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Angela Freire 2
A educação é uma ciência multidisciplinar, por isso recorre às diversas teorias para explicar o ato de
educar. Isoladamente, cada uma procura responder a determinadas questões, abordando alguns
aspectos deste ato. Entretanto, nenhuma teoria sozinha poderá dar respostas à diversidade de
questões presentes na prática educativa. Esta, por sua vez, não se dá no vazio e no espontaneísmo,
tampouco é um ato inocente e apolítico. Pelo contrário, tem uma intencionalidade, e, de modo
consciente ou inconsciente, explicito ou implícito, é embasada por um corpo teórico-metodológico
que reflete o modo de atuação, as crenças, os valores e a maneira de perceber e conceber o homem,
a sociedade, a educação, a escola, o conhecimento, o currículo, o processo ensino e aprendizagem, a
avaliação, o/a aluno/a, o/a professor/a.
Conhecer os limites e os alcance das teorias que embasam as práticas educativas faz com que os/as
professores/as revejam suas atitudes, suas formas de pensar e organizar o conhecimento, e,
sobretudo, sua práxis pedagógica (ação-reflexão-ação), ocasionando uma melhoria expressiva na
configuração do ensino, fazendo com que este se torne contextual e percebido pelo/as aluno/as
como uma ação necessária e significativa as suas vidas enquanto seres sociais. É necessário frisar
que todo sujeito do ensino (professor/a) precisa ter um norte, um horizonte que o oriente. Quando
ele/a tem clareza sobre onde quer chegar, encontrará teorias que o/a ajude a descobrir o melhor
caminho para lá chegar.
Partindo deste pressuposto, a SMEC/CENAP toma como referência teórica para o Ciclo de Estudo
Básico (CEB) as Teorias Construtivista de Jean Piaget, Sócio-interacionistas de Lev Vygotsky e
Henri Wallon, e os estudos de Emília Ferreiro e Ana Teberosky sobre a Psicogênese da Língua
Escrita, a fim de subsidiar e orientar o saber-fazer pedagógico do/a professor/a. Por meio do
conhecimento destas teorizações e dos seus pressupostos, este/a profissional terá condições de
avaliar os fundamentos empregados na sua prática em sala de aula.
Piaget estudou e pesquisou sobre o desenvolvimento cognitivo, desde os estágios iniciais da criança
até a formalização do conhecimento na adolescência. Ele abriu um novo campo de estudo: a
Epistemologia Genética.
1
EPISTEMOLOGIA: (epistemo = conhecimento, saber ciência e lógica = estudo).
GENÉTICA: (gênese = início, nascimento).
A EPISTEMOLOGIA GENÉTICA se ocupa fundamentalmente em pesquisar e estudar sobre a
gênese, o desenvolvimento e a evolução do conhecimento. Objetiva saber em que condições se
desenvolvem a inteligência.
“O homem constrói o seu conhecimento na sua relação com o meio” (Jean Piaget).
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Em síntese:
Conceitos básicos:
A hereditariedade: herdamos um organismo que amadurece em contato com o meio ambiente, uma
série de estruturas biológicas que favorecem o aparecimento das estruturas mentais. Como
conseqüência inferimos que a qualidade da estimulação interferirá no processo de desenvolvimento
da inteligência.4
A adaptação: possibilita ao indivíduo responder aos desafios do ambiente físico e social. Dois
processos compõem a adaptação, ou seja, a assimilação (uso de uma estrutura mental já formada)
e a acomodação (processo que implica a modificação de estruturas já desenvolvidas para resolver
uma nova situação).5
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ASSIMILAÇAO é a incorporação de elementos do meio externo (objeto, acontecimento, conhecimento,
etc.) a um esquema ou estrutura do sujeito. Ou seja, são as ações que o indivíduo irá tomar para poder
internalizar o objeto, interpretando-o de forma a poder encaixá-lo nas suas estruturas cognitivas.
O que aconteceu? O menino vendo A VACA (estímulo), examina sua coleção de esquemas até encontrar
um que lhe apareceu apropriado para nele incluir o objeto. Para criança, a VACA tem todas as
características de um CACHORRO, por isso ele a encaixa ao esquema cachorro. O estímulo VACA foi
assimilado ao esquema CACHORRO.
COLEÇÃO DE
Filho este animal não é
ESQUEMA um cachorro, é uma vaca!
