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I. INTRODUÇÃO
Para melhor compreendermos o que é a Filosofia da Educação, vamos antes definir os dois
termos que compõem este conceito: Filosofia e Educação.
a. Filosofia – contextualização
Os primeiros filósofos da humanidade foram os gregos, que surgiram no período arcaico por
volta de fins do século VII a. C e durante o século VI a.C. estes filósofos fizeram uma passagem
do pensamento mítico para o pensamento crítico racional e filosófico, e esta passagem alguns
autores costumam chamar de “milagre grego”.
Isso significa que, embora tenhamos referências de grandes homens na China (Confúcio, Lao
Tsé), na Índia (Buda), na Pérsia (Zaratustra), suas teorias ainda estão por demais vinculadas à
religião para que se possa falar propriamente em reflexão filosófica.
Portanto, as razões que contribuíram para o surgimento da filosofia na Grécia, elenca – se:
A palavra Filosofia provém de dois termos gregos: philos, que significa amigo, amante, e
sophia, que significa sabedoria. Assim, pois, etimologicamente, o termo filosofia significa:
amor à sabedoria, gosto pelo saber. Assim sendo, filósofo é aquele que procura saber, não
aquele que se considera sábio.
Ao longo da sua história, a filosofia conheceu várias definições, o que significa que não existe
uma definição única e universal. Desta feita, temos as chamadas tentativas da definição da
Filosofia:
Aristóteles (Grécia Antiga): A filosofia é estudo dos primeiros princípios e causas últimas de
todas as coisas;
Cícero (Roma Antiga/Itália): A Filosofia é o estudo das causas humanas e divinas das coisas.
Deste modo, conclui-se de que cada filósofo, não só tem uma concepção própria da filosofia mas
também a sua definição própria do que é a filosofia, de acordo com a época e sua visão sobre o
mundo e interesse. Ora, o que todos eles têm em comum é que a filosofia aparece como um tipo
de saber amplo, radical e exigente. Portanto, o objecto de estudo da filosofia é a realidade na sua
totalidade. Ela pretende explicar toda a realidade, sem exclusão de partes ou momentos dela.
Tal como a filosofia, a educação não tem uma definição única e universal. O termo “educação”
vem de dois vocábulos latinos: educare, o que quer dizer alimentar, cuidar; e ducere que
significa conduzir, comandar, discernir, marchar à frente, etc. As duas acepções revelam que a
educação é uma acção exercida por alguém supostamente mais experiente sobre outro alguém
menos experiente.
Educação é a “acção exercida pelas gerações adultas sobre aquelas ainda não
amadurecidas para a vida social (Durkheim, cit. em Dommanget, 1974, p. 90).
Educação é “um processo pelo qual a sociedade prepara os seus membros para garantir a
sua continuidade e o seu desenvolvimento” (Mussossa, 2013, p. 61).
De todas as definições acima dadas, a última nos parece mais completa. De facto a educação é
um processo, na medida em que pressupões várias etapas ou estágios progressivamente
organizados. Este processo é social e visa a continuidade das sociedades.
Tobias define a Filosofia da Educação como a “ciência especulativamente prática das causas
supremas da educação” (2002 p. 46). Trata-se sim da própria Filosofia em todo o seu conjunto,
enquanto reflecte sobre uma parte do saber e da actividade humana: a educação. A Filosofia
da Educação surge portanto como uma “reflexão sobre a educação” (p.17).
Ora, porque o sujeito da educação é o homem, o tipo de educação que se pretende numa
sociedade depende da forma como se concebe este mesmo homem. Por isso, não existe uma e
única filosofia da educação, mas várias filosofias da educação, de acordo com as concepções
existentes sobre o homem no contexto da realidade que se pretende aplicar.
A relação da filosofia com a educação remonta desde a antiguidade grega. Os filósofos gregos,
em busca da areté (virtude) humana, foram os que deram início às discussões sobre a filosofia da
educação e seu sentido no mundo. Viam na educação um meio necessário para o alcance de uma
cultura ideal e de uma alma purificada, capaz de elevar o homem ao conhecimento inteligível,
apostada na busca de um ideal artístico de cultura.
A Educação e a Filosofia se complementam. Ora, as relações entre Filosofia e educação são tão
íntimas que Dewey não hesita em considerar a Filosofia como uma teoria geral da educação
(1959, p. 362). Na verdade, há uma interdependência: a Filosofia fornece uma interpretação
teórica das aspirações, desejos e anseios duma sociedade e a educação transmite essa
interpretação. Para nada serviriam as reflexões filosóficas sobre o homem se elas não fossem
aplicadas e veiculadas pela educação. E uma educação sem filosofia não passa de um acto
inconsciente e sem sentido.
Portanto, não há educação possível sem uma correspondente reflexão filosófica, seja ela explícita
ou implícita. Filosofia e educação estão sempre vinculadas uma à outra, no tempo e no espaço.
O objecto de estudo da filosofia da educação é a educação. Porém esta não se confunde com a
Pedagogia, que também se preocupa com a educação. Enquanto a Pedagogia estuda os meios da
educação, a Filosofia da Educação reflecte sobre os seus fins (para que se educa).
Fullat (1995, p. 84) propõe quatro tarefas para a Filosofia da Educação, a saber:
Indicar o sentido geral do processo educativo (o que se quer, o para quê da educação;)
A Grécia era constituída por pequenas cidades-estados (polis) entre as quais Esparta e Atenas
eram as mais importantes. Ambas eram dependentes do trabalho dos escravos. Os habitantes da
polis dividiam-se em gregos e não-gregos, sendo estes últimos considerados por “bárbaros” na
linguagem grega. Ambos grupos eram rivais.
Por isso, devido ao medo de enfrentarem uma revolta geral, todas as actividades políticas,
sociais, culturais e educacionais eram orientadas para fortificar a ordem do comando militar e
manter a prontidão combativa. Toda a cidade era dirigida como se fosse um quartel afectando
assim a maneira de conceber a educação.
O sistema de educação era controlado inteiramente pelo Estado e tinha como objectivo produzir
cidadãos patriotas, obedientes e militarmente eficientes. É preciso acrescentar que a educação
estava reservada só aos espartanos puros e cobria toda a vida.
Para garantir a sua robustez, os espartanos chegavam a praticar infanticídios matando as crianças
inválidas e diminuídas, para que só crescessem os mais fortes. Toda as crianças eram sustentadas
pelo Estado e eram criados em campos especiais para onde iam compulsivamente a partir dos
sete anos com a justificação de se criar um espirito de camaradagem entre elas já nos primeiros
anos de vida.
Tanto meninas como rapazes recebiam o mesmo tipo de educação, naturalmente que o currículo
priorizava exercícios físicos negligenciando a literatura. Mesmo nos casos em que a literatura
fazia parte do conteúdo, este conteúdo era funcional ao objetivos de formar militares. Por
exemplo, nas aulas de músicas, ensinava-se música militar de banda, o teatro era ensaiado no
sentido os papéis constituírem forma de espiar o inimigo.
O sistema de esparta pode ser dificilmente denominado de “educacional” dado que, como vimos,
tinha muitos conteúdos militares e de educação física. Nesta ordem de ideias, ele se confunde
entre uma formação militar e educacional em si. Mas fora disso, tinha já em si aspetos que até
hoje perduram e são considerados positivos: o princípio do controlo estatal sobre a educação se
mantem até hoje na maioria dos países, também a igualdade entre os rapazes e as raparigas no
acesso a educação é demarcadamente positivo, mas, talvez o mais importante era o facto de que a
educação foi organizada funcionalmente, isto é, para resolver os problemas da sociedade
espartana – a defesa da cidade estado.
O que era surpreendente é o facto de que, alias, isto surpreendeu Platão, não eram exigidas
qualidades especiais para se exercerem cargos públicos e nem para legislar. O que, sobretudo
surpreendeu Platão, foi a ausência de uma educação promovida pelo Estado para preparar as
pessoas para os ditos cargos públicos.
