhante à maneira como Platão,
seu mentor, apresentava, (ou seja, em forma de
diálogos) ela é bem distinta das questões éticas
que permeiam o pensamento platônico.
O filósofo de Estagira mostra um modelo
teleológico que tem por finalidade apresentar a
imagem de um arqueiro que precisa atingir seu
alvo após visualizá-lo, tal como um agente moral
precisa ter como objetivo o fim prático (o Bem) para
alcançá-lo. A visão de mundo de Aristóteles não se
divide em dois, o sensível e o inteligível, como em
Platão e, por isso, rejeita a ética platônica. O Bem
precisa orientar as ações boas (uma forma moral)
do agente (UNESP, 2013).
Já no início da Ética a Nicômaco, o filósofo
estagirita parte em investigar o Bem, com intenção
de alcançá-lo. Em meio à investigação do Bem,
apresenta a ideia de que precisa haver uma boa
48

Anotações:
vida. Há a vida de prazer, a vida de honras, a vida
virtuosa e a vida contemplativa. Destas quatro
formas de viver a vida, somente a vida virtuosa
e a vida contemplativa são consideradas em sua
investigação como formas possíveis de alcançar a
felicidade (UNESP, 2013). Para Aristóteles (1973, p.
428-430), a felicidade:

É atividade conforme à virtude, será


razoável que ela esteja também em
concordância com a mais alta virtude;
e essa será a do que existe de melhor
em nós. Quer seja a razão, quer
alguma outra coisa esse elemento que
julgamos ser o nosso dirigente e guia
natural, tomando a seu cargo as coi­
sas nobres e divinas, e quer seja ele
mesmo divino, quer apenas o elemento
mais divino que existe em nós, sua
atividade conforme à virtude que lhe é
própria será a perfeita felicidade. Que
essa atividade é contemplativa, já o
dissemos anteriormente.

Para Aristóteles, devemos agir de maneira


virtuosa e, para termos essa ação, podemos nos
basear nos aspectos culturais de nossa sociedade.
Não há um conjunto de regras que nós devemos
seguir, o que torna o modelo ético aristotélico
diferente dos demais apresentados ao longo da
História da Filosofia. Desta forma, abre margem
para a possibilidade de compreender que uma
ação virtuosa, em determinado lugar, pode ser
considerada não virtuosa em outro. Contudo,
Aristóteles apresenta uma noção que media a ação
49

Anotações:
virtuosa de uma pessoa, impondo uma medida
aritmética, trata-se do justo meio.
Assim, ele exemplifica dizendo que o número
três é o meio entre os números dois e quatro.
Essa aritmética é um meio que pode ter variações
devido aos casos singulares, em outras palavras,
deve-se medir caso a caso. Algumas ações são
consideradas covardes quando falta impulso, já o
excesso de impulso pode ser considerado como
temeridade, no entanto, ambas são manifestações
de vício. Uma ação considerada corajosa é quando
o impulso aparece de forma moderada, o que faz
com que o indivíduo aja sem excesso e sem vício,
portanto, virtuosamente. Isto quer dizer que uma
ação só pode ser considerada virtuosa se aquela
ação atender às “regras” do justo meio (UNESP,
2013).

PERÍODO DO HELENISMO: A BUSCA


PELA FELICIDADE

Após a conquista da Grécia pelos macedônios


(322 a.C.), teve início o chamado período
helenístico. Devido à expansão militar do império
da Macedônia, efetuada por Alexandre Magno,
o período helenístico caracterizou-se por um
processo de interação entre a cultura grega clássica
e a cultura dos povos orientais conquistados. E
o mesmo processo ocorreu no campo filosófico.
Para Goldschmidt (1953), filósofo francês, as
escolas platônicas (Academia) e aristotélica (liceu)
— dirigidas, respectivamente, pelos discípulos de
Platão e Aristóteles — continuaram abertas e em
plena atividade, mas os valores gregos começaram
50

Anotações:
a mesclar com as mais diversas tradições culturais.
Este processo se deu através da cidade de
Alexandria, capital do reino grego no Egito e centro
cultural do helenismo. Pelo fato de a Alexandria
ser cosmopolita, a cultura daquele local tornou-se
sincrética (MARCONDES, 1997).
Helenismo é um termo retirado da obra de um
importante historiador francês, que apresentava a
tese de que havia uma influência da cultura grega em
toda a região conquistada por Alexandre. Podemos
compreender que a primeira tentativa de criar uma
hegemonia da língua e da cultura nasceu com o
império estabelecido por Alexandre (MARCONDES,
1997). A seguir, veremos alguns filósofos e as
escolas mais conhecidas deste período.

Os Estoicos

Este período foi marcado pela busca de um


caminho para a felicidade, e sendo criada pelos
estoicos, dando origem à corrente conhecida como
estoicismo. De acordo com Marcondes (1997), o
termo estoicismo deriva das palavras gregas stoa
poikilé, que pode ser traduzido como “pórtico
pintado”. A escola estoicista foi fundada em Atenas,
em 300 a.C., e feita pelos discípulos que sucederam
os pensadores Zenão, Cleantes e Crisipo.
A Filosofia, para a escola estoicista, é um
sistema composto por três partes fundamentais
e estão divididas em uma forma hierárquica: a
física, a lógica e a ética. O sistema estoico parte
da metáfora da árvore para ser explicado, de
modo que a raiz da árvore corresponde à física, o
tronco corresponde à lógica e os frutos podem ser
51

Anotações:
entendidos como a ética. Logo, a ética pode ser
considerada a parte fundamental para tal escola,
mas não deve estar separada da física porque há
uma relação estreita entre as áreas. O homem é
considerado uma parte do universo, pois ele é o
microcosmo no macrocosmo (MARCONDES, 1997).
Veremos, mais adiante, porque estas áreas estão
conectadas.
As nossas ações éticas devem ter uma relação
com os princípios naturais, que se harmonizam com
o cosmo e traz equilíbrio ao universo e ao próprio
homem, o que resulta em sua felicidade. Uma
ação considerada boa deve estar de acordo com a
natureza, isto é, precisa estar em consonância com
a ética. A virtude no sistema estoico é composta
por três elementos básicos: a do conhecimento do
que é o bem e o mal, correspondendo à inteligência;
a do conhecimento do que deve ou não ser temido,
que corresponde à coragem e a do conhecimento
que nos permite dar algo que é devido a quem
merece, o que corresponde à justiça. Assim, a
concepção de natureza, na ética do estoicismo, tem
um forte teor fatalista, pois o destino (heimarmené)
tem uma presença grande em sua constituição. O
destino não é arbitrário e reflete a racionalidade do
mundo real, portanto devemos aceitá-lo, mesmo
não compreendendo o que fazemos para termos
um triste destino. Assim, a resignação em aceitar
os acontecimentos como algo predeterminado é
um elemento fundamental nesta ética. Devemos
agir tendo como princípio a ética, mas aceitar as
consequências de nossas ações e o desenrolar dos
acontecimentos inevitáveis (MARCONDES, 1997).
Em outras palavras, tudo o que existe e acontece
52

Anotações:
tem um objetivo e uma razão de ser, pois faz parte
da inteligência universal. Assim, tudo é necessário,
ou seja, não pode ser diferente do que é, pois, no
cosmos, todos os eventos estão organicamente
predeterminados. Isso inclui a vida de cada um de
nós, o que quer dizer que, na concepção estoica,
cada pessoa nasce com um destino definido.
A eudaimonia, traduzida como felicidade,
baseia-se na ataraxia, que se traduz por
tranquilidade. O estado de tranquilidade consiste
na ausência de perturbação. Aceitar o desenrolar
dos acontecimentos, conviver com austeridade e
manter o autocontrole é o que nos faz alcançar a
ataraxia, ou melhor, a tranquilidade. O estoicismo,
contudo, coloca-nos um desafio, pois para alcançar
este estado, é preciso ser um completo sábio
(MARCONDES, 1997).
Cotrim (2016) destaca que os estoicos
procuraram orientar a conduta das pessoas
estabelecendo a seguinte distinção entre as
coisas: 1) boas, aquelas que dependem de nós e
que devemos buscar durante a vida para sermos
felizes, são virtudes (ser prudente, justo, corajoso);
2) más, que são as coisas que dependem de nós,
mas que, ao contrário, devemos evitar durante a
vida se queremos ser felizes, são vícios advindos
de algumas formas de paixões (ser imprudente,
injusto, covarde, guloso, raivoso); 3) indiferentes,
que são as que não dependem de nós e com as
quais não devemos nos preocupar, sob pena de
gerar infelicidade.
Antes de passarmos para a próxima escola
helenista, é preciso ressaltar que, por conta das
características de ser determinista, de buscar o
53

Anotações:
autocontrole, a submissão e a austeridade da vida
financeira como valores centrais, a ética estoica foi
uma grande influência para o desenvolvimento do
cristianismo, assim explica Marcondes (1997).

Epicuro

Epicuro (341-271 a.C.) reunia-se, na cidade


de Atenas, com os seus discípulos no jardim de
sua escola, fundada em 306 a.C., ele retomou as
teorias atomistas de Demócrito e Leucipo, e foi
reconhecido pelo seu tratado sobre a natureza,
intitulado Da Natureza. É importante observar que os
epicuristas defendem a física materialista, atomista
e mobilista. Assim, eles apresentam uma teoria do
conhecimento que valoriza a experiência do que
é imediato. Nesta teoria também é apresentado
um conceito chamado de pré-noção, que consiste
em conservar os elementos de uma experiência
que servirá para alcançar objetivos e dar inícios
teóricos (como ponto de partida) para a apreensão
de conhecimentos posteriores (MARCONDES, 1997).
A sua ética, segundo Marcondes (1997), tem
por princípio a felicidade (ou eudaimonia) que se
obtém da ataraxia, que é traduzida como tranquili-
dade, como visto anteriormente. O que faz o homem
alcançar a ataraxia é a sua forma de agir, que deve
estar em acordo com a liberação de seus desejos
e necessidades características de sua natureza.
Essa liberação de impulsos naturais precisa ser
equilibrada. Assim, na ética epicurista, o prazer (ou
hedoné) é importante e considerado natural. É algo
positivo quando realizamos nossos desejos de for-
ma espontânea, contudo, deve-se ter moderação,
54

Anotações:
mas nunca a sublimação do prazer (MARCONDES,
1997). Podemos definir algumas distinções entre
o que desejamos e que pode ser dividido em três
grupos: 1) naturais e necessários, como os dese-
jos de comer, beber e dormir. 2) desejos naturais e
desnecessários, como os desejos de comer alimen-
tos refinados, tomar bebidas especiais e caras,3)
os não naturais e desnecessários, como os desejos
de riqueza, fama e poder.
Contentar-se com pouco seria o segredo do
prazer e da felicidade. Com a expectativa reduzida,
não há decepção, e um grande prazer pode advir de
um simples copo de água. Segundo Cotrim (2016, p.
30), “gozar o prazer eventual de um banquete ou de
um cargo elevado não é proibido, mas não deveria
ser desejado sempre, pois, mais cedo ou mais tarde,
viriam a insatisfação, o desprazer, a infelicidade”.
Deve-se agir com prudência racional, por isso,
de acordo com Marcondes (1997), os epicuristas
valorizavam a phronesis, que pode ser entendida
como inteligência prática, pois quando há este tipo
de inteligência, nem a razão, nem a paixão entram
em conflito.
Outro ensinamento importante na filosofia
epicurista, conforme Cotrim (2016), é que Epicu-
ro dizia que se devia eliminar algumas crenças,
consideradas pelo filósofo como uma das princi-
pais causas de angústia e infelicidade. Elas são
preocupações religiosas e superstições sobre-
naturais, o que manifesta em nós um temor im-
posto por tais crenças ou religiões, por exemplo, os
gregos temiam muito ofender seus deuses e serem
terrivelmente punidos por eles. Também viviam sob
o pavor de que forças divinas interferissem em suas
55

Anotações:
vidas, mudassem sua sorte ou tirassem-lhes os en-
tes queridos.
Mediante a compreensão materialista do
universo e do ser humano, próprias à ética de
Epicuro, ele sustentava que as pessoas também
deveriam se livrar de outro grande fator de angústia
e infelicidade: o medo da morte. A sua ideia é exposta
em uma das cartas mais célebres da História da
Filosofia, a saber, a Carta sobre a felicidade, desta
forma ele escreve (1997, p. 27-28.) o seguinte:

Acostuma-te à ideia de que a morte


para nós não é nada, visto que todo
bem e todo mal residem nas sen-
sações, e a morte é justamente a
privação das sensações. A consciên-
cia clara de que a morte não significa
nada para nós proporciona a fruição
da vida efêmera, sem querer acres-
centar-lhe tempo infinito e elimi-
nando o desejo de imortalidade. [...]
quando estamos vivos, é a morte
que não está presente; ao contrário,
quando a morte está presente, nós é
que não estamos.