FICHA DE ARQUIVO
Os esquemas: constituem a nossa estrutura básica. Podem ser simples, como por exemplo, uma
resposta específica a um estímulo-sugar o dedo quando ele encosta nos lábios, ou, complexos, como
o modo de solucionarmos problemas matemáticos. Os esquemas estão em constante
desenvolvimento e permitem que o indivíduo se adapte aos desafios ambientais.6
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EQUILÍBRIO: é um estado de balanço entre assimilação e acomodação.
DESIQUILÍBRIO: é um estado de não balanço entre a assimilação e a acomodação.
EQUILIBRAÇÃO: é o processo de passagem do desiquilíbrio para o equilíbrio. Este é um
processo auto-regulador cujos instrumentos são assimilação e acomodação.
De acordo com Piaget, o indivíduo constrói e reconstrói continuamente as estruturas que o
tornam cada vez mais apto ao equilíbrio.
Sintetizando os conceitos…
ADAPTAÇÃO
Equilíbrio entre a
assimilação e a
acomodação
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Piaget esquematiza o desenvolvimento cognitivo da seguinte maneira:
Estágio Pré-operacional
Estrutura intuitiva
Inteligência Simbólica
Estágio Sensório-motor
Estrutura sensório-motriz
Inteligência Prática
outro.
• Não aceita a idéia do acaso e tudo deve ter uma explicação (é fase dos "por quês"?).
• Dá nome às coisas das quais não sabe o nome ainda (antropomorfismo ou nominalismo).
• Não faz a REVERSIBILIDADE, ou seja, a capacidade de voltar ao ponto de origem. Ex. a água
que se transforma em gelo e aquecendo-se volta à forma original. A criança nesta fase não
compreende esta operação.
No ESTÁGIO DAS OPERAÇÕES CONCRETAS (+/– dos 7 aos 11 anos): Neste período:
• O egocentrismo intelectual e social (incapacidade de se colocar no ponto de vista de outros) que
caracteriza a fase anterior dá lugar à emergência da capacidade da criança de estabelecer relações
e coordenar pontos de vista diferentes (próprios e de outrem ) e de integrá-los de modo lógico e
coerente.
• Surge a capacidade interiorizar as ações, ou seja, ela começa a realizar operações mentalmente
e não mais apenas através de ações físicas típicas da inteligência sensório-motor (se lhe
perguntarem, por exemplo, qual é a vareta maior, entre várias, ela será capaz de responder
acertadamente comparando-as mediante a ação mental, ou seja, sem precisar medi-las usando a
ação física).
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• A criança DESCENTRA, isto é, leva em consideração as várias dimensões do objeto, como,
por exemplo: comprimento e largura.
• Faz a REVERSIBILIDADE, isto é, a criança entende que certos fenômenos são irreversíveis.
Esta é uma característica imprescindível para ela compreender noções de adição e subtração,
multiplicação e divisão como operações complementares.
Conclui e consolida as conservações do número, da substância e do peso. Apesar de ainda
trabalhar com objetos, agora representados, sua flexibilidade de pensamento permite um sem
número de aprendizagens.
É importante frisar que as idades cronológicas, durante as quais se espera que as crianças
desenvolvam comportamentos representativos de um dado estágio, não são fixos. Os intervalos
entre as idades, sugeridos por Piaget, são normativos e denotam os momentos durante os quais se
espera que uma criança de desenvolvimento típico ou normal apresente os comportamentos
intelectuais daquele nível particular.
REFERENCIAS
GROSSI, Esther Pillar. Construtivismo Pós-piagetiano: um Novo Paradigma sobre
Aprendizagem. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 1993.
LA TAILLE, Yves. Piaget, Vygotsky, Wallon: Teorias Psicogenéticas em discussão. São Paulo :
Summus, 1992.
NOTAS
1
O texto aborda alguns conceitos da Teoria Construtivista de Jean Piaget, que é um dos referencias que dão sustentação
teórica ao CEB. Tem a finalidade de subsidiar o saber-fazer pedagógico do/a professor/a para que ele/a possa promover
ações educativas reais e significativas, à luz dos constructos teóricos.
2
Texto elaborado e sistematizado por Angela Freire, Pedagoga graduada pela UCSAL, Psicopedagoga (UFBA) e
Coordenadora Pedagógica lotada na Coordenação de Ensino e Apoio Pedagógico (CENAP) / Núcleo de Tecnologia
Educacional (NET-17), na Fábrica do Saber.
3
Citação extraída do endereço eletrônico: http://www.centrorefeducacional.com.br.
4
Ibid.
5
Ibid.
6
Ibid.
7
Ibid.