Você está na página 1de 16

Desenvolvimento Infantil

Lorena Mochel Reis


Desenvolvimento Infantil

Introdução
Olá, aluno, tudo bem com você? Neste conteúdo você vai aprender que a Psicologia,
enquanto ciência contempla, dentre as diversas áreas de estudo, o desenvolvimento
humano e os processos pelos quais a pessoa passa ao longo da vida. A Psicologia
do Desenvolvimento, a partir de seus estudos, contribui para o entendimento sobre o
ciclo de vida humana. Sendo que os primeiros anos de vida são primordiais para que
a criança se desenvolva, considerando que desenvolvimento humano compreende as
dimensões: biológica, cognitiva e social.

As mudanças ao longo do ciclo vital humano favorecem tanto o desenvolvimento


quanto a aprendizagem. Diversos teóricos defendem ideias a esse respeito, mas
neste e-book vamos trabalhar com os sociocontrucionistas do desenvolvimento, bem
como alguns de seus conceitos essenciais para que possamos avançar na Psicologia
do Desenvolvimento.

Objetivos da aprendizagem
• Compreender os principais conceitos de Piaget;
• Analisar os principais conceitos do Vygotisky;
• Descrever os principais conceitos de Wallon.

2
Desenvolvimento infantil – a área mais antiga da
Psicologia
Historicamente, durante muito tempo, a infância foi foco de estudos, sendo o
desenvolvimento infantil – intelectual, maturação e crescimento - a área mais antiga
da Psicologia e a que mais possui uma diversidade de estudos e publicações acerca do
assunto. Uma justificativa plausível para isso é que toda experiência que ocorre nessa
fase tem uma importância significativa no entendimento do desenvolvimento normal
das habilidades de cada fase da vida, bem como na formação da sua identidade na
vida adulta.

O filósofo Jean-Jacques Rosseau (1712-1778)

foi o grande “descobridor da criança”, precursor dos estudos do desenvolvimento.

No ano de 1770, Johann Heinrich Pestalozzi, professor suíço

passou a observar seu filho pequeno e a fazer anotações em um diário acerca


das suas ações e comportamentos.

Dietrich Tiedemann, filósofo alemão

publicou no ano de 1787, uma espécie de relatório sistemático baseado na


rotina de seu filho, desde o nascimento até os três anos de idade.

Tais colaborações foram de extrema importância para que os pesquisadores do


desenvolvimento humano voltassem sua atenção para essa área de estudo. Mas
foi no ano de 1881, com a publicação do livro “A alma da criança”, de Guilherme
T. Preyer, que de fato a concentração do estudo das variáveis do desenvolvimento
humano aumentou consideravelmente. A obra de Preyer é, entre os diversos relatos
observacionais publicados sobre a infância, considerada a mais conhecida.

Atualmente, os socioconstrutivistas acreditam que fatores orgânicos e ambientais


afetam o processo de desenvolvimento do ser humano, incluindo sua formação
educacional. Ou seja, o conhecimento é o resultado da combinação de fatores
ambientais e subjetivos no cotidiano de cada aluno. No entanto, a interação entre o
organismo e o meio ambiente defendida por essa teoria da aprendizagem não ocorre

3
de maneira passiva: a aquisição do conhecimento é um processo que se estabelece
na vida da pessoa, o que a torna o protagonista do ensino e seu processo

Saiba mais
“O professor não ensina, mas arranja modos de a própria criança
descobrir. Cria situações-problemas”.

Jean Piaget

Vygotsky e o sociointeracionismo
Lev Semenovich Vygotsky era Bielorrússo. Nasceu em 1896 e morreu em 1934. Estudou
e aprofundou seus estudos em literatura na Universidade de Moscou. Posteriormente,
estudou Medicina e Direito. Após a Revolução Russa (1917), trabalhou na área de
aprendizagem escolar, infância e educação, sobretudo, em defectologia.

Seus trabalhos os inserem em uma linha teórica que pode ser chamada de sócio-
histórica, por considerarem a constituição social do sujeito dentro de uma cultura
concreta.

A ideia sobre a interação é relevante na teoria Vygotskyana, uma vez que desenvolve
nas Funções Psicológicas Superiores (tipicamente humanas) devido as trocas sociais.
Para Vygotsky, o indivíduo transforma o mundo (social e físico) e, dialeticamente, é
transformado por esse mundo. Portanto o Homem não é apenas “produto do meio”,
sendo o mundo também produzido pelo Homem.

