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Jorge Pedro Luis Visca 

• Psicólogo Social

• Cientista da Educação

• Fundou centros psicopedagógicos em Buenos Aires, Rio de Janeiro, São


Paulo, Curitiba e Salvador. 1935 -2000

• Em 2008 foi nomeado pela ABP como Associado Honorário, In Memoriam,


pelas valiosas contribuições deixadas como legado à Psicopedagogia no
Brasil.

• Considerado o pai da psicopedagogia no Brasil. 


• Jorge Visca defendia que, “para uma pessoa,
a aprendizagem abre o caminho da vida, do
mundo, das possibilidades, até de ser feliz”
(VISCA, 2008, p. 7).

• Epistemologia Convergente

A teoria propõe um método clínico que


envolve três áreas de estudo da psicologia: a
psicogenética (Piaget), a psicanálise (Freud) e a
psicologia social (Enrique Pichon Rivière).
Contribuição da Psicanálise
• Se encarrega de observar o mundo inconsciente do sujeito, sua
dinâmica e seus vínculos com a aprendizagem.

Contribuição da Psicogenética
• Auxilia a estabelecer os processos construtivos do conhecimento
da criança e como ela opera cognitivamente diante dos desafios
do ensino.

Contribuição Psicologia social


• Encarrega-se da análise da constituição do sujeito em relação à
família e a outros grupos e instituições que estão ligadas à
aprendizagem e seu processo de desenvolvimento.
Dialética do Aprendizado

• A teoria da Epistemologia Convergente destaca que a


aprendizagem da criança deve ser analisada e
observada individualmente e na coletividade em que a
criança se encontra.

• A aprendizagem ou a não-aprendizagem da criança


não deve ser vista com um olhar focado somente no
indivíduo. É necessário compreender que as relações
afetivas e sociais estão dialeticamente envolvidas com
o desenvolvimento da aprendizagem da criança.
Axiomas da epistemologia convergente

• Interacionismo: entende que a aprendizagem acontece a partir das


interações do sujeito com o meio. A aprendizagem é entendida como um
processo intrapsíquico, e a educação, como processo interpsíquico.

• Estruturalismo: entende que a aprendizagem não é função isolada,


que se produz na relação entre a intensidade e a frequência do estímulo,
mas decorre do compromisso total da personalidade, acontecendo
somente na relação com o meio externo.

• Construtivismo: entende que aprendizagem é uma construção


paulatina configurada na relação com o meio.

É por esse motivo que, nos estudos da psicopedagogia, valoriza-se o


olhar para a criança envolvendo as análises das relações coletivas e das
relações individuais.
Epistemologia convergente, organizada em 5 unidades temáticas:

Enquadramento, Contrato, Diagnóstico, Gnosiologia e Processo corretor.

• Enquadramento
De acordo com Jorge Visca (1987), enquadramento, em seu significado mais amplo, é
caracterizado por conter um marco, ou seja delimita a situação. Isto é, uma definição das
variáveis que compõem o processo psicopedagógico, tornando-as constantes ou, em outras
palavras, “enquadradas”. É realizado na entrevista contratual com os pais, para a qual são
utilizadas algumas constantes, tais como tempo, lugar, frequência, duração e caixa de
trabalho.
Contrato
Quando Jorge Visca publicou a primeira edição de sua teoria, ele definia o contrato como um
acordo verbal entre duas ou mais pessoas. Atualmente, a prática é realizar um contrato formal,
por escrito e em duas vias, sendo uma para o contratante e a outra para o contratado.

Diagnóstico
Pode ser estudada pela ótica de três níveis de abordagem: o metacientífico, o científico
e o técnico. Em outras palavras, o primeiro diz respeito à filosofia referente ao conhecimento
Psicopedagógico e outros áreas, o segundo, ao objeto da psicopedagogia, que é a
aprendizagem, e o terceiro, à determinação da ação exploratória.

