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Psicologia da Educação Comportamentalista tema 2

Prof.ª Eloiza da Silva Gomes de Oliveira

Introdução

O século XIX é chamado de o século da Ciência pelos estudiosos da organização de um


campo científico. Esse campo possui regras e um fetichismo de que tudo no mundo
poderia ser explicado pela pesquisa e pela fundamentação metodológica da Ciência.
Já o século XX é chamado de o século da Pedagogia pelo enorme crescimento da
educação formal e informal. Iniciamos o século com um mundo no campo, vinculados a
uma economia natural, e terminamos com a maior parte da população do mundo nas
cidades, marcados pela educação, uma marca de hierarquia e componente de disputa
social. Foi tudo muito rápido! Para entender tamanha aceleração, precisamos amarrar
essas pontas.
A Psicologia é uma área fundamental para entender o tamanho e o impacto da educação
no mundo atual. Vista de maneira científica pela Pedagogia, um desafio fundamental era
como o ato de educar poderia ser mais eficiente. O casamento entre a Educação e a
Psicologia passa pelos estudos de como funciona a mente em aprendizado, em especial
a das crianças.
Você deve estar ainda mais motivado para estudar este material, que aborda um
importante movimento: o comportamentalismo, chamado por muitos de behaviorismo, e
que constitui, juntamente com o humanismo e o cognitivismo, as três grandes escolas
teóricas da Psicologia da Educação.

- Fundamentos da Psicologia Comportamentalista


Ao final deste módulo, você será capaz de reconhecer os aspectos da Psicologia
Comportamentalista, seu objeto de estudo e suas principais características.
Psicologia da Educação e interdisciplinaridade O que é Psicologia Comportamentalista

Podemos considerar a Psicologia da Educação como a área da Psicologia que estuda os


fundamentos psicológicos, os processos e os fatores psíquicos que intervêm em todas
as situações educativas. A
existência da Psicologia da Educação é um exemplo de interdisciplinaridade. Ela une a
visão da Psicologia aos estudos da Pedagogia.

Você sabe o que é interdisciplinaridade? Segundo o Dicio (Dicionário Online de


Português), o verbete interdisciplinaridade apresenta os significados a seguir:

Qualidade do que é interdisciplinar comum a duas ou várias disciplinas: há


interdisciplinaridade quando o professor de Biologia trabalha juntamente com o de
Química.
Capaz de estabelecer relações entre duas ou mais disciplinas, ou áreas do conhecimento,
com o intuito de melhorar o processo de aprendizagem, estreitando a relação entre
professor e aluno.

A interdisciplinaridade é, então, a integração entre duas ou mais áreas do conhecimento,


seus conceitos e suas teorias, com a finalidade comum do estudo de um fenômeno.

É o que acontece na Psicologia da Educação, em que o fenômeno estudado é o ato


educativo, os processos de ensino e aprendizagem.

As “Psicologias” na vida do professor

A Psicologia da Educação, na visão de Foulin e Mouchon (2000), reivindica para si


qualquer estudo que trate das estruturas e dos mecanismos psicológicos passíveis de
intervir em uma situação educativa, de maneira formal ou informal.

Os processos de ensino e aprendizagem são tão complexos que é comum outras


ciências, além da Pedagogia, debruçarem-se sobre eles. Mesmo considerando apenas a
Psicologia, ousamos utilizar, no subtítulo, o termo no plural (“Psicologias”).

Vamos pensar em quantas “Psicologias” podem ajudar o professor?

São inúmeras as contribuições:


Em outras palavras, podemos dizer que a Psicologia da Educação auxilia o professor em
duas grandes tarefas:

A compreensão dos processos de ensino e aprendizagem, diagnosticando situações e


variáveis que neles interfiram.

A intervenção nos processos de ensino e aprendizagem, planejando atividades mais


significativas e adequadas aos alunos, e prevenindo o fracasso e a evasão escolar.
Desenvolvimento infantil

O estudo da Psicologia em seu princípio e a sua busca sobre o funcionamento da mente


humana rapidamente alcançaram os estudos e a percepção de que uma criança vivia
fases específicas em seu desenvolvimento.

Essas fases foram percebidas e pensadas por autores diversos, como Freud (1856-
1939), um dos nomes mais importantes da Psicologia, que definiu as cinco fases do
desenvolvimento psicossocial:

Fase 1 - Oral

Fase 2 - Anal

Fase 3 - Fálica

Fase 4 - Latência

Fase 5 - Genital

As três primeiras fases (oral, anal e fálica) são fases infantis fundamentais. Freud
explicita a importância dos primeiros cinco anos de vida como cruciais para a formação
da personalidade adulta. Repare que o alemão não define as maneiras de educar, mas
mostra como, nesse caso, a Psicanálise se debruça na tentativa de compreender a
educação infantil.

Outros olhares sobre o desenvolvimento da educação passaram por fases diversas;


temos contribuições importantes do cognitivismo para a adoção dos modelos atuais,
conforme imagem a seguir.
Fases do desenvolvimento psicossocial.

Daqui em diante, buscaremos as referências sobre um dos grandes movimentos que


fazem parte do desenvolvimento de uma Psicologia da Educação.

