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A AUSÊNCIA DE UMA REDE DE APOIO ÀS MULHERES

PUÉRPERAS

Amanda Caroline Domingues Lima1


Eloísa Florão Amaro2
Gabriela Wassuaviski Lopes3
Maria Eduarda Oliveira Pinheiro4
Náira Aparecida de Proença Bueno5
Rubia Hellen da Rosa6
Flavia Nunes Flores7

Resumo: A existência de uma rede de apoio sólida é fundamental para as mulheres puérperas, podendo ser
composta de diversos tipos de suporte social e emocional, como o apoio familiar, de amigos, de profissionais de
saúde e outros grupos. Sendo o puerpério uma fase delicada, possuir recursos emocionais para estabelecer uma
relação saudável com a maternidade é essencial para a saúde e bem-estar não apenas das mulheres-mães e seus
filhos, mas de toda uma comunidade ao redor dos mesmos. A partir da pesquisa bibliográfica, foi possível
compreender que além da importância de uma abordagem abrangente de suporte à essa comunidade, aspectos
como estigmas e romanização também influenciam diretamente o processo puerperal.
Palavras-chave: Puerpério; pós-parto; maternidade.
Abstract: The existence of a solid support network is fundamental for women who have recently given birth and
may be composed of different types of social and emotional support, such as support from family, friends, health
professionals, and other groups. Due to the fact that the postpartum period is a delicate phase, having emotional
resources to establish a healthy relationship with motherhood is essential for the health and well-being not only
of women-mothers and their children but also of the entire community surrounding them. Through bibliographic
research, it was possible to understand that, in addition to the importance of a comprehensive approach to
supporting this community, factors such as stigmas and romanticization also directly influence the postpartum
phase.
Keywords: Puerperium, postpartum, motherhood.

1. INTRODUÇÃO
Ser mãe biológica é um estado complexo que tange estruturas sociais, emocionais,
psicológicas e fisiológicas, começando na concepção e perdurando durante toda sua vida.
Além de uma condição, a maternidade é também um processo que se constitui de diversas
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Docente em Psicologia, Unifateb sede, e mail <flaflores18@gmai.com>
etapas, maiores ou menores, mais ou menos complexas. Dentre esses momentos, existe o
puerpério, definido como “um momento de fragilidade, vulnerabilidade e de requerimento de
muitas demandas por parte das mães” (BONET, et al, 2021), momento em que a saúde física e
mental da mulher está abatida devido à retirada da placenta e adaptação da nova rotina com o
bebê.
O puerpério começa algumas horas após o nascimento, tendo, por duas semanas, uma
intersecção com o denominado “Baby Blues”, espaço de tempo em que a mãe experimentará
sintomas depressivos e momentos de ansiedade (SARMENTO, et al, 2003). Devido a essa
fragilidade, a puérpera demanda de apoio emocional e psicológico, necessitando da
compreensão e presença de seu círculo social mais próximo. Entretanto, é mais comum que o
mesmo se afaste e desrespeite essas diligências, exigindo dessas mulheres comportamentos e
reações irreais ao seu estado momentâneo.
Isso pode ser uma consequência e é, ainda, potencializado por negligências realizadas
por profissionais da saúde, que muitas vezes minimizam os sintomas que causam sofrimento a
essas mulheres, não compreendendo o momento de fragilidade de cada paciente. Situações em
que as mesmas não são ouvidas com a devida atenção, nem recebem o tratamento necessário,
onde a sensibilidade e ética são, por vezes, deixadas de lado. (SCHWANTES et al, 2021).

Hegemonicamente, o período do puerpério vem sendo definido pela biomedicina


como um momento de fragilidade, vulnerabilidade e de requerimento de muitas
demandas por parte das mães. A psiquiatria, por sua vez, coloca no puerpério uma
discussão de saúde mental, onde os sentimentos e pensamentos que não convocam
felicidade e alegria serão categorizados em transtornos e transformados
em diagnósticos. Então, percebemos que as mulheres-mães que não performam a
auto-realização pela maternidade e pelo seu bebê passam a ser tomadas como
“pacientes” e rotuladas com transtornos psicopatológicos. (BONET F; SILVA FC.,
2021)

De maneira geral, o artigo aqui apresentado julga que, a partir da elaboração e estudo
do tema, é de suma importância que a comunidade externa à vivência das mulheres puérperas
compreenda e explore os aspectos da solidão e negligência sofridas por mulheres na fase do
puerpério, assim como as consequências decorrentes dessa situação.

