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Memória e Preservação: a construção epistemológica da Ciência da

Conservação

Dra. Yacy-Ara Froner


yacyara.froner@gmail.com

Over the past decade, aspects of heritage have become


important issues in the discourse on place, cultural
identity, and ownership of the past. Yet for all its
engagement with the function, presentation, and
interpretation of heritage as material culture,
conservation lags behind in the larger debate, both in
terms of a critical reassessment of its own principles and
in dialogue with related fields, such as design and
aesthetics, as well as history, anthropology, and the
other social sciences. This lag is due in part to
conservation’s recent and somewhat insular professional
development and its avoidance of a critical examination
of the inherited historical and cultural narratives
constructed through past motives of preservation.
Frank Matero. Ethics and Policy in Conservation.
Newsletter GCI, Volume 15, Number 1, Spring 2000, s.p..

Introdução
Para que seja possível compreender as alterações nos paradigmas que atuam
na preservação de bens culturais, três pontos devem ser considerados:
. a transformação do status do objeto cultural e sua re-significação social;
. a alteração dos modelos institucionais e dos paradigmas do conhecimento no
que tange a articulação das áreas que atuam em relação ao patrimônio
cultural;
. a Conservação Preventiva como base normativa para a salvaguarda dos bens
culturais.
O conhecimento das bases históricas e conceituais sob as quais os homens se
posicionaram e se posicionam em relação aos bens culturais é extremamente
importante: coletar, colecionar, expor, estudar, possuir e ver são atitudes que
implicam na manutenção ou não das condições materiais do objeto, ao mesmo
tempo em que reproduzem as noções de valor e de significado desses bens.
De acordo com Jacques Le Goff (1982, p:95): A memória coletiva e sua forma
científica, a história, aplicam-se dois tipos de materiais: os documentos e os
monumentos.

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1. A transformação do status dos bens culturais
Provavelmente jamais encontremos a primeira pedra lascada – a primeira
ferramenta produzida conscientemente –, mas é dela que remontam todas as
criações seguintes; todas as invenções técnicas ou artísticas. A pedra lascada
perde-se na própria história da humanidade, porém, enquanto objeto de
estudo e foco de atenção inicia-se com as pesquisas da Pré-História
desenvolvidas pelos colecionadores e arqueólogos dos séculos XV e XVII: neste
período, os antiquários europeus aprenderam a descrever e classificar
monumentos e artefatos, escavar e encontrar registros, utilizando vários
métodos de datação, incluindo estratigrafia, para estimar a idade dos achados;
com base nas evidências dadas pelos próprios objetos, estruturaram a Pré-
História em três momentos significativos – Idade da Pedra, Idade do Bronze e
Idade do Ferro. Estes desenvolvimentos representam um progresso genuíno e
trouxeram ao estudo da Pré-história testemunhos coletados na China, Japão e
outras partes do mundo, como a África, antes da influência Ocidental. Apesar
dos avanços, os intelectuais dessa época alegavam ser impossível reconstituir
ou conectar os registros encontrados com as ações humanas dos primeiros
tempos da civilização: apenas o documento escrito proveria as provas
necessárias à construção histórica.
De acordo com Le Goff, o termo latino documentum, derivado de docere
“ensinar”, evoluiu para o sentido de “prova”: o documento que para a escola
histórica positivista do séc. XIX será o fundamento do fato histórico, ainda que
resulte da escolha e de uma decisão do historiador, parece apresentar-se por
si mesmo como prova histórica através das fontes escritas; sua objetividade
parece opor-se à intencionalidade do monumento ao afirmar-se
essencialmente como um testemunho escrito, retirando dos objetos e das
construções a força discursiva que lhes é inerente.
A palavra latina “monumentum” remete para a raiz indo-
européia “men”, que exprime uma das funções essenciais
do espírito (mens), a memória (memini). O verbo
“monere” significa “fazer recordar”, donde “avisar”,
“iluminar”, “instruir. O “monumentatun” é um sinal do
passado. Atendendo às suas origens filológicas, o
monumento é tudo aquilo que pode evocar o passado,
perpetuar a recordação, por exemplo, os atos escritos (LE
GOFF, 1982: 95).

O final do séc. XIX apresenta uma tensão entre o Museu e a Universidade. Com
a formação dos museus históricos, de caráter nacional, que estimulam a
presença do grande público, a erudição pretensiosa da academia e da ciência

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positivista desconsidera a validade da HA: a recensão de escritos sobre História
da Arte é literalmente sabotada por serem considerados álbuns de imagens
(BAZIN, 1989, p: 130)
Ancorada nas discussões conceituais da Filosofia e da História, a Escola de
Viena produzirá um pensamento clave, vinculando a cátedra das universidades
à experiência dos Museus, cujo maior representante foi Alois Riegl (1858-
1905). Os conceitos expostos por Riegl no texto The Modern Cult of
Monuments: Its Essence and Its Development, escrito em 1903, apesar de
circunscritos na esfera da História e da Filosofia da Arte, foram utilizados
como base para a prática da profissão, uma vez que é nesse primeiro texto
que o respeito ao original e os critérios de seleção a partir da noção de valor
são anunciados. Em 1842, John Ruskin afirma:
works of art do provide, in varying degrees, valuable
information on technique, materials, stylistic
development, aspects of social, political, or personal (the
maker’s and/or the owner’s) history. They should still be
considered, first and foremost, however, in relation to
their original intention as work of art. Alois Riegl terms
the aesthetic significance of a work of art its artistic
value and the documentary importance its historical
value (RUSKIN, J., 1996: 42).

A força de Riegl foi a de ter reunido em si as duas tradições, a do museu e a da


cátedra, e a de partir de uma análise rigorosa dos objetos cuja guarda lhe
estava confiada estruturar o embasamento de seus estudos. Formados pela
dialética hegeliana, os historiadores da arte romperam com uma instituição
canônica: a do pressuposto da insuperável perfeição antiga. Pouco a pouco
habituaram-se a ver a alteração das formas relacionada à sucessão dos estilos
em reação uns aos outros. Ao conectar a arte com o “espírito de tempo”, baliza
um dos conceitos fundamentais da filosofia do XIX: o sentido histórico como
transformação, como devir.
Os objetos adquirem valor pelas mãos do conhecimento. Berenson (1947: 230)
afirma que nenhuma história pode ser escrita sem valores axiomáticos,
conscientemente manifestos ou inconscientemente supostos; os valores não
podem existir sem um avaliador e não conhecemos nenhum avaliador, exceto
o homem. O objeto existe enquanto um elemento a ser preservado quando lhe
é imputado um valor histórico, artístico e cultural.
Nesse contexto os bens culturais transformam seus sentidos na rede das
trocas simbólicas: além do valor do culto, da singularidade artística ou exótica
e do seu próprio valor “patrimonial”, agrega-se à ele – ao bem cultural – o

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sentido histórico (Documento/Monumento), partícipe do pensamento
fenomenológico de Hegel.

