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MÓDULO 1

 Reconhecer as principais características das teorias psicológicas e sua interface com a


educação
CONTRIBUIÇÕES DA PSICOLOGIA
A partir deste momento, estudaremos as características principais das teorias psicológicas, desde
os primeiros estudos da Psicologia, sua consagração enquanto ciência, até as correntes mais
difundidas na atualidade. A intenção aqui é proporcionar um panorama geral dessas teorias para
que você possa ser capaz de discernir qual (ou quais) delas poderá (ou poderão) contribuir para
sua atuação enquanto profissional.
PARA INÍCIO DE CONVERSA, É IMPORTANTE RESGATAR, EM LINHAS GERAIS,
A CONSTITUIÇÃO HISTÓRICA DA PSICOLOGIA ENQUANTO CIÊNCIA.
GRÉCIA: O BERÇO DA PSICOLOGIA
Os primórdios da Psicologia encontram-se na Grécia antiga (por volta de 700 a.C. até a
dominação romana). Foi entre os filósofos gregos, como Sócrates, Platão e Aristóteles, que
surgiu a primeira tentativa de sistematizar o conhecimento entre o homem e sua interioridade.
Não é à toa que o termo “Psicologia” vem do grego psyque (alma) e de logos (razão), ou seja,
psicologia significa “estudo da alma”.
Sócrates foi quem deu consistência aos estudos da Psicologia na Antiguidade. Suas indagações
eram a respeito do que diferenciava o homem de outros animais. Ele postulou que a
característica essencialmente humana era a “razão” que se opunha ao “instinto” do restante dos
animais.
Em seguida, Aristóteles o contraria, dizendo que alma e corpo são indissociáveis, ou seja, tudo
que cresce, se reproduz e se alimenta possui psyque ou “alma”. Assim, os vegetais e todos os
animais, incluindo o ser humano, teriam “alma”.
Como podemos observar, há mais de 2 mil anos antes de a Psicologia ser considerada ciência, já
havia duas teorias sobre os estudos do homem e sua interioridade:
A PLATÔNICA
Imortalidade da “alma” e separação entre “corpo” e “alma”
A ARISTOTÉLICA
Mortalidade da “alma” e sua relação de pertencimento ao “corpo”
A RELAÇÃO ENTRE PSICOLOGIA E RELIGIÃO
O surgimento do Império Romano, que dominou a Grécia e parte da Europa até o início do
período da Idade Média (século V ao XV), foi marcado pelo desenvolvimento do Cristianismo. Por
esse motivo, houve muita influência do conhecimento religioso na Psicologia, já que nessa época
a Igreja Católica monopolizava o saber. Os grandes estudiosos desse período são Santo
Agostinho e São Tomás de Aquino.
Santo Agostinho, discípulo de Platão, também considerava a separação entre “alma” e “corpo”.
Além disso, acrescentava a ideia de que a “alma” era o elemento que ligava o homem a Deus,
motivo pelo qual a Igreja teria o direito de se preocupar com sua compreensão.
São Tomás de Aquino reforça o monopólio da Igreja quanto aos estudos do psiquismo quando
afirma que o homem, na sua essência, busca a perfeição por meio da existência. Se Deus é o
único capaz de reunir essência e existência, logo, a busca de perfeição pelo homem seria a
busca de Deus.
O DUALISMO MENTE-CORPO
O Renascimento, que marca a transição da Idade Média para a Idade Moderna (séculos XV e
XVI), foi um período de grandes transformações no mundo europeu em diferentes áreas, como na
literatura, na arte, na política e no desenvolvimento da ciência, com as descobertas de Copérnico
(Terra não é o centro do universo) e de Galileu (estudos sobre a queda dos corpos gravidade).
 ATENÇÃO
Esse avanço na produção de conhecimento permitiu a sistematização da ciência a partir da
formulação de métodos e regras básicas para sua fundamentação. É nesse período que surge
René Descartes, resgatando as discussões a respeito de “alma” e “corpo”.
Descartes postulou a separação entre mente (alma, espírito) e corpo, afirmando que o ser
humano possui uma substância material e outra pensante, o que foi chamado de dualismo mente-
corpo.
DUALISMO MENTE-CORPO
O dualismo mente-corpo torna possível o estudo do corpo humano depois da morte, o que não
era feito antes, já que o corpo era sagrado para a Igreja por ser a “casa da alma”. Isso possibilitou
o avanço da Anatomia, da Fisiologia e da própria Psicologia.
A PSICOLOGIA TORNA-SE CIÊNCIA
Remontemos, então, ao início do séc. XIX, momento em que surge uma nova ciência, a
Psicologia! Apesar de os estudos psicológicos já existirem, é somente nesse século, na
Alemanha, que a Psicologia surge como ciência. Dentre os seus representantes, encontram-se:
ERNST HEINRICH WEBER
GUSTAV THEODOR FECHNER
HERMANN VON HELMHOLTZ
WILHELM WUNDT
SE OS ESTUDOS DE PSICOLOGIA JÁ EXISTIAM, POR
QUE SOMENTE NO SÉCULO XIX ELA FOI CONSIDERADA CIÊNCIA?
Antigamente, os estudos das ciências humanas não eram legitimados enquanto ciência, pois
enfrentavam dificuldades para estabelecer um método de investigação, segundo os parâmetros
impostos naquela época pelas ciências naturais.
AS CIÊNCIAS NATURAIS TINHAM SEU OBJETO DE ESTUDO FORA DO INDIVÍDUO