Em outras palavras, as sensações estão


ligadas ao ato de temperança, ou seja, em virtude de
quem é moderado e, assim, tendo esse pensamento,
a morte não seria nada, mas a consciência de que
se deve aproveitar a vida, mesmo porque ela é
passageira e que se vive por um tempo determinado
na terra.
56

Anotações:
O Ceticismo

A tradição cética, conforme Marcondes (1997)


é formada por diversas concepções do ceticismo,
pois não há um marco histórico que dê sinal de
quando ela tenha começado, assim como não há
um grande pensador inaugural. O que se conhece
sobre o ceticismo antigo vem dos escritos de Sex-
to Empírico, mais especificamente no texto Hipo-
tiposes Pirrônicas. Uma das afirmações centrais
presentes nesse texto é a diferença entre as aca-
demias (filosóficas), de pensadores como Clitôma-
co e de Carnéades, e o pensamento cético.
As primeiras afirmavam ser impossível
encontrar a verdade, enquanto os céticos,
consideravam-se os verdadeiros mestres, pois
continuavam as suas investigações sempre em
busca da verdade. Em termos gerais, a afirmação de
que seria impossível alcançar a verdade já era uma
forma dogmática. Isto não caracteriza a posição
cética pois o ceticismo tinha como proposta
suspender o juízo quanto à possibilidade de algo
ser verdadeiro ou falso. Sexto empírico afirma que
a filosofia de Pirro de Élis pode ser considerada
autenticamente cética. Assim, o pirronismo pode
equivaler ao sentido de ceticismo.
Segundo Marcondes (1997), tudo aquilo que
conhecemos de Pirro e do que ficou conhecido
como ceticismo pirrônico, vem do seu discípulo,
provavelmente o único, Tímon, e é dele que podemos
encontrar alguns fragmentos. O próprio Pirro não
escreveu uma obra expressando o seu pensamento.
Ele está inserido no grupo de filósofos, como
Sócrates, que não tinham um sistema ou doutrina,
57

Anotações:
mas acredita na Filosofia como uma atitude. Dele
pode-se extrair algumas questões centrais, como:
qual a natureza das coisas? Não podemos conhecer
as coisas tais como elas são trazidas através dos
sentidos e da razão, por meio delas fracassamos.
Como agir em relação à realidade que nos cerca?
Devemos evitar assumir alguma posição em
relação ao conhecimento da natureza das coisas,
justamente, porque não a conhecemos. Quais
as consequências de tal atitude? O que nos traz
tranquilidade é quando nos mantemos à distância
de tais interesses. Assim como as escolas estoicas
e epicuristas, Pirro buscava alcançar a felicidade,
através da ataraxia que, como já vimos, trata-se da
tranquilidade.
Marcondes (1997) afirma que o ceticismo pode
ser definido por seu procedimento específico, em
que o filósofo que busca a verdade, ao se frontar
com diversas tendências dogmáticas, vê que não há
um critério decisivo sobre aquelas que apresentam
suas "verdades", como válidas porque dependem de
sua própria teoria para sustentá-las, fazendo com
que todas elas estejam no mesmo nível, o que leva o
cético à constatação de que estão no mesmo grau
de potência. Como essas tendências entram em
conflito, excluindo-se, de maneira mútua, porque
cada uma apresenta a sua verdade como única,
impossibilita-se a decisão sobre aquela que seria a
melhor tendência a ser seguida. O cético suspende
o seu juízo e, quando o faz, sente-se em estado de
tranquilidade.
58

Anotações:
FILOSOFIA MEDIEVAL: AS FILOSOFIAS
DE SANTO AGOSTINHO E SÃO TOMÁS
DE AQUINO

Segundo Costa (2004), no período em que a


sociedade greco-romana passava por declínio, o
pensamento filosófico do Ocidente passou a se
preocupar com a salvação do ser humano, que se
daria num mundo metafísico. Assim, acabaram
por deixar de lado as investigações a respeito da
natureza e sobre o caminho para a felicidade. O
pensamento cristão se estendeu pelo império
romano, entre a classe mais abastada, a partir do
século III.
Marcondes (1997) observa que, embora tenha
havido um período de transição do pensamento
helenista para o cristianismo, este surgiu no
contexto do próprio helenismo. A cultura helenista,
uma cultura propícia, foi fundamental para que
houvesse uma aproximação entre a filosofia grega
e a cultura do judaísmo. Isto quer dizer que, mesmo
que o cristianismo tenha sido originado como
vertente do judaísmo, desenvolveu-se mediante a
cultura helenista, portanto, o pensamento cristão é
uma síntese da religião judaica e da cultura grega
(MARCONDES, 1997, p. 115-116). O autor ainda mostra
que havia duas concepções que pensavam a relação
entre a Filosofia grega e o cristianismo.
Uma defendia a presença da Filosofia grega
no pensamento cristão e aproximava algumas obras
de Platão à narrativa bíblica, bem como o papel
de ensinamento, que é próprio à Filosofia, com a
intenção de preparar o espírito dos convertidos para
as revelações do livro da Bíblia. Sócrates, Platão e os
59

Anotações:
filósofos estoicos eram vistos como os pensadores
precursores do pensamento cristão, mesmo que
não tenham conhecido os ensinamentos de Cristo
porque nasceram muito tempo antes dele. A outra
era dos teólogos que não viam a Filosofia como
pensamento religioso e advertiam aos demais
religiosos que a Filosofia grega estava distante da
mensagem do cristianismo. Esses consideravam
o método filosófico nocivo por se tratar de um
método que traz a discussão como a forma, assim,
a Filosofia grega era vista como prática pagã.
Sendo assim, a posição dos defensores de uma
teologia que se desenvolveu através da Filosofia só
apareceu no período em que a Igreja passava por
concílios, que eram reuniões onde os cargos mais
altos da igreja, constituídos por bispos e líderes,
deliberavam os dogmas a serem seguidos. Foi
neste período que a Filosofia grega foi incorporada,
definitivamente, ao pensamento cristão.
A seguir, veremos alguns dos principais
teólogos deste período, cuja linha religiosa
apresenta uma enorme filiação com o método e o
pensamento filosófico.

Santo Agostinho

Segundo Costa (2004), Agostinho de Hipona


(354 – 430 d.C.) foi bispo e trouxe para a Igreja, junto
a outros teólogos, a valorização da razão. Aliada à
razão estava a emoção religiosa dos ensinamentos
de Jesus Cristo e de seus apóstolos. Essa aliança
formada entre a razão e a emoção, própria aos
ensinamentos cristãos, fundou um sistema de
pensamento, uma doutrina cristã. A Filosofia de
60

Anotações:
Platão se manteve presente na doutrina cristã até o
século XIII por causa de sua influência na igreja e foi
neste período que a Filosofia patrística originou-se.
A sua Filosofia se baseia no pensamento
de Plotino, um neoplatonista (corrente derivada
das teorias de Platão), Porfírio, nos ensinamentos
de São Paulo e no Evangelho de São João. Assim,
a partir de Agostinho, a Teologia passou a ser
pensada como uma ciência e, a partir dela segundo
seus dogmas, o homem precisa se dedicar para
salvar a sua alma como uma forma de recompensa
(MARCONDES, 1997).
Essa da aproximação feita por ele entre Platão
e o cristianismo ficou conhecida como Platonismo
Cristão, uma espécie de corrente interna da Igreja.
Neste sentido, Agostinho formulou a primeira sín-
tese reconhecida historicamente entre a Filosofia
grega e o cristianismo. As suas contribuições fun-
damentais para o desenvolvimento da Filosofia são
três: a relação entre Teologia e Filosofia, portanto,
entre a razão e fé; a questão da subjetividade e da
interioridade como questões centrais da teoria do
conhecimento e a obra Cidade de Deus, cuja a teoria
da história foi fundamental naquele período.
A originalidade de Agostinho está justamente
em ter desenvolvido a noção de interioridade e
o conceito de subjetividade. A posição interior é
considerada o âmbito da verdade, fazendo uma
oposição ao exterior. A sua famosa frase “No homem
interior habita a verdade” deriva desta teoria que
tem como princípio o olhar do homem para dentro
de si, porque ao olhar para o interior é possível
compreender a verdade divina. (MARCONDES, 1997)
Santo Agostinho não foi o primeiro a realizar
uma teoria da história como, observa Marcondes
61

Anotações:
(1997), contudo, a sua noção é diferente das
anteriores, porque havia a noção de tempo
histórico, que se tornou uma grande influência no
Ocidente. Ela foi inovadora por trazer a história
como possuidora de um sentido, direcionada e
marcada por um começo e um ponto final, que
é o retorno ao lugar de origem. Isto significa que,
para o filósofo de Hipona, a história não é cíclica no
sentido de que não possua um começo e um fim, e
os acontecimentos não são resultados fatalistas,
de um destino implacável, como era na concepção
dos gregos antigos, mas possuem sentido e podem
ser interpretados como sinais da revelação divina.

Tomás de Aquino

No período de Tomás de Aquino (1225-1274),


a Europa passava por mudanças estruturais,
e também de mentalidade. Em sua época
havia universidades e ordens religiosas, como
a dominicana e a franciscana que podem ser
consideradas expressões dessas transformações.
A ordem religiosa de Aquino era a dominicana, ele
manteve vínculo com as universidades, sendo a
universidade de Paris uma das que mais frequentou
(MARCONDES, 1997).
A sua originalidade está em ter desenvolvido
um sistema filosófico que passava por todos
os grandes temas, tanto da Filosofia quanto da
Teologia. Supera, através da retomada da filosofia
aristotélica, o platonismo de Santo Agostinho.
Abriu, assim, uma nova perspectiva para a Filosofia
Cristã (MARCONDES, 1997). A sua principal obra
é a Summa Theologica (Suma Teológica) que foi
62

Anotações:
censurada por conter muitas questões tratadas por
Aristóteles, que é a Filosofia do estagirita.
Uma das contribuições mais importantes
de Aquino foi o argumento das “cinco vias da
prova da existência de Deus”, presente em sua
Suma Teológica, considerado uma das principais
questões da Filosofia Medieval. Este argumento
busca demonstrar através de cinco artigos, de
forma filosófica e racional, a existência de Deus.
Através destes argumentos, pretende-se entender
como a fé e a razão se relacionam (MARCONDES,
1997).

O NASCIMENTO DA FILOSOFIA
MODERNA: O PERÍODO RENASCENTISTA

O termo Renascimento, conforme observado


por Marcondes (1997) foi utilizado por Giorgio Vasa-
ri, em 1550, na obra Vida dos mais excelentes pin-
tores, escultores e arquitetos. O historiador Jacob
Burkhardt pegou o termo e o tornou um conceito
histórico para determinar o período intermediário
entre o medieval e o moderno, que vai do século
XV ao XVI. Embora a História da Filosofia não tenha
utilizado, tradicionalmente, o Renascimento como
um momento específico de algum dado filosófico
específico, tratando-o somente como um período
de transição entre a Idade Média e a Modernidade,
temos visto cada vez mais pesquisas que mostram
que este período desenvolveu um pensamento
característico. Isto ocasionou uma ruptura com a
escolástica sem, no entanto, ainda ser considerado
o período moderno.
O humanismo é uma das principais característi-
cas deste período, e através dele foi possível romper
63

Anotações:
com a concepção teológica medieval, com o Teocen-
trismo e o papel central das ciências naturais após
Aristóteles ser redescoberto no século XII. No perío-
do renascentista, passou-se a valorizar o interesse
pelo homem em si, e assim, ele foi considerado um
ser com dignidade, dotado de liberdade e criação,
passando a ser visto com capacidade de reproduzir
a harmonia do cosmo. Portanto, é um microcosmo
em si mesmo. Neste sentido, o humanismo repre-
sentou um novo pensamento, um novo estilo nas
artes e uma nova temática nas áreas do conheci-
mento (MARCONDES, 1997).
Segundo Marcondes (1997), os humanistas
refletiram a necessidade de retomar os clássicos
para trazer novidades, fosse na política ou na arte.
Petrarca (1304-74), poeta italiano do período de
transição, foi o primeiro pensador a rejeitar a teo-
logia medieval e as especulações metafísicas. Ele é
considerado o primeiro humanista. Dante Alighieri
(1265-1321) escreveu seu famoso poema A Divina
Comédia e inaugurou este novo estilo de pensar a
arte. Erasmo de Rotterdam (1466-1533), que es-
creveu a obra O elogio da loucura, e Thomas Morus
(1478-1535), que escreveu a famosa obra Utopia, re-
tomaram os princípios da virtude moral estoica e
epicurista para aplicá-las na política. O mais famo-
so dos teóricos políticos é Nicolau Maquiavel (1469-
1527), autor de uma das obras mais importantes da
teoria política, O príncipe.
Na obra, Maquiavel elabora uma análise de
diferentes momentos históricos onde governantes
que tiveram o poder, o perderam. A sua intenção
era a de pensar questões pragmáticas e empíri-
cas do exercício de poder, separando a política das
64

Anotações:
questões morais. Traz nele uma nova qualidade de
virtude, a “virtú”, que não carrega em si a virtude
cristã. A “virtú” tem em si os elementos da coragem,
habilidade e persistência, assim, contrariando a
virtude cristã que pressupõe a piedade e a humil-
dade. Já na filosofia, o filósofo mais famoso deste
período é Michel de Montaigne (1533-95), que es-
creveu os famosos Ensaios. Francês, representou
o humanismo individualista, que é caracterizado
pelo homem equilibrado, culto e sensível, cujo olhar
crítico é lançado ao seu redor para refletir de for-
ma pessoal, o mundo que o cerca. Os pensamentos
deste tipo de humanista advêm de sua experiência
no mundo, contudo não há um sistema ou teoria a
ser elaborado por ele.

