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FILOSOFIA NO ENSINO MÉDIO:

Como se constrói o conhecimento?

Trabalho de Conclusão de Curso –


Artigo Científico apresentado ao
Programa especial de formação de
docentes do Instituto Colemar, em
cumprimento às exigências para a
obtenção do certificado e registro
profissional equivalentes à
licenciatura plena na área de
RESUMO

Este estudo tem como objetivo investigar a contribuição do ensino de filosofia no Ensino Médio no
Brasil, visando à qualidade na formação dos alunos. Os objetivos específicos são: refletir sobre a
concepção que o acadêmico tem da Filosofia e da sua importância para a formação humana e
profissional; apontar a necessidade de se fazer uma reflexão sobre a importância e o papel do
ensino de Filosofia no Ensino Médio. As inquietações que deram origem ao presente trabalho
foram os seguintes: Como a filosofia pode auxiliar no processo de conhecimento? Como despertar
no aluno do ensino médio o desejo por um conhecimento diferenciado de todo o currículo escolar?
A partir do levantamento dessa questão, buscou-se um apoio bibliográfico em publicações relativas
ao tema proposto, pautando-se em observações de estudiosos, como Kohan (2002), Lipman
(2002) e Luckesi (2005), entre outros. Os resultados apontam que, para que o ensino de Filosofia
contribua com a formação dos educandos do Ensino Médio, é preciso que seja ministrado por
docentes graduados e licenciados nesta disciplina, pelo fato de terem maior preparo para trabalhar
a diversidade de assuntos e questionamentos filosóficos que deverão ser apresentados em sala de
aula.

Palavras-chave: Filosofia. Ensino Médio. Conhecimento. Formação.

1 INTRODUÇÃO

O sistema educacional brasileiro vivencia grandes transformações: uma


das grandes mudanças foi o retorno da Filosofia como conteúdo obrigatório para o
Ensino Médio,  conforme a Lei nº 11.684, de 2 de junho de 2008. Conquista essa
que tem levado toda a comunidade escolar a ter contato com essa disciplina, cujo
conteúdo curricular chega com a missão de romper paradigmas e mostrar que sua
importância para o educando, e que, sem a mesma, as coisas se tornam mais
complexas e de difícil compreensão.
A disciplina também traz um novo desafio, que é a mão de obra
qualificada. Pois as SEDUC (Secretaria de Estado de Educação) não possuem
números de professores habilitados para que o conteúdo da Filosofia possua
qualidade e atinja os objetivos sugeridos pelas Propostas Pedagógicas. É comum
encontrar graduados em Pedagogia e História lecionando Filosofia – realidade
essa que compromete a credibilidade do ensino dessa disciplina, pois em vez de
se criar amantes do saber, poderia estar criando aversão ao saber proporcionado
pela filosofia. Conforme ela seja inserida, poderá enriquecer a formação dos
educandos, ou poderá se tornar uma porção de informações sem sentido. A esse
respeito, Kohan (2002, p. 22) argumenta o seguinte:

Não considero interessante apenas que a filosofia ocupe espaços. Dentro


e fora das escolas, importa, fundamentalmente, compreender o que ela
faz nesses espaços, o tipo de filosofia que se pratica (e ensina), sua
relação com outras áreas do saber, com a instituição escolar e as outras
instituições da vida econômica, social e política do país. Convém,
especificamente, considerar a relação que professores e alunos
envolvidos com a filosofia estabelecem entre si e com ela. Importa, antes
de mais nada, o tipo de pensamento que se afirma e se promove sob o
nome de filosofia.

Cabe, portanto, ao professor de Filosofia se preocupar com a boa


formação de seus alunos, visto que uma boa formação é aquela que tem como
base o conhecimento, que conduz à sabedoria, que colabora para o bem do
educando e de sua comunidade, e que o leva a refletir a respeito de tudo que o
cerca e não somente com o que lhe será útil saber e fazer.
Este estudo tem como objetivo investigar a contribuição do ensino de
filosofia no Ensino Médio no Brasil, visando à qualidade na formação dos alunos.
Os objetivos específicos são: refletir sobre a concepção que o acadêmico tem da
Filosofia e da sua importância para a formação humana e profissional; apontar a
necessidade de se fazer uma reflexão sobre a importância e o papel do ensino de
Filosofia no Ensino Médio.
As inquietações que deram origem ao presente trabalho foram os
seguintes: Como a filosofia pode auxiliar no processo de conhecimento? Como
despertar no aluno do ensino médio o desejo por um conhecimento diferenciado
de todo o currículo escolar?
A partir do levantamento dessa questão, buscou-se um apoio bibliográfico
em publicações relativas ao tema proposto, pautando-se em observações de
estudiosos sobre o ensino de Filosofia nas escolas de Ensino Médio brasileiras.
Kohan (2002), Lipman (2002) e Luckesi (2005) foram alguns dos aportes teóricos
utilizados para a elaboração deste trabalho.
2 DESENVOLVIMENTO