ENQUANTO AS CIÊNCIAS HUMANAS ESTUDAVAM O PRÓPRIO INDIVÍDUO
Você já pode imaginar tamanha dificuldade que as ciências humanas enfrentaram, já que seu
objeto de estudo era o próprio ser humano, seu comportamento e toda a sua subjetividade.
 SAIBA MAIS
Os fenômenos humanos são complexos, resultam de muitas influências como hereditariedade,
meio ambiente, impulsos, desejos e vontade, que, muitas vezes, não são passíveis de controle ou
aferição. Além disso, as ciências humanas nem sempre podem fazer uso da experimentação,
tanto pela questão do controle de variáveis externas quanto pela questão ética e moral do estudo
a ser conduzido. No entanto, é importante dizer que todas essas dificuldades existiam devido aos
parâmetros colocados naquela época a partir dos estudos das ciências naturais. Tais dificuldades
foram superadas ao longo do tempo, e diferentes métodos de pesquisa foram elaborados, o que
viabilizou os estudos dos fenômenos humanos e conferiu o status de ciências humanas que
temos atualmente.
Conhecendo esse contexto, você compreenderá por que a Psicologia somente foi considerada
ciência após dois milênios de estudos e investigações de grandes filósofos. O argumento
anteriormente era de que se tratava de estudos que não podiam ser mensuráveis, replicáveis e,
portanto, não eram passíveis de comprovação científica ou até mesmo de generalizações.
A partir de meados do século XIX, a Psicologia deixou de ser estudada exclusivamente por
filósofos e passou a ser investigada também pela fisiologia, neurofisiologia e neuroanatomia,
graças aos possíveis estudos da parte de nosso corpo humano chamada cérebro. Com isso, o
rumo da psicologia foi determinado pelos fisiologistas a partir dos estudos da psicofísica.
 EXEMPLO
Para melhor compreensão, imagine o seguinte exemplo:
Se em um laboratório você misturar determinada quantidade da substância X à determinada
quantidade da substância Y, sob pressão P e temperatura T, você obterá a substância W.
Sabendo disso, é possível afirmar que qualquer pessoa que siga essas instruções, controlando
tais variáveis (quantidades específicas de cada substância, pressão e temperatura) conseguirá,
sem sombra de dúvidas, obter a substância W.
Pode-se dizer que a experiência possui um método, além de ser replicável, mensurável e poder
ser generalizada. Portanto, essas experiências presentes em estudos de química ou física detêm
o status de ciência.
Pelo fato de as ciências humanas não controlarem totalmente as variáveis e disporem de outros
métodos de investigação, foram desconsideradas e desvalorizadas do campo das ciências
durante muito tempo.
POR QUE SOMENTE NO SÉCULO XIX A PSICOLOGIA FOI CONSIDERADA CIÊNCIA?
A resposta vem dos estudos dos psicofisiologistas, como a Lei de Fechner-Weber, que
estabelece a relação entre estímulo e percepção, e a concepção do Paralelismo Psicofísico
elaborada por Wundt, que relaciona fenômenos mentais a fenômenos orgânicos. Tanto Fechner e
Weber quanto Wundt estudavam fenômenos psicofísicos que eram passíveis de mensuração.
Havia a partir desses estudos a possibilidade de medida do fenômeno psicológico, o que até
então era considerado impossível.
 VOCÊ SABIA
Wundt construiu o primeiro laboratório de psicologia experimental, que se tornou um marco para a
Psicologia científica, motivo pelo qual o teórico foi considerado o pai da Psicologia
moderna.
LEI DE FECHNER-WEBER PARALELISMO PSICOFÍSICO
LEI DE FECHNER-WEBER
Fechner e Weber postulam que a diferença de sentimentos ao aumentarmos a intensidade de
iluminação de uma lâmpada de 100 para 110 watts será a mesma de quando aumentarmos a
intensidade de iluminação de 1000 para 1100 watts, isto é, a percepção aumenta em progressão
aritmética, enquanto o estímulo varia em progressão geométrica (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA,
2001).
PARALELISMO PSICOFÍSICO
Wundt dizia que uma estimulação física, como a picada de uma agulha na pele de um indivíduo,
teria uma correspondência na mente deste indivíduo. Para explorar a mente ou consciência do
indivíduo, Wundt cria um método chamado introspeccionismo, no qual o experimentador
pergunta ao sujeito os caminhos percorridos no seu interior por uma estimulação sensorial como
a picada da agulha (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2001).
TEORIAS PSICOLÓGICAS E SEUS GRANDES PENSADORES
Agora que você já estudou o percurso histórico da constituição da Psicologia enquanto ciência,
vamos conhecer as principais características de algumas teorias psicológicas e seus
representantes. É importante ressaltar que será abordado um panorama geral de cada uma
delas, para que você estabeleça um primeiro contato e seja capaz de identificar suas
contribuições para o processo de aprendizagem dos sujeitos.
SÃO MUITAS AS CORRENTES TEÓRICAS DA PSICOLOGIA ATUALMENTE. SEGUIREMOS
NA LINHA
HISTÓRICA PARA QUE VOCÊ COMPREENDA O SURGIMENTO DE ALGUMAS DELAS.
Retomando o método experimental da introspecção utilizado por Wundt, pode-se dizer que,
apesar de ter trazido o status de ciência para a Psicologia, sua utilização sistemática passou a
apontar limites que contribuíram para o surgimento de outros métodos de experimentação. O
principal limite que havia no método da introspecção é que dependia do relato do indivíduo que
se auto-observava, ou seja, o observador e o observado eram a mesma pessoa e isso dificultava
a fidedignidade dos dados.
Isso, dentre outras críticas ao método introspeccionista, possibilitou o surgimento de um método
que separava o observador do observado e trazia a possibilidade de coletar dados quantificáveis
e mais fidedignos, sendo conhecido como método comportamentalista ou behaviorista.
WUNDT NÃO PAROU POR AÍ! ELE INFLUENCIOU NÃO SÓ A PSICOLOGIA EXPERIMENTAL,
COMO TAMBÉM CONTRIBUIU PARA OUTRAS ÁREAS DA PSICOLOGIA RELACIONADAS
AOS PROCESSOS SIMBÓLICOS DA LINGUAGEM, O QUE SERVIU COMO BASE, POR
EXEMPLO, PARA AS CONCEPÇÕES PSICANALISTAS.
Ao longo do século XX, outras formas de compreender a Psicologia foram se desenvolvendo. Os
pesquisadores foram levados a estudar fenômenos decorrentes do momento históricocultural que
estavam vivendo, como as guerras, por exemplo, o que propiciou o desenvolvimento de várias
correntes teóricas como:
O BEHAVIORISMO
É a ciência que estuda o comportamento humano.
A PSICOLOGIA HUMANISTA
Estuda a capacidade do próprio indivíduo como recurso de desenvolvimento.
A GESTALT
Estuda os processos psicológicos envolvidos na ilusão de ótica.
A PSICOLOGIA GENÉTICA
Estuda o processo de desenvolvimento cognitivo do sujeito.
A PSICANÁLISE
Estuda o inconsciente e a natureza sexual da conduta humana.
A seguir, serão apresentadas as principais características de cada uma delas e os grandes
pensadores que a representaram. É importante que, ao estudar essas correntes teóricas, você
relacione com o desenvolvimento de aprendizagem do ser humano, pois cada uma delas trouxe
ferramentas para que possamos compreender melhor como ocorre esse processo.
A PSICOLOGIA COMPORTAMENTAL
A Psicologia Comportamental ou Behaviorista (behavior em inglês significa comportamento) está
pautada em uma concepção ambientalista de desenvolvimento. O ambientalismo defende a ideia
de que o ser humano desenvolve suas características em função das condições presentes no
meio em que se encontra. Essa concepção deriva da corrente filosófica chamada de “empirismo”,
que enfatiza a experiência sensorial como fonte de conhecimento.
OS GRANDES PENSADORES QUE REPRESENTAM A CORRENTE TEÓRICA DO
COMPORTAMENTALISMO
SÃO JOHN WATSON, IVAN PAVLOV E BURRHUS FREDERIC SKINNER.
A teoria behaviorista se propôs a explicar o comportamento humano a partir de experimentos com
animais em laboratório. Nessa concepção, o ambiente é mais importante do que a maturação
biológica. Além disso, considera-se que os indivíduos buscam maximizar o prazer e diminuir a
dor. Desse modo, manipulando os elementos do ambiente (estímulos), é possível controlar o
comportamento.
As mudanças no comportamento poderiam ser provocadas a partir de:
CONSEQUÊNCIAS POSITIVAS
Reforçamento - aumenta a frequência do comportamento. 
CONSEQUÊNCIAS NEGATIVAS
Punição – diminui a frequência do comportamento de forma eficaz.
O reforçamento pode ser positivo ou negativo, e ambos aumentam a frequência do
comportamento. A diferença é que, no reforço positivo, há recompensa e, no negativo, há retirada
de um estímulo aversivo. Já para a eliminação de um comportamento indesejável, usase o
procedimento de extinção.
Imagine os seguintes exemplos:
EXEMPLO A
A mãe deseja que a criança faça a tarefa escolar. Para tanto, dá um chocolate toda vez que a
criança termina a tarefa (criança sente prazer em comer o chocolate e isso faz com que aumente
a frequência do comportamento de fazer a tarefa escolar). → Reforço positivo
Se a mãe dissesse à criança que ela não precisaria lavar a louça caso fizesse a tarefa escolar,
estaria retirando um estímulo aversivo (lavar a louça) para aumentar a frequência do
comportamento desejado (fazer a tarefa). → Reforço negativo
EXEMPLO B
A mãe deseja que a criança pare de fazer birra no supermercado. Para tanto, deixa de comprar o
alimento preferido da criança, por exemplo, um chocolate (a criança percebe que se continuar
chorando não ganhará o chocolate, por isso, para de chorar, ou seja, diminui a frequência do
comportamento, da birra, já que traz uma consequência negativa, ficar sem o doce). → Punição
EXEMPLO C
A mãe deseja que a criança pare de fazer bagunça para chamar sua atenção. Para tanto, ignora
o comportamento da criança, ou seja, quebra-se o elo estabelecido entre o comportamento
indesejado (bagunça) e a consequência (atenção da mãe). Isso faz com que o
comportamento indesejado seja eliminado. → Extinção
 ATENÇÃO
É importante ressaltar que a Psicologia Comportamentalista não se esgota nesses exemplos e
nem a essas terminologias, há muitos estudos que se derivaram dessa primeira concepção.
CONDICIONAMENTO OPERANTE
O condicionamento operante, ou skinneriano, traduz a técnica de aprendizagem realizada nas
“caixas de Skinner”, onde se coloca um animal privado de comida.
O animal, quando se encontra preso na caixa, ao se esbarrar ocasionalmente em uma alavanca,
recebe comida.

