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Escola: Papel Social e Desafios Contemporâneos

Roteiro de

Estudos
Autor: Marcelo M. Henriques

Introdução
Você já parou para pensar qual é, de fato, a importância da educação e, ainda, da escola na
perspectiva social dos estudantes? A escola exerce um papel indiscutível na formação dos
sujeitos e no seu desenvolvimento na sociedade, buscando diminuir os contrastes sociais. Mas
como essas questões sociais interferem no ambiente escolar? Quais são os indicadores sociais
no Brasil?
Abordaremos as questões inerentes à escola e ao professor na construção da identidade dos
estudantes, além da necessidade em criar uma afetividade para a efetivação escolar. Por fim,
veremos uma abordagem conceitual, no que se refere à visão sociológica do fenômeno
educativo, para, então, compreender as configurações das comunidades educacionais.
Bons estudos!
Análise do Papel Social da Escola
no Cotidiano
Para iniciarmos as discussões, é necessário refletir qual o papel social das escolas. Além disso, é
importante que, você, professor de determinada escola, faça a seguinte reflexão: qual é o seu
papel diante dos problemas sociais no ambiente da escola na qual atua?
As instituições escolares são espaços onde crianças e jovens passam horas do seu dia, muitas
vezes, um período integral. Portanto, tratam-se de espaços em que a convivência acontece de
forma plena entre estudantes e professores, estudantes e estudantes, além do contato com os
demais funcionários da educação.
O ambiente escolar proporciona aos jovens aprendizado constante e melhor compreensão da
noção de limite e respeito na escola. Dentre os pilares necessários para a educação, encontra-
se a necessidade de conviver com os outros, sendo a escola o espaço protagonista dessas
relações (DELORS et al., 1998).
É na escola que o indivíduo (estudante) percebe e compreende o outro. Compreender o outro é
desenvolver a percepção da interdependência, da não violência e de administrar conflitos.
Nessa perspectiva, as instituições escolares se configuram como essenciais para o
desenvolvimento dos sujeitos, das demais organizações e da própria sociedade.
Wieczorkievicz e Baade (2020, p. 2) explicitam que

[...] os valores ao longo do tempo vão sendo modificados e as pessoas tendem


a se apropriar de novas informações e maneiras de viver para continuar se
desenvolvendo no âmbito social. Essas mudanças acontecem por meio das
necessidades que a sociedade vem enfrentando, com direcionamento para as
modificações e transformações de uma sociedade melhor. As pessoas precisam
adaptar-se a essas mudanças sociais para assim ter a possibilidade de
colaborar com a transformação do meio em que estão inseridas.