2. A alteração dos modelos institucionais e dos paradigmas científicos


A partir do século XIX, quando as grandes coleções públicas são formadas, é
que os profissionais dessa área se vêem confrontados com uma nova
responsabilidade perante os museus. Nesse momento, a linha limítrofe que
separava a criatividade do artista e a atitude do restaurador começa ser mais
bem demarcada: o respeito estético e com relação à originalidade da obra
passa a ser uma bandeira dos profissionais mais sérios. It was then that
progress began in the restorer's practice as a craftsman. This remained,
nonetheless, quite empirical, for no-one but the restorer knew the nature of
the precious material which had to be conserved without losing the attraction
of its appearance (COREMANS, 1969: 10). A proliferação de museus públicos,
baseados no modelo Francês, e sua administração por especialistas
determinaram uma nova postura dos restauradores em relação a essas
coleções.
Quando as ciências naturais, particularmente a Física e a Química, passam a
fazer parte do corpus do conhecimento necessário à manipulação da matéria,
critérios científicos provenientes dessas disciplinas tornam-se fundamentais
para a compreensão da natureza e da estrutura dos artefatos antigos e das
obras de arte, transformando significativamente o comportamento dos
restauradores. Um dos primeiros laboratórios de restauração, aberto em
Staatliche Museum de Berlim, apresenta seus primeiros registros em 1888 e
dedica suas atividades, prioritariamente, ao acervo arqueológico montado
então.
As atividades de restauração intensificaram-se na Europa a partir da Revolução
Francesa e das Guerras Napoleônicas devido ao vandalismo, ao espólio de
guerra e aos traslados abruptos das coleções de artes e de antiguidades de um
país a outro. Porém, apenas no início do século XX os laboratórios europeus e
americanos desenvolvem a prática de workshops com o intuito de treinar,
trocar e disseminar técnicas desenvolvidas em cada instituição.
A segunda metade do século XIX concebe duas vertentes antagônicas em
relação à prática da restauração: de um lado encontramos Eugène-Emmanuel
Viollet-le-Duc e de outro Willian Morris e Jonh Ruskin. Viollet-le-Duc,
considerado um dos arquitetos-restauradores responsáveis pela reconstrução
de muitos monumentos, acredita que a restauração como imitação e

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reconstrução “no estilo do original” é permissível e utiliza como parâmetro
padrões estéticos firmemente estabelecidos:
this group believed that by studying the monuments of
the past, especially the great Gothic cathedrals, and with
meticulously accurate and detailed documentation of the
characteristics of style as well as of details of building
and the methods of constructions, they could make
possible complete and accurate rebuilding of entire parts
or phases of these buildings (VACCARO, 1996: 308).

O grupo oponente, encabeçado por Willian Morris e Jonh Ruskin, escreveu em


agosto de 1877 um manifesto anti-restauração – Manifesto of Society for the
Protecting of Ancient Buildings:
No doubt within the last fifty years a new interest, almost
like another sense, has arisen in these ancient
monuments of art; and they have become the subject of
one of the most interesting studies, and of an
enthusiasm, religious, historical, artistic, which is one of
the undoubted gains of our time, yet we think that if the
present treatment of them be continued, our
descendants will find them useless for study and chilling
to enthusiasm. We think that those last fifty years of
knowledge and attention have done more for their
destruction than all the foregoing centuries of revolution,
violence and contempt (1996:319-322).

O texto de Riegl, contribui para esta visão quando alerta para a


indispensabilidade do conservador/restaurador conhecer História,
principalmente História da Arte, para evitar erros, excessos e ações que
danifiquem a qualidade estética ou documental dos monumentos cultuados.
Avessos à postura de Viollet le-Duc, consideravam que as complementações
estruturais e as construções adjacentes destruíam o espírito original dos
edifícios antigos. Esta postura alimentou a corrente posterior, os puristas, que
teve como precursor Camile Boito. Sob a perspectiva histórica, Camillo Boito
(1836-1914) – contemporâneo a Riegl – pode ser considerado um dos
primeiros teóricos a questionar os métodos e estabelecer princípios em relação
à prática da restauração. Suas primeiras críticas dirigem-se, principalmente, à
prática indiscriminada de reconstruções e preenchimentos: How many
mistakes restorations have caused! (...) In short, is there really any need for
these blessed restorations?... Are not the torso of Farnese Hercules, known as
Belvedere torso, and the torso of Bacchus admirable, broken and mutilated as
they are? Além desses problemas, Boito relata a controvérsia sobre as
ferraduras nas reproduções gregas e romanas de cavalos: a História afirma que
ferrar os cavalos não era uma prática da Antigüidade, mas que os

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restauradores teimavam em executar as partes faltantes das patas com as
ferraduras nos cavalos:
Perhaps you are familiar with the important question of
whether the Greeks and Romans shod their horses – it
seems they did not. But then as bas-belief turns up in
which the horseshoes are visible (...), and discerning
archaeologists of our time sees them and exclaims
triumphantly: They shod them! (BOITO, apud: VACCARO,
1996: 262).

O problema maior não é apenas em relação às ferraduras dos cavalos, mas


como se comportar quando Bernini coloca um violino na mão de Apollo; ou
Rubens preenche um quadro de Ticiano; ou Rafael introduz elementos em um
afresco de Boticcelli? A prática artística, do Renascimento ao Barroco, não
considerava imoral trabalhar e criar em cima de obras de arte e antigüidade.
O problema torna-se mais visível quando, a partir do século XIX, o objeto
artístico adquire valor documental como testemunho do passado, aquilo que
Riegl reclama como “valor histórico”. Assim, compreensão da atividade de
restauração como uma intervenção técnico-científica e não como uma
experiência artística modificou-se a partir da segunda metade do século
dezenove. Cabe ressaltar que nesse momento histórico são formuladas as
bases da maioria das disciplinas associadas à Ciência da Conservação:
Arqueologia, História da Arte e da Arquitetura adquirem corpo conceitual
justamente nesse período. Como conseqüência da construção do culto ao
monumento – como culto ao passado – e do respeito incondicional à estrutura
original desse testemunho, os procedimentos que passaram a guiar os
restauradores no final do século XIX e início do XX , embasados na teoria de
Boito, desconsideravam as intervenções anteriores como testemunhos da
própria história da obra e, num movimento inverso, tornou-se comum a
remoção de pátinas, partes e preenchimentos executados posteriormente. Por
causa dessa aversão aos procedimentos anteriores, baseados na reconstrução
das partes faltantes, a linha de pensamento que se estabelece é conhecida
como Purista, na Itália e Inglaterra, e também chamada de Ent-Restaurerung
(des-restauração), na Alemanha.
The folly of Purism, which has devastated so many
museums and buildings, is an entirely new type of
absurdity, without precedent in the history of restoration.
However far into the past one probes, the prevailing
attitude – with different emphases and many variations
on the theme in ancient, medieval, and modern times, in
the East and in the West – is that of continuity of
maintenance and regular replacement of damage or

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altered parts, of reuse, and of changes in function as
may be suitable to various cultural or political changes
(VACARRO, 1996: 264).