Assim, após esbarrar “sem querer” várias vezes e receber essa recompensa, o animal percebe,
ou seja, “aprende” que, ao acionar a alavanca (resposta), recebe um alimento (estímulo).
Skinner criou inúmeras variantes dessas caixas, como, por exemplo, a que o animal, para evitar
uma punição como um choque elétrico, salta antes de recebê-lo por ser “avisado” por um sinal
luminoso ou som.
A PSICOLOGIA HUMANISTA
A Psicologia Humanista estuda a capacidade que o próprio indivíduo tem para se desenvolver de
forma criativa e saudável.
OS GRANDES REPRESENTANTES DESSA CORRENTE
TEÓRICA SÃO ABRAHAM MASLOW E CARL ROGERS.
Maslow postulou a importância da autorrealização e afirma que as pessoas nascem boas. Diz
ainda que os transtornos mentais ou sociais resultam de um desvio da bondade natural do ser
humano.
Rogers, discípulo de Maslow, formulou a famosa “terapia centrada na pessoa”, bem como o
“ensino centrado no aluno”. Em linhas gerais, o “ensino centrado no aluno” baseia-se em uma
complexa percepção do aluno em vários aspectos de sua vida e na formação de sua
personalidade. Assim, é possível compreender de que maneira ele adquire o conhecimento e
quais são suas dificuldades, a fim de conduzi-lo a se autoconhecer e a aprender a aprender.
A PSICOLOGIA DA GESTALT
A Gestalt, também conhecida por “Psicologia da forma”, teve seus estudos baseados na
percepção e sensação dos movimentos. Havia a preocupação em compreender os processos
psicológicos envolvidos quando o estímulo físico é percebido de maneira diferente da
apresentada na realidade, o que chamamos de ilusão de ótica.
OS GRANDES PENSADORES DESSA TEORIA SÃO CHRISTIAN VON EHRENFELS,
WOLFGANG KÖHLER E KURT KOFFKA.
Para eles, o comportamento deveria ser estudado em seus aspectos mais globais, levando em
consideração as condições que alteram a percepção do estímulo.
A ideia geral dessa teoria era baseada no isomorfismo, no qual as partes estavam relacionadas
ao todo. A percepção é norteada pela busca do fechamento, da simetria e da regularidade dos
pontos que compõe uma figura, por exemplo. A Gestalt encontra nesses fenômenos da
percepção a chave para compreender o comportamento humano.
NA FIGURA, PODE-SE PERCEBER UMA AMBIGUIDADE, ORA VEMOS UMA TAÇA ORA
DOIS
PERFIS. ISSO CORRE PORQUE, DEPENDENDO DA FUNÇÃO QUE DAMOS A UMA
LINHA, ALTERAMOS A RELAÇÃO ENTRE FIGURA-FUNDO.
Imagem: Shutterstock.com
Na figura, pode-se perceber uma ambiguidade, ora vemos uma taça ora dois perfis. Isso corre
porque, dependendo da função que damos a uma linha, alteramos a relação entre figura-fundo.

 SAIBA MAIS
A teoria da Gestalt vê a aprendizagem como a relação entre o todo e as partes, em que o todo
tem papel fundamental na compreensão da parte percebida. É o que ocorre, por exemplo,
quando uma criança de 3 anos, que ainda não sabe ler, reconhece a logomarca de um
refrigerante e o identifica corretamente. Nesse caso, a criança não reconheceu as letras e as
uniu, mas, sim, deu significado ao todo da palavra.
A PSICOLOGIA GENÉTICA
A Psicologia Genética teve como principal representante Jean Piaget, teórico que defendeu a
visão interacionista de desenvolvimento e a abordagem construtivista de conhecimento. Piaget
investigou profundamente a maneira pela qual a criança constrói as noções fundamentais do
pensamento lógico como espaço, tempo, objeto, casualidade etc.
 VOCÊ SABIA
Piaget não tinha intenção de estudar os processos de aprendizagem, muito menos métodos de
ensino, e sim analisava o desenvolvimento cognitivo. O que ocorre, atualmente, é a apropriação
dos conceitos formulados por Piaget sobre a gênese do conhecimento para elaborar estratégias
pedagógicas de ensino e aprendizagem.
Em linhas gerais, a teoria piagetiana considera o desenvolvimento envolvido em um processo
contínuo de trocas entre o organismo e o meio ambiente. A noção de equilíbrio é o alicerce de
sua teoria, processo em que o indivíduo procura manter um estado de equilíbrio ou de adaptação
com seu meio. Para ele, o desenvolvimento cognitivo ocorre a partir de constantes desequilíbrios
e equilibrações. Para acionar esse estado de equilíbrio, dois mecanismos são acionados:
A ASSIMILAÇÃO
Refere-se à captação e à obtenção de novas informações que são incorporadas às ideias já
existentes no psiquismo.
A ACOMODAÇÃO
Diz respeito à adaptação das informações novas, ou seja, a acomodação ocorre quando uma
estrutura mental precisa ser alterada para se adaptar às novas informações.
AGORA QUE VOCÊ JÁ SABE QUE PIAGET DEFINIU O DESENVOLVIMENTO COMO SENDO
UM PROCESSO
DE EQUILIBRAÇÕES SUCESSIVAS, É HORA DE CONHECER AS FASES DO
DESENVOLVIMENTO COGNITIVO SEGUNDO ESSE AUTOR.
Cada fase ou etapa define um momento de desenvolvimento pelo qual a criança constrói suas
estruturas cognitivas. São três etapas: sensório-motora, pré-operatória e operatória, sendo que
esta última é subdividida em duas - operatória concreta e operatória formal.
 ATENÇÃO
É importante ressaltar que, apesar de Piaget ter definido uma faixa etária para cada uma dessas
etapas com base em seus experimentos, é possível considerar variações de idades devido a
inúmeras evoluções de nossa realidade, como, por exemplo, a tecnologia e as condições sociais
e culturais em que a pessoa está inserida.
ETAPA SENSÓRIO-MOTORA
Essa etapa vai do nascimento aos dois anos de idade. A criança baseia-se exclusivamente em
percepções sensoriais e em esquemas motores para resolver seus problemas. Nessa fase,
considera-se que a criança ainda não possui pensamento, mas está construindo o conhecimento
enquanto se relaciona com o meio (pega, balança, joga, bate, morde etc.). Dentre as principais
aquisições desse período, estão a noção da construção de “eu”, diferenciando o mundo externo
de seu próprio corpo. Elabora sua organização psicológica básica quanto aos aspectos motor,
perceptivo, afetivo, social e intelectual.
ETAPA PRÉ-OPERATÓRIA
Essa etapa vai de aproximadamente dos dois aos sete anos de idade. A principal aquisição
desse período é o desenvolvimento da linguagem, por meio da qual a criança é capaz de
construir esquemas de ação interiorizados, chamados de esquemas representativos ou
simbólicos. É possível, a partir desse momento, que a criança pegue uma caixa de leite e a
represente como um carrinho, ou ainda, que se refira a pessoas ou objetos sem que eles estejam
em seu campo de visão.
ETAPA OPERATÓRIA: CONCRETA E FORMAL
Essa etapa vai, aproximadamente, dos sete aos 12 anos de idade. É nesse período que o
pensamento lógico se constitui. Ele é considerado operatório porque é reversível, ou seja, o
sujeito pode retomar seu pensamento ao ponto de partida. Piaget fez inúmeros experimentos
para verificar a reversibilidade do pensamento a partir dos famosos testes de conservação de
quantidades, de volume e de massa.
A etapa operatória concreta recebe esse nome porque é a fase em que a criança só consegue
pensar corretamente se os objetos e materiais estiverem ao seu alcance e servirem de apoio para
a construção de seu pensamento.