Tirando este facto, o currículo médio nestas escolas, era composta por uma ginástica combinada
(exercícios físicos, luta livre, natação). Educação “musical” cujo conteúdo era uma compilação
equivalente das humanidades “escrita, leitura, literatura, a música propriamente dita e arte”. No
entanto, este tipo de educação conseguiu produzir homens talentosos, entre os quais temos Platão
e Aristóteles.
Sócrates nasceu em Atenas, por volta de 469 a.C, foi condenado à morte nessa mesma cidade,
em 399 a.C., sob a acusação de que o seu pensamento e a sua ação estariam corrompendo a
juventude ateniense. Considerado por muitos filósofos como aquele que conferiu sentido à
palavra filosofia (Pagni, 2007).
Sócrates não deixou obra escrita. Ficou a cargo de seus discípulos e contemporâneos a tarefa de
relatar e transmitir o seu pensamento ao grande público. É possível dizer que a grande questão
que orientará o labor filosófico dos Sofistas e de Sócrates é a de como educar o homem para a
vida na polis, portanto, para o convívio social harmônico e democrático.
Ao refletir sobre a necessidade de uma nova educação que tivesse como meta a reinvenção da
polis, Sócrates ensaiou uma ruptura com um modelo de educação que havia predominado, até
pelo menos o século IV, que se baseava na concepção aristocrática da areté, isto é, da virtude ou
da excelência intelectual e moral, acessível somente aos que possuíam sangue divino.
À medida que Atenas vai se transformando em uma sociedade urbana, artesanal, comercial e
democrática, a antiga areté perde sentido, já não basta mais formar cidadãos belos e bons,
dispostos a morrerem pela cidade, antes é preciso formar bons cidadãos, que participem
ativamente da vida pública. A nova areté que se inaugura, está voltada para a formação do
cidadão para o governo da pólis, cuja preocupação se centra na formação política, ética e moral
dos indivíduos para o exercício do poder.
Nesse novo processo formativo, o instrumento fundamental para a realização dessa virtude cívica
é a palavra. Nesse contexto, surgem os sofistas como uma espécie de mestres da arte da educação
do cidadão, por muitos considerados os fundadores da pedagogia democrática. Eles se
apresentam mais como professores de técnicas e métodos de ensinar do que propriamente como
filósofos. Mas ao terem como ofício a arte da argumentação, a arte da palavra, os sofistas
tornam-se importantes para a democracia ateniense. Desse modo, a areté é a cidadania e a
educação oferecidas pelos sofistas que visam à formação do homem virtuoso (Pagni, 2007).
Portanto, os sofistas são os professores de areté, professores da virtude. O que marca a pedagogia
sofista é seu caráter agonístico, em que o saber está fundado na ideia de oposição e luta dos
contrários, o qual se aplica à construção da vida política. Ao se posicionarem, assim, diante da
visão aristocrática até então predominante, os sofistas criam a Paideia, no sentido de uma ideia e
de uma teoria da educação, baseada em fundamentos racionais (Pagni, 2007).
Desse modo, a sofística representa uma passagem de uma visão cosmológica para uma visão
antropológica, onde a busca e as explicações das causas últimas do universo são substituídas por
aquelas referentes à vida do homem na polis. Mesmo, assim, a sofística encontrará na filosofia
socrática sua mais ferrenha opositora. Embora adote algumas das estratégias utilizadas pelos
sofistas, tais como o apreço pela disputa e pela agonística, Sócrates se recusa a cobrar pelos seus
ensinamentos e, além disso, se distancia dos primeiros no que tange aos resultados finais daquilo
que é ensinado (Pagni, 2007).
Sócrates não se coloca na condição do professor que ensina um conhecimento pronto e acabado.
O que ele faz é indagar. Introduz o diálogo como forma de se buscar a verdade. É por essa via
que o filósofo faz da filosofia uma pedagogia da razão, como condição fundamental para o
retorno ao interior, para a compreensão do cotidiano de ações e pensamentos. Ele se orienta em
toda sua atividade filosófica a partir de duas epígrafes que parecem funcionar como uma espécie
de mantra: “Conhece-te a ti mesmo” e “Sei que nada sei”. Os exemplos que evidenciam os
elementos inerentes à pedagogia socrática estão nos diálogos socráticos de Platão.
Platão nasceu em Atenas em 427 a.C. e morreu em 347 a.C. Recebeu uma educação clássica,
como todos jovens atenienses, sendo preparado para atuar nos jogos e para a guerra. Aprendeu
também música e literatura, além de frequentar os sofistas para adquirir as habilidades da
retórica, necessárias à participação da vida política na cidade, como era comum aos filhos dos
cidadãos livres. Aos 20 anos, começou a fazer parte do círculo de Sócrates, em Siracusa. Com
essa mesma idade, conheceu também alguns jovens pitagóricos, estabeleceu com eles laços de
amizade, ocasião em que, provavelmente, tomou contato com o pensamento de Parmênides
(Pagni, 2007).
Platão estava particularmente preocupado com a falta de cuidados pela educação na sua cidade-
estado. O que mais o incomodava era o facto de não haver uma educação especial para treinar as
pessoas a servirem o aparelho administrativo dado que ele considerava que os assuntos públicos
exigiam qualidades especiais dos seus funcionários. Platão comparava as questões
administrativas comparáveis a medicinas ou advocacias que exigem um treinamento especial. No
seu livro “A Republica”, Platão procura compor e descrever um sistema educacional baseado
naquilo que ele considera serem “pontos fortes” de ambos sistemas de educação, isto é, de
Esparta e Atenas, mas numa perspetiva filosófica – política profundamente nova.
O seu Estado Ideal era um Estado onde os valores predominantes são a justiça e harmonia social.
Para Platão, contudo, a noção de justiça social não estava nada ligada a ideia de uma distribuição
equitativa do “bolo”, isto é, da riqueza nacional. O que Platão demonstrou pode passar a ser
injustiça. Justiça definia-se em função das responsabilidades que cada um tinha para com o
Estado e era medida pela forma como cada um poderia dar a sua contribuição para o Bem-Estar
do Estado na base dos seus talentos naturais e da sua formação específica.
Para Platão, uma sociedade ideal era, portanto, aquela onde havia uma divisão de trabalho de
acordo com área de espertize de cada um no quadro da administração do Estado. As áreas por ele
definidas no quadro da administração estatal era a legislativa, a executiva, a organização da
segurança pública da cidade, os serviços de divisão económica, etc. Obviamente o Filósofo-Rei
seria aquele que iria dirigir a cidade, os guardas (soldados e policias) iriam defender a cidade e a
população constituída por farmeiros, artesões, etc, produziam os bens materiais necessários.
A tarefa da educação, conforme Platão, é a de fazer com que cada um destes (classes sociais)
possa ser eficiente e competente no exercício das suas responsabilidades em função da divisão de
trabalho. Nestas condições, Platão achava que todas as actividades educativas deviam ser
organizadas, financiadas e controladas pelo Estado porque estavam no seu interesse. Não
haveria, portanto, escolas privadas. Da mesma forma, não haveria lugar para uma descriminação
baseada no género dado que o critério de alocação dos deveres na divisão do trabalho também
não se baseava no sexo.
Para Platão, o processo de educação é um processo de “virar os olhos da alma da escuridão para
a luz”, o que quer dizer, o processo de tirar a pessoa da ignorância (escuridão) para o
conhecimento (claridade da luz) - alegoria do mito da caverna. Não se trata porém, pôr o
conhecimento na alma de uma pessoa como se deita água numa panela até ela ficar cheia. Pelo
contrário, é um processo de conduzir a pessoa a descobrir por si o conhecimento através do uso
da sua razão. De facto, para Platão, é um processo de Re-Conhecimento dos conhecimentos
adquiridos anteriormente pela alma.
No entanto quando uma determinada alma é destacada e implanta-se num corpo, ela passa por
um processo de esquecimento e a educação é um processo em que a pessoa é ajudada a recuperar
aos poucos o conhecimento esquecido (processo de reminiscência). Assim o processo da
educação não se trata de alimentar a criança de novos conhecimentos, mas, passa a ser um
processo em que, através de questões bem elaboradas, ajudamos a alma do aluno a recordar-se
do que esquecera.
