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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”


PROJETO A VEZ DO MESTRE

ARTETERAPIA & SEXUALIDADE

Por: Aparecida Fernandes Pessoa

Orientadora
Prof. Fabiane Muniz
Co-Orientadora
Prof. Narcisa Castilho Melo

Belo Horizonte
2009
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES


PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE

ARTETERAPIA & SEXUALIDADE

Apresentação de monografia à Universidade


Candido Mendes como requisito parcial para
obtenção do grau de especialista em Arteterapia em
Educação.
Por: Aparecida Fernandes Pessoa
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AGRADECIMENTOS

Ao meu amigo Cláudio Sabino e a


minha amiga Valéria Chaves,
educadores que tanto contribuíram
para a produção deste trabalho.
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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a meu filho Daniel


Nahum, ao meu marido Marcelo Nahum
que tanto me incentivou para concluí-lo.
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RESUMO

A educação se baseia no envolvimento do sujeito, que interage com o


outro e consigo mesmo. Para efetiva interação, a escola precisa favorecer “a
escuta” desse (a) estudante, que funcionará como elo na sua própria
concepção do processo educativo. Toda interação gera transformação, e a
educação deve se pautar na transformação, que servirá de transgressão para
estimular a individuação e autonomia dos (as) estudantes.

Na adolescência que é o período que se concentra esta pesquisa, as


mudanças no corpo, a sensação de desamparo, o avalanche de sentimentos e
contradições por parte dos (as) estudantes, se evidenciam. Para aliviar todo
esse turbilhão, a escola precisa viabilizar discussões sobre sexualidade, que
não seja uma ação pontual, mas um projeto que dê voz a esses (as)
adolescentes.

O espaço da escola que o (a) estudante passa o maior tempo é na sala


de aula, onde convive com as diferenças, as normas, desconstrói e constrói
verdades, questiona e reflete sobre suas ações. A forma como o (a) educador
(a) vai lidar com essas demandas, é que vai ser fundamental para a formação
do sujeito.

Sendo assim, é necessário que o (a) educador (a) tenha acesso a novas
práticas pedagógicas, que facilite seu fazer docente. Sabe-se que trabalhar
temas relacionados à sexualidade é um tabu na maioria das escolas. No
entanto os (as) educadores (as) sabem da importância das discussões, mas
muitas vezes não se sentem preparados para implementá-las.

Esta pesquisa se fundamenta em contribuir com novas formas de


trabalhar a sexualidade nas escolas. Entendemos que a utilização de práticas
da Arteterapia, aliadas à sexualidade, vai ser um facilitador do fazer docente, já
que a Arteterapia atua em várias linguagens: a plástica, a musical, a poética, a
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oral, e se fundamenta na permissão da expressão e liberação de conteúdos


internos impedidos por algum motivo. Como consequência do trabalho, as
discussões serão mais fáceis, mais efetivas e prazerosas, devido à
receptividade dessas linguagens no período da adolescência.

Baseado em resultados eficazes que a Arteterapia proporciona, e no


interesse de implementar as discussões sobre sexualidade na escola.
Educadoras trabalharam projetos de sexualidade em forma de oficinas
utilizando as metodologias da arteterapia e tiveram bons resultados. E são em
alguns destes projetos que este trabalho se fundamenta.

O primeiro projeto “o espelho que possuo” vai trabalhar o encontro


consigo mesmo, através de oficinas utilizando criação de desenhos,
modelagem, sessão de relaxamento, produção de cartazes e discussão de
filme. O segundo projeto “Já sei namorar?”, tem o objetivo de viabilizar o
encontro com o outro, percebendo e sentindo suas peculiaridades, a partir de
discussões sobre gênero, viabilizadas em oficinas de teatro, músicas, poesias
e dança. O terceiro projeto “Quanto custa ter um bebê”, se baseia em fazer
com que o adolescente entenda a concepção do enlace e toda a sua
especificidade, com atividades realizadas através de jogos, representações e
produções escritas.

Os projetos desenvolvidos e apresentados neste trabalho, comprovam a


eficiência da Arteterapia quando aplicada no estudo da sexualidade. Em fim, a
Arteterapia pode contribuir para um maior engajamento do (a) adolescente
dentro do espaço escolar, uma vez que lhe propiciará, não só o “conteúdo” em
si, mas a possibilidade de trocar idéia, interagir de inúmeras maneiras com seu
par e poder construir conceitos que o ajudarão a si situar, sem carregar
consigo tabus ou preconceitos que tangem sua sexualidade.
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METODOLOGIA

Trabalhando na educação, é percebida a grande diversidade na sala


de aula. Neste espaço, a multiplicidade de situações, às vezes, coloca o (a)
educador (a) num “beco sem saída”, e para resolver o problema instalado,
ou finge que não percebeu ou busca a solução através de estudos. Um dos
assuntos que mais preocupam os (as) profissionais são relacionados à
questões sexuais, talvez pela ausência de discussões nos cursos de
graduação e também pelo tabu que circula em torno dos temas.

Na sala dos professores escuta-se muita “queixa” de que os (as)


meninos (as) só pensam em sexo, e que não se interessam pela matéria
que está sendo dada. Reclamam da indisciplina, da falta de respeito e
sentem-se indefesos por perceber sua falta de preparo para lidar com a
situação.

A cada ano que passa a indisciplina e o descontentamento aumenta


no espaço escolar, e um provável motivo seja a ausência de discussões
relativas à sexualidade por parte da escola. Os estudantes pedindo socorro
e atenção depreda o ambiente escolar como “ato de negação” ao esquema
tradicional ainda instalado.

Com os transtornos, falta de formação e até mesmo desânimo do


educador frente a esta realidade tão preocupante, é necessário que seja
introduzida novas práticas pedagógicas que contribuam para contrapor esta
situação.
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No seu artigo “Arteterapia como recurso eficaz no ambiente escolar”


(Anexo 9), Joana Maria Rodrigues Di Santo relaciona a arte como um
elemento importante na vida de cada pessoa e que o educador, de modo
especial, pode munir-se, através da arte, de uma riqueza inestimável de
recursos que auxilie sua tarefa educativa, principalmente a partir do
momento em que conscientize de que pode e é interessante que trabalhe
outras maneiras de transmitir a mesma mensagem, aproveitando todas as
possibilidades que o repertório de conhecimentos e emoções do
aprendente/interlocutor traz.

A arteterapia abrange três níveis que propicia na educação um bom


resultado. Um deles é o lúdico que visa renascer e descobrir dentro de si a
sua capacidade de criação; o terapêutico que com a produção da obra libera
emocionalmente expressões dos sentimentos, aumentando a autoestima,
confiança e o conhecimento de si; o terceiro nível é o transformador que
associa o processo de evolução psicológica com a criação artística, pois a
causa e o efeito produzido na obra é o espelho do (a) autor (a).

Pensando no bem estar do (a) estudante e numa forma mais eficaz


para o (a) educador (a) trabalhar temas relacionados à sexualidade, foi
selecionado alguns projetos com formato de “oficinas” que tiveram êxito com
a utilização da Arteterapia. Salientamos, que é uma pequena mostra, porque
as possibilidades de utilização da Arteterapia no estudo da sexualidade é
bem ampla.

Os projetos selecionados têm a atuação em turmas do primeiro ao


terceiro ano do terceiro ciclo (sexta série a oitava série) do ensino
fundamental. O objetivo das atividades é estabelecer uma parceria com o
grupo estudantil proporcionando respeito às opiniões sem interferir com
julgamentos particulares.
9

A utilização da arteterapia para a preparação de debates voltados


para questões da sexualidade, pode ser viabilizada através de recursos
artísticos (desenhos, figuras, argila, papéis, sucatas, música, teatro,
recortes, textos, tintas, etc) permitindo que o sujeito expresse sentimentos,
conflitos internos que de alguma forma estaria sendo bloqueio para sua
individuação.

As linguagens arteterápicas podem ser adequadas para resolução de


diversos problemas de socialização, a não aceitação das diferenças, ao
silenciamento do (a) adolescente que passa por uma fase de conflito e a
descoberta de uma forma mais eficaz para lidar com a diversidade.

É importante que as atividades proporcionem no (a) estudante seu


desenvolvimento, aprimorando sua visão de mundo, melhorando sua
autoestima, facilitando sua autonomia e empoderamento frente a situações
que a vida lhe apresentar. E para alcançar este objetivo a arteterapia com
suas técnicas de aproximação e desbloqueio num ambiente propício para
esse fim, contribuirá para o crescimento pessoal de cada participante de
forma prazerosa e eficaz.

Para viabilizar o uso da arteterapia nos temas da sexualidade, será


necessário utilizar materiais que viabilize as produções e discussões como:
papéis, tinta ou lápis de cores, argila, músicas, desenhos, poemas, figuras e
filmes.

A nossa pretensão neste trabalho, é mostrar através da Arteterapia,


como conduzir temas da sexualidade de forma simples, facilitando a prática
pedagógica do (a) educador (a) num ambiente de troca e crescimento.
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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 12

CAPÍTULO I – O uso da Arteterapia no estudo da sexualidade 17


1.1 – Projeto “O espelho que possuo” 18
1.2 – Resgatando/Entendendo as imagens familiares
20
1.3 – O encontro com o corpo 21
1.4 – Trabalhando a autoestima 24

CAPÍTULO II – Relacionando com o outro (sexualidade) 26


2.1 – Projeto “Já sei namorar?” 28
2.2 – Universo feminino X universo masculino 28
2.3 – Identificando estereótipos 30
2.4 – A construção social dos gêneros 31
2.5 – Invertendo papéis 32
2.6 – Dia dos namorados “Um festival de talentos” 32

CAPÍTULO III – Sexo e Sexualidade na Adolescência 36


3.1 – Projeto “Quanto custa ter um bebê” 37
3.2 – Concepção e Gravidez 38
3.3 – Contracepção 40
3.4 – Trabalhando a prevenção (sexo seguro) 41
3.5 – Mito e Tabu 42
3.6 – Oficina “O parto em cena” 43

CONCLUSÃO 45

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 46

ANEXOS 49
11

INTRODUÇÃO

O objetivo deste trabalho é discorrer sobre a utilização de atividades do


universo da arteterapia no estudo da sexualidade, facilitando a interação
professor (a) – estudante, além de tornar os encontros mais atrativos,
propiciando a partir dos conhecimentos arteterápicos, formas de amenizar a
ansiedade, baixa autoestima, bloqueios diversos e facilitar a autonomia e o
empoderamento dos (as) estudantes. É possível na escola, através da arte,
explorar a essência do ser humano para melhor adaptação às situações que
a vida lhe apresenta, e introduzir uma forma mais agradável e prazerosa de
trabalhar a sexualidade com resultados mais eficazes.

