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APONTAMENTOS DE FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO


(Elaborados por Prof. Doutor Eugénio Corôa)

O que é Filosofia da Educação?

Comecemos por elucidar o conceito de Filosofia já que a questão que se nos


apresenta é composta de dois termos; trata-se de filosofia de educação e
não de uma educação da filosofia, caso existisse.

Filosofia é um termo grego que literalmente significa amor pelo saber, pois,
saber somente dá a ideia de um produto e amor a sabedoria significa
processo. Esta elucidação é uma aproximação etimológica do termo
composto por phileo termo grego que significa amizade e sophia que
igualmente é termo grego equivalente em português, sabedoria.

Sentido popular e sentido técnico profissional do termo filosofia


No sentido popular, filosofia significa uma atitude individual ou de mais
pessoas perante o mundo. Por exemplo, quando alguém diz que a minha
filosofia é esta. No caso da África, o sentido dado é quando falamos de
pessoas mais velhas cuja sabedoria é aproveitada e respeitada pela família
ou então serve para destacar provérbios ou professias (se tu fizeres isso, vai
te suceder isto); este respeito deve-se a duas razões:
1ª. Os dizeres são expressos por mais velhos que achamos mais
experientes. Desta ideia existe uma corrente filosófica em África chamada
sage philosophy representada por Odera Oruka; outro representante, mais
crítico, é Kwasi Wiredu que refere a tarefa do filósofo como sendo, avaliar as
filosofias tradicionais e analizar a sua compatibilidade.
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2ª. A palavra filosofia transmite a sensação de haver um mundo coerente e


sistematizado. Podemos tomar como exemplo, a filosofia dos povos
africanos yorubas que se apresenta muito coerente e sem muitas
contradições.

No uso técnico-profissional, filosofia é uma disciplina científica com


caracteristicas de pensamento lógico, consistente e sistemático que leva a
um discurso igualmente lógico, consistente e sistemático.

No primeiro sentido, a filosofia é pensada como algo acabado, como produto


do pensamento já elaborado; no segundo, concebe-se a filosofia como
actividade do pensamento em si que tem como fim clarificar o nosso
pensamento, nossas ideias, nossa linguagem e para este sentido, a filosofia
corresponderia a um engajamento arduoso numa actividade de pensar que
tem somente o objectivo de satisfazer sem dar respostas acabadas;
portanto, filosofia é estar a caminho, é um processo.

O centro nuclear de toda a filosofia, nas duas vertentes acima referidas, é o


seguinte:
1. Não aceitar nenhum argumento como sendo definitivo e válido para
todos os tempos;
2. Ir para além das evidências empíricas, ser um exercício especulativo e
apaixonado;
3. Ambas devem expressar pensamentos lógicos e consistentes.
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Então, o que é Filosofia da Educação?


A Filosofia de Educação, para a sua percepção, apresenta-se sob diversos
sentidos que a seguir se discriminam:

Sentido Comum
Neste sentido, filosofia da educação quer significar seus pontos de vista
sobre uma escola ou a sua atitude sobre um sistema de educação vigente.
Isto acontece geralmente quando se sente insatisfeito com o sistema de
educação, apontam as falhas através da sua “filosofia de educação”, isto é,
fazem referência com a educação que receberam as pessoas, tanto na
escola assim como em suas casas ou ainda essas ideias podem resultar de
frustrações pessoais com a educação ou com a escola. Estes pensamentos
não são produtos de uma busca deliberada ou desapaixonada aos
problemas da educação. Nesta perspectiva teríamos tantas filosofias de
educação.

Sentido Político
Filosofia de Educação, neste sentido, emprega-se para expressar um
programa de educação ou um plano estratégico da educação. Os políticos
utilizam normalmente um slogan ou uma palavra de ordem.
Por exemplo em Moçambique, antes dizia-se “fazer da escola uma base
para o povo tomar o poder” e hoje em dia com a mudança dos tipos de
políticas também mudaram os slogans; estes slogans têm uma grande
importância ou vantagens na medida em que constituem elementos de união
das pessoas.
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Sentido de Determinada Escola


Filosofia de Educação tem sentido em relação aos objectivos ou ideais que
um determinado director da escola pretende atingir, ou outro dirigente; estes
objectivos são mais como valores e não somente metas. Assim teríamos
tantas filosofias quantas escolas tivermos.

Os três sentidos não podem ser considerados como Filosofia de Educação


embora tenham algo disso; elas contêm vários ideais dispersos, vagos, às
vezes não são buscados numa reflexão sistemática – qual é o tipo de
Homem que queremos produzir, que tipo de sociedade este Homem vai
viver, que tipo de valores iremos transmitir a este Homem?

Sentido Profissional
A característica básica deste sentido é analizar o sistema de educação e o
processo na sua totalidade e reflectir sobre um sistema alternativo.
Esta característica compõe-se na perspectiva de um processo e de produto
ou resultado. Aqui também não existe uma única acepção mas sim há
diferenças com o sentido comum. A primeira diferença é que este sentido é
uma actividade de reflexão e de criticismo ao sistema de educação, são os
filósofos que intervêm e a filosofia é estar a caminho. A segunda é o facto de
ser uma actividade de reflexão que visa um sistema de educação alternativo,
isto é, concepção do homem, o tipo de sociedade e valores que desejamos,
procurar os fundamentos do sistema.

GEORGE NEW SOME, afirma que filosofia da educação é a aplicação da


filosofia na educação. O que significa esta afirmação?
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 A filosofia de educação deve ser montada na perspectiva de


seleccionar as respostas que os filósofos derem à educação num
quadro dos seus pensamentos; significa aplicar os sistemas filosóficos
à educação.
 A filosofia não deveria procurar respostas acabadas senão ajudar a
questionar e a clarificar as ideias e a linguagem. Aplicar os métodos da
filosofia à educação; a análise ao sistema de educação seria feita na
base de uma interrogação constante ou ainda, aplicar o método
filosófico no ensino.
 Usar os sistemas filosóficos para explicar o fenómeno educação, isto
é, perguntar-se o que seria a escola sob o ponto marxista ou
existencialista; a filosofia de educação estaria num segundo plano em
relação a própria filosofia; poderíamos concluir dizendo que a
actividade de pensar sobre a educação e a actividade de pensar,
aparece como derivada da actividade de filosofar ou como um capítulo
de filosofia.