Segundo Platão, todas as crianças deviam ser juntadas para uma educação básica comum, depois
seriam divididas de acordo com o talento e habilidades naturais que demonstrassem. Na base
desta característica, a sua educação e o treino teria que ser dirigida no sentido de se especializar e
preparar-se para exercer a profissão pela qual ele tivesse um talento natural. Aqui vemos, pois, os
fundamentos do princípio de profissionalização aplicado.
De facto, o princípio de preparação profissional em Platão baseava-se num outro principio mais
fundamental que ele aprendera de Socrates – o seu mestre – que seria: “conhecimento é virtude”
e “ignorância é o inverso”. Para conduzir perfeitamente a sua vida o homem precisa de ter
conhecimento e, para cumprir bem os seus deveres o homem precisa de ser formado
especialmente.
Platão é considerado como grande teorizador da Educação, pelo facto de ter sido o primeiro a
dividir o processo de educação em níveis formais e a atribuir a cada nível um certo conteúdo de
aprendizagem e objetivos específicos. Os níveis advogados por Platão eram faseados para:
3 a 6 anos de idade, este nível era devotado para jogos e para brincar. O castigo deveria
ser empregado para punir as más atitudes, enquanto o bem seria recompensado.
O nível o elementar – para 6 a 10 anos tinha um currículo composto por jogos e desporto,
elementos básicos de leitura e moral e desenvolvimento espiritual através de histórias
retiradas da mitologia grega (Homero e Hesíodo).
No nível secundário, que compreendia dos 11 a 17 anos, a educação era mais rigorosa,
procurando combinar a ginástica com a educação “musical”. Alguma das disciplinas que
seriam incluídas, em forma de introdução, seriam a Matemática (Aritmética, Geometria,
Geometria Solida), Literatura e Música no sentido que a conhecemos hoje. Em todas
O significado para esta estrutura platónica para Educação ficará mais claro se tivermos em mente
que, nos dias de Platão, em Atenas, a educação de um aluno não era oferecida necessariamente
pelo mesmo professor e de baixo do mesmo tecto.
Foi, em parte, pelo facto de Platão ter reconhecido na educação uma verdadeira força na
planificação estatal que ele advogou para um secularismo na educação, isto é, fazendo a
organização, o financiamento, a planificação e o controle da educação um monopólio do
Estado. No entanto ele não excluía uma educação religiosa nas escolas estatais. De facto, na
Grécia antiga em que viveu Platão, não havia uma separação nítida entre a vida religiosa e civil.
Portanto, uma das questões que Platão nos propõe para o debate é a de considerarmos a
psicologia da criança para a sua orientação profissional – o que hoje se denomina de
“aconselhamento profissional”.
O que se pode criticar em Platão é pelo facto dele optar por uma orientação educacional
profissionalizante num período de crescimento considerado por muitos de “muito cedo”, pondo
no entanto de parte este aspecto, não podemos descorar por completo do princípio adjacente de
observar as inclinações e as habilidades de uma criança para direcionar melhor o seu futuro.
Deve-se recordar, para ressalvar Platão, de que ainda no seu sistema se abre uma possibilidade
de “reorientação” da criança, mesmo depois de ter sido originalmente conduzida para uma das
três vertentes da educação. Infelizmente, este mecanismo “correctivo” não foi aplicado ou
previsto nos sistemas modernos de educação.
Aristóteles também viveu em Atenas por isso discípulo de Platão. Aristóteles pode ser
considerado como um filósofo típico na antiguidade grega por que, para além de ter escrito
muitos livros, abarcou quase todas as áreas de conhecimento incluindo as ciências naturais como
a Física e Biologia e outras como Leis, Lógica, Ética, Metafísica. Os seus escritos em educação
foram, na realidade, poucos e dispersos em várias obras. No entanto é nas suas obras A Política e
Ética onde se pode encontrar conteúdos sobre a educação (Pagni, 2007).
Para Aristóteles a educação é baseada na imitação dos bons valores (hábitos da família), ela
constitui uma forma de auto-realização individual do homem para a sua felicidade. A educação
deve ocupar toda a vida do cidadão. Nesta actividade, o professor seria aquele que deveria
conduzir ao aluno nos moldes necessários para que ele conduza uma vida plena e de acordo
com as virtudes necessárias. Em outras palavras, o trabalho do professor é ajudar ao aluno a
Este elemento de prática é particularmente importante para a razão prática: “Um homem só se
torna justo praticando a justiça, corajoso praticando acções corajosas”... Costumava dizer
Aristóteles. Este método aristotélico foi cunhado por ele próprio como sendo o de habituação.
Ele considera-o muito importante para a educação física das crianças. Não é suficiente dizer as
crianças o que deveriam fazer ou como se deveriam comportar ou que ela deveria saber, o
professor deve fazer com a criança repetidamente o bom caracter até que ela se habitue e faça-o
naturalmente.
Aristóteles compara a mente de uma criança a uma semente que potencialmente está em
condições de se tornar uma planta com todos os elementos condensados nela. O que se destaca
nesta comparação é o facto de que a semente de uma planta vai sempre crescer no sentido de ser
aquela planta. Por exemplo, não seria possível que uma semente de milho se desenvolva numa
palmeira. Assim também uma criança vai crescer para ser um homem ou uma mulher, mas
nunca se transformar um animal porque uma forma vaga de adulto já está presente na criança,
em potência.
Segundo Aristóteles existem três ideias essenciais para o desenvolvimento de uma boa educação,
a saber:
A natureza do educando, esta natureza, que por razões biológicas irá condicionar em
muitos aspectos, o comportamento do aluno, deve ser compreendido e respeitado pelo
educador. O programa de ensino precisa ser elaborado a partir da aceitação desta
natureza, isto é, do conhecimento da sua virtude e deficiência.
A formação de bons hábitos. Aristóteles afirmava que muito dos nossos desejos
instintivos são contrários ao sadio desenvolvimento de nossa personalidade. Então, torna-
se necessário controlarmos estes desejos através de hábitos produtivos que nos induzam a
assumir, automaticamente um comportamento construtivo.
Ajudar a criança a crescer e tornar num adulto do seu tipo (tornar-se num adulto feliz).
Assim, uma vida boa ou feliz seria, no sentido aristotélico, uma vida em que o exercício
intelectual é plenamente realizado.
Desenvolver a actividade racional do homem desde que esta fosse a sua vocação máxima,
Inculcar no homem a razão prática que lhe possam permitir conduzir uma vida moralmente
sã;
Desenvolver nos indivíduos capazes um engajamento teórico e intelectual.
II.2.3.3. O que seria então importante para nós nesta filosofia de educação de
Aristóteles?
i. A filosofia de educação é desmembrada da própria filosofia – mãe;
ii. A sua ideia de criança, possui em potência capacidades impressionante de se tornar
adulto por meio de instrução dada pelos adultos. Há certeza que ela vai-se tornar
adulta, mais não há certeza absoluta em que tipo de adulto ela se iria tornar;
iii. Notamos uma vida plena é aquela em que se combina a qualidade intelectual com as
qualidade práticas (morais, justas) da vida. Porém, temos que ressalvar que para
Aristóteles, o exercício da razão teórica tem um valor elevado em relação ao prático,
o que, de certa forma, para os tempos modernos se torna questionável.
No entanto, temos que ver estas suas concepções no contexto da Grécia antiga, onde, as
actividades como o fabrico de pão, construção, eram reservadas aos escravos. A actividade
do raciocínio teórico e prático eram só reservados aos cidadãos de Atenas.
Este também era ateniense, mas com diferença de que não era um filósofo profissional como o
eram Platão e Aristóteles; por isso, Isórates não é frequentemente mencionado entre as listas de
pensadores educacionais. Isócrates foi um professor veterano que exerceu a sua profissão durante
cinquenta anos de sua vida durante a qual desenvolveu uma prática que lhe torna peculiar na
História da Filosofia de Educação, portanto merece um lugar aqui.
Recordamos que o sistema político ateniense era democrático, gozando os cidadãos atenienses de
liberdades, assim também, havia uma distinção muito nítida entre orgãos legislativos e judiciais
que eram relativamente independentes. Mas no tempo de Isócrates, Atenas havia perdido a sua
liberdade política, embora se mantivessem as suas instituições formalmente.
