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Desenvolvimento Humano I

Psicologia e o Desenvolvimento Humano

Crescimento X Desenvolvimento
Crescimento Desenvolvimento

Mudanças e progressos fáceis de se notar Mudanças não tão fáceis de se notar ou


ou medir (tamanho, peso). medir: progressos que integram vários
aspectos (físico, motor, mental, cognitivo,
emocional e social).

Aumento de massa. Aquisição de diferentes capacidades.

“Combustível”: Alimentação. “Combustível”: Estímulos.

Origem do conhecimento
O interesse pelo desenvolvimento humano é algo que existe desde os tempos mais
remotos. No início do século XVII, a filosofia, como uma das mais antigas formas de
conhecimento, já realizava discussões sobre aspectos pertencentes ao desenvolvimento
humano. A origem do conhecimento foi uma delas, sendo discutida a partir de duas
correntes filosóficas:
❏ Racionalismo - alguns dos filósofos representantes do racionalismo acreditavam que
muitas formas de conhecimento não são possíveis de observação e demonstração
empírica.
❏ Empirismo - por outro lado, os filósofos empiristas acreditavam que o homem era
uma tabula rasa e que todo o conhecimento era construído e adquirido pela
experiência da pessoa com o ambiente.
Na Psicologia, alguns pesquisadores trouxeram contribuições para a discussão sobre o
desenvolvimento humano. A seguir, conheça alguns deles.
❏ René Descartes - “Penso, logo existo” - René Descartes é responsável pelo
desenvolvimento do racionalismo cartesiano, segundo o qual o homem não pode
alcançar a verdade pura através de seus sentidos: as verdades residem nas
abstrações e em nossa consciência, na qual habitam as ideias inatas (1622).
❏ John Locke - acreditava que o homem era uma tábula rasa e que todo o
conhecimento era construído e adquirido pela experiência da pessoa com o
ambiente tem o sentido de "folha de papel em branco“ (1658).
❏ Granville Stanley Hall (1844-1924) - este pesquisador baseava sua teoria nas ideias
da evolução humana de Darwin, acreditando que o desenvolvimento infantil era
determinado pelos aspectos inatos, biológicos e que todas as crianças percorriam as
mesmas fases e características do desenvolvimento, semelhantes ao
desenvolvimento da espécie humana.
❏ John Watson (1878-1958) - este autor foi um dos criadores do behaviorismo e
compreendia o desenvolvimento humano como algo em constante evolução e
mudança, a depender das influências sociais e ambientais a que a criança está
submetida. Portanto, as idéias de Watson não eram compatíveis a uma forma inata
de conceber o desenvolvimento humano.
❏ Para os teóricos Ambientalistas, entre eles Skinner e Watson (do movimento
behaviorista), as crianças nascem como tábulas rasas, que vão aprendendo tudo do
ambiente por processos de imitação ou reforço.
❏ Para os teóricos Inatistas, como Chomsky, as crianças já nascem com tudo que
precisam na sua estrutura biológica para se desenvolver. Nada é aprendido no
ambiente, e sim apenas disparado por este.
❏ Para os teóricos Construcionistas, tendo como ícone Piaget, o desenvolvimento é
construído a partir de uma interação entre o desenvolvimento biológico e as
aquisições da criança com o meio.
❏ Temos ainda uma abordagem Sociointeracionista, de Vygotsky, segundo a qual o
desenvolvimento humano se dá em relação nas trocas entre parceiros sociais,
através de processos de interação e mediação.
A maioria dos psicólogos acreditam que o desenvolvimento infantil é determinado pela
interação entre condições biológicas e aspectos ambientais. Portanto, o desenvolvimento
deve ser compreendido como um processo extremamente complexo, composto por
aspectos:
❏ Biológicos;
❏ Inatos;
❏ Ambientais;
❏ Sociais.
Onde:
❏ A Psicologia do Desenvolvimento Humano estuda o comportamento do ser durante
a vida nos aspectos: intelectual, social, físico, emocional, desce o nascimento até a
idade adulta.
❏ A noção de desenvolvimento está atrelada a um contínuo de evolução, em que nós
caminharíamos ao longo de todo o ciclo vital.
❏ O meio (e por meio entenda-se algo muito amplo, que envolve cultura, sociedade,
práticas e interações) é fator de máxima importância no desenvolvimento humano.
Objetivos do Estudo do Desenvolvimento:
❏ Compreender mudanças universais;
❏ Explicar diferenças individuais;
❏ Entender influências do contexto ambiental.
Os cientistas do desenvolvimento falam de modo distinto sobre domínios do
desenvolvimento, tais como:
❏ Desenvolvimento físico,
❏ Desenvolvimento cognitivo e
❏ Desenvolvimento psicossocial.
Apesar da divisão, esses domínios estão interligados, influenciando uns aos outros por
toda a vida.
Paul B. Baltes, líder no estudo da psicologia nessa abordagem, citado por Papalia, Olds
e Feldman, identifica princípios fundamentais que servem de estrutura para estudar o
Desenvolvimento Humano. Sendo eles:
❏ O desenvolvimento é vitalício - cada período do tempo de vida é influenciado pelo
que aconteceu antes e irá afetar o que está por vir. Cada período tem suas
características próprias e um valor sem igual; nenhum é mais ou menos importante
do que qualquer outro.
❏ O desenvolvimento depende de história e contexto - cada um desenvolve-se em um
conjunto específico de circunstâncias ou condições definidas por tempo e lugar. Não
apenas respondem a seus ambientes físicos e sociais, mas interagem com eles e os
modificam.
❏ O desenvolvimento é flexível ou plástico - plasticidade significa capacidade de
modificação do desempenho. Muitas capacidades, como memória, força e
persistência, podem ser significamente aperfeiçoadas com treinamento e prática,
mesmo em idade avançada.
❏ O desenvolvimento é transdisciplinar - por isso seu estudo exige uma parceria entre
estudiosos de muitas disciplinas, incluindo psicologia, psiquiatria, sociologia,
antropologia, biologia, genética, ciência da família, educação, história, filosofia e
medicina.
O desenvolvimento infantil ocorre a partir de diferentes perspectivas teóricas, a
Psicologia conta com um conjunto de explicações sobre o desenvolvimento infantil,
representadas por diversas linhas teóricas.

Perspectivas Teóricas
❏ Psicanalítica - se concentra nas emoções;
❏ Aprendizagem - enfatiza o comportamento observável;
❏ Cognitiva - que enfatiza os processos do pensamento;
❏ Etológica - focaliza os fundamentos evolutivos do comportamento;
❏ Contextual - enfatiza o impacto do contexto social e cultural.
Psicanálise
❏ Um dos principais fundamentos desta teoria é que o desenvolvimento humano é
conduzido por conteúdos inconscientes e conscientes.
❏ Sigmund Freud (1856-1939), principal representante da Psicanálise, comparou o
psiquismo humano ao iceberg, utilizando-se como metáfora para dizer que:
A menor parte parte do iceberg, fora da água, seria o nosso consciente. A maior
parte do iceberg, submerso na água, retrata nosso inconsciente.
Portanto, grande parte de nossa constituição psíquica é formada por aspectos
inconscientes que influenciam nosso modo de pensar, ser e agir.
❏ Uma das mais importantes descobertas de Freud é a de que há uma sexualidade
infantil: o psiquismo humano forma-se a partir dos conflitos que, desde o
nascimento, não confrontam os instintos sexuais (a libido) e a realidade. Podemos
dizer que, em termos psicanalíticos, nós somos o resultado da história da nossa
infância.
❏ Divisão da Mente Humana
❏ ID - responsável pelas demandas mais primitivas e perversas. É constituído
por impulsos maioritariamente de natureza sexual e agressiva. É primitiva,
amoral e não tem consciência da realidade. Funciona sob o princípio do
prazer.
❏ Ego - permanece entre ambos, alternando nossas necessidades primitivas e
nossas crenças éticas e morais. É a instância na que se inclui a consciência.
Um eu saudável proporciona a habilidade para adaptar-se à realidade e
interagir com o mundo exterior de uma maneira que seja cômodo para o id e
o superego.
❏ Superego - interiorização de proibições sociais, produz angústias,
ansiedades e castiga o ego quando este aceita impulsos vindo do ID.
Cognitiva
❏ Esta teoria centraliza sua atenção e explicação no desenvolvimento cognitivo da
criança, ressaltando a importância do ambiente como fundamental para seu pleno
crescimento psicológico.
❏ Jean Piaget (1896-1980), um dos principais representantes da teoria cognitiva,
identificou uma regularidade em relação ao pensamento das crianças, observando a
presença de uma mesma lógica cognitiva característica de cada fase do
desenvolvimento.
Histórico-Cultural
❏ Lev Vigotski (1896-1934), um dos principais representantes da Psicologia
Histórico-Cultural, que concebe o desenvolvimento humano como um processo que
acontece a partir da interação entre as bases biológicas e a mediação da cultura.
❏ Segundo Vinha e Welcman (2010), para Vigotski, é na relação da criança com a
cultura que suas funções psicológicas se desenvolvem, ou seja, superam sua
condição inata, biológica e assumem qualidades de funções psicológicas superiores.
❏ Vigotski (1997) também contribuiu para a compreensão do desenvolvimento humano
de crianças que apresentam algum tipo de deficiência cognitiva ou física. Para ele, o
ser humano, na presença de alguma deficiência, desenvolve o que ele chamou de
mecanismos de compensação (são mecanismos responsáveis por garantir um
desenvolvimento saudável à criança.)

Principais Teorias Sobre o Desenvolvimento Humano


❏ O Desenvolvimento Psicossexual - Sigmund Freud.
❏ O Desenvolvimento Psicossocial - Erik Erikson.
❏ O Desenvolvimento Cognitivo - Jerome Bruner.
❏ O Desenvolvimento Cognitivo e Moral - Jean Piaget.
❏ O Desenvolvimento Moral - Lawrence Kohlberg.
❏ A Psicogênese da Pessoa Completa - Henri Wallon.
❏ A Perspectiva Sociohistórica do Desenvolvimento - Lev Vygotsky.
❏ O modelo Bioecológico do Desenvolvimento - Urie Bronfenbrenner.

Períodos do Desenvolvimento Humano


❏ Pré-natal - da concepção ao nascimento;
❏ Primeira infância - do nascimento aos 3 anos;
❏ Segunda infância - dos 3 aos 6 anos;
❏ Terceira infância - dos 6 aos 11 anos;
❏ Adolescência - dos 11 aos 20 anos;
❏ Jovem adulto - dos 20 aos 40 anos;
❏ Meia idade - dos 40 aos 65 anos; e
❏ Terceira idade - após os 65 anos.

Fases Psicossexual
❏ Fase Oral - de 0 a 1 ano aproximadamente. É pela boca que a criança entra em
contato com o mundo, é por esta razão que a criança pequena tende a levar tudo o
que pega à boca. O principal objeto de desejo nesta fase é o seio da mãe, que além
de alimentar proporciona satisfação ao bebê.
❏ Fase Anal - de 2 a 4 anos aproximadamente. Neste período a zona de erotização é
o ânus e o modo de relação do objeto é de "ativo" e "passivo", intimamente ligado ao
controle dos esfíncteres (anal e uretral). Este controle é uma nova fonte de prazer.
❏ Fase Fálica - de 4 a 6 anos aproximadamente. Nesta etapa do desenvolvimento a
atenção da criança volta-se para a região genital. Inicialmente a criança imagina que
tanto os meninos quanto as meninas possuem um pênis, por exemplo. Ao serem
defrontadas com as diferenças anatômicas entre os sexos, as crianças criam as
chamadas "teorias sexuais infantis", imaginando que as meninas não tem pênis
porque este orgão lhe foi arrancado.
❏ Latência - 6 anos até a puberdade. Está é uma fase da vida em que não há
localização física da libido. A libido está energizando atividades que vincula o corpo
e a mente da criança ao ambiente que a cerca. É quando os jogos, as brincadeiras,
os esportes e as atividades escolares passam a desempenhar papel mais relevante
na vida infantil.
❏ Fase Genital - puberdade à morte. A partir dos 11 anos. Este período tem início com
a adolescência, há uma retomada dos impulsos sexuais, o adolescente passa a
buscar em pessoas fora de seu grupo familiar um objeto de amor.

Do Nascimento à 3ª Infância

Processo de Desenvolvimento Humano


❏ Inicia-se desde o momento em que o óvulo é fecundado.
❏ Durante o período gestacional, muitas são as modificações e evoluções biológicas e
fisiológicas que ocorrem tanto no organismo do bebê quanto no da mãe, como o
desenvolvimento nas sinapses cerebrais, o desenvolvimento dos órgãos, dentre
outros (PAPALIA; FELDMAN, 2013).
❏ O período de gestação dura 40 semanas em média, podendo ser prorrogado por
mais algum tempo.
❏ Nos casos em que o nascimento ocorre com menos de 37 semanas completas, o
bebê é considerado pré-termo e requer cuidados especiais.
❏ Quando o nascimento ocorre 42 semanas completas ou mais, o bebê é considerado
pós-termo e também requer cuidados específicos.
❏ Período neonatal : O intervalo de tempo que vai do nascimento até quatro semanas
de vida. Referindo-se à adaptação do bebê à vida fora do útero materno. Isso
porque todas as necessidades do feto eram satisfeitas pelo corpo da mãe e, após o
nascimento, a circulação sanguínea, a respiração, a nutrição, a eliminação de
resíduos e a regulação da temperatura corporal precisam ser realizadas pelo próprio
bebê.
❏ Dois princípios que caracterizam seu crescimento, denominados: céfalo caudal e
próximo-distal.
❏ Cefalocaudal : refere-se ao desenvolvimento físico que ocorre da direção de
“cima para baixo”, ou seja, do crânio em direção às extremidades inferiores
do corpo. Na criança pequena, o cérebro cresce rapidamente e a cabeça
torna-se proporcionalmente maior do que as demais partes do corpo. O
mesmo acontece com o desenvolvimento sensorial e motor, em que a
criança primeiramente aprende a usar as partes superiores do corpo (como
as mãos), para somente depois conseguir controlar e usar os membros
inferiores (pernas e pés).
❏ Próximo-distal: refere-se ao movimento do desenvolvimento que ocorre na
direção de “dentro para fora”, em que o crescimento parte das regiões
centrais do corpo em direção às extremidades. Um exemplo disso é o
controle primeiramente do pescoço para, em seguida, controlar os braços e
as mãos (PAPALIA; FELDMAN, 2013).
Nascimento até 6 O bebê se expressa pelo choro e movimentos arbitrários do corpo.
semanas de vida.

6 a 12 semanas O bebê já é capaz de balbuciar e expressar sorrisos, começando a


de vida. responder e interagir com os estímulos do ambiente.

5 a 6 meses. O bebê é capaz de reconhecer alguns sons que ouve frequentemente.

6 a 10 meses. O bebê consegue balbuciar algumas consoantes e vogais ("dá", "pá").

10 a 12 meses. O bebê utiliza gestos para se comunicar, imita alguns sons e reproduz
alguns gestos sociais (como mandar beijo, dar “tchau”).

12 a 14 meses. A criança já é capaz de falar suas primeiras palavras, ainda que de modo
isolado (“água”, “mamãe”, etc.).

16 a 24 meses. A criança aprende a formular frases, amplia sua comunicação


gestual,utiliza verbos e adjetivos.
3 anos. A criança já é capaz de falar com maior fluidez e compreender tudo o que
lhe é dito, podendo cometer alguns pequenos erros na construção da frase.
Contexto Social
❏ Os pais, familiares, e cuidadores constituindo-se como atores principais do
desenvolvimento da criança, que irá imitá-los e se apropriar dos valores,
comportamentos e atitudes que a rodeiam.
❏ A criança copia o gesto ou a palavra do adulto para somente depois captar e se
apropriar de seu significado.
❏ Capacidade de perceber os objetos e a criança descobre que eles têm sua própria
existência, movimento e efeito. Ela aprende que, ao jogar um objeto, ele fará
barulho, quebrará, etc.
❏ Noção de permanência do objeto, ou seja, passa a compreender que, mesmo fora
de seu campo de visão, ele ainda existe, (PAPALIA; FELDMAN, 2013).
❏ Angústia de separação: No momento em que figuras afetivas que lhe são
importantes (como a mãe ou pai) saem de seu campo de percepção visual, ela
reage com choros intensos e sentimento de angústia; quando tal figura reaparece,
geralmente reage com uma felicidade radiante.

