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Professora Juliana Cintra Marques Ferreira

Desenvolvimento Humano I
juliana.marques@anhanguera.com
Unidade 1
Introdução às teorias do desenvolvimento humano
Seção 1.1
Teorias existentes sobre o desenvolvimento humano
Na Psicologia, um dos primeiros pesquisadores sobre o desenvolvimento infantil
foi Granville Stanley Hall (1844-1924), que baseava sua teoria nas ideias da evolução
humana de Darwin, acreditando que o desenvolvimento infantil era determinado
pelos aspectos inatos e biológicos.
Ele acreditava que todas as crianças percorriam as mesmas fases e características
do desenvolvimento, assim como ocorre com toda a espécie.
Sendo assim, na concepção desse pesquisador, o desenvolvimento infantil é marcado
por fases, sendo cada uma determinada por uma idade aproximada que acompanha
características específicas. Por exemplo, com 2 anos, a criança já deve falar, aos 2 anos e
meio deve ter o controle do esfíncter, etc. (BEE, 2011).
Não podemos esquecer!!!

O conceito de inato é a concepção de que algumas ideias e conhecimentos estão


presentes desde o nascimento. Em especial na Psicologia, o conceito de inato refere-
se a algo que é universal, algo que todas as pessoas já trazem ao nascerem. O inato
é uma oposição àquilo que as pessoas adquirem por meio da experiência unicamente
(BEE, 2011).
Em contrapartida a essa ideia, outro autor que teve destaque na psicologia infantil foi
John Watson (1878-1958). Ele foi um dos criadores do behaviorismo e compreendia o
desenvolvimento humano como algo em constante evolução e mudança, a depender das
influências sociais e ambientais a que a criança está submetida.
Portanto, as ideias de Watson não eram compatíveis com uma forma inata de conceber o
desenvolvimento humano.

Para ele, apesar do biológico ser importante, os grandes determinadores do


desenvolvimento são o contexto social no qual a criança está inserida e os estímulos que
lhes são oferecidos.
VAMOS REFLETIR UM POUCO AGORA

Seu modo de ser, pensar e agir foram construídos/desenvolvidos por


influência dos aspectos herdados/biológicos ou ambientais/sociais?
As antigas e densas discussões sobre desenvolvimento humano envolvem um
questionamento a respeito de sua determinação, que pode se dar por condições
biológicas ou por aspectos ambientais. Tal dicotomia ainda perdura nas nossas relações
cotidianas.
Apesar de existirem ainda muitas discussões sobre o desenvolvimento humano
como algo inato ou ambiental, a maioria dos psicólogos acredita que o
desenvolvimento infantil é determinado pela interação entre esses dois aspectos.
Na literatura, temos vários exemplos de que os aspectos biológicos e ambientais atuam
de modo inseparáveis no desenvolvimento humano, como em vários casos de crianças
criadas isoladas da cultura humana que, apesar de terem as condições biológicas
características do homem (como a fala, as emoções), não conseguem desenvolvê-las por
falta da mediação da cultura humana.
Momento deleite
Um exemplo de que o desenvolvimento humano é determinado tanto
pelas condições biológicas/inatas quanto ambientais/sociais é o caso
verídico de um garoto chamado Victor, conhecido como criança selvagem,
que foi encontrado em uma selva no sul da França em 1798 com idade
aproximada de 11 a 12 anos de idade. Victor assemelhava-se mais a um
animal do que a um ser humano: não falava, emitia apenas alguns
grunhidos, não possuía hábitos de higiene pessoal e não vestia roupas.
Victor possuía comportamentos mais parecidos aos de um animal. Apesar
de Victor ter uma condição biológica igual a toda espécie humana, seu
desenvolvimento humano foi extremamente afetado, pois não estava
inserido em uma cultura humana. Portanto, apesar dos aspectos
biológicos serem importantes para o desenvolvimento humano, isso só irá
acontecer na medida em que existir um ambiente sociocultural favorável
(PIECZOWSKI, 2016).
Portanto, o desenvolvimento deve ser compreendido como um processo
extremamente complexo, composto pelos aspectos biológicos, inatos e também
ambientais e sociais que atuam de modo concomitante e inseparável.