Comportamentalismo ou behaviorismo
Conceito de behaviorismo

O nome behaviorismo se origina do inglês behavior, que significa comportamento, daí a


escola teórica ser também chamada de comportamentalismo. Como já vimos, o
comportamentalismo compõe, com o humanismo e o cognitivismo, as três grandes
escolas teóricas da Psicologia da Educação. Cada uma dessas escolas tem
fundamentos filosóficos, objetos de estudo e metodologias próprios.
No caso do comportamentalismo, o objeto de estudo é o comportamento objetivamente
verificado, analisado e controlado, visando à sua modificação. Veja, a seguir, algumas
características das três escolas teóricas:

História do behaviorismo

O cenário da Psicologia no início do século XX era marcado por uma forte reação ao
mentalismo — doutrina segundo a qual a mente é a realidade fundamental, mas sem
explicar os comportamentos — e pela busca do rigor científico e do purismo
metodológico nas pesquisas.
Assim, surgiu uma imediata oposição entre o comportamentalismo e a Psicanálise, de
conotação mentalista, com os estudos de Freud sobre o inconsciente do homem e
preocupado com os aspectos internos do ser humano. Também havia nesse cenário
uma forte influência do positivismo e das ideias de teóricos como Augusto Comte (1798-
1857).

Positivismo

É uma corrente teórica baseada na noção de progresso contínuo da humanidade. Seu


pensamento postula a existência de uma marcha contínua e progressiva que a
humanidade teria como fio condutor. Auguste Comte, criador do positivismo,
considerava o progresso uma constatação histórica que deveria nortear a ação humana
e ser constantemente reforçado. As ciências positivas teriam a sua mais forte expressão
na Sociologia, ciência da qual Comte é considerado o fundador.

Você sabia que o lema da bandeira brasileira, “Ordem e Progresso”, é de inspiração


positivista? John Stuart Mill (1806-1873) incorporou ao positivismo elementos políticos
com um espoco moral e ético, reforçando o molde de uma teoria política positivista,
fundada na ordem e no conhecimento para se alcançar o progresso. No caso brasileiro,
a teoria encontrou ressonância na política, mais especificamente no início do período da
Primeira República, com o marechal Deodoro da Fonseca (1827-1892), primeiro
presidente do Brasil, e outros políticos que participaram do governo e que tinham fortes
influências positivistas.

Esse era o cenário ideal para o surgimento, em 1913, do texto manifesto escrito por
John B. Watson, autor que estudaremos mais adiante. Watson defendia a ideia de que a
Psicologia não deveria pesquisar os processos internos da mente, mas sim o
comportamento humano que, por ser observável, visível, deveria ser o objeto de uma
ciência positivista. Mais tarde, em 1914, Watson publicou uma obra intitulada Behavior,
em que abordou mais uma vez o conceito de Psicologia do Comportamento.

Por isso, Watson é considerado o pai do comportamentalismo, difundindo a crença de


que é possível prever e controlar toda conduta humana, com base no estudo do meio em
que o indivíduo vive.

Watson argumentava que havia pouca precisão nos conceitos utilizados pela Psicologia,
além da necessidade de métodos de pesquisa mais rigorosos. A Psicologia deveria ser
uma ciência aplicada, com resultados práticos na sociedade.

Os quatro grandes vultos da Psicologia Comportamentalista

Veja a seguir os quatro mais conhecidos teóricos da Psicologia Comportamentalista,


cujas obras abordaremos adiante.
Para Watson, era possível conduzir diferentes indivíduos a determinados papéis sociais
controlando o ambiente e estimulando-os por meio de treinamentos. Nesse sentido, a
citação a seguir exprime, de maneira muito polêmica, a essência do
comportamentalismo:

Dê-me uma dúzia de crianças saudáveis, bem formadas, e meu próprio mundo especificado para fazê-los
crescer e, garanto, qualquer um que eu pegue ao acaso posso treiná-lo para se transformar em qualquer
tipo de especialista que eu poderia escolher — médico, advogado, artista, comerciante chefe e, sim, até
mesmo mendigo e ladrão, independentemente dos seus talentos, suas inclinações, tendências,
habilidades, vocações e raça dos seus antepassados. (WATSON, 1925 apud OSTERMANN; CAVALCANTI,
2011, p. 12)

Já percebeu, quando você era aluno, ou circulando por uma escola, que em muitas salas
normalmente havia o barulho, os diálogos, mas em algumas salas o silêncio dominava?

Os alunos temiam a força do professor e como ele seria capaz de ameaçá-los. A cópia
do quadro se dava em produção industrial, ininterrupta, e caso algum aluno se
levantasse contra o “domínio” de turma do professor, era quase um assombro! De certa
forma, esse professor reproduz a citação anterior: os condicionamentos, a repetição
para que o professor impusesse o seu planejamento e obtivesse o resultado esperado.

Os precursores da Psicologia Comportamentalista

Ao final deste módulo, você será capaz de distinguir os princípios teóricos dos
precursores da Psicologia Comportamentalista: Watson, Thorndike e Pavlov.

Watson, Thorndike e Pavlov: o behaviorismo clássico A Psicologia como um


comportamentalista a vê

Anteriormente, caracterizamos o comportamentalismo ou behaviorismo que constitui,


junto com o humanismo e o cognitivismo, as três grandes escolas teóricas da Psicologia
da Educação. Vimos o contexto em que surgiu e compreendemos que o seu objeto de
estudo é o comportamento objetivamente observado, analisado e controlado, visando à
sua modificação e ao seu controle.

Identificamos quatro teóricos que são referências do comportamentalismo: a primeira


geração de behavioristas, constituída por Watson, Thorndike e Pavlov, que abordaremos
neste módulo, e Skinner, que será visto mais adiante.

A construção de um diálogo a partir daqui será fundamental. Nesse sentido, coloque-se


no papel correto, reflita como se você fosse o professor.
O comportamentalismo, mesmo levantando polêmicas e sofrendo críticas, teve impacto
profundo no cenário da Psicologia, nos seus desdobramentos para a Educação e tem
ainda muita atualidade. Vamos conhecer os precursores do comportamentalismo e seus
estudos mais importantes, começando pelo “pai” dessa linha teórica.

