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INSTITUTO POLITÉCNICO DE LISBOA

ESCOLA SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DE LISBOA


Mestrado em Ensino do 1.º e do 2.º Ciclo do Ensino Básico
Unidade Curricular: Artes e Educação Física
Discente: Beatriz Martins 2022259

Identidade pessoal- diário

“O movimento, as emoções e os sentimentos são pilares


fundamentais na arquitetura básica da existência
do processo educativo.”
Carlos Neto, 2020
Dia 1
Querido diário,
A identidade é um conceito multifacetado e complexo que envolve a compreensão
e a construção de quem somos como indivíduos. É uma construção social e psicológica
que nos permite reconhecer a nós mesmos como seres únicos e distintos dos outros.
Para a criação da minha obra de arte comecei por me questionar sobre mim mesma,
parar, pensar e refletir sobre quem sou eu? Questionei-me sobre os meus gostos, as
emoções que sinto, quais os valores que sigo no meu dia-a-dia e as minhas
características físicas. Não foi um processo fácil, tive de perceber que emoções eu sentia
durante um dia e depois perceber o porquê de as sentir.
Freud (1923) fala-nos da teoria psicodinâmica, esta enfatiza que a expressão criativa
pode permitir a exploração de conteúdos inconscientes, promovendo a autorreflexão e o
crescimento psicológico. Segundo esta teoria, o processo criativo pode fornecer uma
saída para emoções reprimidas, facilitando assim a compreensão e a aceitação de
aspetos de nós mesmos.
Mas não estive sozinha neste processo, de modo a conseguir conhecer-me melhor,
pedi a amigos e familiares que me descrevessem física e psicologicamente. A Catarina
disse-me que sou uma pessoa alegre e independente; o meu irmão disse que sou
extrovertida; o Miguel, o meu namorado, disse que sou bonita e meiga; o meu pai disse
que eu era uma pessoa teimosa; a minha amiga Inês disse que sou apaixonada e
destemida; e as minhas duas irmãs disseram que sou divertida e amiga.
A identidade pessoal é uma jornada contínua e individual, e cada pessoa possui uma
história e experiências únicas. Não há uma fórmula definitiva para entender
completamente quem somos, pois, a identidade é multifacetada e complexa. No entanto,
a exploração e a reflexão sobre a nossa identidade podem trazer clareza, autenticidade e
um maior senso de propósito em nossas vidas

Dia 2
Querido diário,
Depois de conversar com os meus amigos e família, era altura de começar a trabalhar
e pensar em como iria transformar tudo aquilo numa obra de arte. O meu primeiro
pensamento foi pintar três telas e cada tela simbolizava uma parte de mim. Mas numa
tutoria com os professores eles sugeriram que fizesse um herbário eu gostei imenso
dessa ideia então decido pô-la em prática.
Depois de alguma pesquisa e tentar perceber como iria fazer o herbário sobre mim,
com várias folhas de papel cavalinho comecei a montar as folhas na horizontal de forma
a parecer um livro, escolhi fotografias da minha vida, de momentos importantes para
mim, e comecei a pensar no que aqueles momentos significavam para mim e que
aqueles momentos fizeram de mim quem sou hoje.
Acabei por desistir desta ideia, por dois motivos, falta de tempo e para alem das
fotografias não tinha mais nada, não sabia o que mais colocar neste herbário que fizesse
as pessoas olharem e perceberem que aquilo era eu, era algo que me identificava.
Comecei a ficar frustrada pois estava sem ideias, queria fazer algo diferente e nada me
ocorria, por isso neste dia decidi parar e não pensar mais no assunto, pois tanta
frustração não me levaria a lado nenhum.

Dia 3
Querido diário,
Depois de um dia a pensar o que iria fazer acabei por voltar à minha ideia original e
construir três telas. Numa das telas iria pintar metade do meu rosto, essa metade
simboliza aquilo que eu sou fisicamente, as características do meu rosto. E depois iria
juntar duas telas em que na metade de cima iria colar flores de papel coloridas, e essas
flores simbolizam as emoções que sinto diariamente; e na metade de baixo iria escrever
as palavras que os meus amigos e família usaram para me descrever. Antes de começar
o trabalho final desenhei num rascunho como queria que ficasse.
A parte de desenhar e pintar o meu rosto foi o mais difícil, pintar não é a minha área,
mas saí da minha zona de conforto e tentei que ficasse o melhor possível. Em seguida
comecei a fazer as flores e a colar na tela, colei-as como se elas representassem a outra
metade do meu rosto, gostei bastante de como ficou; depois na terceira tela escrevi as
palavras e escrevi-as da mesma forma que colei as flores, como se representassem
metade do meu rosto.
Era altura de pensar em como colocar as telas, poderia colocá-las separadas umas das
outras, viradas de pernas para o ar, mas acabei por colocá-las da “forma correta”, pois
era a maneira que mais me fazia sentido e era como achei que se percebia melhor que as
flores e as palavras simbolizavam a outra metade de mim.
A criação de um objeto de arte sobre a identidade pessoal é uma jornada de reflexão
profunda, que nos convida a olhar para dentro de nós mesmos e a explorar os diferentes
aspetos que nos tornam quem somos. É um momento de autoconhecimento e
autorreflexão, no qual nos deparamos com as nossas próprias nuances, emoções e
experiências. As experiências que vivemos ao longo da vida, são essas que nos fazem
quem somos hoje, ou quem seremos amanhã. Há momentos que nos marcam e que nos
fazem ver as coisas de outra forma.