A questão central deste trabalho é possibilitar a partir da arteterapia uma


maior interação com o estudo da sexualidade, viabilizando a utilização de
técnicas que facilite o trabalho do (a) educador (a).

Tratar do assunto “Sexualidade” nas escolas não é uma tarefa fácil, pois
muitos (as) educadores (as) não se sentem à vontade para discutir o assunto,
devido ao constrangimento e à falta de recursos que facilitem a discussão.
Alguns tentam implementar o assunto trabalhando sobre o funcionamento do
sistema reprodutor com palestras “médicas”. A tentativa é válida, mas não é o
suficiente, visto que o (a) estudante fica com a “escuta” sendo que o ideal é
que ele (a) seja também agente da fala e da expressão.

Começamos a ter contato com a sexualidade desde o momento de


nossa concepção, sentimos prazer ao mamar, ao receber o carinho de nossos
pais e, na medida em que vamos crescendo, ao tocar o próprio corpo. O
“desconhecer” ou “fingir” que as crianças passam por todo este processo pode
gerar uma visão de mitos e preconceitos da sexualidade, para tanto a família e
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a escola devem ajudar as crianças e adolescentes a construir uma visão mais


adequada de sua sexualidade.

Camargo e Ribeiro (2000, p.34), refere-se ao “sistema educativo como


desconhecedor da criança, pois procura nela o adulto e esquece de olhar para
ela como um ser que tem lugar no mundo, esquecendo-se também de que a
sexualidade é uma dimensão da existência, que não tem idade, que o princípio
da transformação está na essência do próprio ser e esquecendo-se
principalmente de que a criança elabora suas próprias teorias sexuais de
acordo com suas vivências em um estilo pessoal, individual, único”.

Diante de tal cenário, pode-se entender que talvez a indisciplina, o


descontentamento, as pichações na escola por parte dos (as) estudantes,
estejam vinculados ao fato de que desde a sua infância, com seu
silenciamento, encarem a escola como um espaço que só os adultos atuam e
decidem. E, como não são mais crianças e nem adultos, se encontram em
conflito com sua própria existência, chamando a atenção com comportamentos
deste tipo.

A adolescência é uma fase de mudanças físicas, psíquicas e sociais. É


uma avalanche de sentimentos, contradições, luto do corpo infantil e muita
instabilidade que acentua a sensação de desamparo. É este momento que
todos e todas precisam expor suas emoções, conflitos e receber um apoio
adequado para que possam estruturar-se.

Os adolescentes querem conversar sobre seu corpo, as mudanças que


estão passando, ou seja, querem discutir e ouvir sobre sexualidade, mas
muitas vezes, a escola não estabelece essa conversa. E o compromisso da
escola é estabelecer uma relação de parceria com os (as) estudantes da forma
mais democrática possível, possibilitando um lugar de encontro com o social,
um lugar de trocas e crescimento, acima de tudo um espaço em que se sintam
seguros para expressar seu self (si mesmo) sem que o outro o silencie. Para
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isso, sensíveis à importância da temática “orientação sexual” na escola as


autoridades educacionais brasileiras incluíram nos Parâmetros Curriculares
Nacionais (PCN), como um tema a ser tratado no ensino e a escola não pode
estar ausente nessa tarefa.

Neste sentido a arteterapia pode colaborar já que alia a utilização de


recursos artísticos em contextos terapêuticos, facilitando através da expressão
artística produzida pelo sujeito, a expressão de sentimentos que não consegue
verbalizar. Pode atuar como catalisador, de forma que o indivíduo entre em
contato com conteúdos internos, inconscientes, barrados por algum motivo que
o tornou passivo. Com isso o (a) estudante terá mais liberdade de expressar
suas idéias e habilidades, angústia, desconfortos emocionais ligados à
sexualidade sem preconceitos e constrangimentos.

“Ao representar à consciência imagens imaginadas em


criadas, o indivíduo estabelece uma nova relação com suas
imagens (fantasias, ideações), passando de um estado de
uma ausência de inclusão em suas atividades para uma
atuação transformada, por assumir seus atos como próprios,
diante da criação formalizada”. (Urrutigaray,2008,p.23)

Os recursos usados na arteterapia (linguagens plástica, dramática,


corporal, sonora, técnicas de desenho, modelagem, pintura e recortes de
figuras...) auxiliam no trabalho com o grupo tendo como finalidade a
expressão do self, não se preocupando com a estética, mas com o
conteúdo interno exposto na criação. Por meio da sua criação e da reflexão
desse processo criador, pessoas, neste caso estudantes de escolas
públicas e particulares, podem ampliar o conhecimento de si e dos outros,
aumentando a autoestima, lidando melhor com sintomas de stress e
experiências traumáticas, desenvolvendo recursos físicos, cognitivos,
emocionais ligados à sexualidade.
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“Criar é, basicamente, formar. É poder dar uma forma a algo


novo. Em qualquer que seja o campo de atividade, trata-se,
nesse ‘novo’, de novas coerências que estabelecem para a
mente humana, fenômenos relacionados de modo novo e
compreendidos em termos novos. O ato criador abrange,
portanto, a capacidade de compreender; e esta, por sua vez, a
de relacionar, ordenar, configurar, significar”.
(Ostrower,1993,p.9)

A arteterapia pode ser empregada em diferentes espaços: em clínicas


com atendimento a crianças, adolescentes, adultos, idosos, pode ser em
grupo ou individual, em hospitais, trabalhando grandes perdas, transtornos
pós-traumáticos e, o principal foco desse trabalho, a sexualidade nas
escolas.

O trabalho da arte aliada à terapia vem se consolidando na educação,


pois oferecem mecanismos de aproximação permitindo aos estudantes mais
liberdade e apoio para vivenciarem suas reações sem críticas e
discriminações. Neste contato podem surgir conteúdos simbólicos que o
professor-terapeuta pode usar como aliado para a troca intersubjetiva com o
estudante. O estímulo ao uso da criatividade e do potencial criador também
estabelece condições de retomada da capacidade de realização do ser
humano, aprimorando sua autoestima.

“O potencial criador elabora-se nos múltiplos níveis do ser


sensível-cultural-consciente do homem, e se faz presente nos
múltiplos caminhos em que o homem procura captar e
configurar as realidades da vida. Os caminhos podem
cristalizar-se e as vivências podem integrar-se em formas de
comunicação, em ordenações concluídas, mas a criatividade
como potência se refaz sempre. A produtividade do homem,
em vez de se esgotar, libertando-se, se amplia”.
15

( Ostrower,1993, p.27)

A escola tem um grande desafio. E é do desafio que a vida social,


cultural, emocional e profissional se estabelece. Somos seres do desejo e
da vontade e, para cada desejo ou vontade sempre encontra um desafio e
sem ele não há mobilização em direção à busca. Para um educador ou
educadora que deseja propiciar um contato de troca com o (a) estudante e
desta estabelecer o conhecimento, o primeiro desafio é mudar sua prática
pedagógica tornando as aulas mais atrativas. E baseado na premissa que
estímulo gera interesse, por que não estimulá-lo (a)?

“Quando consideramos a concepção de sujeito dividido


psiquicamente em consciente e inconsciente, estamos
considerando que a palavra jamais diz tudo sobre aquele que
fala, tendo sempre algo inconsciente que será ‘velado’ pelo
dizer. Assim, muitas vezes os desejos inconscientes afloram
de forma disfarçada, contando nas entrelinhas mais do que o
discurso aparente revela”. (Miranda, 2001,p.89)
16

CAPÍTULO I

O uso da arteterapia no estudo da sexualidade

Trabalhar temas relacionados à sexualidade não é tarefa fácil.


Existe uma necessidade por parte do (a) estudante de expressar suas idéias e
habilidades, e o educador deve fornecer formas para atender esse desejo,
lembrando que deve estar aberto (a) a ouvir as demandas e se for necessário
corrigir os equívocos sem expressar sua própria conclusão.

Para facilitar a dinâmica de discussões e expressões, a


arteterapia vai agregar como ferramenta o dispositivo de práticas manuais,
corporais, como a dança, o teatro, dentre outras, para estabelecer a relação
efetiva entre o conhecimento e o encontro consigo mesmo.

A sexualidade e o entendimento de sentimentos que perpassam


na vida é algo que precisa ser vivenciado. Temas relacionados `a questão
sexual, sem reflexão e sem relação afetiva faz do ser humano um objeto. A
criticidade, o conhecimento, a reflexão de situações é que levam o sujeito
trabalhar sua individuação, levando-o à autonomia.

Serão estimulados a escuta e a aproximação do docente e


discente a partir de atividades que propiciem a interação, reflexão e o
crescimento como as que este trabalho pretende sugerir.
17

1.1 – Projeto : “o espelho que possuo”

Diante da situação apresentada, entendemos que para compreender a


sexualidade e toda sua implicação, é necessário conhecer o seu “eu”.

A composição da identidade é algo que passa pela própria concepção


do corpo. Guacira Louro (2007), ressalta que a inscrição dos gêneros –
feminino ou masculino – nos corpos é feita, sempre, no contexto de uma
determinada cultura e, portanto, com as marcas dessa cultura. E que a
sexualidade, por não ser vivenciada da mesma forma por todos, envolve
rituais, linguagens, fantasias, representações, símbolos, convenções.
Processos profundamente culturais e plurais de cada um.

“No âmbito da cultura e da história que se definem as


identidades sociais (todas elas e não apenas as identidades
sexuais e de gênero, mas também as identidades de raça, de
nacionalidade, de classe etc). Essas múltiplas identidades
constituem os sujeitos, na medida em que esses são
interpelados a partir de diferentes situações, instituições ou
agrupamentos sociais... Portanto, as identidades sexuais e de
gênero (como todas as identidades sociais) tem o caráter
fragmentado, instável, histórico e plural, afirmado pelos
teóricos e teóricas culturais”. (Louro,2007,p.12)

Nos corpos se estabelece a referência da identidade e estes


continuamente são mudados pela relação com o mundo que o cerca. O corpo
também é alterado por diversos fatores, como a idade, plásticas, problemas de
saúde, mudanças na dieta e pelo modo de vida de cada um.