Primeira Infância - 0 a 3 anos


Permanência do Objeto 18 a 24 meses - a criança passa a compreender que, mesmo
fora de seu campo de visão, o objeto existe. Ao longo do desenvolvimento cognitivo, a
criança passa a ser capaz de entender que o objeto ainda continua existindo, mesmo longe
de sua percepção.
Cérebro e o Comportamento Reflexo - o que faz o recém-nascido responder ao mamilo?
O que o induz a começar os movimentos de sucção que lhe permitem controlar a ingestão
de líquidos? Essas funções pertencem ao sistema nervoso central - o cérebro e a medula
espinhal (um feixe de nervos que percorre a coluna vertebral) e a uma rede periférica
crescente de nervos que se estende a todas as partes do corpo. Por intermédio dessa rede,
mensagens sensoriais seguem para o cérebro e comandos motores voltam como resposta.
Como a permanência do objeto se desenvolve? Piaget sugeriu que havia seis sub
estágios que ocorrem durante o estágio sensório-motor do desenvolvimento.
❏ Nascimento à um mês - Reflexos - durante a primeira parte do estágio
sensório-motor, reflexos são a principal forma que as crianças têm para
compreender e explorar o mundo.
❏ Um a quatro meses - Desenvolvimento de Novos Esquemas (estruturas cognitivas
que representam conceitos e aspectos da realidade) - reações circulares primárias
levam a formação de novos esquemas. Um bebê pode acidentalmente chupar o
polegar e perceber que é agradável. Ele, então, repete a ação, porque ele acha
agradável.
❏ Quatro a oito meses - Ações Intencionais - Em torno de quatro a oito meses, as
crianças começam a dar muito mais atenção ao mundo ao seu redor. Elas vão até
mesmo executar ações para criar uma resposta. Piaget se refere a isso como
reações circulares secundárias .
❏ Oito a doze meses - Maior Exploração - entre oito e doze meses, ações intencionais
se tornam muito mais evidentes. Bebês vão balançar brinquedos para produzir sons
e as suas respostas ao ambiente tornam-se mais coesas e coordenadas.
❏ 12-18 meses - Tentativa e Erro - reações circulares terciárias aparecem durante a
quinta etapa. Estes envolvem tentativa-e-erro, e as crianças podem começar a
realizar ações para ganhar a atenção dos outros.
❏ 18-24 meses - Permanência do Objeto Emerge - Piaget acreditava que o
pensamento representacional começa a surgir entre 18 e 24 meses. Neste ponto, as
crianças se tornam capazes de formar representações mentais de objetos. Elas
podem simbolicamente imaginar coisas que não podem ser vistas, e agora são
capazes de compreender a permanência do objeto.
Segunda Infância – 3 a 6 anos
Desenvolvimento Cognitivo - o desenvolvimento da memória; capacidade de lembrar os
eventos que aconteceram; da temporalidade; da compreensão sobre a temporalidade dos
fenômenos.
Desenvolvimento da Fala - capacidade de se apropriar de palavras novas, compreensão
de ironias da fala, de contradições de discurso e de comparações.
Desenvolvimento Físico e Motricidade - período de sono menor; habilidades motoras
amplamente desenvolvidas; habilidades motoras finas, como pegar e manusear objetos
pequenos, desenhar e se vestir.
❏ Ampliam-se, de modo significativo, suas interações sociais.
❏ Nesse período, ela já não tem somente a família como contexto de interação, pois a
escola e as relações com outras crianças e adultos passam a ter um papel de
extrema importância nesta fase do desenvolvimento (PAPALIA; FELDMAN, 2013).
❏ Na segunda infância, o desenvolvimento da cognição ganha um salto significativo,
como o desenvolvimento da memória, em que a criança já é capaz de lembrar os
eventos que aconteceram; sua percepção é ampliada à medida que consegue
compreender a temporalidade dos fenômenos (ontem, hoje, amanhã), além do
desenvolvimento significativo de seu pensamento sobre o mundo. Este período é
caracterizado pelas fases do “por quê?”, pois a criança indaga constantemente o
adulto sobre os fenômenos da realidade.
❏ Bastante ativa fisicamente, tendo em vista que seu período de sono é menor e suas
habilidades motoras como correr, saltar, pular são amplamente desenvolvidas.
❏ Nesta fase, perdem-se as características físicas comumente encontradas na
primeira infância: barriga grande e forma roliça, dando lugar ao aspecto magro, com
braços e tronco longos.
❏ Desenvolvimento de habilidades motoras finas, como pegar e manusear objetos
pequenos, desenhar e se vestir. Também é nesse período que se define a
lateralidade manual, isto é, a preferência por usar a mão esquerda ou direita.
Terceira Infância - 6 a 11 anos
Desenvolvimento Social - Ampliação de vínculos e interações sociais da criança. Jogos e
brincadeiras tornam-se ainda mais presentes, funcionando como recursos para o processo
de aprendizagem de valores e autoconhecimento.
❏ O processo de escolarização permite que a criança interaja com diferentes adultos e
crianças, defrontando-se com situações que exigem o desenvolvimento de seus
valores, emoções e cognição, favorecendo a percepção de diferenças sociais, como
em relação à cor da pele, nível socioeconômico, etnia, entre outros parâmetros de
distinção da nossa sociedade.
❏ O desenvolvimento físico ocorre mais lentamente
❏ Ampliam-se ainda mais os vínculos e interações sociais da criança, que passa a
participar com maior frequência de atividades de lazer e esportes. Nesta fase, os
jogos e brincadeiras tornam-se ainda mais presentes e podem ser utilizados como
excelentes recursos para o processo de aprendizagem de valores e
autoconhecimento, sendo bastante utilizados nas práticas pedagógicas (PAPALIA;
FELDMAN, 2013).

Marcos do Desenvolvimento a Serem Observados


1 Mês
❏ Acompanha objeto luminoso.
❏ Tranqüiliza-se ao ouvir a voz humana.
2 Meses
❏ Sorri em resposta a rosto humano.
❏ Apresenta choro variado, conforme as situações (fome, dor, necessidade de
atenção, etc.)
❏ Sustenta a cabeça (deitada de bruços).
4 Meses
❏ Inicia o balbucio.
❏ Começa a pegar objetos voluntariamente.
❏ Vira-se em direção ao ruído.
❏ Deitado de bruços segura bem a cabeça e o tronco apoiando-se nas mãos.
6 Meses
❏ Senta com apoio.
❏ Produz barulho batendo em objetos (tambor, panela, lata, etc.)
❏ Toca diversas partes do próprio corpo.
9 Meses
❏ Imita gestos e linguagem (tosse, estalidos).
❏ Inicia o engatinhar.
❏ Estranha pessoas desconhecidas.
❏ Segura bem objetos, passa-os de uma mão para outra.
1 Ano
❏ Anda com apoio, podendo dar os primeiros passos sem apoio.
❏ Fala 2 palavras.
❏ Encaixa e desencaixa objetos.
❏ Entende ordens simples (me dá, vem cá).
1 Ano e 6 Meses
❏ Anda bem e corre.
❏ Associa 2 palavras.
❏ Começa a segurar a colher para comer.
❏ Aponta pelo menos 5 partes do corpo.
2 Anos
❏ Salta com os dois pés, sobe degraus com apoio.
❏ Fala várias palavras e pequenas frases.
❏ Rabisca livremente.

Características do Pós Nascimento


❏ Inicia-se desde a fase intrauterina, em que a mãe é a principal fonte de alimento e
de sobrevivência.
❏ Ao nascer e nos primeiros meses de vida, muito são os desafios enfrentados pelo
bebê, que agora precisa desenvolver recursos para sanar suas necessidades
físicas, alimentares e afetivas.
❏ Nos primeiros meses, o choro do bebê é seu principal instrumento de comunicação
e interação entre as pessoas.
❏ Portanto, o choro nunca deve ser compreendido como “algo sem importância” ou
“que a criança faz isso sem motivo”. Muitas vezes, o choro nesta fase pode ser uma
manifestação de angústia de separação, fome, necessidade de afeto, colo, entre
outros inúmeros fatores.

Mortalidade Infantil
❏ Mortes por zika : Desde 2015, Brasil teve 351 mortes de fetos, bebês e crianças
associadas ao vírus,da zika, mostrou último boletim do ministério, com dados
coletados até 14 de abril de 2018.
❏ Já a taxa de mortalidade na infância - indicador que aponta a probabilidade de um
recém-nascido não completar os cinco anos de idade - também recuou. Em 2016, de
cada 1 mil nascidos vivos, 15,5 crianças não completavam cinco anos de idade. Em
2017, a taxa passou a 14,9 por mil, um declínio de 3,9% em relação ao ano anterior.
❏ Principais motivos estão: a falta de assistência e de orientação às grávidas, a
deficiência na assistência hospitalar aos recém-nascidos, a ausência de saneamento
básico (desencadeando a contaminação de alimentos e de água, resultando em
outras doenças) e desnutrição.
❏ As menores taxas de mortalidade infantil são dos países desenvolvidos – Finlândia,
Islândia, Japão, Noruega e Suécia (3 mortes a cada mil nascidos). As piores médias
são dos países pobres, especialmente das nações africanas e asiáticas. O
Afeganistão apresenta a incrível média de 154 óbitos por mil nascidos vivos.
❏ No Brasil, assim como na maioria dos outros países, essa taxa está reduzindo a
cada ano. Conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
a mortalidade infantil no Brasil segue em declínio. Em uma década (1998 – 2010)
passou de 33,5 crianças mortas por mil nascidas vivas para 22.

Conceitos Importantes​ - Papalia e Feldman(2013)


❏ Período Neonatal :Primeiras quatro semanas de vida;
❏ Tamanho e aparência: recém nascido mede em média 50 cm e 3,5 kg a Termo;
❏ Características: cabeça grande, queixo recuado para facilitar a amamentação;
A cabeça do neonato pode ser alongada e malformada, por causa da modelagem ao
nascer, os ossos do crânio ainda não se fundiram, isso acontecerá até o 18º mês.
Fontanelas são pontos cobertos por membrana rígida;
❏ Verniz caseoso: vernix, proteção gordurosa, depois aparece uma pele ressecada,
secreção que vaza dos mamilos e genitais inchados (dentro da normalidade);
❏ Anóxia: caso a respiração não comece em até 5 minutos após o parto – danos
cerebrais;
❏ Hipóxia: redução no fornecimento de oxigênio;
❏ Icterícia neonatal: Pele e globo ocular amarelados, após o 3º ou 4º dia de
nascimento,causada por imaturidade do fígado pode causar danos cerebrais;
❏ Natimorto: nascimento e morte – em geral na 20ª semana de gestação ou no
trabalho de parto;
❏ Avaliação clínica comportamental : importante na Anamnese – Escala de Apgar

Escala de Apgar

❏ É um dos métodos mais utilizados para a avaliação imediata do recém-nascido (RN),


sendo realizado, principalmente, no primeiro e o quinto minutos de vida. O exame
avalia 5 aspectos:
❏ Aparência (cor);
❏ Pulso (frequência cardíaca);
❏ Gesticulação/ Expressão(Reflexos);
❏ Atividade (tônus muscular); e
❏ Respiração.
❏ Leva o nome da Drª Virgínia Apgar(1953).
❏ Uma pontuação de 5 a 7 significa que o bebê precisa de auxílio para respirar e
abaixo de 4 precisa de recursos rapidamente.

Capacidades Sensoriais Iniciais


❏ Tato e dor: capacidade de percepção de Dor pode surgir no primeiro trimestre da
gestação;
❏ Olfato e paladar: começam a desenvolver no útero, leite materno adocicado,
preferência por paladar nos primeiros meses podem durar por toda a segunda
infância;
❏ Audição: é funcional no útero; com três dias podem identificar sons rotineiros;
❏ Visão: neonatos – 30 cm; dobra entre a 2ª e 10ª semana e aos 3 meses já está bem
desenvolvida;

Jean Piaget (1986-1980) - Construtivismo


"Professor não é o que ensina, mas o que desperta no aluno a vontade de aprender."
"O principal objetivo da educação é criar pessoas capazes de fazer coisas novas e não
simplesmente repetir o que as outras gerações fizeram."

Etapas do Desenvolvimento Cognitivo e Suas Principais Características, Segundo a Teoria