Devemos pensar na escola como espaço plural. É nas escolas que a grande maioria das
crianças e dos jovens aprendem uma diversidade de conhecimentos e competências que
dificilmente poderão aprender em outros contextos. Seu papel é inquestionável, sendo assim,
mesmo elas têm que desempenhar um papel fundamental e insubstituível na consolidação das
sociedades democráticas, baseadas no conhecimento, na justiça social, na igualdade, na
solidariedade e em princípios sociais e éticos irrepreensíveis.
O sujeito (estudante) precisa se identificar como ser no mundo, percebendo o seu papel
cidadão, além de analisar as possibilidades de transformação enquanto ser individual, ou
sujeito que participa de um grupo social. A escola, na sua perspectiva tradicional, apenas
reproduz conteúdos e não atinge o objetivo de transformação ou desenvolvimento de senso
crítico, requeridos pelo atual contexto da sociedade.
Nessa perspectiva, Shor e Freire (1986, p. 85) apontam que “o domínio escolar das palavras só
quer que os alunos descrevam as coisas, não que as compreendam. Assim, quanto mais se
distingue descrição de compreensão, mais se controla a consciência dos alunos”. A escola
precisa atribuir significado aos conteúdos, mostrando a sua aplicação social. Desse modo, o
aluno toma consciência sobre o mundo.
Além disso, a escola deve reconhecer a comunidade na qual está inserida. Conhecer os
históricos familiares e como essas pessoas vivem ali. A instituição escolar que não considera a
realidade social local apenas estabelece um padrão e não traz debates críticos, atendendo
apenas a uma formação padrão em massa. O mundo atual requer pessoas que interpretem os
signos sociais, ou seja, as informações e os fatos sociais que são expostos.
É necessário, portanto, estabelecer um currículo que atenda às necessidades do mundo
contemporâneo e que difunda conhecimentos para além dos conceitos científicos,
contemplando uma formação cidadã, que seja emancipatória e inclusiva.
De acordo com Moreira (2017, p. 98), os alunos “devem ser capazes de realizar uma leitura de
mundo que lhes permita compreender e denunciar a realidade opressora e anunciar a sua
superação, com a construção de um novo projeto de sociedade e mundo a ser efetivado pela
ação política”. A escola é uma instituição eminentemente reprodutora, com isso, percebemos
que o ocorrido no contexto escolar não é alheio ao contexto social. Ela é uma extensão dos
problemas sociais e familiares, sendo o espaço onde esses problemas são mais evidentes.
Nesse contexto, educar vai muito além de ensinar conteúdos previstos no currículo. Educar é
auxiliar os estudantes na construção de suas identidades, aprimorar seu conhecimento e
torná-los emancipados, na construção de uma sociedade humana e cidadã.
Ao mesmo tempo em que a escola reproduz as características da sociedade – seja a violência,
cultura, tradições etc. –, ela também é responsável por demonstrar a esses jovens como
superar essas questões sociais, oferecer oportunidades, melhorando a convivência e situação
desses estudantes perante a sociedade.
A instituição escolar deve ter clara a ideia de que seu papel está além de ensinar. Deve, além
disso, promover a educação transformadora e ser aquela que preza o papel cidadão do
estudante. A escola forma para a vida: trabalho, meio ambiente, cultura. Todos os setores
devem ser considerados de forma integral.
LIVRO

Diferenças e desigualdades sociais na escola


Autora: Marília Pinto de Carvalho
Editora: Papirus Editora
Ano: 2012
Comentário: Para uma melhor compreensão da escola como
espaço da diversidade social, leia atentamente essa obra.
Esse título está disponível na Biblioteca Virtual Laureate.

Postura Inclusiva no Ambiente


Escolar
Afinal, o que significa incluir? Incluir significa apenas inserir alunos da educação especial no
ensino regular? Qual a importância da inclusão no contexto social dos estudantes?
Já vimos que a escola precisa estar diante da realidade de seus estudantes, aproximando o
ensino do cotidiano da comunidade. Quando esses fins estão em pleno desenvolvimento,
podemos dizer que está ocorrendo a inclusão.
Por muito tempo, a sociedade utilizou o termo “integrar”, entretanto, integrar significa apenas
inserir. O termo “incluir” é mais profundo e define melhor essa ideia dentro do contexto social e
educacional. Isso porque incluir considera os aspectos globais dos estudantes.
Incluir significa acolher a todos, independente de sua origem, cor, bairro e status social. Para
compreendermos a necessidade de inclusão, é preciso analisar indicadores sociais do Brasil,
para, então, apropriar-se da realidade que a sociedade brasileira vivencia.
A partir dessas ideias, pode-se compreender que a inclusão social é o conjunto de meios e
ações que combatem a exclusão, favorecendo que todos usufruam dos benefícios da vida em
sociedade, exclusão essa que é provocada pelas diferenças de classe social, educação, idade,
deficiência, gênero, preconceito social ou preconceitos raciais. Inclusão social é oferecer
oportunidades iguais de acesso a bens e a serviços a todos.
Então, incluir significa retirar as diferenças culturais das relações estabelecidas, além de
minimizar os contrastes e os problemas de cunho social. Nessa perspectiva, o professor exerce
papel crucial para efetivar a inclusão, desmistificando as diferentes culturas. As comunidades
escolares devem pautar-se, principalmente, na busca de uma convivência sadia entre as
diferentes culturas, de forma que as diversas capacidades objetivadas pelos PCNs se
desenvolvam nos alunos, formando cidadãos plenos.
As escolas brasileiras estão preparadas para receber seus estudantes? Uma escola é
considerada preparada quando se tem desde uma infraestrutura de acessibilidade, como
rampas, elevador, matérias adaptadas, até professores atualizados, além de conteúdos e
atividades de acordo com a realidade do grupo de estudantes. Além disso, estar preparada
significa que a escola está aberta ao multiculturalismo no qual a sociedade está inserida.

