Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Caroline Rodrigues Gonçalves* (Psicóloga graduada pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná -
Campus Londrina); Ana Priscila Christiano* (Docente do curso de Psicologia da Pontifícia Universidade
Católica do Paraná Campus Londrina).
contato: carolinerg.psico@gmail.com
Há conceitos com significado admiráveis, nos quais aprendemos que estes devem ser
habilidades que o psicólogo deve apresentar, mas, aprender a teoria sobre os mesmos é algo mais
simples do que coloca-los em prática. Percebemos na prática que possuir o conhecimento teórico
é imprescindível, contudo, não é suficiente para se deter de uma boa aplicação dos mesmos.
Assim, nos momentos em que os alunos estavam sensíveis com a situação na qual haviam
entrado em contato com conteúdos que lhes propuseram um sentimento de sofrimento, medo,
saudade, nos colocamos a acolher estes sentimentos, desenvolvendo nossa empatia para com
cada um naquele momento.
Segundo Del Prette e Del Prette (2001) a empatia é quando uma pessoa demonstra uma
demanda afetiva e o outro expressa uma reação de compreensão sobre esta demanda,
desenvolvendo assim, a capacidade de compreender e identificar na perspectiva da pessoa que
demonstra a demanda afetiva.
Em diversas situações alguns participantes não queriam falar sobre o que estava sentindo
e pensando, mas nós permanecíamos ao lado deles, no sentido de que “você não precisa me falar,
pode dizer quando sentir a vontade, mas ainda sim, eu estarei aqui contigo”.
Esta experiência foi significante para aprendermos a desenvolver nossa empatia, Pavarino
et al. (2005) explicam que as habilidades de empatia são quando a pessoa responde as
necessidades afetivas do outro, quando este outro experimenta sentimentos negativos ou positivo
e espera que as pessoas sejam solidário consigo.
Aprendemos e percebemos que ao estarmos sensíveis com a situação nos tornamos
observadores do que não estava sendo dito pelos participantes. Na dinâmica que ficaram de
frente para o espelho nenhum participante verbalizou o que estava sentindo, pensando, mas
percebemos através dos seus movimentos e expressões o quanto era difícil olhar si próprio,
diante desta dificuldade que apresentaram, nos aproximamos e apenas permanecíamos tocando
no ombro. Este toque não precisava ser trocado por uma palavra, pois ele por si só acolhia e
transcrevia “eu sei que é difícil, se precisar estamos aqui”. Através de sua experiência, Langdon
(1993) compreendeu que não se transmite uma mensagem apenas pela narrativa, mas também se
transmite o conteúdo pelo o que não é narrado.
Percebemos a fragilidade e a hesitação durante as atividades do grupo em relatar sobre
determinados assuntos, dificuldades em entrar em contato com sentimentos difíceis de lidar,
participantes emitindo comportamento de bullying, adolescente com indícios de automutilação,
entre outros momentos que nos permitiram perceber e sentir a necessidade dos participantes.
Estas percepções nos possibilitou planejar atividades com tema advindo da própria demanda dos
mesmos.
Abib (2010) aborda sobre a sensibilidade do psicólogo e divide o mesmo em duas classes,
a primeira como sendo a percepção e sensação e em segunda a suscetibilidade. Em outras
palavras, a sensibilidade é estar susceptível a sentir, observar, compreender e interagir com o
mundo. Desta forma, as compreensões das relações que estavam estabelecidas e/ou que estavam
estabelecendo foram percebidas em detrimento da sensibilidade disponível no momento do
grupo.
Tendo como exemplo a relação que os participantes apresentavam em especial com um
participante que apresentava dificuldade de interagir verbal e fisicamente com o grupo, os
participantes em situações que deveriam relatar sobre algum evento diziam na vez deste
participante: “ele não fala; pula a vez dele; ele é mudo (...)”, o participante sorria, mas
percebíamos que a situação o deixava desconfortável. Ao perceber esta relação elaboramos
intervenções para trabalhar sobre as formas de bullying, a intolerância e o desrespeito com a
diferença de sujeito.
Cada encontro era realizado de acordo com o planejamento para o dia, na elaboração do
planejamento depositávamos expectativas e desejos no processo de sua aplicação, contudo, no
momento do grupo o seu desencadeamento muitas vezes não saia conforme nosso planejamento.
Esta situação gerava anseio e a necessidade de controlar a situação para que ela se desenvolvesse
conforme nossas expectativas. Como aconteceu no encontro em que os participantes tiveram que
pintar a máscara, um participante teve dificuldade para interagir com a dinâmica e se
sensibilizar, se comportando de maneira inadequada para o momento. Após a finalização da
dinâmica percebemos que foi a forma que encontrou para evitar a entrar em contato seus
sentimentos, estes que muitas vezes trazem sensações desagraváveis. Contudo, diante da situação
sentimos frustradas pelo participante não estar interagindo com a atividade e tentávamos
maneiras de controlar a situação para que ele cumprisse com a nossa expectativa.
Foi então, que por meio da supervisão refletimos e concluímos que estávamos tentando
exercer o controle sob o grupo. Percebemos que são nestes momentos, nos quais não estavam no
nosso planejamento, que a demanda e a subjetividade de cada participante se transparecia. Esta
habilidade talvez seja a crucial para que as experiências anteriores fossem transformadas em
aprendizagem, pois ela nos permitiu estar flexíveis e sensíveis à situação, contudo, todas essas
aprendizagens são relevantes e se completaram durante a dinâmica do grupo.
Segundo Afonso (2006):
o grupo é o contexto onde se pode reconstruir e criar significados bem como revivenciar
situações e relações traumáticas sob a luz das relações grupais. No grupo, é
possível elaborar essas experiências, através da troca de informações, da
produção de insight, da identificação, das reações em espelho e da rede
transferencial. Quando elas acontecem, as interpretações, feitas sobretudo em
momento de transferência positiva ou de vivência grupal profunda, visam
esclarecer resistência, projeções e defesas mostrando sua importância. (p. 19)
Conclusão
Del Prette, A. & Del Prette, Z. A. P. (2001). Psicologia das Relações Interpessoais: vivências
para o trabalho em grupo. Petrópolis: Vozes.
2. Capítulo de livro
Japur, M.; Guanaes, C. (2001) Fatores terapêuticos em um grupo de apoio para pacientes
psiquiátricos ambulatoriais. Revista Brasileira de Psiquiatria, v. 23, n. 3, p. 134-140.
Langdon, E. J. (1993). "O Dito e o Não-Dito": reflexões sobre narrativas que famílias não
contam. Estudos feministas, v. 1, n. 1, p. 155.
Martínez, A. M. (2010). O que pode fazer o psicólogo na escola?. Em aberto, v. 23, n. 83.
Pavarino, M. G.; Del prette, A.; Del prette, Z. A. P. (2005). O desenvolvimento da empatia como
prevenção da agressividade na infância. Psico, v. 36, n. 2, p. 3.