Piagetiana
❏ Teoria: Construtivismo no século XX
❏ Sir Jean William Fritz Piaget - Suíça, 1986 – 1980 (84 anos)
❏ Biólogo, Psicólogo e Epistemólogo, Suíço, considerado o maior expoente do estudo
do comportamento infantil.
❏ A teoria de Piaget ficou conhecida como uma Epistemologia Genética -
Epistemologia = episteme, palavra de origem grega, que tem como significado o
termo "conhecimento". Em latim significa cognitio que é o conhecimento. Algo que
pode ser conhecido é cognoscível. Neste caso, a faculdade ou a capacidade de
conhecer. Genética = refere-se à origem, à hereditariedade.
❏ Estudou inicialmente biologia. Foi professor de psicologia na Universidade de
Genebra (1929 a 1954) e ficou conhecido principalmente por organizar o
desenvolvimento cognitivo em uma série de estágios.
❏ A teoria piagetiana "[... ] é uma teoria epistemológica. Produzida por um biólogo de
formação. Psicólogo por necessidade e epistemólogo por interesse central".
❏ “Professor não é o que ensina, mas o que desperta no aluno a vontade de
aprender.”
A obra de Piaget trata do desenvolvimento da inteligência e do conhecimento humano,
visando responder a seguinte questão: como os homens constroem o conhecimento?
❏ O conhecimento não é uma cópia da realidade. Conhecer um objeto ou um
acontecimento não é simplesmente olhar e realizar uma cópia mental. Para
conhecer um objeto é necessário agir sobre ele, transformando-o de forma a que se
possa compreender o modo como ele é construído e qual é sua funcionalidade.
❏ Piaget constatou que o modo como o sujeito conhece a realidade se modifica ao
longo do desenvolvimento humano. Para chegar a essa conclusão, Piaget utilizou
em suas pesquisas crianças de diferentes faixas etárias.
Piaget questionava:
❏ As teses que afirmam ser o conhecimento de origem inata;
❏ O conhecimento ser fruto de estimulações do mundo externo, como se o
conhecimento fosse uma cópia da realidade.
Os Estágios do Desenvolvimento Humano
Piaget considera 4 estágios/estádios no processo evolutivo da espécie humana que são
caracterizados "por aquilo que o indivíduo consegue fazer melhor" no decorrer das diversas
faixas etárias ao longo do seu processo de desenvolvimento (Furtado, 1999). São eles:
❏ Sensório-motor (0 a 24 meses)
❏ Fase onde alguém entra em contato com tudo aquilo que o cerca, com o
mundo, dando-se conta de seus movimentos e desenvolvendo a percepção.
❏ Neste momento há a diferenciação entre aquilo que é do indivíduo e do
mundo ao redor deste.
❏ Dentro do mundo afetivo essa diferenciação também existe, há uma
transição entre as emoções primárias (como o medo) para a afinidade com
objetos ou até pessoas. Isso se dá por volta dos 2 anos de idade, com
atitudes participativas e ativas.
A inteligência sensório-motora:
❏ Durante este estágio, o comportamento é basicamente motor.
❏ A criança não representa eventos internamente e não “pensa”
conceitualmente.
❏ Grandes mudanças ao longo deste estágio.
❏ Inicia-se com comportamentos puramente reflexos e chega o
desenvolvimento da fala (representação simbólica).
❏ Ocorre o desenvolvimento do conceito de objeto; conceito de causalidade; e
afeto.
❏ Pré-operatório (2 a 6/7 anos)
❏ Início do desenvolvimento da linguagem, o que afetará o intelecto e as
relações sociais.
❏ No primeiro momento, o mundo interior ainda tem poder maior na criança em
relação às ações cooperativas com outros indivíduos.
❏ Mas aos poucos surgem os primeiros sentimentos às outras pessoas.
❏ A maturação neurofisiológica se completa, promovendo novas habilidades,
tal como a coordenação motora fina.
A representação pré-operatória:
❏ Desenvolvimento de habilidades conceituais, representacionais e da
socialização do comportamento. Possui a capacidade de representar uma
coisa por outra (esquemas simbólicos). Representa objetos e eventos que
não estão presentes no ambiente, representa em forma de sons, imagens e
figuras mentais. Entende que os objetos podem existir sem que se possa
vê-los.
❏ Perspectiva egocêntrica – vê a realidade da forma que a afeta. Julgamento
altamente dependente da percepção imediata.
❏ Uso da linguagem (escrita e fala), desenhos, jogos, símbolos, imitações e
imagens mentais.
❏ Mistura entre realidade e fantasia.
❏ O comportamento cognitivo é influenciado pelas atividades motora.
❏ Operações concretas (6/7 a 11 anos)
❏ Momento no qual a criança poderá fazer parte do processo de aprendizagem
sistêmico.
❏ No campo dos relacionamentos e afeições, surge a habilidade de trabalhar
com as outras pessoas e ainda manter a autonomia.
❏ À esta altura começam a ser desenvolvidos o companheirismo, o senso de
justiça, as vontades e o respeito pelos indivíduos.
As operações concretas:
❏ Durante este estágio, a criança desenvolve processos de pensamento lógico
(operações) que podem ser aplicadas a problemas reais (concretos).
❏ Não apresenta problemas com conservação de mensagens na mente e
apresenta argumentos corretos para suas respostas.
❏ Decisões lógicas ao invés de decisões perceptuais. Realidade estruturada
com a razão.
❏ Flexibilidade mental, entende regras.
❏ Consegue classificar o tamanho das coisas.
❏ Acompanha as transformações e alcança a reversibilidade das operações
mentais. Aquisição da noção de conservância/invariância (reversibilidade).
❏ Menos egocêntrica e a fala é empregada com o fim básico da comunicação.
❏ Aperfeiçoamento dos conceitos de causalidade, tempo, espaço, velocidade.
❏ Operações formais (12 anos em diante) -
❏ Ele passa a buscar hipóteses gerais que possam explicar fatos observáveis.
❏ É capaz de pensar sobre seus próprios pensamentos e sentimentos, como
se fossem objetos.
❏ O raciocínio formal vai além das observações
❏ Período caracterizado pela contestação de absolutamente tudo. As crianças
começam a criar suas próprias teorias sobre o universo, principalmente
acerca de coisas que gostariam de reformar.
❏ Gradualmente aparece o avanço das capacidades de generalização e a
abstração.
❏ Piaget diz que a personalidade começa a ser formada durante o final da
Infância, entre os 8 e 12 anos de idade, com a organização autônoma das
regras e a afirmação da vontade.
❏ Do ponto de vista emocional - o adolescente ainda manifesta um último tipo
de egocentrismo: atribui grande poder a si e ao próprio pensamento. Muitas
vezes julga que somente ele está certo.
❏ Obs 1: Estágio: passou a designar todo período de aprendizagem ou treinamento
em uma profissão.
❏ Obs 2: Estádio: período, fase, época. No sentido de período, fase, o termo foi
incorporado à linguagem médica para designar o curso de uma doença ou as etapas
de um fenômeno.
❏ Obs 3: Essas etapas não devem ser consideradas como momentos etários rígidos e
sim aproximadas.
A Formação da Personalidade
❏ O desenvolvimento cognitivo e o afetivo caminham juntos ao longo de todo o
processo evolutivo do indivíduo.
❏ Muitos fatores devem ser levados em conta para compreendermos a “crise da
adolescência”. Entre eles, fatores intelectuais e afetivos.
❏ Na adolescência predominam os sentimentos idealistas e o egocentrismo.
❏ No entanto, há outros fatores que interferem nas manifestações e duração da
adolescência, tais como fatores culturais e sociais, que não são contemplados pela
teoria de Piaget.
Abordagem Piagetiana
❏ O desenvolvimento cognitivo - assenta no desenvolvimento biológico, a inteligência
é construída sobre um equipamento biológico inato e desenvolve-se numa
sequência pré-determinada.
❏ Descreve o desenvolvimento cognitivo = Estágios.
❏ É um processo ativo e interativo, construído pelo sujeito em interação contínua com
o meio.
❏ O núcleo do comportamento inteligente estaria numa capacidade inata de
adaptar-se ao ambiente.
❏ A inteligência vai mudando profundamente ao longo do desenvolvimento.
❏ O sujeito passa por períodos de reorganização profunda seguidos de períodos de
integração, durante os quais um novo estádio é alcançado e as mudanças são
assimiladas.
❏ A cada estádio de desenvolvimento corresponde um sistema cognitivo específico,
que determina todo o funcionamento do sujeito.
❏ Cada estádio resulta do anterior e prepara o seguinte.
❏ Em cada estágio a criança desenvolve uma nova maneira de pensar/responder ao
ambiente = esse desenvolvimento ocorreria por meio de três princípios que estão
inter-relacionados:
❏ Organização,
❏ Adaptação e
❏ Equilibração.
❏ Conceitos da Biologia para explicar o Desenvolvimento Humano: Esquema e
Adaptação
Esquema e Adaptação
❏ Esquemas: estruturas cognitivas que representam conceitos e aspectos da
realidade. Na criança pequena, a cada novo aprendizado, novos esquemas mentais
são criados. Bebê recém-nascido ao exercitar seus reflexos hereditários começa a
relacionar o contexto no qual o reflexo é aplicado com a situação alcançada por ele,
dando origem aos esquemas.
❏ Adaptação: modo como lidamos com as novas informações. A função adaptativa é
constituída por dois processos distintos e um objetivo:
❏ Assimilação: Incorporação de novas experiências à estrutura mental que vem
alterar a estrutura cognitiva. Quando o organismo, sem alterar-se, procura
significados a partir de experiências anteriores para compreender esse novo
conflito por conta dessa nova interação.
❏ Acomodação: é responsável pela reorganização das estruturas cognitivas.
Quando o organismo tenta restabelecer o equilíbrio com o meio através de
sua própria transformação. Responsável pela reorganização das estruturas
cognitivas.
❏ Equilibração: busca constante de equilíbrio, entre a criança e o mundo
exterior e entre as próprias estruturas cognitivas da criança. Desequilibrar é
preciso para o domínio de um novo conhecimento. (Desequilíbrio novas
situações; desafios; conflitos…)
Aspectos do Desenvolvimento Cognitivo
❏ Aspecto psicológico / espontâneo - Piaget, enfatiza que este aspecto se configura
por aquilo tudo que a criança aprende por si mesma na sua relação com o ambiente
e lança mão de seus sentidos inatos para estabelecer essa relação com o mundo ao
seu redor.
❏ Aspecto psico-social - Piaget, enfatiza que este aspecto é representado por tudo
aquilo que a criança aprende por transmissão a partir do outro.
Abordagem do Processamento de Informação
❏ Reações Circulares - quando o bebê aprende a reproduzir eventos agradáveis ou
interessantes descobertos ao acaso.
❏ Capacidade de Representação - capacidade de representar mentalmente objetos e
ações na memória (18 a 02 anos) capacidade de representação, dramatização ou
fingimento.
❏ Habituação - familiaridade com um estímulo. Aprendizagem em que a exposição
repetida e contínua a um estímulo reduz a atenção a esse estímulo. A repetição gera
perda de interesse.
❏ Desabituação - resposta a um novo estímulo.
A Representação e o Jogo na Perspectiva de Piaget
Brincar no Desenvolvimento Cognitivo e Moral em seus Diferentes Estágios de
Desenvolvimento.
Questionamentos:
1. Quais seriam os principais fundamentos teóricos que sustentam sua prática
utilizando jogos e brincadeiras com as crianças?
2. Quais os tipos de atividades mais favoráveis a cada fase de desenvolvimento da
criança?
Brincar
❏ Em diversas sociedades do mundo, o brincar é a atividade típica da infância e uma
das principais formas de interação com a realidade circundante.
❏ É por meio do brincar que a criança conhece os objetos, se apropria dos papéis
sociais e amplia seu pensamento.
O brincar encontra-se presente na criança desde muito cedo, sendo observável já no
bebê em estágio sensório-motor.
❏ Nesta fase, a criança brinca com o objeto manuseando-o, colocando-o na boca,
experimentando suas reações e funcionalidades (apertando botões ou jogando no
chão, por exemplo).
❏ Ao longo do desenvolvimento e da ampliação das possibilidades cognitivas da
criança, as brincadeiras vão se tornando complexas, envolvendo níveis
representacionais mais elaborados, como nas brincadeiras de ”faz de conta”, em
que a criança interpreta determinado personagem colocando-se no lugar de outra
pessoa, aprende a jogar a partir de regras, elabora desenhos, entre muitas outras
formas de brincadeiras.
❏ Portanto, para Piaget as diversas formas de brincar encontram-se extremamente
relacionadas aos estágios de desenvolvimento da inteligência, sendo que, quanto
maior a complexidade cognitiva da criança, mais complexas serão suas
brincadeiras.
❏ Para Piaget, é por meio das brincadeiras que a criança desenvolve novos esquemas
mentais, adaptando-se à realidade por meio de processos de assimilação e
acomodação .
O papel do jogo e da imitação no desenvolvimento da criança
Para descrever a importância do brincar no desenvolvimento da inteligência e seu
processo de evolução na criança, Piaget cita dois fundamentos que caracterizam tal
atividade: a imitação e o jogo. Ambos processos se constituem como fontes importantes de
adaptação da criança ao meio, objetivado pelo movimento de assimilação e acomodação
que caracteriza o desenvolvimento cognitivo da criança.
Para Piaget, na imitação, evidencia-se o processo de acomodação, em que novas
estruturas cognitivas são desenvolvidas, enquanto que, no jogo, evidencia-se o processo de
assimilação, visto que a criança associa um novo elemento a algo que já conhece.
Ainda segundo o autor, a criança na relação com alguma atividade desconhecida, em
que não há nenhum esquema mental formado que permitiria a assimilação, tenta imitar
determinado comportamento. O processo de imitação pode acontecer tanto no momento em
que a criança vivencia a experiência quanto em um momento posterior. Portanto, a imitação
pode estar associada tanto a situações passadas quanto presentes.
O Jogo ⇨ Assimilação
Piaget faz uma classificação com relação aos jogos nos quatro estágios de
desenvolvimento da criança – sensório-motor, pré-operatório, operatório-concreto e
operatório-formal.
Com relação ao estágio sensório-motor (0 a 2 anos), a característica principal é o jogo de
exercício, relacionado ao puro prazer associado aos objetos. O jogo, nesta fase do
desenvolvimento, relaciona-se ao manuseio de objetos, investigando suas ações e reações
no mundo.
No período pré-operatório (2 a 7 anos), a criança passar a usar símbolos, que se referem
à utilização de objetos para representar situações. Neste sentido, nesse estágio, há a
presença de brincadeiras de ”faz de conta” em que a criança utiliza objetos para simbolizar
uma situação. Por exemplo, a criança, ao utilizar um cabo para representar um cavalo,
apresenta uma forma de brincadeira diferente do estágio anterior, em que a capacidade
representacional já se encontra presente.
Nos estágios seguintes, referentes ao pensamento operatório (estágio
operatório-concreto (7 a 11 anos) e operatório-formal (11 ou 12 anos até…)), o jogo de
regras vai substituir o símbolo. Neste estágio mais avançado, o jogo envolve atividades de
atenção, concentração e raciocínio. Nota-se que a criança já é capaz de brincar com jogos
envolvendo regras, como é o caso dos jogos de tabuleiro.
IMITAÇÃO JOGO
⇩ ⇩
Na imitação, evidencia-se o No jogo, evidencia-se o processo
processo de acomodação, de assimilação, visto que a criança
em que novas estruturas associa um novo elemento
cognitivas são desenvolvidas. a algo que já conhece.
Piaget destaca três tipos de jogos:
❏ Jogo de exercício (0 a 1 ano e meio de idade): também denominado de jogos
sensório-motores. Aparece no primeiro período do desenvolvimento da criança,
voltado à atividade sensório-motora. A motivação, relacionada a este tipo de jogo,
volta-se para o prazer funcional ou produzido pela tomada de consciência de sua
nova habilidade. O jogo de exercício tende a ser diminuído quando não mais
oportuniza nenhuma aprendizagem ou desenvolvimento na criança.
❏ Jogo simbólico (2 anos à 6 anos de idade): aparece no final dos dois anos de idade,
com o surgimento da função simbólica (representação de um objeto ausente). No
jogo simbólico, a criança finge ser outra pessoa, atribui novas funções a objetos ou
imagina-se em alguma situação.
❏ Jogo de regra: aparece a partir dos 7 anos de idade, quando a criança supera seu
pensamento egocêntrico e consegue submeter-se a regras. É neste tipo de jogo que
a criança começa a se adaptar com relação às regras e valores da sociedade.
O brincar apresenta papel importante no processo de equilíbrio da criança com o meio,
uma vez que ele apresenta regras sociais e situações-problemas importantes para seu
processo de socialização.
Desenho
5 Fases de Construção de Desenho - segundo Piaget (1976) as crianças, ao longo de
seu desenvolvimento, perpassam por cinco fases na construção do desenho, as quais
encontram-se relacionadas ao seu desenvolvimento intelectual.
1. Garatuja - dividida em desordenada e ordenada, referindo-se ao estágio
sensório-motor e início do pré-operatório. Esta fase remete-se ao ato da criança
desenhar por prazer. Os rabiscos predominam e a figura humana, assim como as
cores, são pouco exploradas. A cor tem um papel secundário, aparecendo o
interesse pelo contraste, mas não há intenção consciente.
❏ Na fase de Garatuja Desordenada, a criança desenha várias vezes em um
mesmo local.

❏ Na Garatuja Ordenada, o movimento dos desenhos é mais distante e


definido, sendo que seu limite não ultrapassa as margens da folha.
2. Pré-Esquematismo - refere-se à criança em estágio pré-operatório mais avançado,
em que seus traços já possuem características que se assemelha ao real. Nesta
fase, a criança já é capaz de traçar riscos mais definidos e já busca desenhar o
corpo humano. No entanto, ainda o desenho não possui uma forma clara. O uso das
cores não tem relação com a realidade, depende do interesse emocional. Aparece
ainda a tendência à antropomorfização, ou seja, a emprestar características
humanas a elementos da natureza, como o famoso sol com olhos e boca. Esta
tendência deve se estender até 7 ou 8 anos.

3. Esquematismo - fase em que há a presença de esquemas representativos. A criança


se utiliza da linha do caderno como base para facilitar sua escrita e para realizar
traços; além disso, ela já possui o entendimento da relação cor-objeto. Com relação
ao desenho da figura humana, ainda se encontram esquemas expressando
exageros (cabeça desproporcional ao corpo, por exemplo), negligência de algum
item, etc.

4. Realismo - também faz parte da fase das operações concretas (7 a 11 anos), mas já
no final desta fase. Existe uma consciência maior do sexo e autocrítica pronunciada.
No espaço é descoberto o plano e a superposição. Abandona a linha de base. Na
figura humana aparece o abandono das linhas. Aparece a noção de diferenças de
gênero, desenhando roupas típicas de menino e menina. Há também, nessa fase, a
descoberta da relação entre figura e fundo, em que a criança consegue representar
um personagem principal (figura) e seu cenário (fundo).

5. Pseudo-Naturalismo - estamos na fase das operações abstratas (10 anos em


diante). É o fim da arte como atividade espontânea. Inicia a investigação de sua
própria personalidade. Aparece aqui dois tipos de tendência: visual (realismo,
objetividade); háptico (expressão subjetividade). No espaço já apresenta a
profundidade ou a preocupação com experiências emocionais (espaço subjetivo). Há
a presença do desenho de aspectos realistas do objeto, apresentando a noção de
profundidade e aspectos mais subjetivos. Nesta fase, há o uso consciente das cores
e a expressão de emoções (como tristeza, alegria, etc.).