LIVRO

Inclusão escolar, O que é? Por quê? Como fazer?


Autora: Maria Teresa Eglér Mantoan
Editora: Summus Editorial
Ano: 2015
Comentário: A compreensão da inclusão necessita de uma
leitura complementar. Faça uma busca pela web e leia
atentamente a obra recomendada.
Esse título está disponível na Biblioteca Virtual Laureate.

Importância da Escola no
Desenvolvimento Social dos
Estudantes
A escola apenas transmite conhecimento? Ou seu papel vai além disso?
A escola e, mais especificamente, o professor exercem papel crucial no desenvolvimento dos
estudantes. Esse é um espaço importante no que se refere ao convívio e à construção da
identidade desses estudantes.
Você, enquanto professor ou educador, é importante no desenvolvimento integral do sujeito?
 Ser professor vai muito além de “dar aulas”. O professor é um ser emancipador, que influencia
sua sociedade. A escola exerce um papel importante na construção cidadã dos jovens, sendo o
espaço que diminui os contrastes sociais: classe, gênero, cultura.
De acordo com Reginatto (2013, p. 2), o verdadeiro educador “precisa transformar a escola em
um lugar aconchegante e amigável, prezando sempre o bem-estar dos alunos”.
Educar com amor pode transformar a realidade de muitas crianças, que, quando têm suas
carências afetivas supridas, sentem-se valorizadas e respeitadas e passam a se desenvolver e a
participar do processo de ensino e aprendizagem com muito mais dedicação.
Nesse sentido, educar com “amor” não significa ser um professor leviano ou liberal, mas um
sujeito que percebe e dialoga com seus estudantes, estando diante dos problemas sociais e das
perspectivas culturais aos quais seus alunos pertencem, construindo um ensino com base
nesses ideais, ou seja, um ensino com o qual os estudantes se identificam.
Com base em Cury (2016, p. 12),

a afetividade deve estar presente na práxis do educador, ela é insubstituível,


considerando que a gentileza, solidariedade, tolerância, inclusão, valorização
de sentimentos altruístas, enfim, todas as áreas da sensibilidade não podem
ser ensinadas por máquinas, e sim por seres humanos.

Criar um vínculo afetivo professor-aluno significa construir estudantes políticos e que saibam
agir e participar no coletivo. O aluno precisa respeitar a diversidade humana existente. Ainda, é
necessário considerar as experiências dos estudantes. Essas experiências vividas em sala de
aula permitem trocas carregadas de afetividades positivas, que favorecem a autonomia e,
também, fortalecem a confiança dos estudantes em suas capacidades e decisões, sejam
educacionais ou sociais.
Afetividade, criatividade e respeito, além de liberdade de expressão, são características básicas
de uma comunidade que realmente educa. Construir espaços nas escolas ou nas cidades de
modo geral, que favoreçam essa prática, é fundamental. Assim, o jovem, que antes passava
despercebido e desperdiçando seus potenciais criativos, passa a ser incentivado a cultivar a
criatividade, sendo transformado em um cidadão alegre e profissional promissor.
Novamente, a escola agrega importância na diminuição dos contrastes sociais, valorizando o
desenvolvimento global do estudante. Não é possível dissociar o ensino do mundo, do trabalho
e da cultura. Nesse contexto, a escola desempenha papel de fundamental importância no
desenvolvimento social dos estudantes.

