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HISTÓRICO
TRADIÇÃO: MEMÓRIA E
CONSTRUÇÃO
Autor: Me. Juscelino Pereira Neto
Revisor: Vinnícius Pereira De Almeida
INICIAR
i t d ã
introdução
Introdução
Os debates sobre patrimônio histórico têm se tornado cada vez mais abrangentes. À
luz da literatura sobre o tema, retomaremos as interpretações mais correntes sob
uma perspectiva histórica e conceitual da bibliografia especializada acerca dos temas
citados, classificando-os como um produto/recurso cultural com funções sociais e
políticas.
Em seu sentido lato, tem-se como referência a definição do Novo Dicionário Aurélio de
Língua Portuguesa : “[...] um bem, material ou não, significativo como produto e
testemunho de tradição artística e histórica, ou como manifestação da dinâmica
cultural de um povo ou de uma região” (FERREIRA, 1986, p. 247).
Para um antiquário, os bens possuídos por seus antepassados são como um tesouro,
e sua reverência a eles faz com que sua alma conservadora e honrada se fixe neles.
Uma perspectiva antiquária o faz acreditar que as coisas do passado têm mais valor
do que as do presente.
Figura 1.1 - O enigma (1756): gravura que retrata quatro antiquários se esforçando
para decifrar o que parece ser uma inscrição antiga
Fonte: John Bowles / Wikimedia Commons.
A ideia de que o passado possa ser arbitrariamente produzido para ser consumido
como um subproduto das sociedades de mercado, assim como eventos e temas de
uma série com pano de fundo histórico para se adaptar à última moda, pode soar
tentadora, mas banaliza e aniquila o conceito de memória, que significa aquilo que
liga as pessoas em uma narrativa comum dentro da sociedade.
Mais uma vez, sob essa premissa, as memórias são vistas como seletivas, parciais e
usadas para atender às exigências individuais de identidade em um determinado
momento e em um espaço particular, como se os indivíduos se comportassem como
consumidores vorazes do passado, adquirindo o que melhor convém ou melhor se
adapta ao seu senso particular naquele momento (GILLIS, 1994).
Esse gesto pode guardar relação com a transitoriedade inexorável à História, isto é,
os indivíduos vislumbram o passado e reinterpretam eventos e ideias à luz do
presente; eles procuram sentido, coerência em eventos passados para calcar suas
ações presentes.
Hobsbawm e Ranger (1984) identificam três razões principais pelas quais as tradições
são inventadas: promover a coesão social entre comunidades artificiais, legitimar a
autoridade e inculcar crenças na sociedade. Essa coesão social artificial se verifica na
medida em que se identifica uma referência a um passado simbólico, mas a
peculiaridade das tradições “inventadas” é que sua continuidade é um exercício
fictício. Em suma, as tradições podem ser respostas a situações novas que tomam a
forma de referência a situações antigas ou que estabelecem seu próprio passado por
meio da repetição quase obrigatória.
Os autores fazem uma distinção clara entre “tradição” e “costume”. A primeira é, por
natureza, descrita como imutável, enquanto o segundo sustenta a precedência como
base para a continuidade social e, portanto, é caracterizado por “flexibilidade” e
adesão formal ao precedente. Uma distinção adicional é feita com “convenção” e
“rotina”, que são descritas como conduta invariável com funções (e, portanto,
justificativas) que são técnicas e não ideológicas.
Todavia, vale a pena notar outro significado, quase esquecido, do original latino
trā ditiō , que se referia à tradição como traição. Nesse sentido, a tradição parece ter,
já embutido em sua própria essência, um elemento de engano. Isso pode servir como
um alerta para a natureza potencialmente ilusória da tradição (VELHO, 2006).
“A novidade mais importante trazida em 1988, sem dúvida, foi alterar o conceito de bens
integrantes do patrimônio cultural passando a considerar que são aqueles ‘portadores de
referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade
brasileira’” (SOUZA FILHO, 1999, p. 23).
Da citação anterior, que traz o excerto sobre a Constituição Federal de 1988 , no que diz
respeito ao patrimônio histórico, assinale a alternativa que não caracterize o que são
prerrogativas da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios.
praticar
Vamos Praticar
Leia o trecho a seguir.
a) Podem ser classificadas como patrimônios históricos todas as obras que estejam
vinculadas a heranças de patrimônios estrangeiros.
b) Configuram-se como patrimônios históricos todas as obras que sejam compradas
por pessoas estrangeiras para adorno de suas casas.
c) Configuram-se como patrimônios históricos todas as obras que pertençam ao
comércio de objetos de valor histórico e/ou artístico.
d) Podem ser classificadas como patrimônios históricos todos os objetos que
adornem quaisquer veículos pertencentes a empresas estrangeiras, que façam
carreira no país.
e) Podem ser classificadas como patrimônios históricos todas as obras que foram
adquiridas para exposições comemorativas, educativas ou comerciais.
A Ideia de Mito
Fundador
A esse respeito, Fernando Catroga traz o conceito de religião civil para compreender
as bases da formação e da organização de Estados. A religião civil é compreendida
enquanto “[...] componente religadora que teve seu primeiro grande teorizador em
Rousseau, e cuja função reside na sacralização do viver comum de uma dada
colectividade” (CATROGA, 2005, p. 12).
Um grupo de mitos relacionados a uma nação pode ser chamado de mito nacional,
μῦθος, a palavra grega original para "mito". Um mito nacional costuma ser uma lenda
ou narrativa ficcionalizada que foi elevada a um nível mitológico, simbólico, mas que
goza de estima séria, de maneira a traduzir de modo fiel a história da nação.
