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Módulo: INTRODUÇÃO À FILOSOFIA

INTRODUÇÃO/DEDICATÓRIA AO ESTUDANTE
A Filosofia é um campo do saber que procura, essencialmente, exercitar a razão e não dar respostas, isto
é, levantar questões e elaborar respostas por si mesmo, e não encontrar respostas já elaboradas. O que é Filosofia?
Que cada estudante, ao longo do módulo, descubra a resposta dessa questão por meio da caminhada do seu
filosofar. O filosofar é uma grande aventura, não uma aventura qualquer, senão a aventura do pensar, isto é,
experiência pensante. Nunca se esqueça de que o objectivo é aprender o conteúdo filosófico e sua contribuição na
gestão humana de pessoas, não apenas concluir o módulo e transitar para o próximo bloco. Qualquer um pode
terminar o módulo, o bloco, o curso e ter o Certificado, mas só o determinado aprende. Leia cada trecho do
conteúdo com atenção redobrada, não se deixando dominar pela pressa.
Quanto mais aprofundar os seus conhecimentos mais se diferenciará dos demais estudantes da turma, da
instituição e do mundo em geral. Os estudantes com conhecimentos aprofundados se tornam os melhores.
Entretanto, o nível de aprendizagem diferencia os estudantes apenas certificados dos capacitados.
A aprendizagem filosófica não decorre apenas em sala de aula, por isso procure sempre complementar a
sua formação, iniciada em sala de aula, fora do espaço virtual onde estuda, buscando novas informações e quando
necessário implementar o saber e executar as actividades que não foram possíveis durante as aulas. Entenda que a
aprendizagem não se faz apenas no momento em que está em sala de aula, senão no seu quotidiano. Ficar atento
às coisas que estão à sua volta e das pessoas com as quais se relaciona e é chamado a gerenciar permite
encontrar elementos para reforçar aquilo que foi aprendido e exercitar a sua razão, ainda melhorar o nível de
relacionamento com todos.
Critique o que está aprendido e o que está ao seu redor, verificando, constantemente, a aplicação de todo
o saber no seu dia-a-dia. O aprendizado só tem sentido quando pode, efectivamente, ser colocado em prática.
Aprender a filosofar precisa de leituras sucessivas para que melhor possa compreender o que estuda e as pessoas
da nossa (con)vivência, não ler apenas nas vésperas das avaliações e dos exames. Como dizia António Cabrita
"(…) academicamente, a única coisa que nos faz crescer é a leitura, pois ela nos faz saber aquilo que antes não
sabíamos, e nos faz entender aquilo que antes não entendíamos".

Por: R. CHICHONGUE
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PARTE I: A FILOSOFIA E AS SUAS NOÇÕES BÁSICAS

I. TENTATIVAS DE DEFINIÇÃO DA FILOSOFIA


Existem várias respostas da definição da Filosofia, estas encontradas desde a Grécia Antiga até à Época
Contemporânea. Mediante o contexto sócio-histórico e espacial, isto é, circunstâncias ou problemas de sua época,
cada filósofo apresenta a sua concepção filosófica e do que é a Filosofia, daí que para Jean-Paul Sartre não existe
Filosofia, senão filosofias. Além disso, o conceito de Filosofia pode variar conforme a escola frequentada por cada
filósofo e corrente filosófica inserida. Daí que se torna praticamente impossível elaborar uma definição
universalmente válida de Filosofia. Definir a Filosofia é realizar uma tarefa metafilosófica, isto é, é fazer uma
Filosofia da filosofia. Em primeiro lugar, vamos apresentar uma concepção tradicional do que é filosofia, em segundo
lugar, as respostas de alguns filósofos.
Etimologicamente (quanto a sua origem), a palavra filosofia (philosophia) surge de dois termos gregos:
Philos (= amigo, amizade, amor) e Sophia (= sabedoria), que se traduzem em amor à sabedoria, apaixonado pela
aprendizagem, gosto pelo saber, ou seja, em filósofo. A paternidade desta palavra é atribuída ao Pitágoras, por volta
do século VI a. C.. Contrariamente aos sofistas (Protágoras de Albdera, Górgias de Leontini, Hípias de Elis, Pródico,
Antífon, Lícofon, Crítias, Trasímaco, etc.) que se consideravam dono ou proprietários da sabedoria e, por isso,
podiam ensiná-la, Pitágoras recusou esse atributo e afirmava que: o homem, o filósofo, não sendo detentor da
sabedoria, ele é apenas amigo ou amante da sabedoria, quem está sempre em sua busca. Só Deus é sábio.
Sem a intenção de ignorar as várias e as diferentes definições supracitadas, senão aproveitando algumas
delas, podemos dizer que o objecto de estudo da Filosofia é o todo/universo, pois não deixa “nada” de fora. Esta
totalidade é composta por três níveis:
 Natureza – que engloba o cosmos, onde se afirma a existência/a vida do homem.
 Sociedade – que abrange as relações sociais entre os homens.
 Pensamento – que abarca o interesse pelo conhecimento de tudo que se refere ao nível da razão.
A Filosofia surge como um saber amplo e obtido racionalmente. Em suma, Filosofia é uma atitude (um
aprender a pensar e a agir), e não um conjunto de conhecimentos e teorias a serem memorizados. Neste âmbito,
para Kant, os professores não devem ensinar a Filosofia aos alunos, senão o filosofar, isto é, devem ensiná-los a
exercitar a própria razão.

