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Breve Historia dos Museus e do

Colecionismo
HOMEM OBJETO
Público, grupos especiais, Coleção, acervo,
comunidade, sociedade referência patrimonial,
RELAÇÃO indicador de memória
específica, profunda,
(re) significação,
comunicação

CENÁRIO
Museu:
edifício, instituição,
espaço aberto,
múltiplos espaços,
Território de intervenção
O patrimônio é o conjunto de bens constituído na relação do
homem com o ambiente e com os outros homens, além das
interpretações destas relações. A Museologia estaria
preocupada com a análise do comportamento do homem em
relação a este patrimônio e, ao mesmo tempo, com sua
tomada de consciência sobre o mesmo, que corresponderia à
transformação do patrimônio em herança patrimonial
(Cristina Bruno, 1996).
“Muito mais do que existir para os
objetos, os museus devem existir
para as pessoas”
(Hugues de Varine-Bohan)
- Por que o objeto é o elemento básico dos museus?

OBJETO para nós não deve ser confundido simplesmente como artefato. Vamos
considerar OBJETO como qualquer elemento da realidade; existente fora do
homem.

Isto a que chamamos de objeto, nos museus tradicionais é a COLEÇÃO, que


neste caso equivale ao patrimônio a ser preservado e transmitido.

Em novos processos museológicos as ações podem partir também de outros


tipos de objeto ou patrimônio, chamados também de Referências Patrimoniais ou
Indicadores de Memória.
“Os museus não valem como depósitos de
cultura ou experiências acumuladas, mas
como instrumentos geradores de novas
experiências e renovação da cultura”
(Carlos Drummond de Andrade)
Existem muitos tipos de museus e coleções.
Em nossa breve história iremos focar apenas o contexto dos
museus tradicionais, seguindo o modelo institucional difundindo a
partir do século XIX, na maioria públicos/estatais e de viés
científico. Neste caso, vale destacar o conceito de “coleção”, que
ao longo da História ajudou a constituir a trajetória dos museus,
pois antes que os museus existissem tal como as instituições que
conhecemos hoje, existiam apenas COLEÇÕES.
§ O COLECIONISMO NA ANTIGUIDADE:
Templo de Olimpia
Templo de Delfos
Tesouro dos Atenienses em Delfos
Culto a Esculápio
Roma e o contexto da vida privada, gosto privado e a história privada
§ O COLECIONISMO NA IDADE MÉDIA:
Com a queda do Império Romano houve o surgimento de novas culturas na Europa
sob a égide da presença dos povos bárbaros espalhados pelo continente.
De certa forma esta situação promoveu o “entesouramento” dos bens sob a
perspectiva da salvaguarda e o início da formação de “tesouros”, mais do que
“coleções”, que incluíam relicários, peças de ourivesaria, artefatos litúrgicos,
manuscritos e vestimentas. Na maior parte das vezes, esses eram guardados nas
igrejas e monastérios que se tornam o novo centro do mundo artístico. O saque a
Constantinopla (Istambul) em 1204, promovido pelas Cruzadas, faz surgir tesouros
como o da Igreja de São Marcos, em Veneza e de Saint Chapelle, em Paris.
O período de transição aos tempos modernos deixará de lado o interesse exclusivo
pelo valor material e simbólico dos objetos, ressaltando também o valor histórico,
artístico e documental.
§ O COLECIONISMO DURANTE O RENASCIMENTO:
O Renascimento supõe a revalorização do mundo clássico e de todas as culturas
antigas.
As viagens ao Oriente, Grécia e Egito impulsionam o surgimento de novas
coleções, concebidas como elemento de prestígio.
Por este período passa a haver uma distinção entre obras realizadas pelo homem
(artificialia) daquelas realizadas pela natureza (naturalia). Com as segundas
formavam-se os “gabinetes de curiosidades” e os “gabinetes das maravilhas” com
objetos raros e preciosos. O esplendor artístico e cultural da Itália neste período
contribuiu para a disseminação de coleções também na França, que adquiria não
só antiguidades mas também quadros de Leonardo da Vinci, Michelangelo e
Ticiano, entre outros.
Próximo da transição para o período seguinte, considerando também
alguma influência dos países do norte da Europa, a enorme diversidade
de tipos de coleção influencia certa atitude no sentido da sistematização:
surgem coleções específicas de minerais; outras de plantas, armas,
armaduras, retratos de imperadores, esculturas clássicas, etc...

É também por volta do final do século XVI que surgem os grandes


patrimônios artísticos nacionais europeus em torno das Casas Reais,
origem dos atuais museus europeus. Estas coleções influenciariam
outras tantas coleções particulares, inferiores qualitativamente mas
semelhantes em conteúdo, função e critério expositivo.
Das coleções particulares, ao longo do século XVII, irão sair novas e
diversificadas atitudes com relação ao colecionismo. Vale destacar as
transações de coleções inteiras que fazem, inclusive, com que algumas
trasladem de um país a outro, ou que despertem maiores interesses,
mobilizando mercados ou alçando interesses políticos.

Desse panorama de novas atitudes com relação às grandes (e ecléticas)


coleções, surge o Ashmolean Museum de Oxford (criado em 1683),
primeiro museu organizado como Instituição Pública, aberto a um público,
ainda que restrito, mesmo antes de ser definitivamente legado à
Universidade de Oxford.
§ O COLECIONISMO NO SÉCULO DA CRIAÇÃO DO LOUVRE
(Séc. XVIII):

Muitos são os acontecimentos sucedidos durante este século.