A educação em Isócrates estava muito fortemente ligada a preparação dos cidadãos para
poderem orar nos tribunais, na administração e em outras formas de participação política a sua
disposição. Desta feita ele orienta a educação para as necessidades concretas da vida dos
atenienses.
Para isso, formulou um curriculum estável, diferente dos sofistas. Assim, o seu currículo, para
além de conter matérias jurídicas contemplava a ginástica (um jurista devia ter uma compleição
física boa e uma presença comandante), estética, matemática (para casos de conflitos de terra e
casos que envolvem cálculos) assim como a Literatura. Ele argumentava que um bom jurista
deveria dominar uma vasta gama de conhecimentos para ser bem-sucedido.
Ele fundou a sua própria escola, uma espécie de escola secundária, com um curriculum integrado
para desenvolver a personalidade completa ao lado das habilidades profissionais. As suas ideias
sobre a educação profissional ultrapassam as ideias predominantes na sua época, porque, para
ele, um homem que era treinado profissionalmente deveria também adquirir uma forte formação
cultural e cívica, com enfase na formação para uma conduta moralmente sã.
Isócrates identificou três elementos importantes para que a educação fosse bem-sucedida:
1. O professor deveria ser capaz de reconhecer os talentos individuais ou naturais dos alunos;
2. O aluno deveria ter uma auto-disciplina rigorosa e ser ampliado nos estudos; e
3. O aluno deveria ser inventivo, ter iniciativa, ter boa memória e um bom tacto, mas acima de
tudo, uma conduta e um carácter moralmente impecáveis.
Estes três elementos eram, na sua óptica, indispensáveis para que se exercesse uma profissão
com sucesso.
Isócrates funda um humanismo na educação, isto é, era de opinião que o fim último da educação
não era em si a profissão, mas a formação de um homem integral. Em outras palavras, o seu
humanismo demonstra-se pelo facto de o homem ser o fim último das actividades educativas.
Qualquer que fosse a profissão visada pela educação, não seria ela em si exercida com sucesso se
a componente das humanidades faltasse. Este aspecto é muito importante porque constitui um
desafio para as nossas práticas de hoje.
Embora entre Isócrates e Quintiliano decorra um grande período de tempo, na verdade as suas
teorias e práticas educacionais são muito próximas. Quintiliano era romano; mas tal e qual
Isócrates era jurista e foi um professor de renome durante muito tempo e com muita experiência;
e tal e qual como Isócrates foi um homem prático no seu pensamento, pouco dado a reflexões
filosóficas.
Quintiliano defende que a formação em retórica (que era a teoria e a prática do direito) era a
forma ideal de educação na qual também a filosofia fazia parte simplesmente como uma das
disciplinas.
Foi neste terceiro período em que Quintiliano viveu e escreveu os seus pensamentos
educacionais numa obra intitulada Institutio Oratoria (Educação de um Orador).
O homem ideal, segundo Quintiliano, seria aquele que possui um bom carácter mais ao mesmo
tempo eloquente na expressão. A sua definição de um bom jurista era a de um homem que não
só dominasse a retórica, mas que sobretudo fosse moralmente são. Como, no entanto, se poderia
educar esse homem?
2. As crianças deveriam ser escolarizadas aos 7 anos ou mais cedo se se tratasse de criança
precoce ate aos 11 anos o ensino elementar. Neste estágio a educação da criança deveria
basear-se no jogo e deveria se ensinar a leitura, escrita e a artimética.
3. O ensino secundário iria dos 12 aos 14 anos com um currículo baseado nas humanidades
(e quase nada das ciências naturais). O Currículo era prescrito e era centrado no
desenvolvimento da personalidade. Nesta fase, ensinava-se musica, geometria, literatura
e Oratória.
4. Aos 17 ou 18 anos começa a educação para a retórica. Esta correspondia praticamente ao
ensino superior que destinado somente aos melhores estudantes. Trata-se da escola da
Retorica com objectivo de formação de bons oradores para a defesa das virtudes morais.
Nesta fase ensinava-se a História, Lógica, Direito, Critica Literária e o Desenvolvimento
das Técnicas e da Arte de bem falar em público.
Acrescentou ainda que o bom aluno, não poderia desenvolver mais nada para além do que foi
ensinado, por isso, o seu sistema educacional sufocava a criatividade do aluno; repelia como
indispensável a antecipação de questões, menosprezava as ideais inabituais e desencorajava a
audácia intelectual. Por isso, os bons alunos, estudantes e meninos deviam ser bem comportados,
repetindo tudo o que seu mestre mandasse (Cotrim & Parisi, 2010, pgs. 130-131).
Quintiliano destacou-se nas suas recomendações dirigidas ao professor. Para este filósofo da
educação o professor deveria:
Adoptar uma atitude parental em relação aos seus alunos e olhar-se a si mesmo como
alguém que carrega a responsabilidade dos pais que lhe confiaram aos filhos;
Ser severo mas não austero, generoso mas não familiar, porque a austeridade vai torna-lo
impopular e a familiaridade origina desprezo;
Ser alguém que controle as suas emoções e que não deixe que elas interfiram na sua
actividade lectiva. Quando ele corrigir os erros dos alunos, não deverá nunca ser abusivo
e nem duro, porque, segundo Quintiliano, muitos estudantes desistem do saber quando os
seus professores se dirigem a eles como se os odeiasse pelo facto de não saberem;
Evitar os castigos corporais, que apelidou de pedagogia da brutalidade que era
predominante na sua época classificando-os de forma mais desprezíveis de educação.
Não existe um marco histórico claro sobre o inicio da era moderna. Alguns historiadores
avançam que:
A Idade Moderna é um período que inicia no ano de 1453, com o fim da Guerra dos Cem
Anos, vencida pela realeza francesa, e termina no ano de 1789, com o início da Revolução
Francesa (Pedro; Lima & Carvalho, 2005);
Outros acreditam que a Idade Moderna Inicia com a conquista de constatinopla realizada
pelos otomanos em 1453, liderados pelo sultão Mohammed II, o conquistador;
Outros consideram como marco do inicio da era moderna foi com a chegada de Cristovão
Colombo (italiano) nas Américas em 1492;
Outros ainda consideram que o inicio da Idade Moderna dá-se com a reforma protestante de
Martinho Lutero ao fixar as 95 teses na porta da catedral de Wittenberg a 31 de Outubro de
1517.
O período moderno foi marcado por uma política econômica mercantilista, onde a monarquia
passou a ter o poder, desencadeando várias reformas e contra reformas religiosas, surgindo
também muitas correntes de ordem intelectual que tinham a finalidade de proporcionar respostas
para as dúvidas dos homens e mulheres através do pensamento racional (Pedro; Lima; Carvalho,
2005).
Filosofia da Educação – Introdução, Pensamento Educacional Na Antiguidade Greco-Romana
e Descoberta da infantilidade na era Moderna: 2024, Belmiro Fernando, dr.
22
Conforme Cambi (1999), o século XIX esteve marcado por diversas transformações
educacionais que visavam o crescimento da sociedade e a harmonia entre os grupos, dada a
desordem social que se alastrava, o êxito da burguesia e os desejos da sociedade. Era preciso que
todos fossem educados de acordo com os preceitos dos novos grupos que se formavam.
Nessa visão paternalista da educação por parte da burguesia, apresentada por Cambi (1999), está
ligada diretamente aos interesses da mesma, uma vez que, por meio da educação, era possível
garantir a ordem entre os povos.
Nesse contexto, um dos primeiros grandes pensadores desse período foi Erasmo de Rotterdam
(1467-1536), que defendia uma ideia de educação mais centrada no próprio indivíduo, como
sendo ele o responsável pela mesma. Isso, em grande parte, pela própria influência que recebera
da Igreja, uma vez que fora sacerdote, e mesmo sendo dispensado dos votos em 1517, continuou
exercendo o ofício ministerial (Mora, 2001).
É interessante observar que Erasmo possui uma visão de educação onde o indivíduo passa a ser o
responsável pela mesma, sem transferi-la à escola ou até mesmo ao Estado, o que parece ser
muito comum na atualidade.
