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“Quando a professora disse que menino de sete anos é uma

página em branco –pensei comigo mesmo – essa escola não


entende nada de menino”. A frase de abertura do documentário
“Quando sinto que já sei” foi proferida pelo educador e idealizador
do Centro Popular de Desenvolvimento (CPDC), Tião Rocha.

De acordo com a fala de Tião, o documentário nos leva a


experiências distintas de escolas nada tradicionais no modelo de
educação que hoje grande parte da população brasileira
experimenta. As páginas em branco vêm pintadas de cores bem
diversas para esse novos mentores.

Para esses educadores, como Tião, que desbravam caminhos na


construção de uma nova pedagogia, com moldes mais
“abrasileirados” e transformadores, a quebra de paradigma
proposta e defendida por eles, seria uma verdadeira
transformação educacional, com a total renovação das políticas
de educação. Busca-se renovar a pedagogia por meio da
criatividade inata do brasileiro.

Nesses novos modelos de escola, as crianças são os verdadeiros


clientes, e os professores, intitulados “mediadores” são os
parceiros de todos os agentes de transformação, nesse caso
alunos e “professores”. O trabalho de educar é realizado em
conjunto, em troca.
Os currículos deixam de ser mecanicistas e passam a ser
construtivistas, com a participação de todos, mediadores e alunos.
A relação entre professor e aluno passar a ser horizontal, sendo
ele – o mestre, não apenas detentor de pleno conhecimento,
proporcionando assim um verdadeiro prazer em estar na escola e
uma tentativa de diminuir a taxa de evasão escolar brasileira.

Para que isso aconteça toda a equipe da escola precisa estar em


sintonia com o significado de aprendizagem. O desafio do
mediador é provocar o aluno para que ele vá além, que busque
mais conhecimento. Esse novo modelo escolar vem de encontro
com o peculiar perfil do aluno do século XXI, que recebe o
conhecimento como desafio.

A criatividade ajuda no processo de aprendizagem da criança e


do adolescente. Quando são incentivados e motivados a
investigação de um assunto que eles gostam, que chama a
atenção, onde há curiosidade em buscar e em pesquisar sobre
algo do interesse deles tornam-se agentes de aprendizado,
buscando uma postura crítica, reflexiva, buscando hipóteses e
resolvendo conflitos que surgirem.

No modelo proposto por vários centros de estudo do


documentário, fato em comum, é que as turmas se misturam em
idade. O conhecimento do mais velho, em grupos é passado para
o mais novo. E o mais novo contribui com criatividade e novas
formas de exploração de contento. Os alunos aprendem de
maneiras diversas, e cada um tem seu ritmo próprio, e o professor
precisa acompanhar este processo, mas com certeza, isso é um
desafio constante. Os comportamentos diferentes em relação à
recepção, processamento, interpretação e assimilação de um
conhecimento apresentado não será o mesmo.

Torna-se válido ressaltar, também, a necessidade de adaptar


todos os tipos de estudantes no sistema educacional brasileiro.
Crianças neuro-atípicas – por exemplo, aquelas que possuem
autismo, transtorno de déficit de atenção, hiperatividade, entre
outros – tem o direito de serem educadas com a mesma paciência
e compreensão que os alunos “típicos” merecem. A educação
brasileira deve ser, além de universal, acessível para aqueles que
possuem condições nas quais existem dificuldades de
aprendizagem.

No documentário ressalta-se que o ambiente escolar deve ser um


espaço de mudanças. A mente humana, no que diz respeito a
cognição, deve dar lugar ao fazer criativo e aos diversos
experimentos.

Nesse mote, outro ponto em comum dessas escolas é o local


onde estão: geralmente em comunidades mais carentes ou
distantes dos grandes centros urbanos. Nelas a comunidade é
valorizada. As formas de saber e cultura da comunidade são
apreciadas e motivadas. A atenção e a aprendizagem estão
relacionadas. Se a aprendizagem não for significativa para o
aluno sua atenção será desfocada com muita facilidade.

A memória sofre a interferência de outros fatores (atenção,


motivação e ansiedade). Tem um papel fundamental na aquisição
do conhecimento (aprendizagem). A aprendizagem torna-se uma
meta para criar e sustentar novas culturas de aprendizagem nas
salas de aula valorizando a aprendizagem individual e em grupo.

Fazer fuxico e plantar mandioca é patrimônio cultural e de


subsistência. A horta é aula de biologia, e o brincar é aula de
matemática. O aprendizado está em todos os espaços da escola.

Para além da valorização do patrimônio cultural da comunidade e


dos espaços da escola, o senso de comunidade também é
exposto de forma política, como no EMEF Campos Sales. A
República de alunos dessa escola (uma “nação” de alunos)
nomeia comissão, vereadores, secretários e até prefeito e
transforma os alunos em verdadeiros mediadores de benfeitorias
e conflitos na escola.

Para o diretor da escola, o ponto forte e fraco do projeto


República é o trabalho em equipe – pois nele todas as
divergências de uma sociedade individualista vem a tona. Se
essas individualidades são suprimidas chega-se ao ponto forte: a
ação do trabalho em equipe e na percepção do que somos para o
outro. Nessa concepção de modelo de escola: se manifestar na
incompletude do outro e a mediação do mundo faz com que o
sujeito aprenda a “ser”.

Se os professores aceitam os alunos como eles são, permitem


que expressem seus sentimentos e atitudes sem condenação ou
julgamentos, planejam atividades de aprendizagem com eles e
não para eles, criam uma atmosfera de sala de aula relativamente
livre de tensões e pressões emocionais, as consequências que se
seguem são diferentes daquelas observadas em situações onde
essas condições não existem.

“Dentro dessa construção de “ser”, a pergunta que fecha é: “o que


essa criança pode ser de melhor”?”. A resposta pode ser essa:
focar na em cada aptidão individual da criança com respeito as
personalidades distintas. Somado ao acolhimento com
compreensão, paciência e promoção de verdadeiros embates em
novas formas de educar.

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