LIVRO

A escola para todos e para cada um


Autor: Augusto Galery (org.)
Editora: Summus Editorial
Ano: 2017
Comentário: Para uma melhor compreensão a respeito do
tema, faça a leitura proposta, atentamente. A obra trata do
coletivo e do subjetivo diante da escolarização dos estudantes.
Esse título está disponível na Biblioteca Virtual Laureate.

Visão Sociológica do Fenômeno


Educativo
Diante dos fatos já expostos, é necessário compreender o ato educativo dentro da sociologia,
ciência que estuda os fenômenos sociais. Abordar a educação como fenômeno sociólogo é
compreender como a educação transforma-se de acordo com as concepções políticas de cada
época, atendendo a esses interesses.
A escola é a base do progresso social; ela é o palco das realizações humanas e de suas relações.
Sendo assim, é necessário realizar a sua compreensão enquanto campo sociológico.
Qual a relação entre a escola, Pós-Segunda Guerra Mundial, e desigualdades? Para Ferreira
(2006, p. 108-109), “surge um novo conjunto de proposições com relação à função social da
escola. O cerne desse novo ideário está relacionado com o problema das desigualdades sociais
que marcou o pós-guerra”.
Nessa perspectiva, surgem discussões sobre as desigualdades, tanto educacionais quanto
sociais, “e como uma das condições principais para democratizar as oportunidades escolares”
(FERREIRA, 2006, p. 109). Assim, surgem estudos, no âmbito da sociologia da educação,
“buscando explicar as desigualdades entre os grupos sociais, face aos sistemas de ensino”
(FERREIRA, 2006, p. 109).
De acordo com importantes sociólogos, como Durkheim, a escola deve considerar, igualmente,
atribuições indispensáveis a todos. Isso porque ela é o espaço coletivo e cultural que precisa
considerar a subjetividade de cada indivíduo.
Considerando isso, no contexto atual da sociedade, qual é o papel da sociologia no que tange à
escola? A visão sociológica contribui para abraçar todos os fenômenos sociais junto da
educação. Não há como separar a escola da sociedade, pois uma interfere na outra, sendo
papel da sociologia analisar esses fenômenos.
A sociologia contribui para que tenhamos embasamento científico acerca do assunto, além de
nos evidenciar dados sobre a realidade social do país. Dessa forma, dialogando entre a teoria e
prática, é possível respaldar, de modo coerente, o trabalho social exercido pelas escolas.
LIVRO

Sociologia da Educação
Autor: Renato Antonio de Souza
Editora: Cengage Learning Brasil
Ano: 2015
Comentário: a obra apresenta a antropologia da educação e o
homem como educador, fazendo reflexões sobre o conceito
educacional contemporâneo, modelos de educação, educação
formal e informal e os aspectos biossociais da educação. O livro
aborda conceitos gerais da sociologia da educação, a
importância da educação social, bem como o papel da
democracia para a educação.
Esse título está disponível na Minha Biblioteca Laureate.

Fatores e Indicadores Brasileiros


Segundo dados da Organização Das Nações Unidas (ONU), em 2019, o Brasil encontrava-se na
oitava posição entre as nações mais desiguais do mundo. O índice Gini, ou coeficiente de Gini,
que mede a desigualdade de renda, divulgou em 2019 que o indicador brasileiro subiu de 0,58
em 2009, para 0,62 em 2019. Como parâmetro, quanto mais próximo de 1 (um), maior a
desigualdade do país, estado ou município analisado.
No cenário nacional, a violência estrutural ganha destaque, sendo ligada às características
socioeconômicas e políticas da sociedade, em um determinado período histórico; “traz no seu
interior a exclusão social e seus efeitos, notadamente a partir do sistema capitalista, da
globalização e da imposição de leis de mercado” (BRASIL, 2018, p. 12).
De acordo com o documento “Violência contra crianças e adolescentes: análise de cenários e
propostas de políticas públicas”,

no campo dos direitos humanos, a violência é compreendida como toda


violação de direitos civis (vida, propriedade, liberdade de ir e vir, de consciência
e de culto); políticos (direito a votar e a ser votado, ter participação política);
sociais (habitação, saúde, educação, segurança); econômicos (emprego e
salário) e culturais (direito de manter e manifestar sua própria cultura) (BRASIL,
2018, p. 12).