Os mitos não têm compromisso com a veracidade dos fatos e, por essa razão,
costumam carregar nas cores e dramatizar incidentes verdadeiros, ou omitir detalhes
históricos importantes, ou adicionar detalhes para os quais não há evidências, mas
que trazem uniformidade à narrativa, a fim de que ela componha uma mensagem e
transmita um valor, ou, ainda, simplesmente elaborar um relato, uma história fictícia
que ninguém entende como sendo literalmente verdadeira, mas que contém um
significado simbólico para a nação.
Entre exemplos desse tipo de literatura estão o folclore nacional de muitas nações -
que trazem, em seu interior, narrativas de mitos fundadores -, que pode envolver
uma luta contra o colonialismo ou uma guerra de independência. Não raras vezes, as
narrativas contêm significados distintos de mitos nacionais que conflitam entre si
sobre a versão apresentada.
"O museu é uma instituição permanente de fins não lucrativos, a serviço da sociedade e de
seu desenvolvimento, aberta ao público, que adquire e conserva, pesquisa e expõe, com
finalidade de estudo, educação e entretenimento a evidência material do homem e de seu
ambiente" (CHAGAS, 1985, p. 183).
Antes de adentrar na discussão sobre o que é fato histórico, mais prudente é dar um
passo para trás e definir o significado de história, isto é, ainda que estejamos mais
familiarizados com a palavra, é uma noção mais precisa do que isso significa.
Em geral, a história tem a ver com o pensamento e ação de homens e mulheres que
viveram em tempos passados, ou, como precisou Marc Bloch (2002), a história como
a ciência dos homens no tempo. Com efeito, se há um ligeiro consenso do que seja
presente, o mesmo vale, também, para o que seja passado.
Que é um fato histórico? Esta é urna questão crucial que devemos olhar
mais de perto. De acordo com a visão do senso comum, há certos fatos
básicos que são os mesmos para todos os historiadores e que formam,
por assim dizer, a espinha dorsal da história - o fato, por exemplo, de que
a Batalha de Hastings aconteceu em 1066.
Portanto, é com isso que o historiador lida. Estes são o seu material. O fato histórico
está nos registros - em jornais contemporâneos, cartas, diários, testemunhos orais,
imagens, quadros, pinturas rupestres, como afirma Michel de Certeau (1982), o
historiador lida com o morto e resgata esse morto (documento) para a vida através
de sua escrita (operação historiográfica).
O historiador pode estar interessado em qualquer coisa que tenha a ver com a vida
do homem no passado - qualquer ato ou evento, qualquer emoção que os homens
tenham expressado, qualquer ideia, verdadeira ou falsa. Ainda que historiador esteja
interessado em quaisquer eventos desse tipo, ele não pode lidar diretamente com
esse evento em si, uma vez que este já desapareceu. Aquilo com que ele pode lidar
diretamente é a afirmação que tenha ficado registrada sobre o evento e que tenha
sido preservada.
Ele lida, em síntese, não com o evento, mas com uma afirmação que assegure (ainda
que a afirmação seja falsa) que o evento ocorreu. O historiador está sempre lidando
com atos, pensamentos, ideias que tenham sido registradas. O fato histórico é o
evento passado, um símbolo que nos permite recriá-lo imaginativamente.
Ruínas
de
estradas
romanas
de Wikimedia
Conímbriga Commons
A definição atribui ao patrimônio cultural o
legado de artefatos físicos e atributos
imateriais de um grupo ou da sociedade
herdados ao longo das gerações
passadas.Nem todos os legados das
gerações passadas são "patrimônio", o
patrimônio é um produto da seleção das
sociedades. O patrimônio cultural inclui
cultura tangível (como edifícios,
monumentos, paisagens, livros, obras de
arte e artefatos), cultura intangível (como
folclore, tradições, idioma e conhecimento)
e patrimônio natural (incluindo paisagens
culturalmente significativas e
biodiversidade.
Quando se afirma que a memória é viva, significa que a História é uma operação
intelectual que está sempre revolvendo e narrando o passado. Nas sociedades que
vivem sob o signo da História, alguns lugares funcionam como “refúgios” da
memória por conferirem a ela materialidade. Esses locais são chamados de "lugares
da memória".
Pode se referir, portanto, a qualquer lugar, objeto ou conceito que tenha significado
histórico na memória coletiva popular, como um monumento, um museu, um
evento, um símbolo, como uma bandeira, mesmo uma cor revestida de memória
histórica (a bandeira vermelha da política de esquerda, por exemplo).
ACESSAR
FILME
Vale Tombado
Ano : 2016
Comentário : Vale Tombado é um documentário que mostra
os bairros Rio da Luz, em Jaraguá do Sul e Testo Alto, em
Pomerode, Santa Catarina, quando estes locais foram
oficialmente transformados em patrimônio histórico
nacional. O documentário discute a necessidade de
preservação da paisagem cultural e da memória, refletindo
sobre as dificuldades de se manter o passado vivo.
Para conhecer mais sobre o filme, acesse o trailer a seguir.
TRAILER
LIVRO
referências
Referências
Bibliográficas
BECKER, C. What are historical facts?. The western political quarterly , v. 8, n. 3, p.
327-340, set. 1955.
HARVEY, D. C. Heritage pasts and heritage presents: temporality, meaning and the
scope of heritage studies. International Journal of Heritage Studies , v. 7, n. 4, p.
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HOBSBAWM, E.; RANGER, T. (Org.). A invenção das tradições . 6. ed. Rio de Janeiro:
Paz e Terra, 2006.
SOUZA FILHO, C. F. M. Bens culturais e proteção jurídica . 2. ed. rev. ampl. Porto
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