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#1 Mexendo o esqueleto pág 8
Maria Lídia Magliani

#2 Vestígios dos dias pág 12


Marlies Ritter

#3 Sento, logo desenho pág 16


Zoravia Bettiol

#4 A casa é o museu pág 22


Regina Silveira

#5 Minha querida boneca pág 26


Jô da Sucata e Lia Menna Barreto
#6 Que linha liga o meu
coração ao teu? pág 30
Mitti Mendonça

#7 Da terra ao prato pág 34


Jorge Menna Barreto

#8 Caminhos coloridos pág 40


Bloco da Laje

#9 Me conta uma história? pág 44


Anna Flávia Baldisserotto

#10 Espalhando a palavra pág 48


Nervo óptico e Otacilio Camilo
a viagem

Viagem para Dentro de Mim é um livro.


Também é um exercício do olhar, um universo
coletivo, uma forma de se relacionar com o
dentro-fora. Viagem para Dentro de Mim foi
construído a oito mãos e em poucos meses,
fruto do desejo de dar às famílias e crianças
um pouco de alento nesse período excepcional
em que estamos vivendo. À ordem do dia -
fique em casa -, propomos: viva a casa.
Viagem para Dentro de Mim reúne dez exercícios
lúdico-reflexivos que buscam explorar a expressão
artística através da investigação de materiais e
experiências cotidianas presentes no ambiente
doméstico, tendo como inspiração obras de
artistas locais. O livro é dividido em três esferas
- corpo, casa e cidade -, que não deixam de
ser três grandes casas (há tantas casas quanto
ideias sobre o que consideramos um lar).
Viagem para Dentro de Mim é um convite. Um aceno
a vivermos nossos afetos, fazendo da casa espaço
de troca e criação conjunta. Quantas coisas
novas podemos encontrar nesse(s) território(s)
tão comum(ns) a partir das lentes da arte?

1
> não almeje um produto final a partir da proposição
dos exercícios; o foco deve ser o processo e as
descobertas que fazemos a partir dele

> valorize as reflexões trazidas pela criança, elaborando


novas perguntas a partir dos comentários tecidos por ela e
instigando-a a compartilhar e registrar seu processo criativo

> ao fazer uso de materiais tradicionais, como lápis


ou canetinha, busque explorá-los ao máximo, tanto
como usar esse livro em relação à aplicação usual que deles se faz como à
possibilidade de experimentá-los de outras formas

Viagem para Dentro de Mim é endereçado a > os exercícios são apenas um ponto de partida.
crianças (de todos os tamanhos!) e também incentive a liberdade e a autonomia da criança, dando-a
às suas famílias. Ele foi pensado para ser espaço para seguir o exercício da forma que preferir,
podendo, inclusive, subverter as orientações dadas e
lido conjuntamente, convidando mães, criar novas experiências a partir das propostas
pais e responsáveis a se engajarem nas
criações propostas. Requer-se, sobretudo, a > embora o livro seja voltado às artes plásticas, ele dialoga
disponibilidade em acolher o que passa no com outras múltiplas formas do fazer artístico, como a
mundo interno das crianças através de uma música, a dança e a culinária. explore essas intersecções,
escuta ativa e participativa, fortalecendo expandindo as possibilidades de experimentação
os vínculos que nos unem, especialmente
> ao final de cada atividade, dedique um tempo para conversar
quando enfrentamos desafios juntos. Embora sobre as criações realizadas, lembrando que a leitura dos
os exercícios não tenham sido pensados por trabalhos jamais deve ser feita a partir de aspectos formais da
faixa etária, acreditamos que ele pode ser produção artística, como algo ‘certo ou errado’, ‘feio ou bonito’
melhor aproveitado por crianças a partir
dos 5 anos. Aos adultos que irão ler este livro > com relação às obras-inspiração para as atividades, sugerimos
ao lado de uma criança, propomos algumas que pais, mães e professores que vierem a utilizar esse livro
em sala de aula, pesquisem sobre o artista e sua produção,
orientações de mediação das atividades: localizando os contextos histórico, social, político e artístico com os
quais ele se relaciona (no perfil do instagram do projeto
@viagemparadentrodemim é possível acessar o perfil de todos os
artistas que integram o livro)

Além das orientações de mediação, todas as atividades presentes no


livro contém um ou mais materiais de apoio endereçado às crianças
e aos adultos como forma de expandir as reflexões propostas.

2 3
Eu sou muito diferente do meu corpo
Ele é alto e magricela
Eu sou de outras maneiras
Ele caminha de frente
Eu, para todos os lados
parte 1
Ele se banha em água
Eu, me banho com risadas
À noite ele dorme
Eu, em sonho me transporto
Ele fica mais velho
Eu, estou sempre no zero
Eu sou muito diferente do meu corpo
Mas entre todos, o escolho
Porque ele me deixa ver
através dos seus olhos

Jorge Luján
Meu corpo e eu

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Obra-inspiração: Mundaréu (2006) Artista: Maria Lídia Magliani

Mundaréu (2006). Óleo sobre tela. Acervo do Museu Afro Brasil.

Em Mundaréu (2006), obra da artista Maria Lídia Magliani, vemos


uma série de partes do corpo humano, objetos e formas não
identificáveis. Podemos imaginar que são corpos dançantes, em
uma grande festa. Pensando na situação evocada pela pintura,
Antes de se comunicarem A dança é uma forma de começamos nossa viagem soltando o corpo, fazendo da sala, do
com palavras, as pessoas arte baseada no movimento quarto ou mesmo da cozinha nossa pista de dança.
se expressavam através corporal. Ela está presente em
de movimentos corporais. diferentes situações da vida,
Podemos dizer muito sobre dos rituais às festas. Quando material de apoio:
como nos sentimos a partir dançamos, somos livres.
dos movimentos do nosso Podemos dançar sozinhos Inspirada na pintura de Maria Lídia, criamos uma playlist
corpo, sem necessidade de ou acompanhados, com para ser a trilha sonora da sua dança, com músicas que são
uma delícia para mexer o esqueleto.
falarmos em voz alta. Como movimentos rápidos ou lentos.
quando estamos felizes, e Convidamos a Luanda Dalmazo, historiadora da arte e
damos pulos de alegria! autora da pesquisa intitulada ‘Maria Lídia Magliani: uma
É o corpo expressando trajetória possível’ para falar um pouco sobre a artista e a
nossos sentimentos. obra Mundaréu. Para conferir o relato em vídeo, clique aqui.
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exercício 1
4 Faça pequenos movimentos para soltar o
corpo, como mexer o pescoço de forma
circular, com cuidado, ou balançar os
braços ao redor do corpo. Sinta o ritmo
da música e, aos poucos, ative cada
pedacinho do corpo, envolvendo todas as
partes dele na sua dança.