“Investimos muito nos corpos. De acordo com as mais diversas


imposições culturais, nós os construímos de modo a adequá-
los aos critérios estéticos, higiênicos, morais, dos grupos a que
pertencemos. As imposições de saúde, vigor, vitalidade,
18

juventude, beleza, força são distintamente significadas, nas


mais variadas culturas e são também, nas distintas culturas,
diferentemente atribuídas aos corpos de homens ou de
mulheres. Através de muitos processos, de cuidados físicos,
exercícios, roupas, aromas, adornos, inscrevemos nos corpos
marcas de identidades e, consequentemente, de
diferenciação”. (Louro, 2007,p.15)

Esse entendimento de “corpo” deve ser experienciado pelo (a)


estudante, para ampliar sua visão de mundo, já que na adolescência a atenção
está toda voltada para si. A educadora Aparecida Fernandes da Escola
Municipal Isabel Nascimento de Mattos em Contagem, Minas Gerais, seguiu
este raciocínio. Elaborou um projeto “O espelho que possuo” após perceber
que os (as) estudantes do primeiro ano do terceiro ciclo (sexta série) estavam
muito preocupados com a aparência, e em muitas situações, usando apelidos
depreciativos com os colegas, acarretando na sala de aula muitas discussões.
Seguiu um roteiro que possibilitasse aos envolvidos o entendimento sobre
corpo/identidade.

Para a primeira atividade foi utilizado a técnica Auto retrato desenhado,


com o objetivo de desvelar e aprofundar a percepção de si mesmo (a) e
perceber as motivações dos pensamentos, sentimentos e ações. Foi proposto
aos (as) estudantes que desenhassem um corpo e que em cada parte do
corpo fosse escritos comandos solicitados.

As solicitações foram as seguintes: saindo da cabeça do personagem,


fazer um balão com três idéias que ninguém irá mudar; saindo da boca, fazer
um balão com uma frase que foi dita e da qual se arrependeu e outra frase que
precisa ser dita e ainda não o foi; do coração, sai uma seta, indicando três
paixões que não vão se extinguir; na mão direita do personagem, escrever um
sentimento que este tem disponível para oferecer; na mão esquerda, escrever
algo que ele tem necessidade de receber; no pé esquerdo, escrever uma meta
que deseja alcançar; no pé direito, escrever os passos que precisa dar em
19

relação a essa meta. Após o término do desenho, escrever no verso da folha


as semelhanças e diferenças encontradas.

A atividade foi muito bem sucedida com duração de uma hora. Os (as)
estudantes puderam expressar conteúdos internos, favorecendo o emergir de
emoções guardadas, de forma leve e descontraída. Escutar os (as)
adolescentes possibilitou um momento de encontro deles (as) consigo mesmo
(a). Todos apresentaram suas produções, e com a conversa, parte das
inquietações foram resolvidas por sugestões do próprio grupo nas soluções
dos problemas relatados. É possível verificar essa experiência no Anexo1.

1.2 – Resgatando/ Entendendo as imagens familiares

Esta foi a segunda atividade, ela exercitou a mobilização do (a)


adolescente, permitindo a reflexão e a expressão dos sentimentos referentes a
si e sua família. Com a imagem criada através de símbolos para representar os
membros familiares, foi possível aprofundar as imagens que tem sobre eles.

Nesta atividade foi necessário identificar para o (a) adolescente, que a


imagem e a fantasia que cria em relação à sua família possuem grande
importância na construção da sua identidade. No Anexo 2 tem um exemplo
dessa atividade.

O resultado foi bem interessante, os símbolos remeteram na sua maioria


para bons sentimentos, mas, em alguns pode perceber grandes conflitos.
Como a atividade foi discutida pelo grupo, parte dos conflitos teve um
direcionamento pelos próprios colegas, outros tiveram atendimento individual
pela educadora.
20

É neste tipo de atividade, que é trabalhada a experimentação lúdica


através de símbolos, com análise de situações, diálogo entre o grupo, que o
encontro com a individuação vai ser viabilizado com mais facilidade, como
afirma Urrutigaray:

“Propicia-se um clima de experimentação lúdica marcada por


símbolos, que vão indicando o alcance do caminhar individual
em direção de uma autoconsciência, ou da auto-regulação: a
educação no seu sentido mais amplo. A aquisição da noção da
interdependência, e da necessidade de união de esforços para
solução de problemas, conduz ao sentimento de ordem,
organização e integração, favorecendo comportamentos
harmônicos pautados no diálogo. ( Urrutigaray, 2008, p.81 e
p.82).

1.3 - Encontro com o corpo

...“O corpo é uma construção sobre a qual são conferidas


diferentes marcas em diferentes tempos, espaços, conjunturas
econômicas, grupos sociais, étnicos, etc. Não é portanto algo
dado a priori nem mesmo universal: corpo é provisório, mutável
e mutante, suscetível a inúmeras intervenções consoante o
desenvolvimento científico e tecnológico de cada cultura bem
como suas leis, seus códigos morais, as representações que
cria sobre os corpos, os discursos que sobre ele produz e
reproduz.”(Goellner,2005,p.28)

Com esta etapa do projeto foi pensada uma forma de unificar as


atividades anteriores, colocando o (a) estudante em contato com o próprio
corpo, viabilizando a construção de sua individuação.
Como a questão da beleza era pauta em tudo na sala de aula,
inicialmente foi pedido para o grupo que pesquisassem sobre o padrão de
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beleza mostrado pela mídia e suas implicações. Do resultado dessa pesquisa


começaram a identificar como eles e elas reproduziam ou tentavam reproduzir
as imagens concebidas pelas propagandas.

No segundo momento pediu-se que cada um desenhasse ou


modelasse com argila um corpo, e que identificasse a parte do corpo que mais
gostasse e a que menos gostasse, colorindo com duas cores diferentes (uma
cor para cada situação). Depois de feito o desenho ou modelagem, foi
apresentada a produção para o grupo, respeitando o direito daqueles que não
quiseram expor seu trabalho.

Para contribuir com o debate entre eles e elas foi mostrado o quadro
de Lonardo da Vinci – “Monalisa” e perguntado ao grupo se a mulher pintada
no quadro era bonita baseado no padrão da mídia. A maioria achou a mulher
feia e uma parte achou “interessante”. As discussões ganharam outro tom
quando foi colocado que a Monalisa era considerada para o padrão da época
uma mulher belíssima.

Após o entendimento de que “beleza” é criada e recriada a partir de


interesses, o grupo sensibilizado entendeu o reflexo da influência da mídia na
vida de todos. Para ampliar a percepção de que a beleza passa pela
construção de cada um, foi exibido o filme “O amor é cego”, direção: Bobby
Farrelly e Peter Farrelly). O filme tem como personagem principal um homem
que busca sempre namoradas de acordo com o tipo físico que elas possuem,
porém é hipnotizado de forma a visualizar apenas a beleza interior delas. Até
que ele se apaixona por uma mulher obesa que, aos seus olhos, é
simplesmente linda.

Para aprofundar a relação com o próprio corpo e aprofundar a


autoestima, estabelecer uma consciência de si mesmo e procurar formas mais
positivas de sentir seu próprio corpo, foi trabalhado com o grupo um sessão de
relaxamento.
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Utilizou-se uma música suave (música – Shepherd Moons da cantora


Enya) para fundo sonoro, colchonete para deitar e a seguinte seqüência
balbuciada pela educadora: relaxar o corpo no chão, permanecer em silêncio e
de olhos fechados. Sentir cada parte do corpo à medida que as enumera
(começando da cabeça até os pés). Identificar as partes de que mais gosta e
as de que menos gosta. Enviar uma mensagem positiva à parte do corpo de
que mais gosta. Enviar uma mensagem à parte do corpo de que menos gosta.
Lentamente, começar a movimentar-se, até espreguiçar. Abrir os olhos e
sentar em círculo e relatar o que mais chamou a atenção sobre si.

Para complementar a atividade e resolver a questão dos apelidos que


eram proferidos pelo grupo como “baleia assassina”,”tamborete de forró”,
“botijão de gás”, “macarrão”, “tripa” e outros, foi aplicada a “Dinâmica dos
apelidos” para amenizar a situação e colocar todos(as) para refletir sobre suas
ações e sobre tudo uma solução para as agressões emocionais sofridas pelos
apelidados.

Para a atividade foi utilizado cartolinas e canetinhas, a turma foi


dividida em cinco grupos. Em cada cartolina foi escrito um dos seguintes
termos ( pênis, vagina, relação sexual, menstruação e masturbação), e foi
solicitado ao grupo que escrevesse todos os termos populares equivalentes à
palavra escrita num tempo estipulado de quinze minutos. E depois um
voluntário de cada grupo leu em voz alta a produção. (Anexo 11)

Com essa atividade ficou evidente para o grupo como uma linguagem
pode está carregada de significados muitas vezes depreciativos. A reflexão foi
num clima de naturalidade, a educadora explicou que o nome científico para as
palavras em questão está destituído de emoção, já os nomes populares tem
significado carregado de histórias e emoções pessoais. Entendendo que os
apelidos devem ser evitados porque traz consigo uma carga emocional que
incomoda o outro, percebeu-se uma melhora na turma após esta atividade.
23

Todas essas atividades com foco no corpo, teve o objetivo de colocar o


(a) adolescente frente a si mesmo (a), deslocando o foco daquilo que julgava
negativo e de alguma forma tentar agregar uma imagem mais positiva a seu
respeito. É possível verificar essas experiências no anexo 3.

1.4 – Trabalhando a autoestima

Nas outras atividades o (a) estudante se viu, observou sua família e


como ele(a) se coloca nela. Nesta atividade “jogo da autoestima” pretende que
o grupo perceba as significações feitas pela própria pessoa associadas a sua
satisfação ou não com seu corpo, com sua competência/incompetência,
alegria/tristeza, conquista/fracasso, vergonha, confiança e como ela trabalha
essa dicotomia no seu dia a dia.

As respostas para cada um desses eventos citados, dependem da


fragilidade em que se encontra o sujeito. No período da adolescência muitos
acham que não são merecedores de afetos e elogios, e essa atitude influencia
na sua autoestima.

Para trabalhar ações positivas que resultem na melhora de sua auto-


imagem, é necessário que o (a) adolescente atribua valores positivos a si
mesmo (a), respeitando suas limitações e tirando da experiência vivida aquilo
que possibilita seu crescimento.