Por: R. CHICHONGUE
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II. FUNÇÕES (ASPECTOS TEÓRICOS E PRÁTICOS) E MÉTODO PRINCIPAL DA FILOSOFIA
A Filosofia, como conhecimento sistemático, é um conjunto de saberes estruturados e organizados
mediante épocas histórias, áreas de saber filosófico, correntes filosóficas e escolas de pensamento. A Filosofia é um
saber sobre o mundo.
Além disso, a Filosofia é uma maneira de estar no mundo, é um modo de existir, tornando deste modo a
existência humana mais consciencializada. A Filosofia conduz-nos à nova forma de ver o mundo, de viver, de
pensarmos e de (re)agirmos às circunstâncias em que nós mesmos nos encontramos. Por isso, as tarefas ou
funções da Filosofia podem ser vistas em duas perspectivas:
 Teórica (Especulação/Saber pensar): A Filosofia proporciona ao homem um procedimento crítico em
relação ao seu próprio pensamento, aos diferentes saberes e opiniões, aos valores, às crenças e aos
poderes. Isto é, a Filosofia permite ao homem ordenar as suas ideias e reflectir sobre todas as condições
de sua vida.
 Prática (Experiência/Saber agir): A Filosofia faculta ao homem a capacidade de ser tolerante perante as
opiniões e interesses alheios, a trabalhar para a paz, para o bem comum, para a justiça, para o respeito,
para uma ordem pública salutar e para a liberdade e autonomia do próprio homem no geral. A amplitude do
conhecimento de cada homem é demostrado agindo.
A Filosofia torna o Homem lúcido e CONSCIENTE (em termos de problemas e desafios) do mundo em que
vive, livre e autónomo, fazendo com que ele se torne corajoso no pensar e no agir. No contexto actual (da fase da
globalização, das mudanças rápidas, da interculturalização), ela dota o homem de pressupostos necessários para
desafiar as tensões delas resultantes.
Contrariamente às ciências exactas que usam um método científico fundamentado na observação e na
experimentação de factos para a construção de conhecimento, a Filosofia, para a sua pesquisa, baseia-se no
pensamento, na razão; como diz Platão, no raciocínio puro. A produção de conhecimento é feita por meio de
elaboração de questões, de argumentos, de ideias…. Ao longo das épocas históricas, vários métodos foram
sugeridos para a pesquisa filosófica, podendo destacar: o método analítico, o método socrático, o método sintético,
o método dialéctico, o método fenomenológico, etc.
Portanto, no seio desta pluralidade, dois (2) métodos são sugeridos e tem sido usados, estes que
englobam os anteriores mencionados:
1. O método justificação lógico-racional/Especulativo - sem se apoiar em factos, mas sim no raciocínio/na razão,
procura oferecer explicação lógica e conclusiva de tudo o que o homem estuda.
2. O método crítico-analítico/reflexão crítica - apoiado em factos para o conhecimento da realidade e agir sobre ele,
consiste na superação do vivido através dum questionamento permanente, isto é, da sistemática análise e crítica.
Reflectir significa tomar consciência da realidade que se vive, das circunstâncias que envolvem a vida.