Alheio aos debates dos “puristas” do início do século, o enfrentamento da


Primeira Grande Guerra na Europa impôs uma nova realidade ao meio da
conservação: a quantidade de destroços produzida e das restaurações
indiscriminadas forçou os governos, autoridades locais e pesquisadores a
repensarem sua margem de ação. Provavelmente as bases da conservação
moderna foram lançadas quando, em 1930, o Escritório Internacional de
Museus da Liga das Nações chamou o primeiro encontro internacional para
tratar dos princípios científicos da restauração:
In October 1930 nearly two hundred museum directors,
art historians, and scientists gathered in Rome for a
unique international conference. Held under the auspices
of the International Museums Office of the League of
Nations, the conference had as its stated purpose "the
study of scientific methods for the examination and
preservation of works of art." At the end of five days,
conference participants confirmed "the utility of
laboratory research as an aid to the study of the history
of art and museography..." Science in the service of art
was recognized and modern conservation was born
(LEVIN, 1991: 1).

Pela primeira vez utiliza-se a expressão “método científico” com respeito ao


ofício da restauração. Arquitetos restauradores, baseados nos escritos de
Boito, estruturaram o pensamento das décadas de trinta e quarenta, como
Gustavo Giovannoni com seus escritos: Enciclopédia italiana di scienza (1931),
Il restauro dei monumenti (1945).
Logo após o encontro, ocorreu o Primeiro Congresso Internacional de
Arquitetos e Técnicos de Monumentos Históricos. Nesse congresso foi
formalizado o primeiro documento de caráter internacional que concebia o
patrimônio cultural como algo de existência histórica e social ampla. O
conceito de bem cultural se expande para além das fronteiras nacionais que
viam na sua preservação a manutenção de uma identidade própria ao adquirir
uma dimensão de valor universal; de acordo com Carbonara (1996: 242), o
trabalho de Gustavo Giovannoni inspirou diretamente a Carta de Atenas
(1931), documento resultante desse encontro que formalizou algumas
diretrizes reproduzidas ainda nos documentos atuais. Seu significado
enquanto marco do conceito moderno de patrimônio cultural determinou a
construção da noção de patrimônio mundial. A formalização do documento

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apresenta sete princípios concernentes à restauração/conservação de sítios e
monumentos, e por isso também foi chamada de Carta del Restauro:
1. International organizations for Restoration on operational and advisory
levels are to be established.
2. Proposed Restoration projects are to be subjected to knowledgeable
criticism to prevent mistakes which will cause loss of character and
historical values to the structures.
3. Problems of preservation of historic sites are to be solved by legislation at
national level for all countries.
4. Excavated sites which are not subject to immediate restoration should be
reburied for protection.
5. Modern techniques and materials may be used in restoration work.
6. Historical sites are to be given strict custodial protection.
7. Attention should be given to the protection of areas surrounding historic
sites.
Apesar dessas orientações e do intercâmbio entre vários profissionais,
principalmente arqueólogos e arquitetos, as décadas de trinta e quarenta
foram marcadas por uma onda crescente de conflitos resultantes do fascismo
que se desenvolveu na Europa: entre a Guerra Civil Espanhola e a Segunda
Grande Guerra, pouco ou quase nada foi possível, em direção ao diálogo
internacional proposto pelo encontro de 1930 ou pelo documento de 1931.
Porém, o Escritório Internacional de Museus contribuiu para a fundação em
1939 do Instituto Central de Restauro, em Roma – antes da eclosão do
segundo conflito. Cesare Brandi (1906-1988) foi seu fundador e diretor; sua
tese, Teoria del restauro, de 1963, influenciada pela obra de Benedetto Croce,
transformou-se em um marco da restauração moderna.
A postura de Brandi, apoiada no idealismo humanista de Croce parece se
distanciar das vertentes nacionalistas e fascistas da Itália, em conjunto com
Plenderleith e Paul Philippot forjou as bases do conceito moderno de
restauração, principalmente após a Segunda Guerra.
As décadas de cinqüenta e sessenta foram inspiradas significativamente pela
teoria desses cientistas, ancorada tanto nas ciências humanas quanto nas
ciências exatas.
O belga Paul Philippot e o italiano Cesare Brandi, juntos, fundaram as bases
teóricas do ICCROM (1956), influenciando toda uma geração a partir dos
programas de treinamento e das atividades de cooperação estabelecidas pelo
Instituto. Ambos foram consultores da UNESCO e contribuíram de forma
intensa na construção das cartas, tratados e documentos forjados nas
convenções os quais veremos nos capítulos cinco e seis. A corrente seguinte,
portanto, pode ser denominada de historicista:

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if a work of art is the result of human activity and, as
such, its appreciations does not depend on fluctuations
in taste or fashions, its historical significance has priority
over its aesthetic value. Since the work of art is a
historical monument, we must consider it as such from
the extreme point when the formal arrangement that
shaped matter into a work of art has almost vanished,
and the monument is reduced to little more than a
residue of the material that made it up. We must
examine the ways we can conserve a ruin (BRANDI, 1996:
233).

Essa teoria irá influenciar o documento denominado Carta de Veneza (1964),


que se apoiará nos trabalhos de Brandi (Il trattamento delle lacune e la Gestalt
Psychologie, de 1953, e Teoria del restauro, de 1963), ao abordar a questão
das complementações e do respeito à estrutura original dos bens patrimoniais
imóveis (BAZIN, 1989: 286). Relativo à conservação de Sítios e Monumentos, o
documento irá preconizar a fundação do ICOMOS e se colocará como uma
referência internacional. Baseado nos princípios da Carta de Atenas, a Carta de
Veneza (1964) expande o conceito de monumento histórico ao proferir no
artigo primeiro que:
the concept of an historic monuments embraces not only
the single architectural work but also the urban or rural
setting in which is found the evidence of a particular
civilization, a significant development or an historic
event. This applies not only to great works of art but also
to more modest works of the past which have acquired
cultural significance with the passing of time.

