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COMPORTAMENTO ANIMAL PARA O DIREITO: UM NOVO NICHO PARA ADVOGADOS

Caro advogado animalista,

Organizei esse material com muito carinho em retribuição ao lindo trabalho que realizam para aque-
les que têm a voz sem palavras.
Esse livro contém noções sobre a neurobiologia, estresse, desenvolvimento do comportamento e
emoções.

Bons Estudos!

Erika Zanoni Fagundes Cunha

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COMPORTAMENTO ANIMAL PARA O DIREITO: UM NOVO NICHO PARA ADVOGADOS

A autora
Possui graduação em Medicina Veterinária pela Universidade Federal do Paraná
(2003), especialização em Neurociência Clínica (2020), especialização em Neuroges-
tão (2020), mestrado em Ciências Veterinárias pela Universidade Federal do Paraná
(2005) e doutorado em Zoologia pela Universidade Federal do Paraná (2019). É pós-
-graduanda em Neuromarketing e neurobranding (2021). Tem experiência na área de
comportamento, atuando principalmente nos seguintes temas: Neurogestão, neuroci-
ência, estresse, transtornos mentais, intervenções assistidas por animais e meio am-
biente. No ensino superior atua desde 2006, como docente. Escreveu um dos capítulos
do livro “As vinte melhores estratégias do ensino do bem-estar animal” publicado pela
World Animal Protection:” em 2015. Publicou o capítulo “Ensaios de uma cosmo visão
teleológica para uma elaboração de uma legislação específica da TAA” que foi a base
do novo projeto de Lei do Congresso Nacional a respeito da Intervenção Assistida por
Animais. É membro da Animal Behavior Society, da Sociedade Brasileira de Neuro-
ciência e Comportamento e Sociedade Brasileira de Etologia. Atualmente atua como
diretora das relações institucionais do Centro Superior de Ensino dos Campos Gerais
(CESCAGE). No setor de extensão, coordena o grupo Mascotes da Alegria que realiza
intervenções assistidas por animais há 11 anos. Na pós-graduação é coordenadora da
residência de saúde coletiva. Atua também na gestão do Colégio Vila Militar CESCAGE
e como docente no ensino Fundamental II na disciplina: Cuidar de animais.

erika.e.zanoni erika_zanoni erikazanbr@yahoo.com.br www.psiquiatriaanimal.com.br


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COMPORTAMENTO ANIMAL PARA O DIREITO: UM NOVO NICHO PARA ADVOGADOS

Sumário
A autora................................................................................................................................. 3
Prefácio.................................................................................................................................. 6
Apresentação......................................................................................................................... 8
Introdução............................................................................................................................. 9
Capítulo 1 – Os Termos.......................................................................................................10
Emoção, sentimento, medo, ansiedade e estresse........................................................10
Comportamento............................................................................................................... 11
Fisiopatológicos ............................................................................................................... 11
Cognição...........................................................................................................................12
Bem-estar animal............................................................................................................12
Qualidade de vida animal...............................................................................................13
Enriquecimento ambiental.............................................................................................13
Capítulo 2 – Ecologia Comportamental............................................................................15
Atitudes de altruísmo e cooperação...............................................................................16
Agressividade, crueldade e dominância.........................................................................19
Capítulo 3 - Comportamento e bem-estar de animais de cães ..................................... 22
Desenvolvimento dos cães............................................................................................. 23
Comunicação oral de cães.............................................................................................. 24
Linguagem corporal....................................................................................................... 25
Síndrome do animal espancado.................................................................................... 26
Inteligência dos cães....................................................................................................... 26
Capítulo 4 - Comportamento e bem-estar de animais de gatos ................................... 27
Gatos e suas particularidades fisiológicas.................................................................... 27
Desenvolvimento dos gatos........................................................................................... 28
Comportamento felino................................................................................................... 28
Caça – 6 A 8 horas por dia ......................................................................................... 29
Refeições – 10 vezes ao dia.......................................................................................... 29
Água .............................................................................................................................. 29
Marcações e checagem várias vezes ao dia................................................................. 30
Eliminação – privacidade............................................................................................. 30
Sono (normalmente a maior parte do dia)................................................................ 30
Comportamento sexual felino..................................................................................... 30

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COMPORTAMENTO ANIMAL PARA O DIREITO: UM NOVO NICHO PARA ADVOGADOS

Cuidados corporais........................................................................................................31
Valorização das coisas simples da vida .......................................................................31
Análise dos riscos ..........................................................................................................31
Comportamento social .................................................................................................31
Saiba mais ......................................................................................................................31
Sinais comportamentais de que o gato está gostando do ambiente e da situação:.31
Sinais que o gato está odiando ou está estressado:................................................... 32
Capítulo 4 - Comportamento e bem-estar de animais de Utilizados em turismo e entre-
tenimento............................................................................................................................ 33
1) Bastidores da pseudoalegria humana às custas do sofrimento animal:............... 33
Animais utilizados em atrações turísticas.................................................................. 33
Animais utilizados em Circo........................................................................................ 33
Animais em Zoológicos e em confinamento............................................................... 34
Sugestão de avaliação do ambiente............................................................................. 35
Tabela 1 – Medida de qualidade de vida no ambiente segundo broom (2005)....... 35
Manejo nutricional........................................................................................................ 38
Sistemas de marcação utilizados................................................................................. 47
Inibição da reprodução ................................................................................................ 47
Manejo sanitário........................................................................................................... 48
2).Desenvolvendo ferramentas para educar visitantes no turismo de observação de
animais ............................................................................................................................... 49
Animais utilizados em touradas, rodeios, vaquejadas e farra do boi....................... 49
Capítulo 5 - Comportamento e bem-estar de animais de ............................................ 50
Produção ............................................................................................................................ 50
Capítulo 6 – Transtornos mentais dos animais ...............................................................51
1 - Transtornos mentais em animais...........................................................................51
1.1 - Ansiedade............................................................................................................... 52
1.2 - Transtornos compulsivos..................................................................................... 53
1.4 - Depressão ............................................................................................................. 56
1.5 - Síndrome de pandora........................................................................................... 59
Considerações finais:..........................................................................................................61
Referências.......................................................................................................................... 62

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COMPORTAMENTO ANIMAL PARA O DIREITO: UM NOVO NICHO PARA ADVOGADOS

Prefácio
Honrado com o convite para tecer algumas considerações a respeito do notável tra-
balho a respeito do comportamento animal, no que tange a seus desdobramentos no
Direito Animal. O propósito deste material é passar um estudo introdutório, para apli-
cação no mundo jurídico à disposição para o aperfeiçoamento dogmático do Direito
Animal brasileiro.
“No plano constitucional, destaca-se a singular regra da proibição da crueldade, prevista no
art. 225, §1º, VII, in fine, da Constituição brasileira de 1988, repetida em Constituições estaduais,
a partir da qual o Direito Animal brasileiro se inaugura e se espalha pelo ordenamento jurídico
nacional.

No plano legal, apontam-se o Decreto 24.645/1934 e o art. 32 da Lei 9.605/1998


como as normas gerais do sistema de proteção de direitos animais, sem ignorar a
existência de diversos códigos e leis de defesa animal, com matizes e pontos de vista
diversos, no âmbito dos Estados e Municípios brasileiros, carentes, ainda, de adequada
sistematização científica e integração com o sistema geral de proteção animal.
O Direito Animal se consolida, no plano jurisprudencial, a partir do julgamento, no
final de 2016, da Ação Direta de Inconstitucionalidade 4983 (ADIn da vaquejada), pelo
Supremo Tribunal Federal (STF). Ainda que outros precedentes da mesma Corte já ti-
vessem proibido certas práticas humanas cruéis contra animais, como a “farra do boi”
e as “rinhas de galos”, esse foi o marco histórico da autonomia do Direito Animal e da
sua separação epistemológica em relação ao Direito Ambiental.”
Por fim, a doutrina do Direito Animal se expande, contando, hoje, com vários livros
e publicações especializados, além de gradual presença nas faculdades de direitos, não
apenas nos cursos de graduação, como também em pós-graduações.

É um novo nicho para o exercício da advocacia!

Recomendamos a leitura de Introdução ao Direito Animal Brasileiro, Vicente de Pau-


la Ataíde Júnior.

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COMPORTAMENTO ANIMAL PARA O DIREITO: UM NOVO NICHO PARA ADVOGADOS

Revista Brasileira de Direito Animal, e-issn: 2317-4552, Salvador, volume 13,


número 03, p. 48-76, Set-Dez 2018.

JOSÉ SEBASTIÃO FAGUNDES CUNHA


Desembargador do TJPR

Doutor em Direito pela UFPR – Pós-doutorado pelo CES da Universidade de


Coimbra

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COMPORTAMENTO ANIMAL PARA O DIREITO: UM NOVO NICHO PARA ADVOGADOS

Apresentação
O direito dos animais consiste em um conjunto de leis com a finalidade de protegê-
-los da conduta dos seres humanos. Práticas cruéis, podem causar angústia, sofrimen-
to, esgotamento físico e psíquico. A legislação está avançando! Em 2018 temos o código
de proteção animal da Paraíba. Nesse mesmo ano, em Santa Catarina, os animais fo-
ram considerados sujeitos de direitos. Em 2020, observam-se animais sendo sujeitos
no processo (caso Jack). Em 2016, em julgamento no STF, pela primeira vez fala-se em
senciência animal. Mas por que judicializar? Esse fenômeno nos permite pedir que
ninguém mais feche os olhos para reconhecimento científico do direito animal.
Os animais são sencientes, isto é, são capazes de sentir dor, medo, prazer e felicida-
de. Através da interpretação de sinais fisiológicos ou do comportamento deles pode-
mos constatar que eles demonstram o que estão sentindo.
O bem-estar animal é uma ciência nova e a sociedade precisa aumentar o seu conhe-
cimento sobre o assunto. Se os animais não podem manifestar sua motivação interna e
seu comportamento natural ao qual foi predestinado, seu bem-estar está comprometi-
do e o relacionamento com o meio fica prejudicado, além do aparecimento de diversas
enfermidades decorrentes do estresse crônico (cistites, úlceras dermatopatias etc.) o
que é tutelado judicialmente.
Evidências recentes reconhecem que os animais também podem sofrer de trans-
tornos mentais. Fatores como abandono, restrição da liberdade, estresse, trauma e
abuso podem pré-dispor o aparecimento de doenças mentais nos animais, tais como:
depressão, transtorno do estresse pós trauma, ansiedade e transtornos compulsivos.
Pelo desconhecimento do assunto, os animais não recebem os cuidados médicos e so-
frem de distúrbios psicológicos extremos e debilitantes e simplesmente morrem sem
cuidados adequados, o que pode levar à reparação de dano.
O texto a seguir presente ser uma contribuição para o avanço do reconhecimento
das emoções dos animais, além de informar a respeito do desenvolvimento de trans-
tornos mentais em decorrência dos maus tratos. O seu conteúdo também se presta
como alerta e encorajamento para os profissionais que atuam na melhoria do bem-es-
tar animal e aos profissionais do direito no combate ao que é de direito em relação ao
bem-estar animal e os cuidados adequados.

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COMPORTAMENTO ANIMAL PARA O DIREITO: UM NOVO NICHO PARA ADVOGADOS

Introdução
Os animais possuem necessidades emocionais como os seres humanos. Eles neces-
sitam de uma estimulação ambiental complexa e experimentam sofrimento físico e
psicológico. Quando os mantemos com restrições de oportunidades de execução dos
comportamentos normais para a espécie, observamos desordens comportamentais e
problemas graves relacionados ao medo e à ansiedade. Os comportamentos desloca-
dos, portanto, teriam como função inicial uma compensação para a frustração ou ina-
dequação do meio.
O bem-estar é uma ciência voltada para o conhecimento e a satisfação das neces-
sidades básicas dos animais. Determina o grau em que as necessidades físicas, psi-
cológicas, comportamentais, sociais e ambientais de um animal são satisfeitas, bem
como sua capacidade de se adequar a situações. Segundo Broom & Molento (2004) o
bem-estar animal é a tentativa de um indivíduo de se relacionar com o ambiente. Se o
animal não pode manifestar sua motivação interna, seu bem-estar está comprometido.
Bem-estar psicológico, segundo Snowdon (1991 apud GASPAR 2003) é a capacidade de
plasticidade comportamental de se adaptar ás mudanças ambientais.
O reconhecimento de que animais são seres sencientes resulta numa discussão mais
profunda sobre bioética e bem-estar animal. Animais são constantemente vítimas de
violência, tráfico, separação precoce da mãe, abandono, etc. Todos esses fatores pré-
-dispõem ao aparecimento de doenças físicas e mentais. Precisamos também rever as
condições de alojamento desses animais em locais empobrecidos, sem a possibilidade
de manifestação dos comportamentos naturais. Ademais, modelos animais são mui-
to utilizados na neurociência para estudar doenças humanas, mas quase não se fala
que animais não humanos possam apresentar alterações psiquiátricas. (BOURIN et al.,
2007).
O presente trabalho instiga à comunidade do direito enfrentar temas como a ocor-
rência de transtornos mentais em animais. Por fim, o desenvolvimento de estudos em
Bem-Estar Animal deverá levar em conta os efeitos proporcionados por essas patolo-
gias em questão, combater seus efeitos será de grande importância para a elevação de
seu bem-estar.

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COMPORTAMENTO ANIMAL PARA O DIREITO: UM NOVO NICHO PARA ADVOGADOS

Capítulo 1 – Os Termos
Emoção, sentimento, medo, ansiedade e estresse
Uma das definições mais simples de emoção refere-se à manifestação de reações
psicomotoras, geralmente acompanhadas de alterações neurovegetativas em resposta
a um estímulo ambiental. Uma das teorias gerais das emoções sustenta que o elemento
comum ligando todas as emoções é que elas representam alguma reação a um “even-
to reforçador” ou a sinais reforçadores condicionados. Os reforçadores podem atuar
como estímulos recompensadores ou punitivos (BRANDÃO, 2004). A emoção é um
sinal quase instintivo, o sentimento é interpretação. Charles Darwin, pai da teoria da
evolução, observou que os animais apresentam emoções como felicidade, surpresa e
raiva. O pesquisador português Damásio (2009) escreveu a teoria mais aceita pela co-
munidade científica sobre as emoções animais, mas não sobre os sentimentos.
O medo é uma sensação inata de desconforto quando um animal é confrontado com
uma ameaça ao seu bem-estar ou à sua própria sobrevivência, a partir dele ocorrem
respostas comportamentais diversas. Nessa situação o perigo é real e definido, o ani-
mal percebe que existe um risco a sua integridade física. Ansiedade é o medo infun-
dado, não real e desproporcional. A ocorrência repetida do medo pode provocar uma
reatividade neuroendócrina ou autonômica intensa e duradoura. (BRANDÃO, 2004;
MELO, 2010; EVERLY; LATING, 2013).
Segundo Fowler (1986 apud ACCO; PACHALY; BACILA, 1999), o estresse pode ser
definido como um processo fisiológico, neuroendócrino, pelo qual passam os seres
vivos quando enfrentam alguma mudança ambiental. As principais alterações com-
portamentais incluem aumento da agressividade e tendência ao isolamento. Animais
cronicamente estressados podem apresentar reação exagerada do sistema nervoso
simpático e elevação de pressão arterial, diminuição de insulina, aumento do risco
de diabetes, predisposição a úlceras estomacais e duodenais, desequilíbrio do sistema
imunológico e diminuição do interesse em buscar parceiros sexuais (FOWLER, 1986
apud ACCO; PACHALY; BACILA 1999; MELO, 2010; RUIZ et al., 2007).
As principais reações de um animal, frente a um evento adverso é de lutar (enfren-
tamento), fugir ou congelar. Essas reações são variáveis de acordo com a espécie, se é
predador ou presa ou ainda, variam de acordo com a personalidade animal. Charles
Darwin, considerado o pai da neurociência afetiva, publicou em 1872 o seu trabalho
de 34 anos de pesquisa no livro A expressão das emoções no homem e nos animais. Ele
chegou a duas conclusões principais: as emoções dos animais humanos e não huma-
nos são análogas e as emoções básicas são semelhantes em várias espécies e culturas.
Existem as emoções básicas e as complexas e estas estão relacionadas a vários fato-
res. O processamento emocional se dá por manifestações comportamentais, fisiológi-
cas e cognitivas.

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COMPORTAMENTO ANIMAL PARA O DIREITO: UM NOVO NICHO PARA ADVOGADOS

Comportamento
O corpo fala, expõe verdades. Quem diz que um animal é traiçoeiro é porque não
tem conhecimento de linguagem não verbal. De uma maneira geral, o comportamento
consiste de atitudes que o animal exibe. Entretanto, essas ações não podem ser restri-
tas apenas aos tipos de locomoção, mas consiste em outros conjuntos de movimentos
sutis. Bons exemplos são as emissões de sons pela boca ou bico, os movimentos das
orelhas, o balançar da cauda, a liberação de odor e até mudança de coloração. O com-
portamento é uma forma de comunicação do meio interior para o exterior. (DEL-CLA-
RO, 2004).

