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Movimentos da Psicologia no século XX – TEMA 1

Prof. Roberto Sena Fraga Filho

Introdução: Estudar a história de uma ciência, de uma área do conhecimento humano,


permite-nos compreender o propósito, a utilidade desse conhecimento em nossas vidas,
em nossa prática profissional e na forma como exercemos nossa profissão.

A Psicologia como uma profissão é restrita ao psicólogo e à psicóloga, devidamente


inscritos em um conselho regional de Psicologia. No entanto, a Psicologia como ciência
embasa o trabalho de psicólogos, pedagogos, professores, gestores e de qualquer outro
profissional que necessite compreender o ser humano para manejar comportamento e
cognição dentro de sua prerrogativa profissional.

Algumas práticas da Psicologia são, portanto, restritas aos seus profissionais, mas o
uso do conhecimento, em interseção com outras profissões, após uma formação de
nível superior para atuar na pedagogia, na docência, na gestão de pessoas, no
desenvolvimento de soluções e produtos para as pessoas é possível e desejável. Essa é
nossa proposta para você. Vamos nessa!

Infuências na história da Psicologia

Perspectiva e Zeitgeist

Leonardo Boff afirma o seguinte:


Todo ponto de vista é a vista de um ponto. Ler significa reler e compreender, interpretar. Cada um lê com
os olhos que tem. E interpreta a partir de onde os pés pisam. Todo ponto de vista é um ponto.

Para entender como alguém lê, é necessário saber como são seus olhos e qual é sua
visão de mundo. Isso faz da leitura sempre uma releitura. A cabeça pensa a partir de
onde os pés pisam. Para compreender, é essencial conhecer o lugar social de quem
olha. Vale dizer: como alguém vive, com quem convive, que experiências tem, em que
trabalha, que desejos alimenta, como assume os dramas da vida e da morte e que
esperanças o animam. Isso faz da compreensão sempre uma interpretação. (BOFF,
1999, p. 4)

Sem a pretensão de analisar a complexidade revelada nessas poucas linhas do texto de


Leonardo Boff, uma palavra atende ao nosso propósito inicial: perspectiva. Em
perspectiva, estudamos Psicologia, em perspectiva, usamos do conhecimento da
Psicologia. Fundamentalmente, em perspectiva, buscamos compreender a
complexidade dos fenômenos humanos, as pessoas e, também, os eventos históricos
da Psicologia.
Não conseguimos estudar Psicologia desconsiderando o Zeitgeist. Uma ciência não se
desenvolve no vácuo, ela usa a tecnologia disponível de sua época e tenta dar respostas
às perguntas que são feitas. Essas perguntas (as indagações dos filósofos e dos
cientistas) consideram o acúmulo de conhecimento até aquele ponto da história. O
espírito, as necessidades, o clima intelectual e cultural de uma época.
A tecnologia está mais avançada no século XXI. Podemos dizer que, atualmente, os
filósofos e os cientistas podem fazer perguntas mais complexas, pois detêm mais
conhecimentos do que os filósofos e cientistas de meados do século XIX, quando surgiu
a Psicologia Científica. Uma frase atribuída a Sir Isaac Newton (1643-1727), cientista do
século XVII e cavaleiro da Coroa Real Inglesa, traduz bem essa ideia:

Se enxerguei um pouco mais longe, foi por estar em pé sobre ombros de gigantes. (Isaac Newton)

Não é recomendado julgar e/ou refutar um dado histórico se você estiver pensando com
a cabeça do século XXI, a partir de suas ideias preconcebidas e do que você acha certo
ou errado, ou seja, do seu sistema de crenças, de sua perspectiva, eventualmente,
nutrida pelo senso comum, pelo conhecimento popular que não tenha sido testado e
analisado pelo método da Filosofia ou da Ciência.

Segundo Schultz (2019), é necessário um distanciamento: afastar-se


momentaneamente do seu sistema de crenças e também do seu conhecimento do
século XXI. Compreenda a perspectiva e o Zeitgeist do momento histórico que estiver
estudando. Em ciência, não achamos, não deduzimos sem antes observar, experimentar,
demonstrar evidências. Em ciência, não existe o óbvio. Tudo precisa ser investigado e
evidenciado.

Com essa postura, você absorverá melhor o conteúdo, compreenderá melhor a nossa
história, e, assim, perceberá o propósito e a utilidade daquele conhecimento para não
cometer os mesmos erros dos nossos antepassados, para prospectar o futuro, ou
compreender como chegamos até o nosso momento histórico do século XXI.

Em ciência, algumas vezes, para acertar é necessário errar. É a partir dos erros que
alguns pesquisadores ficam inquietos, buscam evidências válidas e fidedignas para
refutar o erro e alcançar evidências de maior qualidade. Os erros são tão relevantes
quanto os acertos.
Vamos analisar um exemplo prático do que tratamos até aqui!

Vejamos a seguir um caso interessante de uma ciência que foi relevante no passado,
mas que atualmente já não é tão considerada.

Nos dias atuais, afirmamos que a Frenologia é uma pseudociência, mas, em 1796, o
alemão Franz Joseph Gall (1758-1828) exerceu influência na Psicologia e na psiquiatria
com essa teoria. Com a Frenologia, Gall acreditava ser possível estudar as aptidões
mentais analisando o tamanho e o formato do crânio. Por muitos anos, o tamanho e o
formato do crânio de Gall e de outros estudiosos da Frenologia foram considerados, por
eles mesmos, o padrão de excelência e um exemplo do melhor da espécie humana.

Atualmente, essa ideia é um absurdo. No entanto, não podemos achar que esse
conhecimento seja inútil, pois, em ciência, não chegamos a conclusões simplesmente
por pensarmos que algo é obviamente verdadeiro ou falso. Precisamos buscar
evidências. Isso quer dizer que só foi possível descartar essa teoria porque esta foi
posta à prova.

Entretanto, as ideias de Gall de que algumas características são específicas de certas


áreas do cérebro se sustentaram em momentos posteriores. Em ciência, aproveitamos o
que é útil, como uma evidência consistente, e descartamos o resto, mas sem esquecer
esse resto, pois, assim, evitamos cometer os mesmos erros no futuro (ao menos isso é
o desejável).

A Psicologia é recheada de exemplos de acertos e erros. Os erros nem sempre são


oriundos de pseudociências, mas podem ser também resultado do método científico
levado a sério, ético e rigoroso (errar faz parte — perceba, com humor, que “herrar é
umano” —, mas permanecer nesse “herro” é obscurantismo). Até nos dias atuais,
precisamos ficar atentos e ser críticos. Podemos encontrar informações que se dizem
embasadas no método científico, mas são pseudociências. Devemos ter cuidado e não
acreditar em tudo, só porque dizem que é ciência.

Entendemos como pseudociência algo que se diz ciência, mas que não é.

Nessa jornada fantástica, podemos perceber como algumas discussões são


fundamentais e demonstrar que teses e hipóteses foram testadas e não se sustentaram
quando passaram pela prova, como ocorreu com a Frenologia.

Assim, podemos afirmar, em pleno século XXI, com evidências científicas robustas, que
somos seres únicos, ninguém é melhor do que ninguém, existe um lugar no mundo para
os extrovertidos e para os introvertidos. Antigas afirmações foram reavaliadas, por
exemplo:
 Não existe raça superior.
 O melhor tratamento para o doente mental não é ser descartado em um hospício.
 A orientação sexual de uma pessoa só importa a ela mesma.

A Psicologia Científica é autônoma e não se confunde com dogma religioso. Portanto,


as discussões polêmicas que as civilizações se propuseram a debater, como a questão
da raça, foram submetidas a contestações científicas e amplos estudos, com evidências
científicas demonstrando sua ineficácia de partida.
A eugenia como uma hipótese não se sustenta para os seres humanos, pois apresenta
sérios conflitos éticos. A homossexualidade não é uma doença para ser tratada. Na
escola, não devemos separar as crianças por dificuldades de aprendizado e/ou outras
condições como surdez, autismo etc.

Entre outras discussões delicadas, só com reflexões e críticas amparadas pela ciência
prosseguimos absorvendo as transformações pelas demandas sociais e atuando de
forma a promover bem-estar e qualidade de vida.

Dessas discussões e pesquisas ao longo da nossa história, surgem os argumentos para


projetos individualizados para educação, mas sem desconsiderarmos a inclusão e
promovendo uma educação para o convívio com as diferenças.

Exemplo
Os doentes mentais, em certas circunstâncias, ficarão internados, mas as comunidades
terapêuticas são uma solução viável, em vez de internações de longa permanência.
Várias estratégias vêm sendo desenvolvidas a partir de erros e acertos, para
promovermos tolerância, compaixão, autocompaixão, saúde, e bem- estar físico e
emocional. Buscamos os acertos e as evidências científicas, bem como caminhos mais
éticos, humanizados, integradores.

Mas, para acharmos a ética, em algum momento da história, foi necessário perdê-la.
Para achar nossa humanidade, em algum momento da história, foi necessário nos
depararmos com práticas desumanas. Para chegarmos às estratégias e ao manejo que
promovem inclusão, foi necessário que vivenciássemos as consequências econômicas,
sociais, éticas e políticas das práticas segregacionistas. Infelizmente, não aprendemos
com todos os erros e, em parte de nossa civilização e de nossa sociedade, ainda
encontraremos mazelas, mas estamos em tempos melhores como humanidade do que
já estivemos em outras épocas.

A história da Psicologia como ciência demonstra como essa área tem sido importante
em diferentes campos:
 Na escola, para pedagogos e outros profissionais entenderem o desenvolvimento humano e
designarem estratégias de aprendizagem, atendendo a maturação biológica, funcionamento do
cérebro e perfil cognitivo do aluno.
 Para organizações e instituições desenvolverem melhores práticas na gestão de pessoas
 Para o estabelecimento de tratamentos mais humanizados na saúde mental, bem como de
práticas para a promoção de saúde, negócios e neuromarketing.
 Para psicoterapia, para avaliação psicológica, neuropsicologia, entre outras possibilidades de
atuação dos psicólogos.

Os eventos históricos são fundamentais para evitar equívocos e não repetir algumas
práticas que trouxeram mais confusão do que solução. Analisar a história e
compreender nosso passado nos ajuda a imaginar o futuro e a direcionar melhor nossos
esforços. Essa história é nossa. Ela é sua. É da nossa civilização, para o bem ou para o
mal.

A Psicologia como ciência e profissão, no Brasil do século XXI, tem sido posicionada de
modo a evitar os erros da história, buscando o caminho do bem, promovendo os direitos
universais humanos, a inclusão, a tolerância, a ciência, mas sabendo que: todo ponto de
vista é a vista de um ponto. (BOFF, 1999).

Por onde começamos? A Psicologia, como ciência, foi influenciada por inúmeros
pensadores, cientistas, movimentos e áreas. Veremos a seguir alguns.