Desenvolvido no II Congresso Internacional de Arquitetos e Técnicos de


Monumentos Históricos, o documento enfatiza a proteção do Patrimônio
Arquitetônico; retoma a questão do respeito à integridade das estruturas
originais, porém coloca a possibilidade de remoção de elementos, caso esta
seja indispensável à sua salvaguarda; coloca o processo de restauração como
uma operação altamente especializada e critica as ações amadorísticas sem
respaldo científico; aconselha que a substituição das partes faltantes, caso
indispensável ao suporte estrutural, não deve danificar, confundir ou
desmerecer a construção original.
Além da influência da obra de Croce na obra de Brandi, Bazin (1989: 285-288)
aponta para a influência do pensamento estruturalista formulado após a
Segunda Guerra: a teoria da estrutura, nascida na Alemanha a partir dos
trabalhos voltados à psicologia de Kohler e Werheimer, criou a noção da forma
(Gestalt), segundo a qual a percepção apreende seu objeto como uma

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totalidade, uma totalidade em constante transformação, mas sempre igual a si
mesma. A primeira aplicação do estruturalismo fora da psicologia foi na
lingüística, na obra de Saussure, entre 1906 e 1911. Após o conflito de
quarenta e cinco, esta teoria de disseminou em outros campos de
conhecimento influenciando as formulações de Merleau-Ponty e Foucault, na
Filosofia; Lévi-Strauss, na Antropologia e Roland Barthes, na Literatura. A
influência dessa vertente é percebida na obra de Brandi quando até no título
ele utiliza a palavra Gestalt, a partir do conceito que lhe é imputado no
pensamento estruturalista:
pode-se dizer que Cesare Brandi é um convertido. Sua
contribuição para a causa da arte, e notadamente da
pintura, é capital; foi fundador do admirável Instituto de
Restauração de Roma e devemos-lhe a formulação dos
sãos princípios graças aos quais muitas obras-primas se
salvaram(...). Não é curioso ver como, vinte anos depois,
ele tranqüiliza a si mesmo, justificando por raciocínios
estruturalistas um método de restauração que ele
inventou guiado apenas pela intuição? (BAZIN, 1989:
286).

Bazin se refere à obra Teoria Generale della Critica que Brandi publicou em
Turin em 1974, após seus ensaios de 1953 e 1963 referentes à formulação de
uma teoria da restauração. Podemos reconhecer esse período como de uma
Ciência da Conservação formulada sobre bases conceituais estruturalistas
fortes, ainda que vinculadas aos avanços laboratoriais das áreas de Biologia,
Química e Física. Na obra de Philippot, o pensamento estruturalista pode ser
encontrado da mesma maneira que o vislumbramos na obra de Brandi;
Philippot afirma:
germans have a convenient word to stress this
importance of the whole of the monument. By
Gesamtkunstwerk, they mean the unity resulting from
the cooperation of the various arts and crafts that
combine to make a monument, cannot be divided from
it. It is obvious that a whole must be treated consistently
as a whole, and this implies that close cooperation
among various specialists in preservation – architects,
conservators, artisans, archaeologists – under one
consistent policy is necessary (PHILIPPOT, 1972: 367-
374).

Restauração como um ato crítico e restauração como um ato criativo são duas
formas conceituais de abordar a Ciência da Conservação. Renato Bonelli
elaborou uma série de textos visando questionar a linha teórica proposta por
Brandi (Il fondamento teorico del restauro, Bolletino dell’ ICR: 1950) a partir

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das próprias limitações concernentes a ela, sem no entanto deixar de
considerar a validade dessa mesma teoria em relação à operacionalidade
metodológica proposta: análises cuidadosas são apresentadas na teoria
proposta por Brandi, mais próximas de sua condição filológica do que
científica.
Bonelli’s criticism of philologism is stinging: “the idea os
atributing the character of authentic testimony of a
historical past to a monument or a building is no longer
current. First of all, this is equivalent to working on an
arbitrary section in the real unity of the work, trying to
select elements that can not be isolated... the
philological criterion requiring that structural bodies
must be authentic in order to obtain reliable information
from them, is a point of view that marks a certain era
and culture”, one imued by positivism that witnessed the
birth of scientific theories of restoration and that is by
now obsolete (CARBONARA, 1996: 239).

A qualidade de testemunho não é o único valor atribuído a um monumento, e


esta é a grande divergência de Bonelli em relação a Brandi. Na década de
sessenta as controvérsias que se estabelecem – conservação ou intervenção;
abordagem histórica ou estética; ato científico ou criativo – alimentam toda
uma série de debates, principalmente após o fim do legado idealista de Croce
na formação do pensamento intelectual italiano.
A década de setenta sofreu com o impacto da aceleração do processo de
expansão industrial e crescimento descontrolado dos grandes centros
urbanos, impondo aos cientistas sociais, historiadores da arte, arquitetos e
urbanistas, além dos conservadores, a necessidade de formular propostas que
acompanhassem essas mudanças bruscas. Nesse período, a Europa se
preocupa com as mudanças do cenário urbano e as proporções dessas
transformações em relação ao milenar patrimônio de suas cidades, para Argan
ao contrário do espaço que é opaco, o tempo é
transparente; nadando sob a superfície da água, vêem-
se os monumentos como rochedos, as ruínas como
arbustos de coral. É a cidade que Bernini e Borromini
haviam imaginado para um espaço não terreno,
discutindo quanto à maneira da salvação – o céu já um
pouco calvinista rejeitou-a, ela caiu no mar do passado
cuja superfície, o presente, como todos sabem, está
terrivelmente poluída. Em Roma, não há apenas o tempo
da arquitetura, ou da história, mas também o da
natureza, cambiante como o céu em um dia de vento
forte (ARGAN, 1995: 205).

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Esse período é marcado pela elaboração de documentos, tanto da comunidade
européia quanto por parte do ICOMOS e UNESCO, concernentes aos cuidados
para com o patrimônio arquitetônico – incluíndo estruturas arqueológicas e
monumentos históricos –, a partir de noções que deixam de perceber esses
bens culturais como entidades isoladas, mas como estruturas que se
relacionam e fazem parte de uma intrincada rede social e urbana.
O edifício deixa de ser pensado como o depositário dos bens culturais e passa
a adquirir uma condição indispensável de reciprocidade com os acervos que
contém. Instituições alojadas em prédios antigos ou construções recentes são,
em ultima instância, o ambiente no qual as coleções encontram-se instaladas.
A décadas de oitenta será marcada pelas teorias de Garry Thomson,
estruturadas a partir de uma série de artigos que introduzem os princípios do
controle climático em museus e que culminaram com a obra The Museum
Environment (1982).
En fait, le concept n'est pas vraiment nouveau. Il était
dans l'air depuis longtemps, très longtemps. Déja au
19ème siècle, Adolphe Napoleón Didron, ècrivat:
Conserver le plus possible, réparer le moins possible, ne
restaurer à aucun prix, laissant entendre qu'il fallait
intervenir les moins possible sur l'objet pour assurer
l'authenticité de son message (GUICHEN, 1995: 5).

