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UNIVERSIDADE REGIONAL DO CARIRI - URCA

CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE – CCBS


UNIDADE DESCENTRALIZADA DE IGUATU - UDI
CURSO DE ENFERMAGEM
DISCIPLINA: SAÚDE DA MULHER

RAFAELLA DA COSTA RIBEIRO

RESENHA CRÍTICO-REFLEXIVA

DOCENTE: CAMILA ALMEIDA

IGUATU-CE
2023
Parto é o processo pelo qual um ou mais bebês deixam o útero materno para nascer. É um evento
fisiológico natural que marca o início da vida extrauterina. O parto pode ocorrer de forma espontânea ou
pode ser induzido por razões médicas. As circunstâncias do parto podem variar e incluir partos normais,
cesarianas ou outras intervenções, dependendo da saúde da mãe e do bebê, além de outras considerações
médicas. É importante ressaltar que o parto é um evento complexo e único para cada mulher. A
assistência médica durante o parto é comum para garantir a segurança da mãe e do bebê, e existem vários
profissionais de saúde, como obstetras e parteiras, que desempenham um papel importante durante esse
processo.
Comparar o parto no passado com o parto atual destaca mudanças significativas nas práticas,
atitudes e condições de saúde. Vale ressaltar que as condições podem variar consideravelmente em
diferentes partes do mundo, e algumas dessas mudanças podem não ser universais. Essas comparações
destacam a evolução das práticas de parto ao longo do tempo, com um aumento nas opções e cuidados
disponíveis, bem como uma ênfase na segurança da mãe e do bebê. No entanto, é importante reconhecer
que os desafios persistem e que as experiências podem variar amplamente dependendo da região e das
circunstâncias individuais.
No Brasil, o parto realizado em hospitais e acompanhado por equipe médica se afirmou a partir
das três últimas décadas do século XX1. Tal modelo contribuiu significativamente para a redução da
mortalidade materna e perinatal, no entanto, trouxe consigo críticas e incertezas, como intervenções no
processo fisiológico do parto. Na década de 1980 as reivindicações por mudanças na assistência ao parto,
se intensificaram, em um movimento que no Brasil foi denominado de “humanização do parto”. As
propostas dos grupos pela “humanização do parto” foram debatidas em uma conferência internacional,
que reconheceu o parto como um evento natural e normal, afirmando que não havia justificativas para
taxas de cesárea acima de 10 a 15%.
As recomendações da OMS tiveram um grande impacto no Brasil e serviram de referência para a
elaboração das políticas sobre o parto. Em maio do ano 2000, como fruto desse movimento, o Ministério
da Saúde criou o Programa de Humanização no Pré-natal e Nascimento (PHPN). Esse processo fazia
parte de um movimento amplo que contou com o ativismo feminista, e afirmava a necessidade de ampliar
o poder de decisão das mulheres em relação às questões de saúde, em especial a relacionada ao parto,
incorporando na sua pauta de discussão questões referentes aos direitos reprodutivos e sexuais,
relacionando-as aos direitos humanos.
Antigamente os partos costumavam ocorrer principalmente em casa, muitas vezes assistidos por
parteiras ou membros da comunidade, era frequentemente menos medicalizado, com menos intervenções
médicas, as cesarianas eram raras e geralmente realizadas apenas em casos de extrema necessidade, as
condições de higiene podiam variar, e as complicações de infecção eram mais comuns, em algumas
sociedades, especialmente em áreas rurais, o acesso a cuidados de saúde durante o parto poderia ser
limitado. A partir de mudanças realizadas, o conceito de medicalização assume, a partir de diferentes
visões sobre a relação entre a utilização de procedimentos e tecnologias médicas no nascimento e
condições mais seguras, afetuosas e confortáveis de parir.
A medicalização refere-se ao processo pelo qual questões e aspectos da vida humana passam a ser
definidos e tratados como problemas médicos, sujeitos a intervenções médicas, diagnósticos e
tratamentos. Isso implica que problemas sociais, comportamentais ou naturais são enquadrados no âmbito
médico, muitas vezes resultando em uma abordagem medicalizada para lidar com eles. A medicalização
pode ocorrer em diversas áreas da vida, incluindo a saúde mental, o envelhecimento, o comportamento
infantil, a sexualidade, entre outros. A medicalização do parto envolve a crescente intervenção médica em
processos naturais, como o uso rotineiro de procedimentos como cesarianas e o uso de tecnologias
médicas durante o parto normal.
Ao discutir a medicalização, é importante reconhecer a importância da medicina em muitos
contextos, especialmente quando se trata de diagnóstico e tratamento de condições médicas legítimas. No
