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Título do Tema

Sempre Dentro do
Triângulo Verde
(máximo 4 linhas)
PSICOLOGIA
Nome do Autor no Triângulo
DO
DESENVOLVIMENTO:
CICLO VITAL
THIAGO PEREZ BERNARDES DE MORAES
Psicologia do
Desenvolvimento: Ciclo
Vital

Apresentação
Ao longo da disciplina Psicologia do Desenvolvimento: Ciclo Vital, vamos mergulhar
no universo do desenvolvimento humano pela ótica da psicologia. Nesse sentido,
em um primeiro momento, estabelece-se um olhar sobre os estudos acerca do
desenvolvimento humano, observando, por exemplo, autores como Vygotsky, Freud,
Piaget, e perspectivas contemporâneas, como a neurociência.

Em um segundo momento, o foco dá-se no desenvolvimento cerebral e na cultura,


contemplando as funções superiores da mente, o desenvolvimento da criança em
diferentes perspectivas. Nesse caminho, descrevem-se as teorias relacionadas ao
desenvolvimento, contemplando a infância, adolescência e a fase adulta.

Desnuda-se também em nossa disciplina a relação entre desenvolvimento e


personalidade ao longo da vida, atirando-se para diferentes elementos em perspectiva
comparada.

A partir daqui, o foco se dá, sobretudo, na psicologia do desenvolvimento e, mais


especialmente, no olhar que ela estabelece em relação aos idosos e ao processo
de envelhecimento. Contemplam-se aqui as perspectivas históricas sobre o
desenvolvimento, como também um olhar histórico-cultural sobre esse fenômeno e
insights da neurociência.

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Unidade
Psicologia
1 – O Estudo
do do
Desenvolvimento
Desenvolvimento: Humano
Ciclo
ao LongoVital
da História

Introdução
Nesta unidade, vamos aferir uma série de nuances acerca dos entendimentos sobre o
desenvolvimento humano, em especial, aqueles que se relacionam com a psicologia
e esse campo de especialização específico.

Dentro dessa conjuntura, o primeiro debate ao qual nos debruçamos se refere ao


inatismo, ou seja, as características consideradas inatas e que são transmitidas de
geração em geração, ou seja, a relação de hereditariedade. De outro lado, temos o
empirismo, que, na figura de autores como John Locke, destaca, principalmente, o
papel da experiência na constituição e no desenvolvimento dos sujeitos.

São apresentados ao longo da leitura os principais eixos de especialização da


psicologia e a forma como cada um deles colabora com os entendimentos acerca do
desenvolvimento humano.

Nessa leitura, comparamos o pensamento de Freud, Vygotsky e Piaget acerca do


desenvolvimento humano enquanto se analisam os elementos da neurociência.
Por fim, será traçada uma discussão sobre o desenvolvimento da psicologia do
desenvolvimento no presente e no futuro.

Objetivos da Aprendizagem
Ao final desta unidade, esperamos que você seja capaz de:

• Analisar a construção sócio-histórica da categoria de infância e os modos de


subjetivação na contemporaneidade.
• A construção sócio-histórica da categoria de infância.
• A infância na contemporaneidade.

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O inatismo e o empirismo enquanto pressupostos
do desenvolvimento
O inatismo foi um dos pressupostos centrais em boa parte da história da ciência, na
qual tal concepção passa a compreender que o crescimento maturacional e físico são
determinantes para os processos relacionados ao desenvolvimento humano. Essa
visão, em seu sentido puro, todavia, no presente, mostra-se desatualizada, afirmam
Piletti, Rossato e Rossato (2014). Para além do olhar em relação às condições
biológicas, há que se considerar que, de forma geral, esses fatores são tanto “causa
como consequência” da interação que se estabelece entre sujeito e ambiente no
decorrer do tempo. Evidentemente que a inclusão de aspectos sociais e culturais
não nega os fatores biológicos, mas, antes disso, amplia o leque de discussão.
Evidentemente que os pais transmitem aos filhos predisposições hereditárias, como
a forma dos córtices cerebrais, onde a modelagem hereditária é explicativa a cada
sujeito (PILETTI; ROSSATO; ROSSATO, 2014).