Fisiopatológicos
Os circuitos neurais que respondem ao estresse pertencem ao sistema nervoso
central (SNC) e periférico (SNP), organizados de maneira específica para cada agente
estressor e de maneira geral, a percepção do estresse ativa o eixo hipotálamo-pitui-
tária-adrenal (HPA) (BRANDÃO; GRAEFF, 2014). Fowler (2008) dividiu os agentes
estressores em quatro grupos: somáticos (sensações físicas), psicológicos (frustração),
comportamentais (motivações internas) e mistos (alimentação, proteção, sanidade,
etc.).
O conjunto das respostas fisiológicas desencadeadas frente a um agente estressor
é chamado de Síndrome Geral da Adaptação (SGA). Essa síndrome pode ser dividida
em três estágios: fase de alarme, fase de adaptação e fase de exaustão ou esgotamento.
A fase de alarme ocorre imediatamente após o perigo e há predominantemente uma
resposta do sistema nervoso autônomo simpático, resultando na liberação de catecola-
minas (adrenalina e noradrenalina) (ORSINI; BONDAN, 2006).
Na fase de adaptação, tem-se a liberação de glicocorticoides e continuação das ativi-
dades do sistema nervoso autônomo. A retroalimentação dos glicocorticoides é dirigida
primariamente à hipófise e aos neurônios hipotalâmicos produtores de CRH (hormô-
nio liberador de corticotrofina) e AVP (vasopressina). Na pituitária, os glicocorticoides
inibem a síntese de pró-opiomelanocortina (POMC) que é a molécula percursora de
hormônio adrenocorticotrófico (ACTH). Tanto os receptores do tipo 1 (mineralocor-
ticoides) e do tipo 2 (glicocorticoides) podem mediar a retroalimentação negativa. O
estresse crônico provoca estimulação exagerada do simpático e predispõe à elevação
de pressão arterial, diminuição de insulina, aumento do risco de diabetes; no estôma-
go ocorre a diminuição da barreira de muco, desequilíbrio do sistema imunológico e
diminuição da libido. A fase de exaustão é o período de falência orgânica (ORSINI;
BONDAN, 2006; MELO, 2010).
Uma hipersecreção de CRH tem sido sugerida como anormalidade primária resul-
tando em uma hipersecreção transitória de ACTH seguida de uma hipertrofia funcio-
nal e anatômica da adrenal, com retorno de secreção normal de ACTH. Esta secreção

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anormal seria então o resultado da estimulação excessiva da hipersecreção de CRH


equilibrado por um aumento da retroalimentação negativa causada pelo aumento do
cortisol. A hipersecreção de CRH pode ser resultado de alterações de neurotransmisso-
res cerebrais sabidamente envolvidos na regulação do eixo HPA. A acetilcolina estimula
a liberação pelo hipotálamo de uma maneira dose-dependente. A serotonina também
tem seu papel no controle do eixo HPA, já que sua depleção em ratos produz ausência
de supressão no teste de dexametasona (NETO; GAUER; FURTADO, 2003).
Quando o animal sente medo, a amígdala dispara a secreção dos hormônios para lu-
tar ou fugir, mobilizando vários sistemas para dirigir energia para órgãos importantes.
A extensa rede de ligações neurais da amígdala permite que, durante uma emergência
emocional, ela assume e dirija grande parte do resto do cérebro, inclusive a mente
racional. A amígdala é capaz de perpetuar a resposta de estresse mesmo depois do
trauma terminar (GOLEMAN, 2005).
Trabalhos recentes ligados à psiconeuroimunologia mostram a intercomunicação
entre o sistema emocional, o sistema imunológico, sistema endócrino e sistema nervo-
so central quando atribuímos um valor aquela emoção estamos criando moléculas da
emoção (neuropeptídios) que podem fortalecer ou deprimir.

Cognição
Aqui temos a atuação do córtex pré-frontal para a interpretação da emoção. Por
exemplo, quando se pergunta às pessoas se o copo está meio cheio ou meio vazio. De-
pendendo do estado emocional a resposta será diferente.
Existem polêmicas a respeito do processamento cognitivo emocional dos animais,
mas sabe-se que os processos cognitivos e emocionais estão entrelaçados com relação
à resolução de problemas. Animais estressados têm dificuldade de aprendizagem e de
execução de tarefas simples do cotidiano.

Bem-estar animal
O termo bem-estar animal refere-se ao estado de um indivíduo em relação ao seu
ambiente, e isso pode ser medido. Os indicadores de bem-estar reduzido incluem: es-
perança de vida reduzida, crescimento e reprodução prejudicados, danos corporais,
doenças, imunossupressão, aumento da atividade adrenal e comportamentos anor-
mais. Para o bem-estar animal, alguns requerimentos para o manejo correto devem
ser considerados tais como o fornecimento de uma dieta balanceada e água ad libitum,
enriquecimento do recinto, atendimento às características do habitat natural da espé-
cie, além da ausência de barulho (BROOM, 1991; BROOM; MOLENTO, 2004; FELIPPE;
ADONIA, 2007).
Sabe-se pouco a respeito dos sentimentos do animal, mas pode-se reconhecê-los
através de respostas comportamentais e fisiológicas. O sofrimento é um termo subje-

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tivo, refere-se aos sentimentos dos animais e é o aspecto mais importante da ausência
de bem-estar, mas essa definição engloba alguns efeitos sobre os animais além do
sofrimento. Não é cientificamente desejável para definir bem-estar apenas em termos
subjetivos de experiências como sofrimento (BROOM, 1991).
Para facilitar o estudo da avaliação do bem-estar, a Farm Animal Welfare Council
desenvolveu uma escala das “5 Liberdades” que identificam os elementos que determi-
nam a percepção de bem-estar pelo próprio animal e definem as condições necessárias
para promover esse estado (WEBSTER, 2016). São elas:
1. Livre de fome e de sede - acesso à água fresca de qualidade e a uma dieta ade-
quada às condições fisiológicas dos animais
2. Livre de desconforto - fornecimento de um ambiente adequado que inclua um
abrigo com uma zona de descanso confortável
3. Livre de dor, ferimentos e doença - prevenção de doenças, diagnóstico rápido e
tratamentos adequados.
4. Liberdade de expressar comportamento normal - fornecimento de espaço
adequado, instalações adequadas e a companhia de animais da mesma espécie
5. Livre de estresse, medo e ansiedade - assegurando condições e maneio que
evitem sofrimento mental.

Qualidade de vida animal


O termo bem-estar animal está caindo em desuso, dando espaço para a avaliação
da qualidade de vida. Existe uma necessidade de criação de escalas psicométricas para
avaliar a qualidade de vida para animais confinados em cativeiro.
King e Landau (2003) investigaram uma medida da “felicidade” (qualidade de vida)
de chimpanzés com base na característica humana do bem-estar subjetivo. Os trata-
dores em 13 zoológicos usaram uma escala de pontos para avaliar 128 chimpanzés. Os
itens incluíram avaliação do prazer derivada de interações sociais, equilíbrio de humor
positivo e negativo e sucesso na obtenção de metas. Os quatro itens constituíram um
único fator que apresentava excelente confiabilidade entre intermediários e era tem-
porariamente estável. O exame da relação entre o bem-estar subjetivo de chimpanzés
e seis fatores de personalidade, cinco dos quais se assemelhavam aos fatores humanos
do Big Five, mostraram que a qualidade de vida do chimpanzé variou positivamente
com os fatores dominância e extroversão. O bem-estar subjetivo foi negativamente
correlacionado com a frequência de comportamentos submissos. A idade e o sexo não
estavam significativamente relacionados ao bem-estar subjetivo.

Enriquecimento ambiental
O meio ambiente considerado apropriado é aquele em que os animais satisfaçam

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COMPORTAMENTO ANIMAL PARA O DIREITO: UM NOVO NICHO PARA ADVOGADOS

suas necessidades (BROOM, 2005). Após a identificação de problemas relacionados


com o bem-estar, deve-se realizar uma estratégia no manejo e o enriquecimento am-
biental é uma forma de melhorar o funcionamento biológico do animal e de proporcio-
nar bem-estar psicológico e, por definição, de acordo com Newberry (1995), existem
cinco tipos, sendo eles:
- Físico: Está relacionado à estrutura física do recinto, consiste na introdução de
aparatos que deixam o ambiente semelhante ao habitat natural da espécie;
- Sensorial: Consiste em estimular os cinco sentidos do animal. Sons como vocaliza-
ção, odores de fezes e urina são exemplos;
- Cognitivo: Objetiva a capacidade mental do animal e ocorre com dispositivos me-
cânicos a serem manipulados;
- Social: Caracterizado pela interação intra e interespecífica que pode ser criada no
ambiente.
- Alimentar: pode-se fazer variações na alimentação, de acordo com o hábito de cada
espécie, com a finalidade de promover um ambiente mais próximo do natural.
Os recintos dos animais criados com restrição de liberdade devem atender às neces-
sidades biológicas desses, proporcionando um adequado nível de bem-estar. É neces-
sário que o local tenha um espaço com metragem adequada, que tenha várias opções
de enriquecimento e que permita interações sociais. Fonseca e Genaro (2015) investi-
garam os parâmetros mínimos para a manutenção de gatos domésticos confinados. Os
resultados revelaram que os felinos necessitam da presença de uma área elevada suge-
rindo um design mais apropriado para que as necessidades comportamentais desses
animais sejam garantidas, o que pode influenciar significativamente o seu bem-estar.

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Capítulo 2 – Ecologia
Comportamental
Ecologia comportamental é compreender como um comportamento de um animal
está adaptado ao ambiente em que ele vive. As abordagens evolutivas estão em ascen-
são nas ciências sociais e têm o potencial de trazer um quadro conceitual abrangen-
te para o estudo do comportamento. De Waal (2002) afirmou que uma remodelação
Darwiniana das ciências sociais parece inevitável, até desejável. A partir da biologia,
aprende-se que nem todas as características típicas de cada espécie são necessaria-
mente vantajosas, e da neurociência aprende-se que nem todas as habilidades ou ten-
dências psicológicas precisam necessariamente ter seus próprios circuitos de cérebro
especializados. Mas mesmo que o conceito de adaptação seja difícil de aplicar, a psico-
logia faria bem em começar a olhar o comportamento à luz da evolução.
A regulação comportamental por neuropeptídios parece ser um mecanismo comum
associado com diferenças de nível de espécies em sistemas sociais entre animais. A
seleção natural atua na regulação de comportamentos semelhantes através de ações
notavelmente convergentes de moduladores. A perspectiva relativamente nova de es-
teroides como intrínsecos modificadores de circuitos no controle de comportamentos
é etiologicamente relevante (REMAGE-HEALEY, 2014).
Tinbergen (1963) foi um grande estudioso sobre a questão da causalidade nas Ci-
ências Biológicas. Neste artigo que Tinbergen abordou os diferentes níveis de análise
dentro da etologia, abordagem esta que, posteriormente, os biólogos evolucionistas
denominarão como “as quatro questões de Tinbergen” (FIGURA 1).

FIGURA 1 — ABORDAGEM DOS DIFERENTES NÍVEIS DE ANÁLISE DENTRO DA


ETOLOGIA.
Causa imediata ou próxima: Está Ontogênese ou Ontogenia: Refere-se
relacionada aos mecanismo fisiologicos aos fatores e contextos de desenvolvimento
inerentes ao funcionamento do sistema daquele comportamento ao longo da
nervoso na emissão de um comportamento. história de vida do sujeito. A pergunta a ser
COMO? respondida: COMO?

Filogenese ou Causa Filogenética: Está


Causa imediata ou próxima: Está
relacionada ao estudo da história evolutiva
relacionada aos mecanismo fisiologicos
do comportamento em questão, o que
inerentes ao funcionamento do sistema
envolve pesquisas comparativa deste mesmo
nervoso na emissão de um comportamento.
comporamento entre as diferentes espécies.
COMO?
Por que existe?

FONTE: Adaptada de Tinbergen (1963).

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COMPORTAMENTO ANIMAL PARA O DIREITO: UM NOVO NICHO PARA ADVOGADOS

Atitudes de altruísmo e cooperação


De Waal (1989) foi o pioneiro a revelar que não somos a única espécie que mostra
os rudimentos de uma série de comportamentos pró-sociais, incluindo reconciliação,
empatia, consolação de terceiros, uma aversão à desigualdade e uma sensação de jus-
tiça. Além disso, em suas observações de primatas relata que existe reconciliação após
conflitos.
Algumas das questões mais fundamentais sobre as origens evolutivas, nossas rela-
ções sociais e a organização da sociedade estão centradas em questões de altruísmo e
egoísmo. A evidência experimental indica que o altruísmo humano é uma força pode-
rosa e é único no mundo animal. No entanto, existem estudos que comprovam altru-
ísmo em outras espécies. Dependendo do meio ambiente, uma minoria de altruístas
pode forçar a maioria dos indivíduos egoístas a cooperar ou, inversamente, alguns
egoístas podem induzir um grande número de altruístas ao egoísmo. As atuais teorias
evolutivas baseadas em genes não podem explicar padrões importantes de altruísmo
humano e animal, apontando para a importância tanto das teorias da evolução cultural
quanto da co-evolução da cultura genética (FEHR; FISCHBACHER, 2003; SUCHAK et
al., 2016).
Animais que vivem juntos tem um potencial de ajudar uns aos outros para que
juntos possam prosperar em benefício da espécie. Esses comportamentos estão apare-
cendo com bastante frequência, especialmente o auto sacrifício sendo estudada na bio-
logia evolutiva. O altruísmo recíproco (reciprocidade) é quando um animal se sacrifica
em prol de outro, mas eventualmente os favores retornam. Embora alguns animais
tenham essa capacidade de reciprocidade, ela não é tão comum talvez porque uma
população altruísta seria mais vulnerável à invasão de indivíduos felizes com a ajuda,
porém ansiosos em esquecer a restituição. Desertores reduzem a aptidão dos ajudan-
tes. Esse problema pode ser ilustrado pelo conhecido “dilema do prisioneiro”, baseado
em uma situação humana em que ele pode escolher desertar enquanto o outro coopera
(ALCOCK, 2010).
A bondade é uma motivação individual de praticar o bem. Associa-se ao sentimento
de compaixão, que é a necessidade de aliviar o sofrimento dos outros, e ao altruísmo,
que é a emoção social que dela deriva. Estes sentimentos estão na base de compor-
tamentos pró-sociais e pró-ambientais importantes, que implicam a cooperação e a
confiança nos outros. A espécie humana é rotineiramente retratada como sendo capaz
de cooperar, enquanto que os primatas são considerados muito competitivos (LEN-
CASTRE, 2010; SUCHAK et al., 2016).
Bartal et al. (2011) publicaram um estudo que revela que ratos preferem sol-
tar os companheiros do que a recompensa ofertada (chocolate). Os roedores também
mostram elementos de empatia e compaixão proativa. Um estudo demonstra que os
ratos quando estão alojados com outros que estão sofrendo com dor, apresentam an-
siedade e sofrimento como se estivessem passando pela mesma situação (MARTIN et

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COMPORTAMENTO ANIMAL PARA O DIREITO: UM NOVO NICHO PARA ADVOGADOS

al., 2015).
Todas as espécies respondem aos chamados da natureza e invocam um conjunto
de sentimentos que governam os instintos. A ética, o reconhecimento do sofrimento
do outro, a cooperação, a evolução do altruísmo são assuntos que estão começando
a aparecer e a classificar alguns animais como portadores de valor moral. Mas como
um animal pode evoluir sacrificando-se em favor de outros e assim correr o risco de
morrer ou ficar doente? Vários estudiosos tentaram responder essa pergunta; Darwin
(1872) iniciou relatando que se organizam apenas por alimentos, território e reprodu-
ção. Hamilton começou a elucidar, explicando que agem por uma questão de parentes-
co (vantagem inclusiva). Mas foi Trivers (1971) quem apresentou o conceito do altru-
ísmo recíproco, que consiste em oferecer e receber ajuda, inclusive entre não parentes.
A ajuda em situações tensas, o tratamento de doentes, deficientes e machucados
são comuns entre os primatas. Os gorilas são exemplos de animais sociais que vivem
em grupos relativamente estáveis com o objetivo do enfrentamento das adversidades.
Apresentam comportamentos afiliativos (brincadeiras e catação), e também agonísti-
cos (limites impostos pela ameaça). Estão sempre dispostos a compartilhar alimentos,
entrar no sentimento do outro (ressonância empática) e se defendem mutuamente
(LENCASTRE, 2010).
No trabalho de Back (2015) foram observados comportamentos afiliativos, em ma-
caco-prego e a maioria correspondeu às brincadeiras, sobretudo entre os juvenis e
desses com o macho adulto. As catações (22,6%) foram emitidas principalmente das
fêmeas para os juvenis, do macho para as fêmeas e do macho para os juvenis. Dos com-
portamentos cooperativos, grande parte correspondeu ao carregamento aloparental
efetuado pelos juvenis, fêmeas, subadultos e macho. Quanto à partilha, a maioria foi
emitida para os juvenis, sobretudo pelas fêmeas, seguido do macho, juvenis e subadul-
tos.
Suchak et al. (2016) realizaram o teste de cooperação oferecendo um problema para
os chimpanzés que exigia a colaboração de dois a três membros. Foram analisadas 94
horas de vídeo filmados durante a tarefa cooperativa. O experimento foi realizado três
vezes por semana, durante uma hora. O resultado foi que os pesquisadores observa-
ram cinco vezes mais comportamentos cooperativos em detrimento dos agressivos
ou indiferentes. Foram observados também 28% de animais oportunistas que eram
descartados pelos próprios animais do grupo para novas tarefas (muitas vezes com
comportamentos de protesto). Em nove dos dez casos, os animais reconheciam a ví-
tima e em quatro casos foram observados consolo. Esse resultado contrasta a ideia de
que chimpanzés são competitivos e ressalta que evitam concorrência.
Para os animais sociais, o poder de intercomunicação entre os membros de uma
mesma comunidade e com outras espécies, ou entre sexos, assim como entre jovens e
velhos, é de maior importância. Muitos macacos gostam de acariciar e receber carinhos
(DARWIN, 1872). Os evolucionistas têm enfatizado o fato de que a emergência da vida

