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Universidade Federal do Espírito Santo

Departamento de Ciências Humanas e Naturais


Departamento de Psicologia

Ana Luiza Magalhães

Ensaio
Teorias do desenvolvimento na adolescência

Vitória
2018
O desenvolvimento humano perpassa por diferentes continuidades sistêmicas e por
mudanças em diferentes âmbitos internos e externos ao indivíduo, como pelas variáveis
afetivas, cognitivas, sociais e biológicas. Nesse sentido, entende-se como parte do
desenvolvimento as maturações biológicas acompanhadas dos processos de aprendizagem de
novas informações, o que coloca o desenvolvimento em um processo contínuo e acumulativo.
Tal visão que temos hoje deste processo, iniciou sua construção em 1889, com os primeiros
psicólogos a enfatizarem esta questão em seus estudos, e, está em processo de aprimoramento
ainda na atualidade. Tendo em vista tais aspectos, este ensaio dedica-se a discussão das
questões abordadas em sala de aula sobre os principais teóricos que contribuíram para a
consolidação da visão contemporânea do desenvolvimento humano, mormente, da
adolescência.
Nessa perspectiva, Stanley Hall foi o primeiro psicólogo a apresentar a adolescência
como campo distinto de conhecimento, e, é considerado por isso, o “pai da psicologia da
adolescência”. Ele propôs a Teoria da Recapitulação, que focaliza o desenvolvimento a partir
de fatores fisiológicos e geneticamente determinados, ou seja, para ele, o desenvolvimento
ocorre em um padrão inevitável, imutável e universal. A partir desse ponto de vista, Stanley
Hall apresentou estágios para o desenvolvimento correspondentes a estágios históricos
primitivos do desenvolvimento da espécie humana.
Em minha percepção, a Teoria da Recapitulação foi bastante equivocada ao comparar as
etapas do desenvolvimento humano aos modos de existência em estágios primitivos da
espécie, postulando tal tendência como parte da estrutura genética humana. Apesar de haver
semelhanças comportamentais apontadas pela teoria, ao meu ver estas não passam de meras
coincidências que não devem ser levadas em consideração. Além disso, o autor se enganou ao
colocar o desenvolvimento em um padrão universal e imutável, pois o desenvolvimento passa
por diferentes instâncias do meio sociocultural, que contribuem para modular a sua
promoção.
Conquanto, Stanley Hall deu muitas contribuições para o estudo do desenvolvimento,
pois além de ser o precursor, sua teoria serviu de base para pesquisas futuras e foi importante
para o repensar da educação em seu país. Um dos pontos interessantes, para mim, em relação
a isso, é o sucesso de Stanley Hall em inserir brinquedos e fantasias na educação infantil.
Ademais, um segundo teórico importante desta temática foi Erik Eriksson, o precursor do
desenvolvimento psicossocial no seu estudo sobre aquisição da identidade do ego. Em sua
teoria, ele engloba a psicanálise junto ao campo antropológico, salientando, a partir disso, as
interações entre o campo sociocultural, histórico e biológico. Nesse sentido, ele propôs uma
série de estágios esperados para o desenvolvimento, que diferentemente da teoria de Stanley
Hall, contam com influências e impactos do meio social.
Quanto a Teoria do Estabelecimento da Identidade do Ego, eu me interessei bastante e
considero pertinente as ideias apontadas, visto que, Erik estabelece conflitos necessários na
transição de um estágio para o outro e para a consolidação do ego. Segundo esta teoria, a
cada conflito vivenciado nos estágios, a personalidade do indivíduo vai se estruturando e se
modulando com base nessas experiências vividas, enquanto o ego vai se adaptando ao
sucesso e ao fracasso.
Nesse sentido, se o conflito é resolvido de maneira satisfatória, forma-se um ego forte e
resistente, e, se o conflito não é resolvido satisfatoriamente, forma-se um ego fragilizado. O
que, em minha percepção se assemelha à realidade. Além disso, outro ponto que considero
relevante desta teoria corresponde a semelhança de cada estágio com o comportamento real
dos indivíduos que encontram-se em tais etapas do desenvolvimento. Como o estágio da
adolescência, descrito pela tentativa de estabelecer a identidade do ego. Segundo Eriksson, o
adolescente passa, devido a isso, por uma difusão de papéis, o que o leva à busca de
identificação desta identidade em personagens e grupos exaltados pela juventude.
Apesar de considerar tal fato pertinente com a realidade, e, de ter me interessado bastante
pela Teoria do Estabelecimento da Identidade do Ego, acredito que o autor não explorou de
maneira ampla as questões relacionadas às influências do contexto social no desenvolvimento
do indivíduo. Ao ler o texto, “Ciclos de Vida: algumas questões sobre a psicologia do
adulto”, trabalhado em aula, eu o relacionei bastante às teorias estudadas na fase da