Lev Semionovich Vigotski (1896-1934) - Socio Constructivismo/Interaccionismo


❏ Nasceu em Orsha, na antiga União Soviética - Russo. Viveu na União Soviética
saída da Revolução Comunista de 1917.
❏ Família judaica.
❏ Boa condição financeira.
❏ Oito irmãos.
❏ Interesse e gosto peculiar pela Literatura.
❏ Desejava reescrever a psicologia e construir uma teoria da educação adequada ao
mundo novo. Nova Psicologia.
❏ Estudo sobre a arte relacionada com a Psicologia, publicado em seu livro Psicologia
da Arte, em 1925.
❏ Ensino de Psicologia em universidades, com foco em crianças com deficiência.
❏ A tuberculose se manifestou desde os 19 anos de idade e foi responsável por seu
fim prematuro aos 37 anos de idade.
❏ Descoberto pela psicologia ocidental apenas na década de 1960.
❏ Nasceu no mesmo ano que Piaget (coincidência?!), mas viveu muitíssimo menos
que este último, pois morreu de tuberculose em 1934, antes de completar 37 anos.
❏ Foi o primeiro psicólogo moderno a sugerir os mecanismos pelos quais a cultura
torna-se parte da natureza de cada pessoa ao insistir que as funções psicológicas
são um produto de atividade cerebral. Conseguiu explicar a transformação dos
processos psicológicos elementares em processos complexos dentro da história.
❏ Vygotsky enfatizava o processo histórico-social e o papel da linguagem no
desenvolvimento do indivíduo.
❏ Sua questão central é a aquisição de conhecimentos pela interação do sujeito com o
meio. Para o teórico, o sujeito é interativo, pois adquire conhecimentos a partir de
relações intra e interpessoais e de troca com o meio, a partir de um processo
denominado mediação.
❏ Diferentemente de Piaget, que supõe a equilibração como um princípio básico para
explicar o desenvolvimento cognitivo, Vygotsky parte da premissa de que esse
desenvolvimento deve ser entendido com referência ao contexto social e cultural no
qual ocorre.
A Busca por uma Nova Psicologia
Em seu texto intitulado "O significado histórico da crise na Psicologia: uma investigação
metodológica", Vigotski (2006) começa a pensar em sua teoria a partir da crítica com
relação às teorias existentes no início do século XX. Nesta época, existiam duas
importantes correntes psicológicas:
❏ Reflexologia - Objeto de investigação: comportamento reflexológico sendo este
controlado por estímulos externos;
❏ Psicanálise - Objeto de investigação: inconsciente. Abordava o psiquismo
constituído por aspectos mais individuais.
Para o pesquisador, essas duas teorias acabavam cindindo o sujeito, não o
compreendendo em sua totalidade. A partir desta crítica, Vigotski (2006) propõe o que
chamou de uma "nova Psicologia", a qual seria pautada nos fundamentos filosóficos de Karl
Marx. Na época em que Vigotski viveu na União Soviética, as ideias e concepções de Marx
estavam influenciando de modo significativo os principais estudiosos da época, permitindo
pensar o mundo e os fenômenos a partir de uma nova perspectiva, compreendendo o
homem constituído historicamente.
As ideias de Marx foi uma mensagem poderosa em um mundo pleno de opressão e
desigualdade. "A experiência pessoal de Marx, viveu na pobreza e conferiu uma grande
intensidade à sua análise, que recorreu à Filosofia contra o monstro capitalista que
escravizava os seres humanos" Durante o século 20, as ideias de Marx inspirariam
revoluções na Rússia, China e Cuba e em muitos outros países onde um grupo dominante
foi derrubado e os trabalhadores se apoderaram da propriedade privada e dos meios de
produção.
O marxismo foi além e tornou-se uma maneira de interpretar o mundo: a simples ideia de
que a história é marcada pela luta entre classes antagônicas também influenciou a
literatura, a arte e a educação.
"Continua-se a falar sobre os temas tratados por Marx. Por exemplo, a globalização.
Marx foi um dos primeiros críticos da internacionalização dos mercados. Também se referiu
à desigualdade ao alertar que ela estava aumentando no mundo. Poderia se dizer que Marx
continua sendo atraente e faz parte do discurso político atual."
Assim, inspirado nas ideias de Marx, Vigotski desenvolveu seu método de conhecimento
do desenvolvimento psicológico, utilizando-se do materialismo dialético como fundamento
para compreender o sujeito. Nessa concepção filosófica, o psiquismo humano se constitui a
partir das possibilidades concretas de desenvolvimento disponíveis ao sujeito (por isso o
termo materialismo) e dialético, que significa apreender determinado fenômeno sempre em
movimento, acessando suas contradições e relações interdependentes.
O Materialismo dialético é uma concepção filosófica e método científico que defende que
o ambiente, o organismo e os fenômenos físicos tanto modelam animais irracionais e
racionais, sua sociedade e cultura quanto são modelados por eles, ou seja, que a matéria
está em uma relação dialética com o psicológico e o social. Se opõe ao idealismo, cujos
pensadores acreditam que o ambiente e a sociedade, com base no mundo das ideias, são
criações divinas seguindo as vontades das divindades ou por outra força sobrenatural.
Para Vigotski (2010), o social é fonte de desenvolvimento, no que se refere o fato de o
contexto histórico e cultural, no qual o sujeito está inserido, oferecer a ele recursos e
subsídios para se desenvolver de modo singular e único. Isso porque cada sujeito, a partir
de seu modo de ser e agir sobre o mundo, apropria-se dos elementos de seu contexto
também de uma forma singular.
Tal questão pode ser exemplificada em casos de pessoas criadas em um mesmo
contexto familiar, dois irmãos por exemplo, que viveram em uma mesma família,
frequentaram a mesma escola, porém, seguiram caminhos muito distintos na vida.
É bastante comum, na vida cotidiana, as pessoas questionarem: como pode, eles eram
irmãos, receberam a mesma educação e seguiram caminhos tão diferentes? Isso se
justifica pelo fato de que cada sujeito se apropria do social de uma determinada forma, a
partir de seus sentidos e significados sobre a realidade.
Estas ideias apresentadas sobre o início do desenvolvimento das ideias de Vigotski
deram origem à sua teoria, conhecida por Psicologia Histórico-Cultural.
O Sujeito Biológico e o Sujeito Social
As funções psicológicas têm um suporte biológico e são moldadas ao longo da história
da espécie e do indivíduo. Biogênese - teoria de que todo ser vivo procede de outro ser
vivo, e Ontogênese - ontos= ser, e génesis = criação, é o estudo das origens e
desenvolvimento de um organismo desde o embrião (ovo fertilizado) até atingir sua forma
plena.
O sujeito biológico converte-se em sujeito humano pela interação social (sociogênese).
Os pilares da teoria de Vygotsky (também conhecida como “teoria da mediação”) são:
❏ Os processo mentais superiores (pensamento, linguagem, comportamento volitivo,
atenção consciente, memória voluntária, etc) têm origem em processos sociais e são
a conversão de relações sociais em funções mentais.
❏ Mas como as relações sociais se convertem em funções psicológicas? Instrumentos
e signos como mediadores destes processos.
Teoria Sócio - Histórico-Cultural
O termo Psicologia Histórico-Cultural foi criado para denominar a teoria de Vigotski e de
seus interlocutores, uma vez que suas ideias são pautadas na concepção de que o
psiquismo humano é constituído nas relações históricas e culturais na qual o sujeito está
inserido (PRESTES, 2010).
O desenvolvimento humano seria um processo que acontece a partir da interação entre
as bases biológicas e a mediação da cultura. A criança, quando nasce, tem somente
funções psicológicas elementares, como sensação, percepção, atenção, memória, entre
outras.
À medida que a criança se relaciona com a cultura, suas funções psicológicas começam
a se desenvolver e passam a serem superiores, as quais são desenvolvidas a partir de um
contexto rico em estímulos e conhecimentos. Nesta perspectiva, quanto mais elementos o
sujeito conhece, maior será sua capacidade de perceber a realidade, pensar sobre
fenômenos abstratos, ampliando, dessa forma, sua consciência, ou seja, a pessoa pode
significar a realidade e agir sobre ela.
A pluralidade teórica que existe na psicologia demanda um estudo cuidadoso e
aprofundado em função dos fundamentos epistemológicos (Teoria do Conhecimento,
estuda a formação do conhecimento, a diferença entre ciência e senso comum, a validade
do saber científico, dentre outras questões) e antropológicos (antropo significa homem e
logia significa estudo. Esta ciência estuda, principalmente, os costumes, crenças, hábitos e
aspectos físicos dos diferentes povos que habitaram e habitam o planeta. Portanto, os
antropólogos estudam a diversidade cultural dos povos.) de cada corpo teórico.
A influência do contexto social no desenvolvimento humano é um dos principais assuntos
destacados pela teoria de Vigotski.
É importante também destacar que esta teoria, ao afirmar que o sujeito é constituído por
meio das relações sociais, não quer dizer que o desenvolvimento ocorra a partir de
parâmetros deterministas – como se o social determinasse o desenvolvimento humano.
Para Vigotski (2010), o social é fonte de desenvolvimento, no que se refere ao fato de o
contexto histórico e cultural, no qual o sujeito está inserido, oferecer a ele recursos e
subsídios para se desenvolver de modo singular e único. Isto porque, cada sujeito, a partir
de seu modo de ser e agir sobre o mundo, apropria-se dos elementos de seu contexto
também de uma forma singular.
Para refletirmos o modelo histórico-cultural, ao conceber o homem como “um conjunto
das relações sociais internalizadas” instaura uma nova concepção do processo de
desenvolvimento e aprendizagem, visto como uma construção social . Na concepção de
Vygotsky o homem constrói o conhecimento a partir da interação mediada pelo cultural, pelo
outro sujeito (Werner, 2001).
A obra de Vygotsky é atual apesar de escrita nos anos 30, pois postula e é construída na
interdisciplinaridade, ele conseguiu o diálogo interdisciplinar com a biologia, filosofia,
lingüística e literatura, além das teorias psicológicas, o horizonte para superar a cisão
homem-sociedade, mente e corpo, consciência e afeto, (Molon, 2003).
Ele acreditava que a aprendizagem na criança podia ocorrer através do jogo, da
brincadeira, da instrução formal ou do trabalho entre um aprendiz e um aprendiz mais
experiente.
O processo básico pelo qual isto ocorre é a mediação (a ligação entre duas estruturas,
uma social e uma pessoalmente construída, através de instrumentos ou sinais).
Vygotsky, lembra que para se entender o indivíduo é necessário primeiro entender as
relações sociais das quais o indivíduo faz parte e existe.
Princípios Básicos:
❏ A criança constrói seu conhecimento;
❏ O desenvolvimento não pode ser separado do seu contexto social;
❏ A aprendizagem pode vir antes do desenvolvimento;
❏ A linguagem tem um papel central no desenvolvimento mental, ela irá organizar o
próprio pensamento.
É uma abordagem sustentada nas seguintes dimensões:
❏ Social: é fundamental para marcar a questão das relações humanas;
❏ Histórica: faz-nos pensar em como chegamos até aqui, os diversos momentos e
épocas que marcaram a humanidade. Em primeiro plano ficam as influências do
tempo sobre o humano;
❏ Cultural: útil para vermos e valorizarmos toda a produção humana em diferentes
contextos. Aqui olhamos em primeiro plano as influências humanas na
temporalidade. O objetivo de uma abordagem sociocultural é explicar as relações
entre a ação humana, de um lado, e as situações culturais, institucionais e históricas
em que essa ocorre, de outro.
O Papel da Vivência e da Mediação na Teoria de Vigotski
Para Vigotski (2010), o conceito de vivência é uma unidade constituída pelos aspectos
subjetivos do sujeito e seu meio externo.
Portanto, na vivência há a presença de uma unidade indivisível das particularidades da
personalidade e da situação.
Além de medido conceito de vivência, outro conceito importante na teoria de Vigotski é o
ação. A partir deste, encontra-se a ideia de que o sujeito e meio não se constituem
fundamentados em uma relação direta, como se o “externo” constituísse o “interno”
baseado em uma relação determinista (VAN DER VEER; VALSINER, 1999).
Portanto, pode-se afirmar que é a mediação que fundamenta e constitui a relação entre
sujeito e a realidade.
Mediação é o processo que caracteriza a relação do homem com o mundo e com outros
homens.
Os mecanismos que promovem a mediação do sujeito com a realidade são constituídos
a partir de dois conceitos:
INSTRUMENTOS SIGNOS
⇩ ⇩
São objetos ou ferramentas São ferramentas que visam o controle
desenvolvidas pelo homem e a organização psicológica, permitindo
para dominar a natureza. controlar o comportamento e as demais
São os objetos e utensílios pessoas. Sistemas simbólicos como
materiais utilizados para manipular linguagem, símbolos algébricos, sistema
e modificar a realidade externa de representação gráfica por meio da
(faca, machado...) escrita, de desenhos, de mapas, etc.
Ex: no código de trânsito a cor vermelha
significa parar...
Os Sistemas Simbólicos
Os sistemas simbólicos - sistemas de representação da realidade - especialmente a
linguagem, funcionam como elementos mediadores que permitem a comunicação entre
indivíduos, estabelecendo os significados determinados pelos grupos culturais e situações
do mundo circundante.
Os processos de funcionamento mental do homem são fornecidos pela cultura, através
da mediação simbólica.
Signos – Instrumentos psicológicos - cuja função é auxiliar o homem nas suas atividades
psíquicas. Um dos mais importantes signos criados pelo homem e que favoreceu seu
desenvolvimento superior é a FALA, isso porque é por meio da fala que o sujeito consegue
se apropriar do social, mediando as relações entre as pessoas e favorecendo o registro e a
apropriação de nossa história (VYGOTSKY, 1991).
Fala e sua Relevância para o Desenvolvimento Humano
A fala permite que o sujeito denomine os objetos que estão fora de seu campo visual e
perceptível, relacionando-se com eles. Na evolução da espécie humana, quando a fala
passou a existir, deu-se um dos mais importantes passos no desenvolvimento humano,
permitindo a libertação do homem do campo sensorial imediato, ampliando de modo
significativo suas capacidades de pensar.
Vygotsky (1991) e Vigotski (2010), ao descrever sobre o papel e o desenvolvimento da
fala, relaciona esta importante função psicológica ao pensamento humano.
O Pensamento e a Fala
Para estudar a relação entre o pensamento e a fala, Vygotsky (1991) buscou as bases
genéticas destes conceitos, único modo de compreendê-los em uma concepção histórica de
desenvolvimento, tal como entendia que deveria ser os estudos em Psicologia.
Para o autor, o pensamento e a fala possuem raízes genéticas diferentes, não são
constituídos ao mesmo tempo, tampouco procedem de uma mesma fonte. A fala nasce da
necessidade de externalizar o pensamento, o que se dá por meio da palavra. O
pensamento nasce das necessidades, motivos e afetos do sujeito, constituídos nas relações
sociais.
Vygotsky (1991) destacou que a primeira ligação entre o pensamento e a fala ocorre por
volta dos dois anos de idade, quando a criança começa a expressar seus pensamentos por
meio da fala. Ao encontro entre o pensamento e a fala deu-se o nome de pensamento
verbal, que representa a unidade entre essas duas funções psicológicas.
Em busca de estudar o pensamento verbal, descobriu que isso seria possível por meio
do significado da palavra, que evolui conforme o social se modifica, o que resulta também
no desenvolvimento do pensamento e da fala. Assim, o pensamento e a fala estão sempre
em movimento, transformando-se na medida em que o sujeito interage com o social.
Outra característica atribuída à fala refere-se a sua estrutura constituída por
generalizações ou conceitos. Para Vygotsky (1991), o conceito é apropriado na interação do
sujeito com o social por meio da fala, o que resulta no desenvolvimento do pensamento em
seu aspecto superior.
Há dois tipos de conceitos:
❏ Espontâneo - desenvolvido no cotidiano da criança, por meio de suas experiências
práticas com o social.
❏ Científico - desenvolvido, principalmente, na escola, sendo geralmente abstrato, não
passível de ser observado. Os motivos que impulsionam o sujeito a formar os dois
tipos de conceitos são diferentes.
Na concepção de Vygotsky (1991), o êxito na aprendizagem acontece quando se
aproximam os conceitos científicos dos espontâneos, o que significa dizer que, a partir do
aprendizado de um determinado conceito científico, ele impacta nas relações cotidianas das
crianças.
Outra característica da fala descrita por Vygotsky (1991) é sua função externa e interna.
A primeira refere-se à fala voltada para o social, com a função de comunicação. Já a fala
interna, tem a função de orientação mental, que organiza o pensamento (falar sozinho
também ajuda na organização e aprendizado). Assim, podemos notar que a fala, construída
socialmente, tem um papel fundamental no desenvolvimento do sujeito
Segundo Aguiar e Ozella (2013), na compreensão do sujeito, partimos sempre do
significado, que é compartilhado socialmente, para depois alcançar zonas mais subjetivas,
que são os sentidos. O sentido se aproxima da singularidade; é o que melhor representa o
sujeito, seus afetos e emoções.
Muitas são as dimensões que constituem a fala humana e sua relação com o
pensamento. Entretanto, Vigotski não descreveu somente sobre o papel da fala oral, mas
sim também o papel da escrita no desenvolvimento do psiquismo.
A Fala Escrita
Quando a criança inicia o aprendizado da escrita, é necessário o desligamento da
percepção e substituição das palavras por imagens de palavras, isto é, a criança sai da
realidade unicamente concreta para atuar em uma realidade abstrata.
Para Vygotsky (1991), a escrita é a forma de fala mais elevada e complexa, e destaca a
importância de se fazer um rascunho (planejamento feito em papel ou no plano das ideias)
antes da escrita definitiva.
Portanto, nota-se, na teoria de Vygotsky (1991), o quanto a fala possui uma importante
função no desenvolvimento psicológico. É por meio dela que o sujeito se apropria de sua
realidade social e histórica, constituindo seu pensamento e sua consciência. Neste sentido:
Processos de Internalização
Para Vigotski (2010), o desenvolvimento ocorre pela mediação social. Para ele, no
processo de desenvolvimento da criança, há uma relação bastante próxima e importante
entre aquilo que o meio espera enquanto forma ideal de comportamento e atitudes e o nível
real de conhecimento da própria criança.
Tal forma ideal de desenvolvimento pode ser compreendida como as prospecções e
expectativas quanto a um desenvolvimento saudável, o qual pode sofrer influências de
diferentes culturas e sociedades.
Pode-se pensar que a criança, na relação com o seu meio, interage com suas reais
possibilidades de desenvolvimento e também com as expectativas de desenvolvimento que
esse meio tem em relação a ela.
Neste sentido, é muito importante que o meio no qual a criança está inserida ofereça
condições e formas ideais de desenvolvimento para que ela seja capaz de ampliar seu
desenvolvimento. Se não há forma ideal no meio, a criança não irá desenvolver sua forma
correspondente (VIGOTSKI, 2010).
Em suma, podemos observar que a lógica principal, na qual a teoria de Vigotski (2003) é
pautada, fundamenta-se no seguinte princípio:
Primeiro, o comportamento da criança é social e determinado pelas relações que ela
estabelece em seu meio.
Depois, com essa vivência e interação, ela começa a se apropriar do que encontra em
seu entorno, desenvolvendo sua singularidade.
Para Vigotski (2003), há dois níveis de desenvolvimento infantil:
➢ Desenvolvimento real - se refere às funções psicológicas e aos comportamentos que
fazem parte da criança, ou seja, que esta já desenvolveu. Este nível é representado
por aquilo que a criança já é capaz de realizar sozinha.
➢ Desenvolvimento ideal - se refere às expectativas e formas de comportamentos
esperados ao desenvolvimento da criança, os quais ela ainda não consegue realizar
sozinha.
É com a ajuda e cooperação de uma pessoa mais experiente, que ocorrerá o movimento
de aproximação entre o ideal e o real da criança, ou seja, permitindo que o nível ideal se
torne real. Esse fenômeno foi intitulado por Vigotski de Zona de Desenvolvimento Proximal
e se refere àquilo que a criança é capaz de fazer com a ajuda de alguém mais experiente
(VIGOTSKI, 2003).
Relação Desenvolvimento e Aprendizagem
❏ Aprendizagem promove desenvolvimento.
❏ O ensino deve se antecipar sempre ao desenvolvimento:
Zona de desenvolvimento proximal.