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COMPORTAMENTO ANIMAL PARA O DIREITO: UM NOVO NICHO PARA ADVOGADOS

social está associada à sua importância como mecanismo de proteção contra predado-
res (DURHAM, 2003). Além disso, as associações e formações de grupos preferenciais
entre machos e fêmeas (denominadas amizades) são estratégias para diminuir o risco
de infanticídio (PINHA, 2007). Segundo Lencastre (2010), comportamentos verdadei-
ramente altruístas, fundamentados na empatia e na cooperação acontecem com uma
frequência elevada. Nos primatas mais derivados, são observados no seio de contextos
sociais sofisticados em que intervêm os efeitos da empatia social e da empatia cogni-
tiva, que consiste na possibilidade de elaborar uma teoria da mente de outro animal.
Comportamentos de entreajuda em situações de aflição, de tratamento especial aos
animais feridos ou deficientes, comportamentos agressivos entre familiares na sequ-
ência de ações prejudicando outros familiares, são conjugados de empatia e simpatia
que apresentam um reconhecido valor afetivo ao nível humano (LENCASTRE, 2010).
Empatia seria definida basicamente como a capacidade de entrar no sentimento
do outro, permitindo compartilhar os estados afetivos dos outros, prever as ações de
indivíduos e estimular o comportamento pró social. Embora os mecanismos imedia-
tos de empatia sejam modulados por hormônios (ocitocina), existe uma discussão a
respeito da evolução das emoções e individualidade e vantagens reprodutivas. Os limi-
tes conceituais da empatia, no entanto, foram marcados por imprecisões de definição
baseados na imitação e contágio emocional. Algumas evidências sugerem que existe
também um “lado sombrio” da empatia, nomeada de inveja que são provocados pela
comparação social, a concorrência e a distinção entre grupos (GONZALEZ-LIENCRES;
SHAMAY-TSOORY; BRÜNE, 2013).
Os animais possuem uma disposição inata de sintonização emocional, o que acaba
demonstrando que a empatia não é exclusividade dos humanos. A preocupação com
o outro, os comportamentos amigáveis, a conclusão de que os benefícios para o grupo
são maiores do que para si e as tentativas de reduzir o sofrimento alheio, são demons-
trações de que a evolução dos humanos através da razão é questionável.
Os neurônios-espelhos são neurônios viso-motores que disparam tanto quando o
animal realiza uma atividade e o outro repete. Existe a teoria de que podem estar en-
volvidos com a empatia. Eles foram primeiro identificados no córtex pré-motor dos
macacos Rhesus na década de 90. Em estudos com imagem cerebral permitiram a
localização das áreas envolvidas no sistema espelho dos humanos: o sulco temporal.
superior (STS), a parte rostral do lóbulo parietal inferior, e o córtex pré-motor ventral
Os neurônios espelho podem estar envolvidos no desenvolvimento de funções impor-
tantes como linguagem, imitação, aprendizado e cultura; e lateralidade do corpo (PAS-
SOS-FERREIRA, 2011).
O bocejo contagioso é uma forma de facilitação de resposta encontrada em seres
humanos e outros primatas em que observar um modelo bocejando aumenta a chance
de que o observador também boceje. O bocejo contagioso parece ser mais facilmente
desencadeado quando os modelos têm um forte vínculo social com o observador e foi

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COMPORTAMENTO ANIMAL PARA O DIREITO: UM NOVO NICHO PARA ADVOGADOS

proposto que o bocejo contagioso está ligado à empatia. Uma possível maneira de tes-
tar esta hipótese é analisar se as respostas dos indivíduos diferem quando observam
modelos que bocejam ou realizam diferentes ações involuntárias (limpeza do nariz,
arranhões) e voluntárias (fechamento da mão, agitação do pulso) que não estão liga-
das à empatia. No estudo de Amici, Aureli e Call (2014) são testadas as quatro grandes
espécies de macacos com duas configurações diferentes, expondo-as a um experimen-
tador humano repetidamente realizando essas ações online, e os coespecíficos grava-
dos em vídeo repetidamente executando essas ações em uma tela. Examinaram quais
comportamentos estão sujeitos à facilitação da resposta, se esta foi desencadeada por
modelos humanos e coespecíficos registrados em vídeo e se todas as espécies apresen-
taram evidência de facilitação da resposta. Os resultados mostram que os chimpanzés
bocejaram significativamente mais quando, depois de assistir a vídeos de coespecíficos,
que bocejavam do que em condições de controle, e não o fizeram como resposta ao
aumento dos níveis de ansiedade.
De Waal (2010) afirmou que diversos comportamentos sociais dos macacos são
percursores de comportamentos morais humanos, incluindo obter a paz após algum
conflito. Este autor em suas observações de um grupo de chimpanzés, notou que após
uma luta, dois animais se “reconciliaram” através do toque das mãos. Dois outros
chimpanzés apareceram para consolar o derrotado.
Em primatas, indivíduos adultos despendem atenção e cuidado aos filhotes, mas
os cuidados aloparentais podem proporcionar algumas vantagens aos adultos, pois
os filhotes podem servir como uma espécie de passaporte para o acesso a outros ani-
mais ou fonte de alimento. As “tias” ou fêmeas subadultas auxiliam as mães. Embora
as adoções completas sejam fenômenos raros, elas foram documentadas em algumas
espécies. Em certas circunstâncias, uma fêmea pode amamentar um filhote de outra
mãe dela ou de outra espécie. No momento em que os benefícios são assimétricos,
favorecendo mais as mães, o comportamento de ajuda é circunstancial e é mais prati-
cado por indivíduos jovens e inexperientes, depois, a preocupação é com os próprios
filhotes. Quando os filhotes são muito pesados em relação ao peso das mães ou quando
as fêmeas dão à luz a vários filhotes simultaneamente, os indivíduos do grupo podem
auxiliar nos cuidados da prole, dando surgimento ao sistema bi parental e “materni-
dade comunitária” e a reciprocidade e a alternância de papéis entre fêmeas (GUERRA,
2003).

Agressividade, crueldade e dominância


A agressão é um tipo de interação social que pode ser definida como um compor-
tamento direcionado a outro indivíduo para lhe causar injúria, para advertir e esta
pode ser classificada como: predatória, por medo, irritável, territorial, instrumental,
comportamento defensivo, comportamento parental e conflito social. Com base nas
respostas a agressão pode ser dividida em: - agressão não afetiva ou predatória que

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COMPORTAMENTO ANIMAL PARA O DIREITO: UM NOVO NICHO PARA ADVOGADOS

envolve alterações mínimas de humor, tem sua origem hipotalâmica e os neurotrans-


missores envolvidos são acetil colina; - a agressão emocional que apresenta alterações
marcantes de humor e podem envolver neurotransmissores serotoninérgicos, cateco-
laminérgico, colinérgico e gabaérgico (SCÁRDUA; BASTOS; MIRANDA, 2009).
Os animais realmente podem expressar raiva através de atos agressivos, luta por
território, alimento e fêmeas. O animal agressivo obtém mais alimento, mantém seus
descendentes a salvo, têm melhores chances de acasalar e isso permite que tenha mais
descendentes. O circuito neural da raiva ainda não foi elucidado, mas sabe-se que a se-
rotonina está envolvida. Em machos a agressividade é maior quando os níveis de sero-
tonina são menores, nas fêmeas não se conclui de fato (MASSON; MCCARTHY, 2001;
SCÁRDUA; BASTOS; MIRANDA, 2009). Seres humanos não são os únicos animais que
matam membros de sua própria espécie. Em vez disso, outros animais infligem danos
letais aos outros de maneiras que podem ser altamente estratégicas. Chimpanzés, por
exemplo, matam uns aos outros de uma maneira organizada que pode envolver o uso
de objetos físicos para causar danos (GOODALL, 1986).
A agressividade é compreendida como parte do instinto animal, ou seja, é algo ina-
to. O infanticídio é uma ocorrência frequente entre animais e não só mamíferos. Pode
aparecer em vida livre ou quando confinados, sendo que, sem dúvida nenhuma, ocorre
em maior frequência no cativeiro e, mais especialmente, em situações nas quais os ani-
mais são isolados e privados dos estímulos fornecidos pela vida grupal. A inexistência
de experiência e estímulos promovidos pela vida em grupo não só diminui ou inibe
totalmente a fertilidade, como promove o infanticídio direto ou indireto, através do
abandono. No ambiente natural, está amplamente documentado, além do infanticídio
promovido por machos de outros grupos quando assumem a chefia de um grupo já
constituído, também o assassinato da cria de uma fêmea por outra não aparentada
(DURHAM, 2003; HRDY, 2000).
Segundo Narvaes (2013), a agressividade é regulada por uma vasta gama de neuro-
transmissores. A serotonina apresenta tantos efeitos inibitórios quanto estimulantes
na agressão, dependendo da região do cérebro onde suas concentrações são quantifica-
das ou quais os receptores estudados. Dopamina e o sistema mesocorticorticolímbico
são associados com estímulos relacionados a recompensas e também com a agressi-
vidade, em alguns casos estimulando, em outros reduzindo a impulsividade. O ácido
aminobutírico é o principal neurotransmissor inibitório da agressão.
Em animais laboratoriais, quando se bloqueia a liberação de serotonina nos neurô-
nios que a originam, uma das consequências é o comportamento impulsivo e agressivo.
De um modo geral, segundo Damásio (2009), o aumento do funcionamento da sero-
tonina reduz a agressão e favorece o comportamento social. O aumento do número de
receptores de serotonina-2 aumenta as relações sociais, cooperação e comportamento
de catação em primatas (RALEIGH; BRAMMER, 1993).
Os animais evitam conflitos pelo custo energético de uma disputa, a isso dá-se o

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COMPORTAMENTO ANIMAL PARA O DIREITO: UM NOVO NICHO PARA ADVOGADOS

nome de bloqueio da agressão. Tratando-se de defesa intraespecífica tem-se a submis-


são. Nesse caso, um dos animais exibe postura de submissão, o que bloqueia o ataque
do dominante. Além de evitar injúrias e morte, a submissão cria toda uma organização
hierárquica. Entretanto, os submissos acabam tendo baixos níveis de testosterona e
saem prejudicados na reprodução. Se o estado de submissão é crônico, sofrem conti-
nuamente ação dos hormônios do estresse (BRANDÃO; GRAEFF, 2014). Sackett (1991)
propôs que animais que habitualmente se comportam de uma forma extrovertida e
com disposição sociável, gozariam de maior bem-estar psicológico do que aqueles que
apresentam uma orientação depressiva e que evitam contato. Aqueles que se esforçam
para resolver o problema, prosperam mais. Em estudos com fêmeas de macacos viven-
do em hierarquia de domínio, observaram que os animais localizados cronicamente na
posição de subordinação, possuem duas vezes mais riscos de aterosclerose (SAPOL-
SKY, 2007).
Sapolsky (1989) observou que babuínos selvagens que vivem na África Oriental, em
hierarquias de dominância estável, os machos subordinados apresentam médica de
cortisol mais alta em relação aos animais dominantes. Além disso, os machos hiper-
cortisolêmicos são resistentes à dexametasona, ou seja, secretam menos corticotropina
em resposta a um desafio com CRF do que os machos dominantes. Essas observações
são interpretadas com auxílio dos dados comportamentais, sugerindo que esses ma-
chos subordinados estão sob estresse social sustentado.

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COMPORTAMENTO ANIMAL PARA O DIREITO: UM NOVO NICHO PARA ADVOGADOS

Capítulo 3 - Comportamento e
bem-estar de animais de cães
Os cães coexistem com os humanos há mais de 15.000 anos. Durante esse tempo,
tais mamíferos desempenharam várias funções desde alimentação, aquecimento até a
companhia. É a grande plasticidade genética que permitiu tamanha variação de habi-
lidades. Os animais necessitaram aprender a responder ao estado emocional do outro,
para o sucesso da interação social.
Ao longo da evolução, os animais desenvolveram habilidades para aumentar seu
sucesso na interação com os humanos. As quais podem estar relacionadas com a qua-
lidade de vida no ambiente doméstico. As principais características comportamentais
selecionadas relatadas em trabalhos incluem comportamentos de solicitação de cui-
dados, solicitação submissa de alimentos (lambedura facial), coragem, curiosidade,
brincadeira, redução do territorialismo, aumento de procura de contatos sociais e do-
cilidade (KUCZAJ 2013, BEAVER 2001, COPPINGER; COPPINGER 2001, HARE 2005).
A domesticação é um processo que envolve um número grande de animais selecio-
nados por muitas gerações para intensificar algumas características e tornar outras
secundárias. O resultado é uma espécie alterada com morfologia, fisiologia e com-
portamento. Compreender a domesticação e as suas implicações é fundamental para
interpretar os comportamentos dos cães e do homem. Muitos elementos da conduta
do cão lembram seu ancestral comum, o lobo, entretanto, os cães foram adquirindo
ao longo da evolução características que se assemelham aos humanos. As principais
diferenças são tamanhos menores do cão em relação aos lobos, pedomorfose (infan-
tilização), focinhos menores, maior contato visual dos cães e latidos como forma de
comunicação (FRANK 1980, BEAVER 2001, HARE et al. 2005, MIKLOSI et al 2003, YIN
2002).
Tem sido sugerido que as semelhanças funcionais no comportamento sociocogniti-
vo de cães e seres humanos emergiu como uma consequência das pressões de seleção
ambientais. Uma nova abordagem para explicar o efeito facilitador de domesticação de
cães revela que a seleção para dois fatores sob influência genética (cooperação visual e
atenção concentrada) pode ter levado de forma independente para o aumento da com-
preensão dos sinais comunicacionais humanos (FRANK 1980, GACSI; MACGREEVY
2009). McGreevy et al. (2009) sugeriu que as raças braquicefálicos podem responder
mais a estímulos na área central (ou seja, quando se olha para a frente), porque eles
são menos perturbados por estímulos visuais do campo periférico. Assim, a hipótese
de que esta mudança morfológica também pode influenciar o desempenho na tarefa
de escolha de duas vias, ou seja, as raças braquicefálicos possuem uma vantagem sobre
raças dolicocefálicas.

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COMPORTAMENTO ANIMAL PARA O DIREITO: UM NOVO NICHO PARA ADVOGADOS

É necessário enfatizar a importância do tratamento das emoções animais e con-


ciliar dados da neurociência com algumas evidências científicas a favor da evolução
dessas emoções. O animal é senciente, ou seja, é capaz de sentir dor, medo, prazer
e felicidade. Por meio de sinais fisiológicos ou do comportamento eles demonstram
o que estão sentindo. Se o animal não pode manifestar sua motivação interna e seu
comportamento natural a qual foi predestinado, seu bem-estar está comprometido e o
relacionamento com o meio fica prejudicado.
O bem-estar dos cães tem sido uma questão muito estudada nos casos de animais
de abrigo, de missões militares ou animais de trabalho (ROONEY et al, 2009; CHA-
NIOTAKIS et al 2016; GUNTER, 2019;). Apesar dos resultados dos estudos em nível
populacional, nesse trabalho, ressalta-se a importância da introdução do conceito de
qualidade de vida, que pretende individualizar os cuidados aos animais para que suas
necessidades físicas, psíquicas e cognitivas possam ser atendidas.
As evidências antropológicas sugerem que a relação entre homem e cachorro pode ser tão
antiga quanto a existência total do homem moderno. Os cães ajudaram a domesticar os seres
humanos, assim como os humanos ajudaram a domesticar os cães

Desenvolvimento dos cães


Os cães vêm ao mundo necessitando de muitos cuidados especiais. Os olhos, os
ouvidos inicialmente encontram-se fechados e o sistema nervoso imaturo. O desenvol-
vimento pediátrico vai sendo executado de acordo com o aparecimento ou desapareci-
mento de alguns reflexos. Sem qualquer noção espacial eles acabam ficando perto da
mãe pelo reflexo de esquadrinhamento, que consiste em localização de uma fonte de
calor e proximidade desta. Com 15 dias a regulação da temperatura melhora e com 5
semanas os filhotes já dormem sozinhos. Com 15 dias também ocorre a abertura dos
olhos e o animal começa a ouvir melhor.
Com 21 dias ocorre o período de reconhecimento das pessoas e de outros animais.
Nessa fase a figura da mãe é imprescindível para um bom crescimento emocional do
filhote e superar as adversidades ambientais. É um dos períodos mais importantes
de crescimento físico e psíquicos desses animais, também de maior desenvolvimento
motor e que começam a comer alimentos mais sólidos. Com 4 semanas já estão brin-
cando, correndo, alegres e empolgados. Nessa idade o complicado da relação são as
mordidas destrutivas que podem estimular um comportamento agressivo.
O período de socialização ocorre quando um indivíduo aprende a reconhecer várias espécies
de animais como algo aceito. Se for para o cão se relacionar mais tarde com outros cães, gatos,
cavalos e pessoas, ele deve conhecer membros de cada uma dessas espécies antes de 12 semanas
de idade (Bonnie V beaver, 2001).