Gnosiologia
Gnosiologia tem como sinônimo a epistemologia. É a parte da Filosofia que trata dos
fundamentos do conhecimento. A epistemologia convergente trata da gnosiologia da
aprendizagem, e é preciso que você se aproprie da definição de aprendizagem de acordo com
Jorge Visca.
Esquema Evolutivo da Aprendizagem (da gnosiologia) em quatro níveis:

■ Protoaprendizagem – primeiro nível de aprendizagem, construído a partir das interações do bebê com
a mãe e com todo o meio. Neste momento, porém, o objeto de estímulo é a mãe.

■ Deuteroaprendizagem – esse segundo nível de aprendizagem acontece quando o sujeito alcançou o


nível da Protoaprendizagem e estabelece interação com o meio familiar; neste momento, não mais só
com a mãe, mas com todos os familiares.

■ Aprendizagem assistemática - com o alcance da Deuteroaprendizagem, a criança interage não só com


grupo familiar, mas também com a comunidade. De acordo com Visca (1987), neste nível de
aprendizagem, o sujeito vive em comunidade, porém sem entrar em contato com as instituições
educativas.
■ Aprendizagem sistemática – é o quarto nível do esquema evolutivo da aprendizagem. O

sujeito torna-se capaz de relacionar-se com as instituições educativas, e a aprendizagem, aqui, parte
da educação escolar.

■ Aprendizagem sistemática – é o quarto nível do esquema evolutivo da aprendizagem. O


sujeito torna-se capaz de relacionar-se com as instituições educativas, e a aprendizagem, aqui, parte
da educação escolar.
Processo Corretor (da Epistemologia Convergente)

O processo corretor é o acompanhamento. A psicopedagogia utiliza-se do método clínico para modificar


o estado de um objeto, neste caso, a aprendizagem. Processo corretor consiste no conjunto de
operações clínicas que facilita a aparição e estabilização de condutas; é o processo que acontece entre
duas pessoas para um adequado funcionamento do sujeito, a aprendizagem.

No processo corretor, o profissional não espera que as coisas aconteçam, mas provoca-as em função dos
traços particulares do sujeito. Para os atendimentos, é necessário considerar três unidades de análise: o
sujeito, o psicopedagogo ou agente corretor e a relação que se estabelece entre ambos.
 
TÉCNICAS PROJETIVAS – PROVAS PROJETIVAS PSICOPEDAGOGICAS

• Para a Psicopedagogia e mais especificamente para a Epistemologia Convergente, o objetivo das provas
projetivas psicopedagógicas é o de analisar, por meio do desenho, quais os vínculos que o aluno possui
com a aprendizagem. Neste sentido, por meio do desenho seria possível diagnosticar possíveis
obstáculos à aprendizagem.

• O desenho faz parte do desenvolvimento da criança, é através dele que ficam registrados suas emoções,
imaginações, descobertas, enfim o mundo que a cerca. O desenho não é só uma forma de expressão do
ser humano, mas uma linguagem que servirá como primeira escrita. A idade é algo importante na
avaliação de um desenho. Não se pode avaliar o desenho de uma criança de 04 anos com mesmos
critérios utilizados em uma criança de 12 anos. O desenho infantil como objeto de avaliação é uma
ferramenta importante na atuação psicopedagógica.
 
TÉCNICAS PROJETIVAS – PROVAS PROJETIVAS PSICOPEDAGOGICAS

As técnicas projetivas psicopedagógicas objetivam investigar os seguintes vínculos que a


criança pode estabelecer:

• Familiar; Escolar; Consigo mesma.