Garry Thomson coloca pela primeira vez de maneira sistemática os problemas


referentes à climatização em museus, demonstrando a importância do controle
da luz, da temperatura e da umidade incidente sobre as coleções e elabora a
máxima da Conservação Preventiva: Um mau restaurador pode destruir uma
obra, um mau conservador pode destruir uma coleção inteira!
Na década de oitenta, Geogio Torraca publica um trabalho entitulado Química
aplicada à Restauração, em que os compostos químicos, grupos funcionais,
compostos nitrogênicos, polaridade, atração entre moléculas, classificação das
interações, materiais protéicos e sintéticos são analisados a partir da prática
ou do uso na restauração. A tabela de solventes químicos de Liliane
Marschelein Kleiner e o método de limpeza aquosa de Richard Wolbers são
difundidos e utilizados na prática do dia dia.
Ao contrário da aplicação industrial, o uso da Química ou da Física em relação
aos bens culturais é extremamente complexo: nas indústrias, o conhecimento
pode ser compartimentado e, de um processo a outro, nem sempre há uma
ação conjunta; na restauração, o mesmo não acontece e não existe o fator
produção em série, uma vez que cada obra é única. Por essa razão, mesmo nas

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publicações especializadas como Studies in Conservation ocorre um certo
cuidado para que as fórmulas químicas e suas proporções não sejam utilizadas
como receitas de cozinha: os princípios são apresentados, mas não as
formulações. Há uma frase de Torraca que adverte quanto às atitudes de
cientistas quando chamados para atuar dentro da Ciência da Conservação, por
considera-la um domínio subdesenvolvido, do ponto de vista científico,
tendem a transferir suas experiências e métodos sem considerar as
especificidades que envolvem um bem cultural: en conséquence, ils sont tentés
de transférer directement à la conservation idées préconçues, équipement et
procédés venus de leur champ antérieur de spécialisation. C'est seulement
après quelques expériences malheureuses qu'ils aparennent que le problème
n'est pas si simple; la terre de la conservation est pleine de pièges, et les
indigènes sont frèquemment hostiles (TORRACA, apud BERDUCOU: 1990: 14).
Torraca relata em um artigo recente sua experiência:
a few years ago, a well-known mineralogist declared
authentic some Modigliani sculptures retrieved from a
ditch (where the sculptor presumably threw them). The
basis for this conclusion was the finding that the layer of
mud in contact with the stone sculptures contained
almost no lead (evidence that there were no cars and no
gasoline with tetra-ethyl-lead in it at the time the mud
layer was formed). Contrary to what normally happens
with archaeometric interpretation, the gambler in this
case was unlucky. The forgers were there and able to
prove that they had made the presumed masterpieces a
few days before their discovery.

Em função disso, declara no mesmo artigo, a partir do momento em que as


análises voltadas à conservação cosiderarem o dados históricos elas se
tornarão, pouco a pouco, mais próximas das necessidades da disciplina, na
prática e na teoria. Pesquisas relacionadas à literatura concernente à história
das técnicas construtivas de obras de arte e artefatos são tão indispensáveis
quanto uma visão ampla do significado cultural e da história do patrimônio
analisado.
As duas últimas décadas do século vinte são marcadas por várias discussões
que fazem com que o restaurador/conservador seja obrigado a especializar-se
cada vez mais. Já não é mais possível dominar todas as matérias – metal,
pintura, cerâmica, papel, pedra –, nem lutar em todas as frentes de batalha –
escavações, museus históricos, arquivos, pinacotecas – ou dominar todas
linhas de investigação – dos laboratórios à construção epistemológica da
disciplina: os problemas de apresentação estética ainda são discutidos,

13
problemas como reintegração de perdas ou lacunas e tratamento de pátinas,
vernizes e velaturas aparecem nos trabalhos de Albert e Paul Philippot (1959) e
Brandi (1963); Paolo e Laura Mora (1984). Questões relativas à Química e à
Física encontram voz em Giorgio Torraca (1982) e Paul Coremans (1961); a
construção teórica da disciplina aparece na obra exemplar editada por Nicholas
Stanley Price, M. Kirby Talles Jr. e Alessandra Melucco Vaccaro (1996) e nos
artigos de Frank Matero (2000).
Com o objetivo de mudar a atitude dos profissionais perante as coleções,
foram realizados em 1992 – UNESCO/ARAAFU 1
– e em 1994 – IIC – dois
congressos que discutiram a disciplina da Conservação Preventiva. Antes disso,
em 1991, o Programa Nacional de Salvaguarda de Coleções dos Países Baixos,
apresentou um modelo de atuação de Conservação Preventiva, que serviu de
referencial aos outros países, surtindo efeito imediato em organizações como
PREMA – Prévention dans les Museés Africains –, que reúne 32 países há mais
de 14 anos. Em 1994, com a criação de um diploma de estudos
especializados em Conservação Preventiva na Universidade de Paris, ainda que
o curso se abra a especialistas de várias áreas de conhecimento – arquitetos,
restauradores, historiadores de arte, engenheiros, curadores, arqueólogos –, a
disciplina passou a ser mais bem embasada e difundida.
O encontro de 1930, mencionado anteriormente, introduziu o debate no meio
científico e acadêmico, mas só teve continuidade – no âmbito internacional –
após a Segunda Guerra: centros internacionais como o ICOM, IIC, ICCROM,
IRPA elaboraram encontros e seminários específicos para difundir, questionar e
estruturar um conhecimento científico de bases exatas estritamente voltado
para a Ciência da Conservação. A introdução de métodos científicos de exame
e critérios preservacionistas baseados na compreensão e controle do ambiente
– utilizando conhecimentos da Engenharia Civil, Mecânica e Elétrica, além de
recursos da Meteorologia e da Biologia – fez com que a prática da restauração
se deslocasse de oficinas particulares e até mesmo de ateliês localizados nos
prédios dos Museus para laboratórios específicos, construídos em Centros de
Estudo e Universidades.
Associado ao historiador da arte, arqueólogo, etnólogo e ao restaurador, o
analista-conservador desempenha um papel primordial, lado a lado desses
outros profissionais e tão fundamental quanto eles. Um cientista da área exata

1
. AARAFU – Association des Restaurateurs d'Art et d'Archquéologie de Formation
Universitaire.

14
que decide entrar no campo da conservação é normalmente confrontado com
uma realidade totalmente diversa da que advém: a literatura comparada é
difícil de acessar e quando encontrada, nem sempre responde aos modelos
oficiais – poucos dados, nenhuma estatística, nem modelos computadorizados
ou proporções fixas.
On the other hand, the scientist is strongly attracted by
the domain of conservation. This is partly because the
objects to be preserved are fascinating in themselves and
partly because, in multivariable processes that govern
deterioration an conservation, the hits for new schemes
in a short time by application of the most standard
concepts of his normal branch of activity (TORRACA,
1996: 441).