Por: R. CHICHONGUE
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III. A FILOSOFIA E AS DUAS FASES DA EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO HUMANO


A Filosofia foi/é sempre um campo do saber científico ligado essencialmente à razão. Apesar dessa
radicalidade, ela não tomou a sua investigação numa e única perspectiva. A sua tradição histórica, em todas várias
épocas, é caracterizada por um cogitar diferente. Neste contexto, a Filosofia Antiga (dos séc. VII-VI d. C) é vista sob
duas fases, designadamente:
a) Pré-socrática/Cosmológica/Naturalista – virada à explicação do Cosmos/da Natureza/do Mundo físico (physis).
Ou seja, a Natureza é o centro das suas atenções.
a) Socrática/Antropológica – estudo do homem (anthropos). Ou seja, o homem é o centro das suas contemplações.
1. Filósofos naturalistas
Os filósofos naturalistas sãos também chamados de primeiros filósofos pelo facto de terem iniciado a
explicação racional das coisas, isto é, de se terem libertado do mito. São chamados primeiros filósofos,
essencialmente, os filósofos de Mileto: Tales, Anaximandro e Anaxímenes. Além destes, inclui-se também filósofos
de outras regiões, tais como: Pitágoras, Heráclito, Parménides, Anaxágoras, Zenão, Demócrito, etc. Entre os
filósofos antropológicos podemos destacar Sócrates, Platão e Aristóteles.
ESCOLA JÓNICA
Tales de Mileto (639-545 a. C)
Foi quem se levantou sistematicamente a questão "qual é a origem de todas as coisas/Qual é a causa
última ou o princípio supremo de todas as coisas?" e, pela primeira vez, procurou responder esta questão de forma
racional. Para este, a substância primordial de todas as coisas é a água (H2O). Os seus argumentos eram os
seguintes:
- Toda terra é rodeada de (e flutua na) água.
- Todo Ser vive de água.
- A água é o único elemento que se pode transformas em vários estados: liquido, sólido e gasoso.
Anaximandro de Mileto (610-547 a. C)
Anaximandro considera que o princípio de todas as coisas não é um elemento particular ou específico (a
água, o fogo, o ar, o número, o Ser etc.), senão o apeiron/infinito/indeterminado.
Anaxímenes Mileto (588-524 a. C)
Tal como Tales, para Anaxímenes, princípio das coisas é uma matéria determinada. Contestando a ideia
de Anaximandro, ele diz que "do infinito não pode surgir algo porque não tem princípio nem fim (do nada, nada pode
aparecer) ". Por isso, na sua opinião, o elemento que origina todas as coisas é o ar. Ele apresenta esta ideia sob os
seguintes fundamentos:
- O ar, dilatando-se, dá origem ao vento e depois às nuvens.
- Em elevada densidade o ar forma água, e depois a terra e as pedras.

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ESCOLA PITAGÓRICA
Pitágoras
Nascido em Salmos, Pitágoras acredita que o primórdio de todas as realidades é o número. Os princípios
matemáticos (os números) são importantes para a compreensão da ordem das coisas e a unidade do mundo: os
corpos resumem-se em formas geometrais, que são conexos pontos. Por isso para compreender a Matemática é
necessário ter fé nos números. Para Pitágoras existe apenas dez (10) números, que são de zero (0) à nove (9), o
número que vem depois de nove, o dez (10), é Deus.
Na Grécia Antiga, o número Deus (dez) era sagrado porque encontrava-se além de todos números e,
também, porque constituía a primeira repetição dos números anteriores - assim é com todos outros números que se
seguem. Não obstante, na actualidade, a questão dos números sagrados contínua em vigor: Dez (10)
mandamentos; os números três (3) e sete (7) são os mais destacados na Bíblia, seja antigo ou novo testamento. O
número Um (1) é o único PAR-IMPAR, pois é o mesmo que faz par e faz impar.

Heráclito de Éfeso
Sem ter fundado nenhuma escola filosófica, Heraclito acredita que o logos/razão constitui a base de todas
as coisas. O pensamento de Heraclito resume-se na experiência do DEVIR: tudo é vir-a ser, isto é, tudo muda ou se
transforma. O mundo, o homem, as coisas estão em contínua transformação, por isso, tudo é como um rio - é
impossível tomar banho duas ou mais vezes no mesmo rio. Estas mudanças/a realidade é o conflito de contrários:
dia e noite, verão e inverno, paz e guerra, saúde e enfermidade, bem e mal, vida e morte. A lei que regula os
movimentos é a razão (a lei intrínseca), esta inerente ao Deus único. Aos conseguem viver segundo o logos,
Heraclito confia a missão de ajudarem os outros a fazerem o mesmo. Os que estão acordados que procurem
despertar os que ainda dormem.