JOHN DEWEY, para este pensador, educação e filosofia significa mesma


coisa vista em vertentes diferentes. Filosofia da educação não é aplicação
externa de ideias feitas a um sistema de práticas com origens e
propósitos diferentes. Em que consiste?
Esta fusão de dois termos é feita em redor a sua temática.
 Ambos procuram soluções aos problemas colocados pela vida mas
em vertentes diversas;
 Os dois conceitos tratam de problemas ligados aos valores;
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 Ambos preocupam-se com a verdade e com a solução


contestualizada dos problemas.

Componentes da Filosofia
No que concerne a problemática da perceção da filosofia da educação,
apresentamos as componentes da filosofia interessantes a esta área que se
resumem em três fundamentais, a saber, metafísica, epistemologia e
axiologia.

Metafísica é a parte da filosofia que estuda a natureza do Mundo e do


Homem; o que é o Homem? Qual é a sua origem? Qual é o seu lugar? De
onde vem e para onde vai? Tem alma ou não? Tem um espírito ou não?
Qual é o papel da alma e do espírito? O Homem tem ou não uma
consciência? E se tem, o quê que sucede à nossa alma ou consciência
depois da morte? Existe Deus ou não? Como se pode conhecer? Como
experimentá-lo? Estas são as questões fundamentais ligadas a fé, ao
destino e até a liberdade. O Homem é um ser livre ou oprimido pela
natureza? Muita destas perguntas não têem respostas definitivas.

O que tem a ver tudo isso com a educação?


Em muitas religiões acredita-se que o Homem é constituído pela alma e
corpo. O corpo é finito e visível enquanto a alma é espiritual. E entre estes
dois elementos a alma é a mais importante. Então se é assim, todo o esforço
da educação é de preparar a alma para a vida além do corpo. Põe-se mais
ênfase a ciência do espírito e tende a influir o Homem a uma vida ascética,
privada de necessidades corporais estimulando necessidades espirituais.
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O pragmatismo nos EUA é uma ciência empírica que parte da ideia de que o
homem é um organismo vivo que precisa de se adaptar ao meio ambiente, é
feito com necessidades, paixões e ambientes e desta forma seria sem
sentido discutir se o Homem tem fé ou não, tem alma ou não. A educação
deve ser preparação para a vida neste mundo, para a vida social e política,
nada do além.

Epistemologia é neste capítulo que falamos da Teoria de Conhecimento. E é


interessante neste nosso aspecto de filosofia de educação porque o
professor tem a função fundamental, na sala de aula, transmitir
conhecimentos. As questões fundamentais da epistemologia são as que se
seguem: o que é o conhecimento em si? O que significa conhecer? Quando
é que dizemos que conhecemos algo? Quais os tipos possiveis de
conhecimento? Qual é o tipo mais válido? Mas todas estas questões que
importância têm relativamente ao professor?
Cada professor ensina uma determinada disciplina e esta tem uma base de
conhecimento próprio que é diferente de outras disciplinas. Daí a
necessidade de o professor saber a fonte do conhecimento que ele ensina e
sua relevância em relação aos outros campos.

Axiologia/ética
Esta parte da filosofia preocupa-se pelo comportamento do Homem não só
enquanto Homem mas também e fundamentalmente enquanto membro de
uma sociedade. A preocupação fundamental desta área da filosofia na
filosofia da educação prende-se com a própria finalidade da vida do homem,
individual e colectiva; a questão de uma sociedade justa, por ser a educação
um processo eminentemente voltado para a colectividade e por ela
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incentivado; a questão do sentido do outro eu do mundo, dos quais depende


o desempenho de todo o processo educativo – facto que exige a mais
estreita reciprocidade entre teoria e prática, entre exigências e
possibilidades, entre realização e desafio.

Filosofia da Educação como Questionamento Radical do Processo


Educativo
No conjunto de problemas diante dos quais a filosofia se situa, a educação
surge como uma questão fundamental. Trata-se do processo que tem por
objectivo integrar o eu individual no eu colectivo, como membro consciente e
crítico.
A educação condiciona todas as dimensões daquilo que chamamos de
existência propriamente humana. O homem se torna humano graças a
educação.
Como a própria filosofia, a filosofia da educação constitui um
questionamento radical, uma procura das últimas razões e consequências,
do sentido da educação.
Quais as bases e pressupostos da educação? Como condicionam os
objectivos e métodos do ensino? Existe alguma relação essencial entre a
prática e a teoria educacional? Quais os meios e instrumentos de que
necessita e de que dispõe para a realização da sua finalidade? Como avaliá-
los?
A questão fundamental é a seguinte: qual a imagem do homem que a
sociedade coloca como imagem-ideal?
Ora, a resposta a esta pergunta indica-nos a finalidade para a qual o homem
deve ser educado, na visão daquela sociedade. Até onde deve ir a educação
e quais as barreiras que se lhes impõe? Quais os pressupostos da teoria
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educacional em relação às técnicas educacionais e os métodos


