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Tema: Os aspectos psicologicos de mães em decorrencia da perda gestacional por

aborto espontâneo
Juan Lisboa - 12111PSI037
Maria Cecília Almeida - 12111PSI020
Maria Eduarda Barbosa - 12111PSI051
Omar Neto - 12111PSI046

A gestação é compreendida como um período de desenvolvimento do embrião


que modifica o corpo da mulher assim como o relacionamento e papel social exercido por
ela. Contudo, por ocorrer mudanças biopsicosocial, durante este processo, é comum a
presença do sentimento de ambiguidade: se por um lado a mulher sente-se feliz em ser
mãe, por outro lado surgem preocupações e dúvidas sobre sua capacidade de exercer a
maternidade (Zanatta et al., 2017, p.3). Outrossim, a vivência no período gestacional é
composta por múltiplos desafios, no qual, um deles pode ser o aborto espontâneo, em que
em maior probabilidade ocorre no terceiro semestre e atinge mulheres de todas as faixas
etárias.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (2022), caracteriza-se o aborto
espontâneo, ou perda gestacional como a interrupção involuntária da gravidez antes das
22 semanas de gestação ou até o feto atingir 500g de peso, e a causa é multifatorial, o que
torna sua investigação difícil. Deste modo, essa é uma experiência dolorosa e traumática
para muitas mulheres e pode causar diversas complicações de saúde, uma vez que, de
acordo com Aquino (2012), possíveis consequências psicológicas podem atingir essas
mulheres, como o medo, angústia e a solidão. Já nos efeitos físicos colaterais tem-se o
mal-estar, sangramentos, complicações no útero além de dificuldades no
desenvolvimento de futuras gestações.
O perfil de mulheres que sofrem com o Aborto Espontâneo no Brasil, de acordo
com a literatura prévia utilizada como base de estudo para a produção desse artigo, está
datado em características relacionadas a faixa etária, de modo que, cerca de mais de 60%
das perdas gestacionais se dão em mulheres com idade materna superior aos 30 anos de
idade (Soares & Cançado, 2018). Ademais, foi constatado a partir de um estudo recente,
pautado na região sudoeste do estado mato-grossense brasileiro, que retifica dados
importantes que justificam a relação entre abortamento e idade, de modo que há uma
proporção devidamente discrepante entre mulheres que sofrem a perda gestacional por
aborto precoce entre 15 à 19 anos, de modo que a proporção se dá em 27,51
abortos/100.000 nascidos vivos, enquanto mulheres de 40 e 49 anos tiveram 127,65
abortos a cada 100.000 nascidos vivos (Dalbem et al., 2020).
Ademais, aspectos de saúde, como a percepção de doenças, são sempre destacados
como fatores de risco e aliados ao perfil dessas mulheres, porém não determinantes, como
no caso da idade materna. Em relação aos dados apresentados em pesquisas prévias, cerca
de 70% das mães não apresentavam doenças determinantes para o abortamento
previamente ao processo de perda gestacional, conquanto, outra parcela de 7,5% que eram
diabéticas, 2,5% com tumor na tireoide e 2,5% com hipertensão arterial crônica,
alterações de saúde previamente referenciadas como fatores de risco para a perda
gestacional por abortamento espontâneo precoce (Soares & Cançado, 2018).
Outrossim, de acordo com a revisão da literatura elaborada acerca dessa temática,
é possível estabelecer uma relação sociodemográfica e socioeconômica com o aborto
espontâneo precoce. Em 2022, foi realizada um Estudo pela Instituição Digital
FAMIVITA, que envolveu cerca de 4700 mulheres, com o intuito de perceber a opinião
dessas mulheres acerca do preparo do sistema de saúde público para mães que sofreram
o aborto espontâneo, desde o processo de curetagem até ao acolhimento e manejo
psicossocial para com essas mães. Como resultado, os maiores índices de rejeição aos
procedimentos vigentes para receber e cuidar dessas mães, que sofrem com o abortamento
precoce espontâneo, estão localizados nos Estados brasileiros mais ao norte e nordeste do
território nacional, os quais vigora uma maior carência social e econômica em relação a
outros Estados (Estudo: Perda gestacional - A saúde pública está preparada?! | Famivita,
s.d.)
Conquanto, uma crítica em relação a construção dos estudos sobre a temática do
aborto espontâneo e suas causas no Brasil, está no termo em que na maioria das pesquisas
vigoram-se aspectos de cunho muito biológico e pouco social, que não explora fatores de
risco para a perda gestacional dessas mulheres para além de idade e doenças, como a sua
situação habitacional, poderio econômico, qualidade de alimentação e acesso a redes de
atendimento de saúde de qualidade. Portanto, se faz necessário, mediante a revisão de
literatura da temática, perceber em futuras pesquisas esses demais aspectos que cercam o
abortamento espontâneo precoce.
Por conseguinte, após a perda gestacional, o manejo de saúde em situações de
aborto espontâneo previsto pelo Ministério de Saúde (2022) inclui cuidados físicos e
emocionais para a mulher, tais como:
1. Avaliação médica: a mulher deve buscar atendimento médico para avaliar as
condições de sua saúde e identificar possíveis complicações.
2. Monitoramento dos sintomas: é importante que a mulher seja orientada a
monitorar os sintomas, como cólicas, sangramento e febre, e a informar
imediatamente o médico em caso de agravamento.
3. Tratamento das complicações: dependendo da situação, podem ser necessários
tratamentos para evitar infecções ou outras complicações.
4. Suporte emocional: é fundamental oferecer suporte emocional para a mulher, que
pode estar passando por um momento de grande angústia e tristeza. Isso pode
incluir terapia psicológica, grupos de apoio e aconselhamento.
5. Orientações para futuras gestações: após um aborto espontâneo, é importante que
a mulher receba orientações para futuras gestações, como cuidados pré-natais,
exames e hábitos saudáveis.
É importante ressaltar que cada caso de aborto espontâneo é único e pode requerer
um manejo específico. Por isso, é fundamental que a mulher busque atendimento médico
adequado e siga as orientações do profissional de saúde.
Logo, através da perda gestacional, algumas mulheres podem vivenciar o luto, posto
isto, o luto é um processo que assume várias dimensões sociais e psicológicas, sendo sua
conceitualização particularmente difícil na literatura, tendo em vista que cada indivíduo
vivencia de maneira distinta. Parkes (1998, p. 45) afirma que:
“Para compreender melhor os meios pelos quais o
luto pode levar a distúrbios psiquiátricos e para iniciar
programas de prevenção e tratamento, precisamos olhar
mais de perto como as pessoas reagem ao luto, às
circunstâncias que favorecem o aparecimento de
problemas e as atitudes que podem ser tomadas, que podem
interferir na situação, de maneira a reduzir a patologia e
encorajar o crescimento psicológico.”
O sofrimento psíquico envolto no processo de enlutamento é atravessado por
diversos recortes sociais que dão luz a interfaces distintas, como o enlutamento materno.
O sofrimento psíquico envolto na perda gestacional é um fenômeno social que nem
sempre é reconhecido, tendo em vista que na maior parte das vezes é negligenciado não
só pela família, como demais instituições sociais (Camarneiro,Maciel & Silveira, 2015).
Comumente, mulheres que passam pela perda gestacional, em especial a precoce, tem seu
sofrimento invalidado com o pressuposto de que ainda não haveria uma ligação afetuosa
com o bebê, contudo, o processo de tornar-se mãe não é linear tendo início muito antes
da gestação e estendendo-se até o nascimento (Piccinini et al., 2008). À medida que a
gravidez envolve uma série de aspectos psicológicos, mesmo nas primeiras semanas
gestacionais, o bebê é envolto por uma série de fantasias e atributos. Essas projeções
permitem que a mãe construa um espaço acolhedor para a chegada do recém-nascido, que
na maior parte das vezes já possui um nome. Desse modo, pode-se pensar que a perda
gestacional também pode simbolizar a perda de um filho e não somente um feto, sendo
uma experiência dolorosa (Visintin, Inacarato, & Aiello-Vaisberg, 2020).
Em suma, esta pesquisa tem a finalidade de proporcionar um estudo acerca da
temática do aborto espontâneo, além de propiciar a familiarização dos alunos em pesquisa
qualitativa. Em relação ao objetivo, tende-se a investigar a vivência de mulheres que
sofreram a perda gestacional por aborto espontâneo que fizeram uso dos serviços de saúde
público na gestação e nos cuidados da pós-perda, buscando entender como ocorreu o
manejo, acolhimento e suporte para com essas mulheres nessas unidades de
atendimento. Por fim, como problema norteador, questiona-se “Como as mulheres lidam
na ocorrência do aborto espontâneo?”
Justificativa
A justificativa deste trabalho está pautada em sua relevância social, uma vez que
retrata um tabu, que se refere à maternidade e ao cunho social que ela exerce na sociedade
conservadora brasileira. Ademais, o presente estudo faz referência aos principais
cuidados referente ao manejo de mulheres que passam pelo processo de aborto
espontâneo precoce, desde seus aspectos de atendimento médico e a realização do
procedimento de curetagem, até os aspectos psicológicos que estão presentes nessa
ocasião e que são relevantes para o estado de saúde mental da mãe. Já que, de acordo com
a própria cartilha da Organização Mundial de Saúde (OMS) o preceito de um indivíduo
saudável perpassa pelos três aspectos: biológico, psicológico e social. Assim, o presente
trabalho exerce um estudo e um questionamento em relação ao então conceito de saúde
dessas mulheres, de forma a enriquecer a literatura médica e psicológica.