entanto, a preocupação surge quando aspectos normais da vida são excessivamente medicalizados, muitas
vezes resultando em um aumento no uso de medicamentos e procedimentos médicos que podem não ser
necessários ou apropriados. Isso pode levar à super medicalização, onde questões que poderiam ser
melhor abordadas por meio de abordagens sociais, psicológicas ou culturais são tratadas
predominantemente com intervenções médicas.
Na década de 1970, Irving Zola caracterizou a medicalização como o processo pelo qual a
medicina passa a desempenhar um papel de controle social, posição que até então era desempenhada pela
religião e pela lei. Neste processo, o médico, a partir de uma suposta neutralidade e objetividade, e
investido de um poder moral, assume uma posição que lhe permite indicar o tratamento do corpo e da
mente. Para o autor, além de tratar da doença, a medicina acaba por ir mais além, identificando,
controlando e produzindo novos hábitos.
No final da década de 1990, Débora Lupton desenvolveu a crítica à ideia da medicalização como
controle social. Na sua perspectiva, o poder médico não existe por si, e os pacientes não devem ser vistos
como vítimas de uma engrenagem maquiavélica. A autora vê a medicalização como um encontro entre
consumidores e profissionais, onde o poder do médico se constitui e se mantém no âmbito de um
desejo/intenção do paciente. Lupton afirma que o poder e o conhecimento médico ao invés de serem
vistos como elementos de repressão, deveriam ser analisados como elementos de sedução nas sociedades
modernas, e que associados a existência de uma cumplicidade entre os sujeitos envolvidos tornaria
possível a sua própria manutenção.
A observação desses artigos mostra que a uti- lização do conceito de medicalização assume
diferentes significados, a partir de diferentes visões sobre a relação entre a utilização de procedimen- tos e
tecnologias médicas no nascimento e con- dições mais seguras, afetuosas e confortáveis de parir. A partir
daí surge o termo de “ humanização do perto”, que refere-se a uma abordagem centrada na mulher,
respeitando seus direitos, desejos e necessidades durante o processo de dar à luz. O objetivo é
proporcionar uma experiência de parto mais respeitosa, individualizada e personalizada, reconhecendo o
aspecto humano e emocional desse evento significativo na vida de uma mulher. A humanização no parto
busca ir além do aspecto meramente clínico e médico, considerando o contexto emocional, social e
cultural.
A humanização no parto é uma abordagem que reconhece a singularidade de cada mulher e sua
experiência de parto. Ela busca promover a dignidade, o respeito e a empatia durante todo o processo,
enfatizando a importância do aspecto emocional e humano do nascimento. Essa abordagem tem sido
promovida como uma alternativa às práticas mais medicalizadas e intervencionistas, visando melhorar a
satisfação e o bem-estar das mulheres durante o parto. A humanização no parto não se limita ao momento
do nascimento; ela também inclui o cuidado pós-parto, garantindo que a mulher e seu bebê recebam
atenção e suporte adequados após o parto.
A humanização da assistência obstétrica vem sendo implementada como uma filosofia de traba-
lho visando um maior conforto físico e mental para as mães e também para os bebês, pois trará vários
benefícios para ambos, e rompendo como a medi- calização do parto, utilização de práticas em saúde sem
a comprovação de seu benefício, além do res- gate da mulher como figura principal do processo
parturitivo. Por outro lado existe também uma visão de que o uso de procedimentos medicalizados
relevantes para proporcionar um parto mais seguro e em especial em artigos que concentraram suas
análises em torno da analgesia de parto, que nesses casos é vista como estratégia de parto humanizado.
Um dos pontos importantes que também aumentou a crítica sobre a medicalização foi a mudança
do parto em casa para os partos em hospitais, influenciada por uma série de fatores ao longo do tempo.
Essa transição não ocorreu de forma uniforme em todos os lugares e em todos os períodos. Com o
desenvolvimento da medicina e da obstetrícia, houve uma maior compreensão das complicações
potenciais durante o parto e da necessidade de intervenções médicas em alguns casos. Os avanços
permitiram o desenvolvimento de técnicas de monitoramento fetal, anestesia e procedimentos cirúrgicos
que aumentaram a segurança do parto em ambiente hospitalar , redução da mortalidade materna e infantil,
e a tendência para uma abordagem mais medicalizada do parto, com o uso rotineiro de intervenções
médicas, como indução, monitoramento contínuo e cesarianas, também influenciou a migração para os
hospitais.