Um dos mais importantes filósofos do Iluminismo, o filósofo político, educador e ensaísta, Jean
Jacques Rousseau nasceu em Genebra, Suíça, em 28 de junho de 1712. Sua mãe morreu no
parto e ele não teve qualquer educação formal até os 16 anos, exceto sua própria leitura das
Vidas de Plutarco e uma coleção de sermões calvinistas. Tornou-se o protegido de Madame
Louise-Éléanore de la Tour du Pil, a baronesa de Warens. Aos 66 anos, atingido por insolação
durante um passeio a tarde, veio a falecer em 2 de julho de 1778.
Rousseau é considerado um dos maiores pensadores do século XVIII. Sua produção intelectual
inspirou várias reformas educacionais.
b. Principais obras
Escreveu sua obra filosófica de várias formas, entre elas: tratados, romances, cartas e também
sua autobiografia. Suas principais obras e sonantes são:
c. Pensamento Educacional
Rosseau concebe a educação como um processo natural e deve ocorrer por meio da acção dos
instintos e das forças naturais, sem imposição. E difícil educar o individuo no estado social,
havendo assim uma atitude de nostalgia do Estado Natural. Rosseau propõe o contrato social
como forma de resgate do Estado Natural.
Rousseau tenta explicar filosoficamente como fazer para que seu aluno se torne livre mesmo
vivendo em uma sociedade corrompida pela acção dos próprios homens. O princípio
fundamental de sua análise sobre o homem pressupõe que ele seja naturalmente bom e que a
sociedade é responsável por sua corrupção e degeneração. O fato de Rousseau ter publicado Do
Contrato Social e Emílio simultaneamente pode nos levar a pensar na existência de um fio
condutor na construção do sistema filosófico que perpassa as duas obras, estabelecendo uma
relação muito complexa ao se pensar a relação entre a formação do cidadão e a formação do
indivíduo.
Concebeu a infância como uma fase essencial na constituição do ser humano e na sua relação
com a sociedade. Afirmava que, na sociedade de sua época (Europa, século XVIII), havia um
valor negativo da infância, pois deplorava-se esse período do desenvolvimento humano.
Contrário a essa ideia, Rousseau defendia que a sociedade não conseguia perceber que a raça
humana teria perecido se o homem não tivesse começado sendo criança. Para ele, o período da
infância é essencial para o acto educativo. “Nascemos fracos, precisamos de força, nascemos
carentes de tudo, precisamos de assistência, nascemos estúpidos, precisamos de juízo. Tudo o
que não temos ao nascer e de que precisamos quando grandes nos é dado pela
educação”(Rousseau, 2004, p. 09).
d. Emílio
Ora, No tratado educacional de Rousseau tanto mestre quanto aluno se deslocam de seus lugares
em uma relação que prioriza o saber. Rousseau, em Emílio, estabelece um pêndulo entre o aluno
real e o aluno ideal, e se coloca como mestre imperfeito.
O pensador considera a Educação como arte e enquanto tal acredita na impossibilidade de êxito
total. É sempre uma aposta.
No livro I de Emílio, no qual nos baseamos para pensar a infância em Rousseau, é apresentado
que a Educação, em sentido amplo, possui três mestres:
1
A obra é inspiradora da Escola Nova e Heinrich Pestalozzi, e se contrapõe a visão elitista da educação como
privilégio, afirmando ser um direito de todos. Estabeleceu uma crítica a pedagogia jesuíta rígida, punitiva e mera
transmissora hierárquica de conhecimentos memorizados, que tratava a criança como um adulto em miniatura.
Filosofia da Educação – Introdução, Pensamento Educacional Na Antiguidade Greco-Romana
e Descoberta da infantilidade na era Moderna: 2024, Belmiro Fernando, dr.
25
a) A natureza, a educação pela natureza pressupõe uma educação que não depende dos homens e
está relacionada aos órgãos internos (tais como os reflexos do bebê ao nascer).
b) Os homens, a educação dos homens seria o aprender e o fazer uso de nossas faculdades.
c) As coisas, a educação das coisas nos é dada pelo ganho de nossas próprias experiências na
relação com o ambiente (como exemplo, podemos citar o uso de instrumentos rudimentares por
homens primitivos, que somente em alguns aspectos são controlados pelo homem).
A educação transcorre progressivamente, de tal forma que cada estágio do processo pedagógico é
adaptado às necessidades individuais do desenvolvimento. A primeira etapa é inteiramente
dedicada ao aperfeiçoamento dos órgãos dos sentidos, pois as necessidades iniciais da criança
são principalmente físicas. Incapaz de abstrações, o educando deve ser orientado no sentido do
conhecimento do mundo através do contacto com as próprias coisas (Pontes, 2017).
Por isso é chamada de negativa, por não trabalhar a imposição de normas e conteúdos, e focar-se
em coibir o contato com idéias perniciosas (Pontes, 2017). Na visão do filósofo genebrino isto
liberta o aprendiz da tirania das opiniões humanas; a criança, por si mesma, e sem nenhum
esforço especial, identifica-se com as necessidades de sua vida imediata e torna-se auto-
suficiente.
e. Quem é Emílio?
O jovem Emílio, filho de um homem rico, é educado por um preceptor no convívio com a
natureza protegido dos constrangimentos sociais. Emilio é o representante da espécie humana em
seu potencial de virtude, educado para viver bem consigo, com sua futura companheira Sofia e
com os outros, em uma sociedade livre e democrática. Rousseau entendia a infância como uma
forma particular de ser humano diferente da idade adulta. O aprendizado era conduzido pelos
interesses do próprio aprendiz, em uma educação de dificuldades progressivas, lúdicas e
interativas que evoluíam naturalmente do sentido ao espírito, em uma seqüência natural de
aprendizado da vida, sem sobressaltos ou imposições (Pontes, 2017).
Rousseau tinha um apreço pela obra de Platão, A República, Ele a considerava não como um
livro sobre política “como pensam os que julgam livros pelo título”, mas o mais belo tratado
sobre educação que jamais se escreveu e aconselhava a sua leitura àqueles que queriam ter uma
idéia sobre educação pública. Em sua visão “Platão não fez senão purificar o coração do
homem”, à medida que Licurgo – um conhecido legislador – “desnaturou-o”. A explicação é que
Rousseau, assim como o filósofo grego, acreditava que o homem era educado para desempenhar
um papel na sociedade.
Com a Didática Magna, Comenius sistematizou um saber estritamente pedagógico. Nesta obra
Comenius pretendia compreender o percurso do aprendizado, sugerindo que as escolas
organizassem suas metas, sua disciplina e seu método de aprendizado, bem como o ritual de
ensino. Assim, Comenius edificou o seu projeto educativo, se tornando o primeiro sistematizador
do discurso pedagógico, relacionado organicamente os aspectos técnicos da formação com uma
reflexão sobre o homem (Cambi, 1999).
Em seu método, Comenius preconizava o professor como figura central, uma vez que caberia aos
alunos escutarem e obedecerem, sendo essa uma “educação mecanicamente programada”, mas
também uma pedagogia preocupada com a comunicação, sendo eficaz, natural e intuitiva.
A Filosofia desenvolvida por Comenius esta intimamente ligada a sua posição dentro da
hierarquia católica como bispo da igreja católica. Nas suas concepções, Comenius recupera a
ideia de Aristóteles segundo a qual, o homem está no centro de todas as coisas da natureza; mas
Comenius foi mais longe ao adicionar que a natureza é uma criação de Deus.
Para clarificar as suas ideias sobre a educação como um instrumento de usar as potencialidades
individuais, Comenius usava o exemplo da semente e do solo. O homem é como a semente, cheio
de muitas potencialidades que podem ser realizadas ou atrofiadas, dependendo do solo em que
ele cresce e os estrumes que são aplicados. Assim, na educação existem três elementos que
devem ser integrados: a capacidade do aluno, o conteúdo do currículo (o solo) e o professor e
os seus métodos que corresponde ao estrume. Uma boa educação seria aquela que é organizada
de acordo com estes três factores. As potencialidades naturais são uma dadiva de Deus, mas o
Currículo e os seus Métodos dependem do poder dos homens. É desta forma que Comenius
dedica a sua vida toda a evidenciar os melhores métodos de ensino para descobrir a organização
e o sistema escolar favoráveis a aprendizagem.