adolescência, principalmente a teoria de Eriksson. Na perspectiva deste texto, eu percebi que,
apesar da teoria de Erik considerar as influências socioculturais no desenvolvimento,
focaliza-se apenas o âmbito relacionado ao conflito no desenvolvimento do ego. Assim, a
teoria não examina os aspectos da história cultural e individual, o que é de suma importância
para se considerar a diversidade de possibilidades de desenvolvimento e para não cometer
generalizações sobre o desenvolvimento dos sujeitos em cada estágio, como ocorre nesta
teoria.
Além disso, outra importante teoria do desenvolvimento é o Modelo Bioecológico de
Urie Bronfenbrenner. De acordo com esta teoria, para analisar o desenvolvimento humano,
deve-se considerar o modelo P-P-C-T (processos, pessoa, contexto e tempo), apresentado
pelo autor. Segundo esse modelo, estes elementos são interdependentes e compreendem o
desenvolvimento como resultado de mudanças de ordem biológica, psicológica e social.
Assim, diz-se interdependentes, por tais mudanças serem influenciadas tanto pelo
desenvolvimento biológico da pessoa, quanto pelas relações que ela estabelece em seu meio
social ao longo de sua trajetória, de modo bidirecional.
Em suma, o componente “Processo” refere-se aos papéis e atividades diárias da pessoa
em desenvolvimento. Enquanto, o componente “Pessoa” analisa as características pessoais
que influenciam o percurso do desenvolvimento psicológico, levando em consideração três
principais grupos que motivam os processos proximais, a disposição, o recurso e a demanda.
Outrossim, o “Contexto” apresenta os diferentes ambientes nos quais os processos proximais
podem ocorrer, e, considera as perspectivas de microssistema, mesossistema, macrossistema
e exossistema e a interação mútua desses sistemas entre si. Por fim, o componente “Tempo”
relaciona-se às dimensões da temporalidade, analisando as mudanças dos eventos em níveis
de microtempo, mesotempo e macrotempo.
Nesse sentido, citando Bronfenbrenner:
“Ao longo do desenvolvimento, a pessoa se envolve em processos de
interações recíprocos, com outras pessoas, objetos ou símbolos. Essas
interações podem variar de acordo com as características das pessoas, dos
contextos e do momento em que elas acontecem, podendo produzir tanto
competências como disfunções no desenvolvimento.”
Apesar das críticas a Teoria Bioecológica, por esta compreender somente o modo de vida
americano e por reduzir, com isso, a dimensão social, acredito que o princípio das inter-
relações apontados pela teoria, trouxe grandes contribuições aos estudos do desenvolvimento.
Visto que, isto engloba as influências múltiplas entre as características cognitivas, perceptuais
e motoras, e os modos de produção que se estabelecem em diferentes contextos, ao longo do
tempo.
Em relação à adolescência, Bronfenbrenner postula esta fase não diferenciando-a das
demais. Assim, segundo ele, o adolescente, como qualquer pessoa, possui características
próprias, das instâncias individual, biológica e psicológica, com uma maneira particular de
enfrentar suas experiências.
Em correspondência a teoria, as inter-relações estabelecidas da fase da adolescência, por
ser um período marcado por novas experiências, dão abertura a outros microssistemas
diferentes dos habituais, que ampliam, desse modo, a rede das relações inter-pessoais. Tal
fato da teoria pertinente com a realidade, contribui para a formação de novas relações e para a
modulação das relações já existentes, de modos interdependentes entre si e com o
desenvolvimento do sujeito.
Por conseguinte, as três teorias analisadas neste ensaio se direcionam à diferentes
perspectivas quanto ao desenvolvimento, com algumas postulações um tanto quanto
equivocadas, como as trabalhadas por Stanley Hall. Contudo, essas teorias contribuíram
bastante para o progresso dos estudos sobre o desenvolvimento humano e para a consolidação
do saber contemporâneo sobre este assunto. Graças às contribuições desses autores, hoje
temos um entendimento amplo sobre o desenvolvimento, que visa avaliar as diferentes
instâncias que envolvem esse processo ao longo de todo o ciclo vital.

Referências:
1. Contribuições das Teorias do Desenvolvimento Humano para a Concepção
Contemporânea da Adolescência. Psicologia: Teoria e Pesquisa. Jan-Mar 2012, Vol.
28 n. 1, pp. 101-108.
2. Muuss, Rolf E. Teorias da adolescência. B.H. Interlivros, 1976. Cap. Stanley Hall e
Cap. Antropologia Cultural
3. Muuss, Rolf E. Teorias da adolescência. B.H. Interlivros, 1976. Cap. Erik Erikson
4. Tudge, J.(2008). A teoria de Urie Bronfenbrenner: Uma teoria contextualista? In L.
Moreira & A. M. A. Carvalho (Orgs.). Família e educação: Olhares da psicologia.
São Paulo: Paulinas.
5. OLIVEIRA, Marta Kohl de. Ciclos de vida: algumas questões sobre a psicologia do
adulto. Educ. Pesqui., São Paulo, v. 30, n. 2, p. 211-229, 2004.

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