John B. Watson, o criador do behaviorismo

Você sabe quem foi Watson? Ao apresentarmos a biografia mais extensa do teórico, não
quer dizer que você precise decorar os fatos e as datas relacionados à vida dele, mas
conhecer esses aspectos ajuda a compreender o contexto em que ele viveu e que pode
ter influenciado a sua obra.

John Watson foi um psicólogo norte-americano e é reconhecido como o pai do


behaviorismo metodológico, que na Psicologia é também conhecido como
comportamentalismo. Mesmo tendo nascido em uma família religiosa, na idade adulta
se opunha abertamente à religião.
Ingressou na Furman University e, ao fim de cinco anos, recebeu o grau de mestre. Em
seguida, matriculou- se na Universidade de Chicago, onde cursou Psicologia e começou
a desenvolver suas teorias baseadas no behaviorismo. Influenciado por figuras como
Vladimir Bekhterev e Ivan Pavlov, partiu dos princípios da Fisiologia Experimental para
investigar os aspectos do comportamento. Em sua tese para o grau PhD em
Neuropsicologia, analisou a relação entre o comportamento dos ratos de laboratório e o
sistema nervoso central. Permaneceu na Universidade de Chicago como pesquisador.

Em 1908, passou a lecionar Psicologia Experimental e Comparada na Johns Hopkins


University, em Baltimore, onde contou com a criação de um laboratório de Psicologia
Animal.

Em 1913, John Watson publicou um artigo intitulado A Psicologia como um


comportamentalista a vê, em que estabelece as bases da nova corrente da Psicologia,
contrária à Psicanálise de Freud, a qual considerava fantasiosa. Foi contrário, também, à
noção de hereditariedade e sua influência nos tipos de personalidade, que atribuía
exclusivamente à experiência e ao condicionamento do comportamento.

Com uma passagem pelo exército e a campanha devido à eclosão da Primeira Guerra
Mundial, em 1914, Watson participou de uma campanha militar na França.
Posteriormente, em 1915, foi nomeado presidente da Associação Americana de
Psicologia (APA — American Psychological Association), fundada em 1892. Em 1918,
retornou às suas investigações, estudando a primeira infância. Em 1920, foi convidado a
deixar a Universidade após vir a público o seu relacionamento com sua assistente
Rosalie Rayner.
John Watson, então, ingressou em uma agência de publicidade, tornando-se,
posteriormente, presidente da J. Walter Thompson, uma das maiores empresas de
publicidade dos Estados Unidos. Paralelamente, dedicou-se à divulgação de suas
teorias, publicou: Behaviorism (1925) e Atendimento psicológico de lactentes e crianças
(1928).
Em 1957, já aposentado, recebeu o prêmio da APA pelas contribuições para a
Psicologia. Pouco antes de sua morte, queimou grande parte de seus documentos e
escritos inéditos. John Watson faleceu em Nova York, nos Estados Unidos, no dia 25 de
setembro de 1958.

O surgimento do comportamentalismo clássico ou metodológico

Já dissemos que o manifesto lançado por Watson, em 1913, é tido como o marco zero
do surgimento do comportamentalismo, também chamado de behaviorismo. Nele,
Watson defendeu o abandono dos estudos voltados para os processos psíquicos
internos e a adoção da observação direta do comportamento como o único método
possível para uma psicologia científica.

Inaugurou, assim, o primeiro movimento do comportamentalismo, chamado de


metodológico. Mais tarde surgiria outro movimento, o comportamentalismo radical,
desenvolvido por Skinner.

Pode ser redundante, mas o comportamentalismo vê o comportamento como uma


forma dos organismos vivos funcionarem e reagirem ao ambiente. Por isso, Watson
afirmava que o estudo do meio em que o indivíduo vive possibilita a previsão e o controle
do seu comportamento, e acreditava que as ações e as habilidades de um indivíduo são
determinadas por suas relações com o meio. Consequentemente, uma criança poderia
ser moldada mediante técnicas de condicionamento do seu comportamento.

Watson era especialista em Psicologia Animal, também chamada de Psicologia


Comparada, e os estudos sobre o comportamento de animais, estabelecendo analogias
com os seres humanos, foram frequentes na sua obra e na dos dois outros precursores
do behaviorismo: Thorndike e Pavlov.

Sua obra também é caracterizada pela preocupação com a metodologia das pesquisas,
trazendo a valorização da Psicologia Experimental, cujos estudos eram realizados em
laboratório, com condições de realização e resultados rigorosamente controlados,
sofrendo forte influência dos trabalhos de Pavlov.

Considerava a aprendizagem como o resultado da associação entre estímulos (E) e


respostas (R) e a isso chamou de condicionamento. A manipulação dos estímulos
poderia aumentar a frequência das respostas ou, ao contrário, inibi-las, diminuindo a
frequência e até fazendo com que desaparecessem.

Thorndike e Pavlov

Thorndike e a conexão da experiência e resposta dos sujeitos

O psicólogo norte-americano Edward L. Thorndike era um comportamentalista com


todas as características: fazia experimentos de laboratório com animais, generalizando
as conclusões aos comportamentos humanos, e estudava o comportamento e a sua
modificação aplicando o conexionismo, a relação entre estímulos e respostas.

Caixa-problema utilizada no experimento de Thorndike.

Um de seus experimentos mais conhecidos foi o da utilização de caixas-problema


(puzzle boxes) para estudar como os animais aprendem. Eram caixas fechadas que
continham uma pequena alavanca que, quando pressionada, permitia ao animal escapar.