Frente a isso, o presente trabalho visa aprofundar-se neste tema, a partir de estudos da
área da saúde em geral e da sociologia, a fim de compreender quais anseios acompanham a
fase puerperal, bem como as condições que as causam e como a comunidade em geral pode
amenizá-las.
1.1. OBJETIVO GERAL

Debater acerca da ausência de uma rede de apoio às mulheres puérperas.

1.2. OBJETIVO ESPECÍFICO

Entender o puerpério e suas alterações na vida da mulher.


Abordar questões e situações sofridas por mulheres que foram submetidas à
negligência na fase do puerpério, bem como o que caracteriza tais negligências.
Refletir acerca das consequências psicológicas e traumas gerados às mulheres
puérperas.

2. DESENVOLVIMENTO

2.1. METODOLOGIA

O presente estudo é feito a partir de pesquisa bibliográfica. Segundo Gil (2002) a


pesquisa bibliográfica caracteriza-se também como uma revisão da literatura, pois busca
contextualizar, investigar e, principalmente, apresentar uma discussão crítica sobre o
problema. Os artigos utilizados foram retirados dos indexadores Scielo, Google Scholar, entre
outros. A inclusão dos materiais ocorreu por meio da procura de materiais através dos
descritores relacionados ao tema que possuíam título condizente com o tema, bem como o
estudo de resumo tratando do assunto proposto. Não obstante, uma extensa leitura do artigo e
consideração de que textos trazem informações relevantes para esta pesquisa.

2.2. SITUAÇÕES SOFRIDAS POR MULHERES QUE SOFRERAM COM


NEGLIGÊNCIA NA FASE DO PUERPÉRIO

Caracterizado como uma fase em que o corpo retorna das modificações da gestação, o
puerpério é uma fase sensível em que uma série de mudanças, lutos simbólicos e novas
realidades se formam na vida da mãe que enfrenta tal etapa. É preciso compreender que é
nesse período em que as maiores questões psicológicas e neurológicas se apresentam diante
da maternidade, pois as pessoas envolvidas em maior grau terão suas atenções voltadas ao
recém-nascido e adaptação da rotina com o mesmo.
Diante disso, a mãe em fase inicial de maternagem passa por um processo de diversos
lutos simbólicos (FONSÊCA, 2021), que podem se referir ao luto do corpo que se modificou;
do seio que, no aleitamento, se torna instrumento de alimentação e vínculo com o recém-
nascido; da sua visão social como mulher; e o trauma da separação, onde mãe e filho não
dividem mais o mesmo corpo e precisam entender-se como seres individuais biologicamente e
emocionalmente.(CROMACK, 2017, apud MALDONADO, 2005) Nesse contexto, o luto
pode ser percebido a partir do desvinculamento mãe-bebê no ato do parto, onde percebe-se
que o contato se reduz através da percepção bebê-mundo.
De forma geral, o entorno dessa comunidade comumente as coloca em um espaço de
solidão e atarefamento psíquico e físico, onde muitas vezes as mesmas são excluídas de
determinados espaços e cobradas de maneira desproporcional. As cobranças vão desde a
expressão emocional da puérpera até a estranheza externa referente às atividades que a mesma
faça sem seu bebê. Sendo essa uma atitude geral que é proeminente do círculo social e paira
sobre o psicológico das mulheres-mães, é comum que as mesmas se isolem e se sintam
obrigadas a agir sozinhas no papel que lhes foi incumbido. (BONET, et al., 2020, apud
GUTMAN, 2016)
As necessidades de uma mulher puérpera vão muito além de questões biológicas. Os
fatores que atingem essa comunidade partem de múltiplas questões, como as sociais,
geográficas, pessoais, psicológicas, relação com a maternidade pré e pós-parto, entre muitas
outras. (ALVES, 2018). Sabendo-se das limitações que o momento pós-parto traz à vida de
uma mãe e das múltiplas vivências negativas que as mesmas acarretam, traumas e
consequências psicológicas são, por vezes, uma realidade comum às maternárias.
Na literatura e no dia a dia, é de senso comum a existência da depressão pós-parto,
patologia que acomete mais de 25% das mães brasileiras de acordo com a Fundação Oswaldo
Cruz em 2022. A mesma não possui sintomas que a diferenciam da depressão fora desse
contexto, mas os desarranjos que ela traz são reais, sendo ela uma questão de saúde pública
(LOBATO, et al, 2011).

