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ADOLESCÊNCIA
Hall (apud OLIVEIRA, 2017) definia a adolescência como o período evolutivo marcado por
“tempestade e tormenta”, devido ao desabrochar da sexualidade e à expressão de
comportamentos impulsivos de humor oscilante. Esse conceito é ultrapassado, porém, ainda é
importante, pois difundiu uma ideia que ficou fortemente arraigada na nossa cultura,
influenciando estudos posteriores.
Erickson (apud OLIVEIRA, 2017) propõe a evolução da identidade humana em uma sequência de
fases, sendo a adolescência a mais crítica dessas, por representar uma difusão de papéis que
precisam ser elaborados, dando suporte à idade adulta.
Aberastury e Knobel (apud OLIVEIRA, 2017) também enfatizam a crise e os conflitos da
adolescência, atribuindo-os a três perdas fundamentais cujos lutos precisam ser elaborados: o
corpo infantil, a identidade infantil e as relações com os pais de infância. O adolescente passa,
então, por esse período de instabilidades e de desequilíbrio, que são apresentados como normais,
visto que são necessários à formação da maturidade do adulto.
para a Organização Mundial de Saúde (XXXX), a adolescência é “um período
biopsicossocial que compreende a segunda década da vida, ou seja, dos 10 aos 20 anos”.
O Ministério da Saúde do Brasil e o IBGE concordam com esse período; já o Estatuto da
Criança e do Adolescente o identifica dos 12 aos 18 anos. Mas não é somente uma
questão de idade, pois “a adolescência inicia-se com as mudanças corporais da
puberdade e termina com a inserção social, profissional e econômica na sociedade
adulta” (FORMIGLI et al. apud SCHOEN-FERREIRA et al., 2010, p. 227).
O método dominante nas pesquisas de Wundt era a introspecção. Esse método refere-
se ao questionamento do indivíduo pesquisado sobre a experiência que ele vivencia. Para
o teórico, só a pessoa que passa pela experiência tem condições de explicá-la – mesmo
aquelas experiências mais básicas. O método introspectivo funciona da seguinte
maneira:
indivíduo vivencia a experiência;
indivíduo descreve a experiência;
pesquisador registra a experiência descrita.
Wundt tinha como foco o estudo de processos da consciência e a introspecção servia
como acesso a esses processos. Certamente, esse método recebeu inúmeras críticas, em
especial devido ao questionamento acerca da imparcialidade daquele que fornece os
dados. Estaria o indivíduo trazendo relatos acurados sobre o que vivenciou? Essa
experiência vivenciada estaria ofuscada por variáveis não previstas pelo pesquisador? O
pesquisador estaria compreendendo com clareza a descrição do indivíduo?
Embora os questionamentos sejam relevantes, o fato é que o método introspectivo
proporcionou à psicologia – mesmo aquela experimental, adotada primariamente por
Wundt – o acesso a fenômenos psicológicos antes não estudados sob critério científico.
Ademais, o método introspectivo passou a ser adotado principalmente nas pesquisas
qualitativas e até os dias atuais possui inserção nas pesquisas, estando na base de
delineamentos dessa natureza.
Essa busca foi fundamental para a definição dos estudos no campo da psicologia que se
sucederam. Seu impacto extrapolou o âmbito experimental e os estudos sobre processos
psicológicos básicos. As pesquisas no laboratório de Leipzig formaram uma leva de
psicólogos que difundiram e aprimoraram a psicologia experimental, com cunho
notadamente quantitativo. Grande parte desses psicólogos migrou para os Estados
Unidos, terra onde até hoje as pesquisas quantitativas no campo da psicologia são
dominantes.
A abordagem experimental foi bastante presente na psicologia, principalmente no início
do Século XX. Sua utilização ganhou notoriedade em pesquisas clássicas da psicologia da
Gestalt e nas pesquisas da abordagem behaviorista. Nessa última, em especial na
figura de Skinner, foram adotados modelos quase-experimentais, que serão melhor
descritos adiante.