Partindo desse princípio, você pode se questionar: como ocorre o


desenvolvimento infantil? Quais são seus principais marcos e características? Qual
a contribuição da Psicologia para o estudo do desenvolvimento infantil?
A Psicologia, ao longo de sua construção histórica, contou com importantes
teóricos que trouxeram contribuições para compreender e explicar o desenvolvimento
da criança. A partir de diferentes perspectivas teóricas, a Psicologia conta com um
conjunto de explicações sobre o desenvolvimento infantil, representadas por diversas
linhas teóricas como: Psicanálise, Cognitiva, Histórico-Cultural, entre outras (BEE,
2011; PAPALIA; FELDMAN, 2013).
É importante que você compreenda que a presença de diversas teorias na
Psicologia se justifica pela complexidade em explicar o desenvolvimento humano,
sendo necessárias diferentes perspectivas teóricas, que irão concentrar suas
explicações em um determinado aspecto da constituição do humano,
Psicanálise

Um dos principais fundamentos desta teoria é


que o desenvolvimento humano é conduzido
por conteúdos inconscientes e conscientes.
Sigmund Freud (1856-1939), principal
representante dessa teoria, comparou o
psiquismo humano ao iceberg, utilizando-o
como metáfora para dizer que a maior parte do
iceberg, submerso na água, retrata nosso
inconsciente, enquanto a menor parte seria o
nosso consciente.
Portanto, grande parte de nossa constituição psíquica é formada por aspectos
inconscientes que influenciam nosso modo de pensar, ser e agir. O conteúdo
inconsciente é fruto de tensões que nosso psiquismo reprime por meio dos mecanismos
de defesa, uma vez que ele pode ser uma ameaça ao desenvolvimento psíquico.
Freud definiu o desenvolvimento humano em cinco estágios.
O primeiro é referente ao estágio oral (do nascimento a um ano de idade), em que a
boca é a parte mais sensível do corpo, concentrando a energia libidinal.

Em seguida, a criança segue para o estágio anal (1 a 3 anos), em que há o controle


e sensibilidade na região do ânus.
O terceiro estágio é a fase fálica (3 a 6 anos) em que a libido se encontra
centralizada nos órgãos genitais.

É na fase fálica que surgem conflitos importantes para a constituição do psiquismo,


como o complexo de Édipo e a angústia de castração.
Também há o período de latência (6 anos até a puberdade), em que os interesses
libidinais são reprimidos e concretados em outros aspectos, como o
desenvolvimento intelectual e as interações sociais.

Por fim, no estágio genital (puberdade à morte), há um amadurecimento dos


interesses sexuais característicos do mundo adulto (FREUD,1905 / 2016).
O ponto central dessa teoria é que, para o desenvolvimento infantil acontecer de
modo saudável, é necessário que a criança esteja inserida em um ambiente familiar
seguro e que tenha suas necessidades afetivas e físicas atendidas.
Cognitiva

Esta teoria centraliza sua atenção e explicação no desenvolvimento cognitivo


da criança, ressaltando a importância do ambiente como fundamental para
seu pleno crescimento psicológico.
Um de seus principais representantes é Jean Piaget (1896-1980), que teve sua
teoria bastante reconhecida na área do desenvolvimento infantil. Este teórico
identificou uma regularidade em relação ao pensamento das crianças, observando a
presença de uma mesma lógica cognitiva característica de cada fase do
desenvolvimento (PIAGET, 1959).
Portanto, a teoria de Piaget é marcada por estágios do desenvolvimento cognitivo,
sendo que cada faixa etária possui suas especificidades. Tal conhecimento é
fundamental aos profissionais que atuam com crianças, como professores e
psicólogos, pois ele contribui para o planejamento de atividades a serem
realizadas em diferenças faixas etárias.
Histórico-cultural
Lev Vygotsky (1896-1934) é considerado um dos principais representantes da
psicologia histórico-cultural e concebe o desenvolvimento humano como um
processo que acontece a partir da interação entre as bases biológicas e a mediação
da cultura. Portanto, assim como Piaget, Vygotsky também é considerado um teórico
interacionista do desenvolvimento.
Segundo o autor, o sujeito, ao nascer, é dotado de funções psicológicas elementares,
como sensação, percepção, atenção, memória, entre outras. À medida que a criança se
relaciona com o ambiente social no qual está inserida, suas funções psicológicas
começam a se desenvolver e a ganhar qualidades de superior, o que significa dizer que
as funções estão sendo autorreguladas pelo sujeito e são fontes de seus processos de
significação da realidade (VINHA; WELCMAN, 2010).
Apesar de não ter elaborado de modo sistemático as fases do desenvolvimento,
como fizeram Freud e Piaget, Vygotsky trouxe inúmeras contribuições para a
compreensão do desenvolvimento das funções psicológicas, como a linguagem, as
emoções, o pensamento, entre outras. Para ele, a linguagem é uma das principais
funções psicológicas, pela qual nos apropriamos da cultura e nos constituímos como
humanos.

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