Cérebro humano

Fonte: Plataforma Deduca (2022).


#pratodosverem: representação de uma pessoa de perfil evidenciando-se a
forma do seu cérebro.

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O empirismo complementa em vez de se opor ao inatismo ao denotar que se, de um
lado, o ciclo da vida se inicia na fertilização da célula-ovo no útero, de outro lado, o
meio ambiente e as experiências vão facilitar ou dificultar os processos de maturação
dentro desse ciclo maior. Nesse sentido, considerando que ao ambiente facilita ou
dificulta o desenvolvimento, podemos dizer que essa variável é determinante ao
desenvolvimento, corroborando assim a logicidade da visão empirista, que tem base
em autores como John Locke, que pontuava que o que iria diferir como dois ou mais
bebês nascidos iguais seriam na vida adulta e em outras partes da vida seriam as
experiências vivenciadas por cada um deles (PILETTI; ROSSATO; ROSSATO, 2014).

Saiba mais
O artigo a seguir traz uma interessante discussão acerca do
inatismo e empirismo. Nele será abordado um interessante debate
filosófico contemplando as teorias apresentadas, tendo como
interlocutores os pensadores David Hume e Gottfried Leibniz.
Para ler o artigo na íntegra clique aqui.

Aspectos do Desenvolvimento Humano: Moral, Social, Afetivo-E-


mocional, Intelectual

A Psicologia investiga diferentes escopos do desenvolvimento humano, sejam eles


sociais, afetivos, intelectuais, emocionais ou mesmo morais. Nesse sentido, ela
representa uma ciência ligada ao tronco maior das Ciências Humanas e Sociais,
que tem como objeto central de interesse o próprio ser humano. Para compor suas
análises sobre temas tão complexos relacionados ao desenvolvimento humano, a
Psicologia se foca em distintas expressões, como ações, sentimentos, pensamentos,
linguagem e comportamentos, entre outras, contemplando a relação entre o biológico,
o indivíduo, o histórico, o ambiental e o social. Compreende-se o ser humano como
um ser autônomo, multideterminado, concreto, que é influenciado por diferentes
agentes e elementos constitutivos (PILETTI; ROSSATO; ROSSATO, 2014).

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Freud, um dos precursores da psicologia.

Fonte: Plataforma Deduca (2022).


#pratodosverem: ilustração de Sigmund Freud, vestindo terno, óculos de
grau com armação redonda, barba e cabelos brancos, calvo, sentado em uma
poltrona roxa.

Para compreendermos todas as facetas do desenvolvimento moral, afetivo, intelectual


e social, há de se observar os comportamentos, as atitudes e a personalidade
humana a partir da psicologia. Nesse sentido, falamos de uma ciência multifacetada
com diferentes abordagens e campos de especialização. Para melhor compreensão,
denota-se na tabela a seguir uma descrição dos principais campos de especialização
em Psicologia, entre eles a psicologia do desenvolvimento.

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Campos de especialização da psicologia

Teorias da personalidade Psicologia clínica


Esse escopo se constituiu a partir de Preocupa-se com a aplicação da psicologia
diferentes teorias que se consolidaram na no âmbito clínico, pensando aqui em
concepção de pesquisadores que dissertam hospitais, consultórios, ambulatórios,
sobre diferenças entre traços. As teorias escolas, centros de saúde e outros eixos.
buscam em comum estabelecer explicações Caracteriza-se por diferentes abordagens,
sobre as reações que levam os sujeitos a nas quais busca um repertório de teorias
agirem de forma diferente, mas previsível que ajudam a estabelecer alicerces de como
em situações similares, por exemplo, se auxilia os sujeitos a enfrentarem seus
por qual razão algumas pessoas ficam problemas. Essa área contribuiu para o
nervosas enquanto outras tranquilas? autoconhecimento e para a saúde mental.