Metodologia
Trata-se de uma pesquisa documental em junção com estudo de caso de natureza
qualitativa que busca ponderar os relatos de mulheres que vivenciaram o aborto
espontâneo e que passaram pelo ambulatório do Hospital de Clínicas da UFU
(Universidade Federal de Uberlândia) que é referência de média e alta complexidade em
hospital público nos municípios do Triangulo Mineiro e Alto Parnaíba.
Participantes
Participarão da pesquisa cinco mulheres que atendem os critérios de
inclusão: estarem na faixa etária entre 40 e 49 anos, que passaram pelo processo do pós
abortamento espontâneo em que a interrupção involuntária da gravidez aconteceu antes
das 22 semanas de gestação, conforme os critérios da Organização Mundial de Saúde
(2022), e que o processo gestacional foi acompanhado somente por serviços públicos de
saúde. Serão excludentes, mulheres com presença de extremo humor deprimido.
Instrumentos e Procedimentos
Serão utilizados dois itens: um Roteiro de Entrevista Semiestruturada elaborado
pelos pesquisadores deste estudo, que contém perguntas relacionadas a identificação das
participantes, os antecedentes obstétricos, e o processo do manejo de saúde na situação
do abortamento espontâneo. O segundo item é o relato das vivências das participantes
sobre o processo da perda gestacional. Logo, para a realização desta pesquisa há o
cumprimento dos critérios éticos e legais presentes na Resolução 466/12 do Ministério da
Saúde (2012), em que é necessário a concordância e as assinaturas do Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e Termo de Autorização de uso de voz. Por
conseguinte, após a assinatura dos termos, a entrevista será realizada em um local
silencioso do Instituto de Psicologia da Universidade Federal de Uberlândia (IPUFU)
com a presença da participante e dos pesquisadores deste estudo. A entrevista será
gravada por aparelho digital e transcrita na íntegra e a coleta de dados ocorrerá durante
quatro meses.
Análise de dados
Em concordância com Mendes & Miskulin (2017), a Análise de Conteúdo
proposta por Bardin em 1977 proporciona o descobrimento de significados nas relações
que se ocultam nas estruturas sociais, e que o processo é mais significativo que o produto
nas pesquisas qualitativas. Logo, algumas etapas serão realizadas: Pré-Análise,
Exploração do Material e Tratamento dos resultados, a inferência e a interpretação.