Já na etapa operatória formal, o pensamento se liberta do concreto, ou seja, a criança é capaz de
representar e pensar de forma abstrata. Nessa fase, a partir dos 13 anos de idade, o indivíduo é
capaz de raciocinar logicamente mesmo se o conteúdo do seu raciocínio é falso.
A PSICANÁLISE
Segundo Aranha (2003), o conceito de Psicanálise tem três sentidos: é um método interpretativo,
uma forma de tratamento psicológico e uma teoria, ou seja, um conhecimento que o método
produz.
O PRINCIPAL REPRESENTANTE DA PSICANÁLISE É SIGMUND FREUD.
A principal característica dessa teoria é o estudo do inconsciente e a compreensão da natureza
sexual da conduta. Para a Psicanálise, todos os nossos atos têm uma realidade exterior
representada na nossa conduta e significados ocultos que podem ser interpretados.
 COMENTÁRIO
A metáfora do iceberg representa bem essa ideia, pois é como se a montanha de gelo que
conseguimos ver fora da água fosse nosso consciente e a parte da montanha de gelo submersa
fosse nosso inconsciente.
O principal colaborador de Freud foi Joseph Breuer, médico vienense que já realizava na Áustria
pesquisas de tratamento de histeria com a hipnose. Breuer tinha uma paciente histérica que ficou
muito famosa no caso Ana O. Esse foi o primeiro caso clínico a ser tratado dentro do modelo que
daria origem à Psicanálise. Esse método de eliminar os sintomas com a retomada de recordações
traumáticas passadas se tornou conhecido como método catártico - a cura pela
fala.
Os fracassos nos tratamentos e o fato de muitos pacientes não conseguirem ser hipnotizados
levou Freud a abandonar a hipnose. Ele, então, passou a utilizar a sugestão pós-hipnótica, que
consiste em um procedimento sugestivo de afirmar ao paciente que ele se recordaria de fatos
presentes no inconsciente. As recordações inconscientes emergiriam para a elaboração e o
domínio da consciência com a ajuda do próprio paciente.
Freud, ao construir sua teoria durante suas experiências com os pacientes, elaborou alguns
conceitos que dariam forma à psicanálise. Por exemplo, formulou os conceitos de resistência e
repressão, as quais agem como em um jogo de forças, sendo movidas pelo próprio paciente no
intuito de afastar a angústia diante de um trauma.
RESISTÊNCIA REPRESSÃO
RESISTÊNCIA
É a força que se opõe à percepção consciente do fato significativo. Protege o indivíduo da dor e
do sofrimento que seriam trazidos junto com o seu conhecimento. As forças do próprio paciente,
ou seja, de sua consciência, podem passar a ser mobilizadas para vencer a resistência.
REPRESSÃO
É a força que se mobiliza para negar o conhecimento à consciência e para que o indivíduo não
seja ferido em seus ideais éticos e estéticos. Ela tira da consciência a percepção de
acontecimentos cuja dor o indivíduo não poderia suportar. A repressão é consequência lógica da
resistência.
Outra definição importante da Psicanálise são os constructos que constituem o modelo dinâmico
da estruturação da personalidade: id, ego e superego.
Para Freud, o id é um reservatório de energia do indivíduo, é o poder instintivo do ser humano,
está no nível do desejo, independentemente de as possibilidades reais de esse desejo ser
satisfeito ou não.

O ego é o intermediário entre o desejo e a realidade. Ele apresenta as reais possibilidades de
satisfação desse desejo, agindo entre os processos internos (id-superego) e a relação destes
com a realidade.

O superego é o responsável pela estruturação interna dos valores morais, é a internalização das
normas, do que é proibido e do que é valorizado e deve ser ativamente buscado.
 EXEMPLO
Em outras palavras...
Sabe aquela festa de aniversário da sua amiga que você vai todos os anos e sempre é muito
divertida? Pois bem, é 2020 e ela está fazendo 20 anos! Mesmo com o panorama da pandemia
causada pela COVID-19, ela decide fazer a famosa festa de aniversário.
1) Quando você recebe o convite, imediatamente pensa: “Vou à festa! Não vai acontecer
nada!
Eu realmente vou ficar muito feliz!” (ID).
2) Depois de alguns minutos, você se lembra: “Nossa, haverá aglomeração, eu posso
mecontaminar e, consequentemente, contaminar meus pais e meus avós!” (SUPEREGO).
Com isso, você internamente pondera as informações, analisa seu desejo e verifica as reais
possibilidades de satisfação mediante os valores morais e as regras sociais atribuídas à situação.
3) Assim, é capaz de chegar à seguinte conclusão: “A festa realmente será muito
divertida,gostaria muito de ir, mas preciso pensar nas consequências desse ato. Por isso, esse
ano não vou à festa, vou proteger a mim e as pessoas que eu amo” (EGO).
É claro que esse exemplo mostra como agem os constructos de forma muito simplificada diante
da complexidade de cada um dos conceitos, mas possibilita uma breve compreensão de seus
significados.
Há também outros conceitos elaborados a partir dos estudos da Psicanálise, como os
mecanismos de defesa. Os mecanismos de defesa são os diversos tipos de processos
psíquicos, cuja finalidade consiste em afastar um evento gerador de angústia da percepção
consciente.
 EXEMPLO
Sabe quando algo não dá certo e, depois disso, tudo fica sem graça? Quando você briga com um
irmão, reclama que o arroz está sem sal... ou não gosta de ir ao psicólogo e “sem querer” perde o
horário toda semana? Há ainda aquela situação de seminário, que você tem que expor o trabalho
oralmente e sempre acontece algo que você precisa sair mais cedo. Em todos esses casos, está
implícito um mecanismo de defesa, seja uma agressão, uma fuga ou negação, dentre vários
outros.
VISTO ESSES CONCEITOS, VAMOS À PRINCIPAL
DESCOBERTA DA PSICANÁLISE: A LIBIDO QUE, NAS PALAVRAS DE FREUD, É A
ENERGIA DOS INSTINTOS SEXUAIS E SÓ DELES.
Segundo Rappaport, Fiori e Davis (1981), no processo de desenvolvimento psicossexual, o
indivíduo, nos primeiros tempos de vida, tem a função sexual ligada à sobrevivência, e, portanto,
o prazer é encontrado no próprio corpo. O corpo é erotizado, ou seja, as excitações sexuais estão
localizadas em partes do corpo e há um desenvolvimento progressivo que levou Freud a postular
as seguintes fases do desenvolvimento:
FASE ORAL
A zona de erotização é a boca. Desde o nascimento do bebê, a estrutura sensorial mais
desenvolvida é a boca. É pela boca que começará a provar e a conhecer o mundo. É pela boca
que o bebê fará sua primeira e mais importante descoberta: o seio.
FASE ANAL
A zona de erotização é o ânus. No início do segundo ano de vida, a libido passa da organização
oral para a anal. No segundo e terceiro anos de vida, dá-se a maturação do controle muscular na
criança. É o período que se inicia o andar, o falar e o controle de esfíncteres.
FASE FÁLICA
A zona de erotização é o órgão sexual. Por volta dos três anos de idade, a libido inicia nova
organização. A erotização passa a ser dirigida para os genitais; desenvolve-se o interesse infantil
por esses órgãos, a masturbação torna-se frequente e normal. A preocupação com as diferenças
sexuais entre meninos e meninas torna-se frequente.
PERÍODO DE LATÊNCIA
Fase que se prolonga até a puberdade e se caracteriza por uma diminuição das atividades
sexuais, isto é, há um intervalo na evolução da sexualidade. A energia da libido é canalizada para
outras finalidades (energia mobilizadora). Ela é canalizada para o desenvolvimento intelectual e
social da criança – realizações socialmente produtivas.
FASE GENITAL
O objeto de erotização ou de desejo não está mais no próprio corpo, e sim em um objeto externo
ao indivíduo — o outro. Alcançar a fase genital para a Psicanálise significa atingir o pleno
desenvolvimento de um adulto normal. Freud define um adulto normal: “O homem normal é
aquele que é capaz de amar e trabalhar”.
 COMENTÁRIO
A teoria da Psicanálise, bem como as teorias psicológicas apresentadas anteriormente, deve, a
partir desse momento, servir de referência para construir um aporte teórico para que você as
relacione com os processos de aprendizagem.
 AS TEORIAS PSICOLÓGICAS E SUA INTERFACE COM A EDUCAÇÃO
A especialista Andresa Aparecida Ferreira fala sobre as teorias psicológicas e as interfaces com
a Educação:

