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A HISTÓRIA DA ARTE RUPESTRE NO BRASIL

1 ARTE RUPESTRE
Arte rupestre, desenho, pintura ou trabalho semelhante em pedra,
geralmente da era antiga ou pré-histórica, embora continuasse a ser
praticada em algumas áreas da África durante o século XIX e possivelmente
mais tarde, inclui pictogramas (desenhos ou pinturas), petroglifos (entalhes
ou inscrições), gravuras (motivos incisos), petroformas (rochas dispostas em
padrões) e geoglifos (desenhos no solo).
Os antigos animais, ferramentas e atividades humanas retratadas
muitas vezes ajudam a esclarecer a vida cotidiana no passado distante,
embora as imagens sejam frequentemente simbólicas e não representativas
(ALCÂNTARA, 2015).
Um único sitio tem arte que data de vários séculos diferentes, a arte
rupestre pode ter desempenhado um papel na religião pré-histórica,
possivelmente em conexão com mitos antigos ou atividades de xamãs, sítios
importantes estão localizados na Europa, Ásia, África, Austrália e América
do Norte e do Sul (ALCÂNTARA, 2015).

1.1 Ferramentas técnicas


Os artistas da pedra usaram uma série de técnicas e materiais, para
desenhar ou pintar, eles faziam pigmentos de argila finamente moída,
minerais ou carvão os artistas aplicavam pigmentos como sólidos, da
mesma forma que o giz é aplicado a um quadro-negro, ou sopro pigmento
em uma superfície por meio de um cano (BALDONI, 2016).
Além disso, eles ligaram os pigmentos com água, urina, sangue
animal, sucos de plantas ou gema de ovo e aplicaram a mistura nas
superfícies usando os dedos ou pincéis feitos de pelos de animais, penas ou
palitos partidos. As gravuras eram feitas com os dedos em paredes macias
ou com ferramentas de sílex em superfícies duras, alguma das pinturas r da
Europa são artes arte rupestres (BALDONI, 2016).
A primeira caverna pintada reconhecida como sendo do Paleolítico,
isto é, da Idade da Pedra foi Altamira, no norte da Espanha, especialistas
consideram que o trabalho foi feito por humanos modernos (Homo sapiens)
em vários estágios entre cerca de 36.000 e 15.000 anos atrás. A arte ali
descoberta apresenta pinturas e gravuras, muitas vezes em combinação, por
exemplo, as figuras de bisões que predominam foram primeiro gravadas e
depois pintadas.
Essas imagens foram executadas em um bicromo vívido de vermelho
e preto, e algumas também têm tons de violeta, outras figuras incluem
cavalos, veados, personagens antropomórficos, impressões de mãos e
estênceis de mão. Em muitos casos, o criador das imagens explorou os
contornos naturais da superfície da rocha para adicionar uma qualidade
tridimensional ao trabalho (BALDONI, 2016).
A França também abriga alguns dos exemplos mais famosos de arte
rupestre, incluindo a caverna de Lascaux, perto de Montignac, a arte lá foi
feita durante vários períodos, já em 17.000 anos atrás, é composto por
aproximadamente 600 animais e símbolos pintados e desenhados e cerca
de 1.500 gravuras. As pinturas foram feitas sobre um fundo claro em vários
tons de vermelho, preto, marrom e amarelo.
Em alguns lugares, os andaimes foram claramente usados para
alcançar o alto nas paredes e no teto, entre as pinturas mais notáveis estão
enormes representações de auroques; um animal de dois chifres de
aparência curiosa (apelidado erroneamente de “unicórnio”), talvez concebido
como uma criatura mítica; veado vermelho com chifres fantásticos;
numerosos cavalos
As cabeças e pescoços de vários veados, que parecem estar
nadando em um rio, uma série de seis felinos; dois bisões machos; e uma