Cada um destes vínculos é analisado de maneira individualizada e vale ressaltar que uma
criança difere da outra e cada análise deve ser feita de forma criteriosa e cuidadosa. O
material necessário para a aplicação da prova é: folhas de papel sulfite; lápis preto; e
borracha. As provas devem ser aplicadas individualmente e em cada sessão de aplicação a
solicitação dos vínculos pode variar de acordo com o aspecto da aprendizagem que se
quer avaliar. Segundo com Jorge Visca (2003) são inúmeros os aspectos que devem ser
levados em consideração quando da aplicação das provas projetivas psicopedagógicas:
• a posição do desenho na folha;
• as pessoas que estão presentes na produção da criança;
• os detalhes das pessoas e/ou objetos que constam no desenho;
• e a descrição verbal que a criança faz de seu desenho. Com relação à posição que os
desenhos assumem na folha, o autor (ibid.) cita 09 posições como indicadores de vínculo
de aprendizagem, conforme pode ser constatado no quadro a seguir:

Superior Esquerda Exigente Superior Exigente Superior Direita Exigente


Regressivo Progressivo
Esquerda Regressivo Central Equilibrado Direita Progressivo

Inferior Esquerda Impulsivo Inferior Impulsivo Inferior Direita Impulsivo Progressivo


Regressivo
Com relação aos desenhos solicitados durante a aplicação da prova, destaca-se que cada
vínculo abrange uma tarefa ou, como afirma Visca (2003), uma consigna diferente, como
pode-se verificar a seguir:

• Vínculo escolar: Par educativo; Planta da sala de aula; Eu com meus colegas.

• Vínculo familiar: A planta da minha casa; Família educativa; As quatro partes de um dia.

• Vínculo consigo mesmo: O desenho em episódios; O dia do meu aniversário; Nas minhas
férias; Fazendo o que mais gosto.
DOMÍNIO PROVA O QUE INVESTIGA IDADE
PAR EDUCATIVO O VÍNCULO DE APRENDIZAGEM 6/7 ANOS
EU COM MEUS COLEGAS O VÍNCULO COM OS COLEGAS DE SALA DE AULA 7/8 ANOS
A PLANTA DA SALA DE AULA A REPRESENTAÇÃO DO CAMPO GEOGRÁFICO DA SALA E AS 8/9 ANOS
ESCOLAR LOCALIZAÇÕES, REAL E DESEJADA, DA MESMA

A PLANTA DE MINHA CASA A REPRESENTAÇÃO DO CAMPO GEOGRÁFICO DO LUGAR EM QUE 8/9 ANOS
MORA E A LOCALIZAÇÃO REAL DENTRO DO MESMO
AS QUATRO PARTES DE UM DIA OS VÍNCULOS AO LONGO DE UM DIA 6/7 ANOS
FAMILIAR FAMILIA EDUCATIVA O VINCULO DE APRENDIZAGEM COM O GRUPO FAMILIAR E CADA 6/7 ANOS
UM DOS INTEGRANTES DO MESMO
CONSIGO O DESENHO EM EPISÓDIOS A DELIMITAÇÃO DA CONTINUIDADE DA IDENTIDADE PÍQUICA EM 4 ANOS
MESMO FUNÇÃO DA QUANTIDADE DOS AFETOS
O DIA DO MEU ANIVERSÁRIO A REPRESENTAÇÃO QUE SE TEM DE SI E DO CONTEXTO FÍSICO E 4 ANOS
SOCIODINÂMICO EM UM MOMENTO DE TRANSIÇÃO DE UMA
IDADE E OUTRA
NAS MINHAS FÉRIAS AS ATIVIDADES ESCOLHIDAS DURANTE O PERÍODO DE FÉRIAS 6/7 ANOS
ESCOLARES
FAZENDO O QUE MAIS GOSTO O TIPO DE ATIVIDADE DE QUE MAIS GOSTA 6/7 ANOS
Para facilitar ainda mais a compreensão, seguem abaixo os quadros das provas com os indicadores de análise mais
significativos, materiais e procedimentos:

Domínio Escolar

DOMINIO PROVAS MATERIAIS PROCEDIMENTOS INDICADORES MAIS SIGNIFICATIVOS


PAR FOLHA DE SULFITE ORDEM INDICAR NOME E DETALHE. DESENHO NOMES E IDADES
EDUCATIVO LÁPIS PRETO IDADE DAR TÍTULO AO TÍTULO DOS DESENHOS RELATOS
ESCOLAR BORRACHA DESENHO RELATAR O QUE
ACONTECE