Foi pensado submeter os (as) estudantes a situações em que sua


autoestima fosse afetada, para isso foi entregue a eles/elas um pedaço de
papel que representava a autoestima de cada um ou uma. Na medida em que
eram lidas frases que de alguma forma afetasse a autoestima rasgava-se o
papel. Depois de lidas as frases negativas, a próxima tarefa era reconstituir a
folha de papel a partir das frases positivas que foram lidas.
24

Com essa atividade foi visível a reflexão do grupo, alguns conseguiram


sentir-se melhor na medida em que “soluções” eram lidas, e outros
conseguiram entender que sentir-se bem dependia de como conseguia
enfrentar a situação.
25

CAPÍTULO II
Relacionando com o outro (sexualidade)

“a sexualidade é o nome que se pode dar a um dispositivo


histórico; não se deve concebê-la como uma espécie de dado
da natureza que o poder é tentado a por em xeque, ou como
um domínio obscuro que o saber tenta, pouco a pouco,
desvelar”. ( Foucault, 1999, p.100)

As conversas sobre sexo e sexualidade são bem freqüentes em todos


os lugares, principalmente na mídia. Quando se fala em sexualidade logo vem
à mente a relação sexual e o orgasmo. No entanto, sexualidade é o relacionar
com o outro, seja no campo do trabalho, na amizade, no afeto com os pais, no
namoro, etc. O relacionamento humano está ligado a afetividade, ao meio
social e cultural em que o indivíduo está inserido.

...”a sexualidade não se restringe somente ao ato sexual e falar


desse tema é falar da própria vida. Ela é o aspecto central de
nossa personalidade, por meio da qual nos relacionamos com
os outros, conseguimos amar, ter prazer e procriar” ( Costa,
1994, p.7)

O tema sexualidade ainda é tratado com muito tabu e mito, pois os


adultos têm desconforto em conversar sobre esses assuntos com crianças e
adolescentes. A escola tem o papel fundamental de quebrar essa barreira,
dispondo de espaço para que as conversas aconteçam de forma natural sem
mito e preconceitos. Segundo o psicólogo Antonio Carlos Egypto, fundador do
Grupo de Trabalho e Pesquisa em Orientação Sexual ( GTPOS), todas as
escolas deveriam ter projetos específicos sobre o tema, desde as classes de
Educação Infantil. E ainda afirma que, organizar palestras isoladas não surte
nenhum efeito.
26

A dificuldade de trabalhar temas relacionados à sexualidade não pode


ser um bloqueio instransponível para a escola, existem formas adequadas que
facilitam o trabalho. Técnicas simples bem direcionadas, como as da
Arteterapia, podem ser usadas com resultados satisfatórios.

O (a) educador tem papel de agente transformador, pois é exemplo


para muitos educandos. O primeiro passo é perceber o sentido e o significado
de ações e atitudes dos adolescentes que irão facilitar a interação e o vínculo
entre ambos, criando empatia e favorecendo o desenvolvimento pessoal e
social entre estes. O caminho para o entendimento entre educador (a) e o(a)
adolescente é conhecer sua história de vida, nela pode-se reconhecer as
limitações, as queixas, as vitórias, enfim um caminho para encontrar um
equilíbrio tão necessário neste período de busca dos(as) adolescentes.

Neste sentido, discutir a sexualidade que tanto os adolescentes tem


interesse, vai propiciar o encontro do respeito e vínculo tão alvejado na
educação. Para êxito nas atividades o ideal é que o grupo de estudantes sugira
os temas e o educador utilize materiais atrativos e adequados que favoreçam o
interesse e o resultado eficaz do trabalho.

Em consonância com as colocações acima, entendemos que a


Arteterapia pode ser usada como o atrativo que viabilizará esse trabalho. Um
exemplo foi o projeto “Já sei namorar?” trabalhado pela educadora Aparecida
Fernandes, que junto com o grupo de estudantes estabeleceram os temas e a
educadora utilizou a arte como catalisadora de todo o processo.

2.1 - Projeto: “Já sei namorar?”


27

“Como educadores, o nosso papel é propor discussões e


atividades que ajudem os jovens a estabelecer
relacionamentos prazerosos e saudáveis; ajudá-los a ficar
espertos para que um namoro não se transforme em um
drama e, finalmente, chamar a atenção para algumas atitudes
necessárias para encontrar soluções que melhorem a
qualidade dos relacionamentos”. (caderno ‘sexualidade, prazer
em conhecer’,p.145).

As turmas do terceiro ano do terceiro ciclo (oitava série) que a


educadora Aparecida Fernandes desenvolvia sua prática pedagógica, não
falavam em outro assunto senão em namoro, meninas choravam durante as
aulas por causa de namorados, havia falta de concentração nas atividades, e
como consequência a aprendizagem ficou comprometida. A solução foi parar
com o conteúdo e conversar sobre as inquietações que assolavam o grupo.

A experiência em ouvir os estudantes foi tão boa, que por sugestão


deles criou-se um momento para a “escuta” e daí surgiu o projeto. Inicialmente
a educadora pediu ao grupo que escrevesse as dúvidas e sugestões de temas
para as discussões. Pensando em melhorar a dinâmica das atividades, a
educadora diversificou os encontros com jogos, produções artesanais, teatro,
dança, música, o que viabilizou um festival no dia dos namorados.

2.2 – Universo feminino x universo masculino

“Homens e mulheres adultos contam como determinados


comportamentos ou modos de ser parecem ter sido
‘gravados’ em suas histórias pessoais. Para que se
efetivem essas marcas, um investimento significativo é
28

posto em ação: família, escola, mídia, igreja, lei


participam dessa produção”...
...Na constituição de mulheres e homens, ainda que nem
sempre de forma evidente e consciente, há um
investimento continuado e produtivo dos próprios sujeitos
na determinação de suas formas de ser ou “jeitos de
viver” sua sexualidade. (Louro, 2007, p.25 e p.26)

Homens e mulheres são diferentes com relação à questão biológica,


mas ser homem ou mulher está muito além dessa diferença biológica, a
influência social, histórica e cultural vai estabelecer a construção desse ser
“homem” e ser “mulher”.

Sabemos que o indivíduo se constitui socialmente e já é “predestinado”


a um gênero, masculino ou feminino. No entanto são categorias passíveis de
discussão, já que nossa identidade é construída.

A escola, em seu papel educacional, preocupa em formar um cidadão


reflexivo, capaz de atuar na sociedade, modificando a realidade, a fim de
atingir objetivos traçados. Atrelado a essa capacidade, faz-se necessário
discutir neste espaço as questões de gênero e identidade, com o objetivo de
levar o aluno a si respeitar e respeitar o outro.

Ser homem ou mulher é identidade compartilhada e que no decorrer


da vida pode ser modificada, já que fazemos opções sexuais, as quais irão
marcar um lugar no social. Para que o educando chegue a determinados
conceitos e faça suas escolhas é preciso que a escola abra um espaço de
discussão e permita aos estudantes exporem suas idéias, evitando veicular
discussões preconceituosas que carregam consigo conceitos
heteronormativos.
29

Pensando a esse respeito, a temática do projeto ficou toda na questão


do namoro, já que o relacionamento que traz felicidade está pautado no valor e
no respeito que se atribui ao outro. Inicialmente, pensando em trabalhar os
dois universos, o feminino e o masculino, procurou-se trabalhar o “deslocar do
olhar”, ou seja, enxergar o outro com toda a sua especificidade e beleza.

Para deslocar os (as) adolescentes e colocá-los no “lugar do outro”, ou


mesmo, analisar a maneira pela qual são afetados no contexto “ser homem ou
mulher”, foi trabalhada uma oficina com a turma dividida em seis grupos.

Cada grupo recebeu uma situação-problema e após um tempo


determinado, cada um apresentou sua situação através de uma dramatização
com a possível solução. Os grupos também foram orientados a interferir,
sugerindo uma outra solução, se achassem que a mudança fosse melhor para
a situação.

O resultado da atividade foi bem positivo. Através da dramatização


pode sistematizar comentários mais adequados para algumas situações
vivenciadas na turma, sem que ninguém sentisse ofendido (a).

As situações-problemas podem ser lidas no Anexo 4.

2.3 – Identificando estereótipos

É necessário que os educandos identifiquem e reflitam sobre os


estereótipos criados pelo comportamento masculino e feminino, entendam o
conceito de gênero, e também sejam estimulados a trocar experiências e
idéias com a turma. Para isso foi dividida em quatro grupos e cada um recebeu
uma tarefa: o grupo 1 recebeu a atribuição de descrever o homem ideal,
segundo a forma de pensar mais comum entre os homens; o grupo 2
descrever o homem ideal, segundo a forma mais comum entre as mulheres; o
30

grupo 3 descrever a mulher ideal, segundo a forma de pensar mais comum


entre os homens; o grupo 4 descrever a mulher ideal, segundo a forma mais
comum entre as mulheres.

O tempo de duração da oficina foi de duas horas, o resultado ficou


evidente como o padrão heteronormativo é forte na concepção do grupo. A
mulher foi colocada no lugar do lar, a “mãe”, a gentil, a compreensiva e
sensível. O homem como provedor do lar, o “macho”, o forte, o que não
fraqueja.

Para contrapor a esse estigma colocado para o feminino e o


masculino, foi trabalhada outra oficina que levasse o grupo a refletir e
reconhecer a construção dos papéis sexuais dos homens e das mulheres, para
a partir daí produzir novos discursos e novas formas de entender o “lugar” que
está essas relações de gênero.

Para isso foi trabalhada a oficina “a construção social dos gêneros”,


descrita a seguir.

2.4 – A construção social dos gêneros

A turma foi dividida em dois grupos e cada um listou as vantagens de


ser homem (grupo 1), e o outro (grupo 2), as vantagens de ser mulher.

No primeiro momento os grupos apresentaram e discutiram baseado


na solicitação feita. No segundo momento, foi entregue um texto (anexo 5)
para cada grupo ampliar as discussões.

Com os textos, a discussão passou a ter outro “tom”. Os (as)


adolescentes perceberam como o estereótipo criado para ambos os sexos,
criam “marcas” que desequilibram os relacionamentos.
31

2.5 – Invertendo papéis

Com as oficinas anteriores, os (as) adolescentes entenderam os


estereótipos para o comportamento humano. No entanto, para se respeitar e
respeitar o outro é necessário que se coloque no “lugar do outro”. Foi então
sugerido que invertessem os papéis.

A turma foi dividida em cinco grupos, cada um recebeu um tema e,


baseado neste, discutiu-se os papéis, as diferenças e os privilégios relativos
aos sexos. Os temas foram: relação marido – mulher, educação de filhos (as),
trabalho, namoro e relacionamento sexual. Para apresentação do tema, cada
grupo criou uma cena, os personagens masculinos foram interpretados pelas
meninas e os personagens femininos pelos meninos.