❏ Escrita - o domínio da linguagem escrita significa para a criança apropriar-se de um
sistema de signos simbólicos extremamente complexos.
❏ Aprender a escrever ativa a formação das funções psíquicas superiores
(pensamento, linguagem, comportamento volitivo, atenção consciente, memória
voluntária, etc), provocando mudanças radicais nessas funções, por isso essa
atividade tem o mesmo peso que aprender a falar.
Zona de Desenvolvimento Proximal
A aprendizagem é produzida a partir de uma Zona de Desenvolvimento Atual (ZDA) até
alcançar os limites de autonomia possível a partir desta base, definidos pela Zona de
Desenvolvimento Próximo (ZDP).
O adulto empresta à criança, através do processo imitativo, autêntica funções
psicológicas superiores externas (sua atenção, sua memória, sua diretividade e estratégias,
seus instrumentos físicos e psicológicos).
O mecanismo de imitação, que é biológico e situacional passa a ser representacional na
ZDP.
A atividade e a consciência da criança se formam somando sua intervenção e recursos
aos dos adultos (tudo junto em um sincretismo).
A Zona de Desenvolvimento Potencial ou Proximal é a distância entre o nível de
desenvolvimento real atual (ZDR) e o nível de desenvolvimento potencial, determinado
mediante a resolução de problemas com o guia ou a colaboração de adultos ou
companheiros mais capazes.
O termo “potencial” empregado na definição, tem conotação de caráter individual e
interno e parece evitar uma ótica centrada no sujeito psicológico e nos processos mentais.
O termo “próximo” utilizado tem conotações de caráter social e externo e convida para
uma interpretação centrada na atividade social e nos processos de instrução.
A Zona de Desenvolvimento Proximal permitirá que a criança se aproprie de
determinadas funções ou comportamentos sobre os quais não tinha domínio,
transformando-os em características de níveis de desenvolvimento real.
Tal pressuposto, na teoria de Vigotski, demonstra a importância do professor ou de
outras pessoas, no processo de desenvolvimento da criança, como mediadores do
desenvolvimento infantil.
A partir de tal mediação, a criança consegue superar, sozinha, os desafios e problemas
da realidade, utilizando os conceitos aprendidos. Esta é a grande importância do papel da
educação escolar, o que justifica a utilização dessa teoria para se compreender os
processos de ensino-aprendizagem.
Vygotsky acredita que as características individuais e até mesmo suas atitudes
individuais estão impregnadas de trocas com o coletivo, ou seja, mesmo o que tomamos por
mais individual de um ser humano foi construído a partir de sua relação com o indivíduo.
Desenvolvimento e Aprendizagem: a ZDP
Para J. Piaget, dentro da reflexão construtivista sobre desenvolvimento e aprendizagem,
tais conceitos se inter-relacionam, sendo a aprendizagem a alavanca do desenvolvimento.
A perspectiva Piagetiana é considerada maturacionista, no sentido de que ela preza o
desenvolvimento das funções biológicas como base para os avanços na aprendizagem.
Já na chamada perspectiva sócio-interacionista, sócio-cultural ou sócio-histórica,
abordada por Vygotsky, a relação entre o desenvolvimento e a aprendizagem está atrelada
ao fato de o ser humano viver em meio social, sendo este a alavanca para estes dois
processos. Isso quer dizer que os processos caminham juntos, ainda que não em paralelo.
Como lidar com o desenvolvimento natural da criança e estimulá-lo através da
aprendizagem? Como esta pode ser efetuada de modo a contribuir para o desenvolvimento
global da criança?
Em Vygotsky, ao contrário de Piaget, o desenvolvimento – principalmente o
psicológico/mental (que é promovido pela convivência social, pelo processo de socialização,
além das maturações orgânicas) – depende da aprendizagem na medida em que se dá por
processos de internalização de conceitos, que são promovidos pela aprendizagem social,
principalmente aquela planejada no meio escolar .
Ou seja, para Vygotsky, não é suficiente ter todo o aparato biológico da espécie para
realizar uma tarefa se o indivíduo não participa de ambientes e práticas específicas que
propiciem esta aprendizagem. Não podemos pensar que a criança vai se desenvolver com
o tempo, pois esta não tem, por si só, instrumentos para percorrer sozinha o caminho do
desenvolvimento, que dependerá das suas aprendizagens mediante as experiências a que
foi exposta.
Neste modelo, o sujeito – no caso, a criança – é reconhecida como ser pensante, capaz
de vincular sua ação à representação de mundo que constitui sua cultura, sendo a escola
um espaço e um tempo onde este processo é vivenciado, onde o processo de
ensino-aprendizagem envolve diretamente a interação entre sujeitos. Essa interação e sua
relação com a imbricação entre os processos de ensino e aprendizagem podem ser melhor
compreendidos quando nos remetemos ao conceito de ZDP. São as aprendizagens que
ocorrem na ZDP que fazem com que a criança se desenvolva ainda mais, ou seja,
desenvolvimento com aprendizagem na ZDP leva a mais desenvolvimento,por isso dizemos
que, para Vygotsky, tais processos são indissociáveis.
As Funções da Linguagem
Para Vygotsky, a relação entre pensamento e linguagem é estreita. A linguagem (verbal,
gestual e escrita) é nosso instrumento de relação com os outros e, por isso, é
importantíssima na nossa constituição como sujeitos. Além disso, é através da linguagem
que aprendemos a pensar (Ribeiro, 2005).
A linguagem é, antes de tudo, social.
Portanto, sua função inicial é a comunicação, expressão e compreensão.
Essa função comunicativa está estreitamente combinada com o pensamento.
A comunicação é uma espécie de função básica porque permite a interação social e, ao
mesmo tempo, organiza o pensamento.
Para Vygotsky, a aquisição da linguagem passa por três fases:
❏ Linguagem social - que seria esta que tem por função denominar e comunicar, e
seria a primeira linguagem que surge.
❏ Linguagem egocêntrica - trata-se da fala que a criança emite para si mesmo, em voz
baixa, enquanto está concentrado em alguma atividade.
Esta fala, além de acompanhar a atividade infantil, é um instrumento para pensar em
sentido estrito, isto é, planejar uma resolução para a tarefa durante a atividade na
qual a criança está entretida (Ribeiro, 2005).
A fala egocêntrica constitui uma linguagem para a pessoa mesma, e não uma
linguagem social, com funções de comunicação e interação. Esse “falar sozinho” é
essencial porque ajuda a organizar melhor as idéias e planejar melhor as ações. É
como se a criança precisasse falar para resolver um problema que, nós adultos,
resolvemos apenas no plano do pensamento/raciocínio.
❏ Linguagem interior - intimamente ligada ao pensamento. O discurso interior é
quando as palavras passam a ser pensadas, sem que necessariamente sejam
faladas. É um pensamento em palavras.
Já o pensamento é um plano mais profundo do discurso interior, que tem por função
criar conexões e resolver problemas, o que não é, necessariamente, feito em
palavras.
É algo feito de idéias, que muitas vezes nem conseguimos verbalizar, ou
demoramos ainda um tempo para achar as palavras certas para exprimir um
pensamento.
O pensamento não coincide de forma exata com os significados das palavras. O
pensamento vai além, porque capta as relações entre as palavras de uma forma
mais complexa e completa que a gramática faz na linguagem escrita e falada.
Para a expressão verbal do pensamento, às vezes é preciso um esforço grande para
concentrar todo o conteúdo de uma reflexão em uma frase ou em um discurso.
Portanto, podemos concluir que o pensamento não se reflete na palavra; realiza-se
nela, a medida em que é a linguagem que permite a transmissão do seu
pensamento para outra pessoa (Vygotsky, 1998).
Finalmente, cabe destacar que o pensamento não é o último plano analisável da
linguagem. Podemos encontrar um último plano interior: a motivação do
pensamento, a esfera motivacional de nossa consciência, que abrange nossas
inclinações e necessidades, nossos interesses e impulsos, nossos afetos e
emoções. Tudo isso vai refletir imensamente na nossa fala e no nosso pensamento.
(Vygotsky 1998).
A progressão da fala social para a fala interna, ou seja, o processamento de perguntas e
respostas dentro de nós mesmos – o que estaria bem próximo ao pensamento, representa
a transição da função comunicativa para a função intelectual.
Vygotsky e o Desenvolvimento Infantil - Linguagem
A linguagem tem um papel fundamental no processo de desenvolvimento, pois é ela que
constitui os comportamentos humanos, por isso, Vygotsky (2007), afirma que a linguagem:
“Libera a criança das impressões imediatas sobre o objeto, oferece-lhe a possibilidade de
representar para si mesma algum objeto que não tenha visto e pensar nele.
Com a ajuda da linguagem, a criança obtém a possibilidade de se libertar do poder das
impressões imediatas, extrapolando seus limites”. (VYGOTSKY, 2007, p. 122).
A linguagem possibilita a criação e a imaginação da criança, fazendo com que ela
consiga internalizar os conceitos, sem a presença imediata dos objetos.
É a linguagem que possibilita a troca com o outro e permite que cada indivíduo se
constitua e na interação se complete.
Inicialmente, as crianças reconhecem um número limitado de palavras, mas com o tempo
ao compreender sua função simbólica, a criança passa a sentir necessidade das palavras.
Como Vygotsky (2007) afirma:
“Criança pequena reconhece de fato um número pequeno de palavras. Ela conhece
apenas palavras que aprende com outras pessoas (objetos, estados ou desejos). Na fase
seguinte, a situação muda: a criança sente a necessidade das palavras e, ao fazer
perguntas, tenta ativamente aprender os signos vinculados aos objetos. Ela parece ter
descoberto a função simbólica das palavras. A fala, que na primeira fase era
afetivo-conativa, agora passa para a fase intelectual. As linhas do desenvolvimento da fala e
do pensamento se encontram”. (VYGOTSKY, 2007, p. 54).
Portanto, por volta dos 2 anos de idade, o pensamento da criança encontra-se com a
linguagem, e seu desenvolvimento cerebral se modifica, atuando de uma nova maneira.
A fala pré-intelectual (choros, gestos) torna-se fala intelectual, com função simbólica,
generalizante. Desse modo, a linguagem é um fator determinante para o desenvolvimento
dos processos cognitivos como memória, percepção, atenção, imaginação. O brincar é uma
atividade que potencializa o crescimento desses processos.
Desenvolvimento da Linguagem
❏ Verbalização 3 anos - 1000 palavras
6 anos - 2600
❏ Vocabulário receptivo - mais de 20 mil palavras.
❏ Compreende melhor nomes de objetos em relação à ação (verbos).
❏ Mapeamento rápido - assimila o significado da palavra ouvindo apenas uma vez.
❏ Hipótese rápida - armazenamento na memória.
❏ Combinação de sílabas em palavras; palavras em frases.
❏ Fala "privada" - integração da linguagem com o pensamento.
❏ Fala pragmática - conhecimento prático de como utilizar a linguagem para se
comunicar.
❏ Melhora gradual na pronúncia das palavras.
O Papel do Brincar no Desenvolvimento Infantil
Além da importância da figura do mediador dos conteúdos, que ainda não são
dominados pela criança, Vigotski ressalta outro elemento importante no processo de
desenvolvimento de formas ideais, que se refere ao jogo ou brincadeira. É por meio do
brincar que a criança consegue se apropriar de funções e atitudes ideais e futuras de
comportamento (ZANELLA & ANDRADE, 2002).
Segundo Vigotski (2003), no brincar, a criança estabelece uma zona de desenvolvimento
proximal, uma vez que exercita ou realiza habilidades e comportamentos que não são
possíveis na vida real e que ela ainda não domina, por exemplo, brincar de fazer comida, de
dirigir, etc.
O jogo envolve situações vinculadas a atividades futuras da criança, constituindo-se por
meio de habilidades que serão necessárias e requeridas ao longo de sua vida. Portanto, o
jogo possui um grande sentido para a criança no que concerne ao seu preparo para a vida
adulta (NASCIMENTO; ARAUJO; MIGUÉIS, 2009).
As palavras jogo e brincadeira, na teoria de Vygotsky, podem ser consideradas como
sinônimos, uma vez que o autor não fez nenhum movimento de diferenciação.
Imitação
A imitação é um importante elemento envolvido no jogo, pois contribui para a assimilação
de diferentes aspectos da vida pela criança e organiza sua experiência interna. É pela
imitação de situações e acontecimentos da vida cotidiana que a criança encontra recursos
para suas atividades no brincar. Um exemplo é a criança que brinca com um caminhãozinho
e, para isso, toma como base os motoristas que já viu em filmes, desenhos ou na vida real.
Imaginação e Criatividade
A imaginação pode ser compreendida como uma função psicológica superior, possuindo
uma forte relação com a experiência do sujeito. Isso porque, segundo o autor, a imaginação
tem a experiência como base, sendo que, quanto mais o sujeito conhece e domina
determinada experiência, maiores serão suas possibilidades para imaginar e criar.
A criatividade é resultado da mobilização da imaginação em direção à compreensão ou
expressão de determinado fenômeno ou pensamento. Portanto, a criatividade é o
movimento de materialização de relações novas que, até então, não existiam na realidade.
Apesar de acontecer na prática do brincar, para Vigotski, a imitação plena ou fidedigna
nunca é possível, pois ninguém consegue repetir uma mesma experiência exatamente da
mesma forma. Neste sentido, no brincar, a criança representa instantaneamente situações
que exigem novas decisões, possibilitando o desenvolvimento de sua criatividade e de sua
imaginação.
Criação de Combinações e Associações
No brincar, é possível criar combinações e associações novas e inesperadas que
demandam uma organização de atitudes e pensamentos na criança. Além disto, quando a
livre conduta é limitada pela imposição de regras no jogo, a criança é levada a chegar a um
fim determinado, tendo suas aptidões e seus interesses testados em seu ponto mais alto,
conduzindo-a para um objetivo.
Apropriação do Mundo, de Relações e Atividades dos Adultos
O jogo é um sistema racional, subordinado a certas regras.
É neste sentido que Vigotski (2003) vai afirmar que os jogos permitem que as crianças se
apropriem do mundo, de relações e atividades dos adultos e, assim, humanizam-se. No
jogo, a criança desenvolve sua imaginação, amplia sua percepção sobre o mundo, elabora
suas emoções e sua consciência sobre as determinações sociais.
Funções Psicológicas Superiores
No brincar, a criança desenvolve suas funções psicológicas superiores ampliando,
portanto, suas capacidades humanas – por isso, a afirmação de que o brincar favorece o
processo de humanização.
Criação de Diferentes Emoções
Outro elemento importante, envolvido no jogo, é a capacidade da criança de vivenciar
diferentes emoções (aprendendo, também, a lidar com elas psicologicamente), como por
exemplo: medo, ansiedade, angústia, alegria, entre muitas outras. Um exemplo disso pode
ser pensado na situação em que a criança brinca de Chapeuzinho Vermelho e é perseguida
pelo Lobo Mau. Nesse tipo de atividade, a criança vivencia o sentimento de medo, mas pela
distância da realidade que o brincar favorece, tal sentimento é experimentado de uma forma
segura, confortável (ZANELLA; ANDRADE, 2002).
Diversidade das relações sociais
O jogo pode ensinar a diversidade das relações sociais, exigindo, da criança, a
diversificação de sua habilidade social e de seus movimentos, de sua flexibilidade e de suas
atitudes criativas. Isto porque, em uma atividade de brincar em grupo, a criança, via de
regra, defronta-se com diferentes faixas etárias, culturas e gênero, exigindo-se sua
capacidade em lidar com a diversidade de situações.
A Função do Brincar
O brincar está longe de ser uma forma de a criança se afastar do mundo real –
concepção essa bastante frequente em relação ao brincar, associado, muitas vezes, a uma
dissociação com a realidade. O jogo é justamente a forma pela qual a criança pode
apropriar-se cada vez mais do mundo.
É pelo brincar que a criança se apropria dos valores, das regras, das atitudes e das
concepções sobre o mundo, constituindo-se, portanto, enquanto sujeitos singulares.
O termo brinquedo, empregado por Vygotsky, se refere principalmente à atividade, ao ato
de brincar.
Dedica-se, mais especificamente, ao jogo de papéis ou à brincadeira de “faz-de-conta”.
Este tipo de brincadeira é característico nas crianças que aprendem a falar, e que, portanto,
já são capazes de representar simbolicamente e de se envolver numa situação imaginária.
A imaginação é um modo de funcionamento psicológico especificamente humano.
Até três anos de idade as crianças não conseguem agir de forma independente do que
vêem.Tendem a querer satisfazer seus desejos imediatamente.
Na idade pré-escolar ocorre uma diferenciação entre os campos de significado e de
visão. O pensamento que antes era determinado pelos objetos do exterior passa a ser
regido pelas idéias. Ex: cabo de vassoura pode ser cavalinho...
A criança passa a criar uma situação imaginária, como forma de satisfazer seus desejos.
Por exemplo, quer dirigir um carro , remar um barco, mas ainda não é capaz de dominar
essas situações, então através do brinquedo, ela projeta-se nas atividades dos adultos
procurando ser coerente com os papéis assumidos.
Toda situação imaginária contém regras de comportamento condizentes com aquilo que
está sendo representado.
Reafirmando, mesmo havendo uma significativa distância entre o comportamento na vida
real e o comportamento no brinquedo, a atuação no mundo imaginário e o estabelecimento
de regras a serem seguidas criam uma "zona de desenvolvimento proximal", já que
impulsionam conceitos e processos em desenvolvimento, para a criança.
A partir do brinquedo ocorrem transformações internas no desenvolvimento da criança.
Contribuições de Vygotsky
Apesar da vida de Vigotski ter sido breve (morrendo aos 37 anos de idade), sua obra
deixou importantes contribuições para a Psicologia no que se refere à compreensão:
❏ Do desenvolvimento humano.
❏ Das funções psicológicas superiores.
❏ Do papel da cultura na constituição do sujeito.
❏ Entre outras.
❏ Suas maiores contribuições estão nas reflexões sobre o desenvolvimento infantil e
sua relação com a aprendizagem em meio social, e também o desenvolvimento do
pensamento e da linguagem.
Implicações da Abordagem de Vygotsky para a Educação
❏ Valorização do papel da escola;
❏ O bom ensino é o que se adianta ao desenvolvimento;
❏ Papel do outro na construção do conhecimento;
❏ O papel da imitação no aprendizado;
❏ O papel do professor na dinâmica das interações interpessoais e na interação das
crianças com os objetos de conhecimento.
Concepções do Desenvolvimento - Tópicos importantes (revisão)
❏ Genética – é a especialidade da biologia que estuda os genes, a hereditariedade e a
variação dos organismos e a forma como estes transmitem as características
biológicas de geração para geração. Procura compreender a origem e o
desenvolvimento dos processos psicológicos.
❏ Filogênese – desenvolvimento da espécie humana ex: coisas que somos capazes
de fazer. Pegar em pinça, andamos, mas não voamos.
❏ Ontogênese (história do ser)- O sujeito nasce, cresce, reproduz, morre. O plano
ontogenético do ser: a criança quando pequena fica deitada, depois sentada, depois
em pé... a seqüência de seu desenvolvimento.
❏ Sociogênese - história dos grupos sociais, história da cultura, onde o sujeito está
inserido.Ex: Puberdade - as mudanças biológicas são compreendidas de forma
diferente em cada cultura. 3ª idade - categoria criada nos últimos tempos,
claramente social.
❏ Microgênese - desenvolvimento de aspectos específicos do repertório psicológico;
cada fenômeno psicológico tem uma história.
Ex: saber algo e não saber algo como amarrar o sapato, antes o sujeito não sabia
como fazê-lo, depois ele aprende (algo aconteceu). A história de como aprendeu a
amarrar o sapato é a microgênese.
Aspectos qualitativamente diferentes ao longo do desenvolvimento:
❏ Funções Elementares - memória imediata, atenção não voluntária, percepção
natural...
❏ Funções Superiores - memória voluntária, atenção consciente, imaginação,
criatividade, linguagem, pensamento conceitual, percepção mediada, vontade e
outros.
Bebê manipulando objeto construído na cultura
❏ O bebê humano, ao contrário dos animais, possui chance de compreender o mundo
externo, por meio das pessoas, pela linguagem, pelos objetos (funções e
significados culturais).
Henri Wallon
"O indivíduo social não como resultado de circunstâncias externas, mas em virtude de
uma necessidade interna"