2.1 Definindo a Filosofia

A palavra filosofia, de origem grega, significa: filos (amor); sofia


(sabedoria). Conforme Cotrim (1988, p. 17), “[...] a Filosofia tem o sentido
etimológico de amor à sabedoria”.
A Filosofia se revela às pessoas como um jeito de entendimento que tanto
ajuda a compreender a sua concretude, em se tratando de significado, como lhe
dá uma direção para a sua ação, um caminho a seguir ou, pelo menos, para lutar
por ele. Ela fixa um quadro organizado e lógico de mundividência, sustentando,
como resultado, uma proposição organizada e lógica para o agir.
O ser humano não age por agir e, sim, com algum objetivo. Os objetivos
restritos são os que dizem respeito ao alcance de vantagens instantâneas, como:
adquirir um Smartphone, uma TV sofisticada, exercer um cargo importante, entre
outros. Os objetivos mais amplos são os relacionados ao sentido da existência:
procurar o bem da população, emancipar os que sofrem opressão, lutar pela
libertação de uma comunidade, etc. Isso talvez se deva ao fato de que a vida só
tem sentido se vivida em razão de valores que dignificam. Assim, a filosofia é um
conjunto de entendimentos que abrange e dá rumo à existência humana em seus
diversos valores.
Neste contexto, a filosofia é definida por Politzer (apud LUCKESI e
PASSOS, 2004, p. 83) “[...] como uma concepção geral do mundo da qual decorre
uma forma de agir”. Assim, a Filosofia é a manifestação de uma maneira coerente
de interpretar o mundo que torna possível uma forma de agir também coerente e
segura.
A citação de Basbaum (1978, p. 302) corrobora essa posição acima:

A filosofia não é, de modo algum, uma simples abstração independente


da vida. Ela é, ao contrário, a própria manifestação da vida humana e a
sua mais alta expressão. Por vezes, através de uma simples atividade
prática, outras vezes no fundo de uma metafísica profunda e existencial,
mas sempre dentro da atividade humana, física ou espiritual, há filosofia
[...] A filosofia traduz o sentir, o pensar e o agir do homem.
Evidentemente, ele não se alimenta da filosofia, mas, sem dúvida
nenhuma, com a ajuda da filosofia.

A Filosofia pode ser caracterizada de três formas: pelos conteúdos ou


assuntos, pela função que desempenha na cultura, pela maneira como explana
tais assuntos. Em se tratando dos conteúdos, atualmente, a Filosofia se refere a
conceitos como o bem, beleza, justiça, verdade, no entanto, nem sempre ela
tratou de temas como esses que foram mencionados.
Segundo Aranha e Martins (2003), a princípio, a Filosofia se dedicava de
todos os assuntos, reunindo todo o saber. Entretanto, a Filosofia deu início a um
novo jeito de tratar os temas a que passa a se dedicar, estabelecendo uma
alteração na maneira de conhecimento do mundo que vigora até hoje.
Em seu trajeto histórico, a Filosofia busca resposta para as questões
percebidas e a cada ocasião são respondidas a partir de várias reflexões que
formam correntes ou escolas de pensamentos.
Segundo Aranha e Martins (2003), quem melhor definiu a Filosofia foram
Platão (427-347 a.C) e Aristóteles (384-322 a.C), que a viram como um discurso
surpreso e assustado com o mundo. Para eles, a Filosofia obriga o indivíduo a
olhar o banal como não mais banal. Portanto, a Filosofia é o vocábulo com o que
se desbanaliza o banal. Tudo com o que se tem costume torna-se motivo para
uma suspeita; tudo que é habitual fica sob a apreciação minuciosa de uma
sentença indignada, e então, as pessoas deixam de se aceitarem como
acostumadas com as coisas que até então estão estavam acostumadas.
Conforme Aranha e Martins (2003), uma definição é que a filosofia se
resume em pensar sobre o pensamento, o que leva a pessoa a destacar o caráter
de segunda ordem da disciplina e tratá-la como uma reflexão sobre gêneros
particulares de pensamento – formação de crenças e de conhecimento – sobre o
mundo ou partes significativas do mundo.
Boa parte da filosofia se dirige mais para a forma pela qual se conhecem
as coisas do que propriamente para as coisas que se conhecem, sendo esse um
dos motivos pelo qual a filosofia parece necessitar de conteúdo. Entretanto,
debates sobre um critério definitivo de verdade podem determinar, na medida em
que aconselham o emprego de um determinado critério, quais as proposições que
na prática são verdadeiras. Os debates filosóficos da teoria do conhecimento têm
desempenhado, ainda que de forma indireta, importante resultado sobre as
ciências (CUNHA, 1992).
Diversas partes1 da filosofia e diversos elementos que compõem a visão
de mundo deveriam estar integrados. Dessa forma, conceitos à primeira vista
muito distantes podem vir a atingir outros conceitos que cercam mais de perto a
vida cotidiana. A filosofia precisa ser admirada por si mesma, e não por seus
efeitos indiretos de natureza prática. E uma excelente opção para garantir esses
bons efeitos práticos é se dedicar em encontrar a verdade, buscando-a, sem
qualquer interesse.