Psicologia social Psicologia organizacional


O escopo central se dá na gestão de
O foco aqui se dá em estabelecer
pessoas, buscando fornecer contribuições
perspectivas teóricas e teorias de médio
para que em uma organização os
alcance sobre a maneira como os
colaboradores estejam, de forma geral,
indivíduos se comportam e como eles se
satisfeitos e sejam eficientes, trazendo
influenciam. O foco se dá na interação
resultados. Estuda-se o alinhamento
humana, assim como nos conflitos, nas
entre os objetivos dos trabalhadores e os
filiações, nos grupos e nas atitudes.
objetivos organizacionais.

Psicologia do desenvolvimento Psicologia educacional


A preocupação se dá com as formas
A atenção se dá em relação a formação dos
de ensino, propondo e testando teorias
sujeitos e o desenvolvimento humano, o
educacionais a fim de delinear novas
qual se dá em diferentes estágios, ou seja, a
maneiras e formas de aprimorar técnicas e
infância, adolescência, fase adulta e velhice.
estratégias educacionais.
Fonte: adaptado de Escorsin (2016).
#pratodosverem: tabela com os seis campos fundamentais de especialização
da psicologia: clínica, social, organizacional, educacional, desenvolvimento e
personalidade.

Quando falamos em desenvolvimento humano, apesar de haver um campo comum


especializado, todos os outros campos de especialização podem oferecer insights
importantes. Nesse sentido, a psicologia educacional, por exemplo, fornece insights
sobre todos os estágios da vida, considerando que o aprendizado se dá na infância,
na adolescência, na fase adulta e na velhice. A psicologia social segue o mesmo
caminho se considerarmos que as interações humanas também se dão ao longo de
toda a vida, o que vale para as teorias da personalidade se levarmos em consideração
que a constituição da personalidade se dá em uma constante, do nascimento até o
fim da vida.

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Fases da vida

Fonte: Plataforma Deduca (2022).


#pratodosverem: ilustração contando em diferentes quadros as fases da vida.

A psicologia clínica por sua vez lida com transtornos e diferentes questões que
também se dão em todas as faixas do desenvolvimento. Em suma, todos os campos
de especialização da psicologia colaboram diretamente para a constituição da
psicologia do desenvolvimento.

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Atenção
1. É preciso destacar que a Psicologia não representa um único
escopo de ação, seja em pesquisa ou em prática terapêutica, ao
contrário, é um eixo constituído de diferentes abordagens.

2. Em comum, as abordagens são ancoradas em ciência e bases


filosóficas, contudo, elas se diferem em alguma medida entre si,
havendo, inclusive, dissenso entre os campos.

3. Não existe, todavia, uma abordagem em psicologia que seja


considerada como “universalmente melhor”, ou seja, há discussão
em todos os paradigmas.

Comparação de Paradigmas no Desenvolvimento Humano: Neu-


rociência, Processo Dialético (Vygotsky), Psicogênese (Piaget) e
Psicanálise (Freud)

Vygotsky acreditava que conhecer a mente humana demandava inteligibilidade no que


diz respeito à sua própria gênese, por conta disso, em seus estudos se concentrou em
bebês e crianças pequenas, debruçando-se, por exemplo, na aquisição de linguagem,
desenvolvimento de conceitos e esquemas (PILETTI; ROSSATO; ROSSATO, 2014).

Piaget, por sua vez, acabou por provocar em Vygotsky concordância e discordância
especial no que diz respeito à fala egocêntrica da infância. Apesar das divergências,
no geral, Vygotsky tinha grande admiração pelo pensamento de Piaget e seus
axiomas referentes ao raciocínio, a origem social da fala e aos julgamentos morais
de crianças. Nessa esteira, Freud pontuou que o desenvolvimento da personalidade
se dá em estágios na infância, indo, respectivamente nas seguintes etapas: (a) oral;
(b) anal; (c) fálico; (d) latência; e (e) genital (PILETTI; ROSSATO; ROSSATO, 2014).

Na tabela a seguir, elenca-se um comparativo entre o pensamento de Vygotsky,


Piaget e Freud.