É importante compreender na teoria de Lev Vygostskyo que ele chamou de Zona de


Desenvolvimento Proximal (ZDP), ou seja, a distância entre a prática que uma criança
já domina e as atividades nas quais ela ainda necessita de ajuda. Para Vygotsky é no
caminho entre esses dois pontos que a criança pode desenvolver-se mentalmente por
meio da interação e da troca de experiência. Como aplicação prática na Educação,
podemos pensar que em termos de avaliação, por exemplo, não basta determinar
apenas o que um aluno já aprendeu para avaliar o seu desempenho.

Para Vygotsky, a cultura molda o psicológico, ou seja, define o modo de pensar. Diz ele
que: o pensamento não está explícito nas palavras, mas que são elas que o levam a

4
existir; isso porque cada pensamento relaciona uma coisa à outra, estabelecendo um
certo nexo.

Curiosidade
A defectologia é o estudo do desenvolvimento e da educação da
criança anormal.

Conforme Vygostisky, o pensamento e a fala têm raízes genéticas diferentes e o


seu desenvolvimento passa por dois estágios são eles: estágio “pré-intelectual” e
estágio “pré-lingüístico”. Em um dado momento essas fases se cruzam, ocorrendo o
pensamento, o verbal e a fala intelectual.

Sobre a aquisição da linguagem Vygotisky comenta que há três momentos:

Figura 1 - Fases da aquisição da linguagem.


Fonte: a autora (2021)
#PraCegoVer A imagem representa as fases da aquisição da linguagem por
meio de quatro retângulos com textos. O primeiro acima Fala Social. Ele se
linha por uma linha no retângulo Aquisição de Linguagem. Este último se subdi-
vide em dois retângulos: discurso interior e fala egocêntrica.

5
Fases da aquisição da linguagem:

Linguagem social

função social a primeira linguagem.

Linguagem egocêntrica

criança fala para si “falar sozinho” organiza as ideias e planeja melhor as ações.

Linguagem interior

É quando as palavras são pensadas e não faladas.

Sobre a aprendizagem mediada, segundo Vygotsky, é a aquisição de conhecimentos


realizada por meio de um elo intermediário entre o ser humano e o ambiente. De
acordo com ele, existem dois elementos mediadores: os instrumentos e os signos,
representações mentais que substituem os objetos do mundo real. O desenvolvimento
dessas representações, para Vygotsky, ocorre, sobretudo, por meio da cultura.

Piaget e Henri Wallon


Jean Piaget (1896-1980) nasceu no dia 9 de agosto de 1896, em Neuchâtel, na Suíça.
Foi um renomado psicólogo e filósofo suíço, conhecido por seu trabalho pioneiro no
campo da inteligência infantil. Piaget passou grande parte de sua carreira profissional
interagindo com crianças e estudando seu processo de raciocínio. Seus estudos
tiveram um grande impacto sobre os campos da Psicologia e Pedagogia.

Na Teoria Construtivista, com base em Piaget, o foco está no desenvolvimento


dos processos cognitivos, cuja aprendizagem se dá gradativamente, à medida que
as estruturas mentais e cognitivas se organizam.Esse desenvolvimento cognitivo
ocorre em um constante processo de equilíbrio entre o organismo e o meio ambiente,
resultado da interação entre a assimilação e a acomodação.

6
Atenção
Conhecido também por sujeito cognoscente ou do conhecimento,
o conceito epistêmico refere-se às estruturas mentais comuns a
todos os seres humanos, as quais possibilitam a aprendizagem,
a partir de relações entre diferentes informações (classificação,
comparação, dedução, entre outras). Tais estruturas desenvolvem-
se do início ao fim da vida a partir da ação dos indivíduos sobre o
meio, em um processo de interação com o objeto de conhecimento
e com as outras pessoas, o que permite a construção de níveis de
saber cada vez mais complexos.

Para Piaget, conforme Maia (2017), quando interage com o mundo e seus objetos, o
sujeito age sobre ele e sofre em contrapartida a influência de sua ação sobre si, em
um processo constante de adaptação. Dois mecanismos estão presentes na ação
do sujeito sobre os objetos de conhecimento, assimilação e acomodação, que geram
a equilibração. Ainda segundo Maia (2017), assimilação diz respeito ao mecanismo
que o sujeito aplica ao procurar compreender o mundo, trata-se da captação pelo
indivíduo de elementos da realidade externa aos seus esquemas ou estruturas
cognitivas. Já a acomodação refere-se ao movimento de ajustamento desses
esquemas às resistências provocadas pelas novas situações e surge em decorrência
das perturbações provocadas pelas situações enfrentadas pelo sujeito (MAIA, 2017).