1 Estabeleça um espaço de casa para


ser a sua pista de dança. Pode ser 5 Não fique parado no mesmo lugar!
o quarto ou a sala, ou ainda um Aproveite o espaço escolhido para
lugar diferente, onde você nunca explorar cada canto dele na sua
tenha dançado - dentro do box do dança – seja esse espaço grande ou
banheiro, na área de serviço. pequeno –, fazendo movimentos próximos
do chão ou para cima, pulando.

2 Observe com atenção o 6 Escolha uma parte do corpo


lugar escolhido. Ele é grande para comandar a dança e ditar
ou pequeno? Que tipos de os movimentos do resto do corpo
movimentos consigo fazer (ex: nariz, joelho, mão). Imagine
dentro desse espaço? que essa parte está te puxando
e conduzindo todos os seus
movimentos corporais.

3 Escolha uma música que você


goste para ser a trilha sonora da
sua dança. Você também pode
experimentar dançar em silêncio. Junto de alguém de sua família,
7
experimente fazer uma dança a
dois (ou três! ou mais!), criando
movimentos que se combinam.

8 9
Obra-inspiração: Perdas (2019) Artista: Marlies Ritter

Uma das coisas que mais


fazemos em casa é tomar
banho. Na hora de lavar os
cabelos, alguns fios caem e
vão embora pelo ralo. Quando
penteamos os cabelos, é normal
que alguns fios caiam também.
Volta e meia encontramos eles
perdidos pela casa, nossos e das
pessoas que vivem com a gente.
Onde será que eles vão parar?

Estamos tão acostumados


com a presença desses Observe o seu cabelo e o de sua
fios que saem de nossas mãe, pai, irmãos, avós. Você
cabeças que muitas vezes consegue perceber a diferença
não pensamos que o cabelo, de um fio de cabelo seu e de sua
além de ter funções próprias, mãe, por exemplo? Seu cabelo
como a de nos proteger é igual ou diferente do dela? Há
dos raios de sol, também alguém na família com o cabelo
contam histórias sobre nós parecido com o seu? Quantos
e nossos antepassados. tipos de cabelo podem existir?

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Perdas (2019). Cabelos bordados em feltro.
Nossos fios de cabelo não seu cabelo começou a exercício 2
caem somente quando cair. Ela passou a juntar os
tomamos banho ou o fios que se desprendiam,
penteamos. Nas épocas frias guardando eles em rolinhos
do ano, como o inverno, é dentro de uma caixa de
natural que os fios caiam sabonetes. Um dia, reuniu
com mais frequência. Se todos os rolinhos, e junto
passamos por uma situação de um pedaço de feltro
de estresse ou estamos muito e de uma linha, construiu
sensíveis, nosso corpo sente a obra Perdas (2019).
e alguns fios podem cair.

Quando a artista Marlies Assim como Marlies fez 1 Observe os materiais, marcas, vestígios e pistas
Ritter saiu da casa onde com seus fios de cabelos, o presentes na sua casa, sobretudo aqueles que
passou toda a sua vida para que mais podemos inventar não costumamos dar tanta atenção ou que se
viver em um apartamento, a e construir a partir de perdem nas atividades do dia-a-dia, como os fios
mudança foi muito difícil para vestígios e pistas presentes de cabelo. Pode ser mesmo um resíduo reciclável
ela. Por causa do estresse, no cotidiano de nossa casa? ou orgânico - cascas de alimentos, embalagens de
produtos, saquinhos de chá.

2 Convide os demais integrantes da sua família a


fazerem o mesmo exercício de atenção e busca.
Peça que eles separem uma ou mais coisas que
podem servir de material para uma futura criação.

3 Dedique um tempo para compartilhar os


achados de cada um. Pergunte a si e às outras
pessoas que estiverem com você: por que
determinado material foi escolhido? O que nesse
material despertou a sua atenção?

material de apoio:
4 A partir da conversa e dos materiais
No curta-metragem de animação Hair Love, vemos a
encontrados, desenvolvam uma criação coletiva.
história da menina Zuri e sua relação com seus cabelos.
Tudo começa quando Zuri pula da cama, veste sua roupa
de bailarina e decide transformar seus cabelos crespos
em um arranjo de tranças. Assim como a obra de Marlies,
Hair Love nos diz sobre os pequenos sentidos da vida
contidos em situações cotidianas como pentear os cabelos.
12 13
Obra-inspiração: Sentar, Sentir, Ser (2006 - 2015) Artista: Zoravia Bettiol
1
Tendo como inspiração
a obra de Zoravia, esse
exercício propõe a criação
de um autorretrato onde
apareçamos sentados. Esse
autorretrato pode ser em
desenho, pintura ou mesmo
fotografia*. Além de nos
desenharmos, é interessante
que exploremos o espaço
do entorno, inserindo
elementos, cores e formas
que conversem com o
nosso autorretrato, como
Zoravia faz em suas obras.
Eu sou só aquilo que vejo?
Como os outros me vêem?

2 3

É provável que nunca fazendo diferentes gestos, mas


tenhamos passado tanto todos com uma característica
tempo dentro de casa. Na comum: possíveis de serem
maior parte do dia, ficamos feitos sentados. A partir da
sentados. Comendo, lendo, posição fotografada, a artista
conversando, assistindo tv… complementa a imagem
Quanto tempo de nossas com cenários, objetos e
vidas será que passamos cores, misturando fotografia,
sentados? E quantas são desenho, pintura e colagem.
as possibilidades de coisas
que podemos fazer quando
estamos assim, seja sob
o sofá ou a cadeira?