A pós-modernidade implica na revisão de conceitos dados como certos,


fechados, estanques, herméticos. A própria noção de ciência perpassa pelas
relações de consciência e de que o conhecimento é fluido, contínuo, mutante,
alterado. Questões éticas, discussões ampliadas, participação social,
multidisciplinaridade e interdisciplinaridade na proposição de projetos
tornam-se fundamentais.

3. A Conservação Preventiva como base normativa


No final do século XX o reconhecimento de que a Conservação Preventiva é
fundamental tanto na ação de restauradores quanto das instituições que
abrigam coleções levou muitos organismos formadores de profissionais a
investir nessa área de conhecimento.
A partir das alterações dos paradigmas propostos na década de oitenta,
quando as relações ambientais foram apontadas como preponderantes no
processo de preservação de acervos, a pirâmide que articulava a hierarquia
entre a pesquisa, a extroversão e a manutenção das fontes passou a demandar
uma relação horizontal das competências, considerando a primazia da
salvaguarda como sustentação de todas essas ações. Nesse mesmo período, a
Arqueologia inicia um debate sobre as intervenções de restauro e as medidas
preventivas de conservação em relação aos resgates das escavações. Albert
France-Lanord escreve ainda na década de sessenta um texto entitulado Savoir
“interroger” l’ objet avant de le restaurer, discutindo esses problemas,
influenciando toda uma geração de arqueólogos franceses que encontram nos
laboratórios de conservação parceiros que os acompanham do trabalho de
campo à etapa final da pesquisa. Marie Berducou, com sua obra La

15
conservation en archéologie (1990) elabora um documento de projeções
teóricas e metodológicas extremamente significativas:
Auccune lecture ne suffura à régler la totalité des
problèmes de conservation archéologique sur un site. L’
épilogue de ce manuel ne peut être que d’encourager la
permanence du dialogue entre conservateur-restaurateur
et archéologue. En matière de conservation préventive,
connaître le matériau, tenter de comprendre les
processus d’altération et appliquer des “recettes” aussi
bonnes qu’infailibles n’est pas satisfaisant. Un bon
diagnostic prime avant tout et relève généralemnt des
compétences d’un conservateur-restaurateur. De plus, il
exist une complémentarité manifest entre le deux
interlocuteurs et non des relation de subordination.
Ainsi, l’archéologue aura tendance à appréhender un
objet d’un point de vue chronologique, morphologique,
technique, fonctionnel, et le restaurateur, d’un point de
vue matière et technique. On conçoit alors fort bien que
la frontiére entre les deux optiques n’est pas étanche
(BERDUCOU, 1990: 419).

Os cursos de treinamento e de formação de pessoal capacitado para exercer a


função de conservador/restaurador têm sedimentado a valorização de técnicos
e especialistas, ao invés daquela visão romântica do autodidata, dotado de
habilidades artísticas, que por amor à arte consertava os objetos e limpava as
imagens antigas.
A prática amadorística de arqueólogos, restauradores/conservadores e
museólogos tem demonstrado que, por falta de conhecimentos mínimos de
princípios técnicos e de normas éticas de atuação, ao invés de contribuir para
a preservação da cultura material, tem acarretado lacunas irreparáveis,
destruindo, dilapidando e apagando vestígios importantes do passado. Em
função dessas práticas inadequadas, as associações representantes dessas
profissões têm procurado incentivar sua formação através de cursos
profissionalizantes. Desde 1945, a Europa – através do Institute Royal du
Patrimoine Artistiquè de Bruxelas – e os EUA – pelo Institute of Fine Arts of
New York University – tem investido em cursos de nível técnico, graduado,
especialista, mestre e doutor em diversas áreas de conhecimento aplicado à
ciência da conservação e restauro.
No Brasil, vários esforços têm sido feitos no sentido de definir a profissão e
formar pessoal habilitado a exercê-la, principalmente através de organismos
de classe, como a ABRACOR – Associação Brasileira de Conservadores e
Restauradores – e o CECOR – Centro de Conservação e Restauração da UFMG.
O Boletim da ABRACOR de 1985 – denominado Seminário: Formação e

16
Treinamento Profissional para a Preservação de Bens Culturais – formalizou as
questões já discutidas pela categoria. As universidades federais do Rio de
Janeiro e da Bahia foram pioneiras na inauguração de disciplinas de
conservação e restauro: na década de cinqüenta, o Prof. Edson Motta introduz
as disciplinas de restauração de pintura de cavaletes e de papel na Escola de
Belas Artes da UFRJ e o Prof. João José Rescala, no mesmo período, a disciplina
de restauração de pinturas dentro do curso de graduação em Belas Artes na
UFBA.
O Centro de Conservação e Restauração da UFMG mantêm, desde 1979,
inicialmente sob a coordenação e direção da Profa. Beatriz Vasconcellos
Coelho, cursos de restauração de pintura de cavalete e escultura policromada,
sendo o primeiro curso de restauro reconhecido oficialmente enquanto curso
de especialização. Atualmente o Departamento de Artes Plásticas da UFMG
mantém um curso de mestrado e doutorado na área de Artes Visuais, cujo
Prof. Dr. Luiz Souza, químico-restaurador com projeção e reconhecimento
internacionais, coordena a linha de pesquisa nas áreas de
Conservação/Restauração. A importância do CECOR é tão extensa, que nele
são oferecidos cursos associados com grandes organismos internacionais –
ICCROM, ICOM, The Getty Conservation Institute, Smithsonian Foundation –,
envolvendo aspectos da conservação preventiva e da ação interventiva apoiada
em bases científicas
Os avanços alcançados através desses cursos são inúmeros, porém, o não
reconhecimento profissional contrapõe-se às exigências de uma formação tão
específica. Profissionais não qualificados e sem nenhuma formação continuam
no mercado, atuando, muitas vezes, de maneira inadequada. Cabe lembrar que
uma intervenção de restauro indevida não é percebida imediatamente;
somente quando seus efeitos daninhos tornam-se visíveis é que as ações
desenvolvidas sem critérios são notadas. Ainda que muitos profissionais
autodidatas atuem de maneira consciente e correta, a regulamentação da
profissão significaria, na prática, uma peneira seletiva nesse mercado de
trabalho. Dentre os inúmeros caminhos percorridos pela formação de
profissionais voltados à preservação dos acervos, atualmente, a conservação
preventiva tem significado uma mudança profunda de mentalidade.
Conservação, restauração e preservação, ainda hoje, são termos que se
intercruzam e se sobrepõem. Todavia, paulatinamente, estas classificações
vêm sendo cada vez mais definidas.