A Modernidade

A Filosofia Moderna surgiu a partir do século


XV. O pensamento moderno da filosofia fundamen-
tou a interpretação materialista e mecanicista do
universo, relacionado ao pensamento humano
como uma só realidade. As transformações políti-
cas e as descobertas da ciência refletiram na in-
teração entre aquelas formas de interpretar o
mundo. A sua fundamentação está inteiramente
baseada na razão e é crítica à religiosidade medie-
val. O homem moderno, para compreender o mun-
do e a si mesmo busca no conhecimento a capaci-
dade de compreendê-los, e que se dá a partir da
teoria do conhecimento. Com ela, a investigação
leva o homem às condições de conhecer o que é
verdadeiro (COSTA, 2004).
65

Anotações:
Segundo Cotrim (1996), o conhecimento existe
pela relação entre dois elementos: sujeito e objeto.
Só há conhecimento quando o sujeito apreende o
objeto. Quanto à nossa mente, ela torna possível a
imagem, a ideia e o conceito de um objeto nela mes-
ma sendo capaz de efetivar uma representação das
coisas mentalmente. O sujeito é a nossa consciên-
cia, isto é, nossa mente, e cabe-lhe o papel de ser
conhecedor, já o objeto é a realidade (o mundo) e os
fenômenos. Por fim, o conhecimento surge quando
nossa mente alcança a capacidade de representar
o mundo.
Afirma Costa (2004) que a concepção
mecanicista do mundo, que o vê como uma
máquina, derrubou, em certa medida, a concepção
cosmológica medieval. A visão moderna do
mundo é a de que ele é constituído por leis
físicas, sem uma vontade ou finalidade. O homem
é o centro do universo, portanto, inaugura-se o
Antropocentrismo, superando a visão medieval
(teocêntrica) e seu dogmatismo que define uma
única verdade. Os únicos métodos de investigação
filosóficos da modernidade são pelas vias da razão
e da experiência.
Há dois caminhos para alcançar o caminho
do conhecimento verdadeiro. Um é através do ra-
cionalismo, o outro é através do empirismo. Afir-
ma Chauí (2000) que no racionalismo, a razão é o
caminho para o conhecimento porque operaria
por si mesma, sem a necessidade da experiência
sensível e que teria a capacidade de controlá-la.
Já no empirismo, ao contrário, o caminho para o
conhecimento é a experiência sensível, que seria
a fornecedora das ideias racionais, e que teria a
66

capacidade de controlar a razão. Porém, cabe res-


saltar que nenhum destes caminhos metodológicos
anulam o ideal de tornar o entendimento do ser hu-
mano em um objeto da Filosofia, o que é consenso
entre os filósofos modernos.

FONTES PRIMEIRAS

Racionalismo Empirismo

A palavra racionalismo vem A palavra empirismo vem do


Dedinição do latim ratio que significa grego emperia que significa
razão. experiência.
Origem do A razão é a origem do A experiência é a origem do
conhecimento conhecimento. conheicmento.

Principais
Descartes e Leibniz Locke e Hume
autores

Razão, principais inatos e Experiência, tábua rasa e


Palavras-chave
principais lógicos. sentidos.

O pensamento de René Descartes

Figura 3: René Descartes


67

Anotações:
René Descartes (1596-1650) é reconhecido por
fundar o método cartesiano e inaugurar o pensa-
mento moderno na Filosofia. Ele se insere na história
do pensamento como um dos representantes da
vertente Racionalista. Esta doutrina se apoia na
razão como fundamento de todo o conhecimento.
O seu método cartesiano tinha como instrumento
a matemática, tornando-a base para a ciência de
modo geral. Uma das características centrais do
cartesianismo é a dúvida metódica como princípio
de investigação e é através dela que podemos pôr
em questão todas as nossas certezas (COSTA,
2004).
Cotrim aponta (2017) que os passos da dúvi-
da metódica, constituem a parte mais conhecida
de seu método. Contudo, ela não se resume a estes
passos, pois corresponde (de forma mais ampla) a
uma postura criteriosa de investigação filosófica.
Os passos são: 1) Jamais aceitar como verdadeira
coisa alguma que não estivesse tão clara na minha
mente que não restasse dúvidas de sua verdade, 2)
Dividir cada dificuldade em tantas partes quanto
possível e necessário para resolvê-la, 3) Organizar
os pensamentos, iniciando pelos assuntos mais fá-
ceis e simples e progredindo gradativamente para
os mais complexos, 4) Fazer, para cada caso, enu-
merações e revisões até que estivesse certo de não
ter omitido nada.
Descartes propõe superar as dificuldades
para conhecer algo em sua verdade fundamental
a partir da ideia de que o conhecimento é funda-
do sobre ideias claras e distintas que estão em
nossa mente, sendo esta última uma substância
pensante (UNESP, 2013). Ao falar de nossa men-
68

Anotações:
te, observa Costa (2004) que o filósofo racionalista
francês descobre o elemento da subjetividade, e isto
significa dizer que o mundo é conhecido através de
um sujeito, de modo que a investigação filosófica e
científica desloca o foco do objeto investigado para o
sujeito, ou seja, sai da realidade objetiva para a razão
do sujeito. Para ele, não havia a possibilidade de pen-
sar algo sem saber que existe, sendo isso verdade
clara e distinta, portanto, uma verdade impossível de
ser refutada. Daí nasce a célebre frase: “Penso, logo
existo” (COSTA, 2004, p. 18).

David Hume: empirismo radical

O filósofo escocês David Hume (1711-1776) foi


quem levou o método empirista às últimas conse-
quências. Chegou à negação da universalidade do
princípio de causalidade porque, segundo ele, nós
apenas podemos observar os eventos em sequên-
cia temporal, não as conexões causais internas.
Hume acredita que por termos o hábito de ver ocor-
rências naturais sucederem-se, cotidianamente,
um fato no presente terá o mesmo comportamento
como outras vezes observadas no passado (COSTA,
2004).
As ideias são de natureza particular, quando
associamos a elas palavras gerais é que produzimos
um efeito generalizado. A partir disto, generalizamos
a ponto de fazermos referência a uma infinidade de
coisas particulares que possuem o mesmo aspecto.
Assim, o universal é um processo de associação
que faz parte do nosso hábito (MARCONDES, 1997,
p. 204). Os seus exemplos são os de que um dia o sol
pode não vir a nascer, e que onde há fumaça nem
sempre há fogo.
69

Anotações:
A Filosofia de Kant: o ápice do
pensamento moderno
Marcondes (1997) explica que o pensamento
de Immanuel Kant (1724-1804) e suas obras são
considerados marcos na Filosofia moderna. Os
questionamentos de David Hume tiveram impacto
profundo em Kant. Ele estava buscando reabilitar o
racionalismo contra o empirismo cético, contudo,
considerou os questionamentos de Hume e viu a
importância do empirismo para o conhecimento.
Assim, elaborou uma Filosofia a qual atribuiu o título
de Racionalismo Crítico. Com sua obra "Crítica da
Razão Pura", que foi escrita e publicada no contexto
do racionalismo alemão, Kant superou a separação
entre o racionalismo e o empirismo.
Segundo o pesquisador Pacífico (2020), a
Filosofia de Kant e a construção de seu sistema
deram-se pelo interesse em conhecer como se dá
o saber humano. Nosso conhecimento é composto
por juízos que são fundamentados através de
nossas percepções, isto é, os sentidos de nossa
sensibilidade. Na obra mencionada, Kant apresenta
a concepção de Filosofia transcendental, que se
ocupa com o nosso modo de conhecer os objetos,
e não somente com os objetos em si.
Observa Marcondes (1997) que se trata de
uma Filosofia do conhecimento, em que procura
entender as possibilidades de conhecimento,
mostrando o uso da razão de modo cognitivo — que
produz conhecimento real —, distinguindo-o de seu
uso especulativo, em que o pensamento não tem
correspondência com os objetos. Pode-se afirmar
que a Crítica da razão pura consiste em examinar
70

Anotações:
a constituição da razão em seu interior e o seu
funcionamento. Outro aspecto apresentado pela
obra é a delimitação de conhecimento, como uma
fronteira entre a ciência e a pseudociência.
Marcondes (1997) declara que a partir da
tradicional forma de distinguir os juízos analíticos
e juízos sintéticos, apresenta-se o caráter lógico
dos juízos analíticos, em que os predicados (que é
o que declara algo sobre o sujeito) estão no sujeito,
mas não produzem conhecimento e são a parte
independente da experiência, portanto, a priori.
Os juízos sintéticos dependem da experiência (a
posteriori do sujeito) e são aqueles que produzem e
ampliam o conhecimento.
Contudo, Kant considera estes juízos insu-
ficientes para a condição adequada da ciência,
pois precisamos dar conta dos juízos universais
e necessários para ampliação do nosso conheci-
mento. Com isto, ele apresenta os juízos sintéticos
a priori, que são caracterizados como indepen-
dentes da experiência, mas que, por dar condições
de possibilidade do conhecimento, relacionam-se
com ela. Os fundamentos da física, da matemática e
filosóficos pertencem a este novo juízo. Em relação
ao conhecimento de um objeto, ele é o resultado da
contribuição de duas faculdades: da sensibilidade
e do entendimento. Há a Estética Transcendental,
que constitui a primeira parte da Crítica, que trata
das formas puras da sensibilidade (intuições do es-
paço e tempo).
Podemos dizer que as coisas que percebemos
não passam de um fenômeno, porque a coisa
percebida por nós não é tal como é em si mesma.
Pacífico (2020) destaca o ensinamento de Kant de
que tudo aquilo que é exterior ao tempo e ao espaço
71

Anotações:
não é percebido por nós. Podemos compreender,
desta forma, que sempre vemos as coisas através
das formas da sensibilidade. Há, por outro lado, a
parte da Analítica Transcendental, que analisa os
conceitos puros do entendimento, e que constitui
a segunda parte da mencionada obra.
O pensamento de Kant deu a base para o que
viria depois em diversas áreas do conhecimento,
desde estudos sobre a física, a matemática, bem
como as questões da arte, da moral e da ética.

A filosofia após Kant: do idealismo


alemão à contemporaneidade
O Iluminismo, que contou com a influência
de Kant e de pensadores franceses, como Jean
Jacques Rousseau, Voltaire e Montesquieu, foi
idealizado num momento de atividade social
intensa, impulsionando mudanças na sociedade
ocidental e que culminaram na Revolução Francesa
(COSTA, 2004). Foi um movimento cultural amplo,
que abarcou a política, as artes, a literatura,
a doutrina jurídica, as ciências, bem como o
pensamento filosófico. Uma de suas principais
contribuições foi a noção de progresso racional da
sociedade e da humanidade (MARCONDES, 1997).
Através da influência da Filosofia Kantiana,
o idealismo tornou-se uma das tendências domi-
nantes na Alemanha. Os filósofos representantes
do Idealismo Alemão foram Johann Gottlieb Fichte
(1762-1814), Friedrich Wilhelm Joseph von Schelling
e Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831). O mais
conhecido desta tríade idealista alemã é Hegel
(COSTA, 2004), que tem em sua Filosofia um caráter
72

Anotações:
extremamente sistemático, que integra a ética, a
metafísica, a lógica, as filosofias da natureza e do
direito, e a estética. Trata, portanto, de todos os te-
mas da tradição filosófica (MARCONDES, 1997).
A sua concepção de Estado como a forma
mais elevada de materialização do espírito abso-
luto foi fonte de inúmeras teorias sociais e políti-
cas, bem como a sua metáfora da dialética, outro
conceito bastante discutido em diversas áreas
do conhecimento. Ela consiste em demonstrar a
questão do ser que se transforma, e é apresentada
da seguinte forma: a semente é a tese (o ser), a sua
antítese — portanto o não-ser — seria o desenvolvi-
mento da semente que deixa de sê-la, e a síntese é a
sua transformação, que passa a ser árvore, mas que
mantém a relação de ser e não ser uma semente.
Segundo Belo (2015), o século XIX foi
considerado o século da descoberta da História
e da historicidade do homem, da sociedade, das
ciências e das artes. Isto se deu, particularmente,
com Hegel, que afirma que a História é o modo de
ser da razão e da verdade, ou seja, um modo de ser
dos seres humanos e que nos torna, portanto, seres
históricos.
Surgiram outros filósofos importantes neste
período, como Arthur Schopenhauer (1788 – 1860).
Apesar de sua Filosofia estar próxima ao contex-
to do pensamento romântico, foi crítico dos ide-
ais iluministas racionalistas. A linha filosófica de
Schopenhauer é o idealismo transcendental. Se-
gundo esta linha, o mundo sensível existe para a
nossa subjetividade apenas como representação.
A partir da obra Crítica da razão pura, de Kant, es-
pecificamente, da primeira parte da obra (Estética
73

Anotações:
Transcendental), Schopenhauer fundamenta toda a
sua teoria filosófica (PACÍFICO, 2020). Marcondes
(1997) afirma que o filósofo, o sujeito condiciona
o objeto, assim todo objeto é uma representação
para o sujeito.
A representação é um estado subjetivo e é
uma contribuição das formas do tempo e espaço,
do entendimento (causalidade) e da sensibilidade.
Ela é como um véu ilusório que nos impede de
alcançar a coisa em si, e a coisa em si é a essência
do mundo, chamada vontade. Assim, a Filosofia
schopenhaueriana mistura a herança filosófica
kantiana com o pensamento oriental.
Soren Kierkegaard (1813-1855), um filósofo
dinamarquês, foi o primeiro existencialista. A
sua formação mistura elementos da Teologia e
da Filosofia, próxima à linha filosófica de Blaise
Pascal. Também estudou com Schelling em Berlim.
Seu pensamento carrega um caráter subjetivista,
trágico e pessoal. O estilo irônico apresenta
críticas ao pensamento cartesiano e hegeliano.
Produziu análises sobre os sentimentos mais
profundos do ser humano, como a angústia, o
medo, o amor e a existência sem sentido. Não há
qualquer formulação sistemática ou doutrinária em
sua Filosofia. Questiona a racionalidade no sentido
de trazer ao campo da Filosofia Ocidental o papel
da irracionalidade em nossas escolhas da vida
(MARCONDES, 1997).
Karl Marx (1818-1883) formou-se em Filosofia
em Berlim, onde entrou em contato com os “jovens
hegelianos”, ou “hegelianos de esquerda”, além de
conhecer franceses que eram socialistas utópicos,
como Proudhon e Fourier. Fundou o Partido
74