Após esse período, existe a fase da rebeldia e desobediência que ocorre em cães por
volta das 13 às 16 semanas, período em que a vigilância deve ser redobrada. Esse pe-
ríodo também compreende a fase do medo e traumas ocorridos podem perdurar uma

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COMPORTAMENTO ANIMAL PARA O DIREITO: UM NOVO NICHO PARA ADVOGADOS

resposta emocional por logos períodos.


A maturidade ocorre quando o cão atinge por volta de 12 a 15 meses. Nessa fase há
diminuição de comportamentos de destruição e hiperatividade.

Comunicação oral de cães


Os cães durante o processo evolutivo aprenderam a se comunicar através da voca-
lização. Comunicam-se entre si e com outras espécies. Os sinais estão normalmente
relacionados aos contatos sexuais, relações familiares e nas relações sociais:
- Sinais sonoros nas relações sexuais:
Apelo sexual, cortejo e disputa entre machos.
- Relações familiares
Reações de abandono, chamado de filhote, de fome, de medo e isolamento
- Sinais sonoros nas relações sociais
Sinais de alarme, de deslocamentos e descoberta de comida.

Latir, rosnar e lamentar são todos os tipos comuns de vocalização, a seguir tem-se
os significados:
Gemer
A lamentação, por exemplo, é frequentemente um sinal de frustração. Os cães tam-
bém podem lamentar porque estão assustados ou porque não gostam de algo.
Rosnar
Pode ter duas conotações. Cães rosnam quando estão brincando ou para avisar que
não estão gostando de algo. O cão também adota uma certa postura corporal, para
acompanhar o rosnado. Isso está dizendo a qualquer pessoa ou animal ao redor que
esse cão pretende atacar, se provocado.
Latir
O latido de um cão pode ter diferentes significados, tais como alerta, frustração,
tédio, brincadeira. Alguns animais vocalizam em sinal de estresse. Foram testadas se
as chamadas de alarme de outras espécies estão relacionadas à ansiedade. Acredita-se
que uma capacidade de enganar coespecíficos tenha favorecido a evolução de cérebros
grandes em animais sociais, mas faltavam evidências de que tais comportamentos exi-
jam complexidade cognitiva.
Existem hipóteses que relacionam que animais com cérebros maiores são fa-
vorecidos em ambientes altamente sociais porque habilidades cognitivas aumentadas
permitem que indivíduos superem seus companheiros na competição. Portanto, não
está claro se os animais utilizam cognição para enganar seus parceiros de forma cons-
ciente ou se essa atitude está relacionada com estresse.

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COMPORTAMENTO ANIMAL PARA O DIREITO: UM NOVO NICHO PARA ADVOGADOS

Linguagem corporal
Todo animal tem uma maneira peculiar de querer bem, de expressar emoções, mas
para compreender tudo isso, é preciso lidar com aspectos não verbais. A linguagem
corporal canina é bem sofisticada, mas precisa de bastante prática para entrar no sen-
timento deles e entender esse tipo de linguagem além das palavras. Quem diz que cão
é traiçoeiro é que nunca estudou seu comportamento ou postura.
A seguir, tem-se a tradução para algumas manifestações de emoções caninas:
Raiva: caminha empinado, tenso, cabeça levemente levantada, cauda erguida, olhar
fixo, pelo arrepiado.

Fonte: Darwin (1872) A expressão das emoções no homem e nos animais

Afetuosidade: cão abaixa os membros anteriores e demostram relaxamento da face.

Fonte: Darwin (1872) A expressão das emoções no homem e nos animais

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COMPORTAMENTO ANIMAL PARA O DIREITO: UM NOVO NICHO PARA ADVOGADOS

O medo: O medo quando intenso, se expressa em gritos, em esforços para esconder-


-se ou escapar, em palpitações e tremores.
Felicidade: Alguns cães demostram um estado de espírito de prazer e excitação, as-
sociado à afeição de maneira bastante peculiar, mostrando os dentes como num sorriso
e balançando a cauda.
Submissão: Cães submissos manterão a cabeça baixa e, em alguns casos, abaixarão
seus corpos no chão. Cães que são extremamente submissos podem deitar de costas ou
até urinar quando são abordados.
Estas são apenas as maneiras básicas pelas quais os caninos se comunicam entre si
- e com os humanos com quem interagem é importante observar a junção dos gestos,
posturas, músculos e a vocalização como um todo, se realmente deseja saber o que o cão
está tentando transmitir.

Síndrome do animal espancado


Em pesquisa realizada por DeViney, Dickert & Lockwood, 1983, abusos contra animais
aconteceram em 88% das famílias em que ocorreram casos de abusos físicos contra
crianças.
Os principais sinais de que o animal sofre violência doméstica são: alterações com-
portamentais (agressividade, ansiedade por medo, sociopatia, vocalização, eliminação
inadequada e automutilação). O médico veterinário através de imagens pode observar
traumas múltiplos e lesões com estágios evolutivos distintos.

Inteligência dos cães


A cognição canina é complexa e alguns estudiosos comparam com a de uma criança de
dois anos, o que significa que os cães são muito mais espertos do que outros animais. Os
cães também podem exibir muitos dos comportamentos associados à inteligência, como
exibir memórias avançadas. É geralmente aceito que os cães sem raça podem aprender
165 palavras, mas com alguns aprendendo até 250 palavras. No entanto, houve um estu-
do americano em que, durante um período de três anos, um Border Collie chamado Cha-
ser aprendeu os nomes de mais de 1.000 objetos e conseguiu recuperá-los sob comando.
Estudos também mostram que os cães podem sentir emoções complexas, como an-
tecipação e ciúmes, mas podem não entender certos conceitos, como culpa. Um estudo
de 1996 analisou cães e culpa - e analisou especificamente um cão em particular, que
costumava destruir jornais. Quando o proprietário encontrou os jornais, ela foi repreen-
dida e agiu como culpada. No entanto, quando o dono do cachorro rasgou o papel sem
que ele percebesse e depois os pedaços foram colocados na mesma sala que o cachorro,
ela também se sentiu culpada. Isso nos diz que a “culpa” que o animal demonstrou não é
verdadeiramente culpa. Em vez disso, é a antecipação de uma bronca do tutor.

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COMPORTAMENTO ANIMAL PARA O DIREITO: UM NOVO NICHO PARA ADVOGADOS

Capítulo 4 - Comportamento e
bem-estar de animais de gatos
Os gatos acompanham os seres humanos há cerca de 10.000 anos; inicialmente
para a função de eliminação de roedores, e hoje são considerados membros da famí-
lia. Na cultura dos egípcios, os gatos são considerados sagrados, inclusive no passado
perderam uma batalha contra os persas porque estes usaram os gatos como escudos.
Atualmente temos observado um aumento da procura pela companhia de felinos para
animais de estimação por sua independência, higiene e personalidade.
O tutor precisa ter a consciência de que os gatos são animais diferenciados e neces-
sitam de um ambiente complexo e este está intrinsecamente vinculado à sua saúde
física, bem-estar emocional e comportamento do animal. Hoje em dia, com o estrei-
tamento do relacionamento entre humanos e animais, observamos um aumento nas
ocorrências dos problemas comportamentais dos gatos. Os animais possuem necessi-
dades emocionais como nós, seres humanos. Quando os mantemos com restrições de
oportunidades de execução dos comportamentos normais para a espécie, observamos
alterações comportamentais e problemas graves relacionados ao medo e à ansiedade.
Os sentimentos de um animal têm extrema importância para a sua qualidade de
vida, bem como administrar o estresse também é muito útil. Esses são aspectos da
biologia de cada indivíduo, desenvolvidos para ajudar na sobrevivência. Talvez seja
possível que alguns sentimentos e comportamentos não confiram nenhuma vantagem
aos animais e que sejam apenas reflexos da atividade neural; entretanto, alguns com-
portamentos inadequados podem indicar que o bem-estar é pobre.

Gatos e suas particularidades fisiológicas


Gatos são criaturas maravilhosas, entretanto possuem muitas particularidades fi-
siológicas e comportamentais que os tornam animais especiais, que exigem cuidados
ao manejá-los. Os felinos têm suas necessidades nutricionais específicas, apresentam
diferenças em seu metabolismo e apresentam uma sensibilidade aos medicamentos.
Na clínica médica observa-se vários casos de intoxicações e reações adversas após uso
de algum medicamento.
Felinos mostram-se como desafio quando necessitam de cuidados médicos, já que
apresentam deficiência de glicuronil transferase, que é um grupo de enzimas respon-
sável pela metabolização de muitos medicamentos, portanto, muitos destes se tornam
tóxicos para os bichanos. Exemplos: aspirina, paracetamol, morfina, etc. Em gatos a
avaliação da hipoperfusão secundária a hipovolemia é difícil, pois a coloração normal
das membranas mucosas é mais pálida do que em cães e a qualidade do pulso é mais

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COMPORTAMENTO ANIMAL PARA O DIREITO: UM NOVO NICHO PARA ADVOGADOS

difícil de ser avaliada. Apresentam também uma alta susceptibilidade do eritrócito (he-
moglobina) em se oxidar, ocorrendo reações adversas. Um dos alimentos que podem
produzir reações como a anteriormente citada é a cebola, que deve ser evitada a qual-
quer custo na alimentação dos gatos.

Desenvolvimento dos gatos


Os gatos vêm ao mundo necessitando de muitos cuidados especiais. Os olhos e os
ouvidos inicialmente encontram-se fechados e o sistema nervoso imaturo; o desenvol-
vimento vai sendo executado de acordo com o aparecimento ou desaparecimento de
alguns reflexos.
Sem qualquer noção espacial eles acabam ficando perto da mãe pelo reflexo de es-
quadrinhamento, que consiste em localização de uma fonte de calor e proximidade
desta. Com 15 dias de vida a regulação da temperatura melhora e com 5 semanas os
filhotes já dormem sozinhos. Com 15 dias também ocorre a abertura dos olhos e o ani-
mal começa a ouvir melhor. Com 21 dias ocorre o período de reconhecimento das pes-
soas e de outros animais, e nessa fase a figura da mãe é imprescindível para um bom
crescimento emocional do filhote e de superar as adversidades ambientais. É um dos
períodos mais importantes de crescimento físico e psíquico desses animais, de maior
desenvolvimento motor e que começam a comer alimentos mais sólidos.
Com 4 semanas já estão brincando, correndo, alegres e empolgados, arranhando
móveis e cortinas. Filhotes podem ser altamente destrutivos, entretanto, não aceitam
ordens como os cães. Cabe aos tutores realizar o enriquecimento ambiental para evitar
chateações.
Os filhotes de felinos aprendem bem rápido a usar a caixinha de areia, bem mais rá-
pido que os cães. Quando realizam eliminação de fezes e urina em locais inadequados
é um sinal de estresse, invasão de território ou caixinha suja.

Comportamento felino
A perseguição dos gatos está relacionada à falta de compreensão e conhecimento
profundo de suas reais intenções. Essas criaturas são dedicadas a viver em liberdade,
portanto jamais aceitarão as imposições e exigências de uma sociedade controladora
e demostram, sem temer, que a interação só ocorrerá se houver respeito às suas ne-
cessidades. A luz, pureza, coragem, preguiça e perseverança representadas pelos gatos
podem assustar os que possuem corações mais tímidos, os que enxergam neles sua
própria incapacidade de realização e de seguir instintos naturais (animal em nós).
É fato que são animais temperamentais, normalmente não obedecem a comandos
dos humanos e nem de outros animais, raramente se submetem. Possuem um sistema
social muito rígido e cheio de regras, com limites duros e caso alguém infrinja tais im-
posições terá que pagar caro por isso. São animais extremamente metódicos e amam

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COMPORTAMENTO ANIMAL PARA O DIREITO: UM NOVO NICHO PARA ADVOGADOS

rotina; qualquer falha no planejamento já é motivo para estresse. Gatos se estressam


com bastante facilidade, especialmente quando não estão em seu território. Podem
mudar de comportamento rapidamente e, como são animais ágeis, a sua manipulação
pode tornar-se difícil e às vezes, perigosa.
Quem tem um animal desses em casa sabe que nunca se atrasam para seus pas-
seios ou para ficar aranhando a porta. Eles possuem um mapa mental da organização
na casa com locais certos para o descanso, alimentação, banho, eliminação e explora-
ção territorial. Caso algo saia da rotina nesses locais, o gato já se estressa. Possuem
também uma marcação territorial personalizada: unhas, borrifamento (xixi) e marcas
químicas. Algumas vezes esses recursos são utilizados revelando que algo de errado
está acontecendo e seu bem-estar está comprometido.
Os gatos gostam muito de privacidade e se estressam muito quando outro gato
ou alguém invade seu espaço. Na agenda deles tem espaço para atividades de caça,
brincadeiras e também de cheirar e mastigar algumas gramíneas.

Caça – 6 A 8 horas por dia


Quando existe a possibilidade de acesso a um local externo, os gatos apresentam pico
de atividade de caça durante o período da manhã e no final da tarde. Esses animais fi-
cam horas procurando passarinhos, insetos e outros bichos que podem ser ingeridos. Já
repararam um tipo de vocalização específica nas tentativas? São o resultado do estímulo
visual e auditivo. Às vezes, com a domesticação, eles não sabem bem o que devem fazer,
mas passam algumas horas contemplando a caça ou tentando morder nossos tornozelos.
Na natureza, o sucesso da caça é compartilhado com toda a família, por isso que não
devemos ficar magoados ou punir nossos bichanos quando nos depararmos com insetos,
ratos ou pássaros em nossas camas ou sofás, pois ele só está tentando compartilhar uma
alegria!

Refeições – 10 vezes ao dia


Isso mesmo! Por incrível que pareça, eles podem comer até 18 vezes ao dia. Gostam
de comer aos poucos e detestam ração murcha. Por isso que fica no fundo sempre um
restinho e que deve ser trocado. Se tiver mais de um gato, há necessidade de ter um
pote para cada um.
Uma observação importante é que os gatos que não possuem acesso a um ambiente
externo e o tutor não proporciona enriquecimento ambiental, podem mendigar comi-
da e tentar eliminar a frustração ambiental na comida (como nós humanos).

Água
Os felinos adoram água fresca e não toleram água parada e suja. Não é novidade

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COMPORTAMENTO ANIMAL PARA O DIREITO: UM NOVO NICHO PARA ADVOGADOS

observar uma espera deles para a abertura de torneiras para que possam beber a água
corrente. Uma ideia é a compra de fontes para deixar a água bem fresquinha.

Marcações e checagem várias vezes ao dia


Os felinos possuem substâncias que são utilizadas para marcação territorial nas
unhas, cabeça e urina. Gatos passam muito tempo demarcando território e checando
para verificar se está tudo certinho, tudo demarcado e sem risco de invasores. É que
são animais territorialistas e invasores podem geram conflitos quando existem outros
animais em casa. Muitas vezes essa demarcação torna-se um problema e isso veremos
adiante.

Eliminação – privacidade
Os gatos defecam em areia e escondem por uma questão evolutiva. Eles na nature-
za não poderiam deixar pistas para o predador e esse comportamento permanece até
hoje. A frequência de utilização da bandeja de areia é de 3x ao dia, e ocorre preferen-
cialmente no período da manhã.
O “banheiro” do gato deve estar sempre limpo. Se estiver com odor de urina e fezes
eles fazem suas necessidades em locais inadequados. Lembrando que se tiver mais do
que um gato, há a necessidade de ter uma caixa para cada um. Como são animais ter-
ritorialistas, pode-se ter a urina também como uma marcação de território.

Sono (normalmente a maior parte do dia)


Gatos dormem bastante durante o dia e possuem atividade noturna. A atividade tem
pico às 3:00 da manhã e às 6:00. Isso não tem como mudar, o tutor precisa entender
que é natural dos felinos.