Thorndike colocou um gato faminto dentro da caixa e um pedaço de carne do lado de


fora. A seguir, observou e registrou cuidadosamente as tentativas e o tempo que o
animal levou para escapar e obter a comida. De início, o gato apertava a alavanca por
simples acaso, saía da caixa e recebia o alimento. Com a repetição da situação, no
entanto, o animal buscava pressionar a alavanca e, progressivamente, chegava mais
rapidamente a abrir a porta da caixa porque, segundo Thorndike, tinha recebido um
prêmio imediatamente após executar a ação.

As leis de Thorndike
Com base em seus experimentos, Thorndike enunciou três conhecidas leis da
aprendizagem:

Lei do efeito
A aprendizagem, conexão entre um estímulo e uma resposta, será fortalecida se for
acompanhada de uma satisfação (recompensa) e enfraquecida se for acompanhada de
um estímulo desagradável (punição).

Lei da prontidão ou da maturidade específica


Para que a conexão entre um estímulo e uma resposta seja efetivamente realizada e a
aprendizagem ocorra, é necessário um estado do organismo que a favoreça.

Lei do exercício ou da repetição


Quanto mais vezes for realizada a conexão entre um estímulo e uma resposta, mais
duradouro será o comportamento aprendido.

Já ouviu falar que Pavlov condicionava cachorros? Como Pavlov realizou o


condicionamento com cães

Pavlov concluiu que o cão “aprendeu”, ou seja, foi condicionado a salivar ao som da
campainha, o que não era seu comportamento natural. Isso era o que ele chamou de
condicionamento clássico ou respondente.

O condicionamento respondente é a forma de aprendizagem que ocorre quando dois


estímulos são realizados de maneira repetida em um período de tempo. O resultado é
que o primeiro estímulo predispõe a ocorrência do segundo estímulo àquele que está
aprendendo.

Existe uma grande polêmica sobre a generalização desses resultados obtidos com
animais aos seres humanos, mas é inegável que os princípios do condicionamento
clássico são utilizados, ainda, no adestramento de animais.

Vejamos alguns exemplos com os alunos:


Nas escolas com fortes problemas disciplinares, por exemplo, nas cadeias e nos
reformatórios, as aulas têm a designação de sujeitos que possuem “notoriedade” e são
nomeados de “xerifes” ou algo afim. Eles têm função de estabelecer ou levar códigos
externos para dentro do espaço de sala em troca de benefícios, como mais acesso a
algumas áreas e até redução de penas ao coletivo se as aulas transcorrerem com
“tranquilidade”. Quando o professor deseja que todos façam silêncio, ele é responsável
por executar um gesto repetido, ou um comando reconhecido, e todos devem parar. O
condicionamento tem várias relações com os condicionamentos implementados e a
obrigatoriedade de atender àquela hierarquia.

Outro exemplo é o das escolas que exigiam que todos os alunos ficassem de pé quando
o professor entrasse em sala. A ideia de que era o momento de prestar atenção ou do
início da aula era o objetivo condicionado.
Esses exemplos são simplórios e têm a função de ampliar a observação, sendo mais
complexos se analisarmos individualmente cada uma dessas funções.

- Behaviorismo radical

Ao final deste módulo, você será capaz de identificar as principais características das
teorias de Skinner e do behaviorismo radical.
Skinner e o surgimento do behaviorismo radical Premissa

Anteriormente, caracterizamos o behaviorismo chamado de clássico ou metodológico,


segundo o qual a Psicologia não deve estudar os processos internos da mente, mas sim
o comportamento. Este é visível e
observável por uma ciência que se pretende positivista. Nesse contexto, são os
estímulos do ambiente que geram e modificam o comportamento humano.
Estudamos um pouco da obra de três comportamentalistas clássicos: Watson, o criador
da linha teórica;
Thorndike e as suas três leis da aprendizagem: a lei do efeito, a lei da prontidão ou da
maturidade
específica e a lei do exercício ou da repetição; e Pavlov e a formulação teórica do
condicionamento clássico ou respondente.
A seguir, conheceremos o criador do behaviorismo radical ou neobehaviorismo: Burrhus
Frederic Skinner.
Quem foi Burrhus Frederic Skinner

Burrhus Frederic Skinner foi um psicólogo norte-americano, amplamente influenciado


pelo behaviorismo de J. B. Watson. Atuou na década de 1940 e foi responsável pela
criação do behaviorismo radical com uma proposta filosófica sobre o comportamento
humano.

Skinner nasceu na Pensilvânia, nos Estados Unidos, em 1904. Filho de um advogado e


de uma dona de casa, desde cedo teve interesse no comportamento dos animais.
Ingressou no Hamilton College, em Nova York, com o objetivo de se tornar escritor.

Em 1926, concluiu o bacharelado em Literatura Inglesa e Línguas Românicas. Durante


dois anos se dedicou a escrever, mas concluiu que lhe faltavam habilidades literárias.

Em 1928, ingressou no curso de pós-graduação em Psicologia pela Universidade de


Harvard, embora nunca tivesse estudado Psicologia antes. Concluiu o mestrado em
1930 e o doutorado em 1931, permanecendo, até 1936, como pesquisador na
universidade. No mesmo ano, começou a lecionar na Universidade de
Minnesota, onde permaneceu por nove anos.
Entre 1945 e 1947, lecionou na Universidade de Indiana, onde se tornou presidente do
Departamento de Psicologia. Em 1948, retornou à Harvard como professor titular.