Anotações:
Comunista, cujo programa foi o famoso texto
Manifesto do Partido Comunista, em 1848. Para ele,
a tradição filosófica se limitou a buscar interpretar
o mundo ao invés de tentar transformá-lo. Assim,
acredita que a Filosofia tradicional é uma forma
de idealismo por não estar relacionada à realidade
social, sendo sem serventia.
A filosofia marxiana insere-se na linha
moderna de radicalidade crítica em que, para
libertar o homem, busca um método para acabar
com as ilusões inseridas na consciência. Esta
é considerada livre quando está atrelada ao
trabalho, tema já analisado por outros filósofos
da antiguidade. O trabalho é a questão central da
análise filosófica de Marx, pois se trata de uma
forma de relação que permanece constante no ser
humano e no seu hábitat como uma necessidade
da vida humana. Ainda sobre o trabalho, enquanto
procedimento altera a natureza e o homem, o que
indica que não há uma essência do ser humano
(MARCONDES, 1997).
Para Marx, o mundo é composto por materiali-
dade que precede o espírito, o que explica o entendi-
mento de que o ser humano é definido pelas relações
de trabalho e de produção. Assim, o homem é um
ser material, que é situado historicamente (COSTA,
2004). Partindo desta compreensão, Marx diz que
a vida da espécie humana é contada pela História.
Ele analisa todas as etapas pelas quais o ser huma-
no já passou, das sociedades primitivas à época de
ascensão da burguesia, todas caracterizadas pelas
relações de produção. Formula, portanto, um dos
métodos mais utilizados hoje para compreender a
vida em sociedade: o materialismo histórico, que
75

Anotações:
também é uma teoria científica da História (MAR-
CONDES 1997).
Outro grande crítico de toda tradição do
pensamento filosófico Ocidental é Friedrich
Nietzsche (1844-1900). Filólogo de formação, ele
apresentou uma perspectiva de Filosofia: a da
afirmação da vida. A sua crítica parte da subversão
à história do pensamento humano. Em nosso
imaginário, constituiu-se a história da passagem do
pensamento mítico para o pensamento científico.
Ele questiona isto, além do papel predominante
da razão, da lógica, do conhecimento científico e
da argumentação racional. Todos estes elementos
da evolução do pensamento filosófico ocidental,
segundo Nietzsche, afastaram o homem da relação
com a natureza. Sócrates foi um dos responsáveis
por esse afastamento, ao apontar a primazia da
racionalidade, ao mesmo tempo em que se permitiu,
historicamente, a repressão do desejo e das forças
vitais da natureza (MARCONDES, 1997).
Ele buscou em Schopenhauer a noção de
existência da vida como expressão de uma vontade
universal. Disto, deriva-se a ideia de vontade de
potência, que é considerada por Nietzsche a fonte
da valoração do ser humano (COSTA, 2004). Em sua
Filosofia, o filólogo alemão buscou resgatar valores
antigos, que eram expressos através dos rituais
dionisíacos, envolvendo a embriaguez e a dança.
Dionísio é o deus da música e da embriaguez e que
habitava a natureza, representando o excesso,
a alegria e a força vital. Nietzsche chama esta
perspectiva histórica de espírito dionisíaco. A sua
maneira de crítica à tradição buscou esquivar-se
da forma tradicional de pensar filosoficamente,
76

Anotações:
e criou um novo estilo cuja característica é ser
irônico, iconoclasta e fazer da filosofia um martelo
(MARCONDES, 1997).

A Filosofia no século xx: a


contemporânea e suas correntes
Podemos partir da ideia de que a Filosofia, no
período contemporâneo, é a continuidade de uma
resposta à crise do projeto de pensamento moderno,
no século XIX, que tinha o objetivo de fundamentar
as teorias do conhecimento e das ciências, cuja
análise esteve calcada na subjetividade e no sujeito
que tem uma consciência, uma mente que pensa, e
que possui experiências empíricas sobre o real.
A crise no pensamento moderno foi aberta, no
século XIX, através dos questionamentos de Hegel
em relação à subjetividade sem ser pensada pela
formação histórica, e de Marx, que via problemas
nos pressupostos idealistas não materialistas sobre
essa questão. Bem como da ruptura promovida
pelos românticos, que não viam, com entusiasmo,
a relação de conhecimento entre o homem e a
realidade através somente das ciências. O problema
central estaria na atribuição à subjetividade como
fator central para o conhecimento. Tanto Marx,
quanto Hegel, mostraram, através de suas análises,
que a via da subjetividade pura e simples para a
condição de conhecimento foi um caminho ilusório
para a fundamentação das bases da teoria do
conhecimento moderno (MARCONDES, 1997).
Se as questões sobre o conhecimento condi-
cionadas pela subjetividade, quer dizer, condicio-
nadas pelo “eu” cartesiano, não corresponderam
77

Anotações:
positivamente à relação entre o sujeito e do obje-
to, logo surgiu uma alternativa para explicar esta
relação. Segundo o pesquisador Danilo Marcondes
(1997, p. 285), “a linguagem surgiu como uma al-
ternativa para dar dimensão àquela relação com
ênfase na significação”. Ao analisar o significado
e os processos que o sujeito produz como sim-
bolização, constitui um novo caminho para funda-
mentar o elemento básico daquela relação.
Portanto, ou o sistema simbólico é o
fundamento para o pensamento subjetivo, e os
processos da mente apoiam-se sobre a linguagem
e o significado, ou a linguagem é constituída de
estruturas formais, e a sua relação com a realidade
é independente da consciência individual, ou seja,
da nossa subjetividade. Vemos que é a natureza
da linguagem e o que ela diz sobre a realidade, o
sentido das questões linguísticas e dos signos, que
surge como a questão a ser analisada na Filosofia,
bem como em outras áreas do conhecimento.
A Filosofia Analítica foi uma expressão deste
interesse filosófico pela linguagem. Tal linha de
pensamento filosófico surgiu em um círculo de
pesquisadores e cientistas que fundaram a teoria
do positivismo lógico, em Viena. Ela construiu as
bases dos conceitos sobre o que são fatos possíveis
de serem observados e atribuiu ao próprio campo
filosófico a tarefa de esclarecer os conceitos
e as regras lógicas próprias da ciência. Ludwig
Wittgenstein (1889-1951), famoso filósofo desta
corrente, desenvolveu a Filosofia da Linguagem no
século XX (COSTA, 2004).
Marcondes (1997) mostra que, no século
XX, também surgiu, na França e na Alemanha,
78

Anotações:
outro movimento importante, a Fenomenologia.
Inaugurada por Edmund Husserl (1859-1938), é
caracterizada como ciência da experiência da
consciência, cujo termo tem origem em Hegel.
Segundo Husserl, a Fenomenologia é um método
que explica, através da análise da consciência
que se condiciona pela relação com o real e as
estruturas da experiência humana com a realidade.
Por se tratar de um método que parte da
consciência e da subjetividade, esta corrente
filosófica está inserida no contexto de uma
continuidade da modernidade, apesar de apresentar
uma outra saída que consiste em descrever os
elementos básicos de nossa experiência, e não
legitimar a ciência. Segundo Cotrim (2017), a
fenomenologia, como um método de descrição
das coisas percebidas pela consciência humana,
abre margem para pensar a existência humana,
que ganha importância nas reflexões de outro
grande filósofo do século XX, o francês Jean-Paul
Sartre (1905 – 1980), um dos fundadores da corrente
intitulada Existencialismo.
A Filosofia do Existencialismo tem como base
o movimento do século XIX, da revolta contra a razão
e a ciência como únicos meios de conhecimento.
Para este movimento filosófico-artístico, a paixão
pela vida era algo crucial para o pensamento humano
(COSTA, 2004). Outra inspiração para a origem desta
corrente vem das análises da fenomenologia, em
que Sartre tomou como inspiração o pensamento do
filósofo alemão Heidegger. Outros pensadores que
influenciaram o francês foram os ensinamentos de
Sócrates e Kierkegaard, que em seus ensinamentos
valorizavam uma forma de refletir através da
79

Anotações:
experiência humana, em oposição à sistematização
do pensamento. A Filosofia deve, portanto, ensinar a
partir do que aprendemos com nossas experiências
vitais (MARCONDES, 1997).
Filósofos e filósofas existencialistas preocu-
pavam-se com a finitude do ser humano no mundo.
Esta preocupação como primazia desta Filoso-
fia não se baseava nas questões fundamentais da
metafísica, como a transcendência e a imortali-
dade. Estes pensadores também rejeitavam o cogi-
to “penso, logo existo” cartesiano. A consciência
não poderia vir primeiro que a experiência porque
a primazia da existência antecede o pensamento,
ela faz parte da existência, construída ao longo da
vida e que se dá pelo convívio em sociedade e pelo
contato com os objetos. São as ações, os desejos e
os sentimentos do homem que geram a sua própria
existência. A importância da liberdade é elementar
nesta Filosofia porque a formação do homem se dá
pelas suas escolhas (COSTA, 2004).
Algumas características fundamentais da
teoria existencialista podem ser compreendidas
através do entendimento de que o homem é um
ser em aberto, imperfeito e inacabado, e que veio
ao mundo sob ameaça constante. A vida não tem
um caminho a ser seguido de maneira linear, em
outras palavras, que não segue em direção ao pro-
gresso ou prosperidade. É marcada pelo sofrimen-
to, por doenças, injustiças, luta constante pela so-
brevivência, derrota e morte de forma que é preciso
encarar todos estes elementos da existência hu-
mana a cada dia. A própria liberdade está condicio-
nada pelos acontecimentos históricos, o que quer
dizer que querer não é poder e as ações do homem
80

Anotações:
podem ou não superar os obstáculos que o caminho
da existência lhe apresenta (COTRIM, 1996).
Alguns dos representantes desta Filosofia,
(além de Sartre, que foi, além de filósofo, romancis-
ta e dramaturgo) foram Simone de Beauvoir, pensa-
dora da condição existencial feminina, e também
o escritor e ensaísta Albert Camus, que escreveu
alguns clássicos literários do século XX, como o Es-
trangeiro (1942) e A peste (1947). Esta obra bateu re-
corde de vendas na França e em outros lugares do
mundo, no período de pandemia da COVID-19, como
mostrou a matéria da BBC, de 12 de março de 2020.
Um dos motivos da obra voltar a vender milhares de
exemplares ao redor do mundo, depois de seten-
ta anos, é o fato do livro tratar do tema da morte,
do absurdo da vida, do problema da liberdade e da
existência sem sentido em meio a uma situação de
crise sanitária.
Outra escola que surgiu com força ao longo
do século XX foi a de Frankfurt. Esta escola alemã
apresentou a teoria crítica. Marcondes (1997) afirma
que a sua primeira geração contou com nomes
importantes do pensamento contemporâneo,
como Theodor Adorno e Max Horkheimer. Eles
desenvolveram uma teoria cuja crítica da cultura
e da sociedade tem como base a retomada do
pensamento de Hegel e algumas teorias econômicas
de Marx. A preocupação dos pensadores de
Frankfurt foi o contexto cultural, social, questões
de valores, a sociedade na era industrial, entre
outros temas que envolvem a sociedade ocidental.
Assim, eles criticaram a concepção de ciência
promovida pelo positivismo lógico, buscando
fundamentar a diferença entre as ciências naturais,
81

Anotações:
a física e a matemática com suas respectivas
metodologias do método adotado pelas ciências
humanas. A lógica das ciências naturais como
o paradigma não foi vista como um bom critério
que poderia colaborar com as teorias das ciências
humanas, uma vez que teriam como característica
a interpretação da sociedade e da cultura, com
vistas à emancipação humana.

A condição pós-moderna da Filosofia

O pensamento francês está pautado pelo


estruturalismo. Esta teoria foi inaugurada pelo
linguista Ferdinand Saussure (1857-1913). Ela é
caracterizada pelo conceito de estrutura, que é
um conjunto cuja relação é definida por regras e
que organiza o todo de uma cultura por meio de
princípios. Assim, uma parte desta organização só
pode ser compreendida quando se compreende o
todo. Nesta teoria, não há possibilidade de pensar
que o todo é a soma de todas as partes, formando,
assim, uma unidade constituída por aquela estrutura.
A estrutura como um todo é considerada
linguística, Saussure explica que a língua é uma
forma de sistema constituída por diferenças.
Um som e um fonema são caracterizados pela
oposição aos outros fonemas da língua. O méto-
do do estruturalismo é analisar, pela investigação
das regras e dos princípios que constituem uma
estrutura, a significação e as relações que ela
efetiva. Há, a partir deste método, uma ruptura do
estruturalismo com o subjetivismo e a consciên-
cia, que fazem parte da constituição na teoria do
conhecimento moderno. A investigação passa
82

Anotações:
pelas estruturas que são autônomas, indepen-
dentes da mente e que constituem a realidade
em âmbitos diversos, seja cultural, seja biológico
(MARCONDES, 1997). Podemos dizer que o estru-
turalismo tem como base observar as estruturas
que aparecem em diversas culturas, podendo in-
vestigá-las sem precisar compreender os fatores
históricos (COSTA, 2004).
Ao ter como princípio a ideia científica
de descrever, identificar e expor as regras e os
princípios que constituem uma estrutura, alguns
filósofos franceses apresentaram teorias impor-
tantes sobre a nossa sociedade. O primeiro filó-
sofo impactado por esta forma de pensar a reali-
dade é Michel Foucault (1926-1984). Ele carrega em
seu pensamento influências diversas, da política
de Marx, da crítica de Nietzsche e da psicanálise
de Freud.
A obra de Focault tem um caráter que contesta
os valores estabelecidos pela sociedade ocidental.
Elaborou e apresentou dois métodos bastante
influentes: a arqueologia e a genealogia. A primeira
diz respeito à análise do discurso de algum tipo
de ciência, que busca explicar as características
e as práticas de determinada ciência. A segunda
refere-se à análise da origem dos valores morais
estabelecidos pela nossa sociedade, cuja intenção
é desmistificar certas doutrinas, crenças e mitos
sociais. Como crítico da Filosofia moderna,
apresenta análises que expõem o papel da medicina,
da psiquiatria, das prisões, bem como os conceitos
que permeiam a subjetividade e a natureza humana
(MARCONDES, 1997).
83