Influência da Filosofia

A história da Psicologia está imersa na história do desenvolvimento do pensamento


humano, na história da Filosofia: é assim que a Psicologia se organiza. Até certo ponto,
a história da tradição filosófica é a história da Psicologia. Isso inclui o período da Grécia
Antiga com os mitos gregos, a exigência racional com Tales de Mileto, Pitágoras,
Heráclito e Parmênides, Sócrates, os Sofistas, Platão e Aristóteles.

A Filosofia aborda o objeto que deseja conhecer por intermédio da razão, da


argumentação (indutiva e dedutiva), da lógica, da retórica. Esses métodos são
necessários para questionar o que é o conhecimento, os tipos de conhecimento e o que
é verdadeiro nesse conhecimento.

A Filosofia também se ocupa das falácias do conhecimento, ou seja, dos erros da


argumentação, mas que convencem e enganam. Uma falácia do conhecimento sempre
vem disfarçada de boas intenções e, eventualmente, confirma ideias do senso comum,
confirma os desejos e as opiniões de algumas pessoas, e por isso convence os mais
ingênuos.

O papel da Filosofia, de apontar as falácias do conhecimento, é fundamental para nossa


civilização, para os psicólogos, para os educadores (ensinantes), para os gestores e
para o cidadão. As falácias do conhecimento estão em nosso passado, mas também no
presente. O pensamento filosófico é uma vacina poderosa contra o obscurantismo e
contra tais falácias, pois desenvolve o pensamento crítico.

Influência de movimentos e estudos

Vejamos a seguir dois exemplos de influências.


René Descartes (1596-1650).

Mecanicismo, a doutrina filosófica do século XVII, pela qual todos os fenômenos se


explicam pela causalidade; pela discussão dos racionalistas (tese) e dos empiristas
(antítese) e pela síntese do filósofo Immanuel Kant, no século XVIII.

René Descartes (1596-1650) era racionalista. A publicação relevante para nossa


discussão é de 1637: Discurso sobre o método para bem conduzir a razão na busca da
verdade dentro da ciência.

Empiristas

Há vários representantes no movimento conhecido como empirismo inglês. Destaque


para a “mente como uma tabula rasa”, na publicação Ensaio sobre o entendimento
humano, do filósofo John Locke (1632-1704).

A origem das espécies (1872), livro publicado por Charles R. Darwin (1809-1882),
abordou o desenvolvimento filogenético das espécies, incluindo a espécie humana. Isso
aproxima os seres humanos de outras espécies que habitam o planeta em uma corrida
por adaptabilidade e sobrevivência. Nossa espécie Homo sapiens (homem sábio), com
as características morfológicas atuais, tem 350 mil anos; as características
comportamentais modernas, cerca de 50 mil anos.

Essas evidências são importantes para a delimitação da Psicologia como ciência e para
o movimento do funcionalismo com o estudo do papel adaptativo da consciência, em
vez do seu conteúdo.

Charles R. Darwin (1809-1882).

Desde o início da Idade Moderna até a época do Iluminismo, os filósofos especularam


sobre o funcionamento da mente humana, com o intuito de determinar por meio de
quais processos o conhecimento é produzido. A ideia de que a faculdade da razão era o
que possibilitava o saber não era exatamente nova: já na Grécia Antiga e durante a Idade
Média se atribuía à razão essa função. No entanto, a compreensão de seu
funcionamento
ainda representava um desafio. John Locke concebeu a mente como uma espécie de
folha em branco, ou tabula rasa, onde a experiência sensorial deixava suas impressões,
assumindo que não havia pressupostos preestabelecidos, tanto para o pensar quanto
para o agir.

Outros pensadores, como René Descartes e Gottfried Leibniz (1646-1716),


posicionavam-se de maneira diferente em relação à questão, pois, para eles, havia
funções da consciência humana que não poderiam ser resultado da mera experiência
sensorial, como:
 As categorias do pensamento
 O mecanismo das inferências lógicas
 A noção de causalidade
 O sentido do propósito

Independentemente do mecanismo, para os pensadores iluministas, a especulação


precedente abriu uma porta para o funcionamento da mente humana que não poderia
mais ser fechada. O debate sobre o mecanismo racional envolvia desde a ideia de que
uma porção “divina” nos oferecia o sentido da verdade, do belo e do correto, até uma
crítica necessária da “Razão Pura”, empreendida por Immanuel Kant. Outros pensadores
afirmaram ainda que as ideias deviam seu processo de construção às dinâmicas
sociais, interpretações e relações do sujeito com o meio.

Nesse contexto, destaca-se o pensamento dialético de Hegel (1770-1831). O conceito de


dialética apresentado pelo autor defende que os seres humanos constroem e
reconstroem os seus conceitos. Seja em expedientes sociais, seja nas concepções
artísticas, para Hegel, esse processo deve ser descrito como uma espiral constante. As
sociedades — e os indivíduos que nelas vivem — estão sempre ancorados em teses,
naturalizadas em seu cotidiano e assumidas como verdadeiras.

Entretanto, no processo histórico, essas teses são constantemente contrastadas,


negadas, enfrentadas, e desse enfrentamento, entre tese e antítese, emerge sempre algo
novo, uma síntese (por isso espiral), que posteriormente será consolidada no meio
social, tornando-se a tese então vigente.

Influência da Psicofísica

A Psicofísica demarca uma mudança de abordagem. Eventualmente, você pode ler que
a Psicologia, em sua fundação, rompe com a Filosofia, mas essa afirmação está
equivocada. É a relação entre um estímulo em seu aspecto físico e a resposta
consciente do sujeito. Toda ciência precisa de uma base filosófica consistente para
operar: a isso chamamos de bases epistemológicas .

Bases epistemológicas: Filosofia da ciência ou, dependendo do momento histórico,


teoria do conhecimento.

A inovação dos psicofísicos é empregar o método experimental para estudar uma


Psicologia sensorial, uma Fisiologia experimental, não romper com o pensamento
filosófico, buscando evidências empíricas por meio do método experimental e de
resultados reprodutíveis. É fundamental conseguir dados constantes, não apenas as
especulações, induções e deduções filosóficas.
A teoria da evolução das espécies, os avanços da Fisiologia Experimental com os
psicofísicos, correlacionando nosso aparato sensorial à mente humana, a rigor, aos
estados conscientes dessas sensações, e o Zeitgeist do século XIX impulsionaram a
criação do primeiro laboratório de Psicologia, em 1879, na Alemanha.

Tecnicamente, na Psicologia Científica, as sensações são os nossos sentidos: visão,


audição, olfação, paladar, tato, propriocepção. Isso se difere da percepção. Enquanto as
sensações são descritas puramente em termos fisiológicos e por uma linguagem neural
(sinapses), as percepções são descritas como uma função psicológica.
Saiba mais

Para compreender o plano de fundo e o Zeitgeist do século XIX, é preciso considerar que
os métodos das ciências naturais estavam em alta, e a Psicologia precisava seguir esse
caminho. A Fisiologia foi uma resposta possível. O espírito metódico e rigoroso dos
pensadores alemães construiu o ambiente propício para o desenvolvimento de uma
Fisiologia experimental. Aparelhos tecnológicos estavam sendo desenvolvidos. Além
disso, a influência do empirismo inglês, que preconizava a necessidade de se estudar os
sentidos e como podem levar ao erro, foi fundamental em um contexto social em que
havia urgência de se fazer ciência, devido à predominância do espírito positivista, que
defendia o método experimental. Nesse contexto, o conhecimento científico era
considerado a via mais segura para se construir um conhecimento verdadeiro.

Origens e cientistas

No século XX, a medida em Psicologia, ou seja, a mensuração de construtos


psicológicos, era basicamente de natureza cognitiva, por intermédio de testes
psicológicos das diferenças individuais. Isso quer dizer compreender as particularidades
de uma pessoa, por exemplo, mensurando o nível de inteligência ou investigando os
traços de sua personalidade e correlacionando a dificuldades escolares ou ao
desempenho em determinada área no mercado de trabalho.

Na Psicologia, considerando a segunda metade do século XIX, as primeiras medidas não


eram de natureza psicológica, mas psicofísicas — uma Psicologia sensorial. Essa
influência da Fisiologia, por meio das primeiras medidas psicofísicas, buscava as
regularidades e os padrões da nossa fisiologia, isto é, o geral, não o particular ou as
singularidades.
O que não é padrão, o que se tem de resultado ímpar em uma movimentação que tende
a ser recorrente.

Esses estudos, inovadores na época, foram gradualmente encorajando Wundt a


conseguir os recursos e o espaço necessários para fundar um Instituto de Psicologia na
Universidade de Leipzig. Antes desses estudos, a mente humana era abordada apenas
pelos argumentos filosóficos, fundamentais, mas incapazes de demonstrar como a
mente funciona e/ou se estrutura em aspectos fisiológicos.

Wundt prosseguiu usando o método experimental, mas, diferentemente de seus


antecessores e contemporâneos, estava mais focado em delimitar o campo da nova
ciência (Psicologia) e o seu objeto de estudo (consciência).

Buscou definir a consciência e descrever o caráter de seus elementos básicos. A


maneira de estudá-la foi a introspecção, ou seja, a observação da experiência
consciente. Uma forma de auto-observação guiada. O exame do próprio estado mental.
Mas negou que a Psicologia seria capaz de estudar funções superiores.

Alguns pesquisadores seguiram Wundt, mas outros o contestaram, desenvolvendo uma


Psicologia não wundtiana:
 Hermann Ebbinghaus (1850-1909)
Estudou a aprendizagem e memória (funções superiores).

 Franz Brentano (1838-1917)


Fez uma distinção entre o conteúdo mental e a atividade mental.

Muitos cientistas somaram esforços para delimitar esse campo de estudo no século XIX
e essa nova Psicologia resultou em duas escolas: o estruturalismo e o funcionalismo.

Movimentos da Psicologia Estruturalismo

Na transição do século XIX para o início do século XX, a Psicologia alcançou visibilidade
nas universidades dos Estados Unidos e da Europa, notadamente na Alemanha, e o
ritmo de seu desenvolvimento foi marcado pelos movimentos do estruturalismo e do
funcionalismo.

Edward B. Titchener.

Em 1896, nos Estados Unidos, o britânico Edward B. Titchener (1867-1927), discípulo de


Wundt, divulgou um projeto diferente do de seu professor, em termos epistemológicos.
Titchener e seus colaboradores identificaram mais de 40 mil qualidades e sensações, e
afirmavam que cada elemento era consciente e poderia ser combinado para formar
percepções e ideias. Esses elementos eram determinados pela qualidade, intensidade,
duração e nitidez.
Todos os processos conscientes e perceptuais poderiam ser reduzidos a esses
elementos que, em última análise, são os átomos do pensamento.
O reducionismo de chegar ao átomo do pensamento era uma exigência do Zeitgeist —
aproximar a Psicologia das ciências naturais e do espírito positivista. Titchener treinou
vários observadores a descrever o seu estado consciente em vez de descrever o
estímulo, por intermédio de uma introspecção experimental sistemática.

