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Como o ser humano aprende?

As contribuições teóricas de Piaget e

Vygotsky.

O objetivo principal desta unidade é abordar as contribuições teóricas deixadas por


Piaget e Vygotsky, além de identificar suas implicações para a prática educativa.
Unidade II: Como o ser humano aprende?

As contribuições teóricas de Piaget e Vygotsky

2. Como o ser humano aprende segundo Piaget:

Jean Piaget (1896-1980) – biólogo suíço, preocupou- se


não em formular uma definição de inteligência, mas a
maneira pela qual surge a capacidade amadurecida do
pensamento. Ao longo de suas pesquisas conclui que a
inteligência apresenta tanto uma perspectiva de evolução
quanto de desenvolvimento. Daí sua teoria ser considerada
muito mais de desenvolvimento que de aprendizagem.

Preocupação Central: “sujeito epistêmico”, ou seja, o


estudo dos processos de pensamento, desde a infância inicial até a idade adulta.

Principal eixo teórico: organização do pensamento.

Aspectos relevantes: desenvolvimento, aprendizagem, conhecimento.

Desenvolvimento:

Processo espontâneo durante o qual o sujeito se torna progressivamente capaz de


adquirir conhecimento.

Aprendizagem:

Processo provocado por situações externas, durante o qual o indivíduo se apropria


ativamente do conteúdo da experiência humana.

Conhecimento:

Processo intelectual que possibilita ao individuo agir sobre os objetos, transformando-


os a partir de suas relações.
2.1- Fatores de Desenvolvimento:

Piaget enumerou alguns fatores do desenvolvimento humano, são eles:

1. Maturação: desenvolvimento puramente biológico, pois se trata da


prontidão interna do organismo.
2. Experiência do meio físico: são experiências adquiridas a partir do contato
com o meio físico.
• Exercício: é a assimilação funcional, pois apenas consolida os esquemas de
ação.
• Experiência física: consiste em agir sobre os objetos, de modo a descobrir suas
propriedades (cor, forma, peso, espessura...).
• Experiência lógico–matemática: consiste nas relações mentais extraídas não
do objeto em si, mas da ação sobre os objetos.
3. Influência do meio social: estimulação intelectual e afetividade.
4. Equilibração: fator fundamental do desenvolvimento, uma vez que explica
as estruturas da construção da inteligência.
• Mecanismos da equilibração:
Assimilação: incorporação de um objeto, informação ou idéia ao que já
é conhecido.

Acomodação: processo de modificação sofrida pelo individuo para lidar


com uma nova situação.

Adaptação: aplicação, forma mais elaborada e eficiente, das estruturas


e informações recém adquiridas. É o equilíbrio resultante dos processos
de assimilação e acomodação.

2.1.2- Estágios de desenvolvimento cognitivo

Sensório – motor ( 0 a 2 anos, aproximadamente )

Caracteriza-se pela coordenação dos movimentos e percepção. Desde o nascimento,


a criança apresenta determinados reflexos prontos a funcionar como: sucção,
preensão e reflexo palpebral. Estes primeiros sinais representam uma forma de
adaptação ao mundo exterior. Pela ação da maturação e da estimulação ambiental,
novos esquemas vão surgindo e a criança passará a apresentar comportamentos de
agarrar, bater, sacudir, esfregar... Com a permanência do objeto, surgem as primeiras
manifestações da sua inteligência.

Pré – operatório ( 2 a 7 anos, aproximadamente )

Representado pelo domínio do simbolismo, o qual capacita a criança para a


compreensão da linguagem verbal e escrita. Enquanto estágio caracterizado pela
preparação e organização das operações concretas, tendo uma estrutura pré-
operatória.

- De 2 a 4 anos: aparecimento da função simbólica e inicio da interiorização dos


esquemas de ação em representações. A função simbólica é externalizada em
diferentes formas: linguagem, jogo-simbólico (faz-de-conta), imitação, imagem mental
(imitação interiorizada).