Skinner, influenciado pela teoria dos reflexos condicionados de Pavlov e pelo estudo do
comportamento de John B. Watson, buscava explicar a conduta dos indivíduos como um
conjunto de respostas fisiológicas condicionadas e se dedicou ao estudo das
possibilidades que ofereciam o controle científico da conduta mediante técnicas de
reforço (estímulo do comportamento desejado). Para ele, a aprendizagem se gestava na
capacidade de estimular ou reprimir comportamentos, desejáveis ou indesejáveis.

A relação de Skinner com o behaviorismo de Watson resultou no desenvolvimento de


sua própria versão, o behaviorismo radical. Tal corrente era contra as causas internas
(mentais) como explicação da conduta humana, opondo-se, também, à realidade e à
atuação dos elementos cognitivos — opondo-se à concepção de Watson. Para Skinner, o
indivíduo era um ser único, homogêneo e não um todo construído de corpo e mente.

Skinner escreveu vários livros e artigos sobre a teoria do comportamento, o reforço e a


teoria da aprendizagem. Foi radical ao rejeitar a maioria das teorias no campo da
Psicologia e levantou diversas polêmicas. Sua crítica mais sistêmica foi ao pensamento
de Sigmund Freud. Ele acreditava que examinar os motivos inconscientes dos seres
humanos não daria resultados, pois, em sua análise, a única coisa que valia investigar
era o comportamento.

A origem do behaviorismo radical

Muitos consideram o norte-americano Burrhus F. Skinner como o mais legítimo


representante do comportamentalismo. Realmente, ele foi incansável na tarefa de
demonstrar a possibilidade de controlar e modelar o comportamento humano por meio
da manipulação de estímulos do ambiente.

Skinner criou a corrente do comportamentalismo chamado de radical, ou linguístico


(devido ao seu grande interesse pelos estudos da linguagem), ou ainda
neobehaviorismo.

Matos (1995) afirma que o termo radical buscou dar conta de dois sentidos. A princípio,
por negar de maneira radical a existência de algo que escapasse ao mundo físico, que
não tivesse uma existência identificável no espaço e no tempo (a mente, a consciência e
a cognição); depois, por abarcar, radicalmente, todos os fenômenos comportamentais.
Após estudar profundamente o condicionamento clássico ou respondente, investigado
por Pavlov, três questões o preocuparam:
1

O animal se mantinha totalmente passivo, apenas sofrendo a ação dos estímulos apresentados.

No comportamento, especialmente o humano, qualquer resposta está relacionada à


pluralidade de fatores, tem múltiplas causas e não é provocada por um único estímulo.

Os estímulos provocam respostas (comportamentos) diferentes em indivíduos distintos.

Skinner também foi influenciado pelos estudos do behaviorismo metodológico de


Watson e de Thorndike, em especial pela lei do efeito — a aprendizagem, conexão entre
um estímulo e uma resposta, será fortalecida se for acompanhada de uma satisfação
(recompensa) e enfraquecida se for acompanhada de um estímulo desagradável
(punição). Recordaremos a seguir a lei do efeito, de Thorndike:
Skinner desenvolveu, então, os estudos que deram origem à nova corrente teórica do
comportamentalismo.
Agora, vamos conhecer um resumo do procedimento experimental que Skinner utilizou
com ratos:

Elementos e etapas do experimento de Skinner.

De acordo com Nunes e Silveira (2008), um ser humano pode apresentar ações similares
quando, por
exemplo, aperta um botão de um aparelho para obter água. Em todas as vezes que sentir
sede, havendo no ambiente tal aparelho, sua ação será apertar o botão do bebedouro e
saciar a sede. Cada vez que isso acontece, o indivíduo é reforçado pela saciação da
sede que sentia.
Skinner afirmava que não era necessário condicionar todos os comportamentos, pois
uma aprendizagem condicionada seria generalizada para todas as situações
semelhantes.
Continuando o experimento, depois de realizado o condicionamento da resposta
desejada, Skinner efetivou sua extinção. Cada vez que o rato se aproximava da alavanca,
recebia um choque. Depois de algum tempo, o animal não mais apresentava o
comportamento de pressionar a alavanca, que havia sido condicionado. Esse
comportamento desapareceu, foi extinto.

Assim Skinner considerou superada a questão da passividade do indivíduo, presente no


condicionamento clássico ou respondente estudado por Pavlov. Estava descoberto o
condicionamento operante.

Condicionamento clássico (Pavlov)

Estímulos: simples associação entre os estímulos. Comportamento: reflexos, respostas


automáticas. Resposta emitida: involuntária.
Papel do sujeito: passivo, apenas recebe o estímulo e emite a resposta.

Aprendizagem: aprende a associação entre os estímulos.

Condicionamento operante (Skinner)

Estímulos: o comportamento desejado é seguido de consequências agradáveis,


positivas (reforço).

Comportamento: inéditos, ainda não apresentados pelo sujeito.

Resposta emitida: voluntária.

Papel do sujeito: ativo, o sujeito age para receber o reforço.

Aprendizagem: discriminação das circunstâncias (sem o reforço e com o reforço).

A nossa coleção de conceitos de Skinner

Conceito de condicionamento operante


É o processo de aprendizagem provocado pela apresentação de um estímulo após o
comportamento, com o intuito de aumentar ou diminuir sua frequência, causando a
associação entre o comportamento e a sua consequência. Tal método difere do
condicionamento clássico, no qual o sujeito tem um comportamento ativo que opera no
ambiente para gerar as consequências desejadas.