Na sua concepção da Educação como um Direito Natural e Universal de todos, Comenius tenta
cobrir áreas que até então estavam ausentes da teoria e da prática educacional. Elas são a
educação de adulto e a educação especial. A educação deve ser providenciada pelo Estado e deve
abranger a toda gente e não somente a poucos “deixe-nos nao excluir a ninguem (da educação),
a nao ser que Deus lhe tenha negado o senso e a inteligência”.
Em relação a educação especial para os deficientes físicos e mentais, Comenius defendia que,
apesar do seu azar, eles merecem uma atenção educativa muito especial: quanto mais fraco e
mais ingênio a pessoa fosse, mais ajuda precisava para poder superar as suas fraquezas e
ingenuidades. Não haveria nenhuma mente que seria tao doente que nao teria possibilidade de se
recuperar através da educação. Comenius advogou coerente e favorosamente por uma Educação
Popular mesmo antes dos movimentos contemporâneos por uma educação universal.
Para traduzir as suas ideias de educação popular ou universal em realidade ele desenhou um
esquema que procura deduzir o conteúdo curricular a ser ensinado, o propósito da educação e a
pessoa que vai ensinar a partir da consideração do nível do desenvolvimento da criança, mas
directamente a partir da idade.
1. O período da infância, que são os primeiros seis anos, deve ser passado em casa sob os
cuidados da mãe ou numa cresche. O objectivo pedagógico neste periodo é o da criança
dominar e desenvolver habilidades da expressão da lingua materna. Na óptica de Comenius,
o Estado não se devia ocupar por esta fase.
2. O período seguinte, abrange dos sete aos doze anos no qual a criança deve ser matriculada
numa escola elementar. A este nível deve o Estado providenciar uma escola em cada aldeia
ou vila. O currículo para este nível deve ser constituído por alfabetização, aritmética e por
introdução a elementos básicos das diferentes disciplinas. O objectivo pedagógico a este
nível seria o treino da imaginação e da memória. O meio de instrução seria a língua materna
ou uma língua nacional.
3. Para os adolescente entre os treze e os dezoito anos haveriam escolas secundárias. Este nível
de educação deveria ser providenciado por Estado e de uma forma livre. Para isso, o Estado
deveria construir uma escola secundária em cada cidade ou vila. O objectivo da educação
Esta divisão foi alvo de muito criticismo dado que pareceu que Comenius deu, em primeira mão,
mais importância aos anos do que propriamente na observação das características cognitivas e
psicológicas do desenvolvimento do homem. Talvez este criticismo seja um pouco incorrecto na
medida em que, nos seus dias, não houvesse ainda estudos consagrados sobre a Psicologia de
Desenvolvimento da Criança, aos quais ele pudesse recorrer para as suas teorias educacionais.
Comenius atribuiu uma grande importância aos métodos de ensino para tornar o processo de
aprendizagem mais fluido, efectivo e económico. Como professor, ele próprio aplicou as linhas
pedagógicas que comandava na sala de aulas. Em seguida vamos enumerar alguns dos seus
princípios:
1. Todas as crianças são curiosas e, portanto com desejo de aprender desde que vejam o
propósito imediato da aprendizagem.
2. Façamos com que o processo de aprendizagem nas crianças decorra sem lágrimas, sem
injúrias e sem coersão.
5. As salas de aulas deveriam ter uma boa iluminação, limpas, agradáveis, bem mobiladas, com
decorações educativas, quadros pendurados e outro tipo de objecto que auxiliem
aprendizagem.
6. A escola deve ser tomada numa casa de alegria e não um lugar de tortura.
Johann Heinrich Pestalozzi, educador suíço, também conhecido como pioneiro da reforma
educacional, nasceu em 12 de janeiro de 1746, em Zurich, cidade localizada no norte da Suíça,
bem próxima à fronteira com a Alemanha. Faleceu em Brugg, em 17 de fevereiro, aos 81 anos.
Era descendente de família italiana de classe média. Filho do médico Johann Baptist Pestalozzi,
que também exerceu o papel de pastor protestante, conforme asseverou Cambi (1999).
Sua mãe, Susanne Hotz Pestalozzi, era filha de comerciantes bem-sucedidos. Johann Heinrich
viu-se órfão de pai aos seis anos, o que colocou sua família em situação econômica delicada.
Como estudante, não apresentava bom desempenho nas atividades que demandavam imitação e
memória, apresentando, desde criança, imaginação, originalidade e poesia em sua essência. Em
1764, conheceu o celebrado trabalho em educação “Emile”, de Jean Jacques Rousseau, que o
impulsionou a desistir de ser pastor, como o avô, e a dedicar-se à educação. Atraiu a atenção do
mundo como mestre, diretor e fundador de escolas.
b. Principais Obras
Leonardo e Gertrudes (1781) obra que teve grande destaque e trata de suas concepções
pedagógicas e de suas experiências vivenciadas no passado, sobretudo o descaso com a
educação, por isso, no referido romance, tece uma contestação contra a educação da época.
Como Gertrudes instrui seus filhos (1801).
c. Pensamento Educativo
O pensamento educacional de Pestalozzi está associado às experiências dele como educador com
a criação de escolas, a partir das quais delineou o seu método de ensino com a interligação entre
a mão, o coração e o cérebro.
Pestalozzi concebia a educação como direito de todos, uma vez que a educação era privilégio de
poucos. A educação deveria seguir escrupulosamente as leis da natureza, entendida, em seu
método, como as corretas sequência e gradação, no que facilmente se reconhecem os traços da
pedagogia humanista de Comenius (1997, p. 165-182), bem como as proposições de Rousseau
em Emílio (Rousseau, 2004, p. 90-92). É sobre tal crença que, compreendendo a linguagem
como o primeiro meio de conhecimento da espécie humana, ato que “condensa os progressos
humanos”, ele recomenda unir por completo o ensino à linguagem. Por essa lógica, às crianças
só deveria ser ministrado o ensino da leitura depois que aprendessem a falar, de modo que fosse
seguido o mesmo caminho que teria levado o selvagem ao homem civilizado: “o selvagem
determina primeiro os objetos, depois os nomeia e, por último, os relaciona com os demais.
Assim como faz Comenius (1997, p. 207-208) em Didática magna (1621-1657), Pestalozzi
defende o método de ensino simultâneo, ao asseverar que o mestre deve instruir muitos alunos de
cada vez. Defende a necessidade de o professor simplificar o mecanismo de ensino e
aprendizagem, de modo a buscar as formas que excitem mais vivamente a sensibilidade da
criança. Além disso, mais importante do que acumular conhecimentos, seria “levantar
intensamente as forças do espírito” da criança (Pestalozzi, s/d., p. 55).
Isso poderia ser feito por meio da repetição, razão pela qual recomendava que o professor fizesse
com que os alunos repetissem seguidamente palavras, definições, frases longas e períodos, que
Como discípulo de Rousseau estava convencido da inocência e bondade humanas e entendia que
a tarefa do mestre era estimular o desenvolvimento espontâneo do aluno, procurando
compreender o espírito infantil, atitude que o afasta do ensino dogmático e autoritário. Por isso,
Pestalozzi encarava a educação a ser promovida naturalmente segundo o desenvolvimento da
criança, como principal meio de reforma social.
O princípio “social” de Pestalozzi é fazer com que os homens, por meio da educação, possam
bastar-se a si mesmos, ter liberdade e autonomia, pois nada e ninguém os ajudaria.
Pestalozzi foi um educador de significativa importância para a educação das crianças. A partir de
seus trabalhos, desenvolvidos na Suíça, no final do século XVIII e início do XIX, outros
educadores começaram a pensar o ensino dos infantes com um olhar mais adequado para o
desenvolvimento efetivo dos pequeninos. Pestalozzi é, sem dúvida, formulador de um aparato
teórico-metodológico confluente com o processo histórico do século XVIII e XIX.
Friedrich Froebel, filho do pastor luterano Johann Jakob Froebel e de Jakobine Eleanore
Hoffmann, nasceu aos 21 de Abril de 1782, na Vila de Oberweissbach, uma vila da floresta da
Turíngia, na região central da Alemanha (ARCE, 2002 p.35).