Anotações:
Outro filósofo que apareceu neste período
foi Gilles Deleuze (1925-1995). Apesar de ser
reconhecido como comentarista de diversos
filósofos como Spinoza, Leibniz, Hume, Kant e
Nietzsche, desenvolveu a sua teoria filosófica
cujas características é não ser sistemática e
crítica à Filosofia tradicional. A sua Filosofia parte
de dois conceitos fundamentais: a identidade e a
diferença, e expõe, através destes conceitos, os
seus pressupostos ontológicos e epistemológicos.
Escreveu, em 1972, a obra AntiÉdipo, junto ao
psicanalista francês Félix Guattari. Neste livro,
ambos promovem uma crítica aos fundamentos
psicanalíticos de Sigmmund Freud, bem como
buscam reinserir a valorização do corpo e do desejo
no debate filosófico (MARCONDES, 1997).
O termo pós-moderno apareceu somente
com o filósofo Jean-François Lyotard (1924-1998),
em sua obra de 1972, intitulada “A condição pós-
moderna”. Apesar de ter vivido no mesmo período
cultural que Deleuze e Foucault, não foi um crítico
ao sistema moderno de Filosofia, nem se propôs
ao rompimento com aquele pensamento. Contudo,
elaborou um método capaz de superar os postulados
que envolvem a epistemologia e as categorias da
modernidade. Segundo o seu método, para que
haja uma valorização da estética, que envolve o
sentimento, a criatividade e a inspiração, seria
preciso abandonar os valores estabelecidos pelo
pensamento moderno, isto é, a centralidade da
ciência como único saber possível (MARCONDES,
1997).
84

Anotações:
As mulheres na Filosofia

Cabe ressaltarmos que ao longo da História


da Filosofia, as mulheres tiveram presença mar-
cante. Duas importantes pensadoras, por exemplo,
ensinaram o famoso filósofo Sócrates, a saber, Di-
otima de Mantineia (440 a.C.) e Aspásia (470-400
a.C.). A importância de Diotima na Filosofia grega
clássica se expressa em seu aparecimento como
uma das personagens de Platão, no clássico diálo-
go O banquete, em que apresentados as questões
sobre o Eros, ou o amor. Aspásia apareceu em re-
latos também de Platão e de outros pensadores
daquele período.
Outra pensadora importante do período
clássico, no helenismo, é Hipátia de Alexandria. Ela
foi considerada a primeira mulher a fazer teorias
matemáticas, além de uma astrônoma renomada,
foi mentora da Filosofia platônica em Alexandria.
Por conta desta relação com o platonismo, e por
ter sido da mesma escola do filósofo Plotino, ela é
considerada uma filósofa neoplatonista.
É importante ressaltar que o fato de o papel
das pensadoras da antiguidade, na construção
do pensamento filosófico ocidental, não ter sido
reconhecido ao longo da história está relacionado
às questões da construção social das mulheres, ao
papel que lhes é atribuído, bem como aos valores
que sociedade impõe à educação feminina. Nos
últimos anos, essa condição vem mudando con-
forme o avanço das pautas sociais reivindicadas
pelas mulheres, dentro do mercado de trabalho
e, para além deste âmbito, os papéis sociais que
buscam desenvolver. Isto se refletiu nas universi-
85

Anotações:
dades, tanto na Filosofia quanto nas Ciências de
modo geral, onde as mulheres têm protagoniza-
do pesquisas fundamentais para a sociedade. É o
caso da cientista polonesa Marie Curie (1867-1934),
que desenvolveu pesquisas pioneiras sobre a ra-
dioatividade, sendo a única mulher a ganhar duas
vezes o prêmio Nobel de Química, além de ter sido
a primeira pessoa a conquistá-lo.
Na Filosofia contemporânea, duas pensado-
ras protagonizaram alguns dos grandes debates
do século XX. Hannah Arendt (1906-1975) desen-
volveu teorias a partir da política, sendo as mais
célebres: o conceito de banalidade do mal e de
totalitarismo. Esses conceitos são fundamentais
para compreender o desenvolvimento de regimes
autoritários e ditatoriais do século passado, e que
dão arcabouço teórico para compreender a atual
situação política no mundo. Já Simone de Beauvoir
buscou desenvolver teorias sobre a condição femi-
nina a partir da Filosofia hegeliana, e trabalhou com
o conceito histórico e cultural da mulher. O segundo
sexo, de 1949, é o seu livro mais conhecido. Através
dele, trouxe o debate sobre sexualidade e gênero
para dentro do escopo da História.
Hoje, duas pensadoras de destaque no
pensamento contemporâneo são Angela Davis
(1944) e Nancy Fraser (1947). Angela Davis é
professora de Filosofia e ativista dos EUA. Foi aluna
e orientanda do filósofo alemão Herbert Marcuse
(1897-1979), da Escola de Frankfurt. Davis alcançou
notoriedade através das lutas pelos direitos civis,
na década de 1970. Publicou livros de referência
internacional sobre as questões em torno da
instituição prisional, sobre gênero, raça e classe,
86

Anotações:
e a questão da liberdade na contemporaneidade.
Integrou o Partido Comunista dos Estados Unidos
e os Panteras Negras, além de ter sido duas vezes
candidata à vice-presidência da República, em 1980
e 1984.
Nancy Fraser é professora de Filosofia e
Política na New School for Social Research, em
Nova Iorque. Ela é uma teórica crítica das questões
femininas e ativista dos direitos das mulheres.
Publicou livros sobre a democracia e o capitalismo,
tornando-se uma das principais referências dentro
do debate sobre a crise capitalista e a ascensão das
lutas por direitos. No Brasil, Marilena Chaui é um dos
principais destaques nas pesquisas sobre política
e ética. Em muitos artigos e livros publicados, ela
trata do conceito de ideologia, da liberdade e da
violência social.
Na próxima unidade, trataremos das questões
relacionadas à Ética e como ela é considerada um
campo de investigação muito importante para a
Filosofia.
87

Anotações:
88

Anotações:
Unidade 3
Videoaula 1 Videoaula 4

Videoaula 2 Videoaula 5

Videoaula 3
90

Anotações:
91

O PAPEL DOS
VALORES
DE NOSSA
SOCIEDADE

Pensar nos valores estabe-


lecidos pela sociedade nos faz dar
conta da importante tarefa que a
espécie humana tem em relação
às próprias ações no mundo. A
partir da análise do filósofo e
professor especialista em Ética,
Pedro Galvão, podemos indicar
quais são os valores que orientam
e influenciam a vida e as decisões
das pessoas no mundo, incluindo
a maneira como pensam sobre o
que seria bom ou ruim para elas.
92

Anotações:
Assim, elas pensam sobre seus próprios valores e in-
dicam o que consideram valores importantes, como
por exemplo, o respeito e a honestidade. Estes são
valores considerados por muitos como elevados
porque é a partir destas noções que as pessoas po-
dem dirigir as suas vidas para a realização de boas
ações, ou ter preferência por alguma coisa que os
afetam (GALVÃO, 2016).
Os valores estabelecidos pela sociedade em
que vivemos são considerados tão importantes,
que há a intenção de muitas pessoas em impor tais
valores às demais. Estes valores possuem diversas
características e estão relacionados a três preceitos
fundamentais: à Ética (regras de conduta), à
Estética (noção do belo e da arte) e à religião (noção
sobre a espiritualidade). Quando estes valores são
confrontados com outros de culturas diferentes,
cujos valores são distintos da sociedade em que
vivemos, nesse momento é que as pessoas pensam
neles como universais (GALVÃO, 2016).
É preciso refletir sobre o que são os valores
para que possamos compreender a sua importância
em nossa sociedade. Os valores nem sempre
são inteiramente subjetivos (individuais). Temos,
então, que pensar nos critérios possíveis de medir
os valores de maneira objetiva. Podemos partir da
distinção entre valores e fatos. Há dois juízos: o juízo
de valor e o juízo de fato. O juízo de fato descreve
alguns aspectos da realidade, como: “aquele homem
tem um metro e noventa” ou “a pena de morte existe
em alguns países”. Estes enunciados têm o valor de
verdade, e não dependem do que a pessoa pensa em
relação a eles. Assim, se são verdadeiros é porque
descrevem a realidade como ela é.
93

Anotações:
A função do juízo, de fato, é apresentar algo
que corresponda a um fato no mundo. O juízo
de valor não se limita à correspondência com
a realidade e à veracidade de alguma coisa no
mundo. Ao afirmar que “o homem é desonesto”
e “a pena de morte é justa”, a pessoa pode estar
pensando em algo que pode ou não ser verdadeiro,
porque estas afirmações dependem das crenças
ou do gosto pessoal de quem as profere. Este
juízo tem o potencial normativo porque se destina
a fazer com que sejamos influenciados por eles
quando pretendemos avaliar alguma coisa que seja
benéfica para nós mesmos (GALVÃO, 2016).
Em outra perspectiva, podemos pensar nos
valores como formas estabelecidas por quem
valora algo. Assim, a filósofa Maria Lúcia de Arruda
Aranha (2005) afirma que no mundo há a divisão
entre coisas e valores, como se existissem dois
mundos: o mundo das coisas e o mundo dos valores.
Contudo, não existe a possibilidade de afirmarmos
que os valores são da mesma forma como são as
coisas, em outras palavras, não existe o valor em si
enquanto coisa. Logo, podemos inferir que o valor
é sempre uma relação entre o sujeito que valora e
o objeto valorado. Assim, atribuir um valor a alguma
coisa é não ficar indiferente a ela. O que nos leva
a pensar que a não indiferença é a característica
fundamental do valor.
Ainda, segundo Aranha (2005), fazer
uma valoração sobre alguma coisa é uma das
experiências que caracterizam a humanidade,
porque quando valoramos algo, abre-nos uma
possibilidade para fazer escolhas na vida. Assim,
a valoração é a origem de onde partem as nossas
94

Anotações:
escolhas. A valoração tem como finalidade ser a
orientação de nossas ações. Quando planejamos
uma ação, estamos priorizando valores centrais de
nossas vidas, ou seja, estamos escolhendo o que
é melhor para nós, a fim de atingir o objetivo que
desejamos e, com isso, evitar algo que possa nos
trazer alguma perda inestimável.
É preciso compreender o que é a ética e a
moral na Filosofia para percebermos as questões
que norteiam os valores da sociedade.

A ÉTICA E A FILOSOFIA

Existe, dentro do campo da Filosofia, uma


preocupação genuína com os princípios que
norteiam a nossa sociedade e a cultura ocidental. Os
pensadores da Filosofia buscaram determinar a boa
conduta do ser humano. Criou-se, então, princípios
considerados como os fundamentos filosóficos
para tal conduta, os quais estão relacionados ao
valor final que é, em si mesmo, um desejo, o que
por sua vez mostra que não se trata de um meio
para alcançar um objetivo. Podemos afirmar que
há algumas condutas que são consideradas boas
em si em virtude de uma adaptação a um modelo
universal, que é moral (COSTA, 2004).
Há três modelos de conduta na História
da Ética: a felicidade e o prazer a virtude como
dever e a obrigação e o desenvolvimento da
potência humana, como a perfeição. Vemos que no
hedonismo, a Filosofia cumpria o papel pedagógico
que mostrava aos cidadãos que o bem maior seria
o prazer. Em outra etapa do pensamento filosófico,
no período moderno, a mais elevada de todas
95

Anotações:
as realizações do homem foi alcançar o poder
absoluto, que não aceitava o conjunto de princípios
éticos estabelecido pelos costumes, o que deu
margem para a conduta de ações sem critérios
adequados, com a simples intenção de obtenção do
poder máximo. A sua finalidade era a de convencer
as demais pessoas de que a moralidade de um
déspota seria a mais adequada. Podemos afirmar
que cada sociedade estabeleceu um tipo, cabendo
à autoridade de determinada sociedade invocar
uma boa conduta a partir: 1) da vontade divina; 2)
de um modelo da natureza; 3) da subalternidade à
razão (COSTA, 2004).
Vemos que a História da Filosofia se deu,
simultaneamente, ao desenvolvimento da Ética.
As primeiras reflexões, em torno da Ética,
surgiram com o círculo do Orfismo e depois foram
desenvolvidas por Pitágoras, no século VI a.C.
Neste momento histórico, o fator intelectual era
considerado de natureza superior à sensualidade
do corpo, sendo assim, a base para a interpretação
de que a vida boa é a que se dedica à disciplina da
mente. Os primeiros céticos do sistema Ético foram
os sofistas, porém foi com Sócrates que a virtude
ganhou relevância, ao se tornar uma consequência
benéfica da educação e do conhecimento.
Para ele, as pessoas poderiam seguir agindo de
acordo com a Ética universal que determina a virtude
como fundamento da vida. Estes pensamentos, em
torno da virtude, formaram a base para as escolas
de pensamento posteriores, que se debruçaram
sobre as questões Éticas gregas (COSTA, 2004).
Em verdade, a palavra Ética deriva da palavra grega
ethos, e moral deriva da palavra latina mos, mores, o
96

Anotações:
que indica que, no período clássico, o termo correto
para a noção de virtude viria do preceito da Ética
(UNESP, 2013).
Em Platão, não existe um ato mal por si
mesmo. Esta noção deriva da teoria das ideias, a
qual diz que um ato mal é um reflexo imperfeito do
real. Por outro lado, o bem é a essência da realidade.
Na alma do homem, o que deve ser superior é o
intelecto; a vontade deve estar abaixo do intelecto,
e as emoções estão submetidas tanto ao intelecto
quanto à vontade, portanto, estando abaixo de
ambos. Em Aristóteles, o principal objetivo a ser
alcançado, e que se dá mediante ao uso da razão,
um atributo que somente seres humanos possuem,
é a felicidade (COSTA, 2004). Vejamos o que diz
Aristóteles (1973, p. 428-430) sobre a relação da
razão e a felicidade:

Dir-se-ia, também, que esse elemento


(a razão) é próprio do homem, já que
é a sua parte dominante e a melhor
dentre as que o compõem. Seria
estranho, pois, que não escolhesse
a vida do seu próprio ser, mas a de
outra coisa. E o que dissemos atrás
tem aplicação aqui; o que é próprio de
cada coisa é, por natureza, o que há
de melhor e de aprazível para ela; e,
assim, para o homem a vida conforme
à razão é a melhor e a mais aprazível, já
que a razão, mais que qualquer outra
coisa, é o homem. Donde se conclui
que essa vida é também a mais feliz.