Conceito de reforço
É a contingência apresentada após o comportamento, com o objetivo de aumentar,
diminuir ou extinguir um comportamento. São três os tipos de reforço:

Reforço positivo
Recompensa pelo comportamento que se deseja condicionar. Por exemplo, um cão que
recebe um biscoito (reforço mediante recompensa ou prêmio) sempre que atende à
ordem de sentar
(comportamento).

Reforço negativo
Retirada de uma consequência desagradável quando ocorre o comportamento que se
deseja condicionar.
Por exemplo, o uso de protetor solar (o comportamento) para evitar as queimaduras
solares e a possibilidade do câncer de pele (reforço mediante a remoção do estímulo
aversivo).

Punição
Consiste em provocar uma condição desagradável, na tentativa de eliminar um
comportamento não desejado. Por exemplo, uma criança que faz uma travessura
(comportamento) e perde o direito de brincar no playground (punição).

Problematizando a teoria de Skinner

O comportamentalismo em geral e principalmente Skinner sofreram muitas críticas e


levantaram grandes polêmicas, não apenas por causa dos seguidores da Psicanálise, do
humanismo e do cognitivismo, mas também pela própria essência das formulações
teóricas apresentadas.

Escolhemos três para que você reflita sobre elas, mas, por uma questão de
imparcialidade, apresentaremos a resposta do comportamentalismo a cada uma.

E se você pudesse perguntar a Skinner sobre as polêmicas acerca de suas teorias?


Pense e compare o que você perguntaria com o apresentado nos relatos a seguir, em
que um estudante pesquisa sobre a obra de Skinner e questiona essas críticas.

Teoria 1

Como é possível propor uma teoria da aprendizagem, desconhecendo fatores como a


motivação, os processos cognitivos, a emoção e os sentimentos do ser humano?

O objeto de estudo do behaviorismo não envolve os aspectos mentalistas, mas o


comportamento observável do homem. Deseja observar, controlar e modificar o
comportamento, mediante a utilização de reforços.
“Como a ciência do comportamento continuará a aumentar o uso eficaz desse controle, é agora mais
importante do que nunca, compreender o processo implicado e prepararmo-nos, nós mesmos, para os
problemas que certamente surgirão.” (SKINNER, 1981, p. 33-34).

Teoria 2

Como é possível reforçar o comportamento que se deseja condicionar o tempo todo


para que ele seja mantido?

O comportamento condicionado tem permanência e adquire, com o tempo, certa


variedade de manifestações, a não ser que se realize a extinção do comportamento pela
utilização de um novo esquema de reforços.

“Os resultados experimentais são bastante precisos para sugerir que, em geral, o organismo desenvolve
certo número de respostas para cada resposta reforçada. Nós veremos, entretanto, que os resultados
dos esquemas de reforçamento não são sempre redutíveis a uma equação simples de input com output.”
(SKINNER, 1981, p. 11).

Teoria 3

Como é possível, sendo tão grande a variedade de comportamentos humanos, reforçar


cada um deles para que sejam condicionados de maneira satisfatória?

O comportamentalismo não pretende condicionar cada comportamento humano. O


condicionamento proporciona a generalização do que foi aprendido para situações
semelhantes, atendendo a todas as possibilidades de comportamento.

“Dividimos o comportamento em unidades rápidas e rígidas e depois nos surpreendemos ao constatar


que o organismo menospreza os limites por nós colocados. É difícil conceber duas respostas que não
tenham algo em comum... elementos são reforçados onde quer que ocorram. [...] O reforço de uma
resposta aumenta a probabilidade de todas as respostas que contêm os mesmos elementos.” (SKINNER,
1981, p. 60- 61).

A polêmica entre Skinner e Chomsky

Já dissemos que uma das várias áreas de interesse de Skinner era a linguagem. Ele
publicou, em 1957, um livro muito importante chamado Comportamento verbal (Verbal
behavior), em que considera a linguagem como adquirida, passando de contingências
comportamentais simples para complexas mediante associações, imitação e
reforçamento.
Noam Chomsky, linguista, filósofo, sociólogo e ativista político norte-americano,
considerado o pai da Linguística moderna, e de orientação cognitivista, criticou
duramente a concepção de linguagem apresentada por Skinner.
Autor da teoria gerativa, Chomsky tem como pressuposto que os seres humanos
nascem geneticamente dotados de uma faculdade da linguagem (uma espécie de
módulo mental específico para a língua), ela não é aprendida (CHOMSKY, 2002).

- Behaviorismo e a Psicologia da Educação Comportamentalista

A Psicologia Comportamentalista no ensino/aprendizagem

A Psicologia da Educação, segundo os teóricos

Abordamos anteriormente um dos mais importantes teóricos do comportamentalismo:


Burrhus F. Skinner. Enquanto Watson foi considerado fundador dessa escola teórica,
criando o behaviorismo metodológico, Skinner, com os seus experimentos e a
proposição do condicionamento operante, criou o behaviorismo radical.

As principais diferenças entre ambos os behaviorismos podem ser resumidas da


seguinte forma:

Behaviorismo metodológico
Watson.
Comportamento reflexo ou respondente.
Comportamento produzido por estímulos do ambiente. Condicionamento clássico.

Behaviorismo radical
Skinner.
Comportamento operante.
Comportamento ativo do sujeito sobre o ambiente, reforçado por suas consequências.
Condicionamento operante.

Veremos algumas implicações do que podemos chamar de Psicologia da Educação


Comportamentalista sobre o ensino e a aprendizagem.

A Psicologia da Educação Comportamentalista

Vamos começar definindo a aprendizagem para o comportamentalismo ou


behaviorismo! Vale a pena lembrar três premissas básicas do comportamentalismo:

 Primeira premissa
A aprendizagem se refere às repostas ou aos comportamentos observáveis e mensuráveis.