administrativos?
Cabe à Filosofia da Educação não só provocar tal questionamento, mas
também torná-lo mais agudo e premente, mostrando que ele é não apenas
útil mas necessário.
É sempre salutar uma avaliação crítica do processo educativo e não só das
técnicas de ensino ou de aprendizagem.
É precisamente a filosofia da educação que assume essa atitude crítico-
criativa diante de toda a imagem-ideal, do conteúdo, da finalidade, dos
métodos e dos objectivos da educação.
Para atingir tal objectivo, a filosofia da educação considera três factores
fundamentais: a dimensão da assimilação que arisca transformar o
educando em instrumento ou sujeito passivo do processo educativo; a
dimensão intersubjectiva, que deve levar o educando a uma maior
conscientização das exigências de sua integração na colectividade e a
dimensão crítica, que aguça a capacidade do educando para avaliar, nas
devidas proposições, a realidade em que vive.
A filosofia da educação pretende sobretudo levar àqueles que são
responsáveis pela orientação do processo educativo a descobrir o sentido
radical desse processo, mediante a compreensão radical daquilo que é, pois
essa compreensão abre o caminho para aquilo que pode vir a ser.
A filosofia da educação deseja levar a compreensão do processo educativo
como tal, para que a escolha de objectivos e meios seja mais coerente com
as necessidades fundamentais do homem. Ela não preconiza a aceitação
automática de nenhuma imagem ideal do homem, pois ela as interpreta e
critica a todas, mostrando os pressupostos e as consequências da sua
aceitação.
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Porque visa a educação como processo global, que inclui o homem total, a
filosofia da educação emgloba outras questões que interessam à filosofia – a
questão moral, ou seja, a questão da finalidade da vida humana, individual e
colectiva; a questão da sociedade justa, por ser a educação um processo
eminentemente voltado para a colectividade e por ela incentivado; a questão
do sentido do outro eu e do mundo, dos quais depende o desempenho de
todo o processo educativo – o que exige a mais estreita reciprocidade entre
teoria e prática, entre exigências e possibilidades, entre realização e desafio.

Filosofia da Educação/ Ciências da Educação


1. Distinção
2. Relação e Influências mútuas
- Independência e Complementaridade -
As ciências da educação consideram o educando e, correlativamente, o
educador em termos das condições de aprendizagem, do desenvolvimento
do processo educativo, de suas condições psicológicas, dos meios ou
instrumentos do seu desempenho, das técnicas da sua transmissão.
A filosofia da educação reflecte sobre os fundamentos das opções
envolvidas em todo esse processo e analiza-os.
Não se limita simplesmente a descrever, fundamentar e sistematizar o
processo educativo.
A filosofia da educação situa-se na fronteira entre a filosofia e as ciências da
educação. Neste sentido, ela já é posicionamento, tomada de consciência e
crítica. Ela é uma maneira de ser, tanto quanto é uma maneira de reflectir
sobre o ser.
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Não se trata duma intervenção filosófica na educação, mas sim de um


caminhar juntos para uma resposta à questão fundamental: por que e para
que a educação? Qual é o seu sentido?
Trata-se de perguntas que as ciências da educação pressupõem de certa
maneira resolvidas.
Entretanto, as ciências da educação e a filosofia da educação dizem respeito
ao educando. As principais ciências que se interessam pelo assunto são a
psicologia da educação, que visa as técnicas de transmissão do conteúdo da
educação; a sociologia da educação, que visa o ambiente social que
condiciona a transmissão e a recepção desse conteúdo e a pedagogia, que
formula as teorias explicativas do uso das referidas técnicas.
Já que todas elas, as ciências da educação e a filosofia da educação, se
ocupam do educando na sua individualidade e intersubjectividade, a filosofia
da educação tem como função fundamental, indagar sobre o sentido do
próprio educando, da palavra que o descreve e simboliza.
Por se o processo educativo reflexo dos ideais e das frustrações de todos
nós, a questão do sentido que se atribui ao educando incomoda a cada um,
e é esse incómodo constante que nos obriga a formular questões
fundamentais (que é a educação? Que é o homem? Que é a sociedade?)
tanto à filosofia como às ciências humanas, tanto à filosofia da educação
como às ciências da educação.
Tanto as ciências da educação como a filosofia da educação nos obrigam,
cada vez com maior consistência, a posicionar-nos e a decidir em sentido
crítico, quando se nos apresentam respostas alternativas. Às vezes nos
forçam também a criar respostas onde não há alternativas.
A filosofia da educação não é um monólogo do espírito consigo mesmo, nem
são as ciências da educação a simples anotação e classificação de factos
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empíricos, isentos de toda tarefa de interpretação. Na prática, todas as


formas do saber são solidárias. Portanto, a prática nos mostra que é
impossível ignorar as ciências da educação para fundar a filosofia da
educação e vice-versa. Trata-se de empreendimentos que se completam
mutuamente em benefício do próprio processo educativo.

Filosofia, Ideologia e Educação


A Filosofia enquanto questionamento radical e implacável, e a Educação,
processo que visa a tornar o homem realmente humano, levando-o para o
plano de auto-realização na dimensão pessoal e intersubjectiva, esbaram
necessariamente na ideologia, porque estão intimamente ligadas num
contexto que a provoca, alimenta e contesta.
Pergunta-se, então, qual a ressonância da filosofia e da ideologia sobre a
Educação.
Podemos reduzir a ideologia a uma simples superestrutura, inseparável se
não sinónima do acto de distorcer, enganar, dissimular, racionalizar a
situação vigente, de acordo com os interessesdas forças dominadoras?
Actualmente a ideologia associa-se quase espontaneamente ao jogo do
poder e dominação, com uma visão fechada e auto-suficiente do mundo,
visão dirigida e instrumental.
De facto, a ideologia se apresenta como um conhecimento absoluto da
realidade – do eu, do outro eu e do mundo. Ela se apresenta como
conhecimento sistemático que garante a verdade, como sistema de
pensamento alicerçado na acção, o que explica tudo. Visa a conquista da
preferência daqueles que são mais sensíveis às dúvidaas e que procuram
sobretudo um sentido ou, melhor ainda, uma fórmula que explique a
realidade.
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Actualmente existe uma descrença na ideologia que tem por resultado não a
negação da sua existência ou força, mas um certo reforço do aprendizado
ideológico através dos diversos níveis do processo educativo, sobretudo
através dos meios de comunicação. Esse processo de imposição extrapola a
educação formal. Para impor a ideologia nào se insiste mais que se acredite
necessariamente no conteúdo da ideologia. Basta que se fale sua linguagem
espcífica, o seu jargão, que se assuma o sua maneira de abordar a
realidade, de se expressar. Pouco importa que se acredite ou não nas ideias
como tais. Basta assumir o seu código de comportamento por ela expresso.
Entretanto, no que diz respeito à Filosofia de Educação, não se trata de
erguer uma antideologia, mas sim, dentro da tarefa crítica que lhe compete,
de verificar atentamente o que existe de irreflectido na ideologia. Com base
na evidência precisa, compete à Filosofia da Educação desvendar como
actuam as ilusões e os interesses de toda a espécie, o peso e o alcance de
todo ensino propagandísco. Trata-se de um sério desafio para o educador,
que deve despertar no educando a consciência de não se deixar iludir por
forças que controlem seu destino, que assumam o comando e o controle da
sua realidade, mediante algum código, instituição ou sistema, impingindo-lhe
programas de acção imediata.
Muitas vezes, a transmissão da ideologia visa a estrutura inconsciente que é
o ponto de partida para a construção de todo modelo vivido. A passagem
desse modelo para a realidade vivida é tão subtil que dificilmente se
percebe. No entanto, trata-se dos próprios alicerces de toda a comunicação
do eu com o outro eu e com o mundo.
Na aproximação entre a ideologia-educação e filosofia exige-se o educador,
que leve o educando a desenvolver sua capacidade de avaliar criticamente a
imagem-ideal, analisando, seleccionando e transformando o seu conteúdo,
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decifrando valores que estão sempre presentes e que dependem de factores