Depois das apresentações, em plenário foi discutido o que representou


para cada um incorporar o papel do sexo oposto. O tempo para oficina foi de
uma hora e trinta minutos.

2.6 – Dia dos namorados: “Um festival de talentos”

“Como educadores, o nosso papel é propor discussões e


atividades que ajudem os jovens a estabelecer
relacionamentos prazerosos e saudáveis; ajudá-los a ficar
espertos para que um namoro não se transforme em um
drama e, finalmente, chamar a atenção para algumas atitudes
necessárias para encontrar soluções que melhorem a
qualidade dos relacionamentos”.( Caderno – Sexualidade,
prazer em conhecer, p. 145).
32

Neste sentido, procurou-se trabalhar temas voltados para o namoro


que contribuíssem de forma efetiva nas relações interpessoais dos (as)
estudantes. As discussões se pautaram no papel de cada um na relação, a
consciência na decisão da escolha dentre as opções que parecerem mais
acertada, o entendimento de que para cada escolha sempre terá uma
conseqüência “positiva ou negativa” para o futuro.

Como afirma em seu artigo, “Adolescência, arte e cultura: A arteterapia


na passagem adolescente” (Anexo 9), Georgina Martins descreve que “a
adolescência, por apresentar maior simbolização, pode ser facilitada pelo
estímulo da arte, uma vez que nasce maior interesse pela música, artes
plásticas, pintura, teatro e tudo que está relacionado à criação. De maneira
diferente da criança, que se exprime de forma imediatista e catártica, o
adolescente se interessa em participar culturalmente destes eventos,
buscando refinar suas potencialidades expressivas, aprimorando seu
conhecimento de códigos artísticos, desenvolvendo suas habilidades para
mobilização complexa dos seus sentimentos”.

Com toda essa potencialidade do adolescente, procurou-se em


trabalhar com o tema todas as habilidades disponíveis no grupo. E a partir daí,
surgiu a idéia, em um dos encontros, de fazermos um festival na escola, já que
muitos tinham habilidades musicais para cantar e dançar, outros (as) para
representarem personagens, declamar poemas e outros (as) para decorarem
ambientes.

A educadora Júnia Glória de Queirós percebeu a empolgação dos


estudantes e interessou-se pelo projeto. Dentro da perspectiva da música e
trabalhando os 100 anos de morte de Machado de Assis, começou sua
atividade interrogando os estudantes sobre a visão deles (as) com relação à
condição da mulher.
33

Após escutar todas as declarações da turma, a educadora apresentou


a concepção da figura feminina no decorrer da história, passando pela visão
romanesca de Machado de Assis à degradação da imagem do feminino. E
para facilitar essa exposição da linha do tempo, foram distribuídas letras de
músicas (Anexo 6) relacionadas à mulher em diversas épocas para análise e
audição das mesmas.

Com o término da atividade os (as) estudantes produziram um texto


reflexivo sobre a questão de gênero aplicada à mulher.

Paralelo à atividade da educadora Júnia, os preparativos para o festival


prosseguiam. Todas as apresentações foram cuidadosamente preparadas
observando a adequação ao tema. As músicas retratavam questões de amor,
romance, bem querer, como as demais apresentações: teatro, dança, teatro de
fantoche, poemas e os textos reflexivos.

Foi um sucesso o festival de talentos, e o mais importante, o objetivo


em torná-los mais reflexivos e críticos foi alcançado. A utilização da música foi
fundamental, os (as) adolescentes sentiram-se mais a vontade, o que viabilizou
a promoção da comunicação, o aprendizado, a mobilização, a expressão e
uma nova forma de lidar com a ansiedade. (Anexo 10)

“Quando ouvimos música alegre, tornamo-nos sutilmente


ligados ao ambiente sonoro” [...] ”A música de fundo leve pode
aliviar estresse e ansiedade, simplesmente – como sugerem as
expressões a seguir – por nos capacitar para ‘tocar uma corda
simpática’, ‘harmonizar’ ou nos tornarmos ‘sintonizados com
nosso ambiente’. Esse entrosamento explica como ondas
cerebrais, freqüência cardíaca, respiração, tom emocional e
outros ritmos orgânicos podem mudar sutilmente de acordo
com a música que ouvimos”. (Campbell,2001, p. 137).
34

CAPÍTULO III
Sexo e Sexualidade na Adolescência

A adolescência é um período que caracteriza as transformações


biopsicossociais que marcam a passagem da infância para a vida adulta. “O
conceito de adolescência engloba e ultrapassa o de puberdade, já que faz
referência não só às transformações físicas, mas também ao processo de
adaptação psicológica e social à essas transformações”.

“Encontramos no processo de adolescer uma identidade em


crise. Isso implica dizer que estamos diante de um momento
do ciclo vital que, paradoxalmente, encerra grandes riscos e
grandes possibilidades para o projeto de vida em construção,
próprio dos momentos de crise. [...] Dentre as várias
expressões da crise de identidade que marca o período da
adolescência destacam-se aquelas que se referem à dimensão
da sexualidade”. ( Rena,2006, p.34 e p.35).

Nesta fase, o corpo confere ao adolescente novas possibilidades, no


entanto, por não ter um corpo infantil e não poder vivenciá-lo no mundo adulto,
o (a) adolescente busca por uma identidade. Esta busca gera muita
instabilidade no humor, muita irritabilidade, tristeza, alegria em excesso, e
outros. Com as perdas e os ganhos, o (a) adolescente busca se afirmar frente
aos adultos através de contestações da autoridade, questionamentos, adesão
a grupos e outras formas que lhe proporcione a construção de sua identidade.

“A definição de uma identidade sexual e dos papéis sexuais no


âmbito do grupo social são questões a serem respondidas o
quanto antes por adolescentes de ambos os sexos. Em
interação com os diversos atores que compõem seu cenário
sociocultural, meninos e meninas em transformação vêem as
referencias de masculinidade e feminilidade, adquiridas
35

durante a infância, submetidas ao crivo das novas descobertas


da adolescência”. ( Rena,2006,p.35).

Todo ser é “inacabado”. A busca pela satisfação sempre terá uma


lacuna a ser preenchida, e essa falta é que viabilizará a dinâmica que é a vida,
portanto, a fase da adolescência faz parte dessa longa jornada da “procura”.

Entender que os estereótipos criados em torno dos (as) adolescentes


como: “aborrescentes”, “revoltados (as)”, “esquisitos (as)” e outros, são
atribuições equivocadas e excludentes, vai facilitar a interação tão necessária
para a constituição dos sujeitos.

Nesta fase de turbilhão que passa o (a) adolescente, o melhor caminho


é promover interações construtivas. E a partir delas, se efetivar escolhas que
proporcione o “empoderamento” e a capacidade de viver sua sexualidade sem
mitos e preconceitos.

3.1 – Projeto: “Quanto custa ter um bebê”

“O sexo , inscrito no corpo, determina características e funções


reprodutivas diferenciadas para homens e mulheres. Só a
mulher pode engravidar, dar à luz e amamentar. Apenas os
homens produzem espermatozóides e podem fecundar as
mulheres. Entretanto, não está inscrito na biologia que deve
caber à mulher cuidar dos filhos, administrar a casa, zelar pela
saúde da família. Nem está biologicamente determinada a
competência dos homens para serem provedores, criadores e
políticos. Apesar disso, funções que não tem relação com as
diferenças reprodutivas são atribuídas às pessoas de acordo
com seu sexo biológico”. (Baleeiro, 1999, p.151)
36

“A concepção é de responsabilidade tanto do menino quanto da


menina”. Com esta afirmação iniciou-se o debate com a turma do segundo ano
do terceiro ciclo (7.a série). Como era esperado, os meninos defenderam que
as meninas “tinham que tomar mais cuidado”. No meio de tanta controvérsia
por parte dos dois lados, foi sugerido ao grupo que fizessem uma pesquisa
para saberem o quanto custa ter um bebê.

Para facilitar a pesquisa, a educadora Aparecida Fernandes entregou


para cada integrante da turma um roteiro (está no Anexo 7). E a partir daí, os
(as) estudantes começaram a trazer para as aulas os avanços da pesquisa.
Alguns já se posicionavam na defesa do uso de camisinha, como forma de
evitar a concepção, preocupados com o dinheiro que gastariam com o bebê.

Com os debates após a pesquisa, percebeu-se que alguns mudaram


seu posicionamento frente aos questionamentos. Com isso, o primeiro objetivo
que é mobilizar o grupo para reflexão foi alcançado. O próximo passo foi
direcionar atividades para que os (as) adolescentes percebessem outras
conseqüências da concepção além do gasto do dinheiro.

Para isso foi pensado numa seqüência que levasse o grupo ao


amadurecimento do tema, através de vivências em oficinas temáticas que são
descritas a seguir:

3.2 – Concepção e Gravidez

“Uma pesquisa realizada pela UNESCO, divulgada em março de 2004,


envolvendo 16.400 adolescentes das capitais brasileiras, mostra que a primeira
relação sexual entre meninos ocorre aos 14,5 anos e entre meninas aos 15,5
anos. Os métodos anticoncepcionais utilizados são: camisinha em 61% dos
casos, pílula em 24% dos casos, mas 11% dos entrevistados nunca utilizou
nenhum método. E 1 em cada 10 adolescentes engravida antes dos 15 anos”.
37

Este trecho anterior foi lido antes de começar a atividade para chamar
a atenção do grupo para a temática. Foi pedido a eles e elas que sugerissem
soluções para diminuir o número de incidências de gravidez na adolescência.

As soluções foram muitas: começar a ter relação sexual com mais


idade, usar os métodos contraceptivos de forma correta, saber quando está no
período fértil e evitar ter relação sexual neste período e outras.

Após todas as colocações do grupo, a educadora sondou o


conhecimento do mesmo para confrontar as afirmações feitas. O resultado é
que eles (as) sabiam as soluções, mas não tinham o conhecimento para
colocar as soluções em prática. E a partir daí , seguiu-se um roteiro para que
pudessem adquirir os conhecimentos necessários.

No primeiro momento, a turma foi dividida em dois grupos, cada um


recebeu um papel craft para desenhar o contorno do corpo de um colega e na
seqüência desenhar os órgãos. Também foi estabelecido que um grupo
desenhasse o corpo masculino e o outro o feminino. Ao desenhar os órgãos foi
percebido o conhecimento prévio dos (as) estudantes.