EU COM FOLHA DE SULFITE ORDEM INDICAR NOME E DETALHES DO DESENHO


MEUS LÁPIS PRETO IDADE COMENTÁRIOS SOBRE COMENTÁRIOS SOBRE OS COLEGAS
COLEGAS BORRACHA OS COLEGAS
A PLANTA DA FOLHA DE SULFITE ORDEM: a) PLANTA DA SALA DETALHES DO DESENHO POSSIVEIS
SALA DE AULA LÁPIS PRETO DE AULA; b) INDICAR LUGAR LOCALIZAÇÕES NA SALA DE AULA
BORRACHA QUE OCUPA PERGUNTAS COMENTÁRIOS SOBRE A SALA DE
RÉGUA (SE FOR REGULARES E AULA ESCOLHA DO LUGAR
SOLICITADA) COMPLEMENTARES ACEITAÇÃO DO LUGAR COLEGAS AO
REDOR
Domínio Familiar

DOMINIOS PROVA MATERIAIS PROCEDIMENTOS INDICATIVOS MAIS SIGNIFICATIVOS


FOLHA DE ORDEM: a) PLANTA DA CASA; b) INDICAR O DETALHES DO DESENHO LOCALIZAÇÃO DO
SULFITE LÁPIS NOME DE CADA AMBIENTE; c) QUEM OCUPA PRÓPRIO QUARTO COMENTÁRIOS SOBRE O
A PLANTA PRETO CADA PEÇA; PERGUNTAS REGULARES E DORMITÓRIO LUGAR DE ESTUDO E
DA MINHA BORRACHA COMPLEMENTARES. REUNIÃO FAMILIAR
CASA RÉGUA

O ENTREVISTADO DOBRA UMA FOLHA EM ADEQUAÇÃO À ORDEM MOMENTOS


QUATRO PARTES IGUAIS, SOLICITA QUE O ESCOLHIDOS ATIVIDADE REALIZADA
FAMILIAR OS QUATRO FOLHA DE ENTREVISTADO FAÇA O MESMO COM PESSOAS CAMPO GEOGRÁFICO OBJETOS
MOMENTOS SULFITE LÁPIS OUTRA. SOLICITA QUE DESENHE QUATRO SEQUENCIA DO DESENHO ( TEMPORAL,
DE UM DIA PRETO MOMENTOS DO SEU DIA, DESDE QUE ESPACIAL, DO RELATO).
ACORDA ATÉ A HORA DE DORMIR. RELATO
DAS CENAS.

INDICAR NOMES E IDADES. PERGUNTAS


FOLHA DE SOLICITA-SE AO ENTREVISTADO QUE REGULARES E COMPLEMENTARES.
FAMÍLIA SULFITE LÁPIS DESENHE SUA FAMÍLIA, CADA FAZENDO O ATIVIDADES DE CADA PERSONAGEM.
EDUCATIVA PRETO QUE SABE FAZER. OBJETOS UTILIZADOS. IDADE E SEXO.
BORRACHA RELAÇÃO DE PARENTESCO. RELATO DO
PROCESSO
Domínio Consigo Mesmo

DOMINIO PROVAS MATERIAIS PROCEDIMENTOS INDICADORES MAIS SIGNIFICATIVOS


DOBRA-SE A FOLHA EM SEIS REPRESENTAÇÃO DE TEMPO E ESPAÇO. TEMA.
O DESENHO EM FOLHA DE SULFITE PARTES. ORDEM: DESENHAR O DIA ELEMENTOS RELACIONAIS E SOCIAIS.
EPISÓDIOS LÁPIS PRETO DE DESCANSO DE UM(A) MOVIMENTOS IDENTIFICATÓRIOS
MENINO(A).

FOLHA DE SULFITE SOLICITA-SE QUE FAÇA UM DETALHES DO DESENHO. ESPAÇO GEOGRÁFICO.


LÁPIS PRETO DESENHO DO DIA DO SEU CONTEÚDO DO RELAT
O DIA DO MEU BORRACHA ANIVERSÁRIO. PERGUNTAS
ANIVERSÁRIO REGULARES E COMPLEMENTARES. O.