Ele recebeu os cuidados de sua mãe por apenas nove meses. Logo depois de seu nascimento,
Jakobine teve problemas de saúde, vindo a falecer no início de 1783. Froebel faleceu em 21 de
junho de 1852, em Marienthal. A instituição educacional dessa localidade foi removida para
Keilhau, sob a superintendência de Middendorff. Sua segunda esposa, Luise, mudou-se para
Keilhau e trabalhou no Kindengarten dessa localidade.
Trabalhou com Pestalozzi, na Suíça, sendo estimulado para o interesse pedagógico. os jardins de
infância são uma criação do alemão Friedrich Froebel.Conhecido como o pedagogo dos jardins
de infância, foi esse seu mais famoso legado, juntamente com os brinquedos educativoscriados
paracrianças pequenas, que se popularizaram em todo o mundo no século XIX. O Jardim de
Infância de Froebel foi o derradeiro projeto de sua atribulada vida.
Froebel ressalta, que todo profissional e todo esforço da educação e dos educadores devem estar
voltados para o favorecimento do desenvolvimento livre e espontâneo do indivíduo, o qual,
como um ser que foi criado por Deus, também possui imensa criatividade e capacidade de
criação. Um dos mais importantes princípios da pedagogia de Froebel é a auto-atividade livre, ou
seja, a criança precisa ter uma mente ativa e livre para conquistar o seu conhecimento e para
expressar seu interior e seus interesses. Froebel acreditava que o sucesso da educação reside no
saber a ouvir a criança. Adotava a ideia contemporânea do “aprender a aprender”, que para ele, a
educação se desenvolve espontaneamente, pois quanto mais ativa é a mente da criança, mais ela
é receptiva a novos conhecimentos. Na concepção de Froebel o “aprender fazer” deve respeitar
antes de tudo as características naturais da criança.
Podemos observar em seu livro “A educação do homem”, um relato onde ele explica que, se o
adulto observar, por exemplo, o jogo e a fala de uma criança, poderá compreender o nível de
desenvolvimento no qual ela se encontra, significando que a observação das brincadeiras e a fala,
é de grande importância para o sucesso da atividade educativa. Froebel opõe-se ao sistema
educacional vigente na Alemanha, naquele início de século.
Froebel diz que educação não pode restringir-se à mera transmissão conceitual e abstrata, que ele
não despreza, mas considera insuficiente, pois falta o aprendizado prático. O autor afirma que,
sem a matemática, o ensino seria fragmentário, não alcançando o pleno desenvolvimento
almejado pelo ser humano.
No processo de ensino, o interior deve ser externado e o externo deve ser interiorizado,
evidenciando a unidade entre ambos. Apresentar o particular como geral e o geral como
particular, mostrando esse movimento parte-todo e todo-parte, na dinâmica da vida, que promove
Na obra A Educação do Homem, Froebel descreve os alicerces de seu sistema pedagógico. Não
há uma divisão exata de faixa etária, logo suas considerações seguem uma linha mais geral. Seu
conceito de educação está embasado em três elementos inter-relacionados: Deus, Natureza e
Homem.
Sugere que, no início, a educação deve ser “somente protetora, guardadora e não prescritiva,
categórica, interferidora” (Froebel, 1912c, p.7 apud Kishimoto, 2002, p. 59). Sendo assim,
detectou três estágios atrelando a cada fase um tipo de educação que deve respeitar as
características próprias da fase:
a. Primeira infância
Froebel afirma que o mundo exterior e a criança confundem-se e que a distinção entre um e outro
iniciar-se-á quando os adultos à sua volta começarem a destacar os objetos do entorno por
palavras, diferenciando a criança do mundo exterior, mostrando a pluralidade das manifestações
do externo. “Dessa maneira, a criança passa a adquirir consciência de si mesma – como uma
coisa claramente separada, completamente distinta das outras” (Froebel, 2001, p. 43). Nessa fase,
a criança esforça-se para perceber toda a variedade de coisas exteriores que a rodeiam, por meio
dos sentidos. Para tal, faz-se necessário o auxílio dos adultos que o educam, a fim de estabelecer
relações entre os objetos. Com o incremento dos sentidos, desenvolver-se-á também o exercício
do corpo, dos membros, pois a criança desejará alcançar os objetos que estimulam seus sentidos.
O educador sinaliza que a educação deve ser iniciada nessa fase de vida e que essa é uma etapa
de valor excepcional, porque “abarca os primeiros intentos de relação com o ambiente e o mundo
exterior, os primeiros esforços para a interpretação e conhecimento desse e para a compreensão
de sua própria natureza interna” (Froebel, 2001, p. 46).
b. Infância
No segundo período da infância, a criança deve observar bem tudo que a cerca, assim como
aprender a designar as coisas com exatidão, com a palavra precisa e adequada, de forma a
conseguir apontar sua natureza e propriedades. São as palavras que concretizam a percepção que
ela tem das coisas, criando o objeto em sua mente. O desenvolvimento dessa observação
minuciosa virá do contato com a natureza e seus fenômenos. Esse intercâmbio com os
fenômenos naturais é apontado por Froebel como um dos pontos mais importantes na formação
infantil. A brincadeira, que é inerente nessa etapa do crescimento humano, é apontada pelo
educador como o mais alto grau do desenvolvimento do infante nesse período, porque é a
manifestação espontânea do interno, engendrando alegria, liberdade, satisfação, paz e harmonia
com o mundo.Essas brincadeiras devem ser alvo de observação, cuidado e interferências dos
adultos que cercam a criança. Nesse segundo momento da infância, a criança também aprenderá
a sustentar-se de pé e a andar. Para Froebel, inicialmente, ela anda só por andar, encantada pela
nova e importante conquista em sua vida. Depois que levantar e andar passam a ser processos
automáticos, ela passa a explorar uma nova parte do mundo que lhe era inacessível antes de
colocar-se de pé. Pega os objetos, posiciona-os de acordo com suas semelhanças ou diferenças,
interessando-se por tudo que a cerca, desejando conhecer externamente e internamente todos
esses objetos, por isso, muitas vezes, examina-os e observa fazendo uso de todos os sentidos,
quebra e destrói, leva à boca e morde. Faz questionamentos sobre tudo e está desejosa de
“conhecer a essência interior das coisas pela pluralidade de suas manifestações externas”.
(Froebel, 2001, p. 57)
Outra habilidade que será desenvolvida nessa etapa é o desenho, a reprodução dos objetos sob
investigação em pequenas dimensões, favorecendo as recordações e novas associações mentais.
Sobre a iniciação do pensamento matemático, Froebel explana que o desenvolvimento da atitude
matemática contribui para estender a gama de conhecimento da criança e o discernimento das
relações de quantidade eleva extraordinariamente a vida da mesma. A infância é o período para o
desenvolvimento da série de números, com clareza e correção, nunca como sons vazios e mortos,
repetidos mecanicamente. O infante deve ter diante de si os objetos que conta, relacionando os
nomes dos números à quantidade. Froebel realiza uma última ponderação sobre essa etapa do
desenvolvimento infantil: a importância de os infantes serem envolvidos nas atividades
realizadas pelos pais. “São incalculáveis as vantagens, para a educação presente e futura, que a
criança pode obter ao participar dos trabalhos e afazeres de seus pais. Maiores serão quando
esses souberem utilizar essa participação, aproveitando-a, logo, durante toda aprendizagem”.