históricos e sociais, para descobrir as suas raízes e causas.
O processo educativo deve levar o educando daquilo que o filósofo
Heidegger chama de “existência inautêntica” à “existência autêntica”, a
reconhecer que o próprio saber é resultado de condições, da facticidade
histórico-social do seu ser-no-mundo, da existência concreta, pois toda a
codificação do saber é portadora de determinada visão do mundo.
Compete ao processo educativo levar o educando ao nível da crítica
avaliativa. Esse factor faz com que a ideologia não seja mais sinónimo de
consciência falsa ou de alienação; torna o educando capaz de reconhecer as
verdadeiras forças que activam o seu pensamento e a sua acção individual e
colectiva.

O Proceso Educativo e Imagens do Homem

- A Função da Imagem-Ideal no Processo Educativo


O processo educativo visa levar o educando a assumir e desenvolver
determinada imagem ideal, que implica a assimilação dos bens culturais da
colectividade. Tal imagem-ideal se lhe impõe. Mesmo quando o educando
desenvolve o senso crítico diante dessa imagem-ideal, dela não pode
prescindir pois condiciona até à reacção em contrária. É impossível exagerar
o peso da imagem-ideal no processo educativo, visto que se trata de um
processo que pretende levar as gerações jovens a adquirirem os usos e
costumes, as práticas e os hábitos, as ideias e crenças, ou seja, a forma de
vida da sociedade em que vive.
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Trata-se de um processo que vai desde a influência proposital exercida de


acordo com objectivos e ideais específicos: políticos, económicos, religiosos,
sem que uma forma exclua necessariamente a outra, pois ambas operam
em função de uma imagem – ideal em que se empenham não só as
estruturas tais como o lar, o poder público e a igreja, mas também, talvez em
grau maior, os meios de comunicação social – livros, rádios, cinemas, TVs,
etc.
Cada época histórica forja a sua imagem – ideal, que engloba também a
antimagem-ideal, ou seja, aquilo que a sociedade não aceita como padrão
de comportamento dos seus membros.

O Processo Educativo Clássico: Grécia e Roma


No processo educativo, a imagem-ideal encontra-se num passado
idealizado, numa suposta época de ouro. Trata-se da submissão acrítica a
este modelo. O processo educativo tem por objectivo transmitir esse
património intacto.
Mas a partir dos gregos surge outra imagem-ideal e consequentemente
outro conceito de processo educativo. Este visa o homem como ser livre e
responsável, como aquele que constrói o seu próprio presente sem no
entanto negar o seu passado; o homem que pode até desafiar o seu próprio
destino. O modelo das civilizações orientais é o mandarim, o sacerdote, o
mago, todos depositários e transmissores de uma sabedoria já adquirida. O
modelo que agora surge é o de um homem que procura a sabedoria que
jamais possuí-la totalmente, do homem que, em vez de transmitir
conhecimentos, desperta no outro o ideal de quem procura, prepara o
educando para a vida considerada como aventura, e não como quadro
estratificado; como encruzilhada de interesses e de decisões. Platão
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inspirando-se em Sócrates, lança as bases dessa nova imagem-ideal da


educação e do homem que dela resulta.
Roma prolongará essa imagem-ideal dando-lhe feições próprias sem fugir do
carácter prático e das aspirações nacionais consonantes com a sua peculiar
organizaçao social e política.

A Educação Espartana
A Grécia antiga estava organizada em Cidades-Estados, das quais, as mais
conhecidas são as antagónicas Esparta e Atenas. Passada a época heróica,
guerreiam-se essas cidades e logram grande desenvolvimento à custa das
organizações feudais; surge, então, nova organização política, na qual de
uma ou de outra forma intervêm todos os cidadãos livres e com ela, novo
tipo de vida, de cultura e de educação.
Esparta alcançou grande renome na história da civilização como povo
militarizado, rude e inculto.
Com o fim de fazer grandes conquistas políticas e por ter de manter
submetidos os povos conquistados, tiveram de converter-se em soldados
todos os seus cidadãos livres. A educação espartana, em consequência, já
não era a de um cavalheiro, mas a de um soldado, situa-se numa atmosfera
política e não mais senhoril.
A educação em Esparta ficou por modelo de severidade e dureza. Sob esse
aspecto foi admirada por muitos pensadores, como Platão, que de certo
modo a reproduz na “República”, título da sua grande obra, como solução
para o individualismo e para as divisões de seu tempo.
Ao mesmo tempo que era militarizada, a educação espartana era desportiva
e musical.
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A educação espartana clássica, a do século IV a.C, no qual Esparta triunfa


sobre Atenas, estava inteiramente nas mãos do Estado. Sua intervenção
começa pelo nascimento do menino, sacrificado no caso de não ser robusto.
Até aos 7 anos o Estado delega a criação do menino à família, e a partir de
então até aos 20 anos, a realiza directamente; o menino passa por uma
série de organizações juvenis que lembram as dos países totalitaristas
modernos. Tudo estava subordinado à instrução militar; e a ela se
enderessavam todas as provas e os exercícios. Não havia escolas
propriamente ditas, antes acompanhamentos para a educação dos jovens.
A educação da mulher era especialmente cuidada mas em vista da função
de mãe. Falando a este respeito, Plutarco diz que as donzelas exercitavam
os corpos através da corrida, luta, arremeção de disco e atirar arcos, para
que a concepção dos filhos, em corpos robustos, brotasse com mais força.
Preservando, por outro lado, a comodidade, o resguardo e toda a delicadeza
feminil, acostumou as moças a apresentar-se nas reuniões desnudas como
os mancebos.