Comportamento sexual felino


As fêmeas entram no cio por volta dos 6 meses de idade, podendo ter variações, e os
machos também se tornam férteis nesse tempo. As gatas possuem a ovulação induzida
pela cópula e o intervalo entre cios pode variar entre 21 a 70 dias. A fertilidade é dire-
tamente influenciada pela quantidade de luz e nos meses mais frios (com menos luz)
são menos férteis.
Outra característica marcante é a vocalização (miados) quando a fêmea está na fase
fértil, como sinal de receptividade. Elas urinam e demarcam território também como
sinalização. Infelizmente algumas pessoas maltratam os animais nessa fase, pela ques-
tão do incômodo noturno, mas vale ressaltar que é CRIME!

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COMPORTAMENTO ANIMAL PARA O DIREITO: UM NOVO NICHO PARA ADVOGADOS

Cuidados corporais
O asseio individual é uma característica bem marcante e que ocupa boa parte do tem-
po do animal. Eles utilizam a língua, que é bem áspera, para limpar, tirar os nós, escovar
o pelo e remover ectoparasitas. Normalmente o fazem em locais tranquilos e discretos.

Valorização das coisas simples da vida


Felinos vivem intensamente o presente e não pensam que deveriam estar em outro
lugar, adoram a simplicidade da vida e valorizam o tédio.

Análise dos riscos


Os gatos apresentam comportamento exploratório intenso e para os que vivem em
locais altos como apartamentos, o ideal seria colocar grades de proteção para se evitar
acidentes. A castração é um item praticamente obrigatório para evitar saídas na rua e
brigas com outros gatos.

Comportamento social
Gatos como espécie têm um sistema social flexível, podem viver solitários ou em
grupo. Quando há fonte de alimento suficiente, as fêmeas podem se relacionar e for-
mar colônias. Os machos geralmente têm uma área residencial maior e preferencial-
mente vivem sozinhos.
Os gatos selecionam suas afiliados preferidos, que geralmente são gatos relacio-
nados. Os afiliados demonstram afeto mútuo esfregando a cara contra os outros. Ge-
ralmente, os gatos esfregam contra seus cuidadores ou outros seres humanos para
marcar seu perfume e como um sinal de familiaridade. Gatos não aceitam gatos desco-
nhecidos em seu território, e geralmente mostram agressão para com esses estranhos.
Um processo gradual deve ocorrer para a introdução de novos gatos no ambiente.

Saiba mais
Palestra sobre as emoções dos felinos:
https://www.instagram.com/tv/CCmJ9WFHh90/

Sinais comportamentais de que o gato está gostando do am-


biente e da situação:
- Cauda ereta
- Ronronando
- Animal piscando

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COMPORTAMENTO ANIMAL PARA O DIREITO: UM NOVO NICHO PARA ADVOGADOS

Fonte: A expressão das emoções no homem e nos animais. Charles Darwin.

Sinais que o gato está odiando ou está estressado:


• Contato ocular
• Vocalização
• Marcações em locais indevidos.
• Falta de apetite
• Diminuição no tempo que passa na área de descanso.
Manifestação da raiva no Gato (rabo se estica e fica balançando de um lado para o
outro, o pelo não se arrepia, orelhas são puxadas para trás e grunhidos são emitidos e
utilizam a para direita para atacar).

Fonte: A expressão das emoções no homem e nos animais. Charles Darwin.

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COMPORTAMENTO ANIMAL PARA O DIREITO: UM NOVO NICHO PARA ADVOGADOS

Capítulo 4 - Comportamento
e bem-estar de animais de
Utilizados em turismo e
entretenimento
1) Bastidores da pseudoalegria humana às custas
do sofrimento animal:
Manter animais em cativeiro, em zoológicos, circos e atrações turísticas, gera um
enorme sofrimento para qualquer animal e os esgotamentos físico e mental capaz de
ocasionar problemas mentais, como por exemplo a depressão animal, geradas pela so-
lidão, exploração e confinamento. Abaixo descreve-se as principais ações que utilizam
animais para promover entretenimento aos seres humanos.

Animais utilizados em atrações turísticas


Em 2016, o jornal The New York Times revelou que um santuário de tigres, localiza-
do na Tailândia, foi desativado e seus administradores monges foram presos. O templo
se autopromovia como um lugar onde pessoas e tigres poderiam coexistir em harmo-
nia. Na apreensão encontraram mais de 1.600 itens ilegais, tais como pele de tigre,
dentes e mais de 40 filhotes mortos congelados e outros 20 preservados em formol.
Essa foi uma vitória para os ativistas, já que nesse local, a religião é soberana e existia
um protecionismo aos líderes religiosos. Ainda na Tailândia a Animal a World Animal
Protection denuncia que os filhotes de elefantes são torturados e obrigados a carregar
turistas até a exaustão. O treinamento desses filhotes começa quando são tirados de
suas mães quando bebês e forçados a passar por um processo de treinamento horrível
conhecido como “o esmagamento”, que envolve restrições físicas, infligindo dor severa
e negando comida e água.

Animais utilizados em Circo


O circo é reconhecido como patrimônio cultural brasileiro, com predominância de
propriedade familiar e sua atividade é regulamentada em todo o país. Para receber tal
denominação, essas instituições devem ser itinerantes e ter estruturas desmontáveis
e cobertas por lona. No passado a utilização de animais em espetáculos era muito co-
mum, o que ao longo do tempo foi questionado pelo público que observava situações
de maus tratos e comportamentos antinaturais tais como empinar bola no nariz, se

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COMPORTAMENTO ANIMAL PARA O DIREITO: UM NOVO NICHO PARA ADVOGADOS

equilibrar em bolas e exigência de um comportamento submisso ao domador.


A utilização de animais nesses empreendimentos, foi proibida através de Lei Federal
em 2002. Martins (2008) no artigo “O respeitável público que não quer mais animais
em circos” revela vários acidentes envolvendo mordedura de animais silvestres em
seres humanos, ressaltando a importância de que animais subjugados podem desen-
volver transtornos mentais apresentando comportamento imprevisível e muitas vezes
agressivo. Os castigos, muito utilizados para o “adestramento” promovem danos físi-
cos e psicológicos duradouros e custosos a nível de neurobiologia (SAPOLSKY, 2007).
Estudos epidemiológicos focados em eventos estressantes, que estão relacionados
temporariamente ao transtorno de depressão maior, documentam que os principais
eventos desencadeadores do processo são: perda de emprego, insegurança financei-
ra, problemas de saúde que ameaçam a vida, exposição à violência, separação e luto
(BOWLBY, 2006). No entanto, evidências mais recentes se concentraram em exposição
a eventos na infância tais como violência física e abuso sexual, negligência psicológica,
exposição à violência doméstica ou separação precoce dos pais (CRUVINEL; BORU-
CHOVITCH, 2014; OTTE et al., 2016).
Há uma urgência em se a reconhecer a importância do diagnóstico do transtorno de
ansiedade pós-traumática (TAPT) em zoologia. Embora os animais tenham uma alta
prevalência de exposição a eventos traumáticos, tais como acidentes, abuso, tráfico e
violência física, há poucos estudos teóricos e empíricos sobre o TEPT. O quadro clínico
em seres humanos é caracterizado pela revivescência do trauma, esquiva, entorpeci-
mento e Hiperestimulação Emocional Autonômica (FIGUEIRA; MENDLOWICZ, 2003).

Animais em Zoológicos e em confinamento


Animais sociais artificialmente confinados apresentam, frequentemente, quan-
do comparados aos exemplares vivendo em seu ambiente natural, comportamentos
anormais. As interferências ou modificações de ambiente podem induzir a comporta-
mentos distintos dos apresentados na natureza (BROOM; DURHAM, 2003; BROOM;
MOLENTO, 2004).
O estresse contribui para o desenvolvimento de doenças crônicas degenerativas
em animais (SAPOLSKY, 2007). A carga alostática é uma estimativa de desregulação
fisiológica induzida pelo estresse com base em um índice de vários biomarcadores
aplicados aos seres humanos e prever os resultados na saúde (EDES; WOLFE; CREW,
2016). Sabe-se que ambientes de zoológico podem promover mudanças fisiológicas no
organismo, porém existe um número reduzido de trabalhos com relação a expressão
de emoções de animais com restrição de liberdade. É preciso conhecer quais os efeitos
do estresse aos animais e investigar se existe uma justificativa fisiológica para os diver-
sos comportamentos enfatizando a importância dos componentes emocionais para a
constituição da preservação da qualidade de vida psicológica.
Del-Claro, Prezoto e Sabino (2007) relataram que estereotipias são comuns em ani-

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COMPORTAMENTO ANIMAL PARA O DIREITO: UM NOVO NICHO PARA ADVOGADOS

mais que vivem em restrição de liberdade, que são caracterizadas pela repetição de
movimentos que, aparentemente, não têm qualquer função ou valor adaptativo. Os
padrões rígidos e repetitivos de andar de um lado para o outro em zoológicos, cavalos
que mordem as baias, macacos com excesso de catação, aves que arrancam as penas,
automutilações em geral são rituais compulsivos desempenhados para aliviar a ansie-
dade em certas circunstâncias (BRANDÃO; GRAEFF, 2014).
As estereotipias foram descritas pela primeira vez em seres humanos com dis-
túrbios neurológicos e em indivíduos que permanecem isolados em prisões durante
muito tempo. Movimentos repetitivos aparecem em situações em que o indivíduo não
tem controle sobre seu ambiente, especialmente naquelas que são obviamente frus-
trantes, ameaçadoras ou severamente carentes de estímulo. Sua generalizada ocorrên-
cia em animais confinados é de grande importância em relação à avaliação do bem-es-
tar (BROOM, 1991).

Sugestão de avaliação do ambiente


A avaliação da qualidade de vida também pode-se levar em consideração medidas
propostas por Broom (2005). Realiza-se avaliação subjetiva de qualidade de vida com
modificações incluindo relações sociais, estereotipias, saúde, agressividade e capacida-
de de resolver problemas (TABELA 1).

Tabela 1 – Medida de qualidade de vida no ambiente segun-


do broom (2005).
Medida de qualidade de vida Pontuação 0-10 (0 ausência até 10
Ambiente 1 nível máximo da característica)
Indicadores comportamentais de
prazer
Obtenção de comportamentos
preferidos
Variação de comportamentos normais
evidenciados
Obtenção de processos fisiológicos e
desenvolvimento anatômico possíveis
Ausência de comportamentos adversos
Instintos fisiológicos para obtenção de
defesas
Imunossupressão
Ausência de doenças
Instintos comportamentais de defesa
Ausência de doença comportamental

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COMPORTAMENTO ANIMAL PARA O DIREITO: UM NOVO NICHO PARA ADVOGADOS

Alterações cerebrais
Ausência de lesões corporais
Capacidade para crescimento e
reprodução
Esperança de vida
Agressividade
Estereotipias
Alteração de peso
Alterações de sono
Capacidade de resolver problemas
Conflito social
Total
FONTE: Adaptado de BROOM (2005).

Dentre as possíveis espécies que poderão ser acolhidas nos mantenedouros ou zoo-
lógicos, segue manejo nutricional mais comumente encontradas.

Répteis:
Chelonoidis carbonaria Jabuti-piranga
Chelonoidis denticulata Jabuti-tinga
Trachemys dorbigni Tigre-d’água
Hydromedusa tectifera Cágado-de-pescoço-comprido
Acanthochelys spixii Cágado-de-espinhos
Iguana iguana Iguana-verde
Tupinambis merianae Teiú
Pogona vitticeps Dragão-barbudo
Boa constrictor Jiboia
Pantherophis guttatus Corn snake
Brothrops jararaca Jararaca
Bubulcus ibis Garça Vaqueira
Crotalus durissus Cascável

Aves:
Aburria jacutinga Jacutinga
Amazona aestiva Papagaio-verdadeiro
Amazona vinacea Papagaio-do-peito-roxo
Ara ararauna Arará-canindé

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COMPORTAMENTO ANIMAL PARA O DIREITO: UM NOVO NICHO PARA ADVOGADOS

Asio clamator Coruja-orelhuda


Asio stygius Mocho-diabo
Geranoaetus albicaudatus Gavião-da-cauda-branca
Gnorimopsar chopi Graúna
Harpia harpyja Gavião-real
Heterospizias meridionalis Gavião-caboclo
Phasianus colchicus Faisão-comum
Chrysolophus pictus Faisão-dourado
Ramphastos tucanus Tucano-do-papo-branco
Rhynchotus rufescens Perdiz
Crypturellus parvirostris Inhambu-chororó
Aramides cajaneus Saracura
Cariama cristata Seriema
Balearica pavonina Grou-coroado
Tinamus solitarius Macuco
Crypturellus undulatus Jaó
Penelope obscura Jacuaçu
Penelope superciliaris Jacupemba
Odontophorus capueira Uru
Caracara plancus Falcão-caracará
Carduelis magellanicus Pintassilgo
Columba picazuro Asa-branca
Cyanocompsa brissonii Azulão
Columbina talpacoti Rolinha
Megascops choliba Coruja-do-mato
Milvago chimachima Gavião-carrapateiro
Molothrus bonariensis Chopim
Pionus maximiliani Maitaca-verde
Pitangus sulphuratus Bem-te-vi
Psittacara leocophithalmus Periquitão-maracanã
Nymphicus hollandicus Calopsita
Sicalis flaveola Canário-da-terra
Tangara Sayaca Sanhaço-cinzento
Crotophaga ani Anu-preto
Guira guira Anu-branco

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COMPORTAMENTO ANIMAL PARA O DIREITO: UM NOVO NICHO PARA ADVOGADOS

Mamíferos:
Alouatta guariba Bugiu-ruivo
Callithrix penicillata Sagui-do-tufo-preto
Cerdocyon thous Cachorro-do-mato
Cuniculus paca Paca
Dasyprocta azarae Cutia
Eira barbara Irara
Galictis cuja Furão-pequeno
Leopardus guttulus Gato-do-mato-pequeno
Leopardos tigrinus Gato-do-mato
Leopardus Pardalis Jaguatirica
Leopardus wiedii Gato maracajá
Lycalopexgymnocercus Graxaim-do-campo
Lycalopex vetulus Raposa-do-campo
Mazama bororo Veado-mateiro-pequeno
Mazama gouazoubira Veado-catingueiro
Mazama nana Veado-bororó
Myrmecophaga tridactyla Tamanduá-bandeira
Nasua nasua Quati
Tapirus terrestr Anta
Panthera onca Onça-pintada
Puma concolor Onça-parda
Sapajus nigritus Macaco-prego

Manejo nutricional
As dietas serão elaboradas pelo técnico responsável e deverão atender as necessida-
des nutricionais de cada espécie.
Abaixo segue quadro com os possíveis alimentos que serão oferecidos para os ani-
mais:

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COMPORTAMENTO ANIMAL PARA O DIREITO: UM NOVO NICHO PARA ADVOGADOS

Répteis:
Rações para Jabutis.
Frutas: banana, mamão, maçã, morango, uva, laranja,
pêssego, jabuticaba, manga, melão.
Verduras e legumes: brócolis, abóbora, abóbora-verde,
Chelonoidis batata-doce, couve-flor, couve, cenoura, beterraba, milho
carbonaria verde.
Verdes: folhas de beterraba, espinafre, agrião, almeirão,
acelga.
Proteína animal: Ovos cozidos, carne moída, ração de gato
ou cachorro, insetos, minhocas.
Rações para jabutis.
Frutas: banana, mamão, maçã, morango, uva, laranja,
pêssego, jabuticaba, manga, melão, goiaba.
Verduras e legumes: brócolis, abóbora, abóbora-verde,
batata-doce, couve-flor, couve, cenoura, beterraba, milho
Chelonoidis verde.
denticulata
Verdes: folhas de beterraba, espinafre, agrião, almeirão,
acelga, espinafre, rúcula.
Proteína animal: Ovos cozidos, carne moída (frango
ou bovino), ração de gato ou cachorro, insetos, larvas,
minhocas.
Rações para tartarugas.
Proteína animal: Ovos cozidos, carne moída (frango, peixe
ou bovino), ração de gato ou cachorro, insetos, larvas,
minhocas, peixes vivos.
Frutas: banana, mamão, maçã, morango, uva, laranja,
Trachemys pêssego, jabuticaba, manga, melão, goiaba.
dorbigni
Verduras e legumes: brócolis, abóbora, abóbora-verde,
batata-doce, couve-flor, couve, cenoura, beterraba, milho
verde.
Verdes: folhas de beterraba, espinafre, agrião, almeirão,
acelga, espinafre, rúcula

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COMPORTAMENTO ANIMAL PARA O DIREITO: UM NOVO NICHO PARA ADVOGADOS

Rações para tartarugas


Proteína animal: Ovos cozidos, carne moída (frango, peixe
ou bovino), ração de gato ou cachorro, insetos, larvas,
minhocas, peixes vivos.
Frutas: banana, mamão, maçã, morango, uva, laranja,
Hydromedusa pêssego, jabuticaba, manga, melão, goiaba.
tectifera
Verduras e legumes: brócolis, abóbora, abóbora-verde,
batata-doce, couve-flor, couve, cenoura, beterraba, milho
verde.
Verdes: folhas de beterraba, espinafre, agrião, almeirão,
acelga, espinafre, rúcula
Rações para tartarugas.
Proteína animal: Ovos cozidos, carne moída (frango, peixe
ou bovino), ração de gato ou cachorro, insetos, larvas,
minhocas, peixes vivos.
Acanthochelys Frutas: banana, mamão, maçã, morango, uva, laranja,
pêssego, jabuticaba, manga, melão, goiaba.
spixii
Verduras e legumes: brócolis, abóbora, abóbora-verde,
batata-doce, couve-flor, couve, cenoura, beterraba, milho
verde.
Verdes: folhas de beterraba, espinafre, agrião, almeirão,
acelga, espinafre, rúcula
Verdes: alfafa, nabo, espinafre, couve, trevo, escarola,
repolho, acelga, almeirão, rúcula.
Legumes: batata doce, pepino, pimentão, abobora, feijão
Iguana iguana verde, quiabo, inhame.
Frutas: melão, mamão, maçã, kiwi, morango, banana,
morango, ameixa.
Frutas: banana, mamão, maçã, morango, uva, laranja,
pêssego, jabuticaba, manga, melão, ameixa, kiwi.
Verduras e legumes: brócolis, abóbora, abóbora-verde,
batata-doce, couve-flor, couve, cenoura, beterraba, milho
Tupinambis verde.
merianae
Verdes: folhas de beterraba, espinafre, agrião, almeirão,
acelga, nabo, trevo.
Proteína animal: Ovos cozidos, carne moída, ração de gato
ou cachorro, insetos, minhocas.
Verdes: alfafa, nabo, espinafre, couve, trevo, escarola,
repolho, acelga, almeirão, rúcula.
Legumes: batata doce, pepino, pimentão, abobora, feijão
Pogona vitticeps verde, quiabo, inhame.
Frutas: melão, mamão, maçã, kiwi, morango, banana,
morango, ameixa.