SOLICITA-SE QUE FAÇA UMA ADEQUAÇÃO A ORDEM, ATIVIDADE


“FOTOGRAFIA DO QUE FEZ NAS REPRESENTADA, MARCO GEOGRÁFICO
FOLHA DE SULFITE FÉRIAS”. SOLICITA- SE UM RELATO ESCOLHIDO. ARGUMENTO, COERÊNCIA
CONSIGO EM MINHAS LÁPIS PRETO DA CENA E DAS FÉRIAS. INTERNA DO RELATO E O DESENHO.
MESMO FÉRIAS BORRACHA PERGUNTAS REGULARES E
COMPLEMENTARES.

SOLICITA-SE QUE SE DESENHE INDECISÃO NA ESCOLHA DO TEMA. ATO DE


FAZENDO O QUE MAIS GOSTA. APAGAR COM MUDANÇA DE TEMA. ATO DE
FAZENDO O QUE FOLHA DE SULFITE PERGUNTAS REGULARES E APAGAR OBJETO SEM MUDAR O TEMA.
MAIS GOSTO LÁPIS PRETO COMPLEMENTARES. COERENCIA DO RELATO E DESENHO. CONTEXTO
BORRACHA ESPACIAL E TEMPORAL EM QUE OCORRE À
CENA.
A partir das instruções descritas por Jorge Visca, foram selecionados dois modelos para
melhor ilustrar os argumentos teóricos trabalhados.
Durante o processo de aplicação das provas projetivas psicopedagógicas, o professor deve escolher
aquelas que melhor atendam seus objetivos, considerando, obviamente, as queixas que se tem da criança
com relação ao seu processo de aprendizagem. Cada desenho produzido pela criança não deve ser
analisado de forma isolada, mas sim, de maneira contextualizada, lembrando sempre que o objetivo é o
de identificar possíveis obstáculos à aprendizagem dos alunos.

Fim
TEORIA GENÉTICO-COGNITIVA
de Piaget
PIAGET – BIÓLOGO E
PSICÓLOGO

Jean Piaget
1896-1980
CONSTRUTIVISMO

TENTA EXPLICAR COMO AS PESSOAS


CONSTROEM SIGNIFICADOS, OU SEJA,
COMO INTERPRETAM O MUNDO QUE AS
CERCAM.

Todo conhecimento adquirido está vinculado a experiência.


Então o conhecimento é construído.

Para os construtivistas, os professores devem entender como os


estudantes pensam – como eles raciocinam – só para depois aplicar os
conteúdos escolares.
Piaget – contrário ao inatismo e a ideia ambientalista (da condição), ele constrói a
teoria da epistemologia genética que fala de um desenvolvimento interacionista da
aprendizagem.

Epistemologia Genética ou Teoria Psicogenética explica que o indivíduo,


desde o seu nascimento, constrói o próprio conhecimento. Esta teoria é a
mais conhecida concepção construtivista da formação da inteligência.

Para Piaget o comportamento dos seres vivos não é inato, nem resultado de condicionamentos. Para ele o
comportamento é construído numa interação entre o meio e o indivíduo. Esta teoria epistemológica (epistemo =
conhecimento; e logia = estudo) é caracterizada como uma visão interacionista do desenvolvimento. A
inteligência do indivíduo, como adaptação a situações novas, portanto, está relacionada com a complexidade
desta interação do indivíduo com o meio. Em outras palavras, quanto mais complexa for esta interação, mais
“inteligente” será o indivíduo.
“Todo conhecimento é produto de interações entre um sujeito e seu meio, o conhecimento provém
da atividade do sujeito, e, particularmente, de sua capacidade para extrair as propriedades dos
elementos do meio ou objeto”

(DOLLE, J. M. Para compreender Jean Piaget. RJ: Agir, 2000; Pg. 54)

• Não existe um novo conhecimento sem que o organismo tenha já um


conhecimento anterior para poder assimilá-lo e transformá-lo. Portanto a
construção da inteligência dá-se, em etapas ou estágios sucessivos, com
complexidades crescentes, encadeadas umas às outras. A isto Piaget
chamou de construtivismo sequencial.