Da educação em Esparta há que reter o seguinte:


 Controlo do Estado sobre a Educação;
 Igualdade entre os homens e mulheres, rapazes e raparigas;
 Funcionalidade da educação em relação à organização do Estado
(servir um estado militar).
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A Educação Ateniense
Atenas era um Estado “Democrático” (direito de voto e ser eleito para os
cargos administrativos). Os cidadãos podiam participar nas decisões de
todos assuntos públicos (na assembleia = Ágora = Praça pública).
Não se exigem qualidades especiais para ser eleito ou legislar, porque todos
tinham acesso.
A Educação por outro lado, estava a cargo de qualquer pessoa, podia fundar
a sua escola sem controlo do Estado. Dai que em Atenas surgem várias
escolas.
Havia independência de espírito para participar na assembleia, basta ser
inteligente, bom orador; por isso, nas escolas privadas o currículo tinha um
balanço entre Ginástica por um lado (natação, luta livre, ginástica) e por
outro lado, a Educação musical “humanidades” (ciências humanas e
sociais).
Através desta, aprendiam a ler, a escrever a literatura e aprendiam a arte. O
tipo de ginástica era Estética.
Por isso, entre a ginástica e a educação às humanidades, fez com que fosse
em Atenas onde surgiram os homens mais salientes do que em Esparta.

EDUCAÇÃO EM SÓCRATES
Sócrates nasceu em Atenas em 469 a.C., de família de artesão. Sócrates
realizou a actividade educativa por meio de conversação da palavra falada.
Ele se diverge com os Sofistas. Para ele, a educação não é profissão
remunerável; a sua educação não tinha carácter prático, de proveito pessoal;
era do tipo espiritual e moral.
Os Sofistas empregam diálogo e são ensinamentos para impor ideias ou
servir os fins egoístas; Sócrates o utiliza para convencer e descobrir a
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verdade. Ele se preocupa antes de mais com a vida ética, diferente dos
sofistas.
Filosoficamente, a maior contribuição de Sócrates corresponde, com efeito,
ao domínio da moral, da ética. Para ele, o saber e o conhecimento não só
conduzem `a virtude, mas o saber e a virtude são idênticos.
Sócrates é o primeiro em compreender que a razão é um novo universo
perfeito e superior ao que deparamos naturalmente em nosso derredor. Daí
decorre que na ordem intelectual deve o indivíduo reprimir as convicções
espontâneas que são “opinião” doxa e adoptar, em vez delas, os
pensamentos da razão pura são o verdadeiro “saber” episteme.
Semelhantemente, na conduta prática há-de negar e suspender todos os
desejos e propensões para seguir docilmente os mandamentos racionais.
O fim último da educação era, para Sócrates, a virtude, o bem, a
personalidade moral, e não o Estado como na educação Antiga.
A contribuição de Sócrates para a Educação pode ser sintetizada com o
dizer-se que foi o primeiro em reconhecer como fim da educação o valor da
personalidade Humana, não a individual subjectiva, mas a de carácter
universal. Assim começa o Humanismo na educação.
Como método essa educação intelectual socrática, emprega-se
fundamentalmente o diálogo, com suas duas fases, a Ironia e a Maiêutica.
Usa a ironia como ponto de partida e fez ver ao interlocutor suas próprias
ignorâncias. Com a maiêutica faz como faria uma parteira, nascer, da alma
do interlocutor, ideias latentes.
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PENSAMENTO EDUCACIONAL DE PLATAO


A tese básica de Platão a Educação é “virar os olhos da alma da escuridão
para à luz”. São olhos da alma do homem concreto, imperfeito, finito que
precisa de sair da escuridão.
O tema principal da filosofia política de Platão é a justiça. A educação seria
virar os olhos da escuridão (da injustiça) para a justiça (a ideia perfeita).
Educar o mundo das sombras para o mundo das ideias. Sair do
esquecimento (ignorância) para o Reconhecimento porque para Platão o
conhecimento é reconhecimento.
A Educação seria um processo de reconhecimento do mundo das ideias. A
educação é reconhecer que as crianças ou educandos trazem consigo uma
bagagem (um saber e não são radicalmente ignorantes).
Incomodava a Platão na Grécia, porque não havia uma educação especial
para a cidadania, para a administração do Estado (para os discursos ou
educação para a argumentação); o cidadão que agisse injustamente ou o
funcionário que aplicasse medidas injustas era pela ignorância. Dai que era
necessário educa-lo para reconhecer a ideia de justiça.
Qualquer acção ética (ex: quem mata...) é devido `a ignorância em relação
`a ideia de justiça. Platão daí radicaliza a ideia de que só o filósofo é capaz
de reconhecer a justiça.
É esta virtude para que cada cidadão seja eficiente, competente no exercício
das suas responsabilidades nas Cidades-estado. Para ele agir desta forma é
uma virtude.
Em Platão, virtude não é uma qualidade moral, é conhecimento ou eficiência
(profissional); porque virtude como qualidade moral é como uma
consequência de conhecer bem o que somos, supostos a fazer.
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Importância da Ideia de Platão hoje.


 Ele defende o princípio de divisão do trabalho e que a educação deve
ser funcional a este princípio;
 Defende também o princípio de profissionalização na educação, ou
seja, que cada aluno deve ser preparado consoante `a sua ocupação
futura;
 A educação é um instrumento importante para a acção do Estado que
deve ser justa;
 O secularismo da educação (o estado deve ter o monopólio sobre a
educação).

