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Branquinho-Silva, Aline

Neurociência e aprendizagem: compreender o cérebro para


aprender mais e melhor/ Aline Branquinho-Silva. – Brasília, DF:
2016. 55 p.

ISBN 978-85-921858-0-0

1. Neurociência a aprendizagem 2. Desenvolvimento de pessoas 3.


Estratégias de aprendizagem
2016 Todos os direitos desta edição reservados a Aline Branquinho
Silva.
alinebranquinho@gmail.com
Para ser grande, sê inteiro: nada teu exagera ou
exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és no mínimo que
fazes.
Assim em cada lago a lua toda brilha, porque alta
vive.”
(Ricardo
Reis)

S
Sobre a
autora....................................................................................................
............ 5

Introdução..............................................................................................
........................ 7

1. Do que estamos
falando?.............................................................................................8

1.1. O que é
Neurociência?........................................................................................
.... 8

1.2. O que é Neurociência


cognitiva?............................................................................. 8

1.3. O que é
neuroeducação?....................................................................................
.......9

1.4. O que é

aprendizagem?......................................................................................
....10

2. Noções básicas de anatomia


cerebral........................................................................12
3. Mitos e Verdades sobre o funcionamento
cerebral................................................... 18

4. Neurogênese, neuroplasticidade e
aprendizagem..................................................... 32

4.1.
Memória.................................................................................................
............... 33

4.2. Processo de aprendizagem e

memorização........................................................... 36

4.3.

Atenção.................................................................................................
................ 37

4.4.

Emoção.................................................................................................
................ 37

5. Como aprender mais e


melhor?................................................................................ 39

Referências...........................................................................................
....................... 52
S
F

Formada em Pedagogia pela Universidade de Brasília (2005)


Especialista em Pedagogia Empresarial pelo UniCESP (2006)
Mestre em Ciências e Práticas da Educação e da Formação pela Université
Lumière Lyon II – França (2008)
Especialista em Gestão de Recursos Humanos pela École Nationale
d’Administration Publique – ENA França (2014)
Especialista em Neuroeducação pela Estácio de Sá (2015)
Coaching pela Sociedade Brasileira de Coach – SBC (2016)

E P
Servidora Pública da Embrapa desde 2008. Em 2009 foi
cedida para o Ministério do Planejamento, onde atuou na
implementação da política de capacitação de pessoal civil e na
estruturação do programa de formação de multiplicadores em gestão
de pessoas. Em 2012 foi cedida para os Correios onde atuou como
assessora da Vice-Presidência de Gestão de Pessoas. Em 2015, foi
a responsável estratégica pela reestruturação da Universidade
Corporativa dos Correios. Em junho de 2016 retornou para a
Embrapa, para atuar no projeto de estruturação da educação a
distância, conduzida pelo Departamento de Transferência de
Tecnologia - DTT.
Professora-Adjunta da Faculdade Senac-DF onde ministra as
disciplinas do curso de graduação em Gestão de Recursos
Humanos: “Teoria e Técnicas de Grupo” e “Treinamento,
Desenvolvimento e Educação Corporativa”. Na Pós-graduação
ministra as seguintes disciplinas: Fundamentos da Educação
Corporativa, Logística de TD&E e Práticas Pedagógicas.
R
Como profissional da área de Treinamento, Desenvolvimento
e Educação-TD&E, professora de ensino superior e mais
recentemente como coach, seu maior interesse sempre foi em como
identificar e implementar estratégias que auxiliem os adultos a
aprenderem de forma mais efetiva e prazerosa, obtendo assim
melhores desempenhos na vida pessoal, profissional ou acadêmica.
Encontrou na neurociência a compreensão das estruturas
biológicas envolvidas nesse processo de aprendizagem, adquirindo
assim o respaldo científico necessário para a promoção de práticas
efetivas de aprendizagem e desenvolvimento de pessoas.
O conhecimento das últimas descobertas da neurociência a
auxiliou a ter segurança nas estratégias de ensino e aprendizagem
que defende e implementa, mas mais que isso, possibilitou e
possibilita auxiliar outras pessoas a compreenderem o seu processo
de aprendizagem e mudança.
E essa é a sua missão: Disseminar de forma simples e
didática as mais recentes descobertas da neurociência cognitiva e
suas implicações para o processo de aprendizagem, traduzindo-as
em aplicações práticas, seja para aquele que busca o seu próprio
aprimoramento, seja para aquele que queira contribuir para o
desenvolvimento de outras pessoas.
I