Para complementar o conhecimento sobre concepção, a turma


participou de um jogo desenvolvido pelo Instituto Kaplan ( menstruação,
espermatogênese e reprodução). Após o jogo, a educadora relacionou os
aspectos de anatomia e fisiologia dos órgãos e suas respectivas
funcionalidades.

3.2 – Contracepção

“Em 1994, a Conferência Internacional de População e


Desenvolvimento, realizada no Cairo e, em 1995, a Quarta
38

Conferência Mundial da Mulher, realizada em Pequim,


enfatizaram que os direitos sexuais e reprodutivos são parte
dos direitos sexuais e reprodutivos são parte dos direitos
humanos fundamentais e que os serviços de saúde devem
fornecer condições para que a população possa exercê-los”.
(Baleeiro,1999, p.211).

Não só os serviços de saúde devem promover a conscientização sobre


a contracepção e as doenças sexualmente transmissíveis, mas também é
dever da escola, em seu papel de formadora de cidadãos e cidadãs, fornecer e
dar garantia de acesso a essas informações, tornando-os conscientes dos
seus direitos e das implicações de escolhas futuras.

Para apresentação dos métodos contraceptivos, a educadora levou para


sala de aula os vários exemplos disponíveis, e em seguida utilizou uma
atividade que viabilizasse a aprendizagem da utilização dos métodos e a
reflexão sobre critérios de escolha dos mais indicados para uso na
adolescência.

Na atividade foi entregue um cartão com o desenho de um dos métodos


contraceptivos para cada grupo (total de seis). Cada um elaborou uma
propaganda para vender o produto para os colegas. Após todos apresentarem,
foi discutido sobre a prevenção, os cuidados, sexo seguro, a importância de
procurar um ginecologista, os métodos mais indicados na adolescência e a
consciência dos cuidados com a saúde.

3.3 – Trabalhando a prevenção (sexo seguro)

Nas relações sexuais, além da possibilidade de gravidez, existe também


a propensão de ser infectado (a) por doenças. E para isso foram relacionadas
39

para a turma as várias doenças transmitidas sexualmente através de um filme


e gravuras. Durante as discussões foi colocado para o grupo que as gravuras
são impactantes, mas que na verdade quem transmite a doença não apresenta
nenhum sinal daquelas deformidades. E para provar que “a aparência pode
enganar”, a turma participou da seguinte atividade:

Foi entregue para cada estudante um papel para coletar o máximo de


assinaturas possíveis. Após o preenchimento dos papéis, foi pedido que a
pessoa que estivesse com um papel desenhado um círculo se apresentasse.
Neste momento foi colocado para a turma, que essa pessoa está contaminada
com o vírus HIV, e todos (as) que tiverem sua assinatura teriam que segurar
nela. E assim toda a turma foi se ligando numa teia. Para desfazer a teia e a
sensação de pânico, a educadora pediu que olhassem no papel e procurassem
uma letrinha “C”. As pessoas que achassem estariam com a saúde
preservada, pois usaram a camisinha na relação sexual.

Na seqüência, trabalhou-se uma oficina “sexo seguro”, com o objetivo


dos (as) adolescentes aprenderem a usar a caminha de forma adequada. Para
isso, foi disponibilizado camisinhas para manipulação e colocação em prótese.
Em seguida os (as) adolescentes encheram as camisinhas de ar , para teste
com lubrificantes. Perceberam que com a camisinha, não pode ser usado
lubrificante a base de óleo porque ela estoura e deixa o casal desprotegido.

“Sabe-se que apenas a informação não resolve. Não basta


apenas saber que uma DST é real e que pode matar, por
exemplo. É preciso lidar com outras representações e valores
culturais a fim de superar a vergonha, a auto- suficiência
ignorante, a idéia de que só com os outros acontece, comigo
não. A sensação de vergonha, diante da (o) parceira (o) no
momento de colocar a camisinha não deve ser o maior
obstáculo ao uso e não deve superar a sensação de se estar
cuidando da própria vida e da outro, quer seja a relação
heterossexual ou homossexual”. ( Furlani, 2003,p.77 e p.78).
40

3.4 - Mito e Tabu

“Mito pode significar uma ‘ideia falsa sem correspondente na


realidade’, o que reforça um conceito que envolve, por parte de
quem o discute, uma postura especulativa a fim de demonstrar
as idéias que, erroneamente, são incorporadas como
verdadeiras, desconstruindo assim, o mito”. ( Furlani, 2003, p.
17)

Para trabalhar a questão do mito e tabu muito difundido no meio dos


adolescentes, foi proposto uma oficina para “escuta” das dúvidas mais
freqüentes. Para facilitar as discussões, entregou-se uma ficha com algumas
afirmações para serem contestadas ou reafirmadas. Nas discussões ficou
evidente, como a falta de informação científica deturpa os fatos.

Nos tempos atuais, com o mundo globalizado, acessos ilimitados na


Internet, o consumo de “modismos” e tantos outros eventos do capitalismo,
percebe-se que outros mitos estão sendo criados para adaptar às novas
preocupações que surgem nas relações afetivas. Como por exemplo, a
questão de que quanto mais em forma e belo (a), mais feliz e bem sucedido (a)
a pessoa será.

Portanto, o (a) educador (a) deve estimular o grupo em que está


atuando, a refletir esses mitos e padrões estabelecidos, para que possam
entender que padrões estereotipados podem levá-los a enfraquecer sua
própria autoestima.

“Os mitos e os tabus sexuais existentes são o reflexo de uma


herança de permanente vigia da sociedade em relação à
sexualidade individual e coletiva, tanto no espaço privado ( do
41

lar, da casa, da família), como nos espaços públicos ( do


trabalho, da rua, da mídia , da escola). Herdamos e
construímos, a cada dia, um meio sócio- cultural que vigia a
sexualidade alheia na tentativa de coagir as ações individuais e
enquadrá-las nos modelos hegemônicos e ‘permitidos’,
inventando inúmeras representações sexuais através de
diversos discursos”. (Furlani, 2003, p.178).

3.4 – Oficina: o “parto em cena”

Para realizar a oficina, a turma foi dividida em casais, e cada um


recebeu um papel escrito: as meninas receberam escrito ser mãe é, os
meninos ser pai é. Todos completaram a frase da forma que acharam melhor.

Depois de preencherem o primeiro papel, receberam outro para


completar a frase “se um dia for pai” e “se um dia for mãe”. Baseado nas
produções do grupo, as discussões foram direcionadas para a concepção de
uma família ideal para o desenvolvimento da criança.

Para continuar com o tema foi convidada a autora do projeto “família


colchete”, Vânia Aparecida de Lima, para trabalhar a oficina do parto. Que
através de encenação, num ambiente de maternidade criado em sala de aula,
trabalha toda beleza da sublime ação do nascer de um bebê.

Foi criado todo o clima para hora do parto, e para isso, foram
convidados para encenar os profissionais que atuariam no parto (pediatra,
obstetra, anestesista e enfermeira) e inclusive o pai do bebê. Para cada
integrante foi entregue luvas, tocas e vestes apropriadas para sala do parto.

Com tudo já em andamento, a mãe “Ângela”, boneca grávida usada


para o parto, foi colocada na mesa para o parto se concretizar. Tudo foi
42

perfeitamente encenado, e o clima era realmente de maternidade e foi uma


surpresa para todos e todas quando nasceram os gêmeos.
Após o nascimento dos bebês, foi colocado por Vânia a importância da
amamentação para a saúde do bebê. E os (as) adolescentes puderam simular
a amamentação dos bebês com uma mama anatômica de criação da própria
Vânia. ( No anexo 8 encontram-se fotos do parto)

A oficina em si já proporciona no outro o respeito `a vida, o cuidado com


o outro e acima de tudo a responsabilidade do ato de ser pai e mãe. Portanto,
na prática do parto e nos temas abordados para esse desfecho, acredita -se
que os (as) adolescentes têm outra percepção do relacionamento, e sabem
que para cada escolha que fizerem uma consequência positiva ou negativa
será estabelecida.
43

CONCLUSÃO

A Arteterapia proporcionou um elo importante no estudo da


sexualidade, pois com suas técnicas de vivências através dos diferentes canais
expressivos como: a música, expressão corporal, artes plásticas, artes cênicas,
desenhos, poesias, proporcionaram o trabalho com a subjetividade do sujeito
estimulando-o a interferir na sua realidade.

As atividades propostas nos projetos, tiveram a intenção de provocar


nos (as) adolescentes, uma nova visão de mundo, interno e externo,
reorganizando e equilibrando os mesmos. Através dos jogos cooperativos, da
mudança na autoimagem, da estimulação da desinibição, fez com que cada
um ampliasse seu universo de percepção de si e do outro.

Discutir temas relacionados à sexualidade não é tarefa fácil, mas com


as técnicas da arteterapia tornou-se leve e prazeroso tanto para as educadoras
envolvidas quanto para os (as) adolescentes, que durante todo processo
puderam usar a “voz”, tão silenciada na adolescência.

Enfim, tratar de temas relacionados à sexualidade utilizando a


arteterapia como aliada, tornou-se uma alternativa prazerosa e eficaz para o
trabalho dos (as) educadores (as). Visto que, com a aplicação das atividades,
as situações ficam sutis sem que o educador se exponha em demasia e se
constranja com a “avalanche de perguntas” sem direcionamento.
44

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BALEEIRO, Maria Clarice; SIQUEIRA, Maria José; CAVALCANTI, Ricardo


Cunha; SOUSA, Vilma de – Sexualidade do adolescente; fundamentos para
uma ação educativa, Salvador: Fundação Odebrecht; Belo Horizonte:
Secretaria de Estado de Educação e Secretaria da Saúde de Minas Gerais,
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CAMARGO, Ana Maria Faccioli; RIBEIRO, Cláudia – Sexualidade(s) e


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Editora da UNICAMP, Campinas,2000.

CAMPBELL, Don; tradução de Nivaldo Montingelli Jr. – O efeito Mozart,


explorando o poder da música para curar o corpo, fortalecer a mente e liberar a
criatividade, Editora Rocco, Rio Janeiro, 2001.

COSTA, Jf. Prefácio. In: CATONNÉ, Jean – Philippe. A sexualidade ontem e


hoje. (tradução Michele Íris Koralck). São Paulo: Cortez, 1994. ( Coleção
questões da nossa época; v40), p.7.

DONANI, Ângela; ADRIÃO, Maria; VALADÃO, Marina Marcos; LOPES, Vera


(organizadores) – Saúde e prevenção nas escolas: atitude pra curtir a vida. (
Guia para a formação de profissionais de saúde e de educação), 1. ed,
Ministério da Saúde, Brasília, 2006.