Numa outra abordagem ética, o estoicismo


diz que a vida humana é constituída mediante a
97

Anotações:
harmonia com a natureza, que seria racional e
possuiria uma ordem interna que a rege. Para esta
Filosofia, como vimos, anteriormente, na unidade
que apresentou as diversas teorias e pensamentos
filosóficos, a vida seria influenciada por forças
exteriores, porém cada pessoa precisa estar livre
das emoções e acontecimentos que os afligem
para ter virtude, definindo a justiça, o valor, o
comedimento e a ponderação como elementos
fundamentais para a felicidade. No epicurismo,
o prazer intelectual é essencialmente o bem, e a
contemplação da vida uma expressão da felicidade
(COSTA, 2004).
No período moderno, uma das principais
contribuições à Ética vem da teoria de Kant. Um
ato, em sua dimensão moral, não deve ter as suas
consequências julgadas, somente o que levou o
indivíduo à determinada atitude, ou seja, deve-se
julgar a motivação. Kant apresenta uma Filosofia
moral, e que relaciona o preceito ético à parte da
racionalidade que não é a do conhecimento, mas
a da razão prática. Para ele, o homem é um sujeito
livre e racional, não limitado, puramente, pela
capacidade cognitiva. Ele apresenta estas ideias
em três obras fundamentais de sua arquitetura
filosófica, a saber: na Fundamentação da metafísica
dos costumes, de 1785; na Crítica da razão prática,
de 1788; e na Metafísica dos costumes, de 1797.
Nas duas primeiras obras, ele expõe as questões
da Ética em seu sentido conceitual e abstrato.
Na última obra, ele trata da aplicação dela na vida
prática (MARCONDES, 1997).
A sua Filosofia moral se distancia daquelas
que a precederam. A exemplo, podemos mencionar
a crítica kantiana ao ideal helenista de busca pela
98

Anotações:
felicidade que aparece nos pensamentos estoico
e epicurista. Os seus fundamentos morais são
insuficientes, segundo Kant, devido ao conceito
de felicidade, que depende da subjetividade e da
psicologia. Portanto, é considerado variável, não
universal. Já a lei da moral estabelecida por Kant
é invariável e universal. Trata-se, portanto, de uma
moralidade que tem base no dever (MARCONDES,
1997).
A partir do exposto, apresentaremos a seguir
a distinção entre as noções de ética e moral, para
que se possa alcançar a melhor compreensão
destes preceitos filosóficos.

DIFERENÇAS ENTRE ÉTICA E MORAL

A Ética é uma ciência normativa, quer dizer,


ela é constituída por princípios que têm a intenção
de reger as ações humanas. Ela também pode ser
considerada uma Filosofia da moral, portanto,
trata-se de uma disciplina filosófica. Todos os atos
que cometemos na vida possui um valor moral,
esses valores são mediadores de escolhas nossas
para a ação na vida cotidiana. Então, podemos
entender a Ética como uma reflexão sobre a moral,
em outras palavras, sobre o nosso comportamento
(COSTA, 2004).
Tudo o que é relativo às regras do compor-
tamento de cada pessoa, em sociedade, é o que
chamamos de moral. É através dela que é possível
garantir a estabilidade e o funcionamento so-
cial, bem como as transformações da sociedade.
Apesar de ter algumas normas de valoração que
variam de acordo com o tipo de cultura e socie-
99

Anotações:
dade, além do momento histórico, existem valores
fundamentais considerados universais (COSTA,
2004). Para exemplificar essa questão, podemos
partir da ideia do famoso escritor e filósofo Mário
Sérgio Cortella (2013), que traz a noção de que se
a amizade é um valor universal, a sua expressão
varia conforme os costumes sociais.
De modo geral, a moral diz respeito a pensar
o bem e o mal. Fazer o bem é fazer coisas que
beneficiem alguém, como por exemplo, proteger
uma criança. Isso acontece, porque, em certa
medida, temos o dever a ser cumprido para agir
de tal modo. Fazer mal é fazermos algo ruim para
alguém, o que descumpre o nosso dever em
sociedade. A partir disso, podemos dizer que há
uma relação profunda entre o Direito e a moral. Por
isso, vemos que o Direito Penal se utiliza das leis
jurídicas para julgar o que é considerado correto
moralmente (UNESP, 2013). Isso acontece porque
uma lei jurídica representa, portanto, uma regra de
conduta (moral) baseada no Estado (COSTA, 2004).

DO ESTABELECIMENTO DE VALORES
E SUA IMPORTÂNCIA: UM ESTUDO
AXIOLÓGICO

Devemos pensar que a vida em sociedade


necessita de alguns componentes morais, para que
haja correspondência cordial entre nós. Pensemos,
por exemplo, nos componentes fundamentais da
vida em sociedade: liberdade, responsabilidade
e consciência. Existe, no campo filosófico, um
estudo sobre os valores, chamado de axiologia. Há
três características da experiência axiológica:
100

Anotações:
1. a materialidade da experiência;
2. há sempre um sujeito responsável na
experiência;
3. há sempre novas formas de ação do
agente, apesar da descoberta de valores
essenciais.

O primeiro significa que os valores são


experienciados pelo agente numa situação material.
O segundo significa que os valores são repassados
a nós por intermédio de alguma coisa, direta ou
indiretamente. O terceiro significa que os valores,
apesar de parecerem eternos, são transitórios
(COSTA, 2004).
A valoração está inserida num contexto
de determinada criação de valores, quer dizer,
quando determinada ação possui algum significado
para a sociedade. Ao tomarmos consciência de
determinado valor, obrigamo-nos a ter alguma
relação com as demais pessoas em sociedade,
cumprindo os deveres necessários, nesse sentido,
os valores constituem as nossas ações. Quando
os valores são estabelecidos, não podem ser
subjetivamente relativizados, então, podemos dizer
que são os valores que limitam a nossa ação, dando
condições de possibilidade para elas acontecerem
e ao mesmo tempo, dão limites aos quais podemos
nos submeter (COSTA, 2004).
Daremos um exemplo sobre o papel que os
valores têm na sociedade, os quais dão condições
de possibilidade para a educação das pessoas. Na
instituição educacional, o estudante tem condição
de participar ativamente das aulas, bem como o
professor pode colaborar com a sua formação. Isto,
101

Anotações:
sem precisar da imposição firme de um juízo que
limite o estudante, bem como a sua autoridade que
não será perdida, porque os dois estarão em comum
acordo sobre o valor universal a ser seguido. Dessa
forma, permite um diálogo entre eles e, assim,
encaminhar um trabalho em conjunto, onde o
projeto será de interesse geral. Tanto o estudante,
quanto o professor estarão submetidos ao mesmo
signo de valor, isto é, a busca pela verdade (COSTA,
2004).
A seguir, mostraremos como, a partir da
valoração, as relações sociais são originadas.

A DIMENSÃO MORAL DA VIDA SOCIAL

Existem ideais fundamentais para as questões


da Ética e da moral. São elas: o direito, o dever, a
condenação, a punição e a proibição. Veremos
algumas explicações em torno dessas ideias que
permeiam a vida social.
Mantemos relações com as pessoas e com
as instituições através das relações morais, como
seu fundamento. A dimensão moral da vida social
é constituída pelo conjunto daquelas relações
morais. Estas se diferem de outros tipos de
relações, consideradas não morais. As não morais
são exemplificadas pelas relações de amizade,
maternidade e de descendência. Este tipo é
biológico, não social; a de amizade é somente social;
a de maternidade é biológica e social. Todas essas
podem ter alguma aproximação com a moral, mas,
essencialmente, não são relações morais porque
estão isentas de obrigações a serem cumpridas
(UNESP, 2013).
102

Anotações:
A conduta moral é formada pelo conjunto das
relações morais. As relações morais caracterizam-
se pelas exigências morais, feitas por cada um de
nós em sociedade, exemplificadas pelo respeito,
pela consideração e pelo tratamento digno que o
ser humano merece. Disso, derivam as expectativas
morais: que é o que cada um de nós espera do
outro, ou melhor, na expectativa que temos no
cumprimento das exigências mencionadas. Daí se
originam os sentimentos morais, como a gratidão,
o ressentimento, a culpa e a indignação, esses
sentimentos nascem das expectativas cumpridas
ou não pelo outro. Ao final, podemos ter em vista
que as atitudes morais derivam dos sentimentos
morais. As atitudes morais manifestam-se através
da condenação, louvação, agressividade ou culpa
(UNESP, 2013).
O ato de condenar e punir são formas
elementares à vida em sociedade. Contudo, é
preciso refletir sobre a forma como conduzimos a
condenação de outra pessoa. Como obtemos esse
direito de condenar alguém? Podemos responder,
filosoficamente, da seguinte forma: teríamos esse
direito pelo fato de alguém ter feito mal a nós, e por
reconhecer que se tivéssemos feito algum tipo de
mal, também aquela pessoa poderia nos condenar
ou punir. Assim, podemos compreender que se
trata de um acordo prévio entre as pessoas, para
que se estabeleçam condutas que determinem
a proibição de algumas atitudes que rompam as
nossas relações sociais (UNESP, 2013).
A proibição é uma parte essencial à Ética
porque através dela podemos agir de forma correta
e qualquer conduta considerada errada, no sentido
103

Anotações:
moral, aparece como uma conduta proibida. A
proibição sempre traz consigo a ameaça de punição.
Alguém que inflige um crime contra outra pessoa, ou
seja, que pratica moralmente uma ação errada pode
ser condenado através da punição moral. A proibição
serve também para nos impedir de cometer atos
considerados de conduta errada, em outros termos,
criminosa. Assim, podemos afirmar que o que nos
impede de cometer atos errados, moralmente, é a
manifestação da consciência pesada, quer dizer, o
sentimento de culpa (UNESP, 2013).

A CONDUTA HUMANA

Quando se fala de conduta humana, certa-


mente, qualquer pessoa já se colocou muitas vezes,
também têm sido preocupação dos filósofos através
dos tempos. No mundo dos valores, geralmente, quan-
do falamos em moral, nos referimos às regras de con-
duta aceitas por um grupo ou pessoa, como já men-
cionamos. Ora, uma das preocupações do homem ao
se comportar, moralmente, é saber distinguir o bem
do mal, já que agir moralmente significa agir de acor-
do com o bem. Portanto, o sujeito moral, ao se per-
guntar como deve agir, em determinada situação,
certamente, aproxima-se de outras questões mais
teóricas e abstratas tais como: em que consiste o
bem? Qual é o fundamento da ação moral? Qual é a
natureza do dever? Colocando tais questões - às
quais já exemplificamos e respondemos algumas
delas-entramos, no campo da ética que, como já
vimos, é uma reflexão teórica que realiza a crítica
sobre a experiência moral e que tem por finalidade
discutir as noções e princípios que fundamentam
nossa conduta moral (MAXIMIANO, 2004).
104

Anotações:
Ao exigir de uma pessoa que cumpra alguns
deveres, estamos revelando que há, implicita-
mente, um acordo prévio. Este acordo pode ser
denominado de contrato. Assim, compreendemos
que o acordo/contrato implícito é o fundamento
das exigências morais. Isto se dá, porque essas ex-
igências somente possuem algum sentido para nós,
caso estejamos inseridos no contrato moral. Se
houver uma violação de uma das “leis” do contrato
pode ocasionar sentimentos cuja intenção é come-
ter o ato de punição a quem o violou (UNESP, 2013).
No período da Filosofia Moderna, surgiu um
termo que se vincula às questões da Ética. Trata-se
do contrato social, ou o contratualismo. Thomas
Hobbes, John Locke, Jean-Jacques Rousseau e
Kant são alguns dos nomes que apresentam leitu-
ras e análises sobre essa noção filosófica (UNESP,
2013). Hobbes escreveu em sua obra O leviatã (1651),
que os homens são seres de índole má e, por isso,
necessitam de um Estado que reprima o desejo de
fazer o mal uns aos outros. Rousseau, por outro lado,
escreveu em seu Contrato Social (1762), que o mal
se dava por meio dos desvios causados pela socie-
dade, e que o homem é, essencialmente, bom quan-
do não é corrompido pela sociedade. Para Kant, a
moralidade de uma ação deve ser julgada somente
a partir da motivação que levou o homem a cometer
um ato de violação de tal contrato (COSTA, 2004).
Em sua obra, A Condição Humana (1987), a
filósofa alemã Hannah Arendt salienta que não se
pode dizer que o homem tem instintos como os
que os animais possuem, pois a consciência que o
homem tem de si próprio o orienta. Por exemplo, o ser
humano tem o controle da sua sexualidade e de sua
105