rara composição narrativa, no fundo de um poço, que tem sido interpretada
como um acidente de caça ou como uma cena xamânica.
Os muitos animais representados no Hall of Bulls, a famosa galeria da
caverna, são touros cujas cabeças são retratadas de perfil, mas cujos chifres
são retratados de frente, este é um exemplo de “perspectiva distorcida”, em
que a abordagem do pintor é mais descritiva do que óptica, a arte rupestre
na Ásia e as pinturas rupestres na Europa foram consideradas os primeiros
exemplos de arte figurativa, mas as descobertas relatadas no século 21
questionaram essa suposição.
Os arqueólogos conseguiram datar as pinturas rupestres na Indonésia
há cerca de 40.000 anos, as obras incluem um trio de criaturas semelhantes
a vacas na ilha de Bornéu e uma enorme cena de caça na ilha de Celebes
(Sulawesi).
Este último retrata vários teriantropos, figuras compostas de humanos
e animais, que parecem estar perseguindo porcos selvagens e algum tipo de
bovídeo anão. O site também contém estênceis de mão, que o artista fez
pressionando uma mão limpa contra uma superfície rochosa e soprando
pigmento ao redor dela por meio de um cano.
Uma das maiores coleções de arte rupestre da Ásia é encontrada no
centro-oeste do estado de Madhya Pradesh, na Índia, os abrigos rochosos e
cavernas de Bhimbetka apresentam mais de 100 pinturas, algumas das
quais com mais de 10.000 anos. As obras mais antigas, que exibem grande
vitalidade e habilidade narrativa, foram categorizadas em diferentes períodos
pré-históricos, as mais antigas, datadas do Paleolítico Final (Idade da Pedra
Velha), são constituídas por grandes representações lineares de
rinocerontes e ursos.
As pinturas do Mesolítico (Idade da Pedra Média) são menores e
retratam atividades humanas, além de animais, desenhos do período
calcolítico (início da Idade do Bronze) mostram as concepções de agricultura
dos primeiros humanos. Finalmente, pinturas decorativas que datam dos
primeiros tempos históricos retratam motivos religiosos, incluindo deuses
das árvores e carruagens mágicas do céu (BALDONI, 2016).
A arte rupestre de Bhimbetka oferece um raro vislumbre de uma
sequência de desenvolvimento cultural, desde os primeiros caçadores-
coletores nômades até os cultivadores estabelecidos e suas expressões de
espiritualidade (BALDONI, 2016).
No leste do Brasil, o Parque Nacional da Serra da Capivara apresenta
pinturas que podem ter entre 25.000 e 50.000 anos, se eles provarem ser
tão antigos, a arte desafiaria a visão de longa data de que os humanos
migraram para as Américas do norte, através do Estreito de Bering, cerca de
13.000 anos atrás, situada em abrigos rochosos das falésias íngremes do
parque, as pinturas retratam humanos e animais, muitas vezes em cenas
complexas como caça, confrontos e atividades sexuais.
Às vezes, os humanos são mostrados dançando ou se movendo em
procissão, o veado vermelho é a figura mais comumente representada;
outros animais incluem o tatu, capivara, anta, onça e lagarto, bem como a
extinta ema gigante. As figuras às vezes são pintadas em contorno,
preenchidas ou decoradas com padrões, o vermelho é a cor mais
onipresente, mas amarelo e cinza também foram usados.
Na província de Santa Cruz, Argentina, a Cueva de las Manos
(“Caverna das Mãos”) tem impressões de mãos sobrepostas em uma
variedade de tons, constituindo alguns dos melhores exemplos de um
assunto comum na arte rupestre, eles datam entre 13.000 e 9.500 anos
atrás. Embora a caverna leve o nome das impressões das mãos, ela
também contém cenas de caça e representações de animais como
guanacos.