O pesquisador criticava que, até então, os instrumentos de medida da Fisiologia


Experimental aplicados à Psicologia, como taquistoscópio e o cronoscópio, eram mais
importantes do que o próprio observador. Por isso, havia a urgência em treiná-los para
empregar a introspecção.

Funcionalismo

O norte-americano William James (1842-1910) publicou, em 1890, o texto Princípios da


Psicologia, que se transformou nas bases do funcionalismo nos Estados Unidos no
século XX. Ele foi um representante da escola do pragmatismo e do funcionalismo.

James não estava interessado nos átomos do pensamento, mas na experiência


imediata que um objeto impunha à consciência, ou seja, um fenômeno. Suas principais
teorias são os estudos sobre a emoção, sua origem e função, com grande impacto para
a Psicologia no século XX William James.

James acreditava que uma alteração fisiológica no organismo levaria a uma emoção,
ideia que foi corroborada em um estudo independente pelo fisiologista Carl G. Lange
(1834-1900), psicólogo dinamarquês. Na perspectiva desses autores, não
experimentamos uma emoção se não houver uma alteração fisiológica no organismo.
Assim, o corpo reagiria de modo diverso aos eventos ambientais causadores de
emoções, e as experiências emocionais nada mais seriam do que uma tentativa de dar
sentido à alteração no organismo.

Exemplo: Se você escuta um barulho muito alto, como uma explosão, esse evento
ambiental vai aumentar seu batimento cardíaco, causar sudorese, respiração mais
rápida e curta, e o resultante disso é sua percepção de medo. Essa é a teoria James-
Lange para explicar uma emoção.

Os funcionalistas sofreram influência da teoria da evolução das espécies e estavam


mais interessados no papel adaptativo da consciência, dos hábitos, da emoção, ou seja,
em suas respectivas funções. Para os funcionalistas, isso era mais válido e pragmático
do que investigar o conteúdo da consciência em termos estruturais.
No início do século XX, entre 1901 e 1913, a Psicologia norte-americana vivenciou o
debate, muitas vezes, fundamentalista e não amistoso, entre estruturalistas e
funcionalistas. Na Europa, observamos outras discussões.
ragmático
Pragmatismo é uma doutrina da Filosofia que define os critérios de utilidade do
conhecimento.

Nesse pequeno espaço, é difícil contar tudo o que acontecia na Europa e nos Estados
Unidos, pois existiam intercâmbios e influência mútua, mas é uma escolha didática
destacar aquilo que era mais evidente nessas localidades. A marcha da humanidade,
David Alfaro Siqueiros, 1971.

Igualmente difícil é narrar todas as influências, as perspectivas e os acontecimentos que


tiveram impacto na formação da Psicologia como ciência entre 1879 e o fim do século
XX, pois a proposta deste estudo é dar uma visão panorâmica.

A cabeça pensa a partir de onde os pés pisam. (BOFF, 1999, p. 4)

Antes de prosseguirmos, vamos analisar o que se desenvolveu ao longo do século XX,


por influência da Psicologia do século XIX.

Uma história à parte

A Psicanálise é uma história à parte da Psicologia, mas que exerce grande influência nos
psicólogos, pedagogos, médicos psiquiatras, neurocientistas, entre outros interessados
no estudo das funções psicológicas humanas.

Erros de tradução colocam Sigmund S. Freud (1856-1939), em certos livros, como um


teórico do instinto, mas isso está equivocado. A palavra instinto não se aplica a Freud,
pois ele não usou o termo instinkt (instinto, em alemão). Para os seres humanos, ele
usou trieb, traduzido como impulso ou pulsão. Freud também apresenta sua teoria sobre
o desenvolvimento psicossexual (fase oral, anal, fálica, período de latência, genital).

Lembra-se de quando abordamos o tópico perspectiva e Zeitgeist? Nesse aspecto, do


desenvolvimento psicossexual, a Psicanálise é mal compreendida por leigos e pelo
senso comum.

Não reproduza esses enganos, mas busque compreender a perspectiva do autor. De


maneira geral, uma teoria do impulso, como compreensão do funcionamento humano,
concentra-se em explicar como o nosso comportamento mantém o organismo em
equilíbrio. A experiência psicológica de um desequilíbrio interno seria um impulso, ou
seja, o “energizador” do comportamento.

Exemplo: A sede é um desconforto psicológico para a necessidade de ingestão de


líquidos.
As teorias do impulso explicam comportamentos e são focadas nas causas, em nosso
funcionamento interno, na fisiologia e/ou na estrutura da nossa mente. Não é incomum
compararmos a proposta libidinal (energia mental) de Freud com um sistema hidráulico.
Imagine uma caixa de água sendo abastecida: se a boia da caixa falhar, a água
escorrerá por um mecanismo de escape para fora da casa, um meio simples de
segurança para sua casa não ser inundada pela água.

Vamos descrever com essa analogia o funcionamento da mente humana na perspectiva


desse autor: à medida que os impulsos corporais acumulam energia (por analogia, a
água de nosso sistema hidráulico), a experiência psicológica resultante é um aumento
da ansiedade, um desconforto psíquico. Então, é preciso proteger, por meio de um
mecanismo de escape (como aquele presente na caixa-d’água), nossa saúde física e
mental (para evitar a inundação de nossa residência).

Freud descreverá minuciosamente esses mecanismos de defesa. Ele elenca três


estruturas do aparato psicológico humano que vivem em uma interação dinâmica e,
digamos, medindo forças:

 Id: Evita a dor e maximiza o prazer.


 Ego: O aspecto racional da personalidade.
 Superego: Introjeção da moral da sociedade na estrutura de personalidade.

O Id, como uma estrutura psíquica inata, é regido pelo princípio do prazer e pela busca
da satisfação imediata; representa, por analogia, a pressão da água que chega à nossa
caixa. Essa pressão é constante e buscamos objetos que sejam capazes de satisfazer o
desconforto psíquico. Como não podemos atender às pressões mais primitivas em
busca do prazer, devido à ação do Superego e dos mecanismos de defesa,
eventualmente, adoecemos, pois não podemos buscar os objetos que, de fato,
desejamos. Esse adoecimento, muitas vezes, não apresenta os motivos para
consciência (para o Ego).

A produção intelectual da Psicanálise, inicialmente, foi direcionada para a saúde mental


e para o tratamento clínico de enfermidades mentais. Uma inovação para a época.
Durante o século XX, a Psicanálise foi empregada de maneira mais ampla para
compreender diversas manifestações humanas, uma vez que se constitui como uma
teoria da personalidade e do desenvolvimento humano. Pode ser aplicada na
psicopedagogia, na
psicoterapia, na educação, na saúde e nas práticas institucionais e comunitárias.

A Psicanálise sofreu algumas variações, ao longo do século XX, nas mãos de outros
autores que discordaram de certos aspectos da abordagem de Freud e/ou ampliaram
algo que anteriormente não tinha sido abordado ou aprofundado.
Para encerrar esse tópico, falaremos sobre Carl Gustav Jung (1875-1961), cuja teoria
dos tipos psicológicos é amplamente utilizada como orientação profissional, no
levantamento do estilo de aprendizagem de uma pessoa e dos seus interesses; isso
pode ser utilizado no planejamento de projetos educacionais, bem como na seleção de
pessoas em recursos humanos.

Jung foi um discípulo de Freud, mas romperam relações por divergências teóricas. O
seu sistema é conhecido como Psicologia Analítica, que é aplicada na psicoterapia, em
saúde mental e na avaliação da personalidade. A tipologia de Myers-Briggs
(classificação tipológica de Myers-Briggs) é um instrumento padrão-ouro para avaliação
da personalidade (MBTI). Outro teste que é amplamente utilizado no Brasil é o
questionário de avaliação tipológica (QUATI). Ambos os recursos são de uso restrito do
psicólogo e da psicóloga.

No Brasil, o uso e a comercialização de testes psicológicos são restritos aos


profissionais da Psicologia com inscrição ativa em um conselho regional de Psicologia.
Existem questões técnicas e psicométricas delicadas para garantir a correta utilização e
fazer inferências corretas sobre a população brasileira.

Psicométricas: Trata-se do embasamento para a medida em Psicologia.

Behaviorismo (comportamentalismo)

O behaviorismo, também conhecido como comportamentalismo, tem como objeto de


estudo a análise científica dos comportamentos humano e animal. Busca descrever as
circunstâncias relevantes para que um comportamento seja instalado no repertório
comportamental de uma pessoa e o que é preciso para modificar esse comportamento,
quando necessário. Desse modo, é possível evidenciar por que determinada pessoa se
comporta dessa ou daquela maneira, os motivos de alguma decisão, e prever e alterar
os possíveis comportamentos futuros. Nenhum sistema teórico, ou perspectiva
psicológica, como vimos, surge em um vácuo, mas pelo acúmulo de conhecimento e
pelo avanço da
tecnologia. O behaviorismo foi um protesto contra a Psicologia Wundtiana, a
consciência como objeto de estudo e a introspeção como um método.

Um neologismo, criação de uma nova palavra a partir de outra já existente. Behavior


(inglês) = comportamento

Origem do behaviorismo

Em 1913, John Broadus Watson publicou o artigo A Psicologia como um behaviorista a


vê, no qual expõe os principais posicionamentos científicos da Psicologia
Comportamental. Watson propõe defini-la como uma ciência do comportamento, já que
esta é fisicamente observável: é possível ver as pessoas andarem, comerem,
conversarem, mas é difícil observar seus pensamentos e sentimentos. Vamos ver um
exemplo.

Podemos dizer que comemos porque sentimos fome. Você já parou para pensar nos
eventos que fazem parte dessa contingência, ou seja, da probabilidade de um evento ser
causado por outro evento?

John Broadus Watson (1878-1958) foi um cientista que fez conferências em que
rejeitava as abordagens estruturalistas e funcionalistas e afirmava o abandono de
métodos introspectivos. Inseriu a Psicologia como uma ciência que deveria ter um
objeto natural e aplicações práticas para melhorar a qualidade de vida das pessoas.
Estudou os reflexos aprendidos e as reações emocionais básicas (incondicionadas —
medo, raiva, amor) e complexas (condicionadas).

Os momentos 1 e 3 podem ser observados diretamente. Já o momento 2 é encoberto


aos olhos de um observador externo e só pode ser descrito pela introspecção, mas esse
método é falho, uma vez que dois ou mais introspectistas podem experimentar ideias
diferentes a respeito do fato.

Essa é uma crítica feita pelos funcionalistas para os estruturalistas, embora os


funcionalistas tenham continuado com a introspecção até o Manifesto Behaviorista de
1913.