Votou pelo monopólio porque no seu tempo haviam os sofistas vendedores


do conhecimento. Porque com o Estado haverá:
 O acesso indiscriminado `a educação (educação básica) para que o
cidadão cumpra seus deveres como cidadão;
 Garantir a equidade (justiça social) no próprio processo de ensino,
evitando desigualdade;
 Garante segurança social de emprego.

TEORIA EDUCACIONAL EM ARISTÓTELES


Aristóteles começa por comparar a mente da criança e um pedaço de Argila
(causa material). Essa Argila deve ser moldada para que o produto final seja
um adulto. Isto quer dizer, uma criança é potencialmente um adulto. Na
Argila há uma potencialidade de se fazer um vaso, uma panela, um pote,
etc. E essa moldagem é um processo de educação.
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Só que o fim da educação (moldagem) já está potencialmente presente na


criança ou na semente (na certeza de que na semente potencialmente estão
todas as faculdades representadas da planta a qual se refere). Assim
também a criança cresce e nunca se transformará em animal. O ser adulto já
está representado potencialmente na criança.

A causa última de educação segundo Aristóteles, seria ajudar a criança a


tornar-se adulto feliz ou seja , a felicidade do homem. A felicidade não é vida
cheia de prazer nem de poderes. Segundo Ele, a felicidade é uma vida em
que o homem consegue desenvolver todas as suas faculdades.
A faculdade máxima do homem é a faculdade intelectual ou de raciocínio.
Significa que uma vida boa ou feliz é a vida em que o exercício da razão é
plenamente realizável.

Tipo de actividades que levam o aluno a desenvolver a sua capacidade


Intelectual
Há dois tipos de actividades básicas:
 Actividade intelectual – leva-nos a uma razão teórica;
 Actividade prática – leva-nos a uma razão prática.

Como desenvolver por meio da Educação a Razão teórica numa criança ou


num Homem?
É através de uma intensa actividade, intelectual, cujo propósito dessa
actividade é a descoberta dessa actividade e ou de verdade. E uma das
formas, é a leitura orientada.
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A Razão prática – tem como fim fazer com que o homem saiba conduzir os
assuntos sociais (a sua vida social e particularmente a sua acção política); a
acção prática está mais virada para o plano moral ou ética.

Segundo Aristóteles, só a razão prática é que está aberta para todos, porque
todos homens precisam de viver em sociedades ou na Polis, porque o
homem é um animal político.
Para o método aristotélico é cunhado por habituação; significa envolver o
aluno em actividades que o permitam praticar os valores em vista de uma
forma repetida; não é suficiente dizer a uma criança o que deveria fazer,
como deveria comportar-se ou o que ele deveria saber.

Um bom carácter só forma praticando repetidamente as actividades que


demonstrem esse carácter.
Um homem só se torna justo, praticando a justiça; torna-se comedido
praticando acções com medidas, ou corajoso praticando acções que
demonstra coragem. Repetir as coisas (habituação) para que a criança
aprenda.

ISÓCRATES (436 – 338 a.C.)


Isócrates (inicialmente) reconheceu que a grande contribuição que a
Educação pode nos dar é nos aspectos legais e nos assuntos
administrativos. A educação era para a cidadania (conhecer as leis) para a
cidade e para os assuntos administrativos.
Atenas é uma cidade com um regime democrático, daí que era importante
dominar as leis e os regimes administrativos.
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Isocrates tem a ideia que a educação deve estar virada para as


necessidades concretas da vida (desenvolver actividades profissionais). A
educação tinha aspectos jurídicos:
 A ginástica estava submetida a juristas;
 Um cidadão eloquente;
 Jurista devia ter presença forte e elegante
A matemática servia para resolver conflitos de terras. A literatura
contemplava poesia, teatro, mitologia Grega...

Componentes da Educação
a) Componente do Professor – a tarefa principal do professor é
reconhecer o talento de cada aluno;
b) Componente do Aluno – o aluno deveria ter disciplina rigorosa e ser
muito aplicado aos estudos.
- O aluno devia ter iniciativa e ter boa memória e um bom tacto, boa
conduta moral.

Humanismo na Educação
Para Sócrates, a formação de um homem integral era o fim da educação.

Educação tradicional Romana


A educação em Roma divide-se em três fases.
1ª Fase: a educação neste período era vocacional (ex: as profissões básicas
eram, ser farmeiro ou ser soldado- soldo, aquele que não cultiva recebe pela
defesa e pelos assuntos administrativos).
Havia pouca atenção pela literatura; eram poucos que aprendiam a escrever.
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2ª fase: (meados do séc. III a.C.), começa a educação Grega e há muita


introdução de mitologia grega, dos livros e dos filósofos Gregos. Nesta fase,
os professores que ensinavam as crianças eram os Escravos. Introduziram a
cultura grega, filosofia e mitologia, começando assim uma educação
intelectual.

3ª fase: período da assimilação e transformação da cultura Grega,


principalmente nos seus aspectos jurídicos (na educação jurídica).
Assimilação da mitologia

QUINTILIANO
Viveu nesta época da assimilação e transformação. Escreveu uma obra:
educação de um orador o que lhe preocupava nesta obra era um “homem
ideal”; para ele, o homem ideal era aquele que terá um bom carácter,
moralmente são, mas também eloquente na sua intervenção; na sua
expressão; era um esforço de unir a moral `a política.

Para ele, a educação deveria começar desde a criança, para formar este tal
homem ideal. Só que nos primeiros anos de vida só os pais é que deviam
dar esta tal educação. Por isso, Quintiliano super pontua a educação dos
adultos porque eles devem ser educados para estes educarem as crianças,
a moralização do futuro cidadão.

Foi ele a defender a escolarização obrigatória! Ensino básico (virada de


assuntos ligados a sobrevivência). Aprende a necessidade do ensino
secundário (12 `a 15 anos) sobre o conhecimento das humanidades; dos 17
`a 18 anos era o ensino superior.
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Quintiliano destacou ainda recomendações ao professor:


 Ser generoso;
 Austero;
 Que controla suas emoções;
 Corrigir os erros com base no respeito aos alunos e não com abuso
(pelo facto de eles não saberem)
 Não deve colocar castigos corporais.