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COMPORTAMENTO ANIMAL PARA O DIREITO: UM NOVO NICHO PARA ADVOGADOS

Boa constrictor Proteína animal: pequenos roedores.


Pantherophis Proteína animal: ratos neonatos.
guttatus
Brothrops Proteína animal: pequenos roedores.
jararaca
Bubulcus ibis Proteína animal: pequenos roedores.
Crotalus Proteína animal: pequenos roedores.
durissus

Aves:
Verdes: Couve, almeirão, brotos de alfafa, nabo,
brócolis, acelga.
Frutas: Mamão, maçã, manga, banana, pitanga, melão.
Aburria jacutinga Legumes: Batata-doce, mandioca, abóbora, xuxu.
Mistura de sementes e grãos.
Proteína animal: Pequenos artrópodes, minhocas, ovo
cozido.
Frutas: Banana, maçã, mamão, laranja, pêssego,
morango, uva.
Sementes: Mistura de sementes para psitacídeos.
Amazona aestiva
Verdes: couve, acelga, rúcula, almeirão.
Proteína animal: Ovo cozido com casca, ração de
cachorro ou gato, Danoninho.
Frutas: Banana, maçã, mamão, laranja, pêssego,
morango, uva.
Sementes: Mistura de sementes para psitacídeos.
Amazona vinacea
Verdes: couve, acelga, rúcula, almeirão.
Proteína animal: Ovo cozido com casca, ração de
cachorro ou gato, Danoninho.
Frutas: Banana, maçã, mamão, laranja, pêssego,
morango, uva.
Sementes: Mistura de sementes para psitacídeos.
Ara ararauna
Verdes: couve, acelga, rúcula, almeirão.
Proteína animal: Ovo cozido com casca, ração de
cachorro ou gato, Danoninho.
Asio clamator Proteína animal: Carne de frango ou carne bovina
Asio stygius Proteína animal: Carne de frango ou carne bovina

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COMPORTAMENTO ANIMAL PARA O DIREITO: UM NOVO NICHO PARA ADVOGADOS

Geranoaetus Proteína animal: Carne de frango ou carne bovina


albicaudatus
Frutas: Banana, maçã, mamão, laranja, pêssego,
morango, uva.
Psittacara Sementes: Mistura de sementes para psitacídeos.
leocophithalmus Verdes: couve, acelga, rúcula, almeirão.
Proteína animal: Ovo cozido com casca, ração de
cachorro ou gato, Danoninho.
Mistura de sementes pequenas para passeriformes.
Ração peletizada para passeriformes.
Sicalis flaveola
Frutas: Maçã, banana, mamão.
Verdes: Couve, acelga, espinafre.
Mistura de sementes pequenas para passeriformes.
Ração peletizada para passeriformes.
Tangara Sayaca
Frutas: Maçã, banana, mamão.
Verdes: Couve, acelga, espinafre.
Verdes: Couve, almeirão, brotos de alfafa, nabo,
brócolis, acelga.
Frutas: Mamão, maçã, manga, banana, pitanga, melão.
Crotophaga ani Legumes: Batata-doce, mandioca, abóbora, xuxu.
Mistura de sementes e grãos.
Proteína animal: Pequenos artrópodes, minhocas, ovo
cozido.
Verdes: Couve, almeirão, brotos de alfafa, nabo,
brócolis, acelga.
Frutas: Mamão, maçã, manga, banana, pitanga, melão.
Guira guira Legumes: Batata-doce, mandioca, abóbora, xuxu.
Mistura de sementes e grãos.
Proteína animal: Pequenos artrópodes, minhocas, ovo
cozido.
Verdes: Couve, almeirão, brotos de alfafa, nabo,
brócolis, acelga.
Frutas: Mamão, maçã, manga, banana, pitanga, melão.
Crypturellus Legumes: Batata-doce, mandioca, abóbora, xuxu.
parvirostris
Mistura de sementes e grãos.
Proteína animal: Pequenos artrópodes, minhocas, ovo
cozido.

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COMPORTAMENTO ANIMAL PARA O DIREITO: UM NOVO NICHO PARA ADVOGADOS

Rações específicas para a espécie.


Mistura de sementes.
Verdes: Couve, almeirão, brotos de alfafa, nabo,
brócolis, acelga.
Aramides cajaneus
Frutas: Mamão, maçã, manga, banana, pitanga, melão.
Legumes: Batata-doce, mandioca, abóbora, xuxu.
Proteína animal: Pequenos artrópodes, larvas,
minhocas, ovo cozido.
Rações específicas para a espécie.
Mistura de sementes.
Verdes: Couve, almeirão, brotos de alfafa, nabo,
brócolis, acelga.
Cariama cristata
Frutas: Mamão, maçã, manga, banana, pitanga, melão.
Legumes: Batata-doce, mandioca, abóbora, xuxu.
Proteína animal: Pequenos artrópodes, larvas,
minhocas, ovo cozido.
Rações específicas para a espécie.
Mistura de sementes.
Verdes: Couve, almeirão, brotos de alfafa, nabo,
brócolis, acelga.
Balearica pavonina
Frutas: Mamão, maçã, manga, banana, pitanga, melão.
Legumes: Batata-doce, mandioca, abóbora, xuxu.
Proteína animal: Pequenos artrópodes, larvas,
minhocas, ovo cozido.
Verdes: Couve, almeirão, brotos de alfafa, nabo,
brócolis, acelga.
Frutas: Mamão, maçã, manga, banana, pitanga, melão.
Tinamus solitarius Legumes: Batata-doce, mandioca, abóbora, xuxu.
Mistura de sementes e grãos.
Proteína animal: Pequenos artrópodes, minhocas, ovo
cozido.
Verdes: Couve, almeirão, brotos de alfafa, nabo,
brócolis, acelga.
Frutas: Mamão, maçã, manga, banana, pitanga, melão.
Crypturellus Legumes: Batata-doce, mandioca, abóbora, xuxu.
undulatus
Mistura de sementes e grãos.
Proteína animal: Pequenos artrópodes, larvas,
minhocas, ovo cozido.

43
COMPORTAMENTO ANIMAL PARA O DIREITO: UM NOVO NICHO PARA ADVOGADOS

Verdes: Couve, almeirão, brotos de alfafa, nabo,


brócolis, acelga.
Frutas: Mamão, maçã, manga, banana, pitanga, melão.
Penelope obscura Legumes: Batata-doce, mandioca, abóbora, xuxu.
Mistura de sementes e grãos.
Proteína animal: Pequenos artrópodes, larvas,
minhocas, ovo cozido.
Verdes: Couve, almeirão, brotos de alfafa, nabo,
brócolis, acelga.
Frutas: Mamão, maçã, manga, banana, pitanga, melão.
Penelope Legumes: Batata-doce, mandioca, abóbora, xuxu.
superciliaris
Mistura de sementes e grãos.
Proteína animal: Pequenos artrópodes, larvas,
minhocas, ovo cozido.
Verdes: Couve, almeirão, brotos de alfafa, nabo,
brócolis, acelga.
Frutas: Mamão, maçã, manga, banana, pitanga, melão.
Odontophorus
capueira Legumes: Batata-doce, mandioca, abóbora, xuxu.
Mistura de sementes e grãos.
Proteína animal: Pequenos artrópodes, larvas,
minhocas, ovo cozido.
Caracara plancus Proteína animal: Carne de frango ou carne bovina
Mistura de sementes pequenas para passeriformes.
Carduelis Ração peletizada para passeriformes.
magellanicus Frutas: Maçã, banana, mamão.
Verdes: Couve, acelga, espinafre.
Mistura de sementes.
Verdes: couve, acelga, rúcula, almeirão, nabo, alfafa.
Columba picazuro
Frutas: Banana, maçã, mamão, laranja, pêssego,
morango, uva.
Mistura de sementes pequenas para passeriformes.
Cyanocompsa Ração peletizada para passeriformes.
brissonii Frutas: Maçã, banana, mamão.
Verdes: Couve, acelga, espinafre.
Mistura de sementes.
Verdes: couve, acelga, rúcula, almeirão, nabo, alfafa.
Columbina talpacoti
Frutas: Banana, maçã, mamão, laranja, pêssego,
morango, uva.
Megascops choliba Proteína animal: Carne de frango ou carne bovina.

44
COMPORTAMENTO ANIMAL PARA O DIREITO: UM NOVO NICHO PARA ADVOGADOS

Milvago chimachima Proteína animal: Carne de frango ou carne bovina.


Mistura de sementes pequenas para passeriformes.
Molothrus Ração peletizada para passeriformes.
bonariensis Frutas: Maçã, banana, mamão.
Verdes: Couve, acelga, espinafre.
Frutas: Banana, maçã, mamão, laranja, pêssego,
morango, uva.
Sementes: Mistura de sementes para psitacídeos.
Pionus maximiliani
Verdes: couve, acelga, rúcula, almeirão.
Proteína animal: Ovo cozido com casca, ração de
cachorro ou gato, Danoninho.
Mistura de sementes pequenas para passeriformes.
Pitangus Ração peletizada para passeriformes.
sulphuratus Frutas: Maçã, banana, mamão.
Verdes: Couve, acelga, espinafre.
Frutas: Banana, maçã, mamão, laranja, pêssego,
morango, uva.
Psittacara Sementes: Mistura de sementes para psitacídeos.
leocophithalmus Verdes: couve, acelga, rúcula, almeirão.
Proteína animal: Ovo cozido com casca, ração de
cachorro ou gato, Danoninho.
Frutas: Banana, maçã, mamão, laranja, pêssego,
morango, uva.
Nymphicus Sementes: Mistura de sementes para psitacídeos.
hollandicus Verdes: couve, acelga, rúcula, almeirão.
Proteína animal: Ovo cozido com casca, ração de
cachorro ou gato, Danoninho.

Mamíferos:
Verdes: Couve, escarola, espinafre, acelga, rúcula, nabo,
repolho.
Alouatta guariba Frutas: banana, maçã, mamão, melão, manga.
Racão.
Frutas: banana, maçã, mamão, melão, manga.
Verdes: Couve, escarola, espinafre, acelga, rúcula, nabo,
repolho.
Callithrix penicillata Ração.
Proteína animal: carne, ovo cozido, insetos.
Legumes: abobora, batata-doce, brócolis.

45
COMPORTAMENTO ANIMAL PARA O DIREITO: UM NOVO NICHO PARA ADVOGADOS

Ração canina.
Cerdocyon thous Frutas: maçã, banana, abacaxi.
Proteína animal: Carne.
Legumes: batata-doce, cenoura, beterraba.
Grãos: quirera, sementes.
Cuniculus paca
Verdes: acelga, couve, nabo, trevo.
Frutas: banana, maçã, mamão, melão, manga.
Legumes: batata-doce, cenoura, beterraba.
Grãos: quirera.
Dasyprocta azarae
Verdes: acelga, couve, nabo, trevo.
Frutas: banana, maçã, mamão, melão, manga.
Frutas: banana, maçã, mamão, melão, manga, laranja.
Eira barbara Racão.
Proteína animal: carne, insentos.
Panthera onca Proteína animal: carne e suplementação de cálcio.
Frutas: banana, maçã, mamão, melão, manga, laranja.
Racão.
Galictis cuja Proteína animal: carne, insentos.
Legumes: abobora, batata-doce, brócolis, cenoura.
Leopardus guttulus Proteína animal: carne e suplementação de cálcio.
Leopardos tigrinus Proteína animal: carne e suplementação de cálcio.
Leopardus Pardalis Proteína animal: carne e suplementação de cálcio.
Leopardus wiedii Proteína animal: carne e suplementação de cálcio.
Lycalopexgymnocer- Ração de cachorro.
cus Frutas: banana, mamão.
Ração de cachorro.
Lycalopex vetulus Frutas: banana, mamão.
Proteína animal: carne.
Ração.
Legumes: batata-doce, cenoura, beterraba.
Mazama bororo
Grãos: quirera.
Verdes: acelga, couve, nabo, trevo.
Ração.
Mazama Legumes: batata-doce, cenoura, beterraba.
gouazoubira Grãos: quirera.
Verdes: acelga, couve, nabo, trevo.

46
COMPORTAMENTO ANIMAL PARA O DIREITO: UM NOVO NICHO PARA ADVOGADOS

Ração.
Legumes: batata-doce, cenoura, beterraba.
Mazama nana
Grãos: quirera.
Verdes: acelga, couve, nabo, trevo.
Frutas: Banana, maçã, mamão, laranja, pêssego,
Nasua nasua morango, uva.
Proteína animal: Carne, ovo cozido.
Puma concolor Proteína animal: carne e suplementação de cálcio.
Legumes: abobora, batata, cenoura, beterraba.
Frutas: manga, banana, melancia, mamão, laranja.
Tapitus terrestres
Ração.
Verdes: repolho, acelga, espinafre, couve.
Legumes: abobora, batata, cenoura, beterraba.
Frutas: manga, banana, melancia, mamão, laranja, uva,
morango.
Sapajus nigritus Ração.
Proteína animal: ovo cozido, ração de cachorro, insetos.
Verdes: repolho, acelga, espinafre, couve, brócolis.

Sistemas de marcação utilizados


Marcar um animal é identificá-lo individualmente de forma segura e inequívoca.
Todos os animais que farão parte do plantel fixo do mantenedouro deverão ser iden-
tificados através de marcação permanente de acordo com a melhor opção para cada
grupo de animais.
A identificação do animal é necessária para um maior controle no manejo dos ani-
mais (peso, reprodução, controle de doenças, vacinas, exames laboratoriais e outros).
Classe Tipo de marcação utilizada
Répteis Microchips
Anilhas
Aves Microchips (quando compatível ao
tamanho da ave)
Mamíferos Microchips

Inibição da reprodução
A determinação do sexo do animal é muito importante para evitar cruzamentos.
Quando existe diferença externa entre machos e fêmeas, denomina-se dimorfismo se-
xual. A sexagem deve ser feita em todos os animais do plantel por um técnico capaci-
tado.

47
COMPORTAMENTO ANIMAL PARA O DIREITO: UM NOVO NICHO PARA ADVOGADOS

Para controle reprodutivo serão adotadas as seguintes medidas:

Classe Medidas a serem adotadas


Indisponibilidade de ninhos
Aves Retirada de ovos quando houver
postura
Indisponibilidade de ninhos
Répteis Sexagem e separação de indivíduos
Retirada de ovos
Separação de indivíduos
Mamíferos
Esterilização quando necessário

Manejo sanitário
Os recintos devem construídos de modo a evitar contato com outros animais (para
evitar o estresse de presa/predador). A limpeza e desinfecção dos recintos devem ser
realizadas diariamente, antes do fornecimento da alimentação e após a retirada das so-
bras. Os recintos devem ser desinfetados, evitando, assim, danos à saúde dos animais.
A higienização inicia-se com a remoção das sobras dos alimentos e fezes, lavando
com água corrente e sabão e depois fazendo a desinfecção com hipoclorito de sódio a
2%. Os fundos das gaiolas também devem ser trocados diariamente. Os resíduos como
fezes, substratos e restos de alimentos deverão ser jogados no lixo orgânico (saco plás-
tico preto). Os abrigos e açudes deverão ser limpos com hipoclorito ou somente água,
numa frequência de duas vezes por semana ou de acordo com a necessidade.
Diariamente deverá ser realizada troca de água e lavagem dos bebedouros e come-
douros de todos os recintos, as bandejas de alimentação deverão ser limpas após o uso
e permanecer na cozinha de preparação de alimentos para o próximo dia. Os trata-
dores deverão ficar atentos a qualquer anormalidade dentro do recinto e informar o
técnico responsável. Os terrários das cobras deverão ser limpos sempre que necessário.
Devem ser realizados exames como coproparasitológico frequentemente para de-
tecção de enfermidades parasitárias. Ao detectar algum animal indisposto ou doente,
o mesmo deverá ser encaminhado ao setor de ambulatório para exames e tratamento,
de modo a evitar que outros animais adoeçam. Medidas profiláticas como uso de ver-
mífugos e vacinas serão adotadas quando seu uso for cabível.
Os animais que em óbito devem ser encaminhados para necropsia que será realiza-
da pelo médico veterinário, o qual irá observar e coletar amostras para definir a causa
da morte, após o laudo o mesmo será encaminhando para taxidermia ou incineração.