§ O início das escavações arqueológicas de Pompéia e Herculano impulsiona


os estudos arqueológicos que terão por conseqüência a formação de coleções que
serão a base dos museus deste tipo.

§ A formação das Academias de Belas Artes (Viena, Berlim, Madrid, Londres,


Veneza) impulsiona a realização das Exposições de Arte que passam a atrair um
grande público.
A criação do Museu do Louvre é sem duvida uma etapa chave na evolução dos
museus. Sua origem se remete ao reinado de Francisco I (1515 – 1547) que formou
uma importante Pinacoteca com obras dos mestres do Renascimento Italiano. Era
uma coleção significativa, porém relativamente pequena. Outros monarcas fariam da
cultura e das artes seu programa político e ampliariam a coleção de 200 para 2000
obras, dispersas pelos palácios das Tulherias, Versalhes e Luxemburgo, além do
próprio Louvre. A opinião “pública”, incentivada sobretudo pelos intelectuais e
enciclopedistas do período do Iluminismo, mobiliza a realeza a expor suas coleções.
Com o advento da Revolução Francesa, em 1789, as coleções foram incrementadas
com o confisco dos bens pertencentes às Ordens Religiosas e à Nobreza. Em 1791
o Louvre é destinado a funções artísticas e científicas, concentrando-se nele todas
as coleções da coroa. Em 1793 é aberto ao público. Esta data é tida como a
referência de origem dos museus nacionais da Europa.
§ O COLECIONISMO NORTE AMERICANO:

Cabe ainda ressaltarmos o aspecto que o colecionismo passa a ter na América


quando, a partir do século XIX, os EUA convertem-se numa grande potência
econômica.
Os chamados mecenas, por razões de prestígio ou benefícios fiscais, passam
a dotar o país de coleções artísticas européias, que por razões de sua história
recente não possuía.
OS MUSEUS NO BRASIL:

Somente no séc. XIX, após a chegada da família imperial ao Brasil, nosso país
constitui seus primeiros museus. As primeiras instituições deste tipo tinham, no
Brasil, um perfil vinculado às pesquisas em ciências naturais, dentro de uma
perspectiva classificatória e evolucionista. O Museu Nacional (1818), do Rio de
Janeiro, o Museu Paraense Emílio Goeldi (1866), o Museu Paulista (1894),
entre outros, desenvolviam as tarefas que mais tarde passaram para os
institutos de pesquisa. Sua fragilidade, por outro lado, se explicava pelo fato de
não terem uma imagem relacionada ao profissionalismo, mas à figura
carismática de seus diretores ou, no caso do Museu Nacional, do seu
mecenas, D. Pedro II.
O Museu Paulista, juntamente como outros como o Museu Júlio de Castilhos
(RS), de 1903, está também ligado a uma política de criação de museus
provinciais (mais tarde estaduais) a à necessidade de afirmação dos poderes
locais.

Em contrapartida, a iniciativa de Gustavo Barroso na década de 30, de criação do


Museu Histórico Nacional e do primeiro curso de Museologia da América do Sul,
vêm no sentido de busca de uma identidade nacional de base não apenas
estética, mas intelectual.

Na mesma década, toda uma política de criação de museus nacionais é criada,


privilegiando temas como o Ouro, as Missões, a Inconfidência, etc., constituindo
os primeiros museus monográficos brasileiros.
Entre 1964 e 1980, ocorreu uma multiplicação de museus no Brasil bastante
associada ao modelo de Museologia de Gustavo Barroso de “culto à Nação e à
Identidade Nacional.” Nos anos 70 houve uma incipiente política museológica,
com a proposição do Sistema Nacional de Museus, de curta duração.

Na década de 80 muitas instituições entraram em colapso por falta de políticas


de gestão e mesmo de financiamento, crise que viria a se agravar na era da
informação via internet. Porém, a reestruturação vista nos anos 90 permite que
os museus hoje subsistam por meio da reavaliação de suas funções e por
estudos e ações que reaproximaram os museus de seu público, permitindo
inclusive a inserção de novas funções, além da recapacitação técnica de antigos
procedimentos.
Nos últimos 30 anos, profundas alterações revolucionaram a Museologia e
seguidas reuniões internacionais produziram documentos onde podemos
identificar novas preocupações, que não apenas a preservação material dos
objetos. São elas: o papel social da Museologia, a necessidade de integração
do patrimônio ambiental ao cultural, a importância da função sócio-educativa
do museu e do estímulo à reflexão e ao pensamento crítico, a afirmação do
museu como meio de comunicação. O novo foco passou a ser o museu como
espaço de interação social com o patrimônio.
“Se o museu hoje pode ser compreendido como o cenário que
torna possível a relação homem/ objeto, ambos participantes
de uma mesma realidade, a ação museológica deve ser
entendida como uma possibilidade de crescimento e
aprofundamento da consciência, uma consciência crítica e
histórica que possibilita a ação; ação na qual o homem exerce
sua plena humanidade, pois só se é humano no pleno exercício
da liberdade e da criação ”

(Waldisa Russio Guarnieri)

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