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1.2 Psicometria e a criação dos primeiros testes
psicológicos
No cenário da psicologia científica, ganharam destaques os processos de testagem
psicológica com objetivos mais funcionais. Mais do que conhecer o funcionamento
mental, alguns teóricos focaram na aplicabilidade das mensurações em contextos como o
trabalho, a clínica e a educação. Surgem, então, os primeiros testes psicométricos,
tendo como objetivo mensurar processos psicológicos e realizar inferências sobre o
indivíduo a partir deles.
Anastasi (1990) define os testes psicológicos como medidas objetivas e padronizadas de
amostras do comportamento humano. Atualmente, há diversos recursos tecnológicos
para aplicação e análise dos testes, principalmente os psicométricos. A origem da
psicometria remonta os primeiros passos da formulação científica da psicologia. Havia
forte tendência a compreender a psicologia e seus fenômenos à luz da lógica aplicada nas
ciências naturais. Paralelamente às experimentações e medições ocorridas no cenário
alemão, com forte influência do laboratório de Leipzig, na Inglaterra, ganha destaque os
trabalhos de Galton.
Galton foi um dos pioneiros no estudo da inteligência. O teórico acreditava que
características mentais poderiam ser transmitidas entre gerações. Nas duas últimas
décadas do século XIX, realizou estudos com pessoas eminentes, de sucesso, e buscou
traçar padrões hereditários que justificassem as altas habilidades. Tinha, como
proposta, realizar massivamente exames na população inglesa, no intuito de selecionar
os melhores representantes, com base nos resultados encontrados. A proposta de Galton
foi bastante criticada, pois associa-se a ele o conceito de eugenia, uma vez que o critério
racial era uma variável considerada em seus estudos que, muitas vezes, provavam a
superioridade dos ditos ingleses puros (DEL CONT, 2008).
No mesmo período, na França, Alfred Binet elaborava suas primeiras pesquisas sobre
inteligência. Binet foi um profissional preocupado com o desenvolvimento cognitivo.
Observando suas filhas, e posteriormente expandindo suas experimentações, formulou
hipóteses sobre inteligência (SILVA, 2011). Teve como vislumbre a possível contribuição
da psicometria com o aprimoramento de funções acadêmicas.
Em 1890, em conjunto com o pesquisador Henri Beaunis, Binet reforça pesquisas sobre a
mensuração de processos psicológicos. Os autores propõem uma bateria preliminar com
foco na mensuração de dez diferenças individuais:
memória,
imagens mentais,
imaginação,
atenção,
compreensão,
sugestionabilidade,
apreciação estética,
sentimentos morais,
força muscular,
e coordenação motora (SILVA, 2010).
Silva (2010, p. 48-49) aponta que, embora o interesse de Binet fosse direcionado a
estratégias quantitativas, o pesquisador desenvolveu pesquisas que, atualmente, seriam
consideradas precursores de testes projetivos:
Algumas das tarefas que propunha eram: escrever as 10 primeiras palavras, sentenças ou
recordações que lhes ocorresse (sem lhes dar qualquer outra instrução); completar
frases incompletas; escrever sobre objetos concretos, usados como estímulo (uma
moeda antiga, a folha de uma árvore) ou sobre situações imaginárias (a morte de um
cachorro) e responder a manchas de tinta – uma década antes de Hermann Rorschach
desenvolver o seu Psicodiagnóstico.
Posteriormente, em associação com Simon, lançou a Escala Binet-Simon de
Inteligência, que posteriormente daria origem aos testes de Quociente de Inteligência
(QI). Os pesquisadores buscaram medir habilidades supostamente padrão para cada
idade. Levando essa média como consideração, desenvolveram e publicaram em 1905 a
primeira versão da Escala Binet-Simon de Inteligência, que foi refinada e atualizada nos
anos subsequentes.