Comênios (Bispo)
Filosofo da Educação na Idade média que se logo à queda do Império
Romano.
Na Idade Média há quatro processos na Educação:
 Expansão da educação por via da igreja;
 Fundação das universidades;
 O movimento da reforma e contra reforma na igreja;
 Na técnica: a invenção da Imprensa.

No primeiro processo, a educação foi fundamentalmente moral ligada à


cristianização de toda a Europa. Um dos factores da expansão do saber
foram as viagens, para tentar universalizar o cristianismo.
No segundo processo foi a fundação das universidades na Europa como
consequência da fundação das universidades do oriente (Ex: Cairo)
As primeiras universidades que foram fundadas uma delas é a de Bolonha,
tinha influências das técnicas do oriente e uma das cadeiras era a filosofia
da religião.
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No terceiro processo surgem as reformas como movimento das igrejas


nacionais que procuram confrontar contra o poder central da igreja. Surgem
então as igrejas protestantes.
Ex: Na Alemanha com Lutero.
Contra-reformas, nasce como reacção ao movimento reformista, os
cientistas sofreram muito, na maioria dizimados.
Comênios está na fase de reforma e contra-reforma, com uma tendência ao
engrandecimento do espírito nacionalista. Ele queria fazer uma síntese entre
visão religiosa e visão científica da época. Tese “Ensinar tudo a todos”.
Formar o Bom cristão; um homem dotado de verdade diante de Deus.

Princípios da Educação em Comênios


1o. A aprendizagem deve ser feita no tempo adequado: a educação deve
começar na meninice.
2o. Os exemplos devem preceder a regra;
3o. A mente do educando deve ser preparada para a aprendizagem;
4o. A aprendizagem deve avançar gradativamente;
5o. Primeiro deve se compreender para depois memorizar;
6o. A aprendizagem deve partir do particular para o universal;
7o. Evitar os saltos na aprendizagem;
8o. As boas condições da escola e do estudo, em sítios tranquilos e longe do
barulho;
9o. O objectivo da educação é apontar caminhos e não labirintos.
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EDUCAÇÃO NA IDADE MODERNA


A EDUCAÇÃO NATURALISTA
1o Elemento parte do princípio de que a educação da criança deve ser de
acordo com a natureza (a educação deve basear-se nas experiências
pessoais e individuais, que a criança faz na sua confrontação com a
natureza). Nesta confrontação, a criança desenvolve certos interesses,
certas capacidades; por isso, a educação deve ser o que vai favorecer o
desenvolvimento desses interesses que a criança faz com a natureza.

2o A educação deve respeitar o processo natural do desenvolvimento ou, do


crescimento da criança. Existem leis naturais do desenvolvimento do
individuo que devem ser conhecidas pela educação e por ela respeitada; isto
é, o conhecimento deve ser construído na base do respeito.

3o Elemento justifica porque é que essas leis são naturais. É que essas leis
dizem respeito às capacidades ou potencialidades que se revelam por si
próprias, são existentes ou pré-existentes na criança.
Os três aspectos ou elementos, parte-se da ideia de que a educação deve
partir da experiência que a criança faz com a natureza e que ela deve
respeitar as potencialidades da criança.

ROUSSEAU E A EDUCAÇÃO NATURALISTA


Rousseau tornou-se um pensador de destaque na idade Moderna com a
publicação das suas duas obras-primas, “Contracto Social” que inspirou
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ideias revolucionárias aos franceses, e a obra “Emílio” que trata de


Educação.
Rousseau exerceu profunda influência sobre os pensadores do futuro.
“Partindo da ideia de que o homem é bom no seu estado natural, Rousseau
defende que o papel do educador é afastar a criança dos vícios da
sociedade, permitindo-lhe desabrochar espontaneamente suas
potencialidades inatas” (Cotrim e Parisi, 1993: 225).
Valorizou uma escola activa sem imposição e num clima de liberdade, inclui
a ideia do contracto social na qual os homens juntam-se para entregar uma
parte das suas liberdades, direitos e privilégios ao estado que representa a
vontade geral, em retribuição o governo deve defender os interesses e
liberdade de cada indivíduo ou cidadão.
Ele diz que, esse processo de entrega e defesa de liberdade só é possível
mediante um bom sistema de Educação que prepare pessoas para entrarem
no contracto social de forma livre e consciente.
Ele restabeleceu a atenção e o esforço do educador, as matérias e dos
conhecimentos ou ideias a transmitir sobre o ser que deve ser o beneficiário
(sobre a criança).
Portanto, “Rousseau bem responsável e o autor desta espécie de revolução
coperniciana da Educação, que colocou a criança como indivíduo, no centro
de todas as considerações pedagógicas (Gal, 1976: 85)”.

PESTALOZZI
Johann Heinrich Pestalozzi nasceu em Zurique a 12 de Janeiro de 1746 e
faleceu em Brugg a 17 de Fevereiro de 1827. Na leitura de Emílio de
Rousseau influenciou-se fortemente nas ideias pedagógicas do livro.
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Pestalozzi baseou sua educação na psicologia atenta e amiga das crianças


de maneira mais explícita. Dedicado a educar as crianças das classes mais
pobre, ele trás à tona o direito inalienável que todos nós temos (direito à
educação), e tornou universal a educação elementar.
A observação e a percepção sensorial são também para ele a base do
saber. Pestalozzi acredita na existência de princípios e leis universais, mas
cada elemento de natureza se desenvolve por forma, a alcançar a forma
mais perfeita possível no próprio tempo.
Temos em Pestalozzi ideias principais como:
 A linguagem deve estar sempre ligada à observação, ao objecto ou
conteúdo;
 O fim principal do ensino elementar não é ministrar conhecimentos e
talentos ao aluno, mas sim desenvolver e aumentar os poderes de sua
inteligência;
 O saber deve corresponder ao poder e a aprendizagem à conquista de
técnicas;
 As relações entre o professor e o aluno devem ser baseadas e
reguladas pelo amor;
 A instrução deve estar subordinada ao fim mais elevado da educação.

