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#1 Mexendo o esqueleto pág 8
Maria Lídia Magliani
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> não almeje um produto final a partir da proposição
dos exercícios; o foco deve ser o processo e as
descobertas que fazemos a partir dele
Viagem para Dentro de Mim é endereçado a > os exercícios são apenas um ponto de partida.
crianças (de todos os tamanhos!) e também incentive a liberdade e a autonomia da criança, dando-a
às suas famílias. Ele foi pensado para ser espaço para seguir o exercício da forma que preferir,
podendo, inclusive, subverter as orientações dadas e
lido conjuntamente, convidando mães, criar novas experiências a partir das propostas
pais e responsáveis a se engajarem nas
criações propostas. Requer-se, sobretudo, a > embora o livro seja voltado às artes plásticas, ele dialoga
disponibilidade em acolher o que passa no com outras múltiplas formas do fazer artístico, como a
mundo interno das crianças através de uma música, a dança e a culinária. explore essas intersecções,
escuta ativa e participativa, fortalecendo expandindo as possibilidades de experimentação
os vínculos que nos unem, especialmente
> ao final de cada atividade, dedique um tempo para conversar
quando enfrentamos desafios juntos. Embora sobre as criações realizadas, lembrando que a leitura dos
os exercícios não tenham sido pensados por trabalhos jamais deve ser feita a partir de aspectos formais da
faixa etária, acreditamos que ele pode ser produção artística, como algo ‘certo ou errado’, ‘feio ou bonito’
melhor aproveitado por crianças a partir
dos 5 anos. Aos adultos que irão ler este livro > com relação às obras-inspiração para as atividades, sugerimos
ao lado de uma criança, propomos algumas que pais, mães e professores que vierem a utilizar esse livro
em sala de aula, pesquisem sobre o artista e sua produção,
orientações de mediação das atividades: localizando os contextos histórico, social, político e artístico com os
quais ele se relaciona (no perfil do instagram do projeto
@viagemparadentrodemim é possível acessar o perfil de todos os
artistas que integram o livro)
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Eu sou muito diferente do meu corpo
Ele é alto e magricela
Eu sou de outras maneiras
Ele caminha de frente
Eu, para todos os lados
parte 1
Ele se banha em água
Eu, me banho com risadas
À noite ele dorme
Eu, em sonho me transporto
Ele fica mais velho
Eu, estou sempre no zero
Eu sou muito diferente do meu corpo
Mas entre todos, o escolho
Porque ele me deixa ver
através dos seus olhos
Jorge Luján
Meu corpo e eu
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Obra-inspiração: Mundaréu (2006) Artista: Maria Lídia Magliani
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Obra-inspiração: Perdas (2019) Artista: Marlies Ritter
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Perdas (2019). Cabelos bordados em feltro.
Nossos fios de cabelo não seu cabelo começou a exercício 2
caem somente quando cair. Ela passou a juntar os
tomamos banho ou o fios que se desprendiam,
penteamos. Nas épocas frias guardando eles em rolinhos
do ano, como o inverno, é dentro de uma caixa de
natural que os fios caiam sabonetes. Um dia, reuniu
com mais frequência. Se todos os rolinhos, e junto
passamos por uma situação de um pedaço de feltro
de estresse ou estamos muito e de uma linha, construiu
sensíveis, nosso corpo sente a obra Perdas (2019).
e alguns fios podem cair.
Quando a artista Marlies Assim como Marlies fez 1 Observe os materiais, marcas, vestígios e pistas
Ritter saiu da casa onde com seus fios de cabelos, o presentes na sua casa, sobretudo aqueles que
passou toda a sua vida para que mais podemos inventar não costumamos dar tanta atenção ou que se
viver em um apartamento, a e construir a partir de perdem nas atividades do dia-a-dia, como os fios
mudança foi muito difícil para vestígios e pistas presentes de cabelo. Pode ser mesmo um resíduo reciclável
ela. Por causa do estresse, no cotidiano de nossa casa? ou orgânico - cascas de alimentos, embalagens de
produtos, saquinhos de chá.
material de apoio:
4 A partir da conversa e dos materiais
No curta-metragem de animação Hair Love, vemos a
encontrados, desenvolvam uma criação coletiva.
história da menina Zuri e sua relação com seus cabelos.