2.2 O sentido da filosofia para a educação

As vivências da maior parte dos homens, as que tecem a estrutura de


suas personalidades e fixam o decorrer de suas vidas, são consideravelmente
ignoradas no nível mental e social. Conforme a pessoa se aproxima da
experiência interior do homem, dos métodos que se precisa para se entender essa
experiência, vai-se entrando em um novo mundo, de mitos e significados, de
valores particulares, de imagens mentais e simbolismos criativos.
Os problemas que se originam desse mundo interno de experiência,
quando traduzidos e coisificados pela pessoa, representam a amplitude e
profundidade da personalidade do homem. Aparecem fatores extremos, como:
amor e ódio, vida e morte, alegria e pena, e tudo isso assume relações de tensão
que devem estar prontas para a conscientização.
As concepções e teorias filosóficas limitadas do homem são as que
consideram melhor vê-lo, ou como vítima fadada a uma programação genética,
construída no período de milenário, ou de uma história de reforço de
comportamento complicada; ou apenas como joguete em um desafio de forças

1
Metafísica, Física, Ética e Lógica.
psíquicas inconscientes e pressões sociais externas, buscando satisfazer suas
intuições e pulsões.
A educação se encontra perante esses desafios, decisivos para
estabelecer suas metas e suas práticas. Segundo Gadotti (1979), educar para a
cidadania exige considerações a respeito da condição humana.
A partir das relações que estabelecem entre si, as pessoas produzem
modelos, condutas, instituições e conhecimentos, cujo aperfeiçoamento é
efetivado pelas descendências sucessivas, o que lhes permite apreender e mudar
os modelos valorizados em uma determinada cultura. Então, é a educação que
conserva a vida, bem como mantém a memória de uma sociedade, permitindo-lhe
a sobrevivência. Por isso, Aranha e Martins (2003) asseguram que a educação é
uma instância mediadora que possibilita a reciprocidade entre as pessoas e a
sociedade.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais incorporam essa tendência e a
incluem no currículo de forma a compor um conjunto articulado e aberto a
novos temas, buscando um tratamento didático que contemple sua
complexidade e sua dinâmica, dando-lhes a mesma importância das
áreas convencionais (PCNs, 1997, p. 25).

Uma tomada de posição pressupõe, necessariamente, escolher valores,


concordar com/ou discutir normas. Capacidades essas que podem ser
desenvolvidas pela aprendizagem. Logo, análise crítica das várias situações torna
possível contextualizar histórica e culturalmente, propiciando o desenvolvimento
da capacidade de analisar criteriosamente. Dessa forma, as opções particulares
serão conscientes, além de respeitarem os valores que expressam a vida da
pessoa. Os diferentes pontos de vista e até conflitos entre as normas respondem
de maneira distinta aos diferentes pontos de vista e interpretações do mundo.
Neste sentido, a Filosofia adquire mérito e se coloca de frente a esses
novos desafios, analisando, interpretando, entendendo como se processa a ação
dos professores e dos alunos. A filosofia pode assombrar muita gente, mas, para a
maioria, é tema de especialistas, causando, por isso, desinteresse. No entanto,
nas instituições escolares, é necessário abrir espaços para estimular o gosto pela
Filosofia sem causar, no educando, uma repulsa ao trabalho de raciocinar
(GADOTTI, 1979).
Segundo o autor acima mencionado, dar um lugar para essa disciplina no
currículo do Ensino Médio é levar o discente a pensar e questionar, a voltar-se
sobre seu pensamento e refinar suas respostas, para que tenha uma possibilidade
real de explorar temas relevantes.
Em se tratando de trabalhar com o desenvolvimento dos jovens e das
novas gerações de uma sociedade, segundo Luckesi (2005, p. 31-32), a Filosofia