Saber científico: Voltemos, uma última vez, ao exemplo da plantação de milho. A agronomia,
como ciência, explicaria o mesmo fenômeno a partir de outra lógica. Seria possível trazer
informações sobre o solo, a temperatura, o volume e a intermitência das chuvas no período
assinalado para o plantio. Para chegar nesse ponto, entretanto, várias pesquisas foram feitas,
utilizando métodos, técnicas e instrumentos próprios dessa ciência. Tudo para explicar um
fenômeno que, no senso comum, não carece de explicação: apenas é assim.
O conhecimento científico é aquele que busca descrever as relações entre certos fatores
ou variáveis partindo de uma análise sistemática, metodológica: o método científico.
Cozby (2003) descreve o método científico como: conjunto objetivo de regras para
coletar, avaliar e relatar informações – hipóteses refutadas ou replicadas. Nas ciências
psicológicas, espera-se que através desse método seja possível predizer acontecimentos
em circunstâncias semelhantes; determinar as causas; e, com isso, compreender ou
explicar o comportamento. Esse saber busca ser generalizável, com aplicações iguais em
indivíduos semelhantes.
O conhecimento científico tem como características: ser testável e,
portanto, refutável. Nenhuma verdade científica é absoluta. Elas podem deixar de
explicar fenômenos se variarmos o paradigma em que se encontram, ou em um mesmo
paradigma, caso haja alguma comprovação que as refutem.
O conhecimento científico é observável. Pode e deve ser demonstrado. O critério
da objetividade também é relevante. Nesse critério, defendeu-se a necessidade de não
haver interferência entre o pesquisador e o fenômeno estudado. Nas ciências humanas e
sociais, diversos debates inflamam essa característica, pois muitos pesquisadores julgam
impossível estabelecer imparcialidade em relação ao fenômeno estudado.
Por fim, reitera-se que o conhecimento científico é sistematizado e obedece a critérios
metodológicos que irão variar de acordo com a afinidade do pesquisador, a natureza do
fenômeno e os objetivos da pesquisa.
2.1 A Noção de Paradigma
Toda ciência se estabelece e ganha força em uma comunidade científica e em um contexto
histórico e político. Aquilo que é aceito como ciência nesse contexto deve obedecer a
determinações muitas vezes não muito explícitas, mas contundentes. Entende-se como paradigma
Camargo e Santos (2010) afirmam que paradigma significa padrão, modelo. Uma boa
representação do paradigma é a metáfora da lente. O homem vê o mundo através dessa lente,
que o permite distinguir o certo e o errado, o que é cientificamente aceito ou não pela
comunidade.
Constata-se que, ao puxar o cabo de guerra com colegas, as pessoas não aplicam a
mesma quantidade de força do que quando avaliados individualmente. Esse fenômeno
ficou conhecido como vadiagem social.
No estudo apresentado, o pesquisador buscou provar a existência de um fenômeno
através de uma pesquisa básica, sem pensar sua aplicabilidade prática. Posteriormente,
novos estudos podem ser formulados no intuito de aplicar esse conceito em situações
reais.
Pesquisa aplicada
A pesquisa aplicada visa à solução de problemas específicos. Tem como foco a realização
de pesquisas com finalidade aplicada, não se limitando ao estudo de fenômenos
isolados.
Como exemplo, segue o resumo do estudo de Lacerda e Costa (2013)
(a) levantamento bibliográfico;
(b) entrevistas com pessoas que tiveram experiências práticas com o problema
pesquisado;
(c) análise de exemplos que estimulem a compreensão.
3.3 Classificação Quanto à Estratégia de Observação
A variável tempo é fundamental na definição de estudos na área da psicologia,
principalmente quando se busca compreender a evolução temporal de processos
psicológicos: o desenvolvimento humano. Pesquisas com a mesma metodologia podem
trazer resultados completamente distintos a depender de como a dimensão temporal é
considerada. Por exemplo, um estudo que mapeia as habilidades motoras trará
resultados distintos se realizado com crianças de 2 anos e com adolescentes de 15 anos.