Tudo começa quando Zuri pula da cama, veste sua roupa
de bailarina e decide transformar seus cabelos crespos
em um arranjo de tranças. Assim como a obra de Marlies,
Hair Love nos diz sobre os pequenos sentidos da vida
contidos em situações cotidianas como pentear os cabelos.
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Obra-inspiração: Sentar, Sentir, Ser (2006 - 2015) Artista: Zoravia Bettiol
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Tendo como inspiração
a obra de Zoravia, esse
exercício propõe a criação
de um autorretrato onde
apareçamos sentados. Esse
autorretrato pode ser em
desenho, pintura ou mesmo
fotografia*. Além de nos
desenharmos, é interessante
que exploremos o espaço
do entorno, inserindo
elementos, cores e formas
que conversem com o
nosso autorretrato, como
Zoravia faz em suas obras.
Eu sou só aquilo que vejo?
Como os outros me vêem?
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Ela procura estudar o modo como a luz se distribui
pelos cômodos a certas horas
e dar-se conta dos pontos de convívio entre o dentro e o fora
(...)
parte 2 uma casa, uma membrana entre o corpo e a noite,
um filtro para as formas do mundo
anteparo contra os golpes do dia, onde as vigas
se põem a cantar
ela aqui se sente mais exposta
mais exterior do que interior
como se a casa não fosse doméstica
como se morar fosse uma afronta
à intensidade do dia
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Obra-inspiração: Anamorfas (1990)
Artista: Regina Silveira (Porto Alegre/RS, 1939) Se pararmos pra pensar, a ideia
que temos de uma mesma coisa
nem sempre é igual a das outras
pessoas. Quando você pensa
em uma xícara, por exemplo,
que imagem lhe vem à cabeça?
Experimente fazer essa pergunta a
alguém da sua família e peça que
cada um desenhe em detalhes a
imagem que tem de uma xícara.
Desenhe a sua também e compare
os desenhos entre si. Será que as
xícaras serão exatamente iguais?
Partindo dessa nossa relação
com os objetos, propomos
que você explore os objetos
presentes na sua casa,
descobrindo qual ou quais
histórias eles carregam consigo.
Fios de cabelo, espelhos, objetos cotidianos a partir de
música, dança. Agora que diferentes ângulos, brincando
ativamos nossos sentidos, é com a aparência das formas
hora de olharmos com mais das coisas. Seus desenhos
atenção para eles: os objetos. causam uma sensação de
Nossa casa é cheia de objetos! estranhamento, provocado
A panela que usamos para pela representação de
cozinhar, as cadeiras que determinado objeto que em material de apoio:
usamos para sentar, o pente nada se parece com a imagem o Museu das Coisas Banais, criado em 2014, busca
para pentear, a tesoura que temos dele. preservar todo e qualquer objeto banal que tenha algum
para cortar. Dos maiores aos valor afetivo, pertencente a qualquer pessoa, como
menores, quantos objetos portadores de memória e formadores de identidade.
será que uma casa só pode O acervo do museu é inteiramente virtual, composto de
guardar? eventos, lugares, pessoas, sentimentos, trecos, troços
e coisas. No site, há uma espaço para você cadastrar
seu objeto e integrá-lo ao acervo do museu.
Anamorfas (1990) é o nome
Para ver a série Anamorfas,
dado a uma série de trabalhos
clique aqui
da artista Regina Silveira, em
que ela fotografa e desenha
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exercício 4
1 Olhe com atenção para os objetos presentes na sua casa e 6 A partir desses objetos, escolham um
escolha um que tenha algum significado especial para você, canto da casa para transformarem em um
como um brinquedo ou uma roupa que você goste. pequeno museu, onde ficam expostos os
objetos mais especiais de cada um.
2 Analise as características materiais desse objeto. Ele é
grande ou pequeno? Novo ou velho? Leve ou pesado? Que
textura ele tem? Existe nele alguma marca do tempo ou do uso?