é a reflexão sobre o que e como devem ser ou desenvolver estes jovens


e esta sociedade. [...] O educando, que é, o que deve ser, qual o seu
papel no mundo; o educador , quem é, qual o seu papel no mundo; a
sociedade, o que é, o que pretende; qual deve ser a finalidade da ação
pedagógica. Estes são alguns problemas que emergem da ação
pedagógica dos povos para a reflexão filosófica, no sentido de que esta
estabeleça pressupostos para aquela.

O ensino dessa disciplina muito contribui para a formação de uma


consciência crítica, bem como para se entender as formas de soberania e
opressão que fazem parte de todas as relações sociais da vida, manifestadas por
ideologias e convenções. Deve-se aprender a pensar, através da Filosofia,
fazendo-se uma censura incessante à cultura dominante e as manifestações que
levam a um pragmatismo reducionista da vida. A premissa consiste em
reconhecer que todas as pessoas são filósofas, enquanto pensam e agem
racionalmente (GRAMSCI, 2006). É função primordial de a escola proporcionar
uma formação que dê condições para o aluno aprimorar a racionalidade.
Ao se trabalhar a Filosofia, nota-se que os alunos do Ensino Médio têm
tendência natural para a curiosidade, admiração, questionamentos, debates e
reflexões. Esses são traços cognitivos do interesse que o aluno faz para descobrir
como as coisas acontecem no mundo. A respeito disso, argumenta Gadotti (1979,
p. 28) que
uma filosofia para crianças e jovens não estaria preocupada em formar
discípulos para perpetuar um certa corrente filosófica, uma certa visão de
mundo, mas para ajudar a pensar e a transformar o mundo. Conceber a
filosofia como uma especialidade é derrotá-la antes mesmo de iniciar a
batalha por ela.
Ainda, segundo Gadotti (1979), é preciso fazer com que os alunos, por
meio de debates, trabalhem os conceitos e as questões filosóficas que aparecem
na vida diária. É necessária a reflexão crítica e autônoma do pensar. Também é
necessário aperfeiçoar a reflexão filosófica nos estudantes, os valores que guiam
o povo, o que é ser justo, como é um bom politico, o que é moral, o que dá sentido
à vida, para que servem as armas, entre outros. Consequentemente, experiência
filosófica para os alunos é imensamente apaixonante, pois os conduz à busca da
verdade e das respostas, preenchendo sua inquietação.
Sobre isso, Kohan e Leal (2000, p. 70) afirma que

serão as crianças que construirão suas filosofias e seus modos de


produzi-las. Não é mostrando que as crianças podem pensar como
adultos que vamos revogar o desterro de sua voz. Pelo contrário, nesse
caso haveremos cooptado, o que constitui uma outra forma de silenciá-
las. Seria mais adequado preparar-nos para escutar uma voz diferente
como expressão de uma filosofia diferente, uma razão diferente, uma
teoria do conhecimento diferente, uma ética diferente e uma política
diferente: aquela voz historicamente silenciada pelo simples fato do
emanar de pessoas estigmatizadas na categoria de não adultos.

A Filosofia é interdisciplinar, pois seu pensamento crítico funde com as


outras matérias por meio dos debates, espírito de autocorreção, sensatez e a
coerência. Pode ser ministrada a partir de assuntos reais e atuais com variados
tipos de textos: literários-prosa e verso, jornalismo, musicais, pinturas, entre
outros.
Lembrando que não se pode esquecer nunca dos textos filosóficos, pois
esses são meios de conhecimento, haja vista que se tem que passar por eles para
conhecer os filósofos, para conhecer suas ideias, ampliando sua compreensão de
mundo, e para que descubram novos sentidos para sua existência. Tudo isso, irá
ajudar os alunos em suas escolhas, ações na convivência humana e com o meio
ambiente. Conhecer os problemas que foram apresentados e as soluções
propostas, também conhecer os conceitos e o vocabulário da Filosofia.
No entanto, de acordo com Gadotti (1979), o professor deve evitar que as
aulas dessa matéria se transformem somente em debates sobre temas
controversos, escolhendo uma seleção de textos que tenham objetivos evidentes
e bem definidos. O caminho para levar o educando deverá ser trilhado a partir da
tomada de consciência de sua ingenuidade sobre os fatos até o entendimento da
trajetória de sua vida.