MÓDULO 2

 Descrever conceitos gerais da construção do conhecimento e sua relação com os


processos de aprendizagem.
CONTRIBUIÇÕES DA PEDAGOGIA: A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO E O PROCESSO
DE APRENDIZAGEM
A construção do conhecimento, bem como os processos de aprendizagem, ocorre a partir da
relação que o ser humano estabelece com o meio em que vive.
 EXEMPLO
Para compreender como se dá essa relação, tomemos o exemplo do caso indiano de Amala e
Kamala, duas crianças que foram criadas por uma família de lobos. Quando elas foram
descobertas em 1920, Amala tinha um ano e meio e Kamala oito anos de idade. As meninas
apresentavam comportamentos semelhantes aos dos animais com quem conviviam: andavam em
quatro apoios, alimentavam-se de carne crua, à noite eram mais ativas e uivavam como os lobos.
Elas foram acolhidas em uma instituição que as ensinou comportamentos tipicamente
humanos.
Amala morreu após um ano e Kamala após nove anos. Kamala levou seis anos para aprender a
andar, adquiriu um vocabulário de 50 palavras e apresentou poucas atitudes afetivas e
emocionais ao longo desse tempo. Assim como esse, existem muitos outros casos relatados na
história que permitem entender em que medida as características humanas e o processo de
aprendizagem tipicamente humano dependem do convívio social.
Com base nesse exemplo, é possível dizer que a construção do conhecimento, bem como a
aprendizagem, é o processo pelo qual a criança se apropria ativamente do conteúdo da
experiência humana, daquilo que seu grupo social conhece. Para que a criança aprenda, é
necessário que ela interaja com as pessoas, sejam crianças sejam adultos. É na interação que a
criança vai se desenvolver integralmente. Ela vai, gradativamente, ampliando suas formas de lidar
com o mundo e construindo significados para as ações e experiências que vive, para que assim
possa adquirir o conhecimento cultural acumulado pela humanidade.
Para compreender o processo pelo qual as formas de pensar e os conhecimentos existentes em
uma sociedade são apropriados pela criança, é preciso reconhecer a natureza social da
aprendizagem, pois os desenvolvimentos cognitivos, afetivos e sociais serão sempre construídos
ativamente na interação com outros sujeitos.
 ATENÇÃO
A interação que se estabelece entre crianças, entre adultos e crianças e, principalmente, entre os
profissionais (professor, psicopedagogo, psicólogo) e as crianças são fundamentais para a
construção do conhecimento e para que os processos de aprendizagem sejam efetivados com
sucesso.
A aprendizagem se inicia desde o nascimento e ocorre até nossa morte! É um erro pensar que a
criança começa seu processo de aprendizagem apenas quando entra na escola. Desde o
momento em que nasce, ela interage com o mundo à sua volta e passa a construir seu
conhecimento a respeito dele. Quando ela entra na escola e é exposta ao ensino formal, já possui
em si hipóteses do conhecimento que foram construídas ao longo do tempo.
No início da alfabetização da escrita ou da matemática, por exemplo, a criança já tem uma
concepção de escrita ou de sua representação gráfica, já se deparou com números ou com a
noção de quantidade. Em outras palavras, ela já foi inserida no que chamamos de letramento.
A criança adquire conhecimento de inúmeras formas, na convivência com os seus familiares,
amigos e nas experiências que teve ao longo de sua vida. Na escola, todo esse conhecimento
adquirido de maneira espontânea passa a ser sistematizado, ou seja, há uma intencionalidade
pedagógica, uma organização prévia daquilo que a criança precisa aprender ou das situações
que ela necessita experienciar para que, assim, possa se desenvolver integralmente e aprimorar
sua própria capacidade de aprender.
A RELAÇÃO ENTRE PENSAMENTO E LINGUAGEM E O CONCEITO DE MEDIAÇÃO
SIMBÓLICA
O PROCESSO DE APRENDIZAGEM DA LEITURA E DA ESCRITA TEM ESTRITA
RELAÇÃO COM A AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM.

A linguagem é a ferramenta que permite a comunicação entre as pessoas, a interação social, e
nos diferencia dos outros animais.

A linguagem permite que as conquistas e os conhecimentos construídos pela humanidade sejam
assimilados e continuamente reconstruídos pelos seres humanos.