Em Sentar, Sentir, Ser (2006-


2015), a artista Zoravia Bettiol
reflete sobre a passagem
do tempo. Ela se fotografa 1 Estudar - série Sentar, Sentir, Ser (2006 - 2015). Fotografia e pintura acrílica.
em situações engraçadas, 2 Trabalhar - série Sentar, Sentir, Ser (2006 - 2015). Fotografia e pintura acrílica.
3 Criar - série Sentar, Sentir, Ser (2006 - 2015). Fotografia e pintura acrílica.
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exercício 3
Você já ouviu falar em selfie? Selfie é o nome em inglês dado
para uma fotografia, geralmente digital, que uma pessoa
tira de si mesma. A selfie nada mais que é um autorretrato!
Antigamente, quando não existiam celulares nem mesmo
câmeras, a pintura e o desenho desempenhavam a função
de retratar as pessoas. Esse exercício de pintar ou desenhar
1  Escolha um espaço de sua casa onde você possa se sentar. alguém levava bastante tempo. Com o surgimento da
fotografia, a prática da pintura de retratos acabou se
2  Separe um espelho, grande ou pequeno, e coloque-o na
sua frente. Caso você não consiga mover o espelho de casa, perdendo. Que tal criar uma série de autorretratos usando
coloque um banco em frente à ele, ou sente-se no chão. diferentes suportes? Caso você tenha uma câmera ou um
celular à disposição, experimente se fotografar em diferentes
3  Passe um tempo olhando o seu reflexo no espelho, ângulos e cenários, fazendo poses ou caretas engraçadas.
percebendo cada detalhe do seu rosto. Nesse exercício
de auto-observação, repare em cada traço - olhos, boca,
nariz. Não tenha pressa. (pense no exercício 2 do livro, onde
falamos sobre fios de cabelo que contam histórias sobre
nossa família. Tem algo do seu rosto que se pareça com o
rosto da sua mãe ou do seu pai?)

4  Passado esse primeiro momento de observação, separe os


materiais que você irá utilizar para criar o seu autorretrato.
Pense sobre como deseja se desenhar, brincando com as
possibilidades de movimentos que você pode fazer sentado,
assim como Zoravia faz em sua obra.

5  Por fim, experimente colocar outros elementos, como


cores e formas, ao redor do seu desenho, criando uma
colagem a partir do retrato. Você pode desenhar o espaço
da sua casa onde você se encontra ou inventar um novo
material de apoio
cenário para ser o pano de fundo do seu autorretrato,
como um lugar que você gosta de estar ou algum outro que Frida Kahlo foi uma artista mexicana que ficou
desejasse que existisse. conhecida pelos seus autorretratos. Ela sofreu um
acidente ainda jovem, e teve que passar muito tempo
de sua vida deitada. Como ela não podia se mover
6  Depois de fazer seu autorretrato, que tal desenhar um
com tanta frequência, começou a pintar. Em episódio
retrato de outra pessoa da sua família? Convide alguém que
do podcast Histórias de Ninar para Garotas Rebeldes,
more com você para uma sessão de desenho, em que um conhecemos um pouco sobre a vida e a obra de Frida.
desenha o outro.

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Ela procura estudar o modo como a luz se distribui
pelos cômodos a certas horas
e dar-se conta dos pontos de convívio entre o dentro e o fora
(...)
parte 2 uma casa, uma membrana entre o corpo e a noite,
um filtro para as formas do mundo
anteparo contra os golpes do dia, onde as vigas
se põem a cantar
ela aqui se sente mais exposta
mais exterior do que interior
como se a casa não fosse doméstica
como se morar fosse uma afronta
à intensidade do dia

Ana Martins Marques


Como se fosse a casa (uma correspondência)

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Obra-inspiração: Anamorfas (1990)
Artista: Regina Silveira (Porto Alegre/RS, 1939) Se pararmos pra pensar, a ideia
que temos de uma mesma coisa
nem sempre é igual a das outras
pessoas. Quando você pensa
em uma xícara, por exemplo,
que imagem lhe vem à cabeça?
Experimente fazer essa pergunta a
alguém da sua família e peça que
cada um desenhe em detalhes a
imagem que tem de uma xícara.
Desenhe a sua também e compare
os desenhos entre si. Será que as
xícaras serão exatamente iguais?
Partindo dessa nossa relação
com os objetos, propomos
que você explore os objetos
presentes na sua casa,
descobrindo qual ou quais
histórias eles carregam consigo.
Fios de cabelo, espelhos, objetos cotidianos a partir de
música, dança. Agora que diferentes ângulos, brincando
ativamos nossos sentidos, é com a aparência das formas
hora de olharmos com mais das coisas. Seus desenhos
atenção para eles: os objetos. causam uma sensação de
Nossa casa é cheia de objetos! estranhamento, provocado
A panela que usamos para pela representação de
cozinhar, as cadeiras que determinado objeto que em material de apoio:
usamos para sentar, o pente nada se parece com a imagem o Museu das Coisas Banais, criado em 2014, busca
para pentear, a tesoura que temos dele. preservar todo e qualquer objeto banal que tenha algum
para cortar. Dos maiores aos valor afetivo, pertencente a qualquer pessoa, como
menores, quantos objetos portadores de memória e formadores de identidade.
será que uma casa só pode O acervo do museu é inteiramente virtual, composto de
guardar? eventos, lugares, pessoas, sentimentos, trecos, troços
e coisas. No site, há uma espaço para você cadastrar
seu objeto e integrá-lo ao acervo do museu.
Anamorfas (1990) é o nome
Para ver a série Anamorfas,
dado a uma série de trabalhos
clique aqui
da artista Regina Silveira, em
que ela fotografa e desenha
20 21
exercício 4

5  Convide as outras pessoas da sua família


a também escolherem um objeto que seja
especial para elas. Façam uma roda de
conversa e compartilhem as histórias sobre
os objetos selecionados.