Este não é um livro de autoajuda. Aqui você não encontrará


uma receita milagrosa que fará com que você aprenda X vezes mais
rápido utilizando Y passos.
Por outro lado, aqui você encontrará explicações científicas de
como o seu cérebro funciona e aprende, você poderá descobrir quais
são os principais mitos e verdades sobre o funcionamento cerebral e
fazer um diagnóstico sobre como está a qualidade dos seus estudos,
identificando estratégias para aprender mais e melhor.
Embora não se trate de soluções milagrosas e instantâneas,
você encontrará neste livro explicações que o auxiliarão a
desenvolver e explorar o seu imensurável potencial.
Este livro é fruto de três anos de intensas pesquisas e
estudo, visando identificar e analisar as últimas descobertas da
neurociência aplicada a educação.
Primou-se pela utilização de fontes científicas e relevantes e
optou-se por não abordar temas que ainda são muito controversos.
Este livro possui dois diferenciais: a utilização de
referenciais atuais e que ainda não possuem tradução para o
português e a transposição para uma linguagem simples e didática,
acessível ao público em geral.
1. D ?
1.1. O N ?
“Neurociência é o estudo do sistema nervoso: estrutura,
desenvolvimento, funcionamento, evolução, relação com o
comportamento e a mente, e também suas alterações” (Suzana
Herculano).
Os neurocientistas se especializaram no estudo do cérebro
e do sistema nervoso.
A neurociência tem feito enormes progressos ao longo dos
últimos anos.
Eles estudam como as células nervosas se organizam em
circuitos eficazes e funcionais.
Eles buscam respostas para perguntas como:
Como circuitos celulares nos permitem ler e falar?
Como e por que formamos relacionamentos?
Como podemos pensar, lembrar, sentir desespero ou nos
motivar?
Eles pesquisam possíveis causas dos transtornos
devastadores do cérebro e do corpo, bem como maneiras de
preveni-los ou curá-los.
1.2. O N ?
A neurociência cognitiva tem como objeto de estudo os
mecanismos dos sistemas neuronais mais complexos, como a
linguagem, a memória, a atenção, as representações mentais
(Izquierdo, 2002; Carvalho et al. 2012; Fiori, 2008).
Fiori (2008) destaca que as neurociências cognitivas se
apoiam em dados emprestados de diferentes métodos, como a
experimentação animal, a neuropsicologia e a psicologia.
Além disso, a autora destaca que, nos últimos 20 anos, os
avanços dos “métodos de imageria cerebral funcional permitiram
incontestáveis progressos nos estudos das funções cognitivas que
não substituem nem a reflexão teórica nem os procedimentos
experimentais reconhecidos classicamente em psicologia cognitiva”
(Fiori, 2008, p. 51).
Com relação às tecnologias de imagem cerebral deve-se
destacar que elas permitiram a observação do cérebro em ação,
abrindo vias para uma melhor compreensão de suas funções
cognitivas e emocionais (CERI, 2007; Tokuama-Espinosa, 2008).
1.3. O ?
Ao falar em neuroeducação, há que se considerar que
existem pelo menos três pontos de vista distintos, dependendo se a
literatura provêm de um neurologista, um psicólogo ou um educador,
e quais são as suas unidades de estudo.
Para Tokuama-Espinosa (2008) uma maneira de
compreender os debates conceituais nesse campo é reconhecer que
a neurologia é focada no neurônio como unidade primária de estudo,
enquanto a unidade de estudo da psicologia é a mente, e da
pedagogia é a sociedade, que se manifesta através da prática
educativa formal.
Assim, para a autora:
a neurologia procura demonstrar como o cérebro aprende
através de mudanças neuronais;
a psicologia procura documentar e manipular as mudanças no
comportamento com base no conhecimento da mente;
e o objetivo da educação é construir uma sociedade melhor a
partir das melhores práticas de ensino.
Tokuama-Espinosa (Opt. Cit.) acrescenta que, apesar das
diferentes metas de neurologistas, psicólogos e professores, eles
compartilham um objetivo comum, que é explicar o processo de
aprendizagem, o que se convencionou chamar de neuroeducação.
Neuroeducação é definida por vários
especialistas como a utilização científica da
pesquisa empírica para confirmar as melhores
práticas em pedagogia (Balttro, Fischer e
Léna, 2008; Fischer, Daniel, Immordino-Yang,
Stern, Battro e Koizumi, 2007; Sheridan,
Zinchenko e Gardner 2005). A neuroeducação
detém, potencialmente, a chave para uma
mudança de paradigma em técnicas de ensino
e um novo modelo de aprendizagem desde a
infância até a idade adulta (Tokuama-
Espinosa, 2008, p. 1).
Em resumo, poderemos dizer que a neuroeducação é a
utilização das pesquisas e descobertas da neurociência para explicar
o processo de aprendizagem, visando contribuir para o emprego de
melhores práticas de ensino e aprendizagem.
1.4. O ?
Para os educadores, trata-se de um processo ativo que
conduz a aquisição de conhecimentos e/ou habilidades e acarreta
em uma mudança de comportamento duradoura, mensurável e
específica.
Para os neurocientistas a aprendizagem é um processo
cerebral em reação a um estímulo, que alia percepção, tratamento e
integração de informação. Resulta da integração de todas as
informações percebidas e tratadas. Essa integração é então
materializada pelas modificações estruturais no próprio cérebro:
ocorrem mudanças microscópicas, que permitem a cada informação
tratada deixar um “traço” físico de sua passagem (CERI, 2008).
Para Mora (2004) a aprendizagem é “o processo em virtude
do qual se associam coisas ou eventos no mundo, graças à qual
adquirimos novos conhecimentos” (apud Carvalho et al., 2012, p.
540).
Em neurobiologia, a aprendizagem é definida como a
evolução de importância e de eficácia das conexões sinápticas que
permitem os processos cognitivos (Spitzer, 2002, apud Parasuraman;
Tippelt, 2007).
De acordo com a neurociência cognitiva a aprendizagem
humana não decorre de um simples armazenamento de dados
perceptuais, e sim do processamento e elaboração das informações
oriundas das percepções no cérebro (Carvalho et al., 2012, p. 539).
Koizumi (2003) define a aprendizagem como “o processo
pelo qual o cérebro reage aos estímulos e cria conexões neurais que
servem de circuito de tratamento da informação e permite uma
estocagem da informação” (p. 40).
E para Guerra (2011) “a aprendizagem se traduz pela
formação e consolidação das ligações entre as células nervosas. É
fruto de modificações químicas e estruturais no sistema nervoso de
cada um, que exigem energia e tempo para se manifestar” (p.38).
2. N
Para compreender a contribuição da neurociência para a
aprendizagem, é importante conhecer as principais estruturas do
nosso cérebro, esse órgão que pesa em média 1,4kg e consome em
média 20% da nossa energia!
O cérebro faz parte do Sistema Nervoso. Este é dividido em
Sistema Nervoso Central (SNC) e Sistema Nervoso Periférico (SNP).
O Sistema Nervoso Central (SNC) é formado pelo Encéfalo
(localizado dentro da cavidade craniana) e a Medula Espinhal
(localizada no canal vertebral)
E o Sistema Nervoso Periférico (SNP) é tudo aquilo que se
encontra fora do SNC, isto é, que se localiza fora de estruturas
ósseas. É composto por nervos e gânglios e é responsável pela
comunicação do SNC com todas as partes do nosso corpo

Fonte: (MACHADO, 2006)


O Encéfalo é constituído pelo cérebro, pelo cerebelo e pelo
tronco encefálico.
Imagem: Pixabay, com adaptações.

O tronco encefálico, por sua vez, é constituído pelo


mesencéfalo, pela ponte e pelo bulbo.

Imagem: Pixabay, com adaptações.


Imagem: Pixabay, com adaptações.

O cérebro humano é constituído de dois hemisférios


cerebrais relativamente parecidos. O hemisfério direito trata
principalmente as capacidades especiais e o reconhecimento dos
rostos. O hemisfério esquerdo é responsável mais pela linguagem, a
matemática e a lógica. Entre os dois hemisférios há uma faixa de 250
milhões de fibras neuronais batizada de corpo caloso, que serve de
passarela e permite a troca de informações entre os dois
hemisférios.
Cada hemisfério é dividido em quatro lobos, organizados
em circuitos bastante complexos que se encarregam de funções
como a linguagem, a memória, informação sensorial, visuais,
auditiva.
Imagem: Pixabay, com adaptações.

A superfície do cérebro é formada por uma camada de


células, chamada de córtex cerebral, estrutura considerada como a
mais elevada do cérebro.
Ao fazer um corte no cérebro, observa-se o córtex cerebral
– também chamada de sustância cinzenta - na superfice externa,
depois uma grande estrutura branca, localizada abaixo do córtex
cerebral. Essa é a matéria branca, formada principalmente por
grupos de axônios.
Abaixo da substância branca, notamos igualmente uma
série de massa cinzenta chamada de estruturas subcorticais. Esses
núcleos são aglomerados de corpos celulares que compartilham
conexões com outras regiões do cérebro. Essas estruturas são
numerosas e podem estar envolvidas em diversos processos:
habilidades motoras, motivação, memória, emoções etc.
Corte frontal do cérebro.
Imagem: https://www.youtube.com/watch?v=_aCCsRCw78g

O tecido cerebral é composto por dois tipos de células: os


neurônios e as células gliais.
N
Os neurônios são as células excitáveis do sistema
nervoso que veiculam as informações entre a periferia
do sistema nervoso central, e, reciprocamente, entre
as diversas regiões do sistema nervoso central. Eles
constituem assim as células de base que permitem
retirar a informação do ambiente, agir sobre o
ambiente. Também permitem pensar, memorizar,
antecipar e programar uma ação (Fiori, 2008, p.22).

No cérebro há cerca de 86 bilhões de neurônios (Herculano-


Houzel & Lent, 2005).
Três elementos caracterizam o neurônio: o corpo celular, os
dendritos e os axônios.
Imagem: Pixabay, com adaptações

Os dendritos têm o papel de receber a informação nervosa,


proveniente de outro neurônio.
O axônio é um prolongamento do corpo celular que serve para
transmitir os impulsos nervosos para outro neurônio.
Esses impulsos nervosos são algo como o “código” do
neurônio e se movimentam a uma velocidade média de 60 metros
por segundo.
Essa velocidade com a qual um impulso nervoso percorre um
axônio pode ser aumentada em até 100 vezes, caso ele tenha
passado pelo processo de mielinização - processo no qual uma
camada gordurosa se forma em torno do axônio, isolando-o.
Ao final do axônio se encontra a terminação nervosa, que
pode formar uma sinapse com outro neurônio. A sinapse é uma
conexão entre dois neurônios e permite a transmissão de
informação. Um mesmo neurônio pode receber centenas de
conexões.
A maioria das sinapses são sinapses químicas. No caso de
uma sinapse química, os elementos de transmissão são chamados
de neurotransmissores.
Imagem: Pixabay, com adaptações

Existem cerca de sessenta neurotransmissores repertoriados


até agora e eles podem ser excitantes (favorecem a transmissão do
influxo nervoso de um neurônio a outro) ou inibitórios (freiam essa
transmissão).
Quando o impulso nervoso proveniente do corpo celular chega
à terminação nervosa, ele libera o neurotransmissor. O neurônio
emissor é chamado de “pré-sináptico” e o neurônio receptor é
chamado de “pós-sináptico”.