Também é responsável por organizar, articular e orientar o pensamento, função essa que é
imprescindível para o processo de escrita.
 RESUMINDO
O ato de escrever nada mais é do que a transposição em código do seu pensamento. Assim,
quando você tem uma linguagem bem desenvolvida, um pensamento organizado e estruturado,
ao adquirir o código, será capaz de produzir uma escrita coerente e coesa.
É importante ressaltar que, apesar de se dar muita ênfase à linguagem verbal, existem outros
tipos de linguagem que são igualmente importantes para o processo de formação do pensamento
lógico e abstrato, como, por exemplo, a linguagem a partir de estímulos visuais, gestuais, sonoros
e táteis.
NÃO EXISTE UMA LINGUAGEM ÚNICA, TODAS SÃO UTILIZADAS PELO SER HUMANO E
SÃO IGUALMENTE IMPORTANTES, CONTRIBUINDO PARA A
ORGANIZAÇÃO, ORIENTAÇÃO E COMUNICAÇÃO DO PENSAMENTO NAS INTERAÇÕES
SOCIAIS.
Estudos sobre a linguagem e sua relação com a aprendizagem foram realizados por diversos
teóricos. Tomemos como exemplo o psicólogo Lev Semyonovich Vygotsky, defensor da teoria
histórico-cultural. De acordo com esse teórico, a linguagem possui duas funções: intercâmbio
social e pensamento generalizante.
O intercâmbio social é uma necessidade. Para que os seres humanos possam se comunicar de
maneira mais sofisticada, é necessário que sejam utilizados signos compreensíveis por outras
pessoas e que traduzam ideias, sentimentos, vontades, pensamentos ou objetos.
 EXEMPLO
A palavra “cachorro”, por exemplo, tem um significado preciso em nossa língua e corresponde a
um conjunto de elementos do mundo real. O conceito de cachorro pode ser traduzido por essa
palavra e todos irão compreender a que se refere, mesmo que suas experiências com esse
conceito sejam distintas.
Esse fenômeno dá origem à segunda função da linguagem – o pensamento generalizante. Ao
denominar a palavra cachorro para determinado objeto, estamos classificando-o nessa categoria
e diferenciando-o de outros objetos de outras categorias (mesa, girafa, caminhão
etc.).
 RESUMINDO
Portanto, é essa função de pensamento generalizante que torna a linguagem um instrumento de
pensamento, que fornece conceitos, formas de organização do mundo real e que constituem a
mediação entre o sujeito e o objeto de conhecimento (OLIVEIRA, 2010).
A compreensão da relação entre pensamento e linguagem é essencial para a compreensão do
processo de aprendizagem do ser humano, uma vez que é por meio dela que o sujeito estabelece
suas relações com o mundo a partir da mediação. Para Vygotsky, a criança aprende por meio da
mediação simbólica que ocorre entre dois níveis:
O NÍVEL DE DESENVOLVIMENTO REAL
Refere-se àquilo que a criança é capaz de fazer sozinha, de forma independente.
O NÍVEL DE DESENVOLVIMENTO POTENCIAL
É a capacidade de realizar tarefas com a ajuda de outra pessoa, pode ser outras crianças mais
experientes ou adultos como os pais, o professor ou o psicopedagogo.
A DISTÂNCIA ENTRE O NÍVEL DE DESENVOLVIMENTO REAL, QUE SE COSTUMA
DETERMINAR POR MEIO DA SOLUÇÃO INDEPENDENTE DE PROBLEMAS, E O NÍVEL DE
DESENVOLVIMENTO POTENCIAL, DETERMINADO POR MEIO DA SOLUÇÃO DE
PROBLEMAS SOB A ORIENTAÇÃO DE UM ADULTO OU EM COLABORAÇÃO COM
COMPANHEIROS MAIS
CAPAZES, É DEFINIDA COMO ZONA DE DESENVOLVIMENTO PROXIMAL.
(VYGOTSKY, 1984, p. 97)
Esse conceito de zona de desenvolvimento proximal é muito importante para refletir sobre a
mediação simbólica que ocorre por meio da intervenção pedagógica ou psicopedagógica. É na
zona de desenvolvimento proximal que o profissional deve incidir para que a criança passe de um
nível X para um nível X+1 de aprendizagem.
 RECOMENDAÇÃO
O profissional deve atuar enquanto mediador desse processo. Para isso, deve conhecer a
criança, seus conhecimentos prévios e ter em mente os objetivos de aprendizagem que deseja
alcançar, bem como quais ferramentas pretende utilizar.
O PROCESSO DE APRENDIZAGEM DA LEITURA E DA ESCRITA
O processo de leitura e escrita pode ser compreendido a partir da relação entre desenvolvimento
e aprendizagem, pois conhecendo o processo de aquisição, mesmo antes da entrada da criança
na escola, é possível pensar alternativas de intervenção para otimizar esse processo.
NA CONCEPÇÃO VYGOTSKYANA, A PRINCIPAL CONDIÇÃO PARA QUE UMA CRIANÇA
SEJA CAPAZ DE COMPREENDER O FUNCIONAMENTO DA LEITURA E DA ESCRITA É
DESCOBRINDO QUE A ESCRITA É UM SISTEMA DE SIGNOS QUE SERVE COMO
INSTRUMENTO, COMO SUPORTE PARA A MEMÓRIA, PARA A COMUNICAÇÃO E
TRANSMISSÃO DE IDEIAS E CONCEITOS.
Na mesma direção, Luria (2006) define a aquisição da escrita como uma função que se realiza,
culturalmente, por mediação. Para o autor, escrever é uma das funções culturais típicas do
comportamento humano. Assim, a escrita tem uma característica funcional, pois, em vez de
armazenar diretamente uma ideia em sua memória, uma pessoa a escreve e a registra, fazendo
uma marca que trará de volta à mente a ideia registrada.

LURIA

Alexander Luria foi um importante pesquisador e psicólogo russo que estudou em


profundidade a Psicologia do desenvolvimento. Ele fundou, junto com outros colegas, a

Psicologia cultural-histórica e pesquisou o desenvolvimento e a avaliação das funções do


Sistema Nervoso Central com importantes contribuições para a Neurociência.

 COMENTÁRIO
A aprendizagem da escrita requer não somente que a criança perceba a correspondência da
sonoridade das palavras com os símbolos do alfabeto, das contradições entre letras e sons,
necessários para a aquisição da ortografia, mas também de fatores sociais, afetivos e cognitivos.
O processo de aquisição da língua escrita necessita automatizar-se para alcançar o domínio em
sua forma mais complexa, como, por exemplo, na composição de um texto.
O DESENVOLVIMENTO DO PENSAMENTO LÓGICO-MATEMÁTICO
O processo de aprendizagem do pensamento lógico-matemático, assim como na aquisição da
leitura e da escrita, é complexo e dinâmico. Para compreender como ele ocorre, vamos recorrer
mais uma vez a Piaget. Em seus estudos e experimentos, o teórico chegou a algumas conclusões
que nos permitem refletir sobre a construção do conceito de número e o pensamento lógico-
matemático. Para ele, há uma diferença entre:
CONHECIMENTO FÍSICO 
CONHECIMENTO LÓGICO-MATEMÁTICO
PARA QUE VOCÊ ENTENDA ESSA DIFERENÇA, CONSIDERE O SEGUINTE EXEMPLO:
 EXEMPLO
A partir da observação de um lápis, você poderá citar algumas características, como, por
exemplo, “é um lápis grafite que pesa 10g”. Você obtém informações a partir de uma observação,
um conhecimento físico. No entanto, se você observar dois lápis, um verde e um azul, poderá
notar a diferença de cores entre eles e fazer uma relação. Denominamos esse tipo de
conhecimento de lógico-matemático.
O conceito de número é a relação criada mentalmente por cada indivíduo. Kamii (1990)
reportando a Piaget, ressalta que a criança progride na construção do conhecimento
lógicomatemático pela coordenação das relações simples que anteriormente criou entre os
objetos. Dessa maneira, pode-se dizer que o conhecimento lógico-matemático consiste na
coordenação de relações como, por exemplo, relações de “igual”, “diferente” e “mais”, o que a
conduzirá no futuro a fazer operações.
O desenvolvimento do pensamento lógico-matemático para Piaget, bem como a construção do
número, é uma síntese de dois tipos de relações que a criança elabora entre os objetos:
A ORDEM 
A INCLUSÃO HIERÁRQUICA
Para garantir que uma criança conte corretamente quantos lápis foram dados a ela, é preciso
que:
ELA OS COLOQUE EM UMA ORDEM (QUE PODE SER MENTALMENTE OU DE FORMA
ABSTRATA) PARA GARANTIR QUE NENHUM LÁPIS FOI ESQUECIDO OU CONTADO DUAS
VEZES. 
ELA INCLUA ESSES LÁPIS EM DADO CONJUNTO, OU SEJA, PARA QUANTIFICAR OS
OBJETOS COMO UM GRUPO, É PRECISO QUE A CRIANÇA OS COLOQUE EM UMA
RELAÇÃO DE INCLUSÃO HIERÁRQUICA.
Isso significa que o fato de a criança contar corretamente os objetos que lhe foram dados não
quer dizer que ela tenha compreendido o conceito de número e alcançado o pensamento lógico-
matemático, já que para Piaget o conhecimento social não é suficiente para que a criança
compreenda a relação. Em outras palavras, pode-se ensinar as crianças a darem as respostas
corretas “1 + 2= 3”, mas isso não implica ensinar a relação que está implícita nessa adição.
É importante que o profissional (professor ou psicopedagogo) saiba discernir entre quando a
criança está “contando de memória” e quando ela está “contando com significado”, atribuindo o
código à quantidade e fazendo relações. Isso só é possível quando a criança constrói em sua
mente a estrutura lógico-matemática.