Anotações:
agressividade, que estão submetidas às normas e
sanções da coletividade social e, posteriormente são
assumidas pelo próprio indivíduo. A condenação do
homem está em sua expulsão do paraíso, a partir do
momento em que deixou de permanecer na natureza
da mesma forma que os animais ou as coisas. O
comportamento humano passa a ser avaliado pelos
preceitos ético-estéticos, pela religião ou pelo
aspecto mítico. Isso significa que os atos referentes
à vida humana passaram a ser avaliados como bons
ou maus, belos ou não, pecaminosos ou abençoados
por Deus (ARENDT, 1987).
A condição humana é de ambiguidade
porque o ser humano não pode ser reduzido a uma
compreensão simples, como é nosso entendimento
sobre os animais, sempre acomodados ao mundo
natural e, portanto, semelhantes a si mesmos. O
ser humano é o que a tradição cultural quer que
ele seja, contudo, constantemente, tenta romper
com a tradição. Assim, a sociedade surge porque o
homem é um ser capaz de criar interdições, ou seja,
de fazer proibições, normas que definem o que
pode e o que não pode ser feito (ARENDT, 1987).
Por outro lado, o homem também é
capaz de cometer transgressões. Transgredir
é, portanto, desobedecer. Não nos referimos
apenas à desobediência comum, mas aquela que
rejeita as regras arcaicas e ultrapassadas para
instaurar novas regras que são mais adequadas
às necessidades humanas, diante dos problemas
colocados pela nossa existência em sociedade. A
nossa capacidade inventiva nos leva a desalojarmo-
nos do que já foi estabelecido e caminhar em busca
do que ainda não existe. Portanto, o homem é um
106

Anotações:
ser que é ambíguo, e está em constante busca
de seu próprio caminho e de si próprio. Segundo
Arendt (1987), o ser humano se constrói o tempo
todo, como um ser histórico. Dessa forma, a autora
menciona outro importante pensador e analista
social, o italiano Antônio Gramsci, que explica:

O que é o homem? É esta a primeira


e principal pergunta da filosofia. (...)
Se pensamos nisso, a própria per-
gunta não é uma pergunta abstrata
ou “objetiva”. Nasceu daquilo que
refletimos sobre nós mesmos e so-
bre os outros e queremos saber, em
relação ao que refletimos e vimos, o
que somos e em que coisa podemos
nos tomar, se realmente e dentro de
que limites somos “artífices de nós
próprios”, da nossa vida, do nosso
destino. E isto queremos sabê-lo
“hoje”, nas condições dadas hoje,
pela vida “hodierna” e não por uma
vida qualquer e de qualquer homem.
(GRAMSCI apud ARENDT, 1987, p.48)

Portanto, podemos observar que é por este


motivo que somos capazes de considerar o homem
como um ser histórico, cuja capacidade atinge
a compreensão do passado e realiza a projeção
do futuro. Consegue, assim, aliar a tradição à
mudança, dar continuidade ou promover rupturas,
fazer interdição ou transgredir, que são desafios
constantes na construção de uma boa sociedade.
Outras noções, na contemporaneidade,
também contribuíram para novas perspectivas em
107

torno da Ética. Como a do filósofo inglês Bertrand


Russell (1872-1970), cuja compreensão passa pela
ideia de que os juízos de moralidade são expressões
individuais ou costumes aceitos em sociedade.
O homem está completo, quando participa da
vida social e pode expressar tudo que deseja e
que faz parte de sua natureza. O filósofo alemão
Martin Heidegger (1889-1976), que foi professor
de Hannah Arendt, apresentou a noção de que os
seres humanos estão sozinhos no universo, assim
devem assumir o compromisso ético com as suas
próprias decisões, tendo em mente a sua finitude,
em outros termos, tendo a consciência da morte
(COSTA, 2004).
Na próxima unidade, apresentaremos a
relação entre a Ética e o mundo do trabalho.
Unidade 4
Videoaula 1 Videoaula 4

Videoaula 2 Videoaula 5

Videoaula 3
110
111

REFLEXÕES
SOBRE A ÉTICA NO
TRABALHO E NA
CIDADANIA

Hoje, o mundo do trabalho está


relacionado às organizações que
acompanham a realidade do mercado,
a qual tem exigido serviços e produtos
de alta qualidade. Esta relação tem
a intenção de preparar as empresas
para as exigências da clientela, bem
como para as mudanças repentinas
do mercado. Para isso, tem-se
redesenhado um cenário para as
diferentes mudanças. Novos perfis de
organização e de colaboradores vêm
sendo desenvolvidos no mercado,
devido à globalização (LUNA; MENDES,
2019).
112

Anotações:
Foi preciso repensar o comportamento no
âmbito da empresa, visando atingir o interesse
de determinada comunidade para atendê-lo
com qualidade. Assim, as empresas precisavam
adequar-se ao perfil coletivo, com a intenção de agir
de acordo com a Ética, o que garante, em parte, um
retorno positivo para determinada empresa. Esse
tipo de ação, que visa o interesse da comunidade,
é visto como uma forma de contribuição (LUNA,
MENDES, 2019).
A partir dessa mudança global no mundo do
trabalho, o indivíduo passou a fazer parte do coletivo,
o que trouxe novos requisitos para ações morais
em sociedade. Neste sentido, as organizações do
mundo do trabalho têm buscado novas formas de
aperfeiçoamento ético, usando como ferramenta
o código de ética para a universalização da cultura
organizacional de uma empresa (LUNA, MENDES,
2019).
Veremos a seguir como a globalização e a
Ética estão relacionadas, e como elas abriram
novos caminhos para pensar as questões do mundo
do trabalho.

A ÉTICA E AS EMPRESAS: UMA


RELAÇÃO HISTÓRICA

Através das relações produzidas pela


globalização, a Ética precisou ser trazida ao
campo do trabalho porque o papel social, a
responsabilidade, o respeito e as informações
transparentes das empresas têm sido cada vez
mais exigidos pela sociedade. Isso acontece, nesse
período histórico, devido às consequências da
113

Anotações:
tendência individualista adotadas pelas pessoas
como modelo de vida, que é uma das características
do sistema econômico vigente, o capitalismo. Nossa
sociedade tem uma enorme diversidade cultural,
bem como desigualdade econômica, e podemos
observar que elas se expressam em desigualdades
sociais. Por sua vez, todos os elementos de nossa
sociedade criam um ambiente de instabilidade mais
agravado pela indignação, que é uma característica
do comportamento humano (COSTA, 2004).
Assim, um dos compromissos sociais da
educação é formar trabalhadores éticos. Ser um
trabalhador ético significa ter responsabilidade
com a cidadania e, além disso, estar inserido no
compromisso de conviver, em harmonia, com seus
colegas de trabalho, bem como o de respeitar o
meio ambiente (COSTA, 2004). Como podemos
observar, não é qualquer tipo de formação que é
capaz de educar, eticamente, as pessoas para as
novas condições sociais, ambientais e trabalhistas
da sociedade capitalista.
Uma das questões centrais deste momento
histórico é pensar a relação entre a ética e o
modus operandi de uma empresa. Traremos
uma breve perspectiva histórica desta relação.
Há muitos anos, o ramo empresarial já existe,
promove registros e trocas comerciais. Contudo,
o comércio não era uma atividade fundamental no
início de seu desenvolvimento. A análise ética no
comércio foi, até o período moderno, considerada
algo negativo. Podemos observar que o advento
da Ética empresarial produziu ataques às práticas
comerciais. Por exemplo, Aristóteles, que foi
considerado o primeiro economista da História,
114

Anotações:
definiu, em dois sentidos, o termo economia como:
1) a economia doméstica considerada essencial
para os afazeres de uma sociedade simples e; 2)
a troca que tem por finalidade, exclusivamente, o
lucro. Para o filósofo grego, esta forma de atividade
econômica não tinha qualquer traço de virtude.
Dessa forma, esta noção aristotélica permaneceu
no imaginário das pessoas até o século XVII (COSTA,
2004).
No período moderno, novas vertentes do
cristianismo começaram a aprovar as atividades
comerciais, como uma forma de virtude humana. Na
obra A riqueza das nações, de Adam Smith, as novas
formas de pensar do cristianismo sobre o comércio
foram canonizadas. Esta atitude diferenciava-se
das posturas do cristianismo tradicional porque,
como podemos observar nas escrituras da Bíblia,
Jesus havia expulsado comerciantes dos templos
sagrados. São Paulo, Tomás de Aquino e o reformista
da religião, Martinho Lutero, seguiram os exemplos
de Jesus, a ponto de condenar, profundamente, os
negócios produzidos pela atividade comercial. Foi
através de A riqueza das nações, de 1776, que a troca
por lucro passou a ser uma atividade fundamental
da sociedade (COSTA, 2004).
Esta perspectiva moderna, em relação ao
comércio, tem a ver com o estabelecimento de
códigos de ética antes do período moderno, que
havia acontecido, já no período medieval. Porém,
o aceite social da atividade comercial como
essencial à sociedade, e a economia como pilar
para o seu funcionamento, teve, como base, um
novo pensamento que permitiu mudanças na
mentalidade e no comportamento humano. Isto
115

Anotações:
se deu através das transformações sociais, que
incluem mudanças urbanas em grandes centros,
sociedades cada vez mais complexas, o advento
da vida privada que mudou a forma de consumir, o
desenvolvimento de tecnologias e o crescimento
comercial (COSTA, 2004).
Veremos a seguir como a responsabilidade
social tornou-se uma das metas das empresas.

ÉTICA E A RESPONSABILIDADE SOCIAL


NA CONTEMPORANEIDADE

A Ética empresarial, como disciplina,


incorporou, de forma central, o conceito de
responsabilidade social na gestão de uma empresa.
Este conceito é algo impopular entre aqueles que
ainda estão presos na mentalidade tradicional
do livre mercado. O renomado economista liberal
Milton Friedman, que recebeu o prêmio Nobel de
Economia, levantou o infame argumento de que
a responsabilidade social seria o de obter lucro.
Para o economista estadunidense, os defensores
da responsabilidade social são meros fantoches
que não defendem a liberdade do mercado. Para
Friedman, doar dinheiro para ONGs ou instituições
de caridade, que não aumentam os lucros da
empresa, é como tirar dinheiro de seus donos, os
acionistas.
Ainda, segundo ele, os gestores de uma
empresa são empregados de quem investe (os
acionistas), assim, eles precisam ter o que Fried-
man chama de responsabilidade fiduciária, que
cumpre o papel de obter mais lucros. Não haveria,
segundo esse raciocínio, motivo para uma empresa
116

Anotações:
privada entrar numa política pública, porque seus
empregados não teriam a competência necessária
para tanto, e estariam como se estivessem violan-
do os acordos internos de uma empresa, enquanto
meros empregados de acionistas devem, apenas,
cumprir suas funções e obrigações (COSTA, 2004).
A Ética empresarial, ao incorporar o conceito
mencionado, trouxe um novo modelo que refuta
aquele raciocínio conservador. Esse modelo surgiu
a partir de uma mudança simples na estrutura das
empresas. Em outras palavras, em vez de inserir o
acionista na responsabilidade social, são aqueles
beneficiados por ela, que são as partes interessadas,
chamados de stakeholders, que colocam os
acionistas em um lugar mais subalterno. Assim, os
stakeholders de determinada empresa são aqueles
que recebem expectativas em torno das atividades
da empresa, possuindo direitos e podendo se
envolver no processo conjunto, que é constituído
pelos empregados, consumidores e fornecedores.
Tudo isto visa a comunidade e sociedade como um
todo (COSTA, 2004).
Assim, o conceito de responsabilidade social
permitiu expandir o foco das empresas. Não é um
conceito adicional em que a empresa saiu perdendo,
mas uma parte a qual a empresa precisou atender.
O aumento das preocupações, em torno das
demandas, não fez com que as empresas deixassem
de lado a ação de alcançar a virtude e capacidade
benéfica. Em outros termos, quer dizer que uma
empresa responsável e respeitável não deve se
preocupar somente consigo mesma, mas, além de
seus donos, deve estar atenta aos empregados, aos
que vendem e aos que compram os seus produtos.
117

Anotações:
E mesmo aqueles que não pertencem à empresa,
no caso, a sociedade e as comunidades ao redor,
devem ser recompensados caso sejam afetados
pela empresa (COSTA, 2004).
Podemos afirmar, ainda, que a responsabi-
lidade social se tornou o elemento essencial, para
que as empresas tenham alto nível de competi-
tividade. Isto se dá pelo fato das organizações,
que geram os seus negócios e que estão funda-
mentadas na ética e na conduta moral, terem a ca-
pacidade de conquistar, cada vez mais, a reputação
de serem comprometidas e íntegras no mercado,
visando conquistar, em última instância, a confiança
de seu público alvo. Por isso, o mercado tem bus-
cado profissionais que se adequem ou que já este-
jam afinados com esta nova forma de organizar
as empresas. Hoje, a responsabilidade e a trans-
parência no local de trabalho são fundamentais
(LUNA, MENDES; 2019).

A IMPORTÂNCIA DA ÉTICA NO
TRABALHO

Como já exposto sobre a Ética e Responsabili-


dade Social na Contemporanidade, é possível afirmar
que, apesar de uma empresa ter obrigação com os
seus proprietários, atualmente, ela também precisa
estar atenta às demandas das partes interessadas,
bem como da sociedade e dos seus consumidores
(COSTA, 2004).
A necessidade de uma mudança no
comportamento de quem trabalha numa empresa
foi urgente neste século. Para essa adequação
e transformação dentro das empresas, o perfil
118

Anotações:
dos trabalhadores internos, principalmente, dos
gestores, precisa alinhar-se à postura sugerida pelo
novo modelo de negócios do século atual. Gestores
e trabalhadores, de modo geral, precisam buscar
novas ferramentas e conhecimento, como se seus
objetivos fossem alcançar o status de trabalhador
ético, honesto e ter pleno conhecimento sobre a sua
área e função para melhor servir à nova sociedade
(LUNA, MENDES, 2019).
Se uma empresa tem a intenção de fornecer
os melhores produtos e garantir o melhor serviço,
também deve garantir que não prejudicará a
sociedade. Se uma empresa é listada como uma
das melhores, em termos de serviço e produto,
ela não pode estar na lista das que poluem os rios
ou o ar, que remove moradores locais (como os
povos originários) de suas terras legais, operar
serviços em torno de atividades não legalizadas,
como o garimpo e extração de madeira em terras
preservadas, promover trabalho escravo ou
racismo, entre outras formas de violação ética
(COSTA, 2004).