A desigualdade de renda, acesso precário ao saneamento básico, dificuldade ao ingresso no


ensino superior, qualidade insatisfatória do transporte público, violência doméstica, violência
contra a mulher, prostituição infantil e iniciação sexual precoce são elementos que assombram
o cenário brasileiro, sendo necessário realizar uma análise desses fatores, pois as instituições
de ensino, sejam escolas, Organizações Não Governamentais (ONGs), creches etc., são o
espelho da sociedade que atendem.
Isso porque, além da escola, muitas outras instituições são reprodutoras de desigualdade
social, fato que resulta em um importante processo de exclusão. Segundo Dubet e Martuccelli
(2003, p. 45, tradução nossa),

a análise do papel da escola nos mecanismos da exclusão escolar implica


isolar, evidentemente de maneira teórica e abstrata, os mecanismos e os
fatores pelos quais a escola “acrescenta”, alia fatores de desigualdade e de
exclusão que ultrapassam a simples reprodução das desigualdades sociais”.
Isso se relaciona aos efeitos causados pelas próprias ações das escolas. Estes
podem causar exclusão social e desigualdades. Sendo assim, este papel da
escola não pode ser negligenciado.

Na perspectiva tradicional, cujo ensino brasileiro se ancorava, o aluno era um ser passivo, além
disso, considerava a escola como uma ilha, ou seja, um ambiente isolado dos problemas
sociais. Ao adentrar no ambiente escolar, o sujeito “deixava” seus problemas para fora da
escola.
Na contemporaneidade, mediante as novas perspectivas pedagógicas, o estudante é
considerado como ser ativo, e sua família, bairro, cultura e religião são elementos que
interferem no seu aprendizado e, consequentemente, nas relações estabelecidas no espaço de
escolarização. Ademais, para Minayo (2016, p. 45) “a violência é histórica e sempre é o reflexo
da sociedade que a reproduz, podendo aumentar ou diminuir conforme sua construção social
nos níveis coletivos e individuais”.
São inúmeras as notícias diárias sobre a violência no Brasil, principalmente no que tange aos
adolescentes. O tráfico de drogas e estrutura familiar comprometida são alguns dos principais
fatores que influenciam os indicadores.
A média mundial é de seis assassinatos a cada cem mil habitantes. No Brasil, existem estados
cuja incidência é de 49 casos por grupo de cem mil habitantes. Essa situação reflete a
intolerância vigente na sociedade brasileira.
Mas, qual é a interferência desses indicadores nos ambientes de escolarização? De acordo com
Cerqueira (2016, p. 34), um dos pesquisadores do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(IPEA),

a criança que nasce em um ambiente hostil, em que impera o desamor, e que


não é estimulada e nem recebe uma supervisão adequada, terá maiores
chances de desenvolver problemas cognitivos e emocionais. Uma possível
consequência é o baixo aproveitamento escolar e o isolamento.

A violência está inserida em um ciclo que inicia com o indivíduo, responsável por internalizá-la,
e interfere no meio social. Efetivar a inclusão é reduzir esses indicadores, criando espaço à
convivência entre os diferentes. Incluir é receber os estudantes de forma igualitária e diminuir a
desigualdade que assola essas crianças e esses jovens.