1  Olhe com atenção para os objetos presentes na sua casa e 6  A partir desses objetos, escolham um
escolha um que tenha algum significado especial para você, canto da casa para transformarem em um
como um brinquedo ou uma roupa que você goste. pequeno museu, onde ficam expostos os
objetos mais especiais de cada um.
2  Analise as características materiais desse objeto. Ele é
grande ou pequeno? Novo ou velho? Leve ou pesado? Que
textura ele tem? Existe nele alguma marca do tempo ou do uso?

3  Em seguida, pense sobre a história desse objeto. De onde ele


veio? Quem o fabricou? Como esse objeto chegou até a minha
casa? O que faz dele tão especial? O que ele diz sobre mim?

4  Depois de investigar cada parte do objeto escolhido, faça


uma releitura dele ou a partir dele, isto é, crie uma obra sua
tendo como inspiração o trabalho de Regina. Você pode
observar esse objeto de diferentes ângulos e sob diferentes
luzes, desenhando-o em perspectivas diversas, como a artista
faz. Além do desenho, experimente outras formas de brincar e
se relacionar com o seu objeto, como:
Você já pensou em como certos objetos podem ser vistos como
* Crie uma história fictícia para aquele objeto, registrando-a coisas banais ou sem importância para algumas pessoas e para a
em detalhes. (Ex: um vestido que você goste e que, antes de ser gente terem um significado muito especial? Uma coisa pode ser
seu, pertenceu a uma rainha que vivia num planeta distante) banal e ao mesmo tempo não ser, dependendo da relação que
estabelecemos com ela. Um brinquedo que você ganhou de presente
* Utilize esse objeto para algo que não foi designado, no seu aniversário de alguém querido, por exemplo. Para uma outra
explorando suas possibilidades de uso para além do utilitário. criança, pode ser um brinquedo qualquer, mas para você não, pois
(Ex: o que posso fazer com um pente além de pentear o cabelo?) existe um valor afetivo. Esse valor dificilmente pode ser medido ou
mesmo entendido por quem não o sente. E será que esses objetos
especiais para você, sua mãe ou seu pai poderiam estar em um
museu? O que torna um objeto valoroso, digno de ser preservado?

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Obras-inspiração: Diário de uma Boneca e
Zabelê Beremi Bambata – a Menina de Sucata No livro Zabelê Beremi
Artistas: Lia Menna Barreto (Rio de Janeiro/RJ, 1959) Bambata – a Menina de
e Jô da Sucata (Cachoeira do Sul/RS, 1974) Sucata, a artista Jô da Sucata
explora as possibilidades da
arte com sucata através da
literatura, pensando temas
como a diversidade humana
e a educação ambiental.
Zabelê Beremi Bambata é
a protagonista da história;
uma menina que vive uma
vida feliz com sua família. Em
busca de novas aventuras,
ela resolve criar amigos
a partir de sucatas. Delas
surgem uma infinidade de
bonecos - palhaços, animais,
seres fantásticos. O livro é
um convite a explorarmos
Na lista dos nossos afetos um hábito que manteria por nossa imaginação e darmos
de infância, os bonecos mais de um ano: todos os dias, nova vida a materiais
ocupam um lugar especial. a artista ia ao seu ateliê e que poderiam parar
Eles são o centro de muitas fazia uma boneca. Resistentes no lixo, criando nossos
de nossas brincadeiras, nos ou delicadas, tristes ou próprios bonecos.
acompanham na hora de alegres, coloridas ou pálidas,
dormir ou quando vamos à cabeludas ou carecas. Para
escola. Às vezes nos apegamos construí-las, a artista utilizava Jô, acima, e Lia, na segunda imagem, com
suas criações
a certos bonecos de tamanha os materiais que tivesse em
forma que eles deixam de ser casa: papel alumínio, madeira,
apenas brinquedos, tornando- panos, pauzinhos de picolé.
Você sabe o que é um diário? Diário é um tipo de texto pessoal,
se amigos e fiéis companheiros. Ela recortava, costurava e
geralmente em formato de caderno, onde escrevemos sobre
Você tem ou teve algum remendava, dando a cada
sentimentos, pensamentos e acontecimentos da nossa vida.
boneco que marcou a sua boneca características únicas.
O diário, na maioria das vezes, é algo íntimo. Além de ser uma
vida? Como ele se chama? Desse exercício, gerou uma
forma de registrarmos a passagem dos dias, ele permite que
De que modo se parece? coleção de muitas bonecas
conversemos com nós mesmos através da escrita. Por que será que
Certo dia, a artista Lia Menna (aproximadamente 400!),
a artista Lia Menna Barreto deu nome de ‘Diário de uma boneca’
Barreto resolveu fazer uma que participaram de uma
para a obra aqui mencionada? Será que é possível criarmos um
boneca para sua filha, que há fase importante de sua
diário que seja feito de alguma outra forma que não através da
pouco viera ao mundo. Desse vida. Assim nasceu Diário
escrita em um caderno? Quais são as possibilidades de marcarmos
primeiro gesto, Lia iniciou de uma boneca (1998).
a passagem do tempo e registrarmos os nossos sentimentos?
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exercício 5

1  Separe tecidos, revistas, sucatas, brinquedos que


já não são usados e outros materiais que estiverem
disponíveis na sua casa.

2  Com esses materiais em mãos, imagine o boneco


que você gostaria de construir. Você pode começar
desenhando o projeto do seu boneco no papel.

3  Pense sobre cada detalhe do boneco - cor, tamanho,


expressão. Busque referência em corpos não humanos,
como bichos e plantas, para inspirar a criação do
seu boneco. Não se atenha a padrões - o divertido é
subvertê-los. Lembre-se: um boneco não precisa ter
dois olhos, um nariz e uma boca. (Já imaginou uma
boneca com orelhas na barriga e pés que são como as
raízes de uma árvore?)