17
Hoje, percebemos que não basta resgatar, investigar, expor e até mesmo
restaurar sem uma política preventiva anterior a estas operações, uma vez que
a deterioração de acervos em reservas e exposições evidencia a falta dessa
política na própria degradação dos objetos. Operações mais drásticas nas
intervenções de restauro e, até mesmo, a perda material desses objetos é o
preço que se paga pelo não investimento na área de conservação preventiva:
antes de ser uma área de conhecimento técnico, torna-se um compromisso
ético das instituições. Por sua vez, a área de conservação e restauro tem
priorizado a conservação preventiva em relação às técnicas de intervenção
direta, como uma maneira de proteger a integridade material dos objetos.
Preservação é a utilização de todas as técnicas científicas disponíveis para
assegurar a manutenção dos artefatos, coleções artísticas e históricas, de
acordo com os critérios que buscam as melhores condições para um
acondicionamento adequado (XVIII Congresso Anual da ABPC, 1988: 1).
Se, em um primeiro momento a ação da Conservação Preventiva implica em
certos custos, a longo prazo resulta em economia quantitativa e qualitativa,
uma vez que preserva a integridade material dos artefatos, possibilitando
estudos mais acurados, ao mesmo tempo em que descarta métodos de
intervenção mais agressivos e caros. Por sua vez, os critérios da Conservação
Preventiva têm sofrido uma série de ajustes, em função das especificidades
dos materiais existentes nos bens patrimoniais, móveis e imóveis, e das áreas
nas quais estes objetos encontram-se lotados. Assim, os critérios adotados em
países de clima tropical não devem ser os mesmos daqueles adotados em
clima temperado: a realidade é distinta; os parâmetros são distintos; os
mecanismos são distintos, portanto, a maneira de controlar cada contexto
também é diferente.
No entanto, não cabe ao conservador perseguir os ideais da Conservação
Preventiva como se fossem dogmas ou leis, mas procurar, a partir destes
parâmetros, desenvolver entre os vários especialistas uma consciência da
materialidade e da vulnerabilidade dos objetos, de modo a encontrar aliados e
não opositores nos projetos preservacionistas. Adaptar-se à realidade das
verbas, do espaço e dos materiais que temos por obrigação cuidar, não é
tarefa das mais fáceis. A partir do momento que conhecemos conscientemente
e tecnicamente nossos problemas é que poderemos encontrar soluções
compatíveis com a nossa realidade. Caminhar na direção do ideal é um passo a
mais para tentar alcançar as condições mais adequadas.

18
A Conservação Preventiva abarca procedimentos relacionados à adequação das
condições ambientais, físico-químicas e de gestão, sob as quais um bem
cultural encontra-se submetido: parte de relações que envolvem o macro-
ambiente, o ambiente médio e o micro-ambiente do entorno do bem cultural,
como também das políticas correlacionadas ao seu uso e preservação; também
busca respeitar as especificidades tanto do edifício quanto da coleção sob sua
guarda, minimizando ao máximo o impacto das degradações por meio da
adoção de alternativas equilibradas que entendam as características do acervo
e da arquitetura, principalmente no que tange ao patrimônio histórico
edificado que cumpre o papel de museu. Diante desses princípios, cada vez
mais os campos ocupados pelas áreas conhecidas como ciências duras, atuam
como disciplinas aplicadas à conservação de bens culturais, abrindo um leque
de possibilidades diante da interdisciplinaridade. Múltiplas são as
preocupações da Conservação Preventiva, considerando que os elementos
degeneradores da matéria atuam de forma associada e estão longe de ser
completamente controlados. Contudo, os princípios filosóficos que abarcam as
relações da Conservação Preventiva consideram:
. os elementos estéticos, históricos, estruturais e materiais constitutivos de um
patrimônio edificado e sua vulneralibilidade;
. os elementos estéticos, históricos, estruturais e materiais constitutivos de um
bem cultural móvel e sua vulneralibilidade.
Dessa forma, sedimenta a indispensabilidade das relações com as Ciências
Humanas no entrecruzamento das ações, a partir do momento que
compreendemos que as relações de vulnerabilidade são determinadas não
apenas pela qualidade físico-química da materialidade de um bem cultural e
sua interação com o ambiente em que encontra-se exposto, mas também
pelos riscos potenciais às catástrofes de ordem humana ou natural e em
relação às escolhas culturais, sociais e políticas.
Assim, uma política de Conservação Preventiva deve ser estruturada por
projetos de curto, médio e longo prazo; parte normativa de Planos Diretores
institucionais e abarcando todos os profissionais de museu: diretores,
pesquisadores, arquitetos, museólogos, documentalistas, conservadores, além
do apoio técnico. Esta política deve expandir-se para além das paredes
institucionais e integrar-se aos programas políticos culturais relacionados
tanto ao desenvolvimento urbano quanto às ações culturais. Por sua vez, é
indispensável que componha os quadros de produção e pesquisa científica nas
dotações orçamentárias das instituições de fomento, bem como nas diretrizes

19
de uma política pública do Estado que entenda a preservação de seu
patrimônio como parte inerente da formação educacional.
No âmbito internacional a Conservação Preventiva está circunscrita não apenas
nos esforços conjuntos para a formação de profissionais; no investimento em
pesquisas específicas – como a compreensão dos climas tropicais e o impacto
nas coleções –; e na promoção de debates em torno do tema, mas
principalmente nas implicações políticas que devem ser apropriadas também
por essa área considerando a situação do patrimônio em risco devido às
guerras e às violações das cartas construídas pela ação da UNESCO – direta ou
indiretamente – ao longo da segunda metade do século XX. Assim, para além
das Ciências Exatas e Biológicas, questões sociais de fundo, como políticas
públicas e ações internacionais determinam a preservação tanto de coleções
museológicas quanto de bens culturais imóveis.

4. O cientista conservador no Séc. XXI

O cientista conservador é um dos últimos personagens a ingressar no cenário


artístico, arqueológico e histórico no que tange o campo da preservação. No
final do século XX as ações de intervenção ou de conservação demandaram
uma formação cada vez mais especializada. A indispensabilidade da
compreensão tanto dos materiais quanto do ambiente teve como resultado a
proposição de um espaço para este cientista.

Em outubro 1997, quarenta cinco peritos de dezesseis países europeus


encontraram-se na Italia para discutir o papel do conservador-restaurador e
de seu treinamento. O debate focou a necessidade de se estabelecer níveis de
instrução diferentes, porém sempre atrelados à formação universitária –
pesquisa, ensino e extensão (ECCO, 1997). O documento resultante conclui
que não é possível pensar sobre a conservação sem a sustentação de ciências
naturais. Trabalhos de arte não somente para ter o valor estético e histórico,
mas também uma natureza física que deva ser considerada. Compreendendo
as propriedades dos materiais; o micro e o macro-ambiente; o estado da
preservação e os processos da deterioração; o desenvolvimento de materiais e
de métodos de conservação, a área passa a consolidar um saber
específico. Entretanto, enquanto os papéis dos curadores, conservadores e
documentalistas parecem estar estabelecidos, o mesmo não se dá para com os
cientistas da conservação. A definição do termo, a abrangência de atuação e
formação tornou-se imprescindível para a ocupação de um espaço social. Nos

20
últimos anos o treinamento na área de Ciência da Conservação emergiu:
atualmente há três cursos oferecidos pela De Montfort University, Queen's
University.