Utilizados como sinônimos pelo pesquisador suíço, os termos adaptação e


equilibração referem-se ao processo de ampliação de conhecimentos, sendo
resultado de duas etapas indissociáveis: a assimilação (interação com o meio, como
forma de compreender um novo conteúdo) e a acomodação (um processo interno
de construção de novas estruturas mentais que possibilitarão ao indivíduo atingir um
patamar superior de conhecimento).

Outra definição importante na obra de Piaget são os esquemas de ação, formas pelas
quais o ser humano interage com o mundo. Nesse processo, ele organiza mentalmente
a realidade para entendê-la, desenvolvendo assim sua inteligência. Esses esquemas
evoluem progressivamente conforme a faixa etária e as experiências de cada indivíduo.
Para Piaget, o desenvolvimento se dá em quatro períodos: sensório-motor (até dois
anos), pré-operatório (de três a sete anos), operatório concreto (de oito a 11 anos) e
operatório formal (a partir de 12 anos).

7
Confira as principais características de cada estágio (Piaget, 1973):

Sensório motor

Este estágio é subdividido em seis estádios e começa pelos comportamentos


básicos. O bebê utiliza os sentidos e as atividades motoras como a sucção e o
movimento dos olhos, possui inteligência prática e pensamento egocêntrico (
tudo que acontece ao seu redor e sua produção).

Pré-operatório

neste estágio o pensamento pré-lógico, a criança constrói símbolos, ou seja,


pode dirigir-se ao mundo real por meio de símbolos, gestos e jogos de simulação.

Operatório concreto

a característica principal deste estádio é que o pensamento deixa de ser pré-


lógico e passa a ser operatório, ou seja, a criança tem a capacidade cognitiva
de coordenar diferentes pontos de vista de maneira lógica, expressando ações
cognitivas mais elaboradas.

Formal

a criança se libertará do egocentrismo intelectual e social, é utiliza inteligência


logica, hipotética e dedutiva.

8
Figura 2 - Estágio do desenvolvimento.
Fonte: a autora (2021)
#PraCegoVer: A imagem é um elemento gráfico circular,que representa os
quatro estágios do desenvolvimento: sensório motor reflexos e sensações
zero a dois anos, pré operatório. raciocínio intuitivo dois a sete anos. Pensa-
mento lógico, sete a onze anos. Pensamento formal hipotético dedutivo - 12
anos em diante.

É importante esclarecer também o termo conhecimento prévio. Trata-se dos saberes


que os alunos possuem e que são essenciais para o aprendizado. Na década de 20,
Jean Piaget identificou as estruturas mentais como condições prévias para aprender.
Nos anos 60, David Ausubel (1918-2008) chamou de conhecimento prévio os
conteúdos fundamentais para que se adquira novos conhecimentos. Segundo Ausubel,
o processo ideal ocorre quando uma nova ideia se relaciona aos conhecimentos
prévios do indivíduo. Assim, motivado por uma situação proposta pelo professor,
a qual faça sentido, o aluno amplia, avalia, atualiza e reconfigura uma informação
anterior, transformando-a em uma nova.

9
Curiosidade
O suíço Jean Piaget, ao desenvolver sua teoria acerca do
desenvolvimento mental humano, usou a observação direta,
sistemática e cuidadosa de crianças, entre elas seus três filhos:
Jacqueline, Laurent e Lucienne.

Sobre Henri Wallon, ele nasceu em Paris, na França, em 15 de junho de 1879, onde
passou toda a vida e morreu em 1962, aos 83 anos. Formou-se em Medicina, em
1902, e em Filosofia, em 1908. Viveu em um período marcado pelas duas grandes
Guerras Mundiais, nas quais esteve presente como médico, na Primeira (1914-1918),
e no Movimento de Resistência Francesa contra os nazistas, na Segunda (1939-1945).

Wallon atuou até 1931 como médico psiquiatra, dedicando-se ao atendimento de


crianças com deficiências neurológicas e distúrbios do comportamento. Seu interesse
pela Psicologia da criança fez com que, em 1925, fundasse o Laboratório de Psicologia
da Criança. Nas observações realizadas, durante esse período, ele identificou os
vários estágios que levaram à origem da sua teoria do desenvolvimento. Na busca
pela compreensão do ciclo vital, aproximou-se da educação, participando ativamente
das discussões educacionais da sua época, trocando experiências e reflexões com
outros educadores.

Reflita
Por que podemos dizer que, na busca pela compreensão do
desenvolvimento infantil, Wallon aproximou-se sobremaneira de
questões relativas à educação?