4  Experimente criar uma história para esse boneco,


dando a ele um nome e imaginando como seria a sua
personalidade.

material de apoio:
Como trabalhar com bonecos para uma abordagem
pedagógica multicultural e inclusiva discorre sobre
a importância dos bonecos para a expressão dos
sentimentos e construção de identidade das crianças.

acima, Diário de uma boneca (1990), e abaixo, obras da Jô


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Obra-inspiração: Irani (2017)
Artista: Mitti Mendonça (São Leopoldo/RS, 1990) Uma das técnicas usadas em práticas associadas ao gênero
Irani é o bordado. No bordado, feminino e questões do ambiente
o pincel é a agulha, as tintas doméstico. No bordado, as
são a linha e a tela, o tecido. histórias de vida de mulheres
Mitti conta que essa técnica e os saberes ligados ao fazer
entrou na sua família há quase artesanal são reconhecidos
100 anos, a partir de sua avó e interligados. Através dele,
Registrar momentos especiais Castorina. Através do selo Mão elas narram e bordam suas
presentes no cotidiano e Negra Resiste, a artista busca histórias. Existe alguém na sua
preservá-los é uma das valorizar a história do bordado família que saiba bordar? Como
principais intenções de em suas produções. Ao longo essa pessoa aprendeu esse
quem tira uma fotografia. do tempo, essa técnica passou ofício? Há quanto tempo ele
Tiramos fotos dos familiares a estar diretamente ligada às circula dentro de sua família?
e amigos, dos nossos animais
de estimação, de viagens que
fazemos durante as férias.
Um tipo de fotografia que se
popularizou há muitos anos é
o retrato (falamos um pouco Irani foi um dos seus primeiros
sobre ele no exercício 3, trabalhos baseados na história
lembra?), de casais, crianças e das mulheres de sua família.
famílias, que frequentemente o Mitti utiliza outros materiais
enviavam a parentes e amigos para compor a obra, como material de apoio:
mais distantes. Os retratos de lantejoulas e tintas, que Que tal explorar o universo de outras artistas cuja poética
família também nasceram conversam diretamente com conversa com o trabalho de Mitti? Rosana Paulino é
com o intuito de preservar a a figura de Irani. É uma obra uma artista, pesquisadora e educadora que também
memória familiar ao longo do que fala de memória e afeto, incorpora em sua obra memórias pessoais, pensando
tempo. Geralmente reunidas convidando-nos a pensar sobre temas como identidade e ancestralidade a partir de
em álbuns, essas fotografias as pessoas que fazem parte de referências da cultura afro-brasileira. Ela também utiliza
permitem que cada família as técnicas de bordado e fotografia em suas produções.
nossa família e como podemos
construa uma história de si ressignificar esses retratos veja: vídeo Ateliê da Artista: Rosana Paulino;
mesma. Através dos álbuns, familiares a partir da arte. entrevista ‘Ser artista negra: o olhar de Rosana
também podemos conhecer os Paulino sobre passado, presente e futuro’.
rostos de nossos antepassados. Outra artista que trabalha por meio da costura e do
Em Irani (2017), obra da artista (No perfil do Instagram do bordado é a mineira Sonia Gomes, que recria as tradições
Mitti Mendonça, vemos a Viagem para Dentro de Mim, a partir de sua memória afetiva, construindo sua obra com
fotografia de uma mulher. Essa compartilhamos na íntegra um aquilo que é rejeitado ou ignorado, emprestando uma
nova vida a esses materiais. A partir de tecidos antigos,
mulher é a tia de Mitti por parte relato de Mitti sobre a obra.
arames, rendas e linhas, Sonia borda e transforma.
de mãe, que era benzedeira. Para conferir, clique aqui)
veja: vídeo Ateliê da Artista: Sonia Gomes.
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exercício 6

1  Pergunte para alguém de sua família se existem álbuns


ou fotografias familiares na sua casa. Juntos, separem
essas fotos e reservem um tempo para olhá-las com
calma, observando as figuras presentes e descobrindo
qual o seu grau de parentesco com elas.

2  Peça que sua mãe ou seu pai lhe conte as histórias


dessas fotografias. Quem são as pessoas presentes nas
fotos antigas de sua família? Como foram suas vidas?
Quais histórias elas têm para lhe contar? O que elas
podem lhe ensinar? (Ao olhar para essas fotos, pense nas
redes em que estamos ligados, fazendo uma correlação
com os exercícios 2 e 3, onde falamos sobre os fios de
cabelo e os traços de nosso rosto que nos lembram de
outras pessoas da família. Nas fotografias, é possível
enxergar alguma semelhança entre você e algum
antepassado? Há alguém na sua família que se pareça
com você, com sua mãe, seu pai, seu irmão ou irmã?)

3  Escolha uma ou mais fotografias de algum desses


álbuns e convide sua família para fazer uma criação
conjunta a partir dela(s). Experimente utilizar diferentes
técnicas e materiais na sua obra, como a colagem, a
pintura e o bordado, inspirando-se no trabalho de Mitti.
Pense sobre como esses materiais conversam com a
fotografia escolhida.

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Irani (2017). Acrílica, bordado e colagem.
Obra-inspiração: Restauro (2016)
Artista: Jorge Menna Barreto (Araçatuba/SP, 1970) completa sobre o ato de comer, Para ver o registro da obra
envolvendo todos os sentidos Restauro, clique aqui
do nosso corpo, pensando
a alimentação como uma
questão coletiva, ambiental,
cultural e social. Isso porque
nossos hábitos alimentares têm
consequências e impactam
diretamente o meio ambiente.

Você já parou para pensar


de onde vem a comida? Do
supermercado, da feira, da
terra? Quem produz esses
alimentos? De que forma eles
são plantados e cultivados?