Os introspectistas, pela Psicologia Wundtiana, tratariam o momento 2, a sensação de


fome, como a causa do momento 3, o comportamento de comer. Essa é a base do
pensamento mentalista ingênuo, crítica feita pelos behavioristas: “como porque sinto
fome”. Se a fome é resultado da privação de comida, pode-se desconsiderar a causa
mental, os pensamentos, a sensação, porque não é possível estudar os eventos só
acessíveis pela introspecção.

A tese do behaviorismo é se preocupar somente com os fatos naturais, facilmente


mensuráveis.

Burrhus Frederic Skinner (1904-1990) recebeu influência de Watson e Thorndike e


estabeleceu a distinção entre o behaviorismo radical e o metodológico, além de
descrever a aprendizagem por contingência (probabilidade de um evento ser causado
por outro; relação entre eventos ambientais).

Skinner buscava descrever contingências, como elas ocorrem e são mantidas. O


behaviorismo apresenta protocolos interessantes para o manejo do comportamento na
escola, nas organizações etc. Na perspectiva desse autor, o cérebro é um depositário de
contingências, ou seja, armazena nossas experiências e os padrões do nosso repertório
comportamental.
As ideias essenciais de Skinner são reveladas em algumas frases:

Seja inato ou adquirido, o comportamento é selecionado por suas consequências. (SKINNER, 1983, p. 155)

Um eu ou uma personalidade é, na melhor das hipóteses, um repertório de comportamento partilhado por


um conjunto organizado de contingências. (SKINNER, 1974, p. 130)

Psicologia da Gestalt

A Psicologia da Gestalt é uma importante perspectiva da Psicologia. Foi crítica à


Psicologia Wundtiana; à lei do efeito, de Thorndike (1874-1949), nos Estados Unidos; e à
Psicologia do Reflexo, de Pavlov (1849-1936), na Rússia. As principais personalidades
desse movimento foram:

 Max Wertheimer
1880-1943

 Kurt Ko ka
1886-1941

 Wolfgang Köhler
1887-1967

Os gestaltistas aceitavam o objeto de estudo da Psicologia Wundtiana, a consciência,


mas negavam-se a aceitar que o seu estudo acontecesse pela busca de seus elementos.
Nesse aspecto, concordavam com a crítica que William James estabeleceu aos
estruturalistas.

De certo modo, a Psicologia da Gestalt foi um movimento funcionalista, mas ao estilo


alemão; foi influenciada pela Filosofia de Immanuel Kant (1724-1804) e de Franz
Brentano, bem como pelo movimento fenomenológico alemão.

Max Wertheimer foi o precursor da Psicologia da Gestalt, sendo o principal fundador


desse movimento. Em 1912, descreveu o movimento Phi , um fenômeno que
demonstrou as propriedades da percepção humana e serviu de base para a tese inicial
da Gestalt se opor a outros sistemas teóricos.

No fenômeno Phi, uma sequência de imagens foi apresentada, na época, por um


taquistoscópio, com um intervalo de tempo de 60 milissegundos, dando a ilusão de que
era a mesma imagem se movimentando.
Ao demonstrar uma ilusão, ou seja, um movimento aparente, os gestaltistas
constataram que a consciência, a percepção do movimento, não poderia ser analisada a
partir dos seus elementos sensoriais, premissa da Psicologia de Wundt.

Como o movimento aparente não é real, não possui os dados sensoriais concretos de
um movimento.

A Psicologia da Gºestalt também criticou a ideia de que a percepção seria a soma de


elementos básicos, tese atomista defendida por Wundt. Os cientistas defendiam que
uma percepção não dependia de processos mentais superiores ou de aprendizagem,
mas os dados da percepção estavam presentes no próprio estímulo apreendido pela
percepção, em um todo, não no somatório de partes elementares.

A terceira força da Psicologia: humanismo

O humanismo é um movimento, uma perspectiva teórica da Psicologia, do início da


década de 1960.

Todas as perspectivas analisadas até aqui têm por base uma doutrina filosófica — o
determinismo, ambiental no caso do behaviorismo, psíquico no caso da Psicanálise; os
movimentos anteriores recebiam uma influência muito grande da Fisiologia e do
determinismo biológico.

O humanismo evidencia outra doutrina filosófica: o livre-arbítrio, que preconiza que as


pessoas dirigem seus atos de modo consciente, independentemente de determinações
psíquicas, cognitivas ou ambientais. O objeto de estudo do humanismo não é a
consciência ou o comportamento, tampouco a percepção, mas os interesses e valores
humanos. Os humanistas se opunham ao mecanicismo e ao materialismo da cultura
ocidental da época.

Determinismo

Segundo essa perspectiva, eventos ordenados podem ser explicados por leis simples.
Da mesma maneira, eventos psicológicos e/ou comportamentais são regidos por essas
leis (propriedades).

As escolas com as quais os humanistas rivalizavam eram o behaviorismo e a


Psicanálise; criticavam que os dois sistemas ofereciam uma visão da natureza humana
limitada e depreciativa. Entre muitas influências, destacamos Gordon Allport (1897-
1967), com o livro A natureza do preconceito, de 1954. Allport utilizou a expressão
Humanismo de forma pioneira, em 1930.

Além de Allport, as principais referências da terceira força da Psicologia são: Kenneth B.


Clark (1914-2005), militante dos direitos civis e representante do Zeitgeist da época —
mesmo que não associado diretamente ao movimento do humanismo; Abraham Maslow
(1908-1970); e Carl Rogers (1902-1987).

Abraham Harold Maslow foi um precursor do movimento da Psicologia Humanista.


Defendia a capacidade de autorrealização de cada pessoa e criou a famosa pirâmide de
necessidades. Embora seja uma teoria muito criticada dentro da Psicologia e careça de
evidências para generalizar diversas populações, é amplamente utilizada,
principalmente, em treinamentos para o desenvolvimento de pessoas.

Na perspectiva desse autor, todos temos tendência a buscar uma realização pessoal,
que só é alcançada quando atingimos as prioridades dos degraus da pirâmide, da base
para o topo. A ideia da hierarquia é criticada, sem dúvida temos necessidades que são
fisiológicas, psicológicas e sociais.

 Realização pessoal: Moralidade, criatividade, espontaneidade, solução de problemas, ausência de


preconceitos, aceitação dos fatos.
 Estima: Autoestima, confiança, conquista, respeito dos outros, respeitos aos outros.
 Amor/Relacionamento: Amizade, família, intimidade sexual.
 Segurança: Segurança do corpo, do empregro, de recursos, da moralidade, da família, da saúde e
da propriedade.
 Fisiologia: Respiração, comida, água, sexo, sono, homeostase, excreção.

Pesquisas que buscaram evidências da hierarquia em cinco níveis, em amostras mais


amplas de pessoas, sugerem que é coerente pensar em apenas dois níveis que são
necessidades por deficiência e necessidade por crescimento.

A Psicologia Cognitiva

A Psicologia Cognitiva traduz, em essência, o que é a ciência psicológica. Percorrer a


história da Psicologia é uma viagem fantástica. Sabe o porquê? Tudo é cognição.

Sabemos que essa afirmação, por hora, talvez não faça muito sentido. No entanto, a
partir de agora é importante você se lembrar da diferença entre a Psicologia do senso
comum e a Psicologia Científica. Vamos analisar alguns exemplos? Pense nos seguintes
eventos da vida, que são psicológicos:

 A dor
 A tensão pré-menstrual
 A depressão pós-parto
O senso comum, quando utiliza a expressão “é psicológico”, tipicamente está fazendo
menção a uma frescura, a algo que é inventado e/ou que podemos mudar se tivermos
força de vontade. Força de vontade não é um construto que explica um comportamento
motivado — essa é uma visão equivocada do senso comum. Vamos aprender que tudo é
psicológico do ponto de vista da Psicologia Cognitiva (científica).

Você já parou para analisar algo a seu respeito, por exemplo, sobre seu estilo cognitivo?
Pare agora por alguns minutos e pense sobre você. Você já parou para pensar por que
algumas pessoas relatam serem felizes e gozar de bem-estar e outras pessoas não,
mesmo quando as circunstâncias (o meio) estão favoráveis? O que é felicidade? O que é
bem-estar e qualidade de vida? Lembra-se da proposta de viajar pela história da
Psicologia para entender que tudo é psicológico, tudo é cognição? Vamos lá!

Conceito e princípios da Psicologia Cognitiva

A Psicologia Cognitiva pode ser definida como uma área de conhecimento que analisa
os processos internos implicados na forma como as pessoas extraem sentido do
ambiente — interno (fisiológico) e externo (cultura) — e decidem quais ações são
apropriadas. Estuda a atividade e a estrutura do cérebro para compreender a cognição e
o comportamento humano.

A investigação dos processos cognitivos inclui:


 Atenção
 Percepção
 Aprendizagem
 Memória

Sobre o pensamento, podemos dizer que: O pensamento é a “cereja do bolo” da


Psicologia Cognitiva, principalmente clínica.

Existe diferença entre a Psicologia Cognitiva aplicada à clínica, seus métodos e objetos
de estudo, e a Psicologia Cognitiva enquanto um sistema teórico da Psicologia. A
perspectiva teórica vai explicar o psicológico como um todo, definir e descrever os
processos cognitivos, por exemplo. Gradualmente, ao longo desta leitura, você
compreenderá melhor essa distinção.

Existem processos psicoterapêuticos que podem atuar no manejo da dor, da


irritabilidade, da angústia, da ansiedade etc. Mudar determinado padrão de
comportamento, determinado padrão cognitivo (um perfil cognitivo) — obviamente
quando necessário e desejado —, porém, exige investimento e engajamento da pessoa
no processo de mudança, que pode ser conduzido, por exemplo, em uma terapia
cognitivo-comportamental.
Tudo é psicológico, e chamamos esse tipo de trabalho de reestruturação cognitiva, ou
seja, ensinar uma pessoa a reinterpretar eventos e utilizar essas informações para
motivar comportamentos mais adaptados e funcionais em suas vidas, ou seja, buscar
qualidade de vida e bem-estar.

Para Sternberg (2016), a Psicologia Cognitiva é o estudo de como as pessoas percebem,


aprendem, lembram-se de algo e pensam sobre informações. Podemos descrever as
áreas do cérebro ativas na percepção, no aprendizado, na lembrança e no pensamento.
A Psicologia Cognitiva vai estabelecer como tais informações são codificadas,
interpretadas e utilizadas.

Dito de outra forma, a reestruturação cognitiva significa:


Ensinar a pensar diferente sobre...
...si próprio (o eu, o ego).

Ensinar a pensar diferente sobre...


...o mundo (pessoas e acontecimentos).
Ensinar a pensar diferente sobre...
...o futuro.

A Psicologia estuda como o indivíduo dá significado ao ambiente, a partir dos seus


processos internos, permitindo a sua ressignificação.

Você deve estar dizendo “certo, entendi tudo”, mas, afinal, o que é interpretar e decidir? A
forma como decidimos as ações que são apropriadas e/ou simplesmente como agimos,
nos comportamos e/ou interpretamos os eventos depende de nossa evolução
ontogenética .