C G
As células gliais são, assim como os neurônios, células que
compõem o tecido cerebral. Os neurônios transmitem os sinais e as
células gliais asseguram a sua nutrição e o seu “isolamento”.
Isso é, a glia proporciona ao mesmo tempo a sustentação da
célula nervosa e a sua nutrição. Fiori (2008, p. 26) apresenta quatro
tipos de células gliais, que possuem diferentes funções:
i. Astrócitos: ocupam boa parte do espaço entre
os neurônios. Possuem complexas funções,
dentre elas, a de permitir a troca entre os
neurônios e o sangue. Além disso, têm um papel
na comunicação entre os neurônios intervindo no
metabolismo dos neurotrasmissores e na
regulação do equilíbrio iônico;
ii. A microglia é formada por células muito
pequenas que têm um papel de defesa contra
vírus e bactérias suscetíveis de atacar – e assim
destruir – os neurônios;
iii. Os oligodendrócitos envolvem os axônios
dos neurônios do sistema nervoso central; e
iv. As células de Schwann envolvem as fibras
nervosas do sistema nervoso periférico. Os
oligodendrócitos e as células de Schwann
fabricam mielina.
3. M V

Os neuromitos, em sua grande maioria, surgem a partir de


pontes infundadas ou mal formuladas entre a neurociência e a
educação.
De acordo com o CERI (2007) os mitos podem ser de três
naturezas: exagerado, parcialmente errados ou completamente
equivocados.
Abaixo elencamos 10 afirmativas, algumas são verdadeiras,
outras são mitos. Que tal testar os seus conhecimentos ?

Afirmativa Mito Verdade


1. Utilizamos apenas 10% do nosso
cérebro.
2. A formação do cérebro
(desenvolvimento físico) só termina em
torno dos 30 anos.
3. Existem períodos críticos onde certos
aprendizados são indispensáveis. Por
exemplo: se não aprendermos a tocar um
instrumento quando criança, dificilmente
aprenderemos quando adultos.
4. Os adultos perdem a capacidade de
aprender porque os neurônios vão
morrendo e não é possível o surgimento
de novos neurônios.
5. O cérebro só pode aprender uma língua
de cada vez.
6. Todos temos um estilo de
aprendizagem predominante: visual,
auditivo ou sinestésico.
7. Somos cérebro direito ou cérebro
esquerdo.
8. Não somos capazes de prestar atenção
em duas coisas ao mesmo tempo.
9. Podemos aprender dormindo.
10. Realizar atividade física regularmente
ajuda a aprender melhor.

Mitos e verdades sobre o funcionamento do cérebro:


Utilizamos apenas 10% do nosso cérebro
FALSO
É difícil precisar de onde surgiu esse mito, alguns atribuem
sua origem a Einstein, que declarou em uma entrevista que ele
utilizava apenas 10% de seu cérebro. Além disso, nos anos 30,
nas primeiras pesquisas sobre o cérebro, constatou-se que certas
zonas cerebrais não reagiam aos choques elétricos, concluindo-
se assim que essas regiões não possuíam finalidade.
Hoje, o mito de 10% persiste com filmes de grande
sucesso, como "Lucy", ajudando a perpetuar esse mito. Mas isso
não se limita à cultura popular: em pesquisa realizada por
Howard-Jones, em 2014, com professores do Reino Unido,
Holanda, Turquia, Grécia e China, cerca de 50% dos professores
concordaram que os seres humanos só usam 10% da sua
capacidade cerebral.
No entanto, as pesquisas em neurociência mostram que o
cérebro é ativo a 100%. Em neurocirurgia, onde é possível
observar as funções cerebrais em pacientes com anestesia local,
estímulos elétricos não mostraram nenhuma zona inativa, mesmo
quando nenhum movimento, sensação ou emoção é observada.
Segundo SUKEL (2015), Marcus Raichle (2001)
neurocientista da Universidade de Washington em St. Louis e
membro da Dana Alliance for Brain Initiatives (DABI), foi um dos
primeiros cientistas a sugerir que, mesmo em repouso, o cérebro
está trabalhando em sua total capacidade. Desde então, a
maioria dos neurocientistas aceitaram que o cérebro tem o que
poderíamos chamar de "modo padrão", uma sofisticada rede de
áreas cerebrais que permanecem ativas mesmo quando o cérebro
está descansando.
Nenhuma zona cerebral permanece inativa, mesmo durante
o sono. O exemplo de pessoas que viveram durante anos com
uma bala instalada no cérebro (ou com outro tipo de traumatismo)
não indica a existência de “zonas inutilizadas” e sim a
extraordinária capacidade plástica: neurônios, ou redes de
neurônios, são capazes de suplementar os que foram destruídos
(nesses casos, o cérebro se reconfigura), para superar os déficits
daí resultantes.
(CERI, 2007; HOWARD-JONES, P. A., 2014; Sukel, K, 2015;
TARDIF, E. ; DOUDIN, P.A., 2011).
Mitos e verdades sobre o funcionamento do cérebro:
A formação do cérebro (desenvolvimento físico) só termina em
torno dos 30 anos.
VERDADEIRO
Imagens de cérebros de adolescentes mostram que eles
estão longe de ter chegado à maturidade, e que eles passam por
importantes modificações estruturais depois da puberdade.
A adolescência é um período fundamental para o
desenvolvimento emocional. Em função da grande quantidade de
hormônio presente no cérebro, a imaturidade do córtex pré-frontal
dos adolescentes, sem dúvida, tem um papel crucial na instabilidade
de seus comportamentos (CERI, 2007).
A maturação do córtex pré-frontal ocorre de forma tardia no
desenvolvimento humano – por volta dos trinta anos.
A adolescência cerebral dura um período mais longo do que
poderíamos imaginar até bem pouco tempo atrás. Isso ajuda a
explicar certos comportamentos (TARDIF, E. ; DOUDIN, P.A., 2011).
Mitos e verdades sobre o funcionamento do cérebro:
Existem períodos críticos onde certos aprendizados são
indispensáveis. Por exemplo: se não aprendermos a tocar um
instrumento quando criança, dificilmente aprenderemos
quando adultos.
FALSO
Até o momento, não foram descobertos períodos críticos
onde certos aprendizados são indispensáveis, o que não quer
dizer que eles não existam.
Há evidências de que os adultos são menos aptos a
aprender algumas coisas. Por exemplo, para aqueles que
começam a aprender um novo idioma na idade adulta, a
probabilidade de conservar o “sotaque estrangeiro” é muito maior
do que quando a aprendizagem acontece na infância.
Da mesma forma, para a aprendizagem da prática
instrumental a virtuosidade de um aprendiz tardio não será jamais
igual à de uma criança que recebeu a mesma aprendizagem
desde a idade de cinco anos.
Porém, os neurocientistas preferem chamar de “períodos
sensíveis” - lapso de tempo em que a aprendizagem de
determinado domínio específico é mais fácil.
Cabe destacar ainda que, existem inúmeras competências
mentais, como a leitura e a aquisição de vocabulário, nos quais o
desenvolvimento parece não depender de períodos sensíveis.
Um dos fatores que fazem com que esse mito seja tão
disseminado é o fato de que se acreditou por muito tempo que o
número máximo de neurônios era fixado no nascimento e que, ao
contrário da maioria das outras células, os neurônios não se
regeneravam.
No entanto, há 20 anos, os estudos minimizam esse
posicionamento e mostram dois fenômenos até então
considerados como improváveis: novos neurônios aparecem a
todo momento da vida (neurogênese) e o número de neurônios
em nosso Sistema Nervoso permanece estável ao longo da vida.
Além disso, a partir da descoberta da neuroplasticidade, pode-se
afirmar que aprendemos ao longo de toda a vida.
Mitos e verdades sobre o funcionamento do cérebro:
Os adultos perdem a capacidade de aprender porque os
neurônios vão morrendo e não é possível o surgimento de
novos neurônios.
Falso
O artigo “Brain, Cognition and Learning in Adulthood” dos
pesquisadores Raja Parasuraman da Universidade George Mason
- Estados Unidos e Rudolf Tippelt, da Universidade Ludwig-
Maximilian – Alemanha (sem tradução para o português),
apresenta importantes resultados de pesquisas sobre o cérebro e
a cognição na idade adulta, dentre os quais se destaca o fato de
algumas funções perceptuais e cognitivas piorarem com a idade,
enquanto outras se tornam estáveis e até melhoram, conforme
detalhamento a seguir:
O que piora com a idade:
A memória fica mais lenta (Baltes et Staudinger, 2000;
Sternberg, 1990).
Os adultos são mais lentos que os jovens (Salthouse,
1996; Schaie, 2005).
A memória de curto prazo é mais reduzida (Dobbs et Rule,
1989).
A memória de longo termo.
As capacidades sensoriais periféricas (por exemplo, a
acuidade da retina) e centrais (por exemplo, a percepção do
movimento) diminuem de forma progressiva (Lindenberger,
Scherer et Baltes, 2001).
O que não muda com a idade:
A criatividade.
O que melhora com a idade:
Os conhecimentos gerais e o domínio da linguagem.
O conhecimento semântico.
A capacidade de resolução de problemas de forma
original, e o que podemos chamar de “sabedoria” (Baltes et
Staudinger, 2000; Sternberg, 1990).
Defende-se a ideia de que o melhor conhecimento do mundo
e das competências verbais superiores pode permitir ao indivíduo
compensar a degeneração de sua capacidade de tratamento da
linguagem e de sua memória de curto prazo (Kruse et Rudinger,
1997).
Além disso, a pesquisa afirma que os resultados dessas
experiências de neuroimagem sugerem que as pessoas mais
velhas compensam o declínio da capacidade de tratamento das
informações mobilizando zonas cerebrais diferentes e
suplementares, principalmente o córtex pré-frontal.
O envelhecimento do cérebro está associado a uma série de
mudanças estruturais em todos os níveis: intracelular, neuronal e
cortical. Sabe-se que a substância cinza cortical diminui ao longo
de toda a vida, mas que essa diminuição é mais sensível a partir
da idade adulta. Mas, não está comprovado que isso seja
acompanhado da diminuição do número de neurônios.
O envelhecimento é igualmente associado às alterações na
substância branca, mesmo que nós ainda não saibamos muito
bem as suas implicações.
É possível que esses dois elementos sejam vinculados, e
que as modificações estruturais acarretem as mudanças
cognitivas.
A falta de regularidade entre a ligação do volume cerebral e
a cognição nas pessoas mais velhas nos faz pensar que outras
variáveis devem ser levadas em consideração, como os fatores
ambientais, que englobam as ocasiões de aprender, as interações
sociais, o treino, o exercício, a estimulação intelectual, etc.
Outro resultado de fundamental importância é que as
funções cerebrais declinam quando deixam de ser utilizadas. Por
isso, o conceito de aprendizagem ao longo de toda a vida ganha
ainda mais importância. Para os autores, a aprendizagem
tem por principais objetivos o aumento da competitividade
econômica, a manutenção do valor do indivíduo para o trabalho, e
o reforço da coesão social em uma sociedade plural e
individualizada. Além disso, a aprendizagem ao longo da vida visa
também enriquecer a personalidade e conservar a independência
na idade adulta.
Por fim, os pesquisadores ressaltam que as “barreiras”
frequentemente citadas pelas pesquisas empíricas não são
fundamentalmente devidas às capacidades de aprendizagem das
pessoas mais velhas e sim às questões relacionadas ao acesso a
formação para adultos.
Quanto mais velhas são as pessoas, menos elas participam
de programas de formação, principalmente quando elas estão
ligadas à sua vida profissional, o que não se justifica no campo
teórico da aprendizagem. Os acadêmicos são exceção a esse
fenômeno, uma vez que, quanto mais velhos, mais eles
participam de programas de formação. Assim, é um grande
engano não integrar suficientemente as pessoas mais velhas nos
programas de formação.
Por isso, afirma-se que temos boas razões para pensar
que a “estimulação cognitiva” nas pessoas mais velhas (seja por
iniciativa própria, ou por iniciativa da família) pode evitar ou
eliminar o declínio das funções cognitivas (Karp et autres, 2004).
Wilson et al. (2002) solicitaram que pessoas mais velhas
avaliassem o seu nível de investimento nas diversas atividades
que exigiam esforço cognitivo (escutar rádio, ler, jogar, ir ao
teatro).
Os que diziam praticar muito essas atividades se saiam
melhor nos testes cognitivos que os outros. Uma análise
longitudinal demonstrou inclusive que esses estímulos cognitivos
diminuem o risco de desenvolvimento de doenças como o mal de
Alzheimer.
Corroborando a pesquisa supracitada, Palácios (2004) “frisa
que a manutenção da atividade intelectual contribui para a boa
capacidade de funcionamento cerebral; isso significa que
continuar aprendendo ao longo da vida contribui para o bom
funcionamento de nosso cérebro” (Carvalho et al, 2012, p.
250).
Assim, a neurociência demonstrou que a aprendizagem
acontece ao longo da vida, e que quanto mais se continua a
aprender, melhor se aprende. Sempre é benéfico aprender,
principalmente quando se é mais idoso, pois estudos
demonstraram que aprender pode limitar o declínio cerebral.
Quanto mais as pessoas de idade têm a ocasião de
aprender, mais elas terão a chance de retardar a aparição de
doenças neurodegenerativas, ou de limitar o seu desenvolvimento
(CERI, 2007).
Mitos e verdades sobre o funcionamento do cérebro:
O cérebro só pode aprender uma língua de cada vez
FALSO
Estudos recentes revelaram uma sobreposição de zonas de
linguagem no cérebro de pessoas que dominam múltiplas línguas.
Isso poderá ajudar a desmistificar a ideia segundo a qual o cérebro
possui recursos limitados para estocar informações relativas à
linguagem.
Também é falsa a ideia de que o domínio da língua materna é
piorada quando se aprende uma segunda língua. As pessoas que
dominam múltiplas línguas são exemplos disso. Os alunos que
aprendem uma língua estrangeira na escola não pioram na língua
materna, pelo contrário, eles tendem a progredir nas duas.
Mitos e verdades sobre o funcionamento do cérebro:
Todos temos um estilo de aprendizagem predominante:
visual, auditivo ou sinestésico.
FALSO
A difundida categorização dos indivíduos em visual,
auditivo ou sinestésico não encontra fundamentação nas
pesquisas neurocientíficas, razão pela qual essa abordagem é
considerada um neuromito (Goswami, 2004, 2006; Geake, 2008,
apud Tardif & Doudin, 2011).
Além da falta de apoio dos estudos de neurociência, essa
abordagem parece não ter muito apoio empírico.
Uma das ideias dessa abordagem é distinguir as
preferências individuais por cada modalidade e, em seguida,
adaptar um método de aprendizagem que supostamente está em
conformidade com o perfil do indivíduo. Em uma revisão da
literatura sobre esse assunto, Stahl (1999, apud Tardif & Doudin,
2011) observa vários trabalhos que tentaram verificar
empiricamente esse método e a grande maioria dos estudos
conclui pela sua ineficácia.
Todas as pessoas usam diferentes estratégias para
aprender novas informações, dependendo do momento e do
contexto da aprendizagem. Há uma crença bem fundamentada de
que os cérebros humanos são tão únicos quanto as faces do
rosto. Mesmo que a estrutura básica seja a mesma, não existem
dois cérebros iguais. Isso significa que, embora existam padrões
gerais de organização sobre as diferentes formas pelas quais as
pessoas aprendem, quais áreas do cérebro estão envolvidas,
cada cérebro é único e organizado de forma única (Tokuama-
Espinosa, 2008).
Mitos e verdades sobre o funcionamento do cérebro:
Somos cérebro direito ou cérebro esquerdo
FALSO
O cérebro é um sistema altamente integrado. É muito raro
uma parte trabalhar de forma isolada. Atualmente, há indícios de que
os hemisférios cerebrais não trabalham de forma isolada, mas sim
conjuntamente, para todas as atividades cognitivas, mesmo que
exista assimetria funcional.
Existem algumas atividades, entre elas o reconhecimento
de rostos e a produção de um discurso, para as quais um dado
hemisfério é dominante, mas na maior parte das atividades é
necessário o trabalho dos dois hemisférios em paralelo (CERI, 2007;
TARDIF, E. ; DOUDIN, P.A., 2011).
Mitos e verdades sobre o funcionamento do cérebro:
Não somos capazes de prestar atenção em duas coisas ao
mesmo tempo
VERDADEIRO
Cosenza e Guerra (2001) afirmam que duas informações
não podem ser processadas ao mesmo tempo e, por isso, o cérebro
alterna a atenção entre as informações concorrentes.
Toda atividade mental humana organizada possui algum
grau de direção e de seletividade. Entre os muitos estímulos que nos
atingem, só respondemos àqueles poucos que são especialmente
fortes ou que parecem particularmente importantes e correspondem
aos nossos interesses, intenções ou tarefas imediatas. Entre o
grande número de movimentos possíveis, escolhemos somente
aqueles que nos capacitam a atingir o nosso objetivo imediato ou a
realizar um ato necessário; também, entre o grande número de
traços ou suas conexões armazenadas em nossa memória, só
escolhemos aqueles poucos que correspondem à nossa tarefa
imediata e nos capacitam a executar algumas operações intelectuais
necessárias (Luria, 1981, p. 244).
Mitos e verdades sobre o funcionamento do cérebro:
Podemos aprender dormindo
Falso
Nenhuma pesquisa científica prova que é possível aprender
o que quer que seja durante o sono. Além disso, seja dormindo ou
não, nós não podemos aprender nada pela simples repetição. Para
aprender, esforços conscientes são necessários. É possível se
deparar com “gravações de áudio” para escutar dormindo que não só
prometem proporcionar o aprendizado, mas também o abandono do
tabagismo e a perda de peso. No entanto, não há nenhuma prova
científica de que isso seja possível (Tardif & Doudin, 2011).
Por outro lado, o sono é importante para a consolidação da
memória de longo prazo. Privação de sono também tem um impacto
negativo na memória (Tokuama-Espinosa, 2008).
Foi ao longo de estudos com animais que primeiramente
identificou-se a ligação entre sono e aprendizagem/plasticidade: eles
indicam uma correlação entre quantidade de sono paradoxal e
desempenho de atividades precisas (Smith, 1996 In CERI, 2007).
Estudos recentes em humanos trouxeram provas da implicação do
sono de ondas lentas na consolidação da memória e da consequente
plasticidade neuronal (Huber et al., 2004; Marshall et al., 2006; in
CERI, 2007).
Assim, foi sugerido que, durante o sono, o conjunto do córtex
poderia proceder a modificações plásticas no momento da
“atualização” das experiências do mundo, especialmente em função
dos eventos do dia anterior (Kavanau, 1997, in CERI, 2007). Uma
hipótese postula que o sono tem um papel fundamental na
plasticidade cerebral, isto é, na manutenção de um sistema de
conexões neuronais apropriado, por meio de um processo de reforço
das sinapses úteis e na eliminação das sinapses supérfluas (Opt.
Cit.).
A consolidação das memórias ocorre, pouco a pouco, a cada
período de sono, quando as condições químicas cerebrais são
propícias à neuroplasticidade. Enquanto dormimos, o cérebro
reorganiza suas sinapses, elimina aquelas em desuso e fortalece as
importantes para comportamentos do cotidiano do indivíduo. Dormir
pouco dificulta a memorização (Guerra, 2011, p.9).
Mitos e verdades sobre o funcionamento do cérebro:
Realizar atividade física regularmente ajuda a aprender melhor
Verdadeiro
Um estudo que visava observar os efeitos de um programa de
exercício aeróbico em senhores de idade demonstrou claramente
que os benefícios em potencial do exercício aeróbico vão além do
âmbito da saúde cardiovascular, e impactam também as
capacidades cognitivas (Rossato, 2011).
Guerra (2011) sinaliza igualmente que:“ Exercícios físicos
aumentam a quantidade de fatores neurotróficos que contribuem para
estabilização das sinapses e para manutenção e formação de memórias. ” (p. 9)
Mitos e verdades sobre o funcionamento do cérebro:
Manter uma alimentação saudável ajuda a aprender melhor
Verdadeiro
A alimentação impacta a aprendizagem (bons hábitos
alimentares contribuem para aprendizagem). Em contrapartida, maus
hábitos alimentares inibem a capacidade do cérebro de maximizar o
seu potencial de aprendizagem (Tokuama-Espinosa, 2008).
Diferentes pesquisas (Uta Frith et al., 2011; CERI,
2007) indicam que um regime rico em ácidos graxos essenciais e um
bom café da manhã, contribuem para uma boa saúde do cérebro e
melhoram a aprendizagem.