FOUCAULT, Michel – História da Sexualidade 1: a vontade de saber, 13. ed,


Editora Graal, Rio de Janeiro, 1999.
45

FURLANI, Jimena – Mitos e Tabus da sexualidade Humana, 3.ed, Belo


Horizonte, Autêntica, 2007.

LOPES, Guacira – Corpo, gênero e sexualidade, Editora Vozes, 2. ed,


Petrópolis 2005

LOPES, Cristina (coordenação de teleducação) – Fundação Roberto Marinho –


Caderno – Sexualidade, prazer em conhecer.

LOURO, Guacira Lopes (organizadora) – O corpo educado: pedagogias da


sexualidade, 2. ed, Editora Autêntica, Belo Horizonte, 2007.

LOURO, Guacira Lopes – Gênero, sexualidade e educação: uma perspectiva


pós-estruturalista, 8. ed, Editora Vozes, Petrópolis, 1997.

MIRANDA, Margarete Parreira – Adolescência na escola: soltar a corda e


segurar a ponta, 1. ed, Editora Formato, Belo Horizonte, 2001.

MURARO, Rose Marie; BOFF, Leonardo – Feminino e masculino: uma nova


consciência para o encontro das diferenças. 4.ed, Editora Sextante, Rio de
Janeiro, 2002.

OSTROWER, Fayga – Criatividade: processos de Criação, 9. ed, Editora


Vozes, Petrópolis, 1993.

RENA, Luiz Carlos Castello Branco – Sexualidade e adolescência: As oficinas


como prática pedagógica, Autêntica Editora, Belo Horizonte/Mg, 2006.
46

RUDD, Even – Caminhos da Musicoterapia, São Paulo: Summus, 1990.

SERRÃO, Margarida; BALEEIRO, Maria Clarice – Aprendendo a ser e a


conviver, 2. ed – São Paulo, FTD/ Fundação Odebrecht, 1999.

URRTIGARAY, Maria Cristina – Arteterapia: a transformação pessoal pelas


imagens, 4. ed, Editora Wak, Rio de Janeiro, 2008.

ARTIGOS:

SANTO, Joana Maria Rodrigues Di – Arteterapia como recurso eficaz no


ambiente escolar.

Pesquisa: http://www.centrorefeducacional.com.br/arterapi.htm em 01 de
Janeiro de 2009.

MARTINS, Georgina – Adolescência, arte e cultura: a arteterapia na passagem


adolescente. Pesquisa: www.nunap.com.br/artigos/adolescencia.html em 2 de
Outubro de 2008

SITES CONSULTADOS
http://portal.saude.gov.br/portal/saude/cidadao/visualizar_texto.cfm?idtxt=259
em 06/05/2009
http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/12062003indic2002.shtm em
06/05/2009
47

ANEXOS
Índice de anexos

Anexo 1 – Produção da atividade Auto retrato.

Anexo 2 – Produção da atividade “Imagens familiares”.

Anexo 3 – Identificação no corpo das partes que gostam e não gostam.

Anexo 4 – Situações- problemas.

Anexo 5 – Textos da oficina “A construção social dos gêneros”.

Anexo 6 – Letras das músicas.

Anexo 7 – Roteiro da pesquisa “Quanto custa ter um bebê.

Anexo 8 – Fotos do parto.

Anexo 9 – Artigos.

Anexo 10 – Fotos do “festival de talentos”.

Anexo 11 – Fotos da “dinâmica dos apelidos”.


48

ANEXO 1
49

ANEXO 2
50

ANEXO 3
51

ANEXO 4
52

ANEXO 5
53
54

ANEXO 6
Letras das músicas
55
56
57
58

ANEXO 7
Roteiro da pesquisa “quanto custa ter um bebê”

Questões:
1- Durante a gravidez necessita-se do pré-natal, escreva sobre o mesmo.
2- Quais exames a grávida deverá fazer? Por que?
3- Comente sobre a alimentação da gestante.
4- Pelo exame de sangue identifica-se a presença de gravidez ou não.
Qual hormônio é observado neste exame?
5- Quais remédios e vacina a gestante deverá tomar?
6- Detalhe os valores se a gestante fizer o pré – natal:
a) Por convênio ( mensalidade do convênio)
b) Particular ( preço por consulta)
7- Durante a gravidez é necessário o ultra- som. Quantos são necessários
e com qual objetivo?
8- Quanta custa cada ultra- som?
9- Escreva ou ilustre o desenvolvimento embrionário.
10- Quanto custa fazer o parto em uma maternidade privada?
11- Não custeando o pré-natal, qual ou quais opções a gestante tem?
12- Por que as gestantes tem atendimento prioritário?
13- Quanta custa o enxoval do bebê? Detalhe: roupas, mobilha e materiais
farmacêuticos.
14- Depois do nascimento do bebê, quais responsabilidades são
assumidas pelos pais?
15- Na sua opinião qual o momento que estará preparado (a) para constituir
uma família?
16- O que é família para você?
17- Escreva sobre a importância do leite materno.
59

ANEXO 8
Fotos do parto
60

ANEXO 9
ARTIGOS
PESQUISA SITE : : www.nunap.com.br/artigos/adolescencia.html

Data da pesquisa: 15/01/2009

ADOLESCÊNCIA, ARTE E CULTURA: A ARTETERAPIA NA PASSAGEM ADOLESCENTE


Por Georgina Martins

O processo de crescimento interno e externo de todo ser humano está inevitavelmente vinculado à sua
cultura e às possibilidades de transformação e criação que lhe são favorecidas. Um dos momentos mais
enigmáticos de nosso desenvolvimento apresenta-se na passagem adolescente. Encontramos vários estudos e
alternativas para a compreensão deste assunto, entre as quais a psicanálise, que descreve este processo
como uma fase de transição. Assim, a adolescência é marcada pelas vivências de luto do corpo infantil diante
da aproximação de um universo adulto. Nesta etapa com tantas perdas e despedidas estamos frente à
primeira possibilidade concreta, agora com um corpo mais estruturado, de rompimento e diferenciação das
referências que estruturaram a infância. Para incorporar este mundo que se apresenta, o adolescente vincula-
se a novas figuras de identificação, em busca da construção de sua identidade adulta.

Atualmente a neurociência também se ocupa em seus estudos sobre o funcionamento do cérebro


adolescente. Em pesquisas recentes, comprovam que neste período da vida ocorre uma remodelagem no
sistema de recompensa do cérebro. Esta seria a causa de tantas mudanças de comportamento, como o tédio,
a procura por novas experiências, e inclusive a necessidade de correr riscos. Em seu artigo, Herculano-Houzel
nos fala que este sistema de recompensa é “o conjunto de estruturas que nos premiam com uma sensação
de prazer e nos fazem querer mais de tudo o que é bom ou dá certo. Logo no começo dessa fase há uma
perda transiente de função, ou embotamento, do sistema de recompensa” . Esta mudança neurológica
explica a supervalorização pelas novas experiências e interesses, como se o antigo abrisse espaço para a
implantação de um novo caminho.

Exatamente por esta transformação, neste momento também se inaugura uma grande possibilidade de
criação. Os canais internos estão necessitando de estímulos inovadores, abrindo espaço para novos
conhecimentos e experiências, como a música, o esporte, a literatura, a filosofia e até mesmo a expansão
religiosa. Verificamos que o jovem ao entrar na adolescência passa a operar com mais eficiência o
pensamento abstrato. Inicia-se um período de amadurecimento psíquico através do aprendizado com os
próprios erros. Seu comportamento não funciona mais como o de uma criança, já que pode prever as
conseqüências de seus atos. Agora, com condições de flexibilizar seus lugares no mundo, sua relação com o
outro passa a ser de interação e troca. Neste período, as regras são internalizadas, não mais sob o efeito do
senso comum moral, mas a partir da tentativa de uma livre construção de sua ética. No entanto, esta
mudança ainda emerge como algo inovador e desconhecido de seu mundo interno. Mesmo já tendo algumas
atitudes adultas, não possui a autonomia de suas escolhas e ainda não discrimina claramente os caminhos
que irá seguir.

A necessidade de diferenciação em relação às figuras parentais o leva para a busca de participação em grupos
e toda a gama de ofertas deste novo lugar fora da família. Diante de tantas mudanças internas e externas,
“ser adolescente” representa em nossa sociedade um período de grande risco, mas também um caminho de
solidificação do indivíduo no mundo. Nesta etapa da vida se organizam todas as vivências anteriores, podendo
configurar-se um adulto auto-suficiente, responsável, moral e ético, ou imaturo e dependente. A família e a
sociedade precisam estar conscientes do seu papel nesta passagem, criando espaço de crescimento e
independência. O núcleo familiar deve permitir que se distancie o suficiente para selecionar seus pares, com
amizades que lhe auxiliem em sua formação identificatória. Neste ambiente propício de crescimento o sujeito
estará preparado para as escolhas amorosas e profissionais, assim como na conquista de sua sexualidade.
61

A partir desta premissa, de uma adolescência como fase transitória entre a despedida da infância e a auto-
apropriação de um sujeito adulto, torna-se compreensível a presença de um comportamento específico e
diferenciado, com embotamento da expressão e recolhimento diante dos antigos personagens de seu contato.
Logo, apresenta a necessidade de novas formas de comunicação. Como vimos anteriormente, abre-se neste
período a manifestação de outros canais da linguagem. Esta etapa de maior simbolização pode ser facilitada
pelo estímulo da arte, uma vez que nasce maior interesse pela música, artes plásticas, pintura, teatro e tudo
que está relacionado à criação. De maneira diferente da criança, que se exprime de forma imediatista e
catártica, o adolescente se interessa em participar culturalmente destes eventos, buscando refinar suas
potencialidades expressivas, aprimorando seu conhecimento de códigos artísticos, desenvolvendo suas
habilidades para a simbolização complexa dos seus sentimentos.