Hoje, vemos crescer ao redor


do mundo um modo de cultivo
Se tem uma coisa que todo anos no Brasil, o artista e produção de alimentos
mundo gosta de fazer é Jorge Menna Barreto extremamente prejudicial
comer. Descobrir sabores, construiu um restaurante. à natureza, que acaba por
inventar receitas, dividir uma Nele, eram servidos apenas reduzir a biodiversidade do
refeição com a família ou alimentos orgânicos nosso planeta e provocar
com os amigos. Do preparo vindos de comunidades de desastres ambientais, como
à hora de ir para a mesa, pequenos agricultores. Além queimadas e desmatamento de
todas os momentos que das comidas, preparadas florestas. Como alternativa a
envolvem comida costumam a partir de ingredientes esse modelo, surgem iniciativas
ser repletos de carinho. E cuidadosamente escolhidos, de pequenos agricultores
antes de chegar a nossa no restaurante podiam-se que buscam estabelecer
casa, quais caminhos os ouvir gravações de sons uma relação mais próxima e
alimentos percorrem? registrados em agroflorestas, responsável com o alimento e
dando aos visitantes a com a natureza, respeitando Assim como em Restauro
sensação de se estar os seus ciclos. Depois de (2016), esse exercício propõe
Para a edição de 2016 da em meio à natureza, na cultivados e colhidos, parte que criemos uma relação
Bienal de São Paulo, uma companhia de plantas e desses alimentos viaja até às atenta com a comida,
grande exposição de artes bichos. A ideia do artista cidades para ser vendido em convidando-nos a refletir sobre
que ocorre a cada dois era criar uma experiência feiras de agricultura familiar. nossas escolhas alimentares.

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4  No momento da refeição, compartilhem
suas impressões sobre os sabores presentes na
comida. Para criar uma experiência completa,
como Jorge Menna fez em Restauro, você
pode escolher uma trilha sonora especial
para acompanhar o momento da refeição,
com alguma música ou som que você imagine
combinar com a receita escolhida.

exercício 7 5  Finalizada a refeição, observe os resíduos


orgânicos provenientes dos alimentos que por
algum motivo não foram utilizados na receita,
como cascas e caroços. O que podemos fazer
com o que sobra? (Lembre do exercício 2, em
que a artista Marlies Ritter utiliza materiais
provenientes de atividades cotidianas para a
criação de seu trabalho)
1  Pesquise as feiras ecológicas que existem na sua
cidade. Há alguma perto da sua casa? Escolha uma
delas e combine uma ida com a sua família. (No site
feirasorganicas.org.br é possível localizar as feiras material de apoio:
ecológicas da cidade de Porto Alegre) Comida Que Alimenta, desenho animado sobre
agroecologia, fruto do projeto Trabalho, Renda e
Sustentabilidade no Campo. Com linguagem acessível,
2  Ao chegar na feira, observe com atenção a o vídeo aborda a importância de se valorizar a
movimentação de quem passa. Perceba os sons e produção local, o comércio solidário, a agricultura
cheiros do entorno. Passeie pelas bancas e olhe agroecológica e a cultura das feiras, trazendo
as frutas e verduras disponíveis. Converse com os informações importantes para crianças e adultos.
produtores e peça que eles lhe contem sobre o seu
Guia Alimentar para a População Brasileira, um
processo de plantio e cultivo. Pergunte como e com documento que reúne os princípios e as recomendações
quem eles aprenderam a plantar. de uma alimentação adequada e saudável para
a população brasileira, configurando-se como
instrumento de apoio às ações de educação alimentar
3  Em casa, pense em uma receita que você goste
e nutricional no SUS e de outros setores.
e convide sua família para um preparo coletivo,
utilizando os alimentos provenientes da feira. Comidas Sensoriais: aroma, textura e sabor para todo o
lado - receitas gostosa de comidas características das festas
juninas, umas das principais festas da cultura brasileira.

34 35
(...)
Olha aquela bola
A bola pula bem no pé
No pé do menino
Quem é esse menino?
Esse menino é meu vizinho
Onde ele mora?
Mora lá naquela casa
Onde está a casa?
A casa tá na rua
parte 3 Onde está a rua?
Tá dentro da cidade
Onde está a cidade?
Tá do lado da floresta
Onde é a floresta?
A floresta é no Brasil
Onde está o Brasil?
Tá na América do Sul
No continente Americano
Cercado de Oceanos
E das terras mais distantes
De todo o planeta
E como que é o planeta?
O planeta é uma bola
Que rebola lá no céu

Palavra Cantada, Ora Bolas

36 37
Obra-inspiração: cortejo do Bloco da Laje Artista: Bloco da Laje

Foto: Martino Piccinini


Quando você pensa na maior Em Porto Alegre, os cortejos
festa popular brasileira, qual pré-carnavalescos contam com
nome lhe vem à cabeça? Difícil uma presença especial: o Bloco
que não seja esse: carnaval. De da Laje, um coletivo teatral e
norte a sul do Brasil, o carnaval movimento cultural urbano que,
movimenta multidões. Quando a cada ano, sai pela cidade
se aproxima o mês de fevereiro, buscando sua própria forma de
preparamos nossa melhor brincar. Colorido e pulsante, o
fantasia e nos dirigimos às ruas Bloco nos convida a celebrar a
para pular essa grande festa. vida através de uma experiência
artística compartilhada, onde
cada um e cada uma se torna
parte da festa.
38 39
Pensando nesses movimentos coloridos de ir e vir entre bairros,
ruas e vielas, esse exercício propõe que você construa um trajeto/ 3  Ao traçar o trajeto do seu bloco, pense
mapa pessoal e afetivo de Porto Alegre, como faz o Bloco da Laje sobre as características do entorno desses
em sua saída anual. Afinal, o que faz de Porto Alegre a sua cidade, lugares. Como é o cenário dessas ruas?
além do fato de você morar nela? Qual relação você estabelece Existem mais prédios ou mais casas? As ruas
com esse lugar? Quais aspectos de Porto Alegre você gostaria são largas ou estreitas? Quando você pensa
de mudar e por que? Não seria a cidade nossa grande casa? nesses pontos, que outras lembranças vêm à
sua cabeça? Algum cheiro ou som familiar
que você relacione a eles?

exercício 8

4  Converse sobre esses lugares


da cidade com as pessoas
da sua família e as convide
para também desenharem um
mapa afetivo. Será que existem
pontos iguais ou próximos
com o seu? É possível que seus
cortejos se encontrem entre um
1  Pense sobre os pontos da cidade que ocupam percurso e outro?
um lugar especial no seu coração. Pode ser um
parque que você goste de visitar, a casa de um
amigo, a escola onde você estuda. Você pode 5  Crie um nome especial para o seu
registrar esses lugares em uma folha conforme bloco de carnaval, pense sobre as
eles vierem à mente, ou experimentar olhar para cores das fantasias e nas músicas que
o mapa de Porto Alegre e anotar esses pontos a você gostaria que fizessem parte do
partir de cada bairro ou região. repertório da sua festa.