Evolução ontogenética: Trata-se do ciclo da vida, do ciclo de desenvolvimento do


organismo (pessoa) ao longo da vida, desde o desenvolvimento embrionário. Ontogenia
é o desenvolvimento de um organismo. Já filogenia é o desenvolvimento da espécie, por
exemplo, de nossa espécie, Homo sapiens sapiens (O sapiens repete duas vezes, isso
mesmo, está correto!).

Mas como fazer essa interpretação?

A Psicologia Cognitiva adota o determinismo como um pressuposto epistemológico. Eventos no decorrer de nosso desenvolvimento
podem resultar em um ambiente propício para desenvolvermos resiliência ou não, assim como em mais ou menos controle emocional e
psicológico. Podemos ter uma vulnerabilidade a desenvolver transtornos de humor, por exemplo, a depressão. Segundo o paradigma de
diátese-estresse, pessoas vulneráveis cognitivamente desenvolvem psicopatologias ao passar por eventos estressores.

Como desenvolvemos essa vulnerabilidade?

A vulnerabilidade é inata, depende de muitos fatores, por exemplo, eventos do período gestacional e condições hereditárias. Mas, tais
vulnerabilidades se desenvolvem em nossas vidas por gatilhos ambientais, acontecimentos da vida.
A Psicologia trata o tema com base em teorias diferentes, mas podemos entender as
necessidades psicológicas em um âmbito geral como:

 Fisiológicas: sede, fome e sexo.


 Psicológicas: autonomia, relacionamento e competência.
 Sociais: afiliação e intimidade, realização e poder.
 Na infância, as necessidades emocionais fundamentais são: vínculos seguros, autonomia,
liberdade de expressão, espontaneidade e lazer, limites realistas e autocontrole.

Um esquema cognitivo pode ser positivo ou negativo, adaptado ou desadaptado. Se seu


padrão de respostas está desadaptado ao meio e/ou com respostas (comportamentos)
muito exacerbados, a Psicologia Clínica pode ajudar.

Sabe o porquê? Tudo é psicológico, e podemos mudar algumas coisas — outras não, e
há aquelas de difícil mudança. A visão é monista, ou seja, não dualista (mente-corpo).
Trata-se de uma visão integrada e holística. Falar da mente, do psicológico, ou do
cérebro é falar da mesma coisa com vieses diferentes. Vejamos alguns exemplos:

Tomar uma medicação para depressão resulta em mexer na bioquímica do cérebro regulando algo que estava em desequilíbrio.

Fazer psicoterapia (Psicologia Clínica) também mexe com essa bioquímica do cérebro regulando algo que estava em desequilíbrio. A psicoterapia resulta em
plasticidade neural.

Você sabe o que é plasticidade neural? Trata-se da mudança do sistema nervoso em


decorrência dos eventos da vida, da experiência, do comportamento. Podemos pensar a
plasticidade neural por dois vieses básicos: estrutural, por conexões sinápticas; ou
funcionais, que se traduzem por mudanças no comportamento e/ou no perfil cognitivo.
Trata-se da mesma coisa, ou seja, plasticidade neural, explicada por vieses diferentes.

Tanto manejo medicamentoso quanto psicoterapia agem sobre o cérebro, sobre o


psicológico, apenas operam com mecanismos distintos.

Nessa perspectiva, não existe um corpo adoecendo uma mente, ou uma mente
adoecendo um corpo. O que vai existir é uma pessoa saudável, relativamente saudável,
ou não saudável, em uma abordagem simplista e didática a respeito dos estados de
saúde e de qualidade de vida de uma pessoa.

O que importa, neste momento, é compreendermos essa visão da Psicologia Cognitiva


contemporânea. Não se trata de um reducionismo materializante, mas de uma visão
integrativa entre Psicologia, Ciências da Saúde, Ciências Sociais e Neurociências. Com
essa ideia de base, os determinantes do comportamento podem ser analisados:

o Em um aspecto físico

o Mapeamento neurológico.
o Em um aspecto psicológico
o Sensopercepção, atenção, pensamento, memória, volição, emoções, sentimentos etc.
o Em um aspecto ambiental/funcional
o Mapeamento cultural, socioeconômico etc.

Isso não significa dividir uma pessoa em três coisas diferentes, pois, como
demonstrado, essa divisão é meramente didática. Uma pessoa é inteira e indivisível.
Falar do psicológico, da mente ou do cérebro é falar da mesma coisa, em perspectivas
didáticas diferentes, que permitam trabalhos diferentes. Nada mais, nada menos.

Qual o motivo dessa divisão didática? É simples. Existe uma grande quantidade de
variáveis que exercem influência em como os neurônios codificam as informações, e
isso
gradualmente vai determinar nossa estrutura de personalidade e nosso repertório
comportamental. Tudo isso influencia quem somos, nosso estilo de agir e de tomar
decisões, nossa forma de interpretar os eventos, sejam os externos, sejam os internos
(mudanças do próprio corpo).

A Psicologia Cognitiva estuda o indivíduo em diferentes aspectos: ambiental,


psicológico e físico.

Os marcos históricos relativos ao surgimento da Psicologia Cognitiva

Questionar como o cérebro ou a mente funciona e, fundamentalmente, o que motiva o


comportamento está na base de nossa discussão. Podemos buscar esse entendimento
na Filosofia e nas Ciências. As respostas que a Psicologia Cognitiva adota não são fruto
de um único autor. Certamente, na Psicologia Cognitiva, há alguns marcos históricos,
que podem ser antigos, modernos ou contemporâneos. Veja alguns desses marcos:

Ainda devemos compreender que existem duas modalidades de Psicologia Cognitiva,


uma básica e outra aplicada. Veja a definição de cada modalidade:

Ciência básica
Busca delimitar uma área de conhecimento, definir construtos, construir e testar hipóteses, elaborar
teorias que possam descrever os fenômenos.

Ciência aplicada
Utiliza as diversas formas de conhecimento e a ciência básica para encontrar soluções para a vida das
pessoas. As teorias de uma ciência aplicada são construídas com um viés de prática, ou seja, em
nosso caso, no fazer do psicólogo.

Esses são modelos de ciência interdependentes, e essa divisão, muitas vezes, é


meramente didática. O que é relevante é o uso que se faz da ciência, sendo básica ou
aplicada. Na Psicologia Cognitiva aplicada, vamos encontrar, por exemplo, as teorias
das práticas clínicas. Na Psicologia Cognitiva básica, vamos encontrar algumas teorias
sobre como nosso aparato cognitivo funciona, ou seja, esse modelo vai responder a três
perguntas fundamentais: Quais são os processos cognitivos? Como eles funcionam?
Quais variáveis intervenientes que se pode identi car / descrever?
Por exemplo, estados internos que motivam um comportamento, como o
comportamento criativo, entre outros.

No escopo da Psicologia Cognitiva básica, surgem teorias da linguagem, da memória, da


atenção, da percepção etc., ou seja, o que chamamos de processos cognitivos básicos.
A Psicologia Cognitiva estuda, principalmente, alguns construtos que explicam como
nos motivamos (comportamentos motivados), como criamos (criatividade), resiliência,
autoeficácia, crenças, entre outras variáveis que exercem influência em nosso
comportamento.

A Psicologia Cognitiva usa a ciência básica e a ciência aplicada para estudar as diversas
variáveis que influenciam o comportamento do indivíduo.

Marcos históricos

O ano é 1956. Esse foi um ano de grande relevância para coroar o movimento da
Psicologia Cognitiva.

O cientista cognitivo Noam Chomsky fez uma exposição sobre uma teoria para a
linguagem (um processo cognitivo) para o famoso e internacionalmente conhecido
Massachusetts Institute of Techonology (MIT).

Nessa mesma ocasião, George Miller (1920-2012) apresentou o que ficou conhecido
como o mágico número 7 na memória de curto prazo (outro processo cognitivo), e
Newell (1927-1992) e Simon (1916-2001) expuseram seu modelo de solução de
problemas (General Problem Solver), precursor do desenvolvimento de programas de
inteligência artificial.

Solução de problemas e tomada de decisões são duas grandes áreas de interesse de


cientistas cognitivos.

Fim dos anos 1950 e década de 1960


Vamos conhecer um pouco mais sobre esses marcos. No fim dos anos 1950 e na
década de 1960, os sistemas clínicos (ciência aplicada) começam a ganhar forma, e
surgem as terapias cognitivas. A tradição filosófica tratou do tema do funcionamento da
mente, da consciência, com base em seus métodos, que fundamentalmente englobam o
manejo da palavra, a elaboração de ideias, a lógica, a dialética, mas não a
experimentação.

Como você viu na cronologia sobre os marcos históricos, Wilhelm Wundt demarcou o
primeiro laboratório de Psicologia. Curiosamente, os objetos de estudo são os
processos elementares da percepção e a velocidade de processos mentais. Isso não
quer dizer que Wundt rompeu com a Filosofia, mas buscou demarcar a Psicologia como
uma ciência experimental. Seu método de estudo era a introspecção.

Percepção e velocidade de processamento da informação, são objetos de estudo da


Psicologia Cognitiva. Temas que são abordados desde as escolas funcionalistas e
estruturalistas do século XIX.

Desenvolvimento da Psicologia Cognitiva.

O movimento que ficou conhecido como revolução cognitivista é mais bem identificado,
por seus métodos, pela analogia ao processamento computacional, pelo uso de
tecnologia para demonstrar suas teorias, e tem como marco a conferência no MIT de
proeminentes cientistas cognitivos em 1956.

A formação da Psicologia Cognitiva, contudo, é demarcada formalmente, pelos


historiadores da Psicologia, nas décadas de 1950 até 1970.

A Psicologia Cognitiva resgata a história do estudo da mente que foi negligenciada pela
força do behaviorismo como um sistema teórico dentro da Psicologia. Para entender o
cognitivismo, é necessário compreender a história da Psicologia.

Edward Chace Tolman (1886-1959), um behaviorista, declarou que o behaviorismo de


Watson foi um alívio, pois trazia cientificidade para a Psicologia, mas não foi um
“watsoniano”.

Tolman tentou superar o monismo materialista de Watson (pensamento com hábito). De


certa forma, esse autor estabelece os alicerces para o cognitivismo, pois afirma que
aprendizagem não é mudança no comportamento, mas aquisição de novos
conhecimentos/cognições. Apresenta as definições de um comportamento intencional
— tal intencionalidade, embora existente, é um evento particular ao organismo, uma
variável
interveniente, e não estaria ao alcance dos instrumentos objetivos da ciência.
Exemplo: Tolman diria, por exemplo, que a fome é a intencionalidade para o
comportamento de comer. Isso significaria ver a mente no comportamento, ou seja, falar
da mente sem recorrer a teses mentalistas e a métodos não científicos.