❏ Nasceu na França, em 1879, vivendo em Paris até sua morte, em 1962 (com 83
anos). Sua vida foi marcada por uma rica e intensa produção intelectual, por meio de
uma participação e preocupação com os acontecimentos políticos e sociais de sua
época (GALVÃO, 1995).
❏ Antes de chegar à Psicologia passou pela Filosofia e Medicina, e Educação. Ao
longo de sua carreira foi cada vez mais explícita a aproximação com a Educação.
❏ Principais marcos da vida de Wallon
❏ Formação em diversas áreas - Henri Wallon inicia seus estudos acadêmicos
ainda jovem, demonstrando interesse por áreas como Filosofia, Medicina,
Psicologia e Educação. No ano de 1902, finaliza sua primeira graduação em
Filosofia, com 23 anos de idade, e, em 1908, termina sua graduação no
curso de Medicina.
❏ Envolvimento político - durante a Segunda Guerra Mundial (1939 a 1945),
Wallon teve uma atuação bastante participativa, envolvendo-se intensamente
contra o movimento fascista de sua época. Wallon passou por um período de
repressão com relação às suas produções, vivendo com fortes ameaças e
imposições para interromper sua produção acadêmica e posicionamentos
políticos. Wallon assim como Vigotski, também foi influenciado pelas ideias
de Marx. Não aceitava a forma de condução do governo, o que lhe rendeu
censuras em suas publicações intelectuais.
❏ Atuação profissional - Wallon atuou como médico em uma instituição
psiquiátrica, onde cuidava, em especial, de crianças com deficiências
neurológicas e distúrbios de comportamento. Wallon também atuou como
médico do exército francês durante o período da Segunda Guerra Mundial,
cuidando dos soldados e de vítimas da guerra.
❏ Interesse pelo desenvolvimento infantil - em 1925, Wallon funda um
laboratório de estudos e pesquisas voltado a crianças com problemas de
comportamento, conhecidas na época como "anormais". Tal experiência
constitui-se como fruto de sua tese de doutorado e também de seu livro
intitulado "A criança turbulenta". Isto fez Wallon aproximar-se de duas
importantes áreas de conhecimento - a Psicologia e a Educação. Nesta
relação, Wallon produziu diversas pesquisas envolvendo formação de
professor, interação entre alunos e adaptação escolar (GALVÃO, 1995).
❏ Participação na reforma do sistema do ensino francês - engajado nos
debates em torno da educação de sua época, Wallon participou do Grupo
Francês de Educação Nova e integrou a Sociedade Francesa de Pedagogia.
A partir desses movimentos, Wallon se envolveu em discussões acerca da
reforma do sistema de ensino francês, integrando uma comissão formada
pelo Ministério da Educação Francês, encarregado pela reformulação do
sistema de ensino do país.
❏ Estudioso que se dedicou ao ENTENDIMENTO DO PSIQUISMO HUMANO,
seus mecanismos e relações mútuas, a partir de uma perspectiva genética.
❏ Apesar de NÃO TER PROPOSTO UM MÉTODO PEDAGÓGICO, participou
ativamente de debates em torno do tema Educação, contribuindo com
críticas à educação tradicional.
❏ Manteve INTERLOCUÇÃO com as teorias de PIAGET e FREUD. No entanto,
Wallon pretendia a gênese da pessoa e Piaget a gênese da inteligência.
❏ Foi um dos pioneiros a relacionar a hierarquização do sistema nervoso
central com a questão da inteligência.
Teoria de Wallon
A teoria de Wallon é conhecida pelo termo "Psicogênese da Pessoa Completa", isto
porque seus estudos voltam-se para a análise do desenvolvimento infantil, buscando
compreender quais são os elementos que contribuem para o desenvolvimento da criança,
partindo da compreensão genética dos processos psíquicos.
No processo de desenvolvimento infantil, apesar de considerar a importância das bases
biológicas, Wallon atribui um peso maior às determinações sociais. Para ele, a influência do
meio social torna-se muito mais decisiva na aquisição de condutas psicológicas. É a cultura
e a linguagem que fornecem ao pensamento os instrumentos para sua evolução (ALMEIDA;
MAHONEY, 2016).
Os recursos de que a criança dispõe para expressar suas necessidades são inicialmente
o grito, o choro e os movimento descoordenados, decorrentes de sua sensibilidade
proprioceptiva (referente aos músculos) e interoceptiva (referente às vísceras). Esta
linguagem inicial do bebê, que Wallon chama de emocional, leva o outro a responder a ela,
sendo um recurso importante de comunicação e visibilidade.
Em outras palavras, para Wallon a emoção expressa pelo movimento é o recurso do
recém-nascido para sua primeira ligação com seu contexto social (ALMEIDA; MAHONEY,
2016).
Desenvolvimento Infantil Wallon
Consciência - o recém-nascido não possui desenvolvida a consciência de ser um sujeito
independente do mundo. Há uma fusão entre o eu e o outro, onde o bebê não se vê
separado do mundo e de seus cuidadores. Para Wallon, no processo de socialização em
que o bebê interage com os outros, sua consciência enquanto um ser individual vai sendo
construída.
Constituição do sujeito - para Wallon, o meio onde a criança vive e aqueles com os quais
sonha são essenciais para a constituição do sujeito. Se o meio concreto é importante, igual
o faz o meio imaginado, representado, desejado, sonhado. Assim, note que para Wallon o
meio social não é apenas constituído por aspectos materiais, concretos da realidade, mas
também por afetos que permitem à criança imaginar situações fictícias, as quais também se
constituem como importante fonte de desenvolvimento (GALVÃO, 1995).
Relação entre meio e grupo - o meio se configura como contexto social e político em que
a criança está inserida, podendo ser compreendido como algo mais amplo. O grupo é
constituído por um conjunto de pessoas que compartilham um mesmo objetivo, havendo
uma divisão de tarefas que regula as relações entre seus membros.
Teoria Contextual Dialética Sobre o Desenvolvimento Humano
Dialética - oposição. Conflito originado pela contradição entre princípios teóricos.
Como se dá, efetivamente, o desenvolvimento?
Dois princípios fundamentais:
❏ Alternância: aprimoramento entre:
❏ Sensibilidade interoceptiva - viscerais, é o saber sobre o estado de saúde e
doença;
❏ Sensibilidade proprioceptiva ou cinestesia - estimulação dos músculos e seus
anexos, capacidade em reconhecer a localização espacial do corpo, sua
posição e orientação;
❏ Sensibilidade exteroceptiva - estimulada pelos agentes exteriores do
organismo (visão, audição, olfato, etc...) e do córtex cerebral - contato com a
estimulação.
❏ Integração Funcional: a mudança de fase, assimilando o que já foi adquirido, não
exclui o estágio precedente. Dá uma continuidade a tudo o que já foi adquirido. As
funções recentemente adquiridas têm supremacia sobre as mais antigas mas não as
fazem desaparecer, apenas exercem controle sobre eles, integrando-os.
Obs: A alternância e a integração funcional ocorrem em um jogo dialético onde a
maturação do sistema nervoso e as vivências sócio-cultural são de fundamental
importância.
Conflitos propulsores do desenvolvimento:
❏ Exógenos => desencontros entre as ações da criança e o ambiente exterior (adulto,
cultura...).
❏ Endógenos => gerados pelos efeitos da maturação nervosa.
Conjuntos funcionais
A teoria de Wallon postula que o psiquismo é uma unidade que resulta da integração do
que chamou de conjuntos ou domínios funcionais, contemplados pelos seguintes conceitos:
❏ Afetividade - refere-se à capacidade do ser humano de ser afetado pelo mundo
interno e externo, por sensações ligadas a tonalidades agradáveis e/ou
desagradáveis (TASSONI; LEITE, 2013). Wallon atribui à emoção um papel
fundamental no processo de desenvolvimento humano. Para ele, quando nasce uma
criança, todo contato estabelecido com as pessoas que cuidam dela, são feitos via
emoção. É por meio delas que o ser humano exterioriza seus desejos e suas
vontades. Em geral, são manifestações que expressam um universo importante e
perceptível, mas pouco estimulado pelos modelos tradicionais de ensino. As
transformações fisiológicas de uma criança (ou, nas palavras de Wallon, no seu
sistema neurovegetativo) revelam traços importantes de caráter e personalidade. A
emoção é altamente orgânica, altera a respiração, os batimentos cardíacos e até o
tônus muscular, tem momentos de tensão e distensão que ajudam o ser humano a
se conhecer. A raiva, a alegria, o medo, a tristeza e os sentimentos mais profundos
ganham função relevante na relação da criança com o meio. A emoção causa
impacto no outro e tende a se propagar no meio social. Neste sentido, pode-se
pensar que o sujeito é afetado a todo o momento, por exemplo, em uma situação de
ensino em que o professor solicita ao aluno uma determinada atividade como a
realização de um desenho, resultando na afetação da criança ao mesmo tempo que
também é afetado.
❏ Conjunto motor - ou movimento corporal permite ao sujeito deslocar-se no tempo e
no espaço em relação às leis da gravidade, realizar movimentos voluntários ou
intencionais do corpo ou partes dele e, favorece a possibilidade de comunicação por
meio de mímicas e expressões corporais diante de diferentes situações (ALMEIDA;
MAHONEY, 2016). As emoções dependem fundamentalmente da organização dos
espaços para se manifestarem. A motricidade, portanto, tem caráter pedagógico
tanto pela qualidade do gesto e do movimento quanto por sua representação. A
escola infelizmente insiste em imobilizar a criança numa carteira, limitando
justamente a fluidez das emoções e do pensamento, tão necessária para o
desenvolvimento completo da pessoa. A criança é constituída de corpo e emoção, e
não apenas cognição.
❏ Conjunto cognitivo - oferece as possibilidades para a aquisição, manutenção e
transformação do conhecimento, por meio de imagens, noções, ideais e
representações. É o conjunto que permite rever e reelaborar o passado, fixar e
analisar o presente e projetar o futuro. O desenvolvimento da inteligência depende
essencialmente de como cada uma faz as diferenciações com a realidade exterior. É
na solução dos confrontos que a inteligência evolui. Wallon diz que o sincretismo
(mistura de idéias num mesmo plano), é fator determinante para o desenvolvimento
intelectual.
❏ Pessoa - expressa a integração do afetivo-cognitivo-motor em suas inúmeras
possibilidades. A integração entre os conjuntos funcionais para explicar o que não
pode ser separado (ou seja a pessoa) significa que a alteração de um dos conjuntos
afeta os demais. Portanto, para Wallon uma pessoa saudável é aquela que
consegue desenvolver e manter um equilíbrio entre seus conjuntos funcionais.
Assim como Piaget, Wallon dividirá o desenvolvimento humano em estágios.
Princípios Básicos que Determinam o Desenvolvimento dos Estágios:
❏ Integração organismo-meio - o desenvolvimento da pessoa se dá a partir da
interação de suas características genéticas, típicas da espécie humana e as
influências dos fatores ambientais. O central da teoria é essa interação da criança
com o meio, o que resulta em uma síntese entre os fatores orgânicos e ambientais
no processo de desenvolvimento (ALMEIDA; MAHONEY, 2016). Portanto, apesar de
Wallon descrever o processo de desenvolvimento humano em estágios, os avanços
e as conquistas características de cada uma será determinado pelas influências
tanto do aspecto biológico quanto do meio em que a criança está inserida.
❏ Integração afetiva-cognitiva-motora - outro aspecto que se caracteriza como
integrativo na teoria de Wallon é a relação entre afeto, cognição e corpo. Estes
elementos são apresentados separadamente apenas pela necessidade de descrição
e caracterização individual, a fim de oferecer uma compreensão didática com
relação à teoria. Porém, é necessário compreender estes elementos como
indissociáveis na constituição da pessoa (ALMEIDA; MAHONEY, 2016). Há algumas
características que determinam o desenvolvimento dos conjuntos funcionais:
❏ Alternância dos Conjuntos - em cada estágio do desenvolvimento, há o
predomínio de um dos conjuntos funcionais, isto é, em cada estágio um
determinado conjunto se torna mais evidente. Isto não significa que os
demais conjuntos estejam ausentes, mas que há um em destaque.
❏ Alternância de Direções - há estágios em que a criança está mais voltada
para o conhecimento de si, conhecido como Força Centrípeta - a construção
do eu na teoria de Wallon depende essencialmente do outro. Seja para ser
referência, seja para ser negado. Principalmente a partir do instante em que
a criança começa a viver a chamada crise de oposição, em que a negação
do outro funciona como uma espécie de instrumento de descoberta de si
própria. Isso se dá aos três anos de idade, a hora de saber que "eu" sou.
Manipulação, sedução e imitação do outro são características comuns nessa
fase. Por outro lado, há estágios em que a criança está mais voltada para o
conhecimento da realidade, conhecido como Força Centrífuga.
Neste princípio de alternância de direções, pode-se dizer que quando a
direção de criança é para o conhecimento e interesse de si mesma
(centrípeta), o predomínio é do afetivo. Já quando a direção da criança é
para o conhecimento do mundo externo (centrífuga), o predomínio é do
cognitivo.
Estágios de Desenvolvimento Wallon
Em sua teoria psicogenética, Wallon (2007) descreve o desenvolvimento infantil em
estágios pelos quais a criança passa ao longo de sua vida. Para ele, cada estágio é
considerado um sistema completo em si, uma vez que contém todos os componentes que
constituem a pessoa, envolvendo a dimensão afetiva, cognitiva e motora.
Wallon (2007) divide o desenvolvimento infantil em cinco estágios: impulsivo emocional,
sensório-motor e projetivo, personalismo, categorial e, por último, a puberdade e
adolescência.
❏ 1° estágio - Impulsivo Emocional (0 a 1 ano) - neste primeiro estágio, o bebê
expressa sua afetividade por meio de movimentos descoordenados como forma de
resposta à sua sensibilidade e ao seu desconforto corporal. É bastante comum nesta
idade o bebê, frente a algum desconforto (como por exemplo, dor, sono, fome, etc.),
reagir por meio do choro e movimentos corporais, expressando irritabilidade, dor ou
qualquer outro sinal. O movimento é para dentro, para o conhecimento de si. Força
centrípeta (movimento interno que tende a se aproximar do centro), predomínio do
afetivo.
❏ 2° estágio - Sensório-motor e Projetivo (1 a 3 anos) - neste estágio, a criança
desenvolve habilidades importantes para seu processo de socialização, dispondo da
fala e da marcha como recursos para conhecer e acessar o mundo e a si mesma.
Nesta fase, a criança se volta para o mundo externo, a fim de conhecer os objetivos
realizando indagações sobre os mesmos (MAHONEY; ALMEIDA, 2005). O
movimento é para fora, para o conhecimento do mundo exterior. Força centrífuga
(sai do interno e vai para o externo), predomínio da cognição.
❏ 3° estágio - Personalismo (3 a 6 anos) - neste estágio, a principal característica é a
descoberta de si como alguém diferente das outras crianças e adultos. Nesta fase, a
criança já é capaz de identificar características singulares entre as pessoas,
expressando-as em falas como: “o meu colega da escola chora demais”, “ele briga
demais”, etc. O movimento é para dentro, para o conhecimento de si. Força
centrípeta, predomínio do afetivo.
❏ 4° estágio - Categorial (6 a 11 anos) - neste estágio, o processo de diferenciação
está mais consolidado, dando condições para a criança explorar com maior
tranquilidade o mundo externo e interno. Nesta fase, a criança já apresenta um
pensamento mais desenvolvido, o que permite realizar atividades envolvendo
agrupamento, classificação, categorização, habilidades estas que exigem a
presença de um pensamento mais abstrato. O movimento é para fora, para o
conhecimento do mundo exterior. Força centrífuga, predomínio da cognição.
❏ 5° estágio - Puberdade e Adolescência (11 anos em diante) - neste estágio, a
característica principal é a exploração de si mesmo, na busca da construção de uma
identidade, expressa em questões como: “quem sou eu? O que serei no futuro?”.
Para tanto, neste estágio há a presença de comportamentos de confronto,
autoafirmação e questionamentos com relação aos valores e normas impostas pelos
adultos. O movimento é para dentro, para o conhecimento de si. Força centrípeta,
predomínio do afetivo.
Processo de Aprendizagem
❏ 1° estágio - principal recurso de aprendizagem do bebê é a fusão com seu cuidador,
em especial com a figura materna e/ou paterna. O processo ensino-aprendizagem é
pautado por contatos corporais, uma vez que o bebê passa a maior parte do seu
tempo conectado com seu principal cuidador seja para dormir, brincar ou se
alimentar (MAHONEY; ALMEIDA, 2005).
❏ 2° estágio - acontece pela oferta de diversas experiências que possibilitam à criança
explorar espaços, texturas e situações. Além disso, é necessário a disposição do
adulto para responder aos constantes questionamentos, movimento este que revela
a busca da criança em compreender o mundo (MAHONEY; ALMEIDA, 2005).
❏ 3° estágio - o processo de aprendizagem deve acontecer pela oferta de diferentes
atividades e a possibilidade de escolha pela criança daquelas de maior atração. O
adulto será confrontado com muitas respostas envolvendo a recusa, como por
exemplo: “não, não vou, não gosto, etc.”. Isso porque, a criança está constituindo
sua identidade e já é capaz de recusar aquilo que não se identifica ou não deseja.
❏ 4° estágio - a criança é capaz de entender conceitos do processo de escolarização,
como por exemplo seres vivos, reino animal, entre outros. O processo de
aprendizagem se dá pela descoberta de diferenças e semelhanças entre objetos,
imagens e ideias, havendo o predomínio do pensamento lógico (MAHONEY;
ALMEIDA, 2005).
❏ 5° estágio - o recurso principal de aprendizagem é a oposição, uma vez que oferece
a possibilidade de identificação e diferenciação entre idéias, valores e concepções.
Neste sentido, o processo de ensino-aprendizagem deve oferecer espaço para que
haja discussões e expressões de diferentes opiniões e ideias (MAHONEY;
ALMEIDA, 2005).
O Valor da Interação Social no Desenvolvimento
Em suas observações sobre o desenvolvimento infantil, você já se deparou com
comportamentos na criança envolvendo choro, irritabilidade, entre outros que muitas vezes
são significados pelo adulto como “birra”, “manha”ou “sono”?
Estes são comportamentos bastante comuns em crianças e motivo de procura pelo
psicólogo por parte de familiares e educadores, com a queixa de não saber mais como lidar
com tais comportamentos infantis.
Henri Wallon descreveu e analisou os comportamentos de oposição na infância e seu
processo de constituição identitária.
O papel do contexto social no desenvolvimento infantil, destacando-se o papel da
linguagem e do pensamento, e a função do conflito na constituição identitária infantil.
Na teoria de Wallon, o meio ocupa um papel de extrema importância para o
desenvolvimento infantil, o qual envolve as relações humanas, os objetos físicos, os
conhecimentos, entre outros aspectos que constituem a cultura humana (GALVÃO, 1995).
O meio descrito pelo autor é diferente em cada estágio do desenvolvimento infantil, isto
porque os recursos dos quais cada criança dispõe são diferentes a depender da faixa etária.
Sendo assim, cada estágio do desenvolvimento infantil define um tipo de relação particular
da criança com seu contexto social, o que implica dizer que a cada idade é diferente o meio
da criança.
Outro elemento importante com relação à função do meio no desenvolvimento infantil, é
o fato deste se constituir como fonte de desenvolvimento não somente pelo processo de
apropriação e identificação. O meio também é fonte para a constituição da identidade na
medida em que favorece a construção de conflitos e oposições do sujeito com o seu
contexto social, fenômeno este bastante comum na criança (GALVÃO, 1995).
Função do Conflito na Construção Identitária Infantil
No cotidiano escolar ou familiar, são comuns as situações de conflito envolvendo a
relação da criança com pais, professores e alunos. Tais comportamentos da criança são
acompanhados por sentimentos como irritabilidade, raiva, desespero e medo tanto por parte
da criança quanto dos adultos com quem se relaciona.
Segundo Galvão (1995), compreender o conflito infantil como algo importante para a
constituição identitária da criança é fundamental para o trabalho de educadores e pais, já
que estão em contato com crianças na maior parte do tempo.
Para a autora, quanto maior a clareza de pais e professores com relação aos fatores que
provocam os conflitos, maiores serão suas possibilidades de controlar a manifestação de
suas reações emocionais e encontrar caminhos para solucioná-los.
O exercício de reflexão e avaliação faz, das situações de dificuldade, a compreensão dos
motivos e identifica suas próprias reações, apresentando um movimento que provoca a
redução dos impulsos emocionais.
Outra ideia bastante presente nas práticas educativas com relação ao desenvolvimento
infantil é a de que, para a criança aprender, é necessário que ela esteja contida, parada.
Essas práticas visam excluir o corpo para focalizar na cognição. Para Wallon (2008), o
corpo em movimento favorece o desenvolvimento da cognição e muitas vezes a criança
pequena não apresenta a capacidade de contenção de seus movimentos, e frente a
imposição de permanecer imóvel acaba por gastar toda sua energia focando nesta
contenção, não sobrando espaço para o desenvolvimento afetivo e cognitivo.
Portanto, nesta lógica a escola precisa repensar o espaço do corpo como uma dimensão
importante do desenvolvimento cognitivo da criança.
Neste sentido, nota-se o quanto o meio é fundamental para o desenvolvimento infantil,
uma vez que permite a construção de momentos de identificação, diferenciação,
instaurando-se conflitos e oposições que constituem a identidade da criança. Além disto, é
nestas relações que o pensamento e a linguagem irão se desenvolver.
Pensamento e Linguagem
Assim como fez Vigotski, Henri Wallon também discorreu sobre o desenvolvimento da
linguagem e do pensamento. Para Wallon (2008), entre o pensamento e a linguagem existe
uma relação bastante próxima, uma vez que a linguagem permite a expressão do
pensamento ao mesmo tempo que o constitui.
O conceito de linguagem utilizado por Wallon refere-se à utilização da linguagem verbal,
caracterizada pela expressão do pensamento via palavras e entonações.
Portanto, a utilização do termo linguagem remete ao uso de uma forma de comunicação
restrita, referente apenas à comunicação verbal.
Saber sobre o significado imposto com relação ao conceito de linguagem na obra de
Wallon é importante, uma vez que muitas vezes tal conceito é empregado de uma forma
mais ampla, envolvendo qualquer tipo de comunicação, como, por exemplo gestos,
mímicas, etc.
Linguagem - a aquisição da linguagem permite à criança desenvolver sua capacidade de
representação, que envolve a possibilidade de pensar sobre fenômenos e objetos diversos
que não estão presentes necessariamente em seu campo perceptível, mas que se
constituem como ferramenta para a organização e condução de seu pensamento e fala
(WALLON, 2008).
Pensamento - a capacidade da criança em pensar por meio de representações inaugura
uma nova relação entre si e seu mundo externo. A representação permite que a criança
estabeleça outras relações com seu contexto, podendo pensar e imaginar situações e
experiências que estão além de seu campo perceptivo imediato.
Para Wallon (2008), o desenvolvimento da linguagem e sua capacidade representacional
é o que distingue a criança de outros seres vivos. Em alguns de seus estudos, o autor
demonstra que, a partir do momento em que a criança é capaz de falar, suas condutas se
diferenciam de modo radical das do chimpanzé, por exemplo. Isto porque o chimpanzé não
possui a linguagem (caracterizada como fala em que se utiliza de palavras e expressões
como forma de comunicação), sendo incapaz de operar com elementos que não estão
presentes em sua realidade objetiva e concreta.
Wallon vai descrever a forma de inteligência dos chimpanzés para fazer uma analogia ao
pensamento da criança que ainda não possui a linguagem desenvolvida, em que há a
presença de uma inteligência prática muito parecida com a dos chimpanzés. Isto porque a
criança, até o estágio sensório-motor e projetivo, só consegue pensar sobre objetivos e
realizar operações sobre aquilo que é perceptível em seu campo visual.
Neste sentido, o desenvolvimento da linguagem tem a importante função de substituir
objetos e fatos, oferecendo ao pensamento a capacidade de operar a partir de objetos
ausentes e de relacioná-los entre si, permitindo ao pensamento operar com elementos do
passado, presente e futuro.