2.3 União da Educação e Filosofia para a aprendizagem escolar

Ao se propor trabalhar a Filosofia no Ensino Médio, é preciso encontrar


caminhos que permeiam e deem a oportunidade de estimular o senso crítico, a
criatividade e a expressividade dos alunos. Trata-se de uma disciplina que leva os
leva, frequentemente, a pensar, conhecer, informar-se e criticar, construindo o seu
conhecimento.
Ultimamente, a Filosofia vem adquirindo relevância na educação de todos
os alunos, nas escolas públicas e privadas. Este ascendimento do ensino de
Filosofia tem sido assunto de conferências e debates de Simpósio nos cursos de
Filosofia das Universidades. E é consenso entre professores e alunos que essa
matéria estimula o espírito crítico.
A Filosofia é essencial a todas as formas de obter conhecimento, é aberta,
maleável sem se limitar a grau de instrução, no entanto, requer uma postura crítica
e disciplina intelectual.
Ampliando mais o leque de discussão, quando uma escola oferta um
elemento de ensino, ela precisa levar o educando a perceber que este elemento é
uma sucessão que o levará rumo ao conhecimento mais amplo. Conhecimento
esse que não poderá ser visto e entregue como um elemento pragmático, ou seja,
mais uma série de regras que impedem suas ações. Neste sentido, acredita-se
que pode se estabelecer uma profunda ligação entre o principio epistemológico
elementar da Filosofia e sua função, que é contribuir para que o educando pense
por si só, o que é possível quando “[...] se oferece às crianças um curso de
pensamento filosófico” (LIPMAN, 2001, p. 13).
A Filosofia no Ensino Médio é, conforme com sua importância para a
formação dos indivíduos, um suporte, uma contribuição teórica e prática que
amplia os horizontes para o espírito crítico. Para Lipman (2001), da mesma forma
que o ensino da História leva a pensamentos históricos, o ensino de Filosofia deve
fazer o mesmo, independente da faixa etária do aluno. Trabalhos práticos que
apresentam de forma filosófica a dinâmica da educação e, de modo especial, a
necessidade da filosofia no Ensino Médio.
Em se tratando de ensinar Filosofia, nessa etapa da educação, há que se
lembrar que no setor educacional ela é um elemento em torno do qual circulam a
troca de ideias sobre a definições de conceitos e das relações que são
estabelecidas entre os modos de aprendizagens e seu significado. O ensino da
Filosofia permeia vertentes distintas que precisam ser ampliadas e
constantemente atualizadas em assuntos temáticos bem atraentes. Logo, a sala
de aula é um ambiente propício para que os alunos desenvolvam seu ponto de
vista, seu estilo de pensamento e sua perspectiva de vida.