O ponto-chave para entender a revolução cognitivista (uma revolução lenta que demorou
décadas para se consolidar) é perceber os esquemas dos modelos behavioristas. As
contingências behavioristas descreviam diretamente a relação entre um estímulo e uma
resposta sem a mediação do cérebro e/ou de uma cognição.

Ocorrência do comportamento operante. Uma resposta que ocorre sem um estímulo


eliciador é emitida. Aplica-se tanto ao responder a um estímulo discriminativo como ao
responder de maneira indiscriminada.

O estímulo discriminativo pode ser compreendido pelo contexto que estabelece a


ocasião para o comportamento ser afetado por suas consequências. Tais
consequências são seletivas que ocorrem após o comportamento e modificam a
probabilidade futura de comportamentos equivalentes acontecerem. Punição:
Apresentação de punidores positivos produzidos pela resposta ou a remoção de
punidores negativos. Os punidores são os estímulos, a punição é uma operação (ou
processo), e respostas, e não organismos, são punidas.
Um estímulo é um punidor positivo se sua presença reduz a probabilidade da resposta
ou um punidor negativo, se a sua remoção reduz a probabilidade da resposta. Reforço:
Apresentação de reforçadores positivos produzidos pela resposta ou a remoção de
reforçadores negativos. Os reforçadores são os estímulos, o reforço é uma operação (ou
processo), e respostas, e não organismos, são reforçados.

Um estímulo é um reforçador positivo se sua presença aumenta a probabilidade da


resposta ou um reforçador negativo, se a sua remoção aumenta a probabilidade da
resposta. Por exemplo: Na ocasião da luz do sol incomodar (estímulo discriminativo)
você irá colocar os óculos escuros (resposta) e isso retira o incômodo que a luz do sol
estava causando aos seus olhos. Chamamos isso de um reforçador negativo, ou seja, a
probabilidade de você usar óculos escuros em situações semelhantes no futuro pela
retirada de um estímulo aversivo.

Observe que, nas contingências behavioristas (respondentes e operantes), a relação


entre um estímulo e uma resposta é direta, não mediada. Nesse modelo teórico, o
sistema nervoso era visto como um depositário de contingências, passivo, que apenas
codificava em uma linguagem neural (eletroquímica) e armazenava as experiências.
Uma vez diante de um estímulo eliciador ou discriminante, gerava uma resposta – de
fato, “uma tábula rasa”.
A inovação do cognitivismo foi buscar compreender as operações internas do
organismo, ou seja, estudar o efeito dos processos cognitivos e como esses medeiam
comportamentos.

O cérebro, no Cognitivismo, é ativo, coordena e faz a mediação de comportamentos.


Para o behaviorismo, o importante não é saber o que causa os comportamentos, mas
explicar e descrever em que circunstâncias eles acontecem. O cognitivismo quer
compreender o que causa um comportamento, quais as fontes de um comportamento
motivado, por exemplo, a criatividade, a arte etc. Na atualidade, são sistemas teóricos
que se complementam.

Ainda existem profissionais que são behavioristas radicais, pois o Cognitivismo não veio
para substituir esse modelo comportamentalista, mas para ampliá-lo. Na década de
1970, os temas do momento eram o Cognitivismo e a Computação. Temas discutidos
com a mesma intensidade que a civilização debate hoje, no século XXI, inteligência
artificial, automação e as Neurociências.

Os principais representantes da Psicologia Cognitiva e suas contribuições

A Neurociência Cognitiva, a Psicofisiologia e a Computação, na era informacional,


constituem um Zeitgeist. Não se trata de estabelecer um monismo materialista e reduzir
os eventos comportamentais e os processos cognitivos em termos físico-químicos —
até porque os modelos computacionais e das Neurociências não conseguem explicar
tudo, mas sim de superar uma influência do dualismo e do realismo como uma base
epistemológica presente na história da Psicologia e desenvolver um olhar mais
integrativo.
Para chegarmos até aqui, no que chamamos de Psicologia Cognitiva, muitos
pesquisadores somaram esforços em um movimento histórico e epistemológico. Não
necessariamente eram psicólogos ou estavam envolvidos em uma revolução cognitiva,
apenas estavam fazendo ciência que fosse útil para o Zeitgeist que vivenciavam em
suas épocas.

Os principais nomes da Psicologia Cognitiva

Conheça alguns dos principais nomes da Psicologia Cognitiva e a contribuição de seus


trabalhos. Existe uma Ciência Cognitiva e uma Psicologia Cognitiva. A Ciência Cognitiva
inclui a Psicologia Cognitiva, mas também outros modelos com interesses e métodos de
investigação distintos. São modelos que se complementam em certos contextos e
estudos, mas também divergem.

Podemos identificar algumas abordagens da Ciência Cognitiva:


1. Psicologia Cognitiva
2. Neuropsicologia Neurociências
3. Ciência Cognitiva Computacional
4. O método das Neurociências

As Neurociências buscam evidências de como a interação de áreas no cérebro resultam


em cognição, uma vez que apenas apontar uma localização (blobology) está caindo em
desuso, e até os modelos computacionais estão buscando correlações com o cérebro.
Nas Neurociências, vamos encontrar as evidências científicas que são levantadas pelo
uso da tecnologia, especialmente o uso de técnicas de neuroimagem, que são capazes
de demonstrar atividades em regiões e circuitos do sistema nervoso central durante um
processamento sensorial, motor ou cognitivo.

A organização de nosso sistema nervoso, basicamente, traduz-se por atividades


excitatórias (ativação) e inibitórias (inibição), algo como sim e não.

As estruturas como hipotálamo, feixe prosencefálico medial, área septal, córtex cerebral
e córtex pré-frontal esquerdo estão relacionadas à aproximação, enquanto o córtex pré-
frontal direito e a amígdala, à evitação.

Existem correlações na literatura entre um sistema de ativação comportamental e um


sistema de inibição comportamental e características da personalidade, por exemplo, o
neuroticismo e a extroversão. Constantemente, a atividade cortical vai gerenciar as
metas conscientes dos indivíduos. Por exemplo, quando um indivíduo durante a perda
de peso pensa:
o Devo comer?
Sistema de ativação comportamental.

o Não devo comer?


Sistema de inibição comportamental.

As interpretações cognitivas oriundas de nossas crenças, sistemas de crenças,


pensamentos, sentimentos e humor a respeito das coisas também vão ativar os
sistemas de ativação e inibição comportamental. Agir ou não agir? Fazer ou não fazer?
Respostas automáticas ou voluntárias? Todas essas perguntas têm respostas que
envolvem mecanismos complexos que nos impulsionam ou nos inibem diante das
situações de desempenho. Tais sistemas se formam em decorrência de sua evolução
ontogenética, e isso determina sua maneira de ser.

Muitas evidências das Neurociências Cognitivas vão apoiar a ideia de que as pessoas
apresentam características que demonstram um sistema de inibição comportamental
(por exemplo, neuroticismo) ou um sistema de ativação comportamental (por exemplo,
extroversão).
Veja a seguir como o sistema dorsal, o sistema ventral e a amígdala influenciam as
respostas comportamentais:

Sistema dorsal

Um sistema dorsal é composto por hipocampo, regiões dorsais do cíngulo anterior e córtex pré-frontal. Esse sistema está relacionado à

regulação dos estados afetivos, eliciando respostas comportamentais contextualmente apropriadas, e também está relacionado à cognição (memória e atenção).

Sistema ventral

O sistema ventral é composto por circuitos envolvendo amígdala, ínsula, corpo estriado ventral, regiões ventrais do cíngulo anterior e córtex órbito-frontal. É um
sistema que está relacionado às etapas de identificação do significado emocional de estímulos e de produção dos
estados afetivos. Esse sistema também recebe aferências de áreas sensoriais primárias e de associação.

Amígdala

A amígdala estimula respostas automáticas diante de um evento ameaçador, por exemplo: ativação do sistema nervoso simpático

estimulando o núcleo hipotalâmico lateral; estimulação do núcleo paraventricular do hipotálamo para liberação de hormônios de estresse; e estimulação do nervo facial
trigêmeo para expressão facial de medo.

Richard J. Davidson, em seu livro O estilo emocional do cérebro, mostra os resultados de


uma pesquisa que indicam que o temperamento típico observado em crianças, quanto a
características típicas de uma inibição ou ativação comportamental em situações de
desempenho, não é permanente em um indivíduo. Isso contraria alguns trabalhos que
apontam a personalidade como características constantes e formadas precocemente.

Mesmo com as divergências, a discussão de tais sistemas (ativação e inibição) envolve


aspectos muito interessantes das bases neurobiológicas da personalidade e dos
sistemas cognitivos, no que se refere ao processamento e às interpretações dos
eventos que nos circundam. Se tais características são permanentes ou podem variar no
desenvolvimento da pessoa é outra análise. Existem pesquisas muito relevantes
evidenciando a relação de nossa cognição, de como interpretamos eventos, com a
Neurobiologia e a de nosso comportamento típico com as diversas situações
ambientais aversivas ou favoráveis.

O sistema nervoso humano exerce atividades de ativação e inibição, ou seja, influencia


em decisões, como: Posso? Não posso?

O método da Psicologia Cognitiva (pesquisa básica)


Diversos são os métodos que podemos identificar, com e sem o uso de tecnologia.
Optamos por apresentar uma metodologia de baixo custo e que é responsável por
grandes paradigmas da Psicologia Cognitiva quanto às etapas de processamento da
informação e do planejamento de uma resposta (comportamento). Trata-se da
cronometria mental. A cronometria mental é utilizada para construir modelos do
processo cognitivo.

Podemos discutir por meio de tarefas se a informação tem um processamento serial, ou


seja, uma etapa cognitiva é concluída antes de outra começar, ou um processamento
em paralelo, ou seja, dois ou mais processos cognitivos ocorrem ao mesmo tempo.
Tarefas de compatibilidade estímulo-resposta, como efeito Simon e efeito Stroop, são
clássicos da Psicologia Cognitiva.

Na tarefa de Stroop, o voluntário nomeia a cor na qual o nome das cores é apresentado
– por exemplo, VERMELHO ou VERMELHO. O voluntário é mais rápido em processar e
executar a resposta quando o nome da palavra é congruente com a cor que deve
nomear.

As pesquisas básicas em Psicologia Cognitiva vão estabelecer como processamos os


estímulos (a entrada da informação); como nosso sistema atentivo gerencia (alocação
de recursos cognitivos); e como construímos nossa percepção, processamos os
pensamentos e tomamos uma decisão. Veja a seguir um modelo de processamento da
informação: Modelo de processamento de informação. Ou seja, a cronometria mental
auxilia a Psicologia Cognitiva a identificar os modelos de processamento da informação.