Ressaltando que essa migração também trouxe muitas críticas, é importante destacar que, embora
os partos em hospitais tenham muitos benefícios em termos de acesso a cuidados médicos especializados
e intervenções quando necessário, a abordagem centrada na medicalização também gerou críticas.
Algumas mulheres e profissionais de saúde argumentam que essa medicalização excessiva pode levar a
intervenções desnecessárias e interferir na experiência mais natural do parto. Como resultado, há um
interesse crescente em promover práticas de parto mais centradas na mulher e na humanização, mesmo
dentro do ambiente hospitalar.
É importante notar que o conceito de "parto ideal" pode variar culturalmente e individualmente. O
que é considerado ideal para uma mulher pode não ser o mesmo para outra. Além disso, as circunstâncias
médicas e as necessidades individuais podem influenciar o que é percebido como ideal em uma situação
específica. A ênfase em uma experiência de parto centrada na mulher, respeitando suas escolhas e
promovendo um ambiente de apoio, reflete a tendência crescente em direção à humanização do parto,
reconhecendo não apenas o aspecto clínico, mas também o aspecto emocional e pessoal dessa
experiência.
Com a consolidação da assistência ao parto como atividade médica, assim como a sua realização
em ambiente hospitalar, abre-se uma nova etapa nos debates: a busca pela construção de uma roteirização
da assistência ao parto, de um “parto ideal”. Parto médico, parto dirigido, parto conduzido e parto
auxiliado se configuraram como processos de sistematização da parturição, e foi nesse percurso de
disputa entre os conceitos que percebemos não só a busca por uma demarcação da atuação do obstetra
brasileiro, mas também de um estilo próprio de pensar a assistência ao parto.
Apesar de todas essas críticas aos modelos de parto, existe um enorme impasse que está
borbulhando logo abaixo da superfície. Muitos defensores dos direitos das mulheres e organizações de
saúde estão trabalhando para conscientizar sobre a violência obstétrica, promover práticas mais centradas
na mulher e garantir que os profissionais de saúde sejam treinados para oferecer cuidados respeitosos e
dignos durante o parto. A luta contra a violência obstétrica também envolve a implementação de políticas
que protejam os direitos reprodutivos e humanos das mulheres.
A violência obstétrica refere-se a práticas violentas, desrespeitosas ou prejudiciais direcionadas a
mulheres durante o parto, pré-parto e pós-parto. Essa forma de violência pode ocorrer em instituições de
saúde e envolve atitudes discriminatórias, abuso verbal, negligência, intervenções médicas
desnecessárias, coerção, humilhação e desrespeito aos direitos humanos das mulheres. É uma questão que
ganhou destaque globalmente e tem sido reconhecida como uma violação dos direitos reprodutivos das
mulheres.. A violência obstétrica é prejudicial não apenas à saúde física das mulheres, mas também à sua
saúde mental e emocional. Pode contribuir para o medo do parto, traumas psicológicos, dificuldades na
formação de vínculos mãe-filho e uma visão negativa da assistência médica.
O debate sobre parto é multifacetado e reflete a diversidade de experiências, crenças e
perspectivas em relação ao processo de dar à luz. Ao longo do tempo, houve mudanças significativas nas
práticas de parto, influenciadas por avanços médicos, desenvolvimentos culturais e uma crescente ênfase
na humanização do parto. Um ponto central no debate é a escolha entre o parto em casa, o parto hospitalar
e as intervenções médicas. A tendência histórica de migrar do parto em casa para o parto hospitalar foi
motivada por preocupações com a segurança materna e infantil, avanços médicos e mudanças nas
percepções culturais. No entanto, essa transição também levantou questões sobre a medicalização
excessiva do parto e a necessidade de respeitar as preferências individuais das mulheres.
A humanização do parto emerge como uma abordagem que busca equilibrar a segurança médica
com a atenção às necessidades emocionais e pessoais das mulheres. Isso envolve respeitar a autonomia,
fornecer apoio emocional, minimizar intervenções desnecessárias e criar ambientes acolhedores. A busca
por um "parto ideal" reflete a aspiração por uma experiência que seja segura, respeitosa e personalizada,
reconhecendo a singularidade de cada gestação. Em última análise, o debate sobre parto destaca a
complexidade e a importância de equilibrar a segurança médica com a dignidade e a autonomia das
mulheres. A busca por melhores práticas e o respeito às escolhas individuais são essenciais para garantir
que o parto seja uma experiência positiva e saudável para todas as mulheres.

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