A DPP não é considerada uma categoria de diagnóstico independente no Manual


Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) da Associação
Americana de Psiquiatria [APA] (2013). No entanto, a DSM-5 reconhece que a DPP
pode ser uma forma específica de depressão, ao considerar o especificador “com
início no periparto”, para se referir aos sintomas depressivos que ocorrem durante a
gravidez ou quatro semanas após o parto (APA, 2013). Contudo, tendo em conta a
prevalência de episódios depressivos no período pós-parto que se iniciam depois do
primeiro mês após o nascimento do bebé (Gaynes et al., 2005)(..)
(FONSECA; CANAVARRO, 2017)

Fatores como esgotamento físico e mental nas mães podem resultar em instabilidade
emocional e facilitam o desenvolvimento da depressão. O fato de as mesmas se verem
sobrecarregadas e emocionalmente instáveis devido às demandas físicas e emocionais
associadas à gestações, parto e cuidados com os filhos são uma realidade propícia para a
depressão pós parto (RUSCHI, Gustavo Enrico Cabral et al., 2007), bem como fatores sociais
relacionados à escolaridade, relações familiares, demografia e a ausência de cuidados vindos
de terceiros durante essa fase (SCHWENGBER; PICCININI., 2003., apud Romito et al.,
1999).
Dentre as consequências da DPP, está o distanciamento entre mãe e filho, onde a perda
pode ser sentida pelo recém-nascido, tendo em vista a característica mudança na atitude
emocional da mãe, que resultam na modificação das atitudes que o bebê pode interpretar
como positivas. Essa alteração cria uma distância emocional que afeta a interação mãe-bebê,
situação em que o objeto afetivo investido é perdido devido à depressão, resultando em
dificuldades na conexão emocional. Essa perda emocional é considerada específica para o
primeiro ano de vida, um período crítico para o desenvolvimento infantil (SCHWENGBER;
PICCININI., 2003. apud Spitz, 1979).
Tendo em vista a influência que as obrigações e encargos da maternidade têm sobre o
psicológico das mulheres mães, o impacto da rede de apoio acerca dessas tarefas e demais
singularidades também é notável. A primeira rede de apoio a ser analisada é aquela que tem
como ofício acolher demandas de saúde da comunidade em geral: os profissionais da saúde de
maneira geral.
Em estudos (ALVES, 2022), os mesmos são vistos como um agente de baixa
frequência e com pouco vínculo, onde as atividades acerca da comunidade de puérperas é de
uma relação restrita, com escassa promoção de ações que beneficiem diretamente essas
mulheres. É mais comum que as atividades sejam voltadas apenas aos cuidados e à saúde do
bebê e aos cuidados do mesmo, enquanto profilaxias, prevenções e anamnese voltadas às
mães não costumam ser o foco dos mesmos.
Nesse contexto, é notável que a rede de saúde de maneira geral é ineficaz no que diz
respeito aos anseios de mulheres puérperas, onde os riscos e mudanças dessa fase não são
vistos como uma necessidade que precisa de atenção, mas apenas como uma característica
dessa fase, “provocando sentimento de insegurança e culpa devido a vulnerabilidade em que
se encontra”(SCHWANTES, et al. 2021), pois o montante de informações acerca da
maternidade não abrange as necessidades das mesmas.
No aspecto informal, a rede de apoio familiar possui suas particularidades: ela pode
ser dividida entre o braço nuclear, estendido ou extrafamiliar (SCHWANTES, et al. 2021), se
caracterizando pela proximidade física e emocional desses membros. Independente do nível, a
rede familiar num geral desempenha um papel significativo na promoção do bem-estar físico,
emocional e psicológico das mulheres, além de serem agentes da criação de uma transição
suave para as mudanças advindas da maternidade.
A rede de apoio familiar inclui o cônjuge ou parceiro, pais, irmãos, sogros, parentes
próximos e outros membros da família que oferecem suporte emocional, prático e informativo
para a mulher puérpera. Essa rede pode desempenhar diversas funções importantes, tais como
o apoio emocional, onde a família pode fornecer um ambiente seguro e acolhedor, oferecendo
apoio emocional à mulher puérpera (MARTINS, 2008.). Este acolhimento pode se dar através
da escuta ativa de suas preocupações, medos e sentimentos, proporcionando conforto e
tranquilidade durante esse período de ajuste.
Outro possível apoio pode se encontrar no suporte prático, em que o auxílio é feito por
tarefas diárias, como auxílio nos afazeres domésticos, preparo de refeições e cuidado de
outras crianças da família (ROMAGNOLO, 2018). Esse tipo de ação permite que a mulher
tenha mais tempo para descansar, se recuperar e se adaptar à nova rotina.
A rede de apoio familiar pode ainda oferecer, em diferentes níveis, a companhia e
interação social, a qual aliviar a sensação de isolamento que algumas mulheres puérperas
podem enfrentar. Tais interações podem ser uma ponte para o compartilhamento de momentos
de alegria, dúvidas e desafios, o que pode fortalecer os laços afetivos e promover um senso de
pertencimento e apoio, essencial para uma adaptação com relação à nova rotina da mãe.