48
COMPORTAMENTO ANIMAL PARA O DIREITO: UM NOVO NICHO PARA ADVOGADOS

2) Desenvolvendo ferramentas para educar visitantes no


turismo de observação de animais
O estresse psicossocial em humanos tem sido relacionado à ocorrência ou progres-
são de certas doenças mentais e um ambiente social positivo, pelo contrário, é capaz
de amenizar esse efeito (SAPOLSKY, 2016; TUNG et al., 2012). Medo e ansiedade au-
mentados são sinais centrais de uma variedade de distúrbios neuropsiquiátricos (AS-
SOCIATION, 2014) incluindo declínio cognitivo (MCEWEN, 1999; SALPOLKY, 2007).
Essas alterações neurológicas são pouco conhecidas e/ou subestimadas na Zoologia.
Os estudos sobre as consequências cognitivas, fisiológicas e comportamentais po-
dem ajudar a diminuir a presença de distúrbios de comportamento e o sofrimento
dos animais que vivem em cativeiro. É preciso reconhecer que animais são sencientes
e que apresentam transtornos psiquiátricos quando cronicamente expostos a agentes
estressantes.

Animais utilizados em touradas, rodeios, vaquejadas e far-


ra do boi
A Farra do Boi, os rodeios, touradas e vaquejadas são exemplos de eventos que pro-
vocam o divertimento humano às custas dos animais. Para essas práticas, os animais
são encurralados, espancados, encurralados e atormentados.
A farra do boi é uma das “manifestações culturais” mais polêmicas e cruéis no Bra-
sil. Alguns dias antes da festa, o animal é deixado em regime de jejum e é solto no meio
da população que é munida de paus, ferro e objetos cortantes com o intuito de ferir o
animal e posteriormente o animal é morto. O rodeio é uma “festividade” em que pe-
ões mostram habilidades em laçar, derrubar o boi e manter-se de no lombo do animal,
apesar dos pulos e agressividade. (FELIZOLA, 2011)
O animal se comporta de maneira agressiva porque foi torturado, agredido, mantido
em situação de jejum. A agressão é um tipo de interação social que pode ser definida
como um comportamento direcionado a outro indivíduo para lhe causar injúria, para
advertir e esta pode ser classificada como: predatória, por medo, irritável, territorial,
instrumental, comportamento defensivo, comportamento parental e conflito social.
Com base nas respostas a agressão pode ser dividida em: - agressão não afetiva ou pre-
datória que envolve alterações mínimas de humor, tem sua origem hipotalâmica e os
neurotransmissores envolvidos são acetil colina; - a agressão emocional que apresenta
alterações marcantes de humor e podem envolver neurotransmissores serotoninér-
gicos, catecolaminérgico, colinérgico e gabaérgico (SCÁRDUA; BASTOS; MIRANDA,
2009).

49
COMPORTAMENTO ANIMAL PARA O DIREITO: UM NOVO NICHO PARA ADVOGADOS

Capítulo 5 - Comportamento e
bem-estar de animais de
Produção
Práticas cruéis, como as que são observadas na pecuária brasileira, podem causar
angústia, sofrimento, esgotamento físico e psíquico. Quando mantemos os animais
confinados, com restrições de oportunidades de execução dos comportamentos nor-
mais para a espécie, observamos desordens comportamentais, alterações fisiológicas e
problemas relacionados à cognição. Utilizar animais em larga escala, gera um enorme
sofrimento para qualquer animal e os esgotamentos físico e mental capaz de ocasionar
problemas mentais, como por exemplo a ansiedade pós traumas. Essa prática gera
comportamento imprevisível e muitas vezes agressivo no animal. Os castigos, muito
utilizados para a “correção” ou “brincadeira” promovem danos físicos e psicológicos
duradouros e custosos a nível de neurobiologia.
Essas práticas, não respeitam os cinco domínios que regem o Bem-estar animal e
são consideradas críticas no que diz respeito ao desenvolvimento de transtornos men-
tais. Quais são os manejos responsáveis pela alteração comportamental, fisiológica e
cognitivas de animais?
- Restrição de espaço;
- Procedimentos dolorosos;
- Estresse no Transporte;
- Plateia;
- Gritos e empurrões;
- Comportamentos antinaturais forçados;

50
COMPORTAMENTO ANIMAL PARA O DIREITO: UM NOVO NICHO PARA ADVOGADOS

Capítulo 6 – Transtornos
mentais dos animais
A exposição crônica a eventos estressantes resulta no desenvolvimento de transtor-
nos psiquiátricos (MURRAY et al., 2009; SAPOLSKY, 2016). Os animais cronicamente
estressados apresentam alterações fisiológicas e comportamentais, tais como prejuízos
motores, de cognição, de sono, peso e hipercortisolemia em resposta às frustrações e
estas estão relacionadas principalmente a um ambiente pouco enriquecido (ambiente
sem desafios e diferente do habitat natural) (MEHTA; JOSEPHS, 2010; TUNG et al.,
2012).
Os critérios de classificação das doenças psiquiátricas são ainda subjetivos, podendo
levar à discordância dos clínicos. Para avaliação nos seres humanos há o Diagnostic
Statistical Manual (DSM-5) (ASSOCIATON, 2014) e atualmente o projeto RDoc (Re-
search Domain Criteria) Matrix (NATIONAL INSTITUTE OF MENTAL HEALTH) para
auxiliar os profissionais da área de saúde mental. Entretanto, na Zoologia e na Medi-
cina Veterinária não existe qualquer tipo de recurso auxiliar. Além disso, o assunto é
ainda pouco explorado, não se aborda tais questões com frequência.
Os modelos animais são muito utilizados na neurociência para estudar patologias
humanas. Estes fornecem padronização, permitem acessar informações indisponíveis
e facilitam o aprendizado sobre mecanismos de ações de medicamentos (BOURIN et
al, 2007). O presente trabalho instiga à comunidade científica enfrentar temas como a
ocorrência de transtornos mentais em animais. Os estudos a respeito da neurobiologia
dos transtornos, em relação a humanos, que são realizados em animais são reconhe-
cidos, mas quase não se fala que animais não humanos podem apresentar alterações
psiquiátricas. A preocupação com o bem-estar do animal está crescendo e os zoólogos
estão cada vez mais confrontados, porém a literatura sobre o assunto é pobre.

1 - Transtornos mentais em animais


Os animais necessitam de tratamento para os transtornos neuropsiquiátricos para
a melhora da qualidade de vida e diminuição do sofrimento, principalmente quando
vivem em restrição de liberdade. Para desenvolver estratégias de tratamento é preciso
conhecer quais os principais transtornos mentais, a etiologia, diagnóstico e tratamen-
to. Precisa-se também ressaltar a importância da senciência animal e dos cuidados
com a saúde mental deles.
O bem-estar dos animais tem sido uma questão muito estudada nos casos de ani-
mais de abrigo, de pecuária, em zoológicos, de missões militares ou animais de traba-
lho (BROOM, 1991; DURHAM, 2003; ROONEY et al, 2009; CHANIOTAKIS et al 2016;

51
COMPORTAMENTO ANIMAL PARA O DIREITO: UM NOVO NICHO PARA ADVOGADOS

GUNTER, 2019), Apesar dos resultados dos estudos em nível populacional, nesse tra-
balho, ressalta-se a importância da introdução do conceito de qualidade de vida, que
pretende individualizar os cuidados aos animais para que suas necessidades físicas,
psíquicas e cognitivas possam ser atendidas.
Testes psicométricos são instrumentos padronizados por pesquisas científicas com
a finalidade de mensuração de determinados construtos, exemplo, fator de inteligên-
cia, atenção, memória, ansiedade e outras coisas. Essas ferramentas são amplamente
utilizadas, pela psicologia e psiquiatria, para avaliar à qualidade de vida (BECH, 1995;
KATSCHNIG, 1997). Porém, até então, não existem relatos na Medicina Veterinária. É
preciso reconhecer que animais são sencientes e que apresentam transtornos psiquiá-
tricos quando cronicamente expostos a agentes estressantes.

1.1 - Ansiedade
1.1.1 - Definição
A ansiedade é uma emoção normal que permite ao ser humano e grande parte das
os animais ficarem atentos aos fatores socioambientais que de certa forma diariamen-
te eles vivem, o que é benéfico e permite que o indivíduo se adapte às suas ambiente.
No entanto, quando esses fatores são intensos e prolongados, eles podem deixam de
ser normais e se transformam em transtornos de ansiedade, que impactam negativa-
mente na saúde mental e a qualidade de vida em animais ( OHL et al, 2007)
Fazendo o diferencial de medo e ansiedade, o primeiro ocorre quando um animal é
confrontado com uma ameaça ao seu bem-estar ou à sua própria sobrevivência, a par-
tir dele ocorrem respostas comportamentais diversas. Nessa situação o perigo é real e
definido, o animal percebe que existe um risco a sua integridade física. Ansiedade é o
medo infundado, não real e desproporcional. A ocorrência repetida do medo pode pro-
vocar uma reatividade neuroendócrina ou autonômica intensa e duradoura (EVERLY;
LATING, 2013).

1.1.2 - Etiologia
Os históricos de situações traumáticas alteram a homeostase e promovem o trans-
torno de adaptação (BROUSSET et al, 2005). Os fatores pré disponentes são para o
transtorno da ansiedade são: genética, hiperestimulação ambiental, conflitos, estresse
crônico, alterações neurobiológicas e sinais de outras doenças. Condições ambientais
desfavoráveis ou interações com membros da mesma espécie ou representantes de es-
pécies diferentes que são percebidas como aversivas são provavelmente decisivas para
o desenvolvimento de ansiedade (SNITCOFSKY et al, 2010).
Os animais de estimação são frequentemente confrontados com eventos importan-
tes da vida imprevisíveis e incontroláveis, tais como mudanças no grupo social central
(por exemplo, crianças saindo de casa, bebês nascendo, divórcio, etc.), mudanças em

52
COMPORTAMENTO ANIMAL PARA O DIREITO: UM NOVO NICHO PARA ADVOGADOS

ambiente físico (por exemplo, mudança para outro lugar), ou ambos. Pode-se supor
que a vida principal imprevisíveis eventos acontecem com mais frequência a indiví-
duos emocionalmente vulneráveis, uma vez que são mais frequentemente difíceis de
lidar, e, como consequência, eles mudam de tutores repetidamente (OHL et al, 2007).

1.1.3 - Sinais Clínicos e Critérios de diagnósticos


Em humanos, a ansiedade patológica é caracterizada por ansiedade e preocupação
excessivas (expectativa apreensiva sobre uma série de eventos ou atividades, como
trabalho ou desempenho escolar) e ocorrendo há pelo menos seis meses. É, por exem-
plo, impossível obter provas sobre “expectativas apreensivas” em animais. Pior ainda,
o próprio termo “ansiedade” representa um conceito mal definido ou categoria, mas
pode-se observar expressão comportamental de evitação, agressividade e alterações
autonômicas (OHL et al, 2007).
SNITCOFSKY et al (2010) descreve sinais clínicos neurovegetativos tais como taqui-
cardia, taquipnéia, fasciculações musculares, midríase, síncope, diarreias e vômitos.
Os sinais típicos comportamentais são exploração ambiental, agressividade, interação
social, marcação e vocalização excessiva. Há também sinais crônicos tais como ranger
de dentes, assumir uma postura vigilante, bater no chão ou quebra sem propósito de
galhos ou arrancamento de grama (SAPOLSKY, 2016).

1.1.4 - Comorbidades
Animais podem ter manifestações físicas associadas ao quadrde ansiedade. No trato
gastrointestinal, animais apresentam enterites crônicas, diarreias, vômitos e hema-
toquezia. Na pele animais apresentam seborreia, prurido. No trato respiratório, pode
apresentar colapso traqueal, bronquites e asmas. No trato urinário, tem-se observado
micção emocional, enurese e cistite intersticial (SNITCOFSKY et al, 2010; BUFFING-
TON, 2011).

1.2 - Transtornos compulsivos


1.2.1 - Definição
O Transtorno obsessivo compulsivo (TOC) é um transtorno psiquiátrico crônico
causado por obsessões ou compulsões capazes de causar sofrimento ao paciente e no
caso de seres humanos, estendido a alguns membros da família (CID 10; WORLD HE-
ALTH ORGANIZATION).
As estereotipias foram descritas pela primeira vez em seres humanos com distúr-
bios neurológicos e em indivíduos que permanecem isolados em prisões durante muito
tempo. Animais em geral, também apresentam comportamentos estereotipados e auto-
mutilação em virtude de um ambiente pouco atrativo, representando não apenas uma
questão de higiene, mas sim de alívio a situações tensas (O’BRIEN,1993; BROOM, 2010).

53
COMPORTAMENTO ANIMAL PARA O DIREITO: UM NOVO NICHO PARA ADVOGADOS

1.2.2 - Etiologia
O Transtorno Obsessivo Compulsivo é caracterizado por movimentos repetitivos
que aparecem em situações em que o indivíduo não tem controle sobre seu ambiente,
especialmente naquelas que são obviamente frustrantes, ameaçadoras ou severamente
carentes de estímulo. Pode ocorrer também em resposta a processos dolorosos, em
caso de conflitos sociais ou excesso de submissão (BROOM, 1991; O’BRIEN,1993; LOW,
2003; BROOM, 2010). As estereotipias são importantes para avaliação de bem-estar
pobre, entretanto, nunca deve ser a única variável a ser estudada. Compulsões são
comportamentos repetitivos são realizados a fim de prevenir ou reduzir o sofrimento
(MASON, 2004; FRANK, 2013).
MASON (2004) demostrou que a estereotipia decorre de restrições impostas ao
comportamento natural de animais suscetíveis, com estilos de vida variados na nature-
za. Essas descobertas indicam que a manutenção de carnívoros naturalmente variados
deve ser fundamentalmente melhorada ou eliminada gradualmente.

1.2.3 - Sinais Clínicos e Critérios de diagnósticos


Animal com quadro ansioso que realize comportamentos fora do contexto e rituali-
zados. Na psiquiatria humana, essas obsessões ou compulsões causam acentuado so-
frimento, consomem muito tempo ou interferem significativamente na rotina normal,
no funcionamento ocupacional, nas atividades sociais usuais ou nos relacionamentos
da pessoa. Esses comportamentos em animais, parecem anormais porque são exibidos
fora do contexto e costumam ser repetitivos, exagerados ou prolongados (GOLDBER-
GER, RAPOPORT, 1991; FRANK, 2013).
Exemplos de transtornos compulsivos incluem perseguição de sombra, perseguição
de luz, perseguição de cauda, dermatite acral por lambedura, automutilação, ingestão
de objetos que não são alimentos, sucção de flanco, verificação de extremidade poste-
rior, lambida excessiva de objetos, higiene excessiva, colecionismo, catação excessiva
em primatas, andar de um lado para outro e aerofagia (equinos) (O’BRIEN,1993; LES-
TE-LASSERRE, 2005; FRANK, 2013

1.2.4 - Comorbidades
Em animais, as autolesões e comportamentos de catação podem provocar lesões
que são porta de entrada de patógenos e frequentemente tornam-se feridas contami-
nadas e que precisam de tratamento com antibióticos sistêmicos (SHUMAKER et al,
2008; MACDONALD, BRADLEY, 2009).

1.3 - Transtorno do estresse pós-traumático


1.3.1 - Definição

54
COMPORTAMENTO ANIMAL PARA O DIREITO: UM NOVO NICHO PARA ADVOGADOS

O trauma representa a experiências ou situações emocionalmente dolorosas e an-


gustiantes, que sobrecarregam a capacidade de adaptação ou enfrentamento de um
animal e sobre as quais ela se sente impotente (GOSWAMI, 2013). Estudos com ani-
mais demonstram alterações na função e estrutura do cérebro após a exposição ao
estresse (BREMNER et al, 1999; MCEWEN, 1999; UNO et al., 1994).
Os primeiros relatos de animais utilizando a nomenclatura de TEPT são de cães
que atuam em guerra (YAMAMOTO, 2003). Há uma necessidade de maior número
de estudos para se conhecer os mecanismos que envolvem essa psicopatologia e suas
consequências em animais. Kleist et al. (2018) publicaram um trabalho que relatou que
o som antropogênico é capaz de produzir sinais clínicos compatíveis com estresse pós
trauma nos animais comprovada com a aferição do cortisol plasmático baixo.
Os estudos clínicos de Tunnard et al. (2014) mostraram que o estresse precoce está
relacionado ao desenvolvimento de psicopatologia durante a vida adulta. Experimen-
tos em etologia no passado realizados por Harlow & Zimmerman (1959) com Rhesus
(Macaca mulata) causaram lesões cerebrais como as que são observadas em crianças
vítimas de abandono dos pais.