1.2 Contexto histórico


Quando os portugueses chegaram ao Brasil encontraram, ao invés de
pedras preciosas como queriam, encontraram figuras aparentemente
incompreensíveis gravadas nas pedras, estas gravuras hoje chamadas de
gravuras rupestres datam de aproximadamente, entre 3.000 e 10.000 anos
atrás, ao longo deste tempo muitas destas gravuras já foram destruídas e
algumas continuam ameaçadas (LINKE, 2013).
No Nordeste, Rio Grande do Norte e Paraíba, é onde se encontra a
maior concentração de arte rupestre do mundo, o clima seco, a vegetação
impenetrável e a dificuldade de ocupação em algumas áreas, contribuíram
para conservação dessa arte, no Piauí é onde se encontra as figuras
rupestre mais antigas do Brasil.
Os temas retratados nas gravuras e pinturas rupestres geralmente
estão ligados ao cotidiano, como caça, fertilidade, objetos domésticos ou de
trabalho, acredita-se que muitas cenas tinham carácter mágico- religioso,
como uma preparação para o que ainda seria vivido, como uma situação de
caça por exemplo (LINKE, 2013).
As pinturas rupestres pode ser feitos com os dedos ou com a ajuda
de utensílios, as cores, obtidas do carvão (preta), do óxido de ferro
(vermelha e amarela) e, às vezes, com cera de abelha. Substâncias líquidas,
água, clara de ovo, sangue são empregadas nas pinturas, as diferentes
técnicas e cores (muitas vezes superpostas) são atribuídos sentidos
variados.
No Brasil existem três estilos predominantes na arte rupestre, os
traços geométricos pertencem à tradição agreste, as figuras humanas são a
marca da tradição Nordeste, já as gravuras na pedra formam a tradição
Itacotiara.
Uma região remota do interior do Nordeste do Brasil oferece pistas de
como a humanidade chegou às Américas, arqueólogos que fazem pesquisas
lá desde a década de 1970 dizem que há grandes evidências de que os
primeiros povos chegaram à América do Sul muito antes do que se pensava
(LINKE, 2013).
Nas falésias, cavernas e paredes de pedra da Serra da Capivara, no
interior quente e seco do Nordeste do Brasil, há sinais de uma presença
humana antiga, que desafia as teorias estabelecidas de como a humanidade
chegou às Américas, esses desenhos, retratando os tempos pré-históricos
da fauna da região e cenas da vida cotidiana de seus antigos habitantes,
como aquele geralmente descrito como o beijo (LINKE, 2013).
Os artefatos encontrados aqui estão entre os mais antigos das
Américas, esta ferramenta de pedra, datada de 30.000 anos, guardada no
museu do parque é um exemplo. A pesquisa aqui começou no final da
década de 1970, quando a arqueóloga Niede Guidon, hoje com 86 anos e
ainda trabalhando na região, ouviu pela primeira vez os moradores locais
sobre as pinturas.
Suas descobertas apoiaram a teoria, e depois muito desacreditada,
de que a humanidade chegou à América do Sul antes de chegar à América
do Norte e milhares de anos antes do que se pensava. As escavações aqui