2.3. VISÕES QUE ROMANTIZAM A MATERNIDADE


Ao decorrer dos anos, nossa sociedade, concebeu representações culturais onde a
mulher é personificada como mãe, sendo retratadas dessa forma na literatura, e em meios de
comunicação. Esses papéis se tornaram tão robustos, que deixaram de ser representações, e se
tornaram obrigações, onde a condição de ser mãe é estabelecida a todas as mulheres.
Segundo Bernardes (2019), “há um regime de verdade difundido na sociedade,
segundo o qual a maternagem é vista como destino da mulher; romantizada; como um feito
que elevaria a feminilidade e transformar-se-ia na maior realização da vida das mulheres.”
Além da influência que as mulheres sofrem de toda à sociedade, direta ou indiretamente, há
também a influência dos meios de comunicação, que além de trazer essa imagem da
maternidade perfeita, também alude o ter filhos como o final perfeito, onde todos os sonhos
são realizados. Apesar dessa ideia está sendo, pouco a pouco, deixando de ser absoluta, nos
horários nobres da televisão o final feliz ainda é feito pela maternidade.
No transcorrer da história da humanidade, foram estabelecidas manifestações culturais
nos quais é conferido a mulher a aspiração e a responsabilidade de ser mãe. Essa
representação, amplamente difundida pelos meios de comunicação, que por sua vez refletem a
percepção de toda uma sociedade, ensinada a denominar essa responsabilidade como sendo
exclusivamente das mulheres, se tornando uma construção complexa e milenar, de difícil
percepção, enfrentando ainda mais dificuldades ao ser combatida. Essas imagens
estereotipadas adquiriram tal força, tão tenazes e vigorosas que deixaram de ser meras
representações, assumindo a forma de encargos, sendo os papéis sociais que contribuem para
a imposição da maternidade como uma necessidade inerente a todas as mulheres, aos olhos da
sociedade o único e tão somente, objetivo das mulheres é a maternidade. Imposta como lei.
Discursos foram construídos para exigir das mulheres a maternidade, ao longo da
história feminina. Literaturas, por exemplo, trouxeram imagens romantizadas do ser mãe,
sendo feliz e realizada, e a mulher ao seguir qualquer outro caminho, não sendo a escolha pela
maternidade, questionaria a própria natureza, e o que foi instituído como essência feminina.
(OLIVEIRA, 2007, apud BERNARDES, 2019, p. 2)
A maternagem é demostrada pela sociedade como forma de máxima realização da vida
feminina, reduzindo a detritos toda e qualquer outra conquista na vida da mulher. Inseridas e
impregnadas nas mentes femininas, de formas diretas e indiretas a maternidade é o objetivo,
diante ao panorama atual, essa situação se modifica se tornando mais violenta para as
mulheres-mães, que necessitam ser grandes profissionais, exemplares donas de casa, e no caso
de mulheres casadas ou em relacionamento, zelarem pela sua vida afetiva, em meio aos
diversos afazerem lidam com os lutos, do seu corpo, e de si mesma.