Resultados distintos também ocorrerão caso uma criança de passe por esse estudo aos
dois anos e, posteriormente, aos 15. A depender do objetivo do pesquisador e do
fenômeno que ele deseja investigar, deve-se optar entre duas principais propostas
metodológicas: transversal e longitudinal.
Estudos transversais: são estudos que buscam investigar uma ou mais parcelas etárias
sem realizar acompanhamento e retestagem dos casos pesquisados.
Exemplo de estudo:
Buscando compreender o impacto do bullying na aprendizagem, um pesquisador pode
entrevistar estudantes de 12 anos com histórico de bullying.
Caso queira enriquecer o trabalho, pode também entrevistar estudantes de outras idades
e, com os dados em mãos, buscar traçar padrões e comparações entre as faixas
analisadas.
Estudos longitudinais: os mesmos indivíduos ou grupos estudados são testados mais de
uma vez ao longo de uma faixa temporal.
Exemplo de estudo:
A mesma pesquisa pode ser realizada com um ou mais estudantes. Ao longo de dois
anos, os estudantes participantes serão avaliados semestralmente em busca de
respostas sobre o impacto do bullying no aprendizado.
Estudos transversais têm como vantagem a redução do tempo de busca, por considerar a
existência de participantes simultaneamente em faixas etárias distintas. Os estudos
longitudinais, por outro lado, têm como vantagem a possibilidade de observar os
mesmos casos e momentos distintos, trazendo análises possivelmente mais precisas
sobre o fenômeno estudado.
Cabe destacar que uma terceira metodologia tem sido adotada no campo da psicologia,
inspirada em estudos de pesquisadores como Vygotsky: estudos microgenéticos. Esses
estudos buscam compreender a evolução de processos ao longo do tempo, realizando
análises mais precisas sobre as mudanças ocorridas nesse período. Digamos que o
pesquisador que adota essa abordagem constrói, ao longo da análise, um filme com os
dados coletados, podendo investigar cada faceta do fenômeno observado.
Exemplo de estudo:
Ao longo de um mês, pesquisadores acompanharão a trajetória escolar de um estudante
que sofre bullying, buscando analisar suas relações interpessoais, desenvolvimento
cognitivo e saúde mental através de observações e testagens constantes.
Tais estudos permitem análises mais aprofundadas sobre como ocorrem os processos
psicológicos investigados, já que permitem ao pesquisador identificar o momento em que
pequenas mudanças ocorrem e tentar correlacioná-las a eventos supostos ou
observados.
Todas as metodologias apresentadas possuem vantagens e desvantagens na sua
utilização.
A natureza do fenômeno a ser estudado, o tempo e recursos disponíveis ao pesquisador,
ou as demais decisões propostas no projeto de pesquisa vão ser cruciais para a escolha
de qual tipo de estudo conduzir. A seguir, serão apresentados alguns dos métodos de
pesquisa mais utilizados nas ciências do comportamento. Como exercício livre, ao longo
da leitura busque imaginar estudos encaixados em cada método que adotem
delineamentos
Dentro do cenário científico mais amplo, é possível que essas perguntas genéricas sejam
respondidas diante do acúmulo de pesquisas em cada campo. Entretanto, cada pesquisa
deve partir de uma delimitação que a torne exequível. É importante que o problema de
pesquisa reflita o objeto de estudo do pesquisador, e apresente os fenômenos que
poderão ser testados ou investigados, através do método que será adotado, traçando
assim um melhor caminho para as etapas seguintes. Reescrevendo os problemas
anteriores, algumas possibilidades seriam:
Exemplo:
Qual o impacto da participação de indivíduos em grupos terapêuticos da Unidade Básica
de Saúde X na sua qualidade de vida?
Como professores do primeiro ano do ensino fundamental I de escolas públicas de
Salvador avaliam a importância da mediação no ensino de ciências?
Qual a relação entre os índices de atenção concentrada e acidentes de trânsito entre
motoristas de ônibus da cidade de São Paulo em 2019?