Seguindo este pensamento, o caminho da arteterapia mantém uma relação estreita com as conquistas de
amadurecimento destes jovens. Utilizando-se da expressão simbólica através dos instrumentos artísticos,
esta abordagem terapêutica amplia a consciência de seus sentimentos, emoção e funcionamento psíquico. Ao
permitir que o inconsciente tenha um espaço para ser reconhecido em seus conteúdos reprimidos, como fonte
criadora de vida, a arteterapia estimula que este momento juvenil torne-se o primeiro passo para o processo
de individuação. Isso significa que auxilia este sujeito na conquista de sua distinção e singularidade.
Favorecendo esta discriminação em relação ao todo, ao mesmo tempo em que induz a participação social do
sujeito, a arteterapia permite este trânsito entre os conflitos internos inerentes ao crescimento e a construção
de uma nova forma de caminhar no mundo. Conforme nos fala Nagem:

“Estes processos de transformação que podem ocorrer no campo material e no campo psíquico, se observados
e relacionados durante o trabalho arteterapêutico, podem propiciar ao indivíduo que caminha uma integração
de seus conteúdos materiais e imateriais, que se tornam matéria-prima essencial ao seu processo de
individuação.”

Exatamente o tão temido conflito é o responsável pelo crescimento humano. Na tentativa de amenizar a dor
psíquica criamos defesas que nos protegem de possíveis sofrimentos. Esse processo inicia-se ainda na
infância quando vivenciamos nossas primeiras ameaças psíquicas, o que conduz à formação de mecanismos
de adequação, muitas vezes através de bloqueios rigidamente condicionados. A chegada da adolescência
ressignifica todas as vivências anteriores. Como um amálgama, revivemos todas as fases pregressas, na
possível chance de reescrever a nossa própria história e consolidar nosso lugar no mundo.

Esta experiência vivenciada dentro do processo arteterapêutico permite ao jovem que, através de seu corpo
presente nos trabalhos, elabore suas angústias e as expresse espontaneamente. Esta é a própria linguagem
do inconsciente que se apresenta nas imagens criadas e na livre expressão de seu sentimento diante de cada
criação. Isto traz ao sujeito a conscientização de seu ser e a aproximação de seu verdadeiro self. Assim,
atingirá maior integração entre o inconsciente e o ego. O adolescente, ao receber os caminhos da cultura e da
arte como fonte de crescimento, estará mais apto a transpor os obstáculos de sua passagem para se tornar
um jovem-adulto responsável e preparado em seus desígnios futuros.

BIBLIOGRAFIA :
ABERASTURY, Arminda e KNOBEL, Maurício. Adolescência normal – um enfoque psicanalítico. Rio Grande do
Sul: Artes Médicas, 1992.
CAMPOS, Dinah Martins de Souza. Psicologia da adolescência – normalidade e psicopatologia. Rio de Janeiro:
Ed. Vozes, 1998.
HERCULANO-HUZEL, Suzana. O Cérebro em Transformação. Revista Viver Mente & Cérebro, São Paulo, 2005.
NAGEM, Denise. Arteterapia: métodos, projetos e processos. Rio de Janeiro: Wak Ed., 2007.
HERCULANO-HUZEL, Suzana. O Cérebro em Transformação, Revista Viver Mente & Cérebro. São Paulo, 2005.
p. 56 - 63.

NAGEM, Denise. Arteterapia: métodos, projetos e processos. Rio de Janeiro: Wak Ed., 2007. p. 21
62

http://www.centrorefeducacional.com.br/arterapi.htm

ARTETERAPIA COMO RECURSO

eficaz no Ambiente Escolar


Profª. Ms. Joana Maria Rodrigues Di Santo

A utilização de recursos artísticos para auxiliar o desenvolvimento


de conteúdos escolares específicos vem-se expandindo cada vez mais, com
o foco do trabalho pedagógico na aprendizagem do aluno. Os cursos de
formação de professores procuram enfatizar atividades didáticas que
privilegiem a ação do aluno e, nesse sentido, atividades artísticas são
excelentes recursos, uma vez que a arte vem ocupando significativo espaço
na formação humana, desde o início das civilizações até a atualidade.
Em decorrência, cursos específicos de especialização em
arteterapia são oferecidos não apenas a professores, mas a profissionais
que trabalhem em diferentes contextos, a fim de que possam adicionar à
sua prática o uso terapêutico e profilático de recursos criativos, sejam
plásticos, poéticos, musicais, de expressão corporal... Nesse sentido, não
se trata de lançar mão da arte pela arte, ou da arte apenas como recurso
para facilitar a aprendizagem, mas sobretudo da arte integrada a outros
recursos expressivos, numa relação de ajuda.
Sabemos que a arte é um elemento muito importante na vida de
cada pessoa e que o educador, de modo especial, pode munir-se, através
da arte, de uma riqueza inestimável de recursos que auxiliem sua tarefa
educativa, principalmente a partir do momento em que se conscientize de
que pode e é interessante que trabalhe, também, sua própria onipotência,
reestruturando a concepção de saber, que não se restringe ao lógico-
matemático, mas abarca todos os tipos de inteligência e lhe possibilita a
busca de diferentes maneiras de transmitir a mesma mensagem,
aproveitando todas as possibilidades que o repertório de conhecimentos e
emoções do aprendente/interlocutor traz.
Assim, com lucidez, compromisso e responsabilidade, práticas e
vivências são utilizadas para trabalhar os bloqueios de aprendizagem e a
construção dos conceitos. Dessa forma, o docente não vai negar a
inteligência do outro, mas dispor-se a percebê-la, a identificar qual canal
prioritário é utilizado para conhecer o mundo, analisá-lo, aprender. Vai
valorizar o aprendente e apostar na sua aprendizagem, investir na sua
63

formação, utilizar a expressão artística para estimulá-lo a exprimir, sem


receios, sem censuras, sem se importar com talento ou capacidade criativa,
seus sentimentos e emoções, fazendo, posteriormente, a interpretação do
que pode exprimir através da criação artística.
Docentes/Ensinantes já despertos para tais possibilidades
refletem, dirigem o olhar, também, para suas próprias vivências: analisam
os respectivos sentimentos, procedimentos, reações... procurando enxergá-
los com equilíbrio, pesando as adequações e inadequações, flexibilizando,
dando-se oportunidade de investir, falhar, acertar, negociar... aceitando-se
como seres em transformação, eternos aprendizes que interagem com o
aluno, ensinando e, ao mesmo tempo, aprendendo. Nesse processo, se
enriquecem e, utilizando o recurso da arte como mediadora do diálogo
interno, da visão de mundo, de professor, de escola e de si mesmos se
aperfeiçoam, ampliam a própria visão e possibilidades, se embelezam.
Durante esse processo amadurecem, revêem todo o conteúdo que
desenvolvem em suas aulas, analisam, refletem sobre os entraves
encontrados, não como vítimas do processo, mas como co-autores, e
relativizam, quer seus acertos, quer as falhas, percebendo que a ótica pela
qual analisavam o mundo era mais rígida e deixava de beneficiar seja a si
mesmos , seja aos seus interlocutores. Interessando-se pela arteterapia,
utilizando seus recursos, estão flexibilizando e dando oportunidade ao
aparecimento de perspectivas que antes nem percebiam ou, quando
percebiam, desconsideravam.
Professor/Ensinante/Psicopedagogo/Arte Terapeuta deve pesquisar
constantemente, buscar fundamentação teórica para embasar sua
aprendizagem e seu trabalho, para poder discriminar suas possibilidades de
cooperação e complementaridade, bem como contemplar um outro lado
seu e perceber a transformação pela qual está passando; perceber as
vivências que lhe estão permitindo trabalhar a auto-imagem, bem como a
percepção de que é positivo investir em comportamentos que não
polarizem, mas ajudem a relativizar e amadurecer.
É importante que cada educador/arte terapeuta esteja desperto,
atento à dinâmica da escola como um todo e da sala de aula em particular,
cônscio de que é fundamental para o processo de identificação, valorizar
personagens com traços de sabedoria e perspicácia, que usem estratégias
para convencer os oponentes, vencendo pela sutileza e não pela força
64

física; ciente de que nenhum herói sozinho dá conta de toda a diversidade,


mas que, de acordo com a situação, cada uma das forças heróicas (prazer,
competição, força, sabedoria, colaboração, complementaridade) deve ser
resgatada/convocada, para agir na superação dos obstáculos, na
transformação e evolução da própria atuação.
Nesse sentido as atividades de arteterapia estimulam a
desinibição, o autoconhecimento, a criatividade, levando os participantes a
uma sensação de integração com o mundo que instiga à resolução de
conflitos pessoais, à melhoria do relacionamento social e desenvolvimento
harmônico da personalidade.
Finalmente, a arteterapia pode ser utilizada como elo de interação
entre os vários campos do conhecimento, colaborando sobremaneira na
construção da interdisciplinaridade no âmbito da escola, elaborando a
comunicação entre as possibilidades e limites próprios da ciência e a
expressiva liberdade de criação da arte; fazendo ligações entre anseios
gerados pelo mundo atual com o mais remoto passado, enfim promovendo
o desenvolvimento do potencial humano através de situações que
favoreçam a leitura do mundo de maneira ampla, rica e profunda.

Joana Maria Rodrigues Di Santo é Psicopedagoga


experiente, com atuação significativa em Psicopedagogia
Institucional, Supervisora aposentada do Município de São
Paulo, mestre em Educação, Professora da Uni Sant`Anna,
profere palestras e assessora diversas escolas.
65

ANEXO 10
Festival de Talentos
66

ANEXO 11
Dinâmica dos apelidos
67

ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 7
SUMÁRIO 11
INTRODUÇÃO 12

CAPÍTULO I
O uso da Arteterapia no estudo da sexualidade 17
1.1 – Projeto “O espelho que possuo” 18
1.2 – Resgatando/Entendendo as imagens familiares 20
1.3 – O encontro com o corpo 21
1.4 – Trabalhando a autoestima 24

CAPÍTULO II
Relacionando com o outro (sexualidade) 26
2.1 – Projeto “Já sei namorar?” 28
2.2 – Universo feminino x universo masculino 28
2.3 – Identificando estereótipos 30
2.4 – A construção social dos gêneros 31
2.5 – Invertendo papéis 32
2.6 – Dia dos namorados “Um festival de talentos” 32

CAPÍTULO III
Sexo e Sexualidade na Adolescência 36
3.1 – Projeto”Quanto custa ter um bebê” 37
3.2 – Concepção e Gravidez 38
3.3 – Contracepção 40
3.4 – Trabalhando a prevenção ( sexo seguro) 41
68

3.5 – Mito e Tabu 42


3.6 – Oficina “O parto em cena” 43

CONCLUSÃO 45
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 46
ANEXOS 49
ÍNDICE 69
69

FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição: Universidade Cândido Mendes - Projeto “A vez do


Mestre”

Título da Monografia: Arteterapia & Sexualidade

Autor: Aparecida Fernandes Pessoa

Data da entrega:

Avaliado por: Conceito:

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