- De 4 a 5 anos e meio: aparecimento de organizações representativas, seja sobre


configurações estáticas, seja sobre assimilação da própria ação.

- de 5 anos e meio a 7 anos: início das ligações entre estados e transformações,


tornando possível pensa-los de forma semi-reversível.

O pensamento pré-operacional tende a centrar atenção e raciocínio num só traço do


objeto, dispensando os demais aspectos. Por isso, diz-se que o pensamento pré-
operatório é estático, imóvel, podendo concentrar-se de maneira esporádica e
impressionista, naquela ou nesta condição de experiência.

Operatório concreto ( 7 a 12 anos, aproximadamente )

Caracteriza-se principalmente pelas seguintes operações cognitivas:


- Noção de conservação (massa, volume, peso);

- Noção de análise e síntese (pensamento reversível);

- Construção do número (ordenação mental e inclusão de classe).

Operatório formal ( a partir de 11/ 12 anos de idade )

Caracteriza-se pela efetivação do raciocínio hipotético dedutivo. Aplicação do


conhecimento adquirido nas fases anteriores, de forma mais organizada e
sistematizada, formulando hipóteses e raciocinando sobre situações verbais.

2.1.3- As operações cognitivas:

1. Classificação: consiste na capacidade de agrupar ou separar por


características comuns. Os critérios podem ser:
Comparação – reconhecimento pelos atributos: cor, forma, tamanho, sabor,
espessura, comprimento, etc.

Inclusão – agrupamento que no geral apresenta semelhança, mas no específico se


diferencia.

2. Seriação: é o agrupamento que consiste em ordenar os elementos de forma


crescente para o decrescente e vice-versa.
3. Sequenciação: (uma forma de ordenação) é a sucessão de elementos,
determinada por uma regra. Neste tipo de operação deve-se incluir
invariavelmente a seriação e a classificação.
4. Conservação: é o reconhecimento de que a quantidade (número), a massa, o
volume ou o comprimento permanece a mesma, apesar da mudança de
posição, forma ou agrupamento. As atividades que envolvem a conservação
devem estar além da percepção ou da mera demonstração. Somente
exercendo o pensamento operatório sobre a conservação é que a criança se
apropriará de tal operação cognitiva.
5. Reversibilidade: é a compreensão de que uma determinada operação pode ser
realizada tanto para as partes (análise), quanto das partes para o todo
(síntese).

2.2- A teoria sócio-histórica de L.S. Vygotsky:

Lev Seminovich Vygotsky (1896-1934), russo, formado em


direito e medicina, também estudou psicologia, filosofia e
literatura. Elaborou uma teoria de desenvolvimento no campo do
pensamento (cognição) e da linguagem (construtivismo
interacionista), tendo como suporte a história sócio-cultural do
indivíduo, inspirando-se no materialismo dialético de Marx e
Engels.

Segundo Vygotsky, o indivíduo utiliza seu instrumental biológico e mental e, com ele
interage com os valores do seu tempo. “Assim a criança aprende por um processo que
não se separa o conhecimento; enquanto que em outras teorias da aprendizagem o
conhecimento é apoiado num processo individual, em Vygotsky essa apropriação se
dá como uma interiorização da experiência coletiva, para que possa existir experiência
individual.” (Sonia Kramer).

Para Vygotsky, o contexto cultural é a fonte privilegiada para o desenvolvimento


psicológico. Supõe-se com isso, que o individuo se constrói enquanto ser psicológico,
ao longo de um processo de desenvolvimento, no qual, a interação com o grupo social
é fundamental. Para ele o compromisso humano é visto como uma atividade mediada,
ou seja, mediação que é o princípio norteador de toda ação humana, ocorrendo numa
relação inter e intrapsicólogica, onde a primeira diz respeito ao outro e a segunda ao
sujeito.

Neste sentido, destacamos as possibilidades que o indivíduo dispõe a partir do


ambiente em que vive e que dizem respeito ao acesso a instrumentos físicos (objetos)
e símbolos (cultura, valores, crenças, costumes, tradições, conhecimentos)
desenvolvimento em gerações.