(Froebel, 2001, p. 64). O autor aponta que esses conhecimentos e as reflexões que surgem dessas
atividades não poderão ser supridos pela escola, pois exigiria um esforço hercúleo por parte dos
docentes. Froebel orienta os pais a responderem os infantes com paciência a suas perguntas
repetidas e infindáveis, de forma que as respostas sejam breves e claras, num linguajar acessível
à criança, e que elas não sejam contestadas sobre suas perguntas, pois é mais relevante colocálas
em condições de encontrarem as respostas por meio de seus próprios conhecimentos que pelas
experiências dos pais, sendo “o mais importante e o que está em primeiro lugar na educação das
crianças é despertá-las para a reflexão” (Froebel, 2001, p. 66).
c. Idade escolar
Neste período os objetos deixarão de ser considerados de modo isolado, como a criança os
percebe, e irão fazer parte de um todo. Para tal, ela deverá ganhar certo distanciamento dos
objetos, distingui-los das palavras que a eles se relacionam. Essa nova fase é marcada pela
vivência, pelo aprendizado, pela interiorização do externo – Froebel caracteriza-o por ser,
predominantemente, o período do ensino em que a criança se transforma em aluno. É nessa etapa
que o indivíduo aprenderá a ler e escrever, materializando a linguagem, tornando-a independente
dos objetos. A linguagem será um meio pelo qual ele alcançará sua independência e seu valor
próprio.
Froebel afirma que a matemática pertence por igual ao mundo interior e ao exterior, ao homem e
à natureza; está condicionada pelas leis do pensamento e desse é expressão visível, podendo ser
percebida nas formas objetivas, nas figuras reais, nas relações do mundo exterior e nos
fenômenos da natureza.
O papel do professor nos ideiais froebelianos, consiste no respeito à natureza, a ação de Deus e a
manipulação espontânea do mundo pelo educando, alicerçada na experiência, a metodologia
consiste em orientar e despertar o aprendizado espontâneo da criança, fazendo desenvolver as
qualidade em prol do aniquilamento dos efeitos. A maior frustração para um criador é ver sua
obra enclausurada e não reconhecida.
Froebel explorou o processo de ensino aprendizagem aliado a prática, pois seu método não se
limitava ao desenvolvimento de habilidades de leitura e escrita, mas englobava a possibilidade de
através desses instrumentos habilitar o aluno a explorar o mundo em sua volta partindo dos seus
interesses. Sobre isso Rodrigues e Simões (2015) discorrem: “O jogo foi um grande instrumento
utilizado Froebel, o que juntamente com os brinquedos serviriam para mediar o
autoconhecimento e exteriorizar e interiorizar a essência divina que ele acreditava existir na
criança” (p.100).
Portanto, é possível elencar que a teoria de Froebel fomenta valores e objetivos fundamentais na
pedagogia. A educação infantil é uma das partes mais importante de todo processo educativo.
Muitos pesquisadores afirmam que os estímulos que uma criança recebe nas fases iniciais da
vida vão afetar diretamente no seu percurso escolar e no seu desenvolvimento futuro.
Sobre o ensino de Geometria, o autor sustenta que se deve iniciar pelos objetos de linhas retas
para, depois, serem trabalhados os curvilíneos. Em seguida, os cubos, prismas e pirâmides
deverão ser explorados. Em sua metodologia, Froebel indicava o uso constante da bola, por esta
ser o centro de excelência da experiência infantil, nela se encontra atividade criadora e cognitiva.
Froebel é considerado por Dewey (1958 apud Kishimoto, 2007, p.45-46) como o primeiro a
descrever alguns princípios essências da prática educativa com crianças.
Nas palavras de Arce (2002a), Froebel foi um dos primeiros educadores a se preocupar com a
educação infantil, bem como considerar a infância como uma fase de importância decisiva na
formação das pessoas, ideia hoje consagrada pela psicologia, ciência da qual foi precursor. Junto
com seus antecessores Comênio, Rousseau, Pestalozzi (seu mentor), entre outros,
“[...]estabeleceram as bases para um sistema de ensino mais centrado na criança”, reconhecendo-
a com necessidades próprias e características diversas das dos adultos, como o interesse pela
exploração de objetos e pelo jogo, afirma Oliveira (2013, p. 54). A metodologia utilizada até
hoje em Educação Infantil deve muito a Froebel. Para ele, jogos e brincadeiras são o primeiro
recurso no caminho da aprendizagem.
Herbart deixa claro a diferença entre educação e instrução. Este cita que o primeiro “[...] se
preocupa em formar o caráter e aprimorar o ser humano e o segundo “[...] veicula uma
representação do mundo, transmite conhecimentos novos, aperfeiçoa aptidões preexistentes e faz
despontar capacidades úteis” (Eby, 1962, p. 14).
Sobre os estudos de Herbart recai a relevância de uma Pedagogia científica, de uma a reforma
educacional crítica e mais a unidade social como ponto de partida para a melhoria dos processos
harmônicos entre os sujeitos viventes.
Pelo estágio que fez com Pestalozzi, Herbart adquiriu conhecimentos mais profundos a cerca de
sua Pedagogia. Herbart acreditava que o ensino não poderia se limitar a um mero educando que
recebe e um educador que transmite suas ideias iam além, afirmando que o papel do educador é
propiciar possibilidades de aquisição de conhecimento. Herbart acreditava na relevância da
experiência sensorial, porém é uma experiência que se dá por meio de conhecimentos já
formalizados pelos estudantes através do ensino escolar e tradicional. Herbart afirma que o
ensino deve progredir do descritivo para o sintético e analítico, ou seja, a criança aprende na
escola formal o concreto e vai para o abstrato.
Favoreto e Galter (2018) corroboram com essa ideia de Herbart e citam à respeito da punição e
da premiação nas concepções desse educador: Na perspectiva psicológica de Herbart, o castigo
físico e a premiação, desde que realizados com muito equilíbrio e firmeza, contribuiriam para
que a criança fizesse associações imediatas entre ação e consequências, aprendendo a se
comportar, controlar suas vontades, de forma a ter seu caráter moldado para a vida adulta).
Johann Friedrich Herbart defende que se as regras não são cumpridas o violador deve ser punido,
porém quando se trata de crianças estes castigos não devem violar a vivacidade da mesma.
Herbart foi o precursor que retirou a Pedagogia do “status” de Arte para ciência da educação. O
educador trouxe também a ideia de nacionalidade para os atos educativos haja vista que segundo
Libâneo (1990, p. 62) ao retratar sobre a finalidade da educação para Herbart: “A educação deve
servir ao cultivo dos valores que a Nação, como espírito universal, detém; a educação deve,
antes, subordinarse à Razão do Estado [...]”. A ideia de que a educação deve formar o cidadão
para o futuro vem de Herbart e que o ensino deve ser predeterminado pelo docente também.
A consideração da pedagogia como autogoverno na obra Pedagogia Geral retrata que o educando
ao desenvolver as capacidades instrutivas de se auto aprender aprimora nas questões éticas e
morais da sua formação. A condição infantil em Herbart é outro aspecto importante do
pensamento educacional do mesmo. Na sua obra o Governo das Crianças, Dalbosco (2018) cita
uma afirmação do próprio Herbart o qual afirma que “Onde o ambiente torna-se tão adequado de
maneira que a flexibilidade infantil possa encontrar por si mesma os trilhos do que é útil e nele se
complete, justamente aí o governo terá mais probabilidade de ter êxito”.
Mesmo considerando a transformação educacional como ponto principal de suas ideias Herbart
se dispôs a afirmar que a autoridade é de suma relevância no ato do aprender. Há que se lembrar
que em seu tempo a autoridade do adulto sob a criança é inquestionável e Herbart adotou essas
concepções para si.
As concepções de Johann Friedrich Herbart vão encontro atualmente no sentido que o mesmo
põe a disposição humana capaz de se aperfeiçoarem constantemente. A noção de pressão
formativa embasada na educação infantil está no cerne de suas teorias onde os diferentes
contextos de aprendizagem devem ser considerados. Quando o controle se torna perversivo e
demasiadamente autoritário a situações de aprendizagem tornam-se bloqueadas. A autoridade e o
amor devem ser juntos na educação de Herbart e assim se dá também na figura do professor em
sala de aula.
Desse modo é preciso considerar que apesar de algumas nuances tradicionalistas da teoria de
Johann Friedrich Herbart partes de suas concepções são utilizadas por educadores do mundo
inteiro atualmente. Suas contribuições são necessárias para estudos profundos sobre suas
colocações educativas e psicológicas em todos os âmbitos sociais e culturais. Na busca de
formação de um homem integral Herbart buscou sempre pautar-se na ética e na moralidade
educativa realizando estudos teóricos - comparativos foi muito além do seu tempo imperial.
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