As Políticas Públicas e sua Interferência na Concepção de


Educação
As políticas públicas são ações empreendidas pelo Estado para efetivar as prescrições
constitucionais sobre as necessidades da sociedade. Essas políticas se baseiam em termos de
distribuição e redistribuição das riquezas e dos bens e serviços essenciais à sociedade, seja no
âmbito federal, estadual ou municipal.
Com isso, compreendemos porque é tão importante que educador e escola analisem esses
indicadores, uma vez que afetem diretamente os estudantes. Tais fatores podem influenciar no
temperamento, no interesse, na afetividade e no desempenho escolar desses estudantes, já
que estão em pleno desenvolvimento. Cabe, portanto, à escola interferir positivamente,
propondo ações educacionais de cunho social.
A educação brasileira sofre com a precariedade de estrutura física e de formação de
professores. A falta de acessibilidade, prédios alugados ou mal construídos, além da falta de
computadores e acesso à internet são alguns dos fatores que prejudicam a qualidade do
ensino no Brasil.
A educação pública no Brasil recebe bons investimentos, obtendo um percentual considerado
acima da média entre os países que compõem a OCDE, o que nos faz pensar sobre os motivos
que nos levam a ter problemas na esfera pública. Quando se pensa em etapas do ensino, o
maior investimento por aluno ocorre no ensino médio e no ensino técnico, pois se objetiva o
ingresso no mercado de trabalho. O investimento por aluno em nosso país ainda está abaixo
do que se faz em países desenvolvidos, demonstrando que tal investimento direciona-se mais
às estruturas do que ao estudante.
Além disso, também existem exigências do Ministério da Educação com relação à
implementação de programas de formação continuada para os professores. A má
remuneração e ausência de planos de carreira aos docentes também influenciam diretamente
a qualidade da educação.
Ainda, de acordo com o ambiente familiar, a privação de itens básicos, como alimentação, e
conforme o contexto cultural de suas famílias, os alunos apresentarão dificuldades no
desenvolvimento, seja social, de personalidade e das habilidades cognitivas, podendo
ocasionar fracasso escolar.
As esferas governamentais precisam efetivar as políticas públicas para que, de fato, a educação
atinja seu objetivo: educar para a vida. Sendo assim, é necessário repensar o sistema público
brasileiro, para constituir efetivamente uma educação que tenha um funcionamento constante,
efetivo e de qualidade. Além das legislações vigentes, as esferas governamentais têm leis de
incentivo à cultura, nas quais as empresas privadas realizam investimentos, proporcionando o
acesso da população em geral.
No Capítulo I da Lei nº 8.313, de 23 de dezembro de 1991, fica instituído o Programa Nacional
de Apoio à Cultura (Pronac), com a finalidade de captar e canalizar recursos para o setor, de
modo a:

I - Contribuir para facilitar, a todos, os meios para o livre acesso às fontes da


cultura e o pleno exercício dos direitos culturais;

II - promover e estimular a regionalização da produção cultural e artística


brasileira, com valorização de recursos humanos e conteúdos locais;

III - apoiar, valorizar e difundir o conjunto das manifestações culturais e seus


respectivos criadores [...] (BRASIL, 1991, on-line).

Quando a legislação propicia cultura e existe um diálogo entre as esferas de governo, além de
uma participação massiva da população, a educação, seja formal ou informal, estará ativa em
pleno exercício, contribuindo, de fato, para uma identidade populacional crítica e que conviva
com as diferenças do outro, respeitando o multiculturalismo existente.
Como se sentir acolhido em uma cidade que violenta e não acolhe crianças e adolescentes?
Educar por meio de programas sociais é construir aparatos de identidade cidadã, que será
repercutida na escola, principalmente no convívio entre os sujeitos e no seu desempenho
escolar. Desse modo, garantir as condições mínimas de vida e o contato do sujeito com a
cultura são ações que estão ligadas à dignidade humana.
LIVRO

Políticas públicas e educação


Autor: Caroline C. N. Lima
Editora: Grupo A
Ano: 2019
Comentário: a obra aborda as diferentes concepções e
matrizes teóricas jurídico-normativas e dialéticas. O texto
apresenta, de maneira didática e de fácil compreensão, análises
do contexto da prática política em educação no cotidiano
escolar.
Esse título está disponível na Minha Biblioteca Laureate.