Estágios: patamares de desenvolvimento que se dá


por sucessão (organizações de ações e pensamento
• Construtivismo sequencial: o desenvolvimento da inteligência faz- características de cada fase do desenvolvimento
se por complexidade crescente, onde um estágio (nível) é resultante do indivíduo).
de outro anterior.
Desenvolvimento cognitivo (da Inteligência) segundo
Piaget

1. Maturação (do SNC):


Base biológica do comportamento, é o amadurecimento de estruturas biológicas na
interação com o meio, através de um processo interno representando a viabilidade humana
de adaptação inteligente.

2. Experiência (interação física):


O contato do organismo com a realidade ou a interação do sujeito com o objeto, que se dão ora
no sentido de se extrair suas características (experiência física), ora no sentido de se extrair
propriedades não dos objetos, mas da ação sobre estes objetos (experiência lógico-matemática).
Desenvolvimento cognitivo (da Inteligência) segundo
Piaget
3. Transmissão Social (interação social):
Apropriação das experiências histórico-culturais (aquisição de valores, linguagem,
costumes e padrões culturais e sociais) que se processará em conformidade com a
estrutura cognitiva presente (esquema de assimilação).

4. Processo de Equilibração:
É a essência do processo adaptativo que coordena e regula os outros três fatores e faz surgir estados
progressivos de equilíbrio. Processo de auto regulação interna do organismo, que se constitui na
busca sucessiva de reequilíbrio após cada desequilíbrio sofrido; tudo isto mediante a mecanismos
internos de assimilação e acomodação (desiquilíbrio / equilíbrio – que formam esquemas /
adaptação).
Adaptação, resultante do processo de assimilação e acomodação, se refere à
construção de esquemas que são estruturas mentais, ou cognitivas, pelas quais os
indivíduos intelectualmente se adaptam e organizam o meio.

“O desenvolvimento, portanto, é uma equilibração progressiva, uma passagem contínua de um estado de


menor equilíbrio para um estágio de equilíbrio superior.”

(PIAGET, J. Seis estudos de psicologia. 22ª ed. RJ: Forense Universitária, 1997)
ESTÁGIOS DO DESENVOLVIMENTO GENÉTICO-
COGNITIVO
1. Estágio sensório-motor (0 – 2 anos)
• Do nascimento aos 2 anos, aproximadamente, etapa básica manipulativa – esquema de ação

• A inteligência trabalha através das percepções (simbólico) e das ações (motor) através dos
deslocamentos do próprio corpo. Sua linguagem vai da ecolalia (repetição de sílabas) à palavra-
frase ("água" para dizer que quer beber água) já que não representa mentalmente o objeto e as
ações.

• Neste estágio, a partir de reflexos neurológicos básicos, o bebê começa a construir esquemas de
ação para assimilar mentalmente o meio.
ESTÁGIOS DO DESENVOLVIMENTO GENÉTICO-
COGNITIVO
2. Pré-operatório (2 – 7 anos)
• Esquemas representativos (ação interiorizada)
• Neste período surge a função semiótica que permite o surgimento da linguagem, do desenho, da
imitação, da dramatização, etc. Podendo criar imagens mentais na ausência do objeto ou da ação: é
o período da fantasia, do faz de conta, do jogo simbólico. Com a capacidade de formar imagens
mentais pode transformar o objeto numa satisfação de seu prazer (uma caixa de fósforos em
carrinho, por exemplo). É também o período em que o indivíduo “dá alma” (animismo) aos objetos
("o carro do papai foi 'dormir' na garagem").
• Egocentrismo: tudo é “meu”. Neste período já existe um desejo de explicação dos fenômenos. É
a “idade dos porquês”, pois o indivíduo pergunta o tempo todo. Distingue a fantasia do real,
podendo dramatizar a fantasia sem que acredite nela. Seu pensamento continua centrado no seu
próprio ponto de vista.
ESTÁGIOS DO DESENVOLVIMENTO GENÉTICO-
COGNITIVO
3. Operatório concreto (7 – 12 anos – esquemas conceituas concretos)
• Ação interiorizada reversível, pois a operação nunca é unidirecional. Organiza o
mundo de forma lógica, mas, ainda, é dependente da manipulação e relações
concretas entre objetos.
• A conversação torna-se possível (já é uma linguagem socializada), sem que, no
Teoria da Reversibilidade
entanto, possam discutir diferentes pontos de vista para que cheguem a uma
conclusão comum.
Assimilação / Acomodação
• Um importante conceito desta fase é o desenvolvimento da reversibilidade, ou seja, a Desiquilíbrio / Equilíbrio
capacidade da representação de uma ação no sentido inverso de uma anterior,
anulando a transformação observada.