AS FORMAS DE ENSINAR E AS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM


Como já sabemos, o processo de aprendizagem do ser humano ocorre desde o seu nascimento e
se prolonga por toda a vida. Estamos constantemente aprendendo coisas novas. Porém, quando
se trata de uma aprendizagem escolar, mais sistematizada, intencional, dirigida, como diz
Libâneo (2006), em um nível cognitivo, que envolve apreensão consciente, compreensão e
generalização das propriedades e relações essenciais da realidade, precisamos nos atentar
também aos recursos que vamos utilizar para facilitar a ocorrência dessa aprendizagem.
EM OUTRAS PALAVRAS, PARA UMA APRENDIZAGEM EFETIVA, É NECESSÁRIO
REFLETIR SOBRE AS FORMAS DE ENSINAR E QUAIS AS FERRAMENTAS
PEDAGÓGICAS QUE DISPOMOS PARA TAL, SEJA NA ESCOLA, SEJA NA CLÍNICA
PSICOPEDAGÓGICA.
Um dos grandes pesquisadores da área da Pedagogia, José Carlos Libâneo, em seu livro
Didática, traz reflexões a cerca da relação entre ensino e aprendizagem. Segundo Libâneo
(2006), a relação entre ensino e aprendizagem não é mecânica, e sim, recíproca, na qual se
destaca o papel dirigente do professor e as atividades dos alunos.
O ensino visa estimular, dirigir, incentivar, impulsionar o processo de aprendizagem, o qual é a
assimilação ativa de conhecimentos e operações mentais que devem ser compreendidos e
aplicados de maneira consciente e autônoma.

A tarefa principal do ensino é assegurar a difusão e o domínio dos conhecimentos sistematizados
acumulados pela humanidade.

A unidade entre ensino e aprendizagem não deve ser caracterizada pela memorização, mas, sim,
pelo envolvimento ativo da criança.
 ATENÇÃO
O processo de ensino envolve os elementos constitutivos da didática, ou seja, os objetivos, o
conteúdo, o ensino e a aprendizagem.
A didática faz a mediação escolar de objetivos sociopolíticos e pedagógicos, articulados com o
processo de ensino e aprendizagem, orienta o trabalho de quem ensina e visa à inserção do
sujeito nas diversas esferas da vida social. O processo didático se dá pela ação recíproca de três
componentes:
O CONTEÚDO
Refere-se ao conhecimento sistematizado, formando a base para a concretização dos objetivos.
O ENSINO
É a atividade de organização, seleção e explicação dos conteúdos, organização das atividades,
objetivos e escolha de métodos.
A APRENDIZAGEM
É a atividade de assimilação de conhecimentos e habilidades.
Os métodos ou formas de ensinar dependem do conteúdo a ser transmitido e das características
de aprendizagem dos sujeitos, pois é preciso se atentar ao conhecimento prévio e às
experiências de vida que eles trazem, suas expectativas, o meio sociocultural em que vivem, os
materiais didáticos disponíveis e as suas condições de vida.
 RECOMENDAÇÃO
Nesse sentido, para que o processo de ensino e aprendizagem ocorra com sucesso, é necessário
que o profissional identifique as dificuldades dos sujeitos durante a assimilação ativa dos
conteúdos e busque procedimentos para que eles próprios superem tais dificuldades e progridam
em seu desenvolvimento.
As dificuldades que o sujeito pode enfrentar no processo de aprendizagem são inúmeras. Visca
(1991) denomina essas dificuldades como obstáculos de aprendizagem e os divide em três
tipos: epistêmico, epistemofílico e funcional.
O obstáculo de aprendizagem epistêmico refere-se à estrutura cognitiva defasada em relação à
idade cronológica.

O obstáculo epistemofílico refere-se à falta de amor pelo conhecimento ou ao medo de
aprender.

O obstáculo funcional corresponde a causas emocionais ou estruturais.
Segundo o autor, diante desses obstáculos, surgem os sintomas, causando as dificuldades de
aprendizagem, as quais necessitam de um diagnóstico psicopedagógico para descobrir suas
causas e propor intervenções com diferentes alternativas ou formas de ensinar.

 CONTRIBUIÇÕES DA PEDAGOGIA: A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO E O


PROCESSO DE APRENDIZAGEM
A especialista Andresa Aparecida Ferreira fala sobre como o conhecimento e a aprendizagem
acontecem desde o nascimento, reconhecendo a natureza social da aprendizagem:
MÓDULO 3

 Identificar o que diferentes áreas do desenvolvimento humano podem oferecer para sua
atuação profissional.
CONTRIBUIÇÕES DE OUTRAS ÁREAS
O processo de aprendizagem, seja o da leitura e escrita, seja o da matemática e outras áreas, é
complexo e dinâmico. Para que ele ocorra, lançamos mão das contribuições de várias áreas:
Como a da Psicologia, que nos oferece diferentes correntes teóricas que nos ajudam a pensar o
desenvolvimento humano e a construção do conhecimento.
A área da Pedagogia, com suas ferramentas didáticas e a relação que existe entre conteúdo,
ensino e aprendizagem.
No entanto, para compreender o processo de aprendizagem, outras áreas também contribuem
para que possamos ter uma visão mais holística.
 ATENÇÃO
Nenhuma área é mais importante que a outra, todas se complementam, trazendo conceitos e
estudos que juntos, de maneira entrelaçada, fornecem apoio para interpretar esse dinâmico
processo que ocorre para a aprendizagem do ser humano.
Os estudos da Sociologia, Linguística, Fonoaudiologia, Psicomotricidade, Medicina e das
Neurociências trazem em si aspectos conceituais que podem ajudar o profissional a refletir sobre
o processo de aprendizagem e, consequentemente, sobre as dificuldades de aprendizagem das
crianças.
A SOCIOLOGIA E A LINGUÍSTICA
A Sociologia, que surgiu no século XIX, é denominada como a ciência dos fatos sociais, das
instituições, dos costumes e das crenças coletivas (ARANHA, 2003). A Sociologia, por se deter
nas questões sociopolíticas e culturais, serviu de apoio para grandes teóricos pensarem a
educação, como, por exemplo, o grande educador brasileiro Paulo Freire, que tinha como
preocupação principal a cultura popular. Tal preocupação consistia em possibilitar uma real
participação do povo enquanto sujeito de um processo cultural por meio da educação.
Para Freire, o processo de aprendizagem só será efetivado quando a ação educativa for
permeada de uma reflexão sobre o ser humano e seu meio de vida, seu contexto social. Na
abordagem freiriana, o ser humano é sujeito da educação. Segundo Freire (1974), é preciso
que a educação esteja comprometida a permitir ao homem chegar a ser sujeito, construir-se
como pessoa, transformar o mundo e estabelecer com os outros homens relações de
reciprocidade, fazendo a cultura e a história.
ESSA RELAÇÃO ENTRE HOMEM E SOCIEDADE TAMBÉM É ESTUDADA PELA
LINGUÍSTICA, POIS A INTEGRAÇÃO ENTRE POVOS E CULTURAS TROUXE UMA
NECESSIDADE DE ESTRUTURAR UM PROCESSO
LINGUÍSTICO EM UMA SOCIEDADE CADA VEZ MAIS HETEROGÊNEA.
OS ESTUDOS ACERCA DA LINGUAGEM NOS
INTERESSAM DEVIDO À RELAÇÃO ENTRE DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM E
PROCESSO DE APRENDIZAGEM.
Os estudos da área de Linguística são divididos em:

Fonética: diferentes sons empregados na linguagem

Fonologia: padrões dos sons básicos da língua

Morfologia: estrutura interna das palavras

Sintaxe: formação de frases

Semântica: sentido das palavras e frases

Lexicologia: estudo do uso ou sentido do léxico das palavras

Terminologia: conhecimento e análise dos léxicos

Estilística: estilo da linguagem

Pragmática: uso da oralização

Filologia: estudo dos textos e linguagens antigos
Essas áreas de estudo da Linguística nos fornecem ferramentas para compreender o
desenvolvimento da linguagem e da aquisição da leitura e da escrita, principalmente, no que se
refere às áreas da fonética, fonologia e semântica.
A LINGUAGEM É OBJETO DE ESTUDO NÃO APENAS DA LINGUÍSTICA, MAS TAMBÉM DE
OUTRAS ÁREAS,
COMO A FILOSOFIA, A PSICOLOGIA, A BIOLOGIA OU A FONOAUDIOLOGIA, QUE SERÁ
ESTUDADA A SEGUIR.