Fatores Importantes da Primeira e da Segunda Infância que Influenciam no


Desenvolvimento da Criança
Olhar para o desenvolvimento dessa fase é de suma importância, uma vez que as
experiências advindas deste período influenciarão no bem estar físico, emocional e
cognitivo da criança, e consequentemente, refletirá em toda a sua trajetória de vida e
construção da subjetividade. Nesse sentido, cinco pontos precisam ser levados em
consideração:
❏ Desenvolvimento integral: este tópico tem a ver com a integralidade da criança
dentro do seu processo de desenvolvimento. Ou seja, refere-se ao desenvolvimento
físico, social, cognitivo e emocional, bem como aos processos de aprendizagem, de
crescimento, de maturação e de aquisições significativas.
Além disso, parte do desenvolvimento integral, perpassa pelas transformações
estruturais, em que a criança passa a ter relação sensorial e perceptiva com o
mundo. Como por exemplo, o processo de andar e falar, onde o indivíduo passa a
interagir com o ambiente, e o seu mundo começa a abrir-se para uma nova gama de
significados.
❏ Individualidade e subjetividade: quando se fala sobre estes dois fatores, é preciso
pensar no processo de constituição e pertencimento do indivíduo, pois tal construção
ocorre pela integração e desenvolvimento de características adquiridas socialmente,
e geneticamente transmitidas, desde os elementares momentos da primeira infância.
❏ Exposição ao mundo das regras: podemos abordar este quesito como a
apresentação para as crianças ao mundo de espaço e de tempo. Em que dentro
dele há limites, disciplinas e horários, que vão fazendo parte da rotina das crianças.
Como a hora do sono, do banho, da alimentação, enfim costumes que começam a
organizar o cotidiano e, consequentemente, o mundo da criança.
❏ Investimento: este é um tópico que daria para abordar sozinho em outro texto, já
que, dele, saem milhares de questões que necessitam de constantes discussões.
Falo aqui do investimento dado a criança desde a gestação, com pré-natal e os
devidos cuidados desse momento; bem como das responsabilidades que não
partem apenas dos pais, mas também do estado que deve prover políticas públicas
voltadas para a melhoria e qualidade da saúde maternal e infantil. Assim como o
dever dele em arcar com o desenvolvimento de estratégias para uma educação de
qualidade, sendo este de extrema importância para o desenvolvimento e evolução
do ser humano e do mundo.
Assim, é possível obter efeitos positivos na saúde integral da criança, no
desenvolvimento/desempenho de vida dela e no rendimento escolar, quando
começar a fazer parte de sua rotina. Gerando condições necessárias para a
regressão das desigualdades e das negligências que afetam consideravelmente o
desenvolvimento infantil.
❏ Brincar: o brincar é uma das melhores ferramentas para o alcance do
desenvolvimento saudável e da educação integral da criança. A atividade lúdica
proporciona a ela um mundo que esteja acima do real, além de favorecer a
criatividade, a afetividade e o vínculo (quando a criança brinca com outras pessoas).
Ainda, aos olhos da psicologia, quando a criança brinca ela é capaz de criar e
estruturar situações imaginárias, bem como reviver momentos que para ela ainda
são difíceis de entender e de elaborar.
❏ A busca pela independência: a criança é dependente dos seus responsáveis em
vários aspectos – o que é totalmente normal –. Uma vez que não só ela, mas o ser
humano em si necessita de cuidados físicos, psíquicos e emocionais. Porém, tais
atitudes não podem ser confundidas com passividade, fato que muitas vezes ocorre,
devido às considerações errôneas por crer que as crianças, em sua primeira
infância, ainda estão impossibilitadas de serem ativas. Pelo contrário, o ser humano
tem a capacidade de processamento cognitivo desde a infância, e ele vai se
desenvolvendo a partir do seu crescimento e do seu contato com o mundo.
Deste modo, é imprescindível que a família, os educadores, a sociedade, os
psicólogos e os demais profissionais, olhem para o que a criança pode, sabe e quer
fazer, bem como para o que ela quer mostrar, nos diferentes momentos de sua vida.
Uma vez que estes são aspectos importantíssimos para a valorização do
desenvolvimento das crianças nos primeiros anos de vida. Anos estes refletem
significativamente em todas as fases da vida do ser humano, sobretudo nos
primeiros 20 anos, em que nos preparamos para a grande jornada do tornar-se
adulto.

Modelos
John Locke Jean Jacques Rousseau

A constituição humana era influenciada pelas circunstâncias O ser humano já nasce com suas próprias tendências
sociais. de desenvolvimento, e tal processo só será
interrompido mediante uma interferência social.

Mecanicista - Este modelo refere-se à forma de compreender Organicista - No modelo organicista o ser humano é
o humano que reage a estímulos externos, sendo moldado concebido como um organismo predeterminado ao
pelas suas condições ambientais. Além disso, enfatiza o desenvolvimento. Portanto, a força preponderante
desenvolvimento humano como algo contínuo, permitindo a para o desenvolvimento advém do próprio indivíduo.
previsão de comportamentos a partir das situações externas. Neste modelo, o desenvolvimento é constituído por
Ex:“João tem dificuldade de aprendizagem porque seus pais estágios que se complexifica ao longo da idade,
são separados ou porque tem um pai alcoólatra”. Note que, sendo universal a toda criança saudável.
de fato, estes são fatores que podem influenciar o
desenvolvimento humano, no entanto não podem ser fatores
únicos e determinantes da explicação sobre os problemas e
dificuldades afetivas e comportamentais.
Formas e caminhos para a construção de uma pesquisa científica - A escolha entre esses
tipos de pesquisas deve estar relacionada à pergunta de pesquisa e aos objetivos do
estudo.
Etapas:
1. Identificação de um problema, ou seja, refere-se à identificação de uma
2. questão que precisa ser investigada;
3. Formulação de Hipóteses a serem testadas pela pesquisa;
4. Coleta de dados: processos em que as informações do estudo serão acessadas;
5. Análise e organização dos dados;
6. Formulação de conclusões provisórias; e
7. Divulgação dos resultados.
Tipos de Pesquisas:
❏ Quantitativa - a abordagem quantitativa distingue-se pelo emprego da quantificação,
avaliando constructos que podem ser medidos, como: inteligência, cognição
(processo de aquisição de conhecimento, envolve: o pensamento, a linguagem, a
percepção, a memória, o raciocínio, criatividade, etc., que fazem parte do
desenvolvimento intelectual).
❏ Qualitativa - compreender os aspectos subjetivos e específicos da constituição de
cada sujeito, como: o sentido atribuído a determinado fenômeno, a análise da
história de vida, entre outros.
❏ Mista - utiliza tanto da abordagem quantitativa quanto da qualitativa, realizando
pesquisas que avaliem seu objeto por diferentes perspectivas, apresentando uma
visão mais geral.
Dica: Em Schubert (2015), consegue-se estudar as diferenças entre os tipos de pesquisa
aplicadas ao desenvolvimento humano, enquanto se pode ler em Gadelha e Oliveira (2018)
sobre como o método vem sendo apresentado em pesquisas da psicologia contemporânea.

Ética - explicar e solicitar a anuência da criança, o consentimento de seus pais ou


responsável legal e o cuidado em verificar constantemente, ao longo do processo de
pesquisa, qualquer risco que poderia prejudicar seu bem-estar.