Tais símbolos passam por um processo de interiorização pelo indivíduo, qual é


progressiva e advinda do meio social. Esse processo é ativo, já que a crença apropria-
se do social. Ao internalizar instruções as crianças modificam suas funções
psicológicas: percepção, atenção. Memória e capacidade para solucionar problemas.

Sendo a linguagem o fator fundamental da teoria de Vygotsky, compreende-se que


através da fala, o ambiente físico e social pode ser melhor apreendido, uma vez que a
fala modifica a qualidade do conhecimento e pensamento que se tem do mundo em
que se encontra. Para Vygotsky a leitura e a escrita são fatos decorrentes do
pensamento e este da linguagem. Entendendo por linguagem a internalização dos
símbolos representativos: valores e bens culturais. E por pensamento um suporte que
assume importância quando se converge com a linguagem, gerando a inteligência.

Sendo assim, a aquisição de um sistema lingüístico reorganiza todos os processos


mentais infantis, onde a palavra dá forma ao pensamento, criando novas modalidades
de atenção, memória e imaginação. Daí a importância da linguagem para o
pensamento. Relação esta que se modifica ao longo do desenvolvimento da criança.

Por volta dos três anos de idade, a fala acompanha o desenvolvimento infantil (fala e
age). É comum a criança agir e descrever o que fez ao mesmo tempo. A partir de
então, observa-se que a fala começa a proceder ao comportamento. Depois, a fala
adquire uma nova função, a qual é característica do pensamento complexo, ou seja, a
de planejar a ação e guiar as atividades da criança. Neste momento, a criança fala
sozinha em voz alta. Posteriormente, essa fala vai, aos poucos, se transformando em
sussurros, os quais gradativamente vão sendo internalizados, através do pensamento.
A criança deixa de ser um sujeito biológico para tornar-se um produto sócio-histórico-
cultural. Para Vygotsky, a diversidade das condições histórico-sociais em que as
crianças vivem é que determina as diferentes formas de organizar, planejar e atuar
sobre a realidade, daí não existir uma seqüência universal de estágios cognitivos.
2.2.1- As zonas de desenvolvimento

Vygotsky descreve momentos significantes por quais as crianças passam a partir da


relação com o outro. Esses momentos perpassam, substancialmente por zonas de
desenvolvimentos elaboradas por Vygotsky, nas quais o professor assume funções
precisas e definidas.

Zona de desenvolvimento real:

Capacidade de realizar tarefas de forma independente, refere-se às etapas já


alcançadas, conquistadas pelo indivíduo. Processos de desenvolvimento já
completados, consolidados.

Zona de desenvolvimento potencial:

Capacidade de desenvolver tarefas com ajuda/ auxílio de alguém mais experiente


(professor, pai, mãe, amigo,...). Como o próprio nome já nos dá uma idéia potencial, é
aquilo que o indivíduo pode vir a ser, a fazer...

Zona de desenvolvimento proximal:

É a distância entre o nível de desenvolvimento real e o nível de desenvolvimento


potencial. Domínio psicológico em constante transformação.

Então, o professor preparará a sua intervenção pedagógica partindo do que a


criança é e faz (Zona de Desenvolvimento Real), em direção ao que ela precisa ser e
fazer (Zona de Desenvolvimento Potencial).

O professor, desta forma, atuará na Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP)


e neste espaço ele terá o papel de mediador, provocador de conflitos, estimulador,
propiciador de recursos, engenheiro que construirá a ponte entre o real e o Real e o
Potencial.
Centro de Educação infantil “Crescer e Aprender” (SC)

Fórum da Semana 2 – Socializando idéias sobre as teorias estudadas

Não deixe de participar!

Atividade de sistematização 2:

Muito bem, agora que chegamos até aqui, iremos construir um quadro-síntese
(individualmente) contrapondo os dois autores estudados, seus pontos de
convergência e de divergência, bem como idéia central de cada um, conceitos
e aspectos relevantes, etc.

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