Referências
Aquino, E. L. (2012). Atenção à saúde da mulher em situação de abortamento: experiências de
mulheres hospitalizadas e práticas de profissionais de saúde. Dissertação de Mestrado,
Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo, São Paulo.
doi:10.11606/D.6.2012.tde-22042013-161954
Camarneiro, A. P. F., Maciel, J. C. S. C., & Silveira, R. M. G. D. (2015). Vivências da interrupção
espontânea da gravidez em primigestas no primeiro trimestre gestacional: um
estudo fenomenológico. Revista de Enfermagem Referência, (5), 109-117.
doi:http://dx.doi.org/10.12707/RIV14064.
Dalbem, C. M. M. G., Dalbem, C. A. G., Teles, C. C. G. D., Dalbem, A. G., Teles, E. D.,
Cortela, A. B. B., Dalbem, M. P. d. A., Teles, M. D., Medeiros, M. L. D.,
Vendrametto, B. E., Davi, W. S., Bello, L. K. Z. R., & Fávero, P. (2020b). Perfil
epidemiológico de abortamentos na região sudoeste de mato grosso - proposição de um
novo fluxograma de atendimento. Research, Society and Development, 9(11), Artigo
e89391110365. https://doi.org/10.33448/rsd-v9i11.10365
Estudo: Perda gestacional - A saúde pública está preparada?! | Famivita. (s.d.).
Famivita. https://www.famivita.com.br/conteudo/estudo-perda-gestacional-a-saude-
publica-esta-preparada/
Mendes, R. M., & Miskulin, R. G. S. (2017). A análise de conteúdo como uma metodologia.
Cadernos de Pesquisa, 47(165), 1044–1066. https://doi.org/10.1590/198053143988
Ministério da Saúde.(2012). Resolução n°466.
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/cns/2013/res0466_12_12_2012.html
Organização Mundial da Saúde. (2022). Abortion care guideline. World Health Organization.
https://apps.who.int/iris/handle/10665/349316. Licença: CC BYNC-SA 3.0 IGO
Parkes, C. M. Luto: estudos sobre a perda na vida adulta. 2. ed. São Paulo: Summus Editorial,
1998.
Piccinini, C.A., Lopes, R.S., Gomes, A.G. & De Nardi, T. (2008). Gestação e a constituição da
maternidade. Psicologia em Estudo, 13(1), 63-72. doi:https://doi.org/10.1590/S1413-
73722008000100008.
Soares, A. M., & Cançado, F. M. A. A. (2018). Profile of womem with gestational loss. Revista
Médica de Minas Gerais, 28. https://doi.org/10.5935/2238-3182.20180072
Visintin, C. D. N., Inacarato, G. M. F., & Aiello-Vaisberg, T. M. J. (2020). Imaginários de
mulheres que sofreram perda gestacional. Estilos Da Clínica, 25(2), 193-209.
.https://doi.org/10.11606/issn.1981-1624.v25i2p193-209
Zanatta, E., Pereira, C. R. R., & Alves, A. P. (2017). A experiência da maternidade
pela primeira vez: as mudanças vivenciadas no tornar-se mãe. Pesquisas e Práticas
Psicossociais, 12(3), 1–16.
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1809-
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