mostraram que a humanidade chegou aqui há cerca de 30.000 anos, eles
ficaram porque naquela época era uma região muito favorável, com muita
água.
Todos os anos uma equipe patrocinada pelo governo francês vem à
Serra da Capivara por alguns meses para continuar cavando, os locais
agora estão cobertos novamente para proteção, já que as escavações deste
ano foram concluídas, arqueólogos que registram os artefatos coletados
dizem que suas últimas descobertas datam ainda mais, e não são apenas os
cientistas que vêm, mas cerca de 20.000 turistas visitam o parque todos os
anos para ver as paisagens, pinturas e os dois museus aqui instalados.
Isso apoia negócios e empregos muito necessários na região, as
descobertas arqueológicas na Serra da Capivara e a criação de um Parque
Nacional deram um impulso muito necessário na economia desta região
empobrecida (PROUS, 1992).
E não são só os turistas que têm vindo, outro bom exemplo é a
cerâmica enviada para todo o país, seus produtos são decorados com
reproduções feitas à mão das pinturas encontradas na rocha, vende-se
muito para os turistas que vêm nos visitar, mas hoje mais da metade dos
produtos enviados para outros estados, para lojistas que vendem os
produtos.
Os pesquisadores dizem que a Serra da Capivara guarda muitos
outros segredos do passado que valem seus esforços para desvendar,
enquanto o aumento do interesse público neste local só pode ajudar a criar
um futuro melhor para as pessoas que vivem na região.
Nos últimos 10 anos, houve uma onda de interesse entre os
arqueólogos nas pessoas que descobriram o Novo Mundo, a maior parte do
burburinho gira em torno de quando, exatamente, esses nômades cruzaram
a ponte terrestre de Bering para o Alasca, com foco nas distintas
ferramentas de pedra que usaram. Ninguém fala muito sobre as inclinações
artísticas dos primeiros americanos, simplesmente porque exemplos de suas
pinturas rupestres, joias ou outras criações simbólicas são poucos e
distantes entre si.
Na década de 1990, pesquisadores encontraram marcas lineares de
11.000 anos na Grande Caverna Epullán, na Patagônia, mas se foram
deliberadamente feitas por pessoas é debatido, recentemente, arqueólogos
descobriram gravuras de mamutes em locais no Colorado e na Califórnia,
mas essas rochas não puderam ser datadas com precisão (INGOLD, 2001).
Curiosamente, esses primeiros exemplos de arte americana são
surpreendentemente diversos, por exemplo a Cueva de las Manos, ou
“Caverna das Mãos”, na Argentina, tem cerca de 9.000 anos e está repleta
de intrincadas pinturas de mãos.
A Grande Caverna Epullán contém principalmente formas
geométricas, os pesquisadores argumentam que essa grande variedade
artística, especialmente quando combinada com a notável variabilidade de
ferramentas de pedra, sugere que os primeiros americanos chegaram ao
Novo Mundo muito antes do que se pensava.