A teoria walloniana destaca duas ordens de fatores que juntos constituem as condições
em que se inserem as atividades de cada estágio proposto pelo teórico: os orgânicos
e os sociais. Segundo Nogueira e Leal:

10
Wallon certamente construiu sua teoria baseando-se em um enfoque
interacionista, que abarca a concepção de que todos os aspectos do
desenvolvimento surgem na interação de predisposições genéticas
características da espécie com a variedade de fatores ambientais. Em
outras palavras, o desenvolvimento de uma criança, para Wallon, constitui-
se no encontro das condições de existência cotidiana, específicas de uma
determinada sociedade, cultura e época (2015, p. 175).

Para Piaget, o desenvolvimento cognitivo no sujeito é uma sucessão de estágios e


subestágios:

[...] nos quais os esquemas se organizam e se combinam entre si,


formando estruturas. Tais estágios ou períodos do desenvolvimento são
assim identificados pelo autor: Sensório-motor, pré-operacional, operatório
concreto e operatório formal (MAIA, 2017, p. 48).

Bem como Piaget, Wallon divide o desenvolvimento em estágios. Para o autor, tais
estágios são:

• impulsivo emocional;
• sensório-motor e projetivo;
• personalismo;
• categorial; e
• puberdade e adolescência.

É importante frisar que Wallon não especificou idades limites para cada estágio, por
acreditar em um desenvolvimento dialético e interacionista. No entanto, é possível
estipular um tempo comum, de acordo com o que geralmente ocorre em cada faixa
etária.

11
Figura 3 - O desenvolvimento infantil.
Fonte: Plataforma Deduca (2021).
#PraCegoVer Fotografia de um bebê. Usa tip top branco. Ele sorri e segura o pé
direito.

Com base na teoria de Wallon, ao tomarmos o desenvolvimento humano, precisamos


observar, em cada estágio, quais as diferentes configurações são responsáveis pela
aquisição de novas funções e aprendizagens. Fundamentais na teoria walloniana são
os conjuntos funcionais motor, cognitivo e afetivo que descrever brevemente a seguir
para melhor compreensão de seus papéis em cada estágio proposto por Wallon.

Motor:

diz respeito às funções responsáveis pelo movimento do corpo, que permitem


seu deslocamento no espaço e no tempo, bem como o equilíbrio corporal;

Cognitivo:

relativo às funções responsáveis pela aquisição, transformação e manutenção


do conhecimento;

12
Afetivo:

corresponde à condição humana de ser afetada positiva ou negativamente


tanto por fatores internos quanto externos ao organismo.

Conforme transcorre o processo, se alternam a inteligência e a afetividade. No


primeiro ano de vida, a afetividade é a função predominante. Podemos ver isso a partir
da interação do bebê com as pessoas, em que suas manifestações estabelecem a
relação dele com o ambiente. Passada essa fase, agora na etapa sensório-motora
e projetiva, temos a predominância da inteligência. Ao começar a andar, falar e a
manipular objetos, a criança passa a voltar-se ao exterior, ou seja, ao conhecimento.
Mas reforçamos que essa alternância não significa que quando uma está dominante
a outra desapareça.

Estágio do desenvolvimento segundo Wallon e o conjunto


predominante correspondente:

Estágio do desenvolvimento segundo Wallon


• Impulsivo emocional
• Sensório-motor e projetivo
• Personalismo
• Categorial
• Puberdade e adolescência
Predomínio do conjunto
• Motor e afetivo
• Cognitivo
• Afetivo
• Cognitivo
• Afetivo

13
Conclusão
Socioconstrutivismo:

relação entre o desenvolvimento e o momento sócio-histórico.

Interação:

é a base da teoria socioconstrutivista.

Ciclo vital:

os desenvolvimentistas dividem o processo do desenvolvimento em etapas que


vão do nascimento até a morte.

Fonte: elaborada pela autora (2021)

14
Referências
MAIA, C. M. Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem. Curitiba: Intersaberes,
2017.

NOGUEIRA, M. O. G.; LEAL, D. Teorias da aprendizagem - um encontro filosófico,


pedagógico e psicológico. Curitiba: InterSaberes, 2015.

PIAGET, J. (1973). Psicologia e Epistemologia: Por uma Teoria do Conhecimento. Rio


de Janeiro: Editora Forense.

VYGOTSKY, l. S. Pensamento e linguagem (3ª ed.). São Paulo: Martins Fontes, 2003
MAIA, C. M. Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem. Curitiba: InterSaberes,
2017.

15
16

Você também pode gostar