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Comparação entre o pensamento de Vygotsky, Piaget e Freud sobre desenvolvimento humano

Vygotsky Piaget Freud


No pensamento dialético, o
Fala-se aqui em quatro
foco se taxa pela percepção Parte-se da ideia de que ego
estágios: (a) sensoriomotor
de ao menos quatro fases e superego desenvolvem-
– se dá do nascimento até,
de desenvolvimento: (a) se para empregar controle
aproximadamente, os dois
natural (primitiva) – pré- em canais socialmente
anos, quando as crianças
intelectual, coaduna com aceitáveis de gratificação,
demonstram egocentrismo
o comportamento pré- contemplando anterior
não percebendo o ponto de
verbal; (b) psicologia em um sistema psicossexual
vista dos outros; (b) pré-
ingenuidade – experiência marcado por estágios:
operatório – se dá a partir
entre a criança, objetos e (a) oral – centrada na
do conhecimento da criança
seu próprio corpo. Presença boca, demandas de Id
em relação à fala até os sete
de estruturas de linguagem relacionadas a boca, como
anos, compreendendo função
e significado lógico; (c) fala amamentação e mordida; (b)
simbólica e pensamento
egocêntrica – emprego anal – atividade de defecar
intuitivo; (c) operacional
de elementos externos na relacionando-se a ciência
concreta – possibilidade
resolução de problemas de si; (c) fálico – percepção
pensamento lógico e de
internos, tendendo a ser da zona erógena, complexos
conversarem diminuído
esotérica e cerceada; e de Electra e Édipo; (d)
egocentrismo, fase dos
(d) crescimento – retorno latência – ocultamento
sete aos 11 anos; e (d)
ao interior das operações do desenvolvimento
operacional formal (11 ou 12
internas, envolvendo a psicossexual dos 6 anos até
anos em diante) – fala-se em
“memória lógica”, o “contar a adolescência; e (e) genital
abstração de pensamento,
de cabeça” e, sobretudo, a – experimentação sexual
logicidade, metacognição,
fala interior (sem som). Essa (relação) em revelia do
resolução de tarefas múltiplas
fala tende a ganhar forma autoprazer.
e resolução de problemas.
com o passar do tempo.

Fonte: Delval (2013), Piletti, Rossato e Rossato (2014) e Escorsin (2016).


#pratodosverem: quadro que apresenta uma comparação entre o pensamento
de Vygotsky, Piaget e Freud sobre desenvolvimento humano

Nessa esteira, a neurociência avança no sentido de se plasmar como um campo


interdisciplinar, buscando nas bases cerebrais as nuances e características
fundantes da mente humana. Um dos pontos fundamentais que a neurociência
traz para o estudo do desenvolvimento humano reside no reconhecimento quanto
à neuroplasticidade do cérebro. De forma geral, a neurociência tem algumas
características: (a) a aproximação em relação ao interesse pelo sistema nervoso,
seja ele patológico ou normal; (b) interesse pela anatomia e fisiologia dos cérebros
humanos; (c) transversalização de conhecimentos neurocognitivos com os campos
da linguística, simpáticas e outros campos relacionados em explicar a aprendizagem,
a cognição humana e outros processos de tomadas de decisões e comportamentos
(PILETTI; ROSSATO; ROSSATO, 2014).

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Saiba mais
O artigo indicado apresenta uma interessante discussão acerca
das teorias de aprendizagem, tendo como pano de fundo o
desenvolvimento do indivíduo, sendo que, nessa discussão,
elencam-se os contrastes entre as teorias de Freud, Piaget e
Vygotsky. Para ler o artigo na íntegra clique aqui.

A Psicologia do Desenvolvimento no Presente

Ana Paula Escorsin (2016) observa que atualmente, o consenso na psicologia


compreende que o desenvolvimento humano é um processo que se inicia na infância
e segue até a velhice. Nesse sentido, diferentes profissionais, entre eles psicólogos e
outros profissionais que se valem de conhecimentos psicológicos, como psiquiatras,
em cada um dos diferentes ciclos da vida a fim de compreender as nuances de cada
fase e como se dá o desenvolvimento entre uma e outra fase. O desenvolvimento
humano, para a psicologia, inicia-se quando o óvulo é facultado, constituindo-se de
uma única célula que passa a se dividir em um processo consinto que leva a trilhões
de células que assumem formas e funções especializadas, constituindo cada um dos
sistemas do corpo (ósseo, nervoso, muscular e circulatório).