Muitos dos inúmeros abrigos rochosos do Parque Nacional da Serra


da Capivara são decorados com pinturas rupestres, algumas com mais de
25 mil anos, eles são um testemunho notável de uma das comunidades
humanas mais antigas da América do Sul.
Estabelecido em 1979, o Parque Nacional da Serra da Capivara se
estendia pelos municípios de São Raimundo Nonato, São João do Piauí e
Canto do Buriti, no sudeste do estado do Piauí, na região Nordeste do Brasil.
Em 1994, o município de Brejo do Piauí e, em 1995 o município de João
Costa foram desmembrados de São João do Piauí.
O município de Coronel José Dias foi desmembrado de São
Raimundo Nonato em 1992, esses três municípios, mais São Raimundo
Nonato, estão parcialmente localizados na área do Parque Nacional da
Serra da Capivara (PROUS, 1992).
O Parque cobre cerca de 129.140 hectares e tem uma circunferência
de 214 quilômetros, situa-se na zona morfoclimática da Caatinga brasileira,
destacando-se pela multiplicidade de formações vegetais típicas das regiões
semiáridas do Nordeste brasileiro, as espécies vegetais da região são
caracterizadas principalmente pela perda da maior parte de suas folhas
durante a estação seca, que se estende de maio a dezembro, conferindo à
paisagem um tom prateado (PROUS, 1992).
A região faz divisa com duas grandes formações geológicas, a bacia
sedimentar Maranhão-Piauí e a depressão periférica do rio São Francisco , e
é dotada de uma diversidade de relevos vegetais e paisagens de beleza
estonteante e pontilhada por vistas excepcionais dos vales, montanhas, e
planícies.
A área abriga um dos sítios arqueológicos mais importantes das
Américas, contendo evidências e artefatos que forçaram uma reavaliação
abrangente das teorias tradicionais fundamentais que sustentam as origens
do assentamento humano nas Américas.
Mais de 300 sítios arqueológicos foram encontrados dentro do
parque, a maioria consistindo de pinturas rupestres e murais datadas de
50.000 a 30.000 anos antes do presente. Muitos dos inúmeros abrigos
rochosos do Parque Nacional da Serra da Capivara são decorados com
pinturas rupestres, algumas com mais de 25 mil anos (PROUS, 1992).
As análises e datações das evidências e artefatos encontrados no
Parque Nacional da Serra da Capivara servem para confirmar a presença
milenar do ser humano no continente americano e a importância do
patrimônio. O conjunto de sítios arqueológicos contém evidências de
datação que revolucionaram completamente as teorias clássicas sobre a
rota de entrada nas Américas por populações humanas ao longo do Estreito
de Bering.
Segundo estudos, a área que abrange o Parque Nacional da Serra da
Capivara foi ocupada por caçadores e coletores, seguidos por sociedades de
cerâmicas. As descobertas no sítio arqueológico do Boqueirão da Pedra
Furada sugerem que os seres humanos podem ter se estabelecido na região
há 50.000 anos, enquanto o sítio arqueológico remanescente mais antigo
com arte rupestre sobrevivente data de 10.530 anos antes do presente.
À luz dessas novas descobertas, a região representa um dos sítios
arqueológicos mais significativos do mundo e a propriedade é um excelente
testemunho de uma das comunidades humanas mais antigas da América do
Sul.
A propriedade inscrita contém uma multiplicidade de atributos que
garantem seu Valor Universal Excepcional, é dotado de uma rede de locais
que convergem para forjar uma rica coleção de elementos pré-históricos,
permitindo uma extensa pesquisa sobre o meio ambiente, a vida selvagem,
a vida vegetal e os primeiros habitantes da região (PROUS, 1992).
O estabelecimento formal do Parque serviu para garantir a
preservação dos sítios arqueológicos, que são um testemunho do antigo
assentamento humano na América do Sul, contidos com segurança dentro
das delimitações claras do Parque e da zona tampão de 10 quilômetros, os
sítios da área permaneceram efetivamente protegidos e intactos, tanto em
termos de preservação de sua integridade física quanto de valor histórico e
cultural (PROUS, 1992).
O Parque Nacional da Serra da Capivara contém evidências do
assentamento de grupos culturais na área há milhares de anos, esses
grupos desenvolveram com sucesso práticas e padrões adaptados ao meio
ambiente, além de expressões culturais ricas e complexas, refletidas nas
obras de arte sobreviventes (PROUS, 1992).
A arte rupestre sobrevivente fornece uma prova tangível da riqueza
cultural desses povos pré-coloniais no Brasil, a autenticidade dos diversos
vestígios arqueológicos é inquestionável e as condições foram amplamente
preservadas com as medidas de conservação implementadas até à data.
O Parque Nacional da Serra da Capivara é tombado pelo Decreto-Lei
nº 25 de 1937, foi tombado oficialmente como patrimônio federal pela
Portaria nº 54, de 16 de março de 1993 e inscrito no Livro do Patrimônio
Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico (Livro de Tombo Arqueológico,
Etnográfico e Paisagístico) sob o registro nº 108, folha 70, de 28 de
setembro de 1993, por meio do Decreto nº 83.548, de 5 de junho de 1979,
foi criado o Parque Nacional para proteger e preservar o patrimônio cultural
e ecológico contido na área. Além disso, os sítios arqueológicos
relacionados são protegidos pela Lei Federal 3.924 de 1961.