Para a definição do perfil e do escopo de treinamento específico para


cientistas-conservadores, um seminário internacional ocorreu em Bolonha em
novembro de 1998. Ao contrário da reunião de Pavia, que foi restrita à Europa,
a participação mundial garantiu maior visibilidade ao evento. O Documento de
Bolonha resultante desse encontro descreve o papel e as habilidades do
cientista-conservador e as bases de sua formação. Neste contexto, a alteração
dos paradigmas científicos estabelece na interdisciplaridade – não na
hierarquia dos saberes – as bases de sua construção. Cursos de pós-
graduação em Ciência da Conservação convergem pessoas de várias áreas de
formação. O documento de Bolonha estabelece:

Um cientista da conservação pode ser definido como um


cientista formado nas áreas biológicas, exatas e/ou em
disciplinas aplicadas, com amplo conhecimento de
conservação (ética, história, valores culturais, história
tecnológica, tecnologias de conservação prática antigas e
atuais, aspectos científicos específicos etc.) capaz de
contribuir para o estudo e a preservação do patrimônio
cultural junto a um grupo interdisciplinar2.

Como desdobramento desse debate, em 2000 uma carta foi escrita por um
grupo encabeçado pelo cientista R.Mazzeo no encontro trienal do ICOM-CC em
Lyon. O documento questiona a lógica do estabelecimento desses cursos: não
basta que os candidatos tenham formação em ciências naturais, é
indispensável que já atuem na área. Uma vez que todos esses cursos são
estabelecidos ao nível de pós-graduação – mestrado e doutorado (MPhil e de
PhD) –, a formação anterior pode advir de áreas distintas, mas no processo de
seleção é a experiência e a familiaridade com a prática da preservação, exposta
no currículo e no projeto de pesquisa, que adquirem peso maior.

O Documento de Bolonha não é a resposta definitiva ao problema posto –


epistemológico e prático –, mas é um marco no estabelecimento de um campo
de pesquisa indispensável. Nas últimas décadas, a Ciência da Conservação

2A Conservation Scientist today can be defined as a scientist with a degree in one of the natural, physical
and/or applied scientific disciplines and with further knowledge in conservation (ethics, history, cultural
values, historical technologies, past and present conservation technologies and practice, specific scientific
aspects, etc.) which enables him/her to contribute to the study and conservation of cultural heritage within
an interdisciplinary team.

21
forjou suas bases de conhecimento metodológico e epistemológico baseada
em noções advindas de outras áreas de conhecimento; mais do que nenhum
outro campo é uma ciência que se alimenta das descobertas e procedimentos
de outras áreas, ao mesmo tempo em que elabora teorias e métodos aplicáveis
apenas na sua prática. No entanto, mais do que nunca, não são apenas as
práticas de laboratório que ditam seus caminhos: se pretende conhecer-se e
reconhecer-se como ciência, demanda compreender sua construção
epistemológica tanto quanto suas operações estruturais.

Conservação como ato intelectual é premissa para crer


que conhecimento, memória e experiências são
circunscritas à construção cultural, especialmente à
cultura material. A preservação – de uma pintura, um
edifício ou uma paisagem – busca estender esses
elementos até o presente, estabelecendo uma mediação
crítica para a interpretação dos processos que reforçam
todos os aspectos da existência humana. Os objetivos da
conservação envolvem a avaliação e a interpretação do
significado do patrimônio cultural para sua preservação,
resguardando-o no presente e no futuro. Nesse sentido,
a conservação em si é uma maneira de ampliar e
consolidar identidades culturais e narrativas históricas
para além do tempo, por meio da valorização e da
interpretação do patrimônio cultural3 (MATERO, 2000:
s.p.).
A Ciência da Conservação torna-se articuladora entre a teoria cientifica das
ciências exatas e humanas, e cada vez mais vem conduzindo pesquisas que
envolvem profissionais acadêmicos e de instituições de museus, cujos
resultados demonstram que a análise dos vários aspectos – culturais,
econômicos, estilísticos, históricos, etc. – que um objeto artístico-cultural
representa só é possível através da interdisciplinaridade e do diálogo.

O trabalho científico da preservação não pode ser conduzido em um vazio


político. As decisões concernentes à dotação de recursos e à conservação das
propriedades culturais implicam em considerações políticas. Um maior apoio
político para a conservação e a preservação de bens culturais dependerá de
uma maior consciência pública de sua necessidade. As ações internacionais,

3 Conservation as an intellectual pursuit is predicated on the belief that knowledge, memory, and
experience are tied to cultural constructs, especially to material culture. Conservation –- whether of a
painting, building, or landscape –- helps extending these places and things into the present and
establishes a form of mediation critical to the interpretative process that reinforces these aspects of human
existence. The objectives of conservation also involve evaluating and interpreting cultural heritage for its
preservation, safeguarding it now and for the future. In this respect, conservation itself is a way of
extending and solidifying cultural identities and historical narratives over time, through the valorization and
interpretation of cultural heritage (no original).

22
respaldadas em conceitos, critérios, parâmetros e métodos de lidar com o
patrimônio cultural, impõem uma nova postura àqueles que trabalham com os
bens culturais e com a própria noção de cultura.

Compreender a abrangência dessas questões torna-se imprescindível tanto à


construção epistemológica da disciplina, quanto à percepção da efetiva ação
social da Ciência da Conservação enquanto área responsável pela preservação
das fontes documentais e culturais representativas da diversidade, da
heterogenia, da alteridade e do multi-culturalismo.
Os desafios relacionados à filosofia, ética e diretrizes nas ações concernentes à
preservação perpassa pelos próprios desafios estruturais das sociedades
capitalistas: o discurso oficial transmitido através da educação, da construção
de museus, da seleção do que “merece” ser preservado, enfim, a condução dos
recursos financeiros, esforços humanos e discursos acadêmicos ou intelectuais
mantêm as estruturas de dominação ao invés de permitir a multiplicidade ou a
multiplicação de identidades. O discurso que nivela, mascara e silencia as
diferenças. Compreender a abrangência dessas questões torna-se
imprescindível tanto à construção epistemológica da disciplina, quanto à
percepção da efetiva ação social da Ciência da Conservação enquanto área
responsável pela preservação das fontes documentais e culturais
representativas da diversidade, da heterogenia, da alteridade e do
multiculturalismo e da Conservação Preventiva como base normativa.

Referencial Bibliográfico
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