Enfim, saúde física, exercício, sono e nutrição são cruciais


para o bem-estar físico e mental e seus efeitos sobre as funções
cognitivas são mediadas pelo cérebro (Uta Frith et al., 2011).
4. N ,

Com o surgimento da imageria cerebral e com os avanços


das pesquisas em neurociência, descobriu-se recentemente que
certas zonas do cérebro geram novos neurônios ao longo de toda a
vida (CERI, 2007). Essa descoberta é de grande importância, pois
“durante muito tempo acreditou-se que não se formavam novos
neurônios após o nascimento e que havia uma perda progressiva na
população neuronal à medida que envelhecemos” (Cosenza &
Guerra, 2011, p. 32).
O nascimento de novos neurônios é chamado de
neurogênese e a formação de novas sinapses, sinaptogênese.
As pesquisas realizadas pelo Centre pour la recherche et
l’innovation dans l’enseignement- CERI (2007) destacam que novos
neurônios e novas sinapses são criados durante toda a existência,
conforme o cérebro trata as informações que ele recebe do
ambiente. As sinapses mais ativas são reforçadas, ao mesmo tempo
em que as menos ativas se enfraquecem. Com o tempo, as
conexões inativas se enfraquecem, e, quando todas as conexões de
um mesmo neurônio ficam inativos por muito tempo, a célula pode
acabar morrendo (CERI, 2007).
Essa propriedade de “fazer e desfazer” conexões entre
neurônios é chamado de neuroplasticidade ou plasticidade neural.
Numa forma abrangente, plasticidade neural pode ser
definida como uma mudança adaptativa na estrutura e
nas funções do sistema nervoso, que ocorre em
qualquer estágio da ontogenia, como função de
interações com o ambiente interno ou externo ou,
ainda, como resultado de injúrias, de traumatismos ou
de lesões que afetam o ambiente neural (Phelps,
1990). De acordo com Pia (1985), o termo plasticidade
foi introduzido por volta de 1930 por Albrecht Bethe,
um fisiologista alemão. Plasticidade seria a
capacidade do organismo em adaptar-se às mudanças
ambientais externas e internas, graças à ação
sinérgica de diferentes órgãos, coordenados pelo
sistema nervoso central (SNC) (FERRARI et al., 2001,
p. 188).