Atenção
1. Cada vez mais o avanço no conhecimento acerca do
desenvolvimento e suas diferentes etapas tem proporcionado
métodos e práticas terapêuticas mais personalizadas e eficientes
para atender as demandas dos sujeitos, seja em psicologia e em
outros campos relacionados à saúde e ao bem-estar dos sujeitos.

2. O reconhecimento de que o desenvolvimento do indivíduo se


dá ainda no útero reforça a necessidade de práticas de pré-natal
e o avanço em campos do conhecimento como a genética e a
neurociência.

Atualmente, o entendimento que se configura como base da psicologia do


desenvolvimento é que os seres humanos se desenvolvem a partir da interação entre
sua genética e as influências ambientais. A razão genética e o ambiente afetam o

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indivíduo em diferentes níveis, levando a diferenças individuais de comportamento
e de personalidade. Quanto ao fator ambiental, merece destaque a família que é o
primeiro agente de socialização, mediador nessa condição de valores e modelos de
influência, ou seja, faz a mediação entre sociedade e indivíduo, por conta disso tem
papel central na aprendizagem, trazendo consigo modelos de identidade coletiva e
individual (ESCORSIN, 2016).

Família

Fonte: Plataforma Deduca (2022).


#pratodosverem: imagem destacando uma série de famílias.

No que diz respeito em específico à psicologia do desenvolvimento como se concebe


nos dias de hoje, é válido elencar alguns insights (PILETTI; ROSSATO; ROSSATO, 2014):

• Ao longo do desenvolvimento da disciplina psicologia do desenvolvimento,


uma parte significativa, se não a maior, centrou-se na compreensão do de-
senvolvimento da criança e do adolescente com menor foco em relação às
outras fases da vida. Na verdade, o desenvolvimento infantil é uma das mais
tradicionais e antigas especialidades dentro da Psicologia, pois se preocupa
em explicar e descrever os aspectos do desenvolvimento do sujeito do nas-
cimento até a adolescência.
• O primeiro foco de interesse da psicologia do desenvolvimento foi em relação
aos hábitos alimentares, aos cuidados, ao sono e à educação, considerando
a ideia de período peculiar de desenvolvimento. Posteriormente, os estudos
passaram a mirar outros aspectos da infância, muitos deles com conotações
abstratas, abordando, por exemplo, o afeto, a linguagem, a motivação e a
ansiedade.