1.3 Linhas interpretativas


Culturas passadas em todos os principais continentes desenvolveram,
por milênios, sistemas simbólicos e iconografias cujas representações
abrangeram uma multiplicidade de mídias, incluindo arte rupestre, bem como
decoração em cerâmica e outras formas físicas. Esta é uma área que tem
sido reconhecida há muito tempo, mas requer mais investigação e pesquisa
para que sejam tiradas quaisquer conclusões significativas, particularmente
no que diz respeito ao seu potencial para ajudar no significado e na
cronologia da arte rupestre (MUDGE, 2010).
Tomados em conjunto com outros dados, como a distribuição
contrastante de sítios arqueológicos e locais de arte rupestre, podemos
formar linhas de evidência independentes, não conclusivas por si só, mas
quando combinadas podem fornecer argumentos convincentes em relação à
cronologia e atribuição específicas, de fato, cada sítio de arte rupestre
precisa ter sua própria estrutura interpretativa personalizada, concebida para
explorar ao máximo os dados arqueológicos disponíveis e outros para
auxiliar na compreensão da arte rupestre.
O presente texto apresentou uma metodologia multidimensional para
a atribuição cronológica e cultural da arte rupestre usando uma abordagem
aplicada no local de Hierakonpolis, Alto Egito, conhecido por seu
assentamento pré-dinástico e dinástico tardio e localidades funerárias,
ocorrendo adjacente a leitos rochosos e colinas que incorporam rochas arte
e inscrições de um período de tempo (PROUS, 1992).
O campo da pesquisa global de arte rupestre enfrenta muitos desafios
e visões negativas em relação ao seu potencial para informar com precisão
culturas passadas, essa percepção negativista surge principalmente de seu
contraponto com as disciplinas bem estabelecidas como a arqueologia, cujos
praticantes estão acostumados a buscar absolutos em termos de cronologia
e associações culturais.
Embora uma variedade de técnicas de datação direta e absoluta
esteja disponível para arte rupestre; eles são limitados em sua aplicabilidade
e muitas vezes carecem de confiabilidade, isso requer que a pesquisa em
arte rupestre seja realizada dentro de uma estrutura flexível e
multidisciplinar, usando um modelo adaptado para o uso ideal dos recursos
de dados disponíveis e que considere as necessidades e oportunidades
oferecidas pelo contexto sob pesquisa (MUDGE, 2010).
A metodologia de pesquisa de arte rupestre descrita aqui foi
especificamente adotada para Hierakonpolis, no Egito, um local conhecido
em grande parte por seus locais funerários e assentamentos pré-dinásticos e
dinásticos, que agora também nos informam sobre atividades passadas por
meio da arte rupestre.
O sítio compreende uma série de locais de arte rupestre distribuídos
em muitos casos perto de áreas de escavação arqueológica, muitos dos
motivos têm fortes semelhanças com imagens conhecidas de objetos pré-
dinásticos, como fauna (por exemplo, antílopes, burros, hipopótamos,
ovelhas bárbaras, bovídeos), bem como imagens de barcos e desenhos
abstratos.
Um contexto como o Egito, onde tanto o corpo de arte rupestre
quanto o material arqueológico disponível para análise são ricos em imagens
detalhadas, estimula sua exploração por meio de análise estilística e
potencialmente oferece incursões úteis aos objetivos comuns de atribuição
cronológica, afiliação cultural e investigação do significado da arte rupestre
(PROUS, 1992).
1.4 Contexto arqueológico
Uma longa história de trabalho arqueológico no Egito fornece dados
sobre a distribuição de sítios, os movimentos de pessoas, bem como uma
rica cultura material com suas próprias tradições na criação de imagens. Os
contextos de culto e funerários fornecem informações sobre tradições,
crenças e modos de engajamento e uso de assuntos conhecidos da arte
rupestre, como espécies animais, finalmente, um grande corpo de trabalho
interpretativo aplicado a este material arqueológico tem relevância potencial
também para a arte rupestre um contexto de múltiplas linhas de evidência e
pensamentos conclusivos.
A multiplicidade dos tipos de evidências disponíveis no Egito
discutidas acima, que se pode considerar juntamente com a arte rupestre
brasileira, também exige um método adequado de argumentação lógica.
As três principais correntes teóricas em suma, as três principais linhas
de pensamento arqueológico, os modelos histórico-cultural, processual e
pós-processual, devem ser reconhecidas como etapas de um processo
dialético de construção dos referenciais teóricos na Arqueologia.
Os temas retratados na arte rupestre brasileira são o cotidiano dos
hominídeos, a fertilidade, e os objetos utilizados no dia a dia, além disso, há
registros que os estudiosos acreditam expressar vivências místicas.