Além da crença de que os neurônios morriam ao longo da


vida e de que não era possível o surgimento de novos neurônios,
acreditava-se que o cérebro só evoluía até os doze anos. Uma das
razões que deram nascimento a essa ideia falsa é o fato de que
depois da infância o cérebro quase não cresce mais (CERI, 2007).
De fato, o desenvolvimento motor da criança é enorme nos
primeiros meses de vida, mas, sabe-se hoje que os cérebros dos
adolescentes estão longe de chegar à maturidade e que eles passam
por importantes modificações estruturais bem depois da puberdade.
A adolescência é um período de mudanças mentais muito
importante, que afeta a construção emocional, a consciência social, o
caráter e as tendências a desenvolver doenças mentais.
No entanto, é sabido igualmente que a plasticidade tende a
diminuir com a idade. Por exemplo, algumas aprendizagens estão
sujeitas a períodos sensíveis, como é o caso do “domínio do som da
fala e estrutura gramatical, que é geralmente melhor nas pessoas
que iniciaram o estudo de uma segunda língua antes da puberdade”
(Uta Frith et al., 2011, p. 05).
Apesar da existência de períodos sensíveis, o cérebro muda
constantemente como resultado da aprendizagem e continua a ser
plástico ao longo de toda a vida.
A aprendizagem, possibilitada pela plasticidade cerebral,
modifica química, anatômica e fisiologicamente o cérebro, porque
exige alterações nas redes neuronais cada vez que as situações
vivenciadas no ambiente inibem ou estimulam o surgimento de novas
sinapses mediante a liberação de neurotransmissores (Mora, 2004,
apud Carvalho et al., 2012).
A plasticidade é a essência da aprendizagem. Como a
neuroplasticidade ocorre ao longo de toda a vida, pode-se aprender
em qualquer idade.
A interação com o ambiente estimula a formação de novas
sinapses no interior do cérebro e no restante do sistema nervoso.
Conexões sinápticas entre os neurônios são construídas,
desconstruídas e reorganizadas permanentemente.

4.1. M
Mora (2004) denomina memória como sendo o “processo
pelo qual conservamos o conhecimento ao longo do tempo. Os
processos de aprendizagem e memória modificam o cérebro e a
conduta do ser vivo que os experimenta” (apud Carvalho et al., 2012,
p. 540).
Para Izquerdo (2002) há tantos tipos de memória como
tipos de experiência, mas como o ser humano tem necessidade de
categorização, a memória não escapou a essa regra. Diferentes
autores a classificam de diferentes maneiras. Destacamos a seguir a
classificação mais recorrente na literatura:

4.1.1. A ,

Tem duração de alguns segundos e permite a retenção da


informação durante o processamento. Primi (2002) refere-se à
memória de trabalho como a capacidade de armazenamento
acrescida da capacidade de processamento. Para Fiori (2008) a
memória de trabalho, “como o nome indica, permite efetuar um
‘trabalho’, isto é, um processamento cognitivo sobre as informações
memorizadas temporariamente” (p. 111).
Sua capacidade de armazenamento é muito grande, mas
se a informação for considerada irrelevante, será descartada.
Na ordem das dezenas de segundos, permite reter uma
informação durante o tempo de tratá-la ou "manipulá-la". É uma
memória ativa que dá acesso a processos cognitivos de alto nível
(Favre, 2010, p. 16). Por isso,
se é feita a ativação dos registros armazenados no cérebro
por um número suficiente de vezes, ou se ela é associada a
sinais que levam a registros já disponíveis, a memória
operacional poderá conservá-la por um período bem maior,
que pode chegar a horas ou mesmo dias (Cosenza &
Guerra, 2011, p. 54).

4.1.2. A
A memória de longo prazo pode ser dividida em memória
explícita (declarativa) ou memória implícita (não declarativa) (Fiori,
2008).
4.1.2.1 Memória explícita (ou Declarativa): Episódica e
Semântica (Favre, 2010)
Memória episódica: refere-se à história pessoal, ligada a um lugar,
um momento, uma emoção e a um contexto particular. Em geral, os
eventos carregados de emoção são melhores conservados, mas
essa memória episódica é frágil, suscetível a qualquer
enfraquecimento e danos cerebrais, especialmente temporais e do
hipocampo.
Memória semântica: é a memória dos saberes, dos conhecimentos
gerais, da cultura pessoal. Ela engloba as aprendizagens
escolares e em seguida as profissionais, o conhecimento sobre si
mesmo e seu próximo. Ela compreende também o sentido das
palavras e dos conceitos.
4.1.2.2. Memória implícita: memória de procedimentos
(procedural), memória perceptual e memória prospectiva
Memória procedural: refere-se aos comportamentos automatizados
depois de uma aprendizagem, seja motora, gestual ou cognitiva.
Exemplo de aprendizagem cognitiva seria: lembrar-se sem esforços
de livretos aprendidos, a terminação de grupos verbais, uma receita,
um trajeto, o domínio de um software.
“Ela instala-se essencialmente por meio do processo de repetição e,
diferentemente da memória explícita, não se organiza em rede, mas
se limita ao aperfeiçoamento ou reforço das conexões em circuitos
específicos” (Cosenza & Guerra, 2011, p. 71-72).
Memória perceptual: conserva as informações sensoriais, os cheiros,
as impressões de temperatura. Ela permite a lembrança de uma
sensação de um evento específico, a forma de um objeto, a altura
dos degraus de uma escada. Essa memória é a que mais é ativada
involuntariamente (Favre, 2010).
Memória prospectiva: é a memória das coisas a serem feitas.
Memória prospectiva: “trata-se da habilidade de memorizar eventos
ou situações que estão por vir, ou o lembrar de lembrar” (Cosenza &
Guerra, 2011, p. 55).
Nos modelos mais recentes, a permanência na memória de
curto prazo não é suficiente para a memorização de longo
prazo: intervêm igualmente fatores como a profundidade de
processamento durante a codificação e a repetição mental,
as pesquisas na memória de longo prazo que permitem
organizar e processar a informação em curso de codificação
e estabelecer as ligações semânticas entre a nova
informação e os conhecimentos antigos. A informação não é
somente mantida, mas também processada. (...)
Possivelmente existem várias memórias de curto prazo que
correspondem a vários locais de armazenamento,
relacionados aos suportes de apresentação da informação
(visual, auditivo,...) e com a finalidade da permanência da
informação na memória de longo prazo (Fiori, 2008, p. 111).

Segundo o Centre pour la recherche et l’innovation dans


l’enseignement- CERI (2007) as pesquisas sobre o processamento
da memória progrediram muito nos últimos anos. Sabe-se hoje que a
memória não obedece a um único tipo de fenômeno e que ela não é
localizada em um único ponto do cérebro. No entanto, ao contrário
da crença popular, a memória não é infinita. Isso é cientificamente
impossível porque as informações são estocadas nas redes
neuronais e o número dessas redes é finito (mesmo que ela seja
gigantesca). Pesquisas também mostraram que a capacidade de
esquecimento é necessária a uma boa memorização.
No entanto, o referido relatório afirma que muitos estudos
neurológicos ainda são necessários para compreender como
funciona a memória. Existem muitas diversidades individuais, e um
mesmo indivíduo, ao longo da vida, utilizará a sua memória de forma
diferente, segundo a sua idade.