Segundo Halasi (2018, p. 63), as questões acima elencadas fazem com que,
atualmente, as mulheres vivam a ‘maternidade da culpa’. Dividida entre o lar e o
trabalho, os filhos e a carreira, e a necessidade de ‘dar conta de tudo’, a mulher
acaba ocupando o não-lugar, o limbo social e emocional.

Seduzida pela história romantizada da maternidade, a mulher ultrapassa seu limite, se


desdobrando para tentar atingir todos os padrões impostos a ela. Ser uma grande mãe, uma
exemplar dona de casa e uma mulher bem sucedida profissionalmente. Esses preceitos
destroem a autoestima da mulher, e a diminuem perante a sociedade, por não conseguir atingir
todos os parâmetros impossíveis que são impostas as mulheres.
Tal pensamento é difundido de uma forma sutil, desde a infância feminina, onde
meninas são presenteadas com bonecas, acessórios e brinquedos que imitam utensílios
domésticos, criadas para cuidar dos seus filhos, sendo transformadas em corpos dóceis que
prevalece a imagem de boas mães e esposas, que cuidam e cozinham.
O romance da mãe ideal está enraizado em nossa cultura. Essa personificação da
mãe “perfeita e normal” é demonstrada por Tourinho (2006) ao ressaltar que se
espera que a mãe seja paciente e dedicada a todas as necessidades do filho. Silva e
Aranha (2020) se engajam nessas afirmações ao destacarem as influências da
imagem propagada da mãe nos comerciais. Em geral, nos comerciais ocorre a
representação de mulheres lindas, felizes e realizadas com seus filhos; em
contraponto, as mães retratadas fora dessas normas são vistas e tratadas como vilãs,
madrastas e mulheres que certamente não serão capazes de encontrar seu final feliz.
( MARQUES, 2022, p. 17)

Se cria em torno dessa narrativa, a maternidade perfeita, onde maternar é um dom,