A Ética na perspectiva do trabalhador

Todo trabalhador possui direitos e necessita


de elementos importantes dentro da empresa
como: salários dignos, reconhecimento pelo
desempenho, crescimento pessoal e profissional,
além dos direitos garantidos. Cada um dos
trabalhadores desempenha funções diferentes,
seja na produção, seja no próprio funcionamento
do mercado. A prática de redução de despesas, de
espaço, rebaixamento de salários, aumento das
119

Anotações:
horas de trabalho, ou de produção para aumentar os
lucros, sem que o trabalhador tenha condições de
denunciar estas atitudes consideradas não éticas,
são práticas que não reconhecem os direitos dos
trabalhadores (COSTA, 2004).
Poder trabalhar numa empresa que preza pela
ética, como um valor indispensável, faz com que
os trabalhadores se sintam parte de uma empresa
importante. Sentirão que estão contribuindo com
a sociedade e as comunidades que se beneficiam
com os serviços da empresa. Vemos que, por
um lado, se os trabalhadores sentirem que seus
valores éticos estão sendo atacados, a motivação
profissional deles, bem como a sua produtividade,
ficarão abaixo da expectativa da empresa. Por outro,
a boa organização de empresa faz a equipe se sentir
mais segura ao tomar as decisões, o que acaba por
conquistar ainda mais a confiança em relação a sua
liderança, pois sabem que os princípios passados
por ela são corretos e trazem um retorno positivo
para a empresa inteira (CORTELLA, 2013).
Assim, podemos observar que a ética
empresarial tem dado maior atenção aos direitos
dos trabalhadores. Se a empresa trata seus
empregados como elementos descartáveis, o
empregador não poderá se surpreender com o fato
de seus funcionários estarem ali somente para os
benefícios (plano de saúde e vale alimentação) e
pelos salários ofertados pela empresa, tratando
a empresa como um período transitório para
em seguida ser abandonada por eles. Assim, as
empresas viram-se obrigadas a recuperar a noção
ultrapassada de “lealdade à empresa” (COSTA,
2004).
120

Numa empresa ética, vemos que os seus


funcionários são pagos na data prevista, além
de a empresa oferecer salários e benefícios que
o mercado disponibiliza e, em alguns casos,
superiores ao que o mercado oferece. Neste nível de
organização da empresa, todos os profissionais são
reconhecidos, respeitados e bem-vindos. Tudo
isso, precisa ocorrer independente da religião,
do gênero, da classe, da cor e da orientação
sexual do profissional (CORTELLA, 2013).
Ao reconhecer os direitos básicos, a rec-
ompensa para a empresa é a satisfação dos tra-
balhadores que também cultivam a ética profis-
sional no trabalho. O que, consequentemente,
acaba sendo reconhecido positivamente
pela sociedade, pelo bom desempenho
e serviço. É imprescindível ao tra-
balhador ter alguma satisfação com
o emprego para o seu bom desem-
penho profissional.
A Ética no trabalho deve
estar diretamente relacionada à
honestidade. Esta relação se dá
por uma lógica simples, que é a
de uma atitude moralmente valo-
rizada: não há como ser uma pes-
soa ética sem ter honestidade.
Contudo, no trabalho
cotidiano, aparecem
diversas situações, e
um profissional pode
ter a sua integridade
e sua virtude testa-
das, quase que dia-
riamente. Para não
sucumbir a nenhuma
121

Anotações:
delas, é essencial conhecer e cultivar bons hábitos,
para não caminhar na direção oposta aos compor-
tamentos morais que, em alguns casos, algumas
pessoas fazem sem pensar nas consequências (AR-
RUDA, 2003).
A ética, no trabalho, também é representada
pela boa liderança do gestor, que não faz distinção
entre seus funcionários, tratando-lhes sempre com
respeito, igualdade, e conferindo a eles oportuni-
dades reais de aprimoramento, desenvolvimento
e crescimento. O gestor é considerado um profis-
sional ético, responsável e comprometido em en-
tregar o seu melhor tanto à empresa como na so-
ciedade. Estamos falando, portanto, de um mundo
possível e real, onde as empresas e os profissionais
éticos caminham e constroem resultados positivos
juntos, sem jamais ter que, para isso, romper as re-
gras, trapacear ou prejudicar alguém para alcançar
a prosperidade.
Esta mesma lógica, baseada em bons
princípios, também são aplicadas em nossas
relações sociais. Que podem ser afetivas (amizade e
familiar) e financeiras (econômica), pois somos nós
que, de forma coletiva, elaboramos a sociedade em
que vivemos. Não há outro caminho senão por meio
da ética e dos valores positivos, coerentes, que
devem ser praticados por nós, para que possamos
construir uma sociedade melhor (CORTELLA, 2013).
Hoje, a Ética tem exercido o importante papel
por uma necessidade de sobrevivência, pois através
dela podemos considerar que a humanidade passa
por um momento de anseio e uma vida melhor.
Podemos dizer que a dignidade humana é o tema
central, ter uma vida com qualidade e, em certa
122

Anotações:
medida, alcançar alguma felicidade. A Ética tem
nos servido para superar o “jogo dos interesses”
(MERCIER, 2004).
O comportamento ético não consiste,
exclusivamente, em fazer o bem ao outro, mas a nós
mesmos, bem como o de exemplificar para o outro
a importância daquilo que faz bem à comunidade.

AS QUESTÕES DA ATIVIDADE
PROFISSIONAL A PARTIR DA ÉTICA

Vimos que a Ética profissional é um conjunto


de regras que deve ser seguido por todos que
exercem qualquer função. Mediante isto, questiona-
se: Por que precisamos ter uma profissão e qual o
objetivo de tal atividade? As respostas são muitas
a exemplo de: sustentar a família, ter conforto e
qualidade de vida, realizar-se profissionalmente,
ocupar o tempo, isto, considerando os fatores
positivos. Já na perspectiva menos otimista, há
o fato da obrigatoriedade, ou seja, todos têm que
fazer algo e, moralmente, alguém que não se ocupa,
em geral, não é bem visto socialmente (PASSOS,
2004).
Mas podemos observar que desde os
primeiros registros históricos, os indivíduos
tiveram que se relacionar com a natureza para a
sua sobrevivência, seja na busca por alimentação
ou moradia e hoje, por produtos que vão desde
eletrodomésticos até os meios de transporte.
Assim, consideramos que as funções exercidas
profissionalmente objetivam construir uma relação
de harmonia entre seres humanos e a natureza, de
modo que as necessidades dos indivíduos sejam
123

Anotações:
supridas e, ao mesmo tempo, desenvolvam suas
capacidades, assim como colaborarem com a
existência dos outros. Na atualidade, contribuir
para o crescimento dos saberes práticos e no
cuidado com o mundo (PASSOS, 2004).
Desta forma, os códigos ético-profissionais
orientam como um profissional deve se compor-
tar em uma organização, por exemplo: as pos-
turas e as ideias a serem preservadas que, moral-
mente, são aprovadas na sociedade. Alguém faz uma
determinada atividade precisa adequar-se às nor-
mas éticas profissionais que uma instituição deseja
enquanto conduta na empresa, imagem pessoal
e institucional, posição política ou econômica
(PASSOS, 2004).
Como vimos, os códigos de ética, à medida que
fazem a atividade profissional ter credibilidade, tam-
bém a fazem humanizar-se e promover-se profis-
sionalmente. Deste modo, surgem novos campos
de trabalho. Essas normas éticas são escritas,
analisadas e recebem a aprovação dos órgãos pú-
blicos competentes, seja da associação de classe
ou do próprio governo.
A reflexão sobre a ética profissional só faz
sentido quando o sujeito entende a sua realização
pessoal e a sua existência, e na prática, quando
aplica capacidades e talentos. Tudo isso advém de
ações e comportamentos que obtêm resultados in-
dividuais e coletivos. Logo, têm relação fundamen-
tal com a virtude pensada e promovida pela Filoso-
fia durante anos na História do pensamento. Nesse
sentido, destacamos a ética como a ciência que
avalia o comportamento das pessoas e a maneira
pela qual podem e devem realizar o bem.
124

Anotações:
A Ética é muito mais do que um estudo de nor-
mas cuja função é regar as nossas vidas. É através
dela que é possível as pessoas compreenderem
quais são os princípios fundamentais, a partir dos
quais devemos agir. A Ética tem uma função obje-
tiva e subjetiva. Dessa forma, podemos afirmar que
existe a Ética absoluta e a Ética relativa.
Ética absoluta é parte da razão ou da consciên-
cia daquilo que o ser humano percebe como sen-
do bom e mau para si mesmo. Pode ser ensinada
a qualquer pessoa. Ela é atemporal e universal e
não tem uma relação de necessidade exclusiva
de uma experiência pessoal. Já a Ética relativa é
identificada com base nos fatos ou na experiên-
cia. Seu ponto de partida vem da realidade, isto
é, em como ela se dá na ação das pessoas, seja
em relação a como pensam, seja como agem. Por
ser relativa, tem a característica de mudar, sen-
do possível a reelaboração de acordo com a situ-
ação. Ela também tem a possibilidade de ser apli-
cada de diversas formas. É neste âmbito ético de
relatividade que os valores são criados (PASSOS,
2004).
Podemos observar, que a ética é analisada
em seu conjunto, isto é, de forma geral, pelo es-
tudo da Deontologia, que é uma disciplina em que
se investigam os deveres dentro de um código
ético,bem como existe a Diceologia, em que se
investigam os direitos de forma geral (PASSOS,
2004). Em relação à Deontologia, existe o Códi-
go Deontológico que reúne as regras, posturas
e obrigações, a partir das quais um profissional
deve agir diariamente. De forma geral, é definido
como um código de obrigações éticas.
125

A FILOSOFIA E A ÉTICA NO CAMPO


PROFISSIONAL HOJE

A ética contemporânea passou por um pro-


cesso de colonização e de independência dos po-
vos africanos e asiáticos. Estes fatores afetaram a
humanidade de forma direta obrigando o ocidente a
refletir sobre o comportamento moderno, que teve
início após a Revolução Francesa 1789. Junto a essa
transformação social, a Ética contemporânea é vis-
ta como uma manifestação reativa ao racionalismo
kantiano, bem como aos ideais filosóficos decor-
rentes do pensamento de Kant, como é o caso de
Hegel. Para este filósofo alemão, o que vale no su-
jeito é a razão. Apenas a razão traz a existência do
ser humano no mundo, portanto, podemos obser-
var que este é um dos conceitos fundamentais da
Ética moderna (VÁZQUEZ, 1992).
A Ética contemporânea também focalizará a
análise da linguagem moral das palavras que
usamos para falar do comportamento hu-
mano. Ela surgiu no período de saltos
científicos e novas formas técni-
cas, além do desenvolvimento das
forças produtivas a nível global.
Este fato deu condições para que
se questionasse a existência do
homem mediante os instru-
mentos de destruição in-
ventados em meio a esse
imenso desenvolvimento
(VÁZQUEZ, 1992). Assim,
podemos afirmar que são
seus valores e leis que
126

Anotações:
orientam o próprio comportamento. Não é a fina-
lidade que determina um valor, mas o quanto de
liberdade uma pessoa teve ao realizá-lo. Porém, a
liberdade individual deve levar em conta a existên-
cia do outro, pois escolher é compromisso com a
humanidade.
O homem é, antes de tudo, práxis, ou seja, o
definimos como um ser que produz, transforma,
cria tudo através de seu trabalho e transforma a
natureza. Este nível de objetivação do ser humano
no mundo externo, pela qual produz um mundo de
objetos úteis, corresponde a sua própria natureza,
que é o de ser produtor, criador, e que também
se manifesta na elaboração da arte e em outras
atividades (VÁZQUEZ,1992).
O pensador Karl Marx referiu-se, em seus
escritos, sobre uma nova moral que tem objetivo
de transformar a sociedade, e que tanto o homem
quanto a mulher sejam atuantes, do contrário a
normatização do comportamento humano apenas
serviria para tirar a força das ações humanas. Nisto
podemos perceber que a moral, a ética e o próprio
pensamento filosófico estão sempre em processo
de inovação, conforme as experiências de homens
e mulheres através da história. Os conceitos éticos
não descrevem nem representam nada, pela
simples razão de que não existem propriedades, tais
como bom, dever, etc., eles são meras expressões
de emoções do sujeito, o que indica que os termos
éticos têm somente um significado emotivo,
pois não enunciam fatos. Isso, por consequência,
denuncia que as proposições morais carecem de
um valor científico (VÁSQUEZ, 1992).
127

Anotações:
Podemos observar que a reflexão filosófi-
ca sobre a Ética, ou melhor, sobre o comporta-
mento humano, foi se aproximando dos ideais le-
vantados pelo século XXI. Há, gradativamente, a
supervalorização de uma pessoa que pensa nas
suas emoções e vontades. Cada vez mais existe a
necessidade do ser humano buscar a autocrítica,
revisar-se enquanto pessoa e dar mais importân-
cia às outras dimensões da humanidade. A razão,
a emoção e a espiritualidade estão cada vez mais
equilibradas, e aparecendo como necessidades da
vida (ARANHA, 2005).
No mundo contemporâneo, os desafios são
diversos para que possamos construir a vida a
partir da moral. Alguns desses desafios derivam
da sociedade individualista, em que as pessoas
acham-se voltadas para si próprias e incapazes
de se solidarizar e ter mais tolerância com as
diferenças. Pensar a generosidade moral para
com o planeta, supõe a garantia da pluralidade dos
estilos de vida. A aceitação das diferenças, sem
sucumbir à tentação de dominação do outro, ocorre
sempre quando a diferença é vista como sinal de
inferioridade ou de desigualdade (ARANHA, 2005).
128

Anotações:
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Anotações:
Unidade 4 140

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