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• A psicologia do desenvolvimento nos dias de hoje, em contraste com seu
passado recente, tem se centrado no desenvolvimento de uma linha inter-
pretativa que corta de forma transversal o sujeito desde seu nascimento até
a velhice.
• A falta de conhecimento da população geral sobre os axiomas da psicolo-
gia do desenvolvimento leva o senso comum a ter visões distorcidas e até
insalubres em relação às diferentes fases do ciclo de visão. No caso da in-
fância e adolescência, por exemplo, estabelece-se sempre um comparativo
com a vida adulta, sendo ambas as fases estigmatizadas como um período
do “ainda não conseguiu”, enquanto, em outro extremo, a fase da velhice é
encarada como o período “deixou de conseguir”, novamente, estabelecendo
como comparativo a vida adulta, sugerindo haver perdas de desenvolvimento
e atrativos.
• A psicologia do desenvolvimento rompe com visões de senso comum e es-
tigmatizadas, trazendo consigo um arcabouço científico lastreado por axio-
mas acadêmicos que foram constituintes na primeira parte do século XX,
como o behaviorismo.
• A partir da década de 1990, o campo de psicologia do desenvolvimento pas-
sa a ficar mais maduro e plural, abrangendo em seu arcabouço constituinte
diferentes disciplinas associadas e subcampos da Psicologia. Aqui, criaram-
-se focos de preocupação em psicologia do desenvolvimento, estimulando
investigações em diferentes campos, entre eles: (a) capacidades cognitivas
de crianças; (b) desenvolvimento emocional e moral; (c) bases biológicas
dos comportamentos (com foco em genética e neurociência); (d) destaque a
diferentes contextos, tomando como base a ótica sócio-histórico e cultural,
compreendendo a imersão proposta no cenário de desenvolvimento das re-
lações sociais.
• No presente, a psicologia do desenvolvimento, para desnudar todas as dife-
rentes etapas do ciclo da vida, parte de uma base de métodos que envolvem:
(a) estudos longitudinais; (b) pesquisas sistêmicas; (c) análises transcultu-
rais; (d) comparações transgeracionais; e (e) empregos multimetodológicos.
• A psicologia do desenvolvimento parte da ideia de que os humanos são in-
fluenciados por diferentes fatias dimensionais de tempo, entre elas: (a) tem-
po biológico; (b) tempo histórico; (c) tempo social. Cada um desses tipos
se relaciona aos “efeitos da maturação”, envolvendo corte e/ou geração em
determinada época e/ou período.

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• A necessidade de se empreender esforços em psicologia do desenvolvimen-
to para categorizar as idades dos humanos em faixas de desenvolvimento,
tomando como base as construções culturais e o fato de que elas são, ao
mesmo tempo, constitutivas e historicamente determinantes em sua conjun-
tura no que tange às realidades sociais, cortando de forma transversal todo
o universo dos mundos sociais. A idade e a etapa que o indivíduo ocupa no
ciclo da vida são constituintes objetivos de deveres e direitos em uma popu-
lação, o que na prática se converte na posse (ou ausência) de privilégios e
poder.
• Nesse sentido, podemos nos referir, por exemplo: (a) a uma idade de fixação
de maioridade civil; (b) a determinação legal de uma idade de compulsorie-
dade de entrada na escola; (c) o estabelecimento de uma idade mínima para
o ingresso no mercado de trabalho; (d) idade para se aposentar; (e) a idade
que determina a possibilidade de votar de forma facultativa (para adolescen-
tes e idosos) e obrigatória (aos adultos).
• Se considerarmos essas variáveis por si só, ou seja, mercado de trabalho,
escola, política, ou mesmo família, a idade é um fator objetivo, em todos os
cenários, para a organização da vida dos agentes. Nesse sentido, cada grupo
etário traz consigo a imposição de um paradigma em relação aos mundos
sociais, o que por sua vez contribui para o curso das posições dentro de dife-
rentes espaços sociais distintos, havendo aqui consequências econômicas,
sociais e psicológicas.

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Conclusão
O indivíduo é modelado e remodelado desde o momento em que se encontra no útero
de sua mãe até o final da vida. Esse é um processo mediado de forma complexa por
variáveis que são endógenas e exógenas ao sujeito social. O desenvolvimento é um
processo que se dá em etapas, essas que trazem consigo tanto pesos simbólicos
como legais e biológicos, que se sobrepõem até certo ponto. A compreensão do
desenvolvimento do sujeito e das diferentes fases de sua vida traz um arcabouço de
subsídios para lidar com diferentes demandas da nossa sociedade que comumente
passam pela busca de uma sociedade mais justa, ou seja, próxima da ideia de
dignidade da pessoa humana e que compreenda todas as nuances e demandas do
sujeito em suas diferentes fases da vida. Essa é uma compreensão relevante no
âmbito clínico e em todos os demais escopos da nossa sociedade.

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Referências
DELVAL, J. O desenvolvimento psicológico humano. Petrópolis: Vozes, 2013.

ESCORSIN, A. P. Psicologia e desenvolvimento humano. Curitiba: InterSaberes, 2016.

PILETTI, N.; ROSSATO, S. M.; ROSSATO, G. Psicologia do desenvolvimento. São Paulo:


Contexto, 2014.

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