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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ - UECE

SECRETARIA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA - SEAD


UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL – UAB
LICENCIATURA EM HISTÓRIA

PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO E DA APRENDIZAGEM

HISTORIANDO

NAS TRILHAS DA PSICOLOGIA: Da idade Antiga ao Século XX

Francimar de Oliveira Pereira

RUSSAS-CE
2022
NAS TRILHAS DA PSICOLOGIA: da idade Antiga ao Século XX

A Psicologia é entendida como um ramo das ciências humanas que estuda o


homem, os seres humanos em suas mais diversas caracterizações. No entanto, a mesma possui
variados objetos específicos de estudo como a personalidade, o comportamento, a consciência,
o inconsciente, etc. A sua “matéria-prima, portanto, é o homem em todas as suas expressões, as
visíveis (nosso comportamento) e as invisíveis (nossos sentimentos), as singulares (porque
somos o que somos) e as genéricas (porque somos todos assim) — é o homem-corpo, homem-
pensamento, homem-afeto, homem-ação e tudo isso está sintetizado no termo subjetividade”.
Atualmente, a Psicologia é vista como tendo seu início já na Grécia Antiga, com os filósofos
gregos, quando “a Filosofia começou a especular em torno do homem e da sua interioridade”.

IDADE MÉDIA

Na Idade Média, Roma torna-se a grande potência econômica, política e cultural


no Ocidente. Com ela, também se expande e se fortalece o Cristianismo. Santo Agostinho e São
Tomás de Aquino são dois pensadores/filósofos/intelectuais cristãos de destaque neste período.
Ou seja, os “questionamentos existenciais” do homem medieval são respondias com base nos
escritos cristãos. Com o Renascimento, já na Idade Moderna, há predomínio do uso da razão
para a explicação dos fenômenos naturais; ou seja, a Ciência ganha força. Copérnico, Galileu,
René Descartes são nomes importantes desse período. Este último introduz a ideia de separação
entre corpo e mente (alma). Ele afirma “que o homem possui uma substância material e uma
substância pensante, e que o corpo, desprovido do espírito, é apenas uma máquina”.

SÉCULO XIX

É no século XIX que estudos mais sistemáticos aproximados do campo do que


conhecemos hoje como Psicologia surgem quando ela começa a trilhar caminhos de estudos no
campo na Fisiologia, Neuroanatomia e Neurofisiologia. Ou seja, a ciência começa a se apoderar
da mente humana agora com estudos relacionados a sua anatomia e ao seu funcionamento
fisiológico. O cérebro agora é visto como uma máquina e se afasta cada vez mais da Filosofia
ganhando o status de Ciência. É nos Estados Unidos que surgem as primeiras escolas de
Psicologia com diferentes abordagens: o Funcionalismo, de William James (1842-1910), o
Estruturalismo, de Edward Titchner (1867-1927) e o Associacionismo, de Edward L. Thorndike
(1874-1949). No século XX, estas abordagens serão substituídas por outras tendências teóricas:
Behaviorismo, Gestalt e Psicanálise.
SÉCULO XX

A Psicologia Sócio-histórica chegou ao Brasil nos anos 1980, apesar de ter


surgido no leste europeu no início do século XX. Suas teorias, representadas principalmente
pelas ideias de seus mais estudados representantes, Lev S. Vygotsky, Jean Piaget e Henri
Wallon, tem destaque no campo da Educação brasileira. Apesar de estes três teóricos
apresentarem divergências epistemológicas, as divergências e similitudes enriquecem e
estimulam as discussões sobre aprendizagem no campo da Educação.