4.2. P

O processo de memória compreende três etapas (Fiori,


2008; Favre, 2010):
Primeira etapa: codificação – que corresponde à captura da
informação por intermédio do sistema sensorial.
Por isso, é fundamental que o sistema sensorial esteja
intacto e que haja atenção (voluntária, ou não).
Segunda etapa: retenção ou armazenamento - que
corresponde a capacidade de reter as informações.
Nessa etapa há o remanejamento e a consolidação do que
já está memorizado, em função das novas experiências. A
familiaridade e a capacidade de associações entre os novos dados e
os conhecimentos já existentes auxiliam o processo de conservação
da informação.
Terceira etapa: recordação ou recuperação - que
corresponde ao acesso à memória e a sua utilização.
É interessante mencionar aqui que a recuperação
da informação será mais eficiente dependendo da
maneira como ela foi armazenada. Se o processo
de elaboração foi complexo, criando muitos
vínculos com as informações existentes, haverá
uma rede de interconexões mais extensas, que
poderá ser acessada em múltiplos pontos,
tornando o acesso mais fácil (Cosenza & Guerra,
2011, p. 72).

4.3. A
A atenção é uma das funções mais importantes para o
aprendizado, pois “com ela, podemos, diante de uma variedade de
estímulos dos mais diferentes tipos, aos quais somos expostos
diariamente, definir o que é mais relevante em determinado momento
e focar nossa atenção para aprender algo sobre aquilo que nos
instiga” (Freitas et al., p.07).

4.4. E
Outro aspecto extremamente importante para a
aprendizagem é a emoção.
O sistema límbico - historicamente chamado de “cérebro
emocional” - é formado por tálamo, amígdala, hipotálamo e
hipocampo e é o responsável pela avaliação das informações,
decidindo que estímulos devem ser mantidos ou descartados.
A consciência da experiência vivenciada é atingida quando,
ao passar pelo córtex cerebral, compara-se a experiência
com reflexões anteriores. Assim, quando conseguimos
estabelecer uma ligação entre a informação nova e a
memória preexistente, são liberadas substâncias
neurotransmissoras – como a acetilcolina e a dopamina –
que aumentam a concentração e geram satisfação (Carvalho
et al., 2012, p. 542).

Izquierdo (2002) afirma que “os maiores reguladores da


aquisição, da formação e da evocação das memórias são justamente
as emoções e os estados de ânimo” (p. 9).
As pesquisas compiladas pelo Centre pour la recherche et
l’innovation dans l’enseignement- CERI (2007) indicam que nossas
emoções “moldam” nosso tecido neural. O estresse melhora o
desempenho, a cognição e a aprendizagem, mas depois de certo
nível, obtêm-se efeito inverso.
Quanto às emoções positivas, esses estudos demostraram
que um dos maiores fatores de motivação é o sentimento de
iluminação que se produz na hora em que compreendemos um novo
conceito.
Sabemos que nos momentos em que experimentamos uma
carga emocional ficamos mais vigilantes e que nossa
atenção está voltada para os detalhes considerados
importantes, pois as emoções controlam os processos
motivacionais. Além disso, sabe-se que a amídala interage
com o hipocampo e pode mesmo influenciar o processo de
consolidação da memória. Portanto, uma pequena excitação
pode ajudar no estabelecimento e conservação de uma
lembrança (Cosenza & Guerra, 2011, p. 83).
Quanto às emoções negativas, esses estudos
mostraram que certo nível de emoção negativa perturba, e até
mesmo impede a aprendizagem. Elementos estressantes, mesmo
menos extremos, podem interferir: um professor agressivo, alunos
violentos, e mesmo um material pedagógico incompreensível (livros
e computadores). Se um aluno se encontra face a uma situação
que lhe gera estresse ou medo, suas funções cognitivas são
afetadas.
No entanto, o relatório do CERI (2007) afirma que é
necessário realizar outros estudos – psicológicos,
neurofarmacológicos e de neuroimagem – para compreender melhor
os mecanismos neurobiológicos que sustentam o efeito do estresse
sobre a aprendizagem e a memória, assim como os métodos de
prevenção e de regulação do estresse.
5. C ?
Muitas vezes reclamamos que não lembramos o que
aprendemos, que não conseguimos avançar no domínio de uma
determinada habilidade - como a aprendizagem de um novo idioma -
ou que não conseguimos passar naquele concurso tão sonhado.
Quantas vezes reclamamos que, porque a idade está
chegando nossa memória está piorando, que não temos mais idade
para aprender algo novo?!?
Enfim, como pudemos ver, para que a nossa aprendizagem
seja de sucesso e duradoura, temos que estar atentos a múltiplos
fatores.
Mas, será que temos consciência do que está nos
atrapalhando? Será que é possível fazer algo diferente para melhorar
nossa qualidade de estudo, e consequentemente aprendermos mais
e melhor?
Que tal realizarmos uma autoavaliação e identificarmos
nossas forças e oportunidades de melhoria?
R

1- Propósito
Planejamento - Você planeja o seu estudo?
Objetivo - Você tem clareza do que você quer aprender?
Motivação - Você tem clareza do porque é importante você aprender
(o que você ganha ao aprender e o que você perde ao não
aprender)?

2- Ambiente de estudo
Local – O seu local de estudo possui uma cadeira confortável, com
espaço para apoiar material e fazer anotações, com boa iluminação
e ventilação?
Distratores – Você mantem longe do seu ambiente de estudo: celular,
TV, internet, livros e materiais sobre outros assuntos, dentre outros?
Sabotadores – Você se deixa interromper por sua família ou amigos?

3- Estratégia de estudo
Leitura ativa – Durante a sua leitura, você realiza resumos e explica
para você mesmo o que você acabou de estudar?
Revisão – Antes de avançar para um novo conteúdo, você revisa o
que você já aprendeu sobre determinado assunto?
Prática – Você faz exercícios referentes ao que você está estudando,
buscando resolver exercícios novos e de complexidade crescente, ao
invés de apenas olhar os exercícios resolvidos?
Constância – Você distribui as suas sessões de estudo, estudando
um pouco todos os dias, ao invés de concentrar os seus estudos em
apenas um dia da semana (ou do mês)?

4- Qualidade de vida
Atividade Física – Você realiza atividade física regularmente,
incluindo atividade aeróbica?
Alimentação – Você mantem uma alimentação saudável, evitando o
consumo de açúcar, e que inclua alimentos como peixes, brócolis,
azeite de oliva, frutas secas e castanhas?
Sono - Você dorme pelo menos 6 horas por dia?
P
O M
Já está comprovado que nenhum cérebro é igual na sua
capacidade de resolver os problemas e que a motivação para o tema
do novo aprendizado e o conhecimento prévio do assunto
influenciam no aprendizado. Além disso, a autoestima impacta na
aprendizagem e no desempenho acadêmico (Tokuama-Espinosa,
2008).
Assim, antes de tomar a decisão de que você quer aprender,
dedique tempo para você descobrir o que você quer aprender e por
que isso é importante para você.
Para começar, responda as perguntas abaixo:
D
O que você gosta de estudar ou fazer e que quando o faz, você
nem vê o tempo passar? Por que você gosta disso?

Como aprender algo novo pode lhe ajudar a atingir os seus


objetivos? (Como por exemplo, ser bem sucedido
profissionalmente, passar em um concurso, ganhar mais dinheiro,
ajudar sua família, etc),

Qual é o objetivo que você quer alcançar?

O que você ganharia se chegasse lá?


O que você perderia se não conseguisse alcançar o seu objetivo?

Quais são os conhecimentos e/ou habilidades que faltam para você


alcançar o seu objetivo?

Quanto isso vai custar (R$)?

Quanto tempo de dedicação diária será necessário?

Você acha que é possível atingir o que deseja no tempo que está
disposto a se dedicar?

Você acha que você merece alcançar o seu objetivo?


Você está disposto a pagar o preço (esforço de tempo e dinheiro
necessário)?

Durante quanto tempo (dias, meses ou anos) você está disposto a


se dedicar para atingir o seu objetivo de aprendizagem?
Se você conseguiu responder a todas as perguntas e de
forma positiva, você pode passar para a etapa seguinte.
Caso contrário, dedique tempo para encontrar as suas
respostas.
Se você não conseguir fazer isso sozinho, procure um
profissional para te auxiliar (pode ser um psicólogo vocacional ou um
coach, por exemplo).