1.5 As tradições
Valentin Rafael Simon Joaquim Calderón de La Vara, foi um
idealizador do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade Federal
da Bahia (MAE/UFBA), sua contribuição arqueológica foi de suma
importância e de grande referência bibliográfica e documental para o acervo
nacional, já que suas obras ultrapassam os mais de 500 livros de sua
autoria.
Espanhol radicado na Bahia durante os anos de 1950, professor
Valentin Calderón sintetizou suas pesquisas sobre a editorial Nota Prévia
sobre três fases da arte rupestre no Brasil, onde cunhou o termo “ tradição”
pela primeira vez à arte rupestre com o intuito de fazer distinção entre
hominídeos, a pintura e a regionalidade (CALDERÓN, 1983).
Em análise às figuras pictóricas, o professor trabalhou duas tradições
e suas conjuntas fases, a realista e a simbolista, esta se preocupa com as
representações verossímeis da figura do homem pré- histórico, animais e
vegetação, enquanto que aquela cuidou de abordar a geometria primitiva, os
seus contornos e traços retratando significados e expressões cotidianas,
enumerando- as depois de acordo com cada achado e região do Brasil
(CALDERÓN, 1983).
Os temas retratados nas gravuras e pinturas rupestres geralmente
estão ligados ao cotidiano, como caça, fertilidade, objetos domésticos ou de
trabalho, acredita-se que muitas cenas tinham carácter mágico- religioso,
como uma preparação para o que ainda seria vivido, como uma situação de
caça por exemplo.
As pinturas rupestres podem ser feitos com os dedos ou com a ajuda
de utensílios; as cores, obtidas do carvão (preta), do óxido de ferro
(vermelha e amarela) e, às vezes, com cera de abelha, as substâncias
líquidas, como água, clara de ovo, sangue, são empregadas nas pinturas, as
diferentes técnicas e cores (muitas vezes superpostas) são atribuídos
sentidos variados.
No Brasil existem três estilos predominantes na arte rupestre, os
traços geométricos pertencem à tradição agreste, as figuras humanas são a
marca da tradição do Nordeste, já as gravuras na pedra formam a tradição
Itacotiara. (PROUS, 1992).
A arte rupestre pode ser dividida em dois tipos: pintura rupestre e
gravura rupestre, a pintura rupestre é composta por pinturas feitas com
pigmentos nas paredes e em outros espaços, a gravura rupestre são
imagens feitas com incisões na própria pedra, a arte rupestre por ser vista
em diversos países do mundo (CALDERÓN, 1983).

1.6 Abordagens atuais como a semiótica e outras.


Se hoje os pintores compram suas tintas e pincéis, no passado suas
ferramentas eram bastante diferentes, utilizavam terra colorida, sangue e
pelos de animais para criar imagens de silhuetas de grandes feras em
paredes e tetos de escuras e quase inacessíveis cavernas.
A semiótica, também chamada de semântica, semologia ou
semasiologia, é o estudo filosófico e científico do significado em línguas
naturais e artificiais, o termo faz parte de um grupo de palavras em inglês
formadas a partir de vários derivados do verbo grego sēmainō (“significar” ou
“significar”) a semiótica procurou abordar dentro do limbo da arte rupestre a
extração de significados para desvendar a mentalidade e a forma de vida.
Como meio de comunicação e representação do imaginário do
homem pré-histórico, a semiótica e a filosofia foram utilizadas como métodos
de análise, averigua-se a imaginação como fundamento para o progresso do
conhecimento humano, tendo como base a sua representação pré-histórica
através de pinturas rupestres, assim entende-se a semiótica como meio de
decifração dos signos pré-históricos (MATURANA, 2001).
Usa-se o termo arte rupestre para designar as inúmeras pinturas
encontradas no interior de cavernas pré-históricas por todo mundo, mas será
que os desbravadores dessas cavernas que a usavam como tela para seus
desenhos tinham a intenção de fazer arte? Este é uma questão quase
impossível de responder, hoje trata- se essas representações como arte em
função das suas qualidades técnicas, no entanto a hipótese mais aceita
entre os historiadores é de que, nossos antepassados pensavam e criavam
essas imagens como algo, acima de tudo, utilitárias.