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Obras-inspiração: Diário de uma Boneca e
Zabelê Beremi Bambata – a Menina de Sucata No livro Zabelê Beremi
Artistas: Lia Menna Barreto (Rio de Janeiro/RJ, 1959) Bambata – a Menina de
e Jô da Sucata (Cachoeira do Sul/RS, 1974) Sucata, a artista Jô da Sucata
explora as possibilidades da
arte com sucata através da
literatura, pensando temas
como a diversidade humana
e a educação ambiental.
Zabelê Beremi Bambata é
a protagonista da história;
uma menina que vive uma
vida feliz com sua família. Em
busca de novas aventuras,
ela resolve criar amigos
a partir de sucatas. Delas
surgem uma infinidade de
bonecos - palhaços, animais,
seres fantásticos. O livro é
um convite a explorarmos
Na lista dos nossos afetos um hábito que manteria por nossa imaginação e darmos
de infância, os bonecos mais de um ano: todos os dias, nova vida a materiais
ocupam um lugar especial. a artista ia ao seu ateliê e que poderiam parar
Eles são o centro de muitas fazia uma boneca. Resistentes no lixo, criando nossos
de nossas brincadeiras, nos ou delicadas, tristes ou próprios bonecos.
acompanham na hora de alegres, coloridas ou pálidas,
dormir ou quando vamos à cabeludas ou carecas. Para
escola. Às vezes nos apegamos construí-las, a artista utilizava Jô, acima, e Lia, na segunda imagem, com
suas criações
a certos bonecos de tamanha os materiais que tivesse em
forma que eles deixam de ser casa: papel alumínio, madeira,
apenas brinquedos, tornando- panos, pauzinhos de picolé.
Você sabe o que é um diário? Diário é um tipo de texto pessoal,
se amigos e fiéis companheiros. Ela recortava, costurava e
geralmente em formato de caderno, onde escrevemos sobre
Você tem ou teve algum remendava, dando a cada
sentimentos, pensamentos e acontecimentos da nossa vida.
boneco que marcou a sua boneca características únicas.
O diário, na maioria das vezes, é algo íntimo. Além de ser uma
vida? Como ele se chama? Desse exercício, gerou uma
forma de registrarmos a passagem dos dias, ele permite que
De que modo se parece? coleção de muitas bonecas
conversemos com nós mesmos através da escrita. Por que será que
Certo dia, a artista Lia Menna (aproximadamente 400!),
a artista Lia Menna Barreto deu nome de ‘Diário de uma boneca’
Barreto resolveu fazer uma que participaram de uma
para a obra aqui mencionada? Será que é possível criarmos um
boneca para sua filha, que há fase importante de sua
diário que seja feito de alguma outra forma que não através da
pouco viera ao mundo. Desse vida. Assim nasceu Diário
escrita em um caderno? Quais são as possibilidades de marcarmos
primeiro gesto, Lia iniciou de uma boneca (1998).
a passagem do tempo e registrarmos os nossos sentimentos?
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exercício 5
material de apoio:
Como trabalhar com bonecos para uma abordagem
pedagógica multicultural e inclusiva discorre sobre
a importância dos bonecos para a expressão dos
sentimentos e construção de identidade das crianças.
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Irani (2017). Acrílica, bordado e colagem.
Obra-inspiração: Restauro (2016)
Artista: Jorge Menna Barreto (Araçatuba/SP, 1970) completa sobre o ato de comer, Para ver o registro da obra
envolvendo todos os sentidos Restauro, clique aqui
do nosso corpo, pensando
a alimentação como uma
questão coletiva, ambiental,
cultural e social. Isso porque
nossos hábitos alimentares têm
consequências e impactam
diretamente o meio ambiente.
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4 No momento da refeição, compartilhem
suas impressões sobre os sabores presentes na
comida. Para criar uma experiência completa,
como Jorge Menna fez em Restauro, você
pode escolher uma trilha sonora especial
para acompanhar o momento da refeição,
com alguma música ou som que você imagine
combinar com a receita escolhida.
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(...)
Olha aquela bola
A bola pula bem no pé
No pé do menino
Quem é esse menino?
Esse menino é meu vizinho
Onde ele mora?
Mora lá naquela casa
Onde está a casa?
A casa tá na rua
parte 3 Onde está a rua?
Tá dentro da cidade
Onde está a cidade?
Tá do lado da floresta
Onde é a floresta?
A floresta é no Brasil
Onde está o Brasil?