O método da Psicologia Cognitiva (aplicada)

A terapia cognitiva-comportamental é um modelo para a atuação na Psicologia Clínica


que, tradicionalmente, busca correlacionar o pensamento, a emoção e o
comportamento. Veja como esse modelo funciona:
I. O modelo clínico cognitivo propõe que pensamentos disfuncionais influenciam o
humor e o comportamento.

II. Pensamentos automáticos são ideias que invadem sua mente e são um produto
de seu sistema de crenças.

III. Seu sistema de crenças pode ser adaptado e funcional ou produzir distorções
cognitivas.

IV. Distorções cognitivas e pensamentos automáticos disfuncionais estão na base de


desordens psíquicas, são usual a todos os transtornos psicológicos.
Uma pessoa que sofre de fobia social pode interpretar uma ida a um restaurante com os
colegas de trabalho da seguinte maneira: Pensamento automático: vou derrubar minha
bandeja. Emoção: ansiedade. Efeito: mãos suadas, respiração acelerada. Resultado:
evita o refeitório. Consequência: não interage com os colegas de trabalho
adequadamente.

Por meio de nosso sistema de crenças, interpretamos: a nós mesmos (crenças sobre
nossas próprias capacidades; o outro (o quanto somos otimistas sobre as pessoas); o
meio em que vivemos (o quanto acreditamos que estamos seguros, o meio nos oferece
as condições para vivermos e nos desenvolvermos); e o futuro (o quanto somos
otimistas a respeito do futuro).

O terapeuta promove o que chamamos de reestruturação cognitiva, ou seja, perceber os


eventos e interpretar as ideias de uma maneira mais funcional. O objetivo é desenvolver
qualidade de vida e, para isso, também se utiliza de técnicas comportamentais, por
exemplo, treinamento em habilidades sociais.

A terapia cognitiva-comportamental auxilia na identificação de distorções cognitivas e


na promoção da reestruturação cognitiva.

A Neuropsicologia

No Brasil, a Resolução do Conselho Federal de Psicologia nº 002/2004 reconhece a


Neuropsicologia como uma especialidade em Psicologia que atua no diagnóstico, no
acompanhamento, no tratamento e na pesquisa da cognição, das emoções, da
personalidade e do comportamento, sob o enfoque da relação entre esses aspectos e o
funcionamento cerebral.

Utiliza-se, para isso, de conhecimentos teóricos angariados pelas Neurociências e pela


prática clínica, com metodologia estabelecida experimental ou clinicamente. A
Neuropsicologia atua na reabilitação cognitiva e na avaliação psicológica.

Premissas e conceitos fundamentais da Psicologia Cognitiva

O pensamento é um ponto central para a Psicologia Cognitiva, e saber como ele opera
sobre a motivação parece um bom lugar para começar.

Segundo Reeve (2006), os pesquisadores, após a revolução cognitiva, voltaram sua


atenção para destrinchar quais as bases cognitivas do pensamento sobre: vontade,
otimismo, eficácia, sucesso, realização, autoestima, autoeficácia, meta, planejamento,
criatividade, escolha,
persistência, desempenho, crenças, valores, sucesso, fracasso, empreendedorismo etc.

No início dos anos 1970, o Zeitgeist da Psicologia definitivamente era cognitivo, e tais
construtos foram amplamente estudados. A vontade não é um constructo psicológico
capaz de explicar a complexidade e a variabilidade do comportamento motivado
humano, até porque nosso comportamento e nosso perfil cognitivo são
predeterminados em decorrência de nossa evolução ontogenética e de muitas outras
variáveis que exercem influência sobre nós.

São conceitos ideativos e intencionais que foram criados ou são utilizados com uma
finalidade científica com base em uma definição operacional e constitutiva. É o primeiro
passo para a construção de uma teoria. Pense em um adicto (dependente químico).

O trabalho psicológico de reabilitação estará pautado na força de vontade da pessoa? A


resposta é, absolutamente, não. O trabalho será investigar a tríade cognitiva, como
pensam. Força de vontade, como um motivador de comportamentos, é uma ideia
associada à Psicologia do senso comum, e não à Psicologia Cognitiva científica.

A vontade, como um construto para explicar um comportamento motivado, foi utilizada


no século XVII, com René Descartes (1596-1650). Depois, foi substituída pelo instinto,
com Charles Darwin (1809-1882) e, por fim, pelas teorias de impulso, com Sigmund
Freud (1856-1939), um psicanalista, e Clark L. Hull (1884-1952), um neobehaviorista.

O próximo movimento que construiu teorias para explicar o comportamento motivado, e


que permanece até hoje, foi o cognitivismo da década de 1950. Os psicólogos passaram
a investigar as bases cognitivas da motivação não como vontade ou instinto. Os
motivos por déficits (impulsos) explicam parte do comportamento motivado, mas não
sua totalidade.

A Psicologia Cognitiva passa a elaborar modelos teóricos para explicar aquilo que as
Neurociências ainda não conseguem demonstrar, por exemplo, o motivo pelo qual tais
características variam de pessoa para pessoa. A Neurociência Cognitiva pode
demonstrar áreas ativas em um processo criativo, mas não consegue explicar, por
exemplo, como a criatividade acontece, onde ela está no cérebro.

Ainda não é possível fazer ligações, uma a uma, entre as áreas do cérebro e os
processos cognitivos. A forma como o cérebro implementa vários processos cognitivos,
como nosso sistema de crenças, permanece um mistério.

A Psicologia Cognitiva interpretou que uma emoção não ocorre sem a avaliação do
indivíduo e que é esta avaliação que causa a emoção, não o evento. Essa contribuição
teve bastante impacto na Psicologia.
A Psicologia no século XXI

Observamos que a Psicologia se organiza e se desenvolve a partir da evolução do


pensamento do ser humano. Desde a Grécia Antiga, passando pela Filosofia medieval e
avançando nos períodos moderno e contemporâneo, até os dias atuais, sempre existiu
um filósofo indagando sobre a natureza do homem e buscando compreender como o
pensamento funciona, para revelar o que motiva a nossa espécie e justifica o nosso
comportamento.

O avanço da tecnologia, ao longo da história, também impulsionou, obviamente, o


desenvolvimento da Psicologia, como ciência autônoma e como profissão. Por
tecnologia, entendemos não apenas aquela que está em nossas mãos, como os
smartphones.

Para chegarmos até o século XXI, gradualmente evoluímos o nosso jeito de pensar. Por
esse motivo, desenvolvemos tecnologias de acordo com a necessidade do ambiente e
sempre em um continuum histórico de acúmulo de conhecimento.

Exemplo: Dominamos o fogo 800 mil anos atrás; 8 mil anos atrás, a agricultura;
atualmente temos smartphones; amanhã, robôs.

Essa é a ideia e a tônica: pensar nesses movimentos históricos, no acúmulo de


conhecimento, no desenvolvimento do pensamento humano e na tecnologia. Estamos
interessados no tempo presente, mas queremos saber como evoluímos o nosso
pensamento, nossos processos cognitivos, as emoções e o comportamento, além de
nos interessar o papel dessa evolução para a adaptabilidade da espécie. Assim,
conseguimos prospectar nosso futuro, fundamentalmente analisando o impacto das
tecnologias em nossas vidas, ou seja, analisamos o passado para buscar compreender
as consequências da inteligência artificial, da automação no futuro, em nossa
empregabilidade, por exemplo.

No século XIX, vimos a Psicologia demarcar a sua área de conhecimento, não apenas
utilizando os métodos da Filosofia, mas empregando o método científico.

o 1879
O objeto de estudo da Psicologia era a consciência, e o método foi a introspecção.

o 1913
Abandonamos o estudo da consciência e passamos a focar no comportamento,
por meio da observação.

o 1950
Voltamos a estudar a consciência e também o comportamento, mas, então, a
Psicologia era cognitiva.

Os processos cognitivos e a forma como modulam o comportamento eram o interesse


dos psicólogos. O impacto da tecnologia, o modelo computacional e as Neurociências
são importantes impulsionadores dessa parte da história, até os dias atuais.

Em paralelo ao desenvolvimento da Psicologia, temos a história da Psicanálise, em suas


sucessivas tentativas de compreender a aprimorar um sistema clínico que atue
eficazmente no sofrimento psíquico do ser humano.

Na década de 1960, o humanismo criticou a Psicanálise e o behaviorismo. Estabeleceu


que estudar a personalidade humana, o seu potencial criativo e a tendência do
aprimoramento do ego seriam objetos de estudo da Psicologia.
Os humanistas, diferentemente de sistemas teóricos anteriores, acreditavam que a
personalidade era moldada pelo presente, como o percebemos de modo consciente, ao
contrário das experiências da infância, da Psicanálise, e do modelo do determinismo
ambiental, do behaviorismo.

Entretanto, quando surge uma nova escola de Psicologia, uma nova perspectiva teórica,
a outra não é abandonada por completo, pois as diversas escolas coexistem ou se
transformam. A Psicologia também viu o movimento da Gestalt, a era das testagens
psicológicas (que é forte no século XXI), entre outros movimentos que duram até os dias
atuais.

O movimento da Psicologia Positiva

A Psicologia Positiva como um movimento, um sistema dentro da Psicologia, é


humanista? Em certos aspectos sim; em outros, não.

A Psicologia Positiva recebe influências do humanismo, mas é um movimento que


ocorre na transição do século XX para o século XXI. Lembre que uma ciência não se
desenvolve no vácuo! Um sistema teórico surge em uma área de conhecimento,
basicamente, para preencher lacunas abertas, para estabelecer uma crítica (antítese) ou
para inovar. De certa maneira, a Psicologia Positiva cumpre esses três papéis.

A Psicologia Humanista também enfatizou aspectos positivos do desenvolvimento das


pessoas e buscou compreender as razões dos comportamentos motivados, mas seu
status científico, por diversas razões, não causou grande impacto na Psicologia dentro
de uma perspectiva metodológica (metodologia científica).

Maslow reconheceu a limitação de sua teoria dentro de uma perspectiva científica, mas
também identificou que não existiria outra maneira para estudar os aspectos da
autorrealização e, talvez, pudesse ter a esperança de que um dia seus estudos
alcançariam confirmações. Mesmo sem estudos atuais que tragam evidências
contundentes acerca da hierarquia de necessidades, em cinco pontos, empiricamente, a
abordagem de Maslow é amplamente utilizada em certos contextos. Como vimos, a
hierarquia em apenas dois eixos possui evidências que podemos generalizar para
diversas populações.

Qual a inovação da Psicologia Positiva?

A Psicologia Positiva tenta compreender alguns adjetivos que são muito admirados
quando os encontramos nas pessoas e superar as limitações pouco científicas do
humanismo.

Vamos falar um pouco sobre Martin Seligman, psicólogo norte-americano, nascido em


1942, que ficou conhecido por sua teoria do desamparo aprendido, tanto pela qualidade
dos achados, mas também pelas críticas ao desenho experimental que resultava em
sofrimento para as cobaias.