Configurações das Comunidades


Educacionais
Diante dos dados e conceitos trabalhados até aqui, podemos estabelecer parâmetros de
compreensão do contexto no qual a escola se configura. Como forma de revisão para
compreender este roteiro, vimos que a escola não é isolada. Ela é um segmento da
comunidade na qual está inserida. Sendo assim, deve se configurar a partir dela.
Para Morin (2000, p. 40),

Efetuaram-se progressos gigantescos nos conhecimentos no âmbito das


especializações disciplinares, durante o século XX. Porém estes progressos
estão dispersos, desunidos, devido justamente à especialização que muitas
vezes fragmenta os contextos, as globalidades e as complexidades. Por isso,
enormes obstáculos somam-se para impedir o exercício do conhecimento
pertinente no próprio seio de nossos sistemas de ensino.
É necessária uma educação que supere a barbárie da sociedade, construindo valores que
sejam universais, assim, formando pessoas (cidadãos) que sejam solidárias, cooperativas e,
ainda, criativas.
O processo de evitação da educação como fim democrático é exaustivo. É necessário formar
grupos dispostos a estudar, trabalhar e atuar coletivamente e em cooperação pelos mesmos
objetivos.
Não há como dissociar a educação (escola) das demais instituições sociais. Sendo assim, a
escola constitui-se a partir do entroncamento com a sociedade: família, cultura, mundo do
trabalho e as demais diversas visões.
A educação faz parte de uma rede social, sendo o coração da comunidade em que está
inserida. Com base em Guerra et al. (2008, p. 67), “as redes não se expressam apenas pela
relação entre atores, mas constituem um projeto específico e coletivo, sendo necessário que os
interessados estabeleçam vínculos e interconectam ações”, ou seja, condição para que seja
possível um compromisso com o grupo e pela causa escolhida por todos.
As comunidades escolares buscam a formação integral de seus estudantes. Sendo assim,
devem se pautar, principalmente, na busca de uma convivência sadia entre as diversas
culturas, mediante um pacto ou consenso primordial, em um processo de autorregulação que,
no plano humano, manifesta-se no fenômeno da gestão democrática. A educação aparece
como ativa quando existe uma identidade populacional crítica e que conviva com as diferenças
do outro, respeitando o multiculturalismo existente.
Ainda, precisa se pautar na conectividade, “que reforça os laços de relacionamento sem afetar
a autonomia; a circulação imediata e a livre comunicação de informações são fatores
estruturantes da rede” (GUERRA et al., 2008, p. 123).
Pode-se considerar que as instituições escolares se constituem a partir das características da
comunidade em que estão inseridas, criando uma rede de conhecimento e cultura. Assim, é
possível fazer educação de acordo com essa realidade, atribuindo-lhe sentido perante os
estudantes.
LIVRO

Comunidades de Aprendizagem e Estratégias


Pedagógicas
Autor: Giovanni Cirino
Editora: Cengage Learning Brasil
Ano: 2015
Comentário: o autor visa analisar a comunidade virtual de
aprendizagem e interatividade, unindo as relações de ensino e
aprendizagem colaborativas e cooperativas. A obra apresenta os
processos de aprendizagem enquanto resultados de relações
sociais on-line.
Esse título está disponível na Minha Biblioteca Laureate.

Conclusão
Neste roteiro, pudemos analisar a importância da escola na formação cidadã dos estudantes,
além de verificar a relação escola-sociedade. A escola não é isolada dos fenômenos cotidianos,
sendo um espaço de reflexão e transformação social.
Compreendemos a escola enquanto fenômeno sociológico, além de analisar os principais
índices sociais brasileiros e sua influência escolar. É necessário refletir sobre os temas
abordados para, de fato, atuar como profissionais que prezam o bem-estar social dos sujeitos.
A mudança em prol da melhoria social inicia quando assumimos esse compromisso diante do
outro. O cotidiano escolar apresenta inúmeros desafios, e cabe ao educador garantir uma
educação efetiva aos problemas sociais.

Referências Bibliográficas
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fundamentais-no-processo-de-socializacao-e-preparacao-para-a-vivencia-em-sociedade Acesso
em 10 ago. 2021.

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