Exemplo:
Despeja-se a água de dois copos em outros, de formatos diferentes, para que a criança diga se as
quantidades continuam iguais. A resposta é afirmativa uma vez que a criança já diferencia aspectos
e é capaz de "refazer" a ação.
ESTÁGIOS DO DESENVOLVIMENTO GENÉTICO-
COGNITIVO
3. Operatório formal (12 anos a diante– esquemas conceituas abstratos)
• É o ápice do desenvolvimento da inteligência e corresponde ao nível de pensamento hipotético e lógico-
matemático. É quando o indivíduo está apto para calcular uma probabilidade, libertando-se do concreto.
• “Abertura para todos os possíveis”. A partir desta estrutura de pensamento é possível a dialética, que
permite que a linguagem se dê em nível de discussão para se chegar a uma conclusão. Sua organização
grupal pode estabelecer relações de cooperação e reciprocidade.
• A representação agora permite à criança uma abstração total, não se limitando mais à representação
imediata e nem às relações previamente existentes. Agora a criança é capaz de pensar logicamente,
formular hipóteses e buscar soluções, sem depender mais só da observação da realidade. Em outras
palavras, as estruturas cognitivas da criança alcançam seu nível mais elevado de desenvolvimento e
tornam-se aptas a aplicar o raciocínio lógico a todas as classes de problemas.
Caminhos psicogênicos do desenvolvimento moral do sujeito

• ANOMIA – ausência de lei ou regra. As regras não são importantes para o


sujeito (a criança).

• HETERONOMIA – sujeição a uma lei exterior ou à vontade de outrem;


ausência de autonomia. Ou seja, a criança recebe a regra, mas vindo pelo outro
como autoridade. Obedece-se por afeto ou medo da punição.

• AUTONOMIA – capacidade de governar-se pelos próprios meios. Neste caso o


sujeito busca regrar-se pelo próprio entendimento em busca do equilíbrio ou
pelo pacto social.
IMPLICAÇÕES PEDAGÓGICAS

• A importância de se definir os períodos de desenvolvimento da inteligência reside no


fato de que, em cada um, o indivíduo adquire novos conhecimentos ou estratégias de
sobrevivência, de compreensão e interpretação da realidade. A compreensão deste
processo é fundamental para que os professores possam também compreender com
quem estão trabalhando.

• Piaget nos mostra que cada fase de desenvolvimento apresenta


características e possibilidades de crescimento da maturação ou de aquisições. O
conhecimento destas possibilidades faz com que os professores possam oferecer estímulos
adequados a um maior desenvolvimento do indivíduo.
IMPLICAÇÕES PEDAGÓGICAS

• A pedagogia apoia-se na ciências biológicas, psicológicas e socioantropolólgicas. Daí o professor não


ensina: interage, é um mediador de acordo com o desenvolvimento do aprendiz.

• Mediador: é o papel do professor

• Considerar a criança um ser integral (biológico, afetivo-emocional, cognitivo e social)

• Criar um meio e atmosfera em que a criança seja ativa: iniciando e completando suas atividades.

• Obs. Para Piaget, as crianças são construtoras do seu conhecimento.

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