Escutando Crianças
❏ Na hora da refeição as notícias mais importantes são as que as crianças nos
contam;
❏ Como temos que mudar nossa forma de falar para facilitar a expressão dos
sentimentos;
❏ A chave para um bom desenvolvimento evolutivo é o que sintonizamos com as
crianças (o outro);
❏ Elogios;
Quando queremos ter cooperação:
❏ Não faça isso.
❏ Não coma com as mãos.
❏ Não brinque com a água.
❏ Faça sua tarefa.
❏ Lave suas mãos agora mesmo.
❏ Acabou a brincadeira, vá para a cama.
❏ Descrever como é o que está fazendo ou o problema que existe (Em vez de
“Quantas vezes tenho que te dizer que apague a luz do banheiro” é melhor que
digamos “A luz do banheiro está acesa”)
❏ Dar a informação específica sobre o que está acontecendo (Em vez de “Não pode
pegar as coisas do coleguinha?” é melhor que digamos “o coleguinha ficará triste se
você levar”)
❏ Pedir com poucas palavras, de maneira simples, concisa e positiva (Em vez de
“Pare de brincar e vá dormir” seria algo como “Maria, você não gostaria de colocar o
pijama”)
❏ Falar de seus sentimentos (Em vez de “Estou cansada de cuidar de você”, é melhor
dizer “Hoje estou cansada”)
Muito além do ouvido: o que é verdadeiramente escutar uma criança?
"Escutar não é fazer as vontades da criança, e sim reconhecer que ela tem necessidades
que nem sempre é possível atender".
Dar voz, considerar, perceber, observar, favorecer autonomia: todos esses verbos estão
relacionados ao que se convencionou chamar de escuta infantil. E todos eles fazem parte
de uma mesma preocupação, a de reconhecer a criança como indivíduo pleno, capaz e
dotado de subjetividades que fazem dela um legítimo ator social; ou seja, a criança é um
sujeito de direitos.
"A escuta infantil é importante pois é urgente entender que as crianças, assim como os
adultos, são atores sociais, protagonistas e autoras das suas próprias vidas".
“O que vale verdadeiramente não é a quantidade mas a qualidade de tempo que os pais
passam diariamente com seus filhos”.
“Escutar crianças se dá muito além dos ouvidos: acontece a partir da conexão do adulto
com aquela sensação que vem de dentro na relação com a criança que está à sua frente”.
“Criar espaços e tempos para novas e diferentes experiências que fogem do script ou do
planejado proporcionam, na maior parte das vezes, incríveis surpresas”.
Ouvir as crianças vai muito além do ouvido. É reconhecer que elas falam também por
gestos, atitudes, posturas e também silêncios. Birras, choro, manhas, acessos de raiva:
tudo isso demanda escuta.
Frases ditas pela antropóloga Adriana Friedmann.
Escuta Ativa
❏ Apreende e compreende conteúdos e sentimentos.
❏ Responde aos sentimentos expressos.
❏ Aceita as expressões e sentimentos.
❏ Não faz julgamentos.
❏ Percebe o dito no não-dito e o não-dito no dito.
❏ Considera a linguagem não-verbal.

Atividade Prática 1
Etapa 1: Percepções e Sentimentos de Gestantes Sobre o Pré-natal.
❏ Realize a leitura do texto: PICCININI, Cesar Augusto et al. Percepções e
sentimentos de gestantes sobre o pré-natal. Psic .: Teor. e Pesq. , Brasília, v. 28, n.
1, p. 27-33, março de 2012. Disponível em
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-37722012000100004
&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 21 de maio de 2020.
❏ Discuta sobre as seguintes questões:
1. Como as gestantes vivenciam a gestação? Quais são suas percepções e
sentimentos?
Resposta - A gestação é um momento de grandes transformações, especialmente
para as mães primíparas. Ao ser mãe, muitas são as mudanças que se apresentam
à mulher em termos físicos, psicológicos, familiares e sociais. Tudo isto passa a
estar associado a inúmeros sentimentos que povoam o mundo psíquico das
gestantes. Muitos são as percepções e sentimentos das gestantes, destacando
entre eles: A importância do pré-natal quando se depara com os seguintes recursos:
❏ Ultrassonografia - que contribui para a redução das preocupações sobre a
própria saúde e a do bebê, reconhecimento da própria maternidade, e
vínculo mãe-bebê juntamente com pai-bebê.
❏ Profissionais de saúde, familiares e amigos como fontes de apoio e
informação.
❏ Muitas são as preocupações sobre a assistência pré-natal e quanto às
demandas emocionais, que não são atendidas. E por conta disso discute-se
a importância de se considerar estas demandas no pré-natal, assim como da
humanização deste atendimento.
2. Qual a importância da ultrassonografia para a gestante?
Resposta - Ainda que esse exame tenha como objetivo a avaliação de saúde física
dos bebês, gestantes enfatizam suas implicações emocionais. Assim, a
ultrassonografia é um procedimento importante para a diminuição da preocupação
com a saúde do bebê, na assimilação da gestação e na formação do vínculo com o
bebê. Esses achados são corroborados pela literatura, em que se vê que a
ultrassonografia - procedimento que ainda precisa ser universalizado nos serviços
de pré-natal - tem um grande impacto emocional para a gestante, pai e demais
familiares. Ele torna o bebê mais real e um ator ainda mais presente na relação
mãe-bebê, sem falar na sua importância ao transformá-lo também em paciente.
Assim, a ansiedade com relação à saúde do bebê pode também ser diminuída,
apesar de algumas vezes ficar exacerbada em função de este exame também pode
revelar alguma malformação fetal. Independentemente do que o exame venha a
revelar, a ultrassonografia tem importante impacto na relação pais-filho, já que esta
relação é construída desde o período pré-natal e vai ter consequências para as
relações após o nascimento.
3. Qual a importância das pessoas de referência, como profissionais de saúde,
familiares e amigos para a gestante?
Resposta - De tamanha importância, os familiares e amigos são usados como
pessoas de referência durante o pré-natal, transmitindo informações, dando
conselhos, e apoiando a gestante em momentos de instabilidade emocional, o que
também tem sido destacado na literatura. Contudo, a importância dos familiares não
está associada apenas a aspectos positivos do apoio recebido, as informações e
conselhos recebidos por vezes são bastante ansiogênicos, perturbando-as mais do
que as ajudando, gerando medo em função de cuidados exagerados e em função de
experiências negativas prévias de familiares. Nesse sentido, é importante destacar
que o apoio social precisa ser pautado na sensibilidade de quem oferece, sob pena
de ser percebido como mais negativo do que positivo pela gestante. Isto também é
verdade quando se trata da relação com os profissionais de saúde. Alguns possuem
pouca sensibilidade ao lidarem com questões de saúde da gestante ou do bebê.
Nessas circunstâncias, gera-se sofrimento, levando a um impacto emocional
negativo. É evidente a necessidade de apoio emocional durante a gravidez. Esta
necessidade fica óbvia, quando se sabe que a gravidez envolve profundas
mudanças corporais, psicológicas, familiares e sociais. Assim sendo, a presença de
um profissional de saúde mental se faz importante no pré-natal, medos e ansiedades
exacerbados poderiam ser adequadamente minimizados por estes profissionais, que
podem contribuir não só no apoio psicológico que a gestante necessita, mas
também na preparação para a maternidade e, inclusive da paternidade. Em certos
casos não está previsto no acompanhamento pré-natal o atendimento das
demandas emocionais da gestante. Portanto algumas gestantes se vê na
necessidade de recorrer à equipe médica, a familiares e amigos, ou à necessidade
de buscar apoio emocional fora do serviço de rotina dos hospitais e postos de saúde
onde eram atendidas. É importante ressaltar a relevância de se constituir um espaço
formal e sistemático junto aos locais de atendimento ao pré-natal, a fim de que se
tenha um serviço integral à gestante, que não se restrinja a questões de saúde
física.
4. Como elas compreendem a assistência e humanização no atendimento pré-natal?
Resposta - Algumas gestantes relatam preocupações quanto à assistência em
saúde que recebiam/recebem na gestação ou vão receber no parto, especialmente
quando a assistência era prestada na rede pública de saúde. Em alguns casos, a
preocupação se refere a algum procedimento durante a gestação, como a falta de
algum exame ou a insatisfação com algum exame realizado. Além disso, dentre as
gestantes que tinham preocupações com a assistência, ficou evidente esse
sentimento em relação ao parto. A assistência pré-natal se constitui em um fator
fundamental para o desenvolvimento gestacional, como amplamente demonstrado
pela literatura. Neste contexto, é importante destacar a presença dos profissionais
de saúde que se constituem em principal referência para as gestantes. O papel
destes profissionais será facilitado se pautado pela confiança da gestante em
relação a eles. Algumas gestantes deixam isso claro ao mencionarem que não
querem que outro médico as examine ou faça seus partos. Além disso, a falta de
confiança no profissional se constituiu em motivo para a troca de médico. É evidente
a importância de uma boa relação profissional-paciente e da transmissão de
informações sobre o processo da gestação e os procedimentos de parto e puerpério.
Tiedje (2004) reforça esse aspecto ao afirmar que estabelecer uma relação com a
gestante possibilita que as informações não somente sejam transmitidas, mas sejam
assimiladas e utilizadas por elas. Por fim, há uma crença de que o atendimento na
rede pública de saúde tem menor qualidade, quando comparado ao atendimento na
rede privada. Portanto é plausível supor que o pré-natal no sistema público brasileiro
ainda não seja o ideal. Isto se traduz muitas vezes por um menor número de
consultas no pré-natal, apesar da recomendação do Ministério da Saúde (2006b) de
um mínimo de seis consultas. Além disto, o parto tende a ser feito por um médico
que pode nunca ter visto a gestante anteriormente. Isto acaba por dificultar sua
humanização que tem sido enfatizada por instituições e diversos autores. Estas
características do atendimento pré-natal e do parto no SUS tendem a contribuir para
exacerbar as preocupações da gestante durante o pré-natal e possivelmente a
reduzir sua adesão ao mesmo, na medida que suas demandas, em particular as
emocionais, acabam não sendo atendidas.

Etapa 2: Estágios do Desenvolvimento Cognitivo de Jean Piaget.


❏ Realize a leitura das páginas 59 a 62, da seção 2 - Unidade 2 do livro didático da
disciplina: POTT, Eveline Tonelotto Barbosa. Desenvolvimento humano I. Londrina:
Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2019
❏ Reconheça, nas imagens a seguir, os estágios do desenvolvimento cognitivo e relate
as principais características:
Imagem 1: Bebê dormindo

Estágio Sensório-Motor:
❏ Caracteriza o desenvolvimento da criança desde seu nascimento até
aproximadamente 24 meses de idade.
❏ Fase, extremamente rica do desenvolvimento, contém a gênese (ou seja, a origem)
do desenvolvimento da inteligência na criança.
❏ Nesse estágio, apesar da linguagem ainda não estar desenvolvida, a criança
demonstra de forma bastante rica sua lógica de raciocínio e conhecimento da
realidade. Neste sentido, a teoria de Piaget chega à seguinte conclusão: o
desenvolvimento da inteligência na criança antecede o desenvolvimento da fala.
❏ Estágio caracterizado pela inteligência prática, uma vez que a criança conhece o
mundo por sua percepção (apreende o mundo pelos órgãos sensoriais) e ação
(conhece o mundo por meio de movimentos no espaço e tempo).
❏ Fase onde as conquistas das crianças são importantes, destacando-se entre elas:
❏ Permanência do objeto - quando a criança nasce ela não tem ideia de que,
no mundo, há objetos e que inclusive ela é um desses objetos. Por isso, um
dos grandes desafios nessa fase é a construção da noção de objeto. No
bebê, geralmente quando um objeto sai de seu campo de visão, ele
compreende que este objeto não existe mais. Por volta de 9 meses de idade,
o bebê já constrói a ideia de que o objeto, embora não seja visto, ele existe.
Tal raciocínio é um salto significativo no desenvolvimento da inteligência,
pois, se antes a criança acreditava que os objetos que existiam eram
somente aqueles que via, aos poucos a criança passa a perceber que o
mundo tem uma existência própria e que os objetos existem
independentemente de sua percepção. Daí a compreensão: não vejo os
objetos, mas eles existem, portanto, posso procurá-los.
❏ Noção de Causalidade - refere-se à capacidade construída nessa fase de
que os objetos do mundo interagem entre si, apresentando certa
causalidade. Um exemplo disso é a noção construída pela criança de que
toda vez que aperta a tomada, a luz se acende. Portanto, é uma noção de
causa e efeito, que permite a criança se apropriar de regras e construir
conhecimentos.
❏ Diferenciação entre meios e fins - a criança aprende que, para conseguir um
determinado objeto, é necessário realizar uma determinada ação antes. Por
exemplo, a criança aprende que precisa retirar uma almofada para pegar um
brinquedo que se encontra atrás dela.
❏ Noção de configuração espacial - compreende que o objeto tem dimensões
tridimensionais. Um exemplo disso, é o bebê que é capaz de manipular um
brinquedo, utilizando-o e analisando-o em suas diversas dimensões.
Imagem 2: Menina e desenho

Estágio Pré-Operatório:
❏ Caracteriza o desenvolvimento da criança de 2 anos a 7 anos de idade.
❏ No início desse estágio, há o desenvolvimento da linguagem, que permite, à criança,
não mais conhecer o mundo somente por suas percepções e ações (característica
da fase anterior) mas também por meio das representações (capacidade de a
criança pensar um objeto através de um outro objeto). Portanto, nessa fase, a
criança é capaz de representar um objeto por um substituto, que pode ser uma
palavra, um desenho, um gesto, etc.
❏ Criança começa a brincar de “faz de conta”, utiliza-se da imitação, elabora
desenhos, entre outras formas de brincadeiras que expressam sua nova conquista
com relação ao desenvolvimento da inteligência, relacionada à capacidade de
representar.
❏ Estágio caracterizado pela inteligência representacional.
❏ As principais características da criança nesse estágio são:
❏ Introdução à linguagem - a criança entra no mundo da linguagem, o que
permite uma socialização da inteligência, possibilitando o processo de
comunicação.
❏ Introdução à moralidade - nessa fase, a criança começa a se apropriar dos
valores, virtudes e regras que regem nossa sociedade. Aprende a noção do
que “pode ou não pode”, o que é “certo e errado”.
❏ Pensamento egocêntrico - a criança ainda não tem recursos cognitivos para
compreender o ponto de vista do outro. Um exemplo disso é a criança que
não aceita dividir um brinquedo com um amigo, uma vez que sua atenção
está em atender suas próprias necessidades.
O desenho da criança pertence ao estágio de pré-esquematismo.
Imagem 3: Amigos da escola

Com relação aos dois estágios posteriores ao pré-operatório, Piaget vai dizer que a criança
já consegue pensar por meio de operações. O conceito de operatório deriva da palavra
operação que significa uma ação interiorizada que modifica o objeto do conhecimento. Em
outras palavras, é um grupo de ações que modifica o objeto, possibilitando, ao sujeito,
novos avanços no conhecimento. Para Piaget, as estruturas operacionais constituem a base
do conhecimento.

Estágio Operatório-Concreto:
❏ Caracteriza o desenvolvimento da criança de 7 anos a 12 anos de idade.
❏ Nesse estágio, surgem as primeiras operações chamadas de concretas por Piaget,
devido ao fato de existirem em função de alguma relação concreta que a criança
estabelece.
❏ No estágio operatório-concreto, a criança faz uso das representações por meio de
objetos concretos que lhe façam pensar sobre determinado objeto, problema ou
situação abstrata. Um exemplo disso é a criança que, em uma aula de matemática,
o professor utiliza da contagem de objetos para ensinar determinada função, como:
multiplicação, subtração, divisão, etc. Portanto, é apresentado um elemento concreto
para a criança ser capaz de pensar sobre situações e conceitos abstratos.
Imagem 4: Adolescentes
Com relação aos dois estágios posteriores ao pré-operatório, Piaget vai dizer que a criança
já consegue pensar por meio de operações. O conceito de operatório deriva da palavra
operação que significa uma ação interiorizada que modifica o objeto do conhecimento. Em
outras palavras, é um grupo de ações que modifica o objeto, possibilitando, ao sujeito,
novos avanços no conhecimento. Para Piaget, as estruturas operacionais constituem a base
do conhecimento.

Estágio Operatório-Formal:
❏ Caracteriza o desenvolvimento dos 12 anos em diante.
❏ Caracterizado pelas operações formais ou hipotético-dedutivas, em que a criança já
é capaz de raciocinar com hipóteses, sem precisar de objetos concretos para
disparar a reflexão acerca de uma determinada situação ou problema (como era
característico da fase anterior).
❏ Portanto, no operatório-formal, a criança não precisa mais do material concreto para
desenvolver seu pensamento, sendo que o grau de abstração do seu pensamento é
muito maior nesse estágio. A diferença entre o estágio operatório-concreto e
operatório-formal é o grau de abstração do pensamento.
❏ Piaget finaliza a descrição dos estágios do desenvolvimento da inteligência com o
estágio operatório-formal, que se refere à forma de inteligência mais abstrata,
característica do pensamento do adolescente e do adulto.

Obs: Todo o conteúdo apresentado neste arquivo é de suma importância e está resumindo
a matéria estudada, portanto será marcado apenas os títulos para uma melhor organização
e compreensão.

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