A FONOAUDIOLOGIA E A PSICOMOTRICIDADE
A Fonoaudiologia é uma área da saúde que trabalha com os diferentes aspectos da comunicação
humana. Ela traz inúmeras contribuições para compreender o processo de aprendizagem, como
os estudos que envolvem a linguagem e o desenvolvimento e aquisição
da leitura e da escrita.
 ATENÇÃO
O trabalho fonoaudiológico, principalmente, da criança em fase escolar, é muito importante
quando se trata, por exemplo, de “trocas de letras”, que podem ocorrer tanto na fala quanto na
escrita, pela falta de compreensão e decodificação dos sons.
A área fonoaudiológica é capaz de promover, aprimorar e prevenir alterações de linguagem oral e
escrita, audição, motricidade orofacial e voz, favorecendo e otimizando o processo de ensino e
aprendizagem.
Por isso, a Fonoaudiologia contribui no sentido de trazer conhecimento a respeito do
desenvolvimento da fala e da linguagem. Distúrbios nessas áreas podem ocasionar:
FALA ININTELIGÍVEL (TROCA DE SONS NA FALA).
DIFICULDADES NA ELABORAÇÃO DE FRASES PARA FALAR OU CONTAR HISTÓRIAS.
REPERTÓRIO PEQUENO DE PALAVRAS PARA SUA FAIXA ETÁRIA.
DÉFICIT DE MEMÓRIA.
Podem ainda prejudicar o desenvolvimento das habilidades de leitura e escrita, caracterizadas
pelo processamento mais lento das informações, dificuldades na alfabetização, como na
correspondência som-grafia, e dificuldades de acesso ao léxico, ou seja, não reconhecer o
significado da palavra. Desse modo, os estudos da área da Fonoaudiologia podem nos ajudar a
compreender essas dificuldades e auxiliar na prevenção delas.
OUTRA ÁREA QUE TAMBÉM TRAZ CONTRIBUIÇÕES
AO PROCESSO DE APRENDIZAGEM É A PSICOMOTRICIDADE.
A Psicomotricidade tem como objeto de estudo o homem por meio do seu corpo em movimento e
em relação ao seu mundo interno e externo, bem como suas possibilidades de perceber, atuar,
agir com o outro, com os objetos e consigo mesmo. A Psicomotricidade está relacionada ao
processo de maturação, onde o corpo é a origem das aquisições cognitivas, afetivas e orgânicas.
Ela tem como objetivo ajudar no desenvolvimento e nos distúrbios da integração entre corpo e
mente.
Para que isso seja possível, segundo Almeida (2008), o trabalho com a Psicomotricidade precisa
de vários fatores como:
CONCEPÇÃO
Refere-se ao planejamento do trabalho da Psicomotricidade, o qual precisa de objetivos claros
para ser realizado.
COMPORTAMENTO
Diz respeito à observação, através da qual o profissional deve estar atento às atividades e às
relações das crianças para introduzir as práticas com objetivos psicomotores.
COMPROMISSO
Refere-se ao aproveitamento do tempo de trabalho.
MATERIAIS
São necessários para ampliar as ações, possibilitar que a criança possa intervir e se relacionar
com objetos concretos, tornando o processo educativo mais próximo e mais pertinente.
ESPAÇOS
Devem ser ambientes psicomotores educativos que buscam explorar toda ação que ali acontece.
Em síntese, o trabalho com a Psicomotricidade está relacionado ao processo de aprendizagem
por auxiliar no desenvolvimento, por exemplo, da coordenação motora ampla e fina, da
lateralidade, da percepção (olfativa, gustativa, espacial, temporal, corporal e musical), da
seriação, além de inúmeras brincadeiras que envolvem o movimento do corpo, trabalhando o
desenvolvimento físico, cognitivo, afetivo e social.
A MEDICINA, AS NEUROCIÊNCIAS E A NEUROPSICOLOGIA
A PARTIR DOS ANOS NOVENTA, UM PASSO IMPORTANTE FOI DADO NOS ESTUDOS DA
APRENDIZAGEM, PROPORCIONADO PELAS INVESTIGAÇÕES DA ÁREA DA MEDICINA
SOBRE O
SISTEMA NERVOSO E DOS PROCESSOS CEREBRAIS.
Por meio da evolução tecnológica e da criação de diversos aparelhos e exames não invasivos,
tem sido possível aos pesquisadores analisar e interpretar as conexões cerebrais dos seres
humanos, durante a execução de diferentes atividades. Essas possibilidades abriram caminho
para outras áreas de pesquisa com foco na observação do funcionamento do encéfalo, o que tem
contribuído de modo significativo com as práticas educacionais.
Uma dessas áreas é a Neuropsicologia, que é um campo da Psicologia e da Neurologia que
estuda as relações entre o cérebro e o comportamento humano. Ela investiga como diferentes
lesões causam déficits em diversas áreas da cognição humana.
As Neurociências, sobretudo a Neuropsicologia, trouxeram não só novos conhecimentos para
compreender o processo de aprendizagem, mas também novas formas de pensar a avaliação
dos transtornos e distúrbios de aprendizagem, pois buscam correlações entre as unidades
funcionais do cérebro e o comportamento humano.
AS NEUROCIÊNCIAS
São tradicionalmente consideradas como um ramo da Biologia, mas podem estar associadas a
outras áreas de conhecimento. Esse campo científico estuda o sistema nervoso, com o objetivo
de conhecer:
• O seu desenvolvimento
• O seu funcionamento
• A sua estrutura
• As suas alterações
A partir desse conhecimento neuropsicológico, é possível melhorar o funcionamento cognitivo e
auxiliar na orientação da família e da escola, buscando estratégias que otimizem diferentes áreas
da cognição, bem como a memória, atenção, linguagem, capacidade de planejamento, de
cálculo, de raciocínio-lógico, de julgamento, percepção visual, coordenação viso-motora e o
processo de aprendizagem da criança como um todo.
 CONTRIBUIÇÕES DE OUTRAS ÁREAS
A especialista Andresa Aparecida Ferreira fala sobre as principais contribuições das áreas
apresentadas no módulo no desenvolvimento da Psicopedagogia:
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao longo dos módulos estudados, você aprendeu a importância das ciências humanas e naturais
para a compreensão do processo de aprendizagem.
Em um primeiro momento, vimos a constituição da psicologia enquanto ciência, bem como as
principais características de algumas abordagens psicológicas no estudo do pensamento
humano.

Em seguida, foram apresentadas informações a respeito da construção do conhecimento e do
desenvolvimento da aprendizagem da leitura, da escrita e da matemática. Além disso, vimos as
ferramentas didáticas que nos são úteis para pensar formas de ensinar com o intuito de facilitar o
processo de aprendizagem do sujeito.

Por último, vimos algumas contribuições de outras áreas, como: Sociologia, Linguística,
Fonoaudiologia, Psicomotricidade, Medicina, Neurociência e Neuropsicologia.
Em síntese, as diferentes áreas contribuem para o entendimento do processo de aprendizagem,
bem como das dificuldades de aprendizagem, pois estas envolvem conhecimentos sobre
aspectos sociais, culturais, pedagógicos, psicológicos e médicos. Por isso, é importante que seja
realizado um trabalho interdisciplinar para compreender a aprendizagem como um todo.
A PARTICIPAÇÃO DAS ÁREAS DA PEDAGOGIA, PSICOLOGIA, FONOAUDIOLOGIA,
NEUROPSICOLOGIA E MEDICINA NÃO PODE SER ENTENDIDA COMO UM SOMATÓRIO DE
AÇÕES ISOLADAS, E SIM, COMO UM ESTUDO INTEGRADO E INTERDEPENDENTE DE
SUAS
CONTRIBUIÇÕES, A FIM DE OTIMIZAR O PROCESSO DE APRENDIZAGEM.

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