Lev S. Vygotsky (1896-1934)

Através da Psicologia social e da Educação, e da Psicologia do


Desenvolvimento, as ideias da Psicologia sócio-histórica vão ganhando força principalmente
através dos escritos de Lev Vygotsky. Embalado pelas ideias marxitas, Vygotsky entendia o
mundo psíquico ligado ao mundo material, ou seja, o homem e seu mundo psíquico eram
construídos histórico e socialmente. Para Vygotsky, a vida determina a consciência, e não, o
contrário. “Nesta perspectiva, o ser humano, transformando a natureza, modificou a si, ou seja,
construindo cultura, civilizações, agindo no mundo em meio aos desafios lançados pela
realidade, evoluiu como espécie.” (NUNES&SILVEIRA, 2015)

Vygotsky entendia que o desenvolvimento humano, que ocorre desde o início da


vida, dá-se através da apropriação de elementos culturais que circundam os indivíduos, levando-
os a uma condição eminentemente humana de um ser de linguagem, consciência e atividade,
transformando-os de um ser biológico em um ser sócio-histórico. Ao longo desse
desenvolvimento, os sujeitos apresentariam dois tipos de aspectos: as funções elementares e as
funções superiores.

As primeiras são de origem biológica, determinadas pela estimulação ambiental.


Estas interações ambientais vão levando a um grau de desenvolvimento e evolução, onde ocorre
um domínio dos significados culturais pelo sujeito. Este desenvolvimento psicológico leva à
constituição das funções psicológicas superiores, onde ocorre, por exemplo, a apropriação de
significados culturais de palavras, gestos, sentimentos, objetos, o gera um desenvolvimento do
pensamento. Para Vygotsky, segundo Nunes e Silveira (2015), “é impossível pensar o
desenvolvimento humano sem a dimensão do outro, do intercâmbio social, da interferência do
meio, bem como das situações de aprendizagem que se efetivam e fazem o desenvolvimento
avançar.”
Jean Piaget (1896-1980)

Assim como Vygotsky, Piaget defendia a tese de que só podemos conhecer algo
a partir de nossa interação recíproca com o meio. Piaget, no entanto, se debruçou a investigar
como passamos de um conhecimento mais simples a um mais complexo, mais avançado,
buscando compreender os processos que se desenrolam nesta evolução, ou seja, como estas
transformações vão se dando no dia a dia da criança/sujeito e do meio em que ela/ele vive.

Para Piaget, a evolução do conhecimento é algo contínuo, não para e se dá a


partir da interação ativa do sujeito com o meio (físico e social). Este desenvolvimento passa por
etapas sucessivas de organização, nos campos do pensamento e do afeto. Segundo o suíço, no
funcionamento da inteligência humana existe uma ação constante dos sujeitos em busca de uma
explicação, de tentativas de compreensão do que ocorre ao seu redor. Ou seja, a inteligência é
compreendida por Piaget como algo não inato, pois é construído pela criança a partir de sua
relação com seus mundo, sendo este constituído por pessoas, objetos, emoções, sentimentos,
sistemas de significação, etc.

Em sua vasta obra científica, destacam os estágios do desenvolvimento do


conhecimento. São eles:

 sensóriomotor (aproximadamente de 0-2 anos);


 pré-operatório (aproximadamente de 2-6 anos);
 operatório concreto (aproximadamente de 6-11 anos) e o
 operatório formal (a partir de aproximadamente dos 11, 12 anos)

Cada estágio descrito por Piaget não deve ser levado por momentos rígidos,
fechados, nem como ações obrigatórias que cada criança deve apresentar ou realizar. No
entanto, é necessário observar que cada estrutura, estágio está inter-relacionada com as
anteriores, ou seja, para cada nova aquisição de um novo conhecimento é necessário uma
reorganização de estruturas mentais já existentes. Assim, “para compreender a nova informação
é necessário que o sujeito reveja seus conceitos, que compare, reestruture os sentidos já
adquiridos para captar este novo conhecimento” (NUNES&SILVEIRA, 2015).

Henri Wallon (1879-1962)

Os estudos do francês Henri Wallon para o campo da Educação são de relevância


até hoje, pois suas ideias sobre o ensino-aprendizagem incorporam aspectos emocionais e
afetivos. Com seus estudos na área do materialismo dialético de Karl Marx, Wallon defendia a
tese de que o desenvolvimento humano se dá por fatores biológicos, como também por
influências do meio e de existência (sociais), além da influência de características pessoais
individuais, numa relação de interdependência de cada um desses fatores.

Wallon compreendia que a gênese dos processos psíquicos humanos dá-se pela
união das dimensões intelectual, afetiva e motora. Assim, “sua teoria é considerada como a
psicogênese da pessoa completa, pois compreende o ser humano em sua totalidade, integrando
razão, emoção e influências histórico-culturais” ((NUNES&SILVEIRA, 2015).