Foi presidente da Associação Americana de Psicologia (APA) no ano de 1997 e, em


conjunto com Christopher Peterson (1950-2012), publicou Character, strengths and
virtues (Caráter, forças e virtudes).

Nesse livro, os autores estabelecem um contraponto para o DSM (Manual diagnóstico e


estatístico de transtornos mentais norte-americano). Enquanto o DSM é utilizado para
compreensão de psicopatologias e tratamento (doenças mentais ou do
comportamento), o Character, strengths and virtues é utilizado para a análise das
virtudes, potencialidades do indivíduo e para o seu desenvolvimento.

E qual foi a inovação dessa publicação?

Ela sistematizou as forças de caráter e virtude tanto quanto os manuais nosológicos


(Classificação Internacional de Doenças – CID) sistematizam doenças.

A Psicologia Positiva, além de pensar os indivíduos, também pensa em instituições


positivas que fomentem espaço para o desenvolvimento das virtudes. Além disso,
pessoas positivas geram ambientes positivos.

Psicologia Positiva versus Psicologia Cognitiva versus Neurociências

Um cérebro emocional se desenvolveu e funciona de modo adaptativo, em respostas


psicológicas e ambientais aos estímulos do meio destinados para nos afastar do perigo
e nos aproximar de recompensas
Estruturas do sistema límbico.

De acordo com Bear, Connors e Paradiso (2017), o sistema límbico é descrito como o
principal circuito mediador de nossas emoções. É um conjunto de estruturas situadas
em regiões inferiores ao córtex. Ele integra uma série de áreas e se comunica com todo
o sistema nervoso, demonstrando a interação entre essas áreas e estruturas com a
finalidade de produzir, gerenciar uma função.
A especialização de determinadas áreas do cérebro não é questionada, por exemplo, as
áreas de linguagem e de memória. Mas pensar que é a interação de diversas estruturas
que gerencia aspectos do nosso funcionamento e comportamento é muito atrativo e
atual.

A Psicologia Positiva não refuta as Neurociências, pois compreende a importância das


redes neurais e da forma como as informações são processadas. A Psicologia Positiva
trabalha com parâmetros fenomenológicos da consciência, baseada em teorias da
informação. Busca a compreensão dos acontecimentos, dos fenômenos e suas
respectivas interpretações, e não apenas por meio do processamento das redes neurais,
dos aspectos psicofisiológicos ou não conscientes.

Psicologia Positiva: um projeto para Psicologia do século XXI

Seligman apresenta uma reflexão do papel da Psicologia para o nosso século: o


desenvolvimento de forças de caráter e de valores como uma proposta para saúde
mental. Vejamos a seguir alguns pontos principais:

o Sabedoria e conhecimento
Forças que envolvem a aquisição e a utilização do conhecimento. Criatividade, pensamento
crítico, gostar de aprender, curiosidade.
o Coragem
Forças emocionais que envolvem o exercício da vontade para alcançar metas perante a oposição,
externa e interna. Honestidade e perseverança.

o Humanidade
Ajudar os outros. Amar, ser amado, bondade, habilidades sociais.

o Justiça
Ações cívicas para promover uma vida comunitária saudável. Liderança, cidadania, integridade.

o Temperança
A busca pelo equilíbrio, misericórdia, humildade, autorregulação, prudência.

o Transcendência
Perceber a beleza, bom humor, gratidão, espiritualidade.

Isso não significa abandonar os estudos das funções cognitivas e como elas modulam o
comportamento, tampouco abandonar a Psicologia clínica em suas diversas
modalidades. Continuamos em interseção com as Neurociências, com a discussão
sobre a tecnologia, como incorporá-la à Psicologia e o impacto dela em nossas vidas.

Como um projeto para o século XXI, a Psicologia Positiva propõe rompermos com os
discursos tradicionais e buscar novas práticas em como avaliar e desenvolver as forças
de caráter e virtude nas pessoas, nas organizações e nas instituições.

Um alerta que já tratamos é sobre as falácias do conhecimento: muitas pessoas pegam


carona na Psicologia para propor soluções e serviços para população. Algumas palavras
da moda como coaching e Psicologia Positiva podem estar associadas a práticas
meramente comerciais que não resultam no real desenvolvimento de pessoas, mas
apenas fazem uma persuasão verbal, convencem, não são transformadoras da
realidade. Por esse motivo, buscar um psicólogo para discutir sobre o seu
desenvolvimento pessoal pode ser um exercício que trará melhores frutos para você,
para o seu tempo e para o seu investimento financeiro.

O psicólogo terá toda a bagagem histórica, poderá avaliar a sua personalidade com
cientificidade e tecnicidade. Poderá avaliar o seu perfil cognitivo, as maneiras que você
usa para tomar uma decisão, suas forças de caráter e virtudes, utilizando as práticas
psicológicas refinadas ao longo de mais de um século.

Para a Psicologia Positiva, os pontos fortes de uma pessoa são tão importantes quanto
as vulnerabilidades. Práticas no mercado que atuam com a Psicologia Positiva focadas
nos pontos fortes cometem um erro técnico. Uma avaliação global é necessária.
O profissional de Psicologia possui conhecimento técnico e a prerrogativa profissional
para avaliar sua saúde
mental, seu perfil de personalidade, seu perfil cognitivo e correlacionar com os seus
pontos fortes, suas forças de caráter e virtudes. Esses dois aspectos compõem um
projeto mais sustentável para o seu desenvolvimento pessoal.

Existem muitas variáveis que impactam o nosso comportamento e, para um projeto


sustentável no médio e longo prazo, para que você mude a sua vida e busque o
desenvolvimento das suas forças de caráter e virtude, o profissional qualificado no
mercado é o da Psicologia com uma inscrição ativa em um conselho profissional
(conselho regional de Psicologia).

A Psicologia como ciência e a Psicologia Positiva funcionam muito bem em interseção


com outras áreas de atuação, dentro das prerrogativas
profissionais próprias das áreas de: pedagogia, licenciaturas, gestão, desenvolvimento
de soluções e produtos para pessoas, entre outros. Agir com ética, cientificidade e
tecnicidade, em acordo com sua formação, é seguro para o cidadão, para nossos filhos,
pais, irmãos, familiares e amigos.

Psicologia Positiva e orientação profissional

Orientação profissional, no século XXI, é uma expressão que substitui a conhecida


orientação vocacional. Podemos usar outras expressões, por exemplo, orientação de
carreira, eleição de carreira ou gestão da carreira. O trabalho do orientador profissional
implica qualquer etapa da vida que esteja associada ao mercado de trabalho.

o Primeira Revolução Industrial - Final do século XVIII


Foi marcada pela tecnologia da máquina a vapor e a produção em larga escala.

o Segunda Revolução Industrial - Final do século XIX


Foi marcada por tecnologias como a eletricidade e, na Filosofia, a discussão da sociedade industrial com
os filósofos Marx e Engels.

o Terceira Revolução Industrial - Primeiras décadas do século XX


Foi marcada por tecnologias da automação e pelos conceitos de taylorismo, menor jornada de trabalho
com aumento da produção e Henry Ford e as linhas de produção.

Essas transformações nas sociedades capitalistas e, fundamentalmente, no Ocidente


resultaram em algumas consequências para a vida das pessoas.
Atualmente, vivenciamos a Quarta Revolução Industrial, também chamada de indústria
4.0. O termo sociedade da informação, em vez de sociedade pós-industrial, demarca
essa revolução.

Tecnologia, inteligência artificial, robôs, profissões do futuro são discussões do nosso


momento histórico, do nosso Zeitgeist.

O perfil populacional está mudando e, com isso, as características do mercado de


trabalho também mudam. As necessidades das pessoas ao longo da história,
principalmente com o advento da tecnologia, mudam. Compreender essas mudanças e
o impacto da tecnologia na vida das pessoas e desenvolver as forças de caráter e
virtude para o futuro é o projeto da Psicologia como uma profissão do futuro.

O desafio é compreender o perfil de cada pessoa, levando em consideração o seu


desenvolvimento ontogenético. Isso implica compreender em que época essa pessoa se
desenvolveu, como ela formou seus valores e suas forças de caráter e como a
Psicologia pode auxiliar cada geração a lidar com as demandas da sociedade 4.0.

Cada geração apresenta um estilo próprio na maneira de aprender e se desenvolver.


Cada geração possui forças de caráter e virtude desenvolvidas, de acordo com a
necessidade de seu tempo, com a influência do momento cultural em que viveu, dos
acontecimentos políticos e econômicos que vivenciou.

Por que se diz que a Psicologia é uma profissão do futuro?


Porque é uma ciência e uma profissão que foi desenvolvida na pressão da história,
sempre preocupada em compreender o ser humano em seu tempo, com raízes na
Filosofia e no método científico.

Pressão e tempo transformam...

No século XXI, a Psicologia como uma profissão do futuro significa o desenvolvimento


de forças de caráter e virtudes das pessoas, bem como de suas habilidades emocionais
e comportamentais (as chamadas soft skills).

Um projeto de desenvolvimento pessoal significa compreender a história de


aprendizagem, que é diferente de pessoa para pessoa, mas vinculada a um período
cultural de determinada época.

Desenvolver uma pessoa é investigar as fragilidades, descartar patologias ou


encaminhar para um cuidado de saúde, quando necessário. Esses cuidados, associados
ao levantamento das virtudes e das forças de caráter, resultam em um projeto para um
desenvolvimento individual, personalizado, para o florescimento das soft skills de uma
pessoa, com ética, cientificidade e tecnicidade, necessárias para a segurança e o
respeito à população.

Considerações Finais

A produção de paradigmas tem sido a identidade da Psicologia. Conta a história que


nascemos formalmente introspectivos com Wundt, nos anos de 1873 e 1879,
respectivamente, com a publicação dos Princípios de Psicologia Fisiológica, e a abertura
do primeiro laboratório de Psicologia Experimental, na Alemanha. Até os dias atuais,
ainda não encontramos uma grande teoria compatibilizadora, única metodologia ou
definição para os seus construtos e as mesmas definições operacionais. Somos uma
ciência ainda pré-paradigmática.

O resultado é que, na Psicologia, encontramos profissionais que são


comportamentalistas, cognitivistas, psicanalistas, humanistas, existencialistas, entre
outras possibilidades. Existem também os que se dedicam a estudar os processos
psicológicos básicos, o social, o desenvolvimento humano, a psicoterapia, a
psicofisiologia e outros campos de interesse. Além disso, há a Psicologia aplicada ao
trânsito, à escola, às instituições, às organizações, entre outras áreas de atuação.

A Psicologia é plural como profissão e como ciência, fazendo interseção com diversas
outras áreas de conhecimento. Muitas profissões se beneficiam da Psicologia como
ciência: pedagogos, professores, gestores, marketing, entre outros.

Em todas as formas de atuação do psicólogo, em todas as áreas, tenha convicção de


que a Psicologia apresenta paradigmas capazes de compreender com profundidade a
complexidade do comportamento humano.

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