 Segunda premissa
Alguns mecanismos de aprendizagem utilizados por animais são semelhantes e utilizados por
seres humanos.

 Terceira premissa
A base para a compreensão da aprendizagem é o processo elementar de relacionamento entre
estímulos e respostas.

Assim, para essa escola teórica, aprendizagem é o processo de mudança do


comportamento do indivíduo em função de sua interação com o meio, dos estímulos
externos a que é submetido, das contingências de reforço etc.

Ensinar, consequentemente, é controlar esses estímulos, modelando o comportamento


no sentido desejado pelo sujeito e pela sociedade em geral. Isso fica claro quando
Skinner afirma que o comportamento é seguido pelo reforço, uma vez que ele não o
persegue ou ultrapassa.

O desenvolvimento de uma espécie e o comportamento de um membro da espécie são


explicados pela ação seletiva das contingências de sobrevivência e contingências de
reforço. Para Skinner (1981), tanto a espécie como o comportamento do indivíduo se
desenvolvem quando são modelados e mantidos pelos seus efeitos sobre o mundo à
sua volta.
Dos teóricos comportamentalistas que estudamos, sem dúvida foi Skinner o que mais se
preocupou com a Educação e realizou trabalhos nessa área.

Aplicação do behaviorismo radical de Skinner na educação

Pensamentos de Skinner

Estes são alguns dos pensamentos de Skinner sobre a Educação:

 O melhor reforçador da aprendizagem humana é o sucesso em aprender.


 As etapas do processo de condicionamento devem seguir o ritmo individual de aprendizagem.
 O processo de condicionamento deve ser desenvolvido de forma objetiva, sem debates e a
apresentação de pontos de vista diversos.
 A modelagem (modificação) do comportamento deve ser realizada aos poucos e gradativamente,
com pequenas aprendizagens de cada vez.
 O erro é uma situação desagradável, que deve ser evitada, levando quem aprende a acertar
sempre.

Skinner sistematizou a sua teoria da aprendizagem em um livro chamado Tecnologia do


ensino (1975a), em que trata do impacto de suas teorias a longo prazo. Chama a
atenção como uma tecnologia do ensino: o comportamentalismo aumentaria a
produtividade do professor, pois permitiria que ensinasse mais — mais em determinada
matéria, mais matérias, a mais alunos.
Não considera que trate de um “alargamento” no sentido industrial, pois não identifica ser mais produtivo
ao ato de trabalhar mais. Ao contrário, aponta que motiva trabalhar em melhores condições e a troco de
melhores recompensas (SKINNER, 1975a).

São estas as etapas do ensino, de acordo com o comportamentalismo de Skinner:

o Estabelecimento dos comportamentos desejados


É a formulação de objetivos instrucionais.

o Análise da tarefa de aprendizagem


É o estabelecimento da ordem dos passos da instrução a ser realizada.

o Execução do programa de instrução


É o reforço gradual das respostas corretas.

Princípios da teoria da aprendizagem segundo Skinner

De acordo com Case e Bereiter (1984), a teoria da aprendizagem de Skinner possui os


seguintes os princípios:

 Identificar os reforçadores potenciais disponíveis e eficazes para o aprendiz em


questão.
 Identificar e descrever objetivamente o comportamento desejado.
 Descrever o comportamento inicial, ou de entrada, do aprendiz.
 A partir do comportamento de entrada, definir uma série de comportamentos
capazes de conduzir ao comportamento final desejado, em uma sucessão na qual
cada teste represente uma pequena modificação do precedente.
 Passar os estudantes pela sequência de comportamentos, fazendo uso de
demonstrações e instruções, conjugadas a reforços positivos das variações de
comportamento produzidas na direção desejada.
 Por meio da prática, reforçada, assegurar que cada comportamento seja bem
aprendido antes de avançar para o passo seguinte.

Trabalhos de Skinner na área

Podemos mencionar a existência de uma Psicologia da Educação Comportamentalista


não apenas pelas visões de aprendizagem dos pioneiros do behaviorismo metodológico,
Watson, Thorndike e Pavlov, mas principalmente pelos trabalhos de Skinner.

Skinner enunciou o conceito de aprendizagem como a aquisição de novos


conhecimentos, expressos por mudanças comportamentais, por intermédio de
estímulos do meio, que chamou de reforços, modelando os comportamentos desejados,
e estudou a aprendizagem de seres humanos e animais.

Duas famosas aplicações das teorias de Skinner à Educação, e que nos autorizam a
falar da existência de uma Psicologia da Educação Comportamentalista, são a instrução
programada e as máquinas de ensinar, que tiveram sucesso na década de 1960 e no
início dos anos 1970. Veja a seguir detalhes de cada uma delas.

Instrução programada

A instrução programada era um material de ensino, impresso (apostilas e livros), que


obedecia aos princípios elaborados por Skinner para a aprendizagem:

Permite definir os objetivos operacionais do que se pretende realizar com os alunos,


relativo a conhecimentos, habilidades e atitudes. O conteúdo é apresentado, ordenado
em sequência lógica, em pequenas quantidades, que crescem gradativamente em
profundidade e extensão.

A cada porção de conteúdo apresentada, exige-se uma resposta imediata, uma atividade
por parte do educando. A porcentagem de erro por parte do aluno deve ser mínima ou
igual a zero e, para isso, podem ser apresentadas pistas da resposta correta, induzindo
ao acerto.