Tá na América do Sul
No continente Americano
Cercado de Oceanos
E das terras mais distantes
De todo o planeta
E como que é o planeta?
O planeta é uma bola
Que rebola lá no céu
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Obra-inspiração: cortejo do Bloco da Laje Artista: Bloco da Laje
exercício 8
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Obra-inspiração: A Carroça/Armazém de Histórias Ambulantes (2007 -)
Artista: Ana Flávia Baldisserotto (Caxias do Sul/RS, 1972) Você já deve ter visto Para essa atividade, propomos
circular pela cidade aquelas que você seja a sua própria
carrocinhas que vendem carroça de histórias ambulantes,
churros, pipoca, algodão oferecendo algo feito por você
doce ou cachorro-quente. em troca de um relato (escrito
Já imaginou se existisse ou falado). Quantas histórias
uma carroça que vendesse não estão por aí esperando
desenhos, fotografias e para serem contadas?
outras miudezas em troca
de uma história? Essa é a
aventura que A Carroça de
Histórias Ambulantes vive
pelas ruas de Porto Alegre.
A experiência começou em
2007, a partir do desejo da
artista e professora Ana
Flávia Baldisserotto. Nessa
carroça não circula dinheiro.
Ela funciona assim: você
conta uma história (qualquer
história!) e, em troca, recebe
um desenho, um cartão postal,
uma fotografia – peças únicas,
feitas de forma artesanal, que
são oferecidas àqueles que
sentirem de compartilhar sua
história com A Carroça, que
pode ser tanto falada quanto
escrita. Todos esses relatos
são incorporados ao acervo
d’A Carroça, gerando uma
microeconomia poética que faz
circular pedaços de memórias,
sonhos e experiências.
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2 Elabore a sua moeda de troca - aquilo
exercício 9 que você vai dar às pessoas em troca
delas te contarem uma história. Ela pode
ser material, como um desenho ou uma
comida preparada por você, ou algo
subjetivo, como um abraço ou uma dica
de leitura. Dá até para pensar em algo
relacionado à história contada, do tipo:
a pessoa te conta determinada história e
você faz um desenho inspirado nela, a ser
entregue como forma de retribuição.
1 Pense sobre onde, quando e com quem
você vai iniciar sua busca por histórias.
Você pode começar pela sua família 3 Crie um acervo dessas histórias. Reúna
e vizinhos, sejam eles de porta, rua ou esses relatos compartilhadas com você
bairro. Peça que eles te contem a história e registre-os de alguma forma, em texto,
sobre como e quando eles se mudaram áudio ou vídeo.
para o mesmo edifício/rua/bairro que
você. Ligue para seus familiares e amigos
que você não vê há bastante tempo.
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Obras-inspiração: cartazetes do Nervo Óptico
e as caixinhas de fósforo de Otacílio Camilo artísticos - cursos, palestras,
Artistas: Nervo Óptico e Otacílio Camilo (Porto Alegre/RS, 1959 - 1989) concertos musicais, exposições
- e por onde circulavam artistas
de todo o canto. Mais do que
tudo, o Espaço N.O funcionou
como um lugar de encontro e
experimentação, onde artistas
se reuniam para compartilhar
suas ideias e criações.
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Tendo como inspiração as produções independentes do grupo 3 Defina o suporte da 4 Para fazer seu material,
Nervo Óptico e do artista Otacílio Camilo, essa atividade sua produção. Você pode você também pode usar outras
propõe que você construa uma publicação sua. escolher um suporte mais publicações, como um jornal
Qual mensagem você gostaria de espalhar por aí? tradicional, como um da sua cidade. Dê uma olhada
cartazete, ao estilo das em algum jornal impresso ou
publicações do Nervo digital e selecione uma imagem
Óptico, ou algo inusitado, e/ou título de alguma matéria
como as caixinhas de que chame a sua atenção.
exercício 10 fósforo e os guardanapos Você pode tanto se inspirar
de Otacílio Camilo. nessa matéria para criar a sua
Use a criatividade. publicação, quanto utilizar
elementos dela (recortando
alguma imagem ou palavra do
texto, por exemplo), brincando
com os elementos e situações
apresentadas.
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até a próxima!
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