2  Depois de anotar cada um dos lugares,


desenhe a rota do seu cortejo. Escolha um
material de apoio: A publicação O Glicério por
ponto da cidade para começar e outro suas crianças, fruto do projeto Criança Fala na
para terminar, escolhendo cada uma Comunidade – Escuta Glicério, reúne relatos, desenhos
das paradas. Você pode procurar por e memórias de crianças sobre o bairro Glicério.
um mapa da cidade e desenhar sua rota A iniciativa é fruto do trabalho de educadores,
diretamente nele. urbanistas e psicólogos que, ao lado dos pequenos,
elaboraram um mapeamento afetivo da região.

40 41
Obra-inspiração: A Carroça/Armazém de Histórias Ambulantes (2007 -)
Artista: Ana Flávia Baldisserotto (Caxias do Sul/RS, 1972) Você já deve ter visto Para essa atividade, propomos
circular pela cidade aquelas que você seja a sua própria
carrocinhas que vendem carroça de histórias ambulantes,
churros, pipoca, algodão oferecendo algo feito por você
doce ou cachorro-quente. em troca de um relato (escrito
Já imaginou se existisse ou falado). Quantas histórias
uma carroça que vendesse não estão por aí esperando
desenhos, fotografias e para serem contadas?
outras miudezas em troca
de uma história? Essa é a
aventura que A Carroça de
Histórias Ambulantes vive
pelas ruas de Porto Alegre.

A experiência começou em
2007, a partir do desejo da
artista e professora Ana
Flávia Baldisserotto. Nessa
carroça não circula dinheiro.
Ela funciona assim: você
conta uma história (qualquer
história!) e, em troca, recebe
um desenho, um cartão postal,
uma fotografia – peças únicas,
feitas de forma artesanal, que
são oferecidas àqueles que
sentirem de compartilhar sua
história com A Carroça, que
pode ser tanto falada quanto
escrita. Todos esses relatos
são incorporados ao acervo
d’A Carroça, gerando uma
microeconomia poética que faz
circular pedaços de memórias,
sonhos e experiências.

a ilustração acima foi retirada do site do projeto A Carroça

42 43
2  Elabore a sua moeda de troca - aquilo
exercício 9 que você vai dar às pessoas em troca
delas te contarem uma história. Ela pode
ser material, como um desenho ou uma
comida preparada por você, ou algo
subjetivo, como um abraço ou uma dica
de leitura. Dá até para pensar em algo
relacionado à história contada, do tipo:
a pessoa te conta determinada história e
você faz um desenho inspirado nela, a ser
entregue como forma de retribuição.
1  Pense sobre onde, quando e com quem
você vai iniciar sua busca por histórias.
Você pode começar pela sua família 3  Crie um acervo dessas histórias. Reúna
e vizinhos, sejam eles de porta, rua ou esses relatos compartilhadas com você
bairro. Peça que eles te contem a história e registre-os de alguma forma, em texto,
sobre como e quando eles se mudaram áudio ou vídeo.
para o mesmo edifício/rua/bairro que
você. Ligue para seus familiares e amigos
que você não vê há bastante tempo.

(No exercício 8, propomos material de apoio:


a criação de uma rota/mapa
pessoal da cidade. Que tal A escuta é um encontro e a Rádio Carroça é um podcast
construir um mapa afetivo do seu nascido da vontade de registrar as escutas que permeiam
o projeto Carroça de Histórias Ambulantes. Ao longo de
bairro a partir desse contato com
oito episódios, a artista Ana Flávia Baldisserotto conta
os seus vizinhos? Com base nas
sobre a sua experiência de andar pelas ruas da cidade
histórias de cada um, você pode com uma banca de escuta e de trocas. O podcast é
explorar mais da relação dessas resultado da parceria entre o coletivo A Carroça, o Atelier
pessoas com o entorno, quais Livre Xico Stockinger da Prefeitura de Porto Alegre e o
percursos fazem parte do seu grupo de pesquisa em Jornalismo Digital da Faculdade
dia-a-dia, que lugares do bairro de Biblioteconomia e Comunicação da UFRGS.
elas costumam frequentar, etc.)

44 45
Obras-inspiração: cartazetes do Nervo Óptico
e as caixinhas de fósforo de Otacílio Camilo artísticos - cursos, palestras,
Artistas: Nervo Óptico e Otacílio Camilo (Porto Alegre/RS, 1959 - 1989) concertos musicais, exposições
- e por onde circulavam artistas
de todo o canto. Mais do que
tudo, o Espaço N.O funcionou
como um lugar de encontro e
experimentação, onde artistas
se reuniam para compartilhar
suas ideias e criações.