Dia 4
Querido diário,
O trabalho estava finalmente como imaginei e projetei nos meus rascunhos, está na
hora de começar a reflexão e perceber a importância de lecionar artes e educação física
nas escolas, e como estas contribuem para a construção da identidade dos alunos?
Neste dia decidi focar-me em compreender a importância das artes na escola. Como
é que as artes na escola podem contribuir para a construção da identidade dos alunos?
João Barroso (2003) fala-nos da importância das artes para a promoção da
imaginação, da criatividade e para a construção da identidade dos alunos, especialmente
em contexto pré-escolar e ensino básico. Como futura professora, apoio que devemos
sempre incluir as artes no processo de aprendizagem dos alunos. As artes não só ajudam
os alunos a compreender melhor o que estão a aprender como os ajudam a conhecerem-
se melhor a eles próprios.
Pacheco (2009) defende uma abordagem interdisciplinar que integra as artes no
currículo escolar, destacando a sua contribuição para o desenvolvimento integral dos
alunos e para a construção de uma identidade cultural. Através das artes os alunos
conseguem construir a sua identidade, conhecerem-se melhor a eles próprios. É muito
importante trabalhar isso em sala de aula, não nos devemos focar apenas no português e
na matemática devemos proporcionar aos alunos momentos em que a arte esteja inserida
de modo que eles consigam explorar diversas técnicas que os ajudem a conhecer-se
melhor.
A arte é uma forma da expressão humana, abrangendo a perceção, a emoção, e a
razão; é uma linguagem que possui uma característica muito própria em relação às
outras. Esta é definida como uma habilidade que pode ser desenvolvida. Através da arte
podemos expressar emoções e sentimentos.
A arte e a expressão artística podem desempenhar um papel poderoso na exploração
da identidade pessoal. Através da criação artística, podemos conectar-nos com nossas
emoções, experiências e valores de uma forma única. A arte permite-nos expressar quem
somos, comunicar ideias e narrativas pessoais, e oferece um meio para nos
compreendermos e nos conectarmos com os outros.
Dia 5
Querido diário,
Depois de compreender bem a importância das artes na escola, hoje irei focar-me na
educação física. Como é que a educação física pode contribuir para a construção da
identidade dos alunos?
Whitehead (2001), destaca a importância da participação dos alunos em atividades
físicas e desportivas para o desenvolvimento de habilidades sociais e melhoramento da
autoestima. Devemos sempre incentivar os alunos a participar nas atividades físicas que
a escola proporciona, pois estas ajudam-nos a conhecer os seus próprios limites e a
encontrarem algo em que são bons ou não.
O'Sullivan (1997), explora a abordagem da responsabilidade pessoal e social na
educação física. Ela argumenta que a participação em atividades físicas estruturadas
pode ajudar os alunos a desenvolver habilidades sociais, como respeito, cooperação e
autodisciplina, que são fundamentais para a construção da identidade pessoal e social.
A participação dos alunos em atividades físicas influência a motivação e o bem-estar
dos alunos, diz-nos Teixeira (2014). Ele também destaca a importância da educação
física na promoção de estilos de vida ativos e saudáveis, que contribuem para o
desenvolvimento e construção da identidade dos alunos.
Carlos Neto enfatiza a importância de considerar o corpo como parte fundamental
do processo educativo. O autor argumenta que as crianças aprendem de forma mais
eficaz
quando estão ativas, envolvidas em atividades físicas e emocionalmente envolvidas.
Neto
defende a necessidade de espaços de aprendizagem mais dinâmicos, que permitam a
experimentação, a expressão e o jogo livre.

Dia 6
Querido diário,
Depois de refletir e perceber a importância de lecionar artes e educação física nas
escolas, e como estas contribuem para a construção da identidade dos alunos, concluo
que, lecionar artes e educação física proporciona aos alunos oportunidade de se
expressarem, explorarem as suas habilidades e limites, desenvolverem habilidades
sociais e emocionais, e promove um senso de pertencimento e bem-estar. Estas
disciplinas desempenham um papel importante no desenvolvimento integral dos alunos
e na construção das suas identidades pessoais e culturais.
Esta jornada artística permitiu-me não apenas refletir sobre a minha identidade, mas
também a partilhá-la com os outros. Este objeto de arte não só me fez a mim refletir
sobre quem sou, mas também tem como objetivo que quem o vê reflita um pouco sobre
si próprio.
A identidade pessoal é única e devemos sempre valorizar as experiências vividas e
abraçar as suas peculiaridades e celebrar a sua individualidade. Ao explorar e
compreender a identidade pessoal, estamos no caminho para uma vida mais autêntica,
significativa e satisfatória.
Bibliografia:

 Freud, “O Ego e o Id" (1923)

 Neto, C. (2020). Libertem as Crianças: A urgência de brincar e ser ativo.


Contraponto.

 O'Sullivan, M. "Teaching Personal and Social Responsibility through Physical


Activity" (1997)

 Pacheco, J. A. (2009). Processos e práticas de educação e formação. Para uma


análise da realidade portuguesa em contextos de globalização. Revista
Portuguesa de Educação, 22(1), 105-143.

 Teixeira, P. "Physical Activity, Motivation, and Well-Being in Youth" (2014)

 Whitehead, M. “The Conceptualization and Promotion of Personal and Social


Identity through Physical Education" (2001)

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