2.4 O ensino da Filosofia no Ensino Médio

A disciplina de Filosofia, por causa de sua história instável e de seu


caráter facultativo nas escolas de Ensino Médio, sempre encarou questões
condizentes à construção de sua identidade, de sua função e, por conseguinte,
com o preparo esmerado dos conteúdos programáticos, que pudessem lhe
oferecer certa particularidade. Esse conjunto de questões deixa a disciplina de
lado perante as outras.
Isso tem causado uma situação muito variada no que diz respeito à
valoração da disciplina, baseada na subjetividade junto às diretorias, às escolas,
aos educadores e educandos. Acredita-se que um trabalho de reflexão e análise
em conjunto poderia superar, ou, ao menos, diminuir tais problemas, bem como
estimular as partes a buscarem a construir uma identidade e homogeneidade que
torne a disciplina mais sólida no Ensino Médio.
No decorrer de sua trajetória, a disciplina de Filosofia passou por muitas
mudanças quanto ao seu lugar, à sua função e à sua importância junto ao trabalho
de formação educacional. Foi excluída dos currículos do antigo segundo grau, na
época da Ditadura Militar e, em meados dos anos de 1980, por causa da luta de
muitos profissionais do setor, que requeriam o retorno da disciplina aos currículos,
a Filosofia retomou o seu lugar no Ensino Médio, embora em cunho facultativo,
visto que havia a opção de duas, entre três disciplinas: Sociologia, Psicologia e
Filosofia, e sem carga horária definida. Entretanto, novas propostas curriculares
passaram a ser feitas para atender as reivindicações da nova Lei de Diretrizes e
Bases da Educação – LDB.
Nesse intervalo, a disciplina de Filosofia, mesmo ocupando uma condição
facultativa, teve atenção de muitos professores e estudiosos que, ligados às
universidades, asseguraram uma reflexão aprofundada e sustentaram uma forte
discussão sobre a relevância da disciplina no currículo de Ensino Médio. Esse
trabalho teve como resultado uma Proposta Curricular para o Ensino de Filosofia,
elaborada para Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas (CENP) 2, nos
fins da década de 1980.
Em 1996, a nova LDB foi publicada sob o n. 9.364/96. A partir dessa
época, essa lei passou a orientar os modelos pedagógicos formulados, de 1997
em diante. Tais modelos tiveram como resultado a elaboração dos Parâmetros
Curriculares Nacionais de Ensino Médio (PCNEM), que não se referiam a temas,
como Filosofia, Sociologia, Psicologia, entre outras, como disciplinas, e sim, como
setores de conhecimento próprios dos outros setores já constituídos em
disciplinas, tais como História, Língua Portuguesa, etc.
O art. 36, § 1º, III, da LDB/9.394/96 define que “[...] ao final do Ensino
Médio os educandos devem demonstrar domínio dos conhecimentos de Filosofia e
Sociologia necessários ao exercício da cidadania”.
Em se tratando da implantação da LDB 9.394/96 e dos PCNEM, uma
equipe de profissionais da área de Filosofia, inspirados pela leitura da nova LDB,
exigiam um lugar definido no Ensino Médio, para essa disciplina. Tal proposta
transformou-se em Projeto de Lei (n. 3.178/97) cuja finalidade era obrigar os
Estados brasileiros a introduzirem em suas grades curriculares a disciplina de
Filosofia como disciplina obrigatória no Ensino Médio (GALLINA, 2000).
Tal projeto acabou sendo aprovado pela Câmara dos Deputados e pelo
Senado, porém, vetado pelo ex-presidente da República, Fernando Henrique

2
Órgão extinto pelo ex-governador do Estado de São Paulo, Mário Covas.
Cardoso (FAVERO et al., 2004). Essa disciplina, no entanto, continuou em
algumas escolas de Ensino Médio, sendo importante a reflexão filosófica para
organizar as ideias e desenvolver uma postura mais ativa diante do mundo,
fatores primordiais para formar cidadãos críticos.

CONCLUSÃO

Para que o ensino de Filosofia contribua com a formação dos educandos do


Ensino Médio, é preciso que seja ministrado por docentes graduados e licenciados
nesta disciplina, pelo fato de terem maior preparo para trabalhar a diversidade de
assuntos e questionamentos filosóficos que deverão ser apresentados em sala de
aula. O professor tem condições para desenvolver um pensamento crítico,
fornecendo aos alunos a possibilidade de raciocinar, discutir concepções e
desenvolver o próprio pensamento a respeito das teorias e as questões que lhes
foram propostas e, ainda, construir seus próprios textos.
Ao ensinar a referida disciplina, o professor precisa se preocupar em passar
um real conhecimento e não somente aquilo que considerar que seja útil aos
alunos, pois, apenas iluminado pela verdade, este estará terá condições de
discriminar, avaliar e escolher o que o levará a adquirir autonomia intelectual.
No ato de educar, o professor de Filosofia poderá até utilizar determinados
métodos ou meios, que servirão para auxiliar o discente a adquirir saberes que o
farão a se aprimorar como cidadão.
Dessa forma, a tarefa da Filosofia na Educação é a de convidar o aluno a
superar as concepções ingênuas e superficiais da sociedade em que se encontra,
ensinando-o a pensar racional, abstrata e abrangentemente acerca da realidade.
A tarefa também é instigar o educando a pensar sobre si mesmo para aprender a
se criticar, bem como pensar sobre o mundo para entendê-lo, para, em seguida,
procurar saber qual o seu papel diante do mundo que o cerca e diante do seu
próximo.
Com a leitura deste trabalho, chega-se à conclusão de que a Filosofia
contribui, de forma significativa para o desenvolvimento educacional dos alunos.
Qualquer matéria fica mais fácil de aprender quando se ensina com base no
princípio aberto, crítico e de rigor lógico próprio da Filosofia, ajudando os alunos a
refletirem sobre os valores que lhes são importantes.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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