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Curso de Arquitetura e Urbanismo

Disciplina: Técnicas Restrospectivas Profª.: Amanda Costa


Aluno: Gabriel de O. Raposo Matrícula: 151012597

Livro: A Alegoria do Patrimônio (François Choay)

Como diferenciar monumento de monumento histórico? Esse questionamento é o


ponto de partida e o pensamento central que compreende o capítulo introdutório de A
Alegoria do Pratimônio de François Choay. Num primeiro momento a autora aborda a origem
etimológica da expressão monumento que é originário do latim monere — advertir, recordar
— o que traz à memória. Nesse sentido, é preciso reconhecer a contribuição de outros autores
na constituição desse conceito, como por exemplo, o francês Jacques Le Goff em sua obra
História e Memória. Segundo Le Goff (1990), a palavra monumentum refere-se a uma função
do espírito que seria a memória — a menimi. Conforme o historiador, o verbo monere
significaria “fazer recordar”, “iluminar” ou ainda “instruir”. Dessa forma, os monumentos na
visão de Le Goff (1990) representam todas as expressões que evocam um passado histórico e
que se perpetuam para as sociedades presentes. Essa perspectiva está estreitamente ligada e
dialóga com o pensamento de François Choay (LE GOFF, 1990, CHOAY, 2001).
De acordo com Choay (2001) monumento pode ser definido como “qualquer artefato
edificado por um grupo social para se recordarem ou fazer recordar a outras gerações
acontecimentos, sacrifícios, ritos e crenças” (CHOAY, 2001 p 17). Nessa acepção, pouco
interessa, se esses artefatos foram produzidos por comunidades ágrafas ou letradas, todos
esses vestígios carregam consigo julgamentos morais e estão associados a uma reconstrução
do passado com o objetivo de atender aos interesses do presente, sejam econômicos, políticos,
culturais ou militares. Assim, os monumentos constituem um universo cultural sob múltiplas
representações físicas são elas: lápides tumulares, obelíscos, estelas, arcos do triunfo entre
outras. No Oriente Antigo, na Mesopotâmia, predominaram as estelas onde os reis desejavam
imortalizar suas realizações políticas e militares como é o caso da Estela da Vitória ou Estela
de Narã-Sin, que descrevia a batalha dos povos acádios contra os Lulubi, ou ainda o Código
de Hamurabi erguido entre 1792 e 1750 a.C na Babilônia (LE GOFF, 1990, CHOAY, 2001).
Todas essas celebrações através de monumentos comemorativos eram localizados e
selecionados com fins intencionais e tinham a atribuição segundo Choay de “manter e
preservar a identidade de uma comunidade etnica ou religiosa, nacional, tribal ou familiar”
(CHOAY, 1992, p 18). No entender do autor do presente texto, todos esses monumentos
tinham também o objetivo de sacralizar eventos e pessoas e, por essa razão, deveriam excitar
e emocionar a memória coletiva de um grupo social. Este fato está relacionado ao termo que
Choay (2001) apresenta no texto que seria a “função antropológica” responsável pela
essencia do monumento todavia preenchida por emoção.
Nas sociedades ocidentais o entendimento sobre o significado original de
monumento perdeu progressivamente a sua importância, bem como, adiquiriu outros valores e
concepções de acordo com o contexto sociocultural em que se inseria o emprego do termo e
seus respectivos autores. No século XVII, por exemplo, diversos autores designavam o termo
monumento somente à obras comemorativas de arquitetura, escultura ou de valor
arqueológico desde que, fossem dotadas de prestígio estético relacionado aos valores
ocidentais europeus de beleza e sensibilidade estética (CHOAY, 2001).
Por outro lado, o monumento histórico segundo Choay (2001) corresponde a todo
objeto produzido por uma sociedade, sem que haja uma finalidade precedente de ser um
artefato de destinação memorial. A autora também evidencia que “todo artefato histórico pode
ser convertido em testemunho histórico” (CHOAY, 2001, p 25). Nesse sentido, a obra da
historiadora dialóga, mais uma vez, com o texto de Le Goff (1990) quando este explica que
“todo documento tem em si um caráter de monumento” (LE GOFF, 1990 p 538).
A expressão monumento histórico foi cunhada pela primeira vez ainda no século
XVIII no contexto da Revolução Francesa. No entando, somente na segunda metade do século
XIX o termo alcançou os dicionários e seu entendimento mais próximo do qual nós o
conhecemos na atualidade. Especialmente a partir do século XIX, várias nações passaram a
elaborar narrativas a respeito de suas origens, na obra de Le Goff (1990) esses episódios
correspondem a memória etnica de um povo. Dessa maneira, os monumentos foram os
símbolos selecionados para corroborar com essas narrativas de origem, na tentativa de definir
e reforçar uma identidade nacional com o objetivo de defender fronteiras simbólicas e manter
a coesão do grupo. Assim, o entendimento de patrimônio histórico estave relacionado a
história da nação evocando a memória preenchida por emoção (LE GOFF, 1990, CHOAY,
2001).
A memória é um constante olhar do presente em direção ao passado e, por isso, é
seletivo e condicionado por grupos que disputam a memória. Por fim, Choay (2001) ressalta
que os monumentos estão todos expostos a figura do tempo e, por essa razão, o esquecimento
e o desuso podem fazer-nos esquecê-los no tempo presente. Esse processo corresponde ao
esquecimento seletivo ou orgânico daquilo que já não representa mais a ideologia ou os
interesses de uma sociedade (CHOAY, 2001).
Referências

CHOAY, Françoise. Monumento e Monumento Histórico. In: CHOAY, Françoise. A


Alegoria do Patrimônio. Paris: Edições 70, 2001. Cap. 1. p. 9-303. Tradução de: Teresa
Castro.

LE GOFF, Jacques. Documento e Monumento. In: LE GOFF, Jacques: História e Memória.


Campinas: Unicamp, 1990. Cap 10.

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