2. Filósofos antropológicos
Sofistas
Sofistas é uma denominação inerente aos pensadores gregos (Protágoras de Albdera, Górgias de Leontini,
Hípias de Elis, Pródico, Antífon, Lícofon, Crítias, Trasímaco, entre outros) que, na segunda metade do séc. V a. C,
declaravam-se sábios (possuidores de muito conhecimento) e assim procuravam preparar os cidadãos para a vida
política, ensinando a arte da persuasão: técnicas ensinadas aos jovens para que fossem capazes de defender a sua
opinião e de elaborar fortes argumentos em favor de si. Os sofistas cobravam os seus serviços ou ensinamentos. Na
Grécia Clássica eram cidadãos apenas os jovens nascidos em Atenas e de ambos pais atenienses, excluindo deste
modo as mulheres, os velhos, os estrangeiros e os escravos.

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Apesar desse exibicionismo, o aspecto positivo dos sofistas é de terem introduzindo o antropocentrismo,
isto é, o estudo do próprio homem – O HOMEM MENSURA/O HOMEM COMO MEDIDA DE TODAS AS COISAS/O
HOMEM COMO CENTRO DO UNIVERSO (expressão de Protágoras). Os sofistas não são considerados filósofos,
pois não tinham amor pela sabedoria e nem respeito pela verdade (aspecto negativo), sendo capazes de defender
qualquer ideia, desde que lhes trouxesse algum benefício. Estes corrompiam o espírito dos jovens, visto que faziam
o erro e a mentira valer tanto como a verdade.
Sócrates (470-399 a. C)
Sócrates era filho de pai escultor, Sofronismo, e mãe parteira, Fenareta, entre os quais cresceu e recebeu
maior influência das suas profissões, esta que se reflectiu em toda sua vida. Do pai, escultor, que não produz tronco
apenas dá forma ou imagem, Sócrates acreditava que assim fosse com os indivíduos. A partir da profissão da mãe,
parteira, Sócrates partia da ideia de que todos indivíduos estão com cabeças grávidas, deste modo a sua função (a
função do educador) é de ajudá-los a parir, isto é, a descobrirem a verdade.
Diferentemente dos sofistas, Sócrates era moralista (virtuoso), pois ensinava os homens a serem bons
cidadãos, isto é, a amarem o saber e a respeitarem a verdade, mesmo que a vinda a tona desta que prejudique.
Interessado pelas questões antropológicas, ele apelava o auto conhecimento, colocando o seguinte imperativo:
Conhece-te a ti mesmo. Assim, filosofar é contemplar a si mesmo (e aos outros). O autoconhecimento conduz ao
reconhecimento da própria ignorância – Só sei que nada sei. Com esta expressão ele procura invocar a humildade
da consciência diante dos seus próprios limites.
Todo aquele que reconhece a própria ignorância procura o saber, isto é, disponibiliza-se para qualquer
aventura da aprendizagem e do pensamento. Contrariamente à situação anterior (dos sofistas), aquele que se julga
detentor do saber fecha-se às novas aprendizagens. Sócrates desenvolveu dois (2) métodos pedagógico-filosóficos,
ambos baseados em série de questões (no processo dialógico), nomeadamente:
1. IRONIA - estimula no educando a admissão da sua ignorância.
2. MAIÊUTICA – conduz o educando ao alcance da verdade já existente em si, uma vez que a verdade reside no
interior de cada um.
Sócrates foi acusado (pela classe política, dos poetas e dos retóricos) por descrença aos costumes, aos
deuses da sua nação e por desviar os jovens dos princípios (com)patrióticos por meio dos seus ideais. Por sua vez,
ele foi preso e condenado pelo povo a beber o veneno de nome cicuta na praça pública.

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BIBLIOGRAFIA
AMORIM, Carlos et al. Introdução à Filosofia. 10º e 11º Anos. Areal Editores. 2002.
MARCONDES, Danilo. Iniciação à História da Filosofia: dos pré-socráticos à Wittgenstein. 8ª ed. Rio de Janeiro.
Jorge Zahar Editor. 2004.
MONDIN, Baptista. Introdução à Filosofia. Paulinas Editora. 1982.
REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia. Vol. 1. 10ª ed. Paulinas Editora. 2007.
VICENTE, Neves. Razão e Diálogo: introdução à Filosofia. Lisboa. Porto Editora. 1998.

Por: R. CHICHONGUE

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