Um dos artistas que


frequentava o Espaço N.O
era Otacílio Camilo. Ele
adorava fazer experimentos
com as artes visuais, a música
e o teatro, utilizando diferentes
técnicas e linguagens, como
gravura, poesia, colagem
Faça-você-mesmo. Um Em meados dos anos 1970, no
e fanzines* para produzir
movimento que nos convida Rio Grande do Sul, nascia o
obras que denunciavam
a fazer as coisas com nossas Nervo Óptico, um movimento
questões sociais e políticas
próprias mãos, de forma de artistas de vanguarda.
da época. Pensando em fazer
caseira, a partir de materiais Durante pouco mais de um ano,
suas produções circularem,
que temos à nossa disposição. o coletivo de artistas produziu,
Otacílio criou uma forma
Por volta de 1950, o conceito de a cada mês, uma publicação
própria para distribuir seus
faça-você-mesmo se espalhou em formato de pequenos
trabalhos, com forte influência
por vários cantos do mundo, cartazes, que eram distribuídos
do movimento faça-você-
sendo um grande aliado do de forma gratuita. Esses
mesmo. Seus poemas e
movimento anti consumismo - ao cartazes continham trabalhos
desenhos vinham em suportes
invés de comprar, por que não especiais de artistas do grupo
inusitados, como caixinhas de
criar? A ideia de construirmos ou convidados.
fósforo e guardanapos. 1. Cartaz Nervo Óptico, nº 6 (1977). Fonte:
algo com nossas próprias mãos, Galeria Superfície.
reaproveitando materiais 2. Sem título (1986). Objeto-xilogravura sobre
caixa de fósforo. Acervo pessoal Hélio Fervenza.
cotidianos e inventando Algum tempo depois, surgia
diferentes formas de fazer em Porto Alegre o Espaço
essas criações se espalharem, N.O (em referência ao grupo
teve profundos reflexos nas Nervo Óptico), centro cultural *fanzine ou zine é um tipo de publicação despretensioso,
artes plásticas e na música, alternativo que organizava de baixo custo e possível de ser feito em casa, cujo principal
expandindo suas fronteiras. uma série de eventos multi objetivo é ‘espalhar a palavra’ de suas e seus autores.

46 47
Tendo como inspiração as produções independentes do grupo 3  Defina o suporte da 4  Para fazer seu material,
Nervo Óptico e do artista Otacílio Camilo, essa atividade sua produção. Você pode você também pode usar outras
propõe que você construa uma publicação sua. escolher um suporte mais publicações, como um jornal
Qual mensagem você gostaria de espalhar por aí? tradicional, como um da sua cidade. Dê uma olhada
cartazete, ao estilo das em algum jornal impresso ou
publicações do Nervo digital e selecione uma imagem
Óptico, ou algo inusitado, e/ou título de alguma matéria
como as caixinhas de que chame a sua atenção.
exercício 10 fósforo e os guardanapos Você pode tanto se inspirar
de Otacílio Camilo. nessa matéria para criar a sua
Use a criatividade. publicação, quanto utilizar
elementos dela (recortando
alguma imagem ou palavra do
texto, por exemplo), brincando
com os elementos e situações
apresentadas.

5  Caso você tenha uma


impressora em casa e opte por
fazer sua publicação em papel,
escaneie e imprima algumas
unidades do seu zine para
distribuir aos seus vizinhos.

2  Depois de ter escolhido o seu


tema, converse com sua família
a respeito. Pense sobre a forma
material de apoio:
1  Tire um momento para que você deseja passar essa
pensar sobre alguma ideia ideia adiante - escrevendo um a matéria Zine de Criança fala sobre como a
ou mensagem que você texto, fazendo um desenho. (Ex: autopublicação de zines e as feiras de publicação
considere importante de ser caso o tema escolhido seja a independentes são uma deixa para criações colaborativas
passada adiante. Algo que importância de cuidarmos do meio entre as crianças e suas famílias. A reportagem também
contempla uma entrevista com Eleonora, uma menina
você gostaria que outras ambiente, você pode optar por
de 12 anos criadora do zine independente EGG.
pessoas vissem e soubessem, escrever um poema defendendo
um assunto que seja do seu a sua ideia ou criar um desenho A Capitolina, revista online voltada a garotas adolescentes,
interesse e que você deseje que simbolize essa mensagem, com disponibilizou em seu site dois conteúdos sobre criação de
compartilhar. alguma frase de efeito) zines. Por que zine é tão daora? e Tutorial de Zines: parte
II, reúne dicas e ilustrações que exemplificam diferentes
tipos de dobradura possíveis de serem feitas com o papel.
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as mãos que construíram essa viagem

Fernanda Marczak é graduanda Maria Júlia Rêgo é recifense,


em Relações Públicas na UFRGS, graduanda em Design pela
porém devaneia mais nos estudos UFPE, mas hoje mora e trabalha
de semiótica da moda, artes em São Paulo. Nos fazeres
e cultura. Já trabalhou com gráficos, trilha um caminho
produção de eventos e exposições mais próximo com o Design
e com criação de conteúdo para Editorial, tendo passado
redes sociais. Hoje trabalha como dois anos na redação do
stylist na FARM Rio. É fã de leituras, Suplemento Pernambuco e
risadas e cozinhas coletivas, além atualmente fazendo livros &
de escrever sobre viagens no seu outras peripécias no Estúdio
blog nas horas vagas. Aqui, foi Tereza Bettinardi. No Viagem,
responsável pela comunicação foi a responsável pela criação
do nosso livro: planejamento, da nossa identidade visual,
redes sociais e atendimento. artes, ilustras e diagramação.

Kátia Vielitz estuda Pedagogia na Sofia Perseu é museóloga


UFRGS e é estagiária do Caps II em formação pela UFRGS e
HCPA, onde trabalha ministrando trabalha com produção cultural
oficinas terapêuticas para jovens e e patrimônio, atualmente
adultos, mas também já trabalhou experimentando um pouco de
em escolas, casas colaborativas, tudo no Vila Flores, onde também
grupos autônomos e projetos coordena o núcleo educativo.
de extensão; se envolvendo com Além de incursionar pela arte
diversos coletivos que buscam educação, tendo ministrado aulas
criar brechas entre as estruturas, de artes para pitocos na Casa
abrindo percepções para novas Elétrica, é idealizadora do Orelha
possibilidades de estar no mundo. (@orelhalivros), onde pesquisa
Assim ela está aqui: é a outra e escreve sobre literatura e
metade do time de criação das sua relação com a vida. Neste
atividades, junto com a Sofia. livro, ela também se desdobrou
Pedagogicamente idealizam, entre o time de criação das
buscam e criam juntas as atividades e as demandas da
atividades que formam o Viagem. comunicação do projeto.

52 53
até a próxima!

esse livro foi viabilizado através do Edital FAC Digital, da


Secretaria da Cultura do Estado do Rio Grande do Sul em
parceria com a Universidade Feevale, e feito entre agosto
e outubro de 2020, durante a pandemia de Covid-19.

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