natural a todas as mulheres. Que todas as experiências durante o puerpério e após serão
perfeitas e totalmente magicas, como nos ensinam.
As partes tidas como difíceis e dolorosas são rejeitadas pela realização das maiores
alegrias de ser mãe, a mídia promove apenas a maternidade perfeita, que não é compatível
com a real maternidade. Muitas mães ao transmitirem a maternidade real, são caladas ao
tentarem falar sobre as suas vivencias, e percalços da maternagem.
Entre os inúmeros tipos de censura que as mulheres sofrem ao tentar falar sobre a
maternidade real, grande parte delas vem de instituições que deveriam acolher, de dentro e
fora da família, sendo influenciados por doutrinas obsoletas.
As doutrinas culturais, religiosas, políticas e de gênero influenciam no fundamento da
mulher em ser mãe. Se submetem a uma obrigatoriedade das mulheres terem filhos. Sendo a
única realização na vida feminina a maternidade, pelos ideais românticos e visões da
maternidade,
Como consequência da romantização feita pela sociedade da maternidade, e o
sofrimento causado pela frustração de não atingir as expectativas, muitas mulheres sofrem a
chamada depressão pós-parto.
Segundo Marques, a depressão pós-parto pode se iniciar durante a gestação, ou no
período do puerpério, onde passa por intensas emoções e mudanças radicais no seu corpo e
nas suas emoções.
Se expos as visões romantizadas, e como suas raízes atingem tão profundamente as
mulheres, e estão entrelaçadas com a sua criação desde muito novas, como profissionais
podem auxiliar, de forma psicologia essas mulheres a passarem por esses momentos.
“Além de acolher as demandas e queixas individuais, visto que a maternidade é uma
vivência subjetiva, é preciso que a psicologia crie ativamente espaços de diálogo, e trabalhe
para desmistificar o romance ideal de ser mãe, contribuindo para desculpabilização e
promoção da autonomia das mulheres em suas escolhas.”( MARQUES, 2022, p. 17)
Os grandes e muitas vezes irreparáveis danos à saúde mental da mulher-mãe ao se
deparar com a real maternidade, sendo extremamente diferente das idealizações criadas,
causando a decepção e frustração. (MARQUES, 2022).
Essa grande rede, formada a milênios, dentro da nossa sociedade, promovendo a
submissão das mulheres, as mantendo presas num sistema onde tudo se é cobrado delas,
exigindo de diversas e violentas formas, a perfeição das mulheres, difundindo uma lógica de
controle masculina.
“Quebrando a lógica historicamente formada, de submissão e sistemas
hegemonicamente masculinos, essa autonomia conquistada através de lutas e
reformas políticas, como a Política do Parto Humanizado, Lei Maria da Penha,
Programa Rede Cegonha e entre outros, traz a grande influência do movimento de
ser mãe nos dias atuais. Diante do que foi discutido, a questão de se ter autonomia
envolve não somente ser mulher, mas sim de ser pessoa e se enxergar como tal,
perante o contexto social e também a sua subjetividade. (COELHO, 2018).

Pode-se concluir, que as visões romantizadas da maternidade atrapalham as mulheres


como um todo, trazendo como fardo, histórico, cultural e social a obrigações das tarefas
maternas as mulheres, gerando sofrimento e angústia.

3 CONCLUSÃO
O puerpério é um período de mudanças e desafios emocionais para as mulheres após o
parto. Neste artigo, realizou-se um estudo acerca das consequências psicológicas do
puerpério, destacando os impactos de uma rede de apoio sólida sobre este período; ao longo
do processo, entendeu-se, ainda, que o combate à desinformação e à indiferença em relação a
essa fase da vida são também um fator de peso sobre o puerpério no âmbito social.
Ficou claro que o puerpério não é apenas uma questão física, mas também um
momento crítico para a saúde mental materna. O baby blues, a depressão pós-parto, os
transtornos de ansiedade e o TEPT são apenas algumas das possíveis consequências que
podem afetar profundamente o bem-estar das mulheres-mães.
A presença de uma rede de apoio composta por parceiros, familiares, amigos e
profissionais de saúde é fundamental para garantir o respaldo emocional necessário durante o
puerpério (SCHWANTES, et al., 2021) . Tal rede deve, ainda, estar preparada para oferecer
escuta ativa, compreensão e apoio prático às mães, reconhecendo a importância de sua saúde
mental e, acima de tudo, compreendendo as necessidades das mesmas.
Além disso, percebeu-se que é urgente a necessidade de controlar a desinformação e a
indiferença acerca do puerpério. Muitas vezes, a sociedade tem expectativas irreais em
relação às mães, colocando diversos tipos de pressão e ideias sobre as mesmas. Educar as
famílias, amigos e a própria comunidade sobre as realidades e desafios do puerpério é um
esforço valoroso para que as redes de apoio à essa comunidade surjam de maneira organizada
e estruturada.(COLLI, M.; ZANI, A. V.; DE SOUZA, S. N. D. H.; MATSUBARA, M., 2016)
Os profissionais de saúde desempenham um papel crucial na identificação e no
tratamento adequado das consequências psicológicas do puerpério. A triagem e o
acompanhamento atento durante o período pós-parto são fundamentais para garantir que as
mulheres recebam o suporte necessário.
Em resumo, é imprescindível reconhecer e abordar as consequências psicológicas do
puerpério. Uma rede de apoio adequada e uma sociedade aberta às necessidades dessa
comunidade são elementos fundamentais para garantir que as mulheres tenham o suporte
necessário durante uma fase em suas vidas.

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