1.3.2 - Etiologia
Há uma urgência em se a reconhecer a importância do diagnóstico do transtorno de
ansiedade pós-traumática (TAPT) em zoologia. Embora os animais tenham uma alta
prevalência de exposição a eventos traumáticos, tais como acidentes, abuso, tráfico
e violência física, há poucos estudos teóricos e empíricos sobre o TEPT (FIGUEIRA;
MENDLOWICZ, 2003; WHITAKER et al, 2014)
Em primatas não humanos, observaram degeneração e depleção de neurônios do
hipocampo em macacos que foram severamente abusados. A administração de dexa-
metasona (5 mg/kg) em macacas gestantes induziu degeneração e depleção dos neurô-
nios no cérebro de fetos e essas mudanças foram mantidas nos cérebros dos fetos no
curto prazo (UNO et al., 1994).
Estudos pré-clínicos com modelos animais com privação maternal provocaram no
passado o estresse pós-trauma em primatas não humanos, mas não se fala sobre isso.
Os estudos clínicos de Tunnard et al. (2014) mostraram que o estresse precoce está
relacionado ao desenvolvimento de psicopatologia durante a vida adulta. Experimen-
tos em etologia no passado realizados por Harlow & Zimmerman (1959) com Rhesus
(Macaca mulata) causaram lesões cerebrais como as que são observadas em crianças
vítimas de abandono dos pais.
No trabalho de King et al (2001), o modelo animal de desamparado aprendido, ge-
neticamente exibiu sintomas fisiológicos de analgesia, déficits cognitivos e hiporres-
ponsividade do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal semelhantes aos observados em in-
divíduos humanos com TEPT. É proposto que esse modelo pode ser uma ferramenta
valiosa para explorar o papel da predisposição genética na etiologia do TEPT.

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COMPORTAMENTO ANIMAL PARA O DIREITO: UM NOVO NICHO PARA ADVOGADOS

1.3.3 - Sinais Clínicos e Critérios de diagnósticos


Para receber um diagnóstico de PTSD, o indivíduo deve vivenciar um evento trau-
mático que produza sentimentos de medo intenso, horror ou impotência. Uma vez que
esse critério seja atendido, os indivíduos devem ultrapassar um limiar de sintomas
para cada um dos três grupos de sinais clínicos: revivência, evitação e hiperexcitação
(WHITAKER et al, 2014).
Diferente dos casos de depressão, em que 60% apresenta aumento do cortisol plas-
mático, os pacientes com TEPT possuem níveis baixos de cortisol. A insistência das
sensações de perigo leva à persistência na ativação simpática, já que o baixo nível de
cortisol plasmático é incapaz de “desligá-la”. O excesso de catecolaminas por ocasião do
trauma, não refreado pelos corticoides, fixa as memórias traumáticas (GRAEFF, 2003;
RUIZ et al., 2007). O baixo nível de cortisol está, provavelmente, relacionado a traumas
significativos que levam ao desenvolvimento de TEPT, que permanece sintomático. O
organismo reage com uma hiperativação do eixo HPA (DUMAN, 2012).

1.3.4 - Comorbidades
A somatização é um achado muito comum em pacientes humanos com TEPT. Re-
latos de dor pélvica e demais dores crônicas são comuns. Em humanos também se
observa com frequência a dependência de álcool, drogas e alta incidência de suicídio
(MARGIS, 2003). No caso da zoologia, essa informação é impossível de ser coletada.
Mais estudos com animais são necessários para responder inúmeros questionamentos.
A maioria dos trabalhos têm a preocupação da extrapolação dos dados animais como
modelos de estudos para doenças em humanos (KING 2001; GOSWAMI, 2013)

1.4 - Depressão
1.4.1 - Definição
O transtorno depressivo maior é uma doença debilitante que é caracterizada por
pelo menos um episódio com duração de pelo menos 2 semanas e envolvendo mu-
danças nítidas de humor, interesses e prazer, mudanças na cognição e sinais clínicos
vegetativos (OTTE et al, 2016).
A depressão causa desequilíbrios neuroquímicos em regiões do cérebro que são co-
nhecidas pelo controle do humor, ansiedade e cognição. Essas regiões incluem o hipo-
campo, o córtex pré-frontal, o córtex cingulado, núcleo accubens e amígdala (DUMAN,
2012). As depressões, assim como outras doenças psiquiátricas, produzem alterações
estruturais no cérebro e essas alterações resultam de atrofia e perda de neurônios, en-
tretanto, um tratamento adequado e terapia podem reverter essas modificações (DU-
MAN, 2009).

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COMPORTAMENTO ANIMAL PARA O DIREITO: UM NOVO NICHO PARA ADVOGADOS

1.4.2 - Etiologia
O transtorno depressivo ocorre com maior frequência nos casos de isolamento, ne-
gligência, falta de oportunidade de execução do comportamento natural dos animais,
trauma precoce, excesso de domesticação, abandono e o luto (LESTÉ-LASSERRE 2005;
KING, 2014; SAPOLSKY, 2016; MONDO et al 2020).
O eixo HPA é o modelo neurobiológico que procura explicar as consequências du-
radouras do trauma precoce. Esta descoberta é apoiada por estudos clínicos que mos-
tram que os indivíduos que foram abusados na infância, quando adultos, produzem
uma atividade marcadamente aumentada do eixo HPA quando exposto a problemas
psicossociais (KING, 201; 4OTTE et al., 2016; CALCIA et al., 2016). A separação de
filhotes de primatas de suas mães foi o primeiro estudo sobre o desenvolvimento da
depressão. A separação materna envolve alterações neuroquímicas, neuroendócrinas
e comportamentais e que podem ser observadas até a idade adulta e essas alterações
são tratáveis com antidepressivos. Outros testes como o “desamparo aprendido”, nado
forçado, suspensão pela cauda também podem simular quadros depressivos, porém os
modelos animais não oferecem todas as respostas (KING, 2014).
Alguns estudos no contexto do comportamento relaram que os animais podem so-
frer com o luto (KING, 2014; SAPOLSKY, 2016). Sapolsky (2016) relata que entre os ba-
buínos Chacma, por exemplo, a predação de uma fêmea adulta produz um aumento de
um mês nos níveis de glicocorticoides entre seus parentes próximos (mas não entre os
indivíduos não relacionados). Além disso, tais parentes buscam apoio social, iniciando
a higienização com maior frequência e com maior número de parceiros de preparação.
King 2014 mediu o nível de estresse em macacas enlutadas e os níveis altos de corti-
sol perduraram por quatro semanas. Com relação ao comportamento social, percebeu
que essas fêmeas aumentaram o contato social e atividade de catação em membros do
grupo.
O estudo moderno da tanatologia comparativa aborda questões que incluem empa-
tia, compaixão e compreensão conceitual da morte entre as espécies. Vários aspectos
de como os grandes primatas reagem à doença, ferimentos e morte de outros do gru-
po lembram muito o comportamento humano em situações comparáveis (DE WAAL,
2010; YANG; ANDERSON; LI, 2016). Yang; Anderson e Li (2016) descrevem compor-
tamentos mostrados manifestados frente a morte de uma macaca em um grupo de
macacos selvagens de Sichuan (Rhinopithecus roxellana) e argumentam que a empatia
e a compaixão em torno da morte se estendem além dos humanos e seus parentes
evolucionários mais próximos.
Campbell et al. (2016) descreveram em seu trabalho as respostas comportamentais
de macacos Barbary (Macaca sylvanus), um primata social, não-humano, para as mor-
tes de quatro membros do grupo. As respostas pareciam variar com base na natureza
da morte (prolongada ou instantânea) e na classe de idade do falecido. As respostas
incluíram vários comportamentos com potenciais explicações ou consequências adap-

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COMPORTAMENTO ANIMAL PARA O DIREITO: UM NOVO NICHO PARA ADVOGADOS

tativas. Estes incluíram exploração, cuidado (guarda, transporte e catação), e proxi-


midade a indivíduos feridos ou cadáveres, e comportamentos de angústia imediatos
e mais duradouros de outros membros do grupo após a morte, todos os quais foram
relatados em outras espécies de primatas não humanos.
Em um estudo de MONDO et al (2020) evidenciou semelhanças entre pessoas que
sofrem de depressão e pastores alemães, sugerindo que a domesticação levou os cães a
serem semelhantes aos humanos. Com a convivência animais adquiriram habilidades
sociais semelhantes às humanas, como olhar nos olhos e apontar gestos. Esses com-
portamentos únicos são, pelo menos parcialmente, regulados por hormônios e acredi-
ta-se que tenham sido geneticamente alterados durante a domesticação (KIKUSUI Et
al, 2019).

1.4.3 - Sinais Clínicos e Critérios de diagnósticos


O transtorno depressivo maior é caracterizado por alterações de humor, interesse
diminuído pelas atividades, comprometimento da função cognitiva e sinais neurovege-
tativos tais como alterações do sono e do apetite .
Na depressão os sinais podem ser divididos em: cognitivos, afetivos, comportamen-
tais e físicos. As mudanças cognitivas são especialmente relacionadas a dificuldades de
concentração, aprendizagem e pessimismo. As alterações comportamentais incluem
especialmente o isolamento, apatia e falta de interesse pelas atividades habituais. Os
sinais afetivos são tristeza, agressividade, irritabilidade e ansiedade. Já os físicos estão
relacionados a alterações de sono, apetite e fadiga (ASSOCIATION, 2014)
Durante os episódios depressivos, as alterações do eixo HPA podem ser devido à
hiperatividade do eixo ou mesmo um defeito primário, ou ainda, devido a alterações
nos receptores. Essas alterações são mais comuns na depressão grave, psicótica e crô-
nica. Pacientes portadores de depressão secretam mais cortisol e permanecem com
taxas elevadas mesmo durante a noite (repouso), quando normalmente a secreção é
mínima. Essas concentrações podem estar aumentadas no plasma, líquido cefalorra-
quidiano (LCR) e urina. A administração de dexametasona inibe a secreção do ACTH
e diminui a concentração de cortisol em 24 horas. Nos pacientes deprimidos esse fee-
dback negativo é ineficiente (LICINIO; WONG, 2007).
Os estudos de imagem identificaram reduções nos dendritos, neurônios e glia. O hi-
pocampo é o mais estudado e apresenta o volume reduzido de 10 a 20% nos pacientes
com depressão. Essa diminuição também ocorre no transtorno do estresse pós-trau-
mático e esquizofrenia. No córtex pré-frontal também ocorre essa atrofia e em contras-
te com a maioria dos distúrbios neurológicos em que alterações estruturais e perda de
neurônios são permanentes, a atrofia na depressão é reversível (DUMAN, 2012).

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COMPORTAMENTO ANIMAL PARA O DIREITO: UM NOVO NICHO PARA ADVOGADOS

1.4.4 - Comorbidades
O transtorno depressivo é frequentemente associado a viés cognitivo (RYGULA;
PAPCIAK; POPIK, 2013). O estresse crônico pode gerar mudanças irreversíveis se as
células do hipocampo começarem a se degenerar, com a perda de memória tornando-
-se permanente. Em exames de imagem, pode-se observar uma diminuição do volume
do hipocampo, pois os corticoides potencializam o efeito neurotóxico de aminoácidos
excitatórios (DE KLOET; JOËLS; HOLSBOER, 2005; JOËLS; KRUGERS; KARST, 2007;
ARNSTEN et al., 2015).
Um evento estressante na vida causa microdanos no cérebro. Este dano desencadeia
uma resposta de reparo de lesão que consiste em uma fase neuroinflamatória para
limpar detritos celulares,e uma fase de regeneração tecidual espontânea envolvendo
neurotrofinas e neurogênese. Durante cura, mediadores inflamatórios liberados de-
sencadeiam comportamentos de doença e dor psicológica por meio de mecanismos
semelhantes aos que produzem dor física durante a cicatrização de feridas (WAGER-
-SMITH; MARKOU, 2010). Modelos animais de depressão maior também fornecem in-
formações intrigantes sobre como as citocinas podem, direta e indiretamente, afetar o
cérebro, comportamento e humor. Infecções graves e doenças autoimunes aumentam
risco de desenvolver depressão posteriormente (CHARNEY, 1998; OTTE et al., 2016).

1.5 - Síndrome de pandora


1.5.1 - Definição
A Síndrome de Pandora é um termo utilizado para denominar um conjunto de pro-
blemas relacionados ao trato urinário, com aspectos psicológicos e endócrinos envol-
vidos. A Doença do Trato Urinário Inferior dos Felinos (DTUIF) compreende qualquer
alteração na bexiga ou uretra de gatos domésticos. Dentre essas alterações, acredita-
-se que a Cistite Intersticial (Cistite Idiopática) seja uma das causas mais comuns de
DTUIF atualmente. A doença acarreta a uma infinidade de complicações decorrentes
de uma única causa sendo o resultado de interações complexas entre a bexiga, o siste-
ma nervoso, as glândulas supra-renais, as práticas de manejo e o ambiente em que o
gato vive. Essa afecção de caráter psiconeuroendócrino, inflamatório e não infeccioso
leva a lesões sistêmicas, podendo acometer diversos órgãos. Sendo assim, se compara
ao mito da caixa de Pandora, devido à vasta extensão da doença e complexidade de seu
diagnóstico (SEDOSHKINA; FILIOGLO, 2019; TEIXEIRA et al, 2019).

1.5.2 Etiologia
A cistite idiopática felina representa uma síndrome resultante de uma série de me-
canismos subjacentes separados, mas potencialmente inter-relacionados, em vez de
uma doença com uma única causa. Embora continue sendo um diagnóstico de exclu-
são, ela resulta de interações complexas entre a bexiga urinária, o sistema neuroen-

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COMPORTAMENTO ANIMAL PARA O DIREITO: UM NOVO NICHO PARA ADVOGADOS

dócrino, fatores ambientais e o estresse parece desempenhar um papel protagonista


na patogênese. (KRUGER et al, 2009; BUFFINGTON; BRAIN, 2020). Outros fatores
tais como exposição a trauma, infecção crônica, causas psicossomáticas, químicas ou
ambientais também são relatadas (FEINSTEIN, 2001). Atualmente considerada uma
ansiopatia (westropp, 2019) resulta da crônica ativação do sistema nervoso central de
resposta à ameaça Leva a alterações de noradrenalina, cortisol, serotonina, adrenalina
e dopamina (Buffington 2018).
A natureza autolimitada do FIC e a importância dos fatores ambientais na recor-
rência dos sinais clínicos enfatizam a necessidade de estudos clínicos para determinar
as melhores opções de tratamento. Sabe-se que a obesidade e o estilo de vida inativo,
podem pré dispor a doença e uma recomendação nutricional específica de um alimen-
to urinário terapêutico pode reduzir episódios recorrentes (FORRESTER; TOWELL,
2015).

1.5.3 - Sinais Clínicos e Critérios de diagnósticos


Os sinais de doença do trato urinário inferior em gatos domésticos podem ser agu-
dos ou crônicos e podem resultar de combinações variáveis de anormalidades dentro
do lúmen, do parênquima ou outro sistema de órgãos que então conduzem à disfun-
ção. Na maioria dos gatos com sinais crônicos de disfunção, nenhuma causa subjacente
específica pode ser confirmada após a avaliação clínica padrão da doença, portanto,
esses gatos são tipicamente classificados como portadores de cistite idiopática. (BUF-
FINGTON; WESTROP; CHEW, 2014).
Os principais sinais: são polaciúria, disúria, hematúria, estranguria e piúria. (CHEW;
BUFFINGTON, 2007).

1.5.4 - Comorbidades
Gatos com síndrome de Pandora têm comorbidades tais como problemas compor-
tamentais, endócrinos, cutâneo, cardiovasculares e gastrointestinais ( BUFFINGTON;
WESTROP; CHEW, 2014) Possíveis explicações para a combinação do aumento do fa-
tor de liberação de corticotrofina, ACTH e sistema nervoso simpático atividade na pre-
sença de uma resposta adrenocortical diminuída; o achado de pequenos fasciculados
adrenais e zonas reticulares sem outras anormalidades aparentes; e a presença de uma
variedade de distúrbios comórbidos vistos em gatos com FIC incluem alguns distúrbio
genético e / ou acidente de desenvolvimento.

60
COMPORTAMENTO ANIMAL PARA O DIREITO: UM NOVO NICHO PARA ADVOGADOS

Considerações finais:
Os animais precisam da nossa ajuda para que a mensagem de nossa ajuda para que
a mensagem da senciência atinja o maior número de pessoas. Eles sofrem e muito.
Ainda bem que o direito animal está em ascensão.

Podem contar comigo para qualquer dúvida.

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