1.7 Filosofia da Linguagem


Este ramo da filosofia dedica-se não apenas ao estudo das palavras
como forma de relacionamento com as pessoas, mas também ao seu
significado como termos, expressões e frases construídas na estrutura do
pensamento humano (MATURANA, 2001).
Mais importante ainda, a filosofia da linguagem busca entender o que
acontece com cada ser humano de fora para dentro e de dentro para fora,
como tal, não se trata apenas de uma reflexão sobre a relação que se
estabelece com o mundo exterior, mas também sobre a formação de ideias
íntimas.
O filósofo austríaco Ludwig Wittgenstein é considerado um pioneiro
na filosofia da linguagem, foi ele quem iniciou o estudo da filosofia centrada
na linguagem, curiosamente, sua pesquisa começou com a filosofia
analítica, que tentou definir um sistema de lógica formal para descrever a
realidade do mundo de forma precisa e racional (MERLEAU, 1999).
Essa escola filosófica contemporânea, representada por Bertrand
Russel e Gottlob Frege, vê o fenômeno linguístico como definidor da
linguagem, a princípio, Wittgenstein, seguindo Russell, pensou que a lógica
poderia desvendar os mistérios da linguagem, como se pudesse ser
resumida por uma conhecida equação estrita. (MATURANA, 2001).
Wittgenstein via apenas proposições que refletiam fatos do mundo
como partes da linguagem que poderiam estabelecer referências concretas
e verificáveis à realidade, assim como a biologia, a química e a física para
ele, qualquer coisa além disso significava dizer bobagens e fazer a transição
para algo fora do reino da linguagem. (MATURANA, 2001).
Depois de iniciar sua investigação, o filósofo admitiu seu erro e voltou-
se para sua tese, na sua obra Investigações Filosóficas passa a confiar no
contexto e diz "nós jogamos jogos de linguagem". Além disso, cada um
desses jogos só funciona em um determinado grupo, em uma determinada
situação, estando, portanto, diretamente relacionado à interpretação da
realidade daquele grupo social. (MATURANA, 2001).
A compreensão da linguagem toca, portanto, elementos da filosofia
da mente, uma vez que trata de como a mente do falante e do ouvinte se
relacionam, assim portanto aplicando à abordagem da arte rupestre há de se
considerar o estudo proeminente do significado abstrato do exercício mental
dos primeiros homens.
Para este ramo da filosofia, as palavras têm significados que vão
muito além dos significados do dicionário ou da enciclopédia, a filosofia da
linguagem não apenas estuda o significado, mas também presta atenção à
natureza do significado,não necessariamente se usando de palavras, os
primeiros hominídeos desenvolveram uma linguagem própria de figuras que
constituíam palavras e seu próprio alfabeto, algo parecido com que
aconteceu com os egípcios antigos, onde figuras zoomorfas e
antropomórficas eram usados como simbologia para a comunicação
(MATURANA, 2001).
A geografia que é o estudo dos diversos ambientes, lugares e
espaços da superfície da terra e suas interações procura responder às
questões de por que as coisas são como são, onde estão, a disciplina
acadêmica moderna da geografia está enraizada na prática antiga,
preocupada com as características dos lugares, em particular seus
ambientes naturais e povos, bem como as relações entre os dois.
Sua identidade separada foi formulada e nomeada pela primeira vez
há cerca de 2.000 anos pelos gregos, cujo geo e graphein foram
combinados para significar “escrita da terra” ou “descrição da terra”. No
entanto, o que hoje se entende como geografia foi elaborado antes disso, no
mundo árabe e em outros lugares. Ptolomeu, autor de um dos primeiros
livros da disciplina, Guia de Geografia (século II dC), definiu a geografia
como “uma representação em imagens de todo o mundo conhecido junto
com os fenômenos que estão contidos nela”.
Isso expressa o que muitos ainda consideram a essência da
geografia, uma descrição do mundo usando mapas e agora também
imagens, como no tipo de “geografias populares” exemplificadas pela
National Geographic Magazine) mas, quanto mais se aprendia sobre o
mundo, menos mapeadas, e palavras foram adicionadas às imagens e sua
correlação com os estudos da arte rupestre são recorrentes

REFERÊNCIAS

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