P
Para ser bem sucedido no seu processo de aprendizagem,
é importante que também dedique tempo planejando como você irá
aprender.
Por exemplo, busque responder de forma específica as
perguntas abaixo:
Com quem você vai aprender? Curso presencial ou à
distância; pessoas; livros.
Qual será a sua dedicação diária? Incluir tempo e horário.
Para quem decidir aprender de forma autodidata, qual será
a sequência do seu estudo?
Nesta etapa é importante que os materiais de estudo já
estejam em mãos, aí sim você está preparado para a etapa seguinte.
A
L
Algumas pessoas preferem estudar em casa. Outras
pessoas preferem estudar em uma biblioteca.
Todos possuem pontos positivos e negativos. Você deverá
avaliar qual é mais adequado para o seu contexto.
Em casa você pode ter a interferência da família – que
chama, que liga a TV, o som, que conversa entre eles, que te pede
um favor. Além disso, em casa podemos ser tentados a ficar na
cama, assistir TV, arrumar a casa, brincar com as crianças. Na
biblioteca, você poderá perder tempo com deslocamento.
Por isso, você deve escolher e planejar o seu ambiente de
estudo.
Se você optar por estudar em casa:
Prepare um espaço adequado para os seus estudos: com
uma cadeira confortável e uma mesa para apoiar o seu material e
fazer anotações; uma boa iluminação e ventilação.
Certifique-se de que o local é silencioso e arejado.
Compartilhe os seus objetivos e o seu planejamento de
estudo com as pessoas com quem você convive e pactue os
horários, para não ser interrompido.
Se você optar por estudar na biblioteca:
Escolha uma biblioteca perto da sua casa ou trabalho.
Escolha iniciar e terminar os seus estudos em horários que
não tenha muito trânsito.
Verifique se na biblioteca ou perto dela existe opção de
alimentação saudável, caso não tenha, leve de casa.

D
Elimine os distratores: celular sem dúvidas é o principal
deles. E caso você utilize outro dispositivo eletrônico, como por
exemplo o tablete ou o computador, certifique-se de que todas as
notificações estão desligadas e não acesse a internet durante as
sessões de estudo. Redes sociais, whastapp, ligações – você verá
que com um pouco de planejamento, tudo isso pode esperar.
Mas não consigo manter a atenção por muito tempo....
Não se culpe, não sofra! Todos nós somos assim.
Já é sabido que nossa capacidade de manter a atenção em
determinado estímulo é limitada, sendo difícil prestar atenção por
muito tempo. Assim, intervalos ou mudanças de atividades são
importantes para recuperar nossa capacidade de focar atenção
(Guerra, 2011, p. 8).

Sabemos que a manutenção da atenção por


um período prolongado exige a ativação de circuitos
neurais específicos, e que, após algum tempo, a
tendência é que o foco atencional seja desviado por
outros estímulos do ambiente ou por outros processos
centrais, como novos pensamentos, por exemplo
(Cosenza & Guerra, 2011, p. 48).
E foi em função dessa angustia que, um jovem italiano
desenvolveu, no final dos anos 80, uma estratégia de gestão do
tempo que foi chamada de Técnica Pomodoro – em alusão ao
temporizadores de cozinha em formato de tomate. A técnica funciona
assim:

S :
Muitas vezes esses sabotadores são inconscientes. Trata-
se de pessoas que nos querem muito bem, e justamente por isso –
por quererem nossa presença – nos interrompem a todo instante,
tirando o nosso foco.
Estamos falando de nossos filhos,
marido/esposa/namorado(a), pais, que naquele momento crucial da
sua atenção ‘clama’ o seu nome... e lá se vai sua atenção e
concentração.
Ou, em alguns casos, é aquele(a) amigo(a), que não
sabendo dos seus projetos te liga no meio da sua tarde de estudo te
chamando para o seu programa favorito... Difícil resistir, né!?
Então, o que fazer?
Simples: negocie!! Transforme os seus sabotadores em
parceiros! Compartilhe os seus projetos, os seus objetivos e o quão
isso é importante para você, e o que você ganhará ao atingir sua
meta.
Informe os seus horários de estudos e ao concluí-los,
permita-se um momento de descanso com essas pessoas que te
querem bem!

E
C
Nosso cérebro só retém aquilo que passou pela
compreensão.
Quando nos deparamos com um processo de
aprendizagem com o qual não temos familiaridade nenhuma com o
assunto e que, além disso, a estratégia de aprendizagem adotada
(seja o professor, o livro ou outro meio) não nos permita fazer
vinculação com o que já sabemos, correremos o sério risco de
sermos improdutivos e com isso gerar frustrações e sensação de
incompetência.
Não avance nos seus estudos com dúvidas. Pois, como a
aprendizagem é estruturada para ser algo progressivo, isto é, cada
vez mais complexo, você pode aumentar ainda mais a distância
entre o que você sabe e o que você está tentando aprender.
Algumas dicas para superar a falta de compreensão:
Identifique as lacunas.
Busque identificar quais são os conhecimentos e/ou
habilidades que te impedem de avançar. E identifique estratégias
para superá-las e seguir adiante.

Busque alternativas.
Se você não entendeu lendo um livro, busque ajuda de um
professor. Se você não entendeu com o professor, assista a um
vídeo sobre o assunto, e assim por diante.

Faça uma pausa.


Distancie do assunto, relaxe e volte mais tarde.
Sabe aquela sensação que você tem quando está
montando um quebra-cabeça e não consegue encaixar mais
nenhuma peça e basta ficar um tempo longe que quando você volta
as respostas estão lá, mais claras do que nunca?

Explique em voz alta para você mesmo.


Ao final da leitura de um texto, busque explicar para você
mesmo os pontos mais importantes.
Isso ajudará a identificar se você de fato compreendeu o
que estava lendo e já ajudará nas próximas etapas de recordação e
recuperação.

R
Distribua a sua aprendizagem
O nosso cérebro é como um músculo. Já imaginaram o que
aconteceria com uma pessoa que malha um único dia da semana,
durante 7 horas? Alguém que deseja desenvolver os seus músculos
precisa malhar um pouco todos os dias, preferencialmente
intercalando grupos musculares, pois é no descanso que o músculo
cresce.
Da mesma forma acontece com a aprendizagem. Se em
uma semana eu estudo um único dia, um único assunto durante 7
horas, ficarei cansada e possivelmente com uma sensação de estafa
mental. E quando retornar aos estudos uma semana mais tarde,
provavelmente não lembrarei muita coisa.
Por isso, é importante distribuir o estudo. Isto é, é preciso
intercalar estímulo e descanso, permitindo que a aprendizagem
passe da memória de curto prazo para a memória de longo prazo.
Faça resumos manuscritos
Já está comprovado que escrever à mão desenvolve
estruturas neurais mais fortes do que a digitação, por isso, é melhor
para a memória.[1]
Construir mapas mentais pode ser uma boa alternativa (se
bem construídos!! isto é, não vale ser copiado de outra pessoa, por
exemplo).

Revise
A revisão é muito importante para fortalecer as conexões
neurais.
Para uma informação se fixar de forma definitiva no cérebro,
ou seja, para que se forme o registro ou traço permanente, é
necessário um trabalho adicional. Os estudos da psicologia
cognitiva indicam que, nesta fase, são importantes os
processos de repetição, elaboração e consolidação. (...)
Nesse processo, observamos a repetição do uso da
informação, juntamente com sua elaboração, ou seja, sua
associação com os registros já existentes, o que fortalece o
traço de memória e o torna mais durável (Cosenza & Guerra,
2011, p. 62).

Pratique, pratique, pratique


É a prática que nos leva a excelência!
R

CARVALHO, F. A. H. de ; DORNELES, C. L. ; CARDOSO, A. A. . A


educação de jovens e adultos na perspectiva das Neurociências.
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