Após cada esforço do aluno para dar uma resposta correta, segue-se uma recompensa
imediata. Permite ao aluno evoluir no material e desenvolver-se em seu próprio ritmo. Há
avaliação constante do progresso do aluno e do programa quanto à sua efetividade.

Para compreender melhor o que é a instrução programada, vejamos dois exemplos:

Exemplo 1:

O aluno recebe o material e, em cada etapa, é solicitado a responder a determinada


pergunta escrevendo uma frase ou uma palavra, selecionada de um conjunto de
respostas. A resposta correta é apresentada depois que o aluno seleciona a resposta
que deseja. Assim, o aluno pode verificar se a resposta que selecionou foi a certa ou
pode corrigir a própria resposta, tornando-a correta.

Exemplo 2:

Mamífero é todo animal que mama quando filhote. Todo animal que mama quando
filhote é um mamífero. Quando um animal mama ao nascer, podemos afirmar que ele é
um mamífero.

Máquinas de ensinar

Podemos dizer que Skinner foi um precursor da inserção das tecnologias na Educação. Uma das maneiras de emprego da
instrução programada era por meio de máquinas programadas com um sistema eletrônico, indicando os passos que os
estudantes deveriam seguir para realizar os estudos e apresentando vários exercícios que deveriam ser respondidos
individualmente.

Cada resposta era corrigida na mesma hora e a percepção do acerto era considerada por Skinner como um reforço
positivo. Cada aluno resolvia os exercícios em seu tempo. O professor atuava como um monitor, tirando dúvidas sobre a
utilização das máquinas e explicando apenas o necessário para cada atividade.

Para Skinner, a apresentação de um material deveria ser cuidadosamente planejada, e


cada problema deveria depender da resposta ao anterior, tendo em vista um progresso
contínuo até a aquisição de um repertório complexo.

Passos adicionais devem ser introduzidos caso, e onde, os alunos encontrem dificuldades, até que
finalmente o material atinja o ponto em que as respostas do aluno estejam quase sempre certas
(SKINNER, 1975b).

Você sabia que Skinner aplicou os seus princípios teóricos à educação de jovens
infratores?
Na década de 1970, Skinner desenvolveu um trabalho no Kennedy Youth Center, um
centro de recuperação de jovens em conflito com a lei.

As prisões e escolas para delinquentes juvenis são outros lugares nos quais a
modificação de comportamento substituiu as medidas punitivas. Essas instituições não
são planejadas para punir apenas o mau comportamento no passado, mas também
durante o encarceramento, no sentido

que os prisioneiros tendem a receber atenção das autoridades da prisão principalmente


quando se comportam mal. Há poucos incentivos em uma prisão por comportar-se bem.
Isso não precisa ser assim. Em um experimento em uma escola para delinquentes
juvenis nos EUA, os garotos receberam uma chance. Eles poderiam, se quisessem, ficar
sem fazer nada durante o dia. Eles poderiam se sentar em um banco, comer refeições
nutritivas, mas não muito interessantes, dormir no dormitório durante a noite. Entretanto,
se ganhassem pontos, poderiam receber comida mais interessante, ter acesso a mesas
de bilhar, televisores, alugar um quarto privativo ou mesmo comprar um tempo fora da
instituição. Eles ganhavam pontos em parte realizando serviços de limpeza, mas a
maioria, estudando com instrução programada.

Muitos desses meninos foram abandonados pelos sistemas educacionais aos quais
foram expostos. E agora eles descobriram que são capazes de aprender a ler, escrever e
fazer aritmética simples.

Os meninos participaram do experimento apenas por poucos meses, mas a taxa de


recidiva foi grandemente alterada. Ao final de um ano após a libertação, 25 por cento
estavam novamente em apuros, mas a quantia seria de 85 por cento em outros casos.
Ao final do segundo ano, 50 por cento estavam em apuros e, após três anos, havia pouca
evidência da efetividade do programa. Os meninos voltaram ao mundo no qual muitas
contingências erradas prevaleciam. Mesmo assim, o experimento rendeu mais do que
custou, no que diz respeito ao interesse do governo.

Considerações finais

Neste material, abordamos a Psicologia da Educação Comportamentalista ou


Behaviorista e suas principais bases teóricas. Vimos o surgimento do behaviorismo
metodológico e seus precursores: Watson, Thorndike e Pavlov, bem como seus
experimentos de laboratório com animais, cujos resultados generalizavam aos humanos
e construíram o conceito de condicionamento clássico. Foram muitos os antagonismos
com a Psicanálise, o humanismo e o cognitivismo. O criador do behaviorismo radical,
Burrhus F. Skinner, formulou uma teoria da aprendizagem — o condicionamento
operante — em que o indivíduo era ativo na busca dos reforços que modelavam a
mudança do seu comportamento. Fez estudos com seres humanos e deixou o legado de
aplicações educacionais como a instrução programada e as máquinas de ensinar, entre
outros.

Sobre o percurso histórico da Educação, considerava que a escola pública teria sido
inventada com o objetivo primário de oferecer os serviços de um “tutor particular” a um
número maior de estudantes e ao mesmo tempo. Tendo o número de estudantes
aumentado, cada um necessariamente passou a receber menos atenção. Para Skinner,
ao atingir a marca de 25 ou 30 alunos, a atenção pessoal tutor-aluno tornou- se
esporádica.
Os livros teriam sido inventados para fazer uma parte desse trabalho, mas eles não fazem duas coisas
importantes: não podem, assim como o tutor, avaliar imediatamente o que cada estudante disse, nem
dizer-lhes exatamente o que devem fazer em seguida; as máquinas de ensino e os textos programados
foram inventados para restabelecer essas características importantes da instrução tutorial (SKINNER,
1991).

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