FROBEL E A EDUCAÇÃO NATURALISTA


Friedrich Wilhelm August Frobel nasceu na Turingia (Alemanha) em 1782.
Com situação política tensa no seu tempo (Alemanha reaccionário), julgaram
nas suas obras ideias socialistas e ateias, a qual o proibiram brutalmente o
funcionamento dos Jardins da Infância em 1852. Esse ataque à Frobel de 70
anos, foi tão terrível que o levou a morte em 1852.
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Foi no trabalho como guarda-florestal e no contacto direito com a vida nas


florestas banhou sua personalidade de um grande amor pela natureza, que
se reflectiu em toda sua obra educacional. Sua obra Educação do homem,
emana ideias pedagógicas impregnadas de fé religiosa.
Frobel dizia que todas as coisas existentes no universo estão ligadas entre si
por um mesmo laço que as aproxima, um laço que é a expressão da
presença de Deus. Segundo ele, ‘em todas coisas vivem e reina uma lei
eterna’, que é Deus. Deus é a única fonte de todas as coisas.
Frobel salienta que esse princípio divino que em tudo penetra, também está
presente em todos seres humanos. Compete à Educação conscientizar-nos
deste princípio divino que habita cada um de nós. O processo educacional
deveria ser conduzido em busca de três objectivos finais:
 A paz do homem consigo mesmo e seus semelhantes;
 A paz do homem com a natureza;
 A paz do homem com Deus.

CRITICAS DE HERBART AOS PENSADORES DA EDUCAÇÃO

Herbart elabora uma doutrina científica sobre a educação. Segundo ele, a


educação não devia apenas oferecer ao homem informações ou formação
para à vida produtiva, mas antes de tudo, saber cuidar as informações e elas
tivessem finalidade moral qual seja, a formação do carácter, nisso é
necessário estar presente a educação religiosa.
Os pólos extremos como razão e a emoção, a herança do passado e as
perspectivas do futuro, a liberdade do indivíduo e a autoridade das normas
sociais deveriam ser conciliados em prol de um comportamento sadio. Aqui
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a educação deve optar por meio-termo, nisso também a consistirá na


elaboração dos programas de ensino.
Assim, o indivíduo deveria receber através da educação, uma dosagem
equilibrada de informações científicas e ao mesmo tempo humanas, bem
como conhecimentos teóricos e ensinamentos práticos.
Herbart pretendia uma educação equilibrada e coerente. Isso traz-nos uma
reacção, porque se nós temos mesma natureza humana não é sinónimo
duma educação uniformizada com conteúdos uniformizados.
Se se deve modificar as ideias para a formação de carácter, teremos
pessoas de caracteres iguais porque teremos mesmos professores. Será
que todos professores são responsáveis? Será que gozam duma
capacidade e aptidão mental para essa tarefa? Não haverá professores
mercenários?
Portanto, uma vez que se duvida a bondade natural da criança, também
podemos na sociedade duvidarmos a bondade do adulto e assim como a do
professor.
Herbart afirma que o fim da educação é a virtude, que consiste no acordo da
vontade com as ideias éticas, as quais se baseiam em juízos estéticos. E
isso é possível graças a três momentos essenciais: governo, a instrução e a
disciplina.

PENSAMENTO CONTEMPORÂNEO SOBRE A EDUCAÇÃO

Vamos nos cingir mais em duas importantes correntes: o Pragmatismo e o


Marxismo.
Pragmatismo com origem nos Estados Unidos;
Marxismo tendência da chamada “Europa continental”.
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No Pragmatismo com destaque a John Dewey na sua teoria de Escola


Democrática, fala da relação entre a escola e a democracia.
Há duas razões porque nos anos 20 favoreceu nos estados unidos o
surgimento do pragmatismo.
Primeiro, nos Estados Unidos há uma grande revolução da ciência e da
tecnologia. Por isso, o pragmatismo é pensamento, reflexão filosófica sobre
a área da ciência e da técnica.
Segundo, verifica-se o crescimento do individualismo sob o ponto de, vista
social (o interesse das pessoas pelas coisas materiais).
As pessoas estavam mais interessadas pela utilidade prática das ideias. O
uso das ideias pelas suas consequências práticas
Em geral, o pragmatismo não tem interesse pela metafísica (estudo sobre
essência, fundamentos, os princípios que regem determinadas coisas).
No pragmatismo o homem é definido na base das suas experiências. O
homem é um ser experimentador, ele existe em confronto direito com o seu
meio; na forma como experimenta o seu meio.
Interessa a eles o homem na dimensão dos seus interesses, desejos,
ambições, necessidades na satisfação das quais o homem usa toda a sua
inteligência.
A filosofia pragmática baseia-se mais na relação do homem e a experiência.
A teoria de, conhecimento nele afirma que conhecimento é tudo
experimentável ou o conhecimento tem origem na experiência.
Para o pragmatismo o conhecimento é igual à experi6encia humana.
Conhecimento é resultado da interacção do homem com os seres vivos e
não vivos; mas no centro de tudo é resolver problemas, dar resposta à
situação complexa da vida do homem.
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No marxismo como corrente está a relação entre Educação e Poder, o poder


no seu sentido lato ou a “educação como reprodução social”. Com Marxismo
a teoria crítica na educação, particularmente sobre a educação e a Ideologia
ganham mais força.
A dialéctica marxista aparece como uma abordagem possível de
interpretação da realidade e da realidade educacional. É a dialéctica de
Marx, construção lógica do método materialista-histórico que fundamenta o
pensamento marxista. É a interpretação da realidade educacional que
queremos compreender.
Marx dizia, “é preciso um método, uma teoria de interpretação para descobrir
como ocorre a vida dos homens em sociedade e as leis fundamentais que
definem a forma organizativa dos homens ”.
A contribuição do método na educação foi em descobrir nos fenómenos
categorias mais simples para chegar à categoria síntese de múltiplas
determinações.

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