Wallon, assim como Piaget, também propôs estágios para o desenvolvimento


das crianças. Wallon, no entanto, concebe a criança como um ser eminentemente social, onde
seus desenvolvimento está intimamente ligado às interações com o meio e a cultura. Logo,
Wallon não encara o desenvolvimento infantil linear, cronológico, de modo que em cada etapa
há uma predominância de uma característica, ocorrendo uma alternância entre manifestações
intelectuais e afetivas, o que Wallon chamou de alternância funcional.

Os estágios propostos por Wallon são:

 impulsivo-emocional;
 sensório-motor projetivo;
 personalista;
 categorial e
 adolescência.

Sigmund Freud (1856-1939)

Os estudos e investigações de Sigmund Freud no campo da Psicologia que


ajudou a criar, a Psicanálise, são referência até hoje, pois este médico buscou compreender os
fenômenos psíquicos dentro de um campo investigativo até então novo, a sexualidade. Freud
buscou compreender a relação dos comportamentos sexuais e fenômenos psicológicos
patológicos como a histeria. Freud deu ênfase aos estudos dos processos psíquicos
inconscientes, promovendo uma revolução no modo de pensar da época. “Inconsciente”,
“transferência”, “identificação”, “complexo de Édipo”, “complexo de castração”, “ego”,
“superego”, dentre outros, são conceitos básicos implantados por Freud no estudo da
compreensão da concepção de sujeito e de psiquismo na psicanálise.

No início de sua carreira, Freud empregava em seus pacientes o método da


hipnose; no entanto, o médico deixaria de utilizar este método, pois muitos pacientes
apresentavam resistência e seus resultados eram poucos satisfatórios, uma vez que os pacientes
apresentavam melhoras por um curto período de tempo. Freud, então, passou a utilizar o método
da associação livre, de onde, segundo o mesmo, nasceria a Psicanálise.

Neste método, o paciente fica livre de falar o que lhe vier à mente, fazendo assim associações
isentas de crítica e independentes de toda reflexão consciente. As associações seriam
determinadas pelas forças inconscientes da psique, e o terapeuta deveria interpretá-las, a fim de
trazer à tona o trauma responsável pelas perturbação nervosa do paciente.

Através do emprego do método da associação livre, Freud conseguiu provar cada


vez mais que os traumas causadores das perturbações psíquicas têm origem sexual. Ou seja,
estas perturbações estavam relacionadas a impulsos fortemente reprimidos durante a infância.
Foi justamente por ter utilizado a sexualidade para justificar certos comportamentos humanos
que as teses de Feud expostas em seus livros foram recebidas na época com estranheza e
rejeição.

Em seus escritos, Freud argumentava que suas pesquisas no campo da


Psicanálise poderiam também ser uteis para a Educação, apesar de o mesmo não dissertar com
teorias do ensino e aprendizagem. Freud criticava a moral rígida da educação na sua época
(final do século XIX e início do século XX), saindo em favor de uma educação menos
repressora e prazerosa, “na qual o ato de educar implicasse também a realidade do desejo”.
Assim, Freud e sua Psicanálise nos trazem à luz referenciais sobre os seres humanos e nos
ensinam que o processo ensino-aprendizagem é feito “nas relações do ser com o meio, em um
complexo contexto intersubjetivo”, chamando-nos atenção que o ensino não se restringe a um
conjunto de prescrições, técnicas, ações pedagógicas.

REFERÊNCIAS
BOCK, Ana Mercês Bahia; FURTADO, Odair; TEIXEIRA, Maria de Lourdes Trassi.
Psicologias: Uma Introdução ao Estudo de Psicologia. 13ª edição reformada e 3ª tiragem.
Editora Saraiva, 2001.
FREUD. Várias Obras. Coleção Os Pensadores. Abril Cultural, 1978.
NUNES, Ana Ignez Belém Lima e SILVEIRA, Rosemary Nascimento. Psicologia da
Aprendizagem